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PEDAGOGIA E ARTE: EXPERIÊNCIAS DE FORMAÇÃO

Andréia Regina Bazzo1 - IFC


Eliane Dutra de Armas2 - IFC

Eixo – Ensino e Práticas nas Licenciaturas


Agência Financiadora: IFC - Camboriú

Resumo

Considerando a importância do Ensino de Arte, desde a infância, para o desenvolvimento


social, cognitivo, artístico e estético, o trabalho apresenta um relato de experiência com
estudantes de Pedagogia do Instituto Federal Catarinense – Campus Camboriú para discutir a
formação dos pedagogos em relação a sua prática futura com a disciplina. Esse relato analisa
as sistematizações finais dos estudantes de Fundamentos e Metodologias do Ensino da Arte.
As narrativas apresentadas focam nas reflexões desses estudantes acerca das possibilidades de
atuação artística na educação infantil e nas séries iniciais, articuladas a importância de
vivências com a Arte e de estudos dentro do curso de licenciatura em Pedagogia, para trazer
autonomia e segurança nesta prática. A experiência inclui, a reflexão sobre os professores
especialistas e a necessidade da presença da área em outros momentos da aula, não apenas na
aula da disciplina específica. Desta forma, habilitar e ensinar Arte para os pedagogos
contribui para a inserção da mesma em projetos e ações interdisciplinares. As análises sobre
concepções de Arte foram fundamentadas nos estudos de Duarte Jr. (1985, 1998, 2001) e a
formação de professores, discutida dentro das narrativas (auto)biográficas, é amparada por
Josso (2004, 2007). A vivência estética e artística é necessária para a formação do pedagogo e
para a sua prática docente, pois essa formação fomenta a sua inserção nos planejamentos dos
pedagogos de maneira consciente e de forma significativa. As experiências iniciais no campo
da Arte tem enorme relevância para o pedagogo, pois repercutirá em sua prática futura.

Palavras-chave: Pedagogia. Ensino da Arte. Formação docente.

1
Mestre em educação pela Universidade do Vale do Itajaí. Professora de Arte do Instituto Federal Catarinense,
Campus Camboriú. E-mail: andreiabazzo@yahoo.com.br.
2
Mestre em educação pela Universidade Federal de Pelotas. Professora de Sociologia do Instituto Federal
Catarinense, Campus Camboriú. E-mail: anearmas@gmail.com.

ISSN 2176-1396
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Introdução

O relato de experiência apresenta a análise dos registros da formação em Arte de


estudantes do quarto período do curso de Pedagogia do Instituto Federal Catarinense -
Campus Camboriú. Trata da concepção desses estudantes sobre as possibilidades do trabalho
com a área da Arte, que reflete a importância da formação dentro da matriz curricular deste
curso.
A metodologia empregada foi a investigação (auto)biográfica, de abordagem
qualitativa com foco na análise e compreensão das percepções pessoais, fundamentada na
pesquisa de Josso (2004 e 2007).
Os dados utilizados neste estudo foram os relatos escritos dos discentes, ao final da
disciplina de Fundamentos e Metodologias do Ensino da Arte.
As pesquisas (auto)biográficas demonstram a valorização dada sobre a história de vida
e suas percepções para a formação e desenvolvimento profissional dessas estudantes. No caso
deste relato, a contribuição desta metodologia serve para aprofundar a reflexão acerca do
sentido e das possibilidades práticas da inclusão da Arte em projetos e atividades
interdisciplinares, além das questões teóricas. Os atores, participantes deste estudo, escrevem
sobre suas memórias com a arte, sobre suas práticas e seu repertório, e no recorte aqui
apresentado, refletem sobre a importância da arte em sua prática na educação infantil e nas
séries iniciais e de que forma sua formação influência nesta prática.

