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Mônica Lopes de Mendonça

Anjos Caídos

R&F EDITORA
GOIÂNIA
2010

Mônica Lopes de Mendonça - 1


Índice

Agradecimentos ...................................................................................... 7
Dedicatória ............................................................................................. 9
Anjos caídos .......................................................................................... 11
Capítulo 01
Marina ............................................................................................. 15
Capítulo 02
Mistério ............................................................................................ 32
Capítulo 03
Julian ................................................................................................ 51
Capítulo 04
Segredos .......................................................................................... 70
Capítulo 05
Henrique .......................................................................................... 86
Capítulo 06
Girassóis ......................................................................................... 111
Capítulo 07
A festa ............................................................................................ 126
Capítulo 08
Beatriz ............................................................................................ 137
Capítulo 09
Thart .............................................................................................. 159
Capítulo 10
Sarah ............................................................................................. 185
Capítulo 11
Phillippe .......................................................................................... 211

2 - Anjos Caídos
Capítulo 12
Conhecendo um vampiro ................................................................ 252
Capítulo 13
Lembranças do passado ................................................................. 281
Capítulo 14
Conspiração .................................................................................... 311
Capítulo 15
A descoberta .................................................................................. 319
Capítulo 16
O rapto .......................................................................................... 365
Capítulo 17
Próximo do fim ............................................................................... 377
Capítulo 18
A batalha ........................................................................................ 415
Epílogo ............................................................................................... 438

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4 - Anjos Caídos
Anjos Caídos

“Houve batalha no céu. Miguel e os seus anjos batalharam contra o


dragão. Também batalharam o dragão e seus anjos; todavia, não
prevaleceram; nem mais se achou no céu o lugar deles. E foi expulso o
grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor
de todo o mundo, sim, foi atirado para a Terra, e, com ele, reino do nosso
Deus e a autoridade do seu Cristo, pois foi expulso o acusador de nossos
irmãos, o os seus anjos. Então, ouvi grande voz do céu, proclamando:
Agora, veio a salvação, o poder, o mesmo que os acusa de dia e de noite,
diante do nosso Deus. Eles, pois, o venceram por causa do sangue do
Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em
face da morte, não amaram a própria vida. Por isso, festejai, ó céus, e
vós, os que neles habitais. Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até
vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta.”

(Apocalipse capítulo 12:7-12)

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“Perdida nas trevas,
Procurando uma forma de voltar para casa.
Os passos pesados no silêncio.
Pode ouvir meus gritos?

Nada pode me salvar de mim,


Apenas quando você me toca.
Você está em meu coração.
Forte e sempre.

Eu encontrarei você em algum lugar.


Continuarei procurando.
Até que meus dias tenham fim.
Eu apenas preciso saber se é real.

Preciso que seu toque me liberte.


Você pode deixar minha alma livre.
Eu quero tocar em você.
Preciso apenas saber se você sairá dos meus sonhos.
Tornará real em minha vida.

Em meu sonhos,
O caminho de casa é longo.
Você me abraça, me beija,
Não deixa que eu me perca.
Leva-me de volta para o meu lar.

Onde você estará?


O que quer que faça.
Eu tenho certeza que nos encontraremos.
Quero apenas um toque.

Meus sonhos,
Minha alma,
Minha liberdade.”

6 - Anjos Caídos
Mônica Lopes de Mendonça - 7
CAPÍTULO 01
MARINA

A madrugada fria e escura surgia na cidade, muitas estrelas no céu, poucas


pessoas na rua, apenas algumas almas perdidas procurando alguma forma de
retornar para casa, as únicas luzes que refletiam em seus olhos eram das placas
de néon; alguns carros passavam apressados fazendo barulho, quebrando o
silêncio misterioso e mórbido. Medo e solidão, abandono e diversão, ruas
desertas apenas mais um amanhecer no cenário da cidade solitária.

Marina abriu os olhos, estava assustada, o coração disparado, sentou-se


na cama e passou a mão na testa suada. Tirou uma mecha dos cabelos castanhos
escuros do rosto e levantou-se da cama indo até a janela aberta, que com o
vento da madrugada fazia as finas cortinas brancas balançarem, ao se esticar
para fechá-la, a brisa fria abraçou seu corpo, causando-lhe um arrepio na
espinha, respirou fundo e fechou rapidamente a janela, ficou olhando a rua deserta.
Pegou na mesa de cabeceira a jarra com água e despejou um pouco no copo
de vidro, tomando alguns goles.
— Foi só um sonho! Que sonho estranho! – Falou colocando o copo no
lugar e verificando se a amiga deitada na cama ao lado ainda dormia.
Deitou-se novamente dormindo logo, sorte estar muito cansada.
As duas amigas acordaram com o despertador tocando insistentemente.
Marina ainda com sono colocou o travesseiro no rosto.
— Nina acorde, não vai querer ouvir a Dra. Lúcia brigar com você de
novo pelo atraso. – Beatriz falou carinhosamente enquanto desligava o
despertador na mesa de cabeceira de Marina.
— Só mais quinze minutos! – Resmungou apertando mais o travesseiro
contra o rosto.

