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Capa
Folha de rosto
Créditos
Introdução
Parte I — Origens
O filho de Alois e Klara
Tumbas e suásticas
O verdadeiro jovem Hitler
Uma vida dedicada à arte
A epifania
Parte II — O início
A capital antissemita da Europa
Munique
Primeira Guerra Mundial
Cego de raiva
Parte III — A ascensão
Hitler, o orador exaltado
Tentativa fracassada
Mein Kampf
Duas descobertas
Ascensão ao poder
Parte IV — A queda
Cinquenta anos e no topo
A guerra-relâmpago
À procura de “espaço vital”
A “solução final”
Colapso
Os restos mortais de Adolf Hitler
Referências bibliográficas
Colofão
Introdução
Foi naquela hora sombria que Hitler teve, de acordo com seu amigo
August Kubizek, sua epifania, em uma noite em novembro.
Foi a hora mais impressionante que já vivi com meu amigo (...) quando
olho para trás, o que ficou comigo de forma mais nítida e clara na minha
amizade com Adolf Hitler não são os seus discursos nem suas ideias
políticas, mas aquela única hora no Freinberg.
Eles tinham visto uma apresentação de Rienzi de Richard Wagner, que
terminou depois da meia-noite. Kubizek caminhava com entusiasmo pelas
ruas desertas de Viena, mas Hitler estava absorto em um silêncio assustador.
Os dois amigos foram até o topo de uma colina para observar as luzes da
cidade. Lá em cima, no Freinberg, em um momento de êxtase místico, com
uma voz diferente da dele, Adolf começou a falar sobre uma missão
especial que iria receber e sobre as visões de um grande futuro para ele e
para o povo alemão. Embora parecesse uma situação bastante estranha na
época, Kubizek afirma que foi ali que seu amigo deixou de ser um simples
aspirante a artista e se tornou um estadista.
Quem falou comigo naquela hora estranha foi um jovem cujo nome até
então não significava nada. Ele falou de uma missão especial que um dia
seria confiada a ele, e eu, seu único ouvinte, mal conseguia entender o que
ele queria dizer. Muitos anos se passaram antes que eu percebesse o
significado daquela hora extasiante para meu amigo. Descemos para a
cidade (...) e fiquei espantado ao ver que ele não ia na direção de sua casa,
mas virava de novo em direção às montanhas. “Aonde você está indo
agora?”, perguntei surpreso. Ele respondeu sucintamente: “Quero ficar
sozinho.”
Muitos anos depois, de acordo com Kubizek, Hitler admitiu que foi
naquele momento que “tudo começou”. Boa parte dos biógrafos de Hitler
encara esse episódio com extrema cautela, e por um bom motivo, já que
mostra traços do desenvolvimento lendário e da dependência literária de
outra história conhecida: a subida à montanha, o chamado místico, a
incompreensão dos discípulos e, finalmente, o pedido do mestre para ser
deixado em paz. Mas, se é verdade que as metáforas formam a linguagem
natural do pensamento, se a memória (a de Kubizek nesse caso) muitas
vezes assume a forma de parábola e a parábola aponta para uma verdade
mais do que factual, impossível de expressar em palavras, então deve ter
sido naquela época, em Viena, inspirado pelas sagas de grandes guerreiros e
pela música de Wagner, que o jovem Adolf iniciou seu caminho de
transformação de boêmio alienado a estadista monstruoso.
PARTE II
O INÍCIO
Cabe a mim decidir quem é judeu.
Ian Kershaw
Em 1920, Adolf Hitler foi dispensado do Exército e passou a dedicar
todo o seu tempo ao Partido Nacional Socialista. Nos primeiros dias, ele e
outros integrantes do partido foram às ruas distribuir panfletos para atrair
mais membros, convidaram seus amigos para as reuniões, pagaram alguns
anúncios de jornal, mas sem resultados promissores. Na reunião seguinte,
os nazistas entrariam na sala para cumprimentar apenas alguns
participantes, quase sempre os mesmos rostos.
