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II Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra e IV Simpósio Nacional O Ensino de Geologia no Brasil
1 a 5 de Novembro de 2009 – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo

APRESENTAÇÃO

As Geociências no Brasil encontram-se em situação única, com a crescente


implementação de projetos educacionais e de divulgação, com destaque para a criação de
cursos de licenciatura na área, uma vez que os temas ligados às Ciências da Terra são
praticamente inexistentes na educação básica, ao contrário do que ocorre em outros países.
O presente simpósio vem ao encontro dessa conjuntura como espaco privilegiado para
apresentações do que vem sendo realizado em Ensino de Geociências, sendo essa nossa
contribuição ao final das atividades do Ano Internacional do Planeta Terra
(AIPT), como forma de mostrar à Sociedade a complexidade e fragilidade do planeta que
habitamos.
Este evento possibilita a apresentação das atuais tendências e profunda reflexão e
fortalecimento dessa linha de pesquisa.
É um momento especial para diagnosticar o que vem sendo feito no Brasil a fim de
direcionar as novas políticas de fomento em Ensino e Divulgação das Geociências.
Gostaríamos de agradecer à Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP), Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP, PETROBRAS, Instituto de
Geociências da UNICAMP, Sindicato dos Geólogos no Estado de São Paulo (Sigesp), Geo
Júnior e Sociedade Brasileira de Geologia (SBG) pelo apoio financeiro recebido; aos relatores
da Comissão Científica que analisaram criteriosamente os trabalhos submetidos e aos
funcionários do Instituto de Geociências da USP que possibilitaram a realização do referido
evento.
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II Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra e IV Simpósio Nacional O Ensino de Geologia no Brasil
1 a 5 de Novembro de 2009 – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo

HISTÓRICO

A formação de professores em Geociências constitui instrumento importante para


ampliar o ensino de Geociências e promover gradual inserção de conteúdos geocientíficos na
Educação Básica. Isso se tornou possível com a criação de dois cursos de graduação na
Universidade de São Paulo (USP): a Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental
(LiGEA), criada em 2004 no Instituto de Geociências, e a Licenciatura em Ciências da
Natureza (LCN), criada em 2005 na Escola de Artes, Ciências e Humanidades. Estes cursos
pretendem formar profissionais educadores que possam contribuir no ensino de Ciências
Naturais com conteúdos geocientíficos, somados a conteúdos de Geografia e de Biociências,
para formar cidadãos conscientes, críticos e responsáveis, comprometidos com o futuro da
Sociedade.
Em 2007 realizou-se em Campinas, SP, o I Simpósio de Pesquisa em Ensino e História
de Ciências da Terra e o III Simpósio Nacional “O Ensino de Geologia no Brasil”,
promovidos pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino e História das Ciências da Terra
(PEHCT) do Instituto de Geociências da Unicamp. Ao completar 10 anos de sua criação
naquele ano, o programa PEHCT considerou oportuno debater os resultados do trabalho
desenvolvido por docentes e alunos e avaliar o grau de amadurecimento da pesquisa; tal
marco simbólico seria motivação para evento dessa natureza, aberto a membros da
comunidade nacional e internacional, e que deveria abrir novas perspectivas para
desenvolvimento do Programa de Pós-Graduação.
Nas reuniões examinaram-se modelos de currículo, programas e questões centrais de
história, do ensino e da aprendizagem que envolvem o conhecimento da natureza.
Houve pouco mais de uma centena de inscritos, que ofereceram 73 comunicações
técnicocientíficas, assistiram a duas mesas-redondas notáveis sobre os temas centrais dos
simpósios, e participaram de três viagens de campo bastante concorridas.
Em 2009, o número de inscritos e comunicações técnicocientíficas foi similar. O
evento conta com dez conferências de especialistas nacionais e internacionais, 2 mesas-
redondas, quatro atividades de campo e cinco oficinas.
Esperamos assim que o evento contribua nas discussões desta importante linha de
pesquisa.
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ÍNDICE

Ensino e História de Ciências da Terra

Elaboração de saberes na prática interdisciplinar de ensino-aprendizagem com foco na


questão de micro-bacia urbana através de trabalhos de campo
Laerte Alberto Júnior; Carmem S. Cavotti; Ricardo I. Batista Jr.; Carla G. Panzeri

Circulação de discursos sobre o Ciclo do Carbono: a constituição dos discursos escolares em


meio a outros discursos
Cristiane Oliveira de Barros; Henrique César da Silva

A Utilização de Blogs na Formação de Professores Para O Ensino de Ciências


Gláucia Silva Bierwagen

Integrando as habilidades do cientista às do pedagogo na promoção da enculturação científica


Maria Helena Blasbalg; Agnaldo Arroio

A Natureza da Ciência e o Cinema: Relações Possíveis para o Ensino de Ciências


Vinícius Conte; Edson R. Santana; Agnaldo Arroio

O que a História da Ciência Oferece para a Formação de Professores de Geociências?


Pedro Wagner Gonçalves; Natalina A. L. Sicca; Maurílio A. R. Alves; Jesus A. Ribeiro;
Maria Ângela Garófalo

A história dos currículos escolares de Ciências e Geografia com ênfase nos conhecimentos
geológicos
Aline de Freitas Leal

O Projeto de Extensão Materiais Didáticos para o Ensino de Geologia


Juliana Maria Costa Malheiros; Doris Ketzer Montardo

O fundo do mar e o processo civilizatório


José Roberto Serra Martins; Celso Dal Ré Carneiro
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A Teoria de Wegener e sua cientificidade segundo Karl Popper


Edvaldo José de Oliveira

Um olhar CTSA no imaginário de estudantes de Biologia sobre os processos terrestres no


contexto de uma disciplina de Geologia
Terezinha Chagas Carneiro Pessoa; Henrique César da Silva

O Trabalho do Paleontólogo Frederico Waldemar Lange (1911-1988) no Museu Paranaense


entre 1941 a 1955
Drielli Peyerl; Edson Armando Silva; Elvio Pinto Bosetti

Recursos Minerais nos Séculos XVI/XVII: Ferro e Ametista no Antigo Guairá (1557-1632)
Jefferson de Lima Picanço

Histórias em quadrinhos e professores de Ciências: reflexões sobre essa relação


Edson R. Santana; Agnaldo Arroio

Inovações didáticas como possibilidades interdisciplinares no contexto de um Projeto de


Formação Continuada
Fernanda Keila Marinho da Silva

Ensino de Geociências
La transposición didáctica de la teoria de convección en el manto terrestre en el nivel
universitario superior.
Leonor Bonan

Muros: os contrastes da cidade norteando práticas interdisciplinares sobre o processo de


urbanização e as relações sociais
Ederson C. Briguenti; Patricia N. Santos; Ofelia Ortega; Carlos A. Vaccari; Vania Amaral

El trato con el conocimiento em la asignatura Geología General en el curso de Geografía del


Campus do Pontal de la Universidade Federal de Uberlância (MG): un relato de experiencias
Carlos Roberto A. Candeiro; Gerusa G. Moura; Sérgio I. Nunes; Francielle Amâncio-
Pereira
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Reflexão crítica sobre a cultura das Ciências da Terra no ensino fundamental: a Proposta
Curricular de Geografia para Minas Gerais
Celso Dal Ré Carneiro; Vlander Verdade Signoretti

Pensamento e desenvolvimento da linguagem no aprendizado de Geologia


Sérgio Brandolise Citroni; Heitor Fernandes Mothé Filho

Sistemas Orbitais utilizados em Projetos de Educação e Meio Ambiente no Brasil


Cristina Criscuolo; Marcos Fernando Ninomiya; Daniel Lomba Nicastro

O conhecimento das Geociências e os currículos e sistemas avaliativos nacionais da educação


básica: relações, limitações e possibilidades
Gabriel Guimarães Facuri; Yara Kulaif

Uma reflexão sobre as possibilidades e limitações da inserção de temas de Geociências na


disciplina de Biologia
Gabriela Finco; Yara Kulaif

Textualização de temas geocientíficos pelo Enem


Daiane Martins Galvão; Henrique César da Silva

Como ensinar conceitos de minerais e rochas a alunos de Geologia e Geografia?


Pedro W. Gonçalves; Celso Dal Ré Carneiro; Carlos A. Lobão da S. Cunha; Oscar B. M.
Negrão

Análise da disciplina de Sistema Terra na Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental


Luis Anselmo Costa Nascimento Ifanger; Ermelinda Moutinho Pataca

Concepções dos estudantes sobre conceitos que embasam a compreensão de mudanças


climáticas
Nisia Krusche; Eliane Cappelletto; Natalia Pereira

Como construir um currículo a partir de uma abordagem ambiental do Ciclo da Areia?


Mirian M. Alberto de La Corte; Reino Luiz De Figueiredo
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A Disciplina de Geologia Ambiental do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental


(CESCAGE-PR)
Isonel Sandino Meneguzzo

Considerações sobre o conhecimento de Geologia nos livros didáticos de Geografia do ensino


fundamental
Isonel Sandino Meneguzzo; Paula M. Meneguzzo; José Alexandre da Silva

A Caminhada ou Corrida de Orientação Aplicada ao Ensino das Noções de Espaço


Geográfico e sua Representação.
Doris Ketzer Montardo

Paleontologia em Livros Didáticos de Ciências de 1ª a 4ª Séries do Ensino Fundamental


Aprovados no Pnld/2007: Discussão de Critérios Para Análises
Rafael Cava Mori; Arthur Coculo Pavese

O ciclo da areia na perspectiva da comunidade: uma das fases do processo de elaboração de


uma inovação curricular apoiada nas Ciências do Sistema Terra
Ana Rosa Jorge de Souza, Aparecida Bacha, Glauco Rodrigo Ribeiro Trepador

A Presença do Evolucionismo e do Criacionismo em Disciplinas do Ensino Médio: uma


Visão sob a Ótica dos professores
Carina Merheb de Azevedo Souza

A inserção de conteúdos de Geologia na formação de professores de Ciências: a experiência


da USP na Escola de Artes, Ciências e Humanidades, de 2005 a 2009
Maria Cristina Motta de Toledo

Ensino de Geociências e Educação Ambiental


Elaboração de maquetes topográficas: uma experiência com alunos da Licenciatura em
Geociências e Educação Ambiental
Cibele Hummel do Amaral; Fabrício Bau Dalmas; Arlei Benedito Macedo

A Compreensão da escala espacial no ensino-aprendizagem do relevo: contribuição


metodológica a partir do relevo de Belo Horizonte
William Zaneti Bertolini; Vilma Lúcia Macagnan Carvalho
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Água e nascentes de rios: desafio da abordagem educativa de uma temática das Ciências da
Terra para alunos da pré-escola
Christine L.M. Bourotte

O Ensino Baseado em Problemas (EBP) no Ensino Fundamental em Vila Barra do Una -


Estação Ecológica Juréia-Itatins - a manutenção da cultura local e o uso sustentável dos
recursos naturais a partir do Ensino de Geociências e da Educação Ambiental
John Wilhelm Anton Donner Junior; Rosely Aparecida Liguori Imbernon; Vânia Maria
Nunes dos Santos

A colaboração online em projeto envolvendo conhecimentos geobiocientíficos


Gabriel G. Hornink; Maurício Compiani

Atividades de campo na disciplina de Geografia: a prática dos professores do ensino médio do


município de Ponta Grossa, PR
Rosangela Justen; Celso Dal Ré Carneiro

Uma experiência de transmissão de conhecimentos sobre desastres naturais para alunos do


ensino fundamental
Eduardo S. de Macedo; Marcelo F. Gramani; Fabrício A. Mirandola; Fabiana C. Silva;
Maria Esther Toledo

Sustentabilidade e planejamento urbano em microbacias hidrográficas: ensino e aprendizagem


na 9º série do ensino fundamental
Luciano Rodolfo Machado; Maurício Compiani

O estágio na formação inicial em Geociências e Educação Ambiental: contribuições para um


currículo em permanente (re) construção
Elder de Lima Magalhães; Ermelinda Moutinho Pataca

Origem, consumo e descarte de materiais terrestres: uma experiência educacional em aulas de


geografia para o 9° ano da educação de jovens e adultos
Veridiana Martins; Nídia Nacib Pontuschka

Formação do professor pesquisador e o LiGEA: o estudo da disciplina Introdução à Educação


Ambiental com Ênfase em Geociências
Naiane Pereira de Melo; Ermelinda Moutinho Pataca
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II Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra e IV Simpósio Nacional O Ensino de Geologia no Brasil
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A Educação ambiental nas séries iniciais do ensino fundamental II e o potencial das práticas
pedagógicas interdisciplinares
Valdete Ramos de Oliveira Melo; Magali Andrade Barbosa

Nossa história na terra: oficina teórico-vivencial para adultos e adolescentes – Relatos


Anete Maria de Oliveira; Maria Augusta S. de Melo

A educação ambiental desenvolvida no âmbito do Projeto Ribeirão Anhumas na escola


Carla Gracioto Panzeri; Gabriel Gerber Hornink

Educação ambiental no contexto do Movimento Escoteiro – a preservação e conservação dos


recursos hídricos
Christiane Moroni Paolillo; Rosely Aparecida Liguori Imbernon

Relações entre teoria e prática no Curso de Licenciatura em Geociências e Educação


Ambiental (LIGEA - USP)
Ermelinda Moutinho Pataca; Denise de La Corte Bacci; Elen Cristina Faht

Geografia no ensino fundamental: o emprego do material didático do Governo Paulista


João Luiz Pegoraro; Mary Domingos da Silva; Jomar Barros Filho

Geoparques e a educação em Ciências da Terra


Joseli Maria Piranha; Eliane Aparecida Del Lama; Denise de La Corte Bacci

O valor didático da maquete com material reciclável


Jessika Flückiger Dupré Rabello; Juliano Luque Leme; Diego Hernane de Freitas Souza

Reflexão e cidadania na formação de alunos na disciplina de Ciências da Natureza do Ciclo


Básico da Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH-USP
Juliana Rodrigues, Rosely Aparecida Liguori Imbernon

Aspectos didático-pedagógicos do Ensino de Geociências para os Cursos Técnicos em Meio


Ambiente
Gleise Regina Bertolazi dos Santos; Celso Dal Ré Carneiro

Química e Hidrosfera: O estudo do ciclo da água a partir do local


Maria José dos Santos; Natalina A. Laguna Sicca
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Uma experiência interdisciplinar com bacia hidrográfica em uma escola pública


Carlos Alberto Sato

Divulgação das Geociências


Roteiro geoturístico no centro da cidade de São Paulo
Wilian Carlos Batista Augusto; Eliane Aparecida Del Lama

Aquífero e o Ciclo da Água: Ensino de Matemática baseado nas Geociências


Maria Bernadete de Siqueira Canesin; Pedro Wagner Gonçalves

Análise de sítios em Geociências e avaliação de materiais didáticos geológicos na Internet


Celso Dal Ré Carneiro; Giseli S. Ramos

Modelos tridimensionais do Aquífero Guarani: um recurso valioso para ensino de


Geociências
Celso Dal Ré Carneiro; Henrieth Viviane Borgo de Oliveira

Geociências virtual: construindo uma comunidade online


Gabriel G. Hornink; Eduardo K. Kimura; Eduardo Galembeck; Maurício Compiani

Curiosidades sobre Geofísica: aprendizado em grupo


Roberta L. Medeiros; Edér C. Molina

A utilização do origami no ensino das Geociências


Diogo Jorge de Melo; Vinicius de M. Monção; Deusana M. da Costa Machado; Silvilene B.
R. de Morais

Do mito à natureza: educar o olhar para as Ciências da Terra


Maria José Mesquita, Luiz Alberto Fernandes, Tatiane Hamerscmidt, Rafael França de
Mattos, Fábio Berton, José Eduardo Francisco Morais, Fabiane Aline Acordes, Heloisa
Dmeterko, Patrícia Ruth Ribeiro, Marcell Leonard Besser, José Carlos Ribeiro, Danielle
Cristina Buzatto Schemiko, Angela Lucia da Silva, Giovana Marques da Cruz, UFPR,
Jefferson de Lima Picanço
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II Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra e IV Simpósio Nacional O Ensino de Geologia no Brasil
1 a 5 de Novembro de 2009 – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo

Jogos didáticos como instrumentos de ensino de conteúdos de Geociências na educação


básica
Doris Ketzer Montardo; Talita D. Saue; Tamara P. Rosa

Cartilha Educativa: uma ferramenta pedagógica para a divulgação da Paleontologia na cidade


de Porto Velho, Rondônia
Cassiana P. Perez; Michelle M. Tizuka; Ednair R. do Nascimento; Renato Kipnis

Elaboração de Escala do Tempo Geológico 3D


Jessika Flückiger Dupré Rabello; Juliano Luque Lemes, Diego Hernane de Freitas Souza

As diferentes concepções de “Natureza” e “Meio Ambiente” na percepção dos processos do


Sistema Terra
Joseane Aparecida Euclides dos Santos; Rosely Aparecida Liguori Imbernon

Discurso da linguagem dos gráficos e geociências nas provas do ENEM: um esboço de


análise
Edson Roberto de Souza; Henrique César da Silva
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ELABORAÇÃO DE SABERES NA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR DE ENSINO-


APRENDIZAGEM COM FOCO NA QUESTÃO DE MICRO-BACIA URBANA
ATRAVÉS DE TRABALHOS DE CAMPO

ELABORATION OF KNOWLEDGE IN THE PRACTICE OF INTERDISCIPLINARY


TEACHING AND LEARNING WITH FOCUS ON THE ISSUE OF URBAN MICRO-
WATERSHED THROUGH FIELD WORK

Laerte Alberto Júnior¹, Carmem Silvia Cavotti², Ricardo Inácio Batista Júnior³, Carla
Gracioto Panzeri4
¹IG – Unicamp, laerteajunior@ig.com.br

²IG – Unicamp, carmemcavotti@click21.com.br


3
IG – Unicamp, batistaster@gmail.com
4
IG – Unicamp, panzeri@ige.unicamp.br

Resumo: O presente trabalho é fruto de um grupo de professores vinculados ao “Projeto


Conhecimentos Escolares relacionados à Ciência, à Sociedade e ao Ambiente em Micro-Bacia
Urbana”, cuja aplicação se deu na EE “Adalberto Nascimento”, localizada no município de
Campinas e teve como objetivo resgatar a perspectiva do indivíduo (aluno) na produção do
conhecimento escolar, utilizando-se uma concepção em que o conhecimento se estabelece
dentro de uma dinâmica relacional, no nosso caso foi buscar compreender a maneira como o
aluno construiu e se apropriou do conhecimento histórico-social do seu local. Buscando
compreender, ainda, as relações entre a questão ambiental e o local, utilizando-se para isso a
dinâmica interdisciplinar e a abordagem do levantamento de ideias prévias nas aulas que
denominamos integrativas/formativas e nos campos investigativos.

Palavras-chave: Local-Regional, Interdisciplinaridade, Levantamento de idéias previas, aulas


integrativas/formativas, campo investigativo.

Abstract: This work is the result of a group of teachers linked to the "School Project
knowledge related to science, society and the Environment in Urban Micro-Watershed",
whose application was in EE "Adalberto Nascimento, located in Campinas and had aimed to
rescue the perspective of the individual (student) in the production of school knowledge, used

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to do a design in which knowledge is established in a dynamic relationship, in our case was to


seek to understand how a student built and appropriated the social-historical knowledge of
their place. Seeking to understand, yet the relationship between environmental issues and
local, using the momentum for this interdisciplinary approach of Survey of previous ideas and
in class we call integrative/training and in the fields research.

Keywords: Local-Regional, Interdisciplinarity, Survey of previous ideas, integrative teaching


/ learning, field research.

INTRODUÇÃO
Durante este ano de 2008, na EE Adalberto Nascimento pertencente à Diretoria de
Ensino/Leste da cidade de Campinas/SP, tivemos como um dos objetivos do projeto buscar
constituir-nos de maneira prática em professores-pesquisadores por meio da investigação da
nossa ação pedagógica no âmbito do “Projeto Conhecimentos Escolares relacionados à
Ciência, à Sociedade e ao Ambiente em Micro-Bacia Urbana”, coordenado pelo Professor
Maurício Compiani1, que conta com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo (doravante Fapesp), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) e do Programa Petrobrás Ambiental da Petróleo Brasileiro S/A
(doravante Petrobrás). Além destes contamos com as seguintes parcerias: Instituto
Agronômico de Campinas (IAC), Instituto de Biologia (IB) – Unicamp, Instituto de
Geociências (IG) – Unicamp e a Faculdade de Educação (FE) da USP. Neste trabalho
procuramos demonstrar e analisar de que maneira a ação pedagógica propiciada pelo Projeto,
através dos eixos temáticos de Interdisciplinaridade, Local/Regional, Educação Ambiental e
CTSA2 e seus aportes profissionais, institucionais e materiais tiveram sua aplicabilidade em
duas realidades distintas entre escolas públicas estaduais.
No ano de 2007, na EE “Adalberto Nascimento” dividimo-nos em subgrupos
buscando, através de afins metodológicos e concepções de saberes, uma ação reflexiva que
fosse produzindo um processo interdisciplinar de ensino-aprendizagem. Esta construção teve
como dinâmica novas ações em sala de aula nas diferentes disciplinas e subgrupos que
posteriormente foram compartilhadas nas reuniões de grupo do projeto, foi um ir e vir
constante na troca de experiências. Os subgrupos são: Ensino Fundamental: Magali, Sandra,

1
Livre-Docente do Instituto de Geociências da Unicamp
2
CTSA = Abordagem Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente

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Valdete e Eduardo; Formas do Espaço: Carlos e Darlene; e Olhares: Carmem, José Ricardo,
Laerte e Ricardo. A ação de cada subgrupo teve como perspectiva a construção de um
currículo local, envolvendo as temáticas de Educação Ambiental e CTSA.
A construção do subgrupo Olhares, Caminhos e Fazeres se deu, ao longo do semestre,
de forma coletiva e articulada com o grupo de professores do projeto e com os professores da
E.E. “Adalberto Nascimento” que não fazem parte diretamente do projeto, mas que nos
auxiliaram na construção de um projeto de escola e não um projeto para a escola.
A proposta inicial do subgrupo Olhares era refletir sobre a ocupação e uso do solo sob
o viés sócio-ambiental local, a partir dos olhares institucionais e da comunidade, a fim de que
se verificasse se os impactos ambientais foram decorrentes da urbanização em áreas de
preservação permanente (APP), como cabeceiras e nascentes de rios.
Foi com a perspectiva interdisciplinar que se deu a escolha dos alunos que
participaram do projeto, a saber: 1ª série do Ensino Médio, turma C, onde lecionavam os
professores Carmem (Geografia), José Ricardo (Filosofia) e Ricardo (Física); e 3ª série do
Ensino Médio, turma C, onde lecionavam Laerte (Sociologia) e Ricardo (Matemática).
A trajetória de construção do subgrupo Olhares contou com o suporte teórico-
metodológico dos seguintes formadores: Carla Gracioto Panzeri3, Eleonore Zulnara Freire
Setz4 e Jorge Yoshio Tamashiro5
Foi através dos diálogos na escola que nós, professores envolvidos, decidimos
antecipar as saídas a campo por meio de uma metodologia que chamamos de aula
Integrativa/Informativa, conseguimos por meio desta reunir as duas salas com os quatro
professores em um único espaço/tempo. Essa atividade precedeu e precederá todas as
atividades coletivas de campo do nosso subgrupo.

LOCAL E SUA COMPLEXIDADE


Segundo Milton Santos (1991) o espaço é formado por dois componentes que
interagem continuamente:
• Conjunto de dados naturais modificados pela ação consciente do homem, através
de sucessivos “sistemas de engenharia”;
• Conjunto de relações que definem uma sociedade em determinado tempo.
Cabe a ciência geográfica colaborar na compreensão dos princípios das tecnologias

3
Doutoranda do Instituto de Geociências da Unicamp
4
Pós-Doutorando University of Georgia in Athens, UGA, Estados Unidos
5
Mestre do Instituto de Biologia da Unicamp

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associadas ao conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura entre as quais as de


planejamento, organização, etc. Também contribuir para a compreensão do espaço enquanto
uma totalidade na qual se passam todas as relações cotidianas e se estabelecem as redes
sociais em escala local, regional e global.
A tecnologia da informação possibilitou novos meios de comunicação aos sujeitos dos
espaços em que se pratica ensino/aprendizagem, através destes fez-se necessária a mudança
de propostas conteudistas, que tem sua formulação constituída por conhecimentos acadêmicos
adquiridos em contextos sócio-históricos instituídos, para propostas problematizadas e
temáticas que tem seu foco na apreensão dos saberes sócio-histórico-ideológicos constituídos
no sujeito (indivíduo) e na interação entre os sujeitos (coletivo) que fazem parte de uma
localidade, regionalidade e/ou globalidade temporal e/ou espacial.
Assim, o meio, o lugar (local) e as vivências cotidianas em um tempo e espaço são
condicionantes das ações e expressões dos atores e das instituições, os quais acumulam ou
dividem responsabilidades num mesmo local.

DESVELAR DO PROCESSO
O subgrupo Olhares, Caminhos e Fazeres construiu uma prática pedagógica em que o
processo ensino/aprendizagem não foi circunscrito apenas aos olhares institucionais (escolas,
a universidade e a sociedade amigos de bairro), mas considerou, também, as percepções e os
relatos dos alunos e moradores, que foram carregados de diferentes direcionamentos. A
prática educacional corrente não leva em consideração uma série de fatores inerentes à
realidade do aluno, seja essa realidade endógena ou exógena a sua vivência. Porém nós
buscamos incorporar tanto nas ações disciplinares e interdisciplinares do projeto como no
interior da escola à realidade sócio-ambiental do aluno.
Destacamos a relevância dos aspectos que emanam das condições de vida dos alunos,
seus interesses e do conjunto da sociedade (grupo ou classe social de origem), sua
historicidade cultural e de sua localidade, bem como a questão socioambiental em sua visão
prática de mundo.
Esta ação teve o potencial de levar o aluno a manifestar o grau/conteúdo de sua
consciência frente ao objeto estudado, em nosso caso, a educação ambiental.
Ao se manifestar e compartilhar, através da linguagem e ou escrita o aluno foi criando
a compreensão dos fenômenos, das coisas e dos fatos, num movimento de significados
exteriores (culturais) para o seu interior (o ser cultural).
Para nós, os conceitos denominados como prévios e/ou cotidianos não devem ser

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analisados somente como um ponto de partida e os conceitos científicos – mais precisos –


como de chegada. Reportamo-nos a Vygotsky que afirma:
“a evolução dos conceitos científicos diferem essencialmente da maneira do
desenvolvimento dos conhecimentos espontâneos, estes se influenciam
mutuamente como variáveis da gênese do conceito e devem ser apreendidos
dentro de um movimento espiral ascendente, isto é, compreender sua história
cultural”. (Vygotsky, 1979)

Ouvidas as vozes dos alunos e dos moradores, tanto no pré como no campo, pudemos
estabelecer métodos e conteúdos que nos deram o grau de aproximação para com o objeto de
estudo e a articulação entre as disciplinas.
Assim, com as questões levantadas pelos alunos na aula integrativa/formativa
pudemos estruturar o campo com o intuito de tentar responder às expectativas deles, mas,
mais do que isso, lançar outras questões significativas que retratassem a prática no local e não
algo desvinculado de uma realidade.
Com base nessa perspectiva elaboramos o roteiro de campo, realizado na sub-bacia do
Ribeirão das Pedras, especificamente no entorno do Parque Linear. Apresentamos a seguir, o
roteiro utilizado inicialmente no primeiro campo, o qual sofreu algumas alterações (exemplo:
inserção de pontos nos Bairros Vicente Cury e Costa e Silva) para a realização dos campos
subsequentes.
Destacamos que o roteiro foi elaborado a partir das respostas fornecidas pelos alunos à
pergunta: O que você espera descobrir na vivência do projeto?
As respostas obtidas referem-se principalmente aos seguintes aspectos: i)Preservação;
ii)Impactos; iii)Protagonismo social; iv)Responsabilidade; v)Conhecimentos (aprendizado);
vi)Despertar, descobrir, pensar e agir sobre a questão ambiental; vii)Dinâmica ambiental
(transformações no ambiente); viii)Soluções (?!); ix)Diálogo com a comunidade local (?);
x)Compreender o lado das pessoas (moradores do local); xi) Ações ambientais; xii) Do
conhecimento teórico ao conhecimento prático; xiii)Visibilidade do ambiente como proposta
de compreensão da problemática (descoberta da realidade das coisas; tem coisas que parecem
ser mas não são); xiv)A problemática ambiental na nossa Cidade (do local para outros
lugares).
Além desse questionamento geral direcionado aos alunos, pedimos que os mesmos
escrevessem sobre a localidade a ser estudada: o que gostariam de ver; o que gostariam de
saber e; o que gostariam de perguntar. Dos textos redigidos pelos alunos extraímos dois

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trechos de alunos distintos que para nós, expressavam uma certa síntese.
“Descobrir uma nova imagem sobre o ambiente e por essa imagem tentar motivar
a comunidade a ver a realidade de nosso ambiente.” (texto de aluno)
“Entender melhor os problemas ambientais e suas origens e encontrar formas de
fazer minha parte para preservar o meio ambiente, podendo passar tudo o que eu
aprender para as outras pessoas.” (texto de aluno)
Essa concepção de trabalho de campo, que leva em conta as idéias e interesses dos
alunos para desenvolver um processo de ensino-aprendizagem com foco no local por meio da
contribuição dos olhares das diferentes disciplinas envolvidas nesta proposta, foi sendo
aprimorada ao longo do ano de 2008, constituindo a trajetória apresentada abaixo.

O NOSSO CAMINHAR
1° passo: Aula integrativa/informativa do dia 16 de maio de 2008, na qual foram levantadas
as seguintes situações que se procurou “ver, saber e perguntar” no campo.
2° passo: Campo do dia 27 de junho de 2008, no qual foram trabalhadas as questões
discutidas na aula integrativa/informativa, conforme se observa na frase síntese:
“O maior problema do local nos traz à tona a questão: De que maneira nos
apropriamos de um espaço ambiental sem prejudicá-lo? Essa é uma pergunta
difícil de ser respondida, pois ‘cada um lê com os olhos que tem e interpreta a
partir de onde os pés pisam’.” (relatório de campo de aluno)
3° passo: Segunda aula integrativa/informativa do dia 19 de Setembro de 2008, na qual foram
relatadas as experiências e problemáticas vivenciadas no campo. O aspecto que mais
incomodou foi o montante de lixo que, a princípio, não se observava do alto da caixa d’água,
mas no caminhar observou-se que a rua José Lins do Rego estava com lixo, segundo o relato
de aluno:
“Foi o que mais nos chamou atenção, pois como o próprio ponto dois indicou,
vimos uma rua que mede 7,90 metros de largura estar com 4,80 m de lixo, ou seja,
mais da metade de sua largura, e apenas 3,10 m servia para uso público. O
comprimento do montante de lixo foi de 94 m, o que nos deu uma área de 451,2
metros quadrados de lixo.” (relatório de campo de aluno)
4° passo: Campo do dia 26 de Setembro de 2008, no qual foram construídos e observados os
conceitos de divisor de águas, ocupação diferenciada de espaços públicos (vielas, com 20 m
de largura por 40 m de comprimento, ocupando 4 terrenos de 200 metros quadrados), hortas
urbanas próximas a canais fluviais, organização da população em associações de bairros e em

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hortas comunitárias. Um dos membros da associação de bairro mencionou o Ribeirão das


Pedras no trecho compilado abaixo, somente após ser questionado pelo grupo sobre sua
relação com o mesmo.
“A nascente do Ribeirão Quilombo está sendo “suja” pelo IAC e isso prejudica o
morador do jardim São Marcos, enquanto que o Ribeirão das Pedras é limpo,
tanto que a população se utiliza de suas águas para cultivar hortas e para beber.”
(comunicação oral de morador da associação de bairro durante trabalho de campo)
5° passo: Campo do dia 04 de Novembro de 2008, no qual foram analisadas, in loco, as
qualidades físicas da água do Ribeirão das Pedras (turbidez, condutividade, pH, temperatura)
e coletadas amostras para posterior análise química em laboratório6.
É importante explicitar que para planejarmos a realização desta trajetória
compartilhada com os alunos, constituída de duas aulas integrativas e quatro trabalhos de
campo, ocorreram várias reuniões de grupo, totalizando 40 horas de trabalho. Houveram
planejamentos prévios das aulas integrativas/formativas e das atividades de campo, além de
reuniões de preparação para eventos extra e intra escola. Segue quadro resumo dessas
atividades com as respectivas cargas horárias:

1ª Aula 1º Campo 2ª Aula 2º Campo Campo 3º Campo Reuniões de


Integrativa 27/06/08 Integrativa 26/09/08 Extra 14/11/08 Grupo no
ano de 2008
Carga Horária 2 horas 5 horas 4 horas 5 horas 5 horas 5 horas 40 horas

Professores 3 3 4 4 2 4 4
participantes
Professores 0 0 1 0 2 2 3
Convidados
Alunos 56 49 19 16 44 44 0
Presentes
Total de 59 52 24 20 48 50 7
Presentes

Quadro 1 – Carga horária do subgrupo Olhares da EE “Adalberto Nascimento”

DO CAMPO À SALA
As práticas desenvolvidas em sala pelas disciplinas tiveram o cuidado de contemplar

6
Participação da Dra. Eny Maria de Vieira (Instituto de Química de São Carlos/USP) e da Profª Aparecida de
Fátima Vieira (EE Adalberto Nascimento)
Esse campo foi tratado por nós como “campo extra”

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não só a especificidade de cada uma delas como também buscar os nexos interdisciplinares
para construir um conhecimento/conceito contextualizado sócio-histórico-ideológico-
ambiental.
Para o professor de sociologia uma das atividades desenvolvidas foi a construção do
exercício sobre conceitos prévios, durante a qual se solicitou aos alunos que expressassem seu
entendimento de “natureza” e de “meio ambiente”, visando verificar o estágio de suas
compreensões e articulações entre esses temas.
Após a aplicação do exercício algumas características se revelaram, a saber: os
conhecimentos prévios apresentados possuíam frágil sistematização, não articulavam
diferentes elementos constitutivos do problema (exemplos: não estabeleciam relação entre
água e solo enquanto elementos da natureza; floresta e temperatura; ação humana e
modificações no ambiente).
Esse ideário explicativo prévio é considerado por alguns educadores uma
inadequação na formulação dos conceitos, uma vez que os conhecimentos prévios manifestos
durante o exercício demonstram certa fragilidade comparada aos conceitos científicos. Nós,
porém, destacamos sua relevância como manifestação expressa do grau de apreensão cultural
destes jovens, que indica caminhos para o processo de construção dos conceitos.
Continuando a análise compreensiva da prática pedagógica relatamos que, durante a
apresentação e debate das idéias prévias, constatou-se que seria necessário realizar um
segundo momento para explicitar as desigualdades das produções conceituais apresentadas
pelos alunos, de modo que os mesmos pudessem percebê-las.
Das atividades realizadas, o professor de matemática destaca: “Mensurar a sua
região. Quanto da sua região é você?” As formas e tamanhos dos diferentes espaços foi
abordada nessa atividade, por isso trabalhamos com o conhecimento adquirido nas
universidades que formam profissionais da construção civil, tais como: arquitetos e
engenheiros civis, haja vista a orientação dada por esses profissionais para a formação dos
espaços coletivos regionais.
Nesse momento foi solicitado ao aluno a visualização de formas e tamanhos
determinados não só por fatores físicos, mas também por fatores políticos, econômicos e
sociais; qual destes é levado mais em consideração para determinar o espaço que lhe cabe e o
espaço que cabe ao coletivo? Como se constrói o coletivo?
O Estudo de linearidades, superfícies e volumes tentou fornecer ferramentas
matemáticas para melhor compreensão dos espaços físicos, os produtos desses espaços físicos
e sua influência no ambiente.

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Depois de assistirmos os filmes “Ilha das Flores” e “Histórias das Coisas” fizemos
um debate sobre o porquê da existência e utilidade do lixo, quais são os componentes
existentes nas embalagens e como eles poderiam ser reutilizados pelas pessoas para não se
tornarem lixo? Como as embalagens são feitas e qual sua utilidade? Por que utilizar
embalagens? Qual é a proporção entre alimentos perecíveis e não perecíveis em um
supermercado?
As questões do parágrafo anterior contribuíram para nortear o ensino de geometria
espacial, cabendo a esse tema o entendimento, por parte do aluno, das formas e tamanhos dos
espaços, objetos e embalagens desses.
Entre as atividades da professora de geografia destaca-se o trabalho sobre o
desenvolvimento do conceito de expansão urbana e ocupação do espaço através do tempo.
Foram utilizados mosaicos de fotografias aéreas do entorno do Ribeirão das Pedras de 1962,
1972 e 2002, confeccionadas por Samuel Fernando Adami7. Através da observação e
comparação destas imagens aéreas os alunos constataram: Em 1962 ainda não existiam
construções como os conjuntos habitacionais Costa e Silva e Miguel Vicente Cury também
não existiam a Rodovia Dom Pedro I e o Shopping Dom Pedro. Em 1972 os conjuntos
habitacionais já aparecem juntamente com o Santa Genebra I, assim como a Rodovia Dom
Pedro e ainda não aparece o Shopping Dom Pedro. Em 2002 o Shopping aparece assim como
o Santa Genebra II.
Retornando ao local de estudo com os alunos, salientamos as seguintes proposições:
queremos observar no espaço/tempo quais foram as mudanças ocorridas aqui, em mim e no
meu contexto sócio-histórico-cultural desde o primeiro campo, e quais foram os relatos dos
moradores que tiveram correspondência com a realidade, ou seja, a observação de quem mora
no local corresponde à minha observação sobre o mesmo?

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escola é um espaço privilegiado, na construção de um conhecimento-linguagem de
investigação, de criação/apropriação de um saber compartilhado. Como espaço relacional
entre o particular – a unidade do indivíduo (aluno) e o geral – estrutura social, nas suas
diversidades – a escola está inserida na dinâmica histórico-espacial da sociedade. Constitui
um espaço coletivo e individual orientado para a busca compreensiva da superação das
múltiplas relações de dominação existentes na sociedade e no cotidiano das relações humanas.

7
Pesquisador do IAC

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Articular olhares, saberes e ciências é buscar a superação da fragmentação disciplinar


e seu isolamento. A questão interdisciplinar – superação do conhecimento parcial, do real –
deve-se constituir e apontar para novas propostas pedagógicas, uma mudança do pensamento
sobre a práxis do processo ensino-aprendizagem.
Esta inquietação problematizadora coloca como reflexão uma prática docente
comprometida com os saberes, valores e atitudes dos alunos sobre os temas abordados em
sala de aula, nas aulas integrativas/formativas e nos campos de investigação.
Ao utilizar-se do despertar das idéias prévias dos alunos e de posterior articulação
entre os conhecimentos das disciplinas envolvidas nesta ação, faz avançar o processo ensino-
aprendizado, uma vez que “os mecanismos por meio dos quais os estudantes aprendem,
depende inicialmente do que eles já sabem sobre o assunto e a estrutura do saber ensinado”.
(Compiani, 1998)
A dialógica praticada nas atividades, a troca de informações e conhecimentos durante
as atividades (aulas, campos) permitiu que o aluno trabalhasse coletivamente e com um olhar
científico, crítico sobre a realidade que o cerca.
Assim eles puderam dar início ao entendimento do processo, sob a ótica
interdisciplinar, entre o teórico e o prático. Os olhares compartilhados com colegas e
professores e por conseqüência com suas comunidades interpretativas (grupos sociais
organizados, como por exemplo, educacionais-científicos, religiosos, econômicos, etc)
possibilitaram o diálogo entre a academia, professores, alunos e comunidade.
Há possibilidades pedagógicas promissoras que ao se articular com a LIP e com as
práticas interdisciplinares propiciarão nexos explicativos e constitutivos do processo de
construção compartilhado entre os conhecimentos e os conceitos. Segundo Morin (2000):
“Aprender os múltiplos aspectos da existência humana, na sua dimensão
física, biológica, cultural, social, espacial, histórica – local, a construção de
sua identidade (pertencimento) no interior das relações complexas da
existência”.
Portanto para entendermos o que está em curso deve-se partir da identificação de
quem está protagonizando e fazendo parte do processo de construção e apropriação do
conhecimento para compreender o fato de que esta proposta, ainda que, em diferentes lugares
e com razões distintas, possa ser compartilhada com outras realidades, enriquecendo ainda
mais a diversidade de saberes.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COMPIANI, M. ET AL. Projeto Elaboração de conhecimentos escolares e curriculares
relacionados à ciência, à sociedade e ao ambiente na escola básica com ênfase na
regionalização a partir dos resultados de projeto de políticas pública. 2006.
COMPIANI, M. Ideas Previas e Construcción de Conocimento en aula. Enzenãnza de las
Ciências de la Terra, Girona, 1998
MORIN, E. Os setes saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez e Moraes
Ed. 3ª ed. 2000.
SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço Habitado. São Paulo: Hucitec Ed. 2ª ed. 1991.
VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes Ed. 2ª ed. 2000.

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CIRCULAÇÃO DE DISCURSOS SOBRE O CICLO DO CARBONO: A


CONSTITUIÇÃO DOS DISCURSOS ESCOLARES EM MEIO A OUTROS
DISCURSOS

Cristiane Oliveira de Barros¹


Henrique César da Silva²
¹Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)/Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino e
História de Ciências da Terra/Instituto de Geociências – apoio Observatório da Educação/Capes/INEP,
cris.oliverbarros@gmail.com

²UNICAMP/Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino/Instituto de Geociências,


henriquecsilva@ige.unicamp.br

Resumo: Muito tem se discutido, principalmente durante os últimos anos, a partir de diversos
discursos, posições, atores, instituições – políticos, econômicos, sociais, científicos e
educacionais – sobre a necessidade de “conscientização” e maior aprofundamento e
conhecimento dos problemas ambientais que trariam consequências diretas à existência
humana. Discursos sobre ambiente são produzidos por diversas ciências, com seus arquivos e
suas condições de produção, mas também por outras vozes e em outras instâncias e
instituições. Discursos esses que significam e re-significam as relações homem/natureza,
ciências humanas/ciência naturais, homem/ambiente, relações entre sociedade, ciência,
tecnologia e ambiente. Dentre as questões atualmente mais discutidas estão aquelas
relacionadas ao aquecimento global e às mudanças climáticas, envolvidas em controvérsias
sobre a ação antrópica no aumento do CO2 atmosférico, e sua possível relação com o clima da
Terra, como desmatamentos e queima de combustíveis fósseis, e portanto, consumo de
combustíveis, consumo de energia, produção industrial, sociedade de consumo. Alguns desses
discursos chegam à escola, participam da produção de discursos escolares. Outros não. E,
dentro desses discursos, embates e controvérsias, produzem-se/reproduzem-se/apagam-se
diferentes significações sobre o ciclo do carbono, foco deste trabalho. É esse processo que
queremos investigar, tendo como foco os discursos escolares, em sua relação com outros
discursos, instituições que produzem e fazem circular discursos sobre/da ciência e da
tecnologia.

Palavras-chave: ciclo do carbono, análise de discurso, leitura, ensino de geociências,


mudanças climáticas, Enem.

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O CICLO DO CARBONO
Nos últimos anos temos sido amplamente informados, como aluno, professor ou
pesquisador por um ascendente “bombardeio” de informações e referencias sobre as
mudanças climáticas globais que vem ocorrendo intensamente em diferentes meios, este tema
porem não são unanimidades na comunidade cientifica as polemica começaram no final do
século XIX com (Fleming, 1998), com o trabalho de Arrhenius (1896) e, desde então, há
fortes debates tanto na comunidade científica, quanto envolvendo outros atores e instituições
(Alley, 2005; Molion, 1995; Wagner et al., 2005; Hansen, 2005). A importância dessas
temáticas na escola vem sendo ressaltada e já analisada por vários autores como Kawamura e
Ribeiro (2006), Juan (2006) e Xavier e Kerr (2004). Estes temas têm repercutido na mídia
pelo seu caráter político, ambiental, econômico e social (Weingart, 2000), envolvendo
políticos e partidos, diversas organizações internacionais, intergovernamentais (IPCC, 2001)
ou não-governamentais. Além disso, há também discursos de natureza religiosa relacionados
ao tema.
Todos os dias informações diversas nos indicam que as mudanças climáticas,
caracterizada principalmente pelo aumento das temperaturas globais, são principalmente
causadas pela ação antrópica, uma vez que o homem tem “despejado” de diferentes maneiras
uma maior quantidade de gás carbônico na atmosfera terrestre (IPCC). Tal informação nos
remonta a grande necessidade de estudo e compreensão do ciclo biogeoquímico de tal
elemento químico, conhecido como Ciclo do carbono, já que. Ele é a principal forma pela
qual o meio ambiente faz transferências e armazenamentos energéticos desta substância na
natureza.
O ciclo do carbono caracteriza – se principalmente, segundo a definição de AMABIS
& MARTHO.(2005) no qual explica que para equilibrar o processo de respiração, o carbono
é transformado em dióxido de carbono (CO2). Outras formas de produção de CO2 são as
queimadas e a decomposição de material orgânico no solo. Os processos envolvendo
fotossíntese nas plantas e árvores funcionam de forma contrária. Na presença da luz, elas
retiram o CO2, usam o carbono para crescer e retornam o oxigênio para atmosfera. Durante a
noite, na transpiração, este processo se inverte e a planta libera CO2 excedente do processo de
fotossíntese.
Os reservatórios de CO2 na terra e nos oceanos são maiores que o total de CO2 na
atmosfera. Pequenas mudanças nestes reservatórios podem causar grandes efeitos na
concentração atmosférica. O carbono emitido para atmosfera não é destruído, mas sim
redistribuído entre diversos reservatórios de carbono. Os outros gases causadores do efeito

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estufa (GEE), ao contrário, normalmente são destruídos por ações químicas na atmosfera.
O ciclo global de carbono é afetado pelas atividades humanas e é também ligado a
outros processos biogeoquímicos e climatológicos. Tem se levantado grande quantidade de
informações sobre aspectos específicos do ciclo do carbono, mas muitos dos acoplamentos e
suas ligações com outros sistemas são mal compreendidos FALKOWSKI (2000), Como
consequência deste processo não tem -se a certeza de como estes sistemas irão reagir a
interferência antrópica.
Quando observamos os diferentes sentidos possíveis abordados em diferentes meios
(didáticos e midiáticos) sobre o ciclo do carbono, veremos claramente que este assunto possui
inúmeras apresentações e interpretações; Para que isso se torne mais claro veremos três
exemplos apresentados a seguir, onde o mesmo tema (ciclo do carbono) apresenta diferentes
informações e sentidos:
Figura 1:

Fonte: Biologia vol único César e Sezar 7ª edição Ed Saraiva - São Paulo. 2006 pg. 333

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Figura 2:

Fonte: www.portalsaofrancisco.com.br consultado em 18-06-2009.


Figura 3:

Fonte: Fonte: http://www.aticaeducacional.com.br consultado em 18-06-2009.

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Consideraremos então estas distintas demonstrações, algumas considerações se fazem


pertinentes: Porque apesar de representar um mesmo conteúdo elas apresentam diferentes
sentidos? Que visão de ciclo/sistema é trabalhada nestas concepções? Que percepções os
alunos apresentados a elas desenvolveriam?Que elementos são considerados/desconsiderados
nestas produções? Em que determinadas condições de produção este material foi
desenvolvido?
Entendemos que por se mostrar demasiadamente complexo, cuja compreensão passa
por diferentes ciências, o tema pode ser seguido por diversas interpretações, porém não
podemos negar a participação e influencia da ação antrópica referente a todos os sistemas
terrestres, uma vez que, o homem, ao apropriar-se da natureza e transformá-la, pode processar
alterações significativas, gerando gradativamente modificações no potencial biológico e ainda
mais diretamente ao ciclo do carbono que segundo FALKOWSKI (2000), é afetado pelas
atividades humanas e está associado a outras ações climatológicas e biogeoquímicas.

REFERENCIAL TEÓRICO – ANÁLISE DE DISCURSO DE ORIGEM FRANCESA


Utilizamos como referencial teórico a Análise de Discurso (AD) iniciada por Michael
Pêcheux na década de 1960 na França, e divulgada e desenvolvida no Brasil por Eni P.
Orlandi. Essa perspectiva discursiva “não trata da língua, não trata da gramática, embora
todas essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. (...) O discurso é assim palavra em
movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando”
(ORLANDI, 2003, p. 15).
Buscando nestas leituras subsídios que nos ajudem a entender aspectos do imaginário
dos alunos que os constituem enquanto sujeitos-leitores, e como esses imaginários funcionam
na relação dos alunos com as avaliações na produção de sentidos, enfim, como os alunos se
constituem enquanto leitores desse tema (ciclo do carbono) considerando as condições de
produção, ou seja, os discursos sobre esse tema que circulam na sociedade em que vivemos.

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O ENEM
O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, instituído pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais INEP, em 1998, para ser aplicado aos alunos concluintes e
aos egressos deste nível de ensino. O ENEM é realizado anualmente, com o objetivo
fundamental de avaliar o desempenho do aluno ao término da escolaridade básica.
As provas do ENEM elaboradas pelo INEP tem como objetivo analisar os alunos
através de alguns pressupostos:
I – domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção
moderna;
II – conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;
III – domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício
da cidadania
No trabalho aqui apresentado usaremos como referencias de analise a adequação das
questões selecionadas por seu conteúdo e que apresentam ligações com algumas
competências e habilidades propostas pelo INEP.
O conteúdo aqui proposto faz parte de uma ampla pesquisa chamada “PROCESSOS
AVALIATIVOS NACIONAIS COMO SUBSÍDIOS PARA A REFLEXÃO E O FAZER
PEDAGÓGICOS NO CAMPO DO ENSINO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA” -
Observatório da Educação/CAPES/INEP, que conta com a participação de grupos de distintas
universidades.
O grupo é formado por dois conjuntos que trabalham de maneira integrada: um grupo
de professores da educação básica e um grupo de orientandos de IC e de Pós-Graduação.
Assim, há uma frente de trabalho presente na sala de aula, cujo foco é a produção do ensino
(metodologias e currículo) propriamente dito em suas condições concretas e por seus
principais sujeitos-atores-autores, os professores, cuja natureza do trabalho se inspira na
pesquisa-ação. E uma frente de pesquisa “fora” da sala de aula, mas cujas pesquisas em sala,
quando é o caso, estão associadas ao trabalho dos professores do Grupo.
Buscando abordar as questões do ENEM, principalmente sob três aspectos :
• Geociências / contextualização e interdisciplinaridade (conteúdo; epistemologia;
noção de ambiente)
• Linguagem/Discurso/Leitura
• CTSA
Iremos localizar cada questão relacionada a mudanças climáticas globais, ciclos
biogeoquímicos e/ ou sistemas terrestres, observando principalmente os seguintes

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aspectos:
• Disciplina Associada
• Habilidades Relacionadas
• Nível de dificuldade / abordagem
• Questões que variam entre os aspectos naturais e humanos.
Esta análise se faz importante e necessária uma vez que o número de questões
apresentadas nos diferentes anos de aplicação do ENEM o assunto sempre foi abordado de
forma direta e indiretamente, trabalhando diferentes habilidades dos alunos e exigindo dos
mesmos um conhecimento interdisciplinar. Vejamos a tabela abaixo:

Fonte de dados: Todas as provas do Enem


Elaboração: Cristiane Oliveira de Barro

Ao todo durante os 10 anos de aplicação do ENEM foram destinadas 35 questões em


que o tema principal ou secundário abordava as mudanças climáticas, os ciclos
biogeoquímicos, ou o pensamento sistêmico das esferas terrestres.
Ao analisarmos a avaliação do ano de 2007, podemos notar que ela foi responsável por
um elevado número de questões relacionadas ao tema - um total de 09 - em que de
diferentes maneiras o assunto mudanças climáticas e ciclo do carbono foi abordado.

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Vejamos a seguir um exemplo de questão:

O gabarito apresentava como alternativa correta a resposta E


• Disciplina Associada
Esta questão aborda conhecimentos relacionados principalmente ao ensino de Biologia
e Geografia
• Habilidades Relacionadas
A questão ainda se relaciona há inúmeras habilidades exigidas pela prova, dentre elas:
1. Dada a descrição discursiva ou por ilustração de um experimento ou fenômeno, de
natureza científica, tecnológica ou social, identificar variáveis relevantes e selecionar
os instrumentos necessários para realização ou interpretação do mesmo.
2. Dada uma situação-problema, apresentada em uma linguagem de determinada área de
conhecimento, relacioná-la com sua formulação em outras linguagens ou vice-versa.
3. Identificar e caracterizar a conservação e as transformações de energia em diferentes
processos de sua geração e uso social, e comparar diferentes recursos e opções
energéticas.
4. Analisar criticamente, de forma qualitativa ou quantitativa, as implicações
ambientais,sociais e econômicas dos processos de utilização dos recursos naturais,
materiais ou energéticos.
5. Compreender o significado e a importância da água e de seu ciclo para a manutenção
da vida, em sua relação com condições socioambientais, sabendo quantificar variações
de temperatura e mudanças de fase em processos naturais e de intervenção humana.

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6. Utilizar e interpretar diferentes escalas de tempo para situar e descrever


transformações na atmosfera, biosfera, hidrosfera e litosfera, origem e evolução da
vida, variações populacionais e modificações no espaço geográfico.
7. Diante da diversidade da vida, analisar, do ponto de vista biológico, físico ou químico,
padrões comuns nas estruturas e nos processos que garantem a continuidade e a
evolução dos seres vivos.
8. Analisar fatores socioeconômicos e ambientais associados ao desenvolvimento, às
condições de vida e saúde de populações humanas, por meio da interpretação de
diferentes indicadores.
9. Compreender o caráter sistêmico do planeta e reconhecer a importância da
biodiversidade para preservação da vida, relacionando condições do meio e
intervenção humana.
10. Reconhecer o caráter aleatório de fenômenos naturais ou não e utilizar em situações
problema processos de contagem, representação de freqüências relativas, construção
de espaços amostrais, distribuição e cálculo de probabilidades.
11. Analisar, de forma qualitativa ou quantitativa, situações-problema referentes a
perturbações ambientais, identificando fonte, transporte e destino dos poluentes,
reconhecendo suas transformações; prever efeitos nos ecossistemas e no sistema
produtivo e propor formas de intervenção para reduzir e controlar os efeitos da
poluição ambiental.
• Nível de dificuldade / abordagem
Esta questão apresenta um elevado nível de dificuldade, uma vez que para sua
resolução o aluno deveria associar diferentes conhecimentos em geociências, para um melhor
entendimento da questão o aluno deveria apresentar domínio de conceitos ligados a
Aquecimento global, consequentemente suas conseqüências, sua origem, exigindo um
adequado conhecimento sobre ciclo do carbono, ciclo da água, temperatura, e ainda uma boa
interpretação e capacidade de resolução de situações problema.
• Questões que variam entre os aspectos naturais e humanos.
De forma direta esta questão não relaciona o problema posto, a ação humana, porém o
conceito central da questão é aquecimento global, tema ligado diretamente a ação,
interferência e conseqüências antrópicas.
Compreendemos que se trata de um importante tema para o entendimento do aluno
que pode associá-lo ao seu cotidiano usando para isso o pensamento sistêmico da geografia já
que para CHRISTOFOLETTI (1999) a Geografia é a disciplina que estuda as organizações

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espaciais. Englobando a estruturação, funcionamento e dinâmica dos elementos físicos,


biogeográficos, sociais e econômicos constituem os sistemas espaciais da mais alta
complexidade. Sob a perspectiva sistêmica, dois componentes básicos entram em sua
estruturação e funcionamento, representados pelas características do sistema ambiental físico
e pelas do sistema sócio-econômico. O primeiro constitui o campo da ação da Geografia
Física enquanto o segundo correspondente ao da Geografia Humana.
Pretendemos então, com o presente trabalho, possibilitar aos educadores uma nova
perspectiva de inclusão de seus alunos no estudo das mudanças climáticas e aquecimento
global através da utilização do ciclo do carbono, que é um importante elemento na
composição do sistema global terrestre, e também amplamente abordado nas continuas
avaliações propostas por diferentes meios.

PROBLEMÁTICAS
Gerais
1. Como alunos do Ensino Médio significam o ciclo do carbono? Que sentidos
atribuem?

2. Quais as relações e como essas significações estão relacionadas à concepção de


sistemas?

3. Percepção dos alunos que são submetidos às avaliações formais sobre o tema.

Específicos
1- Entender como os alunos entendem o pensamento sistêmico, considerando que o
ciclo do carbono está interligado ao processo de mudanças climáticas trazendo
consequências para o clima do planeta e as interações antrópicas.

2- Verificar como é feita a abordagem do estudo do ciclo do carbono nos diferentes


níveis do ensino fundamental e médio, e como o material didático utilizado como
apoio aborda o assunto.

3- Como os alunos compreendem o ciclo do carbono no contexto da temática do


aquecimento global.

4- Verificar a utilização do tema nas avaliações formais como o ENEM.

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REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AB’SABER, A. (Re)Conceituando educação ambiental. Museu de Astronomia e Ciências


Afins (folder) Rio de Janeiro, 1991.
ALVES, N.; GARCIA, R. (Orgs.) O sentido da escola. 4a ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004
AMABIS, J. & MARTHO, G. Fundamentos da biologia moderna, 3ª. São Paulo ed Moderna,
2005.
ARRHENIUS, S. On the influence of carbonic acid in the air upon the temperature of the
ground. Philosophical Magazine and Journal of Science,v. 41, p. 237-276, 1896.
ASSARAF, B. et al. Development of System Thinking Skills in the Context of Earth System
Education Journal of research in science teaching, vol. 42, no,. 5, PP. 518–560
(2005)
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Ciências Naturais. Brasília: MEC / SEF, 1998.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Geografia. Brasília: MEC / SEF, 1998.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:
Biologia, Química e Física do ensino médio. Brasília : MEC / SEF, 2002.
CÉSAR E SEZAR. Biologia, Genética-Evolução-Ecologia. São Paulo Ed.Saraiva.2006.
CHISTOFOLETTI, A. Perspectivas da Geografia São Paulo- SP ed Difel , 1985.
_______________Modelagem e sistemas ambientais. São Paulo ed Edgar Blücher 1999.
FALKOWSKI, P. et al. of Earth as a System The Global Carbon Cycle: A Test of Our
Knowledge, Science 290, 291 (2000)
FERREIRA, M. Nas trilhas do discurso: A propósito de leitura, sentido e interpretação. In:
ORLANDI, E. P.(Org). A leitura e os leitores. Campinas. SP: Pontes, 1999.
FLEMING, J. R., Historical Perspectives on Climate Change. New York and Oxford: Oxford
Univ. Press, 1998. 208 p.

GRÜN, M. Uma discussão sobre valores éticos em Educação Ambiental. Educação


& Sociedade, v. 19, n. 2, p. 171-195, 1994.

GRÜN, M Ética e Educação Ambiental: a conexão necessária. Campinas: Papirus,


1996.

GUDOVITCH, Y, The carbon cycle and the earth systems - studying the carbon cicle in

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multidisciplinary environmental contest. Science and technology education,


2001.
IPCC. Intergovernmental Panel on Climate Change. Working Group I. Third Assessment
Report. Summary for Policymakers. WMO, 2001. 117p.
ORLANDI, E. P. As histórias de leituras. Leitura: Teoria & Prática. v. 3, n. 3, 1984.
___________Discurso e leitura. 2a ed. São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da
Unicamp, 1993.
___________Discurso e texto – Formulação e circulação dos sentidos. 2ª edição. Campinas,
SP: Pontes, 2005.
PÊCHEUX, M. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GADET, F. & HAK, T.
(Orgs.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de
Michael Pêcheux. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1990.
___________Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 2ª ed. Campinas, SP:
Editora da Unicamp, 1995. 317p.
PENTEADO, H.D. Metodologia do ensino de História e Geografia. São Paulo: Ed. Cortez,
1993.
___________Meio ambiente e formação dos professores. São Paulo: Ed. Cortez, 1994.
SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico científico informacional.
São Paulo: Hucitec, 1994.
__________A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec,
1997.
SANTOS, V. Formação de professores para o estudo do ambiente: projetos escolares e a
realidade ambiental local. Dissertação de Doutorado. Departamento de
Geociencias Aplicadas ao Ensino/ Unicamp, 2006.
SOUZA, D. M. Autoridade, autoria e livro didático. In: CORACINI, M. J. (Org.).
Interpretações, autoria e legitimação do livro didático. Campinas, SP: Pontes,
1999.
SIEGENTHALER,U. et al. the Late Pleistocene Stable Carbon Cycle–Climate Relationship
During. Science 310, 1313 (2005)
VEIGA, J.E.,org. Aquecimento global:frias contendas científicas.São Paulo ,ed Senac, 2005.

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A UTILIZAÇÃO DE BLOGS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O


ENSINO DE CIÊNCIAS

Gláucia Silva Bierwagen


Universidade de São Paulo, galsilv@gmail.com

Resumo: O objetivo desse trabalho é mostrar a possibilidade de uso de blogs para finalidades
educativas, e em especial na formação de professores de ciências. A apresentação de blogs na
formação de professores de ciências pode ser uma importante ferramenta para que em suas
aulas possam estimular aos alunos a desenvolver habilidades para pesquisar, analisar,
refletir, buscar soluções para resolver problemas, ao mesmo tempo em que se apropriarem do
uso de tecnologias digitais.

Palavras-chave: Blog. Formação de professores de ciências. Tecnologias da Informação e


comunicação.

Abstract: The objective of this work is to show the possibility of using blogs for educational
purposes, and in particular the formation of science teachers. The presentation of blogs on the
training of science teachers may be an important tool in their classes that can stimulate
students to develop skills to research, analyze, reflect, seek solutions to resolve problems
while they are exposed to the use of information technology and communication.

Keywords: Blog. Formation of Sciences teachers. Information Technology and


Communication.

INTRODUÇÃO
O blog foi concebido para ser como um diário na internet, onde as informações
estariam organizadas das mais recentes para as mais antigas. Resumidamente, seria uma
forma de fazer registros de qualquer tipo de informações na internet.
Foi criado no final da década de 90 do século XX, com o termo weblog. Esse termo
foi apresentado em 1997. Weblog veio da junção das palavras web mais log, aonde log
representa um registro e web trata-se da teia ou rede que é a própria internet.
Tratam-se de páginas na internet que utilizam os protocolos de transmissão de dados e
contam com um servidor para armazenar as informações que apresentam.

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Na estrutura de um blog, basicamente, todos apresentam uma linha de tempo para as


postagens. Os blogs podem tratar de uma infinidade de assuntos. Dentre estes assuntos podem
estar diários, piadas, links, notícias, poesias, artigos, idéias, fotografias e tudo mais que seja
possível para sua atualização. Pode oferecer uma excelente forma de comunicação,
permitindo que grupos e pessoas interajam sem restrição temporal, pois o leitor pode registrar
comentários acerca do que foi exposto no blog.
No início a preparação de um blog exigia do seu autor um conhecimento de
informática e conhecimentos de códigos html e um sítio onde pudesse armazenar as web
pages produzidas. Depois surgiram sítios para a construção de blogs, usualmente sem custo ao
usuário, que incorporam um software que permite a escrita dos posts sem que o usuário tenha
que dominar programação. Isso facilitou o acesso dos usuários a essa ferramenta e
atualmente, qualquer pessoa com pequeno conhecimento de uso do computador pode criar e
manter um blog. Para fazer isso, é necessário o acesso à internet e o cadastramento em um dos
muitos serviços disponíveis na internet.
Nas escolas os blogs podem ter várias finalidades. Podem ser o portal da escola, sua
forma de se abrir e se mostrar para o mundo. Podem ser o espaço de divulgação de ações ou
projetos específicos. Podem servir como portifólio de professores e alunos. Podem apresentar
recursos no acompanhamento e gestão da escola.

POTENCIALIDADES DOS BLOGS COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA.


