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Organização

LORENZON. M C e ANDRADE, A O

Realização
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Instituto de Investigação e Tecnologias Agrárias e do Ambiente

Apoio
Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro
Secretaria de Meio-Ambiente
© 2021 Letras e Versos Gráfica e Editora
Todos os direitos resevados e protegido pela Lei dos Direitos Autorais 9.610/98. Nenhuma
parte deste livro deve ser reproduzida, sob quaisquer meios ( eletrônico, fotográfico e
outros)
Layout do livro - Maria Cristina Affonso Lorenzon
Diagramação e capa – Maria Cristina Lorenzon, Edson de Souza e Millena Delmon
Revisor Ortográfico – Marta Rodrigues Pacheco
Fotos da Capa– Projeto Reflora
Contato com Pesquisador - Maria Cristina Lorenzon, Universidade Federal Rural do Rio
de Janeiro, Km 7, Rod 465, IZ/DP, Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil Fone: 37873975
Email: andrade.ufrrj@gmail.com; affonsoneta@gmail.com
Esta publicação está disponível para leitura. Para impressão acesse se desejar
www.letraseversos.com.br. Link, acesso livre, https://andradeadriana.github.io/book_bee/
Autores dos Capítulos

§ ADRIANA OLIVEIRA ANDRADE


Cientista Social, D.Sc. Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento
Professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

§ IZADORA RIBEIRO DA FONSECA


Graduanda em Zootecnia
UFRRJ – Instituto de Zootecnia

§ LEILA NUNES MORGADO


Zootecnista, D.S.Ciências (Ecologia)
Pesquisadora do Instituto de Investigação e Tecnologias Agrárias e do Ambiente

· LETÍCIA ARAÚJO TEIXEIRA


Engenheira de Agrimensura e Cartografia, especialista em Gestão e Auditoria

§ MARIA CRISTINA AFFONSO LORENZON


Cientista em Entomologia, D.Sc. Entomologia
Professora Titular, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

§ RICHIERI ANTÔNIO SARTORI


Professor do Departamento de Biologia
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO)

§ VINICIUS DE ARAÚJO RAMOS


Engenheiro Agrícola e Ambiental.

Editores responsáveis Adriana Oliveira Andrade


Maria Cristina Affonso Lorenzon
Agradecimentos

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

Prof. Ricardo Luiz Louro Berbara


Reitor da UFRRJ

Prof. Luiz Carlos de Oliveira Lima


Vice-Reitor da UFRRJ

Prof. Alexandre Fortes


Pró-Reitor de Pesquisa e Pós Graduação

Prof. Roberto Carlos Costa Lelis


Pró-Reitor de Extensão da UFRRJ

À Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro


Pelo suporte às pesquisas

À equipe técnica e de campo


Pela coleta das informações

À Christhiane Rio Branco


Por disponibilizar os dados

À Dra. Ortrud Monika Barth


Universidade Federal do Rio de Janeiro e Fundação Oswaldo Cruz
Pela identificação dos tipos polínicos

À Hannah Cascelli Farinasso


Pelas contribuições na versão final do livro
Dedicatória

Aos participantes do Projeto Reflora

Ficamos honrados pela oportunidade de apoiar a equipe do Projeto Reflora


e as comunidades participantes, que em mutirão trilharam seus passos.
Ressaltamos que esse projeto desafiador voltado para a recuperação florestal está
presente em mais de 140 comunidades carentes com milhares de mudas
plantadas desde 1984.

Sensibilizamos-nos com aqueles que se lançam na ventura do replantar,


formando os berços da nossa Mata Altântica, e que podem apreciar dia a dia o
crescimento, o esforço e o domínio dessa Floresta pela restauração ambiental. E
com àqueles que se debruçaram para nos apresentar o relato dessa vivência
exuberante e milindrosa, com o grito de fervor: “Florestas aos Montes”, uma
obra recém publicada, em Julho de 2021, resultante desta trajetória, que dignifica
tão valioso trabalho.

É premente que nossa sociedade continue se engajando

na defesa da revegetação.
Sumário página
Prefácio 12
Apresentação 14
Mata Atlântica... não podemos nos privar desta
riqueza natural 15
O uso das abelhas e sua conservação 18
O que oferecemos a você leitor nesta obra 19
Referências 20

CAPÍTULO 1

SITUAÇÃO DA CONSERVAÇÃO DE ABELHAS E DO BIOMA MATA ATLÂNTICA QUE


AS ABRIGA 22
1. AS ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO 23
1.1. As abelhas nativas da Mata Atlântica e a população
humana local: tradição em vias de extinção 24
1.2. A criação artificial de abelhas nativas 26
1.3. Nicho trófico e outros âmbitos das abelhas nativas 30
1.4. Meliponicultura e seus muitos desafios 33

2. A MATA ATLÂNTICA NO BRASIL E NO RIO DE JANEIRO 36


2.1. A Mata Atlântica é um dos maiores biomas do planeta 36
2.2. Mata Atlântica, bioma ameaçado 40
2.3. Conhecer para prevenir as consequências do
desflorestamento 41
2.4. A fragmentação de habitats 44
2.5. Situação da Mata Atlântica do Rio de Janeiro 45

3. A POLINIZAÇÃO E POLINIZADORES 49

3.1. Abelhas e polinização 49


3.2. Valor da Polinização 50
3.3. Abelhas sem ferrão e a polinização 51
3.4. Impactos sobre os polinizadores 54
3.5. Casos peculiares predação e declínio de abelhas 59
3.6. Iniciativas que visam à preservação dos polinizadores 64

4. REFERÊNCIAS 68

CAPÍTULO 2
AVALIANDO ÁREAS REPLANTADAS POR MEIO DAS ABELHAS NATIVAS 80
1. PROCEDIMENTOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS para avaliar área
reflorestada em presença da criação de abelhas nativas 81

1.1. Monitoramento de área (município do Rio de Janeiro) 81


1.2. Implantação dos meliponários 89
1.3. Descrição das espécies de abelhas monitoradas 89
1.4. Métodos de análise da interação abelha-flor 92
1.4.1. Métodos usuais 92
1.4.2. Dominância dos tipos de méis segundo a
Melissopalinologia 93
1.4.3. Descrição da metodologia adotada 94
1.4.4. Preparo e análise do material 94
1.4.5. Classificação das amostras de mel 95
2. ANÁLISE ESTATÍSTICA 98

2.1. Para que usar a estatística em avaliação biológica? 98


2.2. Os recursos gráficos 99
2.3. O uso de testes estatísticos 100

3. REFERÊNCIAS 102

CAPÍTULO 3

PLANTANDO PARA AS ABELHAS DA MATA ATLÂNTICA 107


PARTE 1
1. DIAGNÓSTICO DE FORRAGEAMENTO DAS ABELHAS NATIVAS
EM ÁREAS RECÉM-REPLANTADAS DA MATA ATLÃNTICA
DO RIO DE JANEIRO 108
1.1. A amostragem 108
1.2. O número de tipos polínicos nos alimentos das abelhas 110
1.3. Soma polínica relativa (estimada) de grãos de pólen 114
1.4. Soma polínica nas AMOSTRAS DE MEL 118
1.5. Soma polínica nas AMOSTRAS DE PÓLEN 125
1.6. Considerações Técnicas 127

PARTE 2

2. COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA 130

3. LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DA ÁREA REPLANTADA


E PREFERÊNCIA FLORAL DAS ABELHAS NATIVAS 142

4. PERFIL E ESPÉCIES FLORAIS PREDOMINANTES NAS


AMOSTRAS DE MEL E PÓLEN 146

4.1. Perfil das espécies florais predominantes 146


4.2. Espécies florais predominantes 149
4.3. Predominância floral por tipo de Abelha 153

5. CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS 161

6. REFERÊNCIAS 165

CAPÍTULO 4
REPLANTAR, EDUCAR, PARA CONSERVAR A MATA ATLÂNTICA 169

1. INTRODUÇÃO 170

2. ESTUDOS DE CASO 173

3. CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS 189

4. REFERÊNCIAS 187
Sumário de Figuras
CAPÍTULO 1

SITUAÇÃO DA CONSERVAÇÃO DE ABELHAS E DA MATA ATLÂNTICA

Figuras 1. Distribuição do bioma Mata Atlântica. 36


Figura 2. Responsabilidade sócio-ambieintal pela Mata Atlântica 37
Figura 3. Remanescentes da Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro 45
Figura 4. Esquema de forrageamento da abelha na flor polinizando 50

CAPÍTULO 2

AVALIANDO ÁREAS REPLANTADAS POR MEIO DAS ABELHAS NATIVAS

Figuras 1. Mostra histórica do trabalho da Prefeitura do Rio


ao longo de 33 anos. Visão da área. 82
Figuras 2A (Marianos) e 2B (Cantagalo). Panorama das áreas monitoradas
(Rio de Janeiro); ver pontos da instalação de meliponários 84
Figura 3. As 33 espécies mais plantadas no Rio de Janeiro. 88
Figura 4. Panorama das áreas com meliponários em Cantagalo e Marianos 89
Figuras 5. Colônia de Tetragonisca angustula com potes de pólen (A), mel (B).
Abelha com carga de pólen nas pernas posteriores (C). 94

CAPÍTULO 3

PLANTANDO PARA AS ABELHAS DA MATA ATLÂNTICA


PARTE 1
Figura 1. Boxplot do número de tipos polínicos nas amostras de mel e pólen 111
Figura 2. Boxplot do número de tipos polínicos nas amostras 114
Figura 3. Distribuição das amostras em função da soma polínica 115
Figura 4. Boxplot da soma polínica por tipo de alimento 117
Figuras 5A, 5B. Relação entre as variáveis soma polínica e número de tipos
polínicos, no geral e especificamente nas amostras de mel e pólen 118
Figura 6. Boxplot da distribuição da soma polínica das amostras de mel
por espécie da abelha 120
Figura 7. Distribuição da soma polínica dos tipos polínicos de plantas
nectaríferas e outras fontes nas amostras de mel 122
Figura 8. Boxplot da soma polínica das amostras de mel 124
Figura 9. Distribuição da soma polínica das amostras de pólen 125
Figura 10. Boxplot da soma polínica das amostras de pólen-tipo de abelha 126

PARTE 2
Figura 11. Distribuição espécies florais predominantes-amostras mel/pólen 147
Figura 12. Espécies florais com alta frequência nas amostras de mel. 150
Figura 13. Espécies florais com alta frequência nas amostras de pólen 152

Sumário de Tabelas
CAPÍTULO 3
PLANTANDO PARA AS ABELHAS DA MATA ATLÂNTICA

PARTE 1
Tabela 1. Amostragem das amostras de mel e pólen, por localidade
e espécie de abelha. 109
Tabela 2. Análise exploratória do número de tipos polínicos presentes
nas amostras de mel e pólen. 111
Tabela 3. Análise exploratória do número de tipos polínico presentes
nas amostras de mel e pólen, por espécie de abelha. 113
Tabela 4. Análise exploratória da soma polínica da amostragem geral e
por tipo de alimento. 116
Tabela 5. Análise exploratória da soma polínica das amostras de mel e
por espécie de abelha. 120
Tabela 6. Análise exploratória da soma polínica presentes em amostras de
mel distintas em plantas nectaríferas e outras fontes. 122

Tabela 7. Análise exploratória da soma polínica presentes em amostras


de mel, segundo espécie de abelha, relativo ao fluxo polínico em plantas
nectaríferas e outras fontes. 124
Tabela 8. Análise exploratória da soma polínica das amostras de pólen. 125
Tabela 9. Análise exploratória da soma polínica das amostras de pólen
por espécie de abelha. 126
PARTE 2
Tabela 10. Tipos polínicos observados nas amostras de mel e pólen
na área replantada 131
Tabela 11. Espécies florais segundo tipificação polínica em amostras de mel
na área replantada 132
Tabela 12. Espécies florais segundo tipificação polínica em amostras de pólen
na área replantada 133
Tabela 13. Famílias de plantas de maior frequência na amostragem
de mel e pólen das abelhas nativas 134
Tabela 14. Número de tipos florais em sobrepoisção -espécie de abelha . 138
Tabela 15. Taxa presente nos tipos polínicos das dietas de
abelhas nativas na área replantada (RJ). 142
Tabela 16. Análise exploratória da distribuição das frequências
das espécies florais predominantes nas amostras de mel e pólen 147
Tabela 17. Distribuição das espécies florais predominantes
na área replantada nas amostras de mel 149
Tabela 18. Distribuição dos tipos florais predominantes
na área replantada nas amostras de pólen 151
Tabela 19. Número de amostras de mel e das espécies florais
predominantes, por tipo de abelha, em área replantada. 153
Tabela 20. Tipos florais predominantes nas amostras de mel 154
Tabela 21. Número de amostras de pólen e das espécies florais
predominantes,nos diferentes tipos de abelhas, em área replantada 155
Tabela 22. Tipos florais predominantes nas amostras de pólen
por tipo de abelha 156
Tabela 23. Caracterização polínica: (1) Este estudo; (2) Oliveira-Abreu eal. 158
(2014); (3) Carvalho e Marchini (1999); (4) Imperatriz-F et 4);
(5

Sumário de Quadros
CAPÍTULO 2

AVALIANDO ÁREAS REPLANTADAS POR MEIO DAS ABELHAS NATIVAS

Quadros 1 e 2. Espécies existentes nas localidades monitoradas, segundo informações da


Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. 85

CAPÍTULO 3
PLANTANDO PARA AS ABELHAS DA MATA ATLÂNTICA
Quadro 1. Demonstrativo da amostragem em campo dos alimentos,
por espécie de abelha e localidade. 110
PREFÁCIO

Nesta obra a professora Lorenzon reúne nova equipe para dinamizar os

estudos sobre abelhas. Fiz parte de sua equipe, e me envolvi neste mundo

apaixonante da Natureza. A equipe é formada por profissionais, com feição

multidisciplinar, que enquanto expertises analisam uma área de recuperação


ambiental, pertencente à região metropolitana do Rio de Janeiro, em importante

projeto da Prefeitura do Rio de Janeiro para a conservação dos habitats.

O foco desta obra me reporta o quanto a vida das abelhas é reconhecida

em todo mundo. Muitos utilizam o termo chamado “Plan B” (Plano B), e a letra “B”

pode ser confundida com a pronúncia em inglês da palavra “bee”, que é abelha.

Na verdade, esse plano retrata a preocupação com o “sumiço” das abelhas em

vários continentes de nosso mundo; tal problema vem mobilizando muitas

comunidades de agricultores, apicultores, meliponicultores, cientistas e políticos,

que vem avolumando importante discussão mundial sobre a consequências da

perda de abelhas e produção de alimentos. Muitos crêem que o sumiço das

abelhas resulta de um mosaico de fatores integrados, como o uso indiscriminado

de agrotóxicos, fatores de impacto ambiental, desflorestamento desenfreado etc..

Acredito que muitos reconhecem que a importância das abelhas vai além

da mera produção dos subprodutos apícolas como, o mel, cera, própolis, geleia

real e apitoxina. Estes pequenos insetos, que somam mais de 30 mil espécies no

mundo, são os principais agentes polinizadores da Natureza, suportando as

atividades agrícolas com a polinização de mais de 70% dos cultivos e de valor


inestimável para a conservação da biodiversidade da flora e fauna dos

ecossistemas naturais. Por esta razão são carinhosamente tratadas como

“sentinelas da Natureza”.

A equipe se lança nesta obra técnica, para com seus saberes, trilhar e

avaliar a exploração das abelhas por uma área em recuperação. É uma

abordagem para nortear o plano “B” para a preservação das abelhas e de sua

flora. Eu e você, leitor estaremos atentos a esta nova experiência da equipe

amiga e apaixonada pelas abelhas e pela Natureza.

Prof. Wagner Tassinari


Estatístico, DSc. Epidemiologia
UFRRJ – Depto Matemática, Instituto de Ciências Exatas
APRESENTAÇÃO

Não permita que esta imagem seja apenas um cartão postal

MARIA CRISTINA LORENZON


15

MATA ATLÂNTICA...

NÃO PODEMOS FICAR SEM ESTA RIQUEZA NATURAL.

Parte desta matéria foi publicada pelo Prof. José Augusto Pádua da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, cuja leitura integral encontra-se em
Pádua (2004).

“Este documento foi escrito pelo jesuíta André João Antonil (1711) que
relata que a floresta era um grande estorvo: ” feita a escolha da melhor terra para
a cana, roça-se, queima-se, alimpa-se, tirando-lhe tudo que possa servir de
obstáculo” (apesar de toda beleza da floresta..).

“Data do final do século XVIII, a criação de um movimento em defesa da


conservação das florestas brasileiras......”Já é tempo de alertar nestas preciosas
matas, nestas amenas selvas, que o cultivador do Brasil, com o machado em uma
na mão e o tição em outra, ameaça-as do total incêndio e desolação.....sem
conservar apego ou amor ao território que utiliza para seu viver, pois conhece mui
bem que esta não chegará a seus filhos “ (texto de 1799)

E você leitor contemporâneo, se surpreende agora que a Mata Atlântica foi


quase totalmente destruída? E que....“já é tempo de atentar nestas preciosas
matas”. Certamente, há poucos que imaginam que, há mais de 200 anos,
levantaram-se algumas vozes em prol da defesa de nossas florestas...e, a
condenar a economia predatória dos colonizadores..”

Como é o histórico da proteção florestal?

A ação das autoridades brasileiras em defesa das nossas florestas não


pode ser exatamente classificada como ágil e determinada. O primeiro código
florestal foi escrito em 1920 e promulgado em 1934.....e, um projeto específico
para proteção da Mata Atlântica tramitou longamente além do ano de 2003.
16

ENQUANTO ISSO NO ESTADO BRASILEIRO DE MAIOR RESERVA


DA MATA ATLÂNTICA.....
O esgotamento das áreas de produção agrícola vem conduzindo os
produtores rurais a ampliar seu domínio sobre áreas de cobertura florestal
(aniquilando a produção natural) e, assim provoca importante repercussão na
organização espacial e econômica de muitos municípios do Rio de Janeiro. O
resultado dessa ocupação desordenada é um passivo ambiental representado por
terras erodidas, por técnicas arcaicas e predatórias de cultivo intensivo, que
dificultam a regeneração da cobertura vegetal.
As atividades agrárias, em especial a pecuária, os cultivos de banana, coco

e cana e açúcar, são os maiores geradores de conflitos com relação à

conservação da biodiversidade em muitas regiões do estado do Rio,

especialmente, no entorno e dentro das Unidades de Conservação. Estes cultivos

vêm também mudando a fisionomia da paisagem, com a invasão clandestina de

banana e da pecuária na região da Costa Verde (onde reside importante reserva

da Mata Atlântica), além de substituir os cultivos de subsistência, milho, feijão,

etc., condições que agravam a situação da conservação ambiental e da

comunidade humana que por vezes a protege. Verifica-se que a renda das

atividades agropecuárias dos pequenos produtores é muito baixa, o que os obriga

a complementá-la com outras atividades informais não regulares nas áreas

urbanas. Constata-se, inclusive, baixa diversificação da produção, o que não

favorece o crescimento do comércio.

Zaú (1998) listou outras causas da devastação das áreas naturais: fogo,

quando ateado para a limpeza de terrenos, que por vezes se intensifica em áreas

extensas onde o capim alto se coloniza; a escassa valorização das florestas; a

fiscalização florestal precária; a expansão de áreas urbanas por loteamentos ou

ocupações irregulares; os espaços territoriais “protegidos”, porém não

implantados; a exploração de pedreiras e saibreiras e, a ocupação pelas linhas de

transmissão.
17

Neste rumo, extensões territoriais importantes de paisagens “naturais” vêm

sofrendo transformações significativas que marcaram este século. E é nesse

cenário de vasta destruição que jaz a nossa Floresta Atlântica, cruelmente e

extensamente fragmentada, e sua paisagem transformada profundamente de sua

origem. Atualmente restam menos de 2% da superfície original da Mata Atlântica,

que se encontra em áreas protegidas legalmente em Unidades de Conservação

como, Parques e Reservas Biológicas (CÂMARA, 1996).

O estado do Rio de Janeiro tem adotado medidas conservacionistas que

foram implantadas por atos legais para restrição do desmatamento, proteção de

nascentes há pelo menos 200 anos (RODRIGUES et al., 2009). Na atualidade,

avançaram as pesquisas de campo, visando à restauração ecológica que é o

desenvolvimento de comunidades ecologicamente viáveis, para proteger e

fomentar a capacidade natural de mudança dos ecossistemas, tornando-as

sustentáveis e com resiliência (SER, 2004).

Temos ciência que a governança e a experimentação podem minimizar os

problemas decorrentes do isolamento dos fragmentos das unidades de

conservação dos nossos biomas, para permitir a manutenção em longo prazo e

promover a recuperação funcional de unidades ecológicas mais vulneráveis.

Para a recuperação de áreas degradadas no contexto da fragmentação da

Mata Atlântica, projetos de âmbito conservacionista vêm sendo realizados

assinalando duas direções importantes:

(A) proteção das paisagens florestais atuais e unidades de conservação (ZAÚ,

1997);

(B) recuperação de áreas degradadas, em atenção aos trechos protegidos por Lei
como, as margens de rios, de linhas de cumeada, ao redor de lagoas e lagos,

nas nascentes, nos topos de morros, nas encostas com mais de 45o de

declividade, nas bordas de tabuleiros e altitudes superiores a 1800 metros, de


acordo com a Resolução do CONAMA número 4/85 (FEEMA, 1992).
18

Outras estratégias representam esforços também potenciais para a

conservação deste bioma como, o manejo do palmito contra o desmatamento

(ITO JUNIOR et al. 1996), o ecoturismo com instalação controlada de pousadas,

planos de passeios, caminhadas ecológicas, o selo verde, educação ambiental,

entre outros.

Mais desafiante, sem dúvida é trilhar o trabalho de preservação criando a

conexão entre o desenvolvimento agrícola e a conservação da natureza,

principalmente nas áreas agropastoris. Nesse campo, não há alternativa senão

desenvolver projetos de conservação vinculados ao desenvolvimento sócio-

econômico. Essa meta exigirá ações contundentes para sua funcionalidade, e

neste caso reside um ALERTA para inferir propostas holísticas.

Vale ressaltar que o tempo e esforço para a restauração de áreas,

considerando as muitas variáveis impostas, pode variar de 15 a 1200 anos

(TERBORGH, 1992; SIMINSKI et al., 2011).

O uso das abelhas e sua conservação

As espécies de abelhas são o principal grupo de invertebrados que polinizam,


sem desmerecer os demais polinizadores. Cada grupo tem sua funçao nos habitats.

Apesar da prevalência de abelhas nos habitats, sua diversidade taxonômica e


ecológica foi por vezes subestimada ou interpretada indevidamente nos poucos
estudos que tentaram avaliar suas respostas à fragmentação de habitats.

Na luta pela sobrevivência, as abelhas enfrentam condições amiúde

precárias resultantes da fragmentação dos habitats; entre vários de seus déficits,

a redução drástica na composição das espécies é real e muito preocupante. A

perda de habitats de área significativa e sob isolamento é certamente deletéria


19

para ambas as comunidades: a dos polinizadores invertebrados e a das plantas

(RATHCKE e JULES, 1993; BUCHMANN e NABHAN, 1996; MATHESON et al.,

1996; MURCIA, 1996; RENNER, 1996).

Alguns estudos mostram evidências da persistência da diversidade e

abundância de comunidades de abelhas nativas em fragmentos de tamanho

razoável, como solução prática para a manutenção das populações de abelhas.

Desde que a seleção, o design e o monitoramento de reservas atendam às

necessidades de forrageamento e da nidificação das abelhas, resurge a

esperança de sustentar uma diversidade considerável de polinizadores e de seus

serviços ecológicos.

Fato é que essa ventura de replantar, de conservar, de lutar pela vida

Natural nos é imposta para garantir a nossa própria sobrevivência.

O QUE OFERECEMOS A VOCÊ LEITOR NESTA OBRA

Nesta obra convidamos os leitores a conhecer a riqueza de espécies florais em

áreas de proteção ambiental recém-reflorestadas, com o auxílio dos recursos

tróficos, mel e pólen, das abelhas nativas. Nessa trajetória saberemos a direção

da preferência das abelhas e da sua atratividade às espécies florais introduzidas

e àquelas silvestres naturalmente revitalizadas.

Comumente, os projetos de reflorestamentos disponibilizam uma lista de

plantas que permitem desencadear a sucessão florestal e ainda são escassos os

projetos que utilizam abelhas nestas áreas. Este livro é produto da experiência de

um projeto de reflorestamento (de replantar) que utiliza espécies de abelhas

nativas para nos conduzir às espécies florais que, intensamente visitadas por

elas, ocasionam a produção farta de frutos e sementes. A partir desta produção

entram em ação os agentes de dispersão e é gerada a integração e o


20

fortalecimento da interação comunitária flora e fauna para atender a reprodução e

a ocupação da jovem área florestal. Os criadores de abelhas sabem o quanto esta

cadeia é fundamental, porém, há necessidade de se basear nas preferências

florais das abelhas para se definir as escolhas corretas de sua dieta em áreas

desbravadas.

Os dados desta obra devem ser desfrutados como uma importante fonte de

consulta para prover projetos de conservação.

Referências

BRAGA J. A.; NUNES. R. M; LORENZON, M. C. A. Stingless bees as bioindicators in


Brazil. Bees for Development Journal. v. 92, p 7-8, 2009.

BUCHMANN, S. L.; NABHAN, G. P. The forgotten pollinators. Washington D. C.:


Island Press, 1997.

CÂMARA, I. G. Plano de ação para a Mata Atlântica. Roteiro para a conservação de sua

biodiversidade. Série Cadernos da Reserva da Biosfera, Caderno n. 4, 34 p. 1996.

FEEMA. Coletânea de legislação federal e estadual de meio ambiente. Fundação

Estadual de Engenharia do Meio Ambiente. Notrya: Rio de Janeiro. 1992. 383 p.

ITO, J. R. K.; ZAÚ, A. S.; CASTRO, J. R. E. Distribuição espacial de palmeiras em


encostas florestadas do PARNA da Tijuca /RJ. ANAIS XLVII Congresso Nacional de

Botânica. Nova Friburgo, RJ. Brasil. Resumos. p. 360. 1996.

MATHESON, A.; BUCHMANN, S. L.; O'TOOLE, C.; WESTRICH, P.; WILLIAMS, I. H. The

conservation of bees. London: Academic Press, 1996. 254p.

MURCIA, C. Forest fragmentation and the pollination of neotropical plants. Pages 19-36.

In: Schelhas, J.; Greenberg, R. (editors), p. 19-36. Forest patches in tropical landscapes.

Island Press: Washington, D.C, 1996.


21

PÁDUA, J. A. Defensores da Mata Atlântica no Brasil colônia, Nossa História. v. 1, n. 6,

p. 14 – 20, 2004

RATHCKE, B. J.; JULES, E. S. Habitat fragmentation and plant pollinator interactions.

Current Science. n. 65, p. 273-277, 1993.

RENNER, S. S. Effects of habitat fragmentation on plant pollinator interactions in the

tropics. In: Newbery, D. M.; Prins, H. T.; Brown, N. D. (edits), p. 339-361. Dynamics of

Tropical Communities. Blackwell Scientific: Cambridge, UK., 1996

RODRIGUES, R. R.; LIMA, R. A.. F.; GANDOLFI, S.; NAVE, A. G. On the restoration of

high diversity forests: 30 years of experience in the Brazilian Atlantic Forest. Biological

Conservation, n. 142, p. 1242–1251, 2009.

SIMINSKI, A. et al. Secondary Forest Succession in The Mata Atlantica, Brazil: Floristic

and Phytosociologic Trends. ISRN Ecology, v. 2011, p.1-19, 2011.

SOCIETY FOR ECOLOGICAL RESTORATION - SER - International Science and Policy

Working Group. The SER primer in ecological restoration (version 2). Disponível em:

www.ser.org. Acesso em: 22/mai/2019

TERBORGH, J. Diversity and the tropical rain forest. New York: Scientific American

Library, 1992.

ZAÚ, A. S. A Ecologia da paisagem no planejamento territorial. Floresta e Ambiente, v. 4,

p. 98-103, 1997

ZAÚ, A. S. Fragmentação da Mata Atlâtica: aspectos t e ó r i c o s. Floresta e Ambiente.

v. 5, n. 1, p 160-170, 1998.
CAPÍTULO 1

SITUAÇÃO DA CONSERVAÇÃO DE ABELHAS


E DO BIOMA MATA ATLÂNTICA QUE AS ABRIGA

MARIA C LORENZON
ADRIANA O ANDRADE
IZADORA R FONSECA
23

1. AS ABELHAS NATIVAS SEM FERRÃO

A maioria das abelhas é de vida solitária e ainda há várias espécies que

possuem vida social. Dentre elas destacam-se as mamangavas sociais

(Bombinae), Apis mellifera e os meliponíneos (Apinae), conhecidos como abelhas

sem ferrão (MICHENER, 1974). As espécies sociais de abelhas são geralmente

as preferidas para a polinização de campos agrícolas devido à alta abundância de


abelhas para atender extensos cultivos com alta densidade floral.

De acordo com Santos (2010), as abelhas sociais nativas do Brasil,

também chamadas de melíponas, são as únicas a apresentar ferrão atrofiado

(NOGUEIRA NETO, 1997). Estas espécies de abelhas exibem notável riqueza e

são originárias da região Neotropical. Por volta de 120 milhões de anos, o Brasil e

a África começaram a separar-se e as abelhas começaram a diferenciar-se

independentemente, adaptaram-se e promoveram especiação, nos seus novos

nichos ecológicos devido ao isolamento ecológico e geográfico,

As abelhas sem ferrão habitam a maior parte da América tropical, desde as

planícies do México até o noroeste da Argentina e parte do Uruguai; seu

povoamento inclui algumas regiões das ilhas do Caribe, ao nível do mar à

altitudes de até 4000 metros dos Andes bolivianos (CAMARGO e PEDRO, 2007).
E obviamente habitam a África, Sul da Ásia a Austrália (SOUZA et al., 2006).

No Brasil foram identificadas mais de 400 espécies

de abelhas sem ferrão que apresentam

heterogeneidade na cor, tamanho, forma, hábitos de

nidificação e população da colônia. Algumas espécies se

adaptam ao manejo, outras não (PEREIRA, 2005). Seus

nomes populares muitas vezes se misturam nas diferentes regiões, sendo


necessário utilizar nomes científicos.
24

As abelhas sem ferrão formam colônias perenes que forrageiam ao longo

do ano e as centenas de espécies existentes diferem entre si em muitas

características biológicas: arquitetura do ninho, talhe dos indivíduos e estratégia

de forrageamento etc.. (SLAA et al., 2006). Muitas espécies, especialmente as

Melipona nidificam preferencialmente em cavidades das árvores vivas, há


espécies que nificam no solo, formigueiros, cupinzeiros; há poucas espécies que

se tornaram cosmopolitas, ao nidificar em em cavidades de construções humanas

(como ocorre em Tetragonisca). A ovipositora tem um abdômen bem

desenvolvido que inibe sair da colmeia, além de ser fotonegativa. Em seu meio de

vida, as colônias vivem reclusas, na escuridão e, são incapazes de observar os

distúrbios do meio ambiente. Na divisão natural de colônias, as campeiras

preparam um novo local de ninho, antes que a colônia se divida (ROUBIK, 1989).

