Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
SUMÁRIO
FRONTEIRAS EM SAÚDE
UMA ABORDAGEM MULTIPROFISSIONAL
BRUNO MEDEIROS
JOSÉ GUEDES DA SILVA JÚNIOR
JUSCELINO KUBITSCHECK BEVENUTO
ÁQUILA MATHEUS DE SOUZA OLIVEIRA
ORGANIZADORES
SUMÁRIO
Todos os direitos dos organizadores. A responsabilidade
sobre os textos e imagens são dos respectivos autores.
Conselho Editorial
Marcos Nicolau – UFPB
Roseane Feitosa – UFPB – Litoral Norte
Dermeval da Hora – Proling/UFPB
Helder Pinheiro – UFCG
Hildeberto Barbosa Filho – UFPB
ISBN 978-65-5608-175-5
CDU 616.89
Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Gilvanedja Mendes, CRB 15/810
EDITORA
www.ideiaeditora.com.br
contato@ideiaeditora.com.br
SUMÁRIO
SUMÁRIO
ORGANIZADORES ............................................................................................................................................ 8
PREFÁCIO ........................................................................................................................................................ 9
Caíque Silveira Martins da Fonseca
EIXO I
FRONTEIRAS NA PROMOÇÃO DE SAÚDE MENTAL E CUIDADO PSICOSSOCIAL
ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DOS FATORES PSICOSSOCIAIS DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA COM HOMENS QUE
ESTÃO EM RECUPERAÇÃO ............................................................................................................................. 35
Maria Priscila Luna Bazílio Araújo
Bruna Kethelen de Sousa Barros
Hyalle Abreu Viana
Renata Pimentel da Silva
Leconte de Lisle Coelho Junior
SUMÁRIO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE ESTRESSE E ENFRENTAMENTO EM UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DE
ONCOLOGIA .................................................................................................................................................. 73
Kamila Raquel Cordeiro dos Santos
Gabriela Silva Tomé
Bruno Medeiros
EIXO II
FRONTEIRAS NA PROMOÇÃO DE SAÚDE, BEM-ESTAR E CUIDADO DO CORPO
EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL ALIADA E SABER POPULAR: O USO DA ARARUTA COMO INSUMO
PARA O ALIMENTAÇÃO ESCOLAR ................................................................................................................ 112
Áquila Matheus de Souza Oliveira
Júlio César Bezerra Vilar da Silva
SUMÁRIO
EIXO III
FRONTEIRAS MOLECULARES ENTRE FISIOPATOLOGIA E O DIAGNÓSTICO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional |8
ORGANIZADORES
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional |9
PREFÁCIO
O
mundo vive a quarta revolução industrial, das tecnologias avançadas e da grande quan-
tidade de informação disponível. Isso se reflete na mudança dos paradigmas da socie-
dade com relação à democratização do conhecimento, que permite o crescimento e a
difusão de novas possibilidades e ganhos de produtividade.
Esse fenômeno mundial da chamada pós-modernidade já havia sido discutido por An-
thony Giddens, em 1991, em seu livro “Consequências da Modernidade”, quando cita, por exem-
plo, que:
acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distân-
cia. [...] A transformação local é tanto uma parte da globalização quanto a extensão la-
teral das conexões sociais através do tempo e do espaço.”
A transformação local prevista por Giddens foi possibilitada pela conectividade e hoje se
apresenta na criação e utilização de diferentes ferramentas, muitas delas digitais. Outra conse-
quência mais recente é a produção de conteúdo de maneira muito mais ativa e precoce, o que
cria uma socialização do conhecimento ao mesmo tempo em que forma um ciclo virtuoso de
produção e consumo de conhecimento cada vez maiores.
Esta nova sociedade também traz desafios, como o da crescente necessidade de ativi-
dade reflexiva e da análise crítica da vasta quantidade de informações, sejam elas locais, globais
ou suas relações. Como diria Mangabeira Unger (2018), no seu livro “A Economia do Conheci-
mento”: “Na atualidade, é mais correto dizer que o acúmulo de conhecimento se converteu no
centro da atividade econômica”.
E é neste ponto que este livro se encaixa. Sua produção reflete a pesquisa, análise crítica
e reflexiva de autores de diversas áreas da saúde, focados na tradução dos conhecimentos teó-
ricos para as necessidades locais, sem perder a capacidade de relevância global. Sendo sua pro-
dução centrada no interior do Nordeste brasileiro, reflete a materialização das fronteiras do
conhecimento, e sua consequente superação em ambos os sentidos. Nesse sentido, demonstra
tanto o movimento de aquisição de conhecimento teórico por parte dos pesquisadores, quanto
de produção e devolução deste conhecimento, agora concretizado e trabalhado localmente, de
forma a trazer as demandas regionais para o contexto global de informação.
O livro está organizado em 3 grupos principais: Fronteiras na Promoção de Saúde Men-
tal e Cuidado Psicossocial, Fronteiras na Promoção de Saúde, Bem-estar e Cuidado do Corpo,
Fronteiras Moleculares entre Fisiopatologia e o Diagnóstico. Esta obra dá, assim, significado a
este movimento dinâmico. É fruto e, ao mesmo tempo, semente destes novos tempos de cresci-
mento, de qualificação e de democratização do conhecimento.
SUMÁRIO
EIXO I
FRONTEIRAS NA PROMOÇÃO DE SAÚDE
MENTAL E CUIDADO PSICOSSOCIAL
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 11
Bruno Medeiros
Doutor pela Universidade de Cambridge, Professor do Centro
Universitário Maurício de Nassau Campina Grande
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 12
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 13
para o estresse (MOREIRA; VASCONCELOS; HEATH, 2015). No entanto, o que a realidade mos-
tra são estudantes com horários mais preenchidos de atividade acadêmicas e com um menor
espaço de tempo para suas desenvolverem atividades extraclasse.
Conforme Moreira, Vasconcelos e Heath (2015), o adoecimento psíquico presente entre
os estudantes de medicina se torna mais prevalente nos períodos finais do curso. Assim, em um
curso que possui duração de seis anos, dos quais os dois últimos se constituem o internato,
desordens somáticas e cognitivas são comuns, principalmente na fase do internato. Com isso,
os condicionantes para esse adoecimento do estudante de medicina perpassam por um ambi-
ente estressante de aprendizagem, bem como o próprio processo de ensino-aprendizagem ao
qual todo estudante se encontra submetido, somado à sobrecarga de aulas, lidar com doentes e
relações de conflito oriundas do trabalho em equipe.
Deve-se ainda levar em consideração que o aprendizado desse estudante se dá, em suma,
com foco na resolução de um agravo biopsicossocial de um indivíduo com quem se deve manter
uma relação saudável de modo paralelo ao cuidado prestado. Assim, as relações interpessoais,
as quais demandam um esforço mental, configuram-se não apenas entre o trabalho em equipe
com os demais colegas e professores, mas também com o seu instrumento direto de trabalho:
o outro (ANDRADE et al., 2013). Diante disso, o estudante de medicina por vezes se sente so-
brecarregado e com exaustão emocional, devido à tamanha demanda. Nesse contexto, de
acordo com Cataldo (1998) e Millan (1991), o estudante de medicina e o próprio médico são
um grupo de risco quanto ao aparecimento de transtornos mentais e do comportamento, com
ênfase na depressão. Essa exaustão se apresenta com achados sintomatológicos mentais, resul-
tando em depressão e ansiedade, mais comumente, como também achada físicos diante das do-
enças psicossomáticas ou, ainda, diante da mudança de estilo de vida e novos hábitos alimen-
tares.
A faculdade de medicina comumente se apresenta com características peculiares que
vão além da sobrecarga de estudos e da cobrança do aprendizado. Segundo Oliveira (2013),
ainda há um ambiente hostil marcado por uma competitividade anterior e posterior a entrada
no curso, devido ao processo de vestibular e ao de residência médica, respectivamente; relação
hierárquica supervalorizada entre os professores e staffs do serviço de saúde para com seus
alunos e internos, com frequente abuso de poder; serviço funcionante as vinte e quatro horas o
que, permite que, na prática, alunos se encontrem atuante em qualquer horário no estágio, pre-
judicando seu sono e descanso; dentre outras. A partir do contexto exposto e compreendendo
a necessidade de ouvir os principais sujeitos envolvidos nessa problemática, este trabalho teve
como objetivo identificar possíveis evidências de adoecimento emocional em estudantes de me-
dicina.
MÉTODO
Delineamento
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa exploratória e descritiva, de cará-
ter transversal e abordagem quanti-qualitativa. A escolha pela abordagem qualitativa deu-se
pela capacidade de averiguar processos subjetivos e a realidade social como as evidências de
adoecimento estudantil e os impactos na saúde mental dos estudantes de medicina. Nesse sen-
tido, Gil (2008) descreve que tal realidade apresenta as percepções do sujeito, quer sejam elas
interpessoais ou intrapessoais.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 14
Corpus do estudo
Participaram do estudo 94 estudantes de medicina. A idade dos participantes variou en-
tre 18 e 38 anos e com predominância de 75,6% do gênero feminino, sendo na maior frequência
de estado civil solteiro, cristão e desempregado. Houve uma heterogeneidade em relação ao
período em formação, tendo assim participantes entre o primeiro e décimo segundo período.
Os participantes são de instituições públicas e privadas de todo país, tendo como região predo-
minante o Nordeste.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 15
Após a análise prototípica, foi realizada uma análise de similitude a respeito das palavras
que se interligam às principais emoções relacionadas à vida acadêmica - felicidade, ansiedade
e medo - (Figura 2). As evocações prevalentes foram respectivamente: gratidão, angústia e or-
gulho. Demonstrando que, apesar de os sentimentos positivos estarem também presentes, há a
presença de sentimentos negativos durante todos os períodos estudados. Os resultados corro-
boram com diversas outras pesquisas realizadas na área, evidenciando a prevalência de senti-
mentos negativos entre estudantes de medicina (AGUIAR et al., 2009).
Percebe-se a presença de uma ambivalência, vista também em outros estudos. Trindade
e Vieira (2009) descrevem que estudantes vivenciam dificuldades ao longo da jornada acadê-
mica, não apenas pela grande quantidade de conteúdos exigidos, mas também pelo tempo exi-
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 16
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 17
pressão excessiva você é ensinado a ver a medicina em primeiro lugar família e eventos
importantes não devem ter valor igual ou superior à medicina” (Classe 4). Diferentes estudos
alinham-se aos resultados obtidos sobre as dificuldades estressoras na graduação médica,
tendo também como prevalência a carga horária intensa e extensa, além disso, dificuldade em
conciliar a vida pessoal e acadêmica, competitividade entre os estudantes e medo intenso foram
evidenciados (ALEXANDRINO et al., 2009; ANDRADE et al., 2014).
Família 6 22.8 Falta 1 31.4 Prova 6 25.6 Conseguir 6 22.8 Muito 6 29.01 Horário 8 35.28
0
Longe 4 21.8 Cobrar 4 18.1 Insegurança 4 24.2 Dificuldade 7 21.3 Assunto 4 10.22 Carga 8 35.28
Trabalho 4 16.0 Psicológico 4 18.1 Ansiedade 7 21.3 Medo 5 14.1 Compromisso 2 7.56 Excessivo 7 20.97
Conciliar 4 12.2 Distância 3 13. Manter 3 10.7 Estudar 2 7.56 Mental 4 16.63
Acadêmico 4 9.5 Pressão 4 7.36 Lidar 2 5.8 Cobrança 3 7.44 Saúde 3 12.3
Além 3 4.16
É entendido que o estudante se sente prestigiado pelo sucesso almejado. Segundo Millan
et al. (1999), interpreta-se tal fato a partir dos conceitos sociais a respeito do que seja fazer
medicina. Entretanto, ao longo do curso, os estudantes parecem apresentar mais dificuldades
em relação a se irão conseguir obter sucesso. Medo, dificuldades e receios parecem caracterizar
os estudantes dos períodos finais do curso, como apresentado na Figura 4 referente às
dificuldades mais frequentes em relação às experiências acadêmicas dos participantes dos
períodos finais do curso de medicina. Foi realizada uma análise de Qui-Quadrado por classe no
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 18
FIGURA 4 - Análise das dificuldades mais frequentes em relação às experiências acadêmicas dos
participantes do 5º ao 8º período do curso de medicina.
Quando se procurou especificar a prevalência das classes por sexo, percebeu-se que as
palavras associadas à Classe 6 (13,5%) foram mais prevalentes no sexo masculino. Essa classe
se refere às dificuldades em relação à grande quantidade de conteúdos programados e
responsabilidades diversas frente às demandas da profissão, como é possível observar pelo
relato: “a responsabilidade é muito alta existirão pessoas que vão depender de mim e quando
não alcanço o rendimento necessário sinto que fracassei com elas”. De acordo com Pagnin
(2015) e Quintana et al. (2008), o ambiente de aprendizagem torna-se estressante na medida
em que o estudante tem que lidar com sobrecarga de aulas e responsabilidades para lidar com
os pacientes e equipe de trabalho.
Baptista, Baptista e Oliveira (1999) ressaltam que a questão do gênero é significativa em
relação ao adoecimento psicológico. Segundo os autores, a forma como as mulheres
experimentam, sentem e manifestam suas emoções é, comumente, de uma forma mais direta.
Em contrapartida, os homens costumam expressar suas emoções através de comportamentos
exteriorizados, consumindo álcool ou drogas quando estão emocionalmente abalados. Paduani
et al. (2008) comprovaram em seus estudos com acadêmicos de medicina do Ceará que há
maior consumo de álcool nos homens (72,72%) do que entre as mulheres (61,40%).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 19
Em relação aos acadêmicos que trabalham, notou-se uma maior dificuldade em relação
ao distanciamento da família. Os estudantes relatam não conseguir conciliar o trabalho com a
vida acadêmica e familiar, gerando assim sentimentos de tensão ao sentirem-se pressionados
pelo contexto. Tais aspectos que se evidenciam na Figura 6, a qual apresenta a prevalência das
palavras da Classe 4 no grupo de estudantes que trabalhavam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 20
de alto status quo socialmente difundida da medicina, enquanto a realidade cotidiana se apre-
senta de forma não condizente a essa expectativa. Assim, a presença de tais sentimentos são
causas importantes na investigação do adoecimento psíquico estudantil, sendo imprescindível
a sua identificação e intervenção, seja por parte pessoal, mas também de forma institucional e
coletiva para garantir uma melhor qualidade de vida a esses indivíduos.
São reconhecidas pelos pesquisadores as limitações da pesquisa, tendo em vista que di-
versas variáveis podem influenciar nos resultados obtidos, como a região predominante, faixa
etária, entre outras. Além disso, deve-se ressaltar a relevância dessa pesquisa no meio científico
de modo a proporcionar ao profissional de psicologia meios e subsídios para avaliar a impor-
tância do trabalho da TCC em pacientes com um perfil semelhante ao apresentado e estudado
nesse trabalho, garantindo-lhe o direito e dever de desenvolver sua clínica baseada em evidên-
cias científicas. Para isso, a amostra da nossa pesquisa contou com um importante número de
participantes e a metodologia foi rigorosamente seguida, respeitando o padrão ético-científico
e colaborando, de tal modo, para a formação, por meio intervencionista, de uma sociedade mais
saudável e de melhor percepção mental. Vale ressaltar que se faz necessário pensar na propa-
gação dessa análise em estudos posteriores, visto que foram encontradas diversas demandas
específicas no grupo de estudantes.
REFERÊNCIAS
ABRAO, Carolina Borges; COELHO, Ediane Palma; PASSOS, Liliane Barbosa da Silva. Prevalência de sintomas de-
pressivos entre estudantes de medicina da Universidade Federal de Uberlândia. Rev. bras. educ. med., vl. 32, n.
3, p. 315-323, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0047-20852009000100005 Disponível em: http://www.sci-
elo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010055022008000300006&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 6 jan.
2021.
AGUIAR, S. M.; VIEIRA, A. P. G. F.; VIEIRA, K. M. F.; AGUIAR, S. M.; NÓBREGA, J. O. Prevalência de sintomas de es-
tresse nos estudantes de medicina. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 58, n. 1, p. 34-38, 2009. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-20852009000100005&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 6 jan. 2021.
ALEXANDRINO-SILVA, Clóvis et al. Ideação suicida entre alunos de programas de formação em saúde: um estudo
transversal. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo, vl. 31, n. 4, pág. 338-344, dezembro de 2009. DOI:
https://doi.org/10.1590/S1516-44462009005000006. Disponível em <http://www.scielo.br/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462009000400010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 de jan. 2021.
ALVES, João Guilherme Bezerra et al . Qualidade de vida em estudantes de Medicina no início e final do curso:
avaliação pelo Whoqol-bref. Rev. bras. educ. med., vl. 34, n. 1, p. 91-96, Mar. 2010. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0100-55022010000100011. <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text&pid=S0100-55022010000100011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
ALVES, T. C. de T. F. Depressão e ansiedade entre estudantes da área de saúde. Revista de Medicina, [S. l.], vl. 93,
n. 3, p. 101-105, 2014. DOI: 10.11606/issn.1679-9836.v93i3p101-105. Disponível em: https://www.revis-
tas.usp.br/revistadc/article/view/103400. Acesso em: 6 jan. 2021.
ANDRADE, João Brainer Clares de et al . Contexto de formação e sofrimento psíquico de estudantes de medi-
cina. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, vl. 38, n. 2, p. 231-242, June 2014 . DOI:
https://doi.org/10.1590/S0100-55022014000200010. Disponível em: <http://www.scielo.br/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022014000200010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 21
BAPTISTA, Makilim Nunes; BAPTISTA, Adriana Said Daher; OLIVEIRA, Maria das Graças de. Depressão e gênero:
por que as mulheres deprimem mais que os homens? Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 7, n. 2, p. 143-
156, ago. 199. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X1999000200005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria T.; GONCALVES, Maria Bernadete. Transtornos emocionais e a formação em
Medicina: um estudo longitudinal. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 33, n. 1, p. 10-23, 2009. DOI:
https://doi.org/10.1590/S010055022009000100003. Disponível em: <http://www.scielo.br/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022009000100003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
CATALDO NETO, Alfredo, et al. O estudante de medicina e o stress acadêmico. Scientia Medica, Porto Alegre, v.
8, n.1, p.6-16, 1998.
CONCEIÇÃO, L. DE S.; BATISTA, C. B.; DÂMASO, J. G. B.; PEREIRA, B. S.; CARNIELE, R. C.; PEREIRA, G. DOS S. Saúde
mental dos estudantes de medicina brasileiros: uma revisão sistemática da literatura. Avaliação: Revista da
Avaliação da Educação Superior, v. 24, n. 3, 9 dez. 2019.
COSTA, Ana Lucia Siqueira; POLAK, Catarina. Construção e validação de instrumento para Avaliação de Estresse
em Estudantes de Enfermagem (AEEE). Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 43, n. espec., p.
1017-1026, 2009. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S008062342009000500005. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S008062342009000500005&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 06 jan. 2021.
DAOLIO, Carla Cristina; NEUFELD, Carmem Beatriz. Intervenção para stress e ansiedade em pré-vestibulandos:
estudo piloto. Revista Brasileira de Orientação Profissional, Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 129-140, 2017. DOI:
http://dx.doi.org/10.26707/1984-7270/2017v18n1p7. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902017000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
FIGUEIREDO, Bruna Vidal. Promoção de saúde mental em estudantes de medicina: uma revisão sistemá-
tica. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso – Curso de Medicina – Universidade Federal da Fronteira do Sul,
Passo Fundo, 2018.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2008.
GRANER, Karen Mendes; CERQUEIRA, Ana Teresa de Abreu Ramos. Revisão integrativa: sofrimento psíquico em
estudantes universitários e fatores associados. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 24, n. 4, p. 1327-
1346, Apr. 2019. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232018244.09692017. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141381232019000401327&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 06 jan. 2021.
HADARA, Bruna Ayumi. et al. Perfil psicológico do estudante de Medicina. Revista do Médico Residente, n. 15,
p. 93-101, 2013.
KAMI, Maria Terumi Maruyama. et al. Trabalho no consultório na rua: uso do software IRAMUTEQ no apoio à
pesquisa qualitativa. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro, v. 20, n. 3, e20160069, 2016. DOI:
https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160069. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar-
ttext&pid=S1414-81452016000300213&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
LOUREIRO, Elizabete Maria Ferraz. Estudo da relação entre o stress e os estilos de vida nos estudantes de Medi-
cina. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 32, n. 2, p. 273, June 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-
55022008000200017. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
55022008000200017&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
MILLAN, Luiz Roberto. et al. Alguns aspectos psicológicos ligados à formação médica. Revista ABP-APAL, n.
13(4), p. 137-42, 1991.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 22
MILLAN, Luiz Roberto. et al. Alguns aspectos psicológicos ligados à formação médica. São Paulo: Casa do Psi-
cólogo, 1999.
MOREIRA, Simone da Nóbrega Tomaz; VASCONCELLOS, Rafael Luiz dos Santos Silva; HEATH, Nancy. Estresse na
Formação Médica: como Lidar com Essa Realidade?. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 39, n. 4, p. 558-
564, Dec. 2015. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-52712015v39n4e03072014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022015000400558&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 06 jan. 2021.
MULLER, Juliana de Lima et al . Transtorno de Ansiedade Social: um estudo de caso. Contextos Clínic, São Leo-
poldo, v. 8, n. 1, p. 67-78, jun. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.4013/ctc.2015.81.07. Disponível em <http://pep-
sic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-34822015000100008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso
em: 06 jan. 2021.
OLIVEIRA, Elisângela Neves de. Prevalência de sintomas depressivos em estudantes de Medicina na Univer-
sidade Federal da Bahia. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso – Curso de Medicina – Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2013.
PADUANI, Gabriela Ferreira et al . Consumo de álcool e fumo entre os estudantes da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Uberlândia. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 32, n. 1, p. 66-74, Mar. 2008
. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-55022008000100009. Disponível em: <http://www.scielo.br/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-55022008000100009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
PEREIRA, Caciana Linhares. Piaget, Vygotsky e Wallon: contribuições para os estudos da linguagem. Revista Psi-
cologia em Estudo, n. 17, p. 277-281, 2012.
QUINTANA, Alberto Manuel et al . A angústia na formação do estudante de medicina. Rev. bras. educ. med., Rio
de Janeiro , v. 32, n. 1, p. 7-14, Mar. 2008 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_art-
text&pid=S0100-55022008000100002&lng=en&nrm=iso>. access on 06 Jan. 2021.
SOUZA, M.; CALDAS, T.; DE ANTONI, C. Fatores de adoecimento dos estudantes da área da saúde: uma revisão
sistemática. Psicologia e Saúde em debate, [S. l.], v. 3, n. 1, p. 99–126, 2017. DOI: 10.22289/2446-
922X.V3N1A8. Disponível em: http://psicodebate.dpgpsifpm.com.br/index.php/periodico/article/view/93.
Acesso em: 6 jan. 2021.
TRINDADE, Leda Maria Delmondes Freitas; VIEIRA, Maria Jesia. Curso de Medicina: motivações e expectativas de
estudantes iniciantes. Rev. bras. educ. med., Rio de Janeiro, v. 33, n. 4, p. 542-554, Dec. 2009. DOI:
https://doi.org/10.1590/S0100-55022009000400005.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010-
55022009000400005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 jan. 2021.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 23
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o setor de serviços vem crescendo e contribuindo para abertura de
novas oportunidades de emprego e melhoria da economia. O setor de telermarketing é um
exemplo de trabalhos que vem se desenvolvendo de forma crescente no cenário brasileiro. Essa
atividade diz respeito a trabalhos no campo do teleatendimento, popularmente conhecido
como call centers, indispensável em segmentos empresariais como bancos, indústria, empresas
de telefonia, planos de saúde e etc. (RICCI; RACHID, 2013).
Segundo a Associação Brasileira de Telesserviços - ABT (2018), entre 2011 e 2014 o se-
tor elevou a arrecadação do governo brasileiro em R$ 261 milhões e ajudou a injetar R$ 4,6
bilhões em poder de consumo na economia. Entre 2012 e 2016, foram gerados 73 mil novos
postos de trabalho, principalmente no Nordeste que passou a responder por quase um quarto
dos empregos no setor.
O teleatendimento caracteriza-se por ser um serviço padronizado e sistemático, no qual
se faz necessário seguir scripts pré-estabelecidos para atender aos clientes, o que gera segu-
rança e confiança frente às demandas apresentadas. Através desse tipo de canal é possível pas-
sar informações de produtos/serviços, resolver problemas técnicos, realizar vendas, entre ou-
tras atividades (VENCO, 2006; JAMIL; SILVA, 2005).
No entanto, vários estudos desenvolvidos com operadores de telemarketing têm apon-
tado que estes sofrem implicações psíquicas e físicas por serem expostos à intensa pressão no
exercício de seu trabalho. Isso decorre devido a fatores como: um controle exacerbado que es-
sas empresas procuram ter sobre os funcionários, pouco contato com os colegas durante a exe-
cução do trabalho, rígida hierarquia, restrições para pausas, baixas possibilidades de cresci-
mento e cobrança por produtividade (ZILIOTTO & OLIVEIRA, 2014; VILELA & ASSUNÇÃO,
2004; ASSUNÇÃO et al, 2006; OLIVEIRA E BRITO, 2011; BEZERRA, 2016).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 24
MÉTODO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 25
par, foi acordado horário e local para realização de uma entrevista semiestruturada, que ocor-
reu nas dependências do Centro Universitário Uninassau (Unidade Campina Grande) ou nas
próprias residências dos participantes, de acordo com o desejo e disponibilidade dos mesmos.
Antes da realização da entrevista foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido e do Termo de Autorização para Gravação de Voz. Posteriormente, foi reali-
zada a aplicação de um questionário sociodemográfico, seguida de uma entrevista semiestru-
turada. As entrevistas foram realizadas individualmente e tiveram duração média de 30 minu-
tos, todas elas foram gravadas e posteriormente transcritas na íntegra para análise.
A análise dos dados foi realizada através da análise de conteúdo temática proposta por
Laville e Dionne (1999). Cabe destacar que toda a pesquisa foi executada de acordo com a Re-
solução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (Brasil, 2012), sua realização se deu após a
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Unifacisa, cujo número de
CAAE se apresenta: 91747818.1.0000.5175.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a transcrição dos dados, foram criadas como categorias de análises: Razões para
estar no duplo vínculo, Consequências psicossociais ocasionadas pelo duplo vínculo, e Estratégias
utilizadas frente à rotina do duplo trabalho. Antes de adentrar na apresentação dessas catego-
rias, se apresenta algumas informações a respeito do perfil sociodemográfico dos participantes.
Foram entrevistados dez participantes que atuam em dois call centers de Campina
Grande-PB, sendo dois homens e oito mulheres, com idades que variaram entre 23 a 53 anos.
Destes, quatro são casados, cinco solteiros e um divorciado, apenas três possuem filhos. Quanto
ao nível de escolaridade, três possuem ensino médio completo, dois possuem ensino superior
em andamento e cinco com superior completo com graduação nos cursos de Engenharia de Ali-
mentos, Pedagogia, Enfermagem, Administração e Turismo.
No que concerne aos outros vínculos, além do trabalho como teleatendente, foram iden-
tificadas as seguintes ocupações: professor de educação básica, secretária escolar, técnico em
segurança do trabalho, teleatendente (em outra empresa), embalador, enfermeira, agente de
combate as endemias, recepcionista, auxiliar de escritório e auxiliar administrativo.
Diante do exposto, percebeu-se que 80% da amostra foi composta por mulheres com
média de 35 anos de idade e ensino superior completo ou em andamento. As informações
quanto a idade e ensino superior destoa-se do cenário geral de teleatendentes quando geral-
mente o público atuante nesse setor são jovens com nível médio e em situação de primeiro
emprego (VENCO, 2007; ANDRADE et al., 2015). Talvez esse contraste pode ser interpretado
por se tratar de um estudo com profissionais que possuem duplo vínculo de trabalho, o que se
diferencia do perfil geral de teleatendentes apontado pela literatura da área.
Nesta categoria foram reunidos os motivos que levaram os participantes a buscarem ou-
tro vínculo de trabalho, além da função de teleatendimento. Entre os principais motivos, desta-
cam-se: já terem concluído o ensino superior, dispondo de mais tempo (n=5); ter filhos (n=3)
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 26
ou para conquistar objetivos pessoais (casa própria, carro) (n=3). Esses dados indicam que a
busca por outra atividade remunerada converge para a necessidade de ter outra renda, con-
forme é possível identificar nas seguintes falas:
“Hoje, o que me faz manter os dois vínculos é terminar algumas coisas que foram come-
çados, como obra de casa, ou até mesmo outros objetivos como um carro, isso aí é o que
me motiva.” (Entrevistado 4 – Teleatendente e Recepcionista)
“Os meus filhos, se não tivesse eles não ficaria em nenhum dos dois, deixaria só o marido
trabalhar.” (Entrevistado 6 – Teleatendente e Auxiliar de Escritório)
“Há, pro meu lado é mais a questão financeira mesmo, [...] é meio que um jogo de cintura
entre lá [outro emprego] e o call center.”[...] (Entrevistado 8 –Teleatendente e Técnico
de segurança do trabalho)
“É, o horário da pra conciliar né? Por que quando eu comecei eu pedi, consigo encaixar
pra sair de um e terminar no outro, até que no call center I, eu num tive tanta mudança
de horário, mas já no outro teve uma mudança muito grande de horário ai eu pedi pra
que não alterasse tanto pra que não impactasse na minha entrada no outro, mas eu tô
conseguindo” (Entrevistado 9 - Teleatendente em duas empresas de call center)
Os relatos destacados vão de encontro com o estudo de Lucca et. al., (2014), o qual
aborda que um dos principais atrativos dessa modalidade de emprego é a carga horária de tra-
balho que compreende 6horas. Essa realidade possibilita aos trabalhadores manterem mais de
um vínculo de trabalho. Entretanto, se faz necessário todo um manejo desses profissionais para
conseguirem conciliar ambos os vínculos. Essa situação é ainda mais evidente no caso da parti-
cipante 9, que atua em dois call centers diferentes e que tem de lidar com mudanças de horários
constantes nas empresas, conforme destacado na fala acima. Essa gestão de tempo parece ser
um elemento que gera muita sobrecarga e cansaço, o que se desdobra em consequências diver-
sas para esses profissionais, discussão que se apresenta na sessão a seguir.
Em relação às consequências ocasionadas pelo duplo vínculo, foram elencadas duas sub-
categorias: a primeira de cunho social e a seguinte voltada às implicações para a saúde (mental
e física) dos participantes.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 27
Implicações Sociais
Através dos relatos foram identificadas que o acúmulo de dois vínculos empregatícios
traz aos teleatendentes consequências sociais devido à redução ou a ausência da prática de ati-
vidades de lazer e do estabelecimento de relações interpessoais duradouras fora do ambiente
de trabalho, conforme os relatos a seguir:
“[...] O que eu gosto de fazer é ler, assistir um filme, ainda essa semana eu tava dizendo:
Nunca mais eu li um livro, nem assisti um filme, que eu tô me sentindo sem tempo pra
nada. [...]” (Entrevistado 5 - Teleatendente e Secretária Escolar)
“Quando eu venho muito cansada do trabalho que eu não quero conversa com ninguém,
eu só quero tá isolada, quero descansar e não tem outro jeito, todo mundo já entende,
aí ninguém perturba.” (Entrevistado 2 - Teleatendente e Enfermeira)
“Eu comecei a tentar me isolar, não queria conversar com ninguém ai eu comecei a per-
ceber que tinha alguma coisa errada, aí minha cunhada quem percebeu também, eu
muito estressada [...] (Entrevistado 10 - Teleatendente e Embaladora)
“[...] a questão de dois empregos você se limita muito, você não tem mais como sair, tem
pouco tempo de ficar com os meus filhos, é desgastante.” (Entrevistado 3 - Teleaten-
dente e Agente de Combate as Endemias)
A respeito das falas acima, vê-se que o excesso de tempo que precisa ser dedicado à du-
pla jornada de trabalho impacta diretamente na forma como são estabelecidas as relações fora
do ambiente laboral. Foi possível constatar que isso ocorre muitas vezes, devido a estes profis-
sionais não disporem de tempo para realizarem atividades que lhe proporcionem prazer (como
ler um livro, ver um filme) e que, muitos deles, cansados e fatigados da dupla jornada, escolhem
o isolamento social como forma de descanso. Obviamente isso dificulta o processo de socializa-
ção com pessoas, inclusive do seu ciclo familiar, como é o caso do entrevistado 3, que afirmou
não ter tempo para estar com seus filhos.
Esses resultados reafirmam o que Araújo et al (2006) traz em seus estudos ao destaca-
rem que as consequências da dupla jornada de trabalho sobre a saúde são variadas, entre as
quais estão: o tempo insuficiente para lazer, para descanso e horas de sono. Nesse sentido, ve-
rifica-se que atividades sociais e de lazer acabam sendo extremamente prejudicadas na vida
desses trabalhadores, uma vez que os mesmos acabam não dispondo de tempo para realiza-las.
Ter momentos de lazer e estabelecer relações sociais são primordiais aos trabalhadores, uma
vez que esses momentos atuam como forma de minimizar possíveis repercussões a saúde que
podem ser desencadeadas, nesse caso, pela dupla jornada de trabalho.
Para além das implicações sociais, o acúmulo do duplo vínculo de trabalho de teleaten-
dentes também tem apresentado consequências para a saúde física e mental desses trabalha-
dores. Dentre as consequências que serão aqui apresentadas, o estresse foi um dos fatores com
maior destaque e frequência nos discursos dos participantes, como se verifica nas falas a seguir:
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 28
“Demais, tipo tem a questão do cansaço físico e o estresse, tô tendo até, como eu tava te
falando, um acompanhamento psicológico, por conta do estresse.”
(Entrevistado 10 – Teleatendente e Embaladora)
“Tem o estresse, né? Tem dia que você tá bem, e tem dia que num dá pra trabalhar, é
estressante, eu mesma prefiro tá em casa, mas como num pode, né? Tem que ir.” (En-
trevistado 6 - Teleatendente e Auxiliar de Escritório)
“Eu acho que está mais relacionada à questão de atender, por que junta o estresse, ficar
olhando pra tela direto, é muita cobrança em cima de você, aí junta, mais por isso, a
questão do estresse.” (Entrevistado 2 - Teleatendente e Enfermeira)
Percebe-se nas falas o quanto o estresse se apresenta como algo recorrente na vida des-
ses profissionais, em grande medida pela natureza do trabalho em teleatendimento, reconhe-
cida como uma atividade estressante (ZILIOTTO & OLIVEIRA, 2014; VILELA & ASSUNÇÃO,
2004; ASSUNÇÃO, et al 2006), mas que tende a agravar-se com a dupla jornada de trabalho,
uma vez que esses profissionais estão em constante planejamento de rotinas, organização dos
seus dias e horários de trabalho na tentativa de manter e conciliar os dois empregos. De acordo
com Silva et al (2018) o estresse no trabalho, pode levar os trabalhadores a desenvolverem
quadros de exaustão no trabalho, o que traz danos à saúde dos trabalhadores e pode implicar,
ao longo do tempo, em adoecimento psíquico.