8 - Anjos Caídos
— Nem mais um minuto. Levanta dorminhoca! – Falou Beatriz, puxando
as cobertas da amiga.
— Droga de vida! – Marina resmungou esfregando os olhos.
Beatriz sorriu enquanto dobrava as roupas de cama, depois entrou no
pequeno banheiro que havia no quarto e foi tomar um banho.
Marina preparou a roupa que iria usar para trabalhar, arrumou a cama e
entrou no banheiro depois que Beatriz saiu enrolada na toalha.
— Droga! Dia da água fria de novo! – Marina gritou no banheiro.
— É bom para dar energia e despertar. – Beatriz falou enquanto colocava
a calça preta e a camisa caramelo.
Marina saiu do banheiro.
— Que jeito maravilhoso de começar um dia! Um belo banho gelado! –
Marina protestou enxugando os cabelos molhados.
— Ouvi dizer que faz bem para a pele. – Caçoou Bia terminando de
passar o batom vermelho.
— Acho bom parar com as piadinhas! Temos que arranjar dinheiro e sair
dessa espelunca. – Marina falou, de péssimo humor.
— O que aconteceu durante essa noite? Mais um pesadelo? Está com um
humor terrível. – Bia perguntou enquanto jogava o travesseiro no rosto de Nina.
— Desculpe, acho que estou irritada mesmo. – Falou agarrando o
travesseiro jogando-o na cama.
— Sem problema. Enquanto está de mau humor eu estou de alto astral e
nada nem ninguém vai estragar o belo dia que nasceu. Nem você – Apontou
para a amiga debochada.
— Hum, que romântico! Está apaixonada de novo? – Nina sorriu
maliciosa.
— Sem comentários. Sou uma incompreendida.
Marina calçou os sapatos pretos de salto baixo.
— Tive aquele sonho de novo. – Ela comentou receosa.
— Também vive lendo esses livros malucos sobre seres de outro
mundo, anjos e tudo mais. Acho que você tem problemas, deveria procurar
um psicólogo urgente.
— Não tem nada a ver com os meus anjinhos. – Falou olhando para a
estante com muitas estatuetas de anjos de diversos tamanhos, havia estatuetas de
anjos espalhadas por todo o quarto. – Sangue, ruas desertas, gritos, uma coisa
horrível. Parecia que o mundo estava acabando – Falou fazendo careta ao se lembrar.
— Deixe seus pesadelos para depois, estou pronta, é melhor irmos
ou vamos chegar atrasadas. – Bia terminou de arrumar seus cabelos negros
cortados curtos.

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— Você viu meus óculos por aí? – Nina perguntou.
— Estão aqui, melhor irmos. – Falou entregando-lhe os óculos.
Pegaram as bolsas, e saíram. Andaram pelo corredor cheio de portas e
desceram as escadas, parando na sala cheia de mesas e cadeiras, onde eram
servidas as refeições.
As duas dividiam um quarto em uma pensão no centro da cidade. No primeiro
andar estavam os quartos com banheiro, no segundo andar eram apenas quartos e
um banheiro de uso coletivo no final do corredor, no térreo havia uma sala onde
ficavam as mesas e cadeiras, ao lado da cozinha, onde eram servidas as refeições e
na outra sala, um grande sofá, uma televisão e um balcão, onde um funcionário da
pensão recebia as novas inquilinas. A pensão era apenas para moças, não eram
admitidos rapazes em hipótese alguma nos quartos ou em qualquer lugar na pensão.
O único com a entrada permitida era Thiago, filho da dona da pensão.
Dona Cleonice era uma mulher boa, sempre pronta a ajudar, com seus
sessenta anos de idade, metade deles tomando conta daquela pensão, era esperta
e enérgica quando precisava ser. Era alta, magra, quase se podia ver os seus
ossos. Estava sempre com os cabelos curtos, já estavam um pouco grisalhos,
deixando-a com a aparência de mais velha ainda.
Marina e Beatriz estavam atrasadas e não tomaram café da manhã.
Marina ainda pensava no sonho da noite anterior. Será que era possível?
Será que era verdade? Sentira que era bem real, ainda podia lembrar daquelas
mãos asquerosas segurando seus tornozelos.
— Você é maluca, como pode se apaixonar por um homem que aparece
em seus pesadelos? – Bia falou enquanto atravessavam a rua.
— Sou eu quem é maluca? Quem está apaixonada um dia sim e outro
não? – Nina perguntou.
— Eu só vivo a vida Nina, não fico esperando que o apocalipse aconteça.
Agora conte-me sobre o seu sonho. – Pediu olhando para ela enquanto
caminhavam pela rua.
— Sei lá, estava em um lugar estranho, como se fosse o inferno, muito
sangue, gente gritando, se arrastando no chão, segurando minhas pernas,
enquanto monstros com grandes dentes e olhos estranhos corriam atrás de mim,
aquele homem maravilhoso aparecia e me tirava de lá, então acordei.
— Muito estranho. Você acordou antes de dar pelo menos um beijinho?
Fraquinha. – Sorriu provocando a amiga.
Nina fez careta pra Bia que sorria marotamente.
As duas andaram dois quarteirões para chegar à empresa em que
trabalhavam. Gostavam de caminhar, assim tinham tempo para conversar o que
não acontecia durante o dia no trabalho.