Essa relação entre colônia mãe e filha favorece a dispersão das colônias apenas

a mais de algumas centenas de metros (MICHENER, 1979). Caso estas colônias

iniciantes sejam molestadas por caçadores de mel ou movidas, a morte da colônia


será inevitável.

Portanto, a adaptação em seus habitats e demais diferenças

interespecíficas devem ser consideradas para a criação artificial destas espécies

de abelha. Ressalta-se que poucas espécies são promissoras para a criação

mesmo que usadas no sistema artesanal, como ocorre no Nordeste do Brasil.

1.1. As abelhas nativas da Mata Atlântica e a população humana local:

tradição em vias de extinção

Os primeiros relatos sobre a exploração humana de produtos das abelhas

sociais sem ferrão na Mata Atlântica datam do século XVI (1557), de autoria do

mercenário Hans Staden, que foi prisioneiro dos índios Tupinambás (BATISTA,

2003). Cada grupo indígena brasileiro atribuiu nomes à centenas de espécies

para as quais encontraram algum uso, conhecendo assim seus habitats, hábitos,
25

sazonalidade e interações biológicas. Os recursos e experiências de cada aldeia

diferiam entre si; milhares de espécies da fauna e flora da Mata Atlântica tinham

sido catalogadas na memória de seus habitantes humanos. Porém, em menos de

um século, muitas tribos e aldeias indígenas próximas aos centros de ocupação

migratória foram retiradas de seus habitats e exterminadas. Este fato acarretou a

perda de estoques de informação cultural sobre os homens da Mata Atlântica, que

como todas as outras criaturas deste bioma, haviam armazenado ao longo de

mais de 12 mil anos, e assim a floresta tornou-se estranha e carente do propósito


humano (DEAN, 1996).

Segundo Batista (2003), dentre os nomes populares denominados para as

espécies de abelhas sem ferrão pelos indígenas destacam-se: uruçu, cagafogo,

cupinheira, canudo e jataí, que identificam, respectivamente, Melipona scutellaris,


Oxytrigona tataira, Partamona helleri, Nannotrigona punctata e Tetragonisca
angustula. Atualmente, a população local de remanescente da Mata Atlântica em
Salvador (BA) assistida por autor ops citado revela que as tradições foram

perdidas e quase não há criadores rústicos ou racionais na região; os nomes das

abelhas nativas são conflitantes e na maioria dos relatos, a palavra abelha é

sinônimo de “oropa”, que é o nome popular da espécie exótica Apis mellifera. As

abelhas de tamanho pequeno como T. angustula e Plebeia spp. são identificadas

como mosquito, com variações pela cor. Há referência de cinco espécies de três

gêneros com coloração total ou parcialmente preta que são reconhecidas como
arapuá, saranhó (sanharó): Partamona helleri, Trigona sp., T. spinipes, T.

fulviventris e Scaptotrigona tubiba, e variações em torno do local do ninho


(arapuá-do-chão e arapuá-de-oco etc.). Trigona e T. spinipes são também citadas

como abéia-cachorro, em face da aderência aos pelos dos cães pelas abelhas

operárias quando irritadas. Outra denominação popular vai para Oxytrigona

tataira, conhecida como “Caga-fogo”, temida pela ação defensiva das operárias
ao atacarem o invasor e liberarem uma substância cáustica (ácido fórmico), que
causa leves queimaduras na pele.
26

Nos moldes de Camargo e Posey (1990), a apresentação de exemplares

de abelhas mortas aos informantes na tentativa de uma separação taxonômica,

mostrou-se infrutífera. Quando houve reconhecimento de uma “categoria” (táxon),

esta se baseou não somente no indivíduo vivo, mas em um conjunto de

características associadas como, o tipo de substrato ocupado, a forma da

abertura externa do ninho, a defensibilidade, o tipo de vôo etc. Uma característica

muito empregada para ordenar as abelhas em categorias foi a coloração. Um

informante podia relatar três ou mais cores distintas ou, combinações de cores,

para identificar uma mesma espécie. Uma abelha denominada “uruçu-merinho”

menor que a uruçu e, com uma coloração avermelhada foi relatada como extinta

por um dos entrevistados; segundo a referência, trata-se de uma espécie comum

na mata. Estas abelhas nidificavam sempre em árvores vivas. A apresentação de

fotos, exemplares mortos e de ninhos naturais de diversas espécies locais de

abelhas mostraram-se improdutivas quanto ao reconhecimento desta possível

espécie de Melipona, que foi localmente extinta. Estes tipos de abelhas estão

dentro do grupo das sensíveis ao desmatamento: por nidificarem quase que

exclusivamente em árvores vivas e, por dependerem de grandes cavidades em

certas espécies de árvores para abrigar suas colônias (BATISTA, 2003).

Atualmente, a diversidade das abelhas sem ferrão já descritas gira perto de

400 espécies, o que revela ao mesmo tempo uma excepcional riqueza de

patrimônio genético, por outro lado, ressalta sua extrema fragilidade nos
remanescentes da nova paisagem da floresta. Reforça-se que estas abelhas são

a chave para a conservação das comunidades vegetais dos biomas que se


originam, seja o cerrado, seja a caatinga, Mata Atlântica etc..

1.2. A criação artificial de abelhas nativas

Inicialmente, pontuam-se os fatores que impulsionaram o interesse pela


meliponicultura:
27

Com a colonização européia no Brasil, o crescimento excepcional da

apicultura (criação de Apis mellifera) ocupou décadas, com fracassos e êxitos,

que resultou na espécie que dominou o interesse para criação e a produção de

mel e outros produtos em nosso país. Até o presente, ainda há muitos criadores

que creditam às Apis o maior esforço como agente polinizador na conservação

das plantas nativas, o que demonstra o quanto se perdeu do conhecimento sobre

a diversidade das abelhas brasileiras e outros polinizadores nativos, que realizam

historicamente essa função há vários milhões de anos antes da introdução da


Apis no Brasil.

No interem da ocupação da apicultura, os criadores artesanais de abelhas

sem ferrão se mantiveram na obscuridade e as espécies protegidas dos holofotes


do consumismo.

Adveio então, o fracasso de muitos projetos na tentativa de estabelecer a

apicultura, por acreditarem na alta produtividade dessas colméias, em paralelo

com a supressão aguda da vegetação nativa nos biomas brasileiros e

outros fatores de degradação ambiental. Desbravada

a vegetação silvestre, as abelhas nativas ficaram mais

expostas à matança e ao tráfico. Neste cenário, o

interesse acendeu pelo desenvolvimento da criação

das abelhas sem ferrão, colocando em foco às

comunidades locais, que timidamente mantinham a criação de abelhas sem ferrão


como tradição em suas casas.

A criação destas abelhas foi denominada de MELIPONICULTURA, palavra

usada pela primeira no livro do Prof. Nogueira-Neto (1953). Atualmente, algumas

destas espécies de abelhas podem ser mantidas em caixas especiais (caixas

racionais) para decoração ou, para uso comercial (FABICHAK, 1989; NOGUEIRA-

NETO, 1997). Outras espécies necessitam ser protegidas em seus sítios para a

manutenção dos ecossistemas. Fato é que estes criadores são por vezes
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rotulados como conservacionistas, em face do momento delicado da provável

extinção de muitas espécies das abelhas nativas brasileiras. A artificialização dos

sítios de nidificação trata-se de um instrumento de cativeiro que sequestra a


maternidade (ninho), e pode ocasionar perdas significativas de colônia.

Reforça-se que as iniciativas de criação das melíponas dentro dos biomas

que ainda são ricos em espécies de abelhas sem ferrão devem conter uma

dinâmica de estratégias de vida, nos âmbitos biológicos e socioeconômicos, para

garantir a conservação das espécies endêmicas e o seu uso amigável pelas

comunidades que ali vivem (DIDHAM et al., 1996; FRANCE e RIGG, 1998). Neste

rumo, o retorno econômico das práticas de criação pode ser um incentivo para os

camponeses se envolverem em conservação dos recursos dos quais sua renda

advem. Schwarz (1948) demonstrou que várias espécies de Melipona, produtora

de mel e cera no Novo Mundo, puderam sobreviver em regiões da Amazônia

colonizadas por camponeses por 30 anos. Uma informação que precisa ser
espelhada na atualidade, desde que haja proteção do território dos biomas.

Ramalho (2004) reportou que se deve respeitar o papel ecológico

desempenhado pelos meliponíneos, que dependem das florações das copas altas

de plantas arbóreas. E é dentro deste escopo, que o referido autor recomenda o

delineamento dos projetos de preservação ambiental. Desta forma, as abelhas

polinizadoras poderiam auxiliar no reflorestamento, quando conectados com os

fragmentos remanescentes da floresta tropical.

Zanella (1999) advertiu que há vários aspectos considerados interessantes

e úteis no desenvolvimento e difusão das técnicas de criação de meliponíneos e

outros animais silvestres que podem contribuir para o declínio de certas espécies.

Frisou que a simples popularização da meliponicultura pode contribuir para o

desaparecimento das espécies nativas, como ocorre quando se insiste na

extirpação de colônias alojadas na Natureza. Assim, o aumento crescente na


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procura por colônias fará crescer igualmente a pressão sobre as populações


silvestres.

Para prevenir impactos negativos das ações antrópicas sobre a fauna das

abelhas nativas deve-se gerir ações integradas do coletivo, que estejam


diretamente engajados no âmbito conservacionista como:

· elaborar estudos prévios que justifiquem e definam a melhor forma para


implementação do meliponário;
· ajudar a restaurar os habitats florestais degradados;
· desempenhar papel na polinização gerenciada de agroecossistemas locais;
· criar somente as espécies que naturalmente ocorrem nos locais do
meliponário. Nas regiões urbanas, os cuidados devem visar especialmente a
abelha jataí (Tetragonisca angustula), as iraís (Nannotrigona testaceicornis) e
algumas espécies de mirim (Plebeia spp), que passam a atuar como espécies
“bandeira”;*1
· preservar os enxames nativos e inibir ou interromper a remoção desordenada.

Ressalta-se que a ausência das ações ligadas aos princípios

conservacionistas impõe às abelhas nativas sofrimento agudo devido ao roubo


predatório de seus ninhos e à extinção (DAIN, 1991; KERR et al., 1999).

*1 Espécie Bandeira é a espécie escolhida para representar uma causa ambiental, que pode ser para a sua
própria conservação ou, a conservação de seu ecossistema.
30

1.3. Nicho trófico e outros âmbitos das abelhas nativas

Há várias necessidades a serem atendidas para à manutenção das

abelhas sem ferrão. Ao se respeitar o nicho das amplitudes térmicas, ainda assim,

as abelhas necessitam de outras condições peculiares, que devem ser avaliadas


prioritariamente em sua região de origem.

No caso das abelhas que vivem no bioma Mata Atlântica, Ramalho (2004)

constatou importante observação: a concentração de abelhas sem ferrão nas

florações da copa das árvores mais altas (dossel) e antigas que está ligada à

procura de pólen e néctar presente em quantidade considerável para atrair às

abelhas (condição esta chamada de florescimento massal). O autor ops citado

argumentou que estas abelhas nativas vivem em colônias numerosas e requerem

muito alimento, daí passam a forragear os recursos tróficos em quantidades

expressivas nas estações favoráveis destas espécies arbóreas. Em contrapartida,

realizam a polinização cruzada, que é o mecanismo eficiente que assegura a

produção de sementes e frutos viáveis da floresta Atlântica. Assim, as criações de

abelhas nativas evidenciam quando vão ocorrer os fluxos de produção de mel e

pólen e, o seu criador deve observar as espécies arbóreas presentes no dossel


da Mata Atlântica com alta visitação de abelhas nas copas.

Dieta das Abelhas

As relações entre os visitantes florais e as plantas Angiospermas estão


baseadas numa troca de recompensas. Comumente, o visitante floral é motivado

pela oferta de alimento, ou seja, as espécies florais oferecem atrativos como, o

pólen e o néctar (recursos primários) e, recebem os benefícios da polinização

(PESSON, 1984). A dieta vai além das necessidades nutricionais supridas pelo

néctar e pólen; as abelhas tropicais forrageiam sementes, folhas, tricomas, carne,

excretas de pulgões, fezes e urina, sangue, sal, óleos, esporos, sementes, cinzas,

sucos de frutas, seiva, gomas e resinas, barro etc.. conforme revisão de Roubik
(1992).
31

Como agentes polinizadores por excelência, as abelhas apresentam hábito

alimentar por recursos primários das flores e pela diversificação morfofuncional a

um número expressivo de espécies florais - mais de 20 mil espécies já foram

relatadas. Roubik (1992) relatou pesquisas realizadas ao longo de sete anos na

Costa Rica em floresta baixa (entre 0 e 500 metros de altitude) onde estimou que

40% do total de famílias botânicas e 20% dos gêneros e espécies eram visitadas

por abelhas. Em sua extensa pesquisa, Roubik (1992) relatou Faboideae,

Asteraceae, Rubiaceae, Sterculiaceae, Borraginaceae, Labiatae como as famílias

vegetais mais visitadas pelas abelhas tropicais; acrescenta ainda possíveis

espécies invasoras da região Sudeste do Brasil pertencentes à Malvaceae,

Verbenaceae, Solanaceae, Convolvulaceae, Amaranthaceae, Euphorbiaceae;

como fontes primárias de pólen citou Myrtaceae, Melastomataceae, Solanaceae e

Palmae. Lorenzon et al. (2006; 2014) em estudo realizado em quatro localidades

na Costa Verde da Mata Atlântica (RJ) ao longo de um ano, verificaram uma dieta

enriquecida das abelhas eussociais: 96 espécies melitófilas pertencentes a 38

famílias. É possível predizer que estas visitantes devem forragear mais de 500
espécies florais só na região da Costa Verde da Mata Atlântica (RJ).

A exploração das fontes de alimento pelas abelhas é a resultante de

pressões seletivas relativas à espécie de abelha, à espécie floral e ao ambiente.

O meio ambiente é uma caixa de surpresas, onde as abelhas forrageadoras

precisam vencer os inimigos naturais, enfrentar os competidores, fazer boa


vizinhança (trabalhar em comunidade), “ficar alerta” com a sazonalidade e

mudanças climáticas, além de sobreviver às consequências das perturbações


naturais e artificiais.

O hábito alimentar das abelhas pode ser especialista ou generalista, que

trata-se de um caráter evolutivo, com características inatas ao organismo, aliadas

à aprendizagem. O habito alimentar por especialização pode trazer vantagem

competitiva no uso de recursos específicos, mas se faltarem, as espécies de


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abelhas e hospedeiros podem ser extintos. Já o hábito generalista possibilita à

adequação às variações da oferta e à presença de competidores (MORSE, 1980).

A maioria das abelhas sociais é generalista no uso dos recursos florais, em

função da necessidade de manter a alta biomassa de sua colônia por longo


período (MICHENER, 1979).

Deve-se ainda apresentar as variáveis etoecológicas enquanto

responsáveis pela regulação do hábito alimentar generalista das abelhas sociais,

que são: a aprendizagem, a eficiência e a estratégia, as interações

interespecíficas no uso do recurso. Certamente há preferências florais na escolha

das fontes florais que é inerente à espécie de abelha; num ambiente tropical não

faltam espécies florais para atendê-las. Os meliponíneos como exemplo, tendem

ao uso de fontes florais do mesmo gênero, o que significa ampla variedade de

plantas (e.g. IMPERATRIZ-FONSECA, 1984; RAMALHO et al., 1989). Porém, sob

competição, o perfil de forrageamento pode se alterar; há meliponineos que se

tornam agressivos e monopolistas nas floradas e até em seus territórios. Dados

de pesquisa sugerem que os meliponíneos possam escolher suas fontes de

alimento também a partir da disponibilidade da densidade floral e da produtividade

da área (HUBBELL e JOHNSON, 1977; 1978). Estas considerações podem

conduzir os meliponíneos à dieta mais ou menos heterogênea, cuja deflagração

também depende do número de campeiras; assim, mais forrageadoras mais a

dieta se diversifica. É um vasto campo a ser compreendido, há de ser cauteloso


(a) para se interpretar a dieta das abelhas.

Saiba que as abelhas requerem seu alimento para construir, para manter

sua colônia, para protegê-la da escassez, para se curar de enfermidades, para se


reproduzir.

Basicamente, há a dieta composta por plantas essenciais que provém dos

habitats originais da espécie de abelha e, há àquelas que se sobrepõem a muitas

outras espécies de polinizadores, quer sejam hospedeiros ou não, que forrageiam


33

na luta para sobreviver, esta última creio ser a predominante na atualidade.

Ressalta-se que a sobreposição de recursos florais pode advir da abundância e

da escassez de recursos. Segundo Barth et al. (2020), a floresta Atlântica requer

muitas espécies de abelhas para sua manutenção. Não é surpresa que a guilda
das abelhas é uma das mais diversas neste tipo de bioma.

No presente, o que se observa é o estreitamento de seu nicho trófico, ao se

comparar as espécies florais de sua dieta em áreas antropizadas com as de áreas

endêmicas preservadas, abundante e diversa em recursos florais.

As perguntas que seguem devem ser respondidas pelos iniciantes: “Que

área é atrativa para se criar abelhas”? Na ausência de sua flora atrativa posso

criar abelhas? “Se as abelhas nasceram com a flora da Mata Atlântica, elas
podem gostar de outra flora”?

Lorenzon et al. (2014) em seu livro, “A abelha jataí na Mata atlântica”

apresenta extensa revisão sobre a flora melitófila para diversas regiões

brasileiras. A Universidade de São Paulo disponibiliza em seu site

http://eco.ib.usp.br/beelab, importante acervo sobre as diferentes espécies de

abelhas e a flora visitada. Igualmente, a obra “Biodiversidade em ação:

conservando espécies nativas” de autoria de Alves et al. (2017).

1.4. Meliponicultura e seus muitos desafios

A fauna e flora das regiões neotropicais são ricas e diversas, porém, seus

estudos são escassos e, por esta razão reside um déficit importante a ser

enfrentado na América Latina para conservação da fauna de abelhas nativas.

Esforços para conservar a fauna de abelhas nativas devem abranger

conhecimentos sobre riqueza de espécies, diversidade, taxonomia, dinâmica das

populações e impacto das atividades antrópicas sobre as espécies de abelhas, de

modo a conduzir o público e os formuladores de políticas à sensibilização pela


34

causa ambiental. Somente a partir destes subsídios é possível a aplicação

comercial de produtos e serviços da abelha como, a polinização e a execução de

projetos para preservação dos habitats naturais. A integração efetiva entre

governo, associações de produtores, técnicos, cientistas e conservacionistas é

uma ferramenta poderosa para mitigar os fatores de impacto negativo que

ameaçam as atividades das abelhas na América Latina.

Atualmente, estas demandas se tornam temos prioritárias para a proteção dos

polinizadores:
· prevenir o uso de pesticidas ou, evitar áreas com estas aplicações, no momento
em que são utilizados;
· disseminar incansavelmente as espécies florais que são atrativas às espécies de
abelhas locais;
· aplicar manejo amigável que respeite a ecologia das abelhas.
· evitar a migração de colméias;
· utilizar apenas as espécies de abelhas locais;
· ter atitudes em favor da consciência ambiental;
· incentivar as coleções biológicas regionais de polinizadores e os métodos de
reconhecimento das espécies;
· evitar o uso das abelhas nativas em cultivos que não lhe são atrativos e que usem
repelentes (adubos químicos, pesticidas etc..);
· promover a capacitação sobre conservação dos polinizadores em todos os níveis.

A partir do atendimento dos fatores supracitados deve advir a conservação

dos habitats nativos, para se prevenir o desaparecimento das áreas isoladas

(fragmentos), mesmo que tenham pequenas dimensões, e assim se prevenir as

perdas irreversíveis de inúmeras espécies da fauna e flora. Reforça-se que a

perda de árvores de maior porte afeta diretamente as espécies de maior tamanho

colonial; por esta razão Melipona scutellaris e, ou M. mandory são sérias


candidatas à extinção local num curto espaço de tempo (BATISTA, 2003).

Estratégias de conservação in situ com a criação racional e realocação de

ninhos naturais podem assegurar a manutenção de níveis populacionais mínimos


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das espécies de abelhas nativas e preservar os serviços de polinização que


atendem à flora nativa.

Há de se respeitar as limitações ecológicas das espécies de abelhas:

(a) ao optar pela criação daquelas espécies de abelhas originárias da própria região;
(b) ao garantir área floral nativa (da própria região) para a criação;
(c) ao aplicar as boas práticas, como EXIGÊNCIA HABITUAL no manejo das abelhas;
(d) ao se plantar as espécies florais que lhes são atrativas, respeitando-se as espécies

locais.

Ao se desfalcar as ações conservacionistas corre-se o risco de


termos futuramente apenas capoeiras degradadas no lugar das
poucas florestas de hoje, inundado pelo silêncio de uma área sem
ninhos de abelhas, sem pássaros e outros habitantes naturais.

A extinção local das espécies de abelhas nativas, além da inestimável

perda do patrimônio biológico, representa uma erosão cultural, a perda de uma

tradição oral, mitos, lendas, usos e costumes associados a estas abelhas que

remonta às primeiras ondas de migrantes que atingiram esta outrora sobrepujante

floresta na costa leste do continente americano.


36

2. A MATA ATLÂNTICA NO BRASIL E NO RIO DE JANEIRO

2.1. Mata Atlântica, um dos maiores biomas do planeta.

Para as abordagens sobre Mata Atlântica utilizamos principalmente as

referências: (a) Ministério do Meio Ambiente (2020), (b) Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE, 2019, 2020), (d) World Wide Fund (2020), d) SOS Mata Atlântica (2019,
2020).

De acordo com Câmara (1991) considera-se Mata Atlântica as formações

florestais nativas: Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista ou, Mata de

Araucárias, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual e

Floresta Estacional Decidual; além de ecossistemas associados como,

manguezais, restingas, ilhas litorâneas, campos de altitude, brejos interioranos e

encraves de cerrado e florestais do Nordeste. Seu exuberante território estendia-

se por 1,3 milhões de

quilômetros quadrados, nas

áreas litorâneas desde o Rio

Grande do Norte até Rio Grande

do Sul, por 17 estados do

território brasileiro.

Distribuição do bioma Mata


Atlântica.www.todamateria.com.br

/mata-atlantica/ Figura 1

Esta floresta era o segundo maior bioma do continente, depois da

Amazônia e é chamada de “hotspots” por ser uma das áreas de nosso planeta

considerada insubstituível, em razão da alta biodiversidade e do endemismo das

espécies (MYERS et al., 2000).


37

Devido à ocupação e atividades humanas na região, este bioma é tratado

como um dos principais que carecem de ações conservacionistas no mundo.

Apesar da intensa mitigação de suas riquezas estima-se que existam na Mata

Atlântica perto de 20 mil espécies vegetais, que correspondem a mais de 35%

das espécies existentes no Brasil; estudos apontam alta diversidade de árvores

por hectare, que pode representar a maior diversidade de árvores por unidade de

área do mundo. Destaca-se o endemismo deste bioma, ou seja, espécies que não

ocorrem em nenhum outro lugar no planeta, chegando aos índices de, 53,5% para

espécies arbóreas, 64% para palmeiras e 74,4% para bromélias.

Em relação à fauna, o bioma abriga aproximadamente, 850 espécies de

aves, 370 de anfíbios, 200 de répteis, 270 de mamíferos e 350 de peixes, além de

milhares de espécies de insetos, dentre os quais perto de três mil são espécies de

abelhas nativas, que abrigam as 400 espécies sem ferrão (SILVEIRA et al., 2002).

Essa riqueza extraordinária é maior que a de alguns continentes, a exemplo da

América do Norte, que conta com 17 mil espécies vegetais e, a da Europa com

12,5 mil. Esse panorama torna a Mata Atlântica prioridade para a conservação da

biodiversidade mundial.

Responsabilidade sócio-ambiental. https://www.mma.gov.br/


images/imagens/responsabilidade_socioambiental/a3p/Folder-Alterado_copy.png Figura 2.
38

A área da Mata Atlântica é a casa da maioria dos brasileiros ao abrigar

perto de 72% da população e, três dos maiores centros urbanos do continente sul

americano. Sua diversidade cultural é notável, mantida por povos tradicionais: há

comunidades indígenas quilombolas, caiçaras e ribeirinhas, que vivem uma

relação profunda com natureza. A floresta Atlântica também garante o

abastecimento de água para mais de 100 milhões de pessoas, a partir das nove

maiores bacias hidrográficas do país. Esta região nos contempla com belíssimas

paisagens, cuja proteção é essencial ao desenvolvimento de atividades

essenciais para nossa economia como a agricultura, a pesca, o ecoturismo, entre


outras.

Abaixo se apresentam as principais razões para preservação deste bioma:

· regula o fluxo dos mananciais hídricos;


· assegura a fertilidade do solo da região;
· suas paisagens oferecem belezas cênicas;
· controla o equilíbrio climático;
· protege escarpas e encostas das serras;
· é fonte de alimentos e plantas medicinais;
· permite lazer, ecoturismo, geração de renda e qualidade de vida;
· preserva o patrimônio histórico e cultural sem precedente.

2.2. Mata Atlântica, bioma ameaçado.

Atualmente, o bioma Mata Atlântica é considerado um dos mais

ameaçados do planeta, contando com apenas 12,4% da floresta que existia

originalmente e, desses remanescentes, 80% estão em áreas privadas. Segundo


Atlas da Mata Atlântica restam 16,2 milhões de hectares de florestas nativas.

Em muitos locais, os danos neste bioma foram irreversíveis e a capacidade

de regeneração desses ambientes foi perdida, pelo menos na escala temporal de

muitas gerações humanas (SANTOS, 2008). Nesses casos, quando se busca


39

algum tipo de reestruturação ambiental naquela localidade, a eventual intervenção


para recuperação ambiental pode ser necessária (SER, 2004).

Para classificar o nível do perigo de extinção dos animais, o ICMBio adota

o padrão utilizado pela União Internacional para Conservação da Natureza

(IUCN): (a) Extinto (extinto da natureza); (b) Ameaçada (vulnerável, em perigo e

criticamente ameaçada); (c) Baixo risco (dependente de conservação, quase

ameaçada, pouco preocupante). Categorias essas com subdivisões.

Das 1.173 espécies ameaçadas de extinção em tempos recentes no Brasil


(ICMBIO, 2014), 598 estão ameaçadas na Mata Atlântica, sendo 428 endêmicas
(MARTINELLI et al., 2018 ); das 10 espécies de animais brasileiras extintas, cinco
pertenciam à Mata Atlântica.

A floresta Atlântica continua sendo devastada sem trégua em cinco estados

do país, de acordo com levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica e

pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O estudo aponta que,

entre 2017 e 2018, o bioma perdeu 113 km² (ou 11.399 hectares (ha)) de floresta,

acima de três hectares nos 17 estados do bioma. No ano anterior, o

desmatamento foi de 12.562 ha (125 km²). Cinco estados ainda mantém altos

índices de desmatamento: Minas Gerais (3.379 ha), Paraná (2.049 ha), Piauí

(2.100 ha), Bahia (1.985 ha) e Santa Catarina (905 ha).

Historicamente, a Mata Atlântica recebeu a primeira “camada” de proteção

a Lei da Mata Atlântica – pelo decreto 750/1993, e que trouxe a definição do

Bioma Mata Atlântica. Portanto, os remanescentes de Mata Atlântica que fazem

jus ao regime de proteção legal são aqueles que existiam em 1990 (ou ao menos

em 1993) e não os que existiam em 2006!


40

2.3. Conhecer para prevenir as conseqüências do desflorestamento

Na Mata Atlântica há registros históricos de ocupação humana num

período de 12 mil anos até o presente (DEAN, 1996). O estado da Bahia, no

período da colonização portuguesa, a área perto do entorno da Baía de Todos os

Santos, era ocupada por uma das maiores concentrações humana de todo o

litoral brasileiro: a dos Tupinambás. Para J.A.Sampaio (inf. pessoal) havia uma

população total de 180 mil habitantes por toda a faixa de Mata Atlântica, até os

limites com ecótonos interiores (caatingas e cerrados) (BATISTA, 2003). A base

alimentar dos índios era rica e variada, o que ampliava a perfil de sustentabilidade

do meio ambiente; a dieta era composta de peixes e mariscos, que retiravam do

manguezal, e produtos da floresta como, raízes, frutas, folhas e mel (SAMPAIO,

1994; BATISTA, 2003). A dizimação dos indígenas brasileiros ocorreu após a

colonização e ocasionou a perda dos próprios estoques de informação cultural,

valiosos sobre a floresta e seus recursos potenciais que, os homens da Mata

Atlântica haviam armazenado ao longo de mais de 12 mil anos.

Após a vida indígena, os remanescentes subsistem em situação crítica, em

terras progressivamente ameaçadas por interesses diversos. O desmatamento

ameaça constantemente a preservação das espécies de plantas, animais, e

também da água. Segundo levantamentos, mais de 70% de todas as espécies

consideradas oficialmente ameaçadas no Brasil ocorrem na Mata Atlântica. As

pesquisas atuais citam 200 espécies vegetais brasileiras ameaçadas de extinção,

sendo 117 do bioma mata Atlântica, como a palmeira-juçara, o pau-brasil etc.., os

exploradores não se furtam ao extrativismo, sem qualquer iniciativa de reposição,

o que compromete a existência natural de espécies de valor madeireiro,

energético, medicinal, frutífero ou artesanal. Na lista se encorpa com mais de 400

espécies de seus animais ameaçados de extinção, entre eles o mico-leão-

dourado, a onça-pintada, o bugio.


41

Para o grupo conservacionista, SOS Mata Atlântica, os índices atuais do

bioma Mata Atlântica são inaceitáveis, e demonstram a inércia na aplicação de

leis que já protegem este bioma – a Mata Atlântica é a única cobertura florestal do

país que possui legislação específica – seu território está associado com a

exclusão social, e há denúncias de trabalho escravo. As principais atividades que

estão associadas à devastação são: (a) carvão; (b) plantio de soja; (c) produção

de celulose.

2.4. A fragmentação de habitats

A fragmentação é o processo no qual um hábitat contínuo é dividido em

áreas menores, isoladas umas das outras por uma matriz de habitats diferentes

do original (WILLCOVE et al., 1986). A fragmentação pode ocorrer naturalmente,

quando se formam clareiras criadas por queda de árvores e, artificialmente, pela

supressão arbórea e exploração seletiva de madeira. A fragmentação resulta em

mudanças no tamanho e forma da área, distância entre os fragmentos e grau de

isolamento da matriz que envolve o fragmento e efeitos de borda


(BIERREGAARD et al., 1992).

A fragmentação de habitats nativos é possivelmente a mais profunda

alteração do meio ambiente, que impõe importantes desafios à biologia da

conservação nos dias de hoje. Ela é a mentora de uma série de perturbações

como, alterações na luminosidade e velocidade do vento nas áreas limítrofes do

fragmento, modificando rapidamente o ecossistema. As alterações dos habitats

acarretam impactos profundos sobre: a diversidade e riqueza florística original;

sobre as comunidades de plantas e animais; sobre o isolamento genético das

populações, o favorecimento de invasões de habitats por espécies exóticas

(BIERREGAARD et al., 2001; FAHRIG, 2003). Particularizam-se as perturbações

na estrutura de comunidade das árvores de floresta tropical atlântica, e a

comunidade de polinizadores, que dependem das árvores para se alimentar e


42

nidificar como ocorre com as abelhas sem ferrão (SAMEJIMA et al., 2004). Em

cadeia, os efeitos da fragmentação sobre os polinizadores passam a influenciar a

reprodução das plantas que polinizam. A mudança gerada na composição das

comunidades de polinizadores e plantas afetará o futuro da composição florística

da mata. O agravante se deve à falta de capacidade de alcance de forrageamento

dos polinizadores para obter seus recursos, situação que conduz à redução

drástica das populações dos polinizadores e, o desestímulo da visitação de

polinizadores de longo alcance (KEARNS et al., 1998). As espécies generalistas

(com dieta ampla) tendem a subsistir em meio ao domínio de espécies pioneiras,

que florescem ao longo do ano, porém as espécies especializadas tendem à

extinção, já que dependem de certas espécies vegetais para obter seus recursos

(STEFFAN-DEWENTER, 2002; SAMEJIMA et al., 2004).