Além disso, quando muito elevado ou muito recorrente, o estresse no trabalho tem im-
pacto direto na qualidade de vida, social e ocupacional dos trabalhadores que são por ele aco-
metidos (CAMARGO; OLIVEIRA, 2004). Essa realidade parece acontecer com os participantes
dessa pesquisa, pois além do estresse, verificou-se que o cansaço físico e qualidade do sono de
muitos deles também tem sido afetada:
“Fica com a mente, assim né, a mil, eu demoro um pouco pra dormir devido à correria,
demoro um pouco pra dormir, por isso que eu me distraio um pouco no celular vendo
alguma besteira, aí depois eu tento dormir e apago, mas o cansaço mental é o pior.”
(Entrevistado 9 - Teleatendente e Teleatendente)
“Eu sinto, não é mesmo físico, a gente sente que a gente tá, o corpo sabe, assim a mente,
tudo naquele estresse, parece que você já tá no seu limite, aí tem dia que eu digo eu vou
tomar um remédio [...] eu tomo um calmante aquele Passiflora, é um negócio assim, um
calmante natural.” (Entrevistado 5 - Teleatendente e Secretária Escolar)
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 29
“O que eu sinto é mais a dormência na mão [...] Ultimamente quando vou tomar café, a
mão trava assim [faz gesto com a mão], uma vez a xícara caiu pra fora, se tivesse caído
pra dentro eu teria tomado um banho de café, aí foi isso que eu observei, eu atribuo a
estar digitando, de tanto digitar, eu atribuo sim, porque tem hora que vai doendo até
aqui assim oh, só em fazer assim [demonstrando movimento com a mão], já dói.” (En-
trevistado 1 -Teleatendente e Professora)
“Exausta muito cansada, afeta mais a parte do corpo, o cansaço físico, e as vezes inter-
fere também na dor de cabeça, exatamente pelo cansaço do corpo vai afetar mais de
cabeça acho que você fica com aquela pressão, mas é mais isso mesmo o cansaço do
próprio corpo com a mente.” (Entrevistado 4 – Teleatendente e Recepcionista)
“No caso a alimentação é meia na ‘doidiça’, assim, porque geralmente quando eu chego,
eu não tomo café, chego já de 06h e não tomo café, aí como eu pego lá de 00h20min no
call center tem um lanche lá, aí tem vez que eu como, tem vez que eu não como, aí a
alimentação fica que meio na doida, por exemplo, eu me acordo de 12h, ai tem vez que
eu não tô com fome, aí eu como alguma fruta, já tomo banho já pra ir pro trabalho, a
alimentação não é muito correta não.” (Entrevistado 8 Teleatendente e Técnico de se-
gurança do trabalho)
“Olhe o que eu venho sentindo ultimamente é dor na perna, mas aí é o peso né? Porque
eu nunca tive 84 quilos eu acho que é por conta desse sobrepeso.” (Entrevistado 1 –
Teleatendente e Professora)
É notório na fala dos participantes o quanto a saúde mental e física tem sido afetada. A
atividade de teleatendimento é retratada na literatura como potencialmente deletéria a saúde
desses trabalhadores, devido a ocorrência de lesões por esforço repetitivo (LER), distúrbios
psíquicos, hábitos alimentares inadequados (ZILLIOTO; OLIVEIRA, 2014), estresse psicológico
e dores corporais (VENCO, 2006). No tocante a esse estudo, o quadro agrava-se ainda mais,
devido ao pouco tempo de descanso e repouso em detrimento ao segundo vínculo de trabalho.
Assim, é de se esperar que o corpo comece a apresentar efeitos dessa sobrecarga, através das
dores, das dormências, do cansaço, do sobrepeso (resultado da má alimentação) e tantos outros
sintomas e patologias que os profissionais descreveram ao longo das entrevistas.
Foi possível perceber nos discursos dos participantes que eles demonstram ter consci-
ência dos prejuízos atuais e futuros ocasionadas em suas saúdes em decorrência da rotina que
se encontram inseridos para dar conta da dupla jornada de trabalho. Todos eles apresentaram
falas claras a esse respeito, a seguir destacadas:
“Com relação a ter esses dois vínculos eu não acho saudável... isso pesa muito, e eu sei
que daqui a um tempo eu vou ter algumas dificuldades referente a essas noites mal dor-
midas e esse cansaço excessivo, então eu acho que daqui a uns anos eu vou ter um re-
flexo de tudo isso que eu tenho feito hoje... sou consciente e pretendo não durar muito
tempo nessa jornada [...]” (Entrevistado 4 – Teleatendente e Recepcionista)
“Eu acho que é uma loucura, é assim, é de outro mundo você exercer duas funções [...] é
muito desgastante a pessoa tem que se programar, tem que se preparar[...] isso é muito
desgastante, então eu não aconselho a ninguém não [...]” (Entrevistado 9 - Teleaten-
dente e Teleatendente)
“É complicado, eu preferia ter só um, por mim eu teria, ficaria só com uma opção que o
que eu tô tentando assim, mas futuramente eu pretendo ver se eu me desvinculo do call
center, fico só no outro.” (Entrevistado 8 - Teleatendente e Técnico de Segurança do
Trabalho)
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 30
“Então assim, eu não recomendo a ninguém ter esse duplo, num recomendo não, muito
cansativo e você não tem vida, eu nos domingos que eu tenho de descanso, eu prefiro tá
em casa dormindo, não tenho vida.” (Entrevistado 10 - Teleatendente e Embaladora)
“Eu me deito e vou dormir [risos], quando eu tô cansado mesmo eu chego em casa, como
alguma coisa, me deito e vou dormir.” (Entrevistado 7 -Teleatendente e Auxiliar admi-
nistrativo)
“Durmo, durmo, tentar ficar plena na cama, e dormir, é como eu descanso bem.” (Entre-
vistado 9 – Teleatendente e Teleatendente)
“Tipo eu tento no máximo descansar nas minhas folgas, no caso no domingo quando eu
tô de folga, não boto nada pra fazer já pra eu ter esse descanso, descansar o máximo que
eu puder.” (Entrevistado 10 - Teleatendente e Embalador)
Os discursos demonstram que todo o tempo disponível fora do trabalho acaba sendo
dedicado ao sono, com raras ou nenhumas outras atividades de lazer desenvolvidas. Apesar de
importantes para o descanso, pode-se questionar sobre a qualidade do sono desses profissio-
nais, já que em outros momentos alguns deles mencionaram sofrer de insônia, bem como aten-
tar para o fato de que não apenas o sono é importante, mas que momentos de lazer e relações
sociais são primordiais para a qualidade de vida desses profissionais (ARELLANO, 2004), con-
forme já mencionado nas categorias anteriores.
Outro fator que contribui para permanência desses profissionais no duplo vínculo são
as relações socioprofissionais que eles estabelecem nesse âmbito. Para Pinho e Santos (2007),
as relações interpessoais incidem em processos que tem como princípio a mutualidade, nesse
cenário verificou-se que os participantes buscam no convívio social do trabalho, estabelecer
trocas com os colegas, afim de tornar a atividade menos cansativa, o que fica evidente nas falas
que seguem:
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 31
“Quando eu saio pro outro trabalho, chego lá, antes de começar a trabalhar, vou lá na
sala dos professores, fico conversando um pouquinho pra desopilar, pra descansar mais
um pouco, porque eu acho que futuramente se eu não fizer esse exercício diário [...] eu
vou ficar com a mente tão cansada que eu vou ter que tomar calmante sempre, num é
uma vez ou outra.” (Entrevistado 5- Teleatendente e Secretária escolar)
Na fábrica é mais família, é minha família que trabalha, tô mais perto da família já que
durante a noite eu não tenho como tá perto. E no call center eu gosto, faz quatro anos
que eu tô lá, então eu já desenvolvi uma amizade também lá dentro.” (Entrevistado 10
- Teleatendente e Embaladora)
“[...] gosto muito de fazer novas amizades conhecer pessoas... conheço todo mundo, pra-
ticamente todo mundo, eu quando entro no call center, eu entro, falo com todo mundo,
e quando eu saio eu passo ilha por ilha, assim, falando com todo mundo, abraçando um,
dando beijo em outro.”(Entrevistado 7 - Teleatendente e Auxiliar Administrativo)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 32
REFERÊNCIAS
ANDRADE, R. D. et al . Qualidade de vida de operadores de telemarketing: Uma análise com o Whoqol-Bref. Cienc
Trab., Santiago, v. 17, n. 54, p. 177-181, dic. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.4067/S0718-24492015000300004.
Disponível em <https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-
24492015000300004&lng=es&nrm=iso>. Acesso em: 16 jan. 2021.
ARAÚJO, T. M. D. et al. Diferenciais de gênero no trabalho docente e repercussões sobre a saúde. Ciência & Saúde
Coletiva, 11, 1117-1129, 2006. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-453685>.
Acesso em: 16 de jan. 2021.
ARELLANO, E. B. Qualidade de Vida no Trabalho: como a nutrição está inserida nos programas de QVT.
Dissertação (Mestrado). PRONUT, Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 2004.
ASSUNCAO, A.Á. et al. Abordar o trabalho para compreender e transformar as condições de adoecimento na cate-
goria dos teleatendentes no Brasil. Rev. bras. saúde ocup., São Paulo, v. 31, n. 114, p. 47-62, Dec. 2006. DOI:
https://doi.org/10.1590/S0303-76572006000200005. Disponível em: <http://www.scielo.br/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-76572006000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 19 jan. 2021.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 33
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria n° 09, de 30 de março de 2007. Aprova o Anexo II da NR-17
– Trabalho em Teleatendimento/Telemarketing. Recuperada em 16 de janeiro, 2021, em https://sit.traba-
lho.gov.br/portal/images/SST/SST_legislacao/SST_portarias_2007/Portaria_09_Teleatendimento_Telemarke-
ting.pdf
CAMARGO, D. A.; OLIVEIRA, J. I. Riscos ocupacionais: repercussões psicossociais. In: Guimarães, L.A.M; Grubits, S
(Orgs.) Série saúde mental e trabalho, vol. II (pp. 157-181). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
DEJOURS, C. Trabalho vivo: Trabalho e emancipação. Tomo II. (F. Soudant, trad.).
Brasília: Paralelo 15, 2012.
DEJOURS, C. A loucura no trabalho: estudo da psicopatologia do trabalho (5 ed.). (A.I. Paraguay e L. L. Ferreira,
trads.). São Paulo: Cortez-Oboré, 1992.
JAMIL, G. L.; SILVA, F. B. Call Center e telemarketing. Rio de Janeiro: Axcel, 2005.
LAVILLE, C.; DIONNE, J. Análise de conteúdo. A construção do saber: Manual de metodologia da pesquisa em
Ciências Humanas, Belo Horizonte, Editora UFMG, 1999.
LUCCA, S. R. de et al . Fatores de estresse relacionado ao trabalho: as vozes dos atendentes de telemarketing. Cad.
psicol. soc. trab., São Paulo , v. 17, n. 2, p. 290-304, dez. 2014 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172014000300011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 16 jan. 2021.
OLIVEIRA, S. S.; BRITO, J. C. de. A dimensão gestionária do trabalho e o debate de normas e valores no teleatendi-
mento. Trab. educ. saúde (Online), Rio de Janeiro , v. 9, supl. 1, p. 265-284, 2011 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462011000400013&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em 19 Jan. 2021. https://doi.org/10.1590/S1981-77462011000400013.
PINHO, B. L.; SANTOS, S. M. A. O relacionamento interpessoal como instrumento de cuidado no hospital geral.
Cogitare Enfermagem, vol. 12, núm. 3, julio-septiembre, 2007, pp. 377-385. Disponível em < https://www.re-
dalyc.org/pdf/4836/483648984013.pdf> Acesso em 16 jan 2021.
RICCI, M. G.; RACHID, A. Relações de trabalho no serviço de teleatendimento. Gestão & Produção, 20(1), 192-
203, 2013. Disponível em <http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2013000100014> Acesso em 16 jan 2021.
ROCHA, J. C.; LIPP, M. Stress, hipertensão arterial e qualidade de vida: um guia de tratamento para o hiper-
tenso. São Paulo, Papirus, 1994.
SILVA, J. G ET AL. A saúde mental dos trabalhadores de Ubá e região - o que pode ser prejudicial?. Revista Cientí-
fica FAGOC-Multidisciplinar, 2(1), 31-35, 2018. Disponível em: < https://revista.unifagoc.edu.br/in-
dex.php/multidisciplinar/article/view/246/270> Acesso em 16 de jan 2021.
SILVA, L. F. S. C.; MOCELIN, D. G. Satisfação com o emprego em Call Centers: novas evidências sobre o emprego
trampolim. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 9(2), 60-71, 2009. Disponível em: <https://periodi-
cos.ufsc.br/index.php/rpot/article/view/13156/12237> Acesso em 16 de jan 2021.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 34
VENCO, S. Centrais de atendimento: a fábrica do século XIX nos serviços do século XXI. Rev. bras. saúde ocup.,
São Paulo, v. 31, n. 114, p. 07-18, Dec. 2006. DOI: https://doi.org/10.1590/S0303-76572006000200002. Dispo-
nível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0303-
76572006000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 16 jan. 2021.
VENCO, S. Neocolonialismo ou imigração eletrônica? O caso das centrais de atendimento. Disponível em:
http://www.icesi.edu.co/ret/documentos/Ponencias%20pdf/444.pdf. Acesso em:16 jan. 2021.
WAGNER, L. R et al. Relações interpessoais no trabalho: percepção de técnicos e auxiliares de enfermagem. Cogi-
tare Enfermagem, vol. 14, núm. 1, enero-marzo, 2009, pp. 107-113. Disponível em: < https://www.re-
dalyc.org/pdf/4836/483648974015.pdf> Acesso em: 16 de jan 2021.
ZILIOTTO, D. M.; OLIVEIRA, B. O. de. A organização do trabalho em call centers: implicações na saúde mental dos
operadores. Rev. Psicol., Organ. Trab., Florianópolis, v. 14, n. 2, p. 169-179, jun. 2014. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-66572014000200004&lng=pt&nrm=iso>.
Acesso em: 16 jan. 2021.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 35
INTRODUÇÃO
O uso e abuso de substâncias químicas, embora seja um problema que permeia longos
anos da história, continua sendo um fenômeno presente atualmente, e tem tomado proporções
cada vez maiores no decorrer dos anos. O aumento do uso de substâncias psicoativas (SPA) vem
ocorrendo de forma precoce entre jovens e adolescentes, resultando em um dos maiores pro-
blemas de saúde pública da contemporaneidade (SILVA; PERES, 2014).
Tendo em vista isso, o IIIº Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População
Brasileira foi coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e teve como um de seus par-
ceiros o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa aconteceu em 2015, e
a coleta de informações foi realizada por meio de entrevistas e contou com a participação de
cerca de 17 mil pessoas com idades entre 12 e 65 anos. Sobre os resultados, a maconha apre-
senta-se como a droga ilícita mais consumida: estima-se que 7,7% dos brasileiros entre 12 e 65
anos já usaram pelo menos uma vez na vida; a cocaína ficou em segundo lugar com 3,1%: 0,3%
dos entrevistados afirmaram ter feito uso da droga nos últimos 30 dias; 0,9% da população
relatam ter feito uso de crack ou similares pelo menos uma vez na vida (BASTOS; VASCONCEL-
LOS; DE BONI; REIS; COUTINHO, 2017).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 36
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 37
MÉTODO
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de campo de natureza exploratória e des-
critiva, desenvolvida através de um enfoque qualitativo.
Amostra
Foram realizadas entrevistas com quatro homens que estão em recuperação da depen-
dência química em uma ONG localizada na Cidade de Campina Grande, por meio de uma amos-
tra não-probabilística intencional. Utilizou-se como critérios de inclusão àqueles que se dispu-
sera a participar após compreensão da relevância da pesquisa e que estivessem internos há
pelo menos um mês. Os critérios de exclusão foram: àqueles com histórico de transtornos men-
tais e/ou que tivessem passado por algum episódio recente de recaída (há menos de um mês).
Instrumentos
Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram: Questionário sociodemográ-
fico, que objetiva traçar o perfil da amostra estudada e entrevista semiestruturada, com grava-
ção de voz. Alguns dos itens contidos foram: “Com que idade você fez uso de Substâncias Psico-
ativas - SPA pela primeira vez?, “A partir de qual idade você acredita que já era dependente de
SPA?”, “Como era sua relação familiar antes da dependência? Após a dependência mudou algo?”,
“Quais fatores você acredita que dificulta o abandono? Quais fatores te motivam a lutar contra
a dependência?”
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 38
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Variáveis F %
Sexo
Masculino 4 100%
Religião
Evangélico 2 50%
Católico 2 50%
Estado Civil
Solteiro 1 25%
Casado 2 50%
Divorciado 1 25%
Escolaridade
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 39
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 40
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 41
Os riscos são instalados a partir da fragilidade dos vínculos estabelecidos entre o jovem e estas
fontes, resultando nos desvios de conduta/comportamento. Em contrapartida, um vínculo sau-
dável com a família e a escola previne que o jovem seja seduzido por “más companhias”
(FRANÇA; COELHO JUNIOR; MELO, 2013). Ao considerar a família como o elo mais forte nessa
cadeia mesclada, atribui-se a esta a responsabilidade tanto por criar as condições relacionadas
ao uso abusivo de drogas tanto quanto pelos fatores de proteção. Quando há construção de vín-
culos familiares saudáveis, normas sociais edificantes são transmitidas para seus membros, po-
rém, quando a convivência familiar é disfuncional, há grandes probabilidades das normas des-
viantes dos pais espelharem o comportamento dos filhos (SCHENKER; MINAYO, 2003). A seguir
alguns exemplos do discurso que caracteriza esta classe:
“[...] desde os 18 anos eu trabalhei em construção, aí final de semanas meus tios iam
beber e eu ficava olhando” (Participante 1).
“[...] o álcool eu comecei com 10 anos de idade, beber e fumar com 10 anos... Porque eu
chegava lá (com aproximadamente 16 anos), e assim, no dia de Domingo eu dizia: ma-
mãe, eu queria tomar uma cachaça hoje, ela dizia: mas meu filho, quer tomar uma ca-
chaça? Eu digo: quero! ela dizia: tome, vá comprar, compre 1 litro e bote logo aí...” (Par-
ticipante 2).
“[...] meu pai usava, ele era depende de álcool e meus irmãos, eles eram alcóolatras. Meu
pai foi durante anos... Aí meus irmãos bebiam, meu irmão bebia cachaça, cerveja... Eu
sempre disse a eles: eu prefiro uma droga do que a bebida, que a bebida faz a gente cair,
faz a gente gastar o dinheiro da feira” (Participante 3).
“[...] uns 9 anos eu já bebia, mas bebia pouquinho, mas depois que fiquei mais velho que
comecei a beber mais... Morava na casa dos meus pais e com 15 a 16 anos eu sai de casa
e fui morar com outro pessoal lá... meu pai era muito ignorante para nós, minha mãe,
não...” (Participante 4).
“[...] eu não sei quando eu chegar lá, a convivência com a minha dona encrenca (esposa),
como vai ser. Mas, no meu pensamento, eu estou mais para não conviver com ela, do que
conviver com ela... Ela e mais as meninas... combinaram com ela para eu poder vir, eu sei
que ela não estava fazendo o mal, fazendo o bem para mim, né? Mas eu não gostei tam-
bém, minha vida é outra...” (Participante 4).
Nestes discursos, o participante 2 informa que tem no total 7 filhos, porém mantém vín-
culo afetivo apenas com uma filha. A bebida sempre dificultou seu relacionamento com os fa-
miliares. Em seu discurso, percebe-se que a mãe foi a pessoa com quem teve um laço afetivo
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 42
mais forte em toda sua trajetória de vida. Não chegou a ter contato com o pai, pois ele abando-
nou sua mãe ainda na gestação. O participante 4 há mais de 1 ano não recebe visita da esposa,
ele acredita que ela não o quer mais, pois devido à dependência do álcool seu relacionamento
foi enfraquecido e a incerteza quanto o futuro ao lado de sua família lhe causa grande sofri-
mento.
“[...] o dia começava e batia aquele negócio, eu corria para o banheiro, chorava, aí meu
pensamento em tirar minha vida, mas Deus sempre me dizia: não. Eu fui tentando es-
quecer, tentando... Comecei na Palavra, aí hoje eu quero viver mais do que nunca... Hoje
quando eu lembro bate um... Mas eu acho que eu tinha que passar por isso, para... Porque
para essa vida eu não volto mais não... Estava fazendo mal, principalmente a mim
mesmo, e claro que você machuca quem você gosta, quem gosta de você, que quer te
ajudar...” (Participante 1).
“[...] só basta querer! Botar na sua mente, botar no seu coração, evitar os lugares aonde
existe isso, não chegar a quem levou você ao fundo do poço, falar, se encontrar, mas não
ficar, entende?” (Participante 3).
“[...] aonde eu ia tinham vários adolescentes que já faziam o uso do álcool e eu fui experi-
mentar... Quarta feira tinha jogo eu queria tomar uma, segunda eu queria tirar ressaca,
tomava uma, eu sempre queria estar ali na roda de amigos conversando e bebendo... estava
triste porque estava separado, já estava bebendo todo dia, toda hora, já tinha me entre-
gado para a cachaça já... Aí disse: o que é isso que tu faz? Quero provar! Aí ele abriu e me
deu (o crack) e eu provei. (Participante 1).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 43
“[...] a pessoa deve evitar também de entrar em ambiente que tenham muitas pessoas be-
bendo, na bebedeira... Porque a pessoa muito conhecido no bairro, quando chega em qual-
quer um bar daquele vizinho, perto da casa da pessoa, tem 5, 6 bebendo, tudo amigo... Aí se
a pessoa oferece... Outra coisa num oferece, né? Mas bebida...” (Participante 2).
“[...] aí depois eu conheci um amigo meu, ele me deu o crack, né? E eu fui... Comecei a usar,
com uns 29, 30 anos. Aí foi quando eu fiquei dependente do crack... A cocaína eu usei
quando eu viajei pra outro estado... eu queria provar porque diziam que era boa, mais alu-
cinante, aí eu provei...” (Participante 3).
“[...] meus irmãos, por causa da bebida, deixaram a sua profissão, não seguiram a car-
reira... Quando eu tava nesse problema de droga, eu me afastava dos meus amigos que
não gostam disso, que são mais íntimos, mais amigo... Porque eu não queria preocupar
eles, que eu não queria incomodá-los com meu problema, tanto eu não atrapalhava os
seus assuntos, como eu não queria que eles entrassem no meu” (Participante 3).
A classe 6, denominada “mundo das drogas” mostra como é mundo do usuário de crack
quando este encontra-se com os vínculos afetivos rompidos. Nada mais faz sentido além da
droga. O sujeito vive, exclusivamente, em função da droga, perdendo a noção de mundo, pois
seu próprio mundo gira em torno do consumo do crack. Afeta diretamente os laços familiares,
causando quebras de vínculos afetivos, perda de autonomia do sujeito, visão estereotipada da
sociedade e o consequente isolamento social.
Em um estudo que objetivou caracterizar a iniciação e o padrão de consumo nos públicos
jovem e adultos, Silva e Peres (2014) destacam que os resultados alcançados são semelhantes
aos obtidos em outras pesquisas, apontando o crack como a droga ilícita mais consumida entre
adolescentes e adultos, com predomínio do sexo masculino.
“[...] porque minha vida antes das drogas era uma coisa, e depois foi totalmente dife-
rente, totalmente diferente... Pegava todo o dinheiro, aí eu comprava e levava para casa,
aí passava a noite toda fumando sozinho...” (Participante 1).
“[...] meu pai e meus irmãos se reuniu tudinho, ficaram todo mundo junto, aí eles não
gostavam porque eu usava droga, porque eu conhecia os drogados, andava com gente
ruim, da pesada... Eu fiquei em cárcere privado, por eu dever... Essa minha colega não
quis deixar eu sair, aí me trancou, me trancafiou... aí eu comprava todos os dias, aí ela
dizia que ia trazer maconha pra mim, sabe? Quando eu disse que ia embora ela disse:
você me deve 50 reais de droga, e o celular que você comprou, você me deve ainda 100
reais... eu devo 150 reais a essa menina, 50 de droga e 100 do celular, e ali a menina eu
devo 800 reais...” (Participante 4).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho foi embasado teoricamente na Psicologia Social da Saúde para compreen-
são dos aspectos psicossociais da dependência química, com o intuito de apontar alguns dos
principais fatores que corroboram com o desencadeamento da dependência tanto quanto para
investigar os gatilhos familiares que estão envolvidos nesse fenômeno. Spink (2011), como re-
presentante desse campo de saber, coloca que a práxis está centrada em um cenário coletivo,
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 45
comprometendo-se com a cidadania e direitos sociais dos indivíduos, rompendo com as práti-
cas tradicionais da Psicologia que focam no sujeito de forma individual.
Diante dos resultados obtidos observou-se que a dependência química é um fenômeno
multicausal, que está intimamente ligada a fatores sociais, como situações de vulnerabilidade,
influência social, disfuncionalidade do sistema familiar, situações de desigualdade social, den-
tre outros. Algumas causas são evidentemente apontadas nesta pesquisa como estimuladoras
ao abuso de drogas.
Como primeira causa, aponta-se a influência parental que se dá pelo consumo de subs-
tâncias por membros próximos da família, tornando-se um fator facilitador ao início do uso
precoce; em seguida há a resistência da sociedade e, algumas vezes, até familiar em apoiar o
sujeito que passou pelo tratamento e encontra-se recuperado do vício, por acreditarem que a
qualquer momento ele poderá ter um episódio de recaída; outra causa: o retorno à comunidade
e a inevitável reaproximação com os antigos companheiros também se apresenta como outro
obstáculo ao abandono definitivo do álcool/droga, por ser onde acontece a oferta das substân-
cias.
Com estas evidências, percebe-se a necessidade de uma atuação dos profissionais de sa-
úde no âmbito psicossocial, trabalhando não só a dependência individual do sujeito, mas impli-
cando, principalmente, os familiares mais próximos nesse processo de recuperação. Já houve
comprovação em alguns estudos de que há um maior aproveitamento do tratamento àqueles
indivíduos que permanecem com o vínculo familiar durante o período de internação. Este tam-
bém foi um fator observado nos discursos, pois aqueles que recebem constantemente a visita
de pessoas queridas, se mantém mais firmes e demonstram mais segurança quanto à uma não-
recaída, pelo temor de decepcioná-los. O aspecto emocional destas pessoas é de extrema vulne-
rabilidade.
Inicialmente, a pesquisa seria destinada a seis homens que estivessem em tratamento,
porém, obedecendo ao critério de inclusão em que participariam àqueles que estivessem inter-
nos há pelo menos um mês, dos que se dispuseram apenas quatro estavam aptos, e, conside-
rando a variável do tempo estimado para entrega dos resultados, não seria viável aguardar o
tempo necessário para os demais participarem. De todo modo, mesmo a amostra sendo inferior
à esperada, os resultados foram satisfatórios.
A partir deste estudo, percebeu-se a escassez de trabalhos que dão voz ao usuário de
substâncias psicoativas como também a seus familiares, e sabe-se que abrir espaço de fala para
este público é fundamental, uma vez que a escuta resulta em melhor entendimento do fenô-
meno estudado e a consequente obtenção de subsídios para elaboração de políticas públicas
que ultrapassem a perspectiva individual, ressaltando que a questão saúde “pessoal” requer
saúde “coletiva” para se manter.
REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (5ª
ed.). Artmed Editora, 2014.
BASTOS, Francisco I. P. M.; VASCONCELLOS, Maurício T. L. D.; DE BONI, Raquel B.; REIS, Neilane B. D.; COUTINHO,
Carolina F. D. S. III Levantamento Nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2017. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/34614.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 46
CAMARGO, Brígido V.; JUSTO, Ana M. IRAMUTEQ: um software gratuito para análise de dados textuais. Temas
em psicologia, v. 21, n. 2, p. 513-518, 2013. Disponível em: http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.2-16.
CARVALHO, Thiago S.; MOTA, Daniel M.; SAAB, Flávio. Utilização do software IRaMuTeQ na análise de contribui-
ções da sociedade em processo regulatório conduzido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Vigilância
Sanitária em Debate: Sociedade, Ciência & Tecnologia, v. 8 n. 1, p. 10-21, 2020. DOI: DOI:
https://doi.org/10.22239/2317-269x.01429.
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed Edi-
tora, 2019.
FRANÇA, Thiago H. B.; COELHO JUNIOR, Leconte de Lisle; CARNEIRO, Farley M. Um Estudo Sobre o Consumo de
Drogas em Estudantes de Maceió (Al). REVASF, v. 2, p. 27-34, 2013.
HORTA, Cristina L.; HORTA, Rogério L.; LEVANDOWSKI, Daniela C.; TEIXEIRA, Vanessa A.; LISBOA, Carolina S. D.
M. Efeitos da vitimização por pares sobre o uso de substâncias psicoativas e comportamentos violentos em ado-
lescentes. Estudos de Psicologia (Natal), v. 24, n. 4, p. 402-413, 2019. DOI: http://dx.doi.org/10.22491/1678-
4669.20190040
MELO, Juliana R. F.; MACIEL, Silvana C. Representação social do usuário de drogas na perspectiva de dependen-
tes químicos. Psicologia Ciência e Profissão, v. 36, n.1, p. 76-87, 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982-
3703000882014
ROCHA, Walkíria S.; ALVES, Estela R. P.; VIEIRA, Kay F. L.; BARBOSA, Khivia K. S.; LEITE, Gerlane O.; DIAS, Maria
D. Concepções dos usuários de crack sobre os fatores que influenciam o uso e a dependência. SMAD, Revista
Electrónica en Salud Mental, Alcohol y Drogas, v. 11, n. 3, p. 129-135, 2015. DOI:
http://dx.doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v11i3p129-135
ROSO, Adriane. Psicologia social da saúde: tornamo-nos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos.
Aletheia, v.26, 80-94, 2007. Disponível em https://www.redalyc.org/pdf/1150/115013567008.pdf
SCHENKER, Miriam; MINAYO, Maria C. D. S. A implicação da família no uso abusivo de drogas: uma revisão crí-
tica. Ciência & Saúde Coletiva, v. 8, n. 1, p. 299-306, 2003. Retirado de https://www.scie-
losp.org/pdf/csc/2003.v8n1/299-306/pt
SILVA, Waleska R., & PERES, Rodrigo S. Concepções sobre álcool e outras drogas na atenção básica: o pacto dene-
gativo dos profissionais de saúde. Psicologia: ciência e profissão, v. 34, n. 2, p. 474-487, 2014.
https://doi.org/10.1590/1982-3703000492013
SOBRAL, Carlos. A.; PEREIRA, Paulo C. A co-dependência dos familiares do dependente químico: revisão da litera-
tura. Revista Fafibe On-Line - ano V – n.5, 2012.
SOUSA, Yuri S. O., GONDIM, Sonia M. G.: CARIAS, Iago A.; BATISTA, Jonatan S.; MACHADO, Katlyane. C. M. O uso do
software Iramuteq na análise de dados de entrevistas. Pesquisas e Práticas Psicossociais, São Joao del-Rei, v.
15, n. 2, p. 1-19., abr./jun. 2020. Disponível em: http://www.seer.ufsj. edu.br/index.php/revista_ppp/arti-
cle/view/ e3283. Acesso em: 19 jul. 2020.
SPINK, Mary J. P. Psicologia Social e Saúde: trabalhando com a complexidade. Quaderns de psicología, v. 12, n.
1, p. 041-056, 2010. http://dx.doi.org/10.5565/rev/qpsicologia.752
SPINK, Mary J. P. Psicologia social e saúde: prática, saberes e sentidos. Editora Vozes Limitada, 2011.
WANDEKOKEN, Kallen D.; DALBELLO-ARAUJO, Maristela Trabalho nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e
Drogas e as Políticas Públicas: Que caminho seguir? Trabalho, Educação e Saúde, v. 13, p. 157-175, 2015. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/1981-7746-sol00003.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 47
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 48
Longe de trazer para esta discussão as consequências legais que uma mudança no marco
de idade para se considerar alguém idoso pode causar, o que se busca é mostrar como o con-
ceito de envelhecimento é subjetivo e afeito à sua época.
Nesse contexto, podemos ver em uma frase de Mário Quintana algo que expressa um
pouco desse recusar-se a parar quando ele diz “Morrer: Que me importa? O diabo é deixar de
viver.” E isso faz com que mesmo diante do envelhecimento e de um corpo que impõe limites o
sujeito continue a desejar. Mas desejar o quê? Desejar continuar a viver pois, como afirma Mu-
cida (2004), o sujeito, aquele desejante, este não envelhece. O desejo não tem cara, nem idade,
nem época, ele é atemporal, não que se negue a existência de uma época da vida, mas essa época
que se impõe ao sujeito não é capaz de apagar seu desejo.
É possível observar ainda que o envelhecimento de fato provoca uma série de mudanças
no corpo, como lentidão para certos movimentos físicos, perda de memória, a capacidade de
regeneração celular também é afetada, isso tudo aponta de certa forma para a finitude da vida
e aí devemos pensar em Freud (1919/2020) quando este fala do infamiliar, porque ao final das
contas a finitude e a morte não têm lugar em nosso inconsciente. Então, como encarar esse real
tão cru que a velhice insiste em mostrar?
Uma das formas possíveis para lidar com todo esse excesso de nomeação que se dá por
parte do outro e que é experimentado na velhice é a elaboração de novas formas de subjetiva-
ção, além do desenvolvimento de meios e ferramentas psicológicas que permitam ao sujeito
construir o seu envelhecer, respeitando suas singularidades, idiossincrasias e particularidades,
percebendo o que a velhice lhe trouxe como oportunidade de vivências que não puderam ser
experienciadas em outro momento da vida, o que pode ser construído através de um trabalho
psicoterápico (KIM, 2016).
A psicoterapia com idosos pode ser caracterizada como um processo em que o sujeito
poderá buscar construir formas possíveis de lidar com cada nova fase de sua vida, seja essa uma
fase de mudanças relacionadas à idade ou de conflitos inerentes a determinadas fases do de-
senvolvimento humano. Com essas novas formas, pode-se criar uma maior capacidade de trans-
formação individual, bem como desenvolver a espontaneidade e a capacidade de dar novas res-
postas diante dos acontecimentos vividos, lidando de maneira mais eficiente com os fatos insa-
tisfatórios da vida cotidiana (FALEIROS, 2004; KIM, 2016).
