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A educação em direitos humanos: uma

abordagem a partir de Paulo Freire

Cledir Assísio Magri*

Resumo

Este estudo analisa a temática da -aprendizagem e a partir da realidade


educação em direitos humanos a par- do sujeito, leva refletir sobre a reali-
tir do pensamento de Paulo Freire. dade na qual o sujeito do processo
Todo o esforço está na busca de locali- está envolvido, buscando superar as
zar no construto teórico de Freire, em situações de violação de direitos hu-
especial na pedagogia do oprimido, manos. A educação problematizadora,
como este autor contribui para a cons- pelo seu caráter político, possibilita o
trução de uma cultura para os direitos compromisso com a prática dos direi-
humanos, partindo do pressuposto de tos humanos.
uma educação em direitos humanos.
Mesmo conscientes da complexidade Palavras-chave: Cultura para os di-
do tema, desafiamo-nos a elucidar um reitos humanos. Educação em direi-
conjunto de aspectos em vista de “res- tos humanos. Educação problemati-
ponder” a questão central desta pes- zadora. Paulo Freire.
quisa exposta na introdução. Acredi-
tamos que o resultado deste trabalho,
mesmo com suas limitações, poderá
contribuir para o fortalecimento da
construção de uma cultura para a vi-
vência dos direitos humanos, tendo
a educação papel primordial, sendo
essa libertadora e problematizado-
ra, como nos propõe Paulo Freire. A *
Mestre em Educação pela Universidade de
educação problematizadora proposta Passo Fundo e doutorando em Filosofia pela
Unisinos. E-mail: cledir@cresolcentral.com.br.
por Freire, a partir da sua metodolo-
gia, primando no processo de ensino-
Recebido:06/06/2012 – Aprovado:28/06/2012

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Considerações iniciais Paulo Freire? Todas essas questões liga-
das com o questionamento central desta
A educação em direitos humanos reflexão: quais os aspectos da concepção
surge dentro do contexto no qual se de- antropológica e pedagógica de Freire
batem a importância e a necessidade dialogam com os desafios discutidos hoje
de ampliar as reflexões relacionadas em direitos humanos? Estas são algu-
ao tema. Como a educação possui im- mas questões que orientarão a pesquisa
portância na formação das pessoas com em cada um dos seus desdobramentos.
grande potencial formativo, percebeu-se
que poderia ser um instrumento de difu-
são e construção de uma cultura voltada
Concepção de direito
para a vivência e as práticas dos direi- humano à educação e
tos humanos, buscando a construção de a educação em direitos
uma sociedade solidária e mais justa. humanos
Para tanto, é essencial um processo ge-
nuíno de mudanças sociais, globais, e Ao falarmos de direito humano
deve ser incluída nas atividades educa- ou de direitos humanos no intuito de
cionais e culturais da sociedade a temá- construir uma definição, caracteriza-
tica dos direitos humanos. -se como uma missão extremamente
A educação em direitos humanos é complexa, pois não temos somente uma
um dos grandes desafios para os espa- definição pronta e acabada acerca deste
ços de construção do conhecimento, pois tema, mas várias posições que dialogam
trata-se de um tema que, praticamente, a partir de diferentes concepções. Des-
não faz parte do debate nas escolas, bem sa forma, não pretendemos fazer uma
como fora delas, e quando o é, de modo longa reflexão para aprofundar a com-
geral, é feito de maneira superficial preensão de DH, mas localizar alguns
e descontextualizado, resultando em pontos que acreditamos ser importantes
compreensões distorcidas e equivocadas quando falamos do tema. Nesse mesmo
acerca do tema, sem falar da resistência sentido Carbonari destaca:
com a temática. Desse modo, a temáti- Direitos Humanos é um conceito polis-
ca central desta pesquisa versará sobre sêmico, controverso e estruturante. É
“Educação em direitos humanos: uma polissêmico, pois, por mais que tenha
abordagem a partir de Paulo Freire”. A gerado acordos e consensos (como na
partir dessa temática buscaremos com- Conferência de Viena), isto não lhe dá
preender como construir uma cultura de um sentido único. É controverso, pois
educação em direitos humanos? Como abre espaços de discussão e debate em
repensar a educação, seus princípios, geral polêmicos. É estruturante, pois
diz respeito a questões de fundo que
sua metodologia a partir dos direitos
tocam a vida de todos e de cada um
humanos tendo como referencial Paulo
(2007, p. 2).
Freire? Por que essa temática é impor-
tante para a educação? Qual é a cone- Sendo assim, compreender o con-
xão entre direitos humanos, educação e junto de elementos que constituem os

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DH necessariamente nos remete a um dos séculos centralemente por filósofos
contexto social. É importante destacar e juristas. Em 1945, os Estados tomam
que o contexto no qual estamos inseri- consciência das tragédias e atrocida-
dos é de uma sociedade que insiste em des vividas durante a Segunda Guerra
diminuir os direitos, em fazer entender Mundial, o que os levou a criar a Orga-
os direitos como serviços ou como bens nização das Nações Unidas em prol de
de consumo a partir de uma lógica mer- estabelecer e manter a paz no mundo.
cantil e capitalista que transforma tudo A ONU, que foi constituída em
em mercadorias visando fortalecer esse 1945 com objetivo de promover a paz
sistema. e a segurança em todo mundo, buscou
Os direitos humanos foram cons- por meio da Carta às Nações Unidas o
truídos com base na ideia de dignida- respeito e a observância dos direitos hu-
de da pessoa humana, ou seja, de que manos como uma obrigação da própria
todo o ser humano, independentemente ONU e dos Estados membros.
de qualquer condição pessoal, deve ser No dia 10 de dezembro de 1948 foi
igualmente reconhecido e respeitado, aprovada a Declaração Universal dos
não podendo ser tratado como instru- Direitos Humanos pelos países que fa-
mento, mas, sim, como fim de toda a or- ziam parte das Nações Unidas. Com a
ganização social e política na sociedade. essa declaração, os direitos humanos
No século XX tivemos duas gran- são compreendidos como indivisíveis e
des guerras mundiais, que deixaram imprescindíveis. Aqui, todos os direitos
“feridas políticas” e milhões de pessoas (civis, políticos, econômicos, sociais e
mortas. Assim, por esses dois grandes culturais) possuem o mesmo valor. Os
acontecimentos, o século XX ficou mar- direitos humanos são agora universais
cado como “o da violação dos direitos hu- e indispensáveis. Nesse momento o pro-
manos”. Foram dez anos (entre as duas blema não era mais a justificação, e sim
guerras) de violências e de mortes que a proteção que garantisse os direitos
levaram a que o mundo sentisse um for- humanos.
te impacto e buscasse construir alterna- O Pacto Internacional de Direitos
tivas para fazer frente a esse estado de Civis e Políticos (PIDCP) foi aprovado
extrema calamidade pública pelo efeito pela ONU em 1966 e entrou em vigor
desses fatos. Foi nesse contexto que se quando incorporaram as 35 ratifica-
lutou explicitamente pela efetivação dos ções exigidas. Esse pacto foi um avanço
direitos humanos. na construção dos direitos humanos,
Após essas duas devastadoras porque nele constam o direito à vida,
guerras, a maior parte das nações esta- à liberdade desde o nascimento até a
va consciente da necessidade de direitos morte. Já o Pacto Internacional de Di-
humanos que fossem concebidos como reitos Econômicos, Sociais e Culturais
universais, inalienáveis e indivisíveis. foi aprovado em 3 de janeiro de 1976,
Os direitos humanos são o resultado de também defende os direitos universais e
uma longa história, debatidos ao longo indivisíveis. Segundo Carbonari e Both,

