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uma-lei-retroagir-e-alcancar-o-ato-juridico-perfeito-o-direito-adquirido-e-a-coisa-
julgada
Por Vinícius Rodrigues Bijos
DIREITO CIVIL | 28/DEZ/2013
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Considerações Iniciais
É possível uma lei retroagir para alcançar o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada? Antes de adentrarmos na análise dos conflitos
de normas no tempo, devemos analisar e compreender um pouco da lei que
regula a referida questão.
Segundo Maria Helena Diniz, quando uma lei modifica ou regula, de forma
diferente, a matéria versada pela lei anterior, seja em decorrência da ab-
rogação (revogação total da lei anterior) ou pela derrogação (revogação
parcial da lei anterior), podem surgir conflitos entre as novas disposições e
as relações jurídicas já consolidadas sob a égide da velha norma revogada.
[2]
O art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal prevê que: “A lei não
prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.” [5]
Já o art. 6º, da LINDB diz o seguinte: “A lei em vigor terá efeito imediato e
geral, respeitando o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada.” [6]
Em meio a essas explanações, vale aduzir o que venha ser ato jurídico
perfeito, direito adquirido e coisa julgada.
Isso quer dizer que o direito adquirido não se restringe apenas ao direito
que já se incorporou ao patrimônio de seu titular, mais também o exercício
de um direito que depende de um termo prefixo ou condição
preestabelecida e que seja inalterável, pelo arbítrio de outrem.
Com relação ao ato jurídico perfeito, Maria Helena Diniz diz que é o ato:
“[...] já consumado, seguindo a norma vigente ao tempo em que se efetuou.
Já se tornou apto para produzir os seus efeitos.” [10]
Por fim, a coisa julgada, também chamada de caso julgado, consiste na
imutabilidade de uma sentença, ou seja, é a decisão prolatada da qual não
caiba mais recurso. [11]
Na ADI 439, o Ministro Moreia Alves, em seu voto, citando Matos Peixoto,
diz que tais considerações são equivocadas, já que: “[...] dúvidas não há de
que, se uma lei alcança efeitos futuros de contratos celebrados
anteriormente a ela, será essa lei retroativa porque vai interferir na causa,
que é um ato ou fato ocorrido no passado. Nesse caso, a aplicação imediata
se faz, mas com efeito retroativo. [14] Para o ex-ministro do STF, norma
irretroativa não alcança efeitos pendentes e futuros de atos constituídos sob
o império da lei velha.
Em que pese a retroatividade de grau máximo, esta não é aceita pela
doutrina majoritária. No entanto, em relação a retroatividade de graus
médio e mínimo, estas são aceitas pela maioria da doutrina.
Segundo Tartuce, a proteção do direito adquirido, que por sua vez é um dos
pilares da segurança jurídica, não pode ser protegido ao extremo, tendo em
vista que se essa proteção for absoluta, o sistema jurídico restará engessado,
não possibilitando assim a evolução da ciência e da sociedade. Deve entrar
em cena a ponderação de valores, em especial quando se tratar de valores de
ordem pública com amparo constitucional. [23]
Conclusão
Com base em tudo que foi dito, é possível concluir que por mais que haja
doutrinadores e julgados de Tribunais de Justiça entendendo que uma lei
infraconstitucional não pode retroagir para alcançar o ato jurídico perfeito,
a coisa julgada e o direito adquirido, entendo que em vista das recentes
decisões a respeito da relativização da coisa julgada feitas pelo STF e pelo
STJ, além da previsão contida no art. 2.035 do CC/02, em alguns casos
excepcionalíssimos tal retroação da lei será admitida.
Sendo assim, com base em Pedro Lenza, esse cenário pode ser
esquematizado da seguinte forma:
Bibliografia
[1] Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed.
– Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2010, pag. 27.
[2] Diniz, Maria Helena. “Conflito de leis.”3. ed. rev. – São Paulo: Saraiva,
1998, pag. 36.
[3] Gonçalves, Carolos Roberto. “Direito Civil, volume I: parte geral.” 6 ed.
ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pag. 59.
[4] Diniz, Maria Helena. “Conflito de leis.” 3. ed. rev. – São Paulo: Saraiva,
1998, pag. 37.
[7] Gonçalves, Carolos Roberto. “Direito Civil, volume I: parte geral.” 6 ed.
ver. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, pag. 60.
[8] Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed.
– Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2010, pag. 68.
[10] Diniz, Maria Helena. “Conflito de leis.” 3. ed. rev. – São Paulo: Saraiva,
1998. Pag. 37.
[11] Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed.
– Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2010, pag. 69.
[15] Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed.
– Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2012, pag. 27.
[16] STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp. 929.773-RS, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 6/12/2012; REsp. 1.223.610-RS, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 6/12/2012 (Info 512 STJ).
[18] Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed.
– Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2012, Pag. 30
[21] Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed.
– Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2012, pag. 29.
[22] Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed.
– Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2012, pag. 30.
[23] Tartuce, Flávio. “Direito Civil, 1: Lei de introdução e parte geral.” 6 ed.
– Rio de Janeiro: Forense – São Paulo: METODO, 2012, PAG. 30.
[24] Tartuce, Flávio. “Manual de direito civil: volume único.” 2. ed. ver.,
atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: METODO, 2012, pag.
30 e 31.
[25] Maria Helena Diniz. “Conflito de leis no tempo”. 3. ed. rev. – São
Paulo: Saraiva, 1998. pag. 38.