Muitos ecossistemas naturais, que eram quase contínuos há poucas

décadas, foram transformados em uma paisagem em mosaico formada por

manchas isoladas do habitat original circundadas por áreas transformadas

(HARRIS,1984). Para agravar, a singular proporção que resta do bioma Mata

Atlântica ainda é palco de devastação. Não há palavras para expressar tamanha

desventura, em um país de tamanho colossal como o nosso. E apesar dos

esforços dos conservacionistas, a perda da sua biodiversidade é inestimável.

As 1.191 unidades de conservação da Mata Atlântica representam 8,5% da

área original deste bioma, ocupam uma área de 115.000 km2, alinhadas em

parques nacionais, reservas biológicas e estações, que continuam a sofrer


ameaças à sua integridade, apesar de sua importância biológica.

Por fim temos os fragmentos urbanos que comumente são pequenos e

tornaram-se muito vulneráveis às ações antrópicas, mesmo àqueles bem

preservados como, o Refúgio Ecológico Charles Darwin, que não suportam

sequer uma comunidade mínima viável de mamíferos, por possuir uma área de

borda muito grande, que altera toda a composição da floresta interna (ROSAS-
43

RIBEIRO et al., 2003). Apesar deste cenário, esta área é reconhecida de grande

importância ecológica, além de ser um dos poucos resquícios de floresta Atlântica

bem preservada e que representa a única opção de vida para as espécies nela
existentes.

Portanto são extremamente necessários projetos que objetivam

desenvolver estratégias para a manutenção de fragmentos pequenos em longo

prazo, como o reflorestamento do entorno e, a conectividade dos fragmentos

próximos, por corredores ecológicos.

As esferas de governo e a preservação da Mata Atlântica


(GOMES et al., 2003).

Como sucede com outros biomas brasileiros, a Mata Atlântica tem sofrido

as consequências por ações nas esferas política, econômica e social geradas

desde o descobrimento do país. Foram vários ciclos econômicos calcados na

exploração predatória dos recursos naturais.

A ineficácia e ausência de políticas que levem em conta as ações que

conciliam a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento local fragilizam

os mecanismos de gestão ou, os tornam impraticáveis até mesmo nas áreas

designadas como unidades de conservação. Estudos realizados por Gomes et al.

(2003) no Parque Nacional da Serra da Bocaina evidenciaram que os principais

conflitos existentes surgem pela falta de diálogo entre as instituições


governamentais e não governamentais.

Na Bocaina verifica-se a potencialidade de várias instituições em contribuir

positivamente para o desenvolvimento sustentável das comunidades no entorno

das unidades de conservação. No entanto, tais potencialidades estão

desgastadas pela falta e pela intermitência das articulações. Enquanto este

entendimento não se estabelece, constatam-se a crescente perda da floresta, que

é bem visível ao se observar as clareiras presentes no interior do Parque Nacional


44

da Serra da Bocaina (GOMES et al., 2003) ou, viajando pelas estradas vicinais.

Além do desperdício do uso direto da diversidade vegetal e animal, os cursos de

água são igualmente vulneráveis, mesmo diante do Plano Nacional de

Saneamento Básico (PNSB), cuja função é a de preservar os mananciais de


águas naturais, que alimentam as nossas bacias hidrográficas (BRASIL, 2002).

É premente que mecanismos de gestão eficientes e o envolvimento das

esferas de governo locais desenvolvam formas de diálogo, como foco no

atendimento ao PNSB e assim, garantir o desenvolvimento sustentável das

comunidades locais. Igualmente, deve-se estabelecer uma política de gestão

integrada, com premissa no âmbito educacional, que possibilitem o uso racional

das áreas com potencial turístico, desde que integradas aos mecanismos de

preservação. Todo este procedimento deve ter a consulta, o respaldo e a inserção

participativa dos residentes, a fim de assegurar uma implantação efetiva. Por fim,

os conflitos interinstitucionais regidos por diálogos travados devem ser tratados

por meio da articulação de grupos externos, para que negociem soluções para

que alavanquem seus projetos.

2.5. Situação da Mata Atlântica do Rio de Janeiro

O estado do Rio de Janeiro ainda mantém o maior número de endemismos

do país e uma das maiores riquezas de espécies. Está totalmente inserido no

bioma Mata Atlântica, possui um riquíssimo patrimônio natural, com uma

diversidade de hábitat que inclui desde as restingas e os manguezais nas

planícies costeiras e fluviais, as florestas de baixadas e os maciços serranos, até

os campos de altitude. Essa ampla variação altitudinal, em um território

relativamente pequeno associada à geomorfologia, ao clima e a outros fatores, é

responsável pela grande diversidade de fauna e flora sendo esta

reconhecidamente uma das mais ricas do país (SILVEIRA FILHO E RAMALDI,


2018).
45

Remanescentes da Mata
Atlântica do estado do Rio

de Janeiro. Figura 3

http://www.sosma.org,br/noticias/levantamento-inedito-mata-atlantica-rio/

Parte deste patrimônio está dentro do Sistema Estadual de Unidades de

Conservação, que conta com 545 unidades, abrangendo aproximadamente 22,6%

do território estadual. Destas, 388 são unidades de conservação (UCs) de gestão

pública em suas três esferas, e as demais, de gestão privada (MARTINELLI et al.,

2018 ).

Atualmente existem perto de 382.000 plantas terrestres no mundo; nosso

território estadual congrega aproximadamente 25% da flora brasileira, sendo 2,5%

espécies endêmicas, que especificadamente, compreende 9.269 táxons

(MARTINELLI et al, 2018) e a ocorrência de 7.731 espécies de Angiospermas, de


acordo com a Flora do Brasil 2020 em construção (2019).

Diante da representatividade pela defesa da riqueza natural da Mata

Atlântica, o estado do Rio de Janeiro foi escolhido para sediar a Convenção da

Diversidade Biológica- CBD (2012), quando foi renovado o acordo global para

conservação da biodiversidade, no uso sustentável dos recursos naturais do

planeta.
46

Por outro lado, o estado abriga 8% da população brasileira, que é a

segunda maior densidade demográfica (mais de 16 milhões de habitantes), que o

predispõe à forte pressão antrópica sobre à Mata Atlântica. De acordo com o

SOS Mata atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais-INPE (2016) o

estado do Rio de janeiro ocupa o segundo lugar entre os estados que mais

desmataram entre os anos de1985 e 2015. Dificil crer que houve recuperação
pelo menos de parte de tal área!

Para Rocha et al. (2003), a Mata Atlântica do Rio de Janeiro detém um

histórico repleto de violência contra seu patrimônio natural. Este estado sofreu

supressões contínuas da floresta desde a colonização, atingindo seu ápice de

remoção de áreas no século XX, quando perto de 84% de sua cobertura florestal

original foi derrubada (FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA/INPE, 2001). Pelo

menos, o Rio de Janeiro foi beneficiado com o mais antigo projeto de

reflorestamento do Brasil (ainda no século XIX), com medidas conservacionistas

implantadas por atos legais que restringiam o desmatamento, promoviam

desapropriações de terras, e obrigavam a proteção de nascentes, foram

realizadas ainda antes, há pelo menos 200 anos (RODRIGUES et al., 2009).

Informações detalhadas sobre a história da exploração da Mata Atlântica no

estado do Rio de Janeiro encontram-se na obra organizada por MARTINELLI et


al. (2018).

Dados sobre o estado do Rio de Janeiro indicam que perto de 20,30% do

estado do Rio (aproximadamente 888.833 hectares) encontra-se recoberto por

remanescentes de Mata Atlântica, dos quais 19,5% representam florestas (SOS

MATA ATLÂNTICA E INPE, 2016). Mais de 80% dos fragmentos da Mata

Atlântica são considerados pequenos, com menos de 50 hectares e, mais de 97%

não atingem 250 hectares (RIBEIRO et al., 2009). O cenário é desanimador para

boa parte dos fragmentos maiores e mais importantes para a conservação, por
não estarem conectados entre si (RIBEIRO et al. ops citado).
47

Silveira Filho e Ramaldi (2018) indicaram os cinco principais vetores da

pressão antrópica sobre a flora endêmica e aos seus habitats: urbanização e

expansão urbana, incêndios, agropecuária, espécies invasoras e infra-estrutura

para estradas. Os autores ops citados pontuam que muitas espécies vegetais

podem ser extintas antes que sejam avaliadas como, a flora endêmica do estado

do Rio de Janeiro das famílias Orchidaceae e Bromeliaceae. Destacadamente, as

espécies epífitas são mundialmente mais vulneráveis à extinção do que outras


plantas.

Estudo sobre estrutura da vegetação em habitats fragmentados de Mata

Atlântica de baixada em Silva Jardim-RJ por Carvalho et al. (2003) evidenciaram

que a maior parte dos fragmentos monitorados, principalmente os de menores

tamanhos, encontra-se deficiente em seu estado de conservação, com

predominância de características estruturais e florísticas próprias de matas

secundárias. Estes resultados refletem a situação lamentável em que se encontra

a maior parte dos remanescentes de baixada da Mata Atlântica no Rio de Janeiro.

Igualmente, Gama e Villela (2003) registraram que a preservação das áreas

remanescentes da Mata Atlântica no sudeste do Brasil foi um dos maiores

problemas de conservação do país, sendo destaque Poço das Antas e União,

duas Unidades de Conservação (Ucs) importantes sedes localizadas no Norte

Fluminense. O relato de Gama e Villela (ops citados) é importante indicador sobre


a fragmentação do Sudeste do Brasil, que atingiu um estágio muito avançado.

A conservação da biodiversidade que ainda persiste é um grande desafio a

ser encarado pela sociedade e por seus gestores (SANTOS, 2008). Esta

biodiversidade provê serviços que, de forma direta ou indireta, possibilitam

diferentes formas e escalas de vida (MILLENIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT,


2016).
48

Indicam-se os seguintes serviços ecossistêmicos para:

· provisão (fibra, madeira, água, etc.),

· regulação (polinização, dispersão, regulação de pragas e doenças),

· regulação do clima, água, etc.,

· culturais (valores espirituais, religiosos, estéticos, etc.) e

· suporte (formação e retenção de solo, fotossíntese, provisão de habitats

para fauna e flora, ciclagem de nutrientes e ciclo da água, etc.)

Estes serviços podem ser citados como alguns “bens” ou características de

ambientes naturais que possibilitam a persistência das sociedades. Também os

entendemos como fatores fundamentais para auxiliar na manutenção da


qualidade de vida nas cidades e para o bem-estar de seus habitantes.

O Livro Vermelho da Flora Endêmica do estado do Rio de Janeiro

(MARTINELLI et al., 2018 ) é uma fonte valiosa de informações sobre o estado de

conservação da rica flora do Bioma Mata Atlântica, sendo importante base para

fomentar pesquisas, permitir o planejamento, formulação e desenvolvimento de


política estadual para a consolidação de instrumentos de conservação ambiental.
49

3. A POLINIZAÇÃO E OS POLINIZADORES

Há centenas de anos a relação entre abelhas e plantas desperta a atenção

de filósofos e naturalistas, mas foi no século XX que fatos e teorias deram origem

a modelos históricos e daí, destacaram a importância desta interação

(IMPERATRIZ-FONSECA et al, 1993).

Iniciada entre 50 e 100 milhões de anos, a polinização por abelhas

desencadeou tanto a convergência nos caracteres estruturais dos mecanismos

florais, quanto à diversificação das plantas angiospermas (GRANT, 1950).

3.1. Abelhas e polinização

As abelhas foram reconhecidas como o principal grupo de polinizadores

que trabalham na polinização de diversas espécies florais, essenciais para nossa

alimentação. Em áreas agrícolas polinizam aproximadamente 66% das 1.500

espécies cultivadas no mundo, resultando em uma estimativa de 15 a 30% da

produção mundial de alimentos (KREMEN et al., 2002, GUIMARÃES, 2006).

Além, de produzir mel e alguns produtos medicinais, auxiliar na reprodução das


plantas para reflorestamento e para manutenção dos ecossistemas vegetais

(KERR, 1997).

De flor em flor, as abelhas obtém os recursos para aprovisionar sua

colônia: pólen, néctar e óleo, entre outros. Em seu ciclo de forrageamento

promovem a polinização cruzada, que desencadeia a reprodução das plantas;

assim a relação abelha-planta traz benefícios mútuos. A polinização melitófila

(melitofilia) trata-se de um mecanismo intrínseco realizado pelas abelhas que

atende número significativo das plantas Angiospermas (que apresentam flores),

para a formação saudável de frutos e sementes. Neste processo ajudam outros

personagens da cadeia alimentar como, os dispersores de sementes e


50

decompositores. A melitofilia se estabeleceu como um serviço ecossistêmico


primordial para a manutenção dos ecossistemas e da biodiversidade.

Esquema de forrageamento da abelha na flor

polinizando. Figura 4

3.2. Valor da Polinização

As espécies de abelhas envolvidas no serviço de polinização para a

agricultura resultam na cifra de até 90% do sucesso reprodutivo das flores destas

plantas, com forte incremento dos índices de produtividade (FREE,1993;

BALESTIERI et al., 2002). A FAO (2004) estima que aproximadamente 73% das
espécies agrícolas cultivadas no mundo sejam polinizadas por abelhas.

O valor econômico anual total das culturas que dependem da polinização é

em média de 761 bilhões e o valor das culturas que não dependem da polinização

por insetos é de 151 bilhões, segundo estimativa de Gallai et al. (2008). As

verduras e frutas lideram as categorias de alimento que necessitam da

polinização entomófila (por insetos) com valores de 50 bilhões para cada

categoria: oleaginosas, amêndoas e especiarias

(FREITAS e CRUZ, 2010). No Brasil, apenas oito

culturas dependentes de polinizadores são

responsáveis por US$ 9,3 bilhões em exportações


(HUBBELL e JOHNSON, 1977).

As abelhas melíferas (Apis mellifera) são os


51

insetos sociais mais utilizados para a polinização de muitos cultivos agrícolas, sua

seleção para este serviço é histórica. Muitos argumentam que as abelhas

melíferas possuem importante habilidade para polinização, porém há cultivos que

requer outros polinizadores efetivos da espécie floral (FREITAS, 2002; RIBEIRO,


2010).

3.3. Abelhas sem ferrão e a polinização

As abelhas sem ferrão são as

responsáveis por até 90% da polinização das

flores das árvores nativas (e.g. KERR et al.,

1996, RAMALHO, KEVAM e PHILIPS, 2001;

IMPERATRIZ FONSECA et al., 2006). A partir

desta premissa, para incrementar a meliponicultura e

ampliar seu valor comercial considerado módico, incentiva-se o seu uso em

cultivos agrícolas, com os seguintes argumentos, que comumente são de suporte


frágil:

· a dieta destas espécies é generalista (termo que pode ser indevidamente

interpretado). Em seu habitat adapta-se e procura diversas plantas nativas

para obter seus recursos essenciais. A maioria dos cultivos não está em sua

lista;
· o hábito de forragear é por constância floral. No caso, constância não se refere

necessariamente ser em uma só planta;

· por não ferroarem. Porém, existem outras formas de defesa da colônia que

não devem ser negligenciadas;

· por não suportarem migrações, mesmo a curta distância.


52

A partir destes argumentos há aqueles que preconizam o seu uso em

sistema artificial (em caixas) na polinização.

Comumente, os fatores abióticos e bióticos não são devidamente

considerados para a criação, porém constituem informações valiosas sobre o

endemismo das espécies de abelhas, que na maioria é selvagem e exige

determinado tipo floral e micro clima. Daí ao se utilizar estas colônias para

polinização de cultivos agrícolas busca-se êxito que só pode advir quando são

oferecidas às abelhas as plantas floríferas e as condições abióticas de sua região.


Informações nem sempre fáceis de serem obtidas e, ou atendidas.

Vale apresentar relatos sobre o incremento destas abelhas no serviço de


polinização.

A primeira revisão detalhada sobre o papel das abelhas sem ferrão na

polinização de culturas agrícolas foi apresentada por Heard (1999) na Austrália.

Segundo esse autor, abelhas da localidade (como, Trigona thoracica) são

consideradas polinizadores eficientes das culturas de Cocos nucifera (coco),

Averrhoa carambola (carambola) e Theobroma grandiflorum (cupuaçu). Porém, o


estudo não citou o sistema de manejo, o tipo da paisagem do local e nem os

danos às abelhas, devido à aplicação de pesticidas, que porventura foram

utilizados. O mesmo ocorre com a proposição de Slaa et al. (2006) sobre a

polinização dos meliponíneos como polinizadores efetivos de 18 culturas

agrícolas. Igualmente, as referências que seguem sobre o uso de meliponíneos

em ambientes fechados, inclusive em cultivos propensos ao baixo florescimento

como, Capsicum annuum L. (pimentão), que é por sí autogâmica (CRUZ et al.,

2005; SILVA ett al., 2005), do Fragaria x Ananassa (morango) (MALAGODI-

BRAGA; KLEINERT, 2004). São estudos que não esclarecem ou enfatizam as

condições iniciais e finais das colmeias dentro destes cultivos e seu

comportamento de forrageio enquanto confinadas.


53

Os estudos que seguem foram realizados dentro do habitat das abelhas ou,

próximos ao ambiente alterado em Manaus, que podem conduzir ao êxito ou, não

desta criação: instalação de meliponário de quatro espécies de abelhas sem

ferrão: Plebeia sp., Aparatrigona impunctata, Leurotrigona pusilla e Trigona sp.,

em plantios de cupuaçu. Estas espécies de abelhas são consideradas

importantes polinizadores dessa cultura e de possível manipulação pelo homem

de acordo com Gribel et al. (2008). Estas pesquisas sugerem o uso de

meliponíneos manejados na polinização dirigida em cultivos comerciais de

açaizeiro (Euterpe oleraceae) na Amazônia, com vistas ao aumento da produção

de frutos (VENTURIERI et al., 2005). O açaizeiro tem um grande potencial de

produção de néctar e para atrair a visitação de Melipona melanoventer, M.

flavolineata e M. fasciculata, que são considerados polinizadores efetivos destas


espécies vegetais (VENTURIERI et al., 2008).

A crítica a muitas dessas pesquisas reside na prevalência da resposta na

produção e na qualidade dos frutos, porém a maioria se abstém das informações

sobre perdas das colmeias, sobre boas práticas, manejo e a manutenção das
colônias.

Resta frisar que a aplicação artificial dos meliponíneos para polinização de

diversos cultivos agrícolas tem como importante barreira o transporte das

colônias, que propicia a morte substancial de crias e das campeiras, além da

exigência de reprodução natural, que é de taxa mais baixa quando se compara à

das abelhas africanizadas. Assim, torna-se inviável a produção dessas espécies

de abelhas em larga escala. Insistir em migrar estas colônias nativas ou


manejadas é negligenciar seus princípios ecológicos e os fatores de extinção.

Questiona-se: qual a razão da invasão dos habitats naturais das abelhas

nativas por “criadores”, mesmos sabendo da escassez destes santuários? A

resposta é esperada: o uso indiscriminado destas colônias, que provoca alta

mortalidade, dentro do sistema de manejo que aplicam é incapaz de conservar as


54

colônias criadas artificialmente e daí, os “criadores” retornam as áreas naturais


para reposição.

3.4. Impactos sobre os polinizadores

Atualmente, diversos escalões de nossa sociedade debatem as

consequências do declínio dos polinizadores. Para Kevan e Philips (2001), o

impacto do desaparecimento de polinizadores na agricultura traz importante dano

no suprimento de alimento no mundo. Freitas (2002) alertou que a maioria das

plantas cultivadas depende de agentes polinizadores para a produção de frutos e

sementes, e se realizada de forma racional, a polinização pode contribuir


efetivamente para aumentar o percentual de produção e prevenir perdas.

Fato é que alheios à produtividade agrícola ensejada pelas colméias

melíferas, o sistema de manejo tem sido punitivo também a estas abelhas, que

sofrem com os maus tratos, por vezes com resquícios de crueldade, quando não

se respeita seus princípios ecológicos. A mortandade durante a colheita de seu

mel é muito alta e muitas colônias são barbaramente abandonadas sem crias e

alimento após a polinização. Este quadro de más práticas favorece o declínio das

populações dessas abelhas, com perdas substanciais de colméias, inclusive por

agrotóxicos e enfermidades, que repercutem nos sistemas agrícolas. Durante o 1º

Workshop Nacional de Sanidade Apícola realizado em Santa Catarina (2012),


produtores relataram perdas de milhares de colméias, que sensibilizou a defesa

agropecuária; igualmente, a EMBRAPA organizou o 1º Simpósio de Perdas de

Abelhas no Brasil (2017), a

partir de fatos e relatos sobre

alta mortandade de abelhas

que obteve vasta

repercussão sobre as denúncias de altas perdas de abelhas e colméias, inclusive


por fome e sede.
55

Por sorte, dentre as mais de 30 mil espécies de abelhas descritas em todo

o mundo, poucas são manejadas comercialmente como polinizadores de plantas


cultivadas (BOSCH e KEMP, 2002).

É fato que as populações de abelhas nativas são bastante sensíveis às

variações ambientais e seu translado deveria ser tratado com muita reserva.

Apesar da sua prevalência nos habitats nativos, sua diversidade taxonômica e

ecológica foi por vezes subestimada ou, mal compreendida nos poucos estudos

que tentaram advertir sobre suas respostas à fragmentação de habitats e a sobre

a queda do rendimento dos cultivos em função da perda de polinizadores


(RIBEIRO, 2009).

Em paralelo, as pesquisas se direcionam para aperfeiçoar o sistema de

produção e avaliar o papel das espécies de abelhas nativas na polinização de

culturas agrícolas (KEARNS; INOUYE, 1998). E este também pode ser um fator

responsável pelo seu declínio ou a sua extinção. Antes mesmo que sirvam à
agricultura!

No Brasil, a comprovação sobre a perda de abelhas nativas nos

ecossistemas é bem escassa. Para MACHADO et al. (1998) pelo menos três

espécies de abelhas sem ferrão podem estar em risco de extinção. Mais realista,

Kerr et al. (2001) previu que apenas dez espécies deste grupo sobreviverão à

predação e ocupação humana. Fato é, que para muitos observadores que

assistem a extensa devastação das áreas naturais dos biomas brasileiros,

certamente há perdas consideráveis dos sítios de nidificação e decréscimo de

suas fontes de alimento. E assim, seu destino na polinização de cultivos

agrícolas, com uso indiscriminado de pesticidas, ocasionará a extinção de muitas

espécies.

No geral, pontuam–se várias consequências responsáveis pelo declínio de

polinizadores nas áreas agrícolas:


56

As alterações ocorrem em diversos graus sobre a abundância, a

diversidade das abelhas, a alteração dos recursos florais e do ciclo de reprodução

das plantas (GRANT, 1982; SOLOMON e HOOKER, 1982).

· A perda dos sítios de reprodução e nidificação (FREITAS, 1995; KREMEN et

al., 2004).

· A superpopulação de áreas de refúgio favorecendo a competição (FREE,


1993; OSBORNE et al., 1991).

· O colapso no manejo das abelhas melíferas, apesar de ser o principal


polinizador utilizado nos cultivos (IMPERATRIZ-FONSECA et al., 2006;
AIZEN et al., 2008; RIBEIRO, 2009).

· O aumento de perdas, devido às enfermidades e parasitoses em número e


tipo, ao aumento das fugas, mortalidade e redução das áreas de
forrageamento.

Kerr et al. (2005) reforçaram a ocorrência de impacto negativo em

Uberlândia devido à ação de meleiros que culminou na eliminação de quatro

espécies: Melipona rufiventris, Melipona bicolor, Melipona marginata e


Cephalotrigona femorata.

Abaixo apresentam se fatores impactantes sobre o meio ambiente em alto


escalão, que afetam drasticamente os polinizadores conforme Freitas (2010):

· desflorestamento de áreas nativas para atender a implantação e a expansão de


cidades, das áreas agrícolas etc.. (KREMEN et al., 2002; LARSEN et al., 2005).

O efeito da paisagem no rendimento dos cultivos agrícolas foi monitorado

por Ricketts et al. (2008), ao analisar 23 estudos e 16 culturas em cinco

continentes. Os autores verificaram redução exponencial da riqueza de espécies

de polinizadores e da taxa de visitação nas flores à medida que se amplia a

distância do ambiente natural. Nas regiões tropicais, este efeito foi maior que o

obtido nas regiões temperadas e pode ser o responsável pela extinção de muitas
57

espécies de abelhas sem ferrão, por serem estas espécies dependentes das

árvores e do solo para nidificar. Comumente, as ações dos serrareiros

predominam em florestas com domínio de árvores idosas, que são aquelas que
apresentam ocos adequados para ocupação de novos enxames.

· uso inadequado de práticas de cultivo como, o uso indiscriminado de pesticidas e

herbicidas (FLETCHER e BARNETT, 2003; FREITAS et al., 2009). Citam-se os


inseticidas, principalmente aqueles de ação neurotóxica, que ampliam a ação dos

herbicidas e capinas.

As plantações sofrem com o desequilíbrio ambiental e se tornam

suscetíveis à invasão de pragas, forçando o setor agrícola a utilizar agroquímicos.

Sem respeitar as práticas ecológicas, o sistema agrário da America Latina se vale

ostensivamente da importação de pesticidas (TANSEY, 1995; PINHEIRO e


FREITAS, dados não publicados apud FREITAS et al., 2009).

No Brasil, o uso de agroquímicos esbarra em restrições e na

regulamentação, mas há pouco esforço para aplicação das normativas. Os

inseticidas são os que mais causam danos às abelhas (DE LA RÚAET al., 2009).

Recentemente, um estudo realizado em Yucatan (Mexico) verificou que a

permetrina usada no controle de mosquitos durante a estação chuvosa foi

altamente tóxica para as abelhas melíferas e sem ferrão (VALDOVINOS-NÚÑEZ

et al., 2003).

· introdução acidental ou deliberada, intensificação e difusão de espécies florais

exóticas (revisão em STOUT e MORALES, 2009).

Inúmeras espécies exóticas ingressaram no Brasil: Eucalipto, café,

forrageiras para pastagens, muitas espécies de frutíferas e de pastagens,

algarobeira, tilápia, avestruz, bovinos, coral-sol, mexilhão-dourado, javali, etc.. No

caso particular da invasão das abelhas africanizadas, polihibrido resultante da

miscigenação entre as subespécies africana e européia (que se iniciou na década

de 50), não faltam relatos embaraçosos sobre a invasão destas abelhas nas
58

regiões metropolitanas e em muitos tipos de habitats nas regiões da America


Latina e Central (ROUBIk, 1989; QUEZADA-EUÁN e MAY-ITZA, 2001).

O monitoramento da visitação de polinizadores realizado na Guiana

Francesa por 17 anos em um local sujeito à expansão urbana causou perturbação

aos polinizadores. Este fato foi pesquisado por Roubik (1996) que apontou um

aumento de 100% na proporção de visitas de abelhas melíferas às flores,

enquanto a visitação de abelhas nativas por flor diminuiu proporcionalmente

devido à dominância das abelhas melíferas (Apis) na floresta. Lorenzon et al.

(2003) também verificou esta ocorrência no Sul do Piauí. Roubik (2000) ressaltou

que há também ecossistemas que não são vulneráveis à invasão das abelhas

africanizadas, possivelmente por não dispor de alta oferta de recursos que esta
espécie requer.

Ainda há outros riscos que atentam contra a sobrevivência dos


polinizadores que devem ser destacados:

§ Poluentes como metais pesados, (cádmio (Cd), chumbo (Pb) e mercúrio (Hg)),
interferem nas funções dos ecossistemas e deixam resíduos em altos níveis nos

alimentos da colméia (BAKER et al., 1994), e que provém de recursos florais


sensíveis aos contaminantes como pólen, resinas.
§ Predações diversas: predação de ninhos por caçadores e, por aranhas, formigas,
batráquios, certas espécies de pássaros, vespas, traças e outras espécies de

abelhas, em áreas desequilibradas, conforme ressaltou Fabichak (1989).

§ Secas prolongadas, chuvas intensas e enchentes e às mudanças climáticas


§ Incêndios e sua grandeza

Na formação da vegetação, o fogo tem desempenhado um papel

fundamental no controle da formação e manutenção de espécies e do padrão

estrutural das comunidades vegetais (TYLER, 1995; WHELAN, 1995; GOTO et

al., 1996; MIRANDA et al., 1996); sua ocasionalidade em determinadas área pode

ajudar a criar uma variedade de estágios sucessionais. Porém, a fragmentação e


59

a redução das áreas de proteção ambiental, a proximidade de regiões urbanas, e

monoculturas, em áreas vizinhas, são condições que provocam incêndios

frequentes, que resultam em ambientes mais ressecados, erodidos e


empobrecidos por espécies nativas (PRIMACK, 1993).

Assim, as queimadas surgem com importante fator avassalador da vida dos

remanescentes florestais, especialmente quando a ocorrência de perturbações é

frequente e favorece a formação de grandes clareiras, nestes casos é possível

que o processo de sucessão nunca se complete (WHITMORE, 1991).

Atualmente, as mudanças climáticas acentuam significativamente o déficit

hídrico nos meses de estiagem (seca), mesmo em regiões de florestas úmidas

(WHITMORE, 1991), favorecem o aumento da temperatura do ar e dos ventos, e

daí o fogo penetra com facilidade no interior da floresta devido ao acúmulo de

biomassa morta na borda do fragmento, produzindo condições muito favoráveis à


incidência de queimadas de alta grandeza (PRIMACK, 1993).

Segundo a Coordenadoria de Recuperação Ambiental da Prefeitura do Rio

de Janeiro, os incêndios florestais são atualmente o maior problema do Parque

Nacional da Tijuca. Em média são registradas quatro ocorrências mensais sendo

as principais causas, quando identificadas, o acúmulo e queima de lixo, a

presença de gramíneas, práticas religiosas e balões (SILVA MATOS et al., no

prelo).

3.5. Casos peculiares envolvendo predação e declínio de abelhas

A seguir apresentam-se relatos sobre as consequências de área


desflorestada sobre a vida das abelhas e de seu habitat.
60

(A) Estudo realizado em remanescente de Mata Atlântica de Salvador.


(BATISTA, 2003)

Dentre as espécies amostradas neste fragmento, Melipona scutellaris

(uruçu) apresenta uma das menores densidade de ninho natural e encontra-se

seriamente ameaçada de extinção (BATISTA, 2003; 2002; BATISTA e

RAMALHO, 2003). O mel de uruçu tem importante aceitação local e é avidamente

procurado pela população. Atualmente, a colheita do mel de Melipona scutellaris,

via de regra, dá-se de forma predatória por meleiros, que predispõe à morte da

colônia e por vezes das árvores que abrigam ninhos naturais, sendo uma das

causas significativas do seu declínio local. Há ainda outras condições agravantes

como, a derrubada das árvores para extração da madeira e incêndios


indiscriminados.