A diversidade de blogs relacionados ao ensino é bastante ampla e integra blogs de
professores, de alunos, de disciplinas e das escolas. Em todas as disciplinas é possível utilizar
o blog como ferramenta pedagógica, que pode ser produção de textos, análise de obras
literárias, relatório de visita de estudos, publicação de fotos, desenhos e produção de vídeos.
Segundo pesquisa realizada por Cláudia Colla, a partir de coletas de informações de
blogs do Google Search, em 2007, ao procurar e digitar a expressão blog como ferramenta
pedagógica, foi encontrado noventa e quatro links e em 2008 encontrou-se dois mil cento e
sessenta links para as mesmas palavras. Segundo a autora, isso indica que muitos educadores
estão utilizando blogs em suas práticas pedagógicas, mas ainda não há pesquisas acadêmicas
que indiquem efetivamente quantos educadores o usam em sala de aula. (COLLA, 2008)
Maria Mourão Gomes buscou sistematizar as possíveis utilizações pedagógicas dos
blogs considerando duas categorias possíveis: a) como recurso pedagógico, e b) como
estratégia educativa. E como recurso pedagógico considera a autora que os blogs podem ser
utilizados: a) como um espaço de acesso a informação especializada e b) como um espaço de

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disponibilização de informação por parte do professor. Na modalidade de “estratégia


educativa” os blogs podem servir como: a) um portifólio on line, b) um espaço de intercâmbio
e colaboração, c) um espaço de debate e pode-se acrescentar, d) um espaço de integração.
(GOMES, 2005)
Dentro do contexto escolar, fazendo buscas em sítios apropriados para isso, ou seja
buscadores como Google Search, por exemplo, pode-se observar algumas formas em que
educadores tem utilizados blogs. Podemos citar o uso dos blogs por professores que o
estimulam como fonte de comunicação. Nestes os alunos podem publicar comentários a partir
de algum tema previamente definido pelo professor. Nestes casos, o objetivo pedagógico do
blog pode ser o de um fórum de discussão aonde os alunos podem expor seus
posicionamentos diante dos temas propostos pelo professor.
Um uso de blog dentro do contexto escolar bastante disseminado é a apresentação de
portifólios de trabalhos desenvolvidos dentro da escola por professores e alunos. Nestes blogs
podemos encontrar informações da proposta educativa da escola, informações de atividades,
projetos desenvolvidos por professores e alunos. Muitos dos Professores Orientadores de
Informática Educativa da Prefeitura do Município de São Paulo constróem blogs baseados
neste modelo1.
Outro exemplo de utilização de blogs dentro do contexto escolar é o incentivo dos
professores a construção de blogs pelos alunos. Nesta modalidade, os alunos além de ter
contato com ferramentas tecnológicas na criação e manutenção dos blogs, eles ainda podem
ter contato com a pesquisa de sítios, analisando seu conteúdo, veracidade e credibilidade para
inserção no blog.
Estudantes de graduação e pós-graduação também podem se utilizar deste meio para
expor suas pesquisas, resumos e reflexões.
Muitos professores utilizam blogs para produzir projetos incentivando a pesquisa
orientada dos seus alunos, baseando-se em modelos de webquest para a produção dos
mesmos. Neste modelo, podemos observar a responsabilidade do professor em incentivar a
pesquisa crítica dos alunos.

BLOG E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

1
Disponível em Portal da Educação Prefeitura de São Paulo:
http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Anonimo/programasprojetos/informaticaeducativa.aspx?MenuID=103&Me
nuIDAberto=58 Acesso em 05/07/2009 às 18h.

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Nas licenciaturas, de um modo geral, observa-se que poucos cursos tem em seus
currículos disciplinas que tenham ênfase em formação de professores para o uso de
tecnologias de informação e comunicação. Não há pesquisas que verifiquem isso, mas
observa-se nas escolas que professores recém formados, não tiveram em sua formação tópicos
ou disciplinas que tratassem do uso de tecnologias de informação e comunicação para
introduzir em suas aulas. Seria muito importante que houvesse uma preocupação em formar
professores que saibam utilizar tecnologia de informação e comunicação, mas não somente
uma formação técnica, mas uma formação de maneira refletida e adaptada à sua disciplina e
aos níveis que irão seleccionar. Em se tratando isso, é importante considerarmos o que autor
Philippe Perrenoud comenta da formação professor para a utilização das tecnologias de
informação e comunicação:

“...formar para as novas tecnologias é formar o julgamento, o senso crítico, o


pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a
imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e análise de textos e
imagens, a representação de redes, de procedimentos e de estratégias de
comunicação.” (PERRENOUD, 2000)

Em uma das concepções atuais de ensino e aprendizagem, o aluno é ativo e


participativo, ou seja, ele participa do seu processo de ensino e aprendizagem, por meio do
diálogo com o outro, que pode ser um outro aluno, professor ou outros profissionais. Dentro
dessa concepção, o aluno não é um mero receptor de conhecimento. O professor tem o papel
de facilitar este processo de ensino e aprendizagem do aluno. O professor vê-se diante da
tarefa de promover o desenvolvimento de habilidades em seus alunos como a de formação de
julgamento, senso crítico, pesquisa, procedimentos e estratégias de comunicação,
apropriando-se ao mesmo tempo da tecnologia.
Esta abordagem em educação, de aluno participativo e ativo, já está sendo aplicada em
ambientes presenciais em muitas salas de aulas por todo o mundo e também no processo de
ensino e aprendizagem virtual por meio da internet. Desta forma, muitos destes ambientes
virtuais, ou sítios de internet têm propostas pedagógicas que permitem a interação entre
alunos e alunos e professores e alunos, ou seja, permitem o diálogo. Dispõem de ferramentas
que possibilitam a interação e cooperação para realização de atividades individuais e em
grupo. Além de promover outras habilidades nos alunos como a capacidade de pesquisa,
análise e interpretação de dados, pois possuem ferramentas próprias para isso. Dentre essas
tecnologias que dispõem de várias ferramentas de comunicação, interação, possibilidade de

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pesquisar, interpretar e analisar dados pode citar o blog. Há muitas outras tecnologias de
internet, mas o blog reúne tecnologias de comunicação, de pesquisa, de exposição, além de
ser mais fácil de ser desenvolvido por quem não tem conhecimentos de programação. Pode
ser uma excelente ferramenta para o trabalho do professor.
Em um blog podemos incluir o uso de fotos, vídeos, votações, músicas, criação de
links e outros recursos tecnológicos que permitem que os professores desenvolvam em seus
alunos a capacidade de interação, pesquisa, divulgação de resultados de pesquisa, análise,
coleta de informações, dentre entre outras habilidades. Mas, para que os professores possam
desenvolver trabalhos com blog, eles precisam conhecer essas ferramentas tecnológicas e a
própria elaboração de um blog. Uma boa forma de formar professores com capacidade de uso
dessas tecnologias é por meio da formação inicial dos mesmos.
Dentro dessa proposta, e pensando nessa formação crítica dos professores para o uso
de tecnologias, cita-se a experiência da formação inicial dos professores da Universidade do
Minho, aonde com turmas de licenciaturas de Física e Química, apresentou-se o uso de blogs,
discutindo sua concepção e participação de alunos em analisar as construções de blogs de
colegas de curso e, por meio de questionários com esses estudantes buscou-se avaliar qual foi
o impacto dessa experiência entre os mesmos. Os pesquisadores apontaram que os estudantes
mostraram-se bastante entusiasmados com essa experiência. (COUTINHO, 2006)

A UTILIZAÇÃO DE BLOGS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO ENSINO DE


CIÊNCIAS.
Nas licenciaturas, de um modo geral, não há desenvolvimento de currículos de
disciplinas que tenham ênfase em formação de professores para o uso de tecnologias. Outro
fator que se observa nos cursos de licenciaturas é o envolvimento de alunos em pesquisas que
estão estruturadas, fundamentalmente, por bolsas de iniciação científica, (financiadas por
órgãos de fomento) com pesquisas nas áreas de seus respectivos cursos enfatizando estas
mesmas áreas. Neste caso, a formação de professores para o ensino de ciências é tratada como
menos importante e quando é tratada, é sob a concepção conteudista, ou seja, o enfoque não é
o de aprender, mas o conteúdo da área propriamente dita.
Mas, os pesquisadores que buscam estudar a formação do professor para o ensino de
ciências buscam desenvolver a concepção de que a pesquisa pode ser desenvolvida em sala
de aula como princípio educativo, que a mesma pode ser vista, entendida e praticada como
“instrumento metodológico para construir conhecimento”, como “um movimento para a
teorização e para a inovação”(DEMO, 1997).

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Por meio desta concepção de ensino de ciências, seria necessário uma formação inicial
em licenciatura que auxiliasse o professor a desenvolver projetos que permitissem ao aluno a
construção de conhecimentos a partir de pesquisa, análise, reflexão, busca de soluções,
interação e divulgação de novas descobertas.
O uso de internet tem sido amplamente disseminado nas escolas. Ela tem se mostrado
um importante recurso de pesquisa, interação, divulgação de novas descobertas. Embora, seja
recente seu uso em escolas públicas, tornou-se um grande desafio aos educadores
possibilitarem um uso da rede de internet de qualidade e de capacidade crítica a seus alunos.
As ferramentas na Internet tem desenvolvimento rápido. O desafio tem sido maior ainda
porque os cursos de licenciatura não permitem aos estudantes de licenciatura a abrangência de
tecnologias de informação e comunicação associadas a práticas de ensino que enfatizem a
pesquisa como princípio educativo. Esses mesmos cursos também não permitem ao aluno
conhecer tecnologias utilizadas na internet que possam ser aplicadas em suas práticas de sala
de aula.
A apresentação de tecnologias de internet, como o blog que agrega várias tecnologias
já explicitadas, nos cursos de formação de professores pode introduzir na prática destes,
posteriormente, o uso de ferramentas tecnológicas que possibilita a pesquisa como princípio
educativo.
Percebe-se que a utilização de blogs para a formação de professores no ensino de
ciências pode ser uma importante ferramenta para a prática educativa. A utilização de um
blog pode permitir ao professor estimular seus alunos a pesquisar, analisar, refletir, buscar
soluções para resolver problemas, ao mesmo tempo em que se apropria do uso de tecnologias
digitais. Essa ferramenta permite ainda que os alunos construam conhecimentos
coletivamente e divulguem suas novas descobertas.

CONCLUSÃO
Com o desenvolvimento de muitas tecnologias, e em especial as que podem ser usadas
na internet, como as que integram um blog, observam-se a aplicação de muitas delas na área
de educação. Ao mesmo tempo em que as tecnologias desenvolvem-se rapidamente, a
formação de professores para uso destas não se desenvolve de forma tão rápida. Em se
tratando de formação de professores para o ensino de ciências, sob uma concepção de ensino
para a pesquisa, produção de pesquisa, análise e interpretação de dados, pode-se apontar o uso
de uma ferramenta que agrega várias tecnologias que apóiam essas atividades: o blog.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, Cláudia Colla de. Compartilhando e construindo conhecimento ação mediada
entre crianças e adolescentes no desenvolvimento de blog pedagógico-literário em uma
biblioteca pública da cidade de São Paulo. São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado em
Estudos Linguísticos e literários em inglês). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Universidade de São Paulo.

DEMO, Pedro1-. Educar pela pesquisa. Campinas: Autores Associados, 1996.

GOMES, Maria João. Blogs: um recurso e uma estatégia educativa. In Actas do VII
Simpósio Internacional de Informática Educativa, SIIE, Leiria: Instituto Politécnico de
Leiria:, 2005, pp. 305-311.

PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar; trad. Patrícia Chittoni
Ramos. Porto Alegre : Artes Médicas Sul, 2000.

COUTINHO, Clara. Utilização de blogs na formação inicial de professores: um estudo


exploratório. Proceedings of the International Symposium on Computers in Education, 8,
Leon, Espanha, 2006.

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INTEGRANDO AS HABILIDADES DO CIENTISTA ÀS DO PEDAGOGO NA


PROMOÇÃO DA ENCULTURAÇÃO CIENTIFICA

INTEGRATING THE ABILITIES OF THE SCIENTIST INTO THE ONES OF THE


EDUCATOR IN ORDER TO PROMOTE THE SCIENTIFIC ENCULTURATION

Maria Helena Blasbalg1


Agnaldo Arroio2
1
Universidade de São Paulo/Faculdade de Educação, mblasbalg@uol.com.br
2
Universidade de São Paulo/Faculdade de Educação, agnaldoarroio@yahoo.com

Resumo: O presente trabalho busca discutir o papel do professor e as habilidades de ensino


necessárias para facilitar a “enculturação” científica em alunos do primeiro ano do ensino
Fundamental (cinco a seis anos), focalizando as interações existentes entre professor-aluno
ocorridas neste processo. A escolha da professora levou em consideração o fato dela possuir
licenciatura em Ciências bem como grande experiência com crianças desta faixa etária. A
professora consentiu com que os dados fossem coletados durante uma aula escolhida ao acaso
e sem aviso prévio. Além disto, para evitar distorções na coleta dos dados, ela também
concordou que os pontos a serem analisados fossem revelados somente após a filmagem. Os
bons resultados obtidos pela professora evidenciam que a formação de educadores de ciências
para o primeiro ano do Ensino Fundamental a partir de profissionais licenciados nessa área
pode representar uma alternativa possível para o desenvolvimento do ensino desta disciplina.

Palavras-chave: Habilidades de ensino, enculturação científica, primeiro ano do Ensino


Fundamental.

Abstract: The present work attempts to discuss the teacher's role and the necessary teaching
abilities to facilitate the scientific literacy of first grade students of Elementary School (five to
six years of age), focusing on existing interactions between teacher-student which took place
in this process. The teacher's choice took into account the fact that this specific teacher had a
science degree as well as great experience with children of this age group. The teacher
consented to data collection during a class chosen at random and without advance notice.
Besides, to avoid distortions in data collection, she also agreed that the points which were

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going to be analyzed were revealed only after the filming. The good results obtained by the
teacher were evidence that a first grade educator with a degree and license in sciences can
represent a possible alternative to advance the teaching of this discipline.

Keywords: Teaching abilities, scientific literacy, first grade of elementary school.

INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo a análise da relação professor-aluno durante uma aula
de ciências, com crianças na faixa dos seis anos de idade, focalizando principalmente o modo
como o professor faz a mediação entre os estudantes na atribuição de significados científicos.
Nesta pesquisa, o ensino e a aprendizagem foram vistos sob uma perspectiva sociocultural,
como um processo de “enculturação” científica. Colocou-se em foco o papel do professor
como mediador desse processo, que envolve um novo olhar tanto sobre os conteúdos como
sobre as práticas a serem trabalhadas na disciplina.
Ensinar Ciências para crianças que se encontram no 1º ano do Ensino Fundamental
tem se mostrado uma tarefa complexa, que envolve a integração entre o desenvolvimento das
habilidades relacionadas à disciplina Ciências e às práticas educativas compatíveis com esta
faixa etária. Segundo Piaget, as crianças desta série se encontram entre o final do estágio pré-
operatório e início do operatório-concreto, numa etapa de transição e que requer o
desenvolvimento de atividades que levem em consideração esta especificidade. Portanto, as
práticas pedagógicas que envolvem a disciplina Ciências Naturais para esta idade, devem,
almejar o desenvolvimento de atividades desafiadoras e interessantes, que promovam a
“enculturação” científica e contemplem os objetivos propostos pelo currículo de Ciências
sugerido pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, responsável pelo
planejamento curricular desta faixa etária. Para tal, as propostas didáticas devem
proporcionar, além do desenvolvimento das linguagens oral e escrita, prioridades das séries
iniciais do ensino Fundamental, a construção do pensamento científico baseado numa
aprendizagem que atribui sentido ao que somos e aos acontecimentos que nos cercam, através
de experiências que possibilitam a aproximação do conhecimento às diversas formas de
representação e explicação do mundo social e natural, para que as crianças possam estabelecer
progressivamente a diferenciação que existe entre as explicações provenientes do “senso
comum” e os “conhecimentos científicos”.
O ensino e a aprendizagem de Ciências, quando vistos como parte de um processo de
“enculturação”, devem ser planejados de forma a contemplar as relações existentes entre

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ciências e sociedade, a compreensão da natureza da ciência e dos fatores éticos e políticos que
circundam sua prática e a compreensão básica de termos e conceitos científicos fundamentais
(Carvalho, 2007). É preciso investigar de que forma são estabelecidas as relações durante a
realização das atividades para torná-las significativa para os alunos, já que é no contexto
sociocultural da sala de aula que o potencial de uma atividade de ensino pode se transformar
em realização e a maneira como o professor faz a mediação entre os estudantes e a cultura
científica na qual estão sendo inseridos é elemento decisivo para que isto ocorra (Capecchi &
Carvalho, 2006).

Nesse mesmo sentido, Sasseron & Carvalho (2008) defende a importância de um


ensino de Ciências que almeje a Alfabetização Científica, ou seja, a formação cidadã dos
alunos para ação e atuação em sociedade. Em seu trabalho, a autora investiga a Alfabetização
Científica nos primeiros anos do ensino Fundamental, discutindo como este processo pode ser
iniciado em sala de aula e quais os elementos que nos fornecem evidências de que ele esteja
em desenvolvimento. Nesse mesmo trabalho, Sasseron reforça a importância de um currículo
de Ciências que, a partir de atividades problematizadoras, cujas temáticas sejam capazes de
relacionar e conciliar diferentes áreas e esferas da vida humana, vislumbre as ciências e seus
produtos com elementos presentes no cotidiano, relacionado-as aos adventos tecnológicos,
seus efeitos para a sociedade e para o meio ambiente. Sasseron também discute a necessidade
de desenvolver atividades que, em sala de aula, estimulem a argumentação entre alunos e
professor de forma a permitir que os estudantes levantem hipóteses, construam argumentos
para dar credibilidade a tais hipóteses, justifiquem suas afirmações e busquem reunir
argumentos capazes de conferir consistência a uma explicação para o tema sobre o qual se
investiga. Sob este aspecto, é preciso que o ensino privilegie questionamentos e discussões
que levantem as múltiplas influências entre os fenômenos em si, seu conhecimento pela
comunidade cientifica, o uso que esta comunidade e a sociedade fazem do conhecimento, as
implicações que isto representa para a sociedade, para o meio ambiente e para o futuro da
vida no planeta.
A conceitualização de aprendizagem em ciência como argumento enfatiza o papel da
argumentação no desenvolvimento de capacidades capazes de levar os alunos a raciocinar
sobre problemas e questões. Nesta perspectiva, a argumentação é especialmente relevante na
educação cientifica na medida em que é capaz de promover a geração e a elaboração de
justificativas sobre as afirmativas do conhecimento, crenças e tomadas de ações, que levam ao
entendimento da natureza. Jiménez-Aleixandre et al.(2000) destacam que a argumentação,
como um elemento estrutural da linguagem científica, é um elo essencial tanto na realização

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da ciência como na comunicação das afirmações científicas. A construção de argumentos


pelos estudantes está diretamente relacionada à habilidade do professor em conduzir a aula e
preparar de atividades tendo em mente o que vai ensinar, como vai ensinar e porque vai
ensinar. É também papel do professor estimular a observação, dando contornos mais precisos
às novas ideias que os alunos começam a construir e estimular a participação de todos de
forma a garantir a livre manifestação de pensamentos. Portanto, cabe ao professor o desafio
de criar um ambiente propício ao desenvolvimento cognitivo e afetivo em sala de aula
(Carvalho, 2004).
O professor passa a ser alguém que pode propor aos alunos modelos de como os
cientistas falam, escrevem, constroem diagramas, calculam, planejam, observam, representam
e analisam dados, formulam hipóteses e conclusões, conectam as teorias, modelos,
informações com o trabalho de outros pesquisadores. Contudo, como mostram os resultados
do trabalho de Monteiro & Teixeira (2004), promover a argumentação em sala de aula não é
uma tarefa simples. Esses resultados evidenciam a grande dificuldade enfrentada por
professores em organizarem suas falas para dirigir atividades didáticas que promovam
efetivamente um diálogo verdadeiro, de modo a assegurar que os alunos possam construir
argumentos segundo as características sociais da cultura científica.
Por outro lado, a aprendizagem de ciências compreende não só o estudo da
argumentação, mas de todos os modos de significação que as pessoas empregam em formas
especificamente cientificas de atividade humana. Esse processo de significação envolve
outras linguagens, o que torna a linguagem científica um híbrido semiótico, portador
simultaneamente de um componente verbal-tipológico e outro matemático-topológico. Assim,
geralmente, a linguagem oral está acompanhada de gestos e expressões faciais ao passo que a
linguagem escrita vem acompanhada de tabelas e gráficos (Lemke, 1998).
Esse enfoque requer que professor não só domine as linguagens específicas das
Ciências como apresentem também as habilidades de sustentar uma discussão dando
condições para os alunos argumentarem, de transformar a linguagem cotidiana em linguagem
científica e de introduzir os alunos nos diferentes aspectos das linguagens matemáticas
(Carvalho, 2007). Sendo assim, urge a necessidade de um ensino que proporcione aos alunos
espaço para reflexão e discussões acerca dos fenômenos naturais, permitindo também sua
familiarização com todas as diferentes linguagens empregadas nos processos de construção de
significados científicos (Sasseron & Carvalho, 2008).
O presente trabalho visa, portanto, analisar a presença ou não das principais
habilidades necessárias para a promoção da “enculturação” científica no professor

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“especialista”, cuja formação profissional parece integrar o universo infantil ao mundo da


ciência.

METODOLOGIA
Este estudo envolveu uma investigação qualitativa. Os dados foram recolhidos através
da gravação em vídeo de uma atividade escolhida ao acaso e sem aviso prévio, realizada no
laboratório de uma escola da rede particular de São Paulo, com crianças na faixa dos seis anos
de idade. A atividade envolveu 15 alunos, dispostos em 4 grupos e o tema escolhido pela
professora foi “Água”. Na análise dos dados, houve o enfoque na interação professor-aluno,
selecionando as transcrições onde o professor criou oportunidades para que os alunos
construíssem argumentos; dedicou atenção especial à linguagem utilizada pelo estudante ou
trechos da aula onde o professor introduziu linguagens da matemática.
Dentro da perspectiva de aprendizagem de Ciências como um processo de
enculturação, Driver e Newton (1997) apresentam categorias para a análise dos argumentos
elaboradas a partir do padrão instituído por Toulmin. Além de serem identificados os
principais componentes presentes nos argumentos (análise estrutural), foram atribuídos níveis
de qualidade com base na complexidade dos argumentos utilizados baseados na existência ou
não de interações entre diferentes idéias (Driver & Newton,1997) (Tabela 1).
Tabela 1 – Categorias desenvolvidas por Driver e Newton para análise da argumentação dos
alunos.
Tipo de argumento Nível
Afirmação isolada sem justificativa 0
Afirmações competindo sem justificativa 0
Afirmação isolada com justificativa 1
Afirmações competindo com justificativas 2
Afirmações competindo com justificativas e qualificadores 3
Afirmações competindo com justificativas respondendo por refutação 3
Fazer julgamento integrando diferentes argumentos. 4

O episódio estudado se refere a uma atividade onde a professora procurou fazer o


levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos sobre os estados físicos da água. A aula,
apesar de não oferecer nenhum tipo de experimento, foi dada no laboratório de ciências com a
finalidade de estreitar o contato das crianças com o universo da Ciência. Assim, a professora
distribuiu as crianças pelas bancadas do laboratório, em grupos de aproximadamente 4 alunos.

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Em seguida, ela iniciou uma discussão com a classe sobre o tema. A atividade durou
aproximadamente 12 minutos.
Na sequência abaixo podemos perceber que a professora inicia a discussão formulando
perguntas fechadas e, consequentemente, tem como respostas afirmações bastante sucintas,
sem justificativas (nível 0). Durante o diálogo, ora a professora gesticula para confirmar as
ideias expostas pelos alunos e ora aprofunda suas próprias perguntas, tentando obter as
respostas adequadas ao prosseguimento da discussão. Além disto, a professora emprega
outras linguagens com a finalidade de promover uma atribuição de significado ao fenômeno
estudado. Assim, podemos perceber que logo no primeiro turno, a professora faz a
representação gráfica da proporção de água, utilizando esta linguagem para cooperar com sua
fala (Márquez et al, 2003). Com esta mesma finalidade ela também utiliza gestos nos turnos 1
e 5.
Diálogo Modo semiótico
Escrita/visual Gestual
1. P: Nosso corpo tem duas partes de Professora desenha na lousa um

água. Aonde na natureza, na natureza, retângulo dividido em três partes


e pinta duas.
no ambiente eu encontro água. Vocês
já falaram para mim no mar, no rio...

Professora conta os locais com


as mãos.

2. PE: Na praia
MA: No esgoto
3. P: Na natureza, não no esgoto da
cidade, Na natureza. No mar...
4. C: Na árvore.
5. P: Nas plantas tem muita água. Professora faz movimento
afirmativo com a cabeça.
6. P: Onde mais eu encontro água?
7. IM: Na terra, na chuva...

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Neste trecho, a professora continua direcionando as perguntas no sentido de obter as respostas


desejadas sobre os estados físicos da água. Da mesma forma que na sequência anterior, as
respostas obtidas ainda são bastante simples (nível 0).
Diálogo Modo semiótico
Escrita/visual gestual
36. P: Explica para mim o que é
que tem no freezer que faz
congelar a água?
37. HQ: Tem ar.
38. P: Ar e o que?
39. IM: O ar e frio.
A professora então, sintetiza o que os alunos já falaram, utilizando novamente outras
linguagens para especificar o conceito explicado (Márquez et al, 2003), como mostra o turno
40 onde a professora constrói na lousa um esquema simplificado do fenômeno, utilizando esta
outra linguagem para especificar a relação existente entre a temperatura e o estado sólido.
Logo a seguir (turno 42), ela desenha quadrados azuis representando os cubos de gelo. Neste
caso a linguagem gráfica empregada coopera com a linguagem oral.
Contudo, no que se refere à habilidade de introduzir os alunos nas linguagens da
matemática a professora poderia ter se aprofundado mais. Apesar do grupo ser composto por
crianças pequenas, existem objetivos específicos da área de matemática para este grau que
poderiam ter sido trabalhados pela professora como, por exemplo, a construção de uma reta
numerada com as temperaturas dos fenômenos estudados ao invés do esquema descrito a
seguir.

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40. P: O ar é gelado, então olha... Usa a caneta azul para traçar uma
linha no lado esquerdo da palavra
Eu pego a água e ó..Vou abaixar a
“ÁGUA” e escreve 0º embaixo da
temperatura de onde a água tá. O
linha traçada e a palavra “Gelo”.
freezer não é gelado? No freezer
tá assim ó, zero graus. É o jeito da
gente medir a temperatura. É
GELO ‘’ÁGUA”
muito frio. Daí o que acontece? A

água vira o que?
41. Muitos alunos: Vira gelo
42. P: Cubinhos de gelo? Desenha cubos de gelo na lousa.

GELO ‘’ÁGUA”

A professora passa agora a fazer perguntas que contenham “por que?”. A partir deste
tipo de perguntas começam a aparecer justificativas e qualificadores nas respostas das
crianças. A primeira criança a falar responde a pergunta da professora justificando sua
resposta (nível 1). A professora segue estimulando que as crianças falem e o mesmo aluno
reelabora seu pensamento (turno 51) relacionando a temperatura ao fenômeno.
46. P: Muito legal isso. Mas eu
queria saber se eu fizesse uma
coisa...
47. IM: Se o gelo vira água.
48. P: Se eu tirar o gelo do freezer
ele vira água de novo?
49. Muitos alunos: Vira.
50. P: Por quê?
51. DM: Ele derrete com o calor.
Porque é muito quente.
Na fala que se segue o aluno DS mostra que ele conseguiu relacionar o fenômeno com
situações do seu cotidiano. Neste momento, apesar da fala ainda ser um pouco confusa,
aparece na resposta de DM um qualificador, ao passo que DS tenta construir uma explicação
causal para o fenômeno.

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53.DM: Se tivesse na neve não ia


molhar?
54. P: Se tivesse na montanha
gelada não ia derreter.
55. DS: O gelo lá na varanda, que
tava muito, muito sol, começou a
derreter.
Na medida em que a professora foi elaborando pequenas questões, as crianças
puderam construir explicações do fenômeno e desenvolver o pensamento racional. Durante
toda a atividade houve nítida preocupação da professora em promover a argumentação por
parte das crianças, criando um ambiente encorajador, estimulando-as a expor suas ideias.
Outro aspecto importante da atuação da professora pode ser percebido nos turnos 57 e
58 onde ela demonstra a preocupação em transformar com naturalidade a linguagem cotidiana
em linguagem cientifica na medida em que introduz para a criança o termo correto que lhe
faltava.
56. P: É por que... O sol o que ele
fez com o gelo?
57. DS: Ele queima.
58. P: Esquenta?
59. DS: É.
60. P: O calor do sol esquentou.

CONCLUSÕES
Inicialmente, houve somente a contextualização do tema de estudo no cotidiano dos
alunos. Entretanto, depois de algum tempo a professora conseguiu sensibilizar as crianças e
engajá-las numa discussão sobre o assunto promovendo a “enculturação” científica. Isso foi
possível, pois as perguntas elaboradas, além de serem bem simples e numa linguagem
adequada a faixa etária, evidenciaram a relevância do tema bem como aspectos da cultura
científica. Essa argumentação, consequente das interações estabelecidas em sala de aula,
possibilitou a aproximação do conhecimento do senso comum ao conhecimento científico.
Desta forma, ao ouvir as hipóteses elaboradas pelas crianças a professora selecionou
as informações relevantes e pertinentes ao tema de estudo de forma a criar oportunidades para
a reflexão em busca de explicações para os fenômenos estudados ao mesmo tempo em que
privilegiou a construção de relações intrínsecas capazes de atribuir significado. Podemos

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afirmar que a professora desempenhou papel fundamental para que seus alunos
argumentassem, discutissem e falassem Ciências.
Contudo, a consolidação do processo de “enculturação” científica envolve também
outras habilidades além do estabelecimento da argumentação. Assim, em diversas ocasiões, a
professora procurou também transformar a fala cotidiana em linguagem científica,
introduzindo os termos corretos que faltavam às crianças durante suas explicações.
A análise desta atividade mostrou que a professora em questão possui as habilidades
necessárias para promover a “enculturação” científica, mesmo se tratando de alunos tão
pequenos. Essas habilidades foram utilizadas de maneira bastante natural, inclusive nas
situações que exigiram a tomada de medidas instantâneas. Os bons resultados apresentados
pela professora parecem estar relacionados à sua familiarização tanto com o mundo da
Ciência como com o universo infantil, obtido a partir da integração entre os conhecimentos
específicos de ambas as áreas.
A presente pesquisa aponta no sentido de que esta especificidade, presente na
professora, parece colaborar para o desenvolvimento natural das habilidades necessárias para
promover a “enculturação” científica. Portanto, a formação de professores de ciências a partir
de profissionais desta área, quando dispostos a ampliar e aprofundar seu universo de atuação
parece ser um caminho possível para a melhoria do ensino desta disciplina no Brasil.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPECCHI, M. C. V. de M.; CARVALHO, A. M. P. Atividade de laboratório como
instrumento para a abordagem de aspectos da cultura científica em sala de aula. Pro-posições,
V. 17, n. 1(49), 2006.
CARVALHO, A. M. P. Building up explanations in physics teaching. International Journal
in Science Education, V. 26, n. 2, p. 225-237, 2004.
CARVALHO, A. M. P. Habilidades de Professores para promover a Enculturação Científica.
Revista Contexto & Educação, V. 22, n. 77, p. 25-49, 2007.
DRIVER & NEWTON. Estabelecendo normas de argumentação científica em sala de aula.
Documento preparado para apresentação na Conferência ESERA, Roma, 2 – 6 de Setembro,
1997.
JIMÉNEZ-ALEIXANDRE, M. P.; RODRIGUEZ, A. B.; DUSCHL, R. A. Doing the lesson
or doing science: argument in high school genetics. Science Education, V. 84, n. 6, p. 757-
792, 2000.
LEMKE, J. L. Teaching all the languages of science: words, symbols, images and actions. In:
CONFERENCE ON SCIENCE EDUCATION. Barcelona, 1998.
MÁRQUEZ, C.; IZQUIERDO, M. & ESPINET, M. Comunicacíon multimodal em la clase de
ciencias: el ciclo del água. Enseñanza de las ciencias, v.21(3), p. 371-386, 2003.
MONTEIRO, M. A. A.; TEIXEIRA, O. P. B. Uma análise sas interações dialógicas em aulas
de ciências nas séries iniciais do ensino fundamental. Investigações em Ensino de Ciências,
V9(3), p. 243-263, 2004.
REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL.
Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. —
Brasília: MEC/SEF, v. 3, 1998.
SASSERON, L. H.; CARVALHO, A. M. P. Almejando a alfabetização científica no ensino
fundamental: a proposição de indicadores do processo. Investigações em Ensino de
Ciências, V.13, n. 3, p. 333-352, 2008.

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A NATUREZA DA CIÊNCIA E O CINEMA: RELAÇÕES POSSÍVEIS PARA O


ENSINO DE CIÊNCIAS

THE NATURE OF SCIENCE AND THE CINEMA: POSSIBLE RELATION TO


SCIENCE EDUCATION

Vinícius Conte1, Edson Rodrigues Santana2, Agnaldo Arroio3


1
Universidade de São Paulo/Instituto de Física, vinicius_conte@yhotmail.com
2
Universidade de São Paulo/Faculdade de Educação, edsonrodriguessantana@hotmail.com
3
Universidade de São Paulo/Faculdade de Educação, agnaldoarroio@yahoo.com

Resumo: Apresentamos neste trabalho algumas considerações a respeito da utilização dos


recursos audiovisuais, especificamente o cinema como um recurso que pode contribuir para
trabalhar as questões que estão relacionadas à natureza da ciência no ensino de ciências. Dois
filmes foram analisados: “Gattaca – Experência Genética” e ” O Óleo de Lorenzo”.

Palavras-chave: cinema, natureza da ciência, ensino de ciências.

Abstract: We present in this work some aspects about the use of the audiovisuais resources,
specifically the cinema as a resource that can contribute to work the questions that are related
to the nature of science in the education of sciences. Two films had been analyzed: “Gattaca”
and “Lorenzo´s Oil”.

Keywords: cinema, nature of science, science education.

INTRODUÇÃO
O ensino de Ciências não se resume à apresentação de definições científicas, pois
envolve também o desenvolvimento de procedimentos que permitam ao aluno compreender o
mundo, a realidade em que vive e que o habilite como cidadão e indivíduo, a utilizar estes
conhecimentos no seu cotidiano, assim não bastam apenas à apropriação dos conceitos
científicos, mas também é necessária uma compreensão da própria natureza da ciência. Cabe,
portanto ao professor diante de uma proposta de ensino promover de forma integrada com os
conceitos científicos, reflexões sobre a própria natureza da ciência e sua relação com a

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tecnologia e a sociedade. É notório que tal argumentação tenha certa dificuldade para
utilização em sala de aula, pois normalmente existe certa dificuldade dos professores
compreenderem sobre o tema ou até mesmo nunca obtiveram formação e informação para
esta temática, como descreve Santana e Arroio (2009).
Harres (1999), ao concluir um artigo onde aborda as concepções de professores sobre
a natureza da ciência, cita Porlán (1997) destacando a importância em se conhecer as
concepções dos professores tanto do ponto de vista do ensino de ciências, quanto as suas
concepções sobre a natureza da própria ciência, pois a partir da compreensão de tais
concepções, poderia ser construída uma proposta de formação de professores que levasse os
mesmos a uma postura reflexiva sobre as suas compreensões da própria didática da ciência e
também da natureza do conhecimento científico.
As concepções da natureza da ciência inadequadas se formariam fora dos programas
de formação de professores e, para mudar esta situação, ele propõe a inclusão de filosofia da
ciência como parte dos cursos de graduação uma vez que constata que filósofos tinham
escores mais altos nesses testes do que os professores de ciências e os cientistas.
Diante do apresentado, procuraremos inserir a utilização do cinema como uma
ferramenta cultural que poderia auxiliar os professores durante a abordagem de assuntos da
natureza da ciência.
Aprender ciências significa aprender não apenas o conteúdo científico ou o seu
conhecimento substantivo, mas também compreender os métodos investigativos das ciências
e a sua dinâmica com a sociedade, com a política e com a economia.
Roesler (2005) faz referências à teoria das Inteligências Múltiplas, de Gardner, para
explicitar a importância da utilização das linguagens midiáticas na educação, pois elas
“apresentam uma narrativa permeada de movimento, de imagens, sons, de escrita”. Uma
estratégia de ensino baseada na linguagem fílmica permite desvincular a aprendizagem de um
processo puramente racional, desenvolvendo o lado sensorial, criativo, imaginativo e crítico
perante as informações contidas nos filmes.
Porém, ao admitir o valor educacional do audiovisual, é necessário fazer algumas
indagações sobre este material, como “O que a imagem reflete? Ela é a expressão da realidade
ou é uma representação? Qual o grau possível de manipulação da imagem?” (Navarrete,
2008). Tais perguntas são importantes para que não se caia numa ingenuidade de tratar o
material fílmico como uma verdade, desprovido de intenções e/ou de opiniões, nem por parte
dos alunos e nem dos professores.

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VISÕES DE CIÊNCIAS E CIENTISTAS


Gil-Pérez e colaboradores (2001) descrevem alguns tipos de visões distorcidas da
ciência apresentada por professores que são: empírico-indutivista, neutra e ingênua, linear,
elitista, a-histórica e acmulativa, outros trabalhos como os de Bell, Lederman e Abd-el-
khalick (2000) ressaltam não apenas problemas nas concepções sobre a ciência, mas também
a carência e a falta de consciência sobre o como é importante a abordagem desta temática no
ensino. Santana e Arroio (2009) apontam a utilização da história da ciência como um recurso
importante para trabalhar com a compreensão da natureza da ciência. Assim o uso criterioso
da história da ciência, poderia permitir ao aluno compreender a ciência como processo e não
como produto acabado.
Porém estes autores também fazem considerações sobre o uso da história da ciência no
ensino de maneira que esta não seja usada apenas para glorificar os feitos e as personagens da
ciência, ou ainda a que, exija dos alunos apenas um conhecimento memorístico de datas e
nomes, neste sentido uma das funções da história da ciência, a luz da nova historiografia da
ciência em que os aspectos positivistas são criticados, entendemos que aliar recursos da
história da ciência principalmente com alguns filmes que tratam o assunto, podem contribuir
para melhorar as visões da ciência e dos cientistas tanto para professores quanto para os
alunos.
Nas entrevistas feitas por Santana e Arroio (2009), uma das reclamações dos
professores era exatamente a falta de material específico. Porém não basta apenas o acesso
aos filmes, é necessária uma formação que trabalhe com este material de forma a articular os
aspectos do audiovisual com a compreensão epistemológica da natureza da ciência. Neste
sentido procuramos através deste trabalho contribuir com esta questão.
No entanto, é durante atividades realizadas em sala de aula que os estudantes podem
se transformar em agentes sociais e históricos de seu tempo e podem assim constituir
significados apropriando-se de elementos da linguagem científica e de seus procedimentos,
proporcionando uma oportunidade de atribuição de valor às formas de pensar e agir do
cientista. Com isso, quando os elementos da cultura científica puderem ser “vivenciados”
pelos estudantes, será possível avaliá-los e confrontá-los com outras formas de pensar e agir,
características de outras culturas e que também estão presentes na sala de aula.
Qual é a necessidade de se desenvolverem noções sobre os processos de construção de
conhecimento da cultura científica em atividades de ensino de Ciências, tendo em vista as
demandas atuais da educação básica?

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METODOLOGIA
Para contribuir nessa discussão, pretendemos buscar entender a influência que o
audiovisual, na forma de filmes sobre a temática em questão e por meio de suas
representações e/ou expressões, pode e tem contribuído na constituição destas visões de
Ciências e cientistas que os estudantes possuem como parte de sua educação não-formal.
Possibilitando assim um elo de sua educação não-formal com sua educação formal, com a
incorporação do audiovisual na organização do ensino na sala de aula de ciências, onde o
professor possa de fato realizar um trabalho efetivo com o material audiovisual e não apenas
reduzir sua utilização como mera ilustração.
O cinema (filme) pode ser utilizado como um documento para o estudo histórico
quando articula ao contexto histórico e social que o produziu um conjunto de características
intrínsecas do próprio cinema (Kornis, 1992). Buscamos discutir a relação entre Cinema e
Ensino de Ciências com o intuito de colaborar nessa discussão e assim possibilitar uma
melhor utilização deste recurso na sala de aula. A discussão está voltada para a proposta de
utilização do cinema na aprendizagem de Ciências e fundamentada em um estudo teórico com
base na literatura pertinente (Cinema, História do Cinema, Ensino de Ciências, etc.) (Sorlin,
1977; Lemke, 1990; Vygotsky, 1978).
Esse trabalho foi desenvolvido a partir de uma análise micro-analítica dos filmes O
Óleo de Lorenzo e Gattaca, buscando destacar as questões relativas à visão de Ciências
retratadas nesse filmes. Para tanto, realizamos a seleção de algumas cenas denominadas de
recortes. Os critérios de seleção destes recortes fundamentaram-se na capacidade em revelar
conteúdos e situações que podem potencialmente estimular a reflexão acerca do tema em
discussão. Visando evidenciar elementos da linguagem audiovisual (potencial de
comunicação com os jovens), conteúdos abordados (conteúdos científicos) e possibilidades de
contextualização em sala de aula (Arroio, 2007).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Consideramos que ao interpretar e significar as imagens oriundas de um filme, o
espectador o faz em decorrência de uma experiência histórica, social e cultural. Em trabalho
recente (Arroio, 2006; 2007; 2008a; 2008b; 2008c; 2009) temos notado um crescimento da
utilização do Cinema na sala de aula de Ciências e em alguns casos com interpretações
equivocadas sobre o processo de significação, análise, utilização, etc. Enfim, incongruências
estas que não permitem uma utilização apropriada do meio.
O Óleo de Lorenzo traz novos elementos para a concepção da produção científica,

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contrapondo o saber dito científico, reconhecido pela comunidade científica, e o saber não
reconhecido como científico, além de evocar os fatores econômicos que cerceiam as
investigações científicas, apontando a competitividade entre os cientistas e explicitando que a
ciência não é construída de modo cooperativista.
Através do filme é possível fazer discussões sobre as relações entre a sociedade e a
ciência e sobre legitimidade do saber científico como uma verdade imutável e absoluta. O
filme possibilita uma visão diferente da abordada por Thomas S. Kuhn (1970) que afirma que
para um conhecimento ser reconhecido como científico é necessário que ele seja validado por
uma comunidade científica. Transcreveremos agora um trecho referente ao Simpósio
Internacional de ALD, mostrado no filme:
(53min 45seg- 56min 27seg)
DR. GUS: Nos últimos seis meses, todos os nossos garotos ALD estão num regime que exclui
os saturados C24 e C26. Mas apesar desta restrição na dieta, esses ácidos graxos de cadeia
longa continuaram os mesmos, em alguns casos aumentando. Eu atribuo este aumento à
biossíntese.
DR. #1: Mas, Gus, se você pudesse manter a dieta e de alguma maneira inibir a biossíntese,
você teria uma terapia.
DR. GUS: Não, não exatamente. Você teria uma maneira de normalizar os ácidos graxos.
DR. #2: Se quiser inibir a biossíntese, já considerou a manipulação de ácidos graxos? Há
uma matéria sobre um estudo de rato, russo ou polonês.
SRA. ODONE: Polonês. Straszak. Eu tenho cópias. Revista Polonesa de Ciências Biológicas,
1979 Volume II. Acrescentaram uma gordura na dieta diminuindo a biossíntese da outra.
DRA. #3: Sim, eu me lembro deste artigo. E também no Canadá, já observaram a mesma
coisa em suínos miniatura.
DR. RIZZO: De fato, eu já vi isso em células humanas. Em células humanas de ALD. Tirei
fibroblastos, células da pele, de pacientes com ALD, certo? Cada um portando a mesma falha
genética. Eu os incubei com ácido oléico e reduzi os saturados C24 e C26 em mais de 50 por
cento.
SR. ODONE: Desculpe, doutor. Você disse ácido oléico?
DR. RIZZO: Monoinsaturados C18, o componente principal do azeite de oliva.
SRA. ODONE: Certamente, esta é a base de uma terapia.
DR. RIZZO: Devagar. São estudos em células cultivadas. Não sabemos se funcionará em
seres humanos.
SR. ODONE: Então, use o azeite de oliva e experimente num paciente e veja...

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DR. GUS: Augusto, azeite de oliva é proibido na dieta: C24, C26.


SR. ODONE: Sim, mas então use o que o Dr. Rizzo usou no seu fibroblasto.
DR. RIZZO: Ácido oléico seria tóxico num organismo intacto, animal ou humano. Teria de
ser na forma de triglicerídeo, que é comestível, mas não existe.
SRA. ODONE: Certo, não pode extrair o C24 e C26 do azeite de oliva comum?
DR. RIZZO: Poderíamos, mas é um processo complicado e muito caro, especialmente na
quantidade necessária para um teste clínico.
SRA. ODONE: Já contatou as companhias químicas?
DR. RIZZO: Ninguém toparia isso. Não experimentalmente, não se não há mercado.
Neste trecho vemos que a ciência não é produzida por um único cientista ou por um
grupo único grupo de cientistas ou em apenas um laboratório. Diferentes estudos em várias
partes do mundo ajudam a formular novas teorias. O debate começa a se instaurar quando é
citado um estudo sobre manipulação de ácidos graxos de cadeia longa em ratos, dissociado de
estudos sobre ALD, e evolui até a formulação de um possível tratamento para a doença.
Podemos verificar neste trecho o que Chalmers (1993) chama de objetivismo,
descrevendo-o como “um ponto de vista que enfatiza que itens do conhecimento, desde
proposições simples até teorias complexas, possuem propriedades e características que
transcendem as crenças e estados de consciência dos indivíduos que os projetam e
contemplam”, ou seja, o conhecimento científico independe da crença ou do conhecimento do
indivíduo, ele está presente nas teorias quer os cientistas estejam cientes dele ou não.
Quanto ao método científico empregado por Augusto Odone percebemos novamente
uma ciência feita através da observação, formulação e refutação de hipóteses através da
experimentação, características da linha positivista do pensamento científico, porém não
possui um indutivismo aparente, pois seus experimentos estão cerceados das teorias da
química e biologia.
O empirismo científico é uma visão bastante observada no meio escolar, concebendo
um papel fundamental à observação da natureza e à experimentação supostamente neutras na
construção de teorias. Nesta visão, a identidade do cientista, sua história e a sociedade em que
ele está inserido são extirpadas do seu ser, dando a (falsa) impressão que suas observações e
experimentos são isentas de pré-conceitos, reforçando imagens que descrevem os cientistas
como loucos ou fora dos padrões da normalidade. Neste indutivismo ingênuo os dados
retirados das observações e experimentações são utilizados para construir uma teoria,
adequando-se ou não aos esquemas conhecidos do universo (Chalmers, 1993).
Outra visão bastante corrente é a do método científico infalível, cem por cento

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confiável, levando a crer que alguma hipótese é uma verdade absoluta se ela for
“cientificamente comprovada”. Nas palavras de Chalmers (1993) “A atribuição do termo
“científico” a alguma afirmação, linha de raciocínio ou peça de pesquisa é feita de um modo
que pretende implicar algum tipo de mérito ou um tipo especial de confiabilidade. Mas o que
é tão especial em relação à ciência? O que vem a ser esse “método científico” que
comprovadamente leva a resultados especialmente meritórios ou confiáveis?”. Entre os
alunos, a imagem mais representante do método científico é que ele é uma série de etapas
previamente estabelecidas, realizadas mecanicamente, que não concebe espaço ao imaginário
e à criatividade. Esta imagem algorítmica e exata da ciência permite imaginar a ciência como
uma construção linear, com conhecimentos acumulativos, ignorando as crises e as revoluções
científicas e não levam em consideração as limitações teóricas do conhecimento científico
atual (Gallego Torres, 2007).
Em Gattaca observamos o auge da imagem da sociedade subjugada à ciência. A
cultura, a inteligência e a ética (fatores desenvolvidos socialmente) perdem valor diante do
código genético do indivíduo, impossibilitando as transformações sociais seja através da
educação, do esforço pessoal, etc. e, portanto, dando um caráter mais fatalista à sociedade. A
ciência toma o lugar da natureza, pois é capaz de gerar descendentes mais saudáveis e com
melhores condições de se incluírem socialmente. A geração natural de uma vida passa a ser
um empecilho para o indivíduo e para a sociedade, como exemplifica o seguinte trecho
retirado do filme, em que o médico que fez a seleção genética da célula embrionária fala com
os pais da futura criança:
(12min 14seg – 12min 34seg)
Queremos dar ao seu filho as melhores condições. Acreditem, já temos imperfeições demais.
Uma criança não precisa de mais um fardo. Ele herdará as características de vocês. As
melhores que têm. Uma concepção natural jamais conseguiria tal resultado.
Verificamos novamente uma influência do positivismo na narrativa do filme, desta vez
representada investigação policial de um assassinato, cuja base é o levantamento de dados
para a formulação de hipóteses, mas dando espaço para a imaginação ajudar na solução do
caso, como exemplificado no trecho a seguir:
(44min 28seg – 45min 33seg)
DETETIVE #1: Achamos o cara. É o único espécime aqui sem registro. A cada dez anos,
damos sorte.
DETETIVE #2: Um cílio? O que sabe dele?
DETETIVE #1: É um inválido não registrado. Era faxineiro aqui há alguns anos, depois ele

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sumiu.
DETETIVE #2: E o espécime é recente?
DETETIVE #1: Olhe para esse chão. Nenhum vestígio fica aqui muito tempo.
DETETIVE #2: Acha que um faxineiro voltaria após tanto tempo para matar um
desconhecido?
DETETIVE #1: Seu perfil diz que ele é violento.
DETETIVE #2: Mas o perfil também sugere que ele é um homem doente. Há 90% de chance
de ele já ter morrido de causa natural.
DETETIVE #1: Então há 10% de chance de ele estar vivo. Temos que achá-lo! Este cílio nos
levará até o assassino. Faremos uma checagem. Checaremos a família...
DETETIVE #2: Já checamos. Não há registros de parentes.
DETETIVE #1: É uma pena, senhor.
DETETIVE #2: Cheque os relatórios, álibis, inimizades. Eu não vi ninguém chorando por
aqui. O diretor da missão não era muito querido. Ele fazia os cortes no programa.
O método científico utilizado pelos policiais, apesar de estar delineado dentro de suas
observações e suas hipóteses, não pode ser considerado exato ou infalível, pois ele gera
conclusões diferentes entre os investigadores quanto a como este método deve ser empregado,
em que lugares pesquisar e quais informações são relevantes. Em suma, os dois filmes trazem
a tona os dilemas éticos que a ciência pode vir a enfrentar (especificamente, a ciência
genética) e que podem ser debatidos em sala de aula, pois se trata de um assunto complexo e
que brevemente entrará em discussão na sociedade como um todo.
Com as análises feitas até aqui, nos fica claro que o cinema carrega algumas visões
científicas em cada um de seus produtos que podem (e devem) ser amplamente explorados
pelos professores e alunos. Deve ficar claro que existem várias visões de ciência e do método
científico dentro da produção cinematográfica, e podemos explorá-las ativamente em sala de
aula para evitar concepções erradas de ciência e de cientistas. Lembremos também que o
produto midiático carrega um discurso ideológico dentro de si e não representa uma verdade
absoluta da realidade. É necessário desmontar, desconstruir o documento audiovisual e
analisar as condições de sua produção para que não façamos papel de ingênuos diante das
idéias propostas pelos autores (Navarrete, 2008).
A imagem não ilustra nem reproduz a realidade, ela a reconstrói a partir de uma
linguagem própria que é produzida num dado contexto histórico. Sendo assim, a utilização do
Cinema no Ensino de Ciências pressupõe uma séria de indagações que vão muito além do

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reconhecimento dos efeitos visuais do cinema. O professor de ciências deve passar por um
processo de educação do olhar que lhe possibilite “ler” as imagens do cinema (Arroio, 2007).
De acordo com o cineasta Siegfried Kracauer (1960) um filme conta-nos a história
humana superando as formas do mundo exterior – o espaço, o tempo e a causalidade; e
ajustando os acontecimentos às formas do mundo interior – a atenção, a memória e a emoção.
E ainda, na perspectiva da abordagem sócio-interacionista o público pode se identificar com
os personagens compartilhando suas ações e emoções, expressas na linguagem do
audiovisual.
Por meio de um filme o espectador/aluno compreende de maneira sensitiva e não
apenas cognitiva. Ao assistir um filme, além da transmissão de conteúdos, ocorrem vivências
de todos os tipos: emoções, sensações, atitudes, ações, conhecimentos etc. Filmes criam
tendências e têm maior impacto em gerações mais jovens do que qualquer outra mídia, além
de poder despertar maior interesse em temas científicos (Arroio, 2007).

IMPLICAÇÕES
Os meios de comunicação revelam-se particularmente eficazes para desenhar e tecer o
imaginário de todo o mundo. Educar com novas tecnologias é um desafio que até agora não
foi enfrentado com profundidade. O reconhecimento da importância social do audiovisual
ainda não se refletiu, de forma significativa, nas pesquisas desenvolvidas na área de Ensino de
Ciências.
O professor tem um papel importante como mediador entre o conhecimento científico-
escolar e o conhecimento do aluno acerca desta temática. A utilização do cinema pode
favorecer esta discussão, por possibilitar vivências aos alunos. Pois assim, com uma
contextualização baseada no audiovisual, como uma prática social, podemos estabelecer uma
rede de relações desenvolvendo o pensamento crítico com habilidades de argumentação e
fundamentação.
Vivências estas baseadas nos aspectos visuais (imagens), aspectos que promovem uma
das formas culturais relevantes que se tornam instâncias formativas poderosas. O cinema é
constituído de elementos característicos da linguagem audiovisual que garante ser verossímil
e assim estabelecer um processo de identificação com o espectador.
A utilização do filme apenas como ilustrações, não agrega valor e conteúdo, é preciso
criar um contexto para que as relações possam efetivamente ser estabelecidas com a vantagem
do cinema apresenta uma narrativa predominantemente visual e didática. A memória do
espectador é requisitada com a busca da reconstrução dos aspectos sociais e da subjetividade

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pessoal com a criação de sentidos.


Nesse aspecto, discutir a natureza da ciência pode favorecer com que os alunos
possam refletir sobre suas concepções e assim modificá-las se for o caso, evidenciando que a
visão empírica-indutivista não é a única e que nos produtos audiovisuais, quando essas visões
aparecem estas são provenientes dos produtores daquele produto e que podem ser diferentes,
não existe uma única visão.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Conference on Research in Didactics of Sciences. Proceedings. Krakow, Poland.
Arroio, A. (2008b) Communicating Science: chemistry in the movies. 9th European
Conference on Research in Chemical Education. Proceedings. Istanbul, Turkey.
Arroio, A. (2008c) DNA, Genetics, Eugenics... Fiction or Reality? How improve teaching
Science with Movies. In: Information and Communication Technology in Natural Science
Education – 2008 - Proceedings, v. 1, p. 8-12, Siauliai - Lithuania.
Arroio, A. (2007) The role of cinema into science education. In: Science Education in a
Changing Society. Lamanauskas, V. (Ed.). Siauliai: Scientia Educologica.
Arroio, A.; Giordan, M. (2006) O vídeo educativo: aspectos da organização do ensino.
Química Nova na Escola. nº 24, p. 7-10.
Bell, R; Ledermann, N.G; Abd-El-Khalick, F. (2000) Developing and Acting upon One’s
Conception of Science: The Reality of Teacher Preparation. Journal of Research in Science
Teaching, v. 37.
Chalmers, A. F. (1993) O que é Ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense.
Gallego Torres, A. P. (2007) Imagen popular de la ciencia transmitida por los cómics.
Revista Eureka sobre Enseñanza y Divulgación de las Ciencias, v. 4, n. 1, p. 141-51.
Gil Pérez; D., Montoro, I. F., Alís; J. C., Cachapuz, A. & Praia; J. (2001) Por uma imagem
não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, v. 7, n. 2, p. 125-153.
Harres, J. B. S. (1999) Uma Revisão de Pesquisas nas Concepções de Professores sobre a
natureza da Ciência e suas implicações para o Ensino. Investigações em Ensino de Ciências.
V.4 (3) 197-211.
Kornis, M. A. (1992) História e Cinema: um debate metodológico. Estudos históricos, v. 5, n.
10, p.237-250, Rio de Janeiro.
Kracauer, S. (1960) Theory of film. Oxford:Oxford University Press.
Kuhn, T. S. (1970) The Structure of Scientific Revolution. Chicago: University of Chicago
Press.
Ledermann, N.G. (1992) Student's and teacher's conceptions of the nature of science: a
review of the research. Journal of Research in Science Teaching, 29 (4) 331-359.
Lemke, J. L. (1990) Talking Science: Language, learning and Values. Norwood, NJ: Ablex
Publishing.
Navarrete, E. (2008) O cinema como fonte histórica: diferentes perspectivas teórico-
metodológicas, Revista Urutágua, 16.

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Porlán, R.; Rivero, A.; Martin Del Pozo, R. (1997). Conocimiento profesional y epistemología
de los profesores I: teoría, métodos e instrumentos. Enseñanza de las Ciencias, 15 (2) 155-
173.
Roesler, J. (2005) Narrativa fílmica, imaginário e educação, Revista Sessões do Imaginário,
13, p.26-32, Porto Alegre.
Santana, E. R. ; Arroio, A. (2009) The History do Science in the Report of the Teachers of
Sciences, International Congress of Science Education, Cartagena, Colombia.
Sorlin, P. (1977) Sociologie du cinéma, Éditions Aubier Montaigne.
Vygotsky, L. S. (1978). Mind and Society. Cambridge: Harvard University Press.

FILMOGRAFIA
- Gattaca – Experiência Genética (Gattaca), 1997, Andrew Niccol.
- O Óleo de Lorenzo (Lorenzo’s Oil), 1992, George Miller.

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O QUE A HISTÓRIA DA CIÊNCIA OFERECE PARA A FORMAÇÃO DE


PROFESSORES DE GEOCIÊNCIAS ?

WHAT CAN THE HISTORY OF SCIENCE OFFER FOR EARTH SCIENCE TEACHER
EDUCATION ?

Pedro Wagner Gonçalves1, Natalina Aparecida Laguna Sicca2, Maurílio Antonio Ribeiro
Alves3, Jesus Aparecido Ribeiro4, Maria Ângela Garófalo5
1
Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra. Instituto de Geociências. Universidade Estadual de
Campinas, pedrog@ige.unicamp.br
2
Mestrado em Educação. Centro Universitário Moura Lacerda, nalsicca@yahoo.com.br
3
USP Campus de Ribeirão Preto (aposentado)
4
Professor da Rede Municipal de ensino de Ribeirão Preto
5
Professora Coordenadora. Oficina Pedagógica. Diretoria de Ensino da Região de Ribeirão Preto,
magarofalo@uol.com.br

Resumo: Como a História da Ciência pode contribuir para formar professores voltados ao
Ensino de Geociências? Como a História da Geologia contribui para formar o conceito de
ambiente terrestre? Este trabalho traz reflexões do Grupo de Estudos Ciência do Sistema
Terra e a formação continuada de professores. Por meio de pesquisa colaborativa são
construídas inovações curriculares voltadas para Geociências. A História da Geologia revela
como ideias banais de destruição do ambiente foram incorporadas ao pensamento humano e
encobrem os problemas que devem fazer parte da cidadania. Além disso, o texto indica como
o conceito de tempo geológico é essencial na construção da concepção de ambiente e como
professores do ensino médio estão desenvolvendo essas ideias com seus alunos.

Palavras-chave: ensino de Geociências, História da Ciência, História da Geologia, ensino


médio, pesquisa colaborativa, formação de professores.

Abstract:How history of science can contribute to form teachers linked for the Earth Science
teaching? How history of geology contributes to form the concept of environment? This work
brings reflections of the Group of Studies of Earth Science System and the teacher education.
Curricular innovations are built by means of collaborative research that evolves teachers,

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experts and researchers to improve Earth Sciences teaching at secondary schools. The history
of geology shows up as the common ideas of destruction of nature were incorporated to the
human thought and they cover down the problems that must do part of the citizenship.
Moreover the text suggests that the concept of geological time is essential in order to
understand of the conception of environment. Teachers of the secondary level are developing
these ideas with his students.

Keywords: teaching of Earth Sciences, history of science, history of geology, secondary


school, collaborative research, teacher education.

INTRODUÇÃO
Este texto é originado pelos debates do Grupo de Estudos Ciência do Sistema Terra e a
formação continuada de professores. Desde 2003, com apoio da Diretoria de Ensino da
Região de Ribeirão Preto, constituiu-se um processo interdisciplinar que envolve currículo e
formação de professores.
O Grupo de Estudos reúne professores da rede estadual de ensino, professores
coordenadores da Oficina Pedagógica e pesquisadores de universidades públicas e privadas
por meio de pesquisa colaborativa que considera crucial a autonomia do professor para
desenvolver inovações curriculares.
O Grupo de Estudos reúne profissionais de distintas áreas (Biologia, Física, Geografia,
História, Matemática, Química, Sociologia) que buscam desenvolver integração curricular por
meio da implementação de inovações curriculares na área de Ensino de Geociências.
Resultados das pesquisas feitas por membros do Grupo de Estudos podem achadas em:
Campos e Canesin (2008), Canesin e Gonçalves (2007), Corte e Figueiredo (2007), Fernandes
et al. (2007), Gonçalves et al. (2007), Hagy e Villanova (2007), Ribeiro et al. (2007).
Nos limites deste trabalho pretende-se assinalar como a História da Ciência contribui
para que professores e alunos do ensino médio se envolvam em investigações cujo foco é o
ambiente terrestre.

REFERENCIAL TEÓRICO
Silva et al. (2008) mostram vários papéis didáticos que a História da Ciência pode
desempenhar no ensino. Abrem-se várias possibilidades de construir propostas
interdisciplinares com a própria História, com as artes, ou por meio de seus vínculos aos
estudos ambientais. Mostra, sobretudo, como se dá a investigação científica.

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Nos limites deste trabalho, investigamos como a História dos estudos da Terra
contribui para refletir sobre a concepção de ambiente e como isso pode ser importante para
formar professores em Geociências. Partimos de resultados de levantamentos feitos no
interior de São Paulo que revelam a forma banal de professores tratarem o ambiente no ensino
médio.
Gonçalves e Sicca (2005) revelam que os professores do ensino médio procuram
contextualizar suas disciplinas por meio de notícias de acidentes socioambientais. Mas
limitam o aprofundamento do assunto no nível do senso comum.
O tratamento dos acidentes e seus efeitos sobre o ambiente denuncia que há um
currículo prescrito pela imprensa e adotado de forma pouco refletida pelos professores. Isso
conduz a ideia negativa de homem, de natureza e a um nexo causal entre homem e destruição
da natureza. O que a História da Ciência nos informa sobre essa concepção de homem e de
natureza?
Trata-se de tema complexo porque há associação entre mudanças ambientais e atitudes
morais e políticas, isso é largamente explorado e, muitas vezes, cruza com o conhecimento
científico. Ou seja, a idéia negativa da atividade humana sobre a natureza é parte da cultura.
A História da Ciência revela que houve teorias aceitas pelos naturalistas que
exploraram a ideia de degradação ambiental.
Um dos trabalhos mais marcantes do século XVII aproximou conhecimento científico
e degradação da natureza: a Teoria Sacra da Terra de Thomas Burnet (c. 1635-1715). A
influente obra, publicada pela primeira vez em 1691, serviu de referência e foi
sucessivamente republicada até o século XIX. Um dos argumentos de Burnet é que depois do
dilúvio bíblico, a água que cobriu a Terra entrou para dentro de cavernas até o oceano
alcançar seu nível atual.
A Teoria Sacra da Terra criou seu contra-argumento. James Hutton (1726-1797)
elaborou uma teoria da Terra muito diferente. Para este a natureza foi especialmente criada
por um Deus bondoso. Reflete a imagem de Deus e seus atributos: benevolência e sabedoria.
O homem ocupa o lugar proeminente da criação e o fim último do cosmos é a felicidade
humana. Portanto a natureza criada por Deus é ordenada, é um sistema perfeito de revoluções
sucessivas que ocorrem nos limites das leis newtonianas.
O cosmos huttoniano envolve diversas etapas: os materiais rochosos são erodidos nos
continentes, depositados no fundo oceânico, soterrados durante muito tempo e aquecidos pelo
calor terrestre até sua consolidação e fusão. Hutton apresenta uma fórmula consistente de
mudanças cíclicas capazes de produzir a fusão das rochas.

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Supomos que Hutton deve ter se perguntado porque havia tantos calcários de origem
marinha nos planaltos escoceses. Inicialmente pode ter suposto que os oceanos teriam sido
muito mais altos no passado, mas para onde teria ido tanta água? A resposta de Burnet não era
convincente, então era muito mais lógico supor que os continentes estiveram no fundo
oceânico no passado e forças tremendas do interior da Terra teriam elevado regiões inteiras
até sua posição atual. Essas revoluções sucessivas de levantamento de terrenos e erosão
ajudam a construir uma idéia de natureza regida por forças que estão em equilíbrio dinâmico.
Portanto a natureza não está se degradando, embora a mudança seja seu traço permanente.
Ao continuar a acompanhar a trajetória de Hutton e o refinamento de sua teoria, são
especialmente importantes suas viagens de 1785 a 87 (descritas por Craig, 1978). Mas por que
ele teria se engajado nessas sucessivas viagens pela Escócia?
Jones (1984) revela como a teoria de consolidação das rochas de Hutton foi baseada
em sua coleção de rochas, minerais e fósseis. A teoria do calor subterrâneo de Hutton,
defende a autora, aparece com clareza na segunda parte da teoria da Terra publicada em 1788:
Hutton dedicou 22 de 35 páginas para descrever suas amostras.
O texto publicado em 1788 (Hutton, 1788) foi exposto por Joseph Black em 1785 na
Sociedade Real de Edimburgo. Hutton provavelmente percebeu que seriam necessários dados
adicionais para convencer seus ouvintes. Isso conduziu a fazer sucessivas viagens para
confirmar no campo o seu ciclo de mudanças terrestres. O caso indica uma mudança de
procedimento metodológico: do estudo de amostras em gabinete para a atividade de campo.
Guntau (1978) havia assinalado essa mudança nos estudos da Terra: no final do século
XVIII a atividade de campo se tornou mais comum e estudos de rochas e minerais se
aproximaram da mineração.
Torrens (2002) mostra como a grande chave do trabalho de William Smith (1769-
1839) foi usar fósseis como índices para ordenar estratos. Fósseis eram coisas bonitas, alvo de
interesse de colecionadores, mas não serviam para ordenar estratos. O agrimensor Smith
mediu cuidadosamente os estratos das minas de carvão de Bath e seu método permitiu
elaborar a coluna estratigráfica local que indicava onde achar o minério. O passo seguinte foi
adotar a sucessão faunística fóssil para construir o primeiro mapa geológico da Inglaterra e
abrir o caminho que determinava o uso da Estratigrafia como instrumento de prospecção
mineral.
O avanço para prospecção mineral de Hutton foi outro (Gonçalves, 2008) mas a
atividade de campo também foi ponto crucial para sua pesquisa. As referências às viagens de
Hutton acham-se em alguns de seus trabalhos, assinalamos a versão póstuma da teoria da

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Terra de 1899 e o caderno de campo de John Clerk of Eldin (Craig, 1978).


