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AO JUÍZO DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL DA COMARCA DE

TEÓFILO OTÔNI DO ESTADO DE MINAS GERAIS

PROCESSO Nº: 5001452-13.2020.8.13.0392

ELZA TORRES DE SANTANA BARBOSA vem apresentar


CONTRARRAZÕES DO RECURSO INOMINADO interposto, requerendo remessa
dos autos à Egrégia Turma Recursal para manutenção da respeitável sentença recorrida.

Pede deferimento.

TEÓFILO OTÔNI, 01 de dezembro de 2021.

LUIZ FREDERICO PAULINO CUNHA DO NASCIMENTO

OAB/MG 183.180
À COLENDATURMA RECURSAL

RAZÕES DO RECURSO

Eméritos Magistrados,

Merece ser mantida integralmente a respeitável sentença recorrida em razão da


correta apreciação das questões de fato e de direito, conforme restará demonstrado ao
final.

DAS RENOVAÇÕES SUCESSIVAS E INOBSERVÂNCIA DE PRINCÍPIOS


CONSTITUCIONAIS – NULIDADE CONTRATUAL

Inicialmente, elucida-se, ainda que seja cogitada uma possível distinção da


natureza jurídica da relação existente entre as partes que integram o presente processo e
as partes que figuraram no paradigma RE 596.478-RR, o direito requerido na inicial é
oriundo da aplicabilidade da própria Lei e que o paradigma constitui apenas um suporte
jurídico da abrangência da norma Art. 19-A da Lei 8.036/90.

Ressalta-se que as contratações temporárias, que são autorizadas em casos de


excepcional interesse público, renovadas sucessivamente, caracterizam a nulidade dos
contratos de acordo com a Constituição Federal:

Art. 37. § 2º A não observância do disposto nos incisos II e III implicará a nulidade do
ato e a punição da autoridade responsável, nos termos da lei.

Em que pese os atos administrativos gozarem de presunção de legalidade, esta é


relativa. A nulidade contratual é medida que se impõe ante a visível violação ao Princípio
da Inafastabilidade de Concurso Público.

A exceção do concurso público é admissível desde que presentes,


concomitantemente, três requisitos, quais sejam: excepcional interesse público,
temporariedade da contratação e hipóteses expressamente previstas em lei.

Salienta-se que no caso dos autos houve sucessivas renovações contratuais,


maculando assim o requisito de temporariedade da contratação e por consequência a
legalidade da contratação, eis que evidente a necessidade perene da Administração, que
deveria ser suprida a por meio de provimento de cargo efetivo após a realização do
concurso público.
A renovação sucessiva dos contratos viola também a lei nº 18.185/09, que institui
o regime jurídico único do servidor público civil do Estado de Minas Gerais e assim
prevê:

Art. 4º As contratações de que trata esta Lei serão feitas com a observância dos seguintes
prazos máximos:

(...)

IV - três anos, no caso do inciso V do caput do art. 2º, nas áreas de segurança
pública, defesa social, vigilância e meio ambiente.

§ 1º É admitida a prorrogação dos contratos:

(...)

III - no caso do inciso V do caput do art. 2º, por até um ano nas áreas de saúde e educação
e por até três anos nas áreas de segurança pública, defesa social, vigilância e meio
ambiente; e IV - no caso do inciso VI do caput do art. 2º, desde que o prazo total não
exceda três anos.

Evidenciada a nulidade dos contratos, ante a violação da Constituição


Federal e da Lei Estadual 18.185/09, em virtude da contratação da parte Recorrida
por período elevado, imperiosa a determinação do direito à percepção do FGTS.

A circunstância supracitada ofende também o Princípio da Razoabilidade, ora,


não é razoável que a necessidade temporária do ente público perdure por tanto tempo.

Neste diapasão, ressalta-se que a contratação efetuada pela parte Requerente viola,
nitidamente, o Princípio da Motivação dos atos administrativos vez que a Administração
Pública sequer cuidou de fundamentar a contratação da parte Recorrida e muito menos as
renovações vindouras, se limitando a aplicar a Lei e sua prorrogação, contudo, sem ao
menos justificar, por meio de decisões a utilização dos dispositivos legais da Lei
18.185/09.