No início do século XIX, Freud (1893/2016), a partir de seus estudos acerca das mulhe-
res histéricas, que sofriam com contraturas, nevralgias, mutismo e outros sintomas físicos, co-
meçou a desenvolver a psicanálise. Percebendo que se tratava de questões de cunho emocional,
aos quais os médicos da época não conseguiam atribuir causas orgânicas, Freud buscou através
da escuta, daquelas mulheres, entender de uma outra maneira a manifestação de seus sintomas,
proporcionando-lhes algum alívio.
Entretanto, já nos idos de 1898, com sua teoria melhor estruturada, Freud defendeu que
a psicanálise fracassava com pessoas muito idosas, devido ao acúmulo de material nelas, o que
demandaria bastante tempo de análise, de modo que ao terminar o tratamento a saúde mental
já não seria uma prioridade. Porém, uma ressalva é feita por ele, antes de exemplificar os casos
em que a psicanálise não seria recomendada: “A terapia psicanalítica não é, no momento [ênfase
nossa], aplicável a todos os casos” (FREUD, 1898/2006, p. 268).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 49
MÉTODO
Trata-se de pesquisa de campo, de natureza básica, com abordagem qualitativa. Com ob-
jetivos descritivos e exploratórios, foi usada uma amostra não probabilística de 21 psicólogos
clínicos vinculados à Uninassau de Campina Grande, com no mínimo um ano de atuação na área
clínica.
O principal instrumento para levantamento dos dados foi o questionário on-line, elabo-
rado via Google Forms, cadastrado na Plataforma Brasil e disponibilizado para os participantes,
via link compartilhável, após a aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade da Amazônia -
UNAMA, através de Parecer Consubstanciado n.º 4.425.794.
A análise categorial temática foi o método utilizado, organizando-se o material em torno
de três eixos: 1) pré-análise; 2) exploração do material; 3) tratamento dos resultados, inferên-
cia e interpretação (BARDIN, 2011). Durante a pré-análise, o universo de documentos foi esco-
lhido a priori, isto é, nosso universo foi demarcado quando escolhemos como instrumento de
pesquisa o formulário Google. Com o corpus constituído, não deixamos de fora qualquer res-
posta obtida, procedemos inicialmente à leitura flutuante das respostas colhidas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Coletados os dados, pôde-se concluir que a maioria dos participantes foi de mulheres
(20), havendo apenas um participante do sexo masculino. A faixa etária ficou entre 25 e 55 anos.
Dos 21 respondentes, a maioria não tinha filhos (17) e era solteira (10), havendo também pes-
soas casadas (8) ou divorciadas (3). Dentre as abordagens de atuação na clínica psicológica, 16
dos participantes trabalham com a psicanálise, um com Atenção Centrada na Pessoa, um com
logoterapia e três com Terapia Cognitivo-Comportamental. Dos 21 participantes, 12 respon-
dentes têm entre um e três anos de prática clínica, sete entra quatro e sete anos e dois entre 13
e 19 anos. Apenas dois participantes responderam que não trabalhavam com idosos.
O formulário elaborado apresentava quatro perguntas abertas: 1. Quais motivos levam
você a trabalhar ou não com idosos? 2. Como você vê a efetividade da psicoterapia com idosos?
3. Quais dificuldades no atendimento com idoso você enunciaria? 4. Quais demandas você vê
como sendo as mais frequentes do público idoso?. As respostas a essas perguntas forneceram
dados que foram codificados segundo unidades de registro temáticas, o que nos forneceu 52
categorias iniciais, das quais foram criadas 20 categorias intermediárias, que segundo critérios
semânticos foram agrupadas em 8 categorias finais: 1. Os motivos para atender não se diferen-
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 50
ciam por idade; 2. Identificação 3. Processo de envelhecimento pode ou não interferir nos efei-
tos 4. Dificuldades relacionadas à família e engajamento do idoso 5. Dificuldades típicas do pro-
cesso de envelhecimento 6. Sem dificuldades específicas 7. Processo de envelhecimento 8.
Questões afetivas e familiares.
Ao serem questionados se trabalham com idosos e sobre o motivo pelo qual escolheram
trabalhar ou não com esse público, as respostas ficaram em torno de duas categorias: os que
não diferenciam o público idoso de outros públicos (estes, porém, reconhecem que há particu-
laridades nessa clínica) e os que sentem ou não uma certa identificação com os idosos. Na Ta-
bela 1 é possível visualizar o processo de elaboração das categorias iniciais, intermediárias e
finais.
Na primeira categoria, os que afirmam que não fazem diferenciação entre o público idoso
e os demais, pode-se observar algo da ordem da busca por desenvolver uma clínica possível
com os idosos. O Participante 9 (P9), respondendo sobre o motivo de trabalhar com idosos
afirma que:
Trabalho com idosos pelos mesmos motivos que trabalho com outras faixas etárias.
Acolher compreender, assistir e intervir em situações de sofrimento, promover saúde,
prevenir doenças, oferecer suporte para que o autoconhecimento e o autocuidado se-
jam reais, além de desenvolver (com o idoso) formas de ampliar a sua rede de cuidado.
(P9)
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 51
a noção psicanalítica de que o desejo não envelhece, o desejo, que não é o mesmo que vontade,
mostra-se de formas diferentes ao longo da vida, sempre marcado por uma falta, a qual coloca-
nos em movimento (MUCIDA, 2009).
Sentir-se ouvido foi trazido por alguns respondentes como sendo um dos efeitos da psi-
coterapia: “O desejo que o idoso tem de comparecer a psicoterapia porque diz que ali é ouvido”
(P12). Neste sentido, percebe-se que o espaço terapêutico pode-se constituir em um espaço
seguro de fala e de construção de subjetividade. É comum idosos se queixarem de sentimentos
de solidão, tanto quando moram sozinhos, como quando moram com outros familiares (BRASIL
et al., 2013). A família, por vezes, oferece os cuidados necessários a sobrevivência do idoso, mas
esquece de algo fundamental, ouvi-lo (MENDES et al., 2005). A terapia pode proporcionar uma
escuta efetiva do sujeito independentemente de sua idade. Para P1 a psicoterapia “Traz um aco-
lhimento mais do que uma efetiva mudança”.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 52
Não houve respostas afirmando que não há efetividade na psicoterapia com idosos, mas
dificuldades, as quais podem ou não estar relacionadas com o envelhecimento em si. O processo
de envelhecimento, entretanto, traz mudanças e perdas cognitivas, motoras, dentre outras,
questões essas que são percebidas no atendimento ao idoso e que trazem particularidades para
esse grupo. Nas respostas a seguir, é evidenciada a relação entre os efeitos do tratamento psi-
coterápico e a idade do paciente: “É efetivo mas, com um tempo de mudança um pouco dife-
rente, talvez por uma construção egóica mais rígida pelo tempo.” (P6), “É difícil pelo fato das
crenças rígidas e padrões já estabelecidos, percebo que há um tempo maior para conseguir re-
sultados.” (P11), “É um processo bem mais lento e delicado” (P19).
Sobre essa rigidez que viria com a idade, em 1937, Freud aponta uma inércia psíquica,
esperada durante o tratamento psicanalítico, a qual ilustra uma resistência do analisando
quando novos caminhos para os impulsos são desvelados. Em seguida, compara essa inércia à
mesma que seria encontrada em pessoas muito idosas, sendo que nesse caso a inércia se expli-
caria pela força do hábito ou exaustão da receptividade, sendo uma espécie de entropia psíquica
(FREUD, 1937/2019). Contudo, é sempre preciso contextualizar o que é produzido e os modos
de vida de hoje são bem diferentes daqueles que tinham os idosos do século XIX e início do
século .
Tanto é assim que em outro texto, Freud (1914/2010) afirma que as resistências acom-
panham o trabalho analítico/psicoterápico passo-a-passo e, por vezes, essa resistência se ex-
pressa também através de faltas ou desinteresse. Dessa maneira, a implicação em um processo
analítico independente de faixa etária. Alguns respondentes coadunam-se com esse posiciona-
mento quando se colocam da seguinte maneira: “É efetiva sim alguns casos, assim como nas
demais faixas etárias, umas vez, que tem relação com o desejo e a implicação do paciente.” (P3),
“Apresenta progressos e oscilações, como em outras faixas etárias” (P17). P9 em sua fala traz
que o engajamento não só do paciente, mas de sua família tem consequências para a clínica.
Entendo que a psicoterapia é sim efetiva e ela pode proporcionar um efeito real e positivo
para com os idosos, mas também compreendo que isso não funciona de forma automática,
precisando do engajamento do próprio idoso e também das pessoas que fazem parte da sua
realidade, dos contextos que ele está inserido.
A psicoterapia pode oferecer ao sujeito ferramentas e meios para que ele ressignifique
o processo de envelhecimento, bem como pode colaborar para a construção de novas vivências,
colocando em dúvida a equação que diz que envelhecer é apenas a visão de finitude. Finitude
esta, aliás, que está para todas as idades. Dessa maneira, a efetividade da terapia também é
descrita como “Bastante significativa, essencial para o seu [do idoso] bem-estar, possibilitando-
o a fazer a sua travessia e seus enfrentamentos tão necessários!” (P16).
A partir das respostas à pergunta Quais demandas você vê como sendo as mais frequentes
do público idoso? duas categorias temáticas foram construídas: as demandas que se relacionam
aos processos próprios do envelhecer e as demandas que se relacionam com questões afetivas
e familiares. A Tabela 3 traz essas informações de maneira mais objetiva, detalhando o trata-
mento dos dados para se chegar às categorias finais.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 53
(P20). Mucida (2009) enriquece a reflexão quando diz que há dificuldades no reconhecimento
da imagem que o espelho mostra em diferentes momentos da vida do sujeito, afinal de contas,
não só existem a atemporalidade do inconsciente e o infamiliar da finitude, mas também o fato
de que não se envelhece de uma vez só, sendo que parece mais fácil enxergar a velhice nos
outros.
Não foge do escopo do real do corpo, a inevitabilidade da morte, a finitude. Mais uma vez
recorrendo a Freud (1919/2020), embora a máxima “todos os homens devem morrer” seja
usada como afirmação universal nos livros de lógica, ninguém parece esclarecê-la. E “nosso in-
consciente tem agora tão pouco espaço como antes para a representação da própria mortali-
dade” (FREUD, 1919/2020, p. 87). Não estamos preparados para velhice. E como estaríamos?
Mucida (2009) relembrando Freud, diz que no inconsciente não há lugar para a morte, conse-
quentemente não há lugar para velhice, o outro envelhece, o outro morre, nós não.
Ainda sobre o infamiliar, a expressão somática do envelhecer escancara a fragilidade e a
finitude humana. Particularmente no processo de envelhecimento, obriga-nos a nos deparar
com uma questão implacável, isto é, a temporalidade, a qual atinge o corpo de modo indelével
(BRASIL et al., 2013).
“Medo de morrer e deixar os netos que cuidam desamparados” (P12); “Dificuldades com
perdas, pânico e o real do corpo” (P6) e; “As queixas se referem à solidão, finitude, sentido da
vida e desejos não realizados” (P17) são algumas das demandas colocadas pelos psicólogos que
participaram da pesquisa. E aqui cabe ressaltar que a morte e o luto também se dão sem que
haja falecimento, isto é, arrependimentos, desejos não realizados e jovialidade passam pelo
luto.
Cada caso é muito particular, mas vejo com frequência as escolhas feitas durante a vida sur-
girem como pontos insatisfatórios, por um viés de arrependimento de uma vida que não mais
podem escolher ter. Há muito, especialmente em mulheres, questões com o corpo, com a dor,
o medo da solidão. (P7)
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 55
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 56
Pela rotina de terapêuticas médicas diversas nessa etapa da vida, às vezes encaram a análise
como mais uma delas, a qual é, muitas das vezes, realizada a partir do encaminhamento de
um médico, o que pode interferir na demanda de análise por parte do paciente, uma vez que
nem toda demanda é demanda de análise e quando a procura por um analista não parte espe-
cificamente do sujeito é possível que essa demanda não seja feita/construída.
A rotina de consultas médicas é comum ao público idoso, pois apresentam com frequên-
cia dificuldades e perdas como, perda de força muscular, de equilíbrio, de movimento, isso por-
que a maioria tem uma vida mais sedentária que os outros grupos populacionais (HERNANDEZ;
VOSER, 2019). Além disso, é comum o aparecimento de doenças crônicas como diabetes, hiper-
tensão, dentre outras. Ainda sobre as dificuldades relacionadas ao envelhecimento, Hernandez
e Voser (2019) afirmam que, idosos deprimidos têm mais sintomas relacionados a alterações
cognitivas do que sintomas propriamente afetivos, quando comparados com adultos jovens de-
primidos. Todavia, influenciam e oferecem dificuldades ao processo psicoterápico não só fato-
res biológicos, mas também fatores psicológicos, sociais e o contexto histórico-cultural, pois, o
sujeito precisa lidar com todos esses fatores da infância até a idade mais avançada, e é através
deles vai construindo sua visão do envelhecimento (RIBEIRO, 2015).
Não é incomum vermos o termo “velho” sendo usado de forma pejorativa, relacionado
com o que não tem mais serventia ou utilidade, que está ultrapassado fora de uso. Sobre isso
P1 diz que “A cultura que idoso é inútil acaba por trazer bastante rigidez para o processo”. A
velhice pode ser uma fase onde o sujeito reconhece que realizou sonhos e projetos ou pode ser
um momento em que ele se dá conta que já não há mais tempo para algumas coisas (SILVA;
LÔBO; MARINHO, 2014). Diante dessa visão, o psicólogo será aquele que buscará junto ao su-
jeito, construir novas possibilidades quando as formas de enxergar o envelhecimento.
Para alguns psicólogos não há dificuldades específicas relacionadas ao atendimento do
idoso P7 afirma que não encontra “Nenhuma em especial”. Como é possível observar na tabela
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 57
5. Esses psicólogos, não percebem a clínica do envelhecimento como uma clínica peculiar para
o trabalho psicoterápico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo principal compreender as diferentes percepções dos
psicólogos clínicos vinculados à Uninassau de Campina Grande sobre a psicoterapia com idosos,
buscando-se para isso identificar como esses profissionais veem a efetividade da psicoterapia
com idosos; detectar quais demandas esses psicólogos apontam como sendo as mais frequentes
do público idoso e; levantar quais dificuldades no atendimento com idoso são enunciadas por
esses psicólogos.
Pode-se dizer que os psicólogos participantes não veem a idade como motivo para aten-
der ou deixar de atender alguém idoso, sendo que alguns deles mencionaram que o motivo para
trabalharem como esse público era terem identificação com ele. Quanto à psicoterapia com
idosos, os respondentes veem como sendo positiva e efetiva, possível de conseguir resultados,
porém, trata-se de uma clínica que tem suas peculiaridades. Já no que concerne às demandas
trazidas pelos idosos, destacam-se aquelas relacionadas ao envelhecer (real do corpo, finitude,
luto, falta de autonomia e medo de morrer) e questões afetivas e familiares (medo da solidão,
depressão, questões com o amor). Finalmente, no quesito dificuldades encontradas no atendi-
mento com idoso, percebemos que dificuldades relacionadas à família (que pode estar despre-
parada para lidar com o idoso, infantilizá-lo ou até mesmo abandoná-lo), ao engajamento do
idoso e ao processo de envelhecer em si foram identificadas. Houve, ainda, participantes que
mencionaram não perceber dificuldades específicas nesse tipo de atendimento.
A clínica psicoterapêutica com o idoso tem suas particularidades, assim como a clínica
com outras faixas etárias, de modo que é importante levá-las em conta. Neste estudo, as parti-
cularidades foram apresentadas a partir do profissional de psicologia, mostra-se interessante
uma posterior investigação com os próprios idosos que procuram a terapia, especialmente para
conhecer suas demanda
REFERÊNCIAS
BRASIL, Katia Tarouquella Rodrigues; BARCELOS, Maria Angélica Rodrigues De; ARRAIS, Alessandra da Rocha;
CÁRDENAS, Carmen Jansen De. A clínica do envelhecimento: desafios e reflexões para prática psicológica com
idosos. Aletheia, [S. l.], n. 40, p. 120–133, 2013. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/sci-
elo.php?script=sci_abstract
&pid=S1413-03942013000100011&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 22 nov. 2020.
DRURY, Barbara. What is the Age Pension age? 2020. Disponível em: https://www.superguide.com.au/in-reti-
rement/current-age-pension-age. Acesso em: 12 nov. 2020.
FALEIROS, Elizabeth Amelio. Aprendendo a ser psicoterapeuta. Psicologia: ciência e profissão, [S. l.], v. 24, n. 1,
p. 14–27, 2004. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-
98932004000100003&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 25 abr. 2020.
FREUD, Sigmund. O infamiliar [Das Unheimliche]. Edição comemorativa bilíngue (1919-2019): Seguido de O
Homem da Areia de E. T. A. Hoffmann ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1919/2020.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 58
FREUD, Sigmund. Obras completas. Estudos sobre a histeria (1893-1895). São Paulo: Companhia das Letras,
1893/2016. v. 2
FREUD, Sigmund. A sexualidade na etiologia das Neuroses. In: Edição Standard das obras psicológicas de Sig-
mund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1898/2006. v. III. Disponível em: http://www.freudonline.com.br/li-
vros/volume-03/vol-iii-13-a-sexualidade-na-etiologia-das-neuroses-1898/. Acesso em: 18 maio. 2020.
FREUD, Sigmund. Análise terminável e interminável (1937). In: Fundamentos da clínica psicanalítica. Belo Ho-
rizonte: Autêntica, 1937/2019. p. 315–364.
FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo. In: Obras completas. Introdução ao narcisismo, ensaios de me-
tapsicologia e outros textos (1914-1916). Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1914/2010. v. 12.
HERNANDEZ, José Augusto Evangelho; VOSER, Rogério da Cunha. Exercício físico regular e depressão em idosos.
Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 718–734, 2019. Disponível em: http://pep-
sic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1808-42812019000300010&lng=pt&tlng=pt. Acesso em: 22 nov. 2020.
JORNAL NACIONAL-G1. Itália muda conceito de idoso para 75 anos. 2018. Disponível em:
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/12/04/italia-muda-conceito-de-idoso-para-75-anos.ghtml.
Acesso em: 2 jul. 2020.
KIM, Leila Maria Vieira. Tempo do ócio: espaço do pensamento para a construção da espontaneidade, em uma
intervenção grupal com idosas. Revista Brasileira de Psicodrama, [S. l.], v. 24, n. 1, 2016. DOI: 10.15329/2318-
0498.20160010. Disponível em: http://www.gnresearch.org/doi/10.15329/2318-0498.20160010.
KOWAL, Paul; PEACHEY, Karen. Indicators for the Minimum Data Set Project on Ageing: A Critical Review in
sub-Saharan Africa. [s.l.] : {World Health Organization [WHO]}, 2016. Disponível em:
https://www.who.int/healthinfo/survey/ageing_mds_report_
en_daressalaam.pdf. Acesso em: 2 jul. 2020.
MENDES, Márcia R. S. S. Barbosa; GUSMÃO, Josiane Lima De; FARO, Ana Cristina Mancussi E.; LEITE, Rita de Cás-
sia Burgos de O. A situação social do idoso no Brasil: uma breve consideração. Acta Paul Enferm., São Paulo, v.
18, n. 4, p. 422–426, 2005. DOI: 10.1590/S0103-21002005000400011. Disponível em: https://www.sci-
elo.br/pdf/ape/v18n4/
a11v18n4.pdf.
MUCIDA, Angela. O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice. [s.l.] : Autêntica, 2004. Disponível em:
https://play.google.com/store/books/details?id=TZTBkc42oLwC.
MUCIDA, Angela. Escrita de uma memória que não se apaga: envelhecimento e velhice. [s.l.] : Autêntica,
2009. Disponível em: https://play.google.com/store/books/details?id=R20xAQAAIAAJ.
NERI, Anita Liberalesso. Contribuições da psicologia ao estudo e à intervenção no campo da velhice. Revista Bra-
sileira de Ciências do Envelhecimento Humano, [S. l.], v. 1, n. 1, 2006. DOI: 10.5335/rbceh.2012.46. Disponível
em: http://seer.upf.br/index.php/rbceh/article/view/46. Acesso em: 21 out. 2017.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 59
RIBEIRO, Pricila Cristina Correa. A psicologia frente aos desafios do envelhecimento populacional. Gerais : Re-
vista Interinstitucional de Psicologia, [S. l.], v. 8, n. SPE, p. 269–283, 2015. Disponível em: http://pepsic.bvsa-
lud.org/scielo.php?script=sci_abstract&pid
=S1983-82202015000200009&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 19 nov. 2020.
WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO]. Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização
Pan-Americana da Saúde, 2005. p. 60 Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelheci-
mento_ativo.pdf. Acesso em: 12 nov. 2020.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 60
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 61
onde o enfoque é a violência doméstica e familiar, não só no espaço cível e criminal, mas tam-
bém em defensorias especializadas (BRASIL, 2006).
Conforme o Atlas da Violência (IPEA, 2020), 4.519 mulheres foram assassinadas no ano
de 2018, indicando uma redução equivalente de 9,3% comparado o ano de 2017. Essa redução
não se mantem quando se analisa os dados de homicídio de mulheres dentro de casa, os quais
aumentaram 8,3%, assim como o aumento de 25% nos homicídios de mulheres por arma de
fogo dentro das residências.
Nas últimas décadas, muitos estudos têm procurado demonstrar a associação da violên-
cia com uma maior prevalência de problemas de saúde física, reprodutiva e mental entre as
mulheres (SILVA; OLIVEIRA, 2015). Constata-se que as repercussões para a saúde da mulher
vão além das lesões decorrentes de agressões físicas (COHEN; MACLEAN, 2004), podendo ser
identificado o dano psicológico, como os casos de depressão, ansiedade, uso de álcool e drogas
(VIEIRA; PADOIN; PAULA, 2010). No momento o qual a violência ocorre, é recorrente que a
mesma possa vir a sentir-se só e sem meios de suporte, o que pode gerar o sentimento de culpa
pela violência sofrida (MORAIS; RODRIGUES, 2016).
A iminência da exclusão social no contexto vivido pelas mulheres se torna determinante
na saúde mental das mesmas, uma vez que a violência é um fator fundamental para desencadear
transtornos psíquicos nas mulheres, sendo os transtornos mentais comuns os que mais se des-
tacam (MENDONÇA; LURDERMIR, 2017). Segundo Kac e Oliveira (2006) são caracterizados por
Transtornos Mentais Comuns (TMC) os grupos de sintomas que não condizem com a psicose,
como fadiga, esquecimento, insônia, dificuldade de concentração, irritabilidade e demandas so-
máticas, que resultam em episódios de sofrimento psíquico. Deve-se destacar que, por vezes, os
transtornos mentais comuns, não são incluídos de acordo a classificação dos parâmetros diag-
nósticos de sistemas internacionais. De maneira global, pode-se dizer que os sintomas que sem
enquadram no TMC são a ansiedade, estresse, e a depressão (GREEN; BENZEVAL, 2011). Geral-
mente, esses sintomas tendem a surgir de forma disfarçada no sujeito, quando na verdade está
interligada a uma demanda psicossomática (APÓSTOLO; FIGUEIREDO; MENDES, 2011).
Segundo Silva e colaboradores (2016), existem evidências sobre uma conexão entre o
TMC e gênero, mostrando que há predominância desses transtornos entre as mulheres. Por-
tanto, é necessário refletir sobre as causas que contribuem para essa vulnerabilidade feminina,
levando em consideração as desigualdades de gênero, situações socioeconômicas que podem
influenciar no aumento desse transtorno.
Ludermir e Schraiber (2008) analisaram a maior incidência de TMC mediante mulheres
que alegaram ter sofrido algum tipo de violência em contraponto com as que não alegaram ter
experienciado algum episódio violento. Ademais, a incidência de TMC cresce de acordo com a
seriedade da violência, mostrando uma taxa menor para com mulheres que sofreram violência
física e uma maior para com mulheres que sofreram outros aspectos de violência, como verbal
e psíquica.
Em busca de tratamento para os sintomas, diversas mulheres que se encontram em si-
tuação de violência, passam a frequentar de maneira contínua os serviços de saúde. Em decor-
rência das agressões, as mulheres apresentam um conjunto de os sintomas que podem se apre-
sentar como físicos, psicossomáticos ou psíquicos. Os sintomas físicos podem ser cortes, infla-
mações, fraturas, hematomas; os sintomas psicossomáticos comuns são irritabilidade, medo,
dificuldade no sono, palpitações, culpa, autoestima baixa; e os sintomas psíquicos podem incluir
o estresse pós-traumático, depressão e ansiedade, além de poder levar ao uso frequente de dro-
gas ou álcool, e até tentativas de suicídio e o isolamento social (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 62
MÉTODO
Participantes
Instrumentos
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 63
com o objetivo de traçar o perfil das participantes. A entrevista a fim de criar um diálogo
com o entrevistado, permitindo maior flexibilidade para aprofundar ou confirmar
determinadas informações relacionadas ao enfrentamento de situações de violência por
essas mulheres com o objetivo de averiguar a relação entre os transtornos psíquicos
menores e uso de medicamentos psicotrópicos frente a essa vivência de violência na
comunidade em que moram.
Por fim, o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) é um instrumento de
rastreamento psiquiátrico para averiguar a presença de transtornos mentais não
psicóticos (GONÇALVES, STEIN; KAPCZINSKI, 2008). O instrumento é composto de 20
itens (ex.: Suas mãos tremem?/ Acha difícil tomar decisões?), com escala de resposta
dicotômica (sim ou não), e com ponte de corte de 7/8, indicando que participantes com
escore de 8 ou mais são suspetios de transtornos de humor, ansiedade e de somatização
(GORENSTEIN; WANG; HUNGERBÜHLER, 2016)
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 64
Aspectos éticos
RESULTADOS
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 65
de depressão, insônia e síndrome do pânico. Salienta-se que uma participante já não se recor-
dava do motivo do uso da medicação, a qual faz uso a mais de 10 anos. Todas as mulheres rela-
taram que ao iniciar o tratamento por medicamentos psicotrópicos, não foram orientadas por
quanto tempo seria feito o uso da medicação. Quando indagadas sobre a tentativa de parar o
uso da medicação seis participantes afirmaram já terem tentado interromper o uso das medi-
cações, sem orientação médica, porém, não conseguiram.
No que tange ao resultado do SRQ-20, as participantes apresentaram média 10,45, sendo
este valor acima do ponto de corte da escala. Das 11 participantes, nove apresentaram sinto-
matologia sugestiva para transtorno psíquico menor, apresentando sintomas de humor depres-
sivo ansioso e somáticos apresentados, os quais serão descritos a seguir.
A Tabela 2 demonstra os dados acerca dos sintomas de humor depressivo ansioso, sendo
mais recorrente para as participantes sentirem-se demasiadamente nervosas, tensas e/ou pre-
ocupadas (N = 08), e sentirem-se infelizes (N = 07).
Outro fator analisado pelo SRQ-20 foram os sintomas somáticos. Neste fator, os sintomas
apresentados pela maior parte das participantes foram perturbação digestiva (N = 08) e sensa-
ções desagradáveis no estômago (N = 06), além de falta de apetite (N = 07), conforme Tabela 3,.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 66
Como o objetivo do estudo seria avaliar a vivência da violência, não só doméstica, mas
em suas diversas facetas, foi avaliada também a vivência de situações de risco e violência na
comunidade em que moram. Os resultados mostram que as situações de violência na comuni-
dade é um fato vivido pela maior parte das participantes, o que é corroborado pelo fato da co-
munidade ser considerado um local violento. Segundo as participantes, essa presença da vio-
lência afeta direta e indiretamente sua saúde mental, inclusive sendo um fator que leva essas a
pensarem em se mudar para outros bairros em decorrência dessa violência. Esses dados estão
apresentados na Tabela 7.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 67
DISCUSSÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 68
Seguindo o objetivo principal desse estudo, que é averiguar a relação entre transtornos
psíquicos menores e uso de medicamentos psicotrópicos por mulheres expostas a situações de
violência na comunidade em que moram, observa-se que as participantes caracterizam seu am-
biente comunitário violento, e reconhecem que a violência na comunidade afeta direto ou indi-
retamente na saúde mental dos moradores e que por esse motivo já pensaram em se mudar
para outros bairros. Esses dados corroboram com Latkin e Curry (2003), quando descrevem
que a depressão se associa a morar em bairros com ruas sujas, muros pichados, pessoas consu-
mindo drogas e álcool nas ruas, vandalismo e crime. O convívio diário nesse ambiente ameaça-
dor com evidente quebra da ordem social e carente de estímulos explicaria a maior incidência
de depressão e transtornos psíquicos menores. Assim como a saúde em geral, que seria nega-
tivamente afetada por residir em bairros com desordem social; o medo decorrente dos perigos
do ambiente degradado estimularia a liberação cronicamente aumentada de catecolaminas e
corticosteroides, podendo levar à hipertensão arterial, hipercolesterolemia, hiperglicemia e ex-
plicar a maior incidência de arteriosclerose, diabetes, doenças cerebrovasculares e cardiopatias
isquêmicas (ROSS; MIROWSKY,2001).
É importante ressaltar que diferenças de gênero na percepção da violência e segurança
parecem sugerir maior susceptibilidade das mulheres. Num estudo realizado por Marín-León
(2007), verificou-se maior percepção de gravidade dos problemas da comunidade pelas mulhe-
res: 12 de 17 problemas listados foram percebidos como graves em proporção significativa-
mente maior que nos homens, dentre os quais cinco dos seis relacionadas à violência, e poder-
se-ia acreditar que, embora a mulher seja muito menos vitimizada que o homem, ela fica mais
afetada emocionalmente pelos problemas, verbaliza mais, ou recorre menos a mecanismos de
negação. Nesse mesmo estudo também foi utilizado o teste Self-Reporting Questionnaire (SRQ-
20) onde foi definido como positivo para sintomatologia sugestiva para transtorno psíquico
menor, sendo assim, indicativo de provável caso de morbidade psiquiátrica não psicótica na
amostra (MARIN-LEON et al, 2007).
Foi observado durante a entrevista que algumas das mulheres que afirmaram já ter so-
frido algum tipo de violência ou vivenciado situações de violência em sua comunidade, foram
as mesmas que afirmaram que não consideram o bairro em que moram um lugar violento. O
que poderia ser justificado com o fato de a criminalidade, a segurança física e o desemprego
serem problemas macrossociais de elevada prevalência, altamente discutidos nos meios de co-
municação e que aparentemente não seriam percebidos como mais graves. A constante apre-
sentação de cenas de violência urbana nos noticiários e outros programas sensacionalistas aca-
bam banalizando o fato (NJAINE; MINAYO, 2004).
A violência se vincula ao setor saúde tanto pelo número de mortes que dela decorrem
quanto pela necessidade de ampla assistência às vítimas. Assim, a questão que primeiro se im-
põe é a capacidade das unidades de saúde de oferecerem um atendimento adequado e de qua-
lidade, sendo central o papel da Atenção Primária, tanto pela proximidade territorial quanto
pela facilidade de acesso e, não menos importante, pela capacidade de estabelecer vínculos com
as usuárias e identificar situações de violência cotidianas.
Os Protocolos da Atenção Básica referente a saúde das Mulheres, em seu capítulo desti-
nado à abordagem das diversas formas de violência contra a mulher, ressalta a importância da
escuta qualificada e da identificação de indícios e/ou sinais de violência, muitas vezes repre-
sentada na procura recorrente pelo serviço de saúde, com queixas vagas ou lesões não coeren-
tes com o mecanismo descrito de trauma. Em casos em que se identifique risco de morte ou
ameaça grave à integridade física da mulher, construir, em conjunto com a paciente, um plano
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 69
de segurança, respeitando as particularidades de cada caso (BRASIL, 2016). Cabe lembrar que
o profissional de saúde deve conhecer a rede intersetorial para, sempre que necessário, efetuar
o correto encaminhamento da paciente a outros centros de atendimento, tendo em vista que,
na atenção básica de saúde da família não dispõe de atendimentos psicológico na unidade.
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2013), o atendimento psicológico de
mulheres em situação de violência em serviços de atenção à mulher deve propiciar uma escuta
atenta, comprometida com a singularidade da mulher e respeitar a sua individualidade. Nesses
serviços, o atendimento o psicológico deve ser pautado na abordagem psicossocial com ações
de atendimento e, também, de proteção à mulher que considerem a dinâmica social na qual a
mesma está inserida, propiciando condições para a superação da violência. Nos casos em que
houver demanda de psicoterapia, é importante o encaminhamento para os serviços no campo
da saúde mental, visto que esse trabalho é uma das atribuições previstas nas políticas públicas
de saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo aqui descrito indica a necessidade de novas pesquisas, podendo assim, verificar
com mais confiabilidade ligações entre esses fatores e a presença de transtornos psíquicos me-
nores, discutindo questões individuais, sociais e culturais vinculadas à violência. Esta pesquisa
apresenta a dimensão e a gravidade das sequelas da violência para a saúde das mulheres e para
toda a sociedade, podendo servir de base para formular políticas públicas, principalmente lo-
cais, que possibilitem que as mulheres que sofreram violência, como sujeitos de direitos, te-
nham suas demandas ouvidas e suas necessidades de saúde asseguradas, sobretudo, em relação
às ações de promoção da saúde e prevenção de doenças, e nos casos em que houver agravos à
saúde mental, sejam ofertados tratamentos para que elas possam cuidar da saúde.
A exposição à violência sujeita a mulher a um risco mais elevado de sofrer de problemas
mentais, como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, tendência ao suicídio e consumo
abusivo de álcool e drogas, o que ainda não é suficiente para falar sobre a causa e efeito da
violência no desenvolvimento de transtornos mentais em mulheres, mas sim da frequência da
experiência de tal situação em mulheres que sofrem desse tipo de transtorno. De maneira geral,
considera-se que o presente estudo atendeu às expectativas iniciais, uma vez que as perguntas
formuladas permitiram conhecer o perfil sociodemográfico, o uso de psicofármacos, analisar a
vivência da situação de violência das participantes e averiguar a relação entre esses fatores e a
manifestação de sintomatologia sugestiva para Transtorno Psíquico Menor.
A continuidade dos estudos locais sobre o tema aqui abordado se faz essencial, de modo
que sejam desenvolvidos pelos diferentes atores que atuam e pesquisam sobre a saúde mental
no âmbito dos diferentes serviços para os quais as mulheres em situação de violência são enca-
minhadas e atendidas cotidianamente. Além de promover o rastreio dos indicativos de saúde
mental, aprofundar os aspectos pertinentes à saúde mental das mulheres, no tocante aos fato-
res de risco, aos mecanismos de proteção e às estratégias de enfrentamento características dos
sujeitos que vivenciam contextos de violência.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 70
REFERÊNCIAS
APÓSTOLO, J. L. A.; FIGUEIREDO, M. H.; MENDES, A. C.; RODRIGUES, M. A. Depressão, ansiedade e estresse em
usuários de cuidados primários de saúde. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 19, n. 2, p. 348-353,
2011.