Hutton (1899) conta como estava ansioso aguardando o segundo volume das
memórias de Horace-Bénédict de Saussure (1740-1799) sobre os Alpes. Esta obra foi
publicada em 1786 e Hutton reproduz longas citações com descrições dos granitos alpinos:

“O propósito deste capítulo é procurar mostrar que M. de Saussure descreve


alguma coisa do mesmo tipo daquela que tenho observado muitas vezes no
campo. (...) É verdade que a visão de nosso autor desse fenômeno natural é
em alguma medida diametralmente oposta a minha; isto é justamente o mais
interessante para a presente Teoria (...). Penso que foi bom ter escrito as
histórias de minhas observações minerais antes de ler o segundo volume de
M. de Saussure, permite ver a correspondência existente entre as aparências
minerais da Escócia e aquelas dos Alpes (...).” (Hutton, 1799, p.92-93)

Suas próprias observações conduziram a ordenar as rochas em sequência estratigráfica


diversa da adotada na época: os granitos seriam mais jovens do que se imaginava (não
pertenciam às rochas primitivas), produtos da fusão de rochas pré-existentes devido ao calor
interno da Terra e evidenciavam sucessivas revoluções que ocorreram na Terra.
James Hall (1761-1832) em seu artigo de 1812 relata seus experimentos para
comprovar que sob rigorosas condições de pressão e temperatura podem se formar minerais
magmáticos. Essa Mineralogia experimental traz um ponto essencial para o debate de
netunistas e plutonistas: seu experimento uma vez obteve sucesso, outra vez falhou, ou seja
não comprovou a consolidação de rochas pelo calor interno da Terra. A principal decorrência
é que o debate continuou com adeptos das duas explicações (os argumentos da controvérsia
acham-se no livro de Dean, 1992).
Rudwick (2005, p.214) revela que, durante o século XIX, o trabalho empírico
demonstrou a realidade do calor terrestre, mas a interpretação de um calor residual veio ao
aceitar a teoria do calor Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830).
O calor da Terra foi combinado ao processo de esfriamento, direcionalismo e
evidências do esfriamento. O modelo físico foi essencial para aceitar a origem magmática dos
granitos e explicar como se formaram os gnaisses.

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MAS O QUE PODEMOS APRENDER DA HISTÓRIA DA GEOLOGIA?


A investigação em Ciências da Terra possui característica única que decorre do tipo de
observação que é conduzido na natureza. No campo, na descrição da crosta terrestre – fonte
principal de informação para construir explicações sobre fenômenos do planeta, há um
processo de delimitação, seleção e classificação dos materiais terrestres.
Somente aquilo que foi previamente classificado irá servir para conduzir experimentos
de laboratório. O primeiro ato de classificação já é o resultado de interpretação segundo
modelo previamente definido.
De todo modo, o dado empírico no campo ou no laboratório em muitas pesquisas
geológicas meramente reforça a teoria pois trata-se de estudo retrospectivo que busca revelar
o que ocorreu no passado a partir dessas marcas deixadas na crosta terrestre.
Estudos de laboratório em muitas ciências empíricas ajudam a determinar
regularidades e leis da natureza. Neste caso, estrutura de raciocínio empreendida no ensino de
laboratório conduz a demonstrar certo fenômeno previsto. O campo não é o laboratório de
ensino dos estudos da Terra, nele múltiplos raciocínios e caminhos podem ser seguidos
porque não há preparo prévio de amostras, ou seja, existe um potencial muito mais alto do que
no experimento de laboratório de se encontrar algo novo ou liminar (para o que inexiste
explicação prévia). Além disso, esse papel limitado do experimento facilita a controvérsia.
O futuro curso de mudança do ambiente está inter-relacionado às atividades sociais,
econômicas e culturais da humanidade. Sua previsão e tendências dependem de identificar
fatos ocorridos no passado da Terra.
Portanto, professores do ensino médio que adotam o tempo geológico como eixo
curricular, aceitam esses estudos retrospectivos do passado da Terra, adotam a idéia de que
uma ciência histórica da natureza é interpretativa e hipotética (o caráter temporal da Geologia
foi examinado por Potapova, 1968 e Frodeman, 1995). Ao final, contribuem para os alunos
adquirirem habilidades e competências para repensar a mudança ambiental.

IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO DE GEOCIÊNCIAS


Refletir sobre a mudança ambiental sob o ponto de vista do tempo geológico significa
desafiar os alunos a relacionar atividades práticas de laboratório e de campo aos conteúdos
específicos. Dados experimentais e de observação precisam ser cruzados por meio de
experimento mental: alunos podem ser conduzidos a formular e testar mentalmente hipóteses
examinadas segundo resultados lógicos.
O fio condutor das aulas deve ser metodológico. Conteúdos devem ser associados a

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seu contexto espacial e temporal. Alunos precisam de papel ativo: descrever situações de
campo, bem como amostras; comparar observações, registros e materiais coletados; fazer
ensaios que revelem os intercâmbios de matéria e energia no tempo.
A classificação dos materiais terrestres ocupa papel estratégico. Os alunos devem
construir a importância e o significado genético registrado (ossificado) na composição e
estrutura de minerais, rochas, solo, relevo, etc.
O professor desempenha distintos papéis didáticos. Deve explicar os conteúdos e
introduzir a terminologia específica, precisa induzir os alunos para aspectos essenciais, deve
orientar os alunos por meio de fórmulas temporais, lógico-causais, abdutivas para construir
uma explicação dinâmica de conceitos que ajudem a formar a ideia de unidades de análise
ambiental. Isso inclui princípios científicos nucleares para construir a concepção de equilíbrio
dinâmico da natureza e de suas inter-relações aos elementos sociais, culturais e econômicos.

CONCLUSÕES
Enfrentar o dilema de tratar informações de mudanças ambientais nos campos de
Ciências e Matemática dos currículos e programas escolares necessita tratar dessa marca
cultural e construir uma concepção mais clara de ambiente.
A História da Ciência, por um lado, denuncia que há concepção cultural que vincula a
corrupção moral e política à degradação ambiental e, por outro, revela como noções de
processo, equilíbrio dinâmico, conservação de massa contribuem para adotar a perspectiva de
que a natureza muda com o tempo.
Adicionalmente, a História da Geologia permitiu identificar muitos conceitos e
habilidades cognitivas que devem fazer parte do ensino médio. Mostrou que procedimentos
racionais relevantes para formar a concepção de mudança ambiental acham-se associados a
atividades de campo e procedimentos de manipulação de amostras de materiais rochosos.
Além disso, observamos que há uma espetacularização do currículo. Muitos
professores para tentar chamar atenção de seus alunos, para tentar contextualizar conteúdos,
por supor que fazem um tratamento CTS em suas aulas, tratam de acidentes ambientais em
suas aulas. Assinalamos que essas manchetes fazem parte da cultura atual que reforça a idéia
de degradação ambiental em virtude das atividades humanas.
A ingenuidade desses professores é supor que ao substituir currículos e programas
organizados por tópicos que atraem a atenção de seus alunos conseguem gerar aprendizagem
significativa. Infelizmente essa substituição de conteúdos pelo espetacular simplesmente torna
banal o que os alunos encontram na escola. O conhecimento escolar deveria trazer

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perspectivas mais críticas que pusessem em dúvida a sociedade do espetáculo gerada pelos
meios de comunicação, mas se a escola meramente reproduzir o que aparece nesses veículos,
de fato, ela está reforçando esse olhar limitado de mundo e de ambiente.
As atividades práticas, sobretudo de campo, põem em debate uma fonte de dados
multifacetada que precisa ser ordenada (classificada) para adquirir significado. O desafio
enfrentado historicamente pelos estudos do final do século XVIII e que foram liminares para
emergir uma nova ciência deve ser posto diante dos alunos. É preciso, ainda, refletir com os
estudantes de que trata-se do fazer ciência de uma maneira simulada.
Objetos observados no campo (córrego, relevo, interfluvios, vales, residências, prédios
históricos, solos, rochas, etc.) devem passar por sucessivas interpretações por meio das
atividades didáticas. De conjunto sólido e atemporal vai sendo examinado, analisado,
esmiuçado, até crescer a noção de tempo a medida que são identificados os distintos
momentos diacrônicos plasmados na paisagem. Junto à idéia de tempo, cresce a de
transformação, o ambiente cambiante vai se tornando realidade para os alunos. As múltiplas
dimensões diacrônicas ajudam a construir a idéia de que a natureza muda ao longo do tempo.
Os passos dados por James Hutton e seus contemporâneos foram aproximadamente o
mesmos: eles também perceberam que ao examinar amostras de rochas e minerais vai se
desenvolvendo a idéia de que os materiais terrestres se transformam. Ao tentar conectar e
interpretar os indícios existentes nos materiais terrestres (aparências externas, formas de
grãos, graus de consolidação, etc.) elaboraram suas classificações e o entendimento de que as
rochas mudam no tempo.
Os contextos múltiplos que marcam a distribuição desses materiais no campo (na
crosta terrestre) reforçam duas idéias: a de sequência de tempo e de mudança do ambiente. O
que importa assinalar aqui, é o discernimento que indica que tais mudanças ocorrem
independentemente de atividades humanas. E, simultaneamente, há intercâmbio de matéria e
energia com a sociedade cujos resultados cruzam processos naturais e humanos.
As Geociências contribuem para formar uma idéia mais realista de mudança
ambiental, ao invés de inexorável degradação do ambiente.
Essa maneira abrangente de interpretar a natureza e suas mudanças tem sido
perseguido pelo Grupo de Estudos Ciência do Sistema Terra e a formação continuada de
professores. O conceito de tempo geológico foi fundamental para construir uma perspectiva
integrada das inter-relações sociedade e natureza. Estudantes do ensino médio tem sido
engajados em investigações articuladas por conceitos importantes das Ciências da Terra.
Estudos voltados para o local e para a cidade foram essenciais para o tratamento sistêmico e

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para estudar unidades de análise ambiental cuja ênfase foi a bacia de drenagem e a
movimentação da água subterrânea.

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A HISTÓRIA DOS CURRÍCULOS ESCOLARES DE CIÊNCIAS E GEOGRAFIA


COM ÊNFASE NOS CONHECIMENTOS GEOLÓGICOS

Aline de Freitas Leal,


EACH – USP,alineleal@usp.br

Resumo: Os estudos a respeito do ensino de Geologia no currículo escolar são recentes, no


entanto o presente trabalho visa demonstrar a importância das pesquisas nessa área. Para
tanto, faz-se necessário pesquisar referências no campo da ciência e geografia escolar, pois os
conhecimentos geológicos estão estilhaçados nas disciplinas escolares de Ciências e
Geografia.

Palavras-chave: currículo escolar, geologia, educação básica.

Abstract:The studies about the teaching of Geology in the school curriculum are recent,
however the present work aims to demonstrate the importance of the searches in this area. For
so much, it is made necessary investigate references in the field of the school science and
geography, since the geological knowledge are shattered in the school disciplines of Sciences
and Geography.

Keywords: school curriculum, geology, basic education.

INTRODUÇÃO
Estudar a história das disciplinas escolares é de suma importância no que diz respeito
às pesquisas em currículo (LOPES, 2007, p.76). Ao compreender que a disciplina escolar
comporta não somente as práticas docentes em aula, mas também as finalidades que
orientaram sua constituição e o processo de aculturação de massa, estudá-la é de fundamental
importância tanto na história da educação quanto na história cultural (CHERVEL, 1990,
p.184).
Segundo Lopes (2007, p. 196) “o conhecimento escolar é produzido socialmente para
finalidades especificas da escolarização, expressando um conjunto de interesses e de relações
de poder em dado momento histórico. Nessa produção encontram-se os processos de seleção e
de organização dos conteúdos”. Ainda de acordo com esta autora, na seleção de conteúdos do

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currículo atuam não só os professores, mas todos aqueles que fazem parte do processo de
produção do conhecimento. O que se percebe é que o currículo tende a favorecer os interesses
de grupos restritos, cujo poder se expressa de forma privilegiada.
Lopes (2007, p.199) acentua que “os estudos em história das disciplinas escolares
contribuem assim para a compreensão do currículo como artefato social e histórico: trata-se
de uma tradição inventada em meio a conflitos e interesses”.
A Geologia como disciplina não faz parte do currículo escolar, embora alguns
geólogos defendam sua criação. Os conhecimentos geológicos estão fragmentados nos
currículos escolares de Ciências e Geografia. Segundo os geólogos preocupados com a
interface educacional da geologia no currículo escolar, tal fragmentação é improdutiva, na
medida em que não dá lugar “à idéia da Terra como um sistema complexo no tempo e espaço,
cujos processos, interdependentes e cíclicos, possuem história entrelaçada com a história da
vida, modificando continuamente os ecossistemas” (CARNEIRO, TOLEDO e ALMEIDA,
2004).
O presente trabalho defenderá a idéia de que não seja necessária a criação da
disciplina escolar geologia no currículo da Educação Básica. Para isto, investigamos a gênese
das disciplinas escolares de geografia e ciências, nas quais este tipo de conhecimento está
estilhaçado no currículo (prescrito) destas duas disciplinas escolares.

OBJETIVOS
O presente estudo tem como objetivo analisar como os conteúdos de Geologia
apareceram nos currículos escolares de Ciências e Geografia, a partir do estudo histórico das
disciplinas escolares.

METODOLOGIA
Para a realização desse trabalho iremos nos apoiar em autores que pesquisam o
currículo baseados nos estudos culturais como Alice Casimiro Lopes (2007), Ivor Goodson
(1997) e André Chervel (1990). Também será feito um levantamento bibliográfico para
verificar quais perspectivas são defendidas pelos geólogos.

RESULTADOS PARCIAIS
O presente trabalho está em andamento, dessa forma iremos discutir a seguir, um dos
tópicos que já foram estudados, os tópicos que serão estudados nos próximos meses serão
introduzidos somente.

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A HISTÓRIA DO CURRÍCULO E DAS DISCIPLINAS ESCOLARES


Acerca do currículo escolar, o inglês Ivor Goodson (apud GONÇALVES, 2007, p.47)
acredita que “o sistema educacional é dominado pelos currículos acadêmicos com uma rígida
estratificação do conhecimento”. Ou seja, o currículo escolar, trata-se na verdade, de um
artefato pensado academicamente, o que significa que o mesmo não é gestado na escola.
Podemos encontrar exceções à regra com o trabalho de campo, mas este não é o foco da
pesquisa.
O currículo é construído através de um processo social, constituído de conhecimentos
ponderados socialmente como válidos na formação dos indivíduos. Com o rótulo de oficial, o
currículo é pensado como um instrumento de regulação da sociedade, permanecendo
atualmente como foco de capturação da racionalidade técnica. Gimeno Sacristán (apud
GONÇALVES 2007, p. 28) expõe que “os processos de globalização afetam a educação
porque incidem sobre os sujeitos, os conteúdos dos currículos e as formas de aprender”.
A História das Disciplinas Escolares (HDE) é uma das áreas mais importantes no que
diz respeito às pesquisas em currículo. Seus estudos visam consolidar a compreensão do
currículo como artefato social e histórico, isto é, refere-se a uma tradição inventada em meio a
conflitos, acordos e interesses. Goodson (apud LOPES, 1998, p. 76) diz que “a disciplina
escolar é construída social e politicamente e os atores envolvidos empregam uma gama de
recursos ideológicos e materiais para levarem a cabo as suas missões individuais e coletivas”.
A disciplina escolar ao longo de muitas décadas não foi alvo de estudos muito
aprofundados. A noção de “disciplina” acabava sendo usada com um sentido amplo. Até o
século XIX o termo disciplina como “conteúdos de ensino” era ausente, as expressões
equivalentes mais freqüentes eram as de “objetos”, “partes”, “ramos” ou mesmo “matérias de
ensino”. O termo disciplina usado atualmente possui cerca de sessenta anos (CHERVEL,
1990, p. 180).
Segundo Chervel (1990, p.180) uma “disciplina” é um modo de disciplinar o espírito,
o que significa possibilitar os métodos e as regras para abordar os diferentes domínios do
pensamento, do conhecimento e da arte.
Quanto à disciplina escolar Chervel (1990, p. 183-184) acredita que:

Se o papel da escola é o de ensinar e, de um modo geral, o de ‘educar’, como não ver


que a história da função educacional e docente deve constituir o pivô ou o núcleo da
história do ensino? Desde que se compreenda em toda a sua amplitude a noção de
disciplina, desde que se reconheça que uma disciplina escolar comporta não somente
as práticas docentes da aula, mas também as grandes finalidades que presidiram sua

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constituição e o fenômeno de aculturação de massa que ela determina então a história


das disciplinas escolares podem desempenhar o papel importante não somente na
história da educação, mas na história cultural.

De acordo com Macedo e Lopes (2002, p.75) as disciplinas escolares são


assiduamente analisadas de acordo com as disciplinas científicas ou com as disciplinas
acadêmicas. “Ainda que sejam entendidas como formas pedagogizadas para fins de ensino, as
disciplinas escolares são vistas como extensão dos saberes de referência, possuindo objetivos
e lógica derivadas desses saberes”.
As autoras defendem idéia contrária a está perspectiva, acreditam que as disciplinas
escolares são diferentes das disciplinas de referência, sejam elas científicas ou acadêmicas,
embora possam pertencer a um mesmo mecanismo simbólico por meio do qual são reduzidos,
“por um lado, os objetivos sociais da educação, por outro, as finalidades sociais do
conhecimento” (MACEDO e LOPES, 2002, p. 75).
Observa-se na história de cada disciplina escolar,

“um movimento geral descrito por Goodson na hipótese seguinte: a consolidação de


uma disciplina no currículo tende a envolver a passagem de uma orientação inicial
mais pedagógica e utilitária para uma tradição mais acadêmica (...). Não se trata de
uma ‘tradução’ de um corpo de conhecimentos para o nível escolar. Ao contrário, a
disciplina escolar é construída social e politicamente, de forma contestada,
fragmentada e em constante mutação” (MACEDO e LOPES, 2002, p. 79-80).

Para Macedo e Lopes (2002, p. 84) a criação da disciplina ciências é um exemplo de


como podem ser estruturados mecanismos de integração nos currículos disciplinares. Remete-
se de um campo disciplinar, notoriamente escolar, que integra, ou procura integrar, disciplinas
de referência diversificadas, quais sejam: biologia, física, química, geologia, astronomia, entre
outras. Portanto, não cabe apenas analisar a história da consolidação dos campos de referência
para encontrar as explicações para o surgimento dessa disciplina. Pois sua criação, segundo as
autoras, está relacionada a questões que ultrapassam os campos do saber científico e
acadêmico, “cruzando fins educacionais e fins sociais, suscitaram a criação dessa disciplina e
mantiveram-na presente até os dias de hoje nos currículos escolares”.
No Brasil, a disciplina ciências, como uma disciplina integrada, consolida-se no
currículo do curso secundário em 1931, com a Reforma Francisco Campos. Nos programas de
ensino oficiais dessa reforma, havia previsão de duas horas semanais para o ensino de

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ciências em cada uma das séries do ensino secundário atual ensino fundamental ciclo 3 e 4,
com foco nas primeiras séries para atmosfera, calor e luz, água, oxidação e redução, e vida.
Na segunda série incluíam-se as unidades terra, magnetismo e eletricidade, seres vivos, som e
sociedades. Dessa forma, havia ênfase principalmente nos conteúdos de física, química e
biologia, inter-relacionados a alguns aspectos da vida cotidiana, tais como as secas do
Nordeste, utilidades de alguns fenômenos físicos na vida doméstica, saúde, agricultura, entre
outros (MACEDO e LOPES, 2002, p. 89; KRASILCHIK, 1987).

Na legislação (Brasil, 1931), defendia-se que o objetivo dessa disciplina era fornecer
uma noção geral dos fenômenos da natureza e das suas aplicações na vida cotidiana,
desenvolvendo o hábito da experimentação e da observação dos fenômenos naturais, a
imaginação, o raciocínio e a habilidade de operações práticas. Havia também o
objetivo de desenvolver interesses vocacionais (MACEDO e LOPES, 2002, p. 89).

Posteriormente, o ensino de ciências foi ampliado para as quatro séries do ensino


ginasial (atual ensino fundamental II – ciclos 3 e 4).
Apesar de o grande reconhecimento científico e status social das disciplinas física,
química e biologia, não houve força suficiente para mantê-las isoladas nas séries inicias. “Por
outro lado, a vinculação com a idéia da utilidade social da ciência foi mais forte como
mecanismo legitimador da existência de uma disciplina escolar do que a unificação do
método científico”. Dessa forma, a integração nunca se processou efetivamente, tendo a
biologia a primazia na definição dos conteúdos de ciência (MACEDO e LOPES, 2002, p. 92).
As autoras apresentam duas justificativas para isso, uma delas situa-se na idéia de que
a biologia daria supostamente mais respostas a questões do mundo natural e a segunda,
articulada a primeira, relaciona a biologia o enfoque positivista, constituindo-se de uma
disciplina mais completa e complexa, superior na hierarquia das disciplinas científicas, em
relação à química e à física (COMTE, 1978, apud MACEDO e LOPES, 2002, p. 92)
“portanto a única das três que exigiria necessariamente a incorporação dos saberes das outras
duas disciplinas científicas”.
As autoras concluem que apesar da disciplina ciências ser constituída de uma única
disciplina escolar:

Não se pode considerar que haja uma abordagem integrada do ensino científico, até
porque tal integração não redundou na formação de um campo de conhecimento
socialmente estabelecido: não se formou um corpo de professores específico,

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mantendo-se a ilusão de que o profissional habilitado em uma das disciplinas de


referência (no caso presente, a biologia) é capaz de promover a integração”
(MACEDO e LOPES, 2002, p. 93).

Muitas disciplinas escolares não nascem de disciplinas acadêmicas, mas precedem de


“disciplinas-mãe”, como é o caso da geografia que se originou num processo de criação dessa
matéria na escola secundária britânica.
Em meados do século XVII que a geografia tornou-se um campo de conhecimento,
criada por especialistas de outras disciplinas para sanar os problemas tidos como geográficos,
no inicio como parte dos conhecimentos da Astronomia e Cartografia da Antiguidade, com
finalidade inicial de descrever os grupos humanos e seus lugares. (GONÇALVES, 2007)
A geografia no currículo escolar surge durante o período imperial, no Colégio Pedro II
(inaugurado em 1938), onde as áreas de conhecimento de história e geografia possuíam
programas separados, apesar da regência de ambas poder ser realizada por um mesmo
professor. Somente em 1954 ocorreu a separação de cadeiras e do professor. O programa de
Geografia consistia em uma descrição dos continentes, levando em consideração,
principalmente, os aspectos físicos e geográficos de cada continente (ALMEIDA, 1998, p.
101).
A geografia escolar atual é fruto de longas tradições pedagógicas, científicas e sociais,
de numerosos imperativos e determinações. “Conhecê-la implicaria em um estudo longo e
minucioso do que realmente sucede nas classes. Infelizmente, constata-se a cruel ausência de
estudos sobre essa temática” (ALMEIDA, 1998, p. 112).

O ESTILHAÇAMENTO DOS CONHECIMENTOS GEOLÓGICOS NAS


DISCIPLINAS ESCOLARES DE CIÊNCIAS E GEOGRAFIA
Os conhecimentos geológicos estão fragmentados nas disciplinas escolares de ciência
e geografia na Educação Básica. Para Campos (apud CARNEIRO, TOLEDO e ALMEIDA,
2004) “o currículo de Ciências além de fragmentário, é também muito superficial. Dividido
segundo os tópicos ar, água e solo, não permite que o professor descreva aos seus alunos o
mundo em que vivemos, sua origem, evolução e destino”. Barbosa (apud CARNEIRO,
TOLEDO e ALMEIDA, 2004) aponta a deficiente disponibilidade de material didático no
ensino fundamental: “ainda que o livro didático busque sanar algumas deficiências, persiste a
falta de uma visão integrada da Terra das interações entre seus sistemas”.

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Noções de Geologia e Geociências dispersam-se no currículo sob vários títulos,


faltando uma ordenação capaz de explicar a Terra em conjunto, desde sua
constituição, origem e evolução, fenômenos interiores e superficiais, as interações das
esferas (oceanos, atmosfera, litosfera, biosfera), e as profundas e diversificadas
relações entre meio físico e seres vivos. Os alunos deveriam ser estimulados a
compreender processos e mecanismos de evolução do planeta, externos ou internos, e
avaliar, em paralelo, os avanços modernos de pesquisa sobre a interação entre tais
esferas, para conscientizar-se sobre problemas como os dos recursos naturais não-
renováveis e dos atuais níveis de consumo de combustíveis fósseis (CAMPOS, 1997
apud CARNEIRO, TOLEDO e ALMEIDA, 2004).

Várias razões são defendidas por pesquisadores que atuam na área da geologia, quanto
à implementação mais efetiva dos conhecimentos geológicos na Educação Básica. Carneiro,
Toledo e Almeida, acreditam que a geologia propicia ao educando uma visão mais ampla e
dinâmica do funcionamento do Sistema Terra, essencial na construção do conhecimento.
Corroboramos com Carneiro, Toledo e Almeida (2004), na perspectiva de se houver maior
inserção dos conteúdos básicos de geologia, não será necessária a criação da disciplina escolar
geologia. Para tal feito, os conteúdos geológicos devem ser tratados em uma organização
interdisciplinar.
Contudo, essa parte do trabalho ainda está em andamento e por isso não terminamos a
leitura da bibliografia necessária para aumentar a discussão do assunto.

CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
É notória a importância dos conhecimentos geológicos na formação dos educando,
entretanto poucos são os trabalhos acerca desse conhecimento na educação básica. Faz-se
necessário um aumento nas pesquisas nessa área para maior compreensão do porque esse
conhecimento não possui um lugar maior de destaque no atual ensino brasileiro. Estudando a
gênese das disciplinas escolares de geografia e ciências, nas quais este tipo de conhecimento
está estilhaçado, iremos buscar respostas a esta questão.

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O PROJETO DE EXTENSÃO MATERIAIS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE


GEOLOGIA

THE EXTENSION PROJECT DIDACTIC MATERIALS FOR GEOLOGY TEACHING

Juliana Maria Costa Malheiros1, Doris Ketzer Montardo2


1
Escola Estadual de Ensino Básico Ponche Verde, jumalheiros@ibest.com.br
2
Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul, doris.montardo@gmail.com

Apoio da Vice-Reitoria de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão – PIBEX-UNIJUÍ

Resumo: A base para entendimento dos ambientes está no estudo de materiais geológicos,
aliado à compreensão dos processos geodinâmicos que os originaram e os transformam ao
longo do tempo, entendendo as alterações pela apropriação dos territórios pelas sociedades
humanas. Diagnóstico e análise ambiental precisam avaliar as distinções estabelecidas pela
constituição geológica e seu comportamento frente às modificações impostas pelas
ocupações, que serão otimizados se considerarem os processos geodinâmicos e as
características dos condicionantes territoriais. Com execução de projetos institucionais de
organização e divulgação de coleções didáticas influenciando as atividades acadêmicas,
propicia-se construção de propostas de ensino para o Ensino Básico, com jogos didáticos. As
ações abrangem visitas de alunos, desenvolvendo visualizações de amostras e oficinas, mas
também atividades como motivadoras e construtoras de discussões e metodologias. A Coleção
de Geologia enfatiza estudar usos e re-usos destes recursos naturais em conformidade com
equilíbrio dos ecossistemas, numa visão ambientalmente sustentada.

Palavras-chave: materiais didáticos de Geologia, estudo do meio físico, Ensino de Geologia


na Educação Básica, Educação Ambiental.

Abstract: Our environment understanding depends on geologic materials studies, allied with
comprehension on geodynamical processes that create and transform them up time, as well as
the changes they are submitted by the human societies’ appropriations. Environmental
analysis and diagnosis takes into account the distinctions established by the geological
constitution and their behavior forefront converting by human occupations. Such uses will be
optimized only when we realize on the geodynamic processes that grow up by characters of

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materials conditioning the territory. Institutional projects execution objectifying organization


and geologic materials knowledge’s spread impacts on graduation academic activities, and
propitiates building of new didactical proposals to scholar activities, including didactic
games. Actions accomplished comprise visualizations, lectures and workshops, developing
also academic activ ities about applications’ methodologies and discussions. The Geologic
Collection procedure acting emphasizes the natural resources uses and re-uses, in agreement
of ecosystems balance stability, under the view of an environmental supported management.

Keywords: didactic materials on Geology, physical environment study, Environmental


Education.

INTRODUÇÃO
Observamos na Terra a riqueza dos processos e das formas de vida, cada um com suas
próprias características, fazendo parte de um imenso ecossistema – o Geossistema -,
exercendo cada qual seu papel, contribuindo para a construção de um planeta cheio de vida e
de história. A vida que nos é mostrada e provada através de milhões de anos, cada forma
tendo sua contribuição em períodos diferentes e servindo de peças para montarmos o quebra-
cabeça histórico que tanto nos cativa. Uma das maiores qualidades do ser humano é a
capacidade de ampliar os conhecimentos e elaborar conceitos. Esta não é apenas uma
habilidade a ser trabalhada durante a trajetória humana, mas é, também, uma ferramenta que
hoje é indispensável para vivermos. Durante anos, a Ciência vem nos desafiando a elaborar e
rever conceitos antes já obtidos, tratando-se de desafios diários onde temos muito a ganhar,
pois, a partir deles, podemos construir o entendimento do mundo. Esta construção deve ser
incentivada desde cedo em crianças, depois aprimorada nos jovens e adultos. Neste sentido,
trabalhamos com as Coleções didáticas de Geologia da UNIJUÍ, procurando formas de inserir
no dia-a-dia das escolas tais conhecimentos, mostrando que o ensino delas é de fundamental
importância. Sabemos também que materiais concretos são muito importantes para a
aprendizagem, sendo possível integração da teoria com material prático. Para a realização
deste projeto, contamos com o Laboratório de Ensino do Departamento de Ciências Sociais da
UNIJUÍ, onde está a Coleção de Geologia, e com o apoio da Vice-Reitoria de Pós-graduação,
Pesquisa e Extensão. Com o desenvolvimento do projeto, pretendemos planejar e construir
instrumentos que fundamentem a compreensão dos conhecimentos atualizados da Geologia,
tomando por base os processos geodinâmicos e os materiais geológicos (minerais, rochas e
fósseis), envolvendo a organização do banco de dados sobre as amostras do Laboratório, com

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exposições permanentes e temporárias e por meio digital.


Com base no que foi desenvolvido em projetos anteriores (Organização e divulgação
da coleção de Geologia da UNIJUÍ, apoio da FAPERGS em 2003 com bolsa de iniciação
científica e em 2005 com verba para equipamentos e materiais; Estudo, divulgação e
aplicações da Coleção de Geologia da UNIJUÍ, apoio do PIBEX-UNIJUÍ, em 2005-6), o
projeto MATERIAIS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE GEOLOGIA (2007-8) prevê
contribuição à discussão das práticas pedagógicas atualmente trabalhados no Ensino
Fundamental e Médio, buscando diminuir carência de conteúdos das Geociências, que põe
hoje à disposição soluções quanto à utilização dos recursos naturais e de áreas de risco.
Sabemos que na atualidade, a Geologia é uma área científica marcada pela deficiência de
instrumentos didáticos, talvez por constituir campos técnicos onde o valor econômico motiva
sigilo e o resguardo é propiciado pelo uso de uma linguagem específica. Também por não
acontecerem, no Brasil, frequentes processos que representem risco iminente ou preocupem a
população, como vulcões e terremotos violentos, embora ocorram desastres por processos
como deslizamentos e inundações, que poderiam ter consequências minimizadas se a
população e o poder público estivessem cientes e treinados para detectar os indicadores da
ocorrência. No Brasil, discussões de conteúdos têm trânsito restrito às Escolas de Geologia.
Entretanto, na atualidade é cada vez mais imprescindível entendermos os processos
geodinâmicos que originaram e transformam nosso ambiente e que estão severamente sujeitos
às alterações pela ação antrópica, bem como condicionam muitos dos aspectos relativos à
sustentação das sociedades humanas.
Suportado por estes raciocínios, o projeto originou-se da intenção de divulgar o
entendimento de processos geológicos, dos materiais rochosos e seus significados, não só
como recursos econômicos. Abarcou também avaliação e desenvolvimento de materiais
didático-pedagógicos, na forma de textos, coleções temáticas e jogos educativos. Com a
construção de instrumentos didáticos, proporcionará acesso aos conhecimentos atuais de
Geologia, permitindo a prática pedagógica no Ensino Fundamental e Médio que atinja
objetivos de compreensão dos materiais e processos que compõem a diversidade do meio
físico-ambiental e que condicionam os usos dos solos, bem como deles dependendo a
recuperação dos ambientes degradados e as restrições de uso em áreas sujeitas a processos
lesivos às pessoas e/ou aos patrimônios pessoais e naturais.
O projeto pretendeu uma integração entre Universidade e Ensino Fundamental e
Médio, tendo como objetivo geral desenvolver e construir instrumentos didático-pedagógicos
para fundamentar conhecimentos das Geociências, com entendimento dos processos e

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materiais geológicos como base para a compreensão do meio físico que constitui os
ambientes; e especificos de investigar os materiais usados na Escola como ferramentas para
conteúdos sobre conhecimento e análise do meio; dar fundamentação à construção de novas
ferramentas de ensino para estes conteúdos, produzindo tanto materiais téoricos como práticos
e lúdicos; organizar os dados digitais qie foram elaborados por este e pelos projetos
anteriores, contruindo o banco de dados das coleções. O projeto prevê tornar acessível o
estado atual dos conhecimentos da Ciência Geológica, com a divulgação de informações
sobre os materiais geológicos e os processos de formação dos meios físicos que compõem os
territórios gaúcho e brasileiro, considerando sua inserção numa Universidade comprometida
com produção e socialização de conhecimentos.
Pensando nas deficiências de materiais didáticos disponíveis nas escolas e nas
necessidades de compreensão dos ambientes antropizados, nos propomos estimular os
espaços educativos para estudos dos processos dinâmicos que condicionam nossos ambientes
e da importância da gestão sustentada dos recursos naturais. Neste sentido, a contribuição dos
conhecimentos geodinâmicos torna-se essencial, numa visão de participação cidadã, tanto nos
espaços urbanos como rurais, bem como nos usos dos recursos naturais. Nesta visão, faz-se
necessária uma interação das atividades acadêmicas com as instituições educacionais, pois
que o licenciado, ao exercer ações educativas na sua comunidade, necessitará dispor de
materiais condizentes com a formação que recebeu. Para isto, o Laboratório tem incentivado e
agregado contribuições e participações dos acadêmicos das licenciaturas em Geografia,
Química e Ciências Biológicas da UNIJUÍ. Também, tem recebido visitas de turmas de
escolas onde ex-alunos exercem docência atualmente.

METODOLOGIA
Conforme previstos, os objetivos do projeto foram cumpridos com as ações de
− Continuar revisão e organização dos arquivos digitais do banco de dados com vista a
planejar, assessorar e acompanhar divulgação dos conhecimentos de Geologia, com
palestras, visitas, organização de coleções locais, bem como preparar exposições com
amostras significativas e desenvolver metodologias promovendo interação da Universidade
com a Educação Fundamental, elaborando textos e planejamento de atividades, com
produção de planos de instrução para oficinas, cursos, palestras etc.;
− Promover visitação educativa de alunos das escolas para divulgar a Geologia e desenvolver
materiais didáticos, assessorando o planejamento de oficinas, cursos e palestras, planejando
e criando materiais didáticos, com testes e avaliações de sua aplicabilidade;

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− Criar propostas de materiais e jogos que envolvam os conteúdos de Geologia;


− Incentivar o envolvimento de acadêmicos na construção dos objetivos deste projeto.
Desde o início de sua organização sistematizada em 1984, as coleções são objeto de
visitas conduzidas e oficinas para alunos do Ensino Fundamental e Médio. A disposição atual
foi propiciada pelo projeto sustentado pela FAPERGS. Este direcionou-se em duas linhas de
ação: uma voltada a melhorias de ordenação, catalogação e conservação dos conjuntos de
amostras das coleções e a outra referente à montagem de exposições com amostras e painéis
explicativos. A partir de 2005, o projeto de extensão Estudo, divulgação e aplicações da
coleção de Geologia da UNIJUÍ possibilitou ampliar o acervo, incorporando novas amostras
chegadas por doações e coletas, com a organização das coleções não contemplando somente
exposições de amostras, mas incluindo atividades educativas sobre Geologia, sobre o
patrimônio científico-cultural e sua contribuição para a compreensão dos meios físicos que
compõem os ecossistemas terrestres e explicam seus processos de formação e evolução.
Também como recursos minerais de importância para a nossa civilização, constituintes do
nosso Planeta e essencialmente não renováveis pelos ciclos geológicos na escala de tempo
compatível com o nosso consumo. Especial enfoque tem sido dado ao estudo dos fósseis, no
sentido da evolução dos organismos e dos significados destes materiais e das rochas para
conhecimento/entendimento do Tempo Geológico, isto é, da existência do nosso planeta, sua
evolução e as rápidas transformações provocadas pela interferência das sociedades humanas.
O projeto Materiais Didáticos para ensino de Geologia baseou-se em pesquisa de
métodos pedagógicos, de conteúdos de Geociências no Ensino Fundamental e de jogos já
existentes, adaptando para os conteúdos específicos.

RESULTADOS
O projeto decorreu em divulgação de informações sobre os materiais terrestres, das
metodologias de estudo e classificação de rochas, minerais e fósseis e difusão da história da
Terra através de exposições, oficinas e palestras. O público que está sendo atendido
diretamente constitui tanto acadêmicos da Universidade cursando componentes curriculares
com conteúdos de Geologia como professores e alunos do Ensino Fundamental e Médio.
Como resultados físicos concretos, atualmente, temos: 3.168 amostras classificadas e
catalogadas com um banco virtual de fichas agrupadas por coleção e um banco de imagens
digitais com 3.018 arquivos; 11 vitrines organizadas com 278 amostras; relatos de oficinas,
planos e protótipos de jogos educativos e atividades pedagógicas. Após revisão das amostras,
incorporação de novas e descarte de algumas repetições e de exemplares danificados, as

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coleções são atualmente três, uma de minerais, uma de rochas e uma de fósseis (gráfico 1).
Uma quantidade importante de amostras de minerais e rochas decorreu da doação feita por
alunos e ex-alunos. As quantidades proporcionais classificadas e catalogadas atualmente nas
coleções, por tipo, estão apresentadas nos gráficos 2, 3 e 4.
A COLEÇÃO DE MINERALOGIA, com 1.715 amostras, está dividida nas
classificações modificadas de Dana e Hurlbut (1976), vide gráfico 2. Na classe dos silicatos, a
mais abundante, aparece uma predominância na região de minerais do grupo da sílica em
preenchimentos de cavidades em vulcanitos. Estes minerais, principalmente ametista, cristal
de rocha, calcedônias e ágatas, são importantes geradores da economia em alguns municípios
da região. Menos de 1% das amostras de quartzo é de origem plutônica, provenientes de
plutonitos da porção sul do Estado.

Gráfico 1 - AMOSTRAS DA COLEÇÃO Gráfico 2 – COLEÇÃO DE MINERALOGIA


DE GEOLOGIA DA UNIJUÍ
Fonte: Banco de dados da Coleção de Geologia

A COLEÇÃO DE ROCHAS contém 1.222 amostras, classificadas em 6 conjuntos


(gráfico 3). As rochas metamórficas aparecem em maior número. Embora não ocorrendo na
região de Ijuí, a abundância é consequência da sua grande variabilidade. A COLEÇÃO DE
PALEONTOLOGIA abrange 231 amostras (gráfico 4), onde predominam vegetais e
vertebrados, em razão da riqueza destes materiais no Rio Grande do Sul: os troncos
petrificados dos Municípios de Mata e São Pedro do Sul e os répteis fósseis de Santa Maria e
Candelária. A maioria destas amostras foi doada pelo Padre Daniel Cargnin, na década de
1970.

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Gráfico 4 – COLEÇÃO DE
Gráfico 3 – COLEÇÃO DE
PALEONTOLOGIA
PETROGRAFIA
Fonte: Banco de dados da Coleção de Geologia.
O banco de imagens (gráfico 5) conta atualmente com 3.018 fotografias digitais das
amostras, não da totalidade, mas privilegiando sua representatividade. Assim, algumas
amostras não foram fotografadas por terem características de repetições de outras e algumas
amostras têm mais de uma imagem, por apresentarem diferentes características em suas faces.

Gráfico 5 – BANCO DE IMAGENS DAS COLEÇÕES


Fonte: Banco de dados da Coleção de Geologia.
As vitrines de exposição dos materiais estão organizadas (figura 1) tendo uma
visibilidade muito boa, despertando a atenção das pessoas. Elas contêm, além das amostras,
cartazes explicativos, bem como etiquetas de apresentação. Servem de mostruário e de
complemento didático, contribuindo para o aprimoramento de conceitos.

Figura 1 – Vitrines 1 e 2 da Coleção de Geologia (Laboratório de Ensino em Ciências


Sociais).
Fonte: Banco de imagens da Coleção de Geologia.
Já foram desenvolvidas diversas oficinas e palestras, tanto no espaço do Laboratório
como em dependências de origem dos alunos e a campo. O Laboratório recebeu visitas de
alunos: da 5ª do ensino Fundamental ao 2º ano do Ensino Médio de diversas escolas da
região, tanto da rede pública como particulares (ver registro fotográfico de algumas atividades

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nas figuras 2, 3 e 4). Os principais assuntos desenvolvidos nas oficinas didáticas foram:
Classificação de rochas, Exploração e conservação do Sistema Aqüífero Guarani, Vulcões e
terremotos, Fósseis e História da Terra, Extrações minerais e impactos ambientais, Arroios
urbanos, Origem de solos. As visitas e palestras foram acompanhadas de manuseio de
amostras e entendimento dos significados dos processos geológicos que lhes deram origem.

Figura 2 - Oficina sobre classificação de rochas com alunos da Escola Estadual Carlos
Zimpel, Ijuí, outubro de 2007.

Figura 3 – Oficina sobre recursos minerais e Figura 4 - Oficina em campo sobre rios da
classificação de rochas com alunos do Centro de área urbana realizada com alunos da 6ª
Educação Básica Francisco de Assis, Ijuí, RS, série do Colégio Evangélico Augusto
maio de 2007. Pestana, Ijuí, RS, maio de 2007.
Fonte: banco de imagens da Coleção de Geologia
Além disso, partindo de atividades didáticas com acadêmicos, organizamos as edições
dos compêndios Tabelas de classificação macroscópica de minerais, nº. 1 da Série Geologia
dos Cadernos da UNIJUÍ, e Geologia Hiostórica, nº. 2 da mesma série, e do CD didático
“Mineralogia: estudar, entender e classificar minerais”, 2006 (figura 5).

Error! Objects cannot be created from


editing field codes.

Figura 5 – Capas dos cadernos e do CD didático


Além disso foi elaborado um Cd didático que servirá de material de apoio ao ensino de
Ciências na Educação Fundamental, objetivando um interativo mergulho na constituição da
Terra. Esse passado que excita a imaginação de pessoas de todas as idades poderá ser
apreciado nas escolas, despertando o gosto pelas Ciências e esclarecendo fatos, curiosidades
que estavam distantes dos estudantes, ajudando a escola a formar alunos que contribuirão para

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a Ciência. É uma apresentação com 52 slides, com explicações sobre fenômenos que
acontecem e interferem na vida da Terra, (vulcões, terremotos, gêiseres e tsunamis),
mostrando como surgem e como se comportam. Também consta explicação sobre as camadas
da Terra e a Teoria das Placas Tectônicas. A figura 6 mostra alguns slides de exemplificação.

Figura 6 – Exemplos de slides do CD “A formação e o desenvolvimento do planeta


Terra”.
Fonte: MALHEIROS e MONTARDO, 2008.
O projeto desenvolveu também propostas de jogos, que estão resumidas no quadro 1.

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QUADRO 1 – PROPOSTAS DE JOGOS DIDÁTICOS.

I – Quebra-cabeça virtual das placas tectônicas.


Fazer uma animação virtual do movimento das placas tectônicas desde o início
quando era um grande continente. Os alunos deverão montar o globo respeitando a
formação das placas durante a sua evolução. Em cada período Geológico, eles montarão os
continentes de acordo com o período e a seqüência da escala geológica.
II - Vitrine mostrando perfil de solos
Montar com os alunos, um terrário dentro de uma caixa de vidro, tendo a finalidade
de mostrar a constituição dos horizontes de solos. Do lado de fora do vidro, marcar com
flechas cada camada, da rocha matriz até o horizonte A.
III – História de vida de uma molécula de água:
Montar uma história de vida de uma molécula de água, da sua importância na hora
de formar alguns cristais que possuem esta molécula na sua formação química. Contando
cada etapa de formação do cristal, até o momento em que ela começa a entrar em contato
com outras moléculas de outros componentes químicos. Construir esta história de uma
forma dinâmica e divertida, com muitas gravuras para prender a atenção das crianças e dos
jovens.
IV – Jogo do Certo ou Errado:
Também um jogo virtual onde os alunos deverão revelar a constituição química de
cada mineral que estiver sendo mostrado. A cada acerto o jogo se eleva a um grau de
dificuldade maior. A cada erro o aluno receberá um incentivo para poder continuar no jogo.
V - Dominó Geológico
Este jogo trabalha com a escala geológica, pegando deste o início de sua formação
até os dias de hoje. Em uma ponta terá uma pergunta sobre curiosidades de cada período,
na outra terá a resposta do período correspondente de cada pergunta ou curiosidade
levantada.
Ex: numa ficha terá o Período onde surgiram as primeiras samambaias e árvores. Na
outra terá a resposta que será: Período Siluriano e assim continuaria até chegar ao último
período.
VI - Jogo dos primeiros seres vivos da Terra:
Aqui o aluno descobrirá os seres vivos que surgiram em cada período geológico na
Terra.
É um jogo virtual, onde o aluno devera clicar na gravura correta de cada ser vivo de
cada período geológico. Quando errar recebe um incentivo para continuar no jogo, se
acertar, passará para o período seguinte.
Ex: Quais os seres vivos que viveram no período Jurássico? Em seguida aparecerão
cinco gravuras de animais onde ele deverá clicar na correta.
VII – Descubra o que cada animal comia durante a sua existência:
Dominó onde em uma ponta da ficha vai o desenho de um ser vivo e na outra ficha
vai o desenho de um alimento. Aqui o aluno descobrirá quais são os animais carnívoros,
herbívoros, parasitas etc. Pegando os mais diferentes tipos de seres vivos, terrestres e
aquáticos.
VIII – Quebra-cabeça do Brasil:
Montar um quebra cabeça das regiões brasileiras, aqui o aluno deverá montar o
mapa do Brasil da forma correta. Este jogo é bom para as quintas e sextas séries quando os
alunos começaram a ter noção de como é a formação do território brasileiro através das
regiões.

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IX – Descubra quais os minerais que temos no nosso Estado:


Jogo virtual onde o aluno descobrirá os minerais existentes no Estado. Os minerais
estão misturados com os de outros estados e países e ele deverá clicar no mineral correto.
Se acertar ele vai para a próxima fase que será mais complicada. Nesta segunda fase ele
identificará os minerais pertencentes ao Brasil, aqui os minerais estão misturados com os
diferentes tipos encontrados em outras regiões do mundo.
X – Jogo de memória sobre os elementos Químicos:
Numa ficha colocamos a fotografia de um mineral e na outra a informação dos
elementos químicos. O aluno tentará achar o elemento químico correspondente ao mineral
da fotografia.
XI – Caça-palavras dos períodos geológicos:
Aqui o aluno deverá encontrar os nomes dos períodos geológicos, seguindo as
charadas e perguntas que serão feitas abaixo do quadro.
Organizamos dados digitais a serem disponibilizados em meio eletrônico, para livre
consulta.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Os projetos embasados pela Coleção de Geologia estão possibilitando incentivar
discussões e entendimento dos processos que definem as condições dos nossos ambientes,
bem como as alterações ou acelerações que acontecem pelo uso sem planejamento. Tanto com
os estudantes do Ensino Fundamental e Médio como com universitários, temos priorizado
despertar o entendimento e a curiosidade para observar, analisar e concluir sobre os materiais
constituintes e condicionantes do meio físico e suas influências em nossas organizações
sociais, através do conhecimento prático e investigativo proporcionado pelo estudo da
Geologia, desencadeando raciocínios sobre os materiais e a importância dos processos
condicionantes dos ambientes em que vivemos. Os jogos estão em fase de construção e ainda
não foram testados.
Sabemos que o conhecimento científico é produzido pela investigação, surgindo não
apenas da necessidade de encontrar soluções para os problemas da vida diária, mas do desejo
de fornecer explicações sistemáticas que possam ser testadas e criticadas através de provas
empíricas. Tornamos as coleções de Geologia fundamentos para a construção de
conhecimento científico, com oficinas que integram e divulgam o ensino das Ciências, com
saberes que vão ajudar a construir conhecimentos e conceitos próprios sobre a Terra. Numa
avaliação da metodologia até agora, constatam-se impactos positivos quanto à divulgação dos
materiais geológicos em espaços acessíveis e em atividades de palestras e oficinas que
tiveram grande repercussão entre os alunos. Bem como publicações em encontros e jornadas
científicas locais e nacionais. Aconteceram divulgação e socialização do conhecimento

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técnico-científico, com produção de textos e metodologias para ensino, além de interações


com o Ensino Fundamental e Médio, com palestras e oficinas bem acompanhadas pelos
alunos.. Disto derivou a formação de um grupo comprometido com o entendimento dos
materiais geológicos.

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O FUNDO DO MAR E O PROCESSO CIVILIZATÓRIO

THE BOTTOM OF THE SEA AND THE CIVILIZATORY PROCESS

José Roberto Serra Martins1, Celso Dal Ré Carneiro2


1
UNICAMP. Campinas, SP, Brasil serra65@uol.com.br
2
UNICAMP. Campinas, SP, Brasil cedrec@ige.unicamp.br

Resumo: O texto da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM),
aprovado em 1982, garante que todo Estado costeiro pode expandir a respectiva Plataforma
Continental além do limite da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), de 200 milhas marítimas. A
condição é que o Estado realize levantamento fisiográfico do leito e subsolo da margem
continental e comprove que o bloco crustal onde estão suas terras emersas está conectado com
a área de interesse, devido à interação de processos geológicos e geomorfológicos. O
levantamento credencia o país perante a Subcomissão de Limites da ONU, a expandir seus
direitos sobre aqueles recursos. Este artigo mostra que o processo civilizatório, decorrente de
fatores sociais, econômicos e culturais associados a uma história das mentalidades, é
fundamental para se compreender o interesse legal do Estado pelo fundo do mar, pelas áreas
de extensão da Plataforma Continental e, em consequência, pelo direito de explotação dessas
áreas.

Palavras-chave: Plataforma Continental; Zona Econômica Exclusiva; História das


Mentalidades; Ensino de Geociências.

Abstract:The UN Convention on the Law of the Sea (UNCLOS), established in 1982,


ensures that any coastal state can expand its continental shelf beyond the limit of the
Exclusive Economic Zone (EEZ) of 200 nautical miles. A physiographic survey of the bottom
and bedrock of the continental margin must be done by the state. The survey should confirm
that there is continuity of the crustal block comprising the emerged areas and the margin, due
to interaction of geological and geomorphological processes. The survey accredits the country
before the UN’s Subcommittee on Limits to expand its rights over those resources. This
article shows that the civilizing process, due to social, economic and cultural factors, as well
as to a history of mentalities, is crucial to understand the legal interest of the State by the sea
bottom, the extension area of the continental shelf and therefore the right to exploit these
areas.
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Keywords: Continental shelf, Exclusive Economic Zone, history of mentalities, Geosciences


teaching.

INTRODUÇÃO
Quando iniciamos nossos estudos sobre a relação entre a humanidade e o mar a partir do
contexto histórico, a intenção inicial era sugerir uma possibilidade de periodização, num
sentido de coerência intelectual e social entre as teorias e o estudo da ambiência marítima, ao
longo da história da humanidade. Entretanto, deparamo-nos com alguns problemas de ordem
prática e teórica. Com isso, diríamos que: (1) uma breve análise de tal contexto perpassando
um período temporal tão longo, dedicada exclusivamente às sociedades ocidentais, só pode
ser levada a termo se esclarecermos ao leitor o fato de que a interpretação dos significados
associados às geociências, ao mar e à sua história, em cada período, é muito importante para a
compreensão da visão de mundo; (2) A história das Ciências da Terra, em seu conjunto, segue
ainda hoje em estado de defasagem em relação à história da Física ou da Química, de tal sorte
que algumas das conjecturas poderão parecer pretensiosas; (3) Para entender da melhor
maneira possível o contexto de cada período, deve-se explicar que tal análise quer oferecer
um ponto de partida àqueles que venham a enveredar por esses caminhos.

Por falar em caminho, é fundamental entendermos que o método1 a ser utilizado pelos
autores que citaremos, e que têm o mar por tema central, também se encontra filiado a uma
dada ideologia e vinculado a uma realidade social, cuja influência se faz sentir nos aspectos
mais importantes do processo civilizatório.

Ao analisarmos os primórdios da História, veremos que as técnicas elementares daquele


período não permitiam a utilização de grandes extensões oceânicas, o que só passou a ocorrer
com a evolução tecnológica, a qual permitiu à humanidade a ampliação da utilização dos
recursos marinhos. Destacam-se nesse processo evolutivo: (1) a mudança do modo de
propulsão dos barcos, com a incorporação de velames e mastros dos mais variados tipos e
tamanhos; (2) o desenvolvimento da engenharia naval que permitia a construção de
embarcações cada vez mais seguras, rápidas, de maior capacidade para o transporte de
mercadorias e pessoas, adaptadas para atender às necessidades mais prementes; (3) o domínio
da determinação da posição geográfica e a criação de instrumentos para a orientação náutica,
entre os quais a vara de sondagem, a sondareza e, posteriormente, a bússola e o sextante,
muitas vezes utilizados em conjunção aos portulanos e às primeiras cartas náuticas.

1
. Etimologicamente, o vocábulo método significa direção ou caminho a ser seguido.
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O MAR NO CONTEXTO CLÁSSICO

Cifuentes Lemus (1991) assevera que os egípcios construíram seus primeiros barcos
tendo por intenção o transporte fluvial. Estes barcos, deslocando-se ao longo do curso do rio
Nilo2, possibilitavam o fluxo de mercadorias e pessoas entre Luxor, Tebas, Mênfis e Canopus.
No início, predominavam os lentos barcos de junco (de baixa tonelagem); com o avanço
tecnológico, os egípcios puderam construir barcos rápidos, capazes de transportar cargas
maiores, movidos a remo, razoavelmente seguros e, em sua maioria, sem finalidade bélica. A
evolução da técnica de construção também levou à substituição do junco por madeiras nobres,
algumas provenientes de locais tão distantes como o Líbano e a Síria, e transportadas por
grandes balsas, ao longo de semanas.

No período compreendido pelas onze primeiras dinastias do Egito, o tráfego marítimo


no Mediterrâneo teve escassa importância. Dentre os fatores que contribuíram para tal, estão:
a escassez de material de construção de boa qualidade em seu território; o fato de a costa
mediterrânea ser muito perigosa à navegação, uma vez que é praticamente desprovida de
enseadas abrigadas; a proibição dada pelos sacerdotes, cujos dogmas preconizavam a aversão
ao mar, o que contribuiu diretamente para o aumento da sensação de repulsa à água por parte
da população.

Totalmente avessos a esse tipo de comportamento culturalmente determinado


encontravam-se os fenícios. Foram eles os primeiros a idealizar rotas que não margeavam as
costas mediterrâneas e a realizar o comércio através dos oceanos, com suas embarcações
atingindo locais tão distantes como a Índia e o noroeste da atual Espanha. Foram eles que, nas
costas da África, fundaram Cartago, seu principal porto, com a finalidade estratégica de
dominar as rotas de navegação do Mediterrâneo.

A navegação era de tal maneira importante aos fenícios, que eles criaram regras visando
regularizar a atividade náutica. Tais regras, por terem sido inicialmente aplicadas à ilha de
Rodes, ficaram conhecidas como ‘Leis Rodenses’: instituíram procedimentos de conduta para
a tripulação e previam penalidades para os marinheiros que as infringissem. Foram tão
importantes, que sua adoção por gregos e romanos deu-se quase que de forma natural. Por
essa razão, são consideradas, por boa parte dos historiadores, como as primeiras leis
internacionais sobre o mar, fundantes do Direito Marítimo que chegou até os nossos dias.

Além do comércio marítimo, os fenícios certamente foram os primeiros a dar


substancial importância à pesca comercial. A relação desse povo com a pesca é tão antiga e

2. O tráfego das embarcações no rio Nilo se explica pelo fato deste ser navegável o ano todo,
apesar do período de seca e do fato de o mesmo atravessar uma região desértica.
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duradoura que suas principais cidades são Tiro (nomes do primeiro pescador) e Sidon (termo
usado para designar qualquer tipo de pescado) (Cifuentes Lemus 1991). Além disso, os
fenícios foram os primeiros a usar barcos com fins bélicos (os trirremes), cuja principal meta
era proteger as embarcações de carga em deslocamentos e defender os portos. Com a derrota
dos fenícios para os egípcios, e posteriormente para os gregos, seu poderio naval atravessou
um longo período de crise que culminou com a destruição de Cartago pela marinha romana.

Para os fenícios e gregos, o mar era visto como um desafio a ser superado. A respeito
disso, há concordância entre autores como Vieira e Corbin3:
“Desde Homero, o mar é o lugar dos heróis; o percurso a ser desbravado, com
coragem, astúcia e ajuda dos deuses, não havendo lugar para o medo” (Vieira
2001).
“Em nenhum lugar Homero nos diz que Ulisses ama verdadeiramente o mar; é,
simbolicamente, o desejo das praias de Ítaca que o impele a embarcar” (Corbin
1989).

É assim que tais obras resgatam a figura do herói grego que, de alguma forma,
relaciona-se com o mar: é na superação das dificuldades que estes irão demonstrar pelo
oceano um sentimento que poderia, muito bem, ser denominado respeito, mas nunca
confundido com medo – sentimento que parece dominar o contexto medieval.

No que tange à relação da humanidade com o fundo do mar, a obra “Sob o Mar”,
descreve uma gravura de origem árabe na qual se vê Alexandre Magno (356-323 a.C.), no
interior de um rústico sino de mergulho (cujo princípio de funcionamento remonta ao século
IV a.C.) inspecionando o fundo do mar (Norton 2001). Para tal soberano, a posse de um
território só seria completa se o governante o conhecesse em todas as suas dimensões; daí o
afã do herói macedônio em inspecionar o território macedônico por completo (tal episódio
nos ajuda a entender o porquê deste governante empregar mergulhadores na tarefa de
defender o porto de Alexandria: eles tornavam-se responsáveis pela construção de barreiras
submersas tão úteis a tal defesa).

Aczel (2002) nos fornece outra referência de suma importância àqueles que quiserem
entender a relação existente entre a arte de navegar e a constituição do fundo oceânico. Em
sua obra “Bússola: a invenção que mudou o mundo”, ele nos fala da utilização da sondareza,
que consistia num cabo náutico à ponta do qual se prendia um peso de chumbo. Inicialmente,
a sondareza era utilizada de forma a quantificar a profundidade local, estivesse a embarcação
em movimento ou não. Com o passar do tempo, os marinheiros responsáveis pelas sondagens

3
. Na obra de Fénelon está presente o desafio de Telêmaco, no qual o herói é incitado a subir
no penhasco para dali contemplar o espetáculo do mar.
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passaram a agregar uma substância pegajosa ao peso de chumbo, que proporcionava a adesão
de partículas do assoalho marinho a este. Com isso, os capitães poderiam estimar a
localização ou determinar o rumo a ser tomado, dependendo do material agregado.

O MAR NO CONTEXTO MEDIEVAL

Nascida nos quadros do Império Romano, a Igreja aos poucos foi preenchendo os
vazios deixados por ele, até que, na virada para o século V, ela passa a se identificar
definitivamente com o Estado. Isso ocorreu quando do reconhecimento do cristianismo como
religião oficial do Império Romano. Em consequência desse fato, a Igreja Católica tornou-se
sua herdeira natural (Franco Jr. 1986).

Nascida na antiguidade, a Igreja apresentou nos séculos posteriores um crescimento


devido principalmente ao fato do medievo acreditar em seu total desamparo diante de uma
natureza geralmente hostil. Para o homem medieval, o sagrado e, como decorrência, os textos
bíblicos se tornam referência a todas as coisas, incluindo-se as explicações sobre a vida, o
mundo e a história da Terra e da humanidade. Assim, para escapar às hostilidades do mundo
natural, os homens buscavam proteção no divino e nas coisas do além4.

Consolidada durante a Idade Média, a Igreja Católica não só unifica a religiosidade, mas
também exerce influência sobre muitos outros campos, entre os quais, o social, o cultural, o
político e o econômico. Sua forte influência chega à literatura, alcançando até mesmo o
campo das mentalidades e a ideologia. Analisando o conteúdo bíblico, entendemos o motivo
da repulsa e do medo que arrebatava os medievos em sua relação com o mar. No Gênese,
primeiro livro do Antigo Testamento, impõe-se ao mar o estigma de abismo profundo, local
de mistérios e massa líquida sem pontos de referência, sobre a qual flutuava o espírito de
Deus, na aurora da criação. O mar representaria a insondável natureza divina e a tentativa de
penetrar em seus mistérios equivaleria a resvalar no sacrilégio (Corbin 1989).

É no contexto de Idade Média Ocidental, entre o século XII e XIII, que um novo
conceito de ‘maravilhoso’ emerge da cultura dos nobres, dos aristocratas e dos clérigos. Sua
principal característica está na diversidade em relação ao já presente no mundo pré-cristão, no
que diz respeito ao mar e às terras míticas. A literatura da corte privilegia tal ideia, por
oposição, da vida no castelo feudal à floresta misteriosa, por exemplo. São, porém, nas

4
. Nesse período histórico o simbolismo era a forma de expressão padrão. Para Gourevitch,
citado por Franco Jr (1986) “O homem da Idade Média era inclinado a confundir o plano
espiritual e o plano físico”, sendo a passagem (entre os dois planos) considerada, por muitos,
como corriqueira e possível.
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hagiografias5, nas narrações grotescas, nas genealogias e nos escritos religiosos que 'o
maravilhoso' ganha vulto.

É importante que não percamos de vista que tal literatura é elaborada por religiosos,
com fins didáticos, ou por uma pequena parcela de letrados, que têm como único fim entreter
aos nobres. Datam dessa época as primeiras paródias à realidade e relatos a respeito de um
mundo adverso; de tal forma que a separação entre as obras relevantes e as paródias, no que
tangem à informação de terras distantes e costumes, torna-se, por vezes, bastante difícil e
delicada. (Le Goff 1990).

É nesse tipo de literatura que irão surgir seres e terras imaginadas, concepções de terras
distantes cujos habitantes estão mais próximos de criaturas do que seres humanos. Na
literatura de viagem são descritos monstros e lendas. Tal imaginário extravasa a literatura e é
percebido em outros tipos textuais, tais como mapas e ilustrações. Nessa época, à guisa de
exemplo, encontra-se, em Tratados de Geografia, referência aos cinocéfalos (metade
homens/metade cães). Assim, separar os lugares utópicos (do mundo pensado) das descrições
de terras percorridas e visitadas (do mundo vivido) seria uma tentativa de separar o que
'caminhava junto' (Le Goff 1990).

No que diz respeito ao fundo do mar, a Idade Média é pródiga em exemplos de ‘mitos’.
O principal deles fala da existência de um buraco no fundo do mar, cuja função era retirar o
excesso de água que convergia ao Mar Mediterrâneo, tanto por meio do fluxo da corrente
marítima proveniente do Atlântico, quanto pelos aportes pluviais e fluviais, os quais deveriam
provocar constante transbordamento.