10 - Anjos Caídos
— Será que ele existe? Li em um livro que existem pessoas que se encontram
com outras enquanto dormem, será que é verdade? O que você acha Bia?
— Acho que você tem que parar de viver nesse mundo de sonhos e viver
a realidade. Pare de ficar lendo esses livros de romances sobrenaturais. Homens
se casam com mulheres, anjos não tem sexo e vivem nas nuvens, diabos no
inferno, se é que existem, cada coisa tem o seu devido lugar, não pense em
contrariar as leis da natureza, é pequena demais, somos dois grãos de areia.
Vou arrumar um namorado pra você, um encontro às escuras.
— Minha vida é tão sem graça. É o motivo pelo qual prefiro os livros,
assim tenho tudo: amor, aventura, ação. E quanto ao encontro, nem pensar, da
última vez sabe muito bem que acabou mal.
— Algo interessante não significa algo irreal. Se gastasse seu tempo livre
vivendo mais a vida e não trancada entre livros acharia a bem mais interessante.
— Então me diga o que há de interessante nessa vida real, medíocre?
Um rapaz passou por elas e sorriu para Bia que retribuiu o sorriso.
— Homens! Homens! Homens! Essa é uma das coisas boas da vida.
— Prefiro os anjos, os super-heróis. Na verdade espero apenas pela
pessoa certa, aquela que irá completar minha alma, uma pessoa especial que
tirará meu coração dessa solidão eterna.
— Anjos não existem e se existirem você jamais poderá tocá-los Nina.
Quanto aos super-heróis não passam de lendas. E como vai achar a pessoa
certa se não se arriscar a amar a errada?
— Assim não podem me machucar. Quanto a existirem já li uma vez que
os anjos podem se tornar pessoas como nós, basta que Deus os autorize e que
realmente queiram.
— Não vou gastar meu tempo discutindo com você mais uma vez. Sempre
que você tem esses sonhos é a mesma história. São sonhos Nina, e sonhos não são
verdades. São reflexos daquilo que está no seu subconsciente e que você armazenou
de interessante durante o dia. O cérebro fica funcionando enquanto você dorme,
então tem esses sonhos malucos. Seu cérebro conta histórias para você dormir.
— Sim, doutora Beatriz. – Nina falou contrariada.
— Sabe do que precisa?
— Não devia perguntar, mas vou perguntar: Do que estou precisando?
— De um namorado. Um homem de carne e osso. Há quanto tempo não
namora? Há quanto tempo não sente um homem tocá-la?
— Para ficar igual a você? Sofrendo por amor? Prefiro ficar com meus
sonhos. Os homens só servem para nos iludir e depois nos abandonar. Sem
chance. Já tive minha parcela de sofrimento por amar a pessoa errada. Não
quero mais.

Mônica Lopes de Mendonça - 11


— Suas alucinações. Você está apaixonada por alguém que nem existe e
me fala de sofrimento! – Bia falou dando uma parada olhando para a amiga.
— Que seja. – Deu de ombros.
— Mudando de assunto, porque essa conversa já está me
massacrando, não aguento ter que falar de realidade o tempo todo pra você,
desisto. Olha só, estive pensando, na segunda-feira será feriado, podemos
ir para a fazenda ver sua mãe, o que acha?
— Boa ideia! Estou com saudade dela e do meu sobrinho também.
— Está combinado. É nossa folga no sábado, podemos pegar o ônibus
no sábado de manhã. O que acha?
Nina balançou a cabeça em sinal de afirmação e entraram na empresa em
que trabalhavam.
Bia trabalhava no departamento jurídico e Nina no departamento de
informática.
O dia transcorreu como de costume, sem nenhuma novidade. No final do
expediente as duas se encontraram para irem embora.
— O que vai fazer hoje com sua noite tão sonhada de folga? – Nina
perguntou apertando o botão do sinal para fechar.
— O Jorge me convidou para sair.
— Quem é Jorge?
— Um rapaz que conheci ontem na Disco.
— Você e seus encontros malucos, nem conhece o cara. Vai acabar se
metendo numa fria, já cansei de avisá-la.
— Ele é o máximo, inteligente, simpático e parece ter muita grana para
gastar. – Falou sem dar importância aos conselhos de Nina.
— Você não toma jeito mesmo.
— Pelo menos ele é de carne e osso e eu o conheço.
— Eu vou conhecer o meu anjo. – Olhou para o céu algumas estrelas
começando a aparecer.
— Eu espero do fundo do meu coração que esse anjo realmente exista
porque eu não suporto mais essa história. Cansei de ver você gastando os
minutos preciosos da sua vida esperando por uma ilusão.
— Eu sei que vou encontrá-lo Bia, eu tenho dentro de mim. Quando
fecho os olhos posso sentir o seu toque.
— Mas já pensou na hipótese de que anjos e humanos não possam viver
juntos, casarem, ter filhos? De não poderem amar? E se forem todos como
aquelas pinturas? Se forem todos crianças gordinhas?
— Existem vários tipos de anjos, hierarquias. Você não entende.
As duas entraram na pensão. Bia ficou na recepção mais um tempo
conversando.