BARROS, Érika Neves de et al. Prevalência e fatores associados à violência por parceiro íntimo em mulheres de
uma comunidade em Recife/Pernambuco, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, p. 591-598, 2016.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 11.340, de 7 de Agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Coíbe a violên-
cia doméstica e familiar contra a mulher. Imprensa Nacional. Brasília: Presidência da República, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolos da Atenção Básica: Saúde das Mulheres. Instituto Sírio-Libanês de
Ensino e Pesquisa. Brasília: Ministério da Saúde, 2016.
BRITO, Joana Christina de Souza; EULÁLIO, Maria do Carmo; SILVA JÚNIOR, Edivan Gonçalves. A Presença de
Transtorno Mental Comum em Mulheres em Situação de Violência Doméstica. Contextos Clínicos, v. 13, n. 1, p.
198-220, 2020.
CAMPOS, Carmen Hein. Lei Maria da Penha: necessidade um novo giro paradigmático. Revista Brasileira de Se-
gurança Pública, v. 11, n. 1, 2017. Disponível em: http://www.revista.forumseguranca.org.br/in-
dex.php/rbsp/article/view/778
COHEN, M. M., MACLEAN, H. Violence against Canadian women. BMC Womens Health, 4 Suppl 1:S22, 2004.
CFP. Referências Técnicas Para Atuação de Psicólogas (os) Em Serviços De Atenção à Mulher em Situação
de Violência. Conselho Federal de Psicologia. Brasília: CFP, 2013 Disponível em: https://site.cfp.org.br/publica-
cao/referencias-tecnicas-para-atuacao-de-psicologasos-em-programas-de-atencao-a-mulher-em-situacao-de-
violencia/
CONRAD, Peter. Medicalization and social control. Annual review of Sociology, v. 18, n. 1, p. 209-232, 1992. Dis-
ponível em: http://www.jstor.org/stable/2083452
GARCIA, Leila Posenato et al. Estimativas corrigidas de feminicídios no Brasil, 2009 a 2011. Revista Panameri-
cana de Salud Pública, v. 37, p. 251-257, 2015. Disponível em: http://www.scielosp.org/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S1020- 49892015000400010
GONÇALVES, Daniel Maffasioli; STEIN, Airton Tetelbon; KAPCZINSKI, Flavio. Avaliação de desempenho do Self-
Reporting Questionnaire como instrumento de rastreamento psiquiátrico: um estudo comparativo com o Struc-
tured Clinical Interview for DSM-IV-TR. Cadernos de Saúde Pública, v. 24, p. 380-390, 2008.
GORENSTEIN, Clarice; WANG, Yuan-Pang; HUNGERBÜHLER, Ines. Instrumentos de avaliação em saúde men-
tal. Artmed Editora, 2015.
GREEN, M. J.; BENZEVAL, M. Ageing, social class and common mental disorders: longitudinal evidence from three
cohorts in the West of Scotland. Psychological medicine, v. 41, n. 3, p. 565-574, 2011.
KAC, Gilberto et al. Fatores relacionados à prevalência de morbidades psiquiátricas menores em mulheres seleci-
onadas em um Centro de Saúde no Rio de Janeiro, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 22, p. 999-1007, 2006.
IPEA. Atlas da violência. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Fórum Brasileiro de Segurança Pública, v.
11, 2020.
LATKIN, Carl A.; CURRY, Aaron D. Stressful neighborhoods and depression: a prospective study of the impact of
neighborhood disorder. Journal of health and social behavior, p. 34-44, 2003.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 71
LAVILLE, Christian; DIONNE, Jean. A Construção do Saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências
humanas. (Revisão técnica e adaptação da obra de Lana Mara Siman). Editora UFMG: Porto Alegre, 1999.
LEITE, Silvana Nair; VIEIRA, Mônica; VEBER, Ana Paula. Estudos de utilização de medicamentos: uma síntese de
artigos publicados no Brasil e América Latina. Ciência & Saúde Coletiva, p. 793-802, 2008.
LOYOLA FILHO, Antônio Ignácio de et al. Tendências no uso de antidepressivos entre idosos mais velhos: Projeto
Bambuí. Revista de Saúde Pública, v. 48, n. 6, p. 857-865, 2014.
LUDERMIR, Ana Bernarda et al. Violence against women by their intimate partner and common mental disor-
ders. Social science & medicine, v. 66, n. 4, p. 1008-1018, 2008.
MARÍN-LEÓN, Leticia et al. Percepção dos problemas da comunidade: influência de fatores sócio-demográficos e
de saúde mental. Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n. 5, p. 1089-1097, 2007. DOI:
https://doi.org/10.1590/S0102-311X2007000500011
MARINHEIRO, A. L. V., VIEIRA, E. M., & SOUZA, L. D. (2006). Prevalência da violência contra a mulher usuária de
serviço de saúde. Revista de Saúde Pública, 40, 604-610. Disponível em: https://www.scie-
losp.org/pdf/rsp/2006.v40n4/604-610/pt
MENDONÇA, Marcela Franklin Salvador de; LUDERMIR, Ana Bernarda. Violência por parceiro íntimo e incidência
de transtorno mental comum. Revista de Saúde Pública, v. 51, p. 32, 2017.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Área
Técnica de Saúde da Mulher. Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra
mulheres e adolescentes: norma técnica (3a ed.), Editora MS, Brasília, 2011.
MORAIS, Milene Oliveira; RODRIGUES, Thais Ferreira. Empoderamento feminino como rompimento do ciclo de
violência doméstica. Revista de Ciências Humanas, n. 1, 2016.
NJAINE, Kathie; MINAYO, Maria Cecília de Souza. A violência na mídia como tema da área da saúde pública: revi-
são da literatura. Ciência & Saúde Coletiva, v. 9, p. 201-211, 2004.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, Relatório mundial sobre violência e saúde. Genebra: Organização Mun-
dial da Saúde, 2002.
QUEIROZ NETTO, Maira Umezaki; FREITAS, Osvaldo; PEREIRA, Leonardo Régis Leira. Antidepressivos e Benzo-
diazepínicos: estudo sobre o uso racional entre usuários do SUS em Ribeirão Preto-SP. Revista de Ciências Far-
macêuticas Básica e Aplicada, v. 33, n. 1, 2012.
ROCHA, Bruno Simas da; WERLANG, Maria Cristina. Psicofármacos na Estratégia Saúde da Família: perfil de utili-
zação, acesso e estratégias para a promoção do uso racional. Ciência & Saúde Coletiva, v. 18, p. 3291-3300,
2013.
RODRIGUES, Maria Aparecida P.; FACCHINI, Luiz Augusto; LIMA, Maurício Silva de. Modificações nos padrões de
consumo de psicofármacos em localidade do Sul do Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 40, p. 107-114, 2006.
ROSS, Catherine E.; MIROWSKY, John. Neighborhood Disadvantage, Disorder, and Health. Journal of Health and
Social Behavior, v. 42, n. 3, p. 258-276, 2001. DOI: https://doi.org/10.2307/3090214
SANTOS, Ariane Gomes dos; MONTEIRO, Claudete Ferreira de Souza. Domínios dos transtornos mentais comuns
em mulheres que relatam violência por parceiro íntimo. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 26,
2018.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 72
SILVA, Eliane et al. Saúde mental, condições de vida e gênero: transtornos mentais comuns em assentamentos
rurais. Dimenstein M, Leite J, Macedo JPS, Dantas C, Orgs. Condições de vida e saúde mental em contextos ru-
rais. São Paulo: Intermeios, p. 247-278, 2016.
SILVA, Iracema Viterbo; AQUINO, Estela Maria. Padrão de distúrbios psíquicos menores em mulheres vítimas de
violência atendidas em uma unidade de urgência e emergência. Caderno de saúde pública, v. 24, n. 9, p. 2103-
2114, 2008. DOI: 10.1590/S0102- 311X2008000900016.
SILVA, Lídia Ester Lopes da; OLIVEIRA, Maria Liz Cunha de. Violência contra a mulher: revisão sistemática da
produção científica nacional no período de 2009 a 2013. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, p. 3523-3532, 2015.
SOUZA, Edinilsa Ramos de et al. Homicídios de mulheres nas distintas regiões brasileiras nos últimos 35 anos:
análise do efeito da idade-período e coorte de nascimento. Ciência & Saúde Coletiva, v. 22, p. 2949-2962, 2017
TELES, Maria Amélia de Almeida; DE MELO, Mônica. O que é violência contra a mulher. Brasiliense, 2017.
VIEIRA, Letícia Becker; DE MELLO PADOIN, Stela Maris; DE PAULA, Cristiane Cardoso. Cotidiano e implicações da
violência contra as mulheres: revisão narrativa da produção científica de enfermagem. Brasil, 1994-2008. Ciên-
cia, Cuidado e Saúde, v. 9, n. 2, p. 383-389, 2010.
WINOGRAD, Monah. O sujeito das neurociências. Trabalho, Educação e Saúde, v. 8, n. 3, p. 521-535, 2010.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 73
Bruno Medeiros
Doutor em Psicologia pela Universidade de Cambridge, Reino Unido e Professor do Centro
Universitário Maurício de Nassau Campina Grande
INTRODUÇÃO
O trabalho é considerado um dos pilares da vida do ser humano, pois configura a sua
forma de relação com o mundo. É através da vivência de normas, interações sociais e éticas que
se configuram os processos de trabalho e da subjetividade do sujeito, englobando não apenas o
trabalho propriamente dito, mas também como ele é percebido (LOPES, 2009). Entretanto, o
exercício do trabalho também pode trazer sofrimento físico e mental ao trabalhador. Segundo
Dejours (1988), o adoecimento no ambiente de trabalho pode estar relacionado a um ambiente
inadequado, alta carga horária, pressão para suprir a demanda e a própria exposição e vulne-
rabilidade física do trabalhador.
Entre profissionais de saúde, estudos apontam a saúde mental como uma das áreas mais
passíveis ao adoecimento do sujeito (ROSADO et al., 2015), principalmente por este ter que
lidar com fatores de forma conjunta, ou seja, trabalhar em ambiente aberto à doenças infecto-
contagiosas, lidar com a pressão de atender demandas decisivas na manutenção da vida e pro-
moção do bem estar de pessoas; trazendo a reflexão de que a responsabilidade por pessoas é
mais estressante que a responsabilidade por coisas (STACCIARINI; TROCCOLI, 2001). Acres-
centa-se, ainda, questões organizacionais como quantidade de plantões noturnos, o trabalho
com a equipe e a própria subordinação à instituição empregadora (RIOS; BARBOSA; BELASCO,
2010), principalmente no lidar com epidemias e quadros de saúde complexos (ORNELL;
SCHUCH; SORDI; KESSLER, 2020; ZANON; DELLAZZANA-ZANON; WECHSLER; FABRETTI; RO-
CHA, 2020). Em períodos de crise sanitária, como evidenciado pela pandemia da covid-19, os
profissionais de saúde (enfermeiras e médicos) têm evidenciado estresse agudo (GARCÍA-FER-
NANDEZ et al., 2020), insônia e sintomas de ansiedade (OLIVEIRA; OLIVEIRA-CARDOSO; SILVA;
SANTOS, 2020).
Com o objetivo de se levantar um estudo focal, esta pesquisa envolveu uma equipe de
profissionais de saúde atuantes no setor de assistência a pacientes com câncer. O câncer é iden-
tificado como um conjunto de mais de 100 doenças que possuem um crescimento desordenado
que tem a capacidade de se multiplicar entre os tecidos e órgãos (BATISTA, 2015). Em 2015,
ocorreram 8,8 milhões dos óbitos no mundo decorrentes do câncer, equivalendo à uma em cada
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 74
seis mortes (WHO, 2017), supondo cerca de 600 mil novos casos no Brasil em 2018-2019
(INCA, 2018). Na Paraíba, estimou-se cerca de 11.000 novos casos em 2020 (INCA, 2020). Em
vista disso, torna-se dever do poder público prover um sistema de saúde que vise a prevenção,
controle e tratamento dessa enfermidade (SILVA et al., 2017).
A seleção para o estudo do setor de internação oncológica foi realizada considerando sua
alta complexidade e a demanda emocional que ela evoca nos profissionais. Surge a necessidade
de se entender quais as implicações psicológicas do exercício deste serviço nos profissionais,
visto que se encontram muito próximos a pessoas com sofrimento, podendo identificar-se e
vincular-se afetivamente a estes. É parte da motivação entender como as equipes funcionam de
forma dinâmica e harmoniosa e como conseguem lidar com demandas sob a perspectiva da
coletividade.
De acordo com Figueiredo (2015), o estresse compreende o esforço resultante da adap-
tação de um organismo para lidar com contingências ameaçadoras ao seu bem-estar e segu-
rança, bem como ao seu equilíbrio interno. Determinada tensão geradora de estresse também
poderá estar relacionada a crenças irracionais de um sujeito, se configurando como lentes pelas
quais ele observa e assimila a situação (LIPP; PEREIRA; SADIR, 2005). O estresse pode estar
relacionado ao trabalho, sendo este tipo denominado estresse laboral, que ocorre quando a na-
tureza ou situação estressora ocorre no ambiente profissional (BORGES; ARGOLO; PEREIRA;
MACHADO; SILVA, 2002). No ambiente hospitalar, o profissional pode atuar em um ambiente
insalubre e passível de acidentes de trabalho, tendo ainda a responsabilidade por pessoas e os
deveres e responsabilidades pertinentes à organização em que atua. Além da particularidade
em lidar com pessoas doentes, o que requer grande demanda de compaixão e empatia (BAR-
BOSA; SOUZA; MOREIRA, 2014).
Estas e outras situações consideradas estressoras exigem adaptações tanto físicas
quanto psicológicas que podem ser flexíveis conforme o sujeito sente ou percebe a situação e o
ambiente em que está inserido. Folkman e Lazarus (1980, APUD MIQUELLIN, 2004) definem
essas alterações como um conjunto de esforços cognitivos e comportamentais usados para lidar
com esses eventos considerados estressores. Essas estratégias podem ser divididas em dois
fundamentos principais: um focado no problema e outro focado na emoção. Na primeira situa-
ção, o indivíduo tenta lidar diretamente com a situação buscando maneiras de solucioná-la; po-
dendo praticar, por exemplo, a busca por informações ou racionalização para dar explicações.
Por outro lado, quando está voltado para a emoção, o indivíduo pode usar de estratégias emo-
cionais para se afastar da situação, tais como unir-se a outros semelhantes, distanciar-se ou
praticar alguma forma de negação. Nesse contexto, ressalta-se a importância de se compreen-
der as interações entre os sujeitos e o ambiente de trabalho, investigando as crenças, perspec-
tivas e dilemas destes profissionais que, de forma interdisciplinar, lidam diretamente com situ-
ações de dor e sofrimento.
Considerando a atuação diária, a interdisciplinaridade, a união de saberes para um de-
terminado fim e a interação psíquica podemos denominar os profissionais estudados como uma
equipe, um conjunto social (PEDUZI, 2001). Para lançar um olhar amplo sobre esta equipe pro-
poremos uma análise sociopsicológica a respeito de suas crenças, ideias e formas de enfrenta-
mento diante do contexto de atuação oncológica. Lançaremos mão da Teoria das Representa-
ções Sociais (MOSCOVICI, 2008) para apreendermos de que forma a equipe multiprofissional
atribui sentidos sobre sua atuação frente a pacientes com câncer. De acordo com Moscovici
(1973), representações sociais podem ser definidas como ideias, símbolos, imagens de fenôme-
nos sociais que são criadas e compartilhadas por diversos grupos. Ainda segundo o autor, tais
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 75
“teorias” do senso comum servem para dois propósitos: primeiramente, criam categorias co-
muns de compreensão da realidade e ação sobre ela. Em segundo lugar, criam sentidos e signi-
ficados compartilhados que permitem comunicação entre diversos grupos. Dessa forma, repre-
sentar determinado fenômeno social, significa não apenas concebê-lo, mas também se posicio-
nar de forma positiva ou negativa em relação a ele (MOSCOVICI, 1984).
A conceber determinado fenômeno social – nesse caso, o cuidado oncológico – os diver-
sos grupos sociais (família, equipe multiprofissional etc.) atribuem sentidos para poderem
compreender a não-familiaridade de tais fenômenos (MOSCOVICI; DUVEEN, 2000). Ao fazerem
isso, enfrentam de forma simbólica (enfrentamento simbólico) as complexidades, desafios e a
incompreensibilidade do cuidado de pessoas com câncer (WAGNER, et al., 1999). Dois proces-
sos sociocognitivos mostram-se essenciais na formação das representações sociais e, conse-
quentemente, no enfrentamento simbólico de dilemas sociais complexos: a ancoragem e a ob-
jetivação. A ancoragem envolve categorizar, nomear e classificar fenômenos e situações novas
e complexas a partir de saberes estabelecidos historicamente (WAGNER, et al., 1999; MOSCO-
VICI, 1984). A objetivação envolve atribuir sentidos palpáveis, imagens e metáforas, tornando
um fenômeno antes abstrato em algo concreto e passível de compreensão (Moscovici, 1984).
Para uma melhor compressão do estudo é importante conhecer de que forma os profis-
sionais de saúde representam o câncer e o paciente com essa doença. O diagnóstico de câncer
pressupõe uma série de cuidados e tratamentos que provocam mudanças na vida do paciente.
Estas mudanças ocorrem na rotina, na dependência de terceiros, na estrutura familiar e social.
Ademais, reconhece-se a representação do câncer relacionada à morte (WAKIUSHI, et al., 2020;
LIMA, et al., 2016). Portanto, torna-se necessário compreendermos de que forma tais equipes
interagem e representam a sua atuação diante de um fenômeno complexo e ameaçador. Tais
crenças irão auxiliar no entendimento sobre diversas formas de atuação e enfrentamento dessa
doença, especificamente, em equipes de saúde.
MÉTODO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 76
preparam o material coletado para análise; 2) a exploração da análise, que consiste na constru-
ção da codificação, considerando recortes de textos em unidades de registros, definição de re-
gras de contagem, classificação e agregação de informações e 3) interpretação, que consiste em
captar conteúdos manifestos e latentes presentes no material categorizado (SILVA; FOSSÁ,
2015). A codificação se deu através da observação de repetição de palavras e de conteúdo,
sendo adotadas três ordens de categorias: categorias primárias, intermediárias e finais. As ca-
tegorias primárias se referem às 20 colocações que mais se repetiram nas entrevistas seguidas
de seus conceitos norteadores, que são expostos com o objetivo de esclarecer o significado des-
tes termos. Após análise, as 20 categorias primárias foram agrupadas em cinco categorias in-
termediárias de acordo com seu significado, contexto, relação de sentido e referencial teórico
adotado pelos pesquisadores. A condensação das categorias intermediárias em duas categorias
finais se deu após análise de conteúdo e referenciais teóricos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
1. Falta de Recurso
2. Alta Demanda I.I- Estrutura Organizacio-
3. Responsabilidades da função nal do Trabalho
4. Contínua Capacitação
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 77
14. Apoio
15. União II.I- O Meio Social
16. Espelho II. Enfrentamento
Estresse
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 78
Particularidade oncológica
“A especialidade da oncologia é diferente das outras porque tem muito mais demanda,
não só demandas em relação médico/paciente, demandas em relação à própria doença
e tratamento mas acaba que você também tem um envolvimento pessoal, às vezes você
tem que entrar na vida pessoal daquela família do paciente.”
Alguns fatores contribuem para essa representação social do câncer, como o alto índice
de óbitos diários na ala. Mesmo com todos os cuidados prestados, os casos geralmente são ter-
minais, o que torna a prestação da assistência delicada e desgastante. Consideramos, ainda, que
os pacientes permanecem internos no setor por longos períodos de dias ou meses e, mesmo
após a alta, tem constantes retornos devido às crises ou agravos da patologia. O atendimento
hospitalar não se restringe apenas ao paciente, mas também é prestado aos acompanhantes ou
familiares, uma vez que os internos precisam manter acompanhantes para permanecer no setor
devido à maior vulnerabilidade dos participantes. Alguns acompanhantes, no entanto, estão
atravessando o processo de negação ou enfrentamento da doença e demandam da equipe de
saúde necessidades que não podem ser cumpridas por não serem viáveis, e causam grandes
atritos na equipe, mais que os próprios pacientes.
“O que causa estresse não é nem o paciente oncológico, são os acompanhantes, porque
a maioria dos pacientes aqui são terminais e o acompanhante não entende que é um
paciente terminal, então eles passam o dia chamando, querendo que a gente vá lá, que
a gente mostre pra ele que vai ter uma solução, quando na verdade não tem.”
“Eles (acompanhantes) ficam falando e eu fico calado. Aí na maioria das vezes eles veem
que estou fazendo meu trabalho, aí ameniza. E na maioria das vezes até eles percebem
e pedem desculpas. ‘não, me desculpa, é porque eu estou vendo minha mãe desse jeito,
nunca vi meu pai desse jeito’, a gente entende e diz que tudo bem.”
Diante deste contexto específico, é essencial que, além do aporte técnico especializado,
seja oferecido um atendimento humanizado para o sujeito que sofre e precisa ser tratado.
Quanto ao perfil para trabalhar no setor, as falas giram em torno de características pessoais
como paciência, amabilidade e calma. Alguns ainda apontam a necessidade técnico-científica,
porém, enfatizando características pessoais como: “Tem que ser uma pessoa calma, se for um
funcionário estressado, ignorante vai transmitir isso para o paciente e pode gerar conflitos aí
né. Ele pode se deprimir e piorar”. Ainda em outra fala: “Uma pessoa que tenha coração e que
goste muito do que faz porque aqui precisa de muita humanização”.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 79
Implicações Psicológicas
O tema da saúde mental se apresentou como essencial para o bom desempenho na ala
especificada e para o não adoecimento dos profissionais que precisam exercer um trabalho hu-
manizado. Essa humanização apresenta-se como uma ambivalência que causa sofrimento, pois
confronta o exercício técnico-científico com a aproximação pessoal com os pacientes. O exercí-
cio do aspecto emocional é contínuo. Alguns pacientes, por exemplo, criam vínculos com os
profissionais que os atendem e devotam a estes uma expectativa de cura, mesmo na iminência
do óbito. Concomitantemente, a mesma equipe que antes lutava pela manutenção da vida agora
passa a preparar a liberação do corpo e a prestar informação para familiares, tendo que perma-
necer com uma postura profissional a ponto de não transparecer qualquer sentimento de perda
que venha a sentir, como expressado por um dos participantes: “Ele (um paciente com vínculo
afetivo estabelecido) morreu nos meus braços chamando meu nome. A hora eu não demonstrei
nada, fiz o tudo o que precisava fazer, mas depois eu me tranquei e chorei.” Outro participante
ainda relata que: “A gente tenta fazer o máximo possível, dar o conforto que dê pra dar e quando
você vê que ele se apega muito a você, ai é mais complicado ainda, porque tem que cuidar o
dobro, tem que permanecer a ética mas cuidando sempre deles.”
Esta montanha-russa de acontecimentos ocorre em minutos e o profissional passa a de-
senvolver modos de enfrentamento a estas situações, visando dar continuidade ao trabalho. Os
pacientes internos têm perfis variados, mas acontece com frequência uma identificação entre
os profissionais e eles. Esta identificação pode ocorrer por semelhança de idade, histórico, situ-
ação familiar, e outros fatores intrínsecos e quando ocorre acaba incitando uma reflexão pro-
funda e o se colocar no lugar do outro, colocando em questão o exercício do modelo de atendi-
mento com humanização e a autopreservação (COLLET, 2003).
“A gente passa a amar aquela pessoa, ter certo afeto para com ele. Aí quando vai pas-
sando um tempo que a gente vê que ele não tem uma certa melhora ou quando a gente
chega no outro dia e ele não tá mais...eu fico muito triste quando eu chego e não vejo
mais.”
“Acho que faz um ano que uma paciente com neoplasia gástrica e ela tinha a minha
idade, ela descobriu o câncer em janeiro [e] ela era muito agressiva, evoluiu já estava
com metástase pulmonar, ela estava com o casamento marcado para novembro e em
agosto ela foi a óbito. Essa paciente passou muito tempo aqui, passou quase dois meses,
e só quem acompanhava essa paciente era eu. Então vê a paciente, vê o diagnóstico, vê
o que ela passou no tratamento. A agressividade do tratamento não resolveu e debilitou
mais ainda. Vê uma menina que queria casar em novembro evoluir a óbito em agosto
tendo a minha idade. Podia ser eu no lugar dela.”
Enfrentamento
Nestes processos de lidar com situações estressoras são desenvolvidas estratégias para
adaptação e enfrentamento a estas circunstâncias, como exemplo o afastamento, a naturaliza-
ção ou uso de recursos religiosos. Estas estratégias também chamadas de coping podem ser
divididas em duas categorias funcionais: focalizada no problema ou focalizada nas emoções,
conforme aponta Folkman e Lazarus (1984, APUD ANTONIAZZI, 1998). Ao focar no problema,
os profissionais enfatizam o exercício técnico-científico e voltam-se à resolução do problema
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 80
propriamente dito, como exemplo, em casos de parada cardíaca. Ao focalizar nas emoções ini-
cia-se um esforço para manter a regulação emocional com o objetivo de voltar ao estado emo-
cional anterior à situação estressante. Podemos exemplificar esse esforço no contexto estudado
como o afastamento ou desgaste emocional. Tais estratégias visam o não adoecimento físico e
psicológico do sujeito e da equipe que atua no sistema de saúde (FOLKMAN; LAZARUS, 1984
APUD ANTONIAZZI, 1998).
O meio social
O grupo funciona por vezes como apoio, um suporte para evitar o isolamento social, um
espelho para suas ações. O apoio social também se refere à consolidação e influência da estru-
tura social existente no setor. O espelho é evidente principalmente quando há novos integran-
tes da equipe que aprenderam crenças, modos de trabalho e de enfrentamento frente às de-
mandas. Os mais antigos tentam passar apoio aos demais conforme suas vivências, e até mesmo
diante de terceiros, unindo-se sempre que há ameaças de acompanhantes, por exemplo, ou de
qualquer outro fator que possa vir a abalar a equipe. Temos a demonstração do processo de
ancoragem das representações sociais, onde métodos de enfrentamento foram aprendidos con-
forme a prática do grupo e posteriormente reproduzidos com naturalidade.
“No começo foi duro, nos dois primeiros meses foi muito duro. Mas eu olhando a equipe
fria, sem nenhuma reação. Dizia: ‘morreu... não sei o quê...’ frio. Aí eu fui aprendendo e
me adaptando.”
“A gente respira fundo, agradece a Deus porque ele descansou de um sofrimento tão
grande. Como se diz: vem, lava o rosto, enxuga e continua (sempre foi assim).”
“Na hora, na frente de todo mundo eu não demonstrei nada, mas depois eu me tranquei
no banheiro e chorei. Fiquei muito mal, mas aí depois lavei o rosto, olhei no espelho e a
vida segue.”
Adaptação
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 81
focalizado no problema foram identificados, como nas falas a seguir: “Eu sinto, muito. Mas me
volto para os outros pacientes que ficam. Sempre terão outros para a gente cuidar e fazer me-
lhor.” Também: “Eu faço a pós porque sei que pode ajudar nos casos aqui, ou poder fazer mais,
e melhor. Isso é importante pra mim.”
Uma das características citadas como habilidades pelos participantes é o êxito em con-
seguir separar os papéis profissionais e pessoais, na linguagem deles, "deixar o plantão no hos-
pital”. Esse ato se constitui uma de distanciamento simbólico.
“Eu acabo conseguindo deixar 80% do ocorrido no plantão aqui no hospital. Porque
logo no início foi onde eu mais sofria, então tudo que acontecia eu acumulava e levava
pra casa, então se eu chegava em casa o telefone era direto para o hospital, eu não me
desligava. Hoje em dia eu consigo me desligar bastante e acabo deixando uma grande
parte no hospital.
Na minha cabeça eu tenho aquele carinho, são pessoas maravilhosas, tenho aquele con-
tato, mas assim, na minha cabeça eu já sei que tem um destino pra eles, entendeu? e aí
eu tento não me apegar tanto, não sofrer tanto a isso, não ficar pensando muito no caso.”
Apesar deste contexto, há uma satisfação em atuar no setor oncológico, visto que ao ser
questionados se desejariam atuar em outro setor, todos os participantes responderam que não,
alegando terem se tornando melhores tanto profissionalmente quanto pessoalmente. Enquanto
profissionais, julgam terem adquirido maior conhecimento em patologias específicas e no aten-
dimento humanizado. Já a melhoria pessoal foi a característica mais enfatizada nas falas, até
supervalorizada em relação à esfera profissional. Mudanças que dizem respeito à visão de vida,
de si e de características como amabilidade, paciência, escuta do outro e fortalecimento da fé.
“[Atuar na oncologia] É positivo, e todo dia faz refletir, todo dia tem um caso novo, todo
dia tem uma situação nova. É muito engraçado você ver o paciente, ver a fé e a força do
paciente. O paciente olha e diz ‘não minha filha, eu sei que eu vou morrer, minha família
sabe que eu vou morrer.’ E você ver a força dele diante da situação, e até no processo
de morte. Às vezes você por tão menos se desestabiliza e o paciente que sabe que está
no processo de morte tem aquela força. Então leva a reflexão, todo dia leva a reflexão.
[Um momento de alegria] É quando o paciente vai pra casa, não é bom, ele nunca vai
estar bom, mas aparentemente bom, e dá um sorriso bem grande e passa pelas aquelas
duas portas, mesmo a gente sabendo que com 24 horas ele pode voltar... mas é sim um
momento muito satisfatório.”
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos este estudo com algumas ressalvas visto que se trata de um estudo de
caso e não deve ser generalizado para a população geral. No entanto, é possível fazer uso de sua
metodologia para futuras pesquisas de cunho comparativo com outras equipes de trabalho em
saúde. Consideramos ter levantado informações relevantes no campo da saúde do trabalhador
e da Psicologia Social. Verificamos como diferencial o olhar para a equipe como um todo e não
apenas para indivíduos que trabalham sem nenhuma relação entre si. Constatamos que este
estudo confirmou alguns pontos propostos da teoria das representações sociais, tais como
como os processos de estranhamento, de aprendizagem e absorção das formas de trabalho ori-
ginados nas interações sociais de equipes profissionais. A equipe interdisciplinar apresenta um
ponto positivo à medida em que forma uma rede de atendimento e suporte, valorizando as for-
mações acadêmicas de cada indivíduo de forma que atuem em função de um mesmo objetivo, o
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 82
REFERÊNCIAS
ANTONIAZZI, A. S.; DELL'AGLIO, D. D.; BANDEIRA, D. R. O conceito de coping: uma revisão teórica. Estudos de
Psicologia (Natal), v. 3, n. 2, p. 273-294, 1998. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S1413-
294X1998000200006
BARBOSA, S. D. C.; SOUZA, S.; MOREIRA, J. S. A fadiga por compaixão como ameaça à qualidade de vida profissio-
nal em prestadores de serviços hospitalares. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, v. 14, n. 3, p. 315-
323, 2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1984-
66572014000300007&lng=pt&tlng=pt. Acesso em 24 de nov. 2018.
BATISTA, D. R. R.; DE MATTOS, M.; DA SILVA, S. F. Convivendo com o câncer: do diagnóstico ao tratamento. Re-
vista de Enfermagem da UFSM, v. 5, n. 3, p. 499-510, 2015. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/reu-
fsm/article/view/15709
BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova
diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Brasília, Diário Oficial
da União. 2012.
COLLET, N.; ROZENDO, C. A. Humanização e trabalho na enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 56,
n. 2, p. 189-192, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
71672003000200016&lng=en&nrm=iso. Acesso em 13 de out. 2018.
DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo (SP): Cortez; 1988.
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. São Paulo, Cia. Editora Nacional. 1990.
JUNQUEIRA, L. A importância da detecção do estresse: psicofisiologia e impacto na saúde física e mental das pes-
soas. Psychiatry On-line Brazil, v. 22, n. 2, 2015. Disponível em:
https://www.polbr.med.br/ano15/art1215.php
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 83
GARCÍA-FERNÁNDEZ, et al. Mental health impact of COVID-19 pandemic on Spanish healthcare workers, Psy-
chological Medicine, p. 1-3, 2020. 3. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/arti-
cles/PMC7272696/. Acesso em 08 de jun. 2021.
INCA. Estimativa et al. Incidência de câncer no Brasil. Instituto Nacional do Câncer, 2018.
INCA. Paraíba e João Pessoa: estimativa dos casos novos, 2020. Disponível em: https://www.inca.gov.br/estima-
tiva/estado-capital/paraiba-joao-pessoa. Acesso em abril 2021.
LIPP, M. E. N.; PEREIRA, M. B.; SADIR, M. A. Crenças irracionais como fontes internas de stress emocional. Re-
vista Brasileira de Terapias Cognitivas, v. 1, n. 1, p. 29-34, 2005. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/sci-
elo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872005000100004&lng=pt&tlng=pt. Acesso em 26 de nov. 2018.
MARGIS, R. et al. Relação entre estressores, estresse e ansiedade. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul,
v. 25, p. 65-74, 2003. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S010181082003000400008
MIQUELIM, J. D. et al. Estresse nos profissionais de enfermagem que atuam em uma unidade de pacientes porta-
dores de HIV-AIDS. DST–Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, v. 16, n. 3, p. 24-31,
2004. Disponível em: http://www.dst.uff.br/revista16-3-2004/3.pdf
MOSCOVICI, S. (1973). Foreword. In C. Herzlich (Org.), Health and illness: a social psychological analysis (pp.
ix–xiv). London: Academic Press, 1973.
MOSCOVICI, S. The phenomenon of social representations. In: FARR, R.; MOSCOVICI, S. (Orgs.). Social Represen-
tations, (pp. 2-69), Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
MOSCOVICI, S.; DUVEEN, G. Social representations: Explorations in social psychology. Cambridge, UK: Polity,
2000.
MOSCOVICI. S. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Trad. Por Pedrinho A. Guareshi.
Petrópolis: Vozes, 2011.
MOSCOVICI, S. Psychoanalysis: its image and its public. Cambridge: Polity Press, 2008.
OLIVEIRA, W. A.; OLIVEIRA-CARDOSO, E. A.; SILVA, J. L.; SANTOS, M. A. Impactos Psicológicos e ocupacionais das
sucessivas ondas recentes de pandemias em profissionais da saúde: revisão integrativa e lições aprendidas. Estu-
dos de Psicologia, v. 37, e200066, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-0275202037e200066
OLIVEIRA, E. A. Delimitando o conceito de stress. Campinas: Faculdade Comunitária de Santa Bárbara. 2006.
ORNELL, F. et al. “Pandemic fear” and COVID-19: mental health burden and strategies. Brazilian Journal of Psy-
chiatry. v. 42, p. 232-235, 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1516-4446-2020-0008
PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Revista de saúde pública, v. 35, n. 1, p.