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poderíamos dizer que os direitos Eco-
nômicos são os direitos a alimentar-se,
Direito humano à educação
ao trabalho, a moradia e os direitos A educação é um dos direitos hu-
trabalhistas; os Direitos Sociais, os manos. Está reconhecida no art. 26 da
relativos a segurança social; da famí- Declaração Universal dos Direitos Hu-
lia, da maternidade e da infância e do manos:
direito a saúde; e os Direitos Culturais
os relativos a educação, a participação 1. Toda pessoa tem direito à instrução.
da vida cultural e do progresso científi- A instrução será gratuita, pelo menos
co e o direito das minorias (2002, p. 2). nos graus elementares e fundamen-
tais. A instrução elementar será obri-
Outro passo fundamental que se
gatória. A instrução técnico-profissio-
deu na história para a construção dos nal será acessível a todos, bem como
direitos humanos foi a Conferência a instrução superior, esta baseada no
Mundial de Direitos Humanos reali- mérito.
zada em Viena, em 1993. Nessa con- 2. A instrução será orientada no senti-
ferência participaram mais de dez mil do do pleno desenvolvimento da perso-
mulheres e homens para discutir temas nalidade humana e do fortalecimento
globais que eram de interesse de toda do respeito pelos direitos humanos
a humanidade. Para compreender me- e pelas liberdades fundamentais. A
lhor, a declaração e o plano de ação de instrução promoverá a compreensão, a
Viena afirmam: tolerância e a amizade entre todas as
nações e grupos raciais ou religiosos,
Todos os direitos humanos são univer- e coadjuvará as atividades das Nações
sais, indivisíveis e inter-relacionados. Unidas em prol da manutenção da paz.
A comunidade internacional deve tra- 3. Os pais têm prioridade de direito
tar os direitos humanos globalmente na escolha do gênero de instrução que
de forma justa e eqüitativa, em pé de será ministrada aos seus filhos (2009,
igualdade e com a mesma ênfase. As
p. 13).
particularidades nacionais e regionais
devem ser levadas em consideração O direito humano à educação reco-
assim como os diversos contextos his- nhecido na declaração foi transformado
tóricos, culturais e religiosos, mas é em norma jurídica internacional, espe-
dever dos Estados promover e proteger
cialmente por meio do Pacto Internacio-
todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais, independente de seus
nal dos Direitos Econômicos, Sociais e
sistemas políticos, econômicos e cultu- Culturais (art. 13 e 14), da Convenção
rais (ALVES, 2006, p. 123). sobre os Direitos da Criança (art. 28 e
29) e do Protocolo Adicional à Conven-
No Brasil o marco da transição de-
ção Americana sobre Direitos Humanos
mocrática e da instrumentalização dos
em Matéria de Direitos Humanos Eco-
direitos humanos é a Constituição de
nômicos, Sociais e Culturais (art. 13).
1988. Essa carta incorporou os tratados
Cada país tem liberdade para defi-
internacionais de proteção de direitos
nir como oferecerá à população o acesso
humanos, atribuindo-lhes status dife-
à educação. Entretanto, a educação, em
renciado.
todas as suas formas e níveis, deve ser

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sempre: disponível, acessível, aceitável Educação em direitos
humanos
e adaptável. Vejamos o que cada uma
dessas características significa (2009,
p. 14): É importante destacar que a EDH,
a) disponibilidade – no que se re- que possui no centro despertar nas pes-
fere à disponibilidade, parte-se soas sobre seus direitos, é uma tarefa
da premissa de que a educação difícil e complexa. Tem-se tornado mais
seja gratuita e necessariamente fácil nos últimos anos graças ao endos-
precisa ser garantida a todo o so proclamado em vários instrumentos
ser humano; legais, globais e regionais produzidos
b) acessibilidade: além da dispo- desde que a Carta das Nações Unidas
nibilidade é necessário ter as de 1945 solicitou cooperação para pro-
condições para a acessibilidade, mover e estimular o respeito pelos direi-
pois nada adiantaria ter dispo- tos humanos e pelas liberdades funda-
nível sem as condições reais de mentais. Reiterada em Viena, em 1993,
acesso, ou seja, educação deve na Conferência Mundial das Nações
estar ao alcance de todas as Unidas sobre Direitos Humanos, essa
pessoas, independentemente de premissa “promoção e estímulo” resul-
sua condição econômica e social, tou em responsabilidades no âmbito do
portanto deve ser gratuita; Estado (educação formal) e em meio às
c) aceitabilidade: a partir da dis- instituições sociais, inclusive organiza-
ponibilidade e da acessibilidade ções não governamentais (educação não
é fundamental que haja a acei- formal) (2007, p. 23). Desse modo preci-
tabilidade na qual se garante a samos ter clareza que a EDH trata-se
qualidade da educação, relacio- de uma estratégia de longo prazo, obje-
nada aos programas de estudos, tivando atender na totalidade as neces-
aos métodos pedagógicos, à qua- sidades das novas gerações.
lificação do corpo docente; O preâmbulo da Declaração Uni-
d) adaptabilidade: requer que a versal dos Direitos Humanos de 1948
escola se adapte a seu grupo aponta para a necessidade de “empe-
de estudantes; que a educação nhar-se por meio do ensino e da edu-
corresponda à realidade ime- cação, em promover o respeito pelos di-
diata das pessoas, respeitando reitos e liberdade”. Com essa passagem
sua cultura, costumes, religião evidencia-se que a educação está identi-
e diferenças; assim como às ficada como um mecanismo fundamen-
realidades mundiais em rápida tal na promoção dos DH.
evolução. Na mesma lógica da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, o
Pacto Internacional dos Direitos Eco-
nômicos, Sociais e Culturais (1966) deu
expressiva ênfase para o tema da educa-