12 - Anjos Caídos
Nina entrou no quarto e ligou o rádio, eram sete horas, tinha que se
arrumar rapidamente para ir ao seu outro emprego. Colocou a bolsa sobre a
cama e começou a trocar de roupa, tirar a roupa séria e colocar outra para
trabalhar na Disco, não usavam uniforme, mas deveria vestir-se de forma jovem
e diferente.
Olhou para a Bíblia sobre a mesa de cabeceira, estava aberta, tinha certeza
de que não a havia aberto naquela manhã e não havia como ela ter aberto
sozinha, alguém entrara em seu quarto, a janela estava fechada, mesmo que
para ela, não significasse muita coisa. Aproximou-se e leu o que estava escrito,
era o apocalipse capítulo doze. Arrepiou-se, leu em voz alta, parecia que o mal
estava por toda parte, aquilo seria um aviso de que algo ruim estava para
acontecer? Balançou a cabeça afastando tais pensamentos, estava envolvida
demais em ilusões, precisava se preparar para trabalhar, ou iria se atrasar.
Fez uma maquiagem leve, colocou uma blusa dourada e uma saia preta,
uma bota de couro preta, pegou a bolsa e saiu apressada, passou pela sala, Bia
e Thiago conversavam animadamente.
— Boa-noite para vocês.
— Bom trabalho.
Ela saiu caminhando com passos tranquilos, ainda tinha tempo, a Disco
ficava a uma quadra de distância, a rua estava movimentada. Adorava caminhar
durante a noite, respirar o cheiro característico que só a noite possuía, aproveitava
para pensar em sua vida, caminhar era sua higiene mental, abria mais espaço
para seus pensamentos.
Parou em frente ao prédio grande de dois andares, com um grande letreiro
escrito DISCO CLUBE.
Quatro seguranças vestidos de calça preta e camisa preta, justa no corpo,
escrito em amarelo no peito, segurança, já estavam a postos na entrada.
— Boa-noite Nina.
— Boa-noite rapazes. Espero que o movimento de hoje seja bom, já é
quarta-feira. – Ela falou sorridente.
— Hoje começa a esquentar. – O mais baixo comentou.
Ela entrou. A Disco era uma lanchonete em um andar e no outro uma
danceteria, na lanchonete havia uma loja de cd´s onde se podia entrar em cabines
e ouvir os que quisesse. Subindo as escadas havia uma porta prateada, era só
puxar e já estava na danceteria. A decoração era toda em preto e prata com
muitos espelhos, tanto na lanchonete quanto na danceteria. As duas gostavam
muito de trabalhar ali, como a Bia costumava dizer “prazer e trabalho juntos”.
O gerente da casa veio falar com Nina, que guardava sua bolsa no armário
de funcionários, na sala dos fundos da lanchonete.

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Paulo César Medeiros era um homem extremamente exigente e mal-
humorado, pelo menos com seus funcionários. Era alto, loiro, bigode e lábios
finos, olhos verdes. Estava com trinta anos e há três era gerente da Disco.
— Boa-noite Paulo.
— Boa-noite Nina, posso falar com você em meu escritório?
— Claro.
— Espero você em cinco minutos.
Nina balançou a cabeça afirmativamente. Nina era garçonete e ainda
cuidava do atendimento na loja de cd´s quando o lugar estava cheio de clientes,
era versátil, cuidava de tudo como podia e sempre pediam seu auxílio. Paulo
era apaixonado por ela, mas Nina tirara todas as suas esperanças quando ele
falou de seu interesse, ela não queria se apaixonar por ninguém, porque seu
coração já tinha dono, só não sabia quem era. Bia era a supervisora na área da
lanchonete, ela quem havia contratado Nina.
O que ele vai querer agora? Pensou enquanto dava duas batidas na
porta até ouvir a voz do chefe mandá-la entrar.
— Sente-se Marina.
Marina atendeu prontamente.
— Sei que anda ajudando o pessoal da loja de cd´s todas as noites.
— Sim senhor, quando o movimento da lanchonete está calmo eu procuro
ajudá-los. Se o senhor achar que está prejudicando meu trabalho eu posso
parar. – Falou na defensiva.
— Não, de forma alguma. Antes de você começar a ajudá-los, andei
recebendo uma série de reclamações de clientes, e nesses últimos dias tenho
recebido alguns elogios sobre o seu tratamento com eles.
Nina não estava entendendo onde ele queria chegar.
— Nina o Rafael pediu demissão hoje à tarde.
— Não acredito!
— É verdade, ele está montando uma loja de cd´s no shopping com um
amigo e a partir de hoje ele não vem mais.
Nina olhava para ele com uma interrogação nos olhos.
— É uma pena, ele era bem legal. – Foi a única coisa que surgiu na sua
cabeça naquele momento.
— Sim Nina, dessa forma preciso de alguém a partir de hoje no lugar
dele e no momento a pessoa mais qualificada que eu tenho é você. Você aceita
ser a nova supervisora na área de cd´s e danceteria? – Falou sem rodeios
pegando-a de surpresa.
— Eu? – Nina surpresa não conseguia acreditar no que estava
acontecendo.

