EQUILÍBRIO QUÍMICO
META
Apresentar os principais conceitos envolvidos no equilíbrio eletroquímico, mostrando as
relações entre energia de Gibbs e potencial da pilha/célula. Compreender e ser capaz de
usar a equação de Nernst.
OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
compreender o conceito de meia-reação e como usá-lo nas reações redox;
compreender a reação da célula e o potencial da célula, tanto quanto a relação entre
potencial da célula a corrente zero e a energia de Gibbs da reação;
compreender o desenvolvimento da equação de Nernst para a dependência do potencial da
célula a corrente zero sobre a composição da célula;
compreender e calcular as funções termodinâmicas a partir de medidas
de potencial da célula.
PRÉ-REQUISITOS
entendimento dos princípios que regem o equilíbrio químico;
conhecimentos básicos de eletroquímica, como reações de
oxidação-redução e equação de Nernst;
conhecimentos básicos do cálculo diferencial e integral.
Kleber Bergamaski
Físico-Química 2
INTRODUÇÃO
(Fonte: http://www.gettyimages.com)
90
Equilíbrio eletroquímico Aula 7
cobre (II), produzindo átomos de cobre e íons zinco em solução. Nenhuma
corrente elétrica é produzida por este sistema porque os reagentes estão em
contato direto. Se pudermos de alguma forma manter os reagentes sepa-
rados, podemos fazer os elétrons dos átomos de zinco percorrer através
de um condutor metálico para alcançar os íons cobre (II). O arranjo ex-
perimental que nos permite fazer isso é a célula eletroquímica. Uma célula
eletroquímica para a equação 7.1 é mostrada na Figura 1.
Figura 1: Desenho esquemático de uma célula eletroquímica usando uma ponte salina. [1]
91
Físico-Química 2
MEIAS-REAÇÕES E ELETRODOS
92
Equilíbrio eletroquímico Aula 7
REAÇÕES EM ELETRODOS
Em uma célula eletroquímica, o anodo é onde ocorre a oxidação
enquanto o catodo é onde ocorre a redução. Quando uma reação procede
em uma célula galvânica, os elétrons liberados no anodo viajam através do
circuito externo (Figura 2). Eles reentram na célula pelo catodo, onde eles
promovem a redução.
Figura 3: O fluxo de elétrons e íons em uma célula eletrolítica. Uma fonte externa força os elétrons
para o catodo, onde são usados para conduzir a redução, e os retira do anodo, levando a uma reação
de oxidação neste eletrodo.
93
Físico-Química 2
Figura 5: Esquema de um eletrodo de prata – cloreto de prata. O eletrodo é formado por prata metálica
revestida com uma camada de cloreto de prata em contato com uma solução que contém íons Cl-.
94
Equilíbrio eletroquímico Aula 7
Um exemplo é o eletrodo de prata-cloreto de prata, Ag(s)|AgCl(s)|Cl-
(aq), para o qual a semi-reação de redução é:
Figura 6: Esquema de um eletrodo redox. A platina metálica atua como fonte ou sumidouro de
elétrons, sendo necessária para a Interconversão (neste caso) dos íons Fe2+e Fe3+em solução.
O POTENCIAL DA PILHA
Uma célula galvânica realiza trabalho elétrico quando a reação im-
pele elétrons através de um circuito externo. O trabalho feito por uma dada
transferência de elétrons depende da diferença de potencial entre os dois
eletrodos. Essa diferença de potencial é medida em volts (V, onde 1 V = 1
95
Físico-Química 2
Figura 7: O potencial de uma pilha é medido equilibrando a pilha contra um potencial externo que
se opõe à reação na pilha. Quando nenhuma corrente circula, a diferença de potencial externa é
igual ao potencial da pilha.
96
Equilíbrio eletroquímico Aula 7
Um nome alternativo para esta quantidade, na qual formalmente foi
chamada de força eletromotriz (fem) da célula, é potencial da célula a
corrente-zero. Na prática, tudo que precisamos fazer é medir a diferença de
potencial com um voltímetro que deixa circular uma corrente negligenciável.
A relação entre o potencial da célula e a energia de Gibbs da reação
da célula é:
-ƭ FEcel = ¨rG (7.3)
97
Físico-Química 2
PILHAS NO EQUILÍBRIO
Um caso especial da equação de Nernst tem uma grande importância
em eletroquímica. Suponha que a reação tenha alcançado o equilíbrio; então
Q = K, onde K é a constante de equilíbrio da reação na célula. Porém,
uma reação química no equilíbrio não pode realizar trabalho, e então gera
diferença de potencial zero entre os eletrodos de uma célula galvânica.