Logo, mesmo que levássemos em consideração todas as hipóteses elencadas na


Lei 18.185/09, bem como as respectivas hipóteses de renovações, o período de
contratação da parte Recorrida extrapola, e muito, o permitido pela legislação.

Insta salientar que a inobservância do Princípio da Motivação também acarreta a


nulidade contratual, é o que preconiza Diogenes Gasparine:

A motivação é necessária para todo e qualquer ato administrativo, pois a falta de


motivação ou indicação de motivos falsos ou incoerentes torna o ato nulo devido a
Lei n.º 9.784/99, em seu art. 50, prevê a necessidade de motivação dos atos
administrativos sem fazer distinção entre atos vinculados e os discricionários, embora
mencione nos vários incisos desse dispositivo quando a motivação é exigida.? (Gasparini,
Diogenes. Direito Administrativo – 10. ed. rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2005. p. 23)
(grifamos)

Não pode o judiciário permitir que o ente público fracione a legislação de acordo
com a sua conveniência, corroborando com a ilegalidade, em outras palavras, não se pode
permitir que a Administração utilize-se da Lei 18.185/09 para justificar a ausência de
direito à percepção de FGTS e ignorá-la no que tange a limitação do tempo de
contratação.

Nota- se ainda que a relação existente entre as partes Recorrente e Recorrida


constitui violação ao art. 10 da referida lei, que assim dispõe:

Art. 10. É vedado ao pessoal contratado nos termos desta Lei:

I - receber atribuições, funções ou encargos não previstos no respectivo contrato;

II - ser nomeado ou designado, ainda que a título precário ou em substituição, para o


exercício de cargo em comissão ou função de confiança; e

III - ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes de decorridos vinte
e quatro meses do encerramento de seu contrato anterior, salvo na hipótese prevista
no inciso I do caput do art. 2º, mediante prévia autorização e com amparo de dotação
orçamentária específica, nos termos do art. 5º.

Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo importará na rescisão do


contrato, sem prejuízo da responsabilização administrativa das autoridades envolvidas.

Neste contexto, ressalta-se que não merece prosperar a alegação da parte


Recorrente de que a contratação foi feita anterior a vigência da Lei 18.185/09 bem como
a alegação de que o período de cada contrato se limitou a 6(seis) meses, vez que os
documentos acostados aos autos comprovam o contrário, sendo que o número da referida
Lei está esculpido no próprio instrumento contratual como embasamento da contratação.

O direito à percepção do FGTS, nos contratos temporários renovados


sucessivamente é abarcado pela jurisprudência, nos seguintes termos:

APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO - CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA -


PRORROGAÇÕES SUCESSIVAS - DESRESPEITO AO PRAZO FIXADO NA LEI Nº
2.607/00 - NULIDADE CONFIGURADA NOS TERMOS DO ART. 37,§ 2º DA CF/88
- DIREITO À PERCEPÇÃO DE FGTS - PRESCRIÇÃO QUINQUENAL - SÚMULA
Nº 85/STJ - POSSIBILIDADE DE PAGAMENTO POR EQUIPARAÇÃO A
TRABALHADOR - INCIDÊNCIA DO ART. 19-A, DA LEI 8.036/90 - PRECEDENTES
DO STJ E STF - RECURSOS CONHECIDOS E DESPROVIDOS - SENTENÇA
MANTIDA. - O STJ, em acórdão lavrado sob o rito do art. 543-C do Código de Processo
Civil (REsp 1.110848/RN), firmou entendimento segundo o qual a declaração de nulidade
do contrato de trabalho, em razão da ocupação de cargo público sem a necessária
aprovação em prévio concurso público, equipara-se à ocorrência de culpa recíproca,
gerando para o trabalhador o direito ao levantamento das quantias depositadas na
sua conta vinculada ao FGTS. - Segundo recente entendimento do STJ "é devido o
depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo contrato de trabalho seja
declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, § 2º, da Constituição Federal,
quando mantido o direito ao salário" (art. 19-A da Lei 8.036/90 incluído pela Medida
Provisória 2.164-41/2001). "(AgRg no AgRg no REsp 1291647/ES, Rel. Min. MAURO
CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/5/2013, DJe 22/5/2013).
- Relativamente ao prazo prescricional para a cobrança do FGTS, aplicável a Súmula 85
do STJ. - Recursos conhecidos e desprovidos.(TJ-AM - APL: 02290522320108040001
AM 0229052-23.2010.8.04.0001, Relator: Lafayette Carneiro Vieira Júnior, Data de
Julgamento: 26/10/2015, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: 04/11/2015).
(grifamos)

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal reafirmou o entendimento de que o


direito a percepção de FGTS é extensível aos contratados temporariamente cujos
contratos tenham sido declarados nulos:

EMENTA Agravo regimental no recurso extraordinário. Direito Administrativo.