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ção. O art. 13, seção 1, do pacto aponta b) educação em direitos humanos:
que a “a educação deve ser direcionada nesse sentido compreendemos
para o pleno desenvolvimento da per- que os direitos humanos devem
sonalidade humana e para o senso de fazer parte do processo educativo
dignidade da própria pessoa”. Com isso das pessoas. Para defender seus
explicita-se que a educação promove direitos, todas as pessoas preci-
esse desenvolvimento da personalidade sam conhecê-los e saber como
humana e consequentemente todos os reivindicá-los na sua vida coti-
DH. O artigo aponta ainda que os Esta- diana. Além disso, a educação
dos participantes em direitos humanos promove o
[...] também concordem que a educa- respeito à diversidade (étnico-ra-
ção deve habilitar todas as pessoas a cial, religiosa, cultural, geracio-
participar efetivamente de uma socie- nal, territorial, físico-individual,
dade livre, promover a compreensão, a de gênero, de orientação sexual,
tolerância e a amizade entre todas as de nacionalidade, de opção políti-
nações e todos os grupos étnicos ou re- ca, dentre outras), a solidarieda-
ligiosos, e promover as atividades das de entre povos e nações e, como
Nações Unidas voltadas para a manu- consequência, o fortalecimento
tenção da paz (Declaração Universal da tolerância e da paz;
dos Direitos Humanos, Pacto Interna- c) educação para os direitos huma-
cional dos Direitos Econômicos, Sociais
nos: nesta dimensão apontamos
e Culturais, 1966, art. 13, seção 1).
para a necessidade de a educa-
No documento “Direitos humanos ção desenvolver nos educandos
à educação”, desenvolvido pela Plata- o compromisso de ações práticas
forma DhEsca Brasil (2009, p. 15), en- em vista da promoção, proteção
contramos algumas dimensões desse e garantia dos direitos humanos,
direito as quais chamam a atenção para ou seja, a educação despertando
como deve ser exercido, pois não há sen- nos educandos compromisso so-
tido em falar em educação se outros di- cial com essa causa e possam
reitos são violados na escola. traduzir tal compromisso em
a) Direito humano à educação: nes- ações práticas no seu cotidiano;
ta dimensão compreendemos d) direitos humanos na educação:
que o direito humano à educa- na dimensão que dialoga sobre
ção não se resume ao direito de os direitos humanos na educa-
ir à escola. A educação deve ter ção, expõe a tese de que a educa-
qualidade e capacidade de per- ção em si é um direito humano,
mitir o pleno desenvolvimento mas ao mesmo tempo possui ex-
do ser humano, respondendo aos pressiva contribuição para com
interesses de quem estuda, bem os demais direitos humanos.
como de toda a sociedade; Portanto, não se pode permitir
que escola em seus conteúdos e

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materiais didáticos reforce pre- viduais e sociais que gerem ações e
conceitos com algumas classes instrumentos em favor da promoção,
sociais; da proteção e da defesa dos direitos
e) educação com os direitos huma- humanos, bem como da reparação das
nos: essa dimensão seguramen- violações.
te seja a menos encontrada em O PNEDH apresenta concepções,
escritos sobre esta temática; princípios e ações programáticos para
entretanto, temos percebido em vários segmentos que dialogam e con-
muitos momentos que existe a tribuem com esse tema. Apresentam-
educação em e para os direitos -se proposições para a educação básica,
humanos, mas no processo de educação superior, educação não formal,
educação os princípios dos DHs educação dos profissionais do sistema de
acabam sendo deixados de lado justiça e segurança e educação média.
na medida em que se adota uma
educação reprodutora, trans- Concepção antropológica
missora de conhecimento, ne-
gando o potencial dos próprios
e de educação em Paulo
educandos. Freire: a busca de uma
No Plano Nacional de Educação em sustentabilidade pedagógica
Direitos Humanos de 2006 encontramos
que a educação em direitos humanos é
da EDH
compreendida como um processo siste- Para Freire, o ser humano é um
mático e multidimensional, orientando sujeito inacabado e histórico que se faz
a formação do sujeito de direitos, arti- nas relações. Encontra-se, assim, a ideia
culando as seguintes dimensões (BRA- de sustentação da educação. Quando
SIL, 2007, p. 17): afirmamos que o sujeito é um ser inaca-
bado, referimo-nos que há necessidade
a) apreensão de conhecimentos histori-
camente construídos sobre direitos hu- de educação e de liberdade. Depende da
manos e a sua relação com os contextos busca de ser mais, sendo que ele deve se
internacional, nacional e local; encontrar como sujeito de sua educação,
b) afirmação de valores, atitudes e prá- não podendo ser um objeto de manipula-
ticas sociais que expressem a cultura ção, dominação, opressão etc.
dos direitos humanos em todos os es- O fato de afirmarmos no ser huma-
paços da sociedade; no o seu “inacabamento” deixa a certeza
c) formação de uma consciência cidadã da necessidade de pressupostos que pos-
capaz de se fazer presente em níveis sam ajudar no processo de construção
cognitivo, social, ético e político; da humanização do sujeito, pois, segun-
d) desenvolvimento de processos meto- do Freire,
dológicos participativos e de constru-
ção coletiva, utilizando linguagens e aqui chegamos ao ponto de que talvez
materiais didáticos contextualizados; devêssemos ter percorrido. O do inaca-
e) fortalecimento de práticas indi- bamento do ser humano. Na verdade,