103-109, 2001. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102001000100016
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 84
PERES, A. M.; CIAMPONE, Maria Helena Trench. Gerência e competências gerais do enfermeiro. Texto & Con-
texto Enfermagem, v. 15, n. 3, p. 492-499, 2006. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1590/S0104-
07072006000300015
PITTA, A. Hospital: dor e morte como ofício. São Paulo (SP): Editora Hucitec, 1991.
RIOS, K. A.; BARBOSA, D. A.; BELASCO, A. G. S. Avaliação de qualidade de vida e depressão de técnicos e auxiliares
de enfermagem. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 18, n. 3, p. 413-420, 2010. Disponível em:
https://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692010000300017
ROSADO, I. V. M.; RUSSO, G. H. A.; MAIA, E. M. C. Produzir saúde suscita adoecimento? As contradições do traba-
lho em hospitais públicos de urgência e emergência. Ciência & Saúde Coletiva, v. 20, p. 3021-3032, 2015. Dispo-
nível em: https://doi.org/10.1590/1413-812320152010.13202014. ISSN 1678-4561.
SILVA, A. M. D. et al. Perfil epidemiológico do câncer do colo do útero na Paraíba. Revista Saúde e Ciência On-
line, v. 17, n. 3, 2017. Disponível em: http://www.ufcg.edu.br/revistasaudeeciencia/index.php/RSC-UFCG/arti-
cle/view/41 ISSN 2447-2131. Acesso em 09 de out. 2018.
SILVA, et al. Representações sociais sobre o câncer entre familiares de pacientes em tratamento oncológico. Re-
vista Mineira de Enfermagem, v. 20, p. e967. Disponível em: http://www.dx.doi.org/10.5935/1415-
2762.20160037
SILVA, A. H.; FOSSÁ, M. I. T. Análise de conteúdo: exemplo de aplicação da técnica para análise de dados qualitati-
vos. Qualit@s Revista Eletrônica, v. 17, n.1, p. 1-14, 2015. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18391/req.v22i1
YUNES, M. A. M.; SZYMANSKI, H. Resiliência: noção, conceitos afins e considerações críticas. Resiliência e educa-
ção, v. 2, n. 1, p. 13-43, 2001. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/330262826_RESILIEN-
CIA_NOCAO_CONCEITOS_AFINS_E_CONSIDERACOES_CRITICAS
WAGNER, W. et al. Theory and method of social representations. Asian Journal of Social Psychology, v. 2, p. 95-
125. Disponível em: https://psycnet.apa.org/record/2000-13727-006. Acesso em 07 de jun. 2021.
WAKIUSHI, et al. Sentidos e dimensões do câncer por pessoas adoecidas – análise estrutural das representações
sociais. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 54, e03504, 2020. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/S1980-220X2018023203504
WHO. Guide to cancer early diagnosis, Geneva: World Health Organization; 2017. Disponível em:
https://www.who.int/cancer/publications/cancer_early_diagnosis/en/. Acesso em 05 de abril 2021.
ZANON, C. et al. COVID-19: implicações e aplicações da Psicologia Positiva em tempos de pandemia. Estudos de
Psicologia (Campinas), v. 37, p. e200072, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-
0275202037e200072.
SUMÁRIO
EIXO II
Fronteiras na Promoção de Saúde,
Bem-estar e Cuidado do Corpo
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 86
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 87
Ademais, Araújo (2009) afirma que a sociabilidade é algo relevante após a ingressão no
esporte. Fatores comprovam, cientificamente, que a corrida de rua melhora a saúde mental e
influencia diretamente em um melhor desempenho social.
A corrida de rua promove várias alterações funcionais e fisiológicas após a iniciação ao
desporto. As Adaptações cardiovasculares são notórias devido à melhora no sistema de circu-
lação e respiratório. Além disso, adaptações neuromusculares são evidentes tomando como
base uma melhor resposta neural ao estímulo enviado para a realização de alguma ação mus-
cular (EVANGELISTA, 2010).
Este estudo objetiva analisar as mudanças que ocorrem no estilo de vida em atletas ama-
dores através da prática da corrida de rua na cidade de Campina Grande, PB.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Corrida de rua
As corridas de ruas surgiram na Inglaterra por volta do século XVIII, onde tornou-se bas-
tante popular e em seguida se espalhou-se pelo continente europeu, também chegando aos Es-
tados Unidos. No final do século XIX, a corrida de rua obteve um grande sucesso nos Estados
Unidos, onde foi realizada a primeira maratona olímpica popularizando em todo país Por volta
de 1970 aconteceu o “jogging boom” baseado na teoria do médico norte-americano Kenneth
Cooper que difundiu seu famoso “Teste de Cooper”, a partir de então, a prática da modalidade
evoluiu de maneira considerável (GONÇALVES, 2007).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a prática da corrida de rua está tornando-
se cada vez mais popular entre as pessoas como uma ferramenta para buscar uma melhor qua-
lidade de vida no que diz respeito a uma melhoria na saúde, física, mental e social (OMS, 2006).
A corrida de rua é uma das modalidades esportivas que mais cresce no Brasil, é percep-
tivo que tal afirmação pode ser considerada através dos números de praticantes, além de gerar
bastante desempenho, força, flexibilidade, resistência e condicionamento físico (GONÇALVES,
2007).
Desempenho Físico
Os atletas amadores começam a desenvolver desempenho físico, melhorando sua apti-
dão física e suas atividades da vida diária. A busca pela modalidade vem gerando grandes inte-
resses que abrange uma vida saudável, a estética, a integração social, a fuga do estresse da vida
moderna, a busca de atividades prazerosas ou competitivas (SALGADO, 2005).
O desempenho físico adquirido pela corrida de rua é extremamente positivo, colocando
o indivíduo numa boa situação como: melhora de rendimento e comportamento atingindo suas
metas e objetivos, além de desenvolver força, resistência aeróbia, velocidade, flexibilidade en-
tre outras valências físicas (EVANGELISTA, 2010).
Desempenho social
A corrida pode ser até uma atividade individual, mas está cada vez mais coletiva, pois
ela é capaz também de transformar vidas e de promover a inclusão social. Dessa forma, ela se
constitui num dispositivo que viabiliza a participação, a cooperação e o convívio em grupo na
sociedade em geral (ARAUJO, 2009).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 88
Adaptações musculoesqueléticas
As adaptações musculoesqueléticas aprimoram a coordenação intramuscular e inter-
muscular, melhora a capacidade de recrutamento das fibras musculares e com essas adaptações
o indivíduo gasta menos energia, e aumenta sua força, velocidade, agilidade, flexibilidade e re-
sistência (EVANGELISTA, 2010).
Outra adaptação musculoesquelética é a capacidade do armazenamento do glicogênio
nos músculos. Weineck (2003) relata que quanto maior o deposito de glicogênio, melhor o de-
sempenho nas atividades de resistência realizadas em alta intensidade.
Mais uma adaptação que se pode considerar como importante é aumento da capacidade
de eliminação do lactato, com o aumento da capacidade aeróbica, se evita o acúmulo de lactato
no músculo (EVANGELISTA, 2010).
Adaptações cardiovasculares
O sistema cardiovascular passa por adaptações quando prática atividade física. Os atle-
tas demonstram grandes diferenças em comparação aos indivíduos sedentários, pode-se afir-
mar que o atleta condicionado tem frequência cardíaca menor em repouso, consumo máximo
de oxigénio, volume cardíaco maior, dilatação e hipertrofia cardíaca, débito cardíaco e volume
sistólico mais elevados, maior extração de oxigênio arterial pelos músculos, por causa da maior
capilarização devido ao exercício, promovendo uma diferença maior entre a saturação de oxi-
génio arterial em relação ao venoso (EVANGELISTA, 2010).
Considerando-se que, ao praticar atividades físicas de resistência de longa duração
pode-se obter inúmeros benefícios relacionados à saúde, este tipo de exercício, praticado regu-
larmente por pessoas de diferentes idades, tem evidenciado importantes efeitos que podem
ocasionar na prevenção de doenças cardiovasculares durante toda a vida (MCARDLE; KATCH;
KATCH, 2003).
Adaptação neuromuscular
As adaptações aos estímulos de treinamento podem ser agudas e crônicas. As adapta-
ções agudas resultam na mudança imediata, diferente das adaptações crônicas que geram as
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 89
MÉTODO
RESULTADOS E DISCUSSÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 90
De acordo com os dados apresentados na tabela 1, o índice de massa corpórea (IMC) dos
participantes baseado na tabela 2 de classificação, obteve um resultado positivo, 55% dos atle-
tas estão com o peso considerado normal, 43% apresentam certo grau de sobrepeso, e 2% estão
com obesidade grau1. Diante do exposto, pode-se analisar que o sobrepeso e a obesidade acar-
retam consequências negativas para a saúde das pessoas. A atividade física é de suma impor-
tância para ajudar a prevenir que seus praticantes obtenham um nível de massa corpórea que
indique certo grau de sobrepeso e obesidade. O fácil acesso ao esporte é um dos motivos que
pode contribuir para a realização da atividade física e possivelmente ajudar nos dados apresen-
tados na tabela, que como pode-se observar, a não prevalência de obesidade em excesso e um
dado representativo de “sobrepeso” menor do que o de “peso ideal”.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 91
Os dados adquiridos com relação aos níveis de desempenho físico, social e mental, de-
monstraram que a maioria dos entrevistados tiveram resultados satisfatórios, gerando assim
uma melhora nos aspectos citados para aqueles que praticam corrida de rua. Segundo os dados
coletados na pesquisa, pode-se observar o principal fator relevante dos resultados obtidos, que
foi a melhoria da saúde em 90%. Alguns outros dados também foram observados como em ní-
veis ruins, bons e excelentes: redução de peso 50%, estética 35%, qualidade do sono 65%, re-
dução da ansiedade 63%, nível de condicionamento 43%, redução de depressão 70%, controle
do estresse 68%, melhoria do humor 70%, melhoria da autoestima 70%, sociabilização 88% e
atividade ao ar livre de 95%. Todos esses dados foram avaliados no total de 100% dos partici-
pantes de corrida de rua. Tento em vista o objetivo final alcançado devido a prática de atividade
física, onde inclui todos os tópicos apresentados na tabela, pode-se concluir que a corrida de
rua é mais uma vez um exemplo de esporte a ser seguido pela população quando se busca me-
lhorar a qualidade de vida.
Diante disso, é cada vez maior o número de pessoas que buscam na prática da atividade
física, grande parte da solução para esses problemas de saúde que os afligem ou que
podem representar um percalço no futuro. Sendo assim, a atividade física tornou-se com-
ponente essencial no cotidiano das pessoas desde que seus benefícios têm sido amplamente
relatados, divulga dos e recomendados (SOUZA, 2011).
Em tese, a procura pela prática do esporte analisado no estudo é explicado pela evidên-
cia de seus benefícios. A corrida de rua promove saúde de forma geral devido a melhoria e evo-
lução nas suas capacidades físicas e mentais, como por exemplo: desenvolvimento de um me-
lhor condicionamento físico e uma melhor interação social, respectivamente.
CONCLUSÃO
Pode-se concluir que esse desporto vem tornando-se cada vez mais popular no Brasil e
no mundo, a sua eficácia no que propõe e sua praticabilidade pode ser dito como fatores prin-
cipais para tal crescimento.
Conclui-se através deste trabalho que a corrida de rua é uma atividade física que me-
lhora significativamente a qualidade de vida, incluindo todos os aspectos que compõem e en-
globam o termo citado, de seus praticantes. Ademais, é de suma importância para aperfeiçoar
o condicionamento físico do atleta, gerando assim benefícios para sua saúde.
Fazendo-nos compreender as mudanças que ocorrem no estilo de vida, foi observado
através de análise em artigos científicos publicados que durante a prática da corrida de rua
houve alterações nos sistemas musculoesqueléticos, neuromuscular e cardiovasculares, além
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 92
de contribuir de forma positiva no desempenho físico, social e mental dos corredores. De forma
geral, pode-se determinar uma melhora na qualidade de vida dos atletas amadores.
REFERÊNCIAS
ARAUJO, Pessoa, Jalio. O processo de interação social nas corridas de rua da cidade de porto velho, 2009.
Associação brasileira para o estudo da obesidade e da síndrome metabólica (ABESO). Diretrizes brasileiras de
Obesidade. 4ª Ed. São Paulo, 2016.
DEBSKI, ROBERTO. Corrida, um esporte que traz inúmeros benefícios para a saúde.Disponível
em:<http://blogs.atribuna.com.br/maissaude/2017/03/corrida-um-esporte-que-traz-inumeros-beneficios-
para-a-saude/>. Acesso em: 12 de set. 2017.
EVANGELISTA, L. A. Treinamento de corrida de rua: uma abordagem fisiológica e metodológica. 2º ed. São
Paulo: Phorte editora, 2010.
GUEDES, DANIELA. Livros e filmes que inspiram os amantes da corrida de rua. Disponível
em:<http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/49398>. Acesso em: 10 set. 2017.
HERTHER, ANDRÉ. Fatores De Adesão e Permanência em Corridas de Rua no Município de Ijui – RS, 2016.
McARDLE, W.; KATCH. F.; KATCH, V.Fisiologia do Exercicio: Energia, Nutrição e Desempenho Humano, 5° ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.a, 2003.
OMS, Organização Mundial de Saúde. Disponível em: http://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/.
Acesso em: 19 set. 2017.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS). Atividade física e saúde na Europa: Evidências para a ação. Cen-
tro de Investigação em Atividade Física, Saúde e Lazer. Porto, 2006.
QUEIROGA, M. R. Testes e medidas para avaliação da avaliação física relacionada à saúde em adultos. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
SALGADO. Corrida de rua: Análise Quantitativa da Evolução das Corridas de Rua e das Características dos Prati-
cantes desta Modalidade. TCC, Educação Física, Campinas, 2005.
SALGADO, J.; PORTUGAL, D. A corrida pela performance: convergências entre esporte, trabalho e consumo nos
dias midiáticos, Revista Interamericana de Comunicação Midiática, v. 11, n. 22, p. 166-182, 2012. DOI:
https://doi.org/10.5902/217549777006.
SILVEIRA, I. E.; MARQUES, A. E. F. A importância antropométrica para analisar os níveis de obesidade em crian-
ças do ensino fundamental II na cidade de são João do rio do peixe-PB. Revista de Pesquisa Interdisciplinar, v.
1, p. 376-383, 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.24219/rpi.v2i2.0.406
SOUZA, ANANDA. Lesões em corredores de rua: Uma revisão de literatura. TCC, Educação Física, Fisioterapia e
Terapia Ocupacional, Belo Horizonte, 2011.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 93
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 94
que gerava uma restrição severa no seu consumo alimentar. Diante do exposto, surgiu o termo
ortorexia nervosa, que significa uma preocupação excessiva por uma alimentação correta
(PONTES, 2012).
Um ponto complicado na ortorexia nervosa é o diagnóstico, já que quem sofre do pro-
blema, acredita estar fazendo a coisa certa, tendo em vista que elas buscam apenas por uma
alimentação pura e saudável e acreditam que este hábito só lhe trará benefícios, o que na ver-
dade ao passar dos dias e anos, a restrição alimentar só acarretará danos à sua saúde (PONTES;
MONTAGNER, 2014).
É de conhecimento de todos que uma atividade física rotineira por qualquer indivíduo e
em qualquer idade é benéfica à saúde (FREIRE et al. 2014). Uma alimentação saudável é essen-
cial, porém quando estas duas práticas passam a serem viciantes e desenfreadas, começam
atrapalhar a vida social do indivíduo, gerando danos à sua saúde.
Desta forma, por se tratar de dois problemas atuais, recorrentes e com baixa visibilidade,
contudo presente diariamente entre praticantes ou não de atividades físicas e de caráter rele-
vante nos dias atuais, devido a nossa sociedade estar sendo bombardeada por todos os lados
com corpos perfeitos e uma alimentação cada vez mais restrita. O que esconde um grande pe-
rigo, visto que cada dia que se passa, mais pessoas estão desenvolvendo o medo de se alimentar
e outras que já não se encaram no espelho, pois não conseguem atingir o corpo dos sonhos.
Assim, a presente pesquisa tem por objetivo avaliar a incidência da vigorexia e ortorexia ner-
vosa em academias na cidade de Campina Grande – PB
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Vigorexia
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 95
sempre foi levada a fazer do seu próprio corpo, um meio para atingir seus objetivos, o que gera
preocupação, pois neste contexto ilusório de um padrão corporal perfeito inserido pela socie-
dade, vem acarretando um aumento nos números dos casos de vigorexia. Pois está se criando
uma sociedade adoecida pela busca do corpo perfeito, devido à intensa rotina de levantamentos
de peso e o uso abusivo de substâncias ergogênicas (BRAGANÇA; SILVA, 2016).
Ortorexia Nervosa
Ao longo dos anos foi se tornando cada vez mais frequente, pessoas que aderem à moda
de comer limpo. Ou seja, fazer o consumo de alimentos puros, livres de contaminação. O que
leva ao surgimento da ortorexia nervosa, descrita pela primeira vez por Stevem Bratmam, em
1997 (HAMAN et al., 2015). Que causa nas pessoas uma obsessão por alimentos límpidos, acar-
retando em dietas altamente restritivas gerando muita preocupação. Pois grupos alimentares
são excluídos da rotina alimentar dessas pessoas prejudicando sua saúde, levando à deficiência
de vitaminas e à perda de peso em excesso.
Porém, o ponto chave da compulsão e que gera grande aflição é que as mesmas não con-
seguem enxergar o problema, pois dizem estar apenas purificando seus corpos e melhorando
sua saúde, mostrando-se orgulhosas das suas práticas (VARTANIAN; NEVIN, 2017).
Quando se instala graus mais elevados da ortorexia nervosa, quem sofre do problema
passa apenas a consumir alimentos crus e gastam boa parte do seu dia a dia verificando a qua-
lidade dos alimentos e com pensamentos relacionados à alimentação, no desespero de favore-
cer a sua saúde. Tornando-se mais obcecados por alimentos puros, o que implica no isolamento
social dessas pessoas e uma ameaça grave a saúde (DELL'OSSO et al., 2016).
Tendo em vista que em longo prazo o indivíduo que é acometido por um nível mais acen-
tuado do problema, pode desencadear outro distúrbio alimentar, conhecido como anorexia
(DELL'OSSO et al., 2016) Visto que a preocupação excessiva com a pureza dos alimentos e a
melhora da saúde, leva a uma restrição severa dos grupos alimentares, o que pode desencadear
um quadro de desnutrição (KOYEN; ABRY, 2015).
Um dos meios para se diagnosticar a ortorexia nervosa é através do questionário Orto-
15, utiliza-se como parâmetro a pontuação<35 como um alto indicativo para a ortorexia ner-
vosa. E já para se fazer o diagnóstico em populações aconselha-se utiliza-se o ponte de corte
<40, como 100% de certeza e 73,6% de especificidade (PONTES; MONTAGNER; MONTAGNER,
2014).
MÉTODO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 96
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Participaram do estudo 80 indivíduos sendo 60% do sexo masculino e 40% do sexo fe-
minino, com idade média de 28±10,88 anos para mulheres e coeficiente de variação de 34,03%
e homens com idade média de 26±8,24 anos com um coeficiente de variação de 30,88 %.
40,00% 38,75%
20,00% 18,75%
17,50% A Vigorexia já é um problema
sério
15,00%
Grave Problema
10,00%
5,00% 2,50%
0,00%
Homens Mulheres
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 97
40,00%
35%
10,00% 7,50%
5,00%
0,00%
Homens Mulheres
Vale enfatizar que Håman et. al. (2015) cita que o questionário não é totalmente preciso,
pois não avalia os aspectos socioculturais dos entrevistados. Afirma-se que algumas pessoas
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 98
por terem culturas diferentes vão se adequar ao problema, mas que nem sempre terão o pro-
blema. Entretanto, o questionário em questão busca investigar a ortorexia nervosa, sendo o
mais utilizado pelos pesquisadores até o momento (ALVES; PELLEGRINIL; ROMERA, 2018),
(DELL'OSSO et al., 2016) e (PONTES, 2012) por ser o mais acurado para se fazer o diagnóstico.
Praticantes de atividade física e atletas são os principais públicos para desenvolverem a
ortorexia nervosa, pois são grupos de pessoas que estão sempre em busca de uma alimentação
mais correta, para assim atingir seus resultados, corroborando (ALVES; PELLEGRINIL; RO-
MERA, 2018) que mencionam que pontuações mais baixas no ORTO-15 estão relacionadas a
pessoas que praticam atividades físicas rotineiramente.
O presente trabalho retrata exatamente esta condição, de maneira que pôde se verificar
que os níveis de ortorexia nervosa em praticantes de atividade física apresentam dados bas-
tante elevados, destacando-se até mais do que a própria vigorexia, mostrada em estudos ante-
riores com maior frequência neste público.
Na (figura 3) pode-se inferir a relação entre as pessoas que praticam atividade física com
a vigorexia, bem como com a ortorexia nervosa, estabelecendo em qual dos sexos e em quais
faixas etárias, ambos os problemas são mais recorrentes.
30,00%
25,00%
20,00%
Vigorexia e Ortorexia
15,00% 12,50%
10,00%
5,00%
0,00%
Homens Mulheres
Fonte: Dados da Pesquisa (2019).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 99
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados obtidos, pode-se inferir que os praticantes de atividade fí-
sica das academias investigadas apresentaram tanto a vigorexia como a ortorexia em diversos
graus com maior incidência entre os homens.
A ocorrência destes problemas vigora em indivíduos com idade entre 16 e 33 anos de
idade, reforçando que os casos de vigorexia e ortorexia nervosa vem aumentando na nossa so-
ciedade e a presente pesquisa trará contribuições para a área da saúde.
Faz-se necessários novos estudos populacionais com o objetivo de verificar a incidência
de ambos os problemas, visto que os dados sobre os mesmos são pouco estudados.
REFERÊNCIAS
ALVES, S. C. C.; PELLEGRINI, F. G.; ROMERA, L. I. Ortorexia nervosa e exercício físico: revisão de literatura. Saúde
em Revista, Piracicaba, v. 18, n. 49, p.31-40, ago. 2018.
ANDREOLA, N. M. O culto ao corpo sob o olhar da psicanálise. Belo Horizonte: Ed UFMG, 2010.
AZEVEDO, A.P. et al. Dismorfia muscular: A busca pelo corpo hiper musculoso. Motricidade, v. 8, n. 1, p. 53-
66. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-
107X2012000100007&lang=pt>. Acesso em: 10 nov. 2019.
BRAGANÇA, V.; S., R. Vigorexia: A patologia do culto ao corpo. Revista Eletrônica de Educação da Faculdade
Araguaia, Goiânia, v. 9, n. 9, p.319-330, 2016.
CONTESINI, N.et al. Estratégias nutricionais de sujeitos fisicamente ativos com dismorfia muscular. 2013. Dispo-
nível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3680023/?tool=pmcentrez&report=abstract>.
Acesso em: 23 mar. 2019.
DELL’OSSO, L. et al. Orthorexia nervosa in a sample of Italian university population. Rivista di Psichiatria, Itália,
v. 5, n. 51, p.190-196, 2016.
FREIRE, R. S. et al. Prática regular de atividade física: Estudo de base ´populacional no norte de Minas Gerais, Bra-
sil. 2014. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbme/v20n5/1517-8692-rbme-20-05-00345.pdf>. Acesso em: 13
abr. 2019.
HÅMAN, L. et al. Orthorexia nervosa: An integrative literature review of a lifestyle syndrome. 2015. Disponível
em: <www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4539385/?tool=pmcentrez&report=abstract>. Acesso em: 13
abr. 2019.
KOVEN, N. S.; ABRY, A. W. The clinical basis of orthorexia nervosa: emerging perspectives. 2015. Disponível em:
<www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25733839>. Acesso em: 23 mar. 2019.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 100
LIZ, C. M., et al. Fatores associados à dismorfia muscular em praticantes de treinamento de força em academias:
revisão sistemática. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Br, v. 26, n. 1, p.200-212, set. 2018.
LOPES, M. V. Vigorexia: Entre o vício, a saúde e o estilo de vida. 2014. 145 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2014.
MOTTER, A. G.; ALMEIDA, M. B. S.; ALMEIDA, S. Incidência de Vigorexia em Praticantes de Musculação. do Corpo:
Ciências e Artes, Caxias do Sul, v. 7, n. 1, p.1-11, 2017.
PONTES, J. B.; MONTAGNER, M. I.; MONTAGNER, M. A. Ortorexia nervosa: adaptação cultural do orto-15. Disponí-
vel em: <www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/view/8576>. Acesso em: 23 mar. 2019.
POPE, H. G.; PHILLIPS, K. A.; OLIVARDIA R. O complexo de Adônis: a obsessão masculina pelo corpo. Rio de
Janeiro: Campus; 2000.
RAVELLI, F. Uso de esteroides anabolizantes androgênicos: Estudo sobre vigorexia e a insatisfação corpo-
ral. 2012. 21 f. TCC (Graduação) - Curso de Educação Física, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2012.
RIBEIRO, P. C. P; OLIVEIRA, P. B. R. Culto ao Corpo: beleza ou doença? Revista Adolescência e Saúde, Rio de Ja-
neiro, v. 8, n. 3, p.63-69, set. 2011.
TOD, D.; EDWARDS, C.; CRANSWICK, L. Muscle dysmorphia: current insights. 2016. Disponível em:
<www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4977020/?tool=pmcentrez&report=abstract>. Acessoem: 23 mar.
2019.
VARTANIAN, L. R.; NEVIN, S. M. The stigma of clean dieting and orthorexia nervosa. Journal Of Eating Disor-
ders. Sydney, p. 5-37. jul. 2017.
VASCONCELOS, J. E. L. Vigorexia: Quando a busca por um corpo musculoso se torna patológica. Revista Educa-
ção Física Unifafibe, São Paulo, v. 2, n. 2, p.91-97, dez. 2013.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 101
INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, estudos científicos vêm sendo desenvolvidos de forma mais intensa a
respeito do descarte correto de medicamentos. Com os avanços da ciência na área da saúde,
bem como as pesquisas de novos tratamentos, surgiram inúmeros benefícios fundamentais à
saúde da população, o que também gerou uma elevação na elaboração de novas fórmulas, assim
como na quantia de medicamentos acessíveis para a comercialização e consumo da população
(PINTO et al., 2014).
Sabe-se que a utilização não racional de medicamentos, a inexistência de venda fracio-
nada, a facilidade de acesso da população à amostras grátis por parte dos laboratórios, além da
mídia que incentiva o consumo e a não aderência ao tempo necessário do tratamento, podem
facilitar, para que esses pacientes juntem uma maior quantidade de medicamentos, sem que
tenha necessidade ou utilidade em suas casas, facilitando para que, posteriormente, possam
descartá-los em lugares impróprios (RAMOS et al., 2017).
Ademais, de acordo com Souza e Falqueto (2015), tal questão torna-se ainda mais alar-
mante no país, quando se leva em consideração a não existência de um programa que possa
recolher os medicamentos, com prazos de validade vencidos, que os pacientes acumularam em
suas residências.
O Brasil está inserido entre as dez nações em que a população compra medicamentos
em maior quantidade. No entanto, estima-se que 20% do que é comprado tem seu descarte na
rede de esgotamento sanitário ou mesmo no lixo comum. Trata-se de um fator alarmante, tendo
em vista que os medicamentos apresentam na sua composição inúmeras substâncias químicas,
a exemplo dos antibióticos, que não excluídas, em sua totalidade, no momento dos processos
tradicionais de tratamento de esgotos (FALQUETO; KLIGERMAN, 2012).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 102
Nota-se que o meio ambiente tem sido bastante prejudicado por atos danosos causados
pelo homem, entre eles encontram-se: a poluição do solo e da água. Nesses ambientes são des-
cartados, anualmente, uma grande quantidade de lixo, que os prejudica e afeta diretamente os
seres humanos e sua saúde.
Nesse contexto, muitas pessoas desconhecem a maneira correta de descartar medica-
mentos e acabam fazendo isto de maneira incorreta, sendo necessário que a própria equipe de
saúde, da Estratégia de Saúde da Família (ESF), que atua de forma mais intensa no estabeleci-
mento de vínculos com a comunidade, oriente os pacientes a respeito dessas questões.
Tomando como base que o Brasil é um país que consome uma grande quantidade de
medicamentos e que tende a desprezá-los de forma incorreta, além da preocupação com o des-
carte de substâncias que são nocivas ao meio ambiente, surgiu a necessidade de desenvolver
esta pesquisa.
Dessa forma, a indagação que propiciou a escolha pela referida temática foi: o conheci-
mento dos pacientes da ESF a respeito do descarte adequado de medicamentos é satisfatório?
Nesse sentido, o objetivo da presente pesquisa foi avaliar o conhecimento dos pacientes
da ESF sobre o descarte adequado de medicamentos no munícipio de Alagoinha– PB.
MÉTODO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 103
Dessa forma, no presente estudo foram respeitados os aspectos éticos relativos à pes-
quisa que envolve seres humanos, conforme a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde. Foi utilizado o (TCLE), em duas vias, onde uma foi entregue ao participante e a outra
arquivada pelo pesquisador. Ressalta-se que a coleta de dados foi iniciada após a aprovação do
projeto pelo Comitê de Ética, mediante o Parecer nº 3.202.071; CAAE: 05740819.0.0000.5175.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
TABELA 1 – Caracterização dos usuários atendidos na ESF João Borges Gondim que participa-
ram da presentes pesquisa. n=45.
TOTAL
USUÁRIOS DA ESF
N %
GÊNERO
Feminino 37 82,2
Masculino 8 17,8
Transgênero 0 0
FAIXA ETÁRIA
até 20 anos 1 2,2
21 – 35 anos 22 48,9
36 – 60 anos 20 44,4
acima de 60 anos 2 4,5
ESTADO CIVIL
Casado(a) 26 57,8
Solteiro(a) 17 37,8
União consensual 1 2,2
Viúvo(a) 1 2,2
ESCOLARIDADE
Ensino fundamental incompleto 5 11,1
Ensino fundamental completo 8 17,8
Ensino médio incompleto 1 2,2
Ensino médio completo 18 40
Ensino superior incompleto 8 17,8
Ensino superior completo 5 11,1
RENDA MENSAL
Até 01 salário mínimo 38 84,4
02 a 04 salários mínimos 7 15,6
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 104
Na faixa etária dos entrevistados houve prevalência de 48,9 % (22) que se estende dos
21 aos 35 anos. Corroborando com esse achado o estudo realizado por Loch (2015) descreve a
participação de usuários nessa faixa etária, sendo 59% dos entrevistados.
Quanto ao estado civil dos entrevistados 57,8% (26) responderam ser casados, esse
dado concorda com os achados presentes na pesquisa desenvolvida por Pereira et al. (2019),
que 60,8% de usuários estão incluídos nesse tipo de estado civil.
Em relação ao grau de escolaridade dos participantes, assim como no presente estudo,
as pesquisas desenvolvidas por Ramos et al. (2017) e Pereira et al. (2019) foram compostas por
participantes que em sua maioria 40,4% e 34,6%, cursaram o ensino médio completo. No que
concerne a renda dos usuários entrevistados, 38 (84,4%) referem receber até um salário mí-
nimo por mês.
Na figura 1 são apresentados os dados referentes ao conhecimento dos usuários sobre o
descarte adequado de medicamentos vencidos.
Percebe-se que quando questionados sobre o conhecimento acerca da maneira correta
de efetuar o descarte de medicamentos sem mais utilidade, 60% (27) dos usuários referiram
tê-lo, porém esse dado é confrontado pelas respostas atribuídas as demais questões, nas quais
os indivíduos expressam algumas práticas inadequadas. Nesse sentido, no estudo desenvolvido
por Pinto et al. (2014) foi exposto que 92% dos seus entrevistados não tinham conhecimento
sobre o descarte correto ou do local adequado para coleta de medicamentos vencidos, refor-
çando a falta de informação.
40%
60%
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 105
FIGURA 2 – Local de descarte de medicamentos vencidos dos usuários da ESF João Borges Gon-
dim, Alagoinha-PB.
Nota-se que um percentual de 53,3% (24) dos participantes da presente pesquisa expôs
que o descarte dos seus medicamentos vencidos é realizado no lixo domiciliar. Esses dados as-
semelham-se aos achados das pesquisas de Rodrigues, Freitas e Dalbó (2018), Pereira et al.
(2019) e Ferreira et al. (2015), as quais apontaram que 64,7%, 91,5% e 52%, respectivamente,
dos entrevistados efetuavam o descarte dos seus medicamentos vencidos também no lixo do-
méstico. Vale salientar que nesse último estudo 32% dos participantes da pesquisa descarta-
vam os medicamentos na pia ou no vaso sanitário de casa.
No tocante ao descarte dos medicamentos vencidos em postos de coleta ou nas unidades
de saúde, percebe-se que um número reduzido de usuários faz esse tipo de descarte, sendo re-
presentado em 20% (9) dos casos. Semelhantemente aos dados encontrados, o estudo desen-
volvido por Pinto et al. (2014) revelou que apenas 4% dos seus entrevistados destinavam os
medicamentos de forma adequada nos postos de saúde, farmácias ou centros comunitários.
O estudo desenvolvido por Silva, Abjaude e Rascado (2014), expõe que nos estabeleci-
mentos de saúde a prática de devolução de medicamentos sem utilidade é inexistente, o que
reforça a necessidade da formulação de estratégias que promovam orientação e expressem a
importância do descarte adequado dos medicamentos.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 106
FIGURA 3 – Local de descarte de seringas, agulhas ou lancetas utilizadas pelos usuários da ESF
João Borges Gondim, Alagoinha-PB.
De acordo com o exposto na figura 3 percebe-se que 80% (36) dos entrevistados da pre-
sente pesquisa referiram depositar o material em um recipiente adequado, vedado e depois
conduzido a unidade de Saúde. Esses achados são confrontados por outras pesquisas desenvol-
vidas sobre a mesma temática, as quais revelam que a maioria dos usuários realizam o descarte
de forma inadequada, utilizando o lixo comum ou outros meios. Essa informação se confirma
nas pesquisas desenvolvidas por Ramos (2017); Cunha et al. (2017) e Junior et al. (2016), que
expressam a ocorrência recorrente do descarte inadequado desse tipo de material e os prejuí-
zos que os mesmos acarretam para o meio ambiente e para os coletores de material reciclável.
Esses números elevados no quesito do descarte dos medicamentos vencidos, demons-
tram a falta de conhecimento dos usuários dos serviços de saúde em relação ao descarte ade-
quado e aos impactos que essas substâncias causam no meio ambiente e a própria saúde hu-
mana. Ademais, revelam a deficiência na acessibilidade às informações sobre a temática e no
desenvolvimento de estratégias de Educação em Saúde.
