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Ronaldo Regobello1, Jorge Munaiar Neto1, Maximiliano Malite1 e Valdir Pignatta e Silva2
Palavras-chave: Estruturas de aço, vigas mistas, perfis formados a frio, incêndio, análise
numérica
Resumo. Neste artigo são apresentados os resultados de análises numéricas feitas com referência a
uma viga mista de aço e concreto, constituída de perfil formado a frio com seção transversal em
forma de caixão e laje de concreto armado, biengastada, em situação de incêndio. São realizadas
análises térmicas seguidas de análises estruturais se empregando o programa ANSYS v9.0. Na análise
estrutural leva-se em conta o efeito misto, flambagens locais e restrições às deformações térmicas
impostas pelos vínculos de extremidade. Apresentam-se, por fim, comparações entre essa situação e a
de vigas sem a consideração do efeito misto.
Ronaldo Regobello, Jorge Munaiar Neto, Maximiliano Malite e Valdir Pignatta e Silva
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho, em caráter complementar a trabalho anteriormente desenvolvido em que
não se considera a laje de concreto, REGOBELLO [1], teve como objetivo analisar térmica e
estruturalmente, em campo numérico, uma viga mista com extremidades engastadas (engaste
fixo ou móvel), constituída por perfis formados a frio de aço com seção transversal do tipo
“caixão”, sob laje de concreto e sobre parede, em situação de incêndio-padrão. Portanto, é
aqui considerado efetivamente o efeito misto com vistas a se obter uma forma mais adequada
de se analisar a viga em questão, ao se contemplar a laje de concreto na construção do modelo
numérico, ainda que de forma simplificada. Uma vez que a laje de concreto é incorporada ao
modelo, torna-se possível investigar qual será a contribuição do sistema misto de aço e
concreto, durante a exposição ao modelo de incêndio-padrão, bem como a influência da
rigidez da laje nos deslocamentos transversais da viga. Como vantagem, tem-se ainda a
consideração (direta) da restrição imposta pela laje aos conectores, sem que haja a
necessidade de se adotar condições (indiretas) de vinculo na posição dos conectores para
simular tal situação. Para tanto, empregando-se o programa ANSYS v9.0 [2], são realizadas
análises térmicas seguidas de análises estruturais e, posteriormente, são apresentados os
resultados obtidos com os modelos numéricos aqui construídos comparando-os,
posteriormente, a resultados obtidos para os casos sem a consideração do efeito misto,
previamente existentes.
200
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Figura 1. (a) Dimensões geométricas da seção transversal das vigas e (b) Condições de vinculação.
Os resultados de casos sem a consideração da laje, a serem aqui utilizados apenas para fins de
comparação, são denominados Condição inicial e Refinamento 4. Ambos os casos
mencionados diferem entre si principalmente pela consideração ou não da restrição axial ao
deslocamento nos apoios, conforme esquematiza a figura 1b.
Vale ressaltar que para os casos Condição inicial e Refinamento 4, utilizados apenas para fins de
comparação como já mencionado, a relação constitutiva adotada para o aço foi do tipo bilinear
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θ (°C) kf kE εc0
20 1 1 0,0025
100 1 0,875 0,004
200 0,95 0,73 0,0055
300 0,85 0,58 0,007
400 0,75 0,42 0,01
500 0,6 0,27 0,015
600 0,45 0,12 0,025
700 0,3 0,08 0,025
800 0,15 0,06 0,025
900 0,08 0,05 0,025
1000 0,04 0,03 0,025
1100 0,01 0,02 0,025
1200 0 0 0
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materiais aço, concreto e alvenaria), bem como coeficiente de transferência de calor por
convecção igual a 25 W/m2°C.
θ g = 20 + 345 log10 (8t + 1) (1)
Para obtenção da capacidade resistente das vigas em situação de incêndio foi necessário
realizar duas análises distintas: térmica e estrutural. Por meio da análise térmica foi
determinado o campo de temperatura no perfil metálico em função da elevação da
temperatura ao longo do tempo. Nessa fase, foi considerada a existência de laje de concreto e
da alvenaria atuando como “sink elements”. O elemento utilizado para representação do perfil
de aço, da laje de concreto e da alvenaria na análise térmica foi o solid70. Foi utilizado ainda
o elemento surf152 para geração das superfícies de convecção e radiação nas faces expostas
ao incêndio. Tais elementos possuem apenas a temperatura como único grau de liberdade por
nó. Na figura 4 são esquematizadas as condições de exposição ao fogo e a discretização do
modelo numérico construído para fins de análise térmica, aqui denominado U5-VLA9-EIT.
fogo fogo
Figura 4. Condições de exposição ao fogo e modelo para análise térmica: caso U5-VLA9-EIT.