Um meleiro relatou ter “furado” dezenas de ninhos de urucu nos últimos

anos e, segundo ele estas abelhas eram muito “cismadas” (tímidas), difíceis de

serem localizadas. Reconheceu ainda que os ninhos naturais desta espécie

atualmente sejam raros. Um pequeno criador rústico de uruçu relatou que as

abelhas cismavam com a presença feminina e a manipulação dos cortiços era


tarefa exclusivamente masculina.

Reforçaram que ninhos populosos e conspícuos e de defensibilidade

extrema facilitam e potencializam a localização e o extermínio dos ninhos, citaram

Trigona spinipes e Oxytrigona tataíra, como espécies temidas. Para eles, a


destruição dos ninhos é uma “ação preventiva” de novos acidentes.

Contraditoriamente, os ninhos da Oxytrigona tataira não apresentaram qualquer


reação agressiva mesmo na proximidade da sua entrada.

O autor ops citado ressaltou que as abelhas nativas que nidificam em

árvores são sensíveis ao desmatamento, porque dependem de amplas cavidades

de certas espécies arbóreas para abrigar suas colônias. Reforça que se por um

lado a diversidade de abelhas nativas representa uma excepcional riqueza de


61

patrimônio genético, e ser elemento chave para a manutenção das comunidades

vegetais das florestas, por outro... estas espécies são altamente frágeis. A perda

de árvores de maior porte afeta diretamente as espécies de maior tamanho

colonial, por isso Melipona scutellaris é uma forte candidata à extinção local num

curto espaço de tempo. A extinção local destas espécies de abelhas, além da

inestimável perda do patrimônio biológico, representa uma erosão cultural.

(B) Estudo realizado em região avaliada após 20 a 30 anos da predação da


floresta, do estado do Amazonas. Poucos estudos como este examinaram o
impacto das ações humanas em paisagem nativa, com reflexo nas populações
de abelhas sem ferrão em longo prazo.
(BROWN e ALBRECHT, 2001)

Os autores verificaram que houve evidências da suscetibilidade à

supressão florestal, na composição e na riqueza de Melipona spp. (Melipona

seminigra abunensis e M. grandis), que eram as espécies de maior ocorrência na


região. A avaliação foi feita comparativamente à outra área de mata primária,
quando a riqueza de espécies de Melipona era alta.

O estudo também relata o passo a passo que conduz a destruição ou, a

possível recuperação de algumas colônias de abelhas, sob impacto da derrubada

das árvores:

§ há colônias que morrem de imediato;


§ há colônias que sobrevivem à queda da árvore, mas ficam com seu ninho exposto
ou, são violadas pela ação do homem, para tomar seu mel, destruindo seus favos
ou, podem também ser atacadas por outros predadores, o que reduz sua
sobrevivência;
§ há colônias expostas pela derrubada, que não são predadas e que tentam se
recuperar das sobras de sua colônia e conseguem resistir ao novo micro clima de
sua região de origem: forte calor, a luminosidade, a redução da umidade, que até
então não conheciam. As que permanecem na árvore derrubada lutam também
62

para retificar a arquitetura de seu ninho (que é horizontal), modificado para a


posição vertical da árvore derrubada;
§ as colônias que restam, ficam ainda sujeitas à consanguinidade devido à redução
do número de colônias na sua região que rotineiramente interagem umas com as
outras. Alguns autores argumentam que uma população mínima viável de
colônias de abelhas sem ferrão deve ser mantida para evitar a consanguinidade e
a conseqüente produção de machos diplóides (CAMARGO, 1974). A
consanguinidade é um fator de extinção.

Fato é que as condições e mudanças extremas que são submetidas

poucas colônias sobrevivem, é bem provável que a endogamia seja pronunciada


como efeito letal, dizimando as que restam.

Os autores concluíram que diante da supressão florestal e das suas

consequências sobre as colônias de abelhas que ali residiam, não é provável que

as colônias sem ferrão resistam à recuperação secundária da floresta, pela

ocupação dos cultivos agrícolas e das pastagens, com recursos primários de

baixa disponibilidade e plantas submetidas a muitos estressores. Na condição de

vida na floresta primária, a média da distância mínima da cobertura florestal para

cada espécie nunca excede mais de algumas centenas de metros, o que significa

que as colônias afastadas das florestas, logo irão perecer.

Assim, o desafio para as colônias sobreviventes nesta nova situação é

poder viver dos recursos disponibilizados nas manchas de floresta primária que

restam do desmatamento, além de enfrentar a consanguinidade devido ao


isolamento ambiental.

Diante destes fatos, conduzo o leitor (a) à reflexão: “Sob tal pressão

antrópica podem as abelhas sem ferrão sair dos ambientes florestais intactos e

rastrear nos altamente fragmentados, mesmo sendo eussociais e de hábito


forrageador generalista? E quando deslocadas para cultivos agrícolas?”
63

Acreditamos que o esvaziamento dos habitats é nítido para aqueles que

procuram por colônias de abelhas sem ferrão nos ambientes em que vivem e
cabe a todos procurar os fatores de predação e trabalhar seu controle.

Lorenzon et al. (2017) reportaram ação predatória de colônias silvestres de

abelhas (Apis mellifera e espécies sem ferrão). Tratava-se de uma área de

proteção ambiental, que sofreu autorização para ser devastada por ação da

governança, que visava a construção de rodovia. Foi dado um período limitado de

resgate (apenas sete dias) para a retirada das colônias de abelhas e outros

animais. Após a remoção, todas as colônias removidas e não removidas foram

barbaramente predadas pela população local, que atingiu inclusive o meliponário

do criador que vivia nas proximidades da área e auxiliara nos resgates das

colônias. Este fato também evidencia a fragilidade das ações dos órgãos que

regulam ou servem à defesa da flora e fauna. Lorenzon et al. (2012) também

relatou a vulnerabilidade das abelhas jataís nas áreas de moradia, no entorno do

Parque Estadual da Ilha Grande; nesta localidade, não havia um trabalho de

conscientização sobre as abelhas nativas e, os moradores humanos as matavam

por desconhecerem sua importância ou, para obter seu mel. (inf. pessoal não
publicada).

Equilibrar a agricultura e a conservação ambiental é o maior desafio dos

tempos modernos. Estes elementos se interligados, requerem atitudes ecológicas

contundentes e irrestritas, que na atualidade estão aquém do desejável.

Acreditamos que a consciência sobre a importância das abelhas visando os

ecossistemas naturais e os alterados pelo homem crescem, e é urgente se traçar

e aplicar bases para reforço da conservação ambiental e da gestão dos recursos


naturais.
64

3.6. Iniciativas que visam à preservação dos Polinizadores


(MARTINS, 2009)

A degradação ambiental consubstanciou a produção de inúmeras

iniciativas em prol da proteção aos polinizadores, que disseminam informações

acerca da proteção ambiental e da produção agrícola racional, com foco nos


sistemas de produção eficazes e sustentáveis.

O ano de 1992 foi o marco criado pela Conferência das Nações Unidas

para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, que

ensejou a discussão sobre a importância da conservação dos biomas e da

biodiversidade do planeta. Neste evento, reconheceu-se oficialmente a

importância dos serviços ambientais promovidos pelos polinizadores,

principalmente pelas abelhas. Vários outros eventos trouxeram à tona a situação

catastrófica que envolve os polinizadores, especialmente os utilizados na

agricultura. Diante de tal importância desta temática, há levantes expressivos de

muitos conservacionistas que vem a público defender os polinizadores e o meio

ambiente.

Vale ressaltar a realização da Conferência das Partes (COP5) da CBD

(2002) que aprovou o programa Iniciativa Internacional para Conservação e Uso

Sustentável dos Polinizadores, atualmente chamado de Iniciativa Internacional

dos Polinizadores (IIP), sob coordenação da Organização para Agricultura e

Alimento (Food and Agriculture Organization - FAO). Em 2006, a FAO propôs o

plano de ação para a IIP (via COP6), com desafios globais projetados até 2010. A

partir daí foram estabelecidas várias iniciativas regionais para o estudo dos

polinizadores, integradas aos diversos continentes para apurar uma análise

global. Destacaram-se: a Iniciativa Europeia dos Polinizadores (EPI), a Campanha

Norte Americana de Proteção aos Polinizadores (NAPPC), a Iniciativa Africana

dos Polinizadores (API, a Iniciativa dos Polinizadores dos Povos das Montanhas
65

da Ásia (ICIMOD) e a Iniciativa Brasileira dos Polinizadores (BPI) (MINISTÉRIO


DO MEIO AMBIENTE, 2008).

Destacam-se ainda outras iniciativas importantes como, a organização do

Catálogo de Abelhas Neotropicais (Universidade Federal do Paraná, 2009); a

digitalização de coleções de polinizadores (http://splink.cria.org.br/

centralized_search). No âmbito internacional foi criado o projeto IABIN/Rede de

Polinizadores (Inter American Biodiversity Information Network, Pollinator

Thematic Network), para construir em nosso país a infra-estrutura de informática


inter-operável a partir dos dados existentes nas Américas.

E finalmente chegaram aos brasileiros os saberes sobre o valor das

abelhas solitárias, via Workshop Internacional sobre Abelhas Solitárias e seu

papel na Polinização. Este evento foi realizado no estado do Ceará no ano de


2004 para uso conservacionista destas espécies de abelhas como polinizadoras.

Ao longo das décadas de exposição sobre as abelhas sem ferrão e

solitárias nem sempre houve sensatez. A publicação The Forgotten Pollinators

editado por Buchmann e Nabhan (1997) garantiu a divulgação sobre o uso

sustentado de outros polinizadores menos conhecido como ocorreu com Bombus

terrestris, utilizado na polinização em larga escala na Europa. Seus estudos foram


intensos e descritivos sobre a biologia desta abelha, porém falhou nos estudos

sobre interações interespecíficas. Sua continua e indiscriminada difusão na

agricultura atingiu cifras bilionárias, porém na atualidade se tornou expressivo

invasor de habitats (e.g. TORERTTA et al., 2006; DAFNI et a., 2010). Até o Brasil

importou esta abelha e, logo após, houve temores sobre sua eminente invasão,

em face desta ocorrência em outros países. Diante da riquíssima fauna endêmica

tropical dos Bombinae, e de sua provável invasão ressalta-se (ver quadro a


seguir):
66

É urgente, esforços coordenados do governo, pesquisadores e público em


geral para prevenir eventuais desastres, e assim mitigar o impacto negativo das
atividades ameaçadoras sobra a área nativa. Igualmente premente é a efetivação
das medidas em prol da conservação ambiental.

Este levante exige a sensibilização e a conscientização da população sobre


a importância dos polinizadores nativos do Brasil e seu papel na preservação e
recuperação de nossos biomas.

É real a redução global das populações de polinizadores, especialmente

das abelhas melíferas e nativas, com evidente decréscimo do serviço de

polinização (ALLEN-WARDELL et al., 1998), que são precursoras de implicações


econômicas e ecológicas em curto e longo prazo.

Reforça Imperatriz-Fonseca (2010) que há muitos desafios a enfrentar para

que se almejar atitudes amigáveis aos polinizadores na agricultura e nos

ambientes naturais no Brasil. É premente que o tema “polinizadores“ seja inserido

na grade curricular dos cursos de Ciências Agrárias e na agenda dos Institutos de

Pesquisas Agrícolas, além de incentivos à pesquisa sobre o valor dos

polinizadores e da apuração de medidas para defesa que possam salvaguardar


nossas espécies.

Por fim, o Governo Federal por meio do Ministério do Meio

Ambiente/Instituto Chico Mendes para conservação da Biodiversidade vem

apresentando os Planos de Ação Nacional para a Conservação das Espécies

Ameaçadas de Extinção ou do Patrimônio Espeleológico (PAN) que são políticas

públicas, pactuadas com a sociedade, que identificam e orientam as ações

prioritárias para combater as ameaças que põem em risco populações de

espécies e os ambientes naturais e assim protegê-los (BRASIL-ICMBio, 2021).

Este plano iniciou seus trabalhos de conservação em 2004, elencando a cada ano
67

ecossistemas, certos grupos ou espécies ameaçadas. As abelhas só entrarão

neste plano em 2021 junto com outros grupos. O trabalho de averiguar ameaças,

riscos, objetivos e ações reúnem além da equipe do IICMBio, vários


colaboradores convidados em todo país.
68

4. REFERÊNCIAS DO TEXTO E PARA VOCÊ SE APROFUNDAR

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CAPÍTULO 2

AVALIANDO ÁREAS REPLANTADAS


POR MEIO DAS ABELHAS NATIVAS

ADRIANA O ANDRADE

IZADORA R FONSECA

MARIA C LORENZON

LEILA N MORGADO

RICHIERI A SARTORI

MSc. João Soares Neto


81

1. PROCEDIMENTOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS para avaliar área


replantada em presença da criação de abelhas nativas

1.1. Monitoramento de área (município do Rio de Janeiro)

Duas áreas de reflorestamento do projeto Mutirão da Secretaria

Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro (SMAC) foram

monitoradas por meio do projeto Reflora coordenado pelo laboratório de

Ecologia Florestal da UNIRIO:

Cantagalo e Marianos (21° 58′ 55″ Sul, 42° 22′ 4″ Oeste, à 311 metros) com 74.928
hectares (749,28 km²)

A avaliação da área pelo projeto abelhas nativas foi feita ao longo de

dois anos (2013-2014). A seleção dos pontos de amostragem seguiu critérios

de padronização:
(a) proximidade com fragmentos de Mata Atlântica;
(b) segurança visando criações de abelhas nativas a implantar;

(c) condições edafoclimáticas favoráveis;


(d) ocupação antrópica no entorno e (e) disponibilidade de água potável.

As áreas do estudo caracterizaram-se por apresentar reflorestamento

com mais de 10 anos em processo de restauração (Figuras 1A e 1B, Figuras

2A e 2B). Foi feito levantamento florístico (Quadro 1) e identificadas as

espécies arbóreas plantadas e nativas da Mata Atlântica, além das exóticas.


82

Mostra histórica do trabalho da Prefeitura do Rio ao longo de 33 anos (RIO DE JANEIRO,


2019), que ensejou a restauração ecológica. Visão da área (Figuras 1A e B).

Figura 1 A

Fonte: Rio de Janeiro, 2019.


83

FIGURA 1B

Fonte: Rio de Janeiro, 2019


84

Panorama das áreas monitoradas (Rio de Janeiro); ver pontos da instalação de meliponários
(Figuras 2A (Marianos) e 2B (Cantagalo)

Figura 2A

Figura 2B

Fonte: PMRJ
85

Quadros 1 e 2

Espécies existentes nas localidades monitoradas, conforme informações da

Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro.

A) Marianos onde foram levantadas 56 espécies de plantas

Acacia mangium Willd Guazuma ulmifolia Lam.


Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke Handroanthus heptaphyllus (Vell.)
Albizia lebbeck ( L.) Benth Handroanthus serratifolius (Vahl)
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan Lecythis pisonis Cambess
Astronium fraxinifolium Schott.exSpreng Libidibia férrea (Mart. exTul.) L. P. Queiroz
Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke Luehea divaricata Mart & Zucc
Cassia grandis L. f. Machaerium nyctitans (Vell.) Benth.
Cordia africana Lam Mimosa artemisiana Heringer & Paula
Cecropia hololeuca Miq. Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze
Cecropia pachystachya Trécul Mimosa caesalpiniifolia Benth.
Paubrasilia echinata Lam. – Gagnon, H.C.
Ceiba erianthos (Cav.) K.Schum.
Lima & G.P. Lewis
Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna Peltophorum dubium (Spreng.) Taub.
Chloroleu contortum Martius Pittier Pleroma granulossum (Desr.) D. Don
Clitoria fairchildiana R.A.Howard Piptadenia peregrina (L.) Benth.
Cordia superba Cham. Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Robyns
Guarea guidonia (L.) Sleumer Psidium guineense Sw
Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. Psidium guajava L.
Cytharexyllum mirianthum Cham. Psidium attleyanum Sabine
Dalbergia nigra (Vell.) AllemãoexBenth Pterogyne nitens Tul.
Enterolobium contortisiliquum (Vell.) Morong Rosmarinus officinalis L.
Eugenia brasiliensis Lam. Schinus terebinthifolia Radi
Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms Schizolobium parahyba (Vell.) Blake.
Moquiniastrum polymorphum subsp. Solanum pseudoquina A. St.-Hill.
floccosum (Cabrera) G. Sancho
Hymenaea courbaril Lam. Sparattosperma leucanthum (Vell.) K. Schum.
Inga vera Willd. Syzygium cumini (L.) Skeels
Jacaratia spinosa (Aubli) A. DC Tabernaemontana hystrix Steud
Lafoensia glyptocarpa Koehne Trema micrantra (L.) Blume
Guarea guidonia (L.) Sleumer Zeyheria tuberculosa (Vell.) Bureau exVerl
86

B) Cantagalo onde foram levantadas 109 espécies de plantas

Acacia auriculiformis Benth Mimosa caesalpiniifolia Benth.


Acosmium sp. Moquiniastrum polymorphum (Less.) G. Sancho
Agave sp. Myrcia sp
Albizia polycephala (Benth.) Killipex Recod.) Myrcia riaglazioviana Myrcia KiaerscK.
Alchornea glandulosa Poepp. & Endl Myrtus sp.
Anadenanthera colubrina var. cebil Altschul Neomarica candida (Hassal.)
Anadenanthera colubrina var. colubrina Oeceocla maculata (Lindl.)
(Benth.) Brenan
Ananas sp. Paullinia meliifolia Juss.
Anchiete apyrifolia (Mart.) G.Don. Peltophorum dubium (Spreng.) Taub.
Andropogon sp. Pereskia aculeata Mill.
Anthurium affine Schott. Petiveria alliacea L.
Artocarpus heterophyllus Lam. Piper aduncum L.
Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret Piper arboreum Aubl.
Astronium graveolens Jacq. Piper nigrum L.
Bauhinia sp. Piper sp.1
Begonia cucullata Willd. Piper sp.2
Borreria verticillata (L.) G.Mey. Piptadenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr.
Brasiliopuntia sp Pleroma granulosum (Desr.) D. Don.
Campomanesia xanthocarpa O. Berg. Portulaca oleracea L.
Cariniana ianerensis R. Knuth Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A. Robyns
Cassia grandis L. f. Psidium guajava L.
Celtis brasiliensis (Gardner) Planch Psychotria aff. mapourioide s DC.
Citrus sp. Pteridofita sp.1
Colubrina glandulosa Perkins Pteridofita sp.2
Cupania oblongifolia Mart. Pteris sp.
Cybistaxanti syphilitica (Mart.) Pterogyne nitens Tul.
Dalechampia triphylla Lam. Rhipsalis sp
Desmodium incanuma DC. Rivina humilis L.
Eriobotrya japônica (Thunb.) Lind Sansevieria trifasciata Hahnii
Erythroxylum pulchrum St Hill. Schizolobium parahyba (Vell.) Blake
Eugenia florida DC. Schlumbergera sp.
Eugenia uniflora L. Seguieria langsdorffii Moq.
Euphorbia hirta L. Senna siamea Lam.
Ficus eximia Schott Serjania sp.
Genipa americana L. Solanum argenteum Dun exPoir.
Guarea guidonia (L.) sleumer Solanum asperum Rich
87

Guazuma ulmifolia Lam. Solanum pseudoquina A. St-Hill


Impatiens parviflora DC. Sparattosperma leucanthum ( Vell.) K. Schum.
Inga laurina (Sw.) Willd Struthanthus sp.
Inga vera Wild Strychnos trinervis (Vell.) Mart.
Joanesia princeps Vell. LC. Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman
Kalanchoe laciniata (L.) DC. Syzygium cumini L. Skeels.
Lantana câmara L. Tabebuia rósea (Bertol.) Berteroexa DC.
Lantana fucata Lindl. Tabernaemontana fuchsiaefolia A. DC.
Leandra sp. Terminalia catappa L. =
Libidibia férrea (Mart. ex Tul.) L.P. Queiroz Thumbergia sp.
Luehea grandiflora Mart. & Zucc. Tillandsia sp.1
Lygodium sp. Tillandsia sp.2
Machaerium legale Benth. Tillandsia tricholeps Baker
Mangifera indica L. Tillandsia usneoides L.
Megathyrsus maximus (Jacq.) B. K. Simon & S. Trichilia elegans A. Juss.
W. L. Jacobs
Meliaaze darach L. Trichillia aff. silvatica .C.D.C.
Merostachs sp. Triplaris americana L,
Miconia sp. Waltheria indica L.
Microgramma sp.

A seguir observa-se o perfil da publicação com a lista de espécies mais


plantadas pela Prefeitura do Rio de Janeiro para cobertura vegetal de regiões
desflorestadas do município (RIO DE JANEIRO, 2019).
88

As 33 espécies mais plantadas no Rio de Janeiro. Figura 3.


89

1.2. Implantação dos meliponários

Foram implantados dois meliponários com 36 colônias de abelhas sem

ferrão, em duas unidades (Figura 4), sendo seis de cada espécie de abelha: (a)

Tetragonisca angustula Latreille (vulgo jataís), (b) Nannotrigona testaceicornis


Lepetelier (vulgo iraís) e (c) Melipona quadrifasciata Lepetelier (vulgo

mandaçaias). As colônias foram adquiridas de produtores certificados da


região.

Panorama das áreas monitoradas com meliponários em


Cantagalo e Marianos (Figura 4)

Fonte: PMRJ

1.3. Descrição das espécies de abelhas monitoradas

(1) As abelhas Nannotrigona


testaceicornis Lepetelier nidificam onde

existam ocos (árvores, mourões de cerca,

paredões de pedra etc); esta espécie de

abelha é cosmopolita. A entrada do ninho é um

tubo comprido, construído com cerume escuro.

Ao anoitecer, o tubo é fechado com uma rede de cerume, que é recolhida ao

amanhecer. É característico de seu ninho possuir em sua periferia, lamelas ou


90

membranas de cerume espesso, escuro, endurecido e quebradiço


(NOGUEIRA-NETO, 1970).

A iraí é uma abelha conhecida pelo forrageamento generalista visitando

diversas espécies botânicas de diferentes grupos, comumente encontradas em

parques, jardins, fragmentos de mata e ervas associadas às culturas.


Foto: Fernanda Braga

(2) As abelhas Tetragonisca angustula Latreille

medem até quatro milímetros de comprimento

(MOUGA, 1984). Constrói ninhos de cera, em espaços

ocos na natureza. E dócil e de fácil manejo, para se

defender mordisca ou, deposita própolis nos fios de

cabelo, na pele e certos tecidos, quando for provocada.

A distribuição desta espécie nos habitats se estende nas Américas do

Sul e Central e por isso é tida como “uma das espécies de abelhas mais

difundida na região neotropical. Seus ninhos apresentam-se em muitos tipos de

configuração. A colônia de T. angustula tende a se reproduzir uma vez por

ano, ao contrário de outras espécies. O ciclo de colônia comumente ocorre ao

longo da estação chuvosa (quente), que coincide com as condições de

forrageamento satisfatórias, asseguradas pelos recursos tróficos para manter e

reproduzir sua colônia.

As abelhas campeiras de T. angustula visitam número expressivo de

plantas para encontrar alimento. Estudo no Rio de Janeiro verificou que T.

angustula forragearam 61 espécies floríferas (LORENZON et al., 2012).


Morgado et al. (2011), Lorenzon (2012), Morgado e Lorenzon (2014) assinalam

expressivo forrageio nas famílias vegetais de Asteraceae, Euphorbiaceae,

Moraceae, Fabaceae, Anacardiaceae e Meliaceae.


91

Baseando-se no tamanho das abelhas, Wille (1983), considerou o raio

de aproximadamente 300 a 600 metros para espécies do porte de N.

testaceicornis e T. angustula. Nieuwstadt e Iraheta (1996) reportaram


que estas espécies percorrem áreas em vôos de distância máxima

entre 623 e 853 metros.

Foto Cristina Lorenzon

(3) As abelhas Melipona quadrifasciata Lepetelier LOrenzonernanda

tem distribuição geográfica relativamente ampla ao

longo da parte oriental do Brasil, alcança a região das

Missões na Argentina e Paraguai (BATALHA-FILHO et

al., 2009). É comumente associada com os habitats da

Mata Atlântica das regiões Sudeste e Sul do Brasil. Esta

espécie nidifica somente em ocos de árvores. A entrada típica do ninho, por

onde circula uma abelha de cada vez, tem ao seu redor raios convergentes de

barro construídos pelas abelhas. São dóceis e uma forma branda de

defensibilidade ocorre apenas em colônias muito fortes: as abelhas esvoaçam


sobre o meliponicultor, e por vezes beliscam a pele perto dos olhos.

Apresentam comportamento forrageador comum em plantas do tipo

poricida, ou seja as campeiras efetuam a vibração das anteras para coletar o

pólen. A colônia é de população pequena, com algumas centenas de indivíduos

(entre 300 e 400), em comparação com as anteriores, que podem alcançar


milhares de indivíduos (TÓTH et al., 2004).

Estima-se que a distância máxima de vôo de

forrageamento das mandaçaias seja de até 2.500 metros.


92

1.4. Métodos de análise da interação abelha-flor

1.4.1. Métodos usuais

(a) Método de campo por observação

direta. Este método utiliza transectos com

área pré-determinada. Os monitoramentos

são realizados em intervalos quinzenais ou

mensais, quando duas pessoas percorrem um ou mais transectos por todo

esse período ao longo do dia. Todas as espécies florais são monitoradas

quando da visitação das abelhas e é feita sua contagem em até 10 minutos.

A densidade floral também é avaliada. Abelhas e plantas não identificadas

são apreendidas e preparadas para coleção e identificação. Todos os dados

são registrados. A limitação deste método reside na dificuldade de acesso

ao dossel, comumente se monitora a área até oito metros de altura.

(b) Método da Melissopalinologia, o adotado neste trabalho


Foto: Fernanda Braga

A Melissopalinologia analisa os grãos de pólen

que são depositados casualmente no néctar ou, são

transportados nas pernas da abelha (bolotas) até a


colmeia e transferidos para os potes (BARTH, 1989).

O grão de pólen é a principal fonte de nitrogênio para alguns insetos, dentre

eles as abelhas que o coletam em quantidade nas fontes florais e estocam nos

alvéolos dentro dos favos de seus ninhos para atender a dieta da prole.

Atualmente, outros substratos são utilizados como, mel, massa polínica,

própolis, geléia real etc..

A análise polínica pode identificar as principais fontes nectaríferas e

poliníferas utilizadas pelas abelhas durante o forrageamento dos recursos

florais. Estes dados permitem a organização de um inventário sobre uma


93

determinada vegetação e região, seja em áreas nativas, reflorestadas e

agroecossistemas, de modo a delinear perfis florísticos e geográficos. O grão

de pólen apresenta características peculiares da espécie floral, por esta razão

sua identificação por meio da análise polínica permite estudos variados sobre

diversidade taxonômica, morfologia, paleobotânica etc. (SALGADO-

LABOURIAU, 1973), além de auxiliar na avaliação no nível de conservação de


regiões, da dieta das abelhas etc..

Porém, a limitação para este levantamento é a carência de catálogos

(imagens) dos grãos de pólen em nível de região fitogeográfica. Por vezes, os

gêneros e as espécies florais não são identificados pela morfologia polínica, de

modo que é preciso limitar-se ao “tipo polínico” (tipo morfológico do pólen)

(BARTH, 2009); a determinação das famílias vegetais a partir do pólen no mel


não constitui importante obstáculo.

Em Molan (1998) encontram-se mais informações sobre os métodos de

identificação de mel e suas limitações.

1.4.2. Dominância dos tipos de méis segundo a


Melissopalinologia

Ao se referir a méis que apresentam o domínio de uma espécie

botânica, pela análise polínica significa que estes méis apresentam mais que

45% de pólen dominante desta espécie floral – são chamados de méis tipo

monofloral e devem possuir também características físico-químicas e


organolépticas próprias da flora de origem (BARTH, 1989).

A frequência de mel tipo heterofloral reside na falta de

representatividade de uma florada dominante, nestes observa-se uma mistura

de méis de origem floral diversa. Para Barth (1970b), os méis por vezes se
94

tornam heteroflorais em função do manejo rudimentar ou artesanal,


ocasionando a mistura de tipos de méis.

1.4.3. Descrição da metodologia adotada

Nas áreas monitoradas, a amostragem consistiu em coletas mensais nas

colônias de abelhas. A coleta proveio dos potes de mel e dos potes com

massas de pólen. Cada amostragem mensal era representava por 12 amostras

distintas, seis de mel e seis de massas de pólen, por espécie de abelha e por

área. Porém, o número de amostras dependia da variação do fluxo néctar-

polinifero, que sofre influência das condições edafoclimáticas. Nem sempre foi
possível obter amostras.

Colônia de Tetragonisca angustula com potes de pólen (A), mel (B).


Abelha com carga de pólen nas pernas posteriores (C). (Figuras 5).

(A) (B) (C)

O material coletado, mel e pólen é imediatamente embalado, registrado

e mantido sob refrigeração até ser conduzido à análise laboratorial da


FIOCRUZ e preparado para identificação por meio da Melissopalinologia.

1.4.4. Preparo e análise do material

No laboratório, a análise

adota os protocolos de Louveux et

al. (1970; 1978): retira-se uma


95

alíquota de 10 mL de mel de cada amostra, adiciona-se 20 mL de água

destilada, homogeniza-se até dissolver todo o mel; submete-se à centrifugação

por 10 minutos em velocidade de 2000 RPM. Em seguida, despreza-se o

sobrenadante e adicionam-se 5 mL de água destilada e submete-se novamente

a centrifugação; em seguida, descarta-se o sobrenadante e adicionam-se 5 mL

de água glicerinada (1:1), deixam-se os tubos em repouso por 30

min. Após se obtém uma amostra do resíduo polínico com uma

alça esterilizada, impregnada com gelatina glicerinada e aplica-

se à uma lâmina de microscopia. Por fim, veda-se com


lamínula e parafina, ligeiramente aquecida.

A contagem e identificação dos tipos polínicos das lâminas são


realizadas em microscópio óptico, com as objetivas de 40x e 100x.

No estudo faz-se a contagem de todos os tipos polínicos encontrados

em duas lâminas de cada amostra No exame faz-se a contagem de todos os

tipos polínicos encontrados em duas lâminas. A identificação taxonômica das

plantas via grãos de pólen é feita: (a) por consulta aos dados da literatura (e.g.,

BARTH, 1989; ROUBIK e MORENO, 1991 etc..), (b) por consulta à palinoteca

de grãos de pólen previamente identificados e mantidos em coleção própria do

Laboratório de Palinologia da FIOCRUZ da UFRJ. A partir da identificação dos

grãos de pólen utiliza-se o termo “tipo polínico” que significa pólen originário de

uma só espécie floral e, ou um grupo de espécies de taxa elevado que

apresenta morfologia similar ao pólen identificado.

1.4.5. Classificação das amostras de mel:

(a) nectaríferas quando há sub-representação de seu pólen;

(b) poliníferas quando há super-representação de seu pólen no mel;


96

(c) anemófilas quando os grãos de pólen são leves e dispersados pelo


vento, pode ser considerado contaminante, por vezes são procurados
pelas abelhas em época de escassez.

Os dados da pesquisa estão sujeitos às seguintes análises:

(a) Qualitativa, para se caracterizar as espécies botânicas.

(b) Quantitativa, para se obter a frequência de cada espécie vegetal

identificada na amostra, conforme orientação de Barth (1989), e

assim classificadas:
· Pólen dominante - quantidade de grãos de pólen é maior que 45%.

