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"Um filme de terror". É assim que o professor Thiago dos Santos Conceição, de 32 anos, descreve os
momentos de tensão que viveu no dia 18 de setembro de 2018, quando um grupo de alunos do 9º ano
do CIEP Municipal Mestre Marçal, em Rio das Ostras (RJ), começou a hostilizá-lo durante uma aula de
Língua Portuguesa.
"Tive muito medo. Pensei que fosse morrer", admite o docente que, por medida de segurança, se viu
obrigado a pedir transferência para outro município.
Thiago não é o primeiro a sofrer violência física ou verbal em sala de aula. E, a julgar pelos números da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ele também não será o último.
Segundo os dados mais recentes, de 2013, o Brasil lidera o ranking de violência escolar: 12,5% dos
docentes brasileiros relataram ser vítimas de ameaças, xingamentos ou agressões ao menos uma vez por
semana. A média mundial da organização que reúne 34 países é de 3,4%.
Em maio, uma professora de 59 anos foi agredida a tapas pela mãe de um aluno dentro da E. E. Oscar
Pereira, em Porto Alegre (RS). Um mês depois, oito estudantes arremessaram mesas e cadeiras em uma
professora da E. E. Maria de Lourdes Teixeira, em São Paulo (S P).
Histórias Reais
'Não tinha condições de continuar dando aula.
Nem se quisesse'
Paulo Rafael, professor por mais de duas décadas, resume condições da carreira: 'Muito trabalho e pouco
reconhecimento'
Com 20 anos de magistério, Paulo Rafael Procópio, de 62 anos, cansou de ouvir falar de casos de violência em sala
de aula. Nunca imaginou, porém, que, um dia, aconteceria com ele.
Podcast
BBC Lê
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A equipe da BBC News Brasil lê para você algumas de suas melhores reportagens
Episódios
Fim do Podcast
"Por mais que o tempo passe, a gente não consegue esquecer uma violência dessas", afirma o professor de História
e Geografia.
No dia 22 de fevereiro de 2019, Paulo estava em sala quando um estudante de outra turma interrompeu a aula
para falar com a prima. O docente sugeriu a ele que esperasse o fim da aula ou o recreio.
Foi o suficiente para o rapaz, de 12 anos, reagir com violência e arremessar um caderno na direção do professor.
Mas, a agressão não parou por aí. Em seguida, deu um soco. E mais um. E mais outro.
"Se não tivesse me defendido, o estrago teria sido maior", lamenta o professor, que levou seis pontos no rosto e
dois no supercílio.
A violência aconteceu na Escola Estadual Otacílio Sant'Anna, na cidade de Lins, no interior de São Paulo. No mesmo
dia, Procópio registrou queixa na polícia e anunciou sua aposentadoria.
A notícia causou comoção no colégio onde Paulo lecionava havia três anos. Muitos alunos pediram para ele
reavaliar sua decisão.
"Já estava quase me aposentando mesmo. Aquele episódio apenas encurtou minha carreira", queixa-se.
O caso ganhou repercussão nacional. Até convite para comparecer em Brasília, para uma audiência com o então
ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, Paulo recebeu. O encontro aconteceu no dia 8 de março.
"A figura do professor não é valorizada em nosso país. É muito trabalho e pouco reconhecimento", resume.
Paulo se aposentou. E o aluno que o agrediu foi internado, por 45 dias, na unidade Vitória Régia, da Fundação Casa,
em Lins.
"Na maioria das vezes, o aluno é suspenso por três dias e, depois, volta à sala de aula, como se nada tivesse
acontecido. Em alguns casos, ele é transferido de escola. Isso não resolve o problema. Apenas transfere o problema
para outro professor tentar resolver", dá o alerta.
Era para ser uma terça-feira como outra qualquer. Morador de Itaboraí,
a 45 km do Rio de Janeiro, o professor Thiago dos Santos Conceição, de
32 anos, acordou cedo - por volta das quatro da manhã -, pegou um
ônibus e, duas horas e meia depois, chegou ao CIEP Municipal Mestre
Marçal, no bairro Jardim Campo Mar, em Rio das Ostras, na Região dos
Lagos.
Naquele dia, 18 de setembro de 2018, aplicaria prova de Língua
Portuguesa para uma turma do 9º ano. Bem que tentou, mas não
conseguiu. Um vídeo na internet mostra seis alunos hostilizando o
professor. Um deles amassa a prova antes de entregá-la.
"Até hoje, não sei o que levou aqueles alunos a agirem com tamanha
brutalidade. O que fiz de errado para ser hostilizado daquela maneira?",
pergunta o docente que, naquele mesmo dia, prestou queixa à polícia e
pediu demissão da escola.
Durante duas semanas, Thiago não conseguiu fazer outra coisa a não
ser chorar. Chorar e se perguntar: "Onde foi que eu errei?"
Quanto aos ex-alunos, diz ter compaixão deles. E lamenta não ter
podido ajudá-los.
Consequencias:
No entanto, isso não quer dizer que todas as crianças que apresentam esse
quadro estejam sofrendo violência escolar. Antes de dar um diagnóstico ao
problema, é necessário que antes se investigue e se observe mais a criança.