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o inacabamento do ser ou sua incon- A educação bancária possui como
clusão é próprio da experiência vital. bases de sustentação a relação vertical
Onde há vida, há inacabamento. Mas entre professor e aluno; uma relação
só entre mulheres e homens o inaca- com o mundo; se caracteriza por uma
bamento se tornou consciente (1996, ausência de diálogo desencadeando
p. 55).
numa reprodução da opressão, de viola-
A concepção antropológica de ção dos direitos humanos.
Freire não ignora a presença de tencio- Quando afirmamos que na educa-
namentos. Destacamos aqui a tensão ção bancária temos uma relação vertical
entre oprimidos e opressores. O ser hu- entre o professor e o aluno, ocorre que o
mano está no mundo e com o mundo, o professor possui a centralidade no pro-
que significa que ele é um ser relacional. cesso educacional, enquanto que o aluno
Dessas relações entre sujeitos, desen- é posto como uma vasilha vazia a espera
cadeiam-se dois conceitos importantes de ser preenchida pelos conhecimentos
para o pensamento de Freire: a huma- do professor. O professor assume na ín-
nização e a desumanização. Ambos, na tegra seu papel de narrador e os alunos,
história, são possibilidades. Contudo, de ouvintes. O professor posiciona-se
somente a humanização é vocação en- como aquele que sabe e olha para os
quanto horizonte que oriente a atitude alunos como os que nada sabem. Ele
humana na busca de ser mais, livre da assume uma posição autoritária diante
violência opressora que viola os direitos dos alunos. Aqui o educador educa sozi-
humanos. No entanto, a desumanização nho. Sendo assim, na educação bancária
é uma possibilidade que se tornou reali- existe pouco espaço para o diálogo e re-
dade histórica. flexão.
O processo de superação da opres- A tônica da educação é essa: nar-
são e da violação dos direitos humanos rar, sempre narrar. A narração conduz
deve nascer dos oprimidos, sendo esse os alunos a uma memorização mecânica
um parto doloroso, pelo qual o oprimi- dos conteúdos que são narrados. Frente
do que quiser se libertar terá de passar, a isso Freire escreve:
em vista de não ser mais nem oprimido, Na visão bancária da educação, o saber
nem opressor, mas um sujeito “livre”. é uma doação dos que se julgam sábios
Para isso acontecer, os oprimidos preci- aos que se julgam nada saber. Doação
sam se dar conta de sua realidade para, que se funda numa das manifestações
então, lutarem pela transformação da instrumentais da ideologia da opres-
opressão, da violação. Nesse cenário a são – a absolutização da ignorância,
educação possui um papel a cumprir. que constitui o que chamamos de alie-
Concepção pedagógica: no que se nação da ignorância, segundo o qual
refere a esta temática, abordaremos esta se encontra no outro (1977, p. 67).
basicamente dois aspectos centrais: a Esse modo de educação leva os alu-
noção de educação bancária e a noção de nos a uma relação com o mundo, de adap-
educação problematizadora. tação ao mundo, não interagindo com ele.

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Os alunos não se perguntam sobre a sua do, assim, na humanização, na possibi-
realidade, simplesmente a aceitam como lidade de ser mais, de serem livres.
ela é. O sujeito que possui seus direitos Temos uma educação imbricada
humanos violados não pergunta sobre com o mundo, com a realidade, com a
sua condição no mundo e a possibilidade sociedade em si. Trata-se de uma educa-
de situações diferentes desta que está vi- ção com fortes traços políticos e sociais.
vendo de violação dos DH. Aqui nos deparamos com uma situação
Essa forma de educação leva os alu- importante em Freire, pois, ao referir-se
nos a alienação, domestificação, tornan- à educação, afirma: “Se a educação man-
do-os extremamente passivos, imersos tém a sociedade é porque pode transfor-
numa neblina de dominação e de opres- mar aquilo que a mantém” (2001, p. 38).
são. Em suma, ao analisar a concepção
A educação problematizadora possui pedagógica de Freire, chegamos aos
como pressupostos aspectos totalmente elementos fundantes que norteiam as
contrários aos da educação bancária. Se duas posições. O diferencial da educa-
na anterior tínhamos uma relação verti- ção problematizadora é que o ponto de
cal entre professor e aluno, aqui temos partida no processo de ensino-aprendi-
um relação horizontal entre educador e zagem parte exatamente do “positivo”
educando. Referindo-se à diferença entre do educando, enquanto que a bancária
ambas, Freire, em sua obra Pedagogia parte do “negativo” do aluno. Por um
do oprimido, afirma: lado, temos a bancária preocupada em
Ao contrário da bancária, a educação passar para os alunos o que eles não
problematizadora responde a essência têm, não sabem; por outro, a proble-
do ser da consciência, que é sua inten- matizadora parte exatamente do lado
cionalidade, nega os comunicados e oposto, do conhecimento que o educando
exitencia à comunicação, baseada no já possui. A partir daí vai construindo o
diálogo (1977, p. 77). conhecimento em conjunto, educando e
educador. A educação problematizadora
O ponto de partida da educação
convoca, por um lado, à liberdade, ao
libertadora se caracteriza exatamente
compromisso, à construção de uma cul-
com essa dimensão da relação do ho-
tura dos direitos humanos.
mem com a realidade em que vive pelo
O objetivo último da educação é a
fato de que o processo educacional deve
liberdade, o desenvolvimento de uma
ser a partir da realidade dos educandos,
cultura dos direitos humanos. Para fa-
e não a partir das ideias do professor. O
zer com que a prática educacional se en-
mundo agora não é algo sobre o que me-
caminha para a prática da educação em
ramente se fala com falsas palavras, que
DH, precisamos compreender o homem
se tem noções de partes, mas é agora o
como sujeito, como um ser de relações
mundo mediador dos sujeitos no proces-
e que tem condições de viver a liberda-
so educacional. É a ação dos educandos
de, os DHs a partir dessas relações que
sobre o mundo que desencadeia a ação
mantém.
transformadora dos homens, resultan-