· Pólen acessório - quando está dentro do intervalo entre 15 e 45%.


· Pólen isolado importante - está dentro do intervalo entre 3 e 15%.

· Pólen isolado ocasional - quando ocorre até 3%.

A interpretação dos dados é numérica e também utiliza-se as


informações da flora da localidade.

A análise final revela um inventário das espécies botânicas visitadas

pelas abelhas nas áreas monitoradas a partir de um banco dos dados formado
com as seguintes variáveis:

(a) principais fontes nectaríferas e poliníferas forrageadas pelas abelhas;


(b) identificação das espécies predominantes pela frequência maior que 45%

(como pólen dominante);

(c) soma polínica - soma total do pólen (contagem dos tipos polínicos encontrados
em cada amostra);
d) número de tipos polínicos por amostra;

e) distinção dos tipos polínicos anemófilos.

A formatação deste banco analítico auxilia no estudo de perfis florísticos,

e fornece dados importantes para estratégias do plano de manejo e gestão de


áreas reflorestadas ou em recuperação.
97

A Melissopalinologia é uma ciência com uma trajetória científica valiosa


para identificar as preferências florais dos produtos das abelhas em habitats
tropicais. A portaria nº 6, de 25 de julho de 1985 (MAPA, 1985) faculta no rótulo
a indicação da florada predominante na região de obtenção do mel, contudo
para que esta se torne uma declaração segura é necessário comprovação
mediante o exame palinológico. O baixo acesso a este exame conduz os
produtores a declarar a florada que consideram corretas, o que conduz os
apicultores a lançarem origem do mel de floradas de cunho mais comercial,
como ocorre com méis da florada de laranjeira e outros tipos (LORENZON et
al., 2017).
98

2. ANÁLISE ESTATÍSTICA

2.1. Para que usar a estatística em avaliação biológica?

O uso da Estatística neste tipo de investigação propicia a

consolidação de informações relativas às variáveis presentes no banco de

dados que enseja a elaboração de gráficos, cálculos de medidas


Inicialmente, define-se a fonte de dados e a formatação de planilhas.
descritivas e de testes.

Para estas análises tomou-se o banco de dados formado a partir de


laudos técnicos do serviço de Palinologia da FIOCRUZ. Procedeu-se a
apresentação da distribuição dos dados das seguintes características (ou
variáveis):

a) frequência de plantas melíferas na totalidade das amostras;

b) soma polínica, em número de grãos de pólen. Em parte desta análise


excluíram-se as amostras com grãos de pólen insuficiente, cuja soma foi igual
a zero;

c) quantidade de tipos polínicos presentes nas amostras.

Estas avaliações foram dispostas nos seguintes sub grupos:

a) tipo de alimento (dois tipos, mel e pólen);

b) tipo de abelha (três espécies);

c) localidade (duas áreas).

Referente aos tipos polínicos predominantes tomou-se como critério os

tipos com alta frequência presente na composição de cada amostra; estes

dados foram tomados dos laudos elaborados pela FIOCRUZ. Também, se

consultaram quantos e quais tipos polínicos são mais recorrentes na totalidade

e nos subgrupos investigados. Nessa análise, busca-se detectar diferenças dos


99

tipos florais mais frequentes entre localidades, entre espécies de abelhas e tipo

de alimento, em áreas fitogeograficamente similares, como produtos do

reflorestamento.

2.2. Os recursos gráficos

Estes recursos visam à avaliação da distribuição univariadas de cada

característica, dentro de cada categoria dos subgrupos (tipo de alimento,


espécie de abelha e localidade):

Adotamos os seguintes tipos:

· Gráfico boxplot – ilustram-se algumas medidas


100

importantes como, os limites numéricos que Frequência 80

determinam 25%, 50% e 75% da distribuição


60

dos valores observados. Além disso, o boxplot


permite a identificação de valores atípicos ao 40

conjunto.
Grupos

· Gráfico de pontos - apresenta os valores


de todas as amostras acerca de uma dada
característica; varia entre o menor e o
maior valor observado. Neste gráfico, 0 200 400
Valores
600 800

deve-se observar se os pontos estão muito afastados ou, se há acúmulo de pontos


em algumas regiões.
80

60 64.62

· Gráfico de colunas com intervalo de confiança - 57.45

40

utiliza uma versão na qual a média é


20

apresentada como uma coluna, quanto mais


0

alta a coluna, maior a média, enquanto o


intervalo de confiança da média é ilustrado como um traço vertical que se localiza
no topo da coluna, tendo em seu centro a média. O comprimento desse traço é
delimitado pelos limites inferior e superior do intervalo de confiança. Este tipo
gráfico é um recurso que possibilita a ilustração da média com seu respectivo
intervalo de confiança e também a comparação de grupos. Grupos com intervalos
100

de confiança sobrepostos constituem uma evidencia de que as médias dos grupos


são iguais.

2.3. O uso de Testes Estatísticos

Por vezes submeteram-se as estimativas calculadas (médias,

proporções e variâncias) a testes estatísticos, que visam buscar evidências

com significância estatística para a identificação de perfis como: o grau de

forrageamento das espécies de abelhas, a influência da localidade e do fluxo

de alimento. O uso de testes estatísticos possibilita verificar se as conclusões

obtidas com os dados amostrais são suficientes para a formulação de

afirmações sobre a população em análise. Em algumas circunstâncias,

diferenças observadas nos valores médios não são suficientes para sustentar

conclusões sobre diferenças nas médias populacionais. Para avaliar o alcance

dessas diferenças entre grupos no presente estudo são adotados alguns testes

clássicos de estatística. Em todos os testes aplicados adota-se um nível de

significância de 5% para concluir pela diferença entre dois ou mais grupos, ou

seja, se faz necessário observar estatísticas de teste com uma probabilidade

(p-valor) menor ou igual a 5%. Caso contrário, não temos evidencias

suficientes para concluir que as diferenças observadas nas médias possam

retratar de fato diferenças na população de interesse e, portanto, as diferenças

observadas são devido ao acaso e estão relacionadas apenas com a amostra

colhida.

Em razão das características do levantamento das informações que

foram obtidas sem a configuração de um delineamento experimental, não

foram realizados os testes paramétricos clássicos para comparação de médias

como o teste t e a ANOVA (BUSSAB; MORETTIN, 2009). Os testes estatísticos

adotados nessa investigação contaram com a implementação de estatísticas


não paramétricas.
101

Para avaliar possíveis diferenças dentro da área monitorada e também

os tipos de alimento (mel e pólen) utiliza-se o teste Mann-Whitney (SIEGEL,

1956), que é recomendado para comparar dois grupos independentes. Para a

comparação entre as espécies de abelha (iraí, jataí e mandaçaia) realiza-se o

teste de Kruskall-Wallis (SIEGEL, 1956), recomendado para testar mais de dois


grupos independentes.

Nos métodos não paramétricos utiliza-se a ordem das observações

assumidas na distribuição ordenada dos valores, denominada de posto.

Portanto, ao invés de submeter a média das observações a teste, busca-se

verificar se os grupos em comparação possuem a mesma distribuição. Ao

trabalhar com os postos de uma dada distribuição, o efeito de eventuais


assimetrias e valores atípicos não afetam as medidas calculadas.

Todas as análises estatísticas são realizadas no software R (R


DEVELOPMENT CORE TEAM, 2019).
102

3. REFERÊNCIAS DO TEXTO E PARA VOCÊ SE APROFUNDAR

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BATALHA-FILHO, H., MELO, G. A. R, WALDSCHMIDT, A. M., CAMPOS, L. A. O.;


FERNANDES-SALOMÃO, T. M. Geographic distribution and spatial differentiation in
the color pattern of abdominal stripes of the Neotropical stingless bee Melipona
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angustula Latreille. In: LORENZON, M.C.A. ; MORADO, C.N. (orgs.). A abelha jataí:
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Editora, p. 53-57. 2014. 123p.

NOGUEIRA-NETO, P. A criação das abelhas indígenas sem ferrão. São Paulo:


Tecnapis, 2. Ed. 1970. 365 p.

OLIVEIRA, P. P.; SANTOS, F. A. .R. Prospecção palinológica em méis da Bahia. Print


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PENNA, P. S. Manual de identificação de mudas de espécies florestais. Rio de Janeiro:


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RIO DE JANEIRO. 33 anos plantando florestas. 2019, p. 20 - 21. Disponível em:


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003-0707-z.
CAPÍTULO 3

PLANTANDO PARA AS ABELHAS


DA MATA ATLÂNTICA

Colabore com o nosso mundo!

Vamos Plantar!
Pequenas ações individuais é
uma força transformadora
para ajudar nossas vidas.

As plantas filtram e oxigenam


o nosso ar. Oferecem-nos
sombreamento, frutos e flores
que perfumam o ambiente.
Borboletas e pássaros
embelezam nosso
ecossistema.

1Montagem a partir da imagem coletada em https://nandabalieiro.com.br/blog/2007/12/mude-o-mundo/

ADRIANA O ANDRADE IZADORA R FONSECA


LEILA N MORGADO LETÍCIA A TEIXEIRA
MARIA C LORENZON RICHIERI A SARTORI
VINICIUS A RAMOS
107

1. DIAGNÓSTICO DE FORRAGEAMENTO DAS ABELHAS NATIVAS


EM ÁREAS RECÉM REPLANTADAS

DA MATA ATLÃNTICA DO RIO DE JANEIRO

A diagnose das áreas monitoradas é apresentada utilizando-se os dados

como um todo (geral) e fracionada em função da espécie de abelha e da área


manejada.

QUESTIONAMENTOS AFLORAM QUE

PODEM SER OU NÃO RESPONDIDOS NESTE ESTUDO.

- o replantar auxiliou a manutenção

das espécies de abelhas nativas

......assim favoreceu a restauração

ecológica?

- Qual (is) espécie (s) de abelhas

responde (m) melhor ao manejo florestal?

- Dos alimentos das abelhas qual foi

mais suprido pelas espécies florais?

- O vôo das abelhas atingiu áreas

circunvizinhas?
108

Trata da apresentação holística da amostragem em campo e os resultados das

análises preliminares, com ênfase nas de caráter quantitativo:


- número de tipos polínicos e soma polínica.

1.1. Amostragem

Por que amostrar? E quais são suas limitações?

Amostra-se algo, para que em grau reduzido se possa representar de

forma fidedigna todo o conjunto. Para isso, dados repetitivos permitem a


confiabilidades nos resultados.

Ressalta-se que a amostragem planejada sofre alteração em face das


modificações do levantamento in situ.

Em trabalhos de campo, a flutuação da amostragem é corrente em razão

da variabilidade ambiental, que ocorre devida às condições climáticas, que estão

atreladas ao sistema biológico, inerentes à fenologia das espécies de plantas e às


condições das colônias de abelhas.

A previsão deste monitoramento era dispor de dados advindos de coletas

mensais em três colônias de abelhas, de dois tipos de alimentos (mel e pólen),

originários de duas localidades, de modo a se alcançar 168 amostras ao final de

um ano. Na realidade só foi possível obter 90 amostras. A sub amostragem

atingiu as duas localidades, devido ao baixo fluxo de alimento em certas épocas

do ano, que conduziu ao enfraquecimento e perda de algumas colônias. A


localidade de Marianos foi a mais afetada pelas perdas na amostragem.
109

Dos alimentos coletados, as amostras de pólen sofreram a menor

proporção (44%), comparativamente com as do mel (56%). No geral, a diferença

na amostragem entre espécies de abelhas é menor: são 32, 30 e 28 amostras

para as colônias de jataí, iraí e mandaçaia, respectivamente. Porém, era

previsível maior destaque nas coletas das colônias de mandaçaia, por ser mais

amplo o seu raio de forrageamento, comparado aos das demais espécies de

abelhas, fato que não se concretizou.

Ao se somar a amostragem das duas localidades e se distinguir a espécie

de abelha, percebe-se que a abelha mandaçaia mostra queda substancial na

coleta de pólen, em resposta a baixa disponibilidade deste alimento, daí explica-


se a sub amostragem (obteve-se apenas 07 amostras); porém, esta espécie

compensou esta baixa coleta, ao aumentar sua produção de mel, e assim permitiu

a obtenção de 21 amostras (Tabela 01).

Tabela 1. Amostragem das amostras de mel e pólen, conforme a espécie de abelha e a


localidade..
Região/ Tipo Número de Amostras de mel Amostras de pólen
de abelha amostras jataí iraí mandaçaia Total jataí iraí mandaçaia Total

Cantagalo 58 09 10 10 29 14 12 03 29

Marianos 32 04 06 11 21 05 02 04 11

Total 90 13 16 21 50 19 14 07 40

Jataí - Tetragonisca angustula Iraí - Nonnatrigona testaceicornis Mq - Melipona quadrifasciata

A seguir apresenta-se o cronograma de amostras que nortearam as

análises estatísticas (Quadro1), no qual se observa importante déficit na

amostragem em Marianos e da amostragem do pólen.


110

Quadro 1. Demonstrativo da amostragem em campo dos alimentos,


conforme a espécie de abelha e a localidade.

Legenda Coleta dos 2 alimentos Coleta de 1 alimento Sem coleta

Abelhas/Meses Jan c Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Cantagalo
Iraí
Jataí
Mandaçaia
Marianos
Iraí
Jataí
Mandaçaia

Para a tomada de decisão sobre a adequação dos dados e confiabilidade

nos resultados foram feitas análises estatísticas preliminares. Em face da perda

substancial de dados em Marianos optou-se pela análise da região como um

todo, ou seja, sem a análise da localidade. Igualmente se manteve esta

orientação em certas análises (devida à baixa amostragem) como ocorreu com a

espécie de abelha mandaçaia, que foi excluída da análise comparativa com as

demais espécies monitoradas (irai e jataí).

1.2. O número de tipos polínicos nos alimentos das abelhas

O que se deseja saber?

Quantas espécies florais diferentes são visitadas pelas abelhas?


O grau de forrageamento se assemelha à de outras áreas, nativas e replantadas?
Sendo pólen o super alimento, sua coleta pelas abelhas supera em número a do mel?

Investigando estas questões

Na amostragem de mel observam-se 57 tipos polínicos


Nas amostras de pólen observam-se 50 tipos polínicos.
111

Nas amostras de mel e pólen verifica-se um padrão prevalente em torno do

número moderado de tipos polínicos, que se assemelham. Metade das amostras

apresenta até cinco (5) tipos polínicos, poucas amostras (25%) alcançam entre

seis (6) e sete (7) tipos; e raras apresentam mais de 10 tipos, sendo 13 o maior
número de tipos observados em uma amostra.

Tipos polínicos referem-se às espécies florais diferentes

Em média, o número de tipos polínicos nos dois alimentos é cinco (5), com

importante variação ao longo do ano (o coeficiente de variação revela-se alto,

está acima de 40%). Flutuações de disponibilidade floral acarretam essa forte


variação, há períodos que as abelhas só obtêm alimento de uma a duas espécies

florais (escassez) e períodos de maior diversidade polínica (11 e 13 tipos

polínicos) (Tabela 2).

Tabela 2. Análise exploratória do número de tipos polínicos presentes


nas amostras de mel e pólen.

Mín 25% 50% Média 75% Max DP IC CV %


Amostras de mel
2 4 5 5,33 7,0 11 2,33 4.64 - 6,03 43,61
Amostras de pólen
1 4 5 5,39 6,5 13 2,57 4,68 - 6,08 47,75
Mín - mínimo Máx – máximo DP – desvio padrão IC intervalo de confiança CV -Coeficiente de variação

Boxplot do número de tipos


Na Figura 1 visualiza-se como o
polínicos nas amostras de mel
número de tipos polínicos se distribuem 12 e pólen (Figura 1)
nas amostras de pólen e mel, cuja 10

diferença guarda estreita semelhança.


Número de tipos

A expectativa é que houvesse 6

maior diversidade de tipos polínicos nas 4

amostras de pólen, ou seja, mais 2

MEL PÓLEN
112

espécies forrageadas para as abelhas obterem diferentes tipos polínicos ao longo


do ano e daí, tornar sua dieta mais diversa.

De forma preliminar, se antevê que esse resultado de igualdade relativa do

número de tipos polínicos nos distintos alimentos (mel e pólen), sendo menos

favorável ao pólen, indica que as espécies florais presentes na área monitorada e

circunvizinhança não favorecem o suprimento protéico. Há escassos relatos

científicos sobre o número de tipos polínicos dos campos florais o que dificulta
comparação entre estudos.

Vai aqui importante recordação !

.......as razões para explicar o maior consumo do pólen pela colmeia:

a) o pólen deve atender especificamente às necessidades das crias jovens, que

são altas;

b) o consumo deste alimento deve ser mais rápido; por ser protéico, seu tempo de
estoque e viabilidade se reduzem, mesmo sendo preparado pelas abelhas na
forma de pão.

Será que alguma espécie de abelha tende a forragear

mais espécies florais que outra?

Pressupõe-se que isso não deveria ocorrer nas amostras de mel. A razão

para tal afirmação é que na atualidade, com a mitigação das fontes florais nativas,

não é casual um campo floral oferecer espécies florais nectaríferas em alta


densidade.

Para suprir esta deficiência, mais espécies florais deveriam estar presentes
nas amostras de pólen. A tendência deveria ser o domínio de fontes florais poli
nectaríferas, que provê às abelhas os dois alimentos primários (néctar e pólen).
113

Na análise do número de tipos polínicos presentes nos alimentos (mel e

pólen), segundo as espécies de abelha (jataí e irai) verifica-se que suas

distribuições guardam certa semelhança entre si (Tabela 3). Este resultado não
significa que as preferências florais sejam as mesmas.

Presume-se que o pólen por se tratar de fonte protéica, energética, mineral


e vitamínica, nutrientes que exigem muito da espécie floral, não deve ser um
recurso floral que esteja em alta densidade.

Tabela 3. Análise exploratória do número de tipos polínico presentes


nas amostras de mel e pólen, conforme a espécie de abelha.

Medida n Mín 25% 50% Média 75% Máx IC DP CV %

Tipo de
Amostra de mel
abelha
Iraí 14 3 4 4 5,36 7,5 09 4,04-6,67 2,27 42,44

Jataí 13 2 5 6 5,85 7,0 11 4,48-7,22 2,27 38,78

Mandaçaia 18 2 3 5 4,94 6,0 10 3,72-6,17 2,46 49,77

Amostra de pólen
Iraí 17 1 5 6,0 6,53 8,00 13 5,07-7,98 2,83 43,36

Jataí 16 1 4 5,0 4,56 5,25 08 3,53-5,59 1,93 42,33

Mandaçaia* 06 3 3 3,5 4,33 4,00 09 1,88-6,79 2,34 53,96


*Número restrito de amostras Mín - mínimo Máx – máximo DP – desvio padrão IC intervalo de confiança CV -Coeficiente de
variação * esta espécie não pode ser inclusa nas análises devido à baixa coleta

Os resultados destacam o forrageamento da abelha iraí pela coleta de

até 13 diferentes tipos polínicos (máximo das amostras) e por ter na maioria das

amostras (75%) até oito (8) tipos florais. Feitas as comparações estatísticas, a

abelha iraí é a que mais forrageia pólen (MW = 197, p-valor < 5%). Quanto ao

mel, as diferenças entre as espécies de abelhas pequenas são atenuadas (MW =

78, p-valor ≥ 5%). A figura 2 ilustra estas diferenças.

As razões abaixo podem explicar maior preferência floral das fontes florais
poliníferas pela abelha irai:
· maior necessidade do pólen, o que amplia a procura;
· menor consumo de pólen, o que torna os potes mais cheios.
114

Boxplot do número de tipos polínicos nas amostras (Figura 2)


15
Amostras de mel 15
Amostras de pólen

Número de tipos

Número de tipos
10
10

5 5

0 0
IRAÍ J AT AÍ MAND AÇAIA IR AÍ JATAÍ MANDAÇAIA

1.3. Soma polínica relativa (estimada) de grãos de pólen

O que se deseja saber?

A soma polínica refere-se à estimativa de grãos de pólen presentes


de um campo floral.
Quanto mais grãos de pólen disponíveis pelas plantas, maior será a
fartura de alimento para as abelhas.
Esta análise pode oferecer informação sobre a abundância ou escassez
de alimento na área monitorada.

Abaixo se apresenta a soma polínica total nas amostras contabilizada em

coletas mensais ao longo de um ano para três espécies de abelhas, originárias de

criação:

16.191 grãos nas amostras de mel

23.215 grãos nas amostras de pólen

As amostras de mel e pólen totalizam 39.406 grãos de pólen.


115

Do total das 90 amostras (mel e pólen), SETE se apresentaram zeradas

ou, insuficientes de grãos de pólen: cinco nas amostras de mel (50) e duas nas de
pólen (40).

A ausência de grãos de pólen nas amostras de mel mostra o domínio de

plantas nectaríferas no forrageamento das abelhas campeiras. Como a maioria

das fontes de recursos florais são poli nectaríferas (44 tipos neste estudo) há

tendência de maior variação do fluxo de pólen nas amostras de mel, o que é

esperado. No entanto, eventualmente houve total ausência de coleta de pólen nos

potes de alimento, o que revela escassez muito alta deste alimento na localidade
(Quadro 1).

Reforça-se que a soma polínica em questão é produto de áreas jovens em

recuperação florestal, com plantas que lutam para se estabelecer. Sua


contribuição à fauna local em termos de alimento é bem vinda e inestimável.

É importante trazer a luz desta discussão, a resposta da soma polínica em

região de conservação das abelhas nativas. Neste caso cita-se estudo de Braga

et al. (2012) em uma área da reserva da Mata Atlântica do Rio de Janeiro. Nesta

localidade, a totalidade estimada da soma polínica contabilizou 67.934 grãos de

pólen oriundos de 12 amostras de mel e pólen mensais, de apenas uma espécie

de abelha (jataí) em um só local. Embora haja um esforço amostral diferenciado,

esta comparação mostra nosso desafio de se reduzir o déficit polínico nas áreas
em recuperação e a importância de se proteger os “oásis” das abelhas nativas.

Na amostragem verifica-se a Distribuição das amostras em função

concentração de amostras em dois da soma polínica (Figura 3)

conjuntos de intervalos (Figura 3):

- entre 300 e 400 grãos

- entre 500 e 600 grãos

Obs. zeros foram computados na amostragem


116

A medida de tendência central (mediana) da soma polínica é de 500 grãos.

Apenas três amostras alcançam o patamar acima de 700 grãos (Tabela 4).

Considera-se a variação da soma polínica moderada (CV 31%) e a diferença

entre a menor (com valor diferente de zero) e a maior quantidade é de 603 grãos.

Tabela 4. Análise exploratória da soma polínica da amostragem geral e


pelo tipo de alimento.

Medidas nas
n Mín 25% 50% Média 75% Máx IC DP CV %
amostras
Geral 83 180 350 500 474,8 593,5 783 442,67-507,18 148,41 31,26

Tipo de alimento

Mel 45 180 329 350 359,8 372,0 624 333,84-385,76 86,42 24,02

Pólen 38 500 556 600 610,9 668,0 783 588,11-633,73 69,39 11,36

Mín - mínimo Máx – máximo DP – desvio padrão IC- intervalo de confiança CV- coeficiente de variação

Quanto ao tipo de alimento (mel e pólen) as análises sugerem um perfil


esperado (Tabela 4):

- a amostragem do mel está em patamar inferior a de pólen; metade das amostras


de mel apresenta valores de até 350 grãos;

- a amostragem de pólen mostra 50% das amostras com no máximo 600 grãos; o
valor mínimo de grãos é mais que o dobro comparado ao do mel.

Ainda na tabela acima observe a disparidade no conjunto de 25% das


amostras com as menores quantidades de grãos (destaque em amarelo).

Observe também o intervalo do conjunto de 75% das amostras e o máximo

na soma polínica das amostras do mel, que varia entre 372 e 624 grãos

(assinalado de amarelo), esse hiato é menor nas amostras de pólen, que varia
entre 668 e 783 grãos.
117

Essa disparidade da soma polínica nas amostras de mel e pólen é devida

ao forrageamento em fontes poli nectaríferas, que dominam na área monitorada.

Estas fontes permitem o transporte dos dois recursos florais pelas abelhas

campeiras e é essa fonte que enriquece o mel em grãos de pólen. Porém, não é

típico esperar altas quantidades de grãos no mel, como se observa na Figura 4,


Boxplot da soma polínica que ilustram essas diferenças nos alimentos da abelha.

No geral, percebe-se que há menor variabilidade entre as amostras de

pólen e maior dispersão nas de mel, inclusive nesta última observam-se

quantidades atípicas de tipos polínicos (ver item 1.4). A figura 4 também

evidencia a maior magnitude das quantidades de soma polínica nas amostras de


pólen, quando comparadas às de mel sendo, portanto significativa a diferença

entre as médias dos alimentos (MW = 3486, p-valor < 5%). Este resultado é

esperado, ressalta-se que a presença de pólen no mel é acidental.

Boxplot da soma polínica conforme tipo de alimento (Figura 4)

Ao se analisar os dois atributos quantitativos de forrageamento, o número

de tipos polínicos por amostra e soma polínica do mel e pólen, por meio do teste

de correlação de Spearman (rS = 0,05) verifica-se que a correlação é


118

praticamente inexistente para mostrar algum perfil entre estes atributos (Figura 5).

Ao se distinguir os alimentos observa-se uma alteração, a correlação de

Spearman assume valor de 0,34, que mesmo sendo baixo, sinaliza um padrão
esperado.

Relação entre as variáveis soma polínica e número de tipos polínicos, no geral e


especificamente nas amostras de mel e pólen (Figuras 5A, 5B).

Geral Mel

Pólen

.
No manejo amigável das colônias de abelhas deve-se atentar para o número de
potes de pólen, por ser área de forte indicativo do crescimento ou, da queda da
população de abelhas.

1.4. Soma polínica nas AMOSTRAS DE MEL

Nesta amostragem assinala-se a baixa ocorrência de grãos de pólen ou

mesmo sua ausência, que pode ser devida à baixa disponibilidade de grãos em

néctares florais e extraflorais de certas espécies melitófilas, neste último caso, em

méis oriundos de excreções de pulgões. Ou, à baixa riqueza de plantas poli


nectaríferas, que disponibilizam os dois alimentos às abelhas.
119

Saiba que plantas que secretam néctar, substância esta rica em açúcares

simples entre outras orgânicas, ao ser sugado pelas abelhas, se enriquece de

pólen, comumente oriundo de vários indivíduos da mesma espécie floral, e, ou

espécies diferentes. Volumes altos de néctar consumido pelas abelhas podem


reduzir a concentração de grãos de pólen (PROCTOR et al., 2003).

O beneficiamento do mel, com o uso de certos filtros de malha muito

estreita, e situações que conduzem à adulteração do mel também são condições

que reduzem o quantitativo de grãos de pólen, que neste estudo, não é a causa

da baixa quantidade de grãos de pólen.

A seguir apresenta-se a análise geral e segmentada da soma polínica em

presença dos grãos de pólen das plantas nectaríferas e outras fontes, conforme
interpretação da análise da Melissopalinologia:

(A) Análise geral das amostras de mel

Informa-se que o período que define floradas melíferas (planta em alta

densidade) apresenta dois tempos no forrageio das campeiras das abelhas:

· Inicial: ingresso de alta carga polínica na colmeia (uma ou mais fontes

florais);

· meio e fim: redução da carga polínica (uma ou poucas fontes florais).

A soma polínica nas amostras de mel mostra considerável amplitude,

variando entre 180 e 624 grãos (mínimo e máximo); sendo metade das amostras
com no máximo 350 grãos (Tabela 5).
120

Tabela 5. Análise exploratória da soma polínica das amostras de mel e


nas espécies de abelha.

Medida nas
n Mín 25% 50% Média 75% Máx IC DP CV%
amostras
Geral MEL 45 180 329 350 359,80 372 624 333,84-385,76 86,42 24,00
Espécie de abelha
Iraí 14 180 309,2 352,5 331,92 365,3 549 279,29-384,56 91,16 27,46
Jataí 13 311 329,0 353,0 370,15 380,0 549 331,16-409,15 64,52 17,43
Mandaçaia 18 236 327,8 348,5 374,00 401,0 624 326,56-421,44 95,10 25,51
Mín - mínimo Máx– máximo DP– desvio padrão IC- intervalo de confiança CV- coeficiente de variação

Há diferença nas somas polínicas nas espécies de abelha? Não

Há sim certa semelhança (assinalado com cor), que se confirma por teste
estatístico (KW = 0.070727, p-valor ≥ 5%) (Figura 6).

Boxplot da distribuição da soma polínica das


amostras de mel nas espécies de abelha
(Figura 6).

Observe que há maior variabilidade da soma polínica entre as amostras

das espécies iraí e mandaçaia, justamente nestas ocorre a menor e a maior soma

polínica (Tabela 5). Por possuir maior talhe, a abelha mandaçaia tende a colher

mais grãos de pólen do que as abelhas menores. Porém, a variabilidade de outros

fatores, tem ação preponderante nesta variação.


121

Fatores como, flutuações fenológicas (floração) das espécies florais e das

condições climáticas, que integrados agem sobre a produção dos recursos florais,

direta e indiretamente.

(B) Análise segmentada, com distinção dos tipos polínicos das chamadas plantas

nectaríferas e outras fontes nas AMOSTRAS DE MEL

Vamos esclarecer sobre quem são outras fontes presentes no mel.


Já que estes não representam a fonte principal nos méis, qual é a

origem destes grãos de pólen?

Abaixo, observa-se a origem dos tipos polínicos de outras fontes menos

representativas nas amostras de mel e pólen:

(a) da amostragem de potes de mel que foram recarregados em várias épocas de


fartura de mel, deixando tipos polínicos residuais,

(b) da mistura de méis de diferentes potes em meio à colheita,

(c) de amostras de mel que “sofreram contaminação”, pela proximidade de potes


de pólen,

(d) da presença nas flores, que podem cair acidentalmente, já que os campos
florais são mistos, com plantas nectaríferas, poliníferas e anemófilas.

Haidamus et al. (2019) alertaram que a amostragem de mel das abelhas


para identificação das fontes polínicas requer observações do campo floral e da
produção de mel, controladas.

No estudo, a soma polínica nas amostras de mel revela (Tabela 6):

as plantas nectaríferas, cuja mediana é de 229 grãos

outras fontes, cuja mediana é de 127 grãos


122

Estes dados nos mostram que o fluxo da soma polínica nas plantas

representativas nas amostras de mel é bem variável. A mediana geral, de 350

grãos, termina por não esclarecer sobre os tipos de fontes e do quantitativo dos

grãos nestas diferentes fontes.

Tabela 6. Análise exploratória da soma polínica presentes em amostras de mel,


distinta em plantas nectaríferas e outras fontes.

Medidas N Mín 25% 50% Média 75% Máx IC DP CV%

Plantas nectaríferas
Geral Mel 45 180 329,0 350 359,8 372,0 624 333,84-385,76 86,4 24,00
Outras fontes
Nectaríferas 44 27 114,5 229 224,0 326,8 623 184,35;263,56 130,3 58,16
Outras 42 1 15,5 127 151,0 270,8 436 109,11; 192,61 134,0 88,82
Mín - mínimo Máx– máximo DP– desvio padrão IC- intervalo de confiança CV- coeficiente de variação

Na figura 7 verifica-se que 48% das amostras de mel se distribuem entre os

intervalos de 200 e 400 e, poucas amostras (4%) reportam valores acima de 400

grãos. Chama atenção a quantidade de amostras zeradas de tipos polínicos de

outras fontes, o que é previsível, por serem grãos que aparecem ocasionalmente.