O trabalho de pesquisa a partir da narração das histórias de vida ou, melhor dizendo,
de histórias centradas na formação, efetuado na perspectiva de evidenciar e
questionar as heranças, a continuidade e a ruptura, os projetos de vida, os múltiplos
recursos ligados às aquisições de experiências, etc., esse trabalho de reflexão a partir
da narrativa da formação de si (pensando, sensibilizando-se, imaginando,
emocionando-se, apreciando, amando) permite estabelecer a medida das mutações
sociais e culturais nas vidas singulares e relacioná-las com a evolução dos contextos
de vida profissional e social (JOSSO, 2007, p. 414).

Os pedagogos tem o desafio de inserir as crianças na linguagem da Arte, de ampliar o


repertório artístico nas diferentes estéticas, de envolver a Arte, desenvolver o potencial
criativo e a inclusão no processo de ensino e aprendizado nos anos iniciais e na educação
infantil. Por isso se faz importante compreender como os estudantes de pedagogia pensam
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essas questões? O que a Arte representa para eles? Pensar sobre isso pode contribuir com as
disciplinas que tratam da área nos currículos de Pedagogia. Se não é entendida como área de
conhecimento, dificilmente ela será uma constante no trabalho docente. Para fundamentar
essas discussões Duarte JR. (1985, 1998 e 2001) trata de questões sobre Arte, estética e
diversidade.
A realidade no Brasil mostra que ainda não existem professores especialistas na área
artística trabalhando na educação infantil e nas séries iniciais em todos os municípios, sendo
assim, esta área é incumbência dos pedagogos, o que leva a necessidade de pensarmos sobre
a formação profissional e perfil dos educadores que atuam como mediadores no
desenvolvimento das crianças no ensino da Arte.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCNEB) o
pedagogo pode ministrar aulas de todas as áreas de conhecimento. Desta forma, a disciplina
de Arte oferecida nos cursos de Pedagogia precisa garantir ao pedagogo uma formação que
lhe traga conhecimento e seus processos de ensino e aprendizagem, incluindo a formação
inicial com experiência na criação artística, para que, com esta formação, possa orientar os
processos criativos de seus alunos. Um dos desafios é a inserção da Arte na preparação
pedagógica com a perspectiva de uma formação artística e cultural.
A Arte nos cursos de pedagogia é fundamental para a autonomia desses futuros
professores. Não para substituir os professores de Arte, mas como oportunidade de se
conhecer, através desses professores, os potenciais da área como contribuição interdisciplinar
e integrada a projetos, fomentando as experiências estéticas na formação humana desde a
infância.

Quem ensina Arte?

O Ministério da Educação, por meio da resolução número 7, de 14 de dezembro de


2010, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, no período de
nove anos em seu Art. 31, indica que:

Do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, os componentes curriculares Educação


Física e Arte poderão estar a cargo do professor de referência da turma, aquele com
o qual os alunos permanecem a maior parte do período escolar, ou de professores
licenciados nos respectivos componentes.
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Desta forma, tanto os professores especialistas quanto os pedagogos estão habilitados


para atuar na disciplina. Sobre essa questão encontramos opiniões diversas suscitando o
poema de Cecília Meireles (2002) “Ou Isto ou Aquilo”:

Ou se tem chuva e não se tem sol,


ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,


ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,


quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa


estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,


ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...