Contratação temporária. Descaracterização. Prorrogações sucessivas. Direito ao
recebimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Repercussão geral
reconhecida. Precedentes. 1. O Plenário da Corte, no exame do RE nº 596.478/RR-RG,
Relator para o acórdão o Ministro Dias Toffoli, concluiu que, mesmo quando
reconhecida a nulidade da contratação do empregado público, nos termos do art.
37, § 2º, da Constituição Federal, subsiste o direito do trabalhador ao depósito do
FGTS quando reconhecido ser devido o salário pelos serviços prestados. 2. Essa
orientação se aplica também aos contratos temporários declarados nulos, consoante
entendimento de ambas as Turmas. 3. A jurisprudência da Corte é no sentido de que é
devida a extensão dos diretos sociais previstos no art. 7º da Constituição Federal a
servidor contratado temporariamente, nos moldes do art. 37, inciso IX, da referida Carta
da República, notadamente quando o contrato é sucessivamente renovado. 4. Agravo
regimental não provido. (RE 902664 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Segunda
Turma, julgado em 22/09/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-224 DIVULG 10-11-
2015 PUBLIC 11-11-2015). (grifos nossos)

Assevera-se que o direito da parte Recorrida não decorre de uma interpretação


extensível da lei, mas da simples aplicabilidade stricto sensu do art. 19-A da Lei 8.036/90,
que é claro ao contemplar a matéria.

DO DIREITO AO FGTS – A POSIÇÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Inicialmente é fundamental ressaltar três pontos:


1. O STF já analisou a questão aqui tratada por duas vezes; a primeira no Recurso
Extraordinário n. 596.478-RR e a segunda na Ação Direta de Inconstitucionalidade
n. 3.127-DF, onde dezessete Estados brasileiros e o Distrito Federal foram
derrotados. A ADI 3.127-DF teve escopo mais amplo que o RE n.596.478-RR e
definitivamente esclareceu a questão.

2. A situação fática da servidora Maria Ivineide Sousa Lima, do RE 596.478-


RR, foi exatamente igual a dos presentes autos. Importante frisar que ela nunca foi
contratada pelo Estado de Roraima sob o regime da CLT. Ela foi contratada em sucessivos
contratos temporários firmados entre ela e o Estado de Roraima. A servidora
paradigma, autora da ação que originou o RE 596.478-RR, jamais, repita-se, jamais
foi empregada do Estado de Roraima; ela foi apenas, por diversas vezes, contratada
temporariamente pela Administração Pública de Roraima – exatamente igual aos
servidores do Estado de Minas Gerais. Aqui não existe a configuração
do distinguishing entre a parte Recorrente e a servidora de Roraima, muito pelo
contrário, o que existe é igualdade fática do caso aqui analisado e do que foi julgado pelo
STF, como já dito.

3. O julgamento da ADI 3.127-DF foi taxativo no interesse aqui defendido; o STF


entendeu que o FGTS é sim devido em situações como a da parte Recorrente. Vejamos o
que disse o relator da ADI, Ministro Teori Zavaski:

?3.1 Essas e outras angulações da controvérsia em exame foram examinadas pelo


Tribunal no julgamento do RE 596.478, DJe de 1/3/2013, apreciado sob as balizas da
repercussão geral. Na ocasião, a Corte alterou sua compreensão anterior sobre a matéria,
para asseverar que a nulidade do contrato de trabalho dos empregados admitidos de modo
impróprio não impede o reconhecimento do direito ao depósito e levantamento do FGTS
pelos trabalhadores. Essa orientação abona o juízo de constitucionalidade da norma aqui
atacada.

