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Introdução
Justificativa
Consideramos que o design de interface sobre as imagens e narrativas da realidade social e dos
processos políticos tem caráter decisivo em termos da moldagem da reflexividade do discurso
público (Bardonne, 2010; Neves, 2012). Esta investigação parte da hipótese que estas práticas de
expressão política “distribuída” tem um caráter eminentemente abdutivo, introduzindo inovações na
esfera pública (Mendonça, 2007) que elas poderiam ser exponenciadas pelo desenvolvimento de
formas narrativas audiovisuais não-lineares como a do modelo de cibertexto (Aarseth, 1997),
propícias para a concretização de experiências de raciocínio diagramático coletivo (Hoffmann,
2003). Desta forma, poderiam catalisar semioses coletivas de “busca de entendimento” (Habermas,
1979, 1983, 1997, 2000a, 2000b) promovendo efetivamente um “progresso moral” (Honneth, 2003)
na cultura política e nos arranjos institucionais.
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
Cabe portanto, realizar, no plano da teoria: (A) A expansão intersemiótica da Teoria do Agir
Comunicativo, abordando os atos comunicativos não mais a partir da “sinédoque perversa” (Deely,
2001) da teoria dos atos de fala e das situações conversacionais, para que abordagem crítico-
reconstrutiva dirigir sua busca por potenciais emancipatórios imanentes às condições de dominação
atuais (Petherbrige, 2011) ao desenvolvimento e uso de artefatos retóricos audiovisuais e
telemáticos. (B) A reinterpretação dos processos de instauração de espaços de visibilidade coletiva
como evoluções agapásticas, de eclosão e extensão de redes artefactuais – reinterpretando as redes
sociotécnicas segundo uma matriz pragmaticista9. Ao abordar, a partir do conceito de redes
artefactuais, a multiestratificação das enunciações público-mediáticas, pretendemos lançar luz
sobre as implicações da heterogeneidade de éticas expressivas nas enunciações mediáticas (vide
Habermas, 1986, nota 47). (C) A exploração das ressonâncias entre as teorias semióticas sobre os
juízos perceptuais (Magalhães, 1998; Santaella, 1998) e a recente inflexão da teoria crítico-
reconstrutiva, admitindo a relevância decisiva dos processos inconscientes corporais vinculados a
"objetos transicionais" (sugerindo, por exemplo, um caráter político-prefigurativo da arte, cf.
Honneth, 2003, p. 172). (D) Será realizado um esforço para “processualizar” o conceito de
vindicação de validez ético-discursiva, reinterpretando a “evolução moral” honnethiana, implícita à
deriva histórica das lutas por reconhecimento, enquanto uma teleologia evolutiva (Hulswit, 2002)
relativa à semiose das condições históricas de institucionalização e transformação da
intersubjetividade. Isto segue, mais uma vez, a já mencionada processualização da teoria crítica,
empreendida por Honneth (Petherbridge, 2011). (E) Simetricamente, busca-se "orientar ao objeto",
a agorapoiese audiovisual cibertextual, a Retórica Especulativa peirceana, elaborando uma
reconstrução crítica do projeto pragmati(ci)sta, desde a “cisma” entre pragmatismo e
pragmaticismo, que resultou na abordagem “linguisticocentrica” da Teoria do Agir Comunicativo (a
ser contrastada a pansemiotica de Sebeok). Felizmente, apesar dos mal-entendidos entre Habermas
e alguns semioticistas peircanos, há alguns esforços de compatibilização, por exemplo da “semiose
dialógica” (Johansen). Da mesma maneira, há convergências notáveis, a serem elucidadas, entre
recentes desenvolvimentos do método reconstrutivo e do pragmatismo processual (deBrock e
Hulswit, 1994; Hulswitt , 2002; deBrock, 2003). (F) A partir do esforço de interpretação cruzada
exposta acima, pretende-se esboçar uma retórica das redes artefactuais, capaz de tratar as máquinas
raciocinantes como campo de disputa política, por sua relevância como recurso de agorapoiese e,
mais especificamente, de inovação de relações de coordenação de ação redefindoras das dimensões
de eticidade das relações intersubjetivas.
A partir dessa base, será possível tomar as práticas da inovação e do uso de artefatos retóricos como
enunciações, dotadas de pretensões de validez e inteligibilidade. A partir daí, especial relevância
política poderá ser atribuída às derivas do uso de artefatos por entusiastas, amadores, bricoleurs e
hackers, justificadas enquanto práticas de “luta por reconhecimento” dos públicos usuários
(Benkler, 2000; Levy, 2001; Himanen, 2001; Wark, 2004; Lewandowska, 2007).
9 Vide nota 7.
(a) Interpretantes público-políticos: a "interpretabilidade" dos atos comunciativos será
operacionalizada como interpretante imediato das semioses sociais; as tríades das condições de
validez (sinceridade intencional, veracidade conteudístico-proposicional e correção intersubjetiva),
como a tricotomia de interpretantes dinâmicos específica das semioses da esfera pública; as 3
dimensões do processo discursivo (condições, pretensões e vindicações de validez), compreendidas
como estágios do ciclo inferencial da metodêutica (Santaella, 2004).10
(b) Classes naturais de semioses público-políticas: A partir daí, por um lado, as tríades da ação
comunicativa (ação de busca de entendimento, ação consensual e discurso) passam a ser descritíveis
como classes naturais (Hulswit, 2002) dos processos inferenciais de satisfação de condições de
validez, enquanto a tríade de formas de ação estratégica (ação abertamente estratégica, ação
latentememente estratégica e comunicação sistematicamente distorcida) serão abordadas enquanto
classes naturais de semioses degeneradas, não-abdutivas.11 A partir daí, poderemos cotejar as
definições pragmaticista (Deely, 2001) e crítico reconstrutiva (Habermas, 1988) de Lebenswelt,
redefiniremos os vários modos de reflexivação do public address (Warner, 2002) segundo a maneira
como eles instauram distintas publicalidades12 ou seja, universos de discurso dotados de dimensões
de interpretabilidade e validez peculiares, que projetam dinâmicas reconhecimento intersubjetivo
igualmente específicas.