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Para Freire, os oprimidos devem será abordada a temática da metodolo-
estar conscientes de que precisam lutar gia para a educação em direitos huma-
pela sua libertação, pela garantia, pro- nos com foco na metodologia da práxis.
teção e promoção dos direitos humanos. Freire pretende construir a noção
Libertação que não receberão gratuita- de um sujeito livre, comprometido com
mente, nem lhes é dada pela liderança os direitos humanos, e para que isso se
revolucionária, mas que seja fruto de efetive, necessita-se da educação proble-
sua conscientização, de sua busca por matizadora. Diante dessa afirmação, a
meio da educação em DH. pergunta que surge é: como se faz para
Dessa forma, Freire afirma: “A li- poder chegar a este estado? Queremos
berdade é concebida como horizonte fi- agora demonstrar alguns aspectos do
nal do destino do homem, mas por isto método de Freire, que se caracterizam
mesmo só pode ter sentido na história basicamente em três momentos:
que os homens vivem” (1975, p. 7). 1) descoberta da realidade: apre-
senta-se eminentemente investigadora.
Educação crítico- Trata-se da delimitação da área em que
problematizadora: a se visa trabalhar; é o momento em que
o educador pergunta aos educandos: o
construção de uma cultura que conhecem? O que pensam?;
para vivência dos direitos 2) tematização: fase programática.
humanos Delimita-se o universo temático em ter-
mos de um programa de alfabetização;
Neste terceiro momento, conside- 3) problematização: fase eminen-
rando os conceitos relacionados aos di- temente pedagógica. Trata-se de pro-
reitos humanos voltados à educação e blematizar a realidade descoberta e
aos relacionados à pedagogia de Paulo tematizada. É lançar aos educandos a
Freire, pretendemos articular os temas seguinte pergunta: o que fazer diante
e desenvolver as principais contribui- dessa situação? Isso demonstra que no
ções do autor para o desenvolvimento método de Freire não basta tematizar, é
de uma educação voltada a uma cultura necessário problematizar, pois a proble-
dos direitos humanos, ou seja, o tema matização é o ponto-chave do processo
central será “Educação crítico-proble- de construção da libertação.
matizadora: a construção de uma cul- Esses três momentos estão extre-
tura para a vivência dos direitos huma- mamente imbricados na dimensão do
nos”. diálogo, pois este é o pressuposto funda-
No primeiro item abordaremos o mental de sustentação do método, bem
tema da educação em direitos humanos como de toda a educação problematiza-
em Freire, visando à formação cultural dora.
para os DHs. No segundo item aborda- Paulo Freire, pelo seu compromisso
remos a temática do diálogo como me- com a sociedade na qual todos os cida-
diador para a construção de uma cultu- dãos devem ser tratados de forma igua-
ra para os direitos humanos. No terceiro

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litária, partindo da premissa do respeito os seres humanos não podem, diante da
a dignidade humana, quando se propôs desumanização, da violação dos direitos
a construir uma educação problematiza- humanos, pensar que a realidade é as-
dora como forma de contrapor a educa- sim mesmo, e que nada adianta fazer a
ção bancária, expõe, de certa forma, seu não ser cruzar os braços e esperar (1996,
empenho na busca de garantir, proteger p. 75). Ao contrário, eles devem se en-
e promover os direitos humanos. raivecer, colocar-se numa posição críti-
Percorrendo todos os escritos de ca de não aceitação aos determinismos
Freire, são raras as passagens em que impostos pelos opressores, justamente
tratam de forma direta o tema dos di- por serem vocacionados, chamados a ser
reitos humanos. No entanto, indire- mais. Devem manifestar a sua rebeldia,
tamente o educador dialoga de forma a sua raiva, o seu anseio por mudança,
permanente com essa temática, quando por revolução e evolução, por se encon-
propõe a construção de uma sociedade trarem na condição de situação e não de
na qual todos tenham assegurado seu determinação, buscando a garantia, a
direito de ser mais, de dizer sua pala- promoção e a proteção dos direitos hu-
vra, de indignar-se diante da realidade manos.
injusta. A vocação em ser mais, segundo
Ao propor que a educação possui Freire, faz com que
papel primordial nesse processo de su- meu direito à raiva pressupõe que, na
perar a opressão, acreditamos que Frei- experiência histórica da qual participo,
re delega à educação a responsabilidade o amanhã não é algo pré-dado, mas um
em vista de contribuir para superar a desafio, um problema. A minha raiva,
violação dos direitos humanos, desper- minha justa ira, se funda na minha re-
tando a consciência de que todos somos volta em face da negação do direito de
sujeitos portadores de direitos que de- “ser mais” inscrito na natureza dos se-
vem ser assegurados, protegidos, garan- res humanos. Não posso, por isso, cru-
tidos, promovidos de forma permanente. zar os braços fatalistamente diante da
A preocupação constante com o ser miséria, esvaziando, desta maneira,
minha responsabilidade no discurso
humano, sua existência, possui na es-
cínico e “morno”, que fala da impossi-
sência de Paulo Freire os direitos huma-
bilidade de mudar porque a realidade
nos. O compromisso com essa temática é assim mesmo. O discurso da acomo-
pode ser percebido no seu engajamento dação ou de sua defesa, o discurso da
da luta pelos direitos humanos como exaltação do silêncio imposto de que
educador e como assessor da Rede Bra- resulta a imobilidade dos silenciados,
sileira de Educação em Direitos Huma- o discurso do elogio da adaptação to-
nos, onde desempenhou papel de suma mada como fado ou sina é um discurso
importância na construção de uma cul- negador da humanização de cuja res-
tura para os direitos humanos. ponsabilidade não podemos nos eximir
Para Freire, somos seres vocacio- (1996, p. 75-76).
nados, chamados a ser mais. Por isso,

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Salienta-se que o ser humano ao a que acrescenta ao ato de constatar,
ser mais não pode negar a sua respon- implicando no de conhecer, a tarefa de
sabilidade com a humanização, com a intervir sobre a realidade opressora”
garantia dos direitos humanos. E é isso (2000, p. 91), ou seja, diante da opres-
que o faz ser mais humano, que o faz são, violação dos direitos humanos, pre-
superar a distorção do ser menos com cisamos, além de conhecer a realidade,
o ser mais. Toda essa afirmação possui intervir sobre ela.
um conjunto de elementos relacionados Uma educação esperançosa que
aos direitos humanos, ao afirmar que acredita na possibilidade da mudança,
não podemos negar o direito a ser mais voltada para os direitos humanos, mos-
diante da opressão, da violação dos di- tra ao ser humano esperançoso a neces-
reitos humanos. sidade de superação dos obstáculos da
Segundo o pensamento freireano, violação dos direitos humanos e das li-
é possível e é preciso mudar a posição mitações fatalistas, apesar de serem em
determinista que torna o ser mais em grande número.
ser menos. É preciso que o ser humano
perceba a sua vocação para o ser mais Diálogo como mediador
e também perceba de forma crítica, não
fatalista, a sua situação concreta de
para a construção de uma
opressão, de violação dos direitos hu- cultura para os direitos
manos e, então, busque a mudança. Na humanos
rebeldia, na denúncia da situação de-
Para Freire, o diálogo como fenô-
sumanizadora que passa a ser postura
meno humano se revela pela palavra,
revolucionária é que se inicia o processo
palavra verdadeira, que é práxis, que
de mudança do mundo, da história, da
transforma o mundo (1977, p. 91). Os
cultura, enfim, a transformação do ser
homens e as mulheres se fazem huma-
menos em ser mais, com a afirmação do
nos no diálogo, na palavra. Além disso,
sujeito como humano (1996, p. 78-79).
denunciam a realidade opressora, viola-
A educação ajuda o ser humano a
dora de direitos e anunciam a mudança.
intervir no mundo, além de ajudá-lo a
“Existir, humanamente, é pronunciar o
conhecer o mundo e a comunicar este co-
mundo, é modificá-lo. O mundo pronun-
nhecido. É nessa intervenção no mundo
ciado, por sua vez, se volta problemati-
que deve nos levar ao compromisso com
zado aos sujeitos pronunciantes, a exi-
os direitos humanos. Na sua condição
gir deles novo pronunciar” (1977, p. 92).
de sujeito, o ser humano como portador
Diálogo como encontro de humanos para
de direitos pode construir o saber do
pronunciar o mundo, o que leva o diá-
mundo, sobre ele e com ele, trocando a
logo a não se esgotar na relação eu-tu,
experiência desse saber com os outros
mostrando-se como um ato de criação.
humanos. Conforme Freire, “saliente-se
Como encontro dos humanos no e
a importância da criticidade em face da
com o mundo, o diálogo não é um idea-
vocação inserida na natureza humana
lismo subjetivista, nem um objetivismo,