4. A causa de pedir da presente ADI, contudo, vai um pouco mais além daquela que restou
enfrentada pelo Plenário no precedente antes referido, uma vez que o requerente invocou
outros parâmetros de controle que ficaram de fora da deliberação anterior. Aqui se alega
também que a MP 2.164-40/01 teria interferido na autonomia administrativa dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios no tocante à prerrogativa de organizar o regime
funcional de seus servidores, já que instituiu gastos públicos sem a devida previsão
orçamentária, o que não seria condizente com os arts. 2º, 18 e 169, § 1º, da CF. A
alegação é improcedente........

Também não houve criação de obrigação financeira sem previsão orçamentária. Isso
porque, enquanto vigente, as relações empregatícias constituídas sem a observância
do princípio do concurso público produziram efeitos normalmente, como se válidas
fossem. Um desses efeitos foi justamente a obrigação de recolhimento do FGTS na
conta vinculada do trabalhador, prevista no art. 15 da Lei 8036/90. Assim, antes
mesmo do advento da MP 2.164-40/01, o dever de depositar mês a mês o FGTS já
existia para a Administração Pública. A norma questionada apenas dispôs que o
reconhecimento superveniente do vício da contratação não impede seu resgate pelo
trabalhador.? [ADI 3.127-DF] – Grifamos.

Em um de seus mais brilhantes votos enquanto Ministra do STF a Ministra


Rosa Weber assim concluiu seu voto na ADI 3.127-DF:

?11. Em suma, por todo o exposto, reafirmo que, longe de violar o ordenamento
constitucional, os arts. 19-A e 20, II, da Lei 8.036/90 apenas dão cumprimento à
Carta Política, privilegiando os princípios fundantes de nosso Estado Democrático
de Direito pertinentes à dignidade da pessoa humana e ao valor social do trabalho e
da livre concorrência. Reconhecendo, pois, a constitucionalidade dos arts. 19-A e 20, II,
da Lei 8.036/90, na redação da Medida Provisória 2.164-41/2001, julgo improcedente a
presente ação direta de inconstitucionalidade.? Grifamos.

Vale ressaltar que o Estado de Minas Gerais foi um dos derrotados no


julgamento da ADI 3.127-DF. O resultado foi praticamente unânime, sendo que somente
o Ministro Marco Aurélio votou contra os trabalhadores; todos os demais ministros
votaram a favor dos trabalhadores, consequentemente da parte Recorrida, que tem
situação fática idêntica às julgadas.

Com efeito, sendo bem objetivo, tem-se que a contratação firmada entre o
Estado e a parte Recorrida não foi temporária, portanto foi nula, e isso gera o direito ao
recebimento do FGTS.

DO DIREITO AO FGTS – A POSIÇÃO DO TRIBUNAL SUPERIOR DO


TRABALHO

Cumpre salientar que o paradigma RE596.478-RR, caso da Srª Maira


Ivaneide Sousa Lima, foi processado e julgado na esfera trabalhista porque, à época,
a relação ainda não estava sob égide da emenda constitucional nº 45, com
interpretação definida pela ADIn. 3395, que delimitou a abrangência do art. 114 da
Constituição Federal, determinando a competência da justiça comum para o
processamento e julgamento das ações que envolvessem relações de trabalho
estatutárias e, por consequência, as contratuais cujo vínculo não fosse CLT.

Salvo engano, para os órgãos da Administração Direta (Estado, União,


Autarquias, dentre outros), NÃO HÁ CONTRATAÇÃO sob o regime CELETISTA, mas
sim ESTATUTÁRIO, ou por via imprópria, qual seja, contratos administrativos,
conforme narrado.
Logo, o caso paradigma e o presente caso se fundem em consonantes.

Assim como no STF a posição do TST é pacífica no tocante ao bom direito da


parte Recorrida. Hoje a competência para se analisar a presente demanda não é mais da
Justiça do Trabalho, mas isso não nos impede de analisar a jurisprudência dominante da
mais alta corte trabalhista do Brasil.

Apenas para reforçar este argumento vale lembrar que durante anos e anos os
julgados do TFR, Tribunal Federal de Recursos, foram usados pelos tribunais brasileiros
para fundamentar suas decisões [quando o presente subscritor formou isto ainda era
comum]. Diz assim a súmula n. 363 do TST:

Súmula nº 363 do TST: CONTRATO NULO. EFEITOS [nova redação] - Res.


121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003. A contratação de servidor público, após a CF/1988,
sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no respectivo art. 37, II e §
2º, somente lhe conferindo direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação
ao número de horas trabalhadas, respeitado o valor da hora do salário mínimo, e dos
valores referentes aos depósitos do FGTS. Grifamos.