14 - Anjos Caídos
— Qual o problema Marina, sei que é capaz. É um cargo de muita
responsabilidade e muita dor de cabeça também, mas tenho certeza de que se
sairá muito bem, como já vem saindo. Tenho observado muito seu trabalho.
— Obrigada pela oportunidade Paulo. Prometo fazer tudo o melhor
possível.
— Agora que já aceitou vamos falar no salário.
Acertaram o novo salário, iria ganhar mais e ainda teria comissão
sobre os cd´s vendidos na loja. Perderia as gorjetas, mas a comissão daria
um resultado maior.
Paulo chamou todos os funcionários e avisou sobre a promoção de Nina,
que foi parabenizada por eles. Ela foi à loja de cd´s que ficava apenas com uma
divisória de vidro separando-a da lanchonete com duas portas. Havia quatro
vendedores na loja.
— Achei ótimo você virar supervisora. – Marcos comentou enquanto
terminava de preparar o caixa.
— Marcos, eu ainda estou assustada.
— Você vai tirar de letra e nós vamos te ajudar no que pudermos não
é pessoal?
Todos concordaram com ele. Eram dois rapazes e duas moças.
A Disco foi aberta e os clientes começaram a entrar, a danceteria abria as
dez, nesse horário Nina subiria para verificar como estavam as coisas por lá.
A noite passou serena e como eles já haviam previsto o movimento
começava a crescer. Dez e meia Nina subiu até a danceteria.
— Está tudo em ordem Nina. – Zeca, o barman falou enchendo alguns
copos.
Ela encostou no balcão do bar e ficou vendo aquelas pessoas dançando.
Ficou cerca de duas horas na danceteria, depois voltou à loja de cd´s,
que precisava mais de sua atenção.
Às quatro horas da manhã a Disco fechou as suas portas. Nina foi até o
armário de funcionários e pegou sua bolsa.
— Quer uma carona? – Ouviu a voz de Paulo atrás dela. Assustando-a.
— Não, obrigada. Moro aqui perto.
— Tudo bem, se mudar de ideia ainda vou ficar um tempo no escritório.
Ela balançou a cabeça, Paulo foi para o escritório e Nina saiu.
A rua ainda tinha um pequeno movimento, mas Nina não se intimidava
com as ruas quase desertas, até achava divertida aquela neblina, aquele vento
gelado batendo em seu rosto. A cidade era perigosa, mas naquela parte era
mais segura.

Mônica Lopes de Mendonça - 15


A pensão estava toda em silêncio, abriu a porta com a chave que possuía
e subiu as escadas tentando não fazer barulho. Entrou no quarto, Bia não estava
na cama. Nina vestiu a camisola e deitou na cama pegando um livro. Leu algumas
páginas e caiu no sono.
Bia chegou fechando a porta com cuidado e verificou que Nina estava
dormindo, tirou o livro das mãos da amiga e a cobriu direito, depois trocou de
roupa e deitou na sua cama dormindo em seguida.
Nina levantou antes do despertador tocar, verificou que a amiga ainda
estava dormindo. Ficou mais aliviada. Pegou o livro para ler, até o despertador
tocar.
Bia acordou.
— Não a vi chegar ontem. – Nina falou entrando no banheiro.
— Estava me divertindo como jamais me diverti.
— Tenho novidades.
— Quais? Achou seu anjo?
— Não, mas ganhei uma promoção.
— Promoção?
— Sim, o Rafael pediu demissão e o Paulo me colocou no lugar dele.
— Parabéns! Você merece!
— Obrigada.
As duas foram para o trabalho animadas.
— Sabe o que diz no livro que estou lendo? Que os anjos podem se comunicar
com os humanos através de sonhos, podem até avisar sobre alguma coisa que está
para acontecer, são os chamados sonhos premonitórios. – Contou empolgada.
— Pronto, já vi tudo, esse livro vai encher sua cabeça com mais besteiras.
Sabe no que eu acredito? Naquilo que posso ver e posso tocar.
— Não é besteira Bia, eles entram em contato com os humanos, aqueles
que são chamados de escolhidos.
— Tudo bem senhora escolhida. – Falou incrédula.
— Eles podem se materializar quando quiserem. E alguns até vivem entre
nós e nem percebemos. O vizinho, aquele homem ali, o mendigo do outro lado
da rua, aquela mulher entrando no carro vermelho, qualquer um pode ser um
anjo disfarçado de mortal, alguns tem missões. Posso esbarrar com um anjo e
nem suspeitar. – Falou entusiasmada.
— Posso falar de coisas reais? Posso contar como foi a minha noite real?
– Bia falou impaciente com os delírios da amiga.
— Claro! Como é esse tal de Jorge? – Nina falou convencida de que não
adiantava falar com a amiga sobre o assunto, ela não acreditava em nada do
que viesse a dizer.