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mas é a essência da práxis revolucioná- destruídos” (SIMÕES, 1981, p. 27). Esse
ria, fundamental ao processo constante reconhecimento é despertado pelo mé-
de libertação, de vivência dos direitos todo libertador, no qual os oprimidos
humanos. Para Freire, percebem como estão sendo menos e que
o diálogo com as massas não é conces- devem lutar para ser mais, mais gente,
são, nem presente, nem muito menos mais humanos. Sendo assim,
uma tática a ser usada, como a sloga- para Freire este (método) é o único
nização o é, para dominar. O diálogo capaz de oferecer as pistas para uma
como encontro dos homens para a válida libertação, porque leva os opri-
“pronúncia” do mundo, é uma condição midos a uma postura crítica diante da
fundamental para a sua real humani- realidade na qual estão imersos, no
zação (1977, p. 160). seu tempo e no seu espaço. Trata-se
de um método que leva os oprimidos
ao conhecimento da própria situação,
Método pedagógico de à tomada de consciência do que estão
Freire como mediação para sendo e do que deverão ser e, assim,
realizarem aquela ação para a supe-
a vivência dos direitos ração da opressão na qual se acham
humanos envolvidos. Como vemos este método
pedagógico libertador parte, pois, do
Os autores que escrevem sobre mesmo oprimido, da realidade na qual
a questão do método em Paulo Freire, e com a qual eles se encontram, levan-
dividem-no em etapas ou em momen- do-os a uma mudança de atitudes pela
conscientização da própria situação,
tos. Contudo, parece-nos que o método
conscientização esta que é o aprofun-
freireano, de modo geral, pode ser com- damento da consciência crítica, “cri-
preendido a partir de três fases funda- ticidade indispensável para qualquer
mentais: a descoberta da realidade, a democratização”, apenas reflexiva; ela
tematização e a problematização. Vere- é, ao mesmo tempo em que reflexão,
mos como se constituem cada uma des- ação, ação para superar a realidade
sas fases. e, no caso, a realidade opressora. Em
O método de Freire tem nos opri- última análise a consciência crítica é
um apelo à ação. E, por isto, o mode-
midos os principais sujeitos da própria
lo educativo libertador proposto por
libertação, superação da violação dos di- Freire é, eminentemente, uma crítica
reitos humanos. Assim, a luta é, em pri- a ser realizada pelos oprimidos para a
meiro lugar, deles. Os oprimidos não po- superação das causas da opressão (SI-
dem comparecer à luta como coisas para MÕES, 1981, p. 28).
depois serem gente. Devem reconhecer
que são seres humanos destruídos, rou- Considerações finais
bados na sua dignidade. Somente assim
A educação visa à libertação, à
serão capazes de se libertar como pes-
transformação radical da realidade,
soas. Assim, para Freire, segundo Si-
visa melhorá-la, torná-la mais humana,
mões “a luta por esta reconstrução come-
justa e igualitária, dando possibilidades
ça no autorreconhecimento de homens

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para que os homens e as mulheres sejam caracteriza pelo encontro de sujeitos que
reconhecidos como sujeitos de sua histó- refletem sobre a realidade, a fim de en-
ria, reconhecidos como autores e cons- contrarem alternativas para a supera-
trutores de sua liberdade, portadores de ção da opressão, da violação dos direitos
direitos e não meros objetos de mano- humanos para viverem a liberdade, os
bra. Porém, ressaltamos que nem toda direitos humanos. Dessa busca, resulta
a educação visa a isso, pois, como vimos, um processo de mudança na educação li-
a educação bancária visa à opressão, ou bertadora. O educador assume uma ati-
seja, a educação pode libertar como pode tude objetivando educar para a liberdade
levar à opressão, à violação dos direitos e para a vivência em direitos humanos.
humanos. Trata-se do educador assumir uma posi-
Nosso esforço cognitivo e epistemo- ção humilde, daquele que comunica um
lógico durante toda a reflexão foi buscar saber relativo para outros portadores
identificar aspectos da educação em di- de saberes relativos. Conforme Freire, o
reitos humanos, tendo como referencial processo de liberdade é “saber conhecer
teórico Paulo Freire. O desafio perma- quando os educandos sabem mais [...] e
nente foi de compreender como construir fazer com que eles também saibam com
uma cultura de educação em direitos hu- os humildes” (1979, p. 13).
manos a partir do construto teórico de Nessa ótica, afirmamos que o ser
Freire? Como repensar a educação, seus humano enche de cultura os espaços
princípios, sua metodologia a partir dos geográficos, transformando com a ação
direitos humanos em Paulo Freire? Por intersubjetiva o meio no qual está inse-
que a temática dos direitos humanos é rido. Ele se integra e não se acomoda.
importante para a educação? Qual a co- Traz consigo uma adaptação ativa, tem a
nexão entre direitos humanos, educação capacidade de se desenvolver, de buscar
e Paulo Freire? Todas essas questões um estado de liberdade. Nesse percurso
estão ligadas ao questionamento cen- de transformação, encontramos a edu-
tral desta reflexão: quais os aspectos da cação como grande força que impulsiona
concepção antropológica e pedagógica de o ser humano buscar e descobrir-se. Na
Freire dialogam com os desafios discuti- medida em que faz com que o homem se
dos hoje em direitos humanos? Nosso autodescubra, ele vai se libertando das
esforço foi permanente no intuito de, se prisões que o amarram. Dessa forma,
não de responder a todas as questões, podemos constatar que o homem aban-
elencar um conjunto de argumentos que dona a consciência ingênua e se educa
apontam para as possibilidades existen- para a consciência crítica. Nesse senti-
tes nesse campo, pois temos clareza de do, o ser humano desenvolve o processo
que são questionamentos amplos e com- de liberdade, de construção da cultura
plexos que continuaram sendo tema de para os direitos humanos, baseando-se
nossas pesquisas futuras. nos seguintes princípios:
Como vimos, toda a educação de-
pende da busca constante do ser, que se