Distribuição da soma polínica dos tipos polínicos de plantas nectaríferas


e outras fontes nas amostras de mel (Figura 7)

Plantas nectaríferas Outras fontes


123

A baixa representatividade de grãos de pólen de outras fontes no mel não


significa que sejam fontes menos importantes.

Por vezes, pode ocorrer o domínio nas amostras de mel de outras fontes

em detrimento da fonte principal (nectarífera) de forrageamento das abelhas. Isto

é um importante indicativo de que os campos florais ou são pobres de pólen da

fonte principal ou, são ricos em diferentes espécies de plantas poliníferas e

anemófilas. Haidamus et al. (2019) citaram o mel de Gochnatia (Asteraceae)

produzido por Apis mellifera com domínio de várias fontes florais, em detrimento

da sua fonte principal.

Ao se comparar a distribuição da soma polínica oriunda de plantas

nectaríferas e de outras fontes verifica-se que a nectarífera apresenta maior soma

polínica que as demais (KW, p valor < 5%). Quanto às demais fontes verifica-se
soma polínica com distribuição semelhante.

E quanto ao tipo de abelha? Há variação da distribuição da soma polínica


das chamadas plantas nectaríferas nas amostras de mel? Ver a seguir.

Para as três espécies de abelhas, a soma polínica de plantas nectaríferas

das amostras de mel se assemelha (KW= 5.1354. p-valor > 5%).

Porém, há diferenças para OUTRAS FONTES, ao se comparar a soma

polínica das plantas nectaríferas e outras fontes. As cargas polínicas das outras

fontes são menores, com diferença marcante entre as espécies de abelha (KW=

7.2782, p-valor < 5%) (Tabela 7).


124

Tabela 7. Análise exploratória da soma polínica presentes em amostras de mel, nas


espécies de abelha, relativo ao fluxo polínico em plantas nectaríferas e outras fontes.

Medidas n Mín 25% 50% Média 75% Máx IC DP CV%

Plantas nectaríferas
Iraí 14 67 117,2 206 208,7 306,5 342 152,58; 264,85 97,22 46,58
Jataí 12 27 43,5 185 164,5 263,8 296 96,31; 232,69 107,32 65,24
Mandaçaia 18 40 196,8 319 275,4 345,2 623 200,45; 350,44 150,80 54,75
Outras fontes
Iraí 12 2 22 127 143,8 216,8 436 56,55 ; 230,95 137,24 95,47
Jataí 13 45 106 248 218,2 308,0 396 143,00; 293,46 124,49 57,04
Mandaçaia 17 1 12 17 104,4 227,0 344 40,52; 168.19 124,15 118,97
Mín - mínimo Máx– máximo DP– desvio padrão IC- intervalo de confiança CV- coeficiente de variação

A espécie, abelhas jataí revela tendência peculiar, ao apresentar origem

floral em seu mel com destaque para outras fontes (principalmente anemófilas). A

procura intensa por estas fontes, que é muito pobre em nutrientes, sugere que as

campeiras não encontraram fontes mais atrativas, como as fontes poliníferas. Isto

também ocorreu em parte com as abelhas iraís. É curioso o comportamento de

mandaçaia no forrageio de outras fontes, que diverge das demais e mostra que a

procura por outras fontes é muito baixa (Figura 8).

Boxplot da soma polínica das amostras de mel nas espécies de abelha (Figura 8)
125

1.5. Soma polínica nas AMOSTRAS DE PÓLEN

O quantitativo polínico das 38 amostras de pólen mostra baixa variação

entre si. A diferença de 283 grãos resulta entre a menor e a maior quantidade de

grãos e a tendência central (mediana) da soma polínica é de 600 grãos. O perfil

de forrageio deste alimento é esperado (de ser maior do que o presente no

néctar), porém o quantitativo é baixo para prover a alimentação das colmeias,

conforme mostra o fluxo de coletas deste alimento nas áreas replantadas


(Quadro 1).

Tabela 8. Análise exploratória da soma polínica das amostras de pólen.

Soma
n Mín 25% 50% Média 75% Max IC DP CV%
polínica
pólen 38 500 556 600 611 668 783 588,11-633,73 69,39 11,36
Mín - mínimo Máx – máximo DP – desvio padrão IC intervalo de confiança CV -Coeficiente de variação

A distribuição da maioria das amostras de pólen aloja-se no intervalo entre

500 e 700 grãos; apenas três amostras estão no intervalo entre 700 e 800 grãos e

nenhuma amostra está acima do intervalo de 800 grãos e nem abaixo de 500

grãos (Figura 9), o que conduz a baixa dispersão dos dados. Comparadas as
médias das amostras de mel e pólen, as de pólen triplicam.

Distribuição da soma polínica das amostras de pólen (Figura 9)


126

A soma polínica varia entre os tipos de abelhas nas amostras de

pólen?

Neste alimento só é possível comparar-se nas espécies jataí e irai. Nestas

espécies, a distribuição e variabilidade se mostram similares (MW = 136,5, p-valor


≥ 5%) (Tabela 9).

A soma polínica é superior a 500 grãos e inferior a 800 grãos; os valores da

tendência central são próximos (perto de 600). Comparado às amostras de mel, o

perfil é semelhante, obviamente com número maior de grãos (Tabelas 6 e 9).

Tabela 9. Análise exploratória da soma polínica das amostras de pólen


nas espécies de abelha.

Espécie/
n Mín 25% 50% Média 75% Max IC DP CV%
Medida
Iraí 17 503 566 604 603 665 675 574,15;632,67 57 9
Jataí 16 500 548 583 608 672 766 567,72;648,65 76 13
Mandaçaia* 05 536 611 628 645 668 783 532,59;757,81 91 14
Mín - mínimo Máx – máximo DP – desvio padrão IC intervalo de confiança CV -Coeficiente de variação
* baixa amostragem impede a inclusão na análise

A Figura 10 ilustra os resultados da distribuição das amostras de pólen no

Boxplot, indicando similaridade entre duas

espécies de abelhas, irai e jataí.

Boxplot da soma polínica das amostras de pólen


Nas espécies de abelhas (Figura 10).
127

1.6. CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

Sobre o uso de colmeias artificiais e da vigilância das colmeias

A iniciativa de se instalar colmeias manejadas para abelhas nativas em

áreas replantadas deve ser meramente experimental e requer muitas cuidados

para prevenir perdas.

Nesse tipo de área, a criação pode estar sujeita à perdas decorrentes da

ação de agentes intrínsicos e extrínsicos à área. As caixas manejadas não

dispõem de condições para que as abelhas reforcem a segurança de sua família,

como fazem na Natureza. Deve-se evitar a instalação destas caixas com colônias
na área de mata (já que perderam a condição de segurança).

Caso haja necessidade da instalação de colmeias dentro da mata, mesmo

que a área esteja em recuperação, as colmeias ficam vulneráveis ao ataque de

predadores como, formigas e outras espécies de abelhas. Enfrentam ainda

dificuldades em manter a homeotermia de seu abrigo, cujo esforço pode reduzir a

entrada de alimento e findar a colônia. A alimentação artificial somente é

permitida com os alimentos naturais das abelhas, e por ser experimento obriga a

retirada dos enxames que se enfraquecem. A reposição dos enxames com outros
de outra (s) área (s) é medida contrária à restauração ecológica.

No caso em particular deste estudo, que se localiza em área de forte ação

antrópica, a criação de abelhas ficou suscetível à invasões e visitas de caçadores

que ocasionem furtos e predação para colheita do mel, a ponto de colocar em

risco à manutenção e a vida das colônias. Este é outro importante aspecto que
pesa sobremaneira na decisão de utiizá-las para avaliação do novo nicho.

Neste caso, a recomendação é que o meliponários deve ficar aos cuidados

da comunidade humana próxima à área, com a devida orientação sobre todos os

aspectos de manejo e segurança. É premente a difusão de panfletos educativos


128

sobre a iniciativa do experimento e da necessidade de compartilhar com a


comunidade os objetivos, a condução e os resultados do estudo.

A educação ambiental na área monitorada deve ser reforçada e a formação

de sentinelas da Natureza incentivada para coibir eventuais ações predatórias

sobre as colmeias experimentais. Ressalta-se que cursos sobre meliponicultura

(sobre criação) devem ser preteridos até que a comunidade mostre

espontaniedade nas ações de conservação ambiental e que a área revele


potencial para a manutenção das colônias.

Em áreas jovens em reposição florestal há certamente déficit de árvores

com ocos, o que desfavorece a reprodução natural das abelhas nativas, que

necessitam desse espaço (oco) para formar o ninho de novas colônias, processo

esse que demanda muitos meses. Neste sentido é recomendável a instalação de

ninhos artificiais (com feição natural) que devem ser mantidos na área. As

colônias naturais deve ser mapeadas e protegidas e, se possível, acompanhado

o forrageamento por meio do número de campeiras e estilo do canudo.

Como o forrageamento das abelhas nativas se revela na área monitorada

Identificaram-se 76 tipos polínicos, poucos destes foram indeterminados,


Estes tipos correspondem às espécies florais.

O número de tipos polínicos é razoável para uma área jovem, a média nos
dois alimentos (mel e pólen) é cinco, que varia fortemente ao longo do ano.

A soma polínica revela-se baixa, cuja estimativa relativa é de 39.406 grãos

de pólen, em média de 500 grãos por amostra; as amostras de mel são as mais

reduzidas.
129

Por ser área de reflorestamento com idade próxima a cinco anos, o

forrageamento das abelhas nativas ainda é insuficiente para a manutenção das


colônias de abelhas nativas.

Ressalta-se a importância de se conservar as colônias nativas em seu

ambiente natural (Unidades de Conservação), sob pena de se provocar a sua

extinção . Deve-se ainda coibir, com todos os esforços, a remoção de enxames


silvestres.

Neste estudo, o forrageamento da abelha irai é o mais expressivo: a)

houve coleta de alimento em até 13 diferentes tipos polínicos por amostra e, b) na


maioria das amostras (75%) havia até oito (8) tipos florais.
130

Nesta seção apresentamos o cenário das espécies florais em meio ao trabalho


de forrageio das abelhas nativas, regido pela complexidade
da interação inseto-planta.

2. COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA

Sobre este conteúdo há uma série importante de questionamentos,


que nos instigam, veja a seguir:

O que se deseja saber?

§ Quais as espécies florais que são forrageadas pelas


abelhas na área em recuperação?
§ Quais as espécies florais que se destacam nos períodos
de fluxo de mel e pão de abelhas?
§ O voo para forrageio das abelhas atingiu as áreas
circunvizinhas?
§ Como posso avaliar um campo floral?

Na área monitorada identificaram-se 76 tipos polínicos. Alguns tipos não

foram identificados em nível de gênero e espécie e, outros ficaram

indeterminados. Isto ocorreu devido à baixa disponibilidade de informações

botânicas sobre as áreas de estudo (Tabela 10). Este inventário preliminar é


importante apoio para a Melissopalinologia.
131

Tabela 10. Tipos polínicos observados nas amostras de mel e pólen


na área replantada.

Variações Mel Pólen


Número de amostras 50 40
Tipos polínicos 57 51
Tipos próprios 22 16
Famílias vegetais 25 26
Gêneros 28 22
Espécies 13 15

Das 90 amostras, 10% apresentaram grãos de pólen insuficiente, que

impediu a identificação da origem floral do mel. Registra-se também a ausência

de grãos de pólen em algumas amostras. A escassez ou nulidade de pólen

ocorrem devido a fatores in e ex situ que regem a coleta de recursos pela abelha

campeira ou, devido ao beneficiamento do mel. No primeiro caso, há baixa

disponibilidade de grãos em néctares florais e extraflorais de certas espécies

melitófilas ou não; o mesmo ocorre quando as abelhas forrageiam em excreções

de pulgões. No beneficiamento do mel, filtros de malha muito estreita e


adulteração do mel também conduzem a este efeito.

Ressalta-se a importância de se identificar as floradas


melitófilas. Por meio da imagem da planta em floração é possível
procurar na internet os nomes populares e científicos. Para isso,
pesquise as características que regem a melitofilia.
.

Na área monitorada há 22 tipos florais próprios nas amostras de mel (ou

seja, só aparecem nos méis) e 16 nas amostras de pólen (só aparecem no pão de

abelhas). O restante, que são 38 tipos, está em sobreposição (47%), ou seja,


132

ocorre nos dois tipos de alimento, de forma generalizada, condição que revela

uma dieta variada (Tabelas 11 e 12). Este resultado mostra a tendência das

abelhas em escolher as fontes florais para atender seus produtos primários, mel e

pólen, obviamente para dispor de dieta rica e variada, especialmente a de pólen.

Tipo polínico próprio é aqui usado com sentido relativo, ou seja, é distinto
para espécie de abelha e local.
A sobreposição de recurso floral é o uso do recurso floral por vários visitantes.
Trata-se de uma interação da comunidade de abelhas e, ou com outros
insetos. Se houver escassez do recurso floral pode haver competição. Esta é
uma das interações inseto-flor intrínsecas do forrageio.

Tabela 11. Espécies florais segundo tipificação polínica em amostras de mel


em área replantada. * tipos próprios, em negrito, não ocorrem nas amostras de pólen ++ tipo anemófilo
1. Acacia sp. 20. Crotalaria sp. 39. Musaceae
2. Acanthaceae 21. Croton sp. 40. Myrcia/Eugenia sp.
3. Alchornea sp. 22. Eucalyptus sp. 41. Myrtaceae
4. Alternanthera sp. 23. Eugenia sp. 42. Passiflora sp.
5. Anacardiaceae 24. Eupatorium sp. 43. Phoradendron sp.
6. Anadenanthera colubrina 25. Euphorbiaceae 44. Piper sp.++
7. Apocynaceae 26. Fabaceae-Faboideae 45. Piptadenia gonoacantha Bentham*
8. Asteraceae 27. Gochnatia sp. 46. Poaceae
9. Banisteriopsis sp. 28. Ilex sp. 47. Sapindaceae
10. Bignoniaceae 29. Inga sp. 48. Schinus terebinthifolius Raddi
11. Boraginaceae 30. Lithraea molleoides (Vell) Engl. 49. Schizolobium parahyba (Vell.) Blake
12. Borreria sp. 31. Loranthaceae 50. Solanum sp.
13. Bougainvillea 32. Machaerium sp. 51. Solanum pseudoquina A. St.-Hil
14. Caesalpiniaceae** 33. Malpighiaceae 52. Struthanthus sp.
15. Caricaceae 34. Mangifera indica L. 53. Tabebuia sp.
16. Carica papaya L. 35. Mansoa sp. 54. Tapirira guianensis Aubl.
17. Cecropia sp ++ 36. Mimosa sp. 55. Tetrapterys sp.
18. Cordia sp. 37. Mimosa caesalpiniaefolia Benth. 56. Trema micrantha (L.) Blume++
19. Cordia superba Cham. 38. Mimosa verrucosa Benth. LC 57. Vernonia sp.
* (P. communis) ** Caesalpiniaceae – tratada como sub-família de Fabaceae
133

Tabela 12. Espécies florais conforme tipificação polínica em amostras de pólen


em área replantada. * tipos próprios, em negrito, não ocorrem nas amostras de mel. ++ tipo anemófilo
1. Acacia sp. 19. Cecropia sp. ++ 36. Mimosa caesalpiniaefolia
2. Acanthaceae 20. Chenopodiaceae 37. Myrcia/Eugenia
3. Albizia sp. 21. Copaifera langsdorffii Desf. 38. Myrcia sp.
4. Alchornea sp. 22. Crotalaria sp. 39. Piper sp
5. Alternanthera 23. Croton sp. 40. Piptadenia gonoacantha
6. Anacardiaceae 24. Cupressaceae 41. Poaceae
7. Anadenanthera colubrina 25. Cupressus sp. 42. Ricinus communis L.
8. Antigonon leptopus L. 26. Cyperaceae 43. Sapindaceae
9. Artocarpus heterophyllus Lam. 27. Fabaceae-Faboideae 44. Schinus terebinthifolius
11. Asteraceae 28. Gochnatia sp. 45. Schizolobium parahyba
12. Astronium sp. 29. Inga sp. 46. Struthanthus sp.
13. Banisteriopsis 30. Lithraea molleoides 47. Tapirira guinaensis
14. Boraginaceae 31. Machaerium 48. Trema sp.++
15. Borreria verticilata (L.) G. Mey. 32. Malpighiaceae 49. Trema micrantha ++
16. Brassica sp. 33. Mansoa sp 50. Vernonia sp.
17. Caesalpiniaceae 34. Melastomataceae 51. Vochysia tucanorum Mart.
18. Carica papaya 35. Mimosa sp.
Caesalpiniaceae – tratada como sub-família de Fabaceae

NAS AMOSTRAS DE MEL as famílias botânicas são 25:

Acanthaceae, Amaranthaceae, Anacardiaceae, Apocynaceae, Aquifoliaceae, Asteraceae,


Bignoniaceae, Boraginaceae, Caricaceae, Cecropiaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae,
Loranthaceae, Malpighiaceae, Myrtaceae, Musaceae, Nyctaginaceae, Passifloraceae,
Piperaceae, Poaceae, Rubiaceae, Santalaceae, Sapindaceae, Solanaceae, Ulmaceae.

NAS AMOSTRAS DE PÓLEN as famílias botânicas das são 26:

Acanthaceae, Amaranthaceae, Anacardiaceae, Asteraceae, Bignoniaceae,


Boraginaceae, Brasssicaceae, Caricaceae, Cecropiaceae, Chenopodiaceae,
Cupressaceae, Cyperaceae, Euphorbiaceae, Fabaceae, Loranthaceae,
Malpighiaceae, Melastomataceae, Moraceae, Myrtaceae, Piperaceae, Poaceae,
Polygonaceae, Rubiaceae, Sapindaceae, Ulmaceae, Vochysiaceae.

Há 16 famílias botânicas em sobreposição nas amostras de mel


e pólen, sendo 20 próprias nas do mel e 15 nas do pólen.
134

Dos tipos polínicos mais frequentes destaca-se Fabaceae nas amostras de


mel e pólen, que se modifica na amostragem conforme Tabela 13:

· nas amostras de mel destacam-se Myrtaceae, Anarcadiaceae,


Malpighiaceae;
· nas amostras de pólen destacam-se Piperaceae e Loranthaceae, com
maior participação de outras famílias.

Estudos de Drummond (1988), Freitas et al. (2006), Matos et al. (2002) em

floresta tropical urbana (Parque Nacional da Tijuca, RJ) indicaram Asteraceae,

Bromeliaceae, Lauraceae, Fabaceae, Melastomataceae, Moraceae, Myrtaceae,

Orchidaceae, Poaceae e Rubiaceae como as famílias botânicas mais

representativas na dieta das abelhas; em tipo vegatacional similar, Barth et al.

(2020) destacaram Myrthaceae e Melastomataceae como as mais forrageadas

por duas espécies de Melipona. Fidalgo e Kleinert (2010) chamaram atenção para

os pequenos grãos de pólen de Melastomataceae e Mimosa que podem não ser

importantes fontes de recursos para as abelhas.

Tabela 13. Famílias de plantas de maior frequência na amostragem de mel e pólen


das abelhas nativas.

Família vegetal Amostras mel Amostras pólen


Fabaceae 33% 34%
Myrtaceae 32% 03%
Anacardiaceae 16% 06%
Malpighiaceae 11% 03%
Euphorbiaceae 06% 03%
Loranthaceae 03% 13%
Solanaceae 03% 03%
Piperaceae - 22%
Moraceae - 06%
Caricaceae - 03%
Melastomataceae - 03%
Cecropiaceae - 03%
135

A seguir apresenta-se a análise dos tipos florais da área monitorada, porém

alerta-se que há importante divergência na localidade Marianos, em comparação

a Cantagalo em função da redução na amostragem dos alimentos das colônias


(Quadro 1), o que impede análise apurada.

Em Cantagalo destacam-se 64 tipos polínicos no forrageamento das


abelhas sendo:

a) NAS AMOSTRAS DE MEL (37 tipos, sendo 17 próprios em negrito):

Alchornea sp., Alternanthera sp., Anacardiaceae, Anadenanthera colubrina,


Apocynaceae, Asteraceae, Banisteriopsis sp., Caricaceae, Crotalaria sp., Eucalyptus sp.,
Eupatorium sp., Euphorbiaceae, Ilex sp., Inga sp., Fabaceae-Faboideae, Gochnatia sp.,
Machaerium sp., Malpighiaceae, Mangifera indica, Mansoa sp., Mimosa sp., Mimosa
caesalpiniaefolia, Mimosa verrucosa, Myrcia/Eugenia sp., Musaceae, Phoradendron sp.,
Piper sp., Piptadenia sp., Piptadenia gonoacantha, Schinus terebinthifolius, Schizolobium
parahyba, Solanum sp., Solanum pseudoquina, Struthanthus sp., Tapirira guineensis,
Tetrapteris sp., Trema micrantha.

b) NAS AMOSTRAS DE PÓLEN (47 tipos, sendo 27 próprios em negrito):

Acacia sp., Acanthaceae, Alchornea sp., Albizia sp., Anacardiaceae, Anadenanthera


colubrina, Antigonon leptopus, Artocarpus heterophyllus, Asteraceae, Astronium sp.,
Banisteriopsis sp., Boraginaceae, Borreria verticilata , Brassica sp., Carica papaya,
Cecropia sp., Chenopodiaceae, Copaifera langsdorffii, Crotalaria sp., Croton sp.,
Cupressaceae, Cupressus sp., Cyperaceae¸ Fabaceae-Faboideae, Gochnatia sp., Inga
sp., Lithraea molleoides, Machaerium sp., Malpighiaceae, Mansoa sp., Melastomataceae,
Mimosa caesalpiniaefolia, Myrcia sp., Myrcia/Eugenia, Piptadenia sp., Piptadenia
gonoacantha, Poaceae, Ricinus communis, Sapindaceae, Schinus terebinthifolius,
Schizolobium parahyba, Struthanthus, Tapirira guineensis, Trema, Trema micrantha,
Vernonia sp., Vochysia tucanorum.

Há 19 tipos polínicos em sobreposição nas amostras


de mel e pólen em Cantagalo
136

Em Marianos aparecem 49 tipos polínicos no forrageamento das abelhas


sendo:

a) NAS AMOSTRAS DE MEL (34 tipos, sendo 25 próprios em negrito):

Acacia sp., Alchornea sp., Alternanthera sp., Anadenanthera colubrina, Asteraceae,


Banisteriopsis sp., Bougainvillea, Borreria sp., Cecropiaceae, Cordia sp., Cordia superba,
Crotalaria sp., Croton sp., Eucalyptus sp., Eugenia sp., Fabaceae-Faboideae, Gochnatia
sp., Loranthaceae, Malpighiaceae, Mansoa sp., Mimosa caesalpiniaefolia, Myrcia/Eugenia
sp., Musaceae, Myrtaceae, Passsiflora sp., Piper sp., Piptadenia gonoacantha, Schinus
terebinthifolius, Solanum sp., Solanum pseudoquina, Struthanthus sp., Tabebuia sp.,
Tetrapteris sp., Vernonia sp.

b) NAS AMOSTRAS DE PÓLEN (23 tipos, sendo 13 próprios em negrito):

Acanthaceae, Alternanthera sp., Anadenanthera colubrina, Artocarpus heterophyllus,


Asteraceae, Banisteriopsis sp., Boraginaceae, Brassica sp., Carica papaya, Cecropia sp.,
Chenopodiaceae, Caesalpinia sp., Fabaceae-Faboideae, Lithraea molleoides, Mimosa
caesalpiniaefolia, Myrcia/Eugenia sp., Piper sp., Piptadenia gonoacantha, Poaceae,
Struthanthus sp., Tapirira guineensis, Trema sp., Trema micrantha.

Há 11 tipos polínicos em sobreposição nas amostras


de mel e pólen em Marianos

A área monitorada apresenta sobreposição de recursos florais na ordem de 47%.

Abaixo, lista-se a riqueza dos tipos polínicos na dieta das três espécies de
abelha.

ABELHA IRAÍ. Identificados 42 tipos polínicos em sua dieta, sendo 17 comuns no


mel e pólen.

a) AMOSTRAS DE MEL (27 tipos polínicos sendo 11 próprios em negrito):


137

Alchornea sp., Alternanthera sp., Anadenanthera colubrina, Asteraceae, Banisteriopsis


sp., Bougainvillea, Caricaceae, Cordia sp., Crotalaria sp., Croton sp., Eugenia sp.,
Fabaceae, Ilex sp., Loranthaceae, Malpighiaceae, Mangifera indica, Mansoa sp., Mimosa
caesalpiniaefolia, Musaceae, Myrcia sp., Piper sp., Piptadenia gonoacantha,
Phoradendron sp., Schinus terebinthifolius, Schizolobium parahyba, Struthanthus sp.,
Tapirira guianensis, Tetrapteris sp.

b) AMOSTRAS DE PÓLEN (41 tipos polínicos, sendo 24 próprios em negrito:


Acacia sp., Acanthaceae, Albizzia sp., Anacardiaceae, Alchornea sp., Alternanthera sp.,
Anadenanthera colubrina, Antigonon leptopus, Artocarpus heterophyllus, Asteraceae,
Astronium sp., Banisteriopsis sp., Borreria verticillata, Brassica sp., Caesalpinia sp.,
Carica papaya, Cecropia sp., Chenopodiaceae, Copaifera langsdorffii, Crotalaria sp.,
Croton sp., Cupressus sp., Fabaceae-Faboideae, Inga sp., Lithraea molleoides,
Machaerium sp., Malpighiaceae, Mansoa sp., Melastomataceae, Mimosa
caesalpiniaefolia, Myrcia/Eugenia sp., Piper sp., Piptadenia gonoacantha, Poaceae,
Sapindaceae, Schizolobium parahyba, Schinus terebinthifolius, Struthanthus, Trema,
Trema micrantha, Vochysia tucanorum.

ABELHA JATAÍ . Identificados 41 tipos polínicos em sua dieta, sendo 13 comuns


no mel e pólen

a) AMOSTRAS DE MEL, (30 tipos polínicos, sendo 17 próprios em negrito):


Alchornea sp., Anacardiaceae, Anadenanthera colubrina, Apocynaceae, Asteraceae,
Banisteriopsis sp., Caricaceae, Cecropia sp., Cecropiaceae, Cordia sp., Crotalaria sp.,
Croton sp., Eucalyptus sp.¸ Euphorbiaceae, Eugenia sp., Fabaceae, Gochnatia sp., Ilex
sp., Loranthaceae, Mimosa caesalpiniaefolia, Mimosa verrucosa, Musaceae,
Myrcia/Eugenia sp., Piper sp., Piptadenia gonoacantha, Schinus terebinthifolius, Solanum
sp., Struthanthus sp., Tetrapteris sp., Trema micrantha,

b) AMOSTRAS DE PÓLEN (27 tipos polínicos, sendo 14 próprios em negrito):


Alchornea sp., Anadenanthera colubrina, Artocarpus heterophyllus, Asteraceae,
Banisteriopsis sp., Boraginaceae, Carica papaya, Cecropia sp., Chenopodiaceae,
Cupressaceae, Cyperaceae, Fabaceae-Faboideae, Mansoa sp., Melastomataceae,

Mimosa caesalpiniaefolia, Myrcia sp., Myrcia/Eugenia sp., Piper sp., Piptadenia

gonoacantha, Poaceae, Ricinus communis, Schinus terebinthifolius, Schizolobium


parahyba, Struthanthus sp., Vernonia sp., Trema sp., Trema micrantha.
138

ABELHA MANDAÇAIA. Identificados 38 tipos polínicos em sua dieta: sendo 8


tipos comuns no mel e pólen.

a) AMOSTRAS DE MEL (31 tipos polínicos, sendo 23 próprias em negrito):


Acacia sp., Alchornea sp., Alternanthera sp., Anacardiaceae, Anadenanthera colubrina,
Asteraceae, Borreria sp., Cordia superba, Eucalyptus sp.¸ Eugenia sp., Gochnatia sp.,
Inga sp., Machaerium sp., Mansoa sp., Mimosa sp., Mimosa caesalpiniaefolia,
Musaceae, Myrcia/Eugenia sp., Myrtaceae, Passiflora sp., Piptadenia sp., Piptadenia
gonoacantha, Phoradendron sp., Schinus terebinthifolius, Struthanthus sp., Solanum sp.,
Solanum pseudoquina, Tabebuia sp., Tapirira guianensis, Tetrapteris sp., Vernonia sp..

b) AMOSTRAS DE PÓLEN (16 tipos polínicos, sendo 8 próprias em negrito):


* houve importante déficit nesta amostragem
Anadenanthera colubrina, Asteraceae, Caesalpinia sp., Carica papaya, Cecropia sp.,
Chenopodiaceae, Crotalaria sp., Fabaceae-Faboideae, Gochnatia sp., Mimosa
caesalpiniaefolia, Myrcia sp., Piper sp., Piptadenia gonoacantha, Struthanthus sp.,
Tapirira guineensis, Trema micrantha.

Na tabela 14 apresentam-se as peculiaridades da preferência floral por

meio das análises de seus alimentos para as três espécies de abelhas.

Tabela 14. Número de tipos florais próprios e em sobreposição por espécie de abelha.
* houve importante déficit na amostragem da dieta das abelhas

Espécie de abelha Número de tipos polínicos próprios


Mel Pólen
Mandaçaia 23 *
Jataí 17 14
Iraí 11 24
Número de tipos polínicos sobrepostos (uso por várias espécies)
Mel Pólen
Mandaçaia e Jatai 15 *
Mandaçaia e Iraí 15 *
Irai e Jataí 21 21
Mandaçaia, Jatai e Irai 11 *
139

Ressalta-se que a abelha mandaçaia é a que guarda maior exclusividade


em sua preferência foral para plantas nectaríferas, já para pólen é a abelha iraí.

A consulta a outros estudos nos mostra informações igualmente peculiares


sobre preferência floral das espécies nativas de abelhas.

Braga et al. (2014) utilizaram dois métodos para avaliar as preferências

florais da abelha jataí, em localidade nativa da Mata Atlântica de preservação


ambiental. Estes foram os métodos,:

(a) por registro da visitação nas espécies florais: quando observou a visitação das
abelhas em 61 espécies florais, com dominância para Anacardiaceae e destaque para
espécies de Asteraceae, Sapindaceae, Fabaceae-Mimosoideae e Rhamnaceae;

(b) por análise das cargas polínicas em colmeias artificiais de T. angustula : neste
método verificaram a presença de 39 tipos polínicos, pertencentes a 28 famílias vegetais.

Ao estudar o forrageamento da abelha mandaçaia, Oliveira et al. (2014)

verificaram a preferência floral a partir de presença de 24 tipos polínicos em

amostras de mel e pólen, sendo Melastomaceae, Myrtaceae e Solanaceae como

os mais frequentes, estudo este realizado no Parque da Neblina (SP) ao longo de


um ano.

Os resultados acima relatados ao se comparar com as áreas monitoradas

de nosso estudo mostram somente seis tipos polínicos em comum.

Pesquisa de Barth et al. (2020) no Parque Nacional da Tijuca (RJ) só

verificaram a ocorrência de quatro tipos polínicos: Melastomataceae, Eucalytptus

sp., Myrcia sp., Mimosa caesalpinifolia, em área de criação de Melipona


quadrifasciata em estudo de um ano.