16 - Anjos Caídos
— Ele é o máximo, estou apaixonada! Ele é tudo o que sonhei. Ele é
romântico, carinhoso, gentil. Uma dessas pessoas raras hoje em dia.
— Fico feliz que esteja apaixonada pela décima vez esse mês.
— Engraçadinha.
— Ele vai à lanchonete hoje, quero que você o conheça.
— Será uma honra. Nosso final de semana ainda está de pé?
— Claro que está.
O dia passou rápido com o movimento na empresa, Nina ficara envolvida
com um relatório o dia inteiro em frente ao computador, à noite foram para a
Disco trabalhar, mesmo estando exausta com uma dor de cabeça insuportável.
O movimento estava muito bom, Nina estava ficando maluca com aquela
quantidade enorme de clientes. Eram quase meia-noite e ainda não havia
conseguido ir até a danceteria para ver como estavam as coisas, nem mesmo ir
até a lanchonete pegar um analgésico para a dor na cabeça.
Quando finalmente conseguiu subir, estava tudo tranquilo, as pessoas
dançando como sempre, animadas.
— Zeca, por favor, preciso de um copo com água.
— Claro Nina, só um minuto. Irei providenciar.
O rapaz entregou o copo com água gelada. Ela parou em frente ao balcão
do bar e ficou observando o movimento, tomou o comprimido que pegara na
lanchonete antes de subir e bebeu a água. Notou um cara estranho dançando
com uma loira estonteante, ele estava todo vestido de preto e quando olhou
para Nina, ela teve um frio na espinha, pareceu ver os olhos dele brilharem uma
cor avermelhada, ele sorriu, passando a língua nos lábios com um olhar maligno.
Ela piscou e voltou a olhar, ele não estava mais lá.
Devo estar ficando maluca, devo estar trabalhando demais! Pensou.
— Zeca eu vou descer, se precisarem de alguma coisa, mande me chamar.
— Pode ir Nina, cuido de tudo por aqui.
Quando passava pela lanchonete, Bia se aproximou.
— Onde estava? Venha, quero que conheça o Jorge.
Nina acompanhou a amiga até a mesa em que um rapaz estava sozinho
tomando uma cerveja.
Bia os apresentou, Nina falou rapidamente com ele e se desculpou por ter
que ir trabalhar, estava movimentado o lugar. Voltou em seguida para a loja de cd´s.
Quatro horas a Disco fechou.
Os funcionários se encontravam na lanchonete, depois de fechada, para
fazerem um lanche rápido.
— Vocês viram o jornal hoje? Estão achando que há um alienígena na cidade.
— Qual é Vera, alienígena?

Mônica Lopes de Mendonça - 17


— Não, ouvi dizer que é um vampiro. – Marcos comentou.
— Vocês estão todos malucos, deve ter alguma substância na água que
faz com que tenham essas ideias malucas, era o que faltava, anjos, alienígenas,
vampiros! Tenho que ir embora, não tenho tempo para essas bobagens. Nina,
eu vou embora com o Jorge, vamos passear um pouco, quer uma carona?
Podemos deixá-la na pensão.
— Não precisa Bia, eu vou caminhando, minha cabeça está fervilhando,
quero respirar um pouco antes de ir para casa.
— Você quem sabe, nos vemos mais tarde. E pessoal, parem de ficar
falando besteiras. A Nina já tem fantasias demais na cabeça.
Nina estava interessada na história.
— Que história é essa, pessoal? Contem direito. – Nina pediu curiosa
sentando esticando as pernas sobre outra cadeira.
— Ouvi dizer que noite passada cinco pessoas foram encontradas mortas
com mordidas no pescoço e nos pulsos, pelas feridas suspeitam que tenham
sido mordidas por algum animal feroz. – Marcos falou mordendo um sanduíche.
— Animal feroz? – Nina repetiu incrédula. – Na cidade? – Completou
seu pensamento.
— Só se for você, olha como você come! – Paula sorriu debochando dele.
— Sim, no noticiário da TV disseram que a causa tinha sido essa mesma.
Mas ouvi uma testemunha dizer que foi um alienígena que soltava fogo pelos
olhos e parecia um lobo. – Vera falou tomando um Milk-shake de morango.
— Vocês se impressionam fácil demais. – Lucas falou incrédulo. – No
máximo é um serial killer matando pessoas esperando entrar para a fama dos
bandidos mais cruéis. Existe louco para tudo.
— É verdade, o pior de tudo é que acham que seja um vampiro, porque
só ataca durante a noite. – Ana Maria falou séria.
— Animal, alienígena, vampiro, eu concordo com a Bia, vocês estão ficando
doidos, vou embora, nos vemos amanhã. – Lucas pegou a jaqueta e foi embora.
— Pessoal, eu também vou embora, boa-noite para vocês. – Nina falou
levantando-se.
— Não devia andar por aí sozinha essa hora da noite, Nina. – Marcos
falou olhando para ela.
— Não tenho medo Marcos, eu tenho proteção e fiz umas aulas de defesa
pessoal. Vejo vocês amanhã.
Nina pegou a bolsa e saiu. Caminhava lentamente pensando nos
comentários dos colegas na Disco. Respirava profundamente enchendo os
pulmões com o ar gélido da madrugada. Ouviu passos seguindo-a, olhou para
trás e não viu ninguém.