Apesar de Aristóteles já ter proposto que a evaporação era responsável pela retirada de
uma parte do excedente, só na Idade Média surgiu a ideia de que havia um buraco no fundo
do Mediterrâneo, drenando-o. A refutação por completa só seria possível após a descoberta da
corrente profunda que corre na direção do Oceano Atlântico e que lhe devolve boa parte da
água excedente, o que era corroborado pelo fato das expedições oceanográficas nunca terem
encontrado fluxos de água descendentes ‘sorvidos’ pelo assoalho marinho.

O MAR NO CONTEXTO MODERNO

A passagem da Idade Média para a Moderna caracteriza-se por um vazio intelectual que
leva ao aparecimento de um tempo impregnado de misticismo, superstições e crença
irracional na magia (Andery 2004).

5. Hagiografia: gênero narrativo cuja meta é promover a santidade de um herói, por meio do
relato de suas ações miraculosas.
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Na Idade Moderna, uma nova visão substitui aquela do medievo, pois o homem, em
sentido lato, torna-se a figura central do Mundo. A relação Deus-homem é substituída pela
relação homem-ambiente. Dessa forma, ocorre uma valorização da capacidade do homem em
conhecer e transformar a realidade e a visão aristotélica (reinterpretada pelos teólogos
medievais e tornada a visão predominante durante a Idade Média) sobre o Mundo é
substancialmente modificada. Rompe-se a confiança nos métodos utilizados na produção do
conhecimento; a fé e a contemplação são substituídas por duas propostas metodológicas
distintas: o Empirismo, de Francis Bacon (1561-1626), e o Racionalismo, de René Descartes
(1596-1650).

São dessa mesma época as crônicas de viagem e as cosmografias, entre as quais


destacamos a de Sebastian Münster (1489-1552). Para esse autor:
“A Cosmografia ou Geografia é muito bem vista pelos homens experimentados
em todo o lado, como nos mostram todas as histórias. (...) A Geografia é um
conhecimento da Terra na qual nós, mortais, vivemos segundo a graça de Deus,
que prepara os amantes das artes para compreender: as coisas ocorridas, que
nos são transmitidas nos escritos desde os tempos remotos, (...) o mistério das
Escrituras e a força inteligente da natureza, que está oculta em muitas coisas.
Como poderiam ter dirigido os antigos, e também os que vivem em nossos
tempos, guerras felizes em terras longínquas, viajando por montanhas enormes
e águas profundas e navegando talvez por mares, se não tivessem sabido, por
esta arte, a natureza da terra, a largura, os estreitos do mar e as características
dos países” (Münster 1544).

Nas palavras desse naturalista, notam-se a visão de mundo e os indícios do método


utilizado. Segundo este, os naturalistas sempre têm de retomar as ideias de seus
predecessores, dando voz ao maior número possível deles para, finalmente, acrescentar suas
ideias e concluir a respeito de suas descobertas.
“O método não visava somente recuperar escritos da Antiguidade clássica e
documentos bíblicos; mas, do mesmo modo, tinha por meta ir além das
corrupções acumuladas no transcurso dos séculos anteriores, voltando à pureza
dos textos originais” (Rudwick 1987).

Essa tradição de dar voz aos antecessores desaparece em naturalistas como Bernard
Palissy (1510(?)-1590) e Nicolau Steno (1638-1686); eles abandonam a tradição primitiva de
compilar as opiniões sobre o tema, limitando-se a citar apenas as obras de seus
contemporâneos, consideradas ‘inéditas’. Esse procedimento refletia a crescente confiança
que os ‘modernos’ tinham em sua capacidade de sobrepujar êxitos conseguidos por seus
predecessores, em qualquer campo. A mudança metodológica foi, portanto, coerente com o
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fato de o método sempre refletir as condições concretas do momento histórico em que o


conhecimento foi elaborado (Andery 2004).

Entre os procedimentos de navegação, é na transição à Idade Moderna que os


procedimentos clássicos e científicos começam a se mesclar. Para ilustrar tal fato, segue o
exemplo de uma descrição de rota que consta num portulano do século XIV:
“Ao sair da Espanha (...) fixe seu curso norte-nordeste. Quando calcular que
está a dois terços do percurso para a Inglaterra, se seu destino for o Severn
rume norte quarta a leste até chegar a sondagens. Se encontrar 100 braças de
profundidade, rume norte até sondar de novo e, a 72 braças, encontrar areia
cinza-claro. (...) Rume então norte até chegar a sondagens de vaza e depois fixe
seu rumo leste-nordeste” (Aczel 2002).

Este procedimento deixa claro que a sondareza (assim como outros instrumentos de
medição direta) e a bússola podiam ser utilizadas em conjunção, de tal forma que a rota da
embarcação pudesse ser determinada com rara precisão. A sondareza funcionava com boa
precisão para profundidades de 200 m; enquanto isso, o controle horizontal dos instrumentos,
importante à precisão da sondagem, levava em consideração as medidas tomadas por meio do
teodolito, do sextante, e/ou dos aparelhos de alinhamentos.

O MAR NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

À medida que o tempo avançava, a separação entre ciência e religião tornava-se cada
vez mais evidente. É nessa época que a ciência e a tecnologia passam a se aproximar
definitivamente, constituindo-se em quase unicidade. Essa mudança, causada pela ascensão
burguesa ao longo da Idade Moderna, fez com que o poder absoluto (e divino) dos reis fosse
questionado. O questionamento se dava, principalmente, pelo tipo de regulação exercido
sobre as atividades burguesas, ou seja, a indústria e os bancos, que, sobremaneira,
financiavam a nobreza, o clero e movimentavam o comércio interno.

Com o êxito do capitalismo burguês sobre a nobreza e o clero, notadamente entre os


séculos XVII e XIX, a burguesia pôde continuar sua luta por auferir lucros cada vez maiores.
Entretanto, isso só seria possível por meio da exploração da classe proletária e/ou da
substituição de homens por máquinas na produção industrial. A economia passa a ter então
papel fundamental nas decisões da classe burguesa, de tal sorte que a mercadoria torna-se um
conceito-força durante a Idade Contemporânea.

A ideia de tratar cada coisa como mercadoria ou recurso inicia-se no fim do período
medieval, ganha força na Idade Moderna, firmando-se definitivamente apenas no século XIX.

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Isso se deve, principalmente, ao fato de o baixo clero e da classe média adquirir, com o correr
das décadas do século XVIII, paixão pelas ciências. Dessa maneira, esboça-se, timidamente,
uma cultura burguesa, provinciana e ordenada por sua visão utilitária (Corbin 1989). Assim,
tudo que pode ser usado para movimentar a ‘roda do progresso’ deve ser concebido como
recurso a ser usado pelo capitalista6. Assim, os canhões de um país passam a denominados
recursos bélicos; peixes, crustáceos e outros animais do mar e da terra são denominados
recursos vivos; carvão, petróleo, gemas, em particular, e minerais, em geral, são,
genericamente, classificados como recursos não-vivos... Até os operários de uma fábrica, que
já foram considerados mão-de-obra (pelos capitalistas) e força de trabalho (pelos socialistas),
acabam, no final do século XX, transformados em recursos humanos. Vieira (2004),
corroborando tal posicionamento, nos assevera:
“Numa noção de progresso como produção e consumo, na naturalização do
acúmulo, da propriedade privada e do bem estar, o Ocidente foi refutando, por
este critério, toda produção cultural de um sem número de grupos humanos. A
partir de uma visão mercadológica abriu mão da escuta e do diálogo com estas
civilizações, com sua História e impôs uma ditadura do padrão do consumo e
da competição”.

Contudo, é no contexto da mentalidade marítima que a Idade Contemporânea


apresentará as maiores transformações. No início dos anos 1800, o mar é percebido como um
espelho em cuja superfície se pode ler o casamento dos chamados intangíveis: o ar e a água
do mar. Não fossem os poucos relatos dos mergulhadores (e catadores de esponja), não se
conheceria senão a superfície dos mares, estando suas profundezas presentes apenas na
imaginação dos artistas; daí a importância associada ao estirâncio7. Este constitui, então:
“(...) uma fronteira que revela a fecundidade submarina, palco de
efervescências que o imaginário do ‘insondável’ torna mais fascinante. O fundo
obsceno do mar, miraculosamente posto a nu, temporariamente oferecido à
observação do cientista e ao olhar do artista, só tardiamente reteve a atenção
simultânea dessas duas personagens. Essa atenção cresce juntamente com o
Romantismo” (Corbin 1989).

6
. Na Antiguidade Clássica, um meio para o transporte de mercadorias dependia,
sobremaneira, do valor do frete. Enquanto transportar feno por 50 km via terrestre dobrava o
preço da mercadoria, transportar trigo ao longo de todo o Mediterrâneo aumentava o preço
final em apenas 25% (Derry 1980)
7. Porção da faixa litorânea exposta por ocasião da maré baixa; baixa-mar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer dos anos 1830, Charles Lyell (1797- 1875) encontra-se cada vez mais
impressionado com a erosão provocada pelo mar. É o contemplar do poder das vagas que o
leva a superestimar o papel da intervenção marinha, de tal forma que acaba por ver, no mar, o
símbolo da ação contínua e, com isso, concluir a respeito da infatigável veracidade do
atualismo.

Tal como Lyell, sentado à beira-mar, contemplaremos as ondas e a repetição do mesmo,


do primitivo, do eterno, um local onde o geólogo visualiza o caráter transitório do relevo
emerso e pode imaginar que o mesmo ocorre na fisiografia do fundo oceânico. Para o sábio,
que observa o lento desgaste do recife à beira-mar e prevê sua destruição, o fim das ordens
antigas pode, por analogia, ser compreendido a partir das transformações que ocorrem na
praia e em seu entorno.

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A TEORIA DE WEGENER E SUA CIENTIFICIDADE SEGUNDO KARL POPPER

THE WEGENER'S THEORY AND HIS SCIENTIFICITY TO KARL POPPER

Edvaldo Oliveira
UFMT- Universidade Federal de Mato Grosso, contato.edvaldo@yahoo.com.br

Resumo: A proposta de que os continentes estavam unidos em um passado distante é bastante


discutida há séculos, mas neste artigo trataremos de uma teoria relativamente recente proposta
por Alfred Wegener aproximadamente em 1912 que, após uma coleção minuciosa para
sustentar a idéia de que o planeta Terra parte de uma união dos continentes e logo após a
derivação dos mesmos. É interessante percebermos também que tal teoria, proposta por
Alfred Wegener, possui em si a capacidade de ser testada, provada e ser refutada ou não. Este
questionamento também será tratado neste artigo, onde avaliaremos a cientificidade da teoria
de Wegener ou não, bem como sua aplicabilidade acadêmica à luz de Karl Popper.

Palavras-chave: Wegener, Karl Popper, Derivação dos continentes, Teoria científica.

Abstract: The proposition that the continents were joined in a distant past is very discussed
for centuries, but in this article we are going to talk about a recent theory proposed for Alfred
Wegener, nearly 1912. After a minuncious collection to hold up the idea that the Earth started
with the union of the continents, and after, the share of them. It's also interesting to see that
this theory proposed for Alfred Wegener has the capacity of being tested, proved and refused
or not. This questions will be also treated in this article, where we are going to evaluate
Wegener theory's science or no and her academic application through Karl Popper vision.

Keywords: Wegener, Karl Popper, Derivation of the continents, scientific theory.

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A idéia da derivação dos continentes sempre permeou a história da humanidade. Por


exemplo, em 1764, o Barão de Von Hupsch publicou um texto, intitulado “Dissertação Física
sobre a antiga união e separação do Velho e do Novo Mundo, e sobre o Povoamento das
Índias Ocidentais como Pesquisa Física sobre a Origem dos Lagos”. Tal texto trazia, além de
toda uma ideia renovadora, um cuidado eficaz em não ferir as ideias e crenças, principalmente
os dogmas da Igreja.
Ao final do século XIX, Eduard Suess, geólogo austríaco, percebeu semelhanças entre
os fósseis de plantas do período Paleozóico Superior encontrados na Índia, Austrália, África
do Sul e América do Sul, bem como a evidência de glaciação na sequência estratigráfica das
rochas desses continentes. Tais fósseis fazem parte de uma flora única que ocorre em camadas
de carvão logo acima dos depósitos glaciais desses continentes do sul. A flora é bastante
diferente da contemporânea dos pântanos carboníferos dos continentes do norte.
Em seu livro, The face of the Earth, publicado em 1885, Suess propõe o nome
Gondwanaland ou Gondwana, para um supercontinente composto de grande área de terra no
sul do planeta. Gondwana é uma província na Índia, onde os fósseis da flora Glossopteria são
encontrados em abundância em camadas de carvão. Suess acreditava que esses continentes
estavam ligados por pontes de terra sobre as quais plantas e animais migravam. Portanto, em
sua visão, a semelhança dos fósseis entre eles devia-se ao aparecimento e desaparecimento
das pontes de terra que ligavam os continentes.
Pois bem, é visível que a preocupação em se propor uma teoria que explicasse tantas
semelhanças e evidências acerca do dinamismo da Terra, de sua configuração e disposição
geográfica primordial. Além de Von Hupsch e Suess, outra teoria também fundamentada em
pesquisas simultâneas e disseminadas em todo o planeta é a teoria da derivação dos
continentes de Wegener.
Wegener apresentou, em 1912, no encontro da Sociedade Geológica de Frankfurt, sua
proposta de uma deriva continental que afirmava que os continentes se movimentavam
lentamente, sempre se afastando, e que às vezes, inclusive, chocavam-se. Em 1915, publicou
o livro “The origin of continents and oceans” sua teoria que, conforme demonstrado já no
início deste artigo, não era uma teoria completamente inovadora. Vários trabalhos anteriores
acerca da deriva continental já haviam sido feitos, inclusive trabalhos americanos como Frank
Taylor. Mas, sem dúvida, o minucioso cuidado de Wegener concedeu a ele uma teoria
fundamentada em fatos reais, devendo ser, no mínimo, respeitada como produção científica.
Em 1926, Alfred Wegener teve sua teoria lida em um congresso nos Estados Unidos, e
em toda sua teoria ele reafirmava vários pontos já estabelecidos por outros cientistas, mas

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havia dois pontos inovadores, o de que as montanhas eram formadas pela compressão das
bordas dos continentes, bem como as maiores feições geológicas formadas pela interação
entre os continentes. Wegener afirmava que a Terra era formada, no passado, por uma camada
única e contínua chamada Pangea, e que ao passar do tempo tal camada quebrou-se e
começou a afastar-se umas das outras. A novidade, neste ponto, estava em discordar de Suess,
que afirmava que a Gondwanaland (termo também adotado por Wegener para denominar a
parte sul do grande continente) não havia se afundado, mas ainda estava na superfície, porém
fragmentada.
Wegener relatou seus feitos em vários mapas, demonstrando o rompimento do
supercontinente e onde estaria cada parte do mesmo, bem como a trajetória percorrida por
cada fragmento.
A teoria proposta por Wegener foi pautada em um conhecimento de fatos e análises
pormenorizadas das evidências de uma possível derivação, sua proposição era madura e
concisa, exceto quando afirmava sobre a velocidade do afastamento dos continentes e as
forças que moviam tais transportes.
Com a prudência de Wegener, ele pesquisou evidências geológicas, paleontológicas e
climatológicas para sustentar sua teoria, mas uma das evidências mais visíveis era a
impressionante semelhança entre a crosta dos continentes opostos do Oceano Atlântico,
semelhança citada como evidência parcial da união. Evidências ainda mais incríveis serão
descritas a seguir:
• As montanhas Apalaches, na América do Norte, estendem-se para o norte e terminam
abruptamente no litoral de Newfoundland; cadeias de montanhas de mesma idade e
estilo deformacional ocorrem na Groelândia, Irlanda, Grã Bretanha e Noruega.
• Evidências fósseis de Glossopteris (uma espécie de samambaia) são encontrados em
todos os cinco continentes, em depósitos de carvão.
• O Mesossaurus, um réptil de água doce. Seus fósseis são encontrados em rochas do
Período Permiano em certas regiões do Brasil e da África do Sul.
• Através de literatura geológica, Wegener percebeu que as seqüências estratigráficas da
América do Sul e da África foram muito similares durante o Mesozóico.

Estas são apenas algumas das evidências que comprovavam a deriva continental proposta
por Alfred Wegener que, em sua publicação, questiona a unanimidade da aceitação da teoria
das pontes de terra que apareciam e desapareciam.
"Este é o ponto de partida da Teoria da Deriva ou Movimento. A suposição ’básica óbvia‘

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comum às teorias das pontes continentais e da permanência - que a posição relativa dos
continentes, sem considerar suas coberturas variáveis e águas rasas, nunca se alterou - deve
estar errada. Os continentes devem ter se deslocado. Houve "conexões de terra", mas
formadas pelo contato entre blocos atualmente separados, mas não por meio de continentes
que posteriormente afundaram; há permanência, mas na área do oceano e na área do
continente como um todo, mas não para oceanos ou continentes individuais"
Wegener propunha uma teoria consolidada em fatos, mas ele foi imensamente infeliz ao
propor que o afastamento dos continentes dava-se em uma velocidade de 25 metros ao ano.
Ele chegou a essa conclusão utilizando-se de um duvidoso processo de medição de ondas de
rádio, processo este que Wegener não questionou a validade nem ao menos as dualidades de
leituras que surgiram durante o procedimento.
Ele também não soube como explicar quais as forças motoras dos imensos blocos
continentais, o que os levava a moverem-se de maneira tão rápida como ele defendia e em
distâncias tão longas como já conhecidas. Wegener propunha que a fricção tidal e efeitos de
gravidade de pequenas anomalias da terra causavam os movimentos nos continentes.
Portanto, o que percebemos é uma proposição bem fundamentada, com idéias inovadoras
e principalmente provas que creditariam a Wegener o status de solucionador de um dos
maiores dilemas da comunidade científica e que afeta globalmente a todos.
A teoria de Wegener, com todos os seus critérios já bastante evidenciados neste artigo, foi
bastante rejeitada pela comunidade científica na época. Muitos cientistas, principalmente os
geólogos, não conseguiam admitir que o princípio da isostasia estivesse errado e que uma
nova teoria viria modificar uma série de conceitos já estabilizados.
Mas como poderemos analisar tal teoria à luz da cientificidade da mesma? Primeiramente,
partiremos do pressuposto de que uma teoria científica, segundo Karl Popper, é uma
proposição que se permite ser falseável, ou seja, uma proposição que possa ser testada, bem
como seus detalhes serem declarados falsos.
Karl Popper pode ser considerado um dos mais influentes filósofos de todos os tempos,
doutor em filosofia no ano de 1930 pela Universidade de Viena, defendia como teoria
científica não o processo indutivo, nem ao menos a verificabilidade do mesmo, mas,
sobretudo a falseabilidade, ou seja, a expressão “vai ou não vai nevar amanhã”, não admite
refutação, não admite ser considerada falsa, portanto não é empírica; entretanto a expressão
“nevará aqui amanhã” poderemos considerá-la empírica.
Popper observava a verdade plena como inatingível e propunha que a ciência deveria
seguir um curso matemático. Devido ao primeiro embasamento, ele propunha dividir a

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realidade em três partes: o real, sobre o qual jamais teremos o completo conhecimento; a
realidade dos sentidos e a realidade das idéias. As duas últimas, segundo o filósofo, ajudam-
nos a chegar mais próximo da primeira.
Uma teoria que não é susceptível de refutação não é considerada científica para Popper,
que tratava a irrefutabilidade não como virtude, mas sim como um vício, sendo que o teste ou
contrastação uma tentativa para refutar uma teoria. Neste sentido, a testabilidade equivale à
refutabilidade.
Algumas teorias são mais testáveis e, por isso, estão mais expostas à refutação. A
descoberta de novos fatos que estão de acordo com as predições de uma teoria não confirma
por si só a teoria, mas única e exclusivamente a valorizam. Uma teoria é valorizada quando
passa um teste ou contrastação, isto é, quando uma observação, cujo resultado poderia
eventualmente refutar a teoria, não se confirma, robustece a própria teoria sem, no entanto, a
confirmar.
Para Karl Popper, "(...) só há um caminho para a ciência: encontrar um problema, ver a
sua beleza e apaixonar-se por ele; casar e viver feliz com ele até que a morte nos separe – a
não ser que obtenhamos uma solução. Mas, mesmo que obtenhamos uma solução, poderemos
então descobrir, para nosso deleite, a existência de toda uma família de problemas-filhos,
encantadores, ainda que talvez difíceis, para cujo bem-estar poderemos trabalhar, com um
sentido, até ao fim dos nossos dias". Popper enxergava nos problemas encontrados a razão
para a existência da ciência. Neste ponto, podemos perceber, por analogia, como Wegener
portou-se diante da dificuldade encontrada em se definir a posição geográfica dos continentes.
Wegener “apaixonou-se” pelo problema encontrado, foi buscar formas e meios que
pudessem comprovar a sua teoria, encontrou nas ciências vários meios que o auxiliaram nesta
comprovação e impressionava-se certamente com as semelhanças e disparidades encontradas.
Wegener utilizou-se de métodos maduros e validáveis, e para Karl Popper método científico
baseia-se na eliminação, em vez da ênfase na verificação, como dito anteriormente. No
entanto, eles têm em comum um determinado ponto - quer verifique-se ou refute, de qualquer
forma, fazendo-o com a ajuda de duas ferramentas e apenas duas: a lógica e a confrontação
com os fatos. As teorias são julgadas por dois juízes: consistência lógica e conformidade com
os fatos. A diferença entre os dois modelos situa-se apenas em saber se “(...)os factos
condenam os pecadores ou canonizam os santos. Para o jovem Popper, havia alguns
pecadores apropriadamente certificados, mas nunca santos definitivamente canonizados”.
Wegener experimentava, em todos os momentos, a tentativa de verificar sua teoria
enquanto verdadeira. Ele defendia e argumentava com os argumentos que possuía. Ainda que

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houvesse alguns problemas na sua teoria, como a definição das forças motoras do afastamento
dos continentes e a velocidade dos mesmos, Wegener esforçava-se no sentido de evidenciar o
processo cauteloso e seguro de suas verificações.
A teoria de Wegener, durante muitos anos, foi considerada falsa. Alguns cientistas
conferem o maior problema da teoria de Wegener ao próprio Wegener, ou seja, sua
deficiência como cientista como a falta de objetividade, sua dubialidade em expressar-se de
modo despreocupado e sem as devidas precauções. Para Popper, as teorias que tenham sido
falsificadas têm que ser rejeitadas, visto que, ao descobrirmos que a nossa conjectura era
falsa, aprendemos muito sobre a verdade e chegaremos mais perto dela. Aprendemos com os
nossos erros. "A ciência progride mediante o ensaio e o erro".
Conforme demonstrado acima, que o erro nos aproxima da verdade, pois bem, temos,
então, como herança da teoria da derivação dos continentes a teoria das placas tectônicas, que
vieram explicar de uma vez por todas o deslocamento dos mesmos, mas de uma maneira mais
profunda. Não eram os continentes somente, mas todo um sistema complexo de placas
tectônicas profundas que moveram-se.
Segundo Karl Popper, a teoria da deriva dos continentes congrega grande número de
conhecimentos relativos à isostasia e à radioatividade, indo ao encontro de soluções para
diversos problemas ainda não resolvidos e apresentando a possibilidade de poderem
confirmar-se no futuro.

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CONCLUSÃO
Assim sendo com os argumentos descritos e desenvolvidos durante este artigo, dizer
que somos convencidos da cientificidade de tal teoria é quase afrontar tudo quanto descrito
acerca do que é ou não é uma teoria científica.
Temos que teoria científica, baseado em Karl Popper, é basicamente a capacidade de
torná-la falsa, ou seja, através de provas, o que a teoria de Wegener permitia tal qual permitiu
que fosse feito, a teoria de Wegener se porta como uma teoria impulsionadora, que impeliu a
outros cientistas principalmente os geólogos a capacidade e o desejo de avançar no
conhecimento a cerca da união e separação dos continentes.
Apreciamos, neste artigo, uma clássica representação de como a ciência porta-se
apaixonante na resolução de problemas, e por sua vez, na resolução dos problemas originados
pelo problema anterior. Um ciclo infindável que nunca alcança sua perfeição, porém parte do
estágio inicial e a totalidade da falta de conhecimento a quando se permite surgir o primeiro
questionamento sobre o problema apresentado que se dá na constatação do mesmo.
O falecimento de Wegener, em 1930, foi registrado pela revista Nature como a grande
perda para a ciência e o de Karl Popper, em 1994, foi marcado pela sua produção perene.
Temos, portanto, análises de dois grandes nomes do mundo científico, o que por um lado
confirma a teoria de Wegener como teoria científica, ao passo que determina que a melhor
teoria é aquela que mais robustece-se, mas ainda assim é refutada. Não existe teoria
plenamente correta, existe aquela que ainda não foi refutada.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CELINO, Joil. Da Deriva dos Continentes a Teoria da Tectônica de Placas: uma abordagem
epistemológica da construção do conhecimento geológico, suas contribuições e importância
didática. Geo. Br, Ouro Preto, 2003.

FONTES, C. Karl Popper, Disponível em: < afilosofia.no.sapo.pt/10popper.htm> Acesso em


19/06/2009.

MCALESTER, A, Lee, História Geológica da vida, São Paulo, Edgard Blucher, 1978.
POPPER, Karl R., Conjecturas e Refutações, Coimbra, Almedina, 2003.

POPP, José H., Geologia Geral, Rio de Janeiro; Livros técnicos e científicos, 1979.
PRESS, Frank, Para entender a terra, Porto Alegre, Bookman, 2006.

WEGENER, A. The Origin of Continents and Oceans.London, Methuen & Co. Ltd. 120p.
(1966).

WICANDER, REED, Fundamentos de Geologia, São Paulo, Cengage Learning, 2009.

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UM OLHAR CTSA NO IMAGINÁRIO DE ESTUDANTES DE BIOLOGIA SOBRE


OS PROCESSOS TERRESTRES NO CONTEXTO DE UMA DISCIPLINA DE
GEOLOGIA

A STSE PERSPECTIVE IN THE IMAGINARY OF BIOLOGY UNDERGRADUATE


STUDENTS ABOUT EARTH PROCESS IN THE CONTEXT OF A GEOLOGY COURSE

Terezinha Chagas Carneiro Pessôa1


Henrique César da Silva2
1
Unicamp/IG/Mestranda do Programa de Pós-graduação de Ensino e História de Ciências da Terra,
terepessoa@gmail.com
2
Unicamp/IG/Docente do Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino e do Programa de Pós-Graduação
de Ensino e História de Ciências da Terra, henriquecsilva@ige.unicamp.br

Resumo:Apresentamos um trecho da análise de entrevista com um licenciando em biologia


como parte de uma pesquisa em andamento que visa compreender imaginários sobre relações
CTSA desses estudantes no contexto de uma disciplina de geologia. As entrevistas,
construídas e analisadas com base na Análise de Discurso de origem francesa, focaram em
alguns aspectos: participação em processo de tomada de decisão, concepções de ciência e de
cientistas, interações entre CTSA, incluindo processos terrestres e relações homem/sociedade-
natureza/ambiente. Evidenciamos como a análise dos sentidos produzidos e simultaneamente
de suas condições de produção tem nos permitido desenvolver um trabalho não apenas de
natureza diagnóstica, como propositiva.

Palavras-chave: CTSA, geociências, licenciatura, análise de discurso.

Abstract:We present a part of an interview with a biology undergraduate student, which


analysis is part of a research in development that aims to comprehend imaginaries about
STSE relations of those students in the context of a geologic course. The interviews, built and
analyzed based on French Discourse Analysis, focused on some aspects: participation in
decision making processes, conceptions about science and scientists, STSE interactions,
including Earth processes and relations man/society-nature/environment. We demonstrated
how the analysis of meaning produced and their conditions of production have made us a
research that do not end in the diagnostics but permits the construction of proposals.

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Keywords: STSE, geosciences, teaching formation, Discourse Analysis

INTRODUÇÃO
Diversos questionamentos sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade
passaram a ocorrer de forma mais frequente e mesmo sistemática principalmente a partir dos
anos 60, por uma confluência de fatores: crescimento da temática ambiental no plano político,
novos estudos sobre ciência e sobre tecnologia, principalmente oriundos do campo da
sociologia da ciência, modificações na percepção pública da ciência e da tecnologia, já
decorrente do pós-guerra, novos modos de relações entre empresas, indústrias e pesquisa,
assim como entre pesquisa, verbas e órgãos governamentais. Esses fatores trouxeram para a
agenda pública e política também a questão dos problemas ambientais gerando consistentes
desconfianças em relação às idéias existentes sobre as relações entre ciência, tecnologia,
sociedade e ambiente, tidas até então como incontestavelmente benéficas, progressivamente
lineares e unidirecionais.
Diversos trabalhos, inclusive de publicações temáticas, como o número especial da
Ciência & Ensino (2007) revelam que, atualmente, podemos dizer que o termo CTSA é
bastante polissêmico, designa, abrange ou se relaciona a uma gama bastante variada de
questões interessantes e relevantes para o ensino das ciências, ou fazem retomar, em outros
termos, questões já debatidas há décadas, cada uma delas envolvidas em profundas e
específicas complexidades que se relacionam por sua vez a diversos campos de
conhecimentos que vão desde o discurso e a linguagem até estudos culturais, passando pela
sociologia da ciência (science studies ou mesmo estudos CTS ou estudos em ciência e
tecnologia), pela ecologia política, pela educação ambiental, pela filosofia e história da
ciência e da tecnologia.
Na pesquisa aqui apresentada nosso foco recai sobre o imaginário de estudantes
universitários de biologia (licenciatura) sobre as relações CTSA na sua relação com uma
disciplina de geologia de sua grade curricular. Pretende-se através desse estudo, contribuir,
entre outros aspectos, na compreensão do potencial de uma disciplina de geologia, ou de
modo geral, dos conhecimentos em Ciências da Terra, para interagir em processos reflexivos
e constituintes de abordagens CTSA. Talvez para o estudante, futuro professor de ciências e
biologia e/ou pesquisador, esse seja um dos poucos momentos em sua trajetória na graduação,
onde esses aspectos possam ser contemplados.

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ANÁLISE DE DISCURSO COMO REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO


No funcionamento da linguagem sempre está presente a interpretação, independente
da consciência ou não desse fato pelos sujeitos que interpretam, sendo que "a vida é função da
significação e de gestos de interpretação cotidianos, ainda que não sentidos como tal”
(Orlandi 1996). Além disso, o gesto de interpretação “decide a direção dos sentidos,
decidindo assim, sobre a direção do sujeito, já que ao significar o sujeito se significa” (idem
p. 22).
O pensar as palavras e as imagens como símbolos que ganham um significado entre
muitos possíveis por causa da história e dos sentidos socialmente produzidos e a presença do
esquecimento que nos faz acreditar que existe relação direta entre o símbolo e o objeto; entre
outros aspectos igualmente importantes, serão lembrados no desenvolvimento desse trabalho
e explicam o considerarmos as palavras dos futuros biólogos/professores como expressão das
condições de produção que refletem materialidades sócio-históricas; considerações essas de
uma abordagem discursiva. Essa concepção de linguagem foi trabalhada por autores
vinculados à Análise de Discurso de origem francesa (Pêcheux, 1990, 1995) e desenvolvidas
por diversos autores no Brasil (Orlandi, 1999).
Nesse trabalho abordam-se reflexões considerando o imaginário de alguns
licenciandos, e considera-se elucidativa a colocação de Zoppi-Fontana (1998) ao afirmar que:
O campo das evidências, do “senso comum”, das transparências da linguagem, da
identidade do sujeito, é o campo do imaginário, dos efeitos necessários produzidos
pelo funcionamento do discurso na relação que o sujeito estabelece com as suas
condições de existência. É, no discurso, então, que o sujeito produz a “realidade”,
enquanto relação imaginária que ele estabelece com as determinações históricas que
constituem as condições de produção materiais de sua existência (p. 51).

Para Orlandi, (1999), o imaginário “é eficaz e não brota do nada: assenta-se no modo
como as relações sociais se inscrevem na história e são regidas, em uma sociedade como a
nossa, por relações de poder” (p.42). Através da análise é possível, “atravessar esse
imaginário que condiciona os sujeitos em suas discursividades e, explicitando o modo como
os sentidos estão sendo produzidos, compreender melhor o que está sendo dito” (idem, p. 42).
Para isso, criam-se elos com as condições de produção estabelecidas no processo discursivo,
bem como com a memória e com uma determinada formação discursiva, e não outra.
Para a análise de discurso (AD), não há relação direta entre linguagem e mundo, entre
palavra e coisa (Orlandi, 1996), mas essas relações funcionam como se fossem diretas, por
causa do imaginário.

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Acredita-se que ao se buscar entender a produção das falas dos licenciandos baseando-
se nesses pressupostos pode-se contribuir para derivar implicações, sugestões e possibilidades
de ação formativa, pois:
Saber como os discursos funcionam é colocar-se na encruzilhada de um duplo jogo
da memória: o da memória constituída institucional que estabiliza, cristaliza, e ao
mesmo tempo, o da memória constituída pelo esquecimento que é o que torna
possível o diferente, a ruptura, o outro (idem p.10).

E isso tanto para o caso da própria disciplina em questão, quanto para o caso de
programas de ensino que incluam conhecimentos geocientíficos, sejam no nível superior, seja
no ensino médio.

A DISCIPLINA “ELEMENTOS DE GEOLOGIA”: PARTE DO CONTEXTO, DAS


CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO
A pesquisa de mestrado que gerou esse trabalho se desenvolveu numa disciplina de
geologia, “Elementos de Geologia” (GM280), que está inserida no núcleo comum obrigatório
das disciplinas a serem cursadas pelos estudantes de Biologia numa das universidades
estaduais paulistas.
Compiani (1990) em suas considerações sobre a busca de novos temas unificadores na
disciplina introdutória “Elementos de Geologia”, defendia que a “Geologia e a apropriação da
natureza” fosse um deles, pois:
A Geologia, do nosso ponto de vista, propicia a estruturação do conceito de natureza
de modo abrangente, histórico, e deixa transparente os vínculos entre a esfera de
produção social (noosfera) e as outras esferas terrestres. Assim facilita a
compreensão da apropriação da natureza pelo homem através da exploração dos
recursos naturais, que só podem ser entendidos a partir de conceitos de tempo
geológico, da dinâmica interna e externa dos processos geológicos. (p. 525).

O homem/humano/social entram aqui na relação que estabelecem com o objeto de


conhecimento científico em questão, ou seja, como parte desse objeto, mesmo sendo essa uma
ciência da natureza e não uma ciência humana. O homem entra, sendo agente geológico e,
com ele possibilitando a entrada da sociedade, da cultura, da política, como elemento da
natureza e não exterior a ela.
Muitas são as possibilidades de olhares, focos e escolhas numa pesquisa. Optou-se no
trabalho aqui referido fazer-se um “recorte” na atividade de campo vivenciada na disciplina.
Compiani (1991) considera que as atividades de campo “voltadas para ensinar o fazer

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Geologia – método geral de conceber a história geológica da Terra” (p.14) estão “inseridas
num amplo e complexo processo de obtenção de informações na natureza, e potencialmente,
seriam capazes de inter-relacionar o ambiente, a Geologia e a sociedade” (p.14). Sendo a
atividade tão relevante para a formação dos licenciandos algumas questões ganharam
destaque na pesquisa e permitiram um recorte mais bem delimitado e definido: como a
atividade de campo desenvolvida na disciplina constitui aproximações de uma abordagem
CTSA? De que maneira os futuros biólogos/professores de ciências e biologia produzem
sentidos sobre interações CTSA tendo o campo como uma das condições de produção? Que
sentidos produzem?

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Durante um semestre vivenciou-se o acompanhamento das aulas da disciplina, pela
primeira autora. Nesse período realizaram-se registros de natureza etnográfica, com gravação
em áudio, inclusive durante o trabalho de campo. Uma entrevista semi-estruturada foi
elaborada, sendo que durante o seu desenvolvimento utilizaram-se várias fotos cedidas com
autorização explícita por um dos alunos do curso de Ciências Biológicas. Nas perguntas da
entrevista, buscou-se estabelecer associações com o trabalho de campo como se pode
perceber, por exemplo, na questão onde se pede ao entrevistado que escolha algumas fotos
que tenham relação com os processos terrestres. Outras oito questões foram formuladas de tal
modo que remetessem aos seguintes tópicos: participação em processo de tomada de decisão
em questões sócio-científico-tecnológico-ambientais, concepções sobre ciência e cientistas,
interações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente, com um sub tema intitulado
“processos terrestres” e relações homem-natureza/ambiente. Algumas das questões focam
apenas um desses tópicos, outras abarcam mais de um.
Até o momento seis entrevistas já foram realizadas sendo que um trabalho com parte
desse material foi submetido ao VII ENPEC (2009). Aqui apresentamos, da mesma forma,
uma análise de um trecho da primeira entrevista realizada. Dentre os vários aspectos presentes
na pesquisa que inspirou as considerações aqui expostas, tornou-se ponto de convergência
desse trabalho os enfoques relacionados aos processos terrestres. Com isso, buscamos
evidenciar como a pesquisa vem se desenvolvendo teórico-metodológicamente no trato com
os dados empíricos.

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ANÁLISES E CONCLUSÃO:
Vejamos o trecho abaixo da entrevista com o aluno A1.
Processos terrestres:
Trecho da entrevista A1: aluno 1; T= Tereza (entrevistadora)
1) Diferentes processos terrestres ocorrem em diferentes escalas de tempo (dezenas,
centenas, milhares, milhões de anos). Escolha algumas dessas fotos que para você poderia
indicar fases de tempo desses processos.

1381 1380 1382 1386 1449

1429 1371 1427 1407 1428

1445 1431 1395 1436

Fotos cedidas por: Felipe Tolentino

A1: na 1449 dá pra ver que são rochas sedimentares e que há dobramentos nessas rochas.
T: hum, rum.
A1: numa análise mais próxima, na foto 1381, na foto 1386 também pode demonstrar.
T: a 81 e a 86.
A1: um geólogo provavelmente olharia e falaria sobre a formação dessa rocha e a 86, a 1386 mostra a
decomposição de uma rocha ígnea.
T: hum rum
A: o geólogo pode falar a época de formação dessa rocha. Na foto 1407 uma aranha repousa sobre uma rocha
ígnea também.
T: hã, rã
A1: e o geólogo falaria qual é o tempo dessa rocha, de formação.
T: então, é, essa foto aqui.

Há mais de um sentido possível para se situar os “processos terrestres”, sendo um


deles, provavelmente o predominante, a associação desse termo com fenômenos naturais do

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planeta Terra, estudados pelas Ciências da Terra em geral. A resposta aponta que o
entrevistado associou o termo ”processos terrestres” com partes da estrutura do planeta,
focando então o sentido geológico e não os sociais, biológicos, econômicos, etc. Considero
então que havia a possibilidade de outros sentidos, mas A1 os desconsiderou “optando” por
um dos sentidos geológicos possíveis. O mecanismo de antecipação pode explicar o
entendimento da atribuição desse sentido. Numa conversa, é como se as pessoas se
colocassem no lugar das outras, se antecipando ao efeito que as suas palavras poderão
produzir (Orlandi, 1999). Então, a resposta do entrevistado tem relação com o que ele pensa
que a entrevistadora pode estar querendo ouvir. O fato de estar conversando com uma
estudante de mestrado de um instituto de geociências acaba influenciando sua fala,
mobilizando uma parte do interdiscurso e não outra, já que nesse caso está presente a
possibilidade de que o esperado como resposta tenha relação direta com a geologia, ou
melhor, com a maneira como esse estudante representa a geologia. Além disso, outras
condições de produção de sentidos podem ser citadas como o fato da temática “processos
terrestres” ter sido discutida no âmbito de uma disciplina de geologia vivenciada por A1, e a
própria estrutura da entrevista que se utilizou de fotos da excursão da disciplina. A amplitude
de sentidos possíveis, e os inúmeros fatores que interagem com as condições de produção,
tornando-se também condição, assim como a forma como isso tudo é representado por A1
acaba “materializando” certos sentidos, mas não outros.
O dito inicialmente na resposta por A1 sobre as fotos 1381 e 1386, um geólogo
provavelmente olharia e falaria sobre a formação dessa rocha expressa um sentido sobre a
origem da rocha. O roteiro da atividade de campo afirmava no item “roteiro da excursão” que
se visava a reconstrução de “aspectos da história geológica local”. Além disso, há varias
perguntas no roteiro sobre o ambiente e o modo de formação das rochas. Outras falas de A1; a
época de formação dessa rocha, qual é o tempo dessa rocha de formação; remetem a um
imaginário sobre a datação do objeto, sua localização no tempo. Um dos objetivos que
permeou a atividade de campo foi o de reconstrução da história geológica local, o que envolve
a questão tempo. Nota-se então que a excursão é uma das condições de produção de sentidos
da resposta de A1, sendo que entrevista também o é, já que suas imagens expressam
momentos da excursão. No entanto, há na fala de A1 a ausência de sentidos que relacione
processos terrestres a transformações, item bastante abordado na disciplina. Assim, me parece
que ocorre um “congelar” do objeto na sua “formação”, que representa apenas uma das fases
do processo terrestre do ciclo das rochas, silenciando-se dessa forma o dinamismo intrínseco
ao próprio processo.

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Uma das quatro unidades de estudo da disciplina, “geologia/ambiente e as


transformações terrestres”, buscava justamente compreender a interação dos processos
terrestres. As palavras rochas sedimentares, dobramentos, associadas por A1 à foto 1449, se
considerarmos o ciclo das rochas, podem trazem sentidos ligados a transformações. Outra
imagem citada, a 1386, mostra uma rocha bastante intemperizada (“rocha podre”) embaixo de
uma ponte, sendo que suas características foram explicadas pelo professor numa das paradas
da excursão. O primeiro momento em que se falou de transformações sob o ponto de vista da
geologia ocorreu logo no início da disciplina com a realização de uma atividade sobre
movimento das dunas. Os alunos tinham que defender uma posição sobre qual das duas fotos
da duna seria a mais antiga e para isso tiveram que discutir e apresentar possíveis evidências
que justificassem sua escolha. O envolvimento e a participação da classe foram intensas, o
que pode ser um sinalizador da potencialidade do uso de atividades diferenciadas para a
formação dos estudantes.
Algumas metodologias de abordagens CTSA como, por exemplo, os “casos
simulados” se utilizam de estratégias parecidas como a divisão da turma de alunos para a
estruturação e efetivação da defesa de certas posições. A atividade da duna pode tornar-se
uma possibilidade de aproximação com enfoques CTSA, pois na busca de elaboração do
conhecimento geológico por parte dos estudantes apareceram sentidos gerados a partir das
evidencias imagéticas de construções humanas como postes e estradas, que envolvem relações
valorizadas por aquelas abordagens. Aspectos como o trajeto de uma estrada em função da
presença de uma duna traz implícitas questões econômicas, políticas e sociais que foram parte
das condições de produção da construção do conhecimento geológico pelos alunos, já que um
dos argumentos levantados foi o fato de que não seria esperado o homem ter construído
inicialmente uma estrada curva por causa da presença de uma duna para depois torná-la reta,
após o movimento da duna. No entanto, foi justamente isso que ocorreu. Então, aspectos
relacionados a abordagens CTSA podem ser inseridos visando também o entendimento de
conteúdos científicos numa formação que se insere na busca de uma visão ampliada da
realidade.
A fala de A1 remete a um imaginário sobre ciência e cientistas quando afirma que o
geólogo pode falar a época de formação; o geólogo falaria qual é o tempo. A forma como se
colocou também diz. Para esclarecer melhor essa ideia pode-se lembrar que ele poderia ter
dito “a gente pode falar a época de formação; a gente pode falar qual o tempo”, incluindo-se
portanto como um sujeito que pode dizer, mas ao invés disso, como afirmou “o geólogo”, ele
parece excluir essa possibilidade e justamente isso, essa “marca” ou aspecto da sua fala,

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remete a sentidos que podem ser interpretados pela pesquisadora como uma alusão,
inconsciente, ao imaginário sobre ciência e cientistas que endossa a voz do especialista como
algo superior e que é imbuído de autoridade, verdade, consistência e valor. Então, a
posição em que coloca o geólogo, enquanto representante habilitado de uma ciência gera
legitimidade ao dizer desse profissional e isso o situa como aquele que pode e sabe dizer algo
sobre o que está sendo estudado. Pode-se deduzir a partir daí que se o geólogo pode e sabe
falar sobre “X”, o biólogo é quem pode e sabe falar sobre “Y”. Ao reconhecer a autoridade
científica de um profissional de outra área, reafirma o papel do biólogo e futuro cientista que
almeja ser, e se inclui como parte de uma comunidade, a científica.
Continuação da entrevista:
T: é essas aqui você não escolheu, né.
M: hum, rum.
T: você acha que essas fotos da máquina, essas três né, essas quatro, 1445, 1431, 1427, 1428, né, é, elas podem
estar relacionadas com processos terrestres?
M; é eu, quando eu falei esqueci de considerar como que o tempo não é só registrado no período geológico,
como a gente pode ver o registro histórico. Se eu estivesse em 1800 e alguma coisa, eu jamais olharia e veria
uma, uma máquina como um trator desses que provavelmente surgiu com certeza bem depois da revolução
industrial, então.
T: hum, rum.
M: estamos falando do tempo histórico que também mostra a escala de tempo.
T: hã, rã.
M: Se a gente for olhar melhor posso olhar o ano dessa máquina de produção e tentar relacionar ela com o
contexto histórico da época.
Com o intuito de perceber os sentidos sobre ciência e tecnologia que poderiam vir à
tona em função da observação das máquinas (tratores) presentes em cinco das catorze fotos,
foi falado que aquelas imagens não tinham sido escolhidas e perguntado da possível relação
das mesmas com os processos terrestres. Nota-se pela resposta que as fotos do trator estão
significando para A1, registro de uma marca do tempo, que não é o do ano de 1800, mas o
pós-industrial relativamente recente. O “tempo” aparece também quando A1 se refere ao
registro histórico, sendo que esse não foi incluído como parte do tempo geológico.
Quando o entrevistado diz a frase: “estamos falando do tempo histórico que também
mostra a escala do tempo, o “também” é uma referência ao tempo geológico, não dito que se
faz presente por sua ausência. O tempo geológico foi um dos conteúdos estudados na
disciplina sendo que numa das atividades da aula os alunos tiveram que construir uma escala
de tempo geológico com eventos da história da formação da vida e dos recursos minerais.
Como citado há pouco, na resposta de A1 aparece o termo escala do tempo que segundo ele
também pode ser a do tempo histórico. Ou seja, o “também” busca deslocar o sentido de

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escala de tempo geológico elaborado na disciplina, ao considerar que o tempo histórico e não
só o geológico pode ser expresso numa escala. Ao mesmo tempo, se dá um deslocamento do
papel de aluno predominante nos sistemas de ensino como aquele que basicamente recebe o
conteúdo depositado pelo professor, para um lugar ocupado por um estudante que participa da
construção do conhecimento e que expõe parte de suas idéias, a partir de suas memórias
discursivas. O tempo histórico é um dos conteúdos abordados na disciplina de história do
ensino médio e em cursinhos pré-vestibulares cursados por A1 há poucos anos. Foi trazido
para a resposta por A1 apenas quando a entrevistadora chamou a atenção para as fotos que
apresentavam máquinas. Nesse momento, o tempo histórico independentemente de seu ínfimo
valor em termos de escalas temporais se fez presente e em referencia ao tempo geológico.
Percebe-se aqui novamente o efeito da sua memória discursiva na produção dos sentidos,
sendo que essa remeteu a um conteúdo exposto e discutido no ensino médio, ou seja, o tempo
histórico. Tratar de forma explícita as diferentes escalas de tempo poderia conduzir a uma
abordagem CTSA em que o social e o tecnológico estão presentes, junto com a ciência e o
ambiente.
As limitações existentes para o entendimento do conceito de “tempo profundo”, que
incluem também aspectos de ordem religiosa, podem colaborar para que ocorra pouca
divulgação e abrangência social em termos numéricos do conceito de tempo geológico. A
escala histórica do tempo trazida por A1 e agora pensada em contraste com uma escala de
tempo geológico traz o sentido da relevância do papel do homem, presente em toda a escala.
Apesar disso, as imagens das máquinas não foram associadas por A1 à participação do
homem no incremento da velocidade dos processos terrestres, pois esses talvez sejam
pensados mais comumente em termos de ciclos e processos de longa duração como deriva
continental, formação das espécies, formação dos continentes, cadeias de montanhas, etc.
Uma maior abordagem do homem como agente geológico talvez possibilite o entendimento
do papel da ciência e da tecnologia nos processos terrestres.
A história e a geologia são áreas de conhecimento que constroem e difundem
diferentes noções de tempo que fazem parte de nossa memória discursiva. Parece-me que
levar em consideração esse fato pode ser outra possibilidade de se inserir abordagens CTSA
no tratamento dessa temática, pois isso talvez possa contribuir para se problematizar a ciência
como atividade humana, ao evidenciar um pouco a difusão do olhar que existe sobre uma
mesma temática estudada por diferentes áreas do conhecimento. No entanto, parece-me que
essa busca de intervenção na concepção vigente sobre ciência, necessidade defendida por
abordagens CTSA, não se fará no caso aqui explicitado, através apenas de uma construção

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multidisciplinar de um conteúdo, pois essa possibilidade traz um sentido cientificista que


acaba reafirmando o difundido, arraigado e questionado poder das ciências e dos
conhecimentos legitimados para a resolução dos problemas, inclusive educacionais. Talvez, a
busca de respostas levando-se em consideração outros aspectos ou estratégias pouco ou nunca
trabalhadas pela ciência ou por disciplinas científicas favoreça a construção de sentidos que
nos permitam desvelar melhor a realidade e o potencial humano de atuar sobre ela, inclusive
com o intuito de transformá-la.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Ciencia & Ensino: volume 1, Número especial: Educação em Ciência, Tecnologia, Sociedade
e Ambiente (2007). Disponível em:
www.ige.unicamp.br/ojs/index.php/cienciaeensino/issue/view/15
COMPIANI, M. A relevância das atividades de campo no ensino de Geologia na formação de
professores de Ciências. Cadernos do IG/Unicamp, 1(2): 2-25, 1991.
COMPIANI, M. Em busca de novos temas unificadores para a disciplina “Elementos de
Geologia”. In: Congresso Brasileiro de Geologia 36, Natal, Anais, SBG, 1: 517-528, 1990.
ORLANDI, E. Interpretação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
ORLANDI, E. Análise de discurso. Campinas, SP: Pontes, 1999.
PÊCHEUX, M. Análise automática de discurso (AAD-69). In: GADET, F. & HAK, T.
(Orgs). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michael Pêcheux.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1990.
PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso. Campinas, SP: Editora da Unicamp. 1995.
ZOPPI-FONTANA, M. G. Cidade e discurso: paradoxos do real, do imaginário, do virtual.
Rua, Campinas, 4, 1998, p. 39 - 54.

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O TRABALHO DO PALEONTÓLOGO FREDERICO WALDEMAR LANGE (1911-


1988) NO MUSEU PARANAENSE ENTRE 1941 À 1955

Drielli Peyerl1, Edson Armando Silva2, Elvio Pinto Bosetti3


1
Mestranda em Gestão do Território pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Bolsista CAPES.
driellipeyerl@gmail.com

²Professor docente do Departamento de História e do Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade


Estadual de Ponta Grossa, edasilva@uepg.br

³ Professor docente do Departamento de Geociências e do Mestrado em Gestão do Território da Universidade


Estadual de Ponta Grossa. E-mail: elvio.bosetti@pesquisador.cnpq.br

Resumo: O arquivo do paleontólogo Frederico Waldemar Lange (1911-1988) tem sido fonte
de muitos estudos relacionados à história das Geociências. O caminho trilhado por este
pesquisador auto-didata, reconhecido mundialmente por seu trabalho científico, está
profundamente relacionado com o pensamento vigente no século XX. Lange trabalhou no
Museu Paranaense durante os anos de 1941 até 1955, e seu trabalho reflete uma mente
cultural e paleontológica. Ele iniciou como assistente da seção de geologia e chegando a
exercer mais tarde o posto de diretor. Lange publicou 14 trabalhos durante este período no
Museu Paranaense, trabalhos que enfocavam principalmente os fósseis devonianos do Estado
do Paraná. Até hoje seu trabalho continua a contribuir às pesquisas científicas e históricas.

Palavras-chave: Acervo Frederico Waldemar Lange, História das Geociências, Museu


Paranaense

Abstract: The Archive of the paleontologist Frederico Waldemar Lange (1911-1988) has
been the source of many studies related to Geosciences History. The pathway of this self-
taught researcher, world-wide known for his scientific work, is deeply related with the XXth
century thoughts. Lange worked on Museu Paranaense during the years 1941 - 1955, and his
works reflect his cultural and paleontological mind. He initiated as an advisor on the
paleontological section, reaching the directorate later. Lange published fourteen papers during
this period in the Museu Paranaense, papers that focused mainly on the Devonian fossils and
on the Paraná State. Until nowadays his work continues to contribute to scientific and
historical research.

Keywords: Acervo Frederico Waldemar Lange, História das Geociências, Museu Paranaense

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INTRODUÇÃO
O Acervo Frederico Waldemar Lange (1911-1988), que se encontra sob a guarda e
conservação do Laboratório de Estratigrafia e Paleontologia do Departamento de Geociências
da Universidade Estadual de Ponta Grossa, tem sido objeto de estudos e pesquisas que versam
sobre uma impressionante variedade de temas na Geologia, Geografia, Biologia, História,
Paleontologia e Micropaleontologia.
O acervo dispõe de um vasto material armazenado com o passar dos anos por
Frederico Waldemar Lange, que se compõe de mapas, relatórios, jornais, coleções
conquiliológicas, fotos, cartas, notas de viagens ou de conferências, livros, lâminas com
microfósseis, revistas, artigos de diferentes autores e outros de sua própria autoria, e
documentos de cunho pessoal.
O trabalho de Lange, se constituiu num um marco da História das Geociências e da
Paleontologia brasileira. A presente pesquisa é o resultado de uma dissertação em andamento
que foca a trajetória do paleontólogo e seu trabalho dentro das Geociências no século XX,
esse artigo esboça uma parte do trabalho de Lange no Museu Paranaense, no período de 1941
a 1955, desde quando ele exerce a função de assistente de Paleontologia e Geologia,
assumindo mais tarde o cargo de Diretor. Durante esse período publica quatorze das vinte e
duas obras escritas de sua trajetória acadêmica.

O MUSEU PARANAENSE E O TRABALHO DE FREDERICO WALDEMAR LANGE


Inaugurado na cidade de Curitiba em 25 de dezembro de 1876, o Museu Paranaense,
continha um acervo de 600 peças, entre objetos, artefatos indígenas, moedas, rochas e
minerais, insetos, pássaros e borboletas. Foi então o primeiro museu do Paraná e o terceiro do
Brasil, sendo o primeiro o Museu Nacional (1818) e o segundo o Museu Paraense (1871).
Neste mesmo período de inauguração, ocorriam mudanças na economia do Estado do
Paraná que tinha na erva-mate seu principal produto de exportação, seguido pelo setor
madeireiro. Posteriormente, com a implantação das ferrovias, o rápido desenvolvimento da
cultura cafeeira no norte do estado e o surto de imigrantes recém-chegados mudavam o eixo
econômico do estado com a integração das novas fronteiras agrícolas.
Nessas mudanças econômicas, culturais e sociais que o estado vivenciava, o Museu
Paranaense foi adquirindo espaço na sociedade. O ideal da construção histórica local e dos
seus saberes era também compartilhada pela sociedade paranaense de sua época:

Incrementado rapidamente, por constantes doações que eram publicadas no jornal


local a partir de 1879, o horário de visitas foi ampliado e os problemas de espaço

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que já se vinham avolumado foram resolvidos com a inauguração de um novo salão.


Em 1879, o museu foi reformado ampliado e adquiriram-se novas vitrinas. Assim,
quando o imperador o visitou em 22/6/1880, demorando-se por duas horas
apreciando “os fósseis, as seções de moluscos e crustáceos, assim como os
minerais”, ficou bastante satisfeito, embora lamentasse a ausência de um catálogo
com a classificação dos objetos expostos.
O museu era uma instituição particular, que contava com o apoio do governo mas
era fundamentalmente financiada pela população local. As senhoras de Curitiba, por
exemplo, se encarregaram da promoção de loterias para sua manutenção financeira.
(LOPES, 1997, p. 209).

No ano de 1882, o Museu transformou-se em órgão oficial de governo, passando a


receber contínuas doações. Deixando de ser um simples depósito para ser um centro de
instrução e pesquisa, propiciando a vinda de missões científicas para o Paraná. As instituições
científicas, como projetos e associações, sempre tiveram, na maioria dos casos, um claro viés
nacionalista e uma vontade de colocar a ciência a serviço do progresso e da transformação do
país. (CAPEL, 1993).
A curta duração da vida de algumas instituições ou associações e sociedades
científicas da América Latina estão atreladas às dificuldades do contexto social e cultural em
que se desenvolveram. Assim as instituições particulares, ao longo do século XIX, vão
perdendo espaço para as universidades que se converteram nos principais centros dedicados a
investigação científica e desenvolvimento da ciência.
A estrutura e condições de financiamento do Museu Paranaense foram uma
dificuldade sempre presente no desenvolvimento do mesmo, fato comum na América Latina.
Assim a mudança de prédio e a ampliação de suas atividades mereceu destaque na imprensa
como referido a seguir:

Tendo mudado de prédio em 1896 e novamente em 1900, neste último se


organizaria em seu pátio interno um pequeno Jardim Zoológico e, em 1901, seria
publicado um Guia de suas coleções, que incluía seus aspectos históricos e a
classificação sistemática das coleções mineralógicas do museu, realizada por
Francisco de Paula Oliveira, então diretor da seção de Geologia do Museu Nacional.
Essa seção, que era considerada a mais ampla, seria ainda incrementada em 1908
por uma coleção de fósseis devonianos doada por Eusébio de Paula Oliveira, do
Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil. (LOPES, 1997, p. 211).

Essas descobertas e a construção material e intelectual de uma instituição, associação


ou sociedade muitas vezes está atrelada aos fenômenos urbanos, e somente podem crescer em

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um clima social e intelectual adequado. Por isso, o desenvolvimento do Museu Paranaense


expressa também o desenvolvimento urbano e cultural concentrado na capital Curitiba.
O Museu Paranaense foi enriquecido pela história das pesquisas e condições
geológicas que o Paraná possui, cercado por intelectuais que desejavam contribuir com seus
trabalhos para o desenvolvimento científico. O museu foi dirigido pelos principais intelectuais
paranaenses da época, ligados pelo movimento paranista que buscava o estabelecimento de
uma identidade paranaense, entre eles Agostinho Ermelino de Leão, Romário Martins e
Loureiro Fernandes.
Em 1941, Frederico Waldemar Lange especializa-se em Geologia e Mineralogia pela
Universidade do Paraná/Museu Paranaense, e assume o cargo de assistente da secção
Paleontologia do museu no mesmo ano, onde permanece até 1946.
No Jornal O DIA de 9 de agosto de 1941, a matéria intitulada ATOS
GOVERNAMENTAIS, descreve a nomeação dos cidadãos e suas respectivas funções no
Museu Paranaense:

Decretos assinados em 8 de agosto de 1941


DECRETO No 11.706
O interventor Federal no Estado do Paraná, sob proposta do Conselho
Administrativo do Museu Paranaense, nomeia na forma estabelecida no art. 26 do
Regulamento do referido museu, os seguintes cidadãos: Secção de Minerologia –
Geologia e Paleontologia – Frederico W. Lang para exercer, respectivamente, as
funções de assistentes das sub-secções de Paleontologia; e – Heitor Rodrigues Júnior
para exercer as funções de auxiliar-voluntário da sub-secção de Mineralogia. (Jornal
O DIA. ATOS GOVERNAMENTAIS. Curitiba – Sábado, 9 de agosto de 1941,
páginas sete)1.

Em 1944, o Museu Paranaense dividia-se nas seguintes secções: Zoologia;


Antropologia e Etnografia; História; Botânica; Geologia, Mineralogia e Paleontologia;
Documentação Fotográfica e Administração (A secretaria, a sala de reunião do Conselho, a
biblioteca e outras secções auxiliares).

Secção de Geologia, Mineralogia e Paleontologia


Por último visitamos a secção de Geologia, Mineralogia e Paleontologia, que está
sob a direção do dr. Francisco de Assis Fonseca Filho e conta com o auxílio do snr.
Waldemar Lange. A secção como homenagem, tem o nome do dr. Francisco de
Paula Oliveira; nessa secção os minérios do Paraná estão em monstruario especial

1
As citações de jornais foram mantidas na integra, os erros ortográficos decorrem da cópia sem modificações.

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ficando em outros armários minérios de outras regiões do País.


Aí é digno de destaque um mapa do Paraná contendo a localização geográfica das
jazidas dos diversos minerais, acompanhado de uma amostra de cada produto
extraído e cientificamente estudado. Também nossa atenção foi atraída por um
pequeno bloco de ferro metálico obtido na Mira Timbutuva pela redução do limonito
de Araras. A parte de fossei, a cargo do dr. Waldemar Lange, oferece aspectos
curiosíssimos à apreciação do visitante. (Jornal O DIA. MUSEU PARANAENSE
Curitiba – 4.a – Feira, 19 de janeiro de 1944).

O trabalho de Lange estava voltado para as descobertas fossilíferas do Paraná, em


especial a paleontologia, micropaleontologia e História das pesquisas paleontológicas no
Estado. Estudos relacionados principalmente ao período Devoniano caracterizam essa fase.
Participava ativamente de sociedades relacionadas ao assunto, como exemplo a Sociedade
Brasileira de Geologia (1947), eleito vice-presidente em 1950, 1951, 1956 e 1959, Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (1951), Society for the Study of Evolution (1952),
Society of Systematic Zoology (1952) e American Association for the Advancement of
Science (1952).
Em 1947, ocorreu um fato marcante para ao paleontologia Estado do Paraná. Restos
de fósseis de um Megatério (Mammalia - Xenarthra), no município de Porto União. A
reportagem publicada no Jornal O DIA, intitulada como Valiosa aquisição para o Museu
Paranaense, tem como encarregado da possível escavação o paleontólogo Frederico
Waldemar Lange, bem como analisar o local e a retirada do fóssil.

Interessados em saber como se deu a descoberta dos referidos restos, interrogamos o


nosso entrevistado, a esse respeito, o qual apenas nos poude confiar a primeira
notificação enviada pelo diretor da Secção de Geologia e Mineralogia, dr. F. W.
Lange, que se acha dirigindo as excavações para a remoção do fóssil, e que
atualmente se encontra no Rio de aJneiro (sic) onde foi tomar parte nos trabalhos do
Congresso Brasileiro de Geologia.
Inicialmente a referida notificação ocupa-se da situação da localidade fossilífera que
fica a ‘’15 Km. a SE de Valões, município de Porto União, proximo á Colonia São
Jorge, onde ocorrem duas elevações conhecidas legalmente por Serra Emidia e Serra
da Casemira, que se destacam nitidamente do terreno em geral apenas suavemente
ondulado. Embora de constituição identica aos demais terrenos da região, pois são
formadas pelos folhelhos de cores variegadas da formação do Rio do rasto, devem
estas serras a sua conformação alongada á presença de diversos diques de diabásio
que atravessam, bem como a um ill que as encobre, tornando-se assim mais
resistente à erosão.
Aproximadamente na metade da encosta da Serra da Casemira, do lado norte,

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ocorrem dois degraus um tanto inclinados, cujas depressões foram ocasionadas por
pequenos cursos dagua”.
Posteriormente descreve a mencionada nota como se deu o achado.
“Desejando aproveitar o pequeno córrego existente neste local, os filhos do Sr.
Guilherme Senn, proprietário do terreno, iniciaram a excavação de uma das margens
afim de fazezrem (sic) um tanque para a criação de carpas, quando encontraram
alguns fragmentos de ossos pertencentes a um animal de grande porte.
Posteriormente foram retirados mais alguns ossos, inclusive um fêmur, segundo
informações obtidas, tendo parte do material sido enviado á Divisão de Geologia e
Mineralogia, do Ministério da Agricultura, on Rio de aJneiro, que por sua vez avisou
a secção de Geologia do Museu aPranaense (sic), ao mesmo tempo gentilmente
cedendo o direito da coleta do material”.
Foi em principios de novembro do corrente ano, que o encarregado da sub-secção de
paleontologia do Museu Paranaense, sr. Frederico Waldemat Lange, visitou a
localidade fossilífera afim de estudar a natureza do fóssil e para verificar a
possibilidade da sua remoção; foram nesta ocasião retiradas diversas costelas e uma
(ilegível), além de outros fragmentos menores, cujo estudo demonstrou tratar-se do
esqueleto fossilizado de um megatério, animal extinto há alguns milhares de anos e
cuja forma se aproximava á uma preguiça, de enormes dimensões porém, pois
chegava a atingir e malguns casos 5 metros de comprimento por 2 de altura.
A presença da ossada nesta depressão na encosta da serra faz supor tratar-se de
antigo pântano em que o animal pereceu atolado, tendo em seguida seus ossos sido
espalhados por outros animais, possivelmente por abutre, visto não mais se
encontrarem na sua posição natual, mas sim separados uns dos outro. Posteriormente
todo o local foi encoberto por material de ersão transportado pela água, de tal forma
que hoje se encontra uma camada de mais de um metro de espessura de terra sobre
os despojos. Os osso não etão de todo petrificados, notando-se apenas uma delgada
casca em algumas peças, originadas pela infiltração da sílic; de um modo geral os
restos estão muito mal conservados, toranndo-se necessario o emprego de colas para
juntar e remover os diversos fragmentos.
Dentro de pouco tempo será reiniciado o trabalho afim de ser removido o restante do
material, tendo-se a esperança de ser então encontrada a cabeça do animal. Depois
de devidamente preparados, deverão os ossos fósseis ser expostos no Museu
Paranaense, cuja diretoria aproveita o ensejoj para agradecer ao sr. Guilherme Senn
(bem como aos srsã Teodoro Lemos e Alípio Ortiga) pelo auxilio prestado aos
funcionarios do Museu durante o trabalho da remoção. (Jornal O DIA. Valiosa
Aquisição para o Museu Paranaense. Curitiba, domingo, 30 de novembro de 1947,
Número 7.700, Ano XXIV).