Estado da Arte
Metodologia
Será necessária a releitura das querelas entre Habermas (1995) e alguns semioticistas pragmaticistas
(Oehler, 1995; Tejera, 1996; Erhat, 2005), para esclarecer as prováveis limitações mútuas para
apreender a convergência de propósitos da pragmática universal e da retórica especulativa. Como já
dito, há que se ultrapassar as "sinédoques perversas", oriundas da filosofia analítica da linguagem,
na construção do modelo de ação comunicativa, a presunção de uma teoria “pós-metafísica”, as
dicotomais entre reconstrução e método experimental, humanidades e ciências naturais. Um ponto
de partida possível é a consideração do processo inferencial envolvendo atos de fala indiretos e de
sugestões posteriores, do próprio Habermas, e principalmente de Honneth, em direção à ampliação
“pan-simbólica” da Teoria do Agir Comunicativo. Uma outra frente de superação da fragmentação
histórica entre “os pragmatismos” provém da proposta do pragmatismo processual, e do modelo de
“semiose dialógica” (Johansen, 1993) que propiciará também contextualizar o desapreço de Peirce
pela política institucional, desimpedindo o uso de operadores pragmaticistas no exame de
fenômenos políticos. Por outro lado, para superar o preconceitos neo-
nominalistas/desconstrutivistas com a "busca por entendimento" e com a pespectiva de "evolução
moral" na deriva histórica, parece-nos promissor de conceber aquele conceito e esta hipótese,
respectivamente, como expressões de um tipo interpretante último e de uma “teleologia evolutiva”
(Hulswit, 2002) – que pretendemos examinar a partir da reconstrução da deriva ético-estilística do
cinema documentário.
14 O modelo liberal de democracia política sustenta-se pela integração de (a) arranjos indutivos de representação da
vontade política coletiva, tipicamente republicano-comunitaristas (mandatos não-imperativos, elites e "classes"
políticas, decisões por maioria, índices de "opinião pública" baseados em estatísticas, mídias e públicos de massa,
classes sociais economico-politicamente definidas); e de (b) arranjos dedutivos, de definição do bem coletivo, a
partir de princípios supostametne transcencentais de organização social, tipicamente elitistas-liberais que
pressupõem como necesárias: a definição individual de direitos, responsabilidades e accountabilities políticas;
distinção entre público e privado; propriedade dos sujeitos produtores sobre seu tempo de vida e/ou dos produtos do
seu trabalho; pressuposição da originalidade da subjetividade individual; identificação da política como
concorrência agonística entre perspectivas estanques (representadas por elites políticas concorrentes); poder como
relação hierárquica entre os sujeitos; distinção entre ação comunicativa e ação estratégica; identificação dos
automatismos admininistrativos à “racionalidade instrumental”; entendimento de “estratégia” como ação unilateral,
coercitiva, alienante e ardilosa)
mecanismos de linguagem que atuam na produção das trocas simbólicas e cristalizações de sentido
que circulam socialmente.”15 Compartilhamos a abordagem processual dos fenômenos
comunicativo-mediáticos (“foco na enunciação”), dando um viés à “reflexão sobre os princípios que
fundamentam as formas estéticas midiáticas”, enquanto poéticas político-prefigurativas. Ao
buscarmos reunificar, não só no plano teórico, mas também prático-poético as contribuições de
diversas tendências do pragmatismo, pressupomos efetivos os “condicionamentos cognitivos
envolvidos na utilização de dispositivos digitais” no plano da consubstanciação de publicalidades e
de formas variadas de reflexividade pública, pelo que, evidentemente, concerne diretamente a esta
pesquisa “investigar novas formações cognitivas e ou de subjetivação relacionadas (…) às
ambiências digitais na contemporaneidade.” Propomos exatamente, produzir inovações em termos
de metodologias de “análise da linguagem tanto das produções veiculadas pelos sistemas midiáticos
já estabelecidos quanto das experiências mais radicais de criação, como a videoarte e a web-art”,
justamente para propiciar a emergência de novos circuitos de reflexividade discursiva capazes de
transformar a discrepância entre a topologia distribuída e horizontal das interações mediadas por
computador e os processos deliberativos vigentes centralizados e hierárquicos – em severa crise de
legitimidade em todo o mundo –, em favor de arranjos retóricos, não só comunicativo-mediáticos,
mas também políticos, mais participativos e inovadores.
Cronograma
15 Nesta manifestação de adesão aos propósitos da linha de pesquisa “Linguagem e mediação sociotécnica” e do grupo
de pesquisa “Poéticas Audiovisuais Contemporâneas: Dispositivo e Temporalidade”, tomamos a liberdade de
utilizar trechos do material disponibilizado no site do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da
PUC-Minas.
Referências Biblográficas