Nesse contexto do uso da estratégia de Educação em Saúde, as figuras 4 e 5 a seguir ex-
planam dados referentes a participação dos entrevistados da presente pesquisa em atividades
educativas e de momentos na ESF em que eram disponibilizadas orientações quanto a impor-
tância do descarte correto.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 107
NÃO 60%
SIM 40%
NÃO 78%
SIM 22%
Nota-se que dentre os usuários entrevistados durante a pesquisa, 77,8% (35) dos mes-
mos referiram não ter participado na ESF de atividades educativas sobre o descarte correto de
medicações. Nesse contexto, é importante ressaltar que as ações de Educação em Saúde são
indispensáveis para o compartilhamento de informações e construção de saberes entre os en-
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 108
volvidos, profissionais e usuários. Essa ferramenta influencia diretamente nas formas de geren-
ciamento dos fármacos no serviço e no descarte inadequado de medicamentos, colaborando
com o uso racional dos mesmos (BALDONI et al., 2015).
A figura 6 apresenta dados relacionados ao conhecimento dos usuários da ESF João Bor-
ges Gondim, Alagoinha-PB, quanto ao recebimento de medicamentos vencidos ou materiais
perfurocortantes.
FIGURA 6 – Conhecimento dos usuários se a ESF João Borges Gondim recebe medicamentos e
perfurocortantes.
NÃO 80%
SIM 20%
Mediante os dados, percebe-se que entre os entrevistados 80% (36) desconhecem a pre-
sença de um local para o recebimento dos medicamentos vencidos ou perfurocortantes na ESF,
tal fato evidencia a necessidade de estratégias mais efetivas com relação ao assunto. Esses da-
dos assemelham-se aos expostos por Alencar, Machado e Costa (2014) em sua pesquisa, na qual
os entrevistados expressaram não saber a quem recorrer para o descarte adequado de medica-
mentos.
Nesse contexto, Dantas, Silva, Fonseca (2018) expressam que é imprescindível a efetiva-
ção de estratégias nos serviços de saúde que envolvam a conscientização da população em geral
sobre a forma correta e saudável de se descartar os medicamentos vencidos e material perfu-
rocortante.
A partir dos resultados encontrados, é possível perceber que as questões relacionadas
ao descarte adequado de medicamentos vencidos e dos materiais perfurocortantes são tratadas
de forma deficiente nos serviços de saúde, demandando assim, dos profissionais um desperta-
mento quanto a importância do desenvolvimento de ações de educação em saúde junto à popu-
lação atendida.
CONCLUSÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 109
REFERÊNCIAS
ALENCAR, T. de O. S.; MACHADO, C. S. R.; COSTA, S. C. C. Descarte de medicamentos: uma análise da prática no
Programa Saúde da Família. Ciênc. Saúde Coletiva, v. 19, n. 7, p. 2157-2166, 2014.
ANDRADE, J. C. de; OROZCO, M. M. D. Avaliação do manejo de medicamentos vencidos nas farmácias e dro-
garias do munícipio de JI-Paraná, Rondônia. In: Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, n. 8, 2017, Campo
Grande/MS.
BRASIL. Câmara dos deputados. Projeto de Lei nº 2.121-A, de 2011. Dispõe sobre o descarte de medicamentos
vencidos ou impróprios para o consumo nas farmácias e drogarias e dá outras providências. Brasília, 2011.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 110
BRASIL. Decreto n° 5.775, de 10 de maio de 2006. Dispõe sobre o fracionamento de medicamentos, dá nova re-
dação aos arts. 2º e 9º do Decreto no 74.170, de 10 de junho de 1974, e dá outras providências. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil. Brasília, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução RDC nº 306, de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento
Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.
DANTAS, A. M. S.; SILVA, P. L. N. da; FONSECA, J. R. Visão de profissionais, acadêmicos e usuários da atenção pri-
mária à saúde sobre o descarte correto de medicamentos: revisão integrativa da literatura. J. Health Biol. Sci., v.
6, n. 2, p. 197-205, 2018.
FALQUETO, E.; KLIGERMAN, D. C. Análise normativa para descarte de resíduos de medicamentos – estudo de
caso da região Sudeste do Brasil. R. Disan, v.13, n.2, p.10-23, 2012.
FERREIRA, L. C. et al. Análise do conhecimento da população sobre descarte de medicamentos em Belo Horizonte
– Minas Gerais. Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente, v. 3, n. 2, p. 9, fev. 2015.
GASPARINI, J.C.; GASPARINI, A.R.; FRIGIERI, M.C. Estudo do descarte de medicamentos e consciência ambiental
no município de Catanduva-SP. Revista Ciências e Tecnologias, v. 2, n. 1, p. 38-51, 2011.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2010.
JUNIOR, J. B. et al. Insulinoterapia em domicílio: práticas adotadas por uma população de diabéticos no munícipio
de Formica-MG. Rev. Conexão Ciência, v. 11, n. 2, p. 59-63, 2016.
LENHARDT, E. H. et al. O descarte de medicamentos no Bairro Grande Terceiro, Cuiabá-MT. Científica Ciências
Biológicas e da Saúde, v. 16, n. 1, p. 5-8, 2014.
LOCH, A. P. Estoque domiciliar de medicamentos de pessoas assistidas por uma equipe de profissionais da Estra-
tégia de Saúde da Família. Rev. Bras. Med. Fam. Comunidade, Rio de Janeiro, v. 10, n. 37, p. 1-11, out./dez.
2015.
PINTO, G. M. F et al. Estudo do descarte residencial de medicamentos vencidos na região de Paulínia (SP), Brasil.
Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, v.19, n.3, p. 219-224, 2014.
PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: Métodos e técnicas da pesquisa e do tra-
balho acadêmico. 2. Ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
RAMOS, H. M. P. et al. Descarte de medicamentos: uma reflexão sobre os possíveis riscos sanitários e ambientais.
Ambiente & Sociedade, São Paulo, v. XX, n. 4, p. 149-174, out./dez. 2017.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 111
RODRIGUES, M. de S.; FREITAS, M. D.; DALBÓ, S. Descarte domiciliar de medicamentos e seu impacto ambiental:
análise da compreensão de uma comunidade. Braz. Ap. Sci. Rev., Curitiba, v. 2, n. 6, p. 1857-1868, nov. 2018.
SILVA, N. R.; ABJAUDE, S. A. R.; RASCADO, R. R. Atitudes de usuários de medicamentos do Sistema Único de Sa-
úde, estudantes de farmácia e farmacêuticos frente ao armazenamento e descarte de medicamentos. Ver. Ciênc.
Farm. Básica apl., v. 32, n. 2, jun. 2014.
SOUZA, C.D.F.A.; FALQUETO, E. Descarte de Medicamentos no Meio Ambiente no Brasil. Revista Brasileira Far-
mácia, v. 96 n.2, p.1142-1158, 2015.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 112
INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta resultados de um estudo sobre o rizoma da araruta e sua potenci-
alidade para ser usada no Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE – no formato de
um biscoito.
Os estudos sobre alimentação em uma perspectiva antropológica e educacional vêm ga-
nhando cada vez mais espaço na academia. Um dos motivos para a ampla discussão sobre ali-
mentação e o comer é a inserção dos cursos de graduação em gastronomia nas universidades
que, além de se preocuparem com a formação técnica e prática dos alunos, pretendem formar
profissionais preocupados com os saberes tradicionais, culturais e sociais que envolvem a ali-
mentação.
Em tempos de transição nutricional (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003), o debate sobre o
corpo e a potencialidade dos alimentos também ganha foco. A principal preocupação era o com-
bate à fome; contudo, contemporaneamente, são as doenças crônicas decorrentes de uma ali-
mentação rica em açúcar e gordura que motivam a preocupação e requerem debate e políticas
públicas. Vale lembrar, entretanto, que a fome ainda não foi superada totalmente no Brasil, ape-
sar de o mesmo ter saído do mapa da fome. (ONU, 2015)
Com o advento da Lei federal número 11947/2009, que dispõe sobre as diretrizes da
alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola para os alunos da educação bá-
sica, a alimentação saudável e adequada que respeite a cultura, as tradições e os hábitos ali-
mentares saudáveis. Torna-se exigência na Lei ações para uma educação alimentar e nutricional
“no processo de ensino e aprendizagem, que perpassa pelo currículo escolar, abordando o tema
alimentação e nutrição e o desenvolvimento de práticas saudáveis de vida, na perspectiva da
segurança alimentar e nutricional” (BRASIL, Lei 11947/2009, art.2°).
A lei contribui também para valorização dos alimentos tradicionais advindos da agricul-
tura familiar incentivando a produção local e os saberes populares referentes aos alimentos.
Partindo dessa discussão, foi escolhida a araruta, rizoma de origem americana, para ser estu-
dada. Dela é extraída uma goma atualmente pouco utilizada, uma vez que o cultivo da araruta
está se perdendo sendo que algumas pesquisas (SLOW FOOD, 2007) relatam até uma possível
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 113
extinção. A despeito disso, a araruta possui grande potencial gastronômico; a escolha desse ri-
zoma justifica-se também por estar presente na cultura alimentar do cearense desde o litoral
leste (Cascavel e Beberibe) até a região do Cariri (Crato e Juazeiro).
Assim, a pesquisa analisou como a araruta pode ser usada como produto base na criação
de uma preparação que seja viável na alimentação escolar, optando pela criação um biscoito.
Além disso, registrou-se a preparação específica da goma com relatos sobre o saber popular
agregado à araruta, o processo que foi relatado por pessoas que a consomem nas suas vivências.
Em se tratando de uma pesquisa qualitativa o estudo apresentou características de uma
pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e pesquisa de campo, haja vista que a pesquisa
“pretende buscar a informação diretamente com a população pesquisada” (GONÇALVES, 2001,
p. 67).
Realizou-se também um teste de aceitabilidade além da análise de valor nutricional com
o produto elaborado.
A temática que envolve a alimentação gera discussões nos mais variados âmbitos seja
nutricional ou antropológico e leva a refletir sobre questões essenciais como “a relação da cul-
tura com a natureza, o simbólico e o biológico” (MACIEL, 2001, p. 146). O ato de comer deixou
de ser visto simplesmente como um ato biológico e vital, considerando que o homem escolhe,
através de critérios gustativos e culturais, o que pretende comer. Assim, segundo Maciel (2001)
o que é “biologicamente ingerível não é culturalmente comestível”. Desse modo, é necessária a
discussão de conceitos chaves para esta pesquisa, tais como: alimentação, práticas alimentares
tradicionais, educação alimentar e nutricional.
As práticas alimentares tradicionais são objeto de estudo de muitos pesquisadores preocu-
pados em valorizar técnicas e saberes existentes salvaguardando também tabus, restrições ou
hierarquias presentes na cultura alimentar de algum grupo. Isso porque a chegada de produtos
industrializados de fácil acesso e consumo afasta, desvaloriza e enfraquece a cultura dos ali-
mentos naturais e tradicionais principalmente para os jovens que estão deixando de seguir a
agricultura e o labor de seus pais (BEZERRA, 2013). Assim iniciativas como a lei 11947/2009
contribuem para a valorização não somente dos saberes tradicionais envolvidos na comida,
mas também para a profissão de agricultor que, a partir da agricultura familiar, pode vender
seus produtos para o PNAE, gerando renda para a família e uma alimentação de qualidade para
as escolas em que seus filhos estudam e segurança alimentar e nutricional para alunos, família
e escola.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Educação Alimentar e Nutricional - EAN
Entender EAN foi fundamental para o desenvolvimento da pesquisa. A base para os es-
tudos e práticas em EAN está no Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para
as Políticas Públicas (BRASIL, 2012). A EAN é, em linhas gerais, um “campo de conhecimento e
de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa
promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis” (BRASIL, 2012, p.
13)
Os registros de primeiras ações sobre educação alimentar datam da década de 1930 no
contexto da industrialização do Brasil. Essas primeiras ações tinham como objetivo ensinar as
pessoas menos instruídas a comer (BEZERRA, 2012) baseados na noção de que o povo era ig-
norante para fazer escolhas alimentares, desprezando dessa forma as condições sociais a que
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 114
estava submetida boa parte da população brasileira. Sobre isso, Bezerra (2012) relata que os
estudos tratavam a população assim:
[...] as estratégias de EAN eram dirigidas aos trabalhadores e suas famílias, a partir de
uma abordagem atualmente avaliada como preconceituosa, ao pretender ensiná-los a
se alimentar corretamente segundo um parâmetro descontextualizado e estritamente
biológico. As ações eram centradas em campanhas de introdução de alimentos que não
eram usualmente consumidos e de práticas educativas dirigidas, principalmente, às ca-
madas de menor renda (BRASIL, 2012, p. 16).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 115
É uma política pública descentralizada, cujos recursos são repassados aos estados e mu-
nicípios, com base no Censo Escolar realizado no ano anterior ao do atendimento. O Programa
tem acompanhamento direto pela sociedade, por meio dos Conselhos de Alimentação Escolar
(CAE) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
A lei 11.947 traz as diretrizes da alimentação escolar. Dentre essas diretrizes estão o
direito do aluno à alimentação, o apoio ao desenvolvimento sustentável e a valorização da cul-
tura alimentar local através dos alimentos tradicionais. A portaria nº 1010 de 8 de maio de
2006, por sua vez, institui as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável nas Escolas
de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio das redes públicas e privadas, em
âmbito nacional através do uso de alimentos adequados, construção de hortas, manifestações
culturais acerca dos alimentos, restrições para o comércio de comida nas escolas. A medida
preza pelo envolvimento da família dos alunos em práticas conjuntas de educação alimentar
além de estimular o consumo de frutas e verduras.
Todas as estratégias expostas nas Lei 11.947, na portaria 1010, no PNAE e no marco
sobre EAN convergem para um tópico principal, que é o estudado na pesquisa: o uso de alimen-
tos tradicionais para promoção de alimentação saudável nas escolas, no caso, a araruta.
O termo araruta soa com estranheza para a maioria das pessoas que não a conhecem.
Seu nome científico, Maranta arudinacea, mais ainda. Isso se deve talvez ao pouco uso e divul-
gação. É uma planta herbácea da ordem das zingiberales que inclui 8 famílias, 89 gêneros e
cerca de 1800 espécies, dentre as quais encontram-se a banana, o gengibre e o açafrão. Embora
gengibre e açafrão sejam de origem oriental, a araruta é tipicamente sul-americana e ocorre em
toda costa desde as guianas até o Rio de Janeiro (NEVES et al., 2005).
Segundo Posey (1985 apud Neves et al. 2005) algumas tribos de índios brasileiros culti-
vavam, muito antes da colonização, algumas variedades de marantáceas. Fosse em florestas ou
em morros, o cultivo era feito por mulheres idosas da tribo e os tubérculos serviam como re-
serva alimentar para as épocas de escassez de outras fontes alimentícias. Leonel e Cerada
(2002) bem como Zárate et al. (2007) afirmam que a planta “teve seu centro de origem, prova-
velmente, no continente sul-americano, encontrando-se em forma nativa nas matas venezuela-
nas, posteriormente foi exportada às ilhas Barbados, Jamaica e outras regiões do Caribe” (ZÁ-
RATE et al., 2007, p. 1) chegando também ao Brasil. A origem do nome não é exata, existindo
várias versões para ela.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 116
português como araruta. [...] Uma outra versão, diz que os Aruaks chamavam a planta
de “aruaque aruá-aru”, significando “refeição das refeições” pelo fato de considerarem
especiais as refeições preparadas com o polvilho que tem como uma das propriedades
mais destacadas sua alta digestibilidade (NEVES et al., 2005, p. 1). [Grifas do autor]
O que se sabe também é que a araruta já esteve presente em parte das cozinhas brasilei-
ras domésticas sendo base para bolos, biscoitos e mingau. A goma ou polvilho chegou a ser co-
mercializada; porém, com o advento do polvilho da mandioca e do amido de milho, produtos de
mais fácil industrialização, a araruta, que antes era comum, se tornou um alimento pouco culti-
vado e esquecido na cultura alimentar do brasileiro.
Em termos de perfil botânico, a araruta apresenta característica de plantas herbáceas,
plantas rasteiras de caule macio. É uma planta considerada de grande duração ou perene, co-
mum nas florestas tropicais e forma rizoma o que dá uma das principais características da ara-
ruta. “Os rizomas são caules que crescem dentro da terra e acumulam reservas de amido para
fazer uma nova planta” (EMBRAPA, 2005, p. 12). Os rizomas da araruta podem variar de tama-
nho de acordo com o tipo cultivado.
A variedade da araruta comum foi a utilizada na pesquisa para produção do biscoito e
teste de aceitabilidade.
Atualmente, não é comum encontrar o rizoma da araruta ou mesmo a fécula já proces-
sada nas prateleiras de supermercado, uma vez que a fécula de mandioca e o amido de milho
são produtos de fácil acesso no comércio por serem, para a indústria alimentícia, mais fáceis de
industrializar. A araruta é tradicionalmente utilizada na forma de goma para a elaboração de
preparações, pois “se presta a combinações com água e leite, consequentemente à confecção de
inúmeros pratos” (ZÁRATE; VIEIRA, 2005, p .1). Esses pratos podem variar desde bolos e bis-
coitos até mingau para crianças e pessoas doentes.
Nos dias atuais a araruta, aos poucos, voltou a ser lembrada depois que a gastronomia
começou a valorizar e dar destaque para os alimentos funcionais, alimentos sem glúten ou lac-
tose e alimentos fit.
MÉTODO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 117
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O rizoma da araruta tem como principal subproduto sua fécula, mesmo pouco conhecida.
O passo a passo da produção da goma da araruta está registrado em uma cartilha organizada
pela EMBRAPA (2005) intitulada Como plantar e usar a araruta, que tem por objetivo registrar
o uso da araruta principalmente para seus fins culinários. Registramos também a feitura da
goma da araruta pelo saber de Dona Maria Monteiro. Pretende-se aqui discutir a elaboração da
goma nas vertentes: técnica e popular.
A cartilha da EMBRAPA traz o passo a passo da confecção da goma da araruta, abaixo
estão, na íntegra, os passos considerados necessários:
O rizoma da araruta tem uma casca muito fina, que deve ser retirada esfregando-a vi-
gorosamente com as mãos e lavando-a ao mesmo tempo.
Depois de descascado, é preciso ralar o rizoma ou triturá-lo no liquidificador, reco-
lhendo-se a massa grossa e escura em uma bacia.
Para separar o polvilho, preparar uma bacia grande e um pano de prato branco para
coá-lo. Tudo deve estar muito limpo.
Colocar um pouco da massa sobre o pano de prato. Despejar água, pouco a pouco, e
mexer bem a massa, lavando-a para retirar todo o polvilho.
O polvilho é recolhido junto com a água na bacia.
Deixar o polvilho assentar na bacia por cerca de 2 horas.
Depois, escorrer a água com cuidado, de forma a deixar o polvilho no fundo da bacia.
As primeiras águas são escuras, por isso é preciso lavar bem o polvilho para que fique
bem branquinho.
Colocar mais água e mexer o polvilho. Deixar assentar novamente e escorrer a água.
Repetir a operação quantas vezes for preciso até a água sobre o polvilho ficar transpa-
rente.
Colocar o polvilho para secar ao sol, bem espalhado sobre uma toalha limpa e coberto
com outra toalha. Com as mãos limpas, desfazer as placas ou torrões e revolver o polvi-
lho de vez em quando, para que seque por igual. Peneirar o polvilho ainda um pouco
úmido para não desperdiçar. Para ficar bem fino, bater o polvilho no liquidificador.
Terminar de secar e só então guardar em vasilhas limpas, secas e bem fechadas (latas,
etc.). Se o sol estiver bem quente, o polvilho estará seco em 2 dias (EMBRAPA, 2005, p.
32).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 118
“no meu tempo não tinha liquidificador, era na mão mesmo”, continuei fazendo na mão, ao
modo tradicional, ao fim levei novamente para Dona Maria para continuarmos o processo.
Ela misturou aquela araruta ralada com um pouco de água, foi dentro do seu quarto e
voltou com um pano bem fininho para que pudéssemos separar o bagaço da goma que, segundo
ela virava comida para porcos. Ajudei a segurar o pano enquanto ela jogava aquele líquido de
coloração leitosa. Da primeira vez não segurei do jeito adequando e o pano cedeu, ela olhou
para mim com olhar de repreensão, mas me deu uma segunda chance e tudo ocorreu bem. Pe-
gou o pano para si e amassou para sair todo o líquido. Manipulava aquele processo de uma
forma tão simples e perfeita que deixava qualquer leigo, como eu, morrendo de inveja. Repetiu
o processo de filtração 4 vezes, pois “a araruta tem um travo, tem que passar no mínimo em 3
panos porque ela é travosa”, advertia nossa anfitriã. No fim da separação a bacia continha ape-
nas um corpo de fundo de coloração branca e uma água turgida acima.
A ordem era “vamos esperar a goma sentar por completo, não pode ficar mexendo, daqui
a pouco a gente troca a água, tem que deixar de um dia para outro pra sentar bem” comentava
Dona Maria. Confesso que fiquei encantado com aquele processo, não conseguia parar de olhar
para dentro da bacia e Dona Maria ali me pastoreando para que eu não mexesse e acabasse com
a experiência.
Na segunda feira pela manhã, retornei à casa dela para terminar o processo de confecção
da fécula da araruta. Faltava pouco, agora era só descartar, com muito cuidado, a água que fi-
cava na parte de cima e deixar na bacia apenas a fécula que precipitou ou que “sentou”, segundo
Dona Maria. Com a bacia livre de água, ela me passou mais uma ordem: “tem que deixar secar
no sol até ela rachar aí tá pronta pra usar”.
Ao comparar as duas preparações encontramos semelhanças, porém há também algu-
mas peculiaridades em cada modo de fazer. As semelhanças então nos processos mecânicos de
lavagem, ralação, filtração com o pano e lavagem da goma em água. Já sobre as peculiaridades
Dona Maria chama atenção, no seu processo, para uma propriedade travosa da araruta, seria
algo antidigestivo ou toxico que pode prejudicar quem ingerir a goma sem antes passar pela
série de filtragens sugeridas. Não há registros em estudos sobre alguma propriedade prejudi-
cial ou venenosa do rizoma, porém esse saber adquirido por Dona Maria já foi passado de sua
mãe para ela e não deve ser desprezado, uma vez que os saberes populares assim como as prá-
ticas alimentares tradicionais são passadas entre gerações, guardados pelos mais antigos e aju-
dam a contar a história de sobrevivência e inventividade dos agricultores.
4 – O biscoito de araruta
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 119
um creme brilhoso, adicionei a goma da araruta e mexi com a mão até que se formasse uma
massa homogênea e firme, com a massa pronta pesei e dei forma aos biscoitos. Depois da massa
pronta e testada, fiz os biscoitos em larga escala para o teste de aceitabilidade na escola, a re-
ceita foi executada duas vezes dando um rendimento total de 186 biscoitos de 10 gramas cada.
Foram embaladas 3 unidades do biscoito para ser feito teste de aceitabilidade com os alunos da
escola. Para padronizar a receita, cada ingrediente foi medido, e elaborada, a partir daí, a ficha
técnica abaixo (Tabela 1).
FICHA TÉCNICA
Biscoito de araruta
Ingredientes Modo de preparo
Qtd Und Ingrediente
1,000 Kg Goma de araruta – Junte o açúcar com a manteiga.
2 Und. Ovo Em seguida ponha os ovos. Mis-
0,120 Kg Manteiga ture e adicione a goma da araruta
0,160 L Açúcar
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 120
5 – Teste de aceitabilidade
O dia 16 de dezembro de 2015 foi a data combinada para a realização do teste de aceita-
bilidade com o biscoito da araruta. A escola escolhida foi uma Escola Municipal de Ensino In-
fantil e Ensino Fundamental localizada na cidade de Fortaleza. Encontramo-nos na Faculdade
de Educação da UFC, estive acompanhado do meu orientador Professor José Arimatea Barros
Bezerra e da minha co-orientadora Alice Santos.
Chegamos a escola pouco antes das 14 horas e 30 minutos. Ao adentrar a escola, fomos
avisados de que os alunos estavam em uma apresentação na quadra esportiva. Andamos pela
escola para conhecer o espaço enquanto os alunos aproveitavam o recreio. Pudemos perceber
algumas práticas alimentares dos alunos: comiam salgadinho com refrigerante ou biscoito com
refrigerante trazidos, provavelmente, de casa, o que ainda é uma dificuldade corriqueira para
enfrentada pelo PNAE.
Fomos convidados para a sala da diretora, lá pudemos entregar o ofício emitido pela
Universidade Federal do Ceará e conversar sobre o nosso objetivo naquela visita à escola, a
saber: o teste de aceitabilidade com o biscoito da araruta, visto que o teste já havia sido agen-
dado previamente. Fiquei surpreso ao descobrir que a araruta fez parte das práticas alimenta-
res da diretora da escola na sua infância na região do Cariri cearense. Após uma amigável con-
versa na diretoria e o fim do intervalo para os alunos, saímos para o teste de aceitabilidade
realizado em cada sala.
O modelo escolhido para o teste foi o de ficha de escala hedônica facial mista (figura 2)
por se tratar de uma cartela lúdica de fácil acesso para os estudantes.
FIGURA 2 – Ficha lúdica para teste de aceitabilidade (retirada do Manual para aplicação dos
testes de aceitabilidade no Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE
A ficha e os métodos foram retirados do Manual para aplicação dos testes de aceitabili-
dade no Programa Nacional da Alimentação Escolar – PNAE (2010). Quanto aos métodos, o ma-
nual indica que o teste seja dividido em 5 etapas:
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 121
1. Distribuir as fichas com a escala hedônica (adequada à série) na sala de aula ao servir o
alimento;
2. Explicar como as fichas devem ser preenchidas;
3. Solicitar que as crianças coloquem o nome da preparação na ficha ou que o nutricionista
a preencha;
4. Promover um ambiente de individualidade de julgamentos, onde não haverá conversas
entre os escolares;
5. Recolher as fichas preenchidas.
No gráfico percebe-se que o biscoito de araruta teve uma porcentagem de 90,38% para
o quesito adorei e 9,62% para o quesito gostei; não foram registradas escolhas das opções des-
testei, não gostei ou indiferente.
Segundo o Manual para aplicação de teste de aceitabilidade do PNAE se a amostra apre-
sentar uma percentagem maior ou igual a 85% nas expressões gostei ou adorei a preparação
está aprovada, como é o caso.
No fim da ficha, o aluno teve a possibilidade de descrever o que mais gostou e o que
menos gostou na preparação, foram muitas respostas obtidas, algumas inusitadas e curiosas.
Na categoria mais gostou o destaque ficou para “o gosto” e “o sabor”; aqui, provavelmente, que-
rendo representar as características gustativas do biscoito. Porém, Montanari (2008) distingue
gosto e sabor, para o autor o gosto é um produto cultural, “o gosto não é de fato uma realidade
subjetiva e incomunicável, mas coletiva e comunicada. É uma experiência de cultura que nos é
transmitida desde o nascimento, juntamente com outras variáveis que contribuem para definir
ou ‘valores’ de uma sociedade” (p. 96).
Destaque também para alguns registros que traziam a afirmativa “porque não é muito
doce” na categoria mais gostou, uma vez que a ficha foi preenchida por crianças com média de
idade de 9 anos. Outras respostas destacam a consistência crocante do biscoito.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 122
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ASSUNÇÃO, Viviane Kraieski de. Onde a comida “não tem gosto”: estudo antropológico das práticas alimenta-
res de imigrantes brasileiros em Boston. 2011. 274 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós- Graduação em Antro-
pologia Social, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
2011.
BATISTA FILHO, Malaquias; RISSIN, Anete. A transição nutricional no Brasil: tendências regionais e tempo-
rais. Cad. Saúde Pública [online]. 2003.
BRASIL. Lei 11.947, de 16 de Junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa
Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica: Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Bra-
sília, DF, 2009.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome. Marco de referência de educação alimentar
e nutricional para as políticas públicas. – Brasília, DF: MDS; Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nu-
tricional, 2012.
BEZERRA, José Arimatea Barros [organizador] et al. Alimentos Tradicionais do Nordeste: Ceará e Piauí. Forta-
leza: Edições UFC, 2014.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 123
BEZERRA, José Arimatea Barros. Relatório final Projeto Alimentos Tradicionais do Nordeste, Conselho Naci-
onal de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, 2013.
CARNEIRO, Henrique. Comida e sociedade: uma história da alimentação. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
DAMATTA, Roberto. Sobre comidas e mulheres. O que faz o brasil, Brasil? Rio de Janeiro: Rocco, 1997, p. 49-64.
EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Como plantar e usar a araruta. Brasília: Embrapa Infor-
mação Tecnológica, 2005. 55 p.
LEONEL, M.; CEREDA, M. P. Physicochemical characterization of some starchy tubers. Ciência eTecnologia de
Alimentos, Campinas, v. 22, n. 1, p. 65-69, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ar-
ttext&pid=S0101-20612002000100012&lng=en&nrm=iso>. Consultado em: 27 nov. 2015.
MACIEL, Maria Eunice. Horiz. antropol. [online]. 2001, vol.7, n.16, pp. 145-156.
MINTZ, Sidney W..Comida e antropologia: uma breve revisão. Rev. bras. Ci. Soc. [online]. 2001, vol.16, n.47,
pp. 31-42.
Monteiro, D. A., Peressin, V. A. Cultura da araruta. In: M. P. Cereda (Coord.), Agricultura: tuberosas amiláceas La-
tino Americanas. Fundação Cargill, São Paulo, 2002.
NEVES, Maria Cristina Prata; COELHO, Irmair da Silva; ALMEIDA, Dejair Lopes de. Araruta: resgate de um cultivo
tradicional. Seropédica: Embrapa Informação Tecnológica, 2005.
POSEY, D. A. Indigenous management of tropical Forest ecosystems: the case of the Kayapoindians of the Brazil-
ian Amazon. Agroforestry Systems, Holland, v. 3, p. 139-158, 1985.
RAMOS, Mariana Oliveira. A "comida da roça" ontem e hoje: Um estudo etnográfico dos saberes e práticas ali-
mentares de agricultores de Maquiné. 2007. 175 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós- Graduação em De-
senvolvimento Rural, Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Ale-
gre, 2007.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Tomaz da Silga (org.).
Stuart Hall, Katheryn Woodward. 9 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
SLOW FOOD. [Slow Food Home]. 2007. Disponível em: www.slowfood.com.br. Acesso em: 06 dez. 2015.
ZARATE, Néstor Antonio Heredia and VIEIRA, Maria do Carmo. Produção da araruta ‘Comum’ proveniente de
três tipos de propágulos. Ciênc. agrotec. [online]. 2005, vol.29, n.5, pp. 995-1000. ISSN 1981-1829.
ZÁRATE, Heredia et al. Produção da araruta ‘comum’, solteira e consorciada com alface e cenoura. Dourados:
Acta Científica Venezolana, 2007
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 124
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 125
tabagistas a mudar seus hábitos alimentares por meio de palestras e avaliar os pacientes com
o intuito de contribuir para uma melhora significativa na saúde, gerando um bem estar diário e
continuo. Além de entender o porquê de os indivíduos que param de fumar ter um aumento
significativo no peso tendo em vista que a prática do tabagismo em todo o globo é notória e os
reflexos dessa prática são evidenciados na vida dos usuários, em longo prazo, do cigarro.
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 126
Divergindo com os dados coletados na presente pesquisa, onde foi observado que apenas o total
de 52% dos indivíduos participantes se encaixaram na média referida pelo autor acima citado,
como pode se observar na tabela 1.
Segundo o IMC inicial, calculado no primeiro encontro dos participantes, 44% (n=22)
foram classificados como eutróficos, 36% (n=18) com sobrepeso, 14% (n=7) obesos e 6% (n=3)
com abaixo do peso. Tabagistas frequentemente deparam-se com menores índices de massa
corporal, quando comparados a não tabagistas, pareados por sexo e idade. Chatikin (2007).
Quando avaliado o peso aferido ao final do tratamento, onde os estudados já haviam
abandonado a prática do tabagismo o IMC teve como resultado 36% (n=18) de participantes
em eutrofia, 36% (n=18) em sobrepeso, 22% (n=11) em obesidade e 6% (n=3) em sobrepeso
conforme apresentados no Gráfico 2. De acordo com a literatura, estima-se que o ganho médio
de pesocorporal em pessoas que cessam com o tabaco pode chegar a 4 ou 6 kg, podendo chegar
a 10% do peso corporal em alguns indivíduos (BALBANI; MONTAVANI, 2005). Estando desta
forma de acordo com a presente pesquisa, tendo em vista o aumento de 8% no total de
indivíduos obesos e diminuição de 8% no número de eutróficos.
44%
36% 36% 36%
22%
14%
6% 6%
estudos de Lemos-Santos et al. (2000) onde também foram analisadas diferenças quantitativas
no padrão dietético de tabagistas e não-tabagistas.
Classes N Percentual
Sem preferência 26 52%
Preferência por doces 19 38%
Preferência por salgado 5 10%
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Quando indagados sobre as alterações ocorridas no apetite pós- cessação, 68% (n=34)
informaram um aumento no apetite, 18% (n=09) diminuição e 14% (n=07) relataram não ter
ocorrido nenhuma alteração. Quanto ao paladar, 82% (n=41) tiveram uma melhora e 18% não
observaram alterações. Já no olfato foi referida uma melhora em 56% (n=28) dos indivíduose
44% (n=22) não mencionou nenhuma alteração. A maioria dos participantes, 68% (n=34)
relataram melhora no apetite e 82% (n=41) melhora no paladar, o que pode estar contribuindo
para o aumento do ganho de peso. Causados também pelo aumento da ansiedade, aumento do
consumo alimentar, aumento do paladar, aumento do olfato ou também no aumento do
prazer no ato dealimentar-se.
Classes N Percentual
Apetite
Aumento no apetite 34 68%
Diminuição do apetite 9 18%
Sem alteração no apetite 7 14%
Paladar
Melhora no paladar 41 82%
Sem alteração no paladar 9 18%
Olfato
Melhora no olfato 28 56%
Sem alteração no olfato 22 44%
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Sabe-se que a maioria dos indivíduos apresentam mudanças em seus hábitos devido à
ansiedade originada pela abstinência do cigarro, que envolve mudanças alimentares,
metabólicas, psíquicas e sociais (NOVELLO et al.,2000; BOTELHO et al., 2007). Neste trabalho
foi evidenciada a mudança relacionada ao padrão alimentar, onde 52% (n=26) das pessoas
estudadas passaram a se alimentar excessivamente em períodos de nervosismo e/ou
ansiedade.
Observa-se também, uma tendência a substituir cigarros por alimentos como forma de
gratificação oral ou compensação da ansiedade, justificada por uma melhora na sensação
gustativa e olfatória. (NOVELLO et al., 2000). Um total de 54% (n=27) substituíram o hábito de
fumar pelo hábito de se alimentar, conforme apresentados na tabela 4.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 128
Classes N Percentual
Substituição de fumar por alimentar-se 27 54%
Ingesta excessiva em momentos de ansie- 26 52%
dade
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
CONCLUSÃO
Houve um ganho excessivo de peso na maioria dos indivíduos que pararam de fumar,
estes não só adquiriram peso como também mudaram seu estado nutricional. As mudanças no
comportamento alimentar desencadearamo ganho excessivo de peso e modificações no habito
alimentar da maior parte dos estudados.