Mais uma vez a posição dos tribunais superiores é favorável à parte Recorrida. No
julgamento de um dos precedentes que deu origem à súmula acima a situação ficou bem
explanada:

PROC. Nº TST-E-RR-672.320/00.4 – A C Ó R D Ã O: CONTRATO DE TRABALHO.


ENTE PÚBLICO. NULIDADE. FGTS.

1.Embargos contra acórdão turmário que reconhece a nulidade de contrato de trabalho


firmado com ente público, após a promulgação da Constituição da República de 1988,
sem a prévia aprovação em concurso público, e limita a condenação ao pagamento dos
valores relativos às contribuições do FGTS sobre o salário mínimo.

2.O fato de o contrato de emprego firmado entre as partes estabelecer-se em período


anterior à vigência da MP nº 2164-41 não afasta o direito aos depósitos do FGTS, visto
que a referida norma apenas confirma o entendimento de que não se pode exacerbar
a pronúncia de nulidade ao ponto de negar totalmente eficácia ao negócio jurídico.?
Grifamos.

Em verdade o que o TST diz acima está em perfeita consonância com os princípios
basilares do Direito e da Justiça. Senão vejamos – todos os empregadores privados do
Brasil pagam FGTS aos seus empregados, o Estado não paga o FGTS, mas dá garantias
até muito maiores para seus servidores concursados. Aí o Estado, seja através de lei, como
a Lei 100 de MG, ou através de sucessivos contratos temporários que se prolongam por
anos e ano, simplesmente não garante praticamente nenhum direito aos seus contratados,
apenas o salário como contraprestação aos serviços prestados. Isso atende ao
ordenamento jurídico da nação??
O Estado, ao arrepio da Carta Magna de 1.988, segue contratando reiteradas vezes
servidores não concursados, muitas vezes usando de subterfúgios, como diversos
contratos ou mesmo a legislação [Lei 100]. A necessidade de concurso para provimento
dos cargos do Estado é flagrantemente desrespeitada e o Estado ainda é premiado ao não
ter que pagar FGTS aos seus contratados em contratos eternamente temporários [ou em
situação de Lei inconstitucional, como a Lei Complementar n. 100 de MG].

DO DIREITO AO FGTS – A POSIÇÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Exatamente como o STF e o TST o STJ também é favorável ao bom direito da


parte Recorrida, vejamos:

Súmula 466, Órgão Julgador – PRIMEIRA SEÇÃO, Data da Decisão – 13/10/2010


EMENTA: O titular da conta vinculada ao FGTS tem o direito de sacar o saldo respectivo
quando declarado nulo seu contrato de trabalho por ausência de prévia aprovação em
concurso público.?

Abaixo um dos precedentes para edição da súmula:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. FUNDO DE


GARANTIA POR TEMPO DE SERVIÇO. LEVANTAMENTO DO SALDO DA
CONTA VINCULADA. CONTRATO DE TRABALHO NULO. POSSIBILIDADE.
PRECEDENTES. 1. Nos casos em que o contrato de trabalho foi declarado nulo
judicialmente, o trabalhador tem direito ao levantamento do saldo do FGTS, ainda que tal
hipótese não esteja de forma expressa na Lei nº 8.036/90. 2. In casu, a admissão do
trabalhador em cargo público sem a realização de concurso se configura caso de
culpa recíproca, previsto no artigo 20, inciso I da aludida lei, uma vez que a empregadora
contratou o agravado de forma irregular e este anuiu a tal situação. 3. Precedentes. 4.
Agravo regimental improvido" [AGREsp 267858/GO, Re. Min. Francisco Falcão, DJU
de 25.11.02]. Grifamos.

O STJ também entende que a nulidade na contratação de servidores públicos sem


concurso existe nas sucessivas renovações de contratos temporários, e que com isso os
trabalhadores tem direito ao pagamento, por parte da Administração Pública, do FGTS,
conforme asseverado abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO AO ART. 37, § 2º, DA


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE EM SEDE
DE RECURSO ESPECIAL. COMPETÊNCIA DO STF. SERVIDOR PÚBLICO.
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA E CONTINUADA PELA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA SEM OBSERVÂNCIA DO CARÁTER TRANSITÓRIO E EXCEPCIONAL
DA CONTRATAÇÃO. NULIDADE RECONHECIDA. DIREITO AOS DEPÓSITOS
DO FGTS. ART. 19-A DA LEI N.