e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,


se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda


qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Na compreensão das pesquisadoras deste trabalho é uma perda não se poder estar ao
mesmo tempo nos dois lugares. Não se pode restringir o tempo da Arte às aulas de Arte, com
uma duração que não excede uma hora, isso seria pouco. Ao compreendermos que a
linguagem artística e a estética são importantes na escola, mesmo tendo o professor
especialista, ela ainda precisa ser abordada pelo professor da educação infantil e das séries
iniciais.
Nesta proposta, o repertório e o estudo sobre a importância da Arte na educação
infantil e nas séries iniciais indica a necessidade de uma formação em Arte dentro dos cursos
de Pedagogia que abarquem questões estéticas, culturais, metodológicas e também produções
em linguagens complexas e distintas que integram as linguagens da área. Fortalecemos a
importância de um currículo que seja constituído respeitando as diversas formas de expressão
artística e que dê autonomia para o docente incluí-la em projetos e ações interdisciplinares.
Ainda assim, não é possível apontar o que é melhor: se é isto ou aquilo. As
argumentações sobre o papel da Arte na educação infantil e nas séries iniciais destacam a
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importância de um professor especialista, por este ter uma melhor preparação para atuar nesta
área.
O histórico da formação de professores de Arte no Brasil parte das licenciaturas
polivalentes e da Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, que usa o termo Ensino da Arte e não
mais Educação Artística, e sinaliza para a inclusão das linguagens específicas da Arte - Artes
Visuais, Música, Dança e Artes Cênicas. Essa mudança favorece as licenciaturas específicas e
grupos de pesquisa das diferentes linguagens. Esse grupo formado por professores
qualificados assegura a sua atuação na educação infantil e nas séries iniciais. Neste sentido,
defendemos a atuação do professor especialista dentro da prática e da teoria na disciplina de
Arte.
Retornamos a dúvida: ou isto ou aquilo; ou isto ou aquilo...e vivo escolhendo o dia
inteiro. E novamente a necessária defesa da formação em Arte pelo pedagogo, já que sua
atuação é imprescindível para um ensino que integre conteúdos e projetos que fomentem um
movimento estético, artístico e cultural, que potencialize as experiências desde os primeiros
anos escolares.
Essas ações indicam uma formação que inclua vivência estética, criação artística,
ampliação de repertório em Arte, autonomia nas diferentes linguagens, metodologias e
fundamentos do ensino de Arte.

Os Cursos de Pedagogia e o Ensino da Arte

A(s) disciplina(s), na área de Arte, no curso de Pedagogia tem como princípio a sua
inserção na perspectiva de formação artística e na preparação dos futuros professores para o
seu ensino e aprendizagem.
A Arte é um dos desafios no currículo dos cursos de Pedagogia. As Diretrizes
Curriculares Nacionais, instituídas pela Resolução do Conselho Nacional de Educação
(CNE/CP) n.1, de 15 de maio de 2006, institui a obrigatoriedade da formação de pedagogos
para o ensino da Arte na educação infantil e nos anos iniciais. No Art. 5º o egresso deverá
estar habilitado para ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia,
Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar (CONSELHO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO, 2006, p. 1).
Com essa exigência, a formação em Arte dentro dos cursos de Pedagogia, atrelada a
formação de professores especialistas para atender a demanda da disciplina em outras
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modalidades e níveis de ensino, fortalece o propósito de suprir a formação pedagógica e


estética dos pedagogos. Entretanto, ainda há questões a serem respondidas:

Mas seria a criação de uma disciplina voltada para o ensino de Arte o caminho mais
adequado para a superação de mais esse desafio posto aos cursos de Pedagogia?
Uma vez que a LDB em vigor torna o ensino de Arte componente curricular
obrigatório nos diversos níveis da educação básica e as DCN apontam para a
necessidade de o egresso da Pedagogia estar apto ao ensino de artes, seriam os
pedagogos os responsáveis pelo atendimento dessa demanda? Diante das disputas
históricas entre os modelos dos conteúdos cultural-cognitivos e do pedagógico-
didático, qual seria a perspectiva de formação em arte que os cursos de Pedagogia
vêm adotando? Observada a luta histórica das licenciaturas em arte para o fim da
formação polivalente e afirmação das linguagens, o ensino de Arte nas escolas
deveria se dar de forma polivalente ou em linguagens especializadas? Como
pedagogos e licenciados em artes definirão seus espaços de atuação no cotidiano
escolar? (ARAÚJO, 2015, p. 52)