A laje de concreto não foi modelada com elemento do tipo casca na análise térmica tendo em
vista que dentro do mecanismo de funcionamento do código ANSYS o campo de
temperaturas obtido com o elemento de casca na análise térmica só pode ser utilizado
posteriormente, para fins de análise estrutural, se os modelos térmico e estrutural forem
totalmente construídos com elementos do tipo casca. Em modelos híbridos (construídos com
elementos sólidos e de casca) as únicas temperaturas que o ANSYS transfere do modelo
térmico para o modelo estrutural são aquelas do tipo nodal. Assim, na leitura do campo de
temperaturas a serem transferidas para modelo estrutural, o código ANSYS desconsidera as
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400
350
300
Temperatura (ºC)
250
200
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Tempo (min)
Figura 5. Elevação de temperatura na laje, de acordo com prescrições estabelecidas pela NBR 14323:1999.
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Para o modelo com a consideração da laje de concreto, a mesma laje foi modelada utilizando-
se o elemento SHELL 181, cujos graus de liberdade em cada nó correspondem às translações
e rotações nas direções x, y e z. A análise estrutural foi realizada aplicando-se, inicialmente,
carregamento uniformemente distribuído sobre a viga. A figura 7 apresenta uma visão geral
do modelo de elementos finitos gerado no programa ANSYS.
A figura 8 apresenta uma vista lateral e outra superior do modelo, permitindo-se visualização
do posicionamento dos “pontos de conexão” entre o perfil de aço e a laje de concreto. A
ligação entre laje de concreto e viga de aço é obtida pelo acoplamento dos graus de liberdade
dos elementos sólidos e de casca, nos nós em destaque nessa mesma figura.
Figura 8. Ligação Viga-Laje no modelo numérico: posição dos acoplamentos dos graus de liberdade para
representar os conectores de cisalhamento.
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O carregamento foi aplicado na forma de força nos nós sobre a laje de concreto nos pontos
vinculados ao perfil de aço (ver figura 8) para evitar problemas (efeitos) localizados na laje
quando do processamento do modelo.
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4. RESULTADOS OBTIDOS
Os resultados referentes aos deslocamentos no meio do vão da viga, segundo a direção y
(figura 9), obtidos por meio das análises do modelo com a consideração da laje concreto na
análise estrutural são apresentados em comparação apenas com os resultados obtidos para
caso de Refinamento 4 (sem a consideração da laje), proporcionando assim uma análise
imediata da contribuição da rigidez da laje na modelagem numérica. A seguir são
apresentados, por meio de gráficos, os seguintes resultados:
● Deslocamento na direção y no meio do vão da viga em temperatura ambiente para
determinação da capacidade em temperatura ambiente – figura 11;
● Deslocamento na direção y para o meio do vão em situação de incêndio – figura 12;
● Resultante (somatório) das reações de apoio – figura 13;
● Fator de redução (k) em função do tempo – figura 14.
● Comparativo entre os deslocamentos obtidos com o presente modelo e o caso 4 de
refinamento – figuras 15 e 16;
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M Sk,fi
k= (4)
M Sk
p
k = Sk,fi (5)
p Sk
45
40
Carregamento distribuído (kN/m)
35
30
25
20
Viga Mista Refinamento 4
15
10
0
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
Deslocamento no meio do vão (cm)
Figura 11. Deslocamento na direção y para o meio do vão da viga – temperatura ambiente.
60
50
40
Tempo (min)
30
20
10
0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35
Deslocamento no meio do vão (cm)
11
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Figura 12. Deslocamento na direção y para o meio do vão da viga, em função do tempo de exposição ao
incêndio para carregamentos estáticos preestabelecidos.
150
100
Somátorio de FX no apoio (kN)
50
-50 30 kN/m
25 kN/m
-100
20 kN/m
-150 15 kN/m
10 kN/m
-200
2,5 kN/m
-250
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Tempo (min)
Figura 13. Somatório de forças em X (FX) no apoio em relação ao tempo. Em linhas cheias o resultado para
o modelo com a laje e em linhas pontilhas o resultado para o refinamento 4.
1
0,9
0,8
Fator de redução K
0,7
0,6
0,5
0,4
0,3
0,2
0,1
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Tempo (min)
CAT
TCD ANSYS_ref_4 ANSYS (c/ laje) ANSYS_cond inicial
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Figura 14. Fator de Redução para a viga em função do tempo de exposição ao incêndio – Comparação
ANSYS xTCD.
60
50
40
Tempo (min)
30
20
com Laje
10
Refinamento 4
0
-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Deslocamento no meio do vão (cm)
Figura 15. Deslocamento na direção y para o meio do vão em função do tempo de exposição ao incêndio
para carregamentos estáticos preestabelecidos – comparação com o caso 4 de refinamento.
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40
35
30
Tempo (min)
25
20
15
10
com Laje
5
Refinamento 4
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Deslocamento no meio do vão (cm)
Figura 16 – Deslocamento na direção y para o meio do vão em função do tempo de exposição ao incêndio
para carregamentos estáticos preestabelecidos – comparação com o caso de refinamento 4.
Vale destacar que a consideração da laje de concreto no modelo numérico gerou dificuldades
consideráveis na convergência quando do processamento do modelo numérico, tendo sido
necessário alterar valores considerados como “default” pelo programa, para parâmetros como
tolerância e deformação máxima.