18 - Anjos Caídos
É tudo coisa da minha imaginação! Pensou apressando o passo.
Resolveu cortar caminho pelo beco que dava na rua superior à sua, entrou
com passos rápidos, aquele era o lugar mais perigoso do seu trajeto.
— Aonde a gatinha vai com tanta pressa?
Ouviu uma voz atrás dela. Não quis se virar e continuou andando rápido,
tentando alcançar o final do beco. Mas de repente dois rapazes entraram no
beco na direção contrária rindo alto e falando besteiras tentando assustá-la.
— Se querem dinheiro, estão perdendo tempo porque tenho apenas
alguns centavos na bolsa.
— Dinheiro ou diversão? Quem vai saber! – A voz atrás dela falou. Era
uma voz tenebrosa e Nina ficou com medo.
Os outros se aproximavam, ela não tinha como correr, como sair daquele
lugar, àquela hora da madrugada não havia ninguém por perto. Teria que se
virar sozinha. Arrependeu-se por não ter aceitado a carona de Bia. Uma mão
pesada em cada ombro a fez girar sobre os calcanhares, ficando frente a frente
com o dono daquela voz.
— Deixem-me em paz. – Falou nervosa olhando para aquele homem,
alto, forte com olhar ameaçador e dentes grandes afiados, ela o reconheceu,
era o cara estranho da danceteria.
— Se você for uma menina boazinha, não vai doer nada.
Nina viu os olhos dele mudarem de cor, ficaram vermelhos, começou a
gritar apavorada, não acreditava no que estava acontecendo, seria apenas mais
um dos seus pesadelos, não era real, repetia em sua mente. Seu corpo foi
ficando sem forças, era como se estivesse sob o efeito de alguma droga. Os
outros a seguraram, enxergava com dificuldade, apenas vultos esbranquiçados.
— Soltem-me, por favor, não tenho nada que possam querer. – Sua voz
era de terror e consumia o resto de forças que tinha no corpo.
— Não?! – O homem estranho soltou uma gargalhada. E segurou no
pescoço dela fazendo a veia saltar, passou o dedo lentamente sobre a veia
jugular. – Será mesmo que não tem nada que eu queira? – Falou irônico e
calmamente, tinha um sotaque estranho que Nina tonta não podia descobrir de
onde era, a mão fria dele em seu pescoço a fez ficar sem ar.
Meu Deus mande alguém, mande alguém. Ficava repetindo em seu
pensamento em completo desespero e torpor.
— Soltem-na agora. – Ouviu uma voz distante, já não conseguia ver as
coisas direito, parecia estar bêbada, drogada, foi jogada contra a parede caindo
sentada no chão. Tentava ver o que estava acontecendo, quem estava ali para
salvá-la, mas era difícil, apenas ouvia o som de vozes que ecoavam na sua
cabeça, como se estivessem bem distantes e via vultos irreconhecíveis. Balançou

Mônica Lopes de Mendonça - 19


a cabeça tentando enxergar alguma coisa, via que os três brigavam com uma
quarta pessoa, às vezes tinha a impressão que eles saiam do chão e flutuavam.
Depois de muito tempo ouvindo os barulhos e vendo aquelas imagens distorcidas,
viu apenas uma luz azul e um silêncio ocupou a sua mente. Alguém se aproximou,
Nina foi voltando ao normal, como se o efeito de alguma coisa estivesse perdendo
os poderes sobre seu cérebro.
— Consegue se levantar? – Ouviu a voz suave e grave do homem em pé
à sua frente. Ele estava vestido com uma roupa preta com sobretudo também
preto. Tinha os olhos negros, tão fortes e brilhantes que Nina ficou espantada,
jamais vira olhos daquela cor, eram bonitos e ela parecia hipnotizada por eles,
estava protegida, acalentada apenas com aquele olhar, mas não podia ver o
rosto de seu salvador. Ele usava uma máscara, parecia feita de mármore preto
com inscrições douradas em alto relevo, incompreensíveis... Aquele era seu
benfeitor, não estava entendendo nada mesmo que acontecera naquele beco,
deu de ombros para seus pensamentos.
— Consigo, estou melhor. – Pegou a mão que ele lhe oferecia para ajudá-
la a levantar.
Nina pegou a bolsa do chão e levantou-se. Ele era sério, mas tinha um
semblante calmo que transmitia paz. Nina não estava mais com medo ao seu
lado. Olhou para ele, era muito alto, parecia ter mais de dois metros, devia ser
algum jogador de basquete, deduziu.
— Obrigada por me salvar. – Falou se recompondo.
— Não devia ficar andando por aí, sozinha. – Falou com a voz suave
e serena.
— Eu moro na rua depois do beco, algumas vezes corto caminho por
aqui. Nunca ouvi dizer que essa parte da cidade fosse perigosa, há muito
movimento por aqui, não sei por que hoje a noite parece tão sombria, devem
ser esses boatos que andam correndo por aí de boca em boca. – Falou com o
corpo todo a tremer de nervoso e as pernas bambas pelo susto.
— Vou acompanhá-la até em casa. Para evitarmos outros problemas,
mas a partir de hoje seria mais prudente que fosse pela rua, mesmo que signifique
andar um pouco mais, sua segurança deve estar em primeiro lugar. – O
desconhecido falou polidamente acompanhando-a.
— Quem é você? – Perguntou tentando descobrir como seria seu rosto,
talvez perguntando ele tirasse a máscara para se apresentar.
— Considere-me um amigo. – Falou sem dar explicações.
— Mas qual é o seu nome? Você tem um nome, não tem? – Ela insistiu.
— Miguel. – Ele respondeu na mesma tranquilidade com a sua voz grave.
— Miguel? – Perguntou curiosa. – Porque está com essa roupa? –
Perguntou sem se dar conta da inconveniência da pergunta.