Neste mesmo ano da descoberta, Lange torna-se Chefe do Setor de Geologia onde
permanece até 1954. No período de 1952 a 1955 foi Professor de Geologia e Paleontologia da

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Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Curitiba.


Com o trabalho do Museu Paranaense e como Professor universitário, entre os anos de
1941 e 1955 Lange publicou quatorze trabalhos: -Restos vermiformes do Arenito Furnas.
Arquivos Museu Paranaense, 1942; -Novos fósseis Devonianos do Paraná. Arquivos Museu
Paranaense, 1943; -Arenitos da Vila Velha. Museu Paranaense, 1944; -Novas localidades
fossilíferas da Série Itararé. Anais Academia Brasileira de Ciências XVI, 1944; - Anelídeos
poliquetas dos folhelhos Devonianos do Paraná. Arquivos Museu Paranaense, 1947; -
Polychaete annelids from the Devonian of Paraná, Brazil (Chitinozoa). Paleont. Research
Institution, 1949; - Novos microfósseis Devonianos do Paraná. Arquivos Museu Paranaense,
1949; - Um nôvo escolecodonte dos Folhelhos Ponta Grossa. Arquivos Museu Paranense,
1950; - Revisão da fáunula do Folhelho Passinho. DUSENIA, 1952; - Chitinozoários do
folhelho Barreirinha, devoniano do Pará. DUSENIA, 1952; - Paleontologia e Evolução dos
seres vivos. In: “Evolução dos Sêres Vivos”. Centro de Estudo História Natural, Faculdade de
Filos. Ci. Letras, Univ. Paraná, 1953; - Estratigrafia e idade geológica da Série Tubarão.
Arquivos Museu Paranaense, 1954; - Paleontologia do Paraná. Vol. Comemorativo 1º
Centenário do Paraná, 1954; - Nota preliminar sobre a fáunula do Arenito El Carmen.
Sociedade Brasileira de Geologia, 1955.
Grande parte das publicações de Lange estavam vinculadas aos Arquivos do Museu
Paranaense, que resultaram em publicações de relevante destaque para as ciências no Brasil.
As publicações dentro de instituições, museus, associações e sociedades, são aspectos
fundamentais, principalmente na trocas de informações (com outros países e estudiosos do
assunto) e a divulgação e demonstração das pesquisas e estudos realizados no momento.
Porém as dificuldades para criar séries regulares de publicação e para a continuidade da
mesma é uma característica muito freqüente na América Latina, principalmente nos fins do
século XIX e começo do XX, com poucas publicações e um grau alarmante de dificuldades
financeiras. (CAPEL, 1993).
No caso do Museu Paranaense

O primeiro número de sua revista científica – O Boletim do Museu Paranaense –


seria publicado em 1904, pela iniciativa do historiador e jornalista Alfredo Romário
Martins, que assumira a direção do museu em 1902. O “editorial” do tomo I do
Boletim do Museu Paranaense informava que nesses anos o museu reunira grande
cópia de exemplares da fauna, da mineralogia, da arqueologia indígena e da
etnologia brasileira e que, bem organizado como então estava, procurava seguir e
indentificava-se, mesmo que a distância, aos demais museus do país. (LOPES, 1997,
p. 211).

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Infelizmente o Boletim do Museu Paranaense não continuou por falta de verbas, mas
vale destacar que muitas dessas publicações em todo o nível mundial estimulavam debates,
polêmicas, e trocas de informações, oferecendo visibilidade aos trabalhos científicos dos
autores. Apenas no ano de 1941, o Museu passa a contar com seus Arquivos do Museu
Paranaense. (LOPES, 1997).
Os trabalhos de Lange o projetaram no cenário científico local e internacional, devido
principalmente a suas publicações quando atuava no Museu Paranaense. Um de seus trabalhos
denominado Anelídeos Poliquetos nos Folhelhos do Devonivano do Paraná, publicado nos
Arquivos do Museu Paranaense, em 1947, foi reconhecido internacionalmente. Algumas
notas em jornais locais relataram o ocorrido.
O Jornal GAZETA DO POVO – Paraná, de 29 de abril de 1949, na seção Vida
Científica, destaca o fato e elogios ao ilustre paleontólogo Frederico Waldemar Lange, com a
menção a honrosa apreciação do “Journal of Paleontology” sobre o trabalho de Lange, de
Ponta Grossa.

No ano passado os “ARQUIVOS DO MUSEU PARANAENSE”, em seu volume


sexto, PP. 161-230, publicaram um artigo sobre “Anelídeos poliquetos nos folhelhos
devonianos do Paraná” que teve grande repercussão nos meios estrangeiros
especializados tendo seu autor, Snr. Frederico Waldemar Lange, de Ponta Grossa,
recebido uma solicitação no sentido de que o mesmo artigo fosse traduzido para o
inglês e publicado no “Journal of Paleontology”, afim de ter maior divulgação dada
a sua capital importância para o estudo dos escolecodontes.
O Museu Paranaense, de cuja secção de Paleontologia e Geologia é diretor o Snr. F.
W. Lange, acedeu à solicitação concedendo licença para a referida tradução e
publicação dando assim todo apôio para que se projete no estrangeiro, era toda sua
grandeza, esse notável pesquisador que, trabalhando só e contando apenas com seu
esforço e denodo pessoal, chegou a especializar-se notavelmente em alguns grupos
de fosseis do devoniano paranaense, que permitirão um melhor estudo comparativo
do nosso passado geológico.
Deixamos a palavra ao crítico do artigo, o Prof. Dr. Kenneth E. Caster, da
Universidade de Chicago, que em um “Review” aparecido no Journal of
Paleontology, assim se expressa sobre o mesmo:
“Esta é provavelmente a mais importante monografia até agora escrita sobre os
escolecodontes, sendo, certamente, a mais preciosa destes últimos anos.
Representa ao mesmo tempo significativa contribuição, que até hoje não se tinha
elaborado em anos anteriores, ao conhecimento da forma devoniana da America do
Sul”. (Jornal GAZETA DO POVO. Vida Científica. Curitiba – Paraná, sexta-feira,

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29 de abril de 1949, Ano XXXI – Nº 8.613, quinta página).

Neste trabalho, Lange descreve uma coleção que inclui milhares de espécimes de
escolecodontes, cuidadosamente coletados nos folhelhos devonianos de Ponta Grossa.
No ano de 1954, Lange torna-se Diretor do Museu Paranaense, onde permanece até
1955. Durante sua direção, como podemos observar na publicação do Jornal Diário do Paraná,
de 29 de março de 1955, acumulou o cargo de direção da Seção de Geologia:

Em março de 1955, o Museu Paranaense compunha-se de seis secções:


“Antropologia e Etnografia, Botânica, Cinema Educativo, Geologia e Paleontologia.
História e Zoologia”. A secção de Geologia era dirigida por Frederico Waldemar
Lange, o qual também era o atual diretor do Museu, definido no Jornal Diário do
Paraná como “geólogo paranaense, que dirige em Ponta Grossa serviços do
Conselho Nacional do Petróleo”. A freqüência anual estava em torno de 25.000 mil
pessoas, sendo que nas segunda e sexta-feiras não se abriram suas portas. (...)
“Um mapa mural apresentando síntese da história geológica do Paraná, com as
respectivas legendas ocupa lugar de relevo da secção de Geologia e Paleontologia.
Coleções de figuras de fósseis devoneanos, organizadas no século passado por
Orvilde Derby e ossos de um megatério, grande mamífero com dimensões de
elefante, coletados pelo professor Lange em Valões, formam entre as preciosidades
da sala. O megatério, que surgiu no período terciário na América do Sul, de que
apenas se conhecem os ossos fósseis, está disposto acima de alguns exemplares
répteis do período permiano, encontrado nos folhelhos betuminosos de Irati. Esses
répteis têm cerca de 250 milhões de anos.
Há também, uma exposição ampla dos recursos naturais do território, além do mapa
mural, mostrando fragmentos geológicos”. (Jornal Diário do Paraná, Curitiba, 29 de
março de 1955, Ano I, N° 1, Página 2).

Em 1955, Lange encerra seu importante trabalho no Museu Paranaense, transferindo-


se para a função de paleontólogo na PETROBRAS. Com a Fundação da PETROBRAS em
1953, e a instalação de um de seus polos regionais em Ponta Grossa – Paraná, Lange foi
convidado a continuar suas atividades de pesquisa paleontológicas na PETROBRAS.
Começou a ganhar posições funcionais mais elevadas, assumindo em 1958, a Chefia do
Distrito de Exploração da Bacia Sedimentar do Paraná (DEBSP). Mas tarde, foi convidado
pelo geólogo norte-americano Walter K. Link, a ocupar o cargo de Superintendente-Adjunto
do Departamento de Exploração (DEPEX/PETROBRAS) no Rio de Janeiro, passando,
durante os anos de 1961/1962, a exercer a Superintendência Geral do DEPEX, o mais
importante cargo da PETROBRAS na linha exploratória. ( PEYERL & BOSETTI, 2008).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo revela a trajetória realizada por Frederico Waldemar Lange (1911-1988)
realizado no Museu Paranaense durante os anos de 1941 a 1955. Nascido em Ponta Grossa
(117Km de Curitiba), dedicou sua vida aos estudos da História das Geociências, num
momento em que o Brasil começa a desenvolver mais profundamente essa área. Além, de
contribuir para a descrição, descobertas e catalogação da Seção de Geologia, Mineralogia e
Paleontologia do Museu, divulgou seu trabalho com a publicação de obras que marcaram o
desenvolvimento da ciência e proporcionaram a ele reconhecimento internacional.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPEL, Horacio. El asociacionismo cientifico em Iberoamerica. La necesidad de un enfoque
globalizador. In: Mundialización de la ciencia y cultura nacional. Actas del Congreso
Internacional <<Ciencia, descubrimiento y mundo colonial>>. Madrid: Edicones Doce Calles,
1993.
JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ. Na casa das coisas antigas repousa a gloria do Paraná.
Curitiba, 29 de março de 1955, Ano I, N° 1, Página 2.
JORNAL GAZETA DO POVO. Vida Científica. Curitiba – Paraná, sexta-feira, 29 de abril de
1949, Ano XXXI – Nº 8.613, quinta página.
JORNAL O DIA. ATOS GOVERNAMENTAIS. Curitiba: Sábado, 9 de agosto de 1941, Página
sete.
JORNAL O DIA. MUSEU PARANAENSE. Curitiba – 4.a – Feira, 19 de janeiro de 1944.
JORNAL O DIA. Valiosa Aquisição para o Museu Paranaense. Curitiba, domingo, 30 de
novembro de 1947, Número 7.700, Ano XXIV.
LOPES, Maria Margaret. O Brasil descobre a pesquisa científica. Os museus e as ciências
naturais no século XIX. São Paulo: Hucitec, 1997. P. 369.
PEYERL, Drielli; BOSETTI, Elvio Pinto. Levantamento dos estudos de paleontologia,
cultura material e patrimônio histórico através da trajetória do paleontólogo pontagrossense
Frederico Waldemar Lange (1911-1988). In: III SIMPUGEO (Simpósio Paranaense de Pós-
Graduação em Geografia). Anais de resumo. Ponta Grossa: Universidade Estadual de Ponta
Grossa, 2008. P. 261 à 270.

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RECURSOS MINERAIS NOS SÉCULOS XVI/XVII: FERRO E AMETISTAS NO


ANTIGO GUAIRÁ (1557-1632)

Jefferson de Lima Picanço - geólogo consultor


Engefoto Engenharia e Aerolevantamentos Ltda, jeffpicanco@yahoo.com.br

Resumo: O Antigo Guairá, hoje território do estado do Paraná, era uma província espanhola
pertencente a orbita do Paraguai colonial. As cidades e reduções jesuíticas foram destruídas
pelos paulistas e desocupadas pelos moradores entre 1629-32. Nos primórdios da ocupação do
antigo Guairá predominaram os interesses na procura de metais, importante para consolidar a
ocupação espanhola na América. Na ausência destes, optou-se pela exploração da erva-mate.
Os principais recursos descobertos pelos espanhóis na região foram ametistas e ferro. As
ametistas geraram uma revolta em Ciudad Real Del Guairá em 1569. O ferro, proveniente de
lateritas, foi explorado pelos espanhóis e pelos jesuítas em suas missões. A experiência
anterior dos espanhóis foi decisiva para esta incipiente cultura do ferro. Reconhecer estas
relações é um passo importante no avanço de nosso conhecimento da historia colonial da
America.

Palavras-chaves: recursos minerais, América do Sul, Guairá, ametista, ferro.

Abstract: The ancient Guairá was a former Spanish province that belongs to the colonial
Paraguay. The Spanish villas and Jesuitical Reductions are destroyed by the Paulistas, in
1629-32. The search of metal ores was important in the Guairá’s settlement, as in the other
regions of the Spanish America. The metals are virtually absent, and the Spaniards had
explored erva mate as economical resource. The main mineral resources in that period were
ametists and iron. The ametists generated a rebellion in Ciudad Real del Guairá in 1569. The
iron was exploited from laterites by the Spaniards and Jesuit’s Reductions. In these incipient
iron industry, it was important the former siderurgical experience of the Spaniards. These
relationships are very important to improve our knowledge of the colonial history of America.

Keywords: mineral resources, South America, Guairá, ametist, iron.

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INTRODUÇÃO
O antigo Guairá (1541-1632) era uma província espanhola, e situava-se no oeste do
atual estado do Paraná, numa região ocupada por tribos Guarani e Jê, estimados em até 300
mil pessoas. Foi uma região da esfera de influência do Paraguai colonial. Os espanhóis de
Assunção fundam no Guairá Ciudad Real (1557) e também Villa Rica del Espiritu Santo, a
qual mudou três vezes de lugar entre 1576 e1589 (Lozano, apud Azara, 1847).
Sem recursos minerais, as vilas extraem erva-mate na serra de Maracaju, pelo sistema de
encomiendas, ou beneficio herbatero. A resistência indígena à encomienda levou a
Companhia De Jesus a entrar na região, fundando treze missões nas principais áreas indígenas
da província (Caravaglia, 2005). Entre 1628-32 as bandeiras paulistas arrasam estas missões,
com a conivência dos espanhóis das vilas. Os jesuítas retiram-se do Guairá com as duas
últimas reduções em 1631 e os habitantes das vilas espanholas retiram-se no ano seguinte.
Passando à órbita portuguesa, o Guairá é reocupado no século XX, como parte do atual estado
brasileiro do Paraná.
Uma dos problemas mais sérios que os conquistadores espanhóis enfrentam na região
paraguaia é a ausência de metais, o que os obriga a viver de maneira muito diferente e
bastante mais simples que os espanhóis do Peru. A grande esperança inicial dos habitantes do
Guairá, sobretudo os de Villa Rica, eram os minérios. A busca foi intensa.
Nesta busca, duas ocorrências minerais da região chamam atenção desde cedo: as ametistas e
o ferro. Este trabalho trata, de maneira preliminar, mas com base em fontes documentais
primárias, da historia da exploração destes recursos, dentro dos limites do conhecimento
mineiro da época, com seus acertos, desacertos, enganos e desenganos.

O ENGANO DAS AMETISTAS


As ametistas são gemas muito comuns, encontradas em geodos de níveis específicos,
dentro de alguns dos derrames basálticos na região. Os espanhóis do século XVI/XVII
chamavam os geodos de cocos de mina. Os relatos da época diziam que estes cocos, prenhes
de cristais, estouravam com um som semelhante ao de um canhão. Nas terras do Guairá estas
pedras durante alguns anos tiveram reputação de valiosas. Charlevoix (1757) descreve que os
cristais de ametista da região “não são todos da mesma cor, a maioria são vermelhos,
[embora existam] exemplares verdes e violetas. Eles são esculpidos de uma maneira tão
variada e regular, que quase não se crê que sejam obras da natureza”.
Em 1569, os moradores de Ciudad Real, vila espanhola na confluência do rio Piquiri
com o rio Paraná, rebelam-se contra o governador Alonso Riquelme e, carregados com
quantidades consideráveis destes cristais, tratam de voltar à Espanha pelo caminho do Brasil.

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Enganados com o valor das ametistas, muitos habitantes abandonam seus estabelecimentos
para levar pedras à Espanha, onde julgam fazer grande fortuna (Lozano, 1755). Por um breve
momento, pareceu que os habitantes de Ciudad Real haviam achado sua sorte. No entanto, o
capitão Rui Díaz Melgarejo vai atrás dos fugitivos, os convence de seu desengano e os traz de
volta para Ciudad Real (Lozano, op. cit.).

A EXPLORAÇÃO DO FERRO
Outro recurso mineral que merece destaque na região é o ferro. Embora não seja
verificada nenhuma jazida ou ocorrência atual de rochas que pudessem fornecer ferro em
abundância, são verificados, no registro arqueológico, muitos fornos, com escória de fundição
associada, em todas as vilas espanholas e nas reduções jesuíticas de Loreto e San Ignácio. O
forno descrito por em Villa Rica do Espiritu santo, Vila espanhola no médio curso do rio Ivaí,
é do tipo catalão (Parellada, 1997). Este tipo de forno, desenvolvido no século XV, é um
forno do tipo baixo, que trabalha com grande consumo de carvão (Araújo, 1996). Têm foles
manuais, sendo mais tarde substituídos por foles movidos por rodas d’água. Este tipo de forno
não alcança a temperatura de fusão do ferro, a 1535ºC. O material, após aproximadamente 4
horas de fogo, forma uma massa pastosa, ou lupa. A lupa é então retirada e martelada para
separar a escória.
Em 1630, padre Antonio Ruiz de Montoya, superior dos Jesuítas na região do
Guairá, cita que uma viruela, possivelmente uma epidemia de varicela, o obrigou a ajudar os
índios e os espanhóis na redução de Concepción de Los Gualachos (Montoya, 1630),
localizada junto “ao tambo onde los españoles cultivam el hierro”. Montoya descreve a
localidade de Tambo como um “mineral” de ferro. Esta palavra, nos séculos XVI-XVII,
também se aplicava às zonas mineiras, ou minas. Ou seja, era uma região onde ocorria o ferro,
onde o ferro era lavrado e/ou também forjado.
Padre Antonio Ruiz de Montoya faz várias menções à localidade do Tambo do Ferro
(Montoya, 1628):
1 ) Montoya cita a presença do capitão Gerônimo Merino,“Teniente del Tambo” que
o estava ajudando ali nas “minas de hierro”;
2) informa em outro trecho que iria ao Tambo com “ropas a buscar cuñas” e reclama
do cabildo de Villa Rica, que cobrou pelo preço do ferro o dobro do preço de 50 anos
atrás.
3) a carta é assinada no “Tambo de Curaciberá y minas del hierro” em 2 de julho de
1628;

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A indicação de que o cabildo de Villa Rica impunha preços no ferro ali extraído e
mostra como o ferro era uma atividade comercial importante na região. O Tambo era também
um lugar onde se trocavam cunhas, machados e outras ferramentas por roupas, tecidos e
outras mercadorias, dada a total ausência de moeda circulante. Como não se sabe ao certo a
localização deste lugar, não se tem uma idéia clara de que tipo de minério era lavrado e/ou
forjado. Por outro lado, a denominação Coraciberá, nos escritos de Montoya, nos leva
também a crer que o Tambo pode ter sido uma das localizações prévias da cidade de Villa
Rica, provavelmente a segunda locação da cidade (Azara, 1847).
No século XVIII, nos Sete Povos das Missões, hoje Rio Grande do Sul, Padre Sepp extraiu
ferro de uma rocha chamada itacana, ou itacuru (Dobritzhofer, 1822). Era uma pedra muito
dura, com pequenas manchas escuras. Quando colocou as pedras no forno, padre Sepp notou
que as pequenas manchas pretas eram de um ferro muito bom. Entretanto, estas pedras eram
muito raras e o ferro então utilizado nas missões precisava ser trazido de fora (Dobritzhofer,
1822).
Acredita-se que o principal minério de ferro do antigo Guairá era a limonita, uma
mistura dos minerais goetita (αHFeO2) e lepidocrocita (γFe2O3), com um teor médio de 60%
de ferro (Araujo, 1996). Minério comum formado em zonas pantanosas (bog iron), ou em
horizontes de lateritas de ferro formado em regiões de solos tropicais. As lateritas de ferro
formam espessas carapaças nos solos de algumas regiões do Brasil, onde são conhecidas por
canga, ou itapioacanga.
O ferro também foi um instrumento importante na “Conquista Espiritual” dos povos
indígenas. O machado de ferro e a redução sempre estão juntos (Carle, 1993). Embora os
Guaranis pré-conquista tivessem contato com os povos metalúrgicos da América, o uso de
metais era bastante limitado, pois as suas necessidades culturais não propunham o uso de
metais da mesma forma que eram utilizados pelos povos metalúrgicos sul-americanos.
Com a chegada dos europeus, a cultura do ferro disseminou-se e criou uma forte dependência
entre os Guarani, que permanece até hoje. A possibilidade de manutenção dessa tecnologia do
ferro só foi possível com a instalação dos povoados missioneiros. Nas reduções, ocorre a
mudança do status do indígena para ferreiro, e, por outro lado, o projeto jesuítico de
consolidação das missões ganha um importante atrativo. Muitas tribos, mesmo que não
estivessem interessadas em proteção contra os espanhóis, eram atraídas para as reduções pela
posse de instrumentos de ferro.

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CONCLUSÕES
Dentro do sistema econômico mercantilista, era importante a descoberta de recursos
minerais metálicos importantes pelos espanhóis do Paraguai. No entanto, a província do
Guairá, embora mais rica em metais que a região de Assunção, não continha recursos
minerais suficientes para justificar um tipo diferente de exploração econômica colonial. A
escolha da erva mate como produto de exportação colonial foi semelhante à opção adotada no
Brasil pelo açúcar.
Parece irônico que foi na região do vale do Tibagi, tão devassada por padres jesuítas e
encomenderos guayreños e villariqueños, que tivessem sido encontrados os recursos minerais
que estes tanto ansiaram. De fato, em 1755, foram descobertos diamantes e ouro neste rio
(Leão,
1926). Embora de pequena monta, estes recursos, um século e meio antes, poderiam ter
feito a diferença nos esforços de ocupação da área por parte dos espanhóis de Assunção.
As ametistas representam os anseios de riqueza por parte dos espanhóis. O desengano de seu
valor foi um duro golpe nos sonhos dessa geração de conquistadores. O ferro, por outro lado,
era uma necessidade, tanto na fabricação de ferramentas na própria região quanto na troca e
nas boas relações com os povos guaranis circunvizinhos. A exploração do ferro foi facilitada
pela larga experiência dos espanhóis na mineração e siderurgia. Estes aspectos somados se
traduzem no pioneirismo espanhol nas atividades mineiras e siderúrgicas, em contraste com o
desenvolvimento mais lento da America portuguesa. O aprofundamento destes temas pode
ser importante para estudos subseqüentes da historia da mineração no Brasil e na America
Latina.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Azara, F. (1847) Descripción de la historia del Paraguay y del Rio de la Plata: Buenos Aires,
Sanchiz, 1847. Google books, Harvard University. disponível em
http://books.google.com/

Araujo, L.A.(1996) Manual De Siderurgia. Arte & ciência, 1996, 472 pag.

Caravaglia, J.C. (2005) The crisis and transformation of invaded societies – the La Plata
Basin (1535-1650). In: Salomon, F & Schwartz, S. (Eds) the Cambridge history of native
peoples of the Americas, vol.III, South America. Cambridge University, pp 1-58.

Carle, C. B.(1993) A metalurgia como estratégia missioneira. In: Simpósio Nacional de


Estudos Missioneiros, 10º. Santa Rosa, RS, 1993, PP 479-485.

Charlevoix, PF. (1757) Histoire du Paraguay, tome I. 1757. Disponível em


http://books.google.com/.

Dobritzhofer M. (1822) An account of the Abipones, an equestrian people of Paraguay.


Londres, J. Murray, 1822. disponível em http://books.google.com/

Leão, E. (1926) Diamantes do Tibagi. In: Leão, E. Dicionário Histórico e Geográfico do


Estado do Paraná. Tomo IV, pp 1322-1348,

Lozano, P. (1755) Historia de la Compañia de Jesus de la Provincia del Paraguay. Madrid,


1755. disponível em http://books.google.com/ .

Montoya, AR (1628) Carta anua do padre Antonio Ruiz, superior da missão do Guairá,
dirigida em 1628 ao padre Nicolau Durán, Provincial da Companhia de Jesus. In:
Cortesão, J.. Manuscritos da coleção De Angelis: Jesuítas e Bandeirantes no Guairá.
Biblioteca Nacional, 1951, pags. 259-298.

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Montoya, AR (1630) Relação da origem e atual estado das reduções de Los Angeles, Jesus
Maria e Guañanos, 1629-30. In: Cortesão, J.. Manuscritos da coleção De Angelis: Jesuítas
e Bandeirantes no Guairá. Biblioteca Nacional, 1951, pags 342-351, pag. 351.

Parellada, C.. (1997) Um tesouro herdado: os vestígios arqueológicos da cidade colonial


espanhola de Villa Rica Del Espiritu Santo/Fênix – PR. Dissertação UFPR, 211 pag.

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1 a 5 de Novembro de 2009 – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS E PROFESSORES DE CIÊNCIAS: REFLEXÕES


SOBRE ESSA RELAÇÃO

COMICS AND SCIENCE TEACHERS: REFLECTIONS ABOUT THIS RELATION

Edson Rodrigues Santana1


Agnaldo Arroio2
1
Universidade de São Paulo/Faculdade de Educação, edsonrodriguessantana@hotmail.com
2
Universidade de São Paulo/Faculdade de Educação, agnaldoarroio@yahoo.com

Resumo: Destacamos neste trabalho algumas considerações a respeito da utilização das


histórias em quadrinhos como recurso para a elaboração, por professores de ciências, de
atividades de ensino. Usamos como exemplo de atividade uma proposta que aborde a temática
ambiental e como a mesma poderia ser utilizada durante uma ação de ensino. Fica evidente a
necessidade de uma introdução a linguagem audiovisual no processo de formação destes
professores de ciências.

Palavras-chave: História em quadrinho, formação de professores, ensino de ciências.

Abstract: In this work we discuss some aspects about the use of comics as resource for the
elaboration by science teachers, of activities of education. We use as activity example a
proposal that the environment approaches as thematic subject and as how it could be used
during an action of education. It is necessary the introduction of audiovisual language during
the preparation studies for these science teachers.

Keywords: comics, teachers training, science education.

INTRODUÇÃO
A educação precisa abordar a ciência de forma que as pessoas tenham conhecimentos
básicos dos aspectos que envolvem a ciência e a tecnologia no seu cotidiano. Se aceitarmos
que algum conhecimento de ciência deve ser parte da educação de cada criança, precisamos
pensar qual a melhor maneira de prover tal educação (Lemke, 1990).
De acordo com Arroio (2007) o problema das inovações educacionais em ciência
deveria ser propriamente tratado e analisado na complexidade da base da metodologia do

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ensino.
Propomos neste trabalho que professores em formação para as séries iniciais
construíssem um material usando os recursos das Histórias em Quadrinhos - HQ(s), em que
os mesmos abordassem temas relacionados ao meio ambiente. Tal proposta teve como eixo
desencadeador, a apresentação aos professores em questão, um trabalho elaborado por
Santana, Serra e Arroio (2008), onde a mesma proposta foi desenvolvida com estudantes do
Ensino Fundamental em uma escola do município de São Paulo.
O objetivo desta análise é poder contribuir destacando os aspectos positivos e
negativos quando usamos estes recursos e estes temas, sobretudo nas séries iniciais, pois é
notória a necessidade de melhoria da educação, principalmente nas séries iniciais em diversos
aspectos. Neste trabalho esperamos contribuir com o aspecto da formação do professor de
ciências das séries iniciais, pois de acordo com Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2001) há
uma grande urgência em solucionar os problemas que envolvem a formação dos professores
das séries iniciais.

ENSINO E HISTÓRIA EM QUADRINHOS


É presente na obra de Vygotsky (1978) certa preocupação com os aspectos
relacionados ao uso de instrumentos e sua relação com a linguagem. Uma característica
tipicamente humana é utilizar estes instrumentos e atribuir significados, estes são construídos
através da cultura e do momento histórico de cada geração. A escrita talvez seja um exemplo
formidável de como o processo de comunicação carrega diversos elementos construídos pela
cultura, basta lembrar-se das representações pictóricas usando desenhos entre outros símbolos
deixados em cavernas até as formas contemporâneas como a produção de textos que
incorporam palavras e imagens. As histórias em quadrinhos (HQ’s), identificadas como
discursos de representação, permitem- nos que encontremos um conjunto de signos
representantes de valores, normas, crenças e senso comum de uma sociedade manifestados no
plano lingüístico e visual.
Diante do exposto entendemos que as histórias em quadrinhos são instrumentos
valiosos para a comunicação humana, pois ela em si contém diversas representações de
compreensão utilizando signos que foram estabelecidos pela sociedade de acordo com sua
cultura, como por exemplo, os tipos de balões, os desenhos que representam significados de
fúria, afetividade ou humor. Assim através da união entre imagens que ganham movimento
através de uma seqüência e diálogos as histórias em quadrinho podem contribuir no ambiente
educacional, pois os estudantes podem participar de forma ativa utilizando sua imaginação

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para completar os espaços entre as imagens (MacCloud, 1993).


O uso de quadrinhos, além de focar situações do cotidiano do aluno e da vida social,
possibilita a reflexão sobre o tema proposto, o confronto de idéias e a busca de soluções e
alternativas para um problema apresentado. A utilização do computador favorece a autonomia
na aprendizagem. (Rota, G.; Izquierdo, 2003). Com a construção de histórias em quadrinhos
(HQs) no ensino de ciências, utilizando o computador como ferramenta cultural, é possível
promover a inclusão digital e motivá-los a usar os diferentes recursos da informática numa
perspectiva colaborativa nas aulas de ciências (Serra e Arroio, 2008; Santana, Serra e Arroio,
2008; Santana, Serra e Arroio, 2009).
Guimarães (1997) fez considerações importantes em um artigo que trata sobre a
potencialidade das histórias em quadrinhos na aprendizagem. No mesmo trabalho o autor
discute a própria linguagem dos quadrinhos e a questão da necessidade de ensinar ou não a
mesma aos estudantes durante uma situação de aprendizagem. No artigo o autor cita
Vergueiro (2004) onde este argumenta sobre a necessidade de que os professores conheçam a
linguagem dos quadrinhos e saiba utilizar os recursos desta ferramenta de aprendizagem
desde sua formação. Assim entendemos que este trabalho com estudantes de pedagogia,
poderá contribuir com estas observações ressaltadas por Vergueiro.
Ramos (2006) também destaca as histórias em quadrinhos no âmbito educacional,
especificamente com elementos da oralidade, ou seja, de acordo com Ramos, os quadrinhos
podem contribuir para ensinar elementos da oralidade, pois estes têm características
semelhantes aos quadrinhos e de acordo com uma orientação dos PCNs onde há referências
para que se trabalhe a oralidade. Ramos (2006) utiliza assim o repertório dos quadrinhos para
mostrar que é possível tal abordagem.

HISTÓRIA EM QUADRINHOS E ENSINO DE CIÊNCIAS


Um recurso muito discutido por Arroio (2007) em seus trabalhos, é a utilização do
audiovisual, fato que deve ser compreendido com muita atenção, pois é notório que nos dias
atuais a televisão o cinema e a internet são muito marcantes na vida principalmente dos
jovens como forma de lazer e comunicação.
Outro ponto que procuramos unificar neste trabalho foi a abordagem de temas
ambientais. O motivo foi o de aproveitar esta temática que tanto preocupa a sociedade nos
dias atuais, onde é discutido um novo paradigma para a questão, tratando de colocar o homem
como parte integrante do meio ambiente. Fato que em outros momentos o colocava como
“dominador da natureza” e deste modo toda sua ação de explorador seria justificável, pois

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estaríamos no topo da cadeia, subjugando as outras espécies de vida e recursos naturais. Tal
temática ainda se mostra como nova, deste modo, ainda estamos passando por mudanças
nesta nova compreensão, basta um olhar comparativo nos livros didáticos atuais e nos antigos
quando abordam a temática ambiental.
Destacamos que há extrema urgência em resolver, principalmente no Brasil a questão
da formação de professores de ciências das séries iniciais, pois este profissional deveria
receber uma formação mais sólida e eficaz, dada a complexidade de tal disciplina, pois como
pensa Bachelard (1938) para cada área da ciência há uma racionalidade, assim para a Biologia
há uma compreensão e racionalidade, como para a Química a Física e a Geologia. Tal
argumento reforça para que haja um novo olhar para a formação de professores de ciências
das séries iniciais, juntamente com estes argumentos ainda devemos levar em consideração
que estes profissionais trabalham com os indivíduos que estão na fase de formação mais
importante da atividade humana. Logo objetivamos neste trabalho compreender quais foram
as dificuldades encontradas pelos professores na utilização das histórias em quadrinhos?
Seria possível utilizá-las com os alunos durante a abordagem sobre o meio ambiente?
Existiria a necessidade de um trabalho prévio para trabalhar as HQ(s)?

METODOLOGIA
Destacaremos neste trabalho algumas histórias em quadrinhos produzidas por
estudantes do curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo, além de trechos dos relatos
destes mesmos estudantes sobre a atividade proposta.
Os estudantes participavam de uma disciplina que abordava os recursos do audiovisual
no ensino. Antes da produção das HQ(s) os mesmos tiveram duas aulas onde foram tratados
vários aspectos das histórias em quadrinhos. Neste mesmo período também foi apresentada
uma experiência realizada com estudantes do Ensino Fundamental de uma escola Pública do
município de São Paulo.
Usamos o software livre MKGibi (desenvolvido pela equipe Microkids). Os
estudantes foram orientados uma semana antes sobre a proposta de construção dos
quadrinhos, além de uma apresentação prévia do software. Após esta apresentação foi pedido
que elaborassem um material usando os quadrinhos e que tivesse como conteúdo a questão
ambiental, assim cada trio de estudantes deveria preparar um esboço para na outra semana
concluir a historinha. Lembramos que além destas orientações de ordem prática, houve uma
discussão e leituras orientadas em aulas anteriores (três aulas) sobre a linguagem em
quadrinhos.

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Os dados obtidos através das entrevistas, alguns foram gravados e outros apenas
anotados, após esta etapa os mesmos foram transcritos e analisados de acordo com a
abordagem metodológica qualitativa. Ainda com relação às entrevistas, as mesmas foram
elaboradas de forma semi-estruturadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Destacaremos algumas das respostas obtidas como dados durante a entrevista, a aula e
os questionários que foram distribuídos.
Lembrando que os nomes dos estudantes foram modificados.
Pesquisador: Poderiam falar sobre o processo de escolha para produzir as HQ(s). Buscaram
primeiro os textos ou as imagens?
Comentário: A maioria dos estudantes relata que utilizaram primeiro o texto prévio e depois
foram adaptando as imagens, porém outras respostas foram dadas. Exemplos:
Maria: Eu estava perdida, não tinha noção...
Rosa: Na verdade eu me senti presa às imagens do programa e muitas dificuldades, pois eu
queria que, assim... baixasse a imagem e ela não vinha.
Pesquisador: Vocês produziram as imagens em função das idéias que vocês tinham, vocês
não mudaram a história em função das imagens que vocês tinham?
Rosa e Vera: É... só um pouquinho((ruídos)) porque não tinham as imagens que pensávamos,
aí mudamos os desenhos(( utiliza recursos para incluir nas HQs)).

Figura 1: História em Quadrinhos das alunas Vera e Rosa.

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O fato importante não é enfatizar as dificuldades encontradas em trabalhar com


recursos de informática, mas sim ressaltar que nesta proposta os futuros professores de
ciências utilizaram de forma crítica e divertida a abordagem ambiental, pois logo propõe uma
situação de humor ao colocarem dois objetos para dialogarem exatamente sobre a destinação
de produtos que a sociedade consome e descarta de forma inconseqüente.
É possível observar que os professores uniram humor, crítica e o jogo do absurdo
para compor uma situação: a bota diz: “queria poder respirar na água que nem eles”!(no
caso os peixes).
O que é significativo nesta tirinha é a forma abordada pelos professores, ou seja, as
imagens têm como função auxiliar a leitura de uma situação e ao mesmo tempo propor um
questionamento sobre uma atitude da sociedade. Isso durante uma atividade de ensino pode
ser utilizado para levar aos estudantes a pensarem a respeito de atitudes a respeito de questões
ambientais tais como a destinação do lixo. Além disto, as imagens podem funcionar como um
mecanismo que mostra que as informações podem estar “entre as linhas”, assim tais tarefas
auxiliam o professor quando este tem como um dos objetivos que os seus alunos
compreendam informações que nem sempre estão evidenciadas no texto. O que queremos
dizer é que as imagens podem facilitar este início de habilidade leitora.
O texto escrito também pode ser considerado uma imagem, se condicionarmos que
sua percepção ocorre por meio da visão. No entanto é uma imagem com alto grau de
abstração, isto é, exige um elevado índice de codificação. Já as imagens pictóricas, entendidas
como a parte não textual-escrita dos quadros, por sua vez é menos abstrata e apesar de ser
necessário um mecanismo de decodificação, este é de baixa complexidade.
Nota-se que os professores ao elaborarem suas histórias em quadrinhos iniciam pelo
texto escrito e posteriormente pela imagem, exatamente ao contrário do processo de
elaboração dos alunos (Santana, Serra a Arroio, 2009). Estes professores já possuem um
repertório de índices muito superiores aos dos alunos, sendo assim os conceitos e idéias
acerca do tema ambiental são predominantemente trabalhados nos textos dentro dos balões.
Para os alunos, os conceitos e idéias predominam nas imagens em função destas necessitarem
de um repertório de índices para tal decodificação.
Uma das dificuldades na utilização das histórias em quadrinhos nas aulas de ciências
está relacionada com esta relação texto/imagem. Os dois protagonistas da ação, professor e
aluno partem de processos diferentes, conforme nossos resultados. Este é um aspecto que
consideramos extremamente relevante que necessitaria ser desenvolvido com professores em
sua formação.

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As imagens utilizadas na elaboração das histórias em quadrinhos são do cotidiano, por


serem familiares são mais facilmente compreendidas. O processo de comunicação é imediato,
uma vez que a identificação neste caso pode ser múltipla ou ocorre pelos personagens, pelos
cenários, pelas palavras, etc.
Além do que, a linguagem falada é considerada mais expressiva que a linguagem
escrita, para as histórias em quadrinhos mesmo o texto escrito remete diretamente a
linguagem falada, por ser convergente e sintética. O texto escrito nos balões se refere a fala, a
oralidade é representada pelos sinais, onomatopéias, tons, gestos, formato de balões, etc.

Figura 2: História em Quadrinhos com jargões de senso comum.

Nesta tirinha figura 2, o fato curioso é que os estudantes de Pedagogia produziram


algo muito parecido com que os estudantes investigados por (Santana, Serra e Arroio 2008;
Santana, Serra e Arroio, 2009), inclusive até na escolha dos personagens e a forma como foi
construída a tirinha, pois como relatamos anteriormente os estudantes de pedagogia tiveram
acesso ao trabalho produzido pelos pesquisadores citados.
A observação que procuramos mostrar aqui é a similaridade encontrada na forma de
descrever uma temática de foco ambiental encontrada tanto em professores em formação,
quanto em alunos do Ensino Fundamental, pois nesta tirinha há elementos vazios e com
pouco encadeamento, diferente da proposta anterior desenvolvida por Rosa e Vera, conforme
figura 1. É compreensível a dificuldades dos estudantes do Ensino Fundamental com a
temática ambiental, porém com relação aos professores em formação inicial tal dificuldade
deveria ser menor ou inexistente, principalmente no encadeamento das idéias.
A primeira tirinha, figura 1, poderia ser utilizada em uma situação de ensino como no
início de uma abordagem ou durante a mesma, pois há uma proposta clara e objetiva, fato que
não é possível com a segunda tirinha, figura 2, pois como destacamos anteriormente há

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problemas de encadeamento e pouco conteúdo para explorar determinadas questões.


Notamos como na figura 1, a narrativa é mais elaborada e complexa, pois existe um
encadeamento de idéias. Neste caso percebe-se através da sequência dos quadrinhos a
tentativa de representar o movimento que existe no mundo real. O problema ambiental com
uma tendência de aumento com o decorrer do tempo, o que está nítido na sequência de
imagens, elaborada pelos professores, evidenciando assim uma narrativa mais elaborada.
No segundo caso, figura 2, os quadrinhos não se apresentam como uma narrativa, são
como retratos, isto é, momentos isolados com mensagens sobre a preservação, não
apresentam relações de causa e efeito, por exemplo.
O terceiro caso, figura 3, a sequência apresentada é mais rudimentar, em relação à
complexidade da narrativa esta é muito baixa. Poderíamos considerá-la como retratos por
enfatizarem o momento e não o movimento. A narrativa é muito pobre consta de jargões de
senso comum, sem relações de causa e efeito ou uma explicação mais elaborada.
Outro problema notado na figura 3 se refere à sequência das imagens aparentemente
sem conexão direta que pode provocar no leitor (aluno) um esforço muito maior para tentar
estabelecer relação entre elas. Na linguagem das histórias em quadrinhos esta elipse pode ser
um complicador no entendimento da narrativa. Neste caso específico, no ensino de ciências,
esta elipse pode ficar vaga e o aluno não conseguiria estabelecer as relações da narrativa, ou
seja, da história científica nesse processo de construção conceitual, impedindo assim o aluno
de concluir algo.
Concordamos com Vergueiro (2004), em relação à formação do professor quanto à
leitura de histórias em quadrinhos. Pois conforme nossos resultados é preciso que o professor
tenha uma “alfabetização” às linguagens audiovisuais para que seu aluno possa decodificar as
múltiplas mensagens presentes nos quadrinhos, bem como para que o professor possa de fato
desenvolver melhor suas atividades de ensino de ciências, pois muitas vezes este é menos
privilegiado quando não “deixado de lado” nas séries iniciais.

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Figura 3: História em
Quadrinhos

predominantemente visual.

Ainda com relação à tirinha acima, o pesquisador faz a seguinte pergunta:


Pesquisador: Como foi a elaboração da imagem, assim com essa imagem, não dá para
escrever mas ai vem a imagem e é síntese de tudo. Como é elaboração da imagem, não dá pra
escrever, aí você pensou... É... só com a imagem tinha que contar tudo!
Roberto: Era assim; Dois meninos que falavam sobre o meio ambiente, sobre o lixo,
reciclagem, aí aparece o planeta falando assim: parabéns vocês conseguiram fazer sua parte e
depois no último quadrinho aparece tipo assim um por do sol...
O relato do estudante reforça exatamente o que procuramos destacar nestes dois
últimos parágrafos, ou seja, o pouco encadeamento de uma proposta, basta observar os
quadrinhos produzidos onde há a presença de corte de árvores que remete outra discussão
dentro da temática ambiental, misturada e sem conexão com questões especificas como a
poluição das águas e o lixo.
É óbvio que todas as questões ambientais estão entrelaçadas, porém ao construir uma
proposta para ser utilizada como material de ensino é necessário focar os objetivos, além de
procurar uma coerência da temática. O que provavelmente deve ter ocorrido foi exatamente a
dificuldade em articular as imagens do programa com as idéias propostas, ou seja, os
estudantes ficaram restritos as imagens do programa nesta tirinha. Fato que não ocorreu na
tirinha anterior. Ainda é destacada a forma e as imagens utilizadas que foram muito
semelhantes às produzidas pelos estudantes estudados por (Santana, Serra e Arroio 2008).
Outro ponto de reflexão, levantado neste trabalho e que é possível relacionar ao outro
elaborado com os estudantes do Ensino Fundamental e que na verdade remete ao cotidiano de
várias escolas. É exatamente o contrates entre professores com dificuldades em trabalhar com
as novas tecnologias da informação de um lado, (ver relato de Rosa e Vera) e alunos que,
diferentemente tem muita habilidade com tais tecnologias, porém dificuldades com leitura,

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escrita e interpretação. Talvez neste possível problema, possa haver uma saída criativa,
bastaria aproximar os interesses, fazendo com que os professores percebam a sua importância
para a aprendizagem dos alunos assim como os alunos se sintam úteis para participar do
processo de aprendizagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração dos quadrinhos juntamente com as discussões, leituras e momentos de
reflexão, permitiu com que os futuros professores analisassem as histórias em quadrinhos
como recurso na organização de propostas de ensino. As etapas constituíam não apenas de
uma leitura superficial, mas também de uma ação que foi materializada na construção do
material de ensino com o tema sobre o meio ambiente, permitindo assim identificar as
dificuldades, vantagens e também levantar críticas e sugestões.
Outra contribuição que este trabalho procurou construir foi a importância que deve ser
dada ao trabalhar com imagens em atividades de ensino, porém sem deixar de lado os
objetivos traçados previamente, ou seja, não é apenas a imagem pela imagem, porém uma
elaboração que tenha um encadeamento que procure conciliar as imagem com os objetivos
elaborados em etapas anteriores.
A utilização das histórias em quadrinhos, como ferramenta cultural, na sala de aula de
ciências para as séries iniciais é fundamentada na combinação de duas formas de linguagem o
texto escrito e o visual pictórico. Constituindo assim, uma narrativa que conta história e
transmitem mensagens preservando um deslocamento comunicacional permanente de tempo e
espaço com a vantagem deste se apoiar nos aspectos visuais.
A grande vantagem no uso das histórias em quadrinhos para o Ensino de Ciências nas
séries iniciais é que as HQs se apóiam fundamentalmente nas imagens que são por sua vez um
estágio inicial para o desenvolvimento da leitura e da escrita. Mas também outros recursos
lingüísticos, visuais, icônicos, narrativos e outros mais, que possibilitam desta forma uma
comunicação mais direta, eficiente, dinâmica e expressiva.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Changing Society. Lamanauskas, V. (Ed.). Siauliai: Scientia Educologica.
Bachelard, G. (1938) A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do
conhecimento. Tradução de Estela dos Santos Abreu, Rio de Janeiro/BRA: Contraponto,
2003.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
Delizoicov, D.; Angotti, J. A e Pernambuco, M. M. (2002) Ensino de Ciências: Fundamentos
e Métodos. São Paulo: Cortez.
Guimarães, E. (1997) O Aprendizado da Linguagem da História em Quadrinhos. XXVIII
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Rio de Janeiro/RJ.
Guimarães, E. (2003) Linguagem e metalinguagem na história em quadrinhos. XXV
Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Salvador/BA
Lemke, J. L. (1990). Talking Science: Language, learning and Values. Norwood, NJ: Ablex
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Nascimento Paro]. São Paulo: Makron Books, 1995.
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Vergueiro, W.; Rama, Â. (2004) Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula.
Editora Contexto, São Paulo.
Vygotsky, L. S. (1978). Mind and Society. Cambridge: Harvard University Press.

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INOVAÇÕES DIDÁTICAS COMO POSSIBILIDADES INTERDISCIPLINARES NO


CONTEXTO DE UM PROJETO DE FORMAÇÃO CONTINUADA.

INNOVATIONS SUCH AS TEACHING OPPORTUNITIES IN AN


INTERDISCIPLINARY PROJECT OF CONTINUING EDUCATION

Fernanda Keila Marinho da Silva


DGAE/Instituto de Geociências/Unicamp, fernanda@ige.unicamp.br

Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar algumas propostas desenvolvidas por
professoras participantes de um projeto de formação continuada, onde as mesmas buscam
tecer relações interdisciplinares entre a sua área de formação e a área geocientífica. Partimos
das considerações de Bakhtin acerca do enunciado, tentando destacar os trechos de relatórios
das professoras como o enunciado bakhtiniano, uma vez que tal material linguístico é
representado por situações extraverbais. A análise demonstra que a interdisciplinaridade teria
surgido em função da participação no Projeto e da própria facilitação advinda do trabalho
conjunto nos afazeres do Projeto. Dessa forma, a temática interdisciplinar surge a partir de
necessidades vividas pelo coletivo de professoras participantes do Projeto e não por
imposição ou escolha do grupo formador. Essas necessidades coletivas são representadas,
basicamente, pela facilitação advinda da troca de idéias entre as professoras, na tentativa de
integrar a sua área de formação a temas geológicos/geocientíficos.

Palavras-chave: formação continuada de professores, ensino de geociências,


interdisciplinaridade.

Abstract: With this paper, we analyze some proposals developed by teachers participating in
a project of continuing education for teachers, where they demand to link their professional
formation with the interdisciplinary field of geoscience education. Coming from the
considerations of Bakhtin about the enunciation, trying to highlight the reports sections of
teachers as a bakhtinian statement, since this material is a representation of language
situations nonverbals. The analysis shows that the interdisciplinary basis came from the
participation in the Project and from the experience of group working occured during the
project. Thus, the interdisciplinary theme emerges from the needs created by the experienced

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of the teachers working group in the Project, and was not by choice or imposition. The
collective needs can be represented essentially by facilitating the exchange of ideas from the
teachers, in an attempt to integrate their area of training with the subjects geological /
geoscience.

Keywords:continuing education of teachers, teaching of geosciences, interdisciplinarity.

INTRODUÇÃO
O presente artigo tem por objetivo apresentar uma pequena parte de minha tese de
doutorado, na qual discuto questões relativas à interdisciplinaridade. O objetivo da tese foi
fazer uma análise de um projeto de formação de professores que foi finalizado em 2001 e teve
duração de quatro anos. O projeto é intitulado: Geociências e a Formação Continuada de
Professores em Exercício no Ensino Fundamental e contou com a participação de cerca de 14
professoras de diferentes escolas da rede pública estadual de Campinas.
No projeto, as professoras foram instruídas a vincular a sua área de formação a
temáticas geocientíficas e, nesse artigo, daremos ênfase, especificamente, ao trabalho de
algumas professoras participantes do projeto, tentando destacar o que as mesmas nomearam
como interdisciplinaridade. É importante enfatizar que, dessa forma, não estamos julgando se
os trabalhos foram ou não foram interdisciplinares, mas, tentamos identificar o que as
professoras, em acordo com a sua prática, destacam como sendo trabalhos interdisciplinares e,
quais foram as condições para que a interdisciplinaridade surgisse no trabalho de algumas
delas. Isso nos dará uma possível dimensão do que pode ser realizado na escola, a partir de
enunciados das próprias professoras.
A análise do material ocorreu a partir de relatórios das professoras envolvidas no
projeto.
Sendo assim, o objetivo do presente artigo é apresentar parte das possibilidades
interdisciplinares desenvolvidas por professoras participantes do projeto e, apresentar ainda, a
forma com que essa interdisciplinaridade ocorreu, no contexto do projeto Geociências.

REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico adotado no desenvolvimento da tese foram as teorias bakhtinianas
acerca do enunciado. A concepção de Bakhtin acerca do enunciado pressupõe que nele
estejam incluídos, além dos fatores lingüísticos que o constitui, elementos de ordem
extraverbal, o que inclui os interlocutores e o contexto. Compreendemos os trechos dos

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relatórios e demais materiais de análise como o enunciado de Bakhtin, uma vez que, para este
autor,
“O enunciado é um fenômeno complexo, polimorfo, desde que o analisemos não
mais isoladamente, mas em sua relação com o autor (o locutor) e enquanto elo na
cadeia da comunicação verbal, em sua relação com os outros enunciados (uma
relação que não se costuma procurar no plano verbal, estilístico-composicional,
mas no plano do objeto do sentido)”.
Em outro parágrafo, prossegue:
“O enunciado é um elo na cadeia da comunicação verbal. Tem fronteiras nítidas,
determinadas pela alternância dos sujeitos falantes (dos locutores), mas dentro
dessas fronteiras, o enunciado, do mesmo modo que a mônada de Leibniz, reflete
o processo verbal, os enunciados dos outros e, sobretudo, os elos anteriores...”
(Bakhtin, 2000, p. 318 e 319).
Ao considerarmos as falas e relatórios das professoras como enunciados, estamos
admitindo a existência de determinados contextos na confecção desses textos. Admitimos,
ainda, a grande influência dos outros participantes do Projeto na configuração desses textos, o
que pode ser ilustrado pelos formadores e demais colegas de trabalho das professoras.
O enunciado se erige da interação verbal, assinalada em Marxismo e Filosofia da
Linguagem como a verdadeira substância da língua. E a interação verbal se realiza através da
enunciação.
É nesse sentido que enquadramos os textos das professoras como enunciados, isto é,
como material linguístico, porém impregnado por questões relacionadas ao contexto
extraverbal e pelo outro. Dessa forma, os textos e falas das professoras devem ser analisados
contextualmente, considerando-as sujeitos de suas ações e textos. É justamente por isso que,
nesse artigo, nos propomos a buscar compreensões do que as professoras nomearam como
interdisciplinaridade, antes de explicações acerca do que as mesmas fizeram.

OS TEXTOS DAS PROFESSORAS


Os trechos que serão mostrados a seguir indicam as primeiras aproximações das
professoras em direção à interdisciplinaridade. É importante dizer que, da parte dos
formadores, não existiu, de antemão, uma discussão explicitamente voltada para a
interdisciplinaridade, mas essa surgiu das próprias professoras.
“Concluindo o relato, vou apresentar quatro considerações relevantes: 1. Informar que não considero
concluído o trabalho conjunto [...]; 2. A minha percepção em relação a necessidade de interagir

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conceitos, ditos de uma ciência específica, se deu, devido a colaboração no Projeto FAPESP Ensino
Público, que visualiza os trabalhos interdisciplinares, na execução do currículo do ensino
fundamental das escolas públicas. 3. Percebo que as atividades desenvolvidas no conteúdo da
disciplina de História da 5ª. série, em interação com o conteúdo da disciplina de Ciências, mesmo
apresentando bons resultados, significou somente o começo[...]; 4. Dentre os inúmeros entraves que
estão postos no ensino público cabe a nós, professores, conhecermos a micro realidade do cotidiano
específico no qual atuamos e buscar alternativas de participação significante, tanto na formação do
aluno quanto no próprio formar-se...”

(professora de História, relatório final de 1999)

“Foi por meio da participação no projeto também que percebi a importância da existência de um
‘espaço’ para se discutir o dia a dia das outras disciplinas [...] Para 2000, gostaria de dar
continuidade a um trabalho interdisciplinar, na sétima série no período da tarde juntamente com as
professoras de Português, Geografia e Ciências, partindo do local em que vive o aluno.”

(professora de História, relatório final de 1999)

“Confesso que depois que comecei o projeto o meu modo de lecionar melhorou e muito no
sentido da interdisciplinaridade com outras disciplinas, neste caso Geociências, pois até
então essa proposta estava apenas na teoria e agora vejo que não é bem assim.”

(professora de Português, relatório final de 1998).

“A participação neste encontro [4º. Encontro de Ensino de Geografia – Fala Professor] foi
importante porque serviu de parâmetro para nossas atividades uma vez que foi possível
tomar contato com várias experiências desenvolvidas dentro de outros projetos... O grupo do
qual fiz parte discutia interdisciplinaridade e ensino de Geografia. As discussões foram feitas
em termos do que entendemos pelo conceito de interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e
transdisciplinaridade, às vezes usados como sinônimo mas que na verdade guardam
diferenças que estão sendo explicitadas por vários estudiosos, e que tentamos desvendar a luz
dos diferentes trabalhos realizados...”

(professora de Geografia, relatório parcial de 1999).

Dessa forma, o primeiro enunciado mostra que o trabalho interdisciplinar rendeu bons
resultados, mesmo a professora reconhecendo que a interação com a professora de Ciências

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teria sido tão somente o começo do processo. No segundo enunciado, a professora de História
antecipa as disciplinas com as quais poderá desenvolver um trabalho interdisciplinar, partindo
do local da escola. A professora de português (3º. enunciado) diz ter melhorado o seu
processo de ensino, na medida em que passou a praticar a interdisciplinaridade. E a professora
de geografia, no quarto enunciado, buscou um grupo de discussão sobre a
interdisciplinaridade em um Encontro de Ensino de Geografia.
A análise desses enunciados, associados ao conjunto dos relatórios mostram que, entre e
com elas, as disciplinas se inter-relacionaram para resolver os problemas postos no/para o
coletivo, uma vez que todas elas enunciam a importância das outras disciplinas no contexto
da sua própria área. Essa importância reconhecida pelas professoras gerou uma certa “cultura
do grupo”, uma vez que a partir de então, as professoras iniciaram trabalhos conjuntos entre
elas, buscando integrar suas disciplinas à temática comum geocientífica.
Esses enunciados partiram explicitamente das professoras envolvidas no Projeto, sem a
intervenção do grupo formador. Indica, portanto, os primeiros passos em direção à
interdisciplinaridade compreendida e praticada pelas próprias professoras.
Uma noção maior acerca dos processos desenvolvidos pode ser trazida por alguns dos
trabalhos feitos pelas professoras.
É importante salientar que, especialmente as professoras de Matemática, Português e
História trabalharam conjuntamente em torno das Geociências, como se essa disciplina lhes
“emprestasse” conteúdos para que fossem abordados pelas demais disciplinas. O mesmo não
cabe à disciplina Ciências Naturais e Geografia, cujos conteúdos geológicos/geocientíficos
lhes são próprios. Esse “empréstimo” ocorre de diferentes maneiras. Vejamos um quadro
sintético das possibilidades de temas experienciados no projeto pelas professoras dessas três
disciplinas:
História
Tempo histórico e tempo
Matemática:
geológico
Escala
Astronomia
Localidade Geociência

Português:
Representações visuais
Água

Ciências: Sistema solar, estrutura da Terra, Solo

Geografia: Localidade

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No esquema anterior, a professora de Português deseja aproximar-se das Geociências


para resolver problemas de leitura e escrita, mas, consegue tocar em problemas do contexto da
escola, especialmente, de um córrego poluído nas suas proximidades. Outra professora de
Português utiliza-se de representações visuais, tão importantes para a Geologia/Geociências,
para tentar alterar os problemas de leitura e escrita. A professora de Matemática vai a campo e
possibilita a discussão de um grave problema – que é a evasão escolar – com conteúdos de
Matemática. Enfim, tais professoras buscam formas de resolver, compreender os problemas
postos ao longo do processo de formação e, com isso, recolocam novos sentidos na prática
docente. A interdisciplinaridade, enfatizada pelas professoras, é um desses sentidos e parece
ser representada por alguns aspectos:

1) facilitação no trato com a “nova” disciplina (Geociências), isto é, seria mais fácil inserir as
Geociências nas suas práticas se as mesmas professoras trocassem idéias acerca dos
conteúdos tratados por cada qual, tentando fazer surgir um trabalho integrado entre as
mesmas.

2) “forma de participação” no Projeto que prevê a ação coletiva, isto é, para se formar no
processo formativo colaborativo, a integração é um meio que facilita.

Ao inserirem o conteúdo geocientífico em disciplinas como Português, Matemática e


História (Ciências e Geografia também podem ser incluídas nessa discussão) as professoras
nos recordam de que o conhecimento escolar também é algo que se constrói, se extrai da
vivência. Os conteúdos/objetos próprios a cada disciplina tornam-se menos “assépticos”,
adentrando no terreno do que é conhecido dos estudantes. Um novo esquema pode ser
construído após essa discussão e já prevê a integração entre duas disciplinas:

1º. exemplo:

Prof. de Geografia Prof. de Português. Tema: Qual


a contribuição que a disciplina
Tema: A
de Português [...] pode trazer
industrialização e a
para que o aluno [...] possa
urbanização de água
Campinas sob o ponto perceber melhor a região em
de vista do uso da água que vive e, dessa maneira,
produzir textos com conteúdos
científicos.

Nesse exemplo, ambas as professoras, no ano de 1998, lecionavam na mesma escola


e desenvolveram esse trabalho em uma sala de aula comum (7ª. série A). O fio que
conduziu o trabalho de ambas foi a água, notadamente, um córrego poluído nos
arredores da escola.

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2º. exemplo:
Prof. de Geografia. Tema: O
conteúdo trabalhado foi Prof. de Matemática. Tema: Partindo da
“escala” que tem como realidade dos alunos, tornou-se interessante
objetivo ampliar o transp. para Geografia e Matemática o tema escala,
conhecimento dos alunos Alterna pois poderia ser desenvolvido pelas duas
através dos recursos próximos tivo disciplinas. [...] Em matemática foi estudado
à realidade e aprendizados noções de distância, espaço e medidas: trajeto
adquiridos pelos mesmos... percorrido, tempo percorrido, quantidade de
pontos de parada...

O trabalho foi realizado no ano de 1999, pelas professoras que lecionavam na mesma
escola e na mesma 6a. série. Embora trabalhando com aspectos diferentes, o foco central e
disparador das discussões foi o transporte alternativo da região sudoeste de Campinas,
devido à evasão escolar dos alunos para trabalharem no sistema de transporte.

3º. exemplo:

Prof. de Matemática. Tema:


Em matemática desenvolveu-se Prof. de Ciências. Tema: Os assuntos
os conteúdos sobre Geometria,
astrono trabalhados no tema Astronomia
por fazer parte da Proposta
mia desenvolve na criança a abstração,
Curricular, programados para a
noções de escalas, de tempo, de espaço,
5ª. série. Para desenvolver as
atividades inicialmente solicitou- de causa e efeito, o lúdico, desenhos
se a representação sobre a forma estimulam a curiosidade sobre a criação e
da Terra e a descrição da mesma. a origem do Universo, do sol, da terra, da
vida e da espécie humana...

Esse exemplo focalizou o trabalho de duas professoras que trabalharam com o tema
Astronomia. Novamente, o trabalho se realizou na mesma escola e nas mesmas 5as.
Séries.

Esses três exemplos ilustram algumas possibilidades apontadas pelas professoras em se


trabalhar com temáticas geocientíficas, de modo, segundo as professoras, interdisciplinar.

No primeiro exemplo, a professora de Geografia tratou da industrialização e a


urbanização do município de Campinas, do ponto de vista do uso da água, enquanto que a
professora de Português aproveitou essa temática para a produção de textos por parte dos

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alunos. Tudo isso tendo como fio condutor a problemática do uso da água.

No segundo exemplo, as professoras de Geografia e Matemática utilizaram-se de


determinados conteúdos para abordar uma situação grave que estava sendo verificada na
escola: a evasão escolar para que os alunos trabalhassem no sistema alternativo de transportes.
O desenvolvimento do conteúdo de ambas as disciplinas valorizou o trabalho de campo com
direito a entrevistas e outras formas de interação com o meio físico, para estudar a localidade
no contexto da vida dos estudantes.

Finalmente, no terceiro exemplo, as professoras de Matemática e Ciências abordaram


juntas os conteúdos de Ciências voltados para a Astronomia, numa tentativa de que a
professora de Matemática partisse dessa temática para abordar questões referentes à
Geometria.

É claro que a interdisciplinaridade aqui falada trata do contexto escolar, isto é, a


interdisciplinaridade feita/criada/possibilitada na escola e, muito embora a discussão
epistemológica da mesma seja importante, aqui ela não foi privilegiada. Penso que a
ilustração aponta para algo que, nessa tese, só é possível de se reafirmar, uma vez que já se
reconhece a importância dos professores que trabalham juntos/interdisciplinarmente
lecionarem na mesma escola e, de preferência, na mesma série. No Projeto, as professoras
acenaram essa condição como sendo essencial para desenvolverem os trabalhos conjuntos.