REFERÊNCIAS
DUARTE, Rafael Silva. et al. Proposta interdisciplinar de apoioà cessação do tabagismo em uma
unidade de saúde da estratégia saúde da família: relato de experiência. RevBrasMedFam Co-
munidade. 2014.
KAMETOVA, Alexandra. et al. Factors associated with weight changes in successful quitters par-
ticipating in a smoking cessationProgram. Center of tobacco, 2013.
MIRRA, Antônio Pedro et al. Tabagismo - Parte I. Rev. Assoc. Med.Brás., v. 56, n. 2, p. 127-143,
2010.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 129
SAULES, Karen K. et al. Effects of disordered eating and obesity onweight, craving and food in-
take during and ad libitum smoking and abstinence. Eat Behavior, Oxford,v. 5, no. 4, p. 353-
363, 2004.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Report on the global tobacco epidemic. The MPOWER
package. Geneva: WorldHealth Organization, 2008.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 130
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 131
é, desse modo, algo natural no sentido de pré-existência aos indivíduos e a sociedade, mas é
algo criado, ou seja, socialmente construído. (ROSS, 1901).
A maioria dos pensadores e cientistas sociais americanos até a primeira metade do
séc. XX inspiravam-se no pragmatismo, corrente filosófica muito difundida nos EUA. Assim, a
maioria dos estudiosos das Ciências Sociais alerta para a necessidade de identificar tal referên-
cia na formulação do conceito de controle social.
Para os pragmatistas “a ordem social” é produto do “controle social” e esse é enten-
dido “como autorregulação e resolução coletiva de problemas” (JOAS, 1998, p. 24). Esta propo-
sição é de fundamental importância já que controle social associa-se, aqui, exclusivamente à
manutenção da conformidade social, que não era o que os teóricos do pragmatismo pregavam.
Gurvitch ressalta que a noção de controle social não fique restrita:
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 132
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 133
pelo que se chama de democracia liberal. (IDEM, 2008). O autor ainda reafirma como a demo-
cracia liberal afeta a cultura de uma sociedade, mesmo em tempos atuais.
Assim, mesmo em sociedades tidas como mais "avançadas", a democracia política con-
vive com uma cultura socialmente autoritária. Portanto, nas novas relações sociais e
políticas desenvolvidas pelo Estado atual da acumulação capitalista, o autoritarismo
manifesta-se na produção de uma cultura de dominação, opressão e exclusão, que se
dissemina pelo interior do corpo social, naturalizando-se e acumpliciando-se com os
ritos de democracia liberal. (SOUZA, 2008 p.16).
A década de 80, com o clima vigente de redemocratização e resgate da dívida social, traz
uma profunda modificação das políticas sociais brasileiras, no sentido da descentrali-
zação administrativa, diminuição do papel do Estado e estímulo à participação da po-
pulação no conjunto das ações sociais. (PIPITONE, 2003 p.144).
Como sabemos, a Constituição Federal (CF) de 1988 deu origem aos conselhos de ges-
tão setoriais das políticas sociais. Ao fazer isso, a Carta Constitucional estabeleceu o de-
senho de uma nova institucionalidade envolvendo distintos sujeitos sociopolíticos e
culturais nos âmbitos estatal e societal. Os conselhos gestores são uma das principais
inovações democráticas no campo das políticas públicas, ao normatizarem a possibili-
dade de espaços de interlocução permanente entre a sociedade política e a sociedade
civil organizada. (GOHN, 2008 p.97).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 134
Deste modo, fatos expostos na mídia envolvendo desvios de verbas de políticas públicas
e escândalos com atores e gestores de tais políticas, nos levam a refletir sobre a funcionalidade
de tais ações. Tomando como norte todo o contexto político e liberal existente no Brasil, bem
como o histórico de formação dessa cultura de privilégios já citada por Souza (2008) que per-
siste ainda mais forte no sistema público brasileiro.
Na sua fase inicial, o Programa tinha uma ação focalizada, mas, com o tempo, foi ga-
nhando abrangência nacional e, em 1988, a alimentação escolar passou a ser um direito
garantido pela Constituição. Segundo o Artigo 208 da Constituição Federal, “O dever do
Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: VII atendimento ao edu-
cando, no ensino fundamental, a partir de programas suplementares de material didá-
tico-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. (BELIK, CHAIM. 2009
p.597).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 135
O que se destaca na criação do CAE é a forma como foi feita e o descaso das prefeituras
no encaminhamento da questão. O governo federal por meio do Fundo Nacional de De-
senvolvimento da Educação (FNDE), promulgou medida provisória dando prazo de até
2 de dezembro de 2000 para que todos os municípios dos brasileiros criassem os CAEs.
O jornal nacional, da Rede Globo, notificou em 29 de agosto de 2000 que, dos 5500 mu-
nicípios brasileiros, 3700 não haviam até aquela data cumprido o prazo e estavam ame-
açados de não receberem os recursos e, na maioria dos 1800 municípios onde os con-
selhos existiam, eles haviam sido criados antes da medida provisória. Com a pressão
governamental, divulgando por meio da mídia ameaças de suspensão do envio de ver-
bas para a merenda escolar, houve uma corrida para a formação dos conselhos, carac-
terizando um processo de participação outorgada e não fruto de um processo de cida-
dania ativa. (GOHN, 2008 p.105).
O CAE surge então como órgão de controle social do PNAE no intuito de fiscalizar e
garantir que o programa seja executado da melhor forma. Como fica claro no artigo 19 da Lei
11.947/2009.
O FNDE aponta como principal função dos CAEs “zelar pela concretização da Segu-
rança Alimentar e Nutricional (SAN) dos escolares, por meio da fiscalização dos recursos públi-
cos repassados pelo FNDE” (BRASIL, 2015 p. 8). Nesse sentido o CAE passa a ser um órgão de-
liberativo de fiscalização e de assessoramento ou consultivo instituído nos Estados, Distrito Fe-
deral e municípios.
Quanto à sua composição, fica estabelecido na legislação vigente (11.947/2009) que
os CAEs devem ser compostos “por sete membros titulares, sendo um representante do poder
Executivo, dois representantes de professores, alunos (maiores de 18 anos) ou trabalhadores
da educação, dois representantes de pais de alunos e dois representantes de outro segmento
da sociedade civil organizada, correspondendo um suplente a cada membro titular.” (GALLINA,
2012, p. 92). As eleições são feitas por meio de assembleias específicas, com ampla divulgação
por parte das Entidades Executoras (município, estado e distrito federal). Os representantes de
cada instância (poder executivo, discentes, pais de alunos e sociedade civil) devem indicar seus
membros para a eleição do conselho que tem mandato vigente de quatro anos. Ressalta-se a
exceção para a representação do poder executivo municipal o qual pode ser escolhido por indi-
cação.
Todavia, mesmo com a lei outorgada e o CAE organizado em uma estrutura padro-
nizada, ainda há uma inquietação acerca da funcionalidade do CAE, bem como a necessidade de
que a Lei 11.947/2009 seja cumprida. Isso porque, estando o CAE composto também por mem-
bros do corpo escolar, como os professores e alunos – que são os principais atores da alimen-
tação escolar – é fundamental que as diretrizes da Lei sejam cumpridas, desde a introdução dos
alimentos tradicionais, que respeitem a cultura alimentar do aluno, até a temática de Educação
Alimentar e Nutricional (EAN), que deve perpassar o currículo escolar integrando toda a comu-
nidade da escola.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 136
As referências à merenda geralmente surgem quando eles emitem opinião sobre as coisas da
escola das quais não gostam, ressaltando o predomínio da sopa, o descuido na feitura de
alguns alimentos e a ausência daquilo que eles gostariam de comer. Assim, representam a
merenda como alimento que não corresponde aos gostos deles. Essa não-correspondência da
merenda aos gostos e anseios não se restringe ao alimento em si, mas se aplica também à
prática do servir/consumir com instrumentos (bacias, pratos, copos e colheres) que às vezes
causam repugnância (BEZERRA, 2009, p. 112).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 137
MÉTODO
A pesquisa eleita foi a qualitativa, uma vez que considera “o universo dos significa-
dos, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 1994, p. 21)
relacionados ao CAE do estado do Ceará.
O recorte aqui apresentado caracterizou-se como pesquisa bibliográfica por ser “de-
senvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos
científicos” (GIL, 2002, p. 44). Nesta fase foram estudadas as leis, resoluções e normas que re-
gem os conselhos de controle social e a alimentação escolar, focando, principalmente, nos es-
critos sobre o CAE. Realizou-se um estudo de revisão do conceito de controle social e sua di-
mensão educacional, processos democráticos e descentralização no Brasil, englobando a evo-
lução histórica, funcionamento e normas, além da bibliografia referente a currículo e sua rela-
ção com a alimentação escolar, bem como a atuação do CAE nas escolas do estado do Ceará.
A pesquisa de campo teve como base para coleta de dados a “entrevista e observação
participante” (MINAYO, 1992). Realizou-se a técnica da entrevista, pois
RESULTADOS E DISCUSSÃO
ensino técnico profissionalizante integrado ao Ensino Médio, como mostra o infográfico abaixo.
(SAMPAIO e CAVALCANTE, 2018).
Por lei, todas estas escolas, bem como as municipais, devem ser atendidas pelo Pro-
grama Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), sendo esse acompanhado pelo Conselho de
Alimentação Escolar (CAE). Tendo este caráter colegiado “porque as análises, as avaliações, as
conclusões e as orientações devem ser tomadas em grupo.” (BRASIL, 2017 p. 20); de caráter
fiscalizador “porque a atividade que desenvolve de acompanhamento e fiscalização do Pro-
grama precisa acontecer de forma separada do governo. A independência é que garante a isen-
ção na análise do que está acontecendo na execução do PNAE.” (BRASIL, 2017 p. 20); delibera-
tivo uma vez que,
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 139
Já a abrangência do CAE tomando por base todas as escolas estaduais, tendo como prin-
cipal foco as da RMF, os números passam a 36,66%, como mostra o gráfico 3.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 140
CONCLUSÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 141
parência do processo. O caráter fiscalizador do CAE deve ser realizado fora das ações do go-
verno, reafirmando-o como Conselho de controle social, responsável por ser os olhos da socie-
dade nas políticas públicas do governo.
Talvez luta seja um substantivo que consiga definir e resumir o percurso do CAE-CE
no processo de construção do PNAE. A luta marcada pela consciência cidadã de pessoas que
optam por não cruzar os braços para os fatos corruptos e clientelistas que mancham e rotulam
a imagem do serviço público brasileiro. A luta marcada pela consciência da importância curri-
cular, pedagógica, nutricional, biológica e afetiva da alimentação na vida do aluno, o simbolismo
que a comida tem desde o cultivo do alimento até o preparo final. A luta marcada pela busca
por mudanças, novas mentalidades da EEx, novas mentalidades dos gestores, ações de EAN e
das outras diretrizes do PNAE que sejam mais amplas e efetivas no ambiente escolar e fora dele,
mudanças no cardápio praticado na escola, outro rótulo que fere a imagem da alimentação es-
colar.
REFERÊNCIAS
BANDEIRA, Luisete Moraes et al. Análise dos pareceres conclusivos dos Conselhos de -Alimentação Escolar sobre
a execução do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Rev. Nutr., Campinas, v. 26, n. 3, p. 343-351,
June 2013. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
52732013000300009&lng=en&nrm=iso>. Access on 25 May 2017.
BELIK, Walter; CHAIM, Nuria Abrahão. O programa nacional de alimentação escolar e a gestão municipal: eficiên-
cia administrativa, controle social e desenvolvimento local. Rev. Nutr., Campinas, v. 22, n. 5, p. 595-
607, Oct. 2009. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
52732009000500001&lng=en&nrm=iso>. Access on 25 May 2017.
BEZERRA, José Arimatea Barros. Alimentação e escola: significados e implicações curriculares da merenda esco-
lar. Revista Brasileira de Educação, Campinas, v. 14, n. 40, jan/abr. 2009.
BRASIL. Ministério da Educação. Cartilha Nacional da Alimentação Escolar. Brasília, DF: ME, Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação, 2015.
BRASIL. Lei 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa
Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica: Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Bra-
sília, DF, 2009.
BRASIL. MEC. FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO Histórico PNAE. Brasília: MEC, 2017.
Disponível em: <http://www.fnde.gov.br/programas/alimentacao-escolar/alimentacao-escolar-historico>.
Acesso em: 20 maio 2017.
COMPARATO, Fábio Konder. Capitalismo: civilização e poder. Estud. av., São Paulo, v. 25, n. 72, p. 251-276,
Aug. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
40142011000200020&lng=en&nrm=iso>. Access on 08 May 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-
40142011000200020.w3
GABRIEL, Cristine Garcia et al. Conselhos Municipais de Alimentação Escolar em Santa Catarina: caracterização e
perfil de atuação. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, p. 971-978, Abr. 2013.
GALLINA, Luciara Souza et al. Representações sobre segurança alimentar e nutricional nos discursos de um Con-
selho de Alimentação Escolar. Saúde Soc., São Paulo, v. 21, n. 1, p. 89-102, Mar. 2012.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 142
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GOHN, Maria da Glória. Conselhos municipais de acompanhamento e controle social em Educação participação,
cidadania e descentralização? In: SOUZA, Donaldo Bello de et al (Org.). Conselhos municipais e controle social da
educação: descentralização, participação e cidadania. São Paulo: Xamã, 2008. p. 97-113.
GURVITCH, G. El control social, In Gurvitch, G. & Moore, W.E. Sociologia del siglo XXI. Barcelona: Editorial El
Ateneo, 1965.p. 243 – 270.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades IBGE. 2017. Disponível em: <https://cida-
des.ibge.gov.br/brasil/ce/panorama>. Acesso em: 31 ago. 2017.
MACHADO, Patrícia Maria de Oliveira et al . Conselhos de Alimentação Escolar em Santa Catarina, Brasil: uma
análise do Discurso do Sujeito Coletivo. Rev. Nutr., Campinas , v. 28, n. 3, p. 305-317, June 2015 . Available
from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
52732015000300305&lng=en&nrm=iso>. access on 25 May 2017.
MINAYO, M. C. de S. (Org.). Pesquisa social: teoria método e criatividade. 17. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. 80
p.
PIPITONE, Maria Angélica Penatti et al. Atuação dos conselhos municipais de alimentação escolar na gestão do
programa nacional de alimentação escolar. Rev. Nutr. Campinas, v. 16, n. 2, p. 143-154, Jun. 2003.
ROSS, E. Social Control: a survey of the foundations of order. London: The Macmillan Company, 1939.
SAMPAIO, Juliana; CAVALCANTE, Jacqueline. Salto na educação: uma em cada três escolas do Ceará é de tempo
integral. In: Portal Governo do Estado do Ceará. Ceará Transparente, Fortaleza, 2018. Disponível em:
<http://www.ceara.gov.br/2018/02/28/salto-na-educacao-uma-em-cada-tres-escolas-do-ceara-e-de-tempo-
integral/>. Acesso em: 10 mar. 2018.
SOUZA, Donaldo Bello de et al (Org.). Conselhos municipais e controle social da educação: descentralização, parti-
cipação e cidadania. São Paulo: Xamã, 2008.
SUMÁRIO
EIXO III
Fronteiras Moleculares entre Fisiopatologia e o Diagnóstico
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 144
INTRODUÇÃO
O uso de plantas para fins medicinais e fitoterápicos é uma estratégia muito recorrente
na população, em virtude, geralmente, do alto custo das drogas sintéticas e de sua difícil obten-
ção. No passado, por ser o único recurso disponível das comunidades rurais, fazia-se o uso co-
mumente de plantas medicinais para o tratamento de várias comorbidades (SILVA; OLIVEIRA
2018).
O Brasil dispõe de uma grande diversidade de espécies de plantas, muitas delas ainda
não foram estudadas no que diz respeito às suas capacidades terapêuticas (CARTAXO, 2010).
As plantas são fontes para uma ampla variedade de antioxidantes naturais e as biomoléculas
isoladas desses vegetais tem tido suas atividades biológicas, como antimicrobiana, antifúngica,
antiparasitária, antitumoral, anti-inflamatória e cicatrizante, entre outras, constantemente re-
gistradas (PINHO,2012). Deste modo, várias pesquisas científicas vêm sendo apoiadas pelo co-
nhecimento popular das plantas para tratar patologias, e servindo também para estudos
(SOUZA et al., 2013).
A caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, ocupando, aproximadamente, uma
área de 826.411 Km². Apresenta uma vasta diversidade florística, sendo considerada o princi-
pal ecossistema da região nordeste do Brasil (SILVA, 2015). Espécies nativas deste bioma, em
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 145
Plantas Medicinais
Spondias Tuberosa
O Umbuzeiro por nome científico Spondias Tuberosa, é uma espécie que pertence à famí-
lia Anacardiaceae, originário da caatinga brasileira, sendo bem adaptada a região de terra seca.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 146
Seus frutos destacam-se por ser aproveitado tanto para alimentação humana quanto para a adi-
ção alimentar de animais, principalmente caprinos e ovinos que são rebanhos que se destacam
nessa região (ALMEIDA et al.,2011).
O Umbuzeiro é uma árvore de tamanho pequeno a médio porte, tem por volta de 4 a 10
metros de estatura, copa umbeliforme e de cor cinza, as folhas são verdes e as flores brancas,
seu fruto o umbu é pequeno e arredondado com casca lisa ou aveludada (SOUZA, LORENZI,
2012).
É considerada um dos gêneros mais variáveis do semiárido brasileiro, por suas imensas
formas de utilizar suas folhas, frutos, caule, galhos e raízes, tanto para a alimentação humana e
animal, tanto para uso medicinal, além de formar uma sombra que serve como abrigo contra o
escaldante sol da região, também podendo ser uma árvore sagrada para alguns nordestinos,
que dizem que ela pode transferir sorte, boas energias e espantar o mau-olhado. (BARRETO,
CASTRO, 2010; LINS NETO et al., 2010). A Spondias Tuberosa é empregue pela medicina popu-
lar, para tratar doenças sistêmicas. Para a preparação de infusões, garrafadas e decocções, a
casca que reveste o caule é parte mais utilizada, os efeitos benéficos atribuídos a esta planta
estão diretamente associados aos metabólitos secundários como alcaloides, flavonoides, tani-
nos, saponinas e esteroides (OMENA et al., 2012; SILVA et al., 2012).
Staphylococcus aureus
MATERIAIS E MÉTODOS
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 147
em estufa por 24h a 450°C. A partir destes concentrados foram preparadas as soluções para
testes de atividade antimicrobiana.
O microrganismo testado foi a cepa padrão American Type Colection Culture (ATCC) de
Staphyloccoccus aureus (ATCC 25923) cedida pelo LAB/UFPE, recomendadas para testes de
suscetibilidade (CLSI, 2012). Os inóculos foram preparados tomando-se 3 a 4 colônias da cepa,
isolada em ágar Mueller-Hinton e diluídas em solução salina a 0,85% até atingir a turbidez cor-
respondente ao tubo 0,5 da escala de Mac-Farland (CLSI, 2012).
Para avaliação da atividade antimicrobiana do extrato etanólico bruto, foi empregado o
método de disco-difusão em ágar. Cada suspensão de microrganismo foi semeada em placa de
petri, com auxílio de um swab descartável, em toda a superfície do meio ágar Mueller-Hinton.
Em seguida adicionados discos de papel filtro Whatman – tipo 3, de 6 mm de diâmetro, impreg-
nados com 10 mg do extrato da planta testada, em uma concentração de 500 mg/mL dissolvidos
em DMSO (dimetilsulfóxido). Após incubação das placas a 35°C por 24h foi realizada a leitura
dos resultados medindo-se o halo formado ao redor dos discos contendo o extrato. Conside-
rando como resultado do extrato a média das 3 medidas e como suscetível o halo igual ou acima
de 8 mm de diâmetro (PAREKH et al., 2011).
Todos os experimentos foram realizados em triplicata, e os resultados se mostrarão ex-
pressos em média e desvio padrão. As análises estatísticas, as concentrações que inibem a ati-
vidade e a tabela foram tabulados em uma planilha no software MS Excel 2015.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
4 281,4 274,6
3 154,4 158,1
2 215,6 37,1
1 434,8 294,2
0,8 173,7 21,8
0,6 248,8 116,3
0,4 88 3,4
0,2 75,9 1,7
0,1 169,7 12,1
0,05 181,4 85,4
Fonte: Dados da pesquisa (2019).
Em relação aos percentuais gerais, o gráfico aponta que houve uma variação de medidas
em diferentes concentrações empregues no experimento, apresentando uma maior inibição de
434,8% com 1mg/mL do extrato, e menor inibição, de 75,9% com 0,2 mg/ml do extrato.
Segundo Rios (2005) para que um extrato vegetal seja melhor aplicado como fitoterá-
pico, a concentração eficaz é menor que 1mg.mL-1. No entanto, com porções tão reduzidas
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 148
deste constituinte orgânico, sua efetividade pode não ser favorável, logo, são sugeridos que se
aplique outros recursos para o melhor aproveitamento, tendo como exemplo a combinação de
plantas e antibióticos.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 149
de disco difusão em ágar, em triplicata. Chegando aos resultados que a Spondias tuberosa apre-
senta atividade antimicrobiana contra essa bactéria.
Os fatores que poderiam explicar a atividade antimicrobiana da Spondias tuberosa seria
a presença de compostos formados a partir da necessidade do organismo vegetal em se
defender ou se adaptar ao ambiente em que está exposto, dentre eles a rutina, quercetina e
ácido elágico. Esses compostos tem ação antimicrobiana e são produzidos quando o vegetal é
atacado por microrganismos como fungos e bactérias (SILVA et al., 2012).
Outra explicação, seria através da presença de esteroides, óleos essenciais, saponinas,
terpenos, compostos fenólicos e alcaloides onde a ação desses compostos, podem resultar em
atividade antimicrobiana, além da presença de polifenois, tatinos e flavonoides, substâncias
antioxidantes (OMENA et al. 2012).
Os polifenois atuam sobre a membrana plasmática da bactéria, causando a diminuição
de proteínas presentes na parede celular (COUTINHO et al. 2012). Já taninos agem sobre o
metabolismo nos microrganismos através da inibição de enzimas e da inativação de proteínas
do envelope celular (SCALBERT, 1991; COWAN, 1999). Segundo CUSHINE (2005) as
substâncias flavonoides inibem a síntese dos ácidos nucléicos de forma a impedir a formação
de pontes de hidrogênio entre bases nitrogenadas, além de perturbar as bicamadas lipídicas
penetrando diretamente e interrompendo a função de barreira.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. L. S., ALBUQUERQUE U. P., C, C. C. Reproductive biology of Spondias tuberosa Arruda (Anacardi-
aceae), an endemic fructiferous species of caatinga (dry forest), different management conditions in northeast-
ern Brazil. Journal of Arid Environment, v.75, n.4, p. 330-337, 2011.
ARAÚJO, T.A.S. et al. A new approach to study medicinal plants with tannins and flavonoids contents from the
local knowledge. Journal of Ethnopharmacology, v. 120, p. 72–80, 2008.
BARRETO, L. S., CASTRO, M. S. Boas práticas de manejo para o extrativismo sustentável do umbu. Florianó-
polis: Embrapa - Recursos Genéticos e Biotecnologia, 35 p, 2010.
CARTAXO, S. L. Medicinal plants with bioprospecting potential used in semi-arid northeastern Brazil. Journal of
Ethnopharmacology. v. 131, p. 326-342, 2010.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 150
CLSI. Clinical and Laboratory Standards Institute. Methods for Dilution Antimicrobial Susceptility Tests for
Bacteria That Grow Aerobically. 2012.
COAN, C. M., M, T. A Utilização Das Plantas Medicinais Pela Comunidade Indígena De Ventarra Alta- Rs. Revista
de educação do ideau. v. 8, n. 18. 2013.
COUTINHO, H. D. M., et al Fruits to potentiate the antibiotic activity: the effect of Eugenia uniflora and Eugenia
jambolanum L. agains MRSA. Acta Alimentaria. v. 41, n.1, p. 67- 72. 2012.
COWAN, M. M. Plant Products as Antimicrobial Agents. Clinical Microbiology. v.12, n. 4, p. 564-582. 1999.
FRANCOIS, P. et al. Evaluation of three molecular assays for rapid identification of methicillinresistant Staphylo-
coccus aureus. Journal of Clinical Microbiology. v. 45, n. 6, p. 2011-2013, 2007.
LINS NETO, E. M. F., PERONI, N., ALBUQUERQUE, U. P. Traditional knowledge and management of Umbu (Spond-
ias tuberosa, Anacardiaceae): an endemic species from the semi–arid region of Northeastern Brazil. Economic
Botany, v. 64, n. 1, p. 11-21, 2010.
LOUREIRO, R. J. et al. O uso de antibióticos e as resistências bacterianas: breves notas sobre a sua evolução. Re-
vista de Saúde Pública.,Lisboa, v. 34, n. 1, p. 77-84, mar. 2016.
MELO Jr, E. J. M.et al. Medicinal plants in the healing of dry socket in rats: microbiological and microscopic analy-
sis. Phytomedicine, v.9, n.2, p.109-116, 2002.
OGAWA, T. et al. Investigation of oral opportunistic pathogens in independent living elderly japanese. Gerodon-
tology, v. 29, n. 2, p.229-233, 2012.
OLIVEIRA G, A, MB, R TF, A D, Diniz-Filho JAF. Conserving the Brazilian semiarid (Caatinga) biome under climate
change. Biodiversity and Conservation, v.21 Issue 11, pp 2913–2926, 2012.
OMENA, C. M. B., et al. Antioxidant, anti-acetylcholinesterase and cytotoxic activities of etanol extracts of peel,
pulp and seeds of exotic Brazilian fruits. Food Research International, v.49, n. 1, p. 334-344, 2012.
PAREKH, J., C, S., Combination therapy: Synergism between natural Plant extracts and antibiotgainst infectious
diseases. Science against Microbial Pathogens: Communicating Current Research and Technological Advances.
v.1, n. 13, p. 520-529, 201.
PAUDEL, B. et al. Estimation of antioxidant, antimicrobial activity and brine shrimp toxicity of plants collected
from Oymyakon region of the Republic of Sakha (Yakutia), Russia. Biological Research. v. 1, n. 47, p. 10. 2014.
PINHO, L. et al. Atividade antimicrobiana de extratos hidroalcoolicos das folhas de alecrim-pimenta, aroeira, bar-
batimão, erva baleeira e do farelo da casca de pequi. Ciência Rural, v. 42, n.2, p. 326-331, 2012.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 151
PURRELO, S. M.; DAUM, R. S.; EDWARDS, G. F. S.; LINA, G.; LINDSAY, J.; PETERS, G.; STEFANI, S. Meticillin-re-
sistant Staphylococcus aureus (MRSA) update: New insights into bacterial adaptation and therapeutic targets.
Journal of Global of Antimicrobial Resistance, v. 70, n. 9, p. 1-9, 2014.
RIOS, J. L; RECIO, M. C. Medicinal plants and antimicrobial activy. Journal of ethnopharmacology, v. 100, n.1, p.
80-84,2005.
ROCHA, E.A.L.S.S et al. Potencial antimicrobiano de seis plantas do semiárido paraibano contra bactérias relacio-
nadas à infecção endodôntica. Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, 34: 351-355. 2013.
SANTOS, A. T. B. et al. Organic extracts from Indigofera suffruticosa leaves have antimicrobial and synergic
actions with erythromycin against Staphylococcus aureus. 6. ed. Recife, Brazil, 2015.
SILVA, R. A., et al. Chemical composition, antioxidante and antibacterial activities of two Spondias species from
Northeastern Brazil. Pharmaceutical Biology, v. 50, n. 6, p. 740-746, 2012.
SILVA, L. L. S., et al. Avaliação da atividade antimicrobiana de extratos de Dioclea grandiflora. Revista Brasileira
de Farmacognosia. v. 20, n. 2. 2012.
SILVA F. K. G., et al. Patterns of species richness and conservation in the Caatinga alongelevational gradients in a
semiarid ecosystem. Journal of Arid Environments. v. 110, p. 47-52. 2014.
SILVA M. I., OLIVEIRA, H. B. Desenvolvimento de software com orientações sobre o uso de plantas medicinais
mais utilizadas do sul de Minas Gerais. Brazilian Applied Science Review. v. 2, n. 3, p. 1104-110. 2018.
SOUZA, V. C., LORENZI, H. Botânica Sistemática. 3ª edição, Instituto Plantarum. Nova Odessa, 2012. TAIZ, L.;
ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. Ed. Artmed, Porto Alegre. p. 309-334, 2012.
SOUZA, C.M.P., et al. Utilização de Plantas Medicinais com Atividade Antimicrobiana por Usuários do Serviço Pú-
blico de Saúde em Campina Grande - Paraíba. Revista Brasileira de Plantas Medicinais. v. 15, n. 2. 2013.
SOUZA, D. C. L.et al. Produção de frutos e características morfofisiológicas de Schinus terebinthifolius Raddi., na
região do baixo São Francisco, Brasil. Revista Arvore, v.37 n.5, p.923-932, 2013.
TEILLANT, A.; G, S.; B, D.; M, D. J.; L, R. Potential burden of antibiotic resistance on surgery and cancer chemother-
apy antibiotic prophylaxis in the USA: a literature review and modelling study. The Lancet, v.1, n. 1, p. 1-9, 2015.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 152
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 153
em fatores de risco, que possam apresentar complicações à saúde materna infantil (NUNES et
al., 2016).
Nos exames de rotina laboratorial do pré-natal, a detecção do sistema ABO e fator Rh
excedem uma importante função, prevenir uma possível Doença Hemolítica do Recém-nascido
(DHRN) também denominada de eritroblastose fetal. A incompatibilidade sanguínea, sobrevém
através dos antígenos eritrocíticos do sistema ABO ou Rh tendo como ênfase ao antígeno D
(HARTWELL, 1998 apud FERREIRA, 2018 p.11).
Mulheres RhD negativas, em primeira gestação, ao gerarem conceptos RhD positivos po-
dem ser sensibilizadas no momento do parto, produzindo anticorpos anti-D sendo esses per-
tencentes à classe das imunoglobulinas IgG, que em uma segunda gestação os anticorpos anti-
D poderão cruzar a barreira placentária, hemolisando os eritrócitos fetais, causando a DHRN
(NUNES et al.,2016).
Os anticorpos pertencentes a classe das imunoglobulinas IgG, são essenciais ao sistema
imunológico do feto, sendo os únicos capazes de atravessar a barreira placentária através da
corrente sanguínea materna por imunidade passiva adquirida (NARDOZZA et al., 2010). Esse
cruzamento da barreira placentária pode-se compreender uma das formas de decorrência do
fenômeno de sensibilização, chamado de aloimunização ou isoimunização, instituído pelo con-
tato de um indivíduo a antígenos não próprios, induzindo uma resposta imune com produção
de anticorpos através de transfusões sanguíneas ou gestação (BAIOCHI, 2009).
Quando a gestante possui Rh negativo, deve-se realizar de forma obrigatória o teste
imuno-hematológico laboratorial na rotina pré-natal, no qual consiste na pesquisa de anticor-
pos irregulares, o exame é denominado de teste de antiglobulina indireta ou Coombs indireto,
com a finalidade de identificar um potencial DHRN, para assim minimizar os efeitos severos
dessa doença (SILVA, 2011). Uma revisão sistemática desse ano afirma que existe um sério de
viés e certeza do declínio das evidências existentes e de estudos observacionais comparativos
que abordam a eficácia ideal da imunoprofilaxia Rh. Trazendo um cuidado aos comitês de de-
senvolvimento de diretrizes sobre a cautela ao avaliar a força das recomendações que infor-
mam e influenciam a prática clínica nesta área (HAMEL et al., 2020).
Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar na literatura científica so-
bre a aloimunização imunohematológica materno-fetal por meio de uma revisão integrativa di-
recionada ao tema.
MATERIAL E MÉTODOS
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 154
Foram identificados 282 estudos primários nas respectivas bases de dados eletrônicas,
sendo na MEDLINE (1), LILACS/BVS (130), SciELO (1), Periódico Capes (113) e Google Acadê-
mico (37). Todavia, a amostra foi constituída de todos os estudos encontrados na estratégia de
busca que corresponderam aos critérios de inclusão.
Incluíram-se na pesquisa artigos em qualquer idioma, sem restrição de ano de publica-
ção que avaliaram a aloimunização imunohematológica materno-fetal. Da pesquisa foram ex-
cluídos os artigos de revisão, resultados inconclusivos, com populações diferentes da escolhida,
indisponíveis na íntegra e protocolos de estudos futuros. O levantamento foi realizado no mês
de outubro de 2020.
Todas as buscas foram realizadas em inglês e português, para selecionar os termos e
montar as estratégias de busca foram utilizados termos do DECS (Descritores em Saúde) e pa-
lavras-chaves assim como o operador booleano “AND”. Cada cruzamento foi adaptado con-
forme as exigências de cada base, onde os descritores utilizados foram: “Isoimunização Rh”;
“Imunização anti-D”; “Eritroblastose Fetal”; “Incompatibilidade sanguínea”; "Rh isoimmuniza-
tion"; "Anti-D immunization"; "Fetal erythroblastosis"; "Blood incompatibility".
De acordo com os achados, realizou-se a construção de um fluxograma (figura 1) descre-
vendo o processo de busca e seleção dos artigos na literatura. Foram identificados 282 estudos,
onde 268 foram excluídos por leitura de título e/ou resumo e mediante essa análise não se ade-
quarem aos critérios de elegibilidade. Doze artigos foram eleitos para discussão.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 155
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 156
P. Bricca; E. Guinchard; C. Ensaio clinico. Detectar e monitorar a aloimunização materna e A genotipagem RH1 fetal no plasma materno e a avaliação da
GuittonBliem/ 2011. avaliar as repercussões fetais ou neonatais a fim anemia fetal pelo estudo da velocidade do fluxo sanguíneo da
de estabelecer o tratamento mais adequado. artéria cerebral média como técnicas não invasivas adequadas.
Samuel L Aitken;Eric M Tichy/ Ensaio Clínico. Avaliar as propriedades farmacológicas da imu- A administração de rotina de RhIG demonstrou ser altamente
2015. noglobulina Rhesus e os dados clínicos sobre sua eficaz na prevenção da aloimunização Rh materna, com taxas
eficácia na prevenção da aloimunização do antí- de sensibilização ao antígeno D (na faixa de 0-2,2%).
geno Rh em mulheres grávidas.