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a) analisa com profundidade os proble- busca praticar a libertação vivendo os
mas do dia a dia. Não se satisfaz com direitos humanos.
as aparências que lhe são mostradas; Na concepção de Freire:
b) reconhece que a realidade é mu-
tável, que não é algo dado e acabado, A ação política junto aos oprimidos tem
mas é suscetível de mudanças, trans- de ser, no fundo “ação cultural” para
formações, etc. a liberdade, por isto mesmo ação com
c) substitui situações ou explicações eles. A sua dependência emocional,
mágicas por princípios autênticos de fruto da situação concreta de domina-
causalidade; ção em que se acham e que gera tam-
d) procura verificar ou testar as des- bém a sua visão inautêntica do mun-
cobertas; está sempre disposto a rever do, não pode ser aproveitada a não ser
suas ações; pelo opressor. Este é que se serve desta
e) faz, ao deparar-se com um fato, o dependência para criar mais depen-
possível para se livrar dos preconcei- dência. A ação libertadora, pelo con-
tos. Ama o diálogo, nutre-se dele; trário reconhecendo esta dependência
f) possui grande abertura ao novo, dos oprimidos como ponto vulnerável,
sem ser arrogante ao velho por ser ve- deve tentar através da reflexão e da
lho; ação transformá-la em independência
g) ama a justiça e a pratica; [...]. Não podemos esquecer que a liber-
h) luta por um ideal de vida e é coeren- tação dos oprimidos é libertação de ho-
te a ele (FREIRE, 1981, p. 40). mens e não das coisas. Por isto, se não
é auto-libertação ninguém se liberta
Esses são alguns princípios funda- sozinho, também não é libertação de
mentais para o processo de “formação” uns feita por outros (1977, p. 58).
da cultura para a vivência dos direitos
Precisamos ter clareza de que os
humanos. São elementos importantes e
oprimidos devem estar conscientes de
indispensáveis que se bem observados e
lutar pela sua libertação, que não a re-
levados a cabo, com certeza, a vivência
ceberão gratuitamente nem lhes é dada
dos direitos humanos não será mera-
pela liderança revolucionária, mas que
mente utópica ou inatingível, mas será
seja fruto de sua conscientização, de
uma realidade concreta para os sujeitos
sua busca. Fruto de sua consciência que
que a buscam com esses meios. Tais
é necessário lutar pela liberdade, pela
princípios são alcançados com base em
libertação de todos, caso contrário con-
uma educação problematizadora que
tinuarão imersos na sua própria opres-
leve os sujeitos à autorreflexão de sua
são, sem condições de saírem dela.
realidade concreta, a partir de seu esta-
Na Pedagogia da indignação: car-
do de vida tendo no diálogo sua grande
tas pedagógicas e outros escritos, como
ferramenta.
exemplo de transformação da realidade
A educação deve ser um processo
opressora, tem-se o próprio povo brasi-
democrático e popular de aprendiza-
leiro e latino-americano, que aos poucos
gem. Uma educação que incentive, es-
foi lutando e dizendo não à dominação
timule, promova, estabeleça relações e
do colonialismo, à exploração de um Es-

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tado sobre o outro, à escravidão, à su- um direito, possui o importante papel de
perioridade de um sexo sobre o outro, à educar em DH à medida que a compre-
repressão de uma classe sobre a outra, endamos como ação humana, a partir
à ditadura, à invasão cultural, a viola- dos princípios da justiça, dialógicos, es-
ção dos direitos humanos, entre outros tabelecendo relações de horizontalidade
(2000, p. 74-75). Nota-se que aos poucos dos envolvidos no processo.
os frágeis foram e vão vencendo as suas Segundo Freire,
fraquezas na luta pela constante liber- a educação para os DH, na perspec-
tação, mostrando que são capazes de de- tiva da justiça, é exatamente aquela
cidir, de optar, de mudar e de melhorar educação que desperta os dominados
o mundo. para a necessidade da “briga”, da orga-
Desse modo, os princípios que re- nização, da mobilização crítica, justa,
gem de modo geral a educação em DH democrática, séria, rigorosa, discipli-
na perspectiva de Freire segundo Can- nada, sem manipulações, com vistas à
dau (2000, p. 77) são: reinvenção do mundo, à reinvenção do
poder (FREIRE, 2001, p. 99).
a) Compromisso com a vigência dos
DH visando à construção da cidadania, O importante é “não cair, de um
da paz e da justiça; lado, na ingenuidade de uma educação
b) Compromisso com a educação em toda-poderosa; de outro, noutra a inge-
DH como meio para a transformação nuidade, que é a de negar a potencia-
social, a construção da cidadania e a lidade da educação”, (FREIRE, 2001,
realização integral das pessoas e dos p. 100). Essa compreensão é fundamen-
povos; tal para não atribuirmos à educação
c) Afirmação da dignidade de toda
responsabilidades que não lhe dizem
pessoa humana, grupo social e cultura;
respeito, no sentido de colocá-la como
d) Respeito à pluralidade e à diversi-
dade. “resolução de todos os problemas da
humanidade”, mas atrelar a ela as suas
Temos os quatro grandes princípios responsabilidades no sentido da forma-
que orientam a educação em DH na ção humana nos seus distintos aspectos
perspectiva de Freire. Entretanto, ao e de forma integral. Dessa forma,
apontarmos estes, não significa negar a
a educação em DH, que defendemos,
existência de outros, apenas pelo fato de
é esta, de uma sociedade menos injus-
os consideramos como principais.
ta para, aos poucos, ficar mais justa.
Partindo da premissa de a educação Uma sociedade reiventando-se sempre
ser uma ação humana, uma ação liber- com uma nova compreensão do poder,
tadora e transformadora da realidade passando por uma nova compreensão
opressora, temos nela um instrumento da produção. Uma sociedade que a
fundamental no sentido de refletir sobre gente tenha gosto de viver, de sonhar,
os DHs. Primeiramente destaca-se que de namorar, de amar, de querer bem.
a educação é um direito humano da qual Esta tem que ser uma educação corajo-
todos têm direito, porém, além de ser sa, curiosa, despertadora de curiosida-
de (FREIRE, 2001, p. 101).