8.036/90 - REALINHAMENTO DA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE.

I - É entendimento pacífico desta Corte que o recurso especial possui fundamentação


vinculada, não se constituindo em instrumento processual destinado a examinar possível
ofensa à norma Constitucional.

II - O Supremo Tribunal Federal, após o reconhecimento da constitucionalidade do art.


19-A da Lei n. 8.036/90 sob o regime da repercussão geral (RE 596.478/RR, Rel. Para
acórdão Min. Dias Toffoli, DJe de 28.02.2013), reconheceu serem "extensíveis aos
servidores contratados por prazo determinado (CF, art. 37, inciso IX) os direitos sociais
previstos no art. 7º da Carta Política, inclusive o FGTS, desde que ocorram sucessivas
renovações do contrato" (RE-AgR 752.206/MG, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de
29.10.2013).

III - Realinhamento da jurisprudência desta Corte que, seguindo orientação anterior do


Supremo Tribunal Federal, afastava a aplicação do art. 19-A da Lei n. 8.036/90 para esses
casos, sob o fundamento de que a mera prorrogação do prazo de contratação de servidor
temporário não teria o condão de transmutar o vinculo administrativo em trabalhista (RE
573.202/AM, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 05.12.2008; CC 116.556/MS, Rel.
Min. Mauro Campbell Marques, DJe de 04.10.2011, REsp 1.399.207/MG, Rel. Min.

Eliana Calmon, DJe de 24.10.2013, dentre outros).

IV - O servidor público, cujo contrato temporário de natureza jurídico-


administrativo foi declarado nulo por inobservância do caráter transitório e
excepcional da contratação, possui direito aos depósitos do FGTS correspondentes
ao período de serviço prestado, nos termos do art. 19-A da Lei n. 8.036/90.

V - Recurso especial provido.

(REsp 1517594/ES, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,


julgado em 03/11/2015, DJe 12/11/2015). (grifamos)

Ilustres julgadores, seja a nulidade do vínculo do servidor não concursado com o


Estado através da declaração de inconstitucionalidade da LC 100/MG, ou de sucessivas
contratações eternamente temporárias, tem-se que patente é a nulidade da relação jurídica
de servidores não concursados com o Estado, a não ser em
contratações verdadeiramente temporárias – nestes casos a contratação será,
sempre, legal; ocorre que o caso dos autos não é este. A relação da parte Recorrida
com o Estado é nula, pois esta não é, nem jamais foi concursada e nem sua contratação
foi temporária.
DO BOM DIREITO DA PARTE RECORRENTE

As contratações por prazo determinado, para atender a necessidade temporária de


excepcional interesse público tem amparo no art. 37, IX, da Constituição da República.
Estas relações de trabalho se sujeitam a um regime jurídico especial, o qual é definido
pelo ente federado que pretende fazer a contratação.

?Art. 37. (...) IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;?

Em âmbito federal a matéria foi regida pela Lei n° 8.745/93, que dispõe sobre a
contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público.

Como já dito, no presente caso a parte Recorrente não observou as exigências


constitucionais para contratação temporária. A parte Autora foi contratada por
diversas vezes pelo Estado; pode-se falar em contratos eternamente temporários,
pois os contratos certamente não foram temporários nos termos da Carta de 1.988.
Assim é o entendimento do Eg. TJMG sobre o tema:

"Relator(a): Des.(a) Marcelo Rodrigues - Data de Julgamento: 14/04/2015 -


Processo: 1.0351.14.000459-6/001

Ementa:Reexame necessário - Ação de cobrança - Administrativo – Contrato temporário


firmado com a Prefeitura de Janaúba - Concurso público - Exigência constitucional -
Artigo 37, § 2º, da Constituição da República - Posicionamento consolidado no RE
705140 - Sentença reformada.

1.O contrato temporário de trabalho por excepcional necessidade de interesse público tem
natureza de direito administrativo, com regime estatutário, consoante artigo 37, inciso IX,
da Constituição da República.