Diante de tais questões, pensar a função da Arte no currículo do curso de Pedagogia


envolve a reflexão das possibilidades da Arte como propulsora de projetos em áreas
interdisciplinares, ao mesmo tempo que, como disciplina, ela possa ser ministrada por um
especialista.
O diálogo entre a arte e a educação pode ser construído interligando-se à formação do
ser humano:

Assim, a própria educação possui uma dimensão estética: levar o educando a criar os
sentidos e valores que fundamentem sua ação no seu ambiente cultural, de modo que
haja coerência, harmonia, entre o sentir, o pensar e o fazer. Caso contrário, estamos
frente à tendência “esquizóide” de nossos tempos: a dicotomia entre o falar e o
fazer, entre o pensar e o agir, entre o sentir e o atuar. (DUARTE JR., 1998, p. 18,
grifo do autor).

As experiências que a Arte proporciona fortalecem os princípios de uma educação


emancipadora, coerente, harmoniosa entre o sentir, o pensar e o fazer. Nas vivências os
sentimentos são caminhos para o conhecimento e descobre-se, além da decodificação de
significados da linguagem, a expressão de sentimentos (DUARTE JR., 1998).
No curso de Pedagogia do Instituto Federal Catarinense, Campus Camboriú, a
disciplina Fundamentos e Metodologias do Ensino da Arte, com carga horária de 90 horas,
tem a pretensão, segundo a ementa da disciplina, de tratar das: “Concepções de arte na
educação. Arte e o processo criativo: artes plásticas, música, dança e teatro. Arte como
recurso didático e prática pedagógica: pintura, escultura, desenho, dança, teatro, música.
Vivências pedagógicas e curriculares”. Ao incluir diferentes linguagens da Arte a ementa
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confirma a diversidade da área e possibilita o entendimento dos professores de que área vai
além do desenho e das Artes Visuais. Entende também que existem mais de uma concepção
acerca do que é o ensino de Arte, podendo tratar das questões estéticas, culturais, técnicas e
metodológicas. Além de propor a sua prática articulada a outras áreas, servindo como recurso
didático e pedagógico. Indica, ao propiciar vivências pedagógicas e curriculares com a área,
que o contato do professor com a Arte é primordial para sua prática. Nessa perspectiva, a Arte
consegue ter seu espaço garantido na Matriz Curricular deste curso, mas precisa repensar sua
participação na constituição do docente pretendida pelo curso.
O conhecimento e a autonomia torna-se fundamental para que o pedagogo tenha
segurança em margear o riacho da arte, “rio adentro” com propostas que tragam a Arte para o
cenário do aluno, para a educação infantil e das séries iniciais. Fica aqui o registro para que a
organização curricular dos cursos de pedagogia atendam a demanda formativa na área da Arte
incluindo-a como componente curricular obrigatório.

Narrativas sobre proposições no ensino da Arte – relato de uma experiência

O contato com o grupo pesquisado foi na disciplina de Fundamentos e Metodologias


do Ensino da Arte. Os encontros com esse grupo se realizaram aos sábados, período matutino
e vespertino, durante três meses, eram iniciados com um café e recheados com o almoço.
Nestas experiências de sala de aula com as estudantes de pedagogia, eram lidos poemas,
assistidos vídeos e relatadas ações com e sobre a Arte. Desta convivência surgiram laços de
afeto e de confiança integrando docente e discentes nas relações de formação como apresenta
a figura1:
Figura 1