Portanto, considerando E = 0 e Q = K na equação de Nernst dá:
ƭ FE0
ln K = RF (7.6)
98
Equilíbrio eletroquímico Aula 7
Note que
Se Ecel > 0, então K > 1 e no equilíbrio a reação da célula favorece os
produtos.
Se Ecel < 0, então K < 1 e no equilíbrio a reação da célula favorece os
reagentes.
Por exemplo, como o potencial padrão da célula zinco/cobre é:
POTENCIAIS DE REDUÇÃO
99
Físico-Química 2
100
Equilíbrio eletroquímico Aula 7
ELETRODO DE HIDROGÊNIO E PH
O potencial de um eletrodo de hidrogênio é:
E(H+/H2) = E0 (H+/H2) - RT ln Q
2F
+ 01/2
RT ln a (H )p
F f (H2) 1/2
Essa expressão faz sentido fisicamente. Aumentando a atividade dos
íons hidrogênio (decrescendo o pH) aumenta a tendência dos íons positivo a
descarregar no eletrodo, e assim podemos esperar que seu potencial torna-se
mais positivo. Como a atividade do íon encontra-se no numerador do termo
logarítmico, a equação prediz que E aumenta quando a (atividade) aumenta.
O potencial do eletrodo de hidrogênio é diretamente proporcional ao
pH da solução. Assim, se f = p0 (tanto que a fugacidade do hidrogênio é
1 bar), pode-se usar:
para obter:
E(H+/H2) = - 2,303RT pH
F
E(H+/H2) = - 59,16mV x pH
101
Físico-Química 2
A SÉRIE ELETROQUÍMICA
Red1 tem tendência termodinâmica a reduzir Ox2 se E01 é menor que E02. .
102
Equilíbrio eletroquímico Aula 7
por uma reação de interesse, podemos obter a energia de Gibbs padrão da
reação. Se estivermos interessados no estado padrão biológico, devemos
usar a mesma expressão mas com o potencial padrão da célula no pH = 7
- -
( ¨rG = - ƭFEcel ).
ƭE(Ecel - E'cel )
¨rS = (7-7)
T-T '
Pode-se ver a partir da eq. 7.7 que o potencial padrão da célula aumenta
com a temperatura se a entropia padrão da reação é positiva, e que a
inclinação de um gráfico de potencial contra temperatura é proporcional à
entropia da reação (Figura 8). Uma implicação é que se a reação da célula
produz muito gás, então seu potencial aumentará com a temperatura. O
contrario é verdadeiro par uma reação que consome gás.
Figura 8: A variação do potencial padrão de uma pilha com a temperatura depende da entropia
padrão da reação da pilha.
103
Físico-Química 2
CONCLUSÃO
Nesta aula podemos verificar os principais conceitos envolvidos no
estudo do equilíbrio eletroquímico. Aprendemos como relacionar, quanti-
tativamente, a concentração dos íons em solução com o potencial da célula.
E ainda, que podemos usar medidas eletroquímicas para calcular grandezas
termodinâmicas, como energia de Gibbs e entalpia da reação em questão.
RESUMO
Nesta aula você viu que a aplicação da termodinâmica nos sistemas
eletroquímicos nos ajuda a entender potenciais em condições não padrão
e nos dá sua relação com a constante de equilíbrio e o quociente de reação.
Aprendemos também a calcular as propriedades termodinâmicas (G, S e
H) a partir de medidas do potencial da célula.
PRÓXIMA AULA
Na próxima aula você irá aprender sobre físico-química de superfí-
cies. Você verá que as interfaces e superfícies apresentam propriedades
diferentes daquela do volume do material e a compõe, com por exemplo,
tensão superficial.
REFERÊNCIAS
ATKINS, P. W.; Físico-Química - Fundamentos, 3 ed., Editora LTC, São
Paulo, 2003.
BALL, D. W.; Físico-Química, Vol. 1, Editora Cengage Learning, São Paulo,
2011.
104
Equilíbrio eletroquímico Aula 7
CASTELLAN, G.; Fundamentos de físico-química, Editora LTC, São
Paulo, 1972.
MCQUARRIE, D. A., SIMON, J. D., Molecular Thermodynamics, Univer-
sity Science Books, California, 1999.
105