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5. CONCLUSÕES
- Neste trabalho foi analisado, do ponto vista térmico e estrutural, o comportamento de
uma viga mista de aço e concreto pertencente a um edifício de interesse social (em
fase de projeto), constituída por perfil formado a frio de aço, biengastada e em
situação de incêndio. A fim de se considerar uma situação mais próxima daquela
verificada em projeto, a viga em questão foi admitida sob laje de concreto e sobre
alvenaria.
- Para análises em temperatura ambiente, figura 11, a carga última igual a 41,4 kN/m,
quando comparada àquela obtida para o caso do Refinamento 4 (39,6 kN/m), sugere
que a contribuição da laje, considerada de forma indireta na viga por meio de
restrições impostas aos deslocamentos, pouco contribui no referente ao Estado Limite
Último da viga, uma vez que se observa, nos resultados numéricos, aproximadamente
40% do volume da laje submetida à tração em razão da condição de engaste nos
apoios.
- Para análises em situação de incêndio, o somatório de forças no apoio apresentadas
na figura 13 indicam que nos instantes iniciais de exposição ao incêndio, a viga
analisada apresenta resultante de compressão, nas extremidades, aumentada
consideravelmente devido à restrição axial à expansão. Nos instantes finais, a
exceção do carregamento de valor igual a 2,5 kN/m (equivale a aproximadamente o
peso próprio da viga e da laje), a resultante é de tração, o que evidencia o
comportamento de catenária.
- De acordo com as informações disponibilizadas na figura 14, sugere que o efeito
misto (modelo com laje) não apresenta ganho na capacidade resistente da viga se
comparado aos resultados do Refinamento 4. Ambos os gráficos passam a ter
comportamento praticamente coincidente a partir de 30 minutos de exposição ao
fogo, em resposta a forte penalização sofrida pelo concreto com a considerável
redução de rigidez da laje em situação de incêndio.
- A presença da laje de concreto no modelo numérico reduziu, de modo esperado, o
valor da flecha da viga mista quando comparado ao Refinamento 4, conforme
indicam as figuras 15 e 16, para diferentes condições de carregamento.
- As informações referentes às figuras 14, 15 e 16, quando analisadas conjuntamente,
permitem considerar (ou supor) o fato de que quanto menores os valores de flechas
em vigas submetidas a altas temperaturas maiores serão as reações vinculares e,
consequentemente, a ocorrência de esforços de flexão adicionais (em geral, elevados)
nas vigas, levando-a mais rapidamente ao colapso estrutural. Como conseqüência,
obtém-se valores menores (situação mais severa) para os fatores de redução,
conforme evidenciado quando da comparação entre os valores do modelo com laje e
do refinamento 4.
- Apesar da consideração de algumas simplificações nos modelos construídos, tais
como a não consideração das armaduras e apenas a situação de interação total, foi
possível descrever de maneira satisfatória o comportamento global da viga mista de
aço e concreto em situação de incêndio.
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- Por fim, com base nos procedimentos aqui adotados, se sugerem para continuidade
do presente trabalho: contribuição da armadura da laje, continuidade da laje e da
viga, abertura nas paredes, modelos numéricos com elementos somente do tipo casca,
interação parcial viga-laje, incêndio natural, viga biapoiada e análise experimental.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao CNPq, à Cosipa, ao CBCA, pelo apoio à pesquisa, e às Engas. Érika
Bastos e Tatiana Iamin Kotinda pela inestimável colaboração nas etapas iniciais do trabalho.
REFERÊNCIAS
[1] Regobello, R.; Munaiar Neto, J.; Silva, V.P. (2007) Análise termestrutural de vigas
biengastadas constituídas por perfis formados a frio em situação de incêndio (no
prelo). In: XXVIII CILAMCE - Congresso Ibero-latino Americano sobre Métodos
Computacionais em Engenharia, 13 a 15/06/2007, Porto, Portugal, 15p.
[2] ANSYS INC. Ansys Release 9.0 – Documentation, (2004).
[3] Associação ao Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14323 - Dimensionamento de
estruturas de aço de edifícios em situaçãao de incêndio. Rio de Janeiro (1999).
[4] European Committee for Standardization. Eurocode 3: Design of steel structures.
Part 1.2: General rules - Structural fire design. EN 1993-1-2, Brussels (2005).
[5] Associação ao Brasileira de Normas Téecnicas. NBR 6118 – Prometo de Estruturas
de Concreto – Procedimento, Rio de Janeiro (1999).
[6] European Committee for Standardization. Eurocode 2: Design of concrete structures.
Part 1: General rules General and rules for buildings, prEN 1992-1-1, Brussels
(2002).
[7] European Committee for Standardization. Eurocode 2: Design of concrete structures,
Part 1.2: General rules - Structural fire design, prEN 1992-1-2, Brussels (2002).
[8] American Institute of Steel Construction, ANSI/AISC 360-05 – Specification for
Structural Steel Buildings, Chicago (2005).
[9] Université de Liège, département M&S. Ozone V2.0. The design fire tool OZone V2.0
– Theoretical description and validation on experimental fire tests. Liège, 2001.
[10] Y. Anderberg, TCD 5.0 edition - User's Manual. Fire Safety Design, Lund (1997).
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