EM
FORMAÇÃO

Fonte: As autoras
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Os relatos aqui apresentados, como dados para a reflexão acerca da formação em Arte
dentro do curso de Pedagogia, foram sistematizados por meio da escrita, após todas as nossas
conversas, as nossas vivências e reflexões sobre seu ensino e as nossas experiências. Esse
processo envolveu a memória, a vivência e o pensar sobre a prática com a Arte. O recorte
desta pesquisa apresenta dados sobre as possibilidades de trabalho na área, por alunas de
pedagogia, e a reflexão sobre a sua formação em Arte. Nessa proposição, mais do que o
passado, as histórias de vida pensam o futuro.
O olhar destas estudantes sobre a importância da Arte no ensino com as crianças,
indica a possibilidade cognitiva para o “desenvolvimento da criança, pois enquanto cria,
canta e dança a criança se sente aberta para se expressar”3, relacionando-se como forma de
expressão. Esse relato indica que a expressão é fundamental para o desenvolvimento
cognitivo da criança. O processo de criação artística da criança envolve suas próprias
experiências, relaciona com seus aprendizados, suas relações pessoais e sociais. Neste
processo, segundo Duarte Jr. (1985), o educando elabora os seus sentidos em relação ao
mundo, “a arte se constitui num estímulo permanente para que nossa imaginação flutue e crie
mundos possíveis, novas possibilidades de ser e sentir-se” (DUARTE JR, 1985, p. 67).

Para a criança arte é um meio de aprendizagem lúdica, que possibilita a criança


expressar-se, algo que em outras matérias muitas vezes não é possível. Contudo, arte
é indispensável para o homem como sujeito, e sendo o professor um mediador deste
contato com a arte, devemos ter mais sensibilidade e entender a criança, como
sujeito que necessita da arte para a sua formação.

A Arte aparece aqui como um campo de conhecimento sensível, descolado das outras
disciplinas, é o momento da expressão, de não ser avaliado pelo erro, da formação humana.
Mas isso não seria necessário em todas as disciplinas?
A Arte é importante na Educação Infantil e nas séries iniciais porque “é imprescindível
o ensino da arte, pois ela nos permite conhecer novas realidades, fazendo com que as
crianças possam reconstruir, reconfigurar seus conhecimentos. Com isso possibilitando
novos saberes a partir deste contato com as artes”. Esses saberes permeiam a educação dos
sentimentos, o conhecimento das emoções e do entendimento das diferentes formas de arte e
cultura que dão significado ao entendimento das diferenças, permite um contato direto com
os sentidos de nossa e de outras culturas.
Esses novos saberes são reconhecidos enquanto diversidade cultural:

3
Os relatos das estudantes estarão costurados ao texto e serão escritos em itálico.
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Devemos ter o cuidado para não empobrecer o universo cultural do aluno. É


importante o professor ter conhecimento aprofundado em arte e sua história,
buscando leituras para passar segurança na hora de ministrar as aulas,
apresentando os conhecimentos básicos nas áreas artísticas. Não se pode utilizar de
modelos ultrapassados de artes, mas proporcionar aos alunos um resgate de toda a
história da arte fazendo aulas, passeios a museus, teatros e participar de várias
outras manifestações culturais, valorizando suas criações.

Nesse sentido, Duarte Júnior (1985, p. 103) afirma que:

Esta é então, a primeira função cognitiva, ou pedagógica, da arte: apresenta-nos


eventos pertinentes à esfera dos sentimentos, que não são acessíveis ao pensamento
discursivo. Através da arte somos levados a conhecer nossas experiências vividas,
que escapam à linearidade da linguagem. Quando, na experiência estética, meus
sentimentos entram em consonância (ou são despertados) por aqueles concretizados
na obra, minha atenção se focaliza naquilo que sinto. A lógica da linguagem é
suspensa, e eu vivo meus sentimentos sem tentar “traduzi-los” em palavras.

Para uma prática com a Arte em projetos e atividades interdisciplinares é necessária a


reflexão sobre o repertório destes professores. Sobre a importância da área na formação do
pedagogo, a docente apresenta o seguinte relato:

O ensino da Arte é imprescindível à formação do pedagogo, que lida com crianças,


tendo em vista, que a arte, a brincadeira, o jogo, são as principais e primeiras
expressões de uma criança, e, estas devem ser valorizadas e potencializadas. O
desenho, por exemplo, é considerado a escrita pictórica de uma criança, ou seja, é a
primeira forma de escrita na qual a criança irá se expressar, desta forma, deve-se
ter a sensibilidade e tato no momento em que se alfabetiza a criança.