2.Embora exista a possibilidade de contratação de servidor público na forma do artigo 37,


IX, da Constituição da República, as renovações representam ofensa ao princípio da
moralidade administrativa, bem como da própria legalidade, porquanto tende a contornar
a regra geral de matriz constitucional do acesso ao serviço público mediante concurso de
provas e títulos.

3.As renovações sucessivas do contrato temporário ensejam a sua nulidade (nulidade


jurídica qualificada), de modo que o único efeito jurídico válido resultante da relação
estabelecida entre o servidor estatutário contratado temporariamente e o ente
público é a possibilidade de percepção de salários e FGTS, não havendo falar no
pagamento de décimo terceiro e férias acrescidas do terço constitucional.

4.O Supremo Tribunal Federal (STF) firmou entendimento, mediante repercussão geral,
de que o contrato temporário de trabalho firmado com a Administração Pública, quando
renovado sucessivamente, viola o acesso ao serviço público por concurso, inquinando-
o de nulidade, conforme art. 37, § 2º, da Constituição da República.? Grifamos.

Considerando-se que a parte Recorrida exerce sua função laboral através de


um contrato de trabalho considerado nulo por não ser precedido de concurso
público, e ser renovado ininterruptamente, assiste-lhe o direito de que a
Administração Pública efetue o depósito dos valores referentes ao Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço [FGTS] conforme disposto no Art. 19-A da Lei 8.036/90:

?Art. 19-A - É devido o depósito do FGTS na conta vinculada do trabalhador cujo


contrato de trabalho seja declarado nulo nas hipóteses previstas no art. 37, § 2o, da
Constituição Federal, quando mantido o direito ao salário. (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.164-41, de 2001).?

No mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal em julgamento do RE nº


705.140 com repercussão geral reconhecida firmou entendimento de que as
contratações sem concurso pela administração pública não geram quaisquer efeitos
jurídicos válidos a não ser o direito à percepção dos salários do período trabalhado
e ao levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS).

Não há dúvidas quanto ao direito da parte Recorrente, sendo que o direito está
devidamente comprovado, bastando apenas a declaração do direito da parte Recorrente,
conforme jurisprudência recente:

Relator: Des.(a) José Antonino Baía Borges Data de Julgamento: 19/03/2015 Processo:
Apelação Cível 1.0637.09.072028-4/001 ?Ementa: APELAÇÃO CÍVEL -
CONTRATO TEMPORÁRIO - PRORROGAÇÕES SUCESSIVAS - NULIDADE -
PAGAMENTO DO FGTS- POSSIBILIDADE - PRECEDENTES DO STF - MULTA
RESCISÓRIA - VERBA TRABALHISTA - IMPROCEDÊNCIA - RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. -Conforme entendimento proferido pelo STF em
julgamento de Recurso Extraordinário, em que restou reconhecida a repercussão geral do
tema, e nos termos do art. 19-A, da Lei 8.036/90, é devido o depósito do FGTS aos
trabalhadores contratados temporariamente, de forma irregular, pela
Administração Pública. -A multa rescisória somente é devida na hipótese de demissão
do empregado sem justa causa, na esfera trabalhista, não sendo cabível quando se trata de
contrato administrativo temporário, considerado nulo, em razão das indevidas
prorrogações. Grifamos.
DOS PEDIDOS

Diante dos argumentos apresentados, a parte Recorrida REQUER:

Não seja o presente Recurso recebido nos efeitos devolutivo e suspensivo;

Seja concedida a Gratuidade Judiciária;

Não seja dado provimento ao Recurso Inominado interposto, de modo que seja mantida
a sentença atacada, a fim da manutenção do reconhecimento da nulidade da relação
jurídica entre as partes, por ser a mesma inconstitucional, bem como seja declarado o
direito da parte Autora a receber o Fundo de Garantia Tempo de Serviço [FGTS], com a
condenação da parte Ré a realizar o pagamento dos valores devidos de todo o período
trabalhado nos 5 [cinco] anos que antecederam a distribuição da presente demanda, bem
como as parcelas vincendas, conforme o ordenamento jurídico vigente [art. 19-A da Lei
8.036/90];

Requer também seja a parte Requerida condenada ao pagamento de honorários


sucumbenciais.

Termos em que pede e espera por deferimento.

TEÓFILO OTÔNI, 01 de dezembro de 2021.

LUIZ FREDERICO PAULINO CUNHA DO NASCIMENTO

OAB/MG 183.180

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