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Resumo
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Mestre em educação pela Universidade do Vale do Itajaí. Professora de Arte do Instituto Federal Catarinense,
Campus Camboriú. E-mail: andreiabazzo@yahoo.com.br.
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Mestre em educação pela Universidade Federal de Pelotas. Professora de Sociologia do Instituto Federal
Catarinense, Campus Camboriú. E-mail: anearmas@gmail.com.
ISSN 2176-1396
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Introdução
O trabalho de pesquisa a partir da narração das histórias de vida ou, melhor dizendo,
de histórias centradas na formação, efetuado na perspectiva de evidenciar e
questionar as heranças, a continuidade e a ruptura, os projetos de vida, os múltiplos
recursos ligados às aquisições de experiências, etc., esse trabalho de reflexão a partir
da narrativa da formação de si (pensando, sensibilizando-se, imaginando,
emocionando-se, apreciando, amando) permite estabelecer a medida das mutações
sociais e culturais nas vidas singulares e relacioná-las com a evolução dos contextos
de vida profissional e social (JOSSO, 2007, p. 414).
essas questões? O que a Arte representa para eles? Pensar sobre isso pode contribuir com as
disciplinas que tratam da área nos currículos de Pedagogia. Se não é entendida como área de
conhecimento, dificilmente ela será uma constante no trabalho docente. Para fundamentar
essas discussões Duarte JR. (1985, 1998 e 2001) trata de questões sobre Arte, estética e
diversidade.
A realidade no Brasil mostra que ainda não existem professores especialistas na área
artística trabalhando na educação infantil e nas séries iniciais em todos os municípios, sendo
assim, esta área é incumbência dos pedagogos, o que leva a necessidade de pensarmos sobre
a formação profissional e perfil dos educadores que atuam como mediadores no
desenvolvimento das crianças no ensino da Arte.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCNEB) o
pedagogo pode ministrar aulas de todas as áreas de conhecimento. Desta forma, a disciplina
de Arte oferecida nos cursos de Pedagogia precisa garantir ao pedagogo uma formação que
lhe traga conhecimento e seus processos de ensino e aprendizagem, incluindo a formação
inicial com experiência na criação artística, para que, com esta formação, possa orientar os
processos criativos de seus alunos. Um dos desafios é a inserção da Arte na preparação
pedagógica com a perspectiva de uma formação artística e cultural.
A Arte nos cursos de pedagogia é fundamental para a autonomia desses futuros
professores. Não para substituir os professores de Arte, mas como oportunidade de se
conhecer, através desses professores, os potenciais da área como contribuição interdisciplinar
e integrada a projetos, fomentando as experiências estéticas na formação humana desde a
infância.
Na compreensão das pesquisadoras deste trabalho é uma perda não se poder estar ao
mesmo tempo nos dois lugares. Não se pode restringir o tempo da Arte às aulas de Arte, com
uma duração que não excede uma hora, isso seria pouco. Ao compreendermos que a
linguagem artística e a estética são importantes na escola, mesmo tendo o professor
especialista, ela ainda precisa ser abordada pelo professor da educação infantil e das séries
iniciais.
Nesta proposta, o repertório e o estudo sobre a importância da Arte na educação
infantil e nas séries iniciais indica a necessidade de uma formação em Arte dentro dos cursos
de Pedagogia que abarquem questões estéticas, culturais, metodológicas e também produções
em linguagens complexas e distintas que integram as linguagens da área. Fortalecemos a
importância de um currículo que seja constituído respeitando as diversas formas de expressão
artística e que dê autonomia para o docente incluí-la em projetos e ações interdisciplinares.
Ainda assim, não é possível apontar o que é melhor: se é isto ou aquilo. As
argumentações sobre o papel da Arte na educação infantil e nas séries iniciais destacam a
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importância de um professor especialista, por este ter uma melhor preparação para atuar nesta
área.
O histórico da formação de professores de Arte no Brasil parte das licenciaturas
polivalentes e da Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96, que usa o termo Ensino da Arte e não
mais Educação Artística, e sinaliza para a inclusão das linguagens específicas da Arte - Artes
Visuais, Música, Dança e Artes Cênicas. Essa mudança favorece as licenciaturas específicas e
grupos de pesquisa das diferentes linguagens. Esse grupo formado por professores
qualificados assegura a sua atuação na educação infantil e nas séries iniciais. Neste sentido,
defendemos a atuação do professor especialista dentro da prática e da teoria na disciplina de
Arte.