Ninguém em Munique conhecia o partido nem pelo nome, exceto por seus
poucos apoiadores e pelos poucos amigos. Todas as quartas-feiras
acontecia uma chamada reunião do comitê em um café de Munique, e
uma vez por semana uma palestra noturna. (Fest, 2013)
Hitler já entendia o poder da propaganda e intensificou seus esforços.
Anunciou uma reunião do partido em um conhecido jornal antissemita e
sugeriu transferir os comícios para uma sala maior, um porão que poderia
acomodar mais de cem pessoas. Embora com algum ceticismo, ele
finalmente conseguiu o apoio de seus colegas. A quinta-feira seguinte, 16
de outubro de 1919, tornou-se um dia histórico. Hitler foi o primeiro a ser
surpreendido pelo grande público. Após as palavras de boas-vindas de um
dos membros mais antigos, foi a vez de ele falar. Se os companheiros
duvidavam de sua habilidade, ele mesmo não sabia o que esperar quando
chegasse a sua hora. Para a surpresa de todos, Hitler chocou o público com
sua retórica emotiva, enérgica e maníaca. As pessoas ficaram em êxtase.
Falei por trinta minutos, e o que antes sentia simplesmente dentro de mim,
sem saber de forma alguma, agora estava comprovado pela realidade: eu
podia falar. Depois de trinta minutos, as pessoas naquela sala pequena
ficaram eletrizadas. (Hitler, 2016)
Essa foi a primeira vez que ele se dirigiu a uma audiência — o grande
hipnotizador havia nascido. Tamanho foi o impacto que os presentes
procuravam dinheiro no bolso para doar à causa. Os fundos arrecadados
foram usados para imprimir mais convites.
Quatro meses depois, Hitler pressionou por um grande evento. Seria o
primeiro. Em fevereiro de 1920, diante de uma multidão de seis mil pessoas
— um salto considerável, visto que menos de dois anos antes o público nas
reuniões da DAP podia ser contado nos dedos de uma mão — Hitler expôs
os princípios do partido, que se tornariam o coração de sua ideologia
política, da qual jamais se desviaria: a união de todos os povos de origem
alemã para a restauração de um grande Reich alemão, cuja principal
característica seria a raça de seus habitantes; a necessidade de mais espaço
de convivência para o povo alemão, o que implicaria a expansão territorial
para o Leste; e, em vez do parlamentarismo, que ele via como um sistema
degenerado e inútil, a necessidade de um líder forte a quem a obediência
absoluta deveria ser jurada. No início, a questão mais urgente era desfazer o
severo Tratado de Versalhes, que havia encerrado a Primeira Guerra
Mundial, mas deixara a Alemanha de joelhos. O tratado, segundo Hitler, foi
“fundado em uma mentira monstruosa. Recusamo-nos a cumprir seus
termos por mais tempo. Declaramos às forças estrangeiras: “Façam o que
quiserem! Se desejam a guerra, vão buscá-la! Então, veremos se vocês
podem transformar setenta milhões de alemães em servos e escravos!”
Hitler, o orador exaltado
EDITORA RESPONSÁVEL
Ana Carla Sousa
PRODUÇÃO EDITORIAL
Adriana Torres
Mariana Bard
Mariana Oliveira
REVISÃO DE TRADUÇÃO
Carolina Leocadio
REVISÃO
Luana Balthazar
CAPA
Leticia Antonio
DIAGRAMAÇÃO
Leticia Fernandez Carvalho
PRODUÇÃO DE EBOOK
S2 Books
[ 01 ] A autenticidade dessa fotografia foi seriamente questionada nos últimos anos. O elemento
suspeito é o bigode de broxa de Hitler, que só começou a ser usado anos depois. Se a imagem for
genuína, então ele era o único alemão a usar aquele bigode. Outras fotos da época o mostram com o
bigode comprido e pontudo que estava, então, na moda.