Sabemos que o ensino escolar interdisciplinar surge como resposta à intensa


compartimentalização do conhecimento e, desde os anos 80 tem estado muito em moda nos
debates educacionais. Filósofos e epistemólogos debatem o seu conceito e, em função disso,
outros termos surgem como: pluridisciplinaridade, transdisciplinaridade, entre outros. Para
Gallo (2008), apesar de toda essa profusão conceitual, o sentido da palavra parece-lhe
transparente:

“ [...] é a consciência da necessidade de um inter-relacionamento explícito e direto entre


as disciplinas todas. Em outras palavras, a interdisciplinaridade é a tentativa de
superação de um processo histórico de abstração do conhecimento que culmina com a
total desarticulação do saber que nossos estudantes (e também nós, professores) têm o
desprazer de experimentar” (p. 23).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste breve relato, pretendemos apresentar uma outra forma de se construir a
interdisciplinaridade. Como metodologia de trabalho, ela não havia sido pensada antes, pelos
formadores, mas, teria surgido de uma necessidade formativa ao longo da participação no
processo de formação que foi o projeto Geociências.
A interdisciplinaridade teria sido percebida pelas professoras como algo interessante e
importante, o que pudemos visualizar pelos enunciados, mas, foi também algo praticado a
partir da necessidade de integrar as Geociências em suas áreas de formação. Essa maneira de
praticar a interdisciplinaridade é algo interessante, porque trouxe inovações no modo de tratar
os conteúdos de origem das professoras. Em outras palavras, a interdisciplinaridade surge, nos
enunciados das professoras, a partir da prática de integrar os conteúdos próprios a cada
disciplina, na tentativa de tratar uma temática geocientífica.
A condição para que a integração ocorresse se deu pela necessidade de compreender a
nova disciplina geocientífica e em integrá-la nos contextos próprios de cada professora.
A idéia de inovação (curricular) representa, neste trabalho, algo em pequena escala, que
implica mudanças pontuais e concretas, centrada na prática do professor com sua sala de aula
e, quiçá, com a escola. Essa inovação à qual nos referimos pode prever ações futuras, como
normalmente o fazem as mudanças curriculares de extensão maior, no entanto, fala-se aqui do
desenvolvimento profissional reconhecido e praticado pelo próprio professor.

É importante também enfatizar que o Projeto não objetivava, sistematicamente,


mudanças curriculares ou produção de inovações curriculares, mas essa foi mais uma
conclusão após analisar o material da pesquisa.
A “nossa” inovação parte do reconhecimento (de um tipo) de parceria entre a escola e a
universidade e se fundamenta no trabalho coletivo que está, permanentemente, conectado ao
desenvolvimento profissional individual. Não se desvencilha de questões ideológicas, ao
contrário. Ao percebermos “conversação”, “convivência”, “dependência” (que outrora não
havia) entre as professoras, percebemos que isso foi algo que se consolidou no processo de
formação, pela percepção de que seria necessário para aprimorar a atuação em sala de aula, a
participação no Projeto, a participação nas escolas, etc. A questão ideológica que está por trás
dessa inovação é a compreensão que o trabalho docente é algo a ser discutido, algo que pode
ser colaborativo. Esse compromisso coletivo fortalece o grupo social ao qual o professor
pertence, fortalece a instituição à qual se filia esse grupo social, fortalece, enfim, o trabalho
docente.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHTIN, M. (diversos textos) Estética da criação verbal. Tradução do francês de Maria
Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo: Martins fontes, 2000.
GALLO, Silvio. Transversalidade e educação: pensando uma educação não-disciplinar. In:
ALVES, Nilda; GARCIA, Regina L. (Orgs.) O sentido da escola. Rio de Janeiro:
DP&A, 2008.

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LA TRANSPOSICIÓN DIDÁCTICA DE LA TEORÍA DE CONVECCIÓN EN EL


MANTO TERRESTRE EN EL NIVEL UNIVERSITARIO SUPERIOR

THE DIDACTIC TRANSPOSITION OF MANTLE CONVECTION THEORY IN THE


HIGH LEVEL

Leonor Bonan
Universidad de Buenos Aires, Centro de Formación e Investigación en Enseñanza de las Ciencias -CEFIEC-,
República Argentina, lbonan@de.fcen.uba.ar

Resumen: Este trabajo presenta los resultados de una investigación que busca develar cómo
se transforma el conocimiento científico que se produce en conocimiento de enseñanza en el
nivel universitario superior a través de un contenido de geofísica, la teoría de convección en el
manto. La investigación profundizó en la manera en la que se realiza tal transformación, cómo
se reorganiza el conocimiento, qué herramientas se utilizan para volver un modelo científico
en objeto de enseñanza.

Palabras claves: transposición didáctica, convección en el manto, controversia.

Abstract: The aim of this work is to gain insight in matters inherent to the didactic
transposition in high levels of education by means of a specific subject of great relevance in
the field of Earth Sciences: the theory of mantle convection. For this, an analysis of what is
taught in this presently very active research field was developed. What this work aims to
answer is how this knowledge, and the way in which it is being produced, is given at an
educational level in which the gap between what is being researched and what is being taught
is small.

Keywords: didactic transposition, mantle convection, controversy.

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INTRODUCCIÓN
Clásicamente, la formación científica ha sido objeto de análisis de la epistemología.
Autores como Kuhn y Giere, entre otros, han dedicado su atención a los mecanismos que
utilizan los científicos para formar nuevos científicos, dando un lugar destacado a los libros
de texto en este proceso. Sin embargo, este proceso de formación resulta ser un objeto de
estudio natural de la didáctica de las ciencias pues se trata de un proceso educativo, que
involucra los formatos propios de las situaciones educativas, alumnos, profesores, aulas,
libros de textos, instituciones educativas, etc.
En este contexto, hemos utilizado la TD como una herramienta teórica que permite
reflexionar sobre los procesos de transformación de saberes científicos en saberes de
enseñanza. La hemos considerado un método analítico que posibilita buscar y descubrir cómo
son los pormenores de esa transformación que opera sobre el saber científico.
Esta investigación ancló sobre las transformaciones que sufre la teoría1 de convección en el
manto cuando es enseñada en la formación científica de los geólogos, a través del análisis que
se plasma en los libros de texto cuyo objetivo principal es la enseñanza de la convección en el
manto.

BREVE CARACTERIZACIÓN DE LA TRANSPOSICIÓN DIDÁCTICA


La transposición didáctica (TD) es un dispositivo teórico de la didáctica que procura
dilucidar cuáles son los mecanismos que se aplican sobre un objeto de saber para extraerlo del
ámbito científico e insertarlo en un ámbito didáctico particular (Chevallard, 1997).
Los estudios clásicos sobre la TD suelen realizarse en los niveles básicos de la enseñanza y se
centran, generalmente, en los sesgos o distorsiones conceptuales que se producen sobre el
conocimiento científico. En el nivel universitario superior, la atención no se centra en las
omisiones o deformaciones conceptuales sino en cómo se deconstruye el discurso científico y
se reconstruye en un discurso didáctico, sin disminuir su nivel de complejidad. Dichos
discursos son diferentes en su propia naturaleza, la enseñanza es una intencionalidad que
implica hacer ajustes intencionales sobre un modelo para poder transmitirlo a quienes tienen
herramientas para apropiárselo pero que lo desconocen. Claramente el modelo científico y el
modelo didáctico son diferentes. En este nivel educativo, además, son los mismos
investigadores los que están habilitados para enseñar. Son los mismos miembros de la
comunidad científica los que producen conocimiento científico y lo enseñan. Esta

1
Nuestro estudio se sustenta en el modelo epistemológico cognoscitivo (Giere, 1992) para el que una teoría es
una familia de modelos que se conectan entre si con el fin de representar un determinado fenómeno y
explicarlo. Por ello, basaremos nuestro análisis en la noción de modelo.

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particularidad da lugar a la posibilidad de hacer una distinción entre esta primera


transposición didáctica (PTD) y las que operan en otros niveles educativos, cuyo agentes
deben aprender, deben formarse en dicho campo de conocimiento para luego pensar en
posibles formas de su enseñanza. En el nivel universitario superior los modelos que se
enseñan suelen ser cercanos a los modelos científicos actuales, lo que conduce a achicar las
distancias conceptual y temporal entre lo que se produce y lo que se enseña.

¿CÓMO TRANSFORMA LA TD LOS MODELOS CIENTÍFICOS EN MATERIAL


DE ENSEÑANZA?
Tomamos la idea de Verret (1975) -- que más tarde es incorporada por Chevallard (1997) —
que acude a una serie de operaciones para pensar cómo se transforma un modelo científico en
un modelo enseñado. Las describimos brevemente:
Publicidad

El agente que lleva a cabo la transformación debe extraer el modelo científico de su ámbito de
producción, poniéndolo a disposición del público al que se destina su enseñanza. Así, sale de la
esfera privada para devenir en conocimiento público. Se trata de una finalidad implícita al acto
de enseñar, comunicar el conocimiento científico es una manera de hacerlo público.

Desincretización
Un modelo científico subsume dentro de sí un complejo entramado conceptual. Su enseñanza
activa la construcción de conexiones parciales a través de las que se recorrerá el modelo a
enseñar. Discursivamente, los elementos del modelo se presentan de manera autónoma, lo que
se pone de manifiesto a través de la estructura del discurso: títulos, subtítulos o destaques o,
también, de los libros de texto que presentan la división en partes, capítulos, secciones,
parágrafos, etc. El proceso de desincretización de un modelo científico implica deconstruir el
conocimiento y (re)construirlo en función de una red conceptual quedando diseñado un
recorrido conceptual particular.
Objetivación
Plasmar un modelo científico en un texto, es decir, ponerlo por escrito de manera organizada
es un proceso que conduce a generar un discurso despersonalizado pues en éste desaparece la
persona que lo plasma, lo que marca una tendencia a abandonar la subjetividad, la intención
es ser lo más objetivo posible al presentar el modelo a los destinatarios de su enseñanza. El
pensamiento personal debe disociarse de las producciones discursivas. Además, en el caso de
las ciencias que se expresan a través de sistemas formales se utilizan códigos particulares,
lenguaje específico y unívoco, incluyendo en la enseñanza las reglas y las principales

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técnicas operatorias y metodológicas relativas a dichos sistemas formales. Además, en el caso


de las ciencias naturales, por ser experimentales, se debe presentar la concordancia entre los
aspectos teóricos y los datos empíricos.
Programabilidad de la adquisición
A través de la desincretización se establece un orden lógico que permite transitar un discurso
con sentido global. Esta característica está basada en un recorrido armado en función de las
posibilidades de generar un camino de aprendizaje dando lugar a la generación de una
progresión que permita abordar el modelo y, de este modo, destinada a encaminar a quien
aprende en su proceso de intelección.

Control social de los aprendizajes


Pensar en el conocimiento enseñado implica situar a la enseñanza en un contexto social, que se organiza a través de la entrega de credenciales
que acreditan la aprobación del diseño curricular. Esta mirada sitúa qué modelos se deben aprender, materializando la selección de
conocimientos científicos que se organizan.

Todas estas operaciones se manifiestan de manera conjunta cuando se materializa la


enseñanza y pueden utilizarse para analizar cómo ocurre la TD, de qué manera fueron
aplicadas a diferentes propuestas destinadas a enseñar un mismo contenido.

EL MODELO DE CONVECCIÓN EN EL MANTO COMO OBJETO DE ANÁLISIS


DE LA PTD
Elegimos trabajar sobre el modelo de convección en el manto (MCM) porque se trata
de una teoría históricamente relevante. Esta teoría se hace conocida de la mano de Arthur
Holmes, un geofísico que apoya la teoría de deriva continental de Alfred Wegener. Sin
embargo, sus orígenes se remontan a Inglaterra, cuando primero en 1930 William Hopkins y,
en 1880, Osdmon Fisher, apelaron a este mecanismo con el fin de explicar procesos
geotérmicos.
Holmes, aproximadamente, en 1925, populariza la convección como mecanismo
termotectónico. Él conocía las propuestas surgidas durante el siglo anterior y las utilizó para
modelizar el interior y confrontar con los datos geotérmicos disponibles.
Cuando la comunidad geológica acepta la tectónica de placas, la convección se asume como
el mecanismo que posibilita el movimiento de las placas. La rama ascendente de la
convección se asocia con las dorsales mesooceánicas, que dan lugar a la creación de la placa
oceánica, su movimiento y posterior subducción, fenómeno que, a su vez, se asocia con la
rama descendente.
La aceptación de estas ideas, en realidad, se transformó en un compromiso por parte
de la comunidad geológica de dar prioridad a la investigación de los procesos terrestres

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internos. Se generó un gran interés en investigar los múltiples aspectos involucrados en la


convección, en modelizar la interacción entre el movimiento de las placas y el interior de la
Tierra.
Este campo de investigación se encuentra en actividad en la actualidad. Es, en
realidad, una familia de modelos (Giere, 1992) que explica el enfriamiento planetario a escala
global, gestionando y disponiendo de (sub)modelos provenientes de diferentes campos
disciplinares, integrándolos en un modelo a escala planetaria. El manto es la interfase entre la
corteza y el núcleo, y la convección es el mecanismo termo-tectónico que regula el
comportamiento a escala planetaria, mecanismo que también se postula para el resto de los
planetas sólidos del sistema solar. De allí su importancia.
El MCM ha alcanzado grandes consensos pero, sin embargo, desde que fue adoptado por la
comunidad científica también ha planteado fuertes controversias que llegan hasta nuestros
días (Foulguer et al., 2005). Las controversias entre modelos científicos, en realidad, son
familias de controversias que suelen estar relacionadas entre sí dando lugar a la conformación
de campos controversiales (Nudler, 2002).

ENFOQUE METODOLÓGICO
La metodología de nuestro trabajo es esencialmente cualitativa. Para materializar
nuestro análisis seleccionamos libros de texto de nivel universitario superior que enseñaran el
MCM como temática principal. Para su selección recurrimos a las sugerencias de los docentes
de una asignatura (Geofísica de la Terra Sólida) de nivel superior de grado o, incluso de
posgrado de la UBA.
Analizamos las operaciones que dan cuenta de la TD a través del análisis estructural
(Van dijk, 1978) como un modo de poder describir los libros de texto proponiendo realizar un
recorrido semántico a través de la selección de un concepto estructurante y de los diferentes
niveles estructurales de los libros de texto. La elección de dicho concepto permitió habilitar
un recorrido a realizar y, con ello, el modo de poder describir los libros de texto para analizar
cómo llevan a cabo la TD. La descripción de los libros de texto habilitó una forma de evaluar
las operaciones implícitas en la TD.
Respecto del campo controversial, hemos reconstruido su evolución en el tiempo pero
hemos anclado nuestro análisis en una controversia que se instaló en la comunidad científica
durante un tiempo prolongado.

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LA TD A TRAVÉS DEL ANÁLISIS DE LOS LIBROS DE TEXTO


Consideramos que los libros de texto plasman de forma categórica la TD y son la
principal fuente de conocimiento para la enseñanza del nivel universitario superior. Sus
autores son científicos encargados de comunicar las novedades que se producen en un
dominio de investigación y son los que reorganizan discursivamente el conocimiento
científico con la finalidad de la enseñanza.
El estudio se realizó utilizando publicaciones científicas, publicaciones de índole
histórica y libros científicos. Con todo este material se logró reconstruir la evolución
histórico-conceptual del MCM, indagamos la historia de su comunidad científica a lo largo
del tiempo. De este modo, pudimos caracterizar la ciencia a través de la evolución conceptual
de sus modelos y de su comunidad científica asociada a lo largo de su historia.
Los libros de texto seleccionados son:
• Jackson (1998), The Earth’s Mantle. Composition, Structure and Evolution.
Cambridge University Press: Cambridge.
• Davies (1999) Dynamic Earth. Plates, Plumes and Mantle Convection. Cambridge
University Press: Cambridge.
• Schubert, Turcotte & Olson (2001) Mantle Convection in the Earth and Planets.
Cambridge: Cambridge University Press.
Para profundizar en el análisis didáctico hubo que profundizar en el análisis
conceptual. Elegimos la viscosidad del manto como concepto estructurante y, así, hicimos un
recorte de la estructura conceptual del modelo. Analizamos cómo se involucra este concepto
en su definición a través del análisis de publicaciones científicas (papers). Esto, a su vez, nos
dio lugar a conocer cómo se involucra este concepto en distintas controversias y a rastrearlas
en las propuestas de enseñanza. De ellas, hemos elegido la controversia que confronta la
convección global y la estratificada, es decir, si la convección se sitúa en uno o dos sistemas
que convectan separadamente, uno operando en el manto superior y el otro en el inferior.
Ambos modelos acuerdan con los mecanismos bajo los que opera la convección: la
subducción de las placas y las plumas térmicas. La controversia se resolvió a favor de la
convección global pues se supo a través de las tomografías sísmicas que las placas subducidas
llegaban y atravesaban el manto inferior.

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CONCLUSIONES
La TD del MCM es un campo muy poco explorado por la investigación en didáctica
tanto por la escasez de investigaciones en el nivel superior, como así también del ámbito de la
geofísica. Por lo tanto, gran parte de nuestros resultados son de índole descriptiva.
Las propuestas de enseñanza de los libros de texto ocultan, en su desarrollo, conceptos y
relaciones conceptuales para favorecer el aprendizaje del MCM, dando lugar a una visión
lineal y acumulativa de la construcción de los modelos involucrados. Inevitablemente, la
enseñanza crea esta visión, a diferencia de los papers que exhiben múltiples relaciones de los
modelos con los datos y con otros modelos.
Los libros analizados adoptan enfoques, niveles y representaciones diferentes y, en
algunas ocasiones, reproducen total o parcialmente algún desarrollo que está publicado en un
paper destacado. A diferencia de lo que ocurre con la TD de otros niveles, la PTD no pierde
fidelidad conceptual, en todo caso dirige al lector a profundizar un tema a través de una cita
externa al libro o a otra parte del mismo, a diferencia de lo que ocurre en niveles educativos
inferiores en los que no se suele enviar al lector a una fuente externa al libro de texto.
A través de nuestro trabajo de indagación histórica conocimos las idas y vueltas de la
construcción del MCM, cuyas controversias llegan hasta nuestros días, incluso aquella dio
lugar al abandono de la concepción de astenosfera (Anguita, 2002). Pusimos especial atención
en qué se explicita sobre las controversias al lector en cada libro de texto y pudimos concluir
que los expertos en esta área detectan, a través de las citas que realizan los autores, qué
modelos se ponen en juego y qué datos los sustentan, pero esta información permanece oculta
para los novatos, creando una ficción entre la ciencia como actividad y la forma en la que se
la idealiza mientras se la estudia.
Cada libro de texto escoge ciertas representaciones por sobre otras (imágenes, tablas,
esquemas, gráficos cartesianos, ecuaciones, etc.). Su relevamiento nos condujo más que a
conclusiones cerradas a preguntas del tipo de ¿qué aporta el formalismo matemático a la
intelección del modelo? o ¿qué representaciones son más efectivas para comunicar las
diferentes aristas del modelo? También resultaron un medio muy eficiente para hacer
recomendaciones de enseñanza en las materias básicas de la carrera, en particular de física, un
área muchas veces conflictiva en la formación de geólogos.
Una importante reflexión que surge de esta investigación es que la identificación del
campo controversial nos abrió el camino para acceder a la participación de los autores de los
libros de texto en la generación de conocimiento sobre el campo y, por lo tanto, a conocer la
evolución de sus posturas a lo largo del tiempo. Estas posturas se cuelan en los libros de texto

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porque sus autores pertenecen a una determinada tradición científica, lo que pone en
evidencia un quiebre en la objetividad de la enseñanza que propone cada libro de texto,
cuestión inherente a la PTD.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Anguita, F. (2002). Adiós a la astenosfera. Revista Enseñanza de las Ciencias de la Tierra.
10(2), 134-143.

Chevallard, Y., (1997). La transposición didáctica. Del saber sabio al saber enseñado.
Buenos Aires: Aique.

Foulger, G, Natland, J., Presnall, M and Anderson, D. Eds. (2005). Plates, Plumes, and
Paradigms. Geological Society of America. Special Volume.

Giere, R., (1992). La explicación de la ciencia. Un acercamiento cognoscitivo. México:


Consejo Nacional de Ciencia y Tecnología.

Nudler, O. (2002). Campos controversiales: hacia un modelo de su estructura y dinámica.


Revista Patagónica de Filosofía, 3(1), 9-21.

Van dijk, T. (1978). La ciencia del texto Barcelona: Paidós.

Verret, M. (1975). Le temps des études. Paris : Libraire Honoré Champion.

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MUROS: OS CONTRASTES DA CIDADE NORTEANDO PRÁTICAS


INTERDISCIPLINARES SOBRE O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E AS
RELAÇÕES SOCIAIS

WALLS: THE CITY CONTRASTS GUIDING INTERDISCIPLINARY PRACTICES


ABOUT THE URBANIZATION PROCESS AND SOCIAL RELATIONS

Ederson Costa Briguenti1, Patricia Nogueira Santos2, Ofelia Ortega3, Carlos Augusto
Vaccari4, Vania Amaral5
EE Profa Ana Rita Godinho Pousa, edercb@gmail.com

EE Profa Ana Rita Godinho Pousa, panogsan@yahoo.com.br

Departamento de Ensino e História das Geociencias IG-UNICAMP, ofeof@yahoo.com

EE Profa Ana Rita Godinho Pousa, vania60@gmail.com

Resumo: As cidades estão limitadas por diferentes tipos de muros, reais e invisíveis, físicos,
naturais, sociais, culturais, políticos e econômicos. O grupo de pesquisa de professores
Linguagens e Representações, no projeto colaborativo universidade-escola "Ribeirão
Anhumas na Escola", propôs um plano pedagógico e de pesquisa educacional sobre os muros
no mundo, na cidade e na bacia hidrográfica onde se situa a escola Ana Rita Godinho Pousa.
As atividades foram desenvolvidas por professores de diferentes áreas com especial foco em
conteúdos de geografia e português, tendo como referencial as concepções abordadas em
CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente). Fez parte do plano uma atividade em
aula, um trabalho de campo, um trabalho pós campo e a simulação de uma audiência pública
sobre a construção de um condomínio fechado na região da bacia hidrográfica do Ribeirão
Anhumas na Cidade de Campinas. A proposta motivou os alunos na temática, permitindo que
se expressassem, dialogando com os demais os problemas levantados, criando conexões entre
as diversas áreas do conhecimento e construindo novos conhecimentos.

Palavras-chave: muro, enclave fortificado, CTSA

Abstract: Cities are limited by different types of walls, real and invisible, physical, natural,
social, cultural, political and economic. The research group of teachers “language and
representations”, in the school-university collaborative project "Stream Anhumas in the

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School", proposed a pedagogical and educational research plain about the world's wall, in the
city and by where the school Ana Rita Godinho Pousa is located. The activity was developed
by professors from different fields with special focus on content of geography and
Portuguese, with STSE – Science, Technology and Environment – concepts. It consisted in
the preparation of: activity in class, a field work, after field work activity and simulation of a
public hearing on the construction of a closed condominium in the by Stream Anhumas in
Campinas. The proposal led the students in the subject, allowing them to express, in dialogue
with the other the problems raised, allows them to create connections between different areas
of knowledge and building new knowledge.

Keywords: walls, fortified enclave, STSE.

INTRODUÇÃO
Este trabalho desenvolveu-se no âmbito do projeto “Ribeirão Anhumas na Escola”1
(COMPIANI, 2006) que envolve a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), o
Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e duas escolas públicas da cidade de Campinas –
SP (E.E. Ana Rita Godinho Pousa e E.E. Adalberto Nascimento). O projeto teve início formal
em 2007 e o término previsto para 2010 e tem patrocínio da Petrobras Ambiental e apoio da
Fapesp e CNPQ.
Das escolas, participam 19 professores-bolsistas de diversas disciplinas como
Geografia, Química, Biologia, Português, Inglês, Educação Física, Sociologia, Filosofia e
Matemática.
O Objetivo principal do projeto é a produção de conhecimentos escolares e propostas
curriculares com enfoque nos conhecimentos das geociências com base na bacia hidrográfica
do ribeirão Anhumas.
O primeiro ano do projeto foi dedicado para formação dos professores das escolas,
sendo que esta formação foi estruturada em quatro eixos temáticos: Local/Regional, Educação
Ambiental, Interdisciplinaridade e CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente), e
quatro eixos disciplinares: Geologia e Geomorfologia / Pedologia / Biologia e Botânica /
Riscos e Unidades Ambientais. Tais eixos representaram o alicerce teórico-metodológico para

1
Elaboração de conhecimentos escolares e curriculares relacionados à ciência, à sociedade e ao ambiente na
escola básica com ênfase na regionalização a partir dos resultados de projeto de políticos públicas. Fapesp nº
2006/01558-1 e recebe apoio técnico do Programa Petrobras Ambiental.

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se trabalhar dados da bacia hidrográfica. Os eixos disciplinares realizaram-se aos sábados e


incluíram trabalhos de campo na bacia Anhumas, e os eixos temáticos durante a semana.
Para estruturar e organizar o trabalho do projeto e dos grupos, utilizamos o ambiente
virtual Teleduc, onde foram realizados fóruns e correio para a discussões sobre os eixos
temáticos e módulos disciplinares, além disponibilizados materiais na biblioteca virtual,
constituindo o Teleduc um facilitador na comunicação entre formadores e professores.
Durante o projeto ocorreram reuniões semanais com presença de alguns formadores e
colaboradores nas escolas. Nestas reuniões desenvolvemos planejamentos e avaliações de
atividades, relatórios e produção de trabalhos para simpósios. Tais discussões e atividades
fazem parte da construção de uma proposta pedagógica escolar que tem como foco a realidade
em que a escola esta inserida. Na escola Ana Rita, a proposta pedagógica denomina-se “Lição
de Casa”: o ensino inserido na realidade da comunidade escolar. Ressaltamos que a escola
se localiza as margens do ribeirão Anhumas, assim como a residência da maioria alunos e
professores.
A partir destes encontros semanais e momentos de formação (“eixos”), analisamos a
importância dos trabalhos de campo e de simulados de audiências públicas no papel didático
na formação crítica-participativa dos alunos e nos propusemos a desenvolver inovações
curriculares interdisciplinares nos grupos da escola.
O trabalho apresentado destaca o envolvimento do Grupo de Pesquisa Linguagens e
Representações, formado por professores das disciplinas (Arte, Educação Física, Geografia,
Matemática e Português) da Escola Ana Rita, além de colaboradores do Instituto de
Geociência. Cabe destacar que cada disciplina se utiliza especificamente de linguagens
diferenciadas no desenvolvimento de conteúdos em sala de aula:
- Arte: Linguagem áudio visual e gráfica
- Educação Física: Linguagem corporal
- Geografia: linguagem cartográfica
- Matemática: linguagem numérica e gráfica
- Português: linguagem escrita e verbal
Ressaltamos, mesmo com a proposta de cada disciplina trabalhar de forma
sistematizada linguagens específicas de sua área, o objetivo do grupo de pesquisa é de
trabalhar com múltiplas linguagens e as interações entre elas. As principais temáticas em
comum discutidas e trabalhadas pelo grupo são: relações pessoais, escalas, representações,
sentidos e percepção.
As reflexões e discussões do grupo proporcionaram a escolha de um tema: Muros. A

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escolha da temática visou colaborar com na construção do trabalho coletivo e de um ensino


interdisciplinar e contextualizado com a realidade local.
O conceito de muro esta associado a uma estrutura sólida, uma construção linear
utilizada para separar e/ou proteger algum local. No decorrer da história muros foram
erguidos para separar diferentes grupos sociais. Antigamente estes muros que protegiam aos
senhores feudais e suas riquezas eram chamados de muralhas. Tiveram também um uso
militar e defensivo e a mais famosa e extensa deste tipo foi a Muralha da China que tinha a
função de impedir a invasão de tribos nômades. Um dos muros mais famosos da história
contemporânea da humanidade é o Muro de Berlim que além de dividir o território das duas
“Alemanhas”, do Leste e do Oeste, representou a separação ideológica e a tensão política
entre o capitalismo e o socialismo, sendo o principal símbolo da Guerra Fria entre as grandes
potências da época, EUA e a antiga URSS. Este foi o primeiro de uma lista de chamados
muros da vergonha, este apelativo tem uma conotação crítica para os responsáveis políticos da
construção dos mesmos e a sua vez para a população que sofre a humilhação de não poder
transitar pelos territórios que historicamente fizeram parte do seu cotidiano ou pelas
diferenças socioeconômicas existentes entre países. Dentre estes têm os muros que o primeiro
mundo ergue para impedir a livre circulação das pessoas, e que supõe a porta dos EUA e da
Europa. São os muros que existem na fronteira entre EUA e México e entre Espanha e
Marrocos, nas cidades de Ceuta e Melilla. Outro dos muros mais conflituosos e polêmicos é o
muro da Cisjordânia erguido pelo Estado israelense. A existência da barreira separa evidencia
contrastes econômico e diferenças religiosas e étnicas de um conflito histórico e desta forma,
proporciona humilhação e frustração à população palestina todos os dias nos postos de
controle, impedindo ou dificultando o livre acesso de pessoas à casas de familiares e amigos,
ao trabalho, aos estudos e demais serviços básicos como água e saúde. Dentre os muros que
refletem conflitos históricos não resolvidos também temos o muro construído por Marrocos
no território do Saara Ocidental que defende a extração de fosfatos por sua parte.
Estes muros do mundo globalizado, além de serem separações físicas, representam
fronteiras sociais, econômicos, culturais, religiosos, políticos em escalas continentais. Na
escala Local, no lugar onde moramos, trabalhamos e estudamos, também convivemos com
muros, às vezes invisíveis e, que são levantados pela segregação social, étnica e pelas
políticas de exclusão, mas também visíveis e sólidos, como os que limitam a relação entre
vizinhos de um mesmo bairro e com realidades socioeconômicas diferenciadas, constituindo
muros de condomínios e outros lugares fechados.

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MARCO TEÓRICO
A participação dos cidadãos na regulamentação das decisões tecno-científicas e a
intervenção ambiental, está intrinsecamente a percepção de risco e de tecnologia ambiental, a
influência dos movimentos sociais e do projeto político da democracia participativa. Sobre
estes aspectos ressalta-se a importância do desenvolvimento de Estudos Sociais da Ciência e
Tecnologia, pois trouxeram uma nova visão da C & T (Ciência e Tecnologia), chamado de
CTS (Ciência, Tecnologia, Sociedade) no qual acredita-se que o conhecimento é socialmente
construído, isento de natureza neutra e universal, impregnado pelos valores e carregado de
ideologia, os indivíduos e instituições (públicas e privadas) que fazem investigação e de seu
patrocinador. Recentemente, alguns autores incluem o ambiente nas inter-relações,
contemplando sigla CTSA (Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente).
Em geral, nos estudos no campo da CTS, entende-se que o ambiente está envolvido,
especialmente em relação às consequências ambientais do desenvolvimento tecno-científico.
No entanto, alguns autores chamam a atenção para a importância do ambiente, tornando
explícita esta relação chamando a área de estudo. Tomamos como referência a sigla CTSA
pela importância que tem no ambiente no Projeto “Ribeirão Anhumas na Escola" e as
ligações que são estabelecidas com a Educação Ambiental.
Dada a importância do Ambiente em nossas práticas pedagógicas, os trabalhos de
campo têm importância vital. Neles, há uma série de habilidades/atitudes envolvidas que
podem colaborar para a redefinição dos trabalhos práticos no ensino de ciências. (Compiani,
2007). O autor expõe que “Sob a perspectiva educacional, o campo pode ser um fio condutor
para uma disciplina – ou entre disciplinas –, que propicia o melhor desenvolvimento das
peculiaridades da prática escolar científica e dos respectivos discursos escolares... Um dos
pontos de partida é ver o campo como gerador de problemas, ótima situação de ensino
problematizadora.”. Além disso Compiani (2007), enfatiza que quando “o currículo for um
programa de atividades, a partir do qual os conhecimentos e as destrezas podem ser
adquiridos e construídos, valores e atitudes, praticados, então, cresce de importância o
campo (lugar/natureza) como fio condutor de uma disciplina ou de estudos do meio como
ponto de partida e integrador de todo um ano letivo da escola média”.
Os trabalhos de campo podem adotar diferentes papéis didáticos como o ilustrativo,
indutivo, motivador e investigativo (COMPIANI e CARNEIRO, 1993). O campo elaborado
neste trabalho foi motivador por objetivar levar os alunos terem interesse pelo local e pelos
conhecimentos envolvidos e, também indutivo pela organização do roteiro que foi pensado de
modo que criassem organizações cognitivas-afetivas.

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Neste trabalho chamamos a atenção na análise que o campo de estudos em CTSA faz
sobre a tecnologia, pois fazem parte dela o planejamento urbano, os artefatos tecnológicos de
segurança e os sistemas de organização desta segurança nos condomínios fechados. Na
sociologia da tecnologia tem-se uma visão construtivista da mesma, sendo esta desenvolvida
em função do contexto sócio-histórico que determina os interesses, valores e ideologias dos
grupos sociais que interferem na sua construção. Chama a atenção na influência no próprio
desenvolvimento dos artefatos tecnológicos e não só no impacto social e a avaliação dos
mesmos. Em outras palavras, segundo Langdon Winner (1983): "... máquinas, estruturas e
sistemas da moderna cultura material podem ser precisamente julgados não apenas pela sua
contribuição à eficiência e produtividade e pelos seus efeitos colaterais ambientais, positivos
e negativos, mas também pelos modos pelos quais eles podem incorporar formas específicas
de poder e autoridade”.
O autor coloca um exemplo de urbanismo que ajuda a entender bem este conceito e a
sua relação com os muros das cidades: O fato de aproximadamente duzentos viadutos sobre as
vias em Long Island, em Nova York, serem excepcionalmente baixos. O autor afirma:
"Eles foram deliberadamente projetados e construídos desta forma por
alguém que queria obter um particular efeito social. Robert Moses, o grande
construtor de estradas, parques, pontes e outros trabalhos públicos dos anos
1920 aos 70 em Nova York, construiu esses viadutos segundo especificações
que evitassem a presença de ônibus nas vias do parque. Segundo evidências
fornecidas pelo biógrafo de Moses, Robert A. Caro, as razões refletem os
preconceitos raciais e de classe social de Moses." (Winner,1983)

Desta maneira se faz uma segregação social do uso do espaço público pois pessoas
de classes baixas, os pobres e os negros, não teriam como ascender nessa área de lazer pois se
deslocam com transporte público, quer dizer, os ônibus que não podem passar por sob as
pontes.
Grandes cidades brasileiras, como Campinas e São Paulo, seguem um padrão de
urbanização entre elas. No crescimento das mesmas, a partir dos anos 40 no caso de São
Paulo, tem passado da estruturação socioeconômica e urbanística de Centro-Periferia para um
novo padrão de segregação espacial onde coexistem classes sociais baixas e altas "mas estão
separados por muros e tecnologias de segurança, e tendem a não circular ou interagir em áreas
comuns." (Pires, 2000). Esta situação se dá tanto na periferia como no centro da cidade, e o
que a antropóloga Teresa Pires (2000) chama de “enclaves fortificados”:

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"Trata-se de espaços privatizados, fechados e monitorados para residência,


consumo, lazer e trabalho. A sua principal justificativa é o medo do crime
violento. Esses novos espaços atraem aqueles que estão abandonando a
esfera pública tradicional das ruas para os pobres, os 'marginalizados' e os
sem-teto" (Pires, 2000)
Dentro desta definição entram os condomínios fechados, assim como os Shopping
Centers e os complexos de escritórios.

DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE
Com base em discussões na disciplina de PD2 (Parte Diversificada) sobre os textos
“Muros que nascem dos contrastes do mundo moderno” (pág. 28-29) e “O muro cresce, isola
os palestinos e dificulta o dia-a-dia” (pág. 30-31) da revista Atualidades-Vestibular 2008 da
editora Abril, surgiu o desejo de um trabalho interdisciplinar para todo o grupo com o tema
denominada Muros.
Desta forma, num processo discursivo, cada professor expôs o que poderia contribuir
para a temática interdisciplinar. Em reuniões discutimos exemplos, como Muro da Vergonha,
Faixa de Gaza e outras fronteiras políticas e sócio-econômicas do mundo atual. Também
ouvimos e refletimos sobre a música “Muros e Grades” do Engenheiros do Hawaí.
Decidimos planejar uma proposta de trabalho com as duas turmas de terceiro ano do ensino
médio com um enfoque no contexto local para a temática. Segue abaixo a letra da música:
Nas grandes cidades, no pequeno dia-a-dia. O medo nos leva tudo, sobretudo a fantasia
Então erguemos muros que nos dão a garantia. De que morreremos cheios de uma vida tão vazia.
Nas grandes cidades de um país tão violento. Os muros e as grades nos protegem de quase tudo. Mas
o quase tudo quase sempre é quase nada. E nada nos protege de uma vida sem sentido.
Um dia super, uma noite super, uma vida superficial. Entre as sombras, entre as sobras da nossa
escassez
Um dia super, uma noite super, uma vida superficial. Entre cobras, entre escombros da nossa solidez.
Nas grandes cidades de um país tão irreal. Os muros e as grades nos protegem de nosso próprio mal.
Levamos uma vida que não nos leva a nada. Levamos muito tempo pra descobrir.
Que não é por aí... não é por nada não. Não, não pode ser... é claro que não é, será?
Meninos de rua, delírios de ruínas. Violência nua e crua, verdade clandestina.
Delírios de ruína, delitos e delícias. A violência travestida faz seu trottoir.
Em armas de brinquedo, medo de brincar. Em anúncios luminosos, lâminas de barbear
Viver assim é um absurdo como outro qualquer. Como tentar o suicídio ou amar uma mulher
Viver assim é um absurdo como outro qualquer. Como lutar pelo poder Lutar como puder

2
Disciplina componente do curriculo nas escolas públicas.

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Muros e Grades (autores: Humberto Gessinger e Augusto Licks. Ano: 1991 )


Planejamos uma proposta de trabalho para a temática com um enfoque no contexto
local da escola e alunos. Realizamos as atividades, ao longo do 2º semestre de 2008, com as
duas turmas de terceiro ano do ensino médio, com aproximadamente 30 alunos por sala.
O trabalho com a música foi importante para iniciar e motivar os alunos na temática,
proporcionando discussões sobre as seguintes questões:
- O que envolve o conceito de muro? - O que ele divide?
- Que tipo de muros existem? - Quais você conhece? Localização.
- O que você pensa ser “muro social" - E “muro cultural”?
No contexto de tais questionamentos, pedimos para que os alunos, em grupo,
propusessem três lugares que permitissem constatar aspectos tratados na música, locais para
uma pesquisa prática.
Tendo alguns destes locais destacados, realizamos o pré-campo e definimos três
pontos de trabalho para o campo. Posteriormente os professores elaboraram um roteiro de
campo contendo em cada parada: questionamentos, entrevistas com moradores, letra da
música, mapas e imagens de satélite dos locais3. O roteiro objetivava envolver o temática
“muros” no processo de ocupação da bacia do Ribeirão Anhumas e como reflexo das relações
pessoais da cidade. Cabe lembrar que a temática foi discutida anteriormente numa visão
global.
O número de paradas priorizou o tempo para discussão que teríamos com os alunos
em campo. Definiu-se os locais: - Buraco do Sapo/Shopping Iguatemi; - Jardim
Miriam/Alphaville e - Moscou/Condomínio São Quirino. Os locais se destacam por
contrastes entre bairros com distinção econômica visível, “separados” por diferentes tipos de
muros.
Seguindo tais discussões em sala, a professora de português distribuiu revistas aos
grupos de alunos, os mesmo teriam de criar uma imagem e uma frase para expressar o que o
conceito de muros representava para eles (Figura 1). Com o objetivo de se envolver mais,
principalmente as linguagens gráfica e verbal, também elaboramos uma atividade preparatória
para o trabalhado de campo, em que os alunos tiveram que representar muros em duas
linguagens distintas.

3
Mapas elaborados no software GPS Trackmaker©, tendo como fundo imagem de satélite do Google Earth,
ou carta topográfica elaborada pelo IAC - http://www.iac.sp.gov.br/ProjetoAnhumas/index.htm

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Figura 1: Dois exemplos de representações de “muros” elaboradas pelos alunos nas aulas de português.

Após esta atividade, professores e formadores foram a campo com os alunos. Além
do roteiro, os alunos possuíam mapas com arruamento, hidrografia e topografia, imagens de
satélite e questionários, todos estes preparados previamente. Os alunos localizavam o
percurso nos mapas e imagens de satélite e procuravam delimitar os diferentes tipos de muros
observados. Além disso, discutiam e respondiam os questionamentos e registravam imagens
fotográficas e de vídeo.
Explicitando o uso dos mapas, solicitamos aos alunos que observassem os mapas e
imagens de satélite contidas no roteiro, para que pudessem numa outra escala de analise e
numa visão vertical analisar a configuração espacial. Buscamos na linguagem cartográfica um
auxilio para compreensão dos aspectos e características do lugar. Assim, além de responder
questões específicas de cada ponto, os alunos buscavam referenciar nos mapas os locais
observados.
Também solicitamos que utilizassem o GPS para demarcarem pontos de interesse,
trabalhando coordenadas geográficas que seriam posteriormente utilizados.
Em certas questões do roteiro os alunos necessitavam entrevistar moradores para
investigar a história, vivencias e percepções dos próprios moradores sobre aspectos do lugar.
O fato dos alunos estarem em grupo e com certa autonomia de locomoção
proporcionou interessantes peculiaridades e ricas discussões ao longo dos trajetos. Num dos
grupos, surgiu a questão: “de que lado do muro você gostaria de estar?” Muitos se
posicionaram a favor de ficar do lado de fora, com maior liberdade de ação e com um
cotidiano com mais calor humano. Os que gostariam de estar “do lado de lá” frisaram a
questão da maior segurança, conforto e do próprio status diante a sociedade. Estas discussões
ocorreram no próprio campo e foram retomadas posteriormente de forma coletiva em sala de
aula.
O roteiro também possibilitou uma reflexão sobre a música Muros e Grades

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trabalhada anteriormente, objetivando materializarmos aspectos que foram discutidos em sala.


Em sala, os grupos terminaram as questões e analisaram os mapas e imagens de
satélite com mais atenção. Solicitamos que delimitassem os muros nos lugares estudados
(Figura 2). A espacialização dessas divisões nos mapas com diferentes variáveis visuais tem
como objetivo classificar os distintos tipos de muros observados em campo, tais como, muros
concretos, naturais, sociais, culturais, psicológicos, etc. Tais particularidades foram nomeadas
na legenda.

Muro socio
espacial
Muro socio
Muro socio
econômico econômico Alphaville II
Alphaville II

Muro socio
econômico

Figura 2:Espacialização dos tipos de muros observados no local: imagem satélite da região da rua Moscou
(imagem do google earth referenciada pelo GPS Trackmaker)
Após as discussões e finalização do mapeamento do muros, propusemos aos alunos a
produção de uma carta-argumentativa, tendo como base um ou mais problemas observados
nos locais visitados. O destinatário deveria ser uma instituição pública (Prefeitura, Secretaria
do Meio- Ambiente, Departamento de Parques e Jardins, Departamento de Planejamento e
Urbanismo, etc). Nesta carta, o aluno deveria explicar o assunto, discutir a importância do
problema com seu destinatário e, se possível, propor soluções para o tema abordado.
Com as filmagens obtidas a professora de Artes realizou a edição de um vídeo
nomeado Muros.
Com o intuito de finalizar o ano letivo e a temática trabalhada, apresentamos à sala
de aula uma proposta de um caso-simulado envolvendo a construção de um condomínio de
luxo numa área entre a ocupação Buraco do Sapo e o Shopping Iguatemi. Por escolha própria,
os alunos constituíram os atores que participariam do processo de audiência pública para a
aprovação ou não da construção do condomínio. Os grupos de atores de interesse foram:
* Poder Público * Prefeitura *ONG Ambientalista * Empreendedores
* Moradores vizinhos (moradores da favela Buraco do Sapo) * Possíveis Compradores

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Deste momento em diante, os grupos (atores) se reuniram e trabalharam o


direcionamento de argumentações para discussão no caso-simulado durante as aulas.
As pesquisas realizadas envolveram os diferentes olhares e concepções dos grupos
para as questões. Os argumentos e questionamentos abordavam questões de segurança, lazer e
serviços, relação com da vizinhança do local, impactos ambientais, leis, valor, especulação
imobiliária, etc.
No início de dezembro, num espaço da escola adequado, os alunos se reuniram para
a representação de uma audiência pública. Antes de iniciar a audiência, pedimos a cada grupo
de atores que nomeasse um membro do grupo para redigir uma ata da reunião. Primeiramente
os representantes do poder público expuseram a todos as regras e a dinâmica para o debate.
Inicialmente cada parte colocou suas ideias e fundamentou seu ponto de vista na discussão,
apresentando suas argumentações favoráveis ou contrarias a construção do condomínio.
Depois de debatido o assunto com todos os atores envolvidos, ficou decidido por parte dos
auditores públicos uma nova avaliação do local no setor ambiental e então uma solução para o
caso.

CONCLUSÃO
Os alunos trouxeram informações inesperadas e conseguiram trabalhar o assunto
com maior profundidade. Em meio à audiência apresentaram ideias novas, leis e
complementos para enriquecimento das discussões entre os grupos. Para tanto, se
empenharam em buscar questionamentos e soluções para embasamento na discussão.
A experiência como um todo foi positiva, pois para os alunos foi um momento em
que puderam se expressar com liberdade de pensamentos, sem interferência direta dos
professores. Trabalharam também a linguagem de modo mais claro e conseguiram usar a
linguagem cartográfica com mais conhecimento e aplicabilidade.
Cabe assinalar a atualidade do assunto, recentemente noticiaram que treze favelas da
cidade do Rio de Janeiro serão muradas com muros de cimento de três metros de altura, com
um total de 14,6 quilômetros e com um custo de 40 milhões de reais. Este projeto já está em
andamento e tem suscitado uma controvérsia pública. As autoridades políticas se justificam
como sendo uma maneira de impedir que as favelas se estendam horizontalmente e atinjam a
mata e que se coloquem em situação de risco. Um olhar crítico desta política pública é uma
leitura da perspectiva CTSA que faz desconfiar que essas sejam as únicas intenções, os únicos
valores envolvidos no desenvolvimento desta tecnologia de segurança ambiental e controle
urbanístico, especialmente sabendo que a maior expansão das favelas do Rio está se dando de

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maneira vertical. Por esta razão e pela constante expansão dos muros físicos e imaginários no
cotidiano dos alunos,pensamos na pertinência de reaplicar esta atividade, aprofundando a
pesquisa docente, relacionando-a com o mapeamento participativo de riscos, assim como de
um aprofundamento das relações CTSA, assuntos que estão se desenvolvendo atualmente.
Para finalizar, apresentamos um trecho de um texto do blog do escritor José
Saramago que coloca uma reflexão sobre os muros das favelas do Rio de Janeiro.
"Cá para baixo, na Cidade Maravilhosa, a do samba e do carnaval,
a situação não está melhor. A idéia, agora, é rodear as favelas com um muro
de cimento armado de três metros de altura. Tivemos o muro de Berlim,
temos os muros da Palestina, agora os do Rio. Entretanto, o crime
organizado campeia por toda a parte, as cumplicidades verticais e
horizontais penetram nos aparelhos de Estado e na sociedade em geral. A
corrupção parece imbatível. O que fazer?"
(http://caderno.josesaramago.org/2009/03/30/raposa-do-sol/)

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
COMPIANI, MAURICIO. O lugar e as escalas e suas dimensões horizontal e vertical nos
trabalhos práticos: implicações para o ensino de ciências e educação ambiental. Ciênc. educ.
(Bauru), Jan./Apr. 2007, vol.13, no.1, p.29-45.

COMPINAI, M., CARNEIRO, C.D.R. Os papéis didáticos das excursões geológicas.


Enseñanza de las Ciências de la Tierra, Jan. 1993, vol.1, no.2, p.90-98.

PIRES, TERESA. Cidade de Muros. Crime, segregação e cidadania em São Paulo. Editora
34-EDUSP, São Paulo, 2000.

WINNER, LANGDON. The Whale and the Reactor – A Search for Limits in an Age of High
Technology”. Chicago: The University of Chicago Press. 1986.

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EL TRATO CON EL CONOCIMIENTO EN LA ASIGNATURA GEOLOGÍA


GENERAL EN EL CURSO DE GEOGRAFÍA DEL CAMPUS DO PONTAL DE LA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (MG): UN RELATO DE
EXPERIENCIAS

KNOWLEDGEMENT ACCOUNT IN THE GENERAL GEOLOGY IN GEOGRAPHY


COURSE OF THE CAMPUS DO PONTAL, UNIVERSIDADE FEDERAL DE
UBERLÂNDIA: AN EXPERIENCE REPORT

Carlos Roberto A. Candeiro1, Gerusa Gonçalves Moura2, Sérgio Inácio Nunes3, Francielle
Amâncio-Pereira4
1
Laboratório de Geologia, Núcleo de Análises Ambientais em Geociências, Curso de Geografia, Faculdade de
Ciências Integradas do Pontal, Universidade Federal de Uberlândia, candeiro@yahoo.com.br,
2
Laboratório de Geografia Humana, Curso de Geografia, Faculdade de Ciências Integradas do Pontal,
Universidade Federal de Uberlândia, gerusa@pontal.ufu.br
3
Curso de Pedagogia, Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, Universidade Federal de Uberlândia,
sergionu@hotmail.com
4
Curso de Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, Universidade Federal de Uberlândia,
francielleamancio@gmail.com

Resumen: El presente trabajo consiste en un relato sobre las experiencias de enseñanza de


Geología General para estudiantes de grado en el Curso de Geografía del Campus do Pontal
de la Universidade Federal de Uberlândia, mostrando nuevas posibilidades entre teoría y
práctica, a partir de la confección de una caja didáctica de minerales y rocas.

Palabras claves: Geología, metodología , enseñanza.

Abstract: The work reports an experience on learning in Geology to undergraduate students


of the Geography Course at Campus do Pontal, Universidade Federal de Uberlândia, showing
new possibilities between theory and praxis, from manufacture of a didactic box of minerals
and rocks.

Keywords: Geology, methodology, learning.

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INTRODUCCIÓN
Las transformaciones culturales, socio-económicas, entre otras por ejemplo, por las
cuales la sociedad está pasando ofrecen constantes invitaciones para una reflexión sobre el
proceso enseñanza-aprendizaje: los métodos de enseñanza, los contenidos, los instrumentos
utilizados, etc. Enseñar conceptos a los niños y jóvenes, solamente transmitiendo a ellos el
concepto definido en un libro didáctico o elaborado por el propio profesor, muestra cada vez
mas las deficiencias para una sociedad que vive las consecuencias del desarrollo técnico-
científico-informativo.
En este sentido, las reflexiones actuales sobre el proceso de enseñanza-aprendizaje
está apuntado hacia la enseñanza basada en la construcción de conceptos por los alumnos,
mediado por el profesor. Conceptos que deben ser fruto de un proceso creativo y orientado
para la resolución de problemas, donde la memorización y asociación de las
informaciones/datos por si solas no contribuirán para la formación del alumno (Cavalcanti
1998). Esta propuesta obliga, inclusive, una reflexión sobre el concepto de ‘clase’.
Según Garcia (1997, p.63), una clase se define como:
[...] una situación de encuentro entre el maestro y sus alumnos, es una
dimensión de tiempo-espacio donde es posible vivir la magia y el
encantamiento de tener en las manos y delante de los ojos el mundo
para ser visto, pensado, debatido, revisado; (...) de conocer y aprender
más para sentirse más confiable y seguro de sí mismo (...).
Aunque, en nuestro punto de vista, este encuentro solo se da cuando la
comunicación entre profesor y alumno ocurre de forma efectiva, o sea, cuando hay, por parte
del alumno, una comprensión del conocimiento que es desarrollado. De esta forma, re-pensar
el proceso enseñanza-aprendizaje, significa buscar formas y/o recursos que ayuden a este
proceso.
El espacio de la sala de clases es un lugar privilegiado para que el aprendizaje se
desarrolle. Sin embargo, en el caso de la Geología, concordamos con Compiani & Carneiro
(1993), cuando afirman que no es posible enfocar todo el conjunto de elementos que
conforman el objeto de investigación con un enfoque exclusivamente teórico y que la
interacción con la realidad ofrece infinitamente más posibilidades.
A pesar de ésta búsqueda, es preciso reconocer que la pedagogía tradicional se ha
colocado históricamente como una de las principales trabas para alcanzar ese esperado
encuentro, a pesar del empeño de los educadores en superar el tan criticado paradigma
tradicional.

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Una de las principales posibilidades de superación es un modelo de práctica educativa


emergente, que tiene por base la construcción de conocimientos como proceso gradual, a la
práctica dialogística, y a la práctica pedagógica crítica, reflexiva y transformadora, capaz de
establecer la conexión entre teoría y práctica (Libâneo 1985; Mizukami 1986; Moraes 1997;
Freire 1998; Behrens 2003; Montardo 2007).
En este análisis, el Aprendizaje Significativo que, en el sentido atribuído por
Ausubel (citado por Moreira 1983, p.62) corresponde a "un proceso a través del cual una
nueva información se relaciona con un aspecto relevante de la estructura del conocimiento del
individuo" y encuentra la contextura un papel pedagógico fundamental, en la medida en que
posibilita el establecimiento de relaciones con condiciones concretas del individuo y con otros
campos del conocimiento, confiriendo significado a los contenidos.
Además, permite el desplazamiento del foco de enseñanza para el alumno,
contribuyendo para la superación de la pedagogía tradicional, en la cual los contenidos son
transmitidos como verdades certeras y acabadas, generalmente fragmentadas entre sí, sin
establecer relación con el contexto histórico del cual surgen, ni con el contexto cotidiano
(Moreira 1983).
Conviene esclarecer que la concepción de contextura adoptada se refiere al
desenvolvimiento de las estrategias de enseñanza, que comienzan de situaciones concretas o
de elementos de la realidad (no de la realidad del alumno) y permiten, al alumno, establecer
recorridos del aprendizaje que contribuirán para la superación de concepciones míticas o
equivocadas.
La observación del proceso de enseñanza y aprendizaje en la asignatura Geología
General en el Curso de Geografía de la Faculdade de Ciências Integradas do Pontal de la
Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU) revela que existe una fuerte tendencia de
utilizar las clases de enseñanza práctica con metodologías tradicionales. Es decir, el alumno
encuentra el conocimiento listo. Sin embargo, la propuesta de confeccionar una Caja
Didáctica de Minerales y Rocas ofrece al alumno la posibilidad de poner la teoría en práctica.
Una vez que en estas metodologías el contenido de Geología trabajado en la enseñanza
superior es en general sin contexto y el proceso de enseñanza-aprendizaje es basado en la
memorización y, por lo tanto, los alumnos pierden el interés por el estudio y su objetivo es
lograr el éxito en los exámenes.
Las orientaciones didáctico-pedagógicas acerca de temas geológicos para los cursos de
Geografía son basados en la relación Planeta Tierra y Universo y en las relaciones con el
ambiente físico y humano. Se sugiere que el profesor de Geología contextualice asuntos

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relacionados con la realidad que se ubiquen cercanamente a la vida del alumno. Es muy
importante que el alumno haga confrontaciones con las diferentes formas de explicaciones
que lidia la ciencia y saber popular; elaboración de preguntas e hipótesis para la resolución de
problemas; interpretación y relaciones con el medio físico y humano. En este sentido,
compartimos las ideas de Cavalcanti (1998, p.27), que dice: “[...] para comprender el proceso
de formación de conceptos, gracias a la escolarización, por ejemplo, es preciso considerar las
especificidades y las relaciones existentes entre conceptos cotidianos y conceptos científicos
[...]”.
Es notorio que la Geología en los cursos de Geografía en la enseñanza superior tenga
obstáculos con la relación directa con la vida cotidiana, cosa que ocurre también con otras
ciencias (por ejemplo Paleontología, Geomorfología, Pedología, Zoología). Es seguro que el
principal obstáculo es la falta de contacto directo del alumno con estas ciencias, ya que puede
haber una discrepancia entre el lenguaje teórico y la actividad práctica.
La Geología General en los cursos de Geografía, en especifico en la FACIP/UFU, trata
de temas relacionados con el pasado geológico del planeta y sus relaciones con la vida
cotidiana, y asignaturas como esta pueden requerir la exigencia de mucha abstracción. La
construcción del conocimiento por los propios alumnos puede ayudar en la propia
materialización de los contenidos de Geología General y su contextura. Por ello, surge la
siguiente pregunta: ¿Qué estrategia puede ser utilizada para posibilitar la contextura del
conocimiento a ser desarrollado en el ámbito de la Geología?
Partiendo de esta cuestión fue propuesto en el primer semestre de 2009, en la
asignatura de Geología General, a los alumnos del Curso de Geografía, la tarea de
confeccionar una caja de minerales y rocas, saliendo de las propuestas convencionales de
presentar la caja ya lista con los ejemplares colectados por el propio profesor.
En esta caja, los principales minerales y rocas, de ocurrencia regional, tuvieron que
estar presentes. Fueron necesarios tres meses para la construcción de la caja y asimismo para
que el alumno pueda sistematizar reglas y comprender-las, identificar los materiales y sus
contextos. En este proceso el alumno puede tener contacto directo con la construcción
práctica a través de su propia construcción del conocimiento. El desarrollo y las
contribuciones de esta propuesta son descriptas a continuación.

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CONSTRUCCIÓN DE LA CAJA DIDÁCTICO-PEDAGÓGICA DE GEOLOGÍA


GENERAL
La caja didáctico-pedagógica de Geología General fue construida siguiendo un rótulo
donde los alumnos pudieron hacerla de forma independiente. Los contenidos para su
construcción y los minerales y rocas fueron dados en las clases de Geología General. El rótulo
contenía los siguientes itens:
- Número de alumnos por grupo: Tres.
- Cada caja debería tener:
# Cinco minerales (obligatorio calcita y cuarzo);
# Tres rocas ígneas (obligatorio granito y basalto);
# Cinco rocas metamórficas (obligatorio mármol);
# Cinco rocas sedimentarias (obligatoria calcáreo);
# Todos los especímenes debían estar limpios y debidamente acondicionados en pequeños
sacos plásticos transparentes;
# Frasco plástico pequeño con ácido clorhídrico con la identificación de su contenido;
# Un trozo de vidrio transparente, una lupa pequeña, una cerámica blanca y una franela color
naranja;
# Caja barnizada;
# Cajá con las siguientes proporciones: 30 cm de largo; 8 cm de altura; 20 cm de ancho; cada
cámara para minerales y rocas deberá tener 10X10cm; la cámara para la lupa, franela y vidrio
deberá tener 20X10cm.
# Identificación de la caja con una ficha informativa (ver abajo) que deberá ser fijada con
plástico contact en su tapa.
La construcción de este tipo de caja fue parte de la aprobación del primer semestre del
año 2009. Los alumnos tuvieron tres meses para su confección y hicieron ella en grupo de tres
personas. Los especímenes de minerales y rocas de las cajas fueron colectados en un trabajo
de campo hecho en la ciudad de Rio de Janeiro, en canteras en la ciudad de Ituiutaba (sede da
la FACIP/UFU) y en marmolerías. Asesoramiento a los alumnos eran disponibles en el
Laboratorio de Geología por parte del profesor y monitores de la asignatura Geología I.

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• Todos los especímenes debían ser identificados con las siguientes fijas:

- Las fichas arriba debían tener sus informaciones digitadas en fuente ARIAL tamaño 9;
- Las cajas listas debían ser entregadas al final del semestre.

En este sentido, se puede afirmar que a partir de una enseñanza dinámica, actual, y
creativa, los alumnos tomaran a la Geografía, a la Geología como disciplinas que
proporcionan un conocimiento útil y presente en la vida de todos. Como destaca Kaercher
(2002), el aprendizaje solo es significativo cuando se relacionan los conocimientos que el
alumno trae consigo con los conocimientos producidos en la escuela y por la ciencia.

CONSIDERACIONES FINALES
La construcción por parte de los alumnos de la caja didáctico-pedagógica en la
asignatura Geología General tubo como objetivo llevar al alumno a la construcción del
conocimiento con el tema de minerales y rocas, ya que con esta actividad se necesito trabajo
en grupo, asimilación de un conjunto de normas, investigación y concentración en temas
específicos de Geología general.
La construcción del conocimiento en actividades prácticas por el alumno asesorado
por el profesor ayudan, según Hargreaves (1999), en: (1) aumento de la eficiencia – la
colaboración en grupo elimina las duplicaciones y la redundancia; (2) mejora la eficacia – la
colaboración mejora la calidad de aprendizaje de los alumnos; (3) mayor capacidad de
reflexión – la colaboración en el diálogo y en la acción constituye una fuerte fuente de retro-
alimentación ayudando en la conversión de actividades prácticas; (4) capacidad de respuesta y
organización – la colaboración reúne conocimientos, habilidades y capacidades; (5)
oportunidades para aprender – la colaboración incrementa las oportunidades para aprender
unos con los otros. Hargreaves (op. cit.) opina que este proceso si pasa con los profesores, sin
embargo podemos afirmar que esto puede acontecer cuando hablamos de trabajos prácticos de

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construcción de los alumnos.


En su mayoría la transmisión del conocimiento es basada en actividades teóricas,
siendo la mayor parte de la carga horaria de Geología General. El lenguaje científico posee
rasgos muy específicos y en general en Geología no son comprendidos con facilidad por los
alumnos. Por lo tanto es necesario su aplicación por medio de trabajos de campo, trabajos en
el laboratorio y otras actividades prácticas. El problema de los en trabajos de campo y
actividades de laboratorios es el alumno no cuenta con mucho tiempo, o sea, no puede
elaborar, deducir y construir por si mismo el conocimiento.
La actividad acá propuesta, la construcción de una caja didáctico-pedagógica, abre a
los alumnos de Geología General del Curso de Geografía (FACIP/UFU) tiempo para
estructurar y construir el conocimiento básico de geología y relacionarlo con lo cotidiano.
Para esto, consideramos que el aprendizaje es fruto de una construcción personal, donde la
memorización o las asociaciones sin contexto no tienen significado en el proceso de
enseñanza-aprendizaje.
Con esta actividad los conceptos científicos aprendidos por el alumno no solo son
transmitidos por el profesor, sino también son construidos a partir de registros que cada uno
en grupo puede hacer relacionando la teoría (“abstracción cognitiva”) y la práctica. Un
aprendizaje significativo ocurre cuando nuevos significados son adquiridos y atribuidos por el
aprendiz, a través de un proceso de interacción con nuevas ideas y conocimiento práctico con
conceptos o proposiciones relevantes ya existentes en su estructura cognitiva (Massi et al.
2008).
Así la experiencia en la construcción de una caja didáctico-pedagógica en la asignatura
Geología General en el Curso de Geografía de la FACIP/UFU llevo el alumno en
construcción y en la relación de temas que son considerados abstractos en su contexto. Esto es
posible, porque ellos “incorporaran” la génesis de los minerales y rocas, el uso de lo
cotidiano.
Considerando la amplitud de la naturaleza de los objetos de estudio de geología, en
especial con el tema minerales y rocas, el trabajo de construcción por un largo tiempo de la
caja didáctico-pedagógica puede ser un trabajo académico que puede ser efectuado de forma
muy dinámica, despertando interés del alumno en la importancia de observaciones de su
contexto y su cotidiano. Acreditamos que a través de esta experiencia hayamos logrado dar
un paso importante en la tentativa de la superación de la enseñanza tradicional, que a pesar de
tanto negarnos aún permanece en lo cotidiano, no solamente de las escuelas sino también en
gran parte de las universidades brasileñas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Behrens, M.A. 2003. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Champgnat, Curitiba,
239p.
Cavalcanti, L.S. 2003. Geografia, escola e construção de conhecimentos. 4.ed. Papirus, São
Paulo, 191p.
Copiani, M. & Carneiro, C.D.R. 1993. Os papeis didáticos das excursões geológicas.
Enseñansa de lãs ciências de La Tierra, 8: 1. 2.
Freire, P. 1998. Educação como prática da liberdade. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 158p.
Garcia, O.G. 1997. A aula como momento de formação de educandos e educadores. Revista
de educação, AEC, 104: 23-31.
Hargreaves, A. 1999. Profesorado, cultura y postmoderno. Cambian los tiempos, cambia el
profesorado. Morata, Madrid, 203p.
Kaercher, N.A. 2002. O gato comeu a geografia critica? Alguns obstáculos para superar no
ensino-aprendizagem de Geografia. In: N.N. PONTUSCHKA & A.U. OLIVEIRA (eds.)
Geografia em perspectiva. Contexto, 1, São Paulo: Contexto, p.: 221-231.
Libâneo, J.C. 1985. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-social dos
conteúdos. Loyola, São Paulo, 256p.
Massi, L., Santos, G.R., Queiroz, S.L. 2008. Artigos científicos no ensino superior de
Ciências: ênfase no ensino de Química. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, 7:
157-177.
Mizukami, M.G.N. 1986. Ensino: as abordagens do processo. EPU, São Paulo, 173p.
Montardo, D.K. 2007. Estudo de materiais e processos geológicos como base ao
conhecimento do ambiente: interações universidade e ensino Básico. In: PEHCT/UNICAMP,
Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra,1, e Simpósio Nacional
sobre Ensino de Geologia no Brasil, 3, Anais, p. 83-87.
Moraes, M.C. 1997. O paradigma educacional emergente. Papirus, Campinas, 219p.
Moreira, M.A. 1983. Ensino e Aprendizagem; Enfoques teóricos. Moraes, 3.ed., São Paulo,
271p.
Zabala, A. 1998. A Prática Educativa. Como ensinar. Artmed, Porto Alegre, 224p.