Retornamos a dúvida: ou isto ou aquilo; ou isto ou aquilo...e vivo escolhendo o dia
inteiro. E novamente a necessária defesa da formação em Arte pelo pedagogo, já que sua
atuação é imprescindível para um ensino que integre conteúdos e projetos que fomentem um
movimento estético, artístico e cultural, que potencialize as experiências desde os primeiros
anos escolares.
Essas ações indicam uma formação que inclua vivência estética, criação artística,
ampliação de repertório em Arte, autonomia nas diferentes linguagens, metodologias e
fundamentos do ensino de Arte.
A(s) disciplina(s), na área de Arte, no curso de Pedagogia tem como princípio a sua
inserção na perspectiva de formação artística e na preparação dos futuros professores para o
seu ensino e aprendizagem.
A Arte é um dos desafios no currículo dos cursos de Pedagogia. As Diretrizes
Curriculares Nacionais, instituídas pela Resolução do Conselho Nacional de Educação
(CNE/CP) n.1, de 15 de maio de 2006, institui a obrigatoriedade da formação de pedagogos
para o ensino da Arte na educação infantil e nos anos iniciais. No Art. 5º o egresso deverá
estar habilitado para ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia,
Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar (CONSELHO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO, 2006, p. 1).
Com essa exigência, a formação em Arte dentro dos cursos de Pedagogia, atrelada a
formação de professores especialistas para atender a demanda da disciplina em outras
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Mas seria a criação de uma disciplina voltada para o ensino de Arte o caminho mais
adequado para a superação de mais esse desafio posto aos cursos de Pedagogia?
Uma vez que a LDB em vigor torna o ensino de Arte componente curricular
obrigatório nos diversos níveis da educação básica e as DCN apontam para a
necessidade de o egresso da Pedagogia estar apto ao ensino de artes, seriam os
pedagogos os responsáveis pelo atendimento dessa demanda? Diante das disputas
históricas entre os modelos dos conteúdos cultural-cognitivos e do pedagógico-
didático, qual seria a perspectiva de formação em arte que os cursos de Pedagogia
vêm adotando? Observada a luta histórica das licenciaturas em arte para o fim da
formação polivalente e afirmação das linguagens, o ensino de Arte nas escolas
deveria se dar de forma polivalente ou em linguagens especializadas? Como
pedagogos e licenciados em artes definirão seus espaços de atuação no cotidiano
escolar? (ARAÚJO, 2015, p. 52)
Assim, a própria educação possui uma dimensão estética: levar o educando a criar os
sentidos e valores que fundamentem sua ação no seu ambiente cultural, de modo que
haja coerência, harmonia, entre o sentir, o pensar e o fazer. Caso contrário, estamos
frente à tendência “esquizóide” de nossos tempos: a dicotomia entre o falar e o
fazer, entre o pensar e o agir, entre o sentir e o atuar. (DUARTE JR., 1998, p. 18,
grifo do autor).
confirma a diversidade da área e possibilita o entendimento dos professores de que área vai
além do desenho e das Artes Visuais. Entende também que existem mais de uma concepção
acerca do que é o ensino de Arte, podendo tratar das questões estéticas, culturais, técnicas e
metodológicas. Além de propor a sua prática articulada a outras áreas, servindo como recurso
didático e pedagógico. Indica, ao propiciar vivências pedagógicas e curriculares com a área,
que o contato do professor com a Arte é primordial para sua prática. Nessa perspectiva, a Arte
consegue ter seu espaço garantido na Matriz Curricular deste curso, mas precisa repensar sua
participação na constituição do docente pretendida pelo curso.
O conhecimento e a autonomia torna-se fundamental para que o pedagogo tenha
segurança em margear o riacho da arte, “rio adentro” com propostas que tragam a Arte para o
cenário do aluno, para a educação infantil e das séries iniciais. Fica aqui o registro para que a
organização curricular dos cursos de pedagogia atendam a demanda formativa na área da Arte
incluindo-a como componente curricular obrigatório.