Complementa-se a esse relato o trecho que fala da importância do:

professor ter o conhecimento e vivências sobre arte, uma vez que este não pensará
somente em uma educação pela arte, mas uma educação para a arte, não
restringindo seus ensino a técnicas, mas sim, desenvolvendo estratégias para
trabalhar as diferentes linguagens, criando condições para que todos vivenciem a
arte nas diversas dimensões.

Duarte Júnior (2001, p. 206) defende “que na realidade, uma educação sensível só
pode ser levada a efeito por meio de educadores cujas sensibilidades tenham sido
desenvolvidas e cuidadas, (...) como fonte primeira dos saberes e conhecimentos (...) acerca
do mundo”.
Esses educadores estão em formação e querem ter:
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algumas ideias de como e o que apresentar para nossas crianças sobre a arte. Mas
não teremos jamais o preparo necessário igual a um especialista que estudou e se
preparou para tal. A maioria das atividades principalmente da Educação Infantil
está ligada com o fazer artístico, propondo a arte diariamente, nesse sentido temos
que oferecer grande diversidade de materiais mediando técnicas e desafios que
favoreçam o crescimento do aluno.

Entende-se que a formação inicial com a Arte tem enorme relevância para o pedagogo,
pois repercute em sua futura prática docente com a reflexão sobre as possibilidades de sua
inserção na educação infantil e séries iniciais em práticas desenvolvidas por esses educadores.
Nestes relatos são indicadas as concepções de ensino de Arte que são referenciais para o
trabalho docente, entre eles salienta-se a arte como primeira representação infantil, a
importância de fomentar habilidades para possibilitar a expressão e a comunicação da criança
e a relevância de um repertório cultural e artístico, interligado a metodologias e fundamentos,
sobre Arte para uma prática significativa.

Considerações Finais

Para que exista a possibilidade de escolha é necessário que se apresentem alternativas


para essa decisão. Ao integrar efetivamente a disciplina de fundamentos e metodologia do
Ensino da Arte na formação teórico-prática das estudantes de pedagogia, estamos
confirmando a intenção de que seja construída a autonomia diante da área, para sua inclusão
em projetos e práticas interdisciplinares.
Entende-se que a reflexão sobre as vivências com a Arte acaba por dar sentido as
práticas estéticas e artísticas das pedagogas. Ao dialogar com suas experiências são
provocadas a pensar sobre a importância da Arte no Ensino Básico. Os registros das
estudantes apresentam uma atenção as questões do desenvolvimento cognitivo durante o
processo de criação, a importância da possibilidade de expressar-se por meio das linguagens
artísticas, que dão significados a novas construções estéticas, ao incluir a diversidade cultural
nas produções. Essa diversidade é conseguida pelo repertório das pedagogas que podem
ampliá-lo ao expor-se a Arte em suas diferentes linguagens.
Neste relato de experiência, apresentamos as narrativas finais das estudantes sobre a
pretensão da inclusão da Arte em suas práticas futuras. As aulas eram costuradas com relatos
e textos, dramáticos e poéticos, buscando sensibilizar as estudantes sobre a importância da
inclusão da área, além das aulas específicas dedicadas a disciplina. Os diálogos possibilitaram
o contato com a Arte como forma de vivenciar e entender sua importância na formação dos
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sujeitos. Só quem vive a Arte pode compreender suas possibilidades e sua importância na
educação, seja em espaços formais, na sala de aula, na escola ou para além deles. A Arte nos
mobiliza, nos obriga a olhar para as diferenças, nos colocarmos no lugar do outro, nos aguça a
escuta, nos amplia.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Anna Rita Ferreira de. OS CURSOS DE PEDAGOGIA E O ENSINO DA ARTE:


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Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação, a
Consolidação das Leis do Trabalho CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio
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MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

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