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O que apontamos é uma educação possa sentir-se um sujeito de direitos
para a liberdade ligada aos DHs que humanos. Um método que não anula
primam centralmente pela ação dos nem nega a história do educando; parte
sujeitos do processo, e estes possam exatamente dela. Por isso, a necessida-
defender, primeiramente, seus direitos de de utilizar nos círculos de cultura
e ajudar na defesa dos que ainda não temas geradores que condizem com a
possuem as competências para tal, mas realidade dos educandos.
que a partir da educação incorporem Outro fator indispensável na edu-
instrumentos e mecanismos para sua cação em DHs é o diálogo entre edu-
vida, para suas ações. cador e educando. O diálogo deve ser
Paulo Freire valoriza os DHs quan- autêntico e fundamentado no amor. Se-
do, por exemplo, fala que a sua justa ira gundo Freire, sem diálogo é impossível
fundamenta-se na “negação do direito haver educação, pois não haverá comu-
de ser mais inscrito na natureza dos nicação entre eles nem a compreensão
seres humanos” (FREIRE, 2000, p. 79). dos temas em debate.
Ele também nos leva a denunciar a im- A educação libertadora proposta
punidade, a negar qualquer tipo de vio- por Paulo Freire leva em conta alguns
lência, a colocarmos “contra a mentira aspectos importantes para o melhor an-
e o desrespeito à coisa pública” (p. 61), damento do processo educacional, como,
ou contra a falta de escola, casa, teto, por exemplo, a necessidade básica de
terra, hospitais, transporte, segurança conhecer a realidade dos educandos.
ou, ainda, contra a falta de esperança Urge ao educador no processo de edu-
da ideologia neoliberal e da insensatez cação auxiliar o sujeito a soltar-se das
dos poderosos, que tentam a todo custo, amarras da opressão e, assim, voltar a
todos os dias, em todos os espaços da so- fazer parte da sociedade como um sujei-
ciedade, neutralizar a miséria, a pobre- to consciente de seus direitos e de sua
za e, disfarçadamente, impedir importância no seu meio social.
a briga em favor dos DH, onde quer O educador é aquele que quer
que ela se trave. Do direito de ir e vir, aprender ensinando. É um insaciável
do direito de comer, de vestir, de dizer conhecedor. Sendo o ser humano um
a palavra, de amar, de escolher, de es- ser em potencial, isso quer dizer que ele
tudar, de trabalhar. Do direito de crer nunca conhecerá tudo. Jamais obterá
e de não crer, do direito à segurança e total conhecimento sobre um determi-
à paz (p. 130). nado assunto. Na educação acontece o
Paulo Freire propõe uma pedago- mesmo, o educador é aquele que ajuda
gia não só de ensino e aprendizagem, a aflorar o conhecimento no educando.
mas uma educação que auxilie o sujeito Podemos perceber que a educação
a construir possibilidades de ser livre e deve levar o sujeito a um compromisso
a ter capacidade de exercer a liberdade, com a transformação social, com os DHs,
ou seja, o processo de ensino-aprendiza- ou seja, ao adotar o método freireano, o
gem e vice-versa em que o ser humano sujeito deve estar consciente e objeti-
vado a mudar e romper com o sistema

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que oprime. Nesta concepção de sujeito pertar nas pessoas que são portadores
comprometido entra a questão política, de direitos e, na medida que esses lhes
pelo fato de que não temos como des- forem negados, poderem construir al-
vincular a educação da política, as duas ternativas que possam ajudar na busca
têm como principal objetivo o bem-estar por seus direitos. Estamos, com isso,
do sujeito. Vemos aqui que a educação afirmando que a educação deve desper-
tem a finalidade de ir além do simples tar nos sujeitos atitudes e competências
fato de ensinar a ler e a escrever, deve em vista de possuírem os instrumentos
levar ao comprometimento concreto. Se e mecanismos da garantia, proteção e
o sujeito comprometido tem a finalidade promoção dos DHs.
de agir em vista de uma mudança so-
cial, portanto ligada à política, deve se
lembrar que este agir do sujeito deve ser Education in human rights:
um agir ético, um compromisso ético e an approach following from
moral voltado para o bem comum de to- Paulo Freire
dos e não só para o seu bem estar, visan-
do à promoção, proteção e garantia dos
DH. E assim, o educando vai se fazendo Abstract
sujeito de si e de suas ações no mundo.
This study examines the issue of
Portanto, pensar a educação em
Human Rights Education from the
diretos humanos a partir de Paulo Frei- thought of Paulo Freire. Every effort
re é partir do aspecto do inacabamento is seeking to locate in the theoretical
do ser humano, na sua busca pelo ser construct of Freire, Pedagogy of the
mais, tendo a educação problematizado- Oppressed in particular as this au-
ra como instrumento importante para thor contributes to building a culture
a superação da opressão, da violação for Human Rights, on the assumption
dos direitos humanos, originando o ser of an education in Human Rights.
menos. Para isso, a formação, a capaci- While aware of the complexity of the
tação dos educadores para que possam issue, challenging ourselves to eluci-
assumir esse compromisso com os di- date a number of aspects in order to
“respond” the central question this
reitos humanos é de suma importância,
research set out in the introduction.
pois, se estes não tiverem essa postura,
We believe that the outcome of this
esse compromisso, teremos dificuldades work, even with its limitations may
de construir uma sociedade onde os di- help in strengthening the building of
reitos humanos sejam promovidos, pro- a culture to the experience of Human
tegidos e garantidos. Rights, and the vital role education,
Sendo assim, a educação, nesse she being liberating, problematical as
sentido, deve levar os sujeitos envol- the proposed Paulo Freire. Problem-
vidos no processo a uma ação que vise posing education proposed by Freire
transformar a realidade que os oprime, from excelling in their methodology
que os domina. A educação precisa des- of teaching-learning process from the
reality of the subject can reflect on

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