EM
FORMAÇÃO
Fonte: As autoras
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Os relatos aqui apresentados, como dados para a reflexão acerca da formação em Arte
dentro do curso de Pedagogia, foram sistematizados por meio da escrita, após todas as nossas
conversas, as nossas vivências e reflexões sobre seu ensino e as nossas experiências. Esse
processo envolveu a memória, a vivência e o pensar sobre a prática com a Arte. O recorte
desta pesquisa apresenta dados sobre as possibilidades de trabalho na área, por alunas de
pedagogia, e a reflexão sobre a sua formação em Arte. Nessa proposição, mais do que o
passado, as histórias de vida pensam o futuro.
O olhar destas estudantes sobre a importância da Arte no ensino com as crianças,
indica a possibilidade cognitiva para o “desenvolvimento da criança, pois enquanto cria,
canta e dança a criança se sente aberta para se expressar”3, relacionando-se como forma de
expressão. Esse relato indica que a expressão é fundamental para o desenvolvimento
cognitivo da criança. O processo de criação artística da criança envolve suas próprias
experiências, relaciona com seus aprendizados, suas relações pessoais e sociais. Neste
processo, segundo Duarte Jr. (1985), o educando elabora os seus sentidos em relação ao
mundo, “a arte se constitui num estímulo permanente para que nossa imaginação flutue e crie
mundos possíveis, novas possibilidades de ser e sentir-se” (DUARTE JR, 1985, p. 67).
A Arte aparece aqui como um campo de conhecimento sensível, descolado das outras
disciplinas, é o momento da expressão, de não ser avaliado pelo erro, da formação humana.
Mas isso não seria necessário em todas as disciplinas?
A Arte é importante na Educação Infantil e nas séries iniciais porque “é imprescindível
o ensino da arte, pois ela nos permite conhecer novas realidades, fazendo com que as
crianças possam reconstruir, reconfigurar seus conhecimentos. Com isso possibilitando
novos saberes a partir deste contato com as artes”. Esses saberes permeiam a educação dos
sentimentos, o conhecimento das emoções e do entendimento das diferentes formas de arte e
cultura que dão significado ao entendimento das diferenças, permite um contato direto com
os sentidos de nossa e de outras culturas.
Esses novos saberes são reconhecidos enquanto diversidade cultural:
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Os relatos das estudantes estarão costurados ao texto e serão escritos em itálico.
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professor ter o conhecimento e vivências sobre arte, uma vez que este não pensará
somente em uma educação pela arte, mas uma educação para a arte, não
restringindo seus ensino a técnicas, mas sim, desenvolvendo estratégias para
trabalhar as diferentes linguagens, criando condições para que todos vivenciem a
arte nas diversas dimensões.
Duarte Júnior (2001, p. 206) defende “que na realidade, uma educação sensível só
pode ser levada a efeito por meio de educadores cujas sensibilidades tenham sido
desenvolvidas e cuidadas, (...) como fonte primeira dos saberes e conhecimentos (...) acerca
do mundo”.
Esses educadores estão em formação e querem ter:
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algumas ideias de como e o que apresentar para nossas crianças sobre a arte. Mas
não teremos jamais o preparo necessário igual a um especialista que estudou e se
preparou para tal. A maioria das atividades principalmente da Educação Infantil
está ligada com o fazer artístico, propondo a arte diariamente, nesse sentido temos
que oferecer grande diversidade de materiais mediando técnicas e desafios que
favoreçam o crescimento do aluno.
Entende-se que a formação inicial com a Arte tem enorme relevância para o pedagogo,
pois repercute em sua futura prática docente com a reflexão sobre as possibilidades de sua
inserção na educação infantil e séries iniciais em práticas desenvolvidas por esses educadores.
Nestes relatos são indicadas as concepções de ensino de Arte que são referenciais para o
trabalho docente, entre eles salienta-se a arte como primeira representação infantil, a
importância de fomentar habilidades para possibilitar a expressão e a comunicação da criança
e a relevância de um repertório cultural e artístico, interligado a metodologias e fundamentos,
sobre Arte para uma prática significativa.
Considerações Finais
sujeitos. Só quem vive a Arte pode compreender suas possibilidades e sua importância na
educação, seja em espaços formais, na sala de aula, na escola ou para além deles. A Arte nos
mobiliza, nos obriga a olhar para as diferenças, nos colocarmos no lugar do outro, nos aguça a
escuta, nos amplia.
REFERÊNCIAS
MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
DUARTE JR., João Francisco. Por que arte-educação? 2ª ed. Campinas: Papirus, 1985.