Em um panorama de estudos realizados no Brasil geraram-se listas de


espécies florais forrageadas pelas espécies de abelhas nativas em questão.
140

Estes dados estão ilustrados no site ABELHA (2019), que abaixo resume a
visitação das espécies de abelhas tratadas neste estudo:

N. testaceicornis em 164 espécies florais

Tetragonisca angustula em 264 espécies florais

Melipona quadrifasciata em 95 espécies florais

Para os admiradores da abelha mandaçaia, a escolha de áreas para sua criação


deve ser mais cautelosa, por se mostrar especialista em sua preferência floral.

Dentre os recursos florais em sobreposição (visitantes que forrageiam nos

mesmos recursos), a relação entre as abelhas jataí e irai parece ser mais estreita

(Tabela 13), possivelmente devida à similaridade de talhe e por apresentarem alta


população, que podem excluir abelhas maiores do seu campo floral.

A sobreposição de recursos florais pelas três espécies de abelhas atinge


17 espécies florais (Quadro 2).

Quadro 2. Espécies florais forrageadas por três espécies de abelhas

Anadenanthera colubrina Myrcia sp.


Alchornea sp. Piper sp.
Banisteriopsis sp. Piptadenia gonoacantha
Carica papaya Schinus terebinthifolius
Cecropia sp. Struthanthus sp.
Croton sp. Tapirira guineensis
Eugenia sp. Tetrapteris sp.
Mansoa sp. Trema micrantha
Mimosa caesalpiniaefolia
141

Discriminam-se abaixo os tipos polínicos em sobreposição somente nas

amostras de mel, ou seja, são forrageadas pelas três espécies de abelhas


monitoradas para OBTENÇÃO DE NÉCTAR:

Alchornea sp. Anadenanthera colubrina Crotalaria sp.


Croton sp. Eugenia sp. Mimosa caesalpiniaefolia
Myrcia sp. Piper sp. Piptadenia gonoacantha
Schinus terebinthifolius Struthanthus sp. Tapirira guineensis
.

Abaixo, os tipos polínicos se mostram em sobreposição somente nas


AMOSTRAS DE PÓLEN pelas três espécies de abelhas:

Anadenanthera colubrina Cecropia sp. Eugenia sp.


Mimosa caesalpiniaefolia Myrcia sp. Piper sp.
Piptadenia gonoacantha Struthanthus Trema micrantha

As espécies florais que podem disponibilizar alimentos para irai, jataí e


mandaçaia podem também gerar competição entre estas espécies.
Para prevenir a competição recomenda-se dispor de campos com estas
espécies em alta densidade, por serem espécies florais comuns
e relativamente fáceis de serem cultivadas.
142

3. LEVANTAMENTO FLORÍSTICO DA ÁREA REPLANTADA E


PREFERÊNCIA FLORAL DAS ABELHAS NATIVAS

Será que as espécies floríferas da área monitorada foram


intensamente forrageadas pelas abelhas nativas?

Para responder esta pergunta comparam-se as listas de espécies florais

levantadas na área monitorada (pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro

(PMRJ) e a lista dos tipos polínicos presentes nas dietas de mel e pólen das

abelhas nativas amostradas neste estudo. A PMRJ em seu levantamento botânico


verificou em Marianos a ocorrência de 56 plantas e em Cantagalo 109 plantas.

De acordo com os dados de visitação por meio dos tipos políticos

presentes na dieta das abelhas, a taxa de visitação foi baixa em ambas as

localidades (Tabela 15). Alerta-se que houve um déficit na amostragem em


Marianos (Quadro 1), o que impede a comparação apurada na área monitorada.

Tabela 15. Taxa presente nos tipos polínicos das dietas de abelhas nativas
na área replantada (RJ).
* houve importante déficit na amostragem da dieta das abelhas

Taxa das plantas Tipos polínicos


Marianos* Cantagalo
Espécie 08 08
Gênero 04 10
Família de planta 03 08
Total 15 (27%) 26 (24%)
143

Em CANTAGALO destacam-se as seguintes espécies (oito) forrageadas


pelas abelhas, a partir dos tipos polínicos presentes nos alimentos das abelhas e,
da lista do censo da PMRJ.

Anadenanthera colubrina Mimosa caesalpiniifolia


Artocarpus heterophyllus Piptadenia gonoacantha
Borreria verticillata Schizolobium parahyba
Mangifera indica Solanum pseudoquina

Na análise polínica aparecem taxa forrageados pelas abelhas não


discriminados em nível de espécie. Abaixo se listam estes tipos polínicos em
Famílias e Gêneros como Possíveis Espécies, segundo censo realizado na área:

Acanthaceae: Thumbergia sp.


Apocynaceae: Tabernaemontana fuchsiifolia
Asteraceae : Moquiniastrum polymorphum
Euphorbiaceae: (é possível ser uma das três espécies) Dalechampia triphylla, Joanesia
princeps, Euphorbia hirta
Fabaceae: (é possível ser uma das oito espécies) Cosmium sp., Bauhinia sp., Cassia
grandis; Desmodium incanun; Libidibia ferrea; Peltophorum dubium; Pterogynenitens;
Senna siamea
Melastomataceae: (é possível ser uma das três espécies) Leandra sp., Miconia sp.,
Pleroma granulosum
Poaceae: (é possível ser uma das três espécies) Andropogon sp., Megathyrsus maximus,
Merostachs sp.
Sapindaceae: (é possível ser uma das três espécies) Cupania oblongifolia, Paullinia
meliifolia, Serjania sp.

Acacia: Acacia auriculiformis, A. mangium


Albizia: Albizia polycephala
Alchornea: Alchornea glandulosa
Astronium : Astronium graveolens
Eugenia : Eugenia florida DC., E. uniflora L.
Inga: (é possível ser uma das duas espécies) Inga laurina, I. vera
Machaerium: Machaerium legale
Myrcia : Myrciaria glazioviana
Piper: (é possível ser uma das duas espécies) Piper arboreum; P. nigrum
144

Solanum: (é possível ser uma das duas espécies)Solanum argenteum, S. asperum.

Em MARIANOS destacam-se as seguintes espécies (oito) forrageadas


pelas abelhas, a partir do estudo dos tipos polínicos presentes nos alimentos das
abelhas e na lista do censo da PMRJ.

Anadenanthera colubrina Piptadenia gonoacantha


Cordia superba Solanum pseudochina
Gochnatia polymorpha Schinus terebinthifolia
Mimosa caesalpiniifolia Trema micrantha

Na análise polínica aparecem taxa forrageados pelas abelhas não


discriminados em nível de espécie. Abaixo listam-se estes tipos polínicos em
Famílias e Gêneros como Possíveis Espécies segundo censo realizado na área:

Cecropiaceae: (é possível ser uma das duas espécies) Cecropia pachystachya, C.


hololeuca
Fabaceae: (é possível ser uma das oito espécies) Cassia grandis, Clitoria fairchildiana,
Chloroleucon tortum, Dalbergia nigra, Enterolobium contortisiliquum; Hymenaea courbaril,
Pterogyne nitens, Peltophorum dubium
Myrtaceae: (é possível ser uma das quatro espécies) Psidium guajava, P. araça, P.
cattleyanum; Stenocalyx brasiliensis, Syzygium cumini.

Acacia: Acacia mangium


Caesalpinia : (é possível ser uma das três espécies) Caesalpinia leiostachya, Paubrasilia
echinata, Libidibia ferrea
Cordia: (é possível ser uma das duas espécies): Cordia trichotoma, C. africana
Eugenia: Eugenia brasiliensis Lam.
Gochnatia: Moquiniastrum polymorphum subsp. floccosum (Cabrera) G. Sancho
Obs: Lembramos que os locais são próximos e que esta divisão é estimada

Este resultado evidencia que mais de 70% das espécies florais da área

reflorestada ou, não floresceram ou, floresceram em baixa densidade, o que

conduziu as abelhas a procurar outras fontes de alimento na área circunvizinha,


145

não inclusa na área monitorada. Certamente, o forrageio para outras áreas está

dentro do raio de forrageio das espécies de abelhas avaliadas.

Lembrete Área de forrageio das abelhas campeiras

Perímetro de 1,2 km2 para abelhas pequenas (2 a 4 cm) e 25


km2 para abelhas grandes (maior que 5 cm).

Em Marianos, os tipos polínicos mais procurados são de plantas

nectaríferas e as fontes de pólen se mostram parcas. A abelha mandaçaia


destaca-se por estar mais presente na área, apesar da diferença ser estreita entre

as três espécies. A presença de mandaçaia nesta área mais pobre revela que há

escassos recursos de sua preferência em seu campo floral.

Em Cantagalo, o pólen é o alimento mais forrageado, e as fontes para

néctar seguem com destaque; a abelha iraí destaca-se por estar mais presente na
área, apesar da diferença ser estreita entre as três espécies.
146

4. PERFIL E ESPÉCIES FLORAIS PREDOMINANTES


NAS AMOSTRAS DE MEL E PÓLEN

O que se deseja saber?

§ Quais espécies florais mais frequentes nos alimentos das abelhas, o


que sinaliza preferência floral.
§ Quais são as pistas para identificar as espécies florais em alta
densidade floral na área, que proporciona a abundância de alimento.

4.1. Perfil das espécies florais predominantes

No total de tipos polínicos analisados, 36% (n=25) reportam-se como

espécies florais predominantes na composição da dieta das abelhas. Estas

espécies indicam a maior atratividade às abelhas no campo floral e devem

apresentar densidade floral expressiva. Este tipo de preferência advém da


constância floral, comportamento típico das abelhas sociais (WHITE et al., 2001).

A constância floral das abelhas campeiras em determinada espécie


floral sinaliza preferência floral. Que resulta em fidelidade floral

Analisando-se sobre a variável frequência observa-se que pelo menos três

quartos das amostras de cada alimento alcançaram frequências superiores a 50%


(Tabela 16).
147

Tabela 16. Análise exploratória da distribuição das frequências das espécies florais
predominantes nas amostras de mel e pólen.

N Mín 25% 50% Média 75% Máx IC DP CV %


Amostras de Mel
40 33 61 72 71,8 86,5 100 65,87; 77,76 18,6 26
Amostras de Pólen
39 28 52 66 66,3 78,0 100 59,60; 72,95 20,6 31

Em metade das amostras de mel a frequência varia entre 72% e 100%. As

amostras de pólen mostram maior variabilidade, com dispersão moderada. Por

isso, as frequências destas espécies florais oscilam entre 28 e 100%, que indica
importante flutuação na oferta deste alimento por diferentes espécies florais.

No que tange a posição da concentração das frequências das espécies

predominantes, o intervalo se reduz, e se apresenta entre 40 e 80% (Figura 11);

há poucas amostras (25%) que alcançam cifra superior a 80%. Ressalta-se que é

esperado que poucas espécies florais mantivessem predominância expressiva.

Distribuição das espécies florais predominantes nas amostras de mel e pólen


(Figuras 11).

Mel Pólen

20 40 60 80 100
Frequência

Atentem que o forrageio do pólen tende a ser menos duradouro, já o

forrageio do néctar amplia o recrutamento de campeiras no campo floral para

aperfeiçoar a coleta deste alimento e, assim, reduz a diversidade floral. A redução


do tempo de forrageio do pólen pode ocorrer mesmo em plantas poli nectaríferas.
148

Vale ilustrar o forrageio das abelhas em Vernonia, vulgo “assa-peixe”. Esta

florada é poli nectarífera, rica em ambos os recursos florais (néctar e pólen).

Inicialmente, as campeiras ingressam na colmeia com altas cargas de seu pólen

(perto de 10 dias) para atender o suprimento larval, em seguida, passam a coleta

de seu copioso néctar, por mais de 20 dias. E advém carga de mel, por vezes
bem farta (informação pessoal).

Curioso não ser incomum encontrar tipos polínicos em alta frequência nas

amostras de pólen neste trabalho, o que sugere haver ou, fontes ricas ou,

restrição da disponibilidade de fontes deste alimento para as colmeias, o que as

conduz a forragear de forma mais assídua. Nesta área monitorada a escassez


deste alimento se firma com este e outros resultados.

Salienta-se que o forrageio das abelhas em floradas predominantes é uma

resposta auspiciosa na região, por suprir recursos florais que favorecem o

desenvolvimento das colônias.

Estes resultados são mais evidentes pelo tipo do mel: a análise

melissopalinológica indica que 85% das amostras de mel são classificadas como

tipo monofloral (BARTH, 1989), ou seja, o domínio de coleta de néctar ocorre

entre uma ou poucas espécies florais que são predominantes no campo floral. O

restante das amostras de mel (15%) é do tipo heterofloral, que guarda maior
diversidade floral na sua estrutura.

Informa-se que o tipo de mel monofloral apresenta menor participação de

outros tipos polínicos, porém ambos os tipos podem ou não estar envolvidos na
abundância de mel (ou seja, se é possível colheita de mel ou não).

Saibam que a tendência do forrageio das abelhas campeiras no campo

floral é por recrutamento (ROUBIK, 1989), ou seja, uma vez que há preferência

floral pela abelha escoteira (abelha que avalia o campo floral), as demais (as

recrutas) seguem intensamente esta pista (constância floral), e aumentam a carga


149

do alimento da espécie floral selecionada. O

recrutamento intenso (com predominância da

espécie floral) significa que o campo dispõe

desta espécie floral em densidade

expressiva. Este comportamento é conhecido

como *fidelidade floral*, típico das abelhas


eussociais (JOHNSON, 1974; HUBELL e JOHNSON, 1978).

4.2. Espécies florais predominantes

Há 11 espécies florais que se destacam como predominantes nas amostras


de mel (Tabela 17).

Tabela 17. Distribuição das espécies florais predominantes


na área replantada nas amostras de mel.

Espécies florais Total Geral


n %
Myrcia/Eungenia sp. 13 26
Piptadenia gonoacantha 08 16
Schinus terebinthifolius sp. 06 12
Anadenanthera colubrina sp. 04 08
Alchornea sp. 02 04
Banisteriopsis sp. 02 04
Eugenia sp. 01 02
Mansoa sp. 01 02
Mimosa caesalpiniaefolia 01 02
Passiflora sp 01 02
Struthanthus sp. 01 02
Outras* 10 20
Total de amostras 50 100
*Indeterminada
150

Espécies florais que apresentam alta frequência nas amostras de mel (Figura 12)
151

Na amostragem de pólen há 17 tipos florais predominantes (Tabela 18).

Tabela 18. Distribuição dos tipos florais predominantes na área replantada

nas amostras de pólen.

Espécies florais Total geral


n %
Piper sp. 08 20,0
Mimosa caesalpiniaefolia 06 15,0
Struthanthus sp. 04 10,0
Fabaceae-Faboideae* 03 7,5
Anadenanthera colubrina 02 5,0
Artocarpus heterophyllus 02 5,0
Cecropia sp. 02 5,0
Crotalaria sp. 02 5,0
Banisteriopsis sp. 02 5,0
Alchornea sp. 01 2,5
Astronium sp. 01 2,5
Carica papaya 01 2,5
Lithraea molleoides 01 2,5
Melastomataceae* 01 2,5
Myrcia/Eugenia sp. 01 2,5
Piptadenia gonoacantha 01 2,5
Schinus terebinthifolius 01 2,5
Outras* 01 2,5
Total de amostras 40 100

*indeterminada
152

As fontes de pólen, Piper sp. e

Mimosa, são as que detém maior


participação na amostragem. Assim, a

preferência das abelhas por estas

espécies florais sugere período de


escassez de fontes poliníferas.

Esta interpretação se deve ao

intenso forrageio de Piper que é um

tipo polínico anemófilo (polinizado pelo

vento), pobre em nutrientes.


Mimosa, que domina a

paisagem da região Sudeste, também

não aparenta ser fonte importante para

o crescimento das colmeias nativas


(informação pessoal).

Para as espécies de abelhas


Espécies florais de maior
sem ferrão, o forrageio mais variado é freqüência nas amostras de
resultado esperado, principalmente pólen (Figura 12)

para a coleta do pólen, cujo estoque


tende a dominar o do mel em muitas
espécies sem ferrão) (ABSY et al.,
1984)....e, inclusive em geoprópolis de
Melipona, onde identificaram 121 tipos
polínicos distribuídos em 52 famílias e
84 gêneros (RIBEIRO et al., 2016)
. Espécies florais que apresentam
alta frequência nas amostras de
pólen (Figura 13)
153

4.3. Predominância floral por Espécie de Abelha

Ressalta-se que o número de espécies florais predominantes e sua

distribuição nas três espécies de abelhas, o perfil é do espectro floral. Ver a

diferença na tabela 19. As três espécies de abelhas têm praticamente a mesma


grandeza do espectro floral, com as devidas preferências florais.

Tabela 19. Número de amostras de mel e das espécies florais, predominantes,


por tipo de abelha, em área replantada..

Tipos polínicos predominantes


Espécie abelha
Em amostras de mel Em número das espécies florais

Iraí 14 07
Jataí 09 06
Mandaçaia 17 08

As espécies florais que mostram dominância no forrageio das abelhas são

poucas e devem ser importantes fontes de recursos primários, néctar e, ou pólen.

A seguir, destacam-se as espécies florais preferidas pelas espécies de abelha

(Tabela 19).

Myrcia/Eugenia é a espécie que predominou mais vezes na dieta de


Mandaçaia e Jatai.

Piptadenia gonoacantha predominou mais vezes na dieta de Irai.

Schinus e Anadenanthera apresentam frequência mais baixa e podem


estar em baixa densidade, já que são altamente atrativas a estas espécies de
abelhas.

Na área há poucas espécies representativas do dossel, certamente por ser

campo florestal em formação. As espécies arbóreas do dossel são as mais


154

forrageadas por mandaçaia (RAMALHO, 2004), com destaque tímido para as


espécies florais Anadenanthera e Piptadenia.

Verifica-se também baixa representatividade de outras espécies florais

replantadas conforme Quadro 1 (levantamento na área, página 85). O raio de

forrageio das abelhas pode atingir até 25 km2, distância que facilitava pelas

correntes de ar, podem favorecer o forrageio das abelhas nas áreas

circunvizinhas, além da área monitorada.

Tabela 20. Tipos florais predominantes nas amostras de mel, por tipo de abelha

.Espécies florais Iraí (n) Jatai (n) Mandaçaia (n) Total geral (n)
Myrcia/Eugenia sp. 02 04 07 13
Piptadenia gonoacantha 05 01 02 08
Schinus terebinthifolius 03 01 02 06
Anadenanthera colubrina 01 01 02 04
Alchornea sp. 01 01 0 02
Banisteriopsis sp. 01 01 0 02
Eugenia sp. 0 0 01 01
Mansoa sp. 0 0 01 01
Mimosa caesalpiniaefolia 0 0 01 01
Passiflora sp 0 0 01 01
Struthanthus sp. 01 0 0 01
Outra* 01 05 04 10
Total de amostras 15 14 21 50
*indeterminada
155

Resumidamente, apresentam-se os tipos florais mais forrageados pelas


abelhas segundo análise da sua dieta.

Predominância dos tipos florais na dieta das abelhas nas amostras de mel:

Iraí Piptadenia gonoacantha, Schinus terebinthifolius, Banisteriopsis sp.,


Anadenanthera colubrina Alchornea sp., Struthanthus sp.e Myrcia/Eugenia sp.
(são sete)

Jataí Anadenanthera colubrina, Schinus terebinthifolius, Banisteriopsis sp., Piptadenia


gonoacantha, Alchornea sp., Myrcia/Eugenia sp. (são seis)

Myrcia/Eugenia
Mandaçaia , Piptadenia gonoacantha, Anadenanthera colubrina, Eugenia sp., Mansoa sp.,

Mimosa caesalpiniaefolia, Schinus terebinthifolius, Passiflora sp. (são oito)

Em tipo vegetacional similar, Barth et al. (2020) observaram espécies de


Myrtaceae como as mais frequentes na dieta da mandaçaia.

Nas amostras de pólen, seguindo a mesma linha de interpretação das

amostras de mel, percebe-se que a há variedade floral no forrageio das abelhas

(Tabelas 20 e 21). Há o domínio da abelha iraí nas espécies florais

predominantes do campo floral estudado, que mostra forrageio mais variado.

Devido à baixa amostragem de pólen, a abelha mandaçaia revela o mais baixo

espectro floral, inclusive com poucas espécies do dossel, comportamento este

peculiar de seu forrageamento (RAMALHO, 2004) ), indicativo de carência por


fontes florais de sua preferência.

Tabela 21. Número de amostras de pólen e das espécies florais predominantes,


por tipo de abelha, em área replantada.

Tipos polínicos predominantes


Espécie abelha
Nas amostras de pólen Em número das espécies florais

Iraí 17 13
Jataí 16 08
Mandaçaia 07* 07
* houve importante déficit nesta amostragem
156

A seguir, destacam-se as espécies florais preferidas pelas espécies de

abelha (Tabela 22). Das 40 amostras, oito se posicionam como espécie

predominante: Piper sp., Mimosa sp.e Struthanthus sp. e alcançam 20% de

frequência; as demais espécies não alcançam o limiar de 10%. Piper sp. se

destaca (m) como espécie (s) que predominou na dieta da Jatai, preferência esta
que a distingue das demais espécies monitoradas. Na dieta da jataí houve

dominância de tipos florais predominantes de baixo valor polínico, o que sugere

que a área ainda é carente de fontes poliníferas, e reafirma a interpretação já


discutida na análise dos tipos de alimento.

Para as fontes poliníferas, somente Anadenanthera colubrina e Piptadenia


gonoacantha se destacam como fontes deste alimento para as abelhas
mandaçaias que requerem comumente fontes do dossel.

Tabela 22. Tipos florais predominantes nas amostras de pólen por tipo de abelha

Espécies florais Iraí Jatai Mandaçaia Total geral


Piper sp. 1 7 8
Mimosa caesalpiniaefolia 2 3 1 6
Struthanthus sp. 2 1 1 4
Anadenanthera colubrina 1 1 2
Artocarpus heterophyllus 1 1 2
Cecropia sp. 1 1 2
Crotalaria sp. 1 1 2
Fabaceae-Faboideae 2 1 3
Banisteriopsis sp. 2 2
Alchornea sp. 1 1
Astronium sp. 1 1
Carica papaya 1 1
Lithraea molleoides 1 1
Melastomataceae 1 1
Myrcia/Eugenia sp. 1 1
Piptadenia gonoacantha 1 1
Schinus terebinthifolius 1 1
Outra* 1 1
Total de amostras 17 16 7 40
*indeterminada
157

Resumidamente, apresenta-se a predominância dos tipos florais na dieta


das abelhas nas amostras de pólen:

Mimosa caesalpiniaefolia, Struthanthus sp., Banisteriopsis sp., Fabaceae, Artocarpus


Iraí
heterophyllus, Piper sp., Alchornea sp., Cecropia sp., Crotalaria sp., Astronium sp.,
Lithraea molleoides, Piptadenia gonoacantha Schinus terebinthifolius (são treze)

Jataí Piper sp., Mimosa caesalpiniaefolia, Struthanthus sp., Fabaceae, Cecropia sp.,
Artocarpus heterophyllus Melastomataceae, Anadenanthera colubrina (são oito)

Mimosa caesalpiniaefolia, Anadenanthera colubrina, Struthanthus sp., Fabaceae,


Mandaçaia
Carica papaya, Crotalaria sp., Myrcia/Eugenia sp. ( são sete).
* houve importante déficit nesta amostragem

Em análise cruzada sobre desempenho das localidades da área replantada

verifica-se que Cantagalo mostra-se superior (mais diversa) em seu replantio, ao


propiciar mais recursos florais às abelhas, comparativamente à Marianos.

A relação tipos polínicos e número de amostras permite também mostrar a


disponibilidade de alimento para as abelhas:
- Amostragem de mel - Amostragem de pólen
Cantagalo a relação é 09:22 Cantagalo a relação é 15:29
Marianos a relação é 07:18 Marianos a relação é 08:10

De acordo com outros pesquisadores, a variação do forrageio das abelhas

é ampla quanto ao número de tipos polínicos e ao táxon das plantas (Tabela 23).
Comparativamente ao nosso estudo com Oliveira Abreu et al. (2014) são nove

tipos polínicos em comum. Carvalho e Marchini (1999) ressaltaram as espécies

florais como os mais frequentes para Melipona quadrifasciata: Bulbine frutescens

L., Eucalyptus spp., Leucaena leucocephala Lam, (De Wit.) e Tipuana tipu Benth.

(Kuntze). Comparando-se com estudo de Carvalho e Marchini (1999) foram seis e

oito tipos polínicos comuns para Tetragonisca angustula e Nannotrigona

testaceicornis, respectivamente. Viana (1992) observou N. testaceicornis em


coletas de pólen e néctar em flores de Convovulaceae, Mimosaceae e Rubiaceae,
158

apenas a primeira não registramos ocorrência em Cantagalo/Marianos-RJ. Freitas

et al. (2018), Barth et al. (2020) em estudo de pólen das corbículas das abelhas,

em área de reserva urbana da Mata Atlântica, verificaram que as principais

plantas forrageadas pelas abelhas mandaçaia foram: Myrtaceae,

Melastomataceae e Fabaceae, que são frequentes ao longo de oito meses do

estudo; os tipos polínicos, Alchornea e Solanum, se destacaram como fontes


alternativas por dois meses.

Tabela 23. Caracterização polínica: (1) Este estudo; (2) Oliveira-Abreu et al. (2014); (3)
Carvalho e Marchini (1999); (4) Imperatriz-Fonseca et al. (1984);(5) Braga et al (2014); (6)
Iwama e Melhem (1979); Ramalho (1990); (7) Freitas et al. (2018); Barth et al. (2020)
Nt–Nannotrigona testaceicornis Ta-Tetragonisca angustula Mq- Melipona quadrifasciata
Espécie de Número Tipos polínicos
Vegetação
Abelha/Recurso de tipos maisfreqüentes
1- Mq, Ta, Nt 38, 41, 44 Piptadenia gonoacantha Replantada com
(mel e pólen) Myrcia/Eugenia sp., Piper sp. plantas nativas- RJ1
Schinus terebinthifolius
Anadenanthera colubrina
Mimosa caesalpiniaefolia
2- Mq (mel e pólen) 24 Myrtaceae, Melastomataceae Mata Atlântica – SP2
Solanaceae
3- Nt e Ta (pólen) 31 Fabaceae, Liliaceae, Campus ESALQ-SP3
Mimosaceae, Myrtaceae
4- Ta (mel e pólen) 158 e 140 Euphorbiaceae, Moraceae Campus USP-SP4
Fabaceae, Myrthaceae
5- Ta (mel)? 39 Meliaceae, Anacardiaceae, Mata Atlântica,
Asteraceae, Fabaceae, Parque Estadual Ilha
Melastomataceae, Piperaceae, Grande5
Solanaceae e Ulmaceae
6- Ta (mel) Alchornea sp., Triplinervia sp. Campus USP –SP6
Euphorbiaceae, Eucalyptus sp.,
Petrosellinum hortense
Schinus terebinthifolius
7- Mq (bolotas de pólen) - Melastomataceae, Myrcia sp., Mata Atlântica,
Mimosa caesalpiniaefolia, Parque Nacional da
Eucalyptus sp. Tijuca7
159

Ao se comparar com outros estudos, em Santos (1964; 1978) verifica-se

que as fontes florais advindas de pólen e do mel são similares; este resultado

diverge de nosso estudo que mostra importante diferença entre os recursos


primários na área monitorada.

Há autores que ressaltam o espectro polínico heterogêneo dos taxa das

fontes florais em amostras de mel, identificando a predominância de Alchornea,

Eucalyptus sp., Petroselinum sp. e Schinus sp. (IWAMA e MELHEM, 1979;


RAMALHO, 1990).

Pesquisa conduzida por Knoll (1990) em área urbana no estado de São

Paulo revelou 66 táxons de plantas visitadas por T. angustula; desta lista apenas

duas espécies foram apresentadas em nosso estudo: Mangifera indica e Schinus

terebinthifolius. Cortopassi-Laurino e Ramalho (1988) reportaram as seguintes


fontes florais: Caesalpiniaceae, Cecropia sp., Eucalyptus sp., Mikania sp.e

Tipuana sp. Marchini et al. (2000) registraram Arecaceae, Asteraceae,

Eucalyptus sp., Mimosa caesalpiniaefolia, Ricinus communis e Zea mays L. Em


nosso estudo, Mikania, Tipuana, Arecaceae não se apresentam em nosso estudo.

No geral, a maioria dos levantamentos aponta como principal fonte de

alimento para as abelhas Eucalyptus; reforçam esta indicação Cortopassi-Laurino

(2007), Luz et al. (2011), Serr et al. (2012), o que indica quão esta espécie exótica

se estabeleceu nas mais diversas regiões brasileiras. Ressalta-se que Eucalyptus

não é espécie arbórea fácil de ser estabelecida, requer sistema de plantio

cuidadoso, contra o ataque de desfolhadores, além de ser vulnerável às quedas,

por possuir sistema radicular superficial; em reflorestamentos recebe altas doses


de agrotóxicos.

Em área de preservação ambiental e fragmentos de Mata Atlântica, a


referência a seguir mostra dieta incomum às apresentadas anteriormente: Braga

et al. (2014) destacaram o forrageio em campo floral de Tetragonisca angustula


160

das seguintes espécies florais: Schinus terebinthifolius, Albertina brasiliensis,

Allophylus petiolulatus, Baccharis dracunculifolia, Inga edulis, Mangifera indica,


Reissekia smilacina (SM.) Steud, Schizolobium parahyba, Tapirira guianensis
Alb., entre outras. Destacam a presença de várias espécies do dossel. Pela

análise das cargas polínicas em colmeias artificiais de T. angustula os tipos mais

frequentes foram: várias espécies de Meliaceae e Ulmaceae (Trema micrantha).

São espécies florais nativas igualmente importantes para utilizar no espectro


polínico em projetos ambientais.

Carvalho e Marchini (1999) particularizaram o forrageio das abelhas

Nannotrigona testaceicornis e Tetragonisca angustula como ilegítimo em certas


espécies de Fabaceae, uma vez que as abelhas não apresentam porte e força

para manipular estas estruturas florais. Reforçaram que as variações no número

de tipos polínicos, suas frequências e constância nas amostras de pólen podem

sofrer influências intrínsecas da planta, fatores climáticos locais, estratégias de

coleta e preferências florais inerentes à espécie de abelha, além de outros

elementos do nicho como, ritmo circadiano, horário de forrageio, presença de

outros polinizadores, que podem ampliar ou reduzir a eficiência da exploração de

recursos florais; sobre estes fatores também pontuaram Cortopassi-Laurino


(1982) e Imperatriz-Fonseca et al. (1984).
161

5. CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

Atributos florísticos e envolvimento nas abelhas

O conhecimento sobre a diversidade florística é componente essencial para


projetos que visam à conservação de habitat. Sua influência é marcante nas
relações da comunidade de abelhas e outros polinizadores no que tange a busca
por recurso trófico e para sítio de nidificação.

Há muitos fatores que regulam as florações (atividade reprodutiva) das


plantas. Esses fatores criam flutuações nos ciclos florais devido as suas
constantes variações em uma escala temporal que pode ser estreita (em dias e
meses) ou, ampla (ao ano ou em muitos anos). Dentre estes se destacam os
fatores abióticos (temperatura do ar, luminosidade, umidade etc..) que estão
diretamente envolvidos no sincronismo populacional das florações das plantas.
Ressalta-se que somente as populações de plantas sincrônicas podem
potencializar à atração de polinizadores, em razão da maior oferta dos recursos
florais.