Elione dos santos ferreira/ 2016. Estudo descritivo Investigar os aspectos clínicos na incompatibili- Verificou-se uma significância estatística entre a incompatibili-
tipo coorte trans- dade materno-fetal em recém-nascidos na cidade dade materno-fetal ABO e a presença de icterícia em 26,3% dos
versal. de Manaus. casos (p < 0,0001). O resultado do P.A.I. positivo foi de 0,2% do
total de mães, sendo o anti - RhD o único anticorpo irregular
encontrado.
ShyamSundar Mina, Rash- Relato de caso. Relatar um caso de HDN devido a Rh anti-c em um Exames de aloimunização de eritrócitos não anti-D em gestan-
miBhardwaj, Shobhna Gupta/ bebê de mãe Rh-positiva, que necessitou de ex- tes quanto às incompatibilidades de subgrupos são necessários
2017. sanguíneo - transfusão de duplo volume. para melhor predição e diagnóstico precoce de HDN.
Caroline Klein Maranho/2017. Estudo observaci- Determinar a prevalência dos anticorpos irregula- A distribuição do total de anticorpos irregulares para cada ano
onal com coorte res em gestantes atendidas em maternidades pú- demonstrou forte tendência de crescimento linear.
retrospectiva. blicas.
MaríaÁngeles Sánchez-Du- Estudo observaci- Determinar a prevalência dos diferentes aloanti- O anti-D continua sendo o anticorpo mais comum em fetos que
rán,María Teresa Higueras,Ceci- onal restrospec- corpos anti-eritrocíticos, descrever os resultados requerem transfusão intrauterina.
lia Halajdian-Madrid,MayteAvi- tivo. da gravidez de acordo com uma classificação de
lésGarcía, AndreaBernabeu-Gar- baixo e alto risco para anemia fetal e determinar
cía, NereaMaiz, NuriaNoguéseE- os fatores que influenciam os resultados perina-
lena Carreras / 2019. tais adversos.
Valeria Pegoraro ,Ducciocompe- Estudo epidemio- Tentar quantificar a “lacuna” mundial entre o nú- Sugere-se que em torno de 50% das mulheres ao redor do
tUrbinati,GerardHA Visser,Gian lógico. mero anual de doses de IgG anti-Rh (D) que teori- mundo que requerem este tipo de imunoprofilaxia não a rece-
Carlo Di Renzo,AlvinZipur- camente deveriam ser administradas para mini- bem, presumivelmente devido à falta de conhecimento, dispo-
sky,Brie A. Stotler,Steven L. Spi- mizar o risco de sintetização por Rh (D), e o nú- nibilidade e / ou acessibilidade.
talnik/ 2020. mero anual de doses de IgG anti-Rh (D) efetiva-
mente administradas.
Fonte: Dados da Pesquisa (2020)
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 157
Baumgarten (1997) descreve uma pesquisa sobre o incremento médio na taxa de hemo-
globina por transfusão de 5,69 zh 2,02 mg/dl, com um intervalo médio entre a primeira trans-
fusão e o parto de 4,41 3,0 semanas. A principal complicação ocorrida durante o procedimento
é a bradicardia, que reverteu espontaneamente na maioria das vezes e está associada a óbito
fetal em um caso. O tempo- médio de internação do RN no berçário de alto-risco é de 11,3 a 7,2
dias, sendo que 65% (13/20) necessitam receber uma ou mais transfusões no período neonatal.
A taxa de mortalidade perinatal por procedimento é 7,4%, sendo esta taxa semelhante à rela-
tada na literatura mundial. Há 20% de óbitos perinatais e, destes, a maioria (75%) ocorre em
fetos hidrópicos. Confirmou-se que a transfusão intra-uterina é um procedimento seguro tam-
bém no nosso meio e com o potencial de salvar a vida de muitos fetos que, de outro modo, es-
tariam condenados.
Mari e colaboradores (2000) avaliando concentrações de hemoglobina fetal associado
ao aumento da idade gestacional em 265 fetos normais perceberam que entre os 111 fetos em
risco de anemia, 41 fetos não tinham anemia; 35 tiveram anemia leve; 4 tinham anemia mode-
rada; e 31, incluindo 12 com hidropsia, tinham anemia grave. Concluíram que a sensibilidade
de um aumento da velocidade de pico do fluxo sanguíneo sistólico na artéria cerebral média
para a previsão de anemia moderada ou grave de 100% na presença ou na ausência de hidrop-
sia com uma taxa de falsos positivos de 12%, o que confirma que em fetos sem hidropisia que
estão em risco por causa da aloimunização de hemácias maternas, anemia moderada e grave
pode ser detectada de forma não invasiva por ultrassonografia Doppler com base em um au-
mento na velocidade de pico do fluxo sanguíneo sistólico na artéria cerebral média.
Em uma avaliação de frequência de aloimunização no estudo retrospectivo (5,6%) com
a do estudo prospectivo (3,5%) percebeu que não apresentou diferença significante. A frequên-
cia de anticorpos fixados às hemácias, nos recém-nascidos de mães aloimunizadas, foi bastante
alta, de 67% no estudo prospectivo e de 72,7% no estudo retrospectivo. A frequência de aloan-
ticorpos regulares da classe G foi de 87% nas gestantes do estudo prospectivo e a incompatibi-
lidade ABO materno-fetal foi de 17% para as mães O, com filhos A ou B. O que descreve um
índice de aloimunização irregular no PGRhN ainda muito alto, quando comparado aos trabalhos
de outros autores, mostrando que devem estar ocorrendo falhas na prevenção e possíveis erros
na administração da soroterapia, em situações de risco. Ainda é importante ressaltar nesse es-
tudo, a alta freqüência de aloanticorpos regulares da classe G, que podem induzir a Doença He-
molítica do Recém-Nascido (DHRN) por incompatibilidade ABO (CAVALCANTE, 2005).
Nasseri, A Mamouri e Babaei (2006) realizaram um estudo que incluiu uma amostra de
34 bebês isoimunizados Rh e ABO positivos para teste de Coombs direto, Hiperbilirrubinemia
significativa foi definida como crescente por> ou = 0,5 mg / dl por hora. Os bebês foram rando-
micamente selecionados para receber fototerapia com imunoglobulina intravenosa (IVIg) 0,5 g
/ kg durante 4 horas, a cada 12 horas para 3 doses (grupo de estudo) ou fototerapia sozinha
(grupo controle). A transfusão de troca foi realizada em qualquer grupo se a bilirrubina sérica
excedeu> ou = 20mg / dl ou aumentou> ou = 1mg / dl / h. Por meio dos resultados dessa inter-
venção tem-se que a administração de IVIg a recém-nascidos com hiperbilirrubinemia signifi-
cativa por doença hemolítica Rh reduziu a necessidade de exsanguíneo transfusão, mas na do-
ença hemolítica ABO não houve diferença significativa entre IVIg e fototerapia de dupla super-
fície com luz azul como terapêutica.
Valente (2009) a partir de uma amostra de plasma materno, utilizando a técnica de
Polymerase Chain Reaction (PCR) afirma que é possível determinar o grupo RhD fetal numa
fase precoce da gravidez. A genotipagem fetal é particularmente útil em grávidas RhD negativas
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 158
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 159
equivalente a 0,1783), entretanto, foi possível observar uma predominância do número de ca-
sos de testes de PAI não realizados sob os realizados, em especial em gestantes RhD positivo.
Nesse contexto, Sánchez-Durán e colaboradores (2019) exibem que o anti-D continua
sendo o anticorpo mais comum em fetos que requerem transfusão intrauterina. Uma classifica-
ção de baixo ou alto risco para anemia fetal com base no tipo de anticorpo, fenótipo paterno e
antígeno fetal permite o acompanhamento da gravidez de acordo, com bons resultados perina-
tais no grupo de baixo risco. No grupo de alto risco, os resultados perinatais adversos estão
relacionados ao alto MCA-PSV, hidropsia e idade gestacional precoce na primeira transfusão.
Pegoraro e seus respectivos colaboradores (2020) observaram através dos dados epi-
demiológicos apresentados uma crise global mais de 50 anos após a invenção de medidas efi-
cazes para prevenir esta doença em que centenas de milhares de mulheres Rh (D) -negativas
correm o risco de se tornarem sensibilizadas para Rh (D) devido à falta de conhecimento, acesso
e / ou disponibilidade de imunoprofilaxia apropriada. Isso continua a produzir uma carga glo-
bal pesada de doença Rh (D), caracterizada por morte fetal, anemia neonatal grave, hiperbilir-
rubinemia neonatal e kernicterus, com perda auditiva e paralisia cerebral como possíveis con-
sequências.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AITKEN, Samuel L.; TICHY, Eric M.. RhOD immune globulin products for prevention of alloimmunization during
pregnancy. American Journal Of Health-System Pharmacy, [S.L.], v. 72, n. 4, p. 267-276, 15 fev. 2015. Oxford
University Press (OUP). http://dx.doi.org/10.2146/ajhp140288.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 160
BAUMGARTEN, Cláudia Diniz. Transfusão In Uterina Em Fetos Afetados Pela Doença Hemolítica Perinatal:
Estudo Descritivo De 54 Procedimentos. 1997. 28 f. TCC (Graduação) - Curso de Medicina, Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, 1997.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e
Puerpério: atenção qualificada e humanizada: manual técnico. Brasília (DF); 2006.
BRICCA, P.; GUINCHARD, E.; BLIEM, C. Guitton. Prise en charge des allo-immunisations fœto-maternelles
antiérythrocytaires. Transfusion Clinique Et Biologique, [S.L.], v. 18, n. 2, p. 269-276, abr. 2011. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.tracli.2011.01.005.
COUTINHO, Emília de Carvalho; SILVA, Cristina Bastos da; CHAVES, Cláudia Margarida Balula; NELAS, Paula Ale-
xandra Batista; PARREIRA, Vitória Barros Castro; AMARAL, Maria Odete; DUARTE, João Carvalho. Pregnancy and
childbirth: what changes in the lifestyle of women who become mothers?. Revista da Escola de Enfermagem da
Usp, [S.L.], v. 48, n. 2, p. 17-24, dez. 2014. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s0080-
623420140000800004.
FERREIRA, Elione dos Santos. Investigação Dos Aspectos Clínicos Na Incompatibilidade Materno-Fetal Em
Recém-Nascidos Na Cidade De Manaus. 2016. 89 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Ciências Aplicadas A
Hematologia, Universidade do Estado do Amazonas – Uea, Manaus, 2016.
HAMEL, Candyce; ESMAEILISARAJI, Leila; THUKU, Micere; MICHAUD, Alan; SIKORA, Lindsey; FUNG-KEE-FUNG,
Karen. Antenatal and postpartum prevention of Rh alloimmunization: a systematic review and grade analy-
sis. Plos One, [S.L.], v. 15, n. 9, p. 0238844-0238844, 10 set. 2020. Public Library of Science (PLoS).
http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0238844.
MARANHO, Caroline Klein. Prevalência de anticorpos irregulares em gestantes atendidas em serviços pú-
blicos da hemorrede de Santa Catarina. 2017. 150 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Hemoterapia e Biotec-
nologia, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, 2017.
MARI, Giancarlo; DETER, Russell L.; CARPENTER, Robert L.; RAHMAN, Feryal; ZIMMERMAN, Roland; MOISE,
Kenneth J.; DORMAN, Karen F.; LUDOMIRSKY, Avi; GONZALEZ, Rogelio; GOMEZ, Ricardo. Noninvasive Diagnosis
by Doppler Ultrasonography of Fetal Anemia Due to Maternal Red-Cell Alloimmunization. New England Journal
Of Medicine, [S.L.], v. 342, n. 1, p. 9-14, 6 jan. 2000. Massachusetts Medical Society.
http://dx.doi.org/10.1056/nejm200001063420102.
MINA, Shyam Sundar; BHARDWAJ, Rashmi; GUPTA, Shobhna. Doença hemolítica do recém-nascido: pode pensar
além das incompatibilidades Rh (D) e ABO. Journal Of Clinical Neonatology, Nova Delhi, v. 6, n. 1, p. 37-39,
2017.
NARDOZZA, Luciano et al. Bases moleculares do sistema Rh e suas aplicações em obstetrícia e medicina
transfunsional. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. São Paulo, vol 56, n°6, p. 724 a 728, ano 2010.
NASSERI, Fatemeh; A MAMOURI, Gholam; BABAEI, Homa. Imunoglobulina intravenosa em doenças hemolíticas
ABO e Rh de recém-nascidos. Saudi Med J , Irã, v. 12, n. 27, p. 1827-1830, dez. 2006.
NUNES, Juliana. et al. Qualidade na assistência pré-natal no Brasil: Revisão de artigos publicados de 2005 a 2015.
Cadernos Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, vol 2, n° 24, p. 252 a 261, ano 2016.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 161
PEGORARO, Valeria; URBINATI, Duccio compet; VISSER, Gerard H. A.; RENZO, Gian Carlo di; ZIPURSKY, Alvin;
STOTLER, Brie A.; SPITALNIK, Steven L..Hemolytic diseaseofthefetusandnewborndueto Rh(D) incompatibility: a
preventable diseasethat still produces significant morbidity and mortality in children. PlosOne, [S.L.], v. 15, n. 7,
p. 0235807-0235807, 20 jul. 2020. Public Library of Science (PLoS). http://dx.doi.org/10.1371/jour-
nal.pone.0235807.
SÁNCHEZ-DURÁN, María Ángeles; HIGUERAS, María Teresa; HALAJDIAN-MADRID, Cecilia; GARCÍA, Mayte Avilés;
BERNABEU-GARCÍA, Andrea; MAIZ, Nerea; NOGUÉS, Nuria; CARRERAS, Elena. Management and outcome of
pregnancies in women with red cell isoimmunization: a 15-year observational study from a tertiary care univer-
sity hospital. Bmc Pregnancy And Childbirth, [S.L.], v. 19, n. 1, p. 1-8, 15 out. 2019. Springer Science and Busi-
ness Media LLC. http://dx.doi.org/10.1186/s12884-019-2525-y.
SILVA, Vanessa Cristina. O papel do treino de memória no processo de aprendizagem de espanhol como
língua estrangeira (E/LE) em alunos da terceira idade (TI). 2015. 186 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Linguística Aplicada, Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
URSI, E. S.; GAVÃO, C. M. Prevenção de lesões de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura. Revista
Latino-Americana de Enfermagem, v. 14, n. 1, p. 124 – 131, fev. 2006.
VALENTE, Maria Eduarda Ribeiro Fernandes. Avaliação do Impacto da Determinação do Grupo Fetal Rhd na
Profilaxia da Aloimunização na Gravidez. 2008. 77 f. Monografia (Especialização) - Curso de Ciências Farma-
cêuticas, Universidade do Porto, Porto, 2009.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 162
INTRODUÇÃO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 163
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 164
imunidade, pela diminuição dos glóbulos brancos, deixando o paciente sujeito a infecções se-
cundárias a doença. A diminuição das plaquetas também é um problema recorrente, pois irá
ocasionar sangramentos, sendo os mais comuns das gengivas e pelo nariz e também manchas
roxas (equimoses) e/ou pontos roxos (petéquias) na pele (INCA, 2020). Como sintomatologia
o paciente pode apresentar vários indícios, dentre eles gânglios linfáticos inchados, mas sem
dor, principalmente nas axilas e na região do pescoço; febre ou suores noturnos; diminuição do
peso corporal sem motivo aparente; desconforto abdominal (provocado pelo inchaço do baço
ou fígado); dores nos ossos e nas articulações e com a progressão da doença ela pode afetar o
Sistema Nervoso Central (SNC), podendo surgir dores de cabeça, náuseas, vômitos, visão dupla
e desorientação (INCA, 2020).
Depois de instalada, a leucemia pode progredir rapidamente, exigindo que a classifica-
ção entre os vários tipos ocorra de forma precisa e rápida, ajudando no tratamento e na sobre-
vida do paciente. Entre essas neoplasias destaca-se a leucemia mieloide crônica na qual chega
a atingir 20% da população adulta, a LMC causa uma desordem mieloproliferativas onde é ge-
rada uma exacerbação de células granulocíticas. (BARBOZA, 2000), se origina em uma única
célula progenitora multipotente que adquiriu mutação genética. Encaixa-se no grupo de doen-
ças mieloproliferativas crônicas da classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), junto
com a policitemia vera (PT), trombocitemia essencial (TE), mielofibrose idiopática (MF), leoce-
mia neutrofílica crônica (LNC) e leocemia eosinofílica crônica/síndrome hipereosinofílica. (FI-
GUEIREDO, et al. 2011). A LMC possui uma importante peculiaridade genética, que é a presença
do cromossomo Philadelphia caracterizado pela translocação do cromossoma 9 e 22 (BOLL-
MANN et al,2011). Na maioria dos pacientes, o cromossomo Ph é visto pela análise do cariótipo.
Em raros pacientes, a anormalidade Ph não pode ser vista à microscopia, mas o mesmo rear-
ranjo molecular é detectado por técnicas mais sensíveis: hibridização fluorescente in situ
(FISH) ou por PCR, reação em cadeia da polimerase (HOFFBRAND; MOSS, 2013).
Dentro das características principais que temos dentro das leucemias, dois pontos são
bastante estudados, que são o seu grande poder de escape frente ao sistema imunológico e as
suas rápidas alterações no controle de morte celular. Essas características podem estar direta-
mente ligadas a genes específicos. Dentre as pesquisas mais recentes, temos o sistema do re-
ceptor FAS com seu ligante FASL responsável em desencadear o sistema de apoptose (morte
celular programada) das células leucêmicas, esse mesmo mecanismo auxilia no tratamento
desta neoplasia, entre a escolha terapêutica encontra-se o imatinibe cuja sua ação é inibir a
síntese da proteína BCR-ABL desta leucemia (SOSSELA et al, 2017).
Portanto, o objetivo deste trabalho fundamentado nas revisões bibliográficas é contribuir para
um melhor esclarecimento do mecanismo de ação do sistema FAS/FASL na leucemia mielóide
crônica, dentro do contexto clínico da doença, tornando mais fácil e rápida a tomada de decisões
durante a conduta médica, avaliando o impacto que esse sistema tem para possíveis soluções
terapêuticas ou marcadores moleculares.
MÉTODO
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 165
pia inibidora. As fontes utilizadas foram: revistas científicas, nacionais e internacionais nas ba-
ses de dados científicos como a SCIELO, Pubmed, Bibliomed, Bireme, dados da Organização
Mundial de Saúde, do ministério da saúde e do Instituto nacional do câncer. Assim, essa pes-
quisa considerou artigos, monografias, teses, dissertações, livros, e boletins epidemiológicos,
publicados entre os anos de 2001 a 2020, sendo essas publicações nos idiomas português, in-
glês e espanhol.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cromossomo Philadelphia
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 166
Durante a translocação t(9;22) entre o cromossomo 9 e 22, resulta em que parte do on-
cogene ABL1 é transferido para o gene BCR no cromossomo 22 e parte do cromossomo 22 é
transferido para o cromossomo 9. Essa translocação reciproca traz a maior parte do gene ABL
no cromossomo 9. O ponto de ruptura do ABL é entre os éxons 1 e 2. O ponto de ruptura no
BCR é em um de dois pontos na região do principal grupo de ruptura (M-BCR) na LMC ou em
alguns casos de LLA Ph+. Isso resulta em uma proteína de fusão de 210 kDa derivada do gene
de fusão BCR-ABL (HOFFBRAND; MOSS, 2013).
Todos os subtipos de transcritos do BCR-ABL codificam proteínas de fusão com atividade tiro-
sina quinase (responsáveis pela fosforilação de substratos proteicos) constitutiva que é essen-
cial para estimular a leucemia através do aumento da proliferação e crescimento de células tu-
morais, reduzindo a adesão ao estroma da medula óssea e promovendo angiogênese (cresci-
mento de novos vasos sanguíneos), metástase e uma resposta apoptótica defeituosa.
A tirosina quinase presente na leucemia mielóide crônica é responsável pela sinalização
tanto da porção BCR da molécula como da sequência ABL, ambas irão interferir conjuntamente
nos mecanismos celulares através de vários estímulos nos quais induzem a medula óssea a pro-
liferar diversas células malignas da linhagem mielóide (REZENDE et al, 2017).
Desta forma os fármacos de inibidores de tirosina quinase possuem uma importante relevância
devido a capacidade de induzir as células leucêmicas a entrarem em processo de apoptose. Uma
compreensão dessa via de sinalização e a sua alteração levou ao desenvolvimento de inibidores
de tirosina quinase e de pequenas moléculas direcionados ao BCR-ABL1, direcionadas especi-
ficamente ao estágio em que se encontra a evolução da leucemia mielóide crônica no paciente.
Essa terapia geneticamente direcionada melhorou drasticamente o resultado de pacientes com
leucemia mielóide crônica (VIEIRA, 2016; KURT et al, 2018).
Sistema FAS/FASL
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 167
de sinais externos), e pode ocorrer com ou sem a participação efetiva da mitocôndria. Os recep-
tores de morte celular pertencem à família TNFR (Receptor de fator de necrose tumoral), na
qual o FAS faz parte, juntamente com o seu ligante FASL (MEDINA, 2011; GALLUZZI et al, 2012).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 168
Linhas Terapêuticas
Entre essas linhas terapêuticas encontra-se o uso da hidroxiuréia aonde a mesma ira
atuar na síntese do DNA, cujo seu objetivo é diminuir a proliferação das células leucêmicas e
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 169
das células normais, consequentemente na diminuição do baço, salienta-se que este fármaco
induz o processo de apoptose por via intrínseca desacelerando a progressão da doença para o
estagio de crise blastica (MEDEIROS, 2014).
Outra terapia utilizada no tratamento da LMC é o interferon alfa cuja sua ação é diminuir o
crescimento e divisão celular mieloide no intuito de potencializar a ativação da apoptose das
células leucêmicas, com isso ocorre uma minimização células neoplásicas no sangue periférico
e uma menor proporção do cromossoma Ph na medula óssea (AVILÉS-VÁZQUEZ et al,2013).
A LMC tem curso clínico constituído por uma fase crônica seguida invariavelmente pela
crise blástica (CB), podendo ou não passar pela fase acelerada. Na FC a doença é controlável
clinicamente com o uso de medicações mielossupressoras como bussulfano ou hidroxiuréia,
que levam a regressão do tamanho do baco e normalização do hemograma, porém com persis-
tência do clone Ph na medula óssea. Já o uso do interferon (alfa-IFN), associado ou não a outras
drogas como citarabina ou hidroxiuréia, pode levar a remissão clínica, hematológica e citoge-
nética cerca de 20% dos pacientes. Nesse caso a pesquisa do cromossomo Ph será negativa pe-
las técnicas habituais e deverá ser confirmada pelo FISH. Há uma graduação de interpretação
do desaparecimento do Ph, sendo considerada boa a resposta quanto há menos de 35% de ce-
lular Ph+, tendo esses pacientes estimativa de sobrevida em média 90% em 5 anos. O PCR tem
sido positivo nos pacientes em remissão citogenética em uso de alfa-IFN, na medida em que não
há erradicação do clone maligno, mas não tem sido associado a recaída iminente (LORENZI,
2011).
O imatinibe foi desenvolvido como um inibidor específico da proteína de fusão BCR-
ABL1 e bloqueia a atividade da tirosinoquinase por competitir com a ligação de trifosfato de
adenosina (ATP). É o fármaco de primeira linha no tratamento da fase crônica da doença. Na
dose de 400 mg/dia, produz uma resposta imunológica completa em quase todos os pacientes,
efeitos colaterais incluem exantema, retenção de líquido, câimbras musculares e náuseas. Po-
dem ocorrer neutropenia e trombocitopenia e pode haver necessidade de redução da dose ou
suspensão do fármaco. As respostas ao tratamento com imatinibe podem ser definidas como
ótima, sobótima ou insatisfatória ao tratamento. Pacientes com resposta ótima continuam o
tratamento recebendo imatinibe, enquanto pacientes com resposta insatisfatória passam a tra-
tamento com uma tirosinoquinase de segunda geração (TKI) ou transplante de células tronco
(TCT). Em pacientes com resposta subótima, pode se sustentar um aumento de dose de imati-
nibe para 600 ou 800 mg/dia, mudança no tratamento com TKI ou TCT precoce (HOFFBRAND;
MOSS, 2013). Um outro ponto a ser destacado em relação a terapia da LMC é o transplante de
medula óssea alogênico, que continua ser um único método de cura, porém para realizar-se este
procedimento é necessário esta na fase crônica da leucemia (PEREIRA; MACHADO, 2014).
O TCT alogênico é um tratamento curativo da LMC estabelecido, mas, devido ao risco, é
reservado para o fracasso do imatinibe. Os resultados são melhores quando o procedimento é
feito na fase crônica, em vez de realizado nas fases aguda ou acelerada. A sobrevida de 5 anos
está em 50 a 70%, embora essa estimativa baixe para aproximadamente 10% se o transplante
for adiado para além de um ano do diagnóstico. Apesar de os arquivos internacionais de doa-
dores de medula óssea terem papel crescente e importante no fornecimento de doadores HLA
compatíveis não relacionados, o TCT alogênico só pode ser oferecido a uma minoria dos paci-
entes. Recidiva da LMC depois do transplante é um problema significativo, mas infusões de leu-
cócitos do doador são bastante eficazes na LMC, sobretudo se a recidiva for diagnosticada pre-
cocemente por detecção molecular do transcrito BCR-ABL1. (HOFFBRAND; MOSS, 2013).
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 170
Por fim, os fármacos inibidores da tirosina quinase utilizados no tratamento da LMC são
os de primeira e segunda geração, sendo o de primeira geração mais utilizado como padrão
para o tratamento por demonstrar eficácia em todas as fases da leucemia, entre eles destaca-se
o imatinibe que atua diretamente na inibição da proteína BCR-ABL bloqueando as atividades
da tirosina quinase (FRIZZON et al, 2016).
CONCLUSÃO
Esse estudo nos permitiu revisar todo o aspecto clínico e epidemiológico que envolve os
processos leucêmicos, explorando conceitos já estabelecidos, diagnósticos já aplicados e trata-
mentos utilizados. A leucemia mielóide crônica pode ocorrer qualquer idade, embora seja mais
comum entre os 40 e 60 anos, apresentando, portanto, pacientes com a idade mais avançada e
a saúde possivelmente mais fragilizada. Esse trabalho também nos permitiu compreender os
aspectos genéticos que afetam diretamente todo o curso clínico da doença, seu tratamento,
prognóstico e pós-tratamento. Com isso, concluímos que a translocação do cromossomo 9 e 22
que geram o cromossomo Philadelphia e apesar de já ter sido bastante estudado e pautado na
comunidade científica, continua sendo um importante marcador citogenético, assim como o on-
cogêne BCR/ABL, gerado pela translocação, e que está diretamente ligado a codificação de tiro-
sinas quinase, onde estimulam a proliferação e crescimento das células modificadas, continua
sendo um importante marcador molecular. O mecanismo de controle apoptotico FAS/FASL
também alvo desse trabalho, se mostrou também um importante marcador molecular, não só
para a leucemia, mas como para outros tipos de câncer, pois esse sistema faz parte de uma im-
portante via dentro do contexto da apoptose, que é a via extrínseca e a sua ativação se torna
necessária para a ativação das caspases e dessa forma, a morte celular. Esse sistema também é
responsável pelo aumento da expressão das células neoplásicas e seu possível crescimento e se
dentro desse sistema ocorrer um descontrole no seu processo de ligação ocorrerá consequen-
temente uma alteração no processo da apoptose, alterando a homeostasia celular. Com o en-
tendimento desses mecanismos, a conduta terapêutica se torna mais eficiente e geneticamente
especificas, auxiliando em possíveis tratamentos. Com isso, o mecanismo FAS/FASL pode se
tornar um importante aliado na terapia medicamentosa através de fármacos inibidores da tiro-
sina quinase.
REFERÊNCIAS
ALVES, Marta Rebocho Nunes. Leucemia Mielóide Crónica: Desafios no tratamento da fase blàstica. Disserta-
ção (Mestrado Integrado em Medicina). Universidade do Porto, Porto, 2014.
ANDRADE, Viviane et al. Qualidade de vida de pacientes com câncer hematológico em tratamento quimioterá-
pico. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 47, n. 2, p. 355-361, 2013.
AVILÉS-VAZQUEZ, Sócrates et al. Inhibidores de cinasas de tirosina (ICT): la nueva revolución en el tratamiento
de la leucemia mieloide crónica (LMC). Gaceta Médica de México, v. 149, n. 6, p. 646-654, 2013.
BARROS, Sandra Rodrigues. Tratamento da leucemia mielóide crônica no sec. XXI. Dissertação (Mestrado
Integrado em Medicina). Universidade do Porto, Porto, 2012.
BERGANTINI, Ana Paula F. et al. Leucemia mielóide crônica e o sistema FasFasL. Revista brasileira hematolo-
gia hemoterapia, v. 27, n. 2, p. 120-25, 2005.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 171
BOLLMANN, Patricia Weinschenker et al. Leucemia mieloide crônica: passado, presente, futuro. Einstein, São
Paulo, v. 9, n. 2 Pt 1, p. 236-243, 2011.
FIGUEIREDO, Maria Stella. et al. Hematologia: Guia de medicina ambulatorial e hospitalar da UNIFESP-EPM. Edi-
tor Nestor Schor – Barueri, SP: Manole, 2011.
FREITAS, Fátima do Rosário Lopes Reis Dias. Morte Celular Programada e Patologias Associadas. Tese (Dou-
torado em Ciências Farmacêuticas). Universidade Fernando Pessoa, Porto: 2012.
FRIZZO, Matias Nunes et al. O mesilato de imatinibe como tratamento para inibir a proliferação das células neo-
plásicas em pacientes com leucemia mieloide crônica. Revista Contexto e Saúde, v. 16, n. 30, p. 64-76, 2016.
FRIZZO, Matias Nunes; Da Silva, Francielen Colet; Da Silva Araújo, Lucinea. Neoplasias hematológicas no idoso:
uma revisão. Revista Saúde Integrada, v. 8, n. 15-16, 2015.
GALLUZZI, L. et al. Molecular definitions of cell death subroutines: recommendations of lhe Nomenclature Com-
mitee on Cell Death 2012. Cell and Differentiation. v.10. p.107-120, 2012.
GODOY, Fernanda Sala de Paula. Crise Blastica na Leucemia Mielóide Crônica .Universidade Federal do Pa-
raná, Curitiba,2016.
INCA. Estimativa 2014:Incidencia do câncer no Brasil/ Instituto Nacional de Câncer Jose Alencar Gomes da
Silva, Coordenação de Prevenção e Vigilância. Rio de Janeiro,2014.Disponivel em http:/www.inca.gov.br.Acesso
em 14/02/2019.
INCA, (INSTITUTO NACIONAL DE CÂ NCER. TNM: classificação de tumores malignos. Tradução Ana Lú cia Amaral
Ei- senberg. 6. ed. Rio de Janeiro: INCA, 2004. 254 p.)
INCA. Informações sobre o desenvolvimento e coordenação das ações integradas para a prevenção e o
controle do câncer no Brasil. Disponível em: < http://inca.gov.br >. Acesso em: 3 dez. 2010.
KURT, Habibe et al. Secondary Philadelphia chromosome acquired during therapy of acute leukemia and myelo-
dysplastic syndrome. Modern Pathology, v. 31, n. 7, p. 1141-1154, 2018.
LORENZI, Terezinha Ferreira. Atlas de hematologia: Clínica hematológica ilustrada. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2011.
MARTINS, Sofia Vanessa Rodrigues. Cromossoma Philadelphia e leucemia: biologia e terapêutica. Monogra-
fia. Universidade de Coimbra, 2016.
MEDEIROS, Leanio Eudes dos Santos. Evolução da leucemia mielóide crônica frente à terapia com inibido-
res de tirosina cinase. Monografia (Graduação). Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2014.
MEDINA, Luciana Paroneto. Modulação da morte mediada por FAS em células tipo I e tipo II. 2011. Tese de
Doutorado. Universidade de São Paulo.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER (INCA): ABC DO CÃNCER- abordagens clássicas
para o controle do câncer, RIO DE JANEIRO, 2011.
SUMÁRIO
Fronteiras em Saúde: Uma Abordagem Multiprofissional | 172
NUNES, Fernanda Costa. Mecanismos de citotoxicidade de derivados de tacrina em linhagem tumoral hu-
mana de glioblastoma Dissertação (Mestrado em Farmacia). Universidade Cultural de Santa Catarina, Santa
Catarina, 2017.
OPAS/ OMS, Organização Pan- Americana de Saúde, Folha informativa- Câncer. 2018.
PEIXOTO, Paloma Pinheiro de Aquino. Leucemia mielóide crônica: uma revisão de literatura. Trabalho de Con-
clusão de Curso. Universidade Federal do Rio Grande do Norte,Natal,2017.
PEREIRA, Isabele Santana; Machado Valeria. A importância da assistência de enfermagem aos clientes portado-
res de leucemia mielóide crônica submetido ao transplante da medula óssea. Revista científica de ciências
aplicadas da FAT,2014.
REGO, Monica Fortes Napoleão do et al. Leucemia mieloide crônica: aspectos clínicos e fatores que infuenci-
aram a resposta citogenética em pacientes tratados com imatinibe no estado do Piauí. Tese (Doutorodado
em Ciencias Medicas).Universidade Estadual de Campinas ,São Paulo,2014.
REZENDE, Vinicius Marcondes. Monitoramento terapêutico de mesilatode imatinibe: relação entre níveis
séricos e alcance de resposta molecular maior na leucemia crônica. Tese (Doutorado em Ciencias).Universi-
dade de São Paulo.São Paulo,2017.
Santos, Cleiciqueli do Carmo et al. Leucemia sociedade em risco. Faculdade de São Paulo, São Paulo, 2014.
SILVA, Danilo Alves et al. Características da leucemia mieloide crônica, com ênfase no diagnóstico e trata-
mento. Congresso Brasileiro de Ciências da Saúde, 2016.
SILVA, Kathlenn Liezbeth Oliveira. CD95 (FAS) e CD178 (FASL) induzem apoptose em células CD4+ E CD8+
do sangue periférico e esplênicas em cães naturalmente infectados por Leishmania spp: Kathlenn Liezbeth
Oliveira Silva.-. 2012.
SOSSELA et al. Leucemia Mieloide Crônica: aspectos clínicos, diagnóstico e principais alterações observadas no
hemograma. Revista Brasileira de Análise Clinica, v. 49, n. 2, p. 127-30, 2017.
TOGNON, Raquel et al. Desregulação da apoptose em neoplasias mieloproliferativas crônicas. Einstein, v. 11, n. 4,
2013.
VIEIRA, Paulina Coutinho. Inibidores da tirosina quinase no tratamento da LMC: uma revisão narrativa. Mo-
nografia (Graduação em Farmácia). Universidade Federal de Sergipe, São Cristo.
VOLPE, Elisabetta et al. Fas–fas ligand: Checkpoint of t cell functions in multiple sclerosis. Frontiers in immuno-
logy, v. 7, p. 382, 2016.
SUMÁRIO