20 - Anjos Caídos
— Eu gosto de não ser identificado. – Falou caminhando ao seu lado.
Nina sentia uma coisa boa ao lado dele, uma energia inexplicável.
— Eu sou Marina, meus amigos me chamam de Nina, você salvou minha
vida. Ficarei grata por todo o sempre. – Pararam em frente à pensão. – Chegamos,
eu moro aqui.
Ele era misterioso, era estranho. Mas Nina estava encantada com aquele
homem. Parecia que já o conhecia.
— Vamos nos ver novamente? – Ela perguntou pegando a chave na bolsa.
— Talvez.
Nina se virou para abrir a porta, quando se voltou não havia ninguém, a
rua estava deserta, apenas uma folha de papel amassado deslizava empurrada
por uma brisa da madrugada. Seu coração disparou. Ficou alguns minutos ali
tentando entender o que estava acontecendo, mas achou melhor entrar, aquele
bairro estava começando a ficar perigoso, não queria encontrar aqueles homens
horríveis novamente.
Subiu as escadas com cuidado e trancou a porta do quarto. Estava assustada,
o que teria acontecido? Quem era aquele homem? Se é que era um homem.
Nina conhecia bem a história sobre o arcanjo Miguel. Ele seria um anjo?
Ou seria um vampiro? Ou nem uma coisa nem outra? O que ele seria então?
Não podia ser um simples homem, e mesmo sem enxergar direito conseguiu ver
que ele parecia voar. Não conseguia pensar em outra coisa, ficou parada
pensando em tudo que acontecera naquela noite, ninguém acreditaria. Ninguém!
Se ela própria que vivenciara, ainda não conseguia acreditar.
Ouviu um barulho na porta, Bia entrou animada. Tirando-a de seus
pensamentos.
— Ainda está acordada? – Perguntou animada com os sapatos de salto
alto na mão.
— Estou. – Respondeu ansiosa com a voz engasgada.
— Está branca e assustada como se tivesse visto fantasma! – Bia falou
olhando atentamente para a amiga.
— Antes fosse fantasma, eu estaria com menos medo.
— O que aconteceu? – Bia jogou a bolsa na cama e aproximou-se de
Nina segurando a mão fria da amiga.
— Não imagina o que aconteceu. – Falou ainda incrédula.
— Conte-me, se não, como vou saber? – Perguntou ansiosa com o seu
jeito irônico de costume.
Nina contou a história toda com detalhes.
— Está brincando! – Bia falou incrédula. – Está vendo no que dá você
ficar lendo esses livros? Já está até confundindo vida real com sonhos. Nina
essas coisas não existem.

Mônica Lopes de Mendonça - 21


— Existem sim Bia, eu os vi, se não fosse aquele sei lá o quê, homem,
anjo, jogador de basquete, eu estaria morta em alguma lixeira da cidade.
— Você fica acreditando nessas histórias que andam inventando por aí e
fica assim apavorada. – Levantou-se e foi até o armarinho do banheiro, pegou
um comprimido e trouxe para o quarto, encheu um copo com água e entregou
junto com o comprimido para Nina.
— Vai ajudá-la a dormir. Amanhã ainda é sexta-feira. Temos mesmo
que viajar, você já está ficando doida. Não vou mais deixá-la voltar sozinha
do trabalho.
— Eu sabia, ninguém vai acreditar. Se você que é a minha melhor amiga
não acredita em mim, quem vai acreditar? – Falou nervosa deitando na cama. –
Há algo acontecendo nessa cidade só não faço ideia do que é, mas vou descobrir.
— Eu acredito em você, agora durma e descanse, amanhã
conversaremos melhor, o que importa é que independente do que tenha
acontecido você está bem e em casa, aqui ninguém fará mal a você. – Falou
cobrindo a amiga, tentando consolá-la.
Bia deitou e ficou olhando para a amiga, com pena, ela era extremamente
romântica e vivia em um mundo de ilusões sem fim, aquela forma de ver a vida
acabaria magoando-a muito, e quem sabe até machucando-a fisicamente, mas
não podia fazer nada para ajudá-la, apenas ficar por perto sempre que precisasse.
Há algum tempo também acreditava em sonhos, mas a vida era cruel demais
para ser esquecida e agora vivia mais com os pés no chão, ainda tinha a esperança
de encontrar o homem certo. Porém, essa esperança diminuía mais e mais a
cada dia, porque a cada dia conhecia mais os homens e percebia que todos
eram iguais só mudavam alguns defeitos ou qualidades, tinha que escolher aquele
que tivesse os defeitos mais suportáveis, como não tinha muita paciência para
transformar sapos em príncipes, então preferia namorar sem se preocupar com
o que iria ser depois, sem se prender a sentimentos, vez ou outra acabava se
encontrando apaixonada pela pessoa errada, todas as pessoas de perto,
acabavam sendo erradas. Preferia acreditar que vivia a vida da melhor forma
possível, não dependia de ninguém, estava vivendo bem conforme suas
expectativas, não esperava muito, apenas queria ser feliz, da forma como fosse.
Mas, sua amiga sonhava alto demais e ser feliz não significava apenas viver
conforme os outros, seu mundo era confuso e nenhuma pessoa jamais iria superar
suas expectativas, ninguém conseguiria ser tão perfeito quanto ela esperava.
Não nesse planeta, não um humano. Bia sorriu com os seus próprios pensamentos
sobre a amiga, será que anjos e extraterrestres existem? Indagou irônica.

22 - Anjos Caídos
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