Assim, as variáveis abióticas (físicas) e bióticas (seres vivos) além das


variantes da diversidade da área em processo de restauração também regem os
fluxos de floração e de escassez (para frutificação), na intensidade da floração e
por consequência no sincronismo da floração com a comunidade de
polinizadores.

Chama-se atenção que o perfil delineado foi decorrente de apenas um ano


de amostragem e, com a sucessão dos anos, outras plantas que pausaram sua
floração no ano de coleta, podem acionar sua reprodução mais adiante. O ideal é
efetuar o estudo ao longo dois a três anos, porém, os custos e o esforço amostral
são altos.

Neste estudo foi delineado o fluxo de coleta de amostras dos recursos


florais (mel e pólen) que nos ofereceu importantes pistas para se elaborar um
calendário do ciclo floral, especialmente para você que é ambientalista e trabalha
para manter suas colmeias. Porém, não foi possível dispor dos dados da revisão
das colmeias, pelo menos mês a mês, que permitiria determinar os fluxos de
162

alimento. Mas, este resultado poderá ser feito com as espécies florais indicadas
por meio de seus períodos de floração. Vai aqui este desafio para você, leitor.

Composição florística

Percebam na narrativa como as abelhas vasculham e trabalham o campo


floral para sobreviver.

Na área monitorada há 22 tipos polínicos próprios nas amostras de mel e


16 próprios nas amostras de pólen; compondo o restante, 38 tipos, que são os
que estão em sobreposição (47%), ou seja, ocorrem nos dois tipos de alimento.
Considera-se esta sobreposição alta.

Na área monitorada há sobreposição de recursos florais (espécies florais


que permitem forrageamento de várias espécies de abelhas) pelas três espécies
de abelhas, que atinge 17 tipos/espécies florais. Estas espécies são as mais
recomendadas para a disseminação, desde que possam se mantidas em alta
densidade, de modo a prevenir a competição e a exclusão de abelhas para outras
áreas. Observe a seguir:

Espécies mais recomendadas para o replantar

Anadenanthera colubrina Eugenia Schinus terebinthifolius


Alchornea Mansoa Struthanthus
Banisteriopsis Mimosa caesalpiniaefolia Tapirira guineensis
Carica papaya Myrcia Tetrapteris
Cecropia Piper Trema micrantha
Croton Piptadenia gonoacantha
Obs: na dependência da coleta de sementes e de sua viabilidade

Na área há indicativo de competição com exclusão das abelhas para áreas


vizinhas.

Atente para esta informação:


163

Observam-se fortes florais visitadas pelas abelhas nas chamadas plantas


anemófilas. A procura intensa por estas fontes para atender necessidades tróficas
é outro sinal de que campeiras não encontraram fontes mais atrativas, como as
fontes poliníferas. Relembra-se que estas fontes anemófilas são pobres em
nutrientes para a colmeia.

Este comportamento é indicativo importante da escassez de alimento na


área monitorada na maior parte do ano.

Tipos polínicos mais frequentes

Do total de tipos polínicos observados, 36% (n=25) são predominantes na


composição da dieta das abelhas.

Na amostragem de mel se destacam como predominantes 11 espécies


florais e na de pólen 17 espécies florais, revelando uma busca mais insistente por
este alimento pelas abelhas, que pode significar abundância ou, carência destes
recursos florais. Leia e tire sua conclusão.

Dos tipos polínicos mais frequentes destaca-se Fabaceae para obtenção


de néctar e pólen. Destacam-se também Myrtaceae, Anarcadiaceae,
Malpighiaceae para obtenção de néctar e Piperaceae e Loranthaceae para
obtenção de pólen.

Tipo de abelha com forrageio de destaque

Quanto ao tipo de abelha, destaca-se a dieta da abelha iraí que revela a


presença de 42 tipos polínicos, sendo que 17 se sobrepõem nas amostras de mel
e pólen. Na dieta da abelha jataí há 41 tipos polínicos, 13 se sobrepõem nas
amostras de mel e pólen. E na da abelha mandaçaia há 38 tipos polínicos, oito
estão em sobreposição nas amostras de mel e pólen.
164

Escassez de alimento para atender a criação de abelhas na área replantada

De acordo com este estudo, mais de 70% das espécies florais da área

replantada ou, não floresceram ou, floresceram em baixa densidade, o que

conduziu as abelhas a procurarem outras fontes de alimento na área

circunvizinha, não inclusa na área monitorada. Certamente, o forrageio para

outras áreas está dentro do raio de forrageamento das espécies de abelhas

avaliadas. E isso você precisa conhecer para entender o campo floral!

A área monitorada requer enriquecimento da paisagem por plantas poli


nectaríferas, que oferecem os dois recursos primários para a dieta das abelhas,
néctar e pólen, e que sejam do tipo pioneira, que são as espécies mais rapídas na
ocupação da área. A manutenção dos polinizadores (qualquer que seja) é
premente.

Pesquise sobre as espécies florais pioneiras

Reforçamos que a reposição florestal para fins conservacionistas guarda

muitos desafios, que requerem ações coletivas, integradas e plurais da

governança, da equipe idealizadora e da comunidade. Nesta trajetória ganha-se

tempo para poder admirar o esforço da Natureza mediante os benefícios


extrínsicos que recebe.

Vamos replantar!

Atenção – como instrumento de pesquisa este estudo removeu as abelhas de seu


habitat natural. Mesmo que de habitat similar, os criadores não devem migrar as abelhas
de suas regiões de origem. Deve-se cultivar as abelhas em condições similares ao
ambiente natural. No estado do Rio Grande do Sul foi descrita virose em colmeias da
abelha Mandaçaia, que as matam, cujas causas é a perda da resistência genética devido
à endogamia. Recomenda-se esta leitura de Caesar et al. (2019).
165

6. REFERÊNCIAS PRESENTES NO TEXTO E PARA SE APROFUNDAR

ABELHA. Abelhas e plantas (Nonnatrigona, Tetragonisca e Melipona quadrifasciata)


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CAPÍTULO 4

Fhttps://www.mensagenscomamor.com/dia-
nacional-da-educacao-ambiental

RICHIERI ANTÔNIO SARTORI


MARIA CRISTINA LORENZON
ADRIANA OLIVEIRA ANDRADE
170

1. INTRODUÇÃO

“Os problemas ambientais decorrem dos problemas do desenvolvimento


humano.... formando-se um mosaico de situações técnicas, sociais e políticas que
vem se estabelecendo nos sistemas naturais ao longo de nossa história (RIO 92)”
(GUIMARÃES, 2002).

Diante desta ameaça é fundamental promover a


mobilização e o fortalecimento da participação social na gestão
ambiental, primando pela equidade social, dos atores em
vulnerabilidade ambiental e pela identidade local dos projetos de
defesa ambiental.

Assim promoveremos a mudança do paradigma atual, que nos levou à

crise ambiental e social em que vivemos.

Vale ressaltar o artigo 225 da Constituição Federal (BRASIL, 1988):

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para a presente e as futuras gerações.”

Ou seja, além do direito de usufruir o meio ambiente sadio e equilibrado,

temos o dever de defendê-lo e preservá-lo. Esse é o princípio da gestão

ambiental pública.

Neste sentido, o mandamento constitucional de implantação da educação

ambiental foi alçado pela aprovação da Lei nº 9.795, de 27.4.1999 e do seu

regulamento, o Decreto nº 4.281, de 25.6.2002 (BRASIL, 1999), quando foram

implementadas as diretrizes da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA)


171

e da Estratégia Nacional de Comunicação e Educação Ambiental (ENCEA)

(BRASIL, 2020) direcionadas pelas Unidades de Conservação Federais e Centros

Nacionais de Pesquisa e Conservação para promoção da sociobiodiversidade.

Outro ato valioso ocorreu em Maio de 2012 quando foi sancionada a Lei

12.633/2012, que instituiu em 3 de Junho como o DIA NACIONAL DA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ato este promovido na Rio-92, uma das mais

importantes conferências mundiais sobre o meio ambiente. Esta data é um marco

de incentivo à educação ambiental para a construção de uma vida melhor!

A educação ambiental direcionada aos grupos técnicos e sociais que se

envolvem no engajamento das comunidades que convivem é uma estratégia


desafiadora para conservar o meio ambiente, em seu âmbito da diversidade

natural, cultural e histórica. São ações a serem trilhadas para que haja uma

mudança de atitude das comunidades no espaço natural, de modo que possam

contribuir na construção de valores e de conhecimentos necessários à

conservação da Natureza e do seu próprio desenvolvimento socioambiental.

É neste escopo que se situa o PROJETO REFLORA. Um de seus desafios,

o de REPLANTAR, foi uma construção de procedimentos do âmbito sustentável

para as comunidades rurais e urbanas. As metas deste trabalho estão alicerçadas

na conservação e restauração ecológica das espécies nos seus novos habitat.

Não menos desafiador para este projeto é ir além da reflexão sobre as


práticas sociais, com vistas a criar uma corrente de articulação para a
conservação ambiental sob á égide da educação ambiental (e atento ao contexto
que é marcado pela degradação permanente do meio ambiente e do seu
ecossistema). A atitude de REPLANTAR em si é ser um instrumento de fácil
acesso e eficaz, para almejar a conscientização ambiental (JACOBI, 2003).

Ressalta-se que guardada a devida atenção aos cuidados das distintas

visões sobre o ambiente, conceitos devem ser construídos dentro de uma


172

perspectiva social consciente. Assim, deve-se estimular a ação presente e futura

de cada personagem como agente multiplicador de valores na comunidade local

em paralelo ao da conservação ambiental. Neste processo deve-se inferir sobre

posicionamento correto do agente multiplicador frente à questão ambiental,

mediante sua sensibilidade e interiorização de conceitos e valores pertinentes á

causa (GONÇALVES, 1990).

Muitas regiões estão lançando projetos de REPLANTAR para comunidades

urbanas e rurais e oferecida capacitação, como ferramenta educacional em prol

da consciência e conservação ambiental da agro biodiversidade. Estes projetos

procuram atuar diretamente nas questões da agricultura, da segurança alimentar

e da valorização cultural, com abertura de novas frentes de ação para a

conservação e uso sustentável da biodiversidade.

Neste capítulo são rememoradas ações do REFLORA, projeto coordenado

pelo Prof. Dr. André Scarambone Zaú do Laboratório de Ecologia Florestal da

UNIRIO, pela educação e conservação ambiental, conforme os estudos de caso:


173

2. ESTUDOS DE CASO

1) Arborização urbana na favela, um estudo em uma


comunidade do Rio de Janeiro.

Ver artigo na íntegra em Sartori et al. (2019).

A urbanização é apontada como importante fator de impacto ambiental e

degradação das últimas décadas (e.g. GOPAL et al., 2015). E no Brasil, e

notadamente no Rio de Janeiro, a expansão territorial ocorre com uso do solo em

condições pouco recomendáveis (FERNANDES et al., 1999), que impõe riscos

aos moradores que vivem em encostas íngremes e margens de rios. Nessas

condições, onde a infraestrutura urbana é praticamente inexistente, áreas verdes

não são prioritárias, nem cogitadas (LOBODA e ANGELIS, 2005). Entretanto, a

infra estrutura verde das cidades, formada pela arborização e, ou por florestas

urbanas é de expressiva relevância para o bem estar da população (ALVEY,

2006; DWYER, 2003). Dados revelam a existência de mais de 760 comunidades

que vivem em favelas no município do Rio de Janeiro e até o momento são raros

os estudos sobre a relação entre a questão ecológica e os fatores

socioambientais.

O conhecimento sobre a composição, estrutura física e fitossociológica da

arborização urbana é bem relevante, por atender a função estética, social e

ecológica (DWYER, op. cit.), em destaque a conservação da diversidade biológica


(KOLBE et al., 2016). Locais arborizados são mais agradáveis aos sentidos

humanos, por amenizar o microclima (reduz a amplitude térmica, controla a

direção e a velocidade dos ventos, promove o sombreamento, contribui para a

redução das poluições atmosférica, sonora e visual (GONÇALVES, 1999;

MASCARÓ, 2005)). Sob ponto de vista ecológico, sobretudo quando o processo

de arborização utiliza espécies nativas, deve haver o aprovisionamento para a

fauna (com frutos, flores, néctar, seivas etc.) e áreas de refúgio (como corredores

ecológicos) (ORDÉNEZ e DUINKER, 2013).


174

O presente estudo, que se argumenta na escassez de informações sobre

arborização em áreas de risco, combina à habitual abordagem técnica sobre

arborização urbana, ao olhar social da comunidade.

Os autores buscaram atender os seguintes objetivos:

1 - realizar o censo da comunidade arbórea em uma comunidade de baixa renda


de um trecho de encosta íngreme;

2 – classificar as espécies arbóreas, em função das características sucessionais,


a forma de dispersão, de ocorrência (espontânea ou plantada), a origem (nativa ou
exótica da Mata Atlântica), danos ambientais;

3 – relacionar as espécies com a suposta funcionalidade social, ou seja, o atual


uso pela população.

O projeto foi realizado na comunidade do

Morro da Formiga, situada no bairro da Tijuca, zona

norte do Rio de Janeiro (22°56'30.82"S e

43°14'34.86"O), com área aproximada de 30

hectares. As ruas são de calçamento estreito ou

ausente o que dificulta a arborização. A pluviosidade da região gira perto dos

2.200 mm anuais (IPP, 1998, 2012), a temperatura média anual da região é de

23,8 ºC, máxima de 42 ºC e mínima de 10 ºC (INMEP, 2016). Pela vertente norte,

a insolação tende a ser mais alta, ao ser comparada à vertente sul (OLIVEIRA et

al., 1995) e, suscetível a incêndios e brotação da vegetação (MATOS et al.,

2002). Esta localidade foi declarada como área de especial Interesse social, e

instalada uma unidade de polícia pacificadora (UPP), para minimizar problemas

com a violência e domínio do território.

Os padrões e dinâmicas que delineiam esse espaço são similares aos de

outras áreas com históricos culturais e estrutura urbana precária: ocupação

irregular de parte das encostas íngremes, habitado por comunidades em


175

condições de vulnerabilidade social, por vezes sem acesso à rede formal de água,

saneamento, energia etc.

Em relação às características ambientais da área do Morro da Formiga

verifica-se ser limitada por áreas reflorestadas, que totalizam perto de 47

hectares, sendo próximas às áreas limítrofes do Parque Nacional da Tijuca. Daí

estas áreas funcionam como uma zona de amortecimento, oportunizando vários

benefícios, diretos e indiretos como: limitação da ocupação das zonas de risco,

contenção de solos, manutenção de córregos, minimização de enchentes etc.

O censo da comunidade arbórea incluiu todos os indivíduos com diâmetro

maior ou igual a cinco centímetros, à altura de 1,3 metros do solo, independente


de onde estavam localizadas, a saber: terrenos baldios, praças, ruas, matas

ciliares e terrenos das casas.

Daí procedeu-se à classificação baseada em 11 parâmetros, para

caracterizar a sua estrutura e importância ecológica, a saber:

a) dados biológicos (família e espécie),


b) georeferência,
c) natureza (nativa ou exótica),
d) altura e diâmetro,
e) localização (casa, rua, mata ciliar ou terreno vazio),
f) fitossanidade (escala de 1 a 5, sendo 1 totalmente insalubre e 5 plenamente
saudável),
g) tipo de dispersão (zoocórica, anemocórica ou autocórica),

_____________________________________________
* planta zoocórica, anemocórica e autocórica - por ação dos animais, por ação do vento e por
ação da própria planta, respectivamente.
** planta pioneira - espécies vegetais que auxiliam outras a se colonizar em ecossistemas
inóspitos. Elas são capazes de se manter perfeitamente em locais com poucos nutrientes e
água.
176

h) interferência na fiação da comunidade (escala de 1 a 5: 1, sem interferência e 5


com muita interferência, sujeita a danos),
i) classes sucessionais (pioneira ou não pioneira),
j) a origem da árvore (plantada ou sofreu regeneração natural),
k) uso pela população (classes: jardim, medicinal, alimentícia e sem uso).

Para a obtenção dos dados em campo houve a permissão e, ou auxílio dos


moradores.

O censo verificou a ocorrência de 1.042 indivíduos, pertencentes a 148

espécies, 110 gêneros e 42 famílias botânicas. As seis famílias mais abundantes

na ordem de 61% foram: Anacardiaceae, Fabaceae, Lauraceae, Moraceae,


Myrtaceae e Rutaceae. As seis espécies mais abundantes na ordem de 35%

foram: Mangifera indica L., Psidium guajava L., Persea americana Mill.,

Artocarpos heterophyllus Lam, Cocos nucifera L. e Leucena leucocephala (Lam.)


de Wit.

As famílias botânicas com maior riqueza de espécies encontradas,

Myrtaceae, Fabaceae e Lauraceae, estão entre aquelas com alta riqueza de

espécies em trechos conservados da Mata Atlântica (OLIVEIRA, 2000). Entre

todas as famílias identificadas no local, Myrtaceae merece destaque especial:

90% dos seus indivíduos levantados são nativos e relevantes para alimentação da

comunidade e da fauna local. Cita-se a Psidium guajava (goiabeira) e Eugenia

uniflora (pitangueira).

No entanto, quanto àquelas espécies de famílias mais abundantes, a

maioria é exótica, invasora, e causam algum risco à biodiversidade local (ZALBA,

2006), neste caso cita-se a espécie exótica dominante Leucena leucocephala,

originária do México (SKERMAN, 1977). Esta espécie é registrada como uma das

principais invasoras no Brasil (SMITH, 1985; SCHERER et al., 2005), que pela

sua rusticidade vem sendo utilizada por décadas em ações públicas de

reflorestamento (DURIGAN, 2010).


177

Anacardiaceae é a mais abundante das famílias no local (67% dos

indivíduos), é representada por Mangifera indica, que é originária da Índia

(MUKHERJEE, 1972). Moraceae apresenta 71% dos indivíduos exóticos, seu

principal representante é Arthocarpus heterophyllus, igualmente espécie invasora

e usual na alimentação humana.

O índice de Shannon para a comunidade (H=4,025), que avalia a

diversidade em função da abundância de indivíduos, é relativamente alto, apesar

do ambiente antropizado; este resultado é expressivo, mesmo comparado aos

índices de florestas conservadas.

A seguir, comparam-se os dados deste estudo com de outros realizados


em localidades próximas:

· Peixoto et al. (2004), a diversidade é de 2,42, em fragmento florestal


antropizado de uma reserva ambiental.
· Guedes-Bruni et al. (2006), a diversidade é 4,55, fragmento considerado mais
bem conservado do Estado, localizado na Reserva Biológica de Poço das
Antas.

O índice de Pielou é baixo (J=0,81), que mostra dominância de espécies. A

espécie mais abundante representa 9,1% do total, o que significa que as espécies

estão bem distribuídas na comunidade.

*índice de Shannon - índice que busca medir a diversidade de espécies, considerando sua
uniformidade. ** índice de Pielou – relaciona-se ao índice anterior, permite representar a
uniformidade da distribuição dos indivíduos entre as espécies existentes.
178

Em um ambiente florestal tropical, o indicador de qualidade ambiental

satisfatória para biodiversidade, a frequência de uma espécie não deve passar de

10% a 15% do total de indivíduos da comunidade (MILANO, 2000; ROCHA et al.,

2004). Abaixo apresenta-se comparação entre os resultados acima e de outros

estudos:

Em Santana (2002) verifica-se em áreas de floresta no Rio de Janeiro:

- no Maciço do Mendanha J=0,879;

- no Maciço da Pedra Branca J=0,861 e,

- na Serra de Inhoaíba é J=0,430.

Em relação à natureza das espécies, 80 são espécies nativas (54%); 57

são espécies exóticas (perto de 39%); 11 espécies não foram identificadas (em

táxon baixo). Entre indivíduos, 613 são exóticos (60%) e 416 nativos (40%).

Apesar das espécies nativas mostrarem riqueza mais alta, estas estão em menor

proporção, ao se comparar com as densidades das exóticas.

Observa-se a seguinte relação: a cada dez espécies mais densas existem


apenas três nativas.

Este resultado, da dominância das espécies exóticas na arborização

urbana, era esperado, e ocorre em vários projetos realizados no Rio de Janeiro.

Estudo de Santos (2006) em 1700 ruas do município do Rio registrou em dobro o

número de exóticas em relação às nativas, com dominância de Terminalia

catappa (amendoeira) (25% dos indivíduos) e Licania tomentosa (oiti) (23%). Para
Siqueira e Mendonça (2015), este padrão foi estabelecido por Glaziou a partir de
179

1858 e, mais recentemente por Burle Marx, paisagistas que influenciaram a

ocupação verde da cidade com plantas exóticas.

Estes resultados mostram semelhança com outras localidades do Brasil,

com plantios predominantes de espécies exóticas, em detrimento do uso da flora

local (e.g. ALMEIDA, 2010).

Voltando ao Morro da Formiga, o estudo mostrou que a localização dos

indivíduos destaca-se nos quintais das casas (50% das árvores) e em terrenos

baldios (35%); é de apenas 9% em trechos de mata ciliar, 5% nas “calçadas” e

0,5% em pequenas praças.

Fica evidente a ausência de políticas públicas voltadas para a arborização

em comunidades carentes, na qual 94% da arborização existente ou:

a) ocorre ao acaso;

b) podem ser decorrentes da regeneração natural;

c) advinda dos moradores, que plantam e tratam do plantio.

Quanto à forma de dispersão, perto de 57% das espécies são zoocóricas

(por ação dos animais), seguidas de anemocóricas (ação do vento) e autocóricas

(por ação da própria planta) (18% cada). Ao se considerar os indivíduos, perto de

75% são zoocóricos, 14% são autocóricos e 10% anemocóricos. O fato de haver

maior dispersão zoocórica por muitos indivíduos significa que esta área pode

suprir, de certa medida, parte da alimentação para a fauna, especialmente para a

avifauna.

A análise da utilidade da espécie floral evidencia que muitas espécies

podem ser usadas de várias formas e ser adotada apenas como seu uso

principal. As espécies usadas na alimentação, principalmente dos frutos,

representaram 26%, segue o uso ornamental (24%), medicinal (1%) e uso da

madeira (0,7%). Em termos de indivíduos, a maioria é usada para a alimentação


180

(62%), para regeneração (25%), como ornamental (12%), medicinal (0,5%) e

madeira (0,1%). Fato é que as espécies usadas para a alimentação são de alta

valoração pelos habitantes. A escassez de informações sobre as espécies nativas

reduz o seu uso acentuadamente.

Testes estatísticos revelam importante diferença na proporção de nativas e

exóticas para três variáveis: origem, local e uso; e comprova que os indivíduos

exóticos são mais plantados.

A equipe concluiu que ÁREAS URBANAS PODEM SER BENÉFICAS

NA REDUÇÃO DO IMPACTO “DA CIDADE” NO AMBIENTE NATURAL, por

apresentarem riqueza e diversidade de espécies arbóreas relevantes, mesmo


quando comparadas às “áreas naturais”.

Observaram que A QUANTIDADE DE INDIVÍDUOS DAS ESPÉCIES

EXÓTICAS É MAIOR DO QUE O NÚMERO DE ESPÉCIES NATIVAS. É

recomendável que algumas das espécies exóticas sejam substituídas por

similares nativos, desde que apresentem mais usos para a comunidade.

Assim, minimizaria o risco da bioinvasão em áreas circunvizinhas,

especialmente, se próximas às unidades de conservação municipais,

estaduais e federais. Esta possibilidade abrange o uso de seus frutos na

alimentação pela fauna, que irá favorecer a sua dispersão e a regeneração

natural das espécies nativas.

O censo também revela que AS ESPÉCIES ARBÓREAS SÃO

ESCOLHAS REALIZADAS PELA COMUNIDADE, por saberes que ali circula

com determinado fim, especialmente para a alimentação, em detrimento da

estética, com raras exceções. As espécies são plantadas, principalmente

dentro dos quintais das casas, simbolizando “arborização com dono”.


181

Apesar de projetos derivados da governança, O ESTUDO MOSTRA

CLARAS EVIDÊNCIAS QUE A ARBORIZAÇÃO EM FAVELAS SOFRE COM A

EXCLUSÃO DE POLÍTICAS DO ESTADO.

2) “Aprender brincando com a Natureza” na comunidade do Morro da Formiga-

Rio de Janeiro, realizado entre 2013 e 2015. (FIGUEIREDO et al. 2014; 2018).

A turma do ensino fundamental da escola municipal que se envolveu no

projeto em 2013 era composta por 32 estudantes. As atividades abaixo

relacionadas foram realizadas na perspectiva da educação periódica (quinzenal):

ü atividades lúdicas de educação ambiental sobre temas relacionados à


localidade: relações ecológicas, água, biodiversidade, Mata Atlântica, solos e
deslizamento de terra. Estas propostas foram construídas pelo grupo de
trabalho,
ü realização de uma trilha interpretativa chamada de “caça ao tesouro”, no
Parque Nacional da Tijuca,
ü uma “dinâmica dos sonhos” para saber o que as crianças desejavam para a
comunidade, acompanhada com a exibição de um vídeo com as lembranças
do ano e um lanche coletivo.

Para ocasionar uma visão aproximada da

influência do projeto na aprendizagem foi feita

uma avaliação junto ao grupo escolar por meio da

aplicação de questionários, com questões sobre

os temas abordados. Este questionário foi

aplicado antes e no final do ano da aplicação do projeto.


182

Os coordenadores do projeto consideraram que a aplicação de


questionários em crianças do grupo escolar é um instrumento questionável para
avaliar aprendizagem, em face dificuldades que se apresentam:

a) por exigir cuidados especiais para prevenir insegurança e desconforto, mesmo


se enfatizado que não se tratam de testes e nem “vale nota”;

b) presença de certas palavras e expressões presentes no questionário, que nem


sempre fazem parte do vocabulário do grupo escolar;

c) na compreensão sobre o que significa múltipla escolha.

Para complementar os indicativos obtidos por meio dos questionários, era

feita uma reunião participativa ao final do ano para saber das opiniões do grupo
escolar sobre as ações do projeto. Nesta oportunidade, as crianças revelaram sua

admiração pelas atividades na floresta e dos experimentos que usavam materiais

pedagógicos.

Em 2014, o projeto foi direcionado para uma turma do quinto ano (indicada

pela coordenadora pedagógica), composta por 14 estudantes, que mostrara

rendimento insuficiente nas avaliações escolares.

O primeiro contato com este grupo foi feito utilizando-se uma dinâmica de

apresentação lúdica, para a introdução do grupo, do orientador e sobre o projeto.

O conteúdo a ser desenvolvido pelo grupo foi igualmente envolvido em atividades

lúdicas, com contextualização na realidade da comunidade e abordagem

socioambiental que reforçou uma identificação positiva com as peculiaridades do

local e curiosidades sobre dinâmicas ambientais.

Estes foram os temas geradores: água, solos, biomas, consumo e lixo.

Uma trilha interpretativa no Parque Nacional da Tijuca foi visitada para que

os estudantes observassem os detalhes da floresta com auxílio de lupas, da

atividade “caça ao tesouro” e, pelo plantio de mudas de espécies nativas da Mata

Atlântica.
183

Com a condução deste segundo grupo, igualmente pretendia-se discutir

diferentes visões socioambientais, e da construção de valores dentro de uma

perspectiva crítica e coletiva, para estimular a ação presente e futura de cada

participante como um agente multiplicador.

A avaliação deste grupo foi feita na forma de perguntas realizando-se uma

roda de conversas com as crianças sobre os temas abordados ao longo do ano.

Houve uma diferença expressiva na avaliação, comparativamente à aplicação do

questionário. A conversa informal foi mais agradável e tornou o orientador mais

ativo e, resultou para o grupo uma relação mais rica, quanto à construção das

atividades.

A equipe do projeto ressaltou que o trabalho exclusivo com estudantes de

uma turma por ano embutia limitações para incentivar a educação ambiental na

escola como um todo. Assim, decidiram intensificar a aproximação com os

orientadores para ampliar o alcance e a perenidade do projeto. Também foi

solicitado que os orientadores entre o 1º e 3º ano utilizassem as ciências, uma

vez que no conteúdo programático deste ciclo, destinado para a alfabetização,

havia apenas conteúdos de matemática e português. Alteração essa que foi bem

recebida e apoiada pela direção da escola.

A partir desse momento atenderam-se aos seguintes objetivos:

- estimular a consciência ambiental crítica e coletiva, para incorporar aspectos


naturais, sociais, culturais e econômicos;
- contribuir na formação de estudantes, professores e demais participantes da
comunidade escolar e arredores;
- fundamentar visões críticas e transformadoras da relação sociedade-natureza;
- facilitar vivências coletivas que possibilitem reflexões sobre aspectos
relacionados à vida em sociedade e à sustentabilidade.
184

As temáticas lúdicas expositivas e participativas com os estudantes

envolviam a realidade local como, a falta d’ água, erosão e deslizamento de

massa, com diálogos sobre a habitação em áreas de risco na comunidade;

dinâmica sensorial sobre granulometria de solos e consumo e resíduos sólidos,

que dialogou sobre a falta de coleta regular de lixo na comunidade.

Finalmente, a partir das atividades orientadas das professoras, o público atendido


tornou-se mais participativo e se ampliou o diálogo com a equipe para a construção das
atividades.
185

3. CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS

Ações para a conservação e restauração de ecossistemas da Mata

Atlântica (e de outros biomas) já figuram no cenário nacional como uma prioridade

consolidada.

Mesmo que no Brasil alguns métodos estejam sendo aplicados há mais de

um século e que a ecologia da restauração tenha apresentado avanços robustos

nos últimos 30 anos, o emprego das técnicas mais recentes e inovadoras ainda é

uma matéria repleta de tropeços para aqueles que a praticam.

Muitos ainda acreditam que a manipulação e a intervenção no meio físico,

ou seja, a reconstrução de habitat, seja suficiente para o retorno espontâneo dos

organismos em sucessão e a consequente reconstituição de uma comunidade

biológica capaz de funcionamento autônomo. São os eternos sonhadores.... é fato

que a recomposição espontânea do ecossistema pode durar décadas, ou até

séculos.

Por vezes, o replantar por mudas, é ainda citado solitário frente a um dos

maiores desafios para quem assiste: de se repor aquilo que era original, ou pelo

menos tentar que fique parecido......de preferência com a maior brevidade

possível.

Talvez esqueçam que, dentre os pilares ou vertentes da complexa trajetória

de restauração ecológica, para flora e fauna, os procedimentos para

conscientização ambiental são imprescindíveis neste campo vital de atuação.

Sabemos que a atuação humana pode introduzir novos gatilhos limiares para

transformar perturbações ambientais eventuais em persistentes ou até

suprimindo-as.

Mesmo que sejam priorizadas as espécies arbóreas na restauração, é esta

opção que esbarram nas raízes sociológicas e culturais muito consolidadas. A


186

apreciação do ser humano pelas árvores é secular, com discursos e lendas que

atravessaram os tempos

Nosso dendrocentrismo não é apenas um vício, mas uma cultura (HATJE,

2016). E, “no mínimo, isto é tão importante quanto os aspectos ecológico,

econômico ou prático de qualquer tipo de manejo da terra. No fim das contas o

futuro da natureza neste planeta pode depender do que Aldo Leopold chamou de

“nossa ênfase intelectual, lealdades, afeições e convicções. Ou seja, nossos

valores” (JORDAN e LUBICK, 2011).


187

4. REFERÊNCIAS DO TEXTO E PARA SE APROFUNDAR

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