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REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A CULTURA DAS CIÊNCIAS DA TERRA NO


ENSINO FUNDAMENTAL: A PROPOSTA CURRICULAR DE GEOGRAFIA PARA
MINAS GERAIS

THE CULTURAL RELEVANCE OF EARTH SCIENCES AND THE CURRICULUM


PROPOSAL OF GEOGRAPHY FOR BASIC EDUCATION IN MINAS GERAIS

Celso Dal Ré Carneiro1, Vlander Verdade Signoretti2


1
Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino (DGAE), Instituto de Geociências, UNICAMP. Campinas,
SP, cedrec@ige.unicamp.br
2
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ensino e

História de Ciências da Terra, Instituto de Geociências, UNICAMP. Campinas, SP, vlandervs@gmail.com

Resumo: Um dos resultados de pesquisa que analisou consequências da recente Proposta


Curricular de Geografia de Minas Gerais, conhecida como Conteúdo Básico Comum e
Complementar (CBC), foi ressaltar a importância cultural das Ciências da Terra. A proposta
analisada estabelece planejamento e direcionamento de ensino nas quatro últimas séries do
Ensino Fundamental (3° e 4° ciclos do Ensino Básico) de escolas públicas. Projetos
educacionais excessivamente direcionados podem trazer dificuldades de execução e conduzir
a concepções equivocadas sobre o ambiente. Confirmou-se a ideia de que conexões típicas do
ensino de ciências e de geografia não podem nem devem ser ignoradas em planejamentos
dessa envergadura. Concluiu-se serem demasiadamente frágeis as conexões com Geociências
na proposta curricular. O planejamento não realiza tal integração, não contempla a
interdisciplinaridade e a transversalidade e é incapaz de desenvolver minimamente as
competências em Geociências necessárias para permitir entendimento da dinâmica terrestre e
do papel das sociedades humanas nesse contexto.

Palavras-chave: Geografia, Currículo, Geologia, Geociências, Ensino de Ciências da Terra,


Ensino-aprendizagem.

Abstract: One of the results of a research, which has examined the consequences of a recent
curriculum proposal of Geography for Minas Gerais State, known as Basic Common and
Supplementary Contents (BCC), was to emphasize the cultural importance of Earth Sciences.

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The proposal defines directions for the last four grades of elementary school (3 and 4 cycles
of basic education) in public schools. Excessively directed educational projects can bring
implementation problems and lead to mistaken ideas about the environment. Some typical
connections between science and geography teaching can not be ignored at this scale of
planning. Geosciences in the curriculum proposal are so fragily represented that the proposal
does not perform any integration, does not include any kind of interdisciplinary and
transversality. Therefore, it is unable to develop minimal skills in Geosciences necessary to
enable one to understand the terrestrial dynamics and the role of the human societies in this
context.

Keywords: Geography, Curriculum, Geology, Geosciences, Earth Sciences teaching,


teaching-learning.

INTRODUÇÃO
Vivemos uma época de mudanças frequentes que definem novos referenciais. Nesse
contexto, os países se mobilizam buscando sua inserção no contexto das transformações
provocadas pela chamada Era do Conhecimento, ou Era da Informação. Tornou-se, portanto,
palavra de ordem buscar caminhos para ações que possam dar respostas imediatas às
necessidades advindas dessas grandes transformações de cunho econômico, social,
tecnológico e cultural que foram se estabelecendo de forma globalizada nos últimos 30 anos.
A revolução digital mudou o contexto educacional em todo o mundo (Schaff 1995), e
influencia decisivamente aspectos como: (a) sócio-econômico: as atividades econômicas,
centradas na produção de informações, ganharam nova dimensão ao prover a sociedade de
novas tecnologias de informação e comunicação; (b) político: a propagação de conteúdos em
meio digital pela Internet deu nova dimensão ao indivíduo, às comunidades e grupos de
pressão, devidamente alimentadas por informações divulgadas em tempo real. Esse contexto
altera radicalmente o papel tradicional dos veículos de comunicação; (c) histórico-cultural: a
Sociedade da Informação, embora consolidada em nível global, apresenta particularidades em
cada país em consonância com o seu estágio de desenvolvimento social e tecnológico. Essas
relações complexas afetam, com intensidade cada vez maior, o mundo moderno.
Criar mecanismos de acesso à educação de qualidade pressupõe aceitar desafios
constantes e buscar soluções para os impasses. A escolha de agir ativa ou passivamente nessas
inadiáveis transformações faz parte da compreensão da importância do que nós mesmos
fazemos, em nosso ambiente de trabalho.

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Apoiando-se nas experiências contemporâneas, Signoretti (2009) analisou o Currículo


Básico Comum (CBC) de Geografia do nível de ensino fundamental do Estado de Minas
Gerais, buscando avaliar a oferta de conhecimentos proporcionados na área de Geociências, e
avaliar implicações advindas de decisões já tomadas, frente à importância e a necessidade
desses conhecimentos para a melhoria de oportunidades aos cidadãos do século XXI.
O presente artigo procura discutir a Importância Cultural das Ciências da Terra, tema
que nutriu reflexão (Carneiro & Signoretti 2008) sobre inserção de Geociências no ensino de
Geografia na Educação Básica em Minas Gerais. O tema assume importância desde os anos
1990, quando passou a polarizar o debate público. No século XXI acentua-se a necessidade de
se reconhecer que os limites físicos (espaços funcionais) combinam-se e estabelecem relação
de interdependência com os limites culturais. Aspectos das Ciências da Terra que podem
condicionar esse quadro geral devem estruturar as modernas abordagens educacionais sobre o
ambiente em que vivemos.

IMPORTÂNCIA CULTURAL DAS CIÊNCIAS DA TERRA


As tecnologias da Era da Informação trouxeram, em Geociências, acelerado avanço
nos conhecimentos sobre os processos atuantes no planeta. A resultante concepção integrada
do Sistema Terra e das relações e consequências da ação humana transformará a sociedade
contemporânea e a Educação. A disciplina geografia da escola fundamental não ficará à
margem desses avanços. No Ano Internacional do Planeta Terra (2007-2009), pretende-se
mostrar que a cultura geológica é requerida para entendimento de temas científicos que
concentram a atenção de cientistas de todo o mundo e lançam preocupações sobre o futuro da
humanidade. Transformações econômicas, políticas, culturais, sociais e tecnológicas neste
início do século XXI são evidentes: novos mercados econômicos e produtivos redefinem
perfis profissionais pela análise e avaliação do trabalho. Entender a radical transformação nos
membros da sociedade e suas consequências educacionais pressupõe conhecer, além das
mudanças havidas, os desafios instaurados desde os dois últimos decênios do século XX, sob
diversos aspectos:
· a Nova Cultura da Sociedade Informática, que nos abre horizontes para se entender o
mundo capitalista que agora se assenta no conhecimento como fator de produção de
riqueza; requer novo perfil de trabalhadores e estabelece nova divisão do trabalho;

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· a Nova Cultura da Aprendizagem, uma exigência ao se criar novas formas sociais de


distribuição de conhecimento mediante acesso às tecnologias de informação, o que implica
a adoção de práticas inovadoras, tanto no sentido pedagógico, como de gestão nas escolas;
· a Inclusão Digital na Escola, uma das metas da Educação no Brasil, tarefa urgente e
necessária para ampliar as possibilidades de aprendizado e formação educativa dos alunos
para terem acesso e darem sentido crítico à informação e que se apresenta de forma ainda
insipiente no país;
· os Desafios da Escola Pública, uma vez que é competência da instituição enfrentar o que se
lhe apresenta como imposição de uma nova sociedade: nova postura política lhe é exigida,
para que o fio condutor deste processo de construção de um novo tempo não se perca na
dinâmica social que continuamente se reestrutura. Práticas inovadoras pedagógicas e de
gestão são impostas, mas estas só acontecem quando as instituições se propõem a repensar
e a transformar sua estrutura cristalizada em uma estrutura flexível, dinâmica e articuladora.

AUTONOMIA DOCENTE: UM DESAFIO


Como tornar possíveis ações inovadoras que possam atingir todo um território? É
preciso, para se obter sucesso nessa empreitada, considerar os professores não apenas como
os executores de projetos e responsáveis pela utilização de tecnologias educacionais, sem lhes
garantir oportunidades de se atualizar; é preciso, principalmente, considerá-los parceiros na
concepção, planejamento e na execução de todos os trabalhos elaborados.
Diante das transformações que presenciamos nos dias atuais, a importância de
conhecer os mecanismos internos e externos do conhecimento parece estar presente em todas
as reflexões que pretendam buscar novos conceitos para entender a vida no planeta.
Cada profissional deve ser capaz de fazer inferências e tomar decisões, sendo
estimuladas a autonomia, autoconfiança, senso crítico, criatividade, interação e integração em
equipes. É imprescindível, no entendimento do “fazer pedagógico”, mensurar o mundo que
transcende o espaço que o cerca, as possibilidades que se descortinam, as tecnologias que
avançam a passos largos, as relações que se estabelecem, se mesclam e se expandem. É
preciso enxergar o mundo além do horizonte de hoje, pois o amanhã deve vir modificado,
exigindo que se mobilizem competências para que nele nos estabeleçamos. O processo de
construção de conhecimento depende do trabalho mental do indivíduo, porém concebe-se a
ideia de que o contexto pode interferir nessa estrutura, ou seja, o indivíduo é submetido a uma
imensa carga de estímulos tanto internos quanto externos; por isso, é imprescindível mediar o

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clima e a dinâmica dessa relação informação-indivíduo-conhecimento.

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS DA TERRA


Vivemos nova era, em que os limites geológicos e ecológicos centralizam o debate
público e trazem crescente conscientização da importância das Ciências da Terra (Frodeman
2001). Isso coloca em evidência a epistemologia (ramo da filosofia que se ocupa com a
natureza do conhecimento) como estudo crítico e reflexivo dos princípios ou pressupostos da
estrutura da ciência e demonstrar “a importância da epistemologia, como parte da filosofia
científica, mediante a promoção de um estudo crítico e reflexivo dos métodos e técnicas de
aquisição do conhecimento” (Frodeman 2001).
Morin (1986) admite uma interdependência entre Filosofia e Ciência, observando a
necessidade de assumir completamente os dois pontos de vistas antagônicos, “isto é, de
considerar ao mesmo tempo as ciências cognitivas como objeto da epistemologia, e a
epistemologia como objeto de ciência cognitiva”. Após definir a filosofia e a ciência em
função de dois pólos opostos do pensamento (a reflexão e a especulação para a filosofia, a
observação e a experiência para a ciência), o autor afirma que:
“(...) seria uma loucura crer que não há reflexão nem especulação na
atividade científica, ou que a filosofia desdenha por princípio a
observação e a experimentação” (Morin 1986).
O conhecimento geológico depende de métodos usados nas ciências experimentais
(Frodeman 1995), mas se sustenta em um tipo de raciocínio de bases histórica e hermenêutica
(sistema de signos cujo significado não é aparente, mas deve ser decodificado). Esse
raciocínio interpretativo, associado às construções teóricas, elaboradas historicamente pela
Geologia, constitui ferramentas básicas para compreender e confrontar problemas de natureza
geocientífica, ambiental, ética, social e existencial do momento presente. Para Frodeman
(1995), o processo de raciocínio geológico oferece abordagem mais aplicável às incertezas e
complexidades de nossas vidas.
Para Matthews (1995), uma perspectiva histórica e epistemológica da ciência permite
desenvolver o conhecimento e o entendimento sobre as mudanças no pensamento científico
ao longo do tempo e de que modo a natureza desse pensamento e sua utilização são afetadas
pelos contextos em que ele se desenvolve; a significação e a investigação histórica do que é
ensinado; a inclusão de um tratamento honesto sobre as dúvidas e a natureza incompleta da
ciência. Tratar o ensino sob essa perspectiva, além de propiciar ao discente uma compreensão
mais crítica e abrangente do trabalho científico, também pode contribuir para instigar o

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pensamento crítico para criar uma cultura mais ampla, promover o interesse pelas aulas,
compreender melhor os conceitos científicos, lidar com as concepções alternativas.
Caberia ao professor ter uma visão da ciência como um todo, estimular em seus alunos
a criatividade, a curiosidade e estabelecer um ambiente favorável à aprendizagem. A ciência é
mais do que um corpo de informação e um modo de acumular e validar essa informação. É
também uma atividade social que incorpora certos valores humanos (Ziman 1986). A
valorização da auto-estima individual, por meio do estímulo à curiosidade, à criatividade, à
imaginação e à beleza não é algo que se confine à ciência; do mesmo modo, o ceticismo e o
desagrado pelo dogmatismo não se restringem a ela.
Segundo Orion (2001) “a importância da educação em Ciências da Terra cresceu
rapidamente durante os anos 1990 um pouco por todo o mundo” entretanto, no sistema
educativo há que se trabalhar muito para que haja a inclusão dos tópicos dessa ciência,
prescindindo tornarem-se suficientemente desenvolvidos para serem ensinados. Complementa
Orion (2001), “defendemos que somente uma perspectiva holística poderá fazer a integração
das Ciências da Terra nos currículos de ciências”. A palavra “holística” corresponde à
necessidade de definir a tendência sintética do “todo” se formando em cada uma de suas
“partes” por uma rede de intercomunicações (Weil 1990). Para Soler (apud Crema 1998), os
princípios holísticos constituem postulados de não-contradição entre o “conhecer” e o
“conhecido”, como uma dinâmica de complementaridade entre “o caminho de conhecimento”
e o “caminho de vida”, como expressão de medida entre o “todo” e as “partes”.
Segundo Crema (1998) a visão holística fundamenta-se em uma concepção sistêmica
(do grego systema: reunião de grupos) que vê o mundo em termos de relações e de integração.
É perceber o mundo não como fragmentos isolados, mas como um todo integrado. Essa
abordagem considera que todos os fenômenos ou eventos se interligam e se inter-relacionam
de uma forma global: tudo é interdependente. O pensamento sistêmico é um pensamento em
processo; a forma torna-se associada ao processo e à inter-relação. O ensino das ciências, no
conceito de Crema (1998), teve suas bases no paradigma instrucionista em que professores e
especialistas em organização curricular são colocados no centro do processo educativo,
reproduzindo a ideia de passividade dos alunos, ou seja, eles seriam meros receptores da
informação, cuja transmissão é unidirecional, do professor para o aluno.
Desde os anos 1970, com a publicação de estudos que demonstram as ineficiências e
limitações do instrucionismo, é proposta uma perspectiva alternativa orientada para o aluno, o
“construtivismo”, no qual o aluno é colocado no centro da atividade educativa.
Compreender a natureza do conhecimento e o processo de construção do mesmo tem sido

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desafio para muitos filósofos, cientistas e pesquisadores que contribuíram e contribuem para o
desenvolvimento de teorias construtivistas. Dentre esses estudiosos destacam-se Jean Piaget,
Ernst von Glasersfeld, Jerome Bruner, G. A. Kelly, David Ausubel e Lev Vygostsky
(Carvalho 2001).
A concepção do conhecimento e da aprendizagem que deriva principalmente das
teorias da epistemologia genética de Jean Piaget e da pesquisa sócio-histórica de Lev
Vygotsky parte da ideia de que o homem não nasce inteligente, mas também não é passivo
sob a influência do meio, isto é, ele responde aos estímulos externos agindo sobre eles para
construir e organizar o seu próprio conhecimento, de forma cada vez mais elaborada.
Segundo Tavares (2004), as pessoas constroem os seus conhecimentos a partir de uma
intenção deliberada de fazer articulações entre o que conhecem e a nova informação que
pretendem absorver. Esse tipo de estruturação cognitiva se dá ao longo de toda a vida, por
meio de uma sequência de eventos, única para cada pessoa; desse modo, configura-se um
processo idiossincrático. Atualmente, o entendimento de como se constrói a estrutura
cognitiva humana chama-se genericamente de construtivismo.
Nessa perspectiva, afirma Orion (2001) “a construção do conhecimento é um processo
subjetivo de forma a atingir a aprendizagem e é construído pelo discente com base em suas
experiências prévias”. O entendimento conduz a significativas implicações na seleção de
estratégias de ensino e de aprendizagem a serem implementadas.

ENSINO DE GEOGRAFIA E FUNÇÕES DO ENSINO DE CIÊNCIAS DA TERRA


É tarefa complexa propor Diretrizes Curriculares em época de incertezas, sobretudo
em relação ao ensino de Geografia, disciplina que analisa a organização/produção do espaço.
Torna-se necessário refletir tanto sobre as implicações das diretrizes no ensino de Geografia,
quanto sobre os métodos e abordagens utilizados. A análise deve se estender à relevância
educativa dos conteúdos e temas a serem desenvolvidos. A eficácia do ensino de Geografia na
escola exige clareza nos seus pressupostos e particular atenção a essa ciência, seus conteúdos,
e dimensão pedagógica; todos esses elementos podem contribuir para construir uma
identidade da educação geográfica.
São pressupostos da educação geográfica os referenciais que estruturam a ciência e
que possibilitam ao professor ter clareza do objeto de estudo. Dessa forma, sem considerar o
grau de importância hierárquica, o professor forma-se como docente contemplando duas
perspectivas fundamentais para o exercício da profissão. A dimensão técnica requer a
fundamentação teórica, o domínio de habilidades próprias e a clareza dos conceitos que se

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apresentam como específicos do geógrafo. A dimensão pedagógica é a base da argumentação,


traduzida na relação dialógica que considera o melhor saber aquele saber que sabe superar-se.
A velocidade da informação no mundo atual se intensifica constantemente e está acessível de
forma democratizada. Como organizar esta informação, contextualizando e (re)significando a
aprendizagem? Na educação geográfica, a compreensão do espaço geográfico parte da
compreensão de espaço como “conjunto indissociável solidário e também contraditório de
sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro
único no qual a história se dá” (Santos 1997, p. 51).
Houve significativo movimento de renovação da Geografia brasileira nas décadas de
1970 e 1980, marcado pela introdução do materialismo histórico e da dialética como pilares
teórico-metodológicos, atingindo-se o início do século XXI com a aceitação de várias
vertentes que até então estavam à margem das discussões em torno da Ciência Geográfica.
Nota-se, de forma inequívoca, a compreensão de que “a razão de ser” da Geografia, ou seu
“valor educativo”, relaciona-se aos objetivos do Ensino Fundamental dispostos no artigo 32
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 9394/96.
Inúmeros autores têm se dedicado a pensar o significado da Geografia no ensino, em
todos os níveis. Para alguns, o conteúdo da Geografia é o mundo, o espaço e sua dinâmica
contínua, onde as mudanças ganham cada vez mais velocidade. Nesse contexto, é preciso dar
condições aos alunos de pensar e agir, buscando elementos que permitam compreender e
explicar o mundo em permanente reinvenção (Callai 2001, p.131); para outros, cabe à
Geografia a função de preparar o aluno para uma leitura da produção social do espaço, repleto
de contradições, ou o desvendamento da realidade, negando a “naturalidade” dos fenômenos
que imprimem uma certa passividade aos indivíduos, (Casseti 2002, p. 145-162). Pontuschka
(1998, p.63) resgata a importância ímpar da Geografia na formação intelectual e ética dos
jovens, na construção da sua cidadania e na consciência de sua dignidade humana.
O valor educativo da disciplina geografia decorre do fato de que os acontecimentos do
mundo têm dimensão espacial, pois o espaço é a materialização dos tempos da vida social. A
Geografia passa por várias modificações na escola brasileira decorrentes do próprio processo
de formação dos professores, do acesso a livros didáticos até então produzidos, dos
documentos oficiais em nível federal, estadual e municipal e dos contextos escolares. Mesmo
que a ação dos professores seja limitada porque existe grau de autonomia demasiadamente
baixo (Barbosa 2003), do ponto de vista da ação operacional as abordagens presentes na
ciência geográfica se expressam timidamente na escola. A diversidade de concepções teóricas
expõe a complexidade de se transpor os conteúdos da Geografia acadêmica para a Geografia

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escolar, apesar de suas especificidades e propósitos estarem intrinsecamente relacionados.


Portanto, uma reflexão profunda sobre a Geografia escolar não pode se distanciar das
discussões teórico-metodológicas da Geografia acadêmica e vice-versa. A Geografia participa
da formação do homem moderno e o ajuda a compreender seu lugar no tempo e no mundo
(Debesse-Arviset 1978, p. 14). Em uma época na qual os meios de comunicação, cada vez
mais rápidos, tecem a unidade do globo, onde as competições comerciais ou desportivas, as
estratégias de guerra ou da política se tornam mundiais, a escola deve preparar o espírito
segundo um conceito coerente de aspectos tão diversos da nossa esfera.
Carneiro et al. (2004) a partir de uma lista inicial de dez, descrevem doze razões pelas
quais a inserção de cultura geológica beneficiará o ensino brasileiro, obedecendo às diretrizes
educacionais atuais. Algumas delas são específicas para o ensino de ciências, mas em outras
há desdobramentos evidentes para o ensino de geografia.
Tendo em vista que a Geografia faz parte das Ciências da Terra, podemos concluir
que, além do potencial para realizar a transposição da sala-de-aula para o mundo real e vice-
versa, a Geografia também pode se apoiar na realidade vivencial, tão necessária para
compreender o complexo mundo moderno, o que facilitará o aprendizado contínuo das
pessoas ao longo de toda a vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino da Geografia desempenha papel fundamental na formação e na informação
dos futuros cidadãos, acerca do Brasil e do Mundo, na condição de sistemas compostos por
fatores diversos que interagem entre si e constantemente se alteram. As competências
essenciais da Geografia centralizam a aprendizagem da disciplina na procura de informação,
na observação, na elaboração de hipóteses, na tomada de decisão, no desenvolvimento de
atitudes críticas, no trabalho individual e de grupo e na realização de projetos.
O século XXI, marcado pela interação de limites físicos combinados com limites culturais,
oferecerá a grande oportunidade de as Ciências da Terra ganharem importância cultural
(Frodeman 2001). Isso depende de que a comunidade das Ciências da Terra se adapte “à
constante modificação das exigências que a sociedade colocará sobre ela”. Ao mesmo tempo,
parece inevitável que o ensino de Geografia seja cada vez mais – não cada vez menos –
permeado por conhecimentos típicos das Geociências. Não é esse o caso, porém, da Proposta
Curricular de Geografia, ou Conteúdo Básico Comum e Complementar (CBC) de Minas
Gerais (Signoretti 2009).

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geociências nos níveis fundamental e médio. Campinas: Inst. Geoc., Univ. Est. Campinas.
105p. (Mestrado, dissert. Geoc., CD-ROM incluso).
Callai H.C.A. 2001. A geografia e a escola: muda a geografia? muda o ensino? Terra Livre,
(16):133-152.
Carneiro C.D.R., Signoretti V.V. 2008. A carência de conteúdos de geociências no Currículo
Básico Comum de Geografia do ensino fundamental em Minas Gerais. Rio Claro: Assoc.
Geografia Teorética, Geografia, 33(3):467-484. (set-dez 2008).
Carneiro C.D.R., Toledo M.C.M.de, Almeida F.F.M.de. 2004. Dez motivos para a inclusão de
temas de Geologia na Educação Básica. Rev. Bras. Geoc. 34(4):553-560.
Carvalho A.S.L. 2001. Transferindo Conhecimento Tácito: uma abordagem construtivista.
Rio de Janeiro: Ed. E-papers.
Casseti V. 2002.A natureza e o espaço geográfico. In: F. Mendonça & S. Kozel. orgs. 2002.
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Crema R. 1998. Introdução à Visão Holística: breve relato de viagem do velho ao novo
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Debesse-Arviset M.L. 1978. A educação geográfica na escola. Trad. Lucília J. Caetano.
Coimbra: Livraria Almedina. 192p.
Frodeman R.L. 2001. A epistemologia das geociências. In: L. MARQUES & J. PRAIA.
Geociências nos currículos dos ensinos básico e secundário. Aveiro: Univ. Aveiro. p. 39-
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Frodeman R.L. 1995. Geological Reasoning: Geology as an interpretative and historical
science. Bulletin GSA, 107(8):960-968.
Matthews M. 1995. História, filosofia e ensino de ciências: a tendência atual de
reaproximação. Caderno Catarinense de Ensino de Física, 12(3):960-968.
Morin E. 1986. O Método III. O conhecimento do conhecimento. Portugal: Publ. Europa-
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Geociências nos currículos dos ensinos básico e secundário. Aveiro: Univ. Aveiro. p. 95-
105.

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Pontuschka N.N. 1998. Reflexões sobre a presença da geografia no ensino médio. Belo
Horizonte, Geografia e Ensino, 7(1):63-78.
Santos M. 1997. Metamorfose do Espaço Habitado. 5. ed, São Paulo: Hucitec.
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industrial. São Paulo: Ed. UNESP/Brasiliense. 115p.
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Weil P. 1990. A Arte de Viver em Paz. Por uma nova consciência e educação. Paris,
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PENSAMENTO E DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM NO APRENDIZADO


DE GEOLOGIA

THOUGHT AND LANGUAGE DEVELOPMENT IN THE LEARNING OF GEOLOGY

Sérgio Brandolise Citroni1, Heitor Fernandes Mothé Filho2


1
Departamento de Geociências /Instituto de Agronomia/Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
scitroni@ufrrj.br
2
Departamento de Geociências /Instituto de Agronomia/Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,
hfmf@ufrrj.br

Resumo: Tomando por base a proposição de Vygotsky sobre as relações do desenvolvimento


intelectual e do uso da linguagem, através da análise das características da escrita dos alunos
em suas cadernetas de campo, buscamos identificar a evolução da construção do pensamento
geológico e avaliar a existência de problemas no processo de ensino-aprendizagem.
A análise revelou: (i) A existência de grandes diferenças na habilidade do uso da linguagem
entre os alunos; (ii) a tendência de enfatizar respostas para os problemas imediatos das
atividades de campo; (iii) o predomínio de observações sobre aspectos mais notáveis em
detrimento dos mais significativos; e (iv) a extrema importância dada às opiniões dos
professores.
As observações sugerem que não estão sendo desenvolvidas adequadamente
habilidades de redação, de observação e a autonomia inquisitiva dos alunos, sendo sugeridas
correções na prática pedagógica adotada, tais como a problematização dos temas de estudo.

Palavras-chave: Linguagem e aprendizado; atividades de campo; construtivismo.

Abstract: According to the proposal of Vygotsky on the relations of the intellectual


development and the use of the language, we search to identify the evolution of the
construction of the geologic thought and to evaluate the existence of problems in the teach-
learning process, through the analysis of the characteristics of the writing in the student’s field
notebooks.
The analysis disclosed: (i) The existence of great differences in the ability of the use
of the language between the students; (II) the tendencies to emphasize answers for the

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immediate problems in the activities of field; (III) the predominance of comments on more
notables aspects in detriment of most significant ones; and (IV) the extreme importance given
to the opinions of the instructors.
The observations suggest that there are not being adequately developed the abilities of
writing, of observation, and the inquisitive autonomy of the students, being suggested
corrections in the pedagogical practice adopted, such as the proposal of problems in the
development of the study subjects.

Keywords: Language and learning; fieldwork; constructivism.

INTRODUÇÃO
Um ponto crítico no aprendizado em geologia (e em outras ciências) é o
desenvolvimento da capacidade de efetuar relatos escritos a respeito de um objeto de estudo.
Em especial, é necessário determinar se as dificuldades observadas comumente entre os
alunos de graduação nessa habilidade são oriundas de problemas com a compreensão que se
tem desse objeto, ou se se tratam de limitações no desenvolvimento da linguagem escrita em
geral.
Existiria, segundo Vygotsky (1979), uma correlação direta entre o desenvolvimento do
pensamento e da linguagem em crianças. Isso decorre do fato de a linguagem ser a principal
ferramenta usada para a troca de informações e para a organização das idéias. As palavras, e a
maneira como são usadas, refletem a capacidade de, inicialmente, entender aos conceitos e de,
mais tarde, elabora-los autonomamente.
Os estudantes de graduação em geologia já desenvolveram suas estruturas intelectual e
de linguagem, já passaram pelas etapas de desenvolvimento intelectual da infância, pré-
adolescência e, pelo menos na maioria dos casos, da adolescência, portanto, o aprendizado de
geologia, no nível de graduação, não envolve a construção de novos esquemas mentais e
modificações significativas na maneira de pensar, mas a aquisição de um conjunto de
conceitos novos.
Mesmo levando-se em conta essas diferenças nada indica que, como defende ainda
Vygotsky (1979), a aquisição de novos conceitos no adulto recorra a mecanismos distintos
daqueles utilizados na infância. Na verdade podemos considerar que o exercício da
linguagem, em especial no ambiente universitário, onde os processos desenvolvidos são
fortemente baseados em atividades e trocas verbais e escritas, ganharia relevo ainda maior no
processo de aquisição e desenvolvimento de conceitos.

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A hipótese aqui defendida é de que, a partir da observação da linguagem do aluno,


seja em relação ao seu grau de conhecimento dos conceitos empregados, seja, principalmente,
nos contextos em que tais conceitos são empregados, seria possível identificar o processo de
edificação do pensamento geológico, traçar seu desenvolvimento e avaliar a existência de
problemas no processo de ensino-aprendizagem.

ESTUDOS REALIZADOS
Foram analisadas as anotações das cadernetas de campo de cerca de quarenta alunos
do quinto e sétimo semestres do curso de geologia, incluíam-se textos produzidos em saídas
de campo didáticas de um dia, em expedições de um ou mais dias para coleta de dados
específicos (amostragem ou dados estruturais), e em trabalho de mapeamento geológico de
uma semana.
A partir da leitura dos documentos, ficam evidenciados diferentes usos e formas de
organização da linguagem produzidos pelas diferentes abordagens/problematizações da
atividade de campo, ou, em última análise, pelas diferentes instruções que foram dadas aos
alunos para a realização das atividades.
Abordagem comum em campo é o uso deste como ilustração de conceitos
apresentados em sala de aula, nessa situação os alunos fazem o mesmo que em aulas
expositivas: anotam as informações dadas pelo professor. Enquanto atividade necessária e
ferramenta importante para estimular o interesse dos alunos e permitir que os mesmos tenham
acesso aos objetos geológicos em seu contexto, esse enfoque faz pouco no sentido de
desenvolver o poder de raciocínio e a autonomia do aluno. Isso se evidencia na linguagem
usada na caderneta de campo: o texto produzido pelo que podemos denominar de “redação
mediada” é uma transcrição direta do que o professor diz, praticamente sem contribuição
pessoal do aluno. A qualidade e a clareza do texto reproduzido na caderneta refletem, em
essência, a clareza e a organização do discurso do professor.
Tentativas dos professores em reproduzir algum raciocínio dedutivo na apresentação
dos afloramentos, para que os alunos venham entender como pesquisadores concluíram o que
está sendo dito, geralmente produzem anotações na forma de tópicos desarticulados e
fragmentários, nos quais as relações de causa e efeito geralmente não são registradas.
Já os trabalhos de campo realizados com o intuito de obtenção de informações
específicas produzem, quando as instruções são muito estritas, uma escrita esquemática, na
qual apenas listas de dados são preenchidas segundo fórmulas pré-estabelecidas. Como
exemplo, em levantamentos de campo para elaborar redes estereográficas em escritório, as

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rochas parecem ter deixado de existir, sendo anotadas apenas as medidas estruturais.
Os trabalhos de mapeamento mais longos e com diferentes etapas, apresentam
momentos com características de trabalho distintas, sendo possível observar variações nos
resultados desses diferentes momentos da atividade. Nas excursões regionais, as paradas
podem assumir características das saídas de campo expositivas, com os alunos apenas
registrando os discursos dos professores. Quando orientados a trabalhar em grupos para que
apresentem seus resultados para discussão, os alunos revelam algumas diferenças pessoais na
capacidade de redação, mas também se observa que muitos ainda esperam pela manifestação
dos professores (que, mesmo calados, estão presentes) antes de escrever algo na caderneta,
guardando apenas na memória o que observaram, não organizando um raciocínio-discurso
escrito.
Na atividade de mapeamento propriamente dita, quando deixados por conta própria
diante dos afloramentos, produz-se finalmente uma redação autônoma, na qual se destacam
mais nitidamente as diferenças de escrita, ao mesmo tempo em que, a maioria dos alunos,
parece encontrar seu ritmo próprio de trabalho, apresentando uma melhor organização do
texto e revelando mais claramente suas capacidades e limitações.

RESULTADOS
Conforme adiantado no tópico anterior, as atividades nas quais o controle exercido
pelo professor é muito grande ou está muito próximo, tem valor enquanto processos de
ensino, mas não são boas avaliadoras do desenvolvimento da linguagem e da autonomia dos
alunos. Já nas situações em que trabalham sozinhos, onde tais aspectos podem ser observados,
ressaltam-se dois padrões nítidos na organização da escrita.
Em primeiro lugar, a maioria dos alunos demonstra uma percepção particular das
exposições, ou destacando aspectos que impressionam por sua aparência incomum, mas
secundários para o estudo em curso (e.g., variações nas cores de alteração, fraturas com
preenchimentos peculiares, linhas de seixos na base de colúvios), ou procuram reproduzir
aspectos destacados em exposições anteriores pelos instrutores.
Em segundo lugar, os alunos quase sempre dirigem suas anotações para a resolução da
problemática envolvida, ou que imaginam estar envolvida, na atividade. No caso de um
trabalho de mapeamento geológico, no qual já foram definidas as unidades de mapeamento,
os alunos buscam nomear tais unidades em cada afloramento, bem como identificar a
presença de seus contatos. Dependendo da ênfase dada a esse aspecto, destacam ainda
medidas de atitudes que possam ser úteis na elaboração do mapa. Quando a exposição é pobre

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ou muito alterada, buscam anotar àqueles aspectos que podem situar o ponto em uma ou outra
unidade (solos arenosos associados a unidades sedimentares arenosas, solos argilosos
associados a unidades sedimentares argilosas ou a basaltos alterados, por exemplo).
Ocorre que, na primeira abordagem, se assiste ao questionamento do que está sendo
observado em função da curiosidade destas observações, mas em geral essas observações
refletem aspectos menores (para o professor, que fique bem claro). Voltamos a esse tópico
mais adiante, pois ele tem implicações evidentes e importantes. Por outro lado, na abordagem
objetiva, não há, em geral, questionamentos significativos, os alunos estão focados no
problema (seja medir e coletar dados estruturais, seja identificar determinada unidade de
mapeamento), e as propriedades e características observadas nas rochas são tomadas como
parte integrante do conjunto estudado, sendo na verdade “esperadas” para aquele objeto
geológico como essenciais para seu diagnóstico.
O registro autônomo também revela os problemas de prática e conceituais dos alunos.
Observa-se, não raramente, a descrição de objetos e feições que não se encontram presentes,
tais como estruturas sedimentares (estratificação hummocky, estratificação espinha de peixe)
ou estruturas deformacionais (padrão de falhas Riedel), apenas porque estas foram abordadas
com algum destaque em aulas teóricas. Também é comum observar o emprego de conceitos
ou denominações em contextos totalmente diversos, e incompatíveis com, daqueles nos quais
foram definidos, como “porções da rocha com alterações leucocráticas”, referindo-se a
manchas mais claras de alteração em rochas sedimentares.
Observa-se, nesses casos, o fenômeno destacado por Pontecorvo (1993), quando
assinala que, muitas vezes, os estudantes repetem fragmentos de discursos de por seus
professores, indicando que, mesmo nos momentos de autonomia de ação, esses estudantes não
possuem ainda autonomia na elaboração de conceitos e observações, mantendo-se presos à
linguagem de instrutores prévios.

QUESTÕES QUANTO A ABORDAGEM (E JUSTIFICATIVAS)


Segundo Vygotsky (2003), a linguagem desenvolve-se na criança como uma
ferramenta para influenciar socialmente seu meio para que este o auxilie na resolução de
problemas, evoluindo posteriormente para uma fala internalizada que serve para motivar (e
controlar) a si mesmo a resolver determinado problema, evidentemente a linguagem, seja ela
internalizada ou comunicativa, também organiza as informações necessárias para dar solução
ao problema. No decorrer das reflexões que levaram à presente comunicação, ficou evidente
que o próprio ato de redação de seus textos em cadernetas ou em relatórios constitui-se, para

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os alunos, em um problema talvez tão grande quanto as questões geológicas envolvidas no


estudo.
Desse modo, ao procedermos a análise dos textos, talvez não estejamos avaliando na
verdade como os alunos conduzem a resolução de um problema geológico, mas sim de um
problema de linguagem (de como está sendo usada a ferramenta comunicativa), tratar-se-ia
assim de uma meta-análise.
Conforme já citado, não se supõe, evidentemente, que os alunos de graduação em
geologia (ou em outros cursos superiores) estejam, ao se defrontarem com situações-
problemas propostas em seus cursos, fazendo o mesmo que as crianças em idade pré-escolar
(ou mesmo protoverbal), isto é, criando suas estruturas de raciocínio e de linguagem, estas já
estão desenvolvidas e maduras. O que se faz (ou deveria se fazer) nos cursos universitários é
“meramente” exercitá-las, fazê-las funcionar diante de objetos e situações novos e não
cotidianos, ou com uma abordagem não cotidiana. A análise dos textos dos alunos revelaria,
portanto, se os novos conceitos “aprendidos” (?) estão se integrando à matriz pensamento-
linguagem já estabelecida.
Embora possamos dizer que uma caderneta de campo deve expressar exclusivamente
aos fatos que são observados no campo, com um mínimo de subjetividade e com as
interpretações restritas ao mínimo necessário e claramente identificadas como tais, a verdade
é que os fatos, como os descrevemos são sempre e inescapavelmente mediados pelas palavras
e pelos conceitos por nós dominados (ou marginalmente dominados), de modo que mesmo na
descrição mais despretensiosa está registrada a marca de nosso desenvolvimento intelectual,
podendo assim ser utilizada na avaliação deste.

CONCLUSÕES
Os alunos são ótimos jogadores do processo de ensino-aprendizagem, percebem e
seguem suas regras, e os papéis que se esperam deles. Assumem com rapidez, diante dos
professores, conceitos, pontos de vistas e valores através de processos de aculturação (no
sentido dado por Cobb, 1998).
Essa aculturação é geralmente resiliente, ou seja, pode o aluno abandoná-los sem
traumas, se o próximo professor adota outros pontos de vista. Evidentemente algo desses
sucessivos processos de aculturação permanece, dependendo da qualidade das experiências e
do carisma do professor, constituindo um importante ganho conceitual. O problema se
observa quando o conceito foi adotado sem critérios claros, acríticamente, passando a ser
usado abusivamente, como nos exemplos já citados. Infelizmente esse problema se observa

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com muita frequência.


Os alunos são também ativos na busca e definição da problemática envolvida nas
atividades propostas. Conforme observado, captam através da observação uma grande gama
de informações, mas embora não sejam capazes de trabalhar com todas elas e de não as
hierquizar de acordo com sua relevância, são capazes de eleger alguns elementos como
necessários para resolver um problema (habilidade provavelmente adquirida a partir das
atividades mediadas de campo). Em alguns momentos, a limitação parece ser gerada por
haver tanta informação sendo produzida, e informação nova, que ocorre um bloqueio nos
canais cognitivos que permitem sua organização.
A tendência em buscar respostas através do uso de termos que refletem conceitos
elaborados, especialmente quando aplicados de maneira equivocada, mostram que podemos
estar “ensinando nomes”, e não desenvolvendo conceitos. Usnadze (1929a e b) assinala que,
“embora os conceitos completamente formados só surjam relativamente tarde, as crianças
começam a utilizar palavras socorrendo-se delas para estabelecerem um terreno de
compreensão mútua com os adultos e entre si”. Com base nisto, Vygotsky (1979) conclui que
as palavras se apoderam da função dos conceitos, servindo como meio de comunicação antes
de se tornarem verdadeiros conceitos, são, nesse estágio, retalhos de discursos de outros
(Pontecorvo, 1993).
Dar nomes às coisas é um exercício básico em muitas das disciplinas das geociências:
classificações de rochas, minerais, texturas, estruturas, unidades estratigráficas. Essa
aquisição de um vocabulário progressivamente mais rico em geologia permite que o aluno
tome atalhos cada vez maiores em sua verbalização e redação, conceitos interpretativos
passam a fazer parte do escopo descritivo, mas pode produzir a falsa impressão (em
professores e alunos) de que o conhecimento desses termos é o objetivo final da geologia, e
não o domínio de seu sentido para compreender aos processos que geraram aos objetos
geológicos, reduzidos a nomes por esse sistema de aprendizagem (Fallows, 1993).
Temos evitado, propositalmente, abordar a questão do ponto de vista semiótico, mas
não se pode, neste ponto, deixar de referir-se ao texto de Paschoale (1984), notando o
paralelismo entre nossas conclusões, no qual o autor questiona se estamos ensinando geologia
ou ensinando representações da geologia, ou seja, se estamos dando aos alunos uma visão
dos objetos dinâmicos (a realidade, ou “a coisa em si”) ou se passando aos mesmos as
representações dessa realidade, ou os signos usados para falar dessa realidade, ato
condicionado pela nossa natureza limitadamente semiológica.

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DESENVOLVIMENTOS POSTERIORES E SUGESTÕES


Os resultados destes estudos apontam para a necessidade de adotar uma série de
alterações na prática de ensino, em especial nas atividades de campo. Também sugerem uma
série de experimentos que podem ser aplicados para avaliar como os conceitos e práticas em
geologia estão sendo assimilados pelos alunos: se de uma maneira construtiva e crítica ou se
apenas como uma repetição mecânica de palavras.
Registre-se que estes comentários são feitos com base no estudo de alunos de um
curso de graduação em geologia (da UFRRJ), com suas peculiaridades e históricos, mas
acreditamos não ser pretensioso julgar que podem ser estendidos (pelo menos parcialmente)
para a maioria dos cursos do país.
A primeira conclusão é que, como os alunos demonstram precisar de problemas para
serem resolvidos, como motivadores e como condutores de sua prática, idealmente, todo o
aprendizado deveria ser baseado na proposição de problemas. Aulas, práticas e expositivas
não seriam, em absoluto, abolidas, mas deveriam ser reformuladas para servirem de
instrumentos de apoio ou de instigação na busca de resolução desses problemas. Estas dariam
progressivamente as chaves que abririam as próximas etapas do processo de descoberta das
respostas aos problemas.
Os currículos deveriam assim ser estruturados de modo a valorizar Temas e Objetivos,
ao invés de Disciplinas e Conteúdos Programáticos. Temas e objetivos de várias hierarquias e
alcances temporais: Haveria temas e objetivos de uma disciplina, de um período, de um
conjunto de disciplinas e o tema e objetivo maiores de todo o curso. O sistema de avaliação
deveria igualmente ser reorientado para contemplar à determinação do grau de sucesso obtido
em atingir esses objetivos, e não à assimilação de conteúdos.
Trazendo essa conclusão para o nível do praticável, deve-se levar em conta os
diferentes graus de articulação entre docentes dos cursos de geologia, de modo que a adoção
de temas e problemas como condutores do aprendizado pode ser restrita a uma dada
disciplina, ou mesmo a momentos dentro das atividades dessa disciplina, ou a grupos de
disciplinas de um dado tema (por exemplo, nas disciplinas de geologia de campo). Em alguns
casos, mesmo a adoção de práticas de leituras e de elaboração de seminários pelos alunos
traria ganhos significativos.
Em segundo lugar, deveria o professor assumir uma posição de mediador do
conhecimento e de animador do debate entre os alunos, e não de dono do conhecimento, não
se tratando aqui de negar que “sabe” de alguns fatos que são desconhecidos (?) pelos alunos,
mas de negar as respostas prontas, respostas às quais os alunos são capazes de chegar pelo

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esforço próprio, trabalhando junto com o professor e com outros colegas (zona de
desenvolvimento próximo, de Vygotsky, 1979).
Outro aspecto detectado é o de que os alunos precisam de um tempo e de um ritmo
próprios para aproveitar às oportunidades de aprendizagem que lhe são oferecidas. No caso
específico das atividades de campo, devem lhes ser dados o tempo e as motivações para
explorar e desenvolver suas observações. É evidente que em uma “saída de campo de
petrologia ígnea” pode ser contraproducente tratar de cores de alteração das rochas, ou
identificar padrões de fraturamento, por isso podem ser necessárias saídas de campo com
temas abertos, não sem objetivos ou sem preparação, mas abertas às observações dos alunos
que, como assinalamos, na apresentação dos resultados, são “menos importantes”, mas são as
que mais chamaram a atenção desses alunos.
Com relação à continuidade deste estudo, em primeiro lugar consideramos necessário
estender a presente avaliação a um numero maior de textos de alunos produzidos no campo.
Deve-se, em paralelo a isso, incluir visitas a afloramentos por diferentes grupos de estudantes,
com diferentes objetivos (tarefas ou problemas) e diferentes conjuntos de informações para
avaliar os efeitos de diferentes abordagens e estímulos nas características da linguagem usada.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Cobb, P. 1998. Onde está a mente? Uma coordenação das abordagens sociocultural e
cognitivo-construtivista. In: Fosnot, C.T., Construtivismo – Teorias, perspectivas e
prática pedagógica. Porto Alegre, Artmed, p. 51-69.

Fallows, J. 1993. Are we having fun yet? Manuscrito inédito. Apud. Julyan, C. e Duckworth,
E., 1998, Uma abordagem construtivista do ensino e da aprendizagem de ciências. In:
Fosnot, C.T., Construtivismo – Teorias, perspectivas e prática pedagógica. Porto Alegre,
Artmed, p. 73-90.

Paschoale, C. 1984. Alice no país da geologia e o que ela encontrou lá. Congr. Bras. Geol,
33, Rio de Janeiro, 1984. In: Anais do Congr. …., 33, p. 5242-5249.

Pontecorvo, C. 1993. Interazione sociale e conoscenza. Le discipline come pratiche di


discorso. Scuola e Città, 2, Anno XLIV, p. 56-71.

Usnadze, D. 1929a. Die Begriffsbildung im vorschulpflichtingen Alter. Ztsch. f. angew.


Psychol., 34, p. Apud. Vygotsky, L. S. 1979. Pensamento e linguagem. Lisboa, Ed.
Antídoto, Série Universidade, 6, 213 pp..

Usnadze, D. 1929b. Gruppenbildungsversuche bei vorschulpflichtigen Kindem. Arch. ges.


Psychol., 73, p. Apud. Vygotsky, L. S. 1979. Pensamento e linguagem. Lisboa, Ed.
Antídoto, Série Universidade, 6, 213 pp..

Vygotsky, L. S. 1979. Pensamento e linguagem. Lisboa, Ed. Antídoto, Série Universidade,


6, 213 pp..

Vygotsky, L. S. 2003. A formação social da mente. São Paulo, Martins Fontes, 6ª ed., 191
pp.

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SISTEMAS ORBITAIS UTILIZADOS EM PROJETOS DE EDUCAÇÃO E MEIO


AMBIENTE NO BRASIL

Cristina Criscuolo1
Marcos Fernando Ninomiya2
Daniel Lomba Nicastro3
1
Pesquisadora, Embrapa Monitoramento por Satélite , criscuol@cnpm.embrapa.br
2
Analista de Sistemas, Embrapa Monitoramento por Satélite ,ninomiya@cnpm.embrapa.br
3
Graduando em Engenharia Ambiental, Pontifícia Universidade Católica de Campinas,
danielhorse@hotmail.com

Resumo: A Internet torna acessível uma série de dados e informações que podem enriquecer
o cotidiano escolar, no escopo das disciplinas vinculadas à área ambiental. Esta mesma fonte
de conhecimento deve ser utilizada com cautela, devido à falta de controle sobre a veracidade
das informações veiculadas. Este trabalho foi elaborado a partir de busca extensiva de dados
disseminados pela Internet e proposto para oferecer, ao público escolar, um conjunto de
características técnicas e informações sobre as principais missões espaciais utilizadas em
estudos ambientais no Brasil. Com os resultados, espera-se contribuir para disseminar as
ferramentas de geotecnologias em sala de aula.

Palavras-chave: Satélites, Ensino, Geotecnologias.

Abstract: The study was developed to serve as an educational tool to leaning


geotechnologies. The digital resource is divided in sessions including their features,
characteristics, and applications with emphasis on Brazilian environmental projects, satellites
sensors and resolutions tables.

Keywords: Satellites, Learning, Geotechnologies

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INTRODUÇÃO
Os produtos derivados da tecnologia de observação da terra evoluíram rapidamente a
partir da incorporação de inovações promovidas pelas diversas áreas do conhecimento
técnico-científico. Como resultado, existe uma série de materiais disponíveis na rede mundial
de computadores com potencial de aplicação em projetos educacionais diferenciados, que
podem ser utilizados para estudos que envolvem a interação entre planta, solo, água,
atmosfera e a produção do espaço pela sociedade. Atualmente, dezenas de missões espaciais
podem servir como fonte de dados tanto para educadores comprometidos em aumentar a
qualidade de suas aulas, quanto para estudantes que desejam ampliar seu campo de
observação a respeito de determinado fenômeno ambiental ou social.

No caso das Ciências da Terra, o potencial de aplicação de imagens e dados obtidos


por satélites para compreensão de determinado fenômeno é ilimitado, já que na maior parte
dos casos, o objeto de estudo pode ser abordado segundo as dimensões espaciais e temporais.
Diante desse cenário diversificado de produtos oriundos do mercado de observação da terra,
este trabalho tem o objetivo de apresentar uma alternativa para os interessados em acessar a
síntese técnica das principais missões espaciais utilizadas em estudos ambientais no Brasil.
Foi idealizado com o objetivo de contribuir para fomentar o uso dessas tecnologias em sala de
aula, aplicadas a projetos pedagógicos que abordem educação e meio ambiente.

MATERIAIS E MÉTODOS
Para organização desta síntese elaborou-se uma série de pesquisas em fontes diversas
de dados. Como as características técnicas das missões espaciais alteram-se rapidamente, a
Internet tornou-se, nesse caso, uma das principais fontes de pesquisa para nosso trabalho.
Após a fase de identificação e seleção das referências para compor a síntese técnica, houve a
sistematização e confrontação entre as fontes pesquisadas para identificação da veracidade
das informações. A escolha das missões espaciais que compuseram o material deu-se a partir
do uso e experiências acumuladas em trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores e equipe
técnica da Embrapa Monitoramento por Satélite.

Os dados foram classificados em níveis temáticos distintos, procurando-se manter a


mesma disposição das informações ao longo de cada missão espacial retratada. A
sistematização dos dados foi realizada em documentos intermediários, onde trabalhou-se com:
a) a elaboração de textos explicativos com informações e dados construídos para abordar

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aspectos históricos, operacionais e principais aplicações da missão espacial; b) a elaboração


de tabelas com dados técnicos sobre as principais características dos satélites da missão
espacial; c) a organização de gráficos que apresentam o período de vida útil dos satélites para
orientar o usuário que necessita de dados segundo uma lógica temporal; d) a construção de
textos explicativos e tabelas com dados técnicos sobre todos os equipamentos sensores
levados a bordo pela referida missão espacial; e) a busca por informações e divulgação de
trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Monitoramento por Satélite com apoio de imagens e
dados obtidos a partir da missão espacial; f) a seleção de exemplos de imagens obtidas pelos
sensores; g) a divulgação e registro das referências utilizadas para obtenção dos dados; h) a
seleção de animações com exemplos concretos de lançamento e operação dos sensores à
bordo das missões espaciais abordadas.

RESULTADOS
A sistematização dos dados resultou na elaboração do Website “Sistemas Orbitais de
Monitoramento e Gestão Territorial” (Embrapa, 2009), o qual disponibiliza ao público escolar
e demais interessados, as características técnicas das principais missões espaciais utilizadas e
com potencial de utilização em estudos ambientais no Brasil. Essas missões foram
selecionadas de diferentes categorias de satélites, incluindo os satélites de monitoramento de
recursos naturais, meteorológicos, científicos e aqueles voltados à navegação.

As missões espaciais selecionadas para compor o material foram: 1) Advanced Earth


Observing Satellite – Adeos; 2) ALMAZ; 3) Advanced Land Observing Satellite – ALOS; 4)
China-Brazil Earth Resources Satellite – CBERS; 5) Defense Meteorological Satellite
Program – DMSP; 6) Environmental Satellite – ENVISAT; 7) Earth Remote Observation
Satellite – EROS; 8) European Remote Sensing Satellite – ERS; 9) Galileo Positioning
System – GALILEO; 10) Geostationary Operational Environmental Satellite – GOES; 11)
Global Positioning System – GPS; 12) IKONOS; 13) Indian Remote Sensing Satellite – IRS;
14) Japanese Earth Resources Satellite – JERS; 15) Korea Multipurpose Satellite –
KOMPSAT; 16) Land Remote Sensing Satellite – LANDSAT; 17) Meteorological Satellite –
METEOSAT; 18) National Oceanic Atmospheric Administration – NOAA; 19) ORBVIEW,
inclusive GEOEYE; 20) QUICKBIRD; 21) RADARSAT; 22) RapidEye; 23) Système Pour
l´Observation de la Terre – SPOT; 24) Shuttle Radar Topography Mission – SRTM; 25)
Earth Observing System – TERRA e AQUA; e 26) TerraSAR-X Mission.

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O acesso ao banco de dados pode ser feito pela página principal do Website, conforme
Embrapa (2009), onde deve-se selecionar o satélite ou o sensor específico de interesse para
consultar sua respectiva ficha técnica. Caso o leitor opte pela seleção do satélite, será aberta
na sequência, outra pasta com as características completas da missão espacial escolhida. Caso
o leitor opte pela seleção do sensor, poderá acessar rapidamente as características específicas
do sensor escolhido, como a aplicação a que se destina e as respectivas tabelas de resoluções.

Com o surgimento e diversificação de novas missões espaciais e com a elaboração do


presente estudo, observou-se duas principais tendências no mercado de observação da terra. A
primeira se deve pela construção de plataformas especializadas em satélites de alta resolução
espacial, em geral constituídas de pequenos satélites que operam em conjunto para obtenção
de imagens em períodos curtos de revisita. A segunda tendência verificada foi a inclusão de
diferentes sistemas sensores num mesmo satélite para aquisição de informações completas
sobre um determinado tema específico, por exemplo, satélites especializados em obter dados
sobre aquecimento global ou interação planta, terra, solo e atmosfera.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Website “Sistemas Orbitais de Monitoramento e Gestão Territorial” agrega diversos
materiais com potencial de uso em sala de aula, em praticamente todas as disciplinas
escolares. Os materiais para acesso livre vão desde imagens de satélites, estudos de caso
realizados nas mais diversas áreas de interesse, vídeos e figuras que podem compor materiais
de apoio ao ensino.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EMBRAPA MONITORAMENTO POR SATÉLITE. Sistemas Orbitais de Monitoramento e
Gestão Territorial. Campinas: Embrapa Monitoramento por Satélite, 2009. Disponível em:
<http://www.sat.cnpm.embrapa.br>. Acesso em: 10 ago. 2009.

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O CONHECIMENTO DAS GEOCIÊNCIAS E OS CURRÍCULOS E SISTEMAS


AVALIATIVOS NACIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA: RELAÇÕES,
LIMITAÇÕES E POSSIBILIDADES

THE GEOSCIENCES KNOWLEDGE AND THE CURRICULUMS AND EVALUATIVE


NATIONAL SYSTEMS OF THE BASIC EDUCATION: RELATIONS, LIMITATIONS
AND POSSIBILITIES

Gabriel Guimarães Facuri1, Yara Kulaif2


1
Graduando em Geologia no Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas,
gabriel.facuri@ige.unicamp.br
2
Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino, Instituto de Geociências, Universidade Estadual de
Campinas, ykulaif@ige.unicamp.br

Resumo: Este trabalho relata o desenvolvimento de projeto de iniciação científica (IC) em


área relacionada às Geociências e Interdisciplinaridade e, como parte do grupo (Geo)Ciência,
Discurso e Ensino do IG /UNICAMP, insere-se em um projeto financiado pelo edital do
Observatório da Educação/CAPES/INEP. O projeto de IC prevê o registro e análise de todo o
processo de planejamento, aplicação e avaliação de unidades didáticas relacionadas às
geociências elaboradas por professores da escola básica no âmbito do projeto do
Observatório. Avaliará, a partir de situações concretas de sala de aula do Ensino Médio, que
possibilidades e potencialidades o ensino de conteúdos relacionados ao Ambiente, Mudanças
Climáticas e Geociências permite e como este ensino contextualizado se refletirá em
avaliações formais, como a que é proposta pelo ENEM. Dessa forma, através de entrevistas e
questionários com os professores e alunos envolvidos, estabelecerá as razões, percepções e
dificuldades que estão presentes nesta veiculação.

Palavras-chave: geociências, ensino médio, mudanças climáticas.

Abstract: This paper reports the development of a basic scientific research project (IC) in
area related to geosciences and interdisciplinary and, as part of the group (Geo) Science,
Speech and Education of IG/UNICAMP, participate in a project funded by CAPES / INEP.
The objectives of the IC are the recording and analysis of the whole process of planning,
implementation and evaluation of teaching units related to earth sciences developed by
teachers of high schools under the project of the Center. It intends to evaluate, based on real

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situations in the classroom, what opportunities and potential teaching content related to
Environment, Climate Change and Geosciences and how contextual teaching will be reflected
in formal assessments, such as that proposed by ENEM. Thus, through interviews and
questionnaires with teachers and students involved, determine the reasons, perceptions and
difficulties that are present in this process.

Keywords: geosciences, high school, climate change.

INTRODUÇÃO
Até a atualidade não se deu, no ensino de Ciências ou Geografia, a tão necessária
ênfase aos estudos geológicos. O Brasil, como país com território continental, necessita de um
verdadeiro exército de geólogos, a fim de que seus grandes recursos minerais e ambientais
possam ser localizados, estudados e explorados da maneira mais consciente possível.
Tentando construir uma sociedade ciente das transformações que o planeta passa,
conhecer os diferentes processos ou teorias para o entendimento dessas mudanças são de
extrema importância para que os estudantes saibam o que realmente está acontecendo e
possam ter condições de chegar às suas próprias conclusões sobre as mudanças climáticas.
Isso é mais uma transformação natural do planeta ou são causadas pelas alterações impostas
pelo ser humano sobre a natureza?

CONTEXTO DO PROJETO
Este projeto de iniciação científica faz parte de um subgrupo de pesquisa, o qual
trabalha na utilização de três eixos principais: Geociências, Linguagem e CTSA (ciência,
tecnologia, sociedade e ambiente). O subgrupo é composto por orientandos de mestrado e
iniciação científica, professores de Ensino Médio das redes pública e particular e orientadores
(Professores Doutores Henrique César da Silva e Yara Kulaif). Cada componente é formado
em uma especialidade das ciências, entre geógrafos, físicos, biólogos e geólogos, o que
possibilita para o grupo a reflexão interdisciplinar sobre ciência e seu ensino na educação
básica.
Desta maneira, estes pesquisadores, juntamente com outros quatro núcleos de
trabalho, faz parte de uma pesquisa que envolve a Unicamp, UFSC e UFSCar, e que é
financiada pelo programa Observatório da Educação da Capes e intitulado Processos
Avaliativos Nacionais como Subsídios para a Reflexão e o fazer Pedagógico no Campo do
Ensino de Ciências da Natureza.

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OBJETIVOS
São objetivos específicos do projeto de iniciação científica analisar que conteúdos de
Geociências e Geologia (com ênfase no meio ambiente e mudanças climáticas) poderiam estar
presentes no Ensino Médio, conhecer o interesse do professor do Ensino Médio em ministrar
estes conteúdos aos seus alunos e vivenciar a pesquisa de um experimento de sala de aula,
envolvendo alunos, professor e pesquisador, em que os alunos tenham uma ou mais aulas com
enfoque geológico. Para isso elaborará questionários e entrevistas com os professores e alunos
versando sobre as aulas e seu conteúdo.
Para a execução do projeto estão sendo realizadas reuniões semanais com os
professores e colegas pesquisadores para que sejam discutidos temas, aulas, troca de
experiências, etc. Além de dois encontros anuais com todo o grupo do projeto, das três
universidades.
Neste contexto, o grupo tem trabalhado no planejamento de uma unidade didática que
tratará do atual tema das Mudanças Climáticas, porém com um enfoque diferente daquele que
é veiculado pela mídia e pelos professores. Esta unidade será composta por um pequeno
número de aulas interdisciplinares que, utilizando-se do tema, apresentará “preceitos” ou
modos de pensar das Geociências. Essas aulas serão preparadas pelos professores, com a
ajuda do grupo, e depois ministradas por eles.

METODOLOGIA E REALIZAÇÕES
Inicialmente, a pesquisa consistiu em reuniões semanais com o subgrupo. Nessas
reuniões foram discutidas as questões do ENEM, seu papel no Ensino Médio e, com relação
às Geociências, os conteúdos ligados a elas.
Após esse período, iniciou-se um trabalho na forma de oficinas com os conteúdos de
Geociências fundamentais para o tratamento do assunto Mudanças Climáticas, estas voltadas,
principalmente, para os professores da rede. Constatou-se, através de depoimentos destes
mesmos professores, que as oficinas propiciaram uma mudança qualitativa no entendimento
dos processos envolvidos com as alterações climáticas, principalmente porque a maioria não
sabia que o planeta havia passado por várias mudanças climáticas ao longo da sua história,
muitas delas cíclicas.
Finalmente se iniciou a etapa de preparação da unidade didática. Primeiramente, foi-se
estipulado o limite para produzi-lo, ou seja, para que os professores o apliquem antes do
ENEM e em um período em que possam o adequar ao calendário e apostila dos alunos. Para
os professores das diferentes disciplinas foi escolhido o mês de Setembro, pois seria um
momento muito bom para “encaixar” as aulas sobre mudanças climáticas na sua disciplina.

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Após delimitado o prazo que deveria ser anterior à aplicação do ENEM 2009 nas
escolas, iniciaram-se as discussões sobre como e o que constaria na unidade. Até o presente
momento foi discutida apenas parte da estrutura. Decidiu-se que ela não será composta
meramente por aulas expositivas, mas sim com atividades que contemplem a ampla
participação dos alunos, ou seja, pretende-se partir do conhecimento prévio dos alunos sobre
mudanças climáticas.
Outra discussão se deu em torno do “conteúdo” da unidade, o que se quer transmitir ao
aluno. A proposta mais aceita no grupo foi a de que o importante não seria transmitir
conteúdos estritos de Geociências, mas sim, apresentar a eles algumas formas de pensar quase
que exclusivas dessas Ciências. Dentro dessas formas foram escolhidas basicamente três.
A noção de escala, ou seja, levar o aluno a perceber que os fenômenos ocorrem em
escalas muito diferentes e que a apreensão disto leva também a interpretações diferentes. Um
exemplo dentro das mudanças climáticas poderia ser a observação das alterações de
temperatura quando se observam somente os últimos 200 anos (o que levaria a um gráfico que
representaria um grande aumento na temperatura), ou quando se estudam as últimas dezenas
de milhares ou milhões de anos (representadas por um gráfico que apresentaria certa
ciclicidade, sem grandes alterações). Ao se fazer a conexão entre os dois gráficos, nota-se o
quão restrito é se trabalhar com uma escala de tempo tão pequena como 200 anos para se
estudar o tema e alcançar-se ia outra visão sobre o que está ocorrendo no planeta.
Outro “conteúdo” seria a idéia de que a Terra não depende do homem, mas que o
homem depende da Terra. Com isso pretende-se introduzir aos alunos a idéia de certa
insignificância do ser humano perto da grandiosidade do planeta, ou seja, que o Sistema Terra
é um sistema que funciona e se altera mesmo sem a interferência consciente da humanidade.
Isto pois a mídia sempre traz a idéia de se preservar o planeta, ou de não destruição deste sem
mencionar que processos estão ocorrendo e suas causas são várias, muitas independentes da
atuação humana.
A terceira idéia seria a de que a Terra é um sistema muito complexo e dinâmico e seu
estudo e entendimento é, portanto, multidisciplinar. Esse é um dos motivos pelos quais o
grupo optou por trabalhar com professores de todas as disciplinas das chamadas Ciências,
como Física, Química, e Biologia, além da Geografia.

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CONCLUSÃO
Com questões como estas pretende-se criar a unidade didática, ministrá-la e começar a
colher seus resultados pelo menos até outubro de 2009. Em novembro do mesmo ano já se
poderá contar com resultados da aplicação da unidade, que, pretende-se, será retrabalhada
para aplicação no próximo ano letivo.

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aprender: didática e formação de professores. Porto Alegre: EDIPUCRS, v. 1. p. 253-
267.

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Ministério da Educação e Cultura / SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações


curriculares para o Ensino Médio: Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília:
MEC/ SEMTEC, 2006. 3 v.

Ministério da Educação e Cultura / SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Orientações


curriculares para o Ensino Médio: Ciências da Natureza, Matemática e suas
tecnologias. Brasília: MEC/ SEMTEC, 2006. 2 v.

Ministério da Educação e Cultura/ Secretaria de Educação Média e Tecnológica. 2002. PCN


+ Ensino Médio: Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais – Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC/
SEMTEC.

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Ministério da Educação e Cultura/ Secretaria de Educação Média e Tecnológica. 2002. PCN


+ Ensino Médio: Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias.
Brasília: MEC/ SEMTEC.

Ramos, M. B.; Linsingen, I. V. ; Cassiani (SOUZA), S. . Ciência e tecnologia no Jornal


Nacional um exercício de análise discursiva para se pensar o trabalho da linguagem
televisiva em aulas de ciências. In: VII Jornadas Latino-Americanas de Estudos Sociais
das Ciências e das Tecnologias, 2008, Rio de Janeiro. Atas do VII Esocite, 2008. v. 1. p.
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Ribeiro, B.B.D. A função social da avaliação escolar e as políticas de avaliação da educação


básica no Brasil nos anos 90: breves considerações. Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG,
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produção do imaginário e discursos de professores. Dissertação de Mestrado, Instituto
de Geociências, Universidade Estadual de Campinas.

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UMA REFLEXÃO SOBRE AS POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES DA INSERÇÃO


DE TEMAS DE GEOCIÊNCIAS NA DISCIPLINA DE BIOLOGIA

A REFLECTION ON THE POSSIBILITIES AND LIMITATIONS OF THE INCLUSION


OF ISSUES OF GEOSCIENCES IN THE DISCIPLINE OF BIOLOGY

Gabriela Finco1, Profa. Dra. Yara Kulaif,2


1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra IG/UNICAMP,
gabrielafinco@hotmail.com
2
Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino - Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de
Ciências da Terra IG/UNICAMP, ykulaif@ige.unicamp.br

Apoio financeiro: Observatório da Educação/Capes/INEP

Resumo: O trabalho parte do pressuposto de que os temas geocientíficos, além do caráter


interdisciplinar (utiliza os conhecimentos fundamentais de outras disciplinas), são de enorme
importância para a formação de indivíduos conscientes e atuantes na sociedade. Objetiva o
estudo de possibilidades e limitações para a ampliação de assuntos e enfoques das
Geociências no programa da disciplina de Biologia do ensino Médio, conforme estabelecido
pelos documentos oficiais do MEC e refletido em avaliações como o ENEM. Para isso,
acompanha a produção e aplicação de unidade didática em séries do EM, de uma escola da
região de Campinas e, a partir de sua análise, pretende estabelecer sugestões para
modificações tanto nos programas quanto no formato dos exames de avaliação oficiais para
essa disciplina.

Palavras-chave: Geociências, Biologia, ensino Médio, interdisciplinaridade, cidadania.

Abstract: The paper is based on the assumption that the geoscience themes, besides the
interdisciplinary character (using the basic knowledge of other disciplines), are of great
importance for the formation of conscious and active individuals in society. The objective is
the study of the possibilities and limitations for the expansion of subjects and approaches of
the Geosciences in the High School (Ensino Médio) biology’s program, as established by
official documents of the Education Ministery of Brazil (MEC) and reflected in the ratings of
High School National Examination (ENEM). Thus, the research follows the production and

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application of didactic unit in the High Scholl degress, at a particular school in Campinas
surroundings and, from its analysis, should provide suggestions for changes in both, programs
and format, of officials examinations of this discipline.

Keywords: Geosciences, Biology, high school, interdisciplinarity, citizenship.

INTRODUÇÃO
Este trabalho apresenta resultados parciais de pesquisa em nível de mestrado. O tema
surgiu de questões relacionadas à docência de Biologia (no Ensino Médio) e de experiências
vividas durante a iniciação científica em um projeto de Formação Continuada de Professores
em Exercício do Ensino Fundamental (Compiani et al, 1996). Além disso, a oportunidade de
cursar algumas disciplinas ligadas às Geociências, trouxe à tona questões sobre o ensino
interdisciplinar na área de Biologia.
Esta pesquisa propõe a correta introdução de conceitos das Geociências, de maneira
interdisciplinar, nas disciplinas de Biologia do Ensino Médio, em um trabalho de pesquisa
participativa em que se pretende auxiliar professores em exercício na preparação de
aulas/unidades didáticas e desta experiência extrair dados para posterior análise. Para a coleta
de dados, a pesquisa (de mestrado) inseriu-se no escopo do projeto “Processos avaliativos
nacionais como subsídios para a reflexão e o fazer pedagógicos no campo de ensino de
Ciências da natureza”, financiado pelo Observatório da Educação/Capes/INEP.
É fato que, a tradicional forma de se ensinar os conteúdos do currículo disciplinar do
Ensino Médio, caracterizada pela mera transmissão de conhecimentos, aos poucos está sendo
deixada de lado. Em substituição, surge a proposta de um ensino contextualizado, que
desperta o interesse e a vontade de aprender. A aproximação da pesquisa à docência permite
expectativas realistas e otimistas em relação aos possíveis resultados, e, como escreveu
Moreira (1998, p. 45), em seu trabalho sobre o professor-pesquisador, “pesquisar em ensino é,
sobretudo, refletir criticamente a respeito da prática docente.”
Deste modo, este estudo discute a importância da inserção dos temas de Geociências
no Ensino Médio e enfoca a necessidade imediata de mudanças no ensino de Biologia, sendo
postulado aos alunos como algo já descoberto, verdadeiro, único e descontextualizado.
Destaca, concomitantemente, alguns pontos interessantes em relação às Geociências e o
Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM.
Para a compreensão da proposta de ensino de Geociências no Ensino Médio, situo
historicamente a extinção do curso superior de História Natural, em 1970, e a fragmentação

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de seus conteúdos, principalmente, nos cursos de graduação em Geologia, Biologia e


Geografia. Com isso, os temas geocientíficos deixaram de participar, significativamente, do
Ensino Básico brasileiro.

UMA BREVE APRESENTAÇÃO DO PROJETO REFERENTE AOS PROCESSOS


AVALIATIVOS
O projeto “Processos avaliativos nacionais como subsídios para a reflexão e o fazer
pedagógicos no campo de ensino de Ciências da natureza” envolve membros de três
universidades públicas (Universidade Estadual de Campinas, Universidade Federal de São
Carlos e Universidade Federal de Santa Catarina), que desenvolvem, paralelamente, suas
pesquisas dentro da proposta inicial.
O grupo que da Unicamp é formado por dois conjuntos que trabalham de maneira
integrada. O primeiro é formado por professores do Ensino Básico que atuam na produção de
metodologias para/em sala de aula, utilizando-se da pesquisa-ação para produzir suas
reflexões, e o segundo, formado por orientandos de iniciação científica e de pós-graduação,
que apresentam suas pesquisas atreladas, de alguma forma, ao trabalho do grupo de
professores. Os trabalhos e estudos desenvolvidos no grupo do IG/UNICAMP possuem três
eixos que orientam as pesquisas. Esses eixos consistem em assuntos associados aos temas
abaixo:
- Geociências, contextualização e interdisciplinaridade (constitui uma forma de olhar o
mundo natural mantendo grandes relações com a Biologia, a Química e a Física);
- Linguagem, discurso e leitura (onde o conteúdo é verificado através de uma
materialidade), e;
- CTSA (ou seja, o conhecimento relacionado com a sociedade, as tecnologias e o
ambiente).
As atividades do grupo incluem encontros semanais para estudos de textos, participação
de oficinas, com vistas a municiar o trabalho de reflexão e análise das políticas avaliativas do
país. Desse contexto, visa-se extrair dados que servirão como plataforma de observação para
esta pesquisa de mestrado.

OS TEMAS GEOCIENTÍFICOS E A FORMAÇÃO DE INDIVÍDUOS CRÍTICOS


Argumentos que favorecem uma melhor e maior abordagem dos assuntos geológicos
no Ensino Médio são desenvolvidos por vários autores, dos quais aqui destacamos apenas
alguns. Segundo Carneiro et al (2004), em seu artigo intitulado Dez Motivos para a Inclusão

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de Temas de Geologia na Educação Básica, existem inúmeras são as razões para a inserção
das Geociências no ensino atual. Os autores defendem que o estudo das Geociências pode
contribuir para a formação de indivíduos críticos, questionadores da aplicação racional das
tecnologias científicas e, neste sentido, criticam a superficialidade do ensino, em decorrência
de sua fragmentação. Destacam que a possibilidade de se trabalhar, na escola, com os temas
de Geociências, traz questões extremamente atuais e relevantes, ligadas à sustentabilidade do
planeta versus os recursos naturais disponíveis, pois o homem, além de ocupar e “sobreviver”
no ambiente, também o explora e degrada.
Considera-se também, e este é um dos pontos que justifica essa pesquisa de mestrado,
que conhecimentos técnicos específicos em Geociências são necessários na formação dos
mais diversos profissionais, como Biólogos, Engenheiros e Arquitetos que, para o
desenvolvimento de suas atividades, precisam de conteúdos de Geologia, por exemplo, e da
composição material das camadas da Terra. No caso dos conteúdos ministrados no Ensino
Básico, referente aos recursos naturais, por exemplo, esse assunto é normalmente
apresentado ao estudante com o objetivo de servir à sua utilização econômica, excluindo, de
certo modo, a possibilidade da compreensão de que esses recursos são limitados e que não são
conhecidos processos tecnológicos capazes de reproduzir aqueles de sua formação e
armazenamento. Além disso, as conseqüências da inadequada exploração e descarte de
resíduos provocam desequilíbrio ambiental de difícil controle pela sociedade.
Partindo desses pressupostos, foram analisados alguns conteúdos selecionados do livro
didático da disciplina de Biologia (LOPES e ROSSO, 2005), escolhido e adotado por uma
escola da rede pública de Campinas e, a seguir, são sugeridas idéias de como inserir assuntos
ligados às Geociências nas aulas de Biologia.

AS GEOCIÊNCIAS NA DISCIPLINA DE BIOLOGIA DO ENSINO MÉDIO


Segundo as orientações educacionais atuais, a necessidade de temas geocientíficos no
Ensino Básico é imprescindível, devido à crescente interação das atividades humanas com a
dinâmica do meio natural, e ao aumento populacional ocorrido no século XX (Carneiro et al,
2004). Um dos pontos defendidos por esses autores é o de que o ensino deve proporcionar
informações sobre riscos geológicos, suas causas e conseqüências para a humanidade, pois
muitos dos processos naturais estão sofrendo consideráveis interferências das atividades
humanas. Desta forma, alguns tópicos e assuntos da disciplina de Biologia merecem atenção
especial, pois permitem uma inter relação com temas de Geociências. Vejamos alguns
exemplos de como os temas biológicos podem ser abordados de uma forma diferenciada.

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Na introdução ao estudo da origem da vida, ao se tratar do aparecimento dos primeiros


seres vivos, é necessária a compreensão de como se deu a origem do nosso planeta, no que diz
respeito à composição e características da sua superfície. Ao considerarmos as hipóteses
sobre a origem da vida, temos como testemunhos, os registros encontrados nas rochas, que
trazem pistas de como eram as condições ambientais na época.
A hipótese de Oparin e Haldane, que diz que os primeiros seres vivos formaram-se a
partir de moléculas orgânicas que se originaram na atmosfera primitiva, exige também
alguma noção de como eram as condições e composição atmosférica no passado.
No caso da evolução do metabolismo dos seres vivos, mais especificamente nas
hipóteses heterotróficas e autotróficas, que discutem quais seriam os primeiros seres a
conseguir e degradar alimentos do ambiente, informações sobre meteoritos que colidiam
fortemente com a Terra e as conseqüências desses impactos – principalmente as mudanças
climáticas e da composição atmosférica - devem ser de conhecimento do estudante.
Baseando-se nas condições da Terra naquela época, é que se torna possível imaginar quais
seriam os seres que se adaptariam a tal cenário.
O tempo geológico também é objeto de estudo da Biologia, mas só é abordado após o
surgimento dos primeiros registros de vida, ou seja, a partir de 3,8 bilhões de anos. Nesse
momento, as grandes extinções em massa e a teoria das tectônicas de placas são de extrema
necessidade para o entendimento da dinâmica dos processos.
De uma maneira mais global, é importante que, ao se estudar a biosfera, sejam
também exploradas as demais “esferas” do planeta, ou seja, a atmosfera, a hidrosfera e a
litosfera, pois os limites entre elas são sutis e suas interações bastante intensas. Como
Carneiro et al. (2004) destacam,
“Sem os conteúdos correspondentes, não se pode emitir
julgamento sobre os riscos das atividades de ocupação e uso das
paisagens e dos materiais, sobre a viabilidade das soluções propostas
para determinados problemas, etc. Esses e outros conhecimentos são
absolutamente tão importantes quanto a detalhada abordagem de
temas biológicos previstos nos PCNEM.” (p. 558)
No tópico do metabolismo energético das células, mais exatamente do processo da
fotossíntese, estuda-se que a radiação solar é a fonte de energia responsável pela vida,
entretanto essa não é a única fonte energética para os processos terrestres. Deste modo,
introduzimos noções de transformações, movimento e das outras fontes de energia do planeta
(radiogênica, gravitacional, magnética, entre outras).

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Ao se chegar no tópico doenças virais, problemas de saneamento básico e má


ocupação urbana podem ser relacionados com a procriação de certos vetores transmissores de
doenças, como a dengue e a febre amarela. Isso se repete para algumas doenças causadas por
protozoários, como malária, disenteria amebiana, giardíase e leishmaniose.
No tópico do estudo do Reino Monera (Reino que engloba as bactérias), há
exemplares de seres que auxiliam no tratamento do esgoto e lixo. Aqui, pontos como a
construção de aterros sanitários e os riscos dos lixões podem ser tratados de forma a
contribuir para uma formação mais consciente. Quanto às doenças bacterianas, temos o
cólera e a leptospirose, ligadas a problemas de águas contaminadas associadas a enchentes e
contato humano. Mais uma vez o problema da ocupação inadequada vem à tona. Quanto aos
riscos geológicos, Carneiro et. al. defendem que;
“O enfoque sistêmico de CST favorece currículos de
Educação Básica capazes de articular o entendimento dos processos
naturais com o das atividades humanas. A idéia de risco geológico
possui profundas raízes nessas relações; sua apropriação didática
contribuirá significativamente para o entendimento do papel do
Homem no funcionamento do planeta.” (p. 555)
Voltando aos tópicos biológicos, em Botânica, mais especificamente ao se estudar
Histologia Vegetal (estudo dos tecidos das plantas), é perfeitamente possível relacionar o
desenvolvimento dos vasos condutores de seiva (xilema) com a variação das condições
ambientais, principalmente em relação à temperatura e disponibilidade de água no ambiente.
As diferenças de tonalidades dos anéis do tronco de uma árvore, que consiste no calibre
desses vasos condutores de seiva, indicam a passagem de uma estação quente seguida de uma
fria, ou seja, um ano. Em Geologia, esse estudo é conhecido como dendrocronologia, ou
seja, “a datação de troncos de árvores pela contagem e medição da espessura dos anéis de
crescimento. A variação na espessura desses anéis reflete não apenas o ciclo anual das
estações, como também mudanças climáticas de longa duração”. (Teixeira et al., 2000, p.
325)
Ainda em Botânica, observamos que há mecanismos de dispersão de sementes através
do vento (anemocoria) e da água (hidrocória), devido ao seu formato anatomicamente
adequado (sementes leves, aladas e flutuantes, respectivamente). Mudanças climáticas
interferem diretamente na dispersão e sucesso dessas espécies vegetais. Ao se estudar as
Gimnospermas, alguns exemplares primitivos, em comum, podem ser citados habitando
locais distintos, como a costa do Brasil e da África, evidenciando a Teoria da Deriva

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Continental e a movimentação das placas tectônicas.


A luz e a duração do dia e da noite também interferem na germinação, crescimento e
floração das plantas. Há plantas adaptadas as estações do ano cujos dias são longos, outras
adaptadas a dias curtos e algumas indiferentes.
No Reino Metazoa, popularmente conhecido como Reino Animal, deve-se situar, na
Escala Geológica, o momento do surgimento da maioria das espécies animais, conhecido com
a “explosão do Cambriano”. Vale à pena salientar que no decorrer das Eras Geológicas, foi
possível verificar vários momentos de grandes extinções, e uma, ocorrida há cerca de 65
milhões de anos, pôs fim a Era dos Répteis. Acredita-se que um meteoro gigante atingiu a
Terra e provocou, entre outras catástrofes, a formação de uma poeira muito densa, que
impediu a penetração dos raios do Sol. Essa mudança brusca das condições da Terra afetou
principalmente os répteis, que são animais pecilotérmicos, ou seja, incapazes de manter a
temperatura corpórea. O planeta se encontrou num verdadeiro “inverno nuclear”, e esse
episódio terrestre é conhecido, pelos Geólogos, como “Evento K/T”.
No item Evolução, temos os fósseis, que são verdadeiros registros de seres vivos
impressos em uma rocha. Desse modo, a compreensão, por parte do aluno, de como as rochas
se formam, é de grande importância, se o objetivo é mesmo uma contextualização no assunto.
Assim, há uma interação entre os seres que viveram numa determinada época e o ocorrido
com o ambiente, na mesma ocasião.
No estudo da Teoria Sintética da Evolução, mais conhecida como Neodarwinismo,
alguns fatores evolutivos relacionam-se com o ambiente, como as mutações, migrações e
deriva genética. No primeiro caso, a radiação presente é um dos fatores mutagênicos. Nas
migrações – entrada e saída de indivíduos numa dada população – o distanciamento dos locais
onde se encontram essas populações interfere diretamente na diminuição ou aumento das
diferenças genéticas entre os grupos envolvidos. Já a deriva genética é uma alteração na
freqüência dos genes de uma população devida, por exemplo, à destruição de alguma região,
via catástrofes ambientais.
No tópico surgimento de novas espécies – especiação – temos um tipo especial que
ocorre por isolamento geográfico. Eventos geológicos como a formação de montanhas ou a
ocorrência de terremotos podem formar uma faixa desabitada denominada barreira geológica,
que termina por impedir a migração de outros indivíduos desse grupo. Finalmente, alterações
gênicas que ocorrem num grupo dessa população podem não ocorrer no outro grupo, o que
impedirá que se cruzem e originem descendentes. A partir daí são consideradas espécies
diferentes.

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No item evolução humana, os hominídeos podem ser encaixados no tempo geológico


e as características de cada época podem ser analisadas.
Todavia, é em Ecologia que a interação ser vivo/ambiente fica mais expressiva. Aqui,
formando os ecossistemas, temos os fatores abióticos geológicos (solo), físicos (luz, umidade,
radiação solar, vento) e químicos (elementos presentes no solo, ar e água) relacionando-se
com os fatores bióticos, ou seja, os seres vivos. Aqui é interessante ressaltar que, para que a
vida tenha sucesso, os fatores abióticos (atmosfera, radiação solar, entre outros) precisam
estar em condições propícias à vida, e nem sempre essas condições foram favoráveis. Ainda
em Ecologia, ao chegarmos no tópico fluxo da matéria, mais exatamente nos ciclos
biogeoquímicos, observamos a “dança” dos elementos químicos no ambiente compondo os
seres vivos, nas suas mais diversas formas e combinações.
Na sucessão ecológica acompanha-se o ambiente sendo tomado, gradativamente, pela
vida, desde as formas mais simples até o alcançar do clímax e possível desertificação.
Nos biomas terrestres (tundra, taiga, florestas tropicais e temperadas, campos e
desertos) e nas regiões Fitogeográficas do Brasil (caatinga, mata de araucárias, pampas,
cerrado, entre outras), encontramos uma relação da flora, da fauna e de todos os fatores
geológicos, físicos e químicos que diferenciam cada um dos tipos citados. Isso sem falar das
regiões faunísticas da Terra - mapa da distribuição dos animais no planeta.
E concluindo, as várias formas de poluição (assunto extremamente social), nas
diversas esferas do planeta, provocam o desequilíbrio do ambiente e afetam os seres vivos em
geral. Cabe aqui a observação de que a Terra é um sistema dinâmico e que alguns fenômenos
têm natureza puramente inorgânica e natural, sendo, muitas vezes, as atividades humanas,
somente um catalisador desses acontecimentos.
Essa mescla de assuntos nos mostra que é possível ministrar aulas de Biologia com um
olhar mais amplo, objetivando uma melhor articulação dos conteúdos. Até mesmo para a
compreensão da grande maioria das notícias e reportagens que aparecem nos principais
jornais e revistas de circulação popular, o indivíduo precisa de noções básicas de Geociências,
pois, o entendimento desses fenômenos complexos, requer das pessoas em geral, um mínimo
de conhecimento sobre a dinâmica dos processos atuantes no planeta.

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CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Como exposto, acredita-se que será resultado deste trabalho de mestrado alertar para a
importância de aulas mais contextualizadas e mais significativas para alunos de Biologia no
Ensino Médio. E que pode-se fazer isto mesclando temas clássicos desta disciplina com
tópicos das Geociências. Pretende-se, também, detectar de que forma pode ocorrer essa
inserção no ambiente escolar e como isto se manifestaria em currículos e avaliações no
formato do ENEM.

Considerando-se que os temas geocientíficos contribuem para a formação de


indivíduos críticos e que um dos objetivos do ENEM é verificar as competências e
habilidades desenvolvidas para a argumentação, entre outras, seria possível o modo de pensar
das Geociências fornecer alguma habilidade/competência não presente no ENEM que possa
ser relevante para a formação de jovens atuantes? Verificou-se, na avaliação de 2007, que um
número significativo de questões permeia, sutilmente, temas geocientíficos. Essa constatação
sugere a importância de assuntos ligados às Geociências em avaliações nacionais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica.
Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999.
CARNEIRO, C. D. R.; TOLEDO, M. C. M. e ALMEIDA, F. F. M.. Dez motivos para
inclusão de temas de Geologia na Educação Básica. Revista Brasileira de Geociências, v. 34,
p. 553-560, 2004.
COMPIANI et al.. Projeto Geociências e a formação continuada de professores em
exercício do ensino fundamental. Financiadores: Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. 1996 -
2001.
MOREIRA, M. A.. O professor-pesquisador como instrumento de melhoria do ensino de
Ciências. Em Aberto, Brasília, ano 7, n. 40, p. 43-54, out./dez., 1998.
PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros
Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza. Secretaria de Educação Média e Tecnológica –
Brasília: MEC; SEMTEC, 2002, 104 p.
LOPES, S. e ROSSO, S.. Biologia – Volume único; 1a edição, São Paulo; Saraiva, 2005.
TEIXEIRA, W. et al (org.). Decifrando a Terra. Oficina de Textos; São Paulo; 2001, 559
p.

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TEXTUALIZAÇÃO DE TEMAS GEOCIENTÍFICOS PELO ENEM

TEXTUALIZATION OF GEOSCIENTIFIC ISSUES BY ENEM

Daiane Martins Galvão1, Henrique César da Silva2


1
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra

Instituto de Geociências – Unicamp, daiane@ige.unicamp.br


2
Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino - Instituto de Geociências – Unicamp

Programa de Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra, henriquecsilva@ig.unicamp.br

Apoio: Observatório da Educação/Capes/INEP

Resumo: Este trabalho tem por objetivo compreender como conhecimentos de Geociências
são abordados (textualizados e significados) no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).
Para tanto, tomaremos como fundamentação teórico-metodológica noções da Análise de
Discurso de origem francesa (AD), entre outros aportes, como aqueles relacionados à
epistemologia das Geociências e teoria do conhecimento geológico. Como recorte e foco da
pesquisa estão sendo analisados elementos que remetam a temas de Geociências, os quais
representam mais um modo de pensamento/modo de significar implicado nas realidades que
enfrentamos nas nossas vidas públicas e pessoais, especificamente, conteúdos que envolvam a
temática das Mudanças Climáticas.

Palavras-chave: Ensino de Ciências da Terra; Análise de Discurso; Epistemologia das


Geociências; ENEM; Mudanças Climáticas.

Abstract: This study has the objective of understand how the knowledge of geosciences are
treated of (textualized and meanings) in High School National Examination (ENEM). For
this, we´ll take as theoretical and methodological reasons the notions of French Discourse
Analysis (AD), among other notions, like those related to the epistemology of geosciences
and theory of knowledge and geological. Like to cut and focus of the research are being
analyzed elements that refer to themes of Geosciences, which represent another way of
thinking / way of the realities involved mean that we face in our personal and public life,
specifically, content involving the theme of Climate Change.

Keywords: Earth Sciences Teaching; Discourse Analysis; Geoscience Epistemology; ENEM;


Climate Change.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho se insere nos estudos para a dissertação do mestrado que desenvolvo e
faz parte de um projeto mais amplo, desenvolvido em rede com outras duas instituições,
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), e apoiado pelo Observatório da Educação/CAPES/INEP, que tem por objetivo
analisar discursos do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), acenando para uma série de
aspectos, inclusive em busca de novas propostas para esse processo de avaliação.
O ENEM é uma avaliação nacional que tem por objetivo avaliar os estudantes
concluintes do ensino médio, desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP), aplicada pela primeira vez em 1998 e que traz questões com
características importantes.
O objetivo central da minha dissertação é compreender como conhecimentos de
geociências são abordados (textualizados e significados) no ENEM, tanto o ENEM antigo,
aplicado até 2008, quanto o novo, que se iniciará a partir de 2009.
Pressuponho a importância de um ensino contextualizado, mas considerando o
contexto em suas dimensões histórico-social e simbólica e possível de transformações,
mudanças, deslocamentos, no intuito de contribuir para o desenvolvimento da formação de
sujeitos mais participativos e críticos nos processos que envolvam posicionamentos e tomadas
de decisão em questões que relacionam ambiente, tecnologia e conhecimento científico em
nossa sociedade.
Para tanto, serão caracterizados processos de textualização e significação do discurso
científico no contexto dessa avaliação oficial, tendo como fundamentação teórico-
metodológica noções da Análise de Discurso de origem francesa (Orlandi, 1996), entre outros
aportes, como aqueles relacionados à epistemologia das geociências (Frodeman, 2001).
Segundo a AD, a análise desses textos (escritos ou orais, verbais e não-verbais) se dá
no encontro entre a descrição de sua materialidade e a relação com a memória discursiva, ou
interdiscurso, ou seja, outros sentidos que permitem a essa materialidade significar numa ou
noutra direção (Orlandi, 1999).
Diante disso, a análise foca o processo de produção do discurso e não apenas os
“conteúdos” das questões ou suas condições “externas” de produção, levando em conta a
natureza histórico-social e simbólica desses textos.
Assim, estaremos preocupados em compreender a textualização desses discursos, ou
seja, como alguns conteúdos de ensino e determinadas formas de abordá-los foram possíveis
dentro de uma determinada interpretação da situação sócio-histórica relacionadas àquela
questão e que conteúdos ou formas de abordagem foram apagados, com foco em significações

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que remetem à Terra.


Em um primeiro momento, neste trabalho, foi feito uma tabela contendo um
levantamento de todas as provas já aplicadas do ENEM, onde foram selecionadas todas as
questões que envolvam diretamente e indiretamente a temática “Mudanças Climáticas”.
Levamos em consideração que, epistemologicamente, as Ciências da Terra
representam um modo específico de raciocínio, mais interpretativo do que factual, mais
histórico do que experimental, mais sistêmico do que fragmentado, o que traz implicações
para sentidos produzidos e lugares de significação. Sob esta perspectiva que olharemos os
conteúdos geocientíficos, que estudam e explicam os fenômenos naturais que estão
acontecendo no planeta.

REFERENCIAIS TEÓRICO-METODOLÓGICOS
Nesta pesquisa buscamos investigar as textualizações e significações de temas
geocientíficos no contexto do Exame Nacional do Ensino Médio, ou seja, efeitos de sentidos e
algumas de suas condições de produção.
Considerando que o contexto do conhecimento geológico é parte dessas condições que
poderão estar influenciando em configurações específicas ao tratar dessa temática, a
epistemologia das geociências a e teoria do conhecimento geológico também são importantes
como referenciais teóricos, já que fornecerão elementos sobre as especificidades desse campo
de conhecimento para compreendermos as especificidades sobre como as Geociências são
textualizadas nesse campo.
No entanto, o principal referencial teórico deste estudo são noções desenvolvidas na
linha de investigação da Análise de Discurso de origem francesa, tal como vêm sendo
desenvolvidos no Brasil por Eni Orlandi. Essa linha de investigação tem por objetivo
trabalhar uma forma de análise que, não separando forma e conteúdo, considera o contexto
histórico-social das produções das significações na relação com a materialidade textual.
Assim, busca-se identificar diversos elementos importantes na materialidade textual (verbal e
imagética) que participam dos processos de produção de significações (Orlandi, 2005).
Dentro desse quadro teórico na Análise de Discurso não é possível considerar os
discursos e textos didáticos, a serem investigados, enquanto transmissão de informações,
como se os sentidos estivesse contidos nos textos, ou como se fossem transferidos entre texto
e leitor, ou mesmo entre interlocutores, no caso, professores e alunos, pois é na relação entre a
materialidade textual e o interdiscurso que eles se produzem. O discurso trata-se de um objeto
histórico-ideológico, e os textos, um feixe de diferentes sentidos possíveis, conforme as
condições de produção em que os enunciados desse discurso são (re)produzidos e a forma

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como o sujeito (autor e leitor) se inscreve nesses enunciados. Portanto, o discurso é


compreendido como efeito de sentidos entre locutores (Orlandi, 2001). Assim, na própria
produção discursiva há a inscrição do outro que está constituído na materialidade do texto
(Orlandi, 1996).
Esse referencial teórico compreende o discurso como efeito de sentidos na relação
entre locutores, mediada pelo texto. As reflexões sobre os discursos neste trabalho estão
sustentadas na intenção de relacionar condições de produção e efeitos de sentidos. Assim,
para a análise de discurso, nessa abordagem, compreender os sentidos implica em buscar as
condições de produção dos discursos, que incluem o contexto sócio-histórico e ideológico de
formulação dos textos, do qual fazem parte os sujeitos, as posições em que eles se situam, e a
interdiscursividade (Orlandi, 1996).
Eni Orlandi, a partir das idéias de Michel Pêcheux em seus estudos sobre a Análise de
Discurso, parte de alguns pressupostos como o de que, “não há sentido sem interpretação e
esta se encontra presente em dois níveis: o de quem fala e o de quem analisa” (Orlandi, 2005).
Se o texto em sua materialidade, é parte das condições de produção de leituras
(possibilidades de interpretação), ele é também produto de interpretação. Ou seja, pressupõe-
se que no contexto do conhecimento geológico, o conhecimento científico se textualiza em
determinadas direções, diferentemente do modo como se textualizaria em outras condições.
Ao produzir um texto, o autor faz gestos de interpretação que prendem o leitor nessa
textualidade constituindo assim ao mesmo tempo uma gama de efeitos-leitor correspondente.
Essa noção, a de efeito-leitor, nos permite compreender o leitor virtual que um texto prevê e
por quais mecanismos ele antecipa. Interessa-nos, particularmente, o modo como uma analise
focada na noção de efeito-leitor pode nos fornecer indicações sobre os trajetos que o texto
estipula para a convivência social com a ciência (Orlandi, 2005).
Se, de um lado, analisaremos a textualização identificando o efeito-leitor
correspondente, de outro analisaremos a produção de sentidos pelos leitores reais no contexto
dessa avaliação.
A noção de textualização está relacionada à idéia de versão e “a versão aqui significa:
direção, espaço significante, recorte do processo discursivo, gesto de interpretação,
identificação e reconhecimento do sujeito e do sentido.” (Orlandi, 1999).

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A NATUREZA DO CONHECIMENTO GEOLÓGICO


Através do ponto de vista epistemológico a geologia é uma ciência histórica da
natureza que se caracteriza por ser interpretativa e descritiva. Permite criar modelos que
possam explicar os fenômenos estudados (Compiani, 1996).
Segundo Potapova (1968), ao caracterizar uma ciência, falamos de seu objeto e
metodologia. O objeto de qualquer ciência compreende certos fenômenos do mundo material
e ele é inesgotável como a própria ciência. O conceito “objeto de uma ciência” deve ser
distinto do conceito “objeto de investigação”, e pode ser definido como um processo histórico
e geológico. Sendo assim, o objeto da Geologia caracteriza por conter em si elementos de
ciências da natureza e elementos de ciência histórica.
Em relação a questões metodológicas, Chamberlain (1897) destacou, em seu artigo
“The method of multiple working hypotesis”, que o método das ciências geológicas deveria
ser mais criativo, e que o papel da criatividade era importante na geração de múltiplas
hipóteses de trabalho, em contraposição ao método de trabalho envolvendo uma hipótese
única. Chamberlain parece sugerir que o raciocínio geológico dependa de uma linguagem
visual própria.
De acordo com Potapova (1968), a geologia é uma “ciência histórica da natureza” por
se dedicar ao estudo do desenvolvimento histórico dos processos naturais “fixados” na crosta
terrestre e dependentes de métodos de investigação histórico-comparativos.
A Geologia apresenta, de um lado, características das ciências da natureza, e, de outro,
características das ciências históricas. Os processos da Geologia são de natureza física,
química e biológica, e se desenvolvem numa variada escala de tempo e de espaço. Esses
processos, por se darem na natureza e não em laboratórios onde as variáveis podem ser
controladas, caracterizam-se por formar sistemas abertos, nos quais se pode constatar que uma
grande quantidade de variáveis se relacionam, ao longo do tempo e do espaço, envolvendo
causalidades complexas. A complexidade aparece, então, como a primeira característica
específica do objeto de estudo das ciências geológicas.
Segundo Potapova (1968), a geologia “tomada no seu sentido mais amplo, como a
mais ampla ciência do planeta”. Sua tarefa é estudar a história da terra com um todo, suas
várias esferas, camadas ou estratos e o núcleo.
Uma característica importante do objeto da Geologia diz respeito à construção do seu
conhecimento. Por estudar processos que ocorreram no passado e em escalas muito variadas,
a Geologia é uma ciência que se preocupa com o não visível, ou seja, não é possível uma
visualização integral dos seus processos. Ela trabalha através de registros das rochas hoje
existentes, e, a partir deles, tenta reconstituir a evolução dos processos que deram origem a

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essas rochas.
Outra característica que torna essa ciência diferente das ciências exatas, como a Física
e a Química, é o fato de que, por seus processos se desenvolverem sem um controle completo,
e envolverem variadas escalas de tempo e de espaço, os mesmos não podem ser reproduzidos
fielmente em laboratórios. Ou seja, é apenas de forma hipotética e reconstitutiva que podemos
reproduzir processos geológicos em condições de laboratório.
A construção do conhecimento em Geologia apresenta pontos importantes como a
valorização da descrição e da analogia, que aparecem na Geologia como ferramentas de
trabalho fundamentais para se conhecer os elementos gerais e particulares dos fenômenos.
Assim, os procedimentos metodológicos típicos da geologia como múltiplas hipóteses
explicativas, visualidade, raciocínio histórico e analógico, valorização da interpretação e
imaginação que foram expressos por Chamberlain, Potapova, e outros, afastam-na das
ciências experimentais “clássicas” como a Física e a Química.

GEOCIÊNCIAS
As Geociências (ou Ciências da Terra) são termos aplicados às ciências relacionadas
com o estudo do planeta Terra e sua dinâmica. São as ciências que consideram os principais
componentes do planeta Terra – oceanos, água potável, rochas, solos, etc. Aplicam
conhecimentos da física, geografia, matemática, química e biologia de modo a construir um
conhecimento quantitativo das principais áreas ou esferas do sistema Terra.
De acordo com Frodeman (1995) "as Geociências são mais do que irmã
epistemológica das grandes ciências experimentais - paradigmaticamente a Química e a
Física. Pelo contrário, as Ciências da Terra oferecem mais um modelo de pensamento para
lidar com as realidades que enfrentamos na nossa vida pública e pessoal".
Estudos sobre fenômenos tais como as Mudanças Climáticas é objeto de debate das
ciências da Terra, que ao estudar os processos atuais naturais ou antropogênicos (provocados
pelo homem) se apropriam de estudos da geologia, a qual está mais preocupada com estudos
ocorridos no passado.
É característica das geociências tratar de assuntos que envolvam escala global e
planetária, escalas temporais, sistemas e sub-sistemas (Sistema Solar, Sistema Terra-Lua,
Ciclos Astronômicos, Sistemas Marinhos, Clima, etc), esferas terrestres, bem como as
mudanças climáticas que ocorrem nessas esferas.
Os principais tópicos de estudos das ciências da Terra são: atmosfera (meteorologia,
climatologia, etc), biosfera (paleontologia, biogeografia, etc), hidrosfera (hidrologia,
oceanografia, geografia marinha, etc) litosfera ou geosfera (geologia, geografia ambiental,

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geoquímica, geomorfologia, geofísica, geografia física, mineralogia, petrologia, vulcanologia,


etc), pedosfera (ciências de solos) e noosfera.
No entanto, segundo Frodeman (1995), é possível identificar nas Ciências da Terra um
método diferente de raciocínio "um método que é mais deliberativo do que simplesmente de
cálculo, mais interpretativo do que puramente factual, e mais histórico do que experimental".

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE DOS DADOS


Esta pesquisa busca analisar os elementos que remetam a temas de Geociências, os
quais representam mais um modo de pensamento/modo de significar implicado nas realidades
que enfrentamos nas nossas vidas públicas e pessoais, especificamente, conteúdos que
envolvam a temática das Mudanças Climáticas.
O foco deste trabalho, caracterizando um primeiro momento da pesquisa, foi construir
uma tabela contendo um levantamento de todas as provas já aplicadas do ENEM, totalizando
11 provas correspondentes ao período de 1998 a 2008, onde foram selecionadas todas as
questões que envolvam diretamente e indiretamente a temática das “Mudanças Climáticas”.
A seleção das questões foi especificamente relacionada à essa temática, ou seja, foram
selecionadas todas as questões que abordam os seguintes temas referentes: efeito estufa,
aquecimento global, mudança climática, protocolo de Kyoto, CO2 e ciclo do carbono.
Neste levantamento não foram consideradas as questões que envolvam outros
aspectos, como exemplo os seguintes temas: concentração de poluentes no ar (monóxido de
carbono, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio), condições climáticas (seca, chuva, sol),
chuva ácida, concentração de oxigênio (O2), desmatamento da Amazônia e devastação da
Mata Atlântica, impacto ambiental causado por ácido sulfúrico, aspectos relacionados a água,
entre outros.
O ENEM é uma avaliação nacional que objetiva, entre outros, verificar o desempenho
dos alunos egressos do Ensino Médio, para aferir o desenvolvimento de algumas
competências para o pleno exercício da cidadania.
De acordo com relatórios do INEP, o ENEM é:
“estruturado a partir de uma matriz que indica a associação entre
conteúdos, competências e habilidades básicas próprias ao jovem e
jovem adulto, na fase de desenvolvimento cognitivo e social
correspondente ao término da escolaridade básica. Considera como
referências norteadoras: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), os Parâmetros Curriculares Nacionais, as Diretrizes
do Conselho Nacional de Educação sobre a Educação Básica e os

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textos da Reforma do Ensino Médio. Cada uma das cinco


competências que estruturam o Exame, embora correspondam a
domínios específicos da estrutura mental, funcionam de forma
orgânica e integrada. E elas expressam-se, especificamente no caso do
Enem, em vinte e uma habilidades.” (Relatório Pedagógico da Avaliação
de 2007, p. 41)

Neste levantamento buscamos apontar que, mesmo de uma forma bastante sutil, temas
ligados às Geociências, mais especificamente sobre as Mudanças Climáticas, aparecem nos
exames do ENEM, bem como apontar as habilidades e competências indicadas pela “Matrix
de Competências desenvolvida para estruturar o ENEM, a fim de definir claramente seus
pressupostos e delinear suas características operacionais” (ENEM, 2002). Esses temas, a um
primeiro olhar, parecem estar ligados a opiniões e questões mais críticas e de relevância social
e ambiental.
Das questões que abordam as mudanças climáticas, dentre os fatores que levaram a
isso, está o Protocolo de Kyoto, o qual representa um esforço considerável para alguns países
com relação ao aumento natural de suas emissões.
Pela tabela, pode ser observado que após a sua elaboração, as questões sobre
mudanças climáticas passaram a ser abordadas com maior frequência no Enem. E o fato dos
EUA não ter ratificado o acordo foi amplamente abordado à época pela mídia, o que levou os
examinadores do Enem a cobrarem isso na prova.
Segue abaixo a tabela, contendo a seleção de todas as questões que abordam essa
temática, identificadas pelo ano em que a prova foi aplicada, o número da questão na prova, o
principal tema de geociências tratado na questão, e a numeração correspondente as
habilidades e competências exigidas pelo ENEM em cada uma das questões.

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Tabela 1 – Seleção de questões do ENEM (1998 a 2008) que abordam a temática sobre as
Mudanças Climáticas. (* Não foi encontrado o relatório pedagógico de 2008)
Ano Número das questões e temas de geociências presentes Habilidades Competências

1999 35 Ciclo do carbono 7 II III V


2000 11 Aumento de temperatura e impacto ambiental 8 II IV V
2002 5 Protocolo de Kyoto – dados sobre emissões de CO2 em 13 I II IV V
alguns países
48 Protocolo de Kyoto – população e emissão de CO2 no 3 I III IV V
período de 50 anos
59 Temperatura média do planeta 11 I II V
2003 28 Variação climática 9 II III V
2005 4 Características geográficas de países 21 II III IV
40 Emissão de CO2 8 II IV V
2006 12 Mudança climática na América do Sul 10 II III V

29 Índice de emissão de CO2 20 II IV V


31 Aquecimento Global devido ao desequilíbrio energético 9 II III V

33 Efeito estufa 16 II III V


2007 12 Alterações climáticas 15 II III V
39 Atividades produtivas como forma de enfrentar mudanças 16 II III V
causadas pelo Aquecimento Global
40 Aumento da temperatura global interfere em região de 9 II III V
clima polar
41 Prejuízos que o Aquecimento Global pode causar à 13 I II IV V
biodiversidade no Ártico
42 Fatores que influenciam o Aquecimento Global - 2 I II III
atividade solar, gases estufa, ozônio, atividade vulcânica e
aerossóis
58 Emissão de gás estufa - produção e consumo do etanol 17 II III V

59 Substituição da gasolina pelo etanol buscando diminuir o 16 II III V


efeito estufa
60 Fontes de energia recomendável para diminuição do 8 II IV V
Aquecimento Global
2008 22 Diagrama de distribuição de energia proveniente do Sol; * *
CO2 está incluído no esquema.

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CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
Esse olhar para as avaliações do ENEM permite avançar para além da constatação de
equívocos conceituais, para compreender o processo pelo qual o campo epistemológico da
geologia intervém como condição de produção de textualização do conhecimento
geocientífico, com foco em Mudanças Climáticas.
Temos já identificado a produção da imagem de neutralidade com que se colocam as
questões do ENEM ao representarem uma situação socio-ambiental como se houvesse apenas
uma perspectiva de considerá-la, ou seja, uma só interpretação, e colocando o leitor diante de
uma única alternativa possível, apagando a idéia de que essa alternativa é uma leitura/versão
da realidade, implicada em tensões com outras versões.
Este tema “Mudanças Climáticas” é explorado no contexto escolar de várias maneiras.
E umas dessas maneiras é através das avaliações externas à escola, como o ENEM, o que
reforça ainda mais a importância de analisarmos e compreendermos como estão sendo
abordados. Assim, supomos que as avaliações têm um caráter de ensinar determinados
conteúdos, produzir determinados sentidos direta ou indiretamente.
Na breve análise dessas provas realizadas, a saber, o Exame Nacional do Ensino
Médio, foi possível diagnosticar que o tema é tratado em diversas questões. Partindo desse
fato, vamos procurar compreender o que/como estão sendo "inseridos" direta ou
indiretamente no contexto dessas avaliações, pois trata-se de um fenômeno climático muito
explorado pela mídia e que desperta o interesse da sociedade com relação ao futuro, o que não
poderia ser diferente nas escolas.

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COMO ENSINAR CONCEITOS DE MINERAIS E ROCHAS A ALUNOS DE


GEOLOGIA E GEOGRAFIA ?

HOW CAN STUDENTS OF GEOLOGY AND GEOGRAPHY LEARN CONCEPTS OF


MINERALS AND ROCKS ?

Pedro Wagner Gonçalves1, Celso Dal Ré Carneiro2, Carlos Alberto Lobão da Silveira Cunha3,
Oscar Braz Mendonza Negrão4
1
Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra, Instituto de Geociências, UNICAMP,
pedrog@ige.unicamp.br

² Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra, Instituto de Geociências, UNICAMP,


cedrec@ige.unicamp.br

³ Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra, Instituto de Geociências, UNICAMP,


lobao@ige.unicamp.br
4
Pós-Graduação em Ensino e História de Ciências da Terra, Instituto de Geociências, UNICAMP,
oscar@ige.unicamp.br

Resumo: Estudos de rochas e minerais constituem desafio educativo para muitos professores,
diretamente proporcional ao sentimento de incapacidade de tratar tema tido como complexo e
difícil de trazer para o ambiente de sala-de-aula. Este trabalho expõe atividades de
classificação de minerais realizadas na disciplina Ciência do Sistema Terra oferecida a alunos
de Geologia e Geografia da Universidade Estadual de Campinas (Estado de São Paulo,
Brasil). Investiga como a manipulação de amostras de minerais e rochas contribui para formar
uma ideia de ambiente terrestre. Revela que atividades práticas e de laboratório de
Geociências são diferentes de outras áreas das ciências. Defende que é necessário trabalhar
em distintas escalas para os estudantes de ensino superior compreenderem a transformação de
materiais terrestres a partir da comparação de amostras.

Palavras-chave: Ensino de Geociências, minerais e rochas, ensino superior, amostras e


manipulação didática.

Abstract: Studies of rocks and minerals impose an educational challenge for many teachers,
which is proportional to a relative inability to address the issue. This paper shows up activities
on classification of minerals. This is part of an Earth Science System program to students of
geology and geography at the University of Campinas (Sao Paulo State, Brazil). We

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investigate how didactic handling of samples help students to build a concept of terrestrial
environment. It reveals that practical activities and laboratory of Earth Sciences are other
quite areas of sciences. We defend that is necessary to work under distinct spatial scales for
the students understand the transformation of Earth materials by means of comparison of
samples.

Keywords: Teaching of Earth Sciences, minerals and rocks, undergraduate level, didactic
handling of samples.

INTRODUÇÃO
O que as Ciências da Terra oferecem que não está presente no ensino comum de outras
questões ambientais? Qual é a ideia de natureza e como ela influencia a formação dos alunos
de ensino superior? O que tarefas rotineiras como classificar minerais e rochas contribuem
para conceber o ambiente? A classificação de amostras contribui para entender o ambiente?
Nos limites deste texto, trata-se de explorar de forma restrita essas perguntas.
Pretende-se enfatizar a importância de atividades práticas de Geociências à medida que o
alcance de atividades práticas de minerais e rochas é mostrado.

OBJETIVOS
Pretende-se mostrar semelhanças e diferenças entre atividades práticas e de laboratório
feitas em ciências e manipulação de amostras de rochas e minerais realizadas em Geociências.
As funções educativas vinculadas às interpretações de minerais e rochas contribuem
para formar uma ideia mais clara de ambiente terrestre que é alvo último de estudos dos
materiais terrestres.

REFERENCIAL TEÓRICO
Montardo (2007) assinala a importância de estudar materiais terrestres por meio de
amostras de rochas, minerais e fósseis. Argumenta que o conhecimento da dinâmica terrestre
é crucial para compreender os fenômenos ambientais que afetam as sociedades humanas
(furacões, inundações, movimentos de massa, terremotos, etc.).
Bonito e Trindade (1999) assinalam que atividades de laboratório são oportunidades
para desenvolver atitudes científicas pelos alunos. Os alunos podem perseguir: rigor, cautela e
honestidade intelectual para generalizar ideias. Os autores classificam tais atividades em 3
tipos: comprobatórias, investigativas e de resolução de problemas.

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Em termos esquemáticos, sobretudo a partir do ESCP (1973), as atividades práticas de


Ensino de Geociências foram vinculadas ao ensino de métodos empregados pela ciência. O
currículo e o programa exposto por meio desse livro curso tornam o levantamento de dados
absolutamente estratégico para ensinar o funcionamento de processos, balanços e fluxos de
matéria e energia.
Amaral (1981 p.106) descreve sinteticamente o conteúdo e o enfoque adotado pelo
ESCP. Revela como as categorias processo e produto acham-se equilibradas ao longo dos
capítulos, o que é outro modo de demonstrar a importância dos aspectos metodológicos na
construção do conhecimento.
De outro lado, Bonito (2001) conduz ao mesmo argumento. Defende que o objetivo
prioritário de atividades práticas do Ensino de Ciências é o ensino dos métodos, algo
considerado tão importante quanto o entendimento de conceitos e processos. Assinala que
atividades práticas e de laboratório permitem que cada aluno use materiais, maneje
equipamentos, faça medições, elabore projetos, invente, descubra e simule como o
conhecimento científico é elaborado.
De forma bastante detalhada, esse trabalho expõe as funções didáticas das atividades
práticas e de laboratório em Geociências. De fato, corresponde a esmiuçar o que fora indicado
por Bonito e Trindade (1999). O estudo indica cinco papéis didáticos principais que
envolvem: a atividade em si, o papel desempenhado por alunos e professores, e os objetivos
educacionais alcançáveis em cada um dos tipos descrito.
O primeiro tipo é voltado para o desenvolvimento de habilidades. É atividade adotada
quando o professor quer que seus alunos aprendam habilidades específicas e instrumentais. O
aluno aprende a controlar variáveis, utilizar equipamentos e dispositivos ou, técnicas
específicas de laboratório.
O segundo tipo é ilustrativo. Deve verificar ou comprovar conceito ou princípio
previamente estudado. Implica fornecer o problema a ser estudado, material necessário,
procedimentos adotados e indicar dados que vão ser obtidos. O próprio autor assinala que
atividades ilustrativas promovem debate por meio de erros e dificuldades de medição, essas
discrepâncias revelam algo sobre os nexos e tensões de teoria e prática.
Em seguida, descreve atividades investigativas. Este caráter acha-se ligado a um
problema que dirige o estudo do aluno para obter o conhecimento de uma lei, ou princípio,
etc. Envolve várias técnicas que podem conduzir a generalizações ou inferências.
Outro tipo de atividade prática implica resolver problemas. Segundo o autor, os alunos
dirigem suas atividades sob orientação dos professores, cabe aos alunos aplicar métodos e

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coletar dados. Geralmente os alunos devem produzir relatórios explicativos nos quais
apresentam seus problemas, métodos usados, dados obtidos e conclusões. É um tipo no qual o
estudante, usualmente organizado em pequenos grupos, possui uma semiautonomia para
buscar os modos como resolver um problema previamente definido.
O quinto tipo é resolução autônoma de problemas. O professor apenas fica a
disposição dos alunos para ajudar. Evidentemente essa autonomia depende do domínio prévio
(conceitual e instrumental) do uso do laboratório para explorar um certo assunto. Este último
caso é o desenvolvimento de certo conteúdo por meio de um projeto autônomo do aluno –
algo que se aproxima de uma atividade de pesquisa.
Se explorarmos a ideia de que a atividade prática e de laboratório acha-se vinculada
aos aspectos metodológicos podemos associá-la a habilidades e competências que poderiam
ser desenvolvidas. Ou seja, segundo a tipologia indicada por Bonito (2001) há 3 grandes
grupos de alvos educativos: adquirir habilidades; vivenciar fenômenos; resolver problemas.
Como o autor descreveu, a primeira categoria está vinculada a procedimentos, a segunda
enfatiza tópicos de conteúdos (conhecimento de conceitos, processos, leis, princípios, etc.) e a
terceira reúne os dois aspectos anteriores.
Ao longo de sua pesquisa, Bonito (2001) afirma que muitos estudantes reconhecem o
laboratório como local em que estão ativos, mas poucas vezes podem estabelecer os nexos
entre o que se faz e o que se aprende. O laboratório envolve muitas práticas, mas será que
envolve reflexão? É possível observar uma lâmina petrográfica e não compreender a
classificação das rochas?
A pergunta crítica traz um alerta para professores de Geociências. As condições de
atividades práticas são feitas em condições dos alunos refletirem sobre o que aprendem? É
importante conduzir os alunos a refletir sobre procedimentos habituais e regularidades da
natureza. Os alunos de Geologia Introdutória precisam compreender que isso é uma condição
da produção de conhecimento e pode servir à própria aprendizagem – antes de tratarem da
complexidade e da impossibilidade determinística de processos terrestres.
De todo modo, atividades práticas que envolvem observação, previsão, explicação
ajudam os alunos a fazer julgamentos sobre determinada situação escolar.
Contudo, há um ponto que chama atenção: as categorias e tipos adotados por Bonito
(2001) poderiam ser aplicados a qualquer atividade prática e de laboratório, p.ex. ao ensino de
Química ou Física. A tipologia está relacionada a descrições apoiadas no papel de alunos e
professores, procedimentos de alunos frente a materiais, bem como diante de problemas,
contudo não se referem a conteúdos. Dessa forma, os tipos usados pelo autor são muito

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esclarecedores, mas pouca importância atribuem à especificidade metodológica e conceitual


das Geociências.
Orion e Kali (2005) assumem que a investigação é método importante da Educação
em ciências. Mas adotam que é diversa em cada disciplina. Isso gera estudos que envolvem o
uso de princípios e descobertas, porém sob aspectos qualitativos e quantitativos muito
distintos. Os autores argumentam que a investigação em Geociências tem característica única:
os experimentos são conduzidos na natureza. Consequentemente muitas pesquisas geológicas
são do tipo retrospectivo, buscando revelar o que ocorreu no passado a partir de marcas
deixadas na crosta terrestre. Isso conduz a fazer inferências a partir de observações mais do
que operar com experimentos, trata-se de um campo favorável para explorar as operações
mentais de: observação, conclusão e formulação de hipóteses. Finalmente, completam: tratar
o ciclo das rochas pode conduzir alunos a entender aspectos cruciais da investigação
científica.
Potapova (1968) assinalou que os processos geológicos precisam ser descobertos duas
vezes: primeiro são descritos e modelados pelos diversos campos científicos e tecnológicos
que estudam o presente (Física, Climatologia, Engenharia, etc.), depois precisam ser
reconhecidos por meio de suas formas ossificadas na crosta terrestre, ou seja, por meio da
distribuição e organização de rochas e minerais.
O pensamento da autora soviética revela que, ao interpretar o significado das
características de rochas e minerais, estamos desvelando as características que ficaram
impressas dos ambientes do passado. A presença de certos minerais nos materiais terrestres
indica as condições físico-químicas que persistiram em certo período de tempo, ou seja, a
história química e bioquímica da Terra.
Frodeman (1995) aclara os procedimentos racionais adotados para construir as
explicações integradas, globais e temporais que caracterizam os estudos da Terra. Limites
experimentais, modelos sistêmicos e complexos, escalas espaciais e temporais muito diversas
conduzem a construtos narrativos e hipotéticos que adotam o círculo hermenêutico para
desenvolver teorias e compreender os processos terrestres.
Essa montagem conceitual possui raízes históricas que remetem aos pensadores
clássicos das ciências geológicas e aos naturalistas que contribuíram para instituir a Geologia
moderna no século XVIII (ver Hutton 1788). Enfatizamos as contribuições convergentes de
Thomas C. Chamberlin (1897) e Grove Karl Gilbert (1896): ambos defenderam que estudos
geológicos usam raciocínios sintéticos, não lineares e que é necessário operar com várias
hipóteses para reconstituir o passado geológico, ou seja, é preciso usar múltiplas hipóteses.

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A defesa de um método de trabalho apoiado na elaboração de hipóteses está próxima


de descobertas associadas a processos ocorridos no passado que precisam ser reconhecidos
por meio da composição, distribuição e organização de rochas e minerais. Diversos processos
e dinâmicas podem ter sido responsáveis por deixar essas marcas.
O ponto enfatizado por Orion e Kali (2005) de operações metodológicas usadas
precisa ser examinado com mais cautela no caso de estudos de rochas e minerais: observação,
conclusão e formulação de hipóteses. A construção do processo de observação de amostras de
materiais terrestres (rochas e minerais) tem na atividade comparativa e taxonômica passos
relevantes da montagem da interpretação de processos e acumulação temporal de eventos
ossificados em uma amostra. Isso torna-se mais complexo quando consideramos as escalas
espaciais envolvidas nos estudos da Terra. Esses aspectos dirigem o modelo de atividade
prática usada em Ciência do Sistema Terra para futuros geólogos e geógrafos.

ATIVIDADES DIDÁTICAS
A disciplina Ciência do Sistema Terra pretende fornecer um entendimento de como a
Terra funciona. Assinala que o planeta é um sistema integrado. O esforço de mostrar relações
acha-se associado à tentativa da Universidade Estadual de Campinas de formar geólogos e
geógrafos em um programa de graduação de Ciências da Terra criado em 1998. Os alunos são
convidados a explorar as esferas terrestres buscando suas inter-relações e sua história, bem
como seus vínculos com a sociedade. Inclui atividades práticas de laboratório e de campo.
Entre os conceitos cruciais explorados acham-se as ligações de ciência, tecnologia e
sociedade, bem como os aspectos metodológicos dos estudos da dinâmica do planeta.
Dentro do programa e metodologia da disciplina há amplo conjunto de atividades
práticas, entre estas o estudo de rochas e minerais por meio de manipulação de amostras. Nos
limites deste estudo, investigamos o tópico Classificação de minerais que pertence à unidade
Geosfera: teoria da tectônica de placas.
Classificação de minerais é tópico tratado em 4 aulas dentro da disciplina. Os alunos
fizeram atividades práticas anteriores (uso de bússola, observação e interpretação de
fotografias, duas excursões de um dia), incluindo manipulação e classificação de amostras de
rochas. A aula é organizada nas seguintes etapas:
- Aula teórica: Introdução;
- Atividade em pequeno grupo:
i. Atividade prática de manipulação de amostras macroscópicas de minerais e rochas,
ii. Atividade prática de observação de amostras macroscópicas por meio de lupa (20

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aumentos) e microscópio petrográfico (10x até 50x).

O que é tratado em cada etapa? A introdução é dedicada a explicar noções


introdutórias de Mineralogia (propriedades físicas e óticas dos minerais e a explicação
química da classificação mineralógica). Em essência a aula teórica é apoiada em sequência
audiovisual. Pretende explicar que propriedades físicas de minerais são regularidades
associadas à composição química e tipo de estrutura cristalina.
Cada pequeno grupo de alunos recebe uma coleção de minerais comuns usualmente
acompanhados de algumas amostras de rochas para observar como os grãos aparecem em
cada rocha. A coleção de minerais inclui amostras macroscópicas de: silicatos, carbonatos,
sulfatos, boratos, sulfetos, elementos nativos. Para descrever propriedades físicas e classificar
as amostras, os grupos dispõem de lupa de mão, escala de Mohs, guia para determinação de
minerais, porcelana, imã e ácido clorídrico (0,1 M). A orientação dada por professores e
monitores aos grupos é para identificar propriedades a partir da comparação de características
observáveis no conjunto de amostras.
Enquanto os grupos descrevem e classificam amostras macroscópicas, se revezam nas
lupas e microscópios petrográficos. Os alunos dispõem de amostras macroscópicas de rochas
e a corresponde lâmina petrográfica. Podem examiná-las sob lupa de 20x e microscópio.
Usam amostras comuns: granito, gabro, filito, xisto, quartzito, mármore, anfibolito, arenito,
ritmito e calcário. Em pequeno grupo, permanecem sob supervisão direta de um professor ou
monitor. A atividade visa observar propriedades mineralógicas e texturais em distintas
escalas: observam-se camadas, dobras, microfalhas e composição mineralógica. Para reforçar
a atividade os alunos examinam sob lupa amostras de solo, areias de rios e praias, bem como
areias de dunas.

RESULTADOS
A estrutura da aula de Classificação de minerais está organizada aos moldes indicados
acima desde 2001.
Os alunos encontram dificuldades para identificar propriedades físicas dos materiais
rochosos. Embora alguns termos utilizados sejam do senso comum (brilho, dureza, fratura,
etc.) precisam ser transpostos para alvos e problemas que se acham fora do domínio de
conhecimento dos alunos. Para resolver suas dificuldades, estudantes precisam utilizar
raciocínios que dependem de elaborar hipóteses, confrontar ideias, bem como comparar e
determinar as variáveis que ajudam a compreender a natureza da matéria (composição e

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estrutura cristalina de cada espécie mineral).


Diante das amostras de minerais e rochas os alunos iniciam a observação de forma
dispersa. Ao longo da atividade prática, cresce a interação que conduz a observar as amostras.
Depoimentos de estudantes revelam existir certa sensação de incapacidade e falta de preparo
(prévio), mas aos poucos esse sentimento dá lugar a uma inquietação e muitos alunos se
sentem desafiados a enfrentar o problema, ou seja, percebem que algo precisa ser decifrado:
passam a sistematicamente classificar as amostras.
Assinalamos que a observação comparativa de amostras diferentes ajuda a construir
parâmetros de observação e contribuem para delimitar o significado das propriedades físicas
aplicadas a materiais terrestres. O diálogo no pequeno grupo e o interesse dos alunos é fator
decisivo.
As observações divergentes sobre as amostras possuem um papel relevante no
esclarecimento dos conceitos. É comum considerar brilho gorduroso ou perláceo como brilho
metálico, bem como é frequente confundir o crescimento ou geminação de cristais
prismáticos como sendo clivagem. À medida que os alunos descrevem os materiais e
comparam uma amostra a outra adotam critérios analógicos e utilizam o senso comum como
referência – é preciso relembrar que as categorias adotadas nessa escala dependem de
habilidades para as quais os estudantes estão sendo introduzidos. A experiência e treinamento
necessários deverão ser formados ao longo do curso. A princípio as propriedades físicas eram
obscuras, somente repetição, insistência e comparação servem para observar o que é crucial
interpretar.
A atividade explorando as amostras em distintas escalas (macroscópica, lupa e
microscópio) se constitui como exercício dirigido pelo professor para mostrar que as
propriedades físicas de minerais, bem como aspectos estruturais e texturais de rochas podem
ser identificados em escalas distintas.
As propriedades que são privilegiadas (caracteres diagnósticos de minerais) e
diferenças nas texturas de rochas distintas ajudam a construir os processos pelos quais cada
amostra passou e podem ser interpretados a partir de suas características. Em outros termos,
ao observar características diferentes de amostras examinadas em distintas escalas (tamanho,
organização e forma de grãos), ao esquematizar graficamente o que se observa nas amostras
em distintas escalas e comparar amostras com sedimentos, os alunos passam a ter elementos
que possibilitam interpretar a história geológica ossificada em cada amostra. O procedimento
didático apóia-se na comparação e na ideia de que os fenômenos geológicos manifestam-se e
podem ser reconhecidos em diferentes escalas.

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DISCUSSÃO
Uma dimensão das dificuldades encontradas pelos alunos reside no domínio da
terminologia específica, as Geociências como quaisquer outras ciências tem uma linguagem
verbal aprendida. Trata-se de um problema que dificulta até mesmo a interpretação do
significado daquilo que está no discurso simples dos alunos, mas não é o ponto difícil de ser
superado.
A classificação de objetos opera entre extremos taxonômicos, funciona por meio de
comparação e estabelece termos intermediários entre pólos opostos. Incorpora o domínio do
pensamento matemático e a possibilidade de ordenar objetos diferentes. Os alunos precisam
se adaptar e desenvolver esse raciocínio para aprender os conceitos relativos às propriedades
físicas de materiais rochosos, esse é o primeiro passo para identificar essas propriedades nas
amostras macroscópicas. Apesar da dificuldade, os alunos iniciaram um processo que pode
conduzir a uma ideia mais clara de rochas e minerais.
Essa estrutura de raciocínios comparativos apóia-se nas possibilidades de examinar e
comparar amostras de mão e lâminas petrográficas. Utilizam-se a observação direta
combinada ao exame sob lupa e microscópio. Estudos clássicos de amostras ao microscópio
do século XVIII abriram a possibilidade de compreensão que as rochas mudam (Hutton
1788): a observação da recristalização conduziu a supor que o calor é um agente para
consolidar rochas. O ato de comparar em distintas escalas é reforçado pelo exame de amostras
de distintos sedimentos, isso induz os alunos a interpretar a origem das rochas sedimentares e
distingui-las de rochas metamórficas e ígneas.
Se tomarmos a classificação de atividades práticas utilizadas por Bonito (2001), os
exercícios de Classificação de Minerais deve ser considerado desenvolvimento de
habilidades. Trata-se de capacitar estudantes para observar e classificar materiais terrestres,
ou seja, isso se constitui em uma competência específica.
Orion e Kali (2005) defenderam que o ato taxonômico envolve inferência, ou seja, é
preciso investigar propriedades físicas e óticas antes de concluir. Assim, assinalamos que se
pode decompor a competência de classificar rochas e minerais em partes específicas:
observar, comparar e inferir. Ou seja, não é simplesmente transpor a ideia de observação de
um experimento de laboratório, mas implica tratar distintas variáveis simultaneamente. Em
outros termos, as sugestões clássicas de Chamberlin (1897) e Gilbert (1896) relativas às
múltiplas hipóteses devem ser enfatizadas para os alunos. Isso corresponde a destacar a
dimensão reflexiva diante do que o estudante aprendeu e assinalar que a convergência de
processos terrestres ajuda a reconstruir o ambiente do passado.

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O trabalho com amostras de minerais e rochas é profundamente diverso de


experimentos com substâncias puras para análise. Isso é muito nítido quando os alunos se
surpreendem ao saber que os materiais não foram polidos, foram apenas fragmentados. Ou
seja, mesmo diante de amostras há aspectos e dificuldades comuns de observações de campo.
A construção é dirigida para comparar distintas escalas, trata-se da montagem de um
mecanismo que está desenvolvendo as habilidades de: observar, comparar, explicar, voltadas
para adquirir certa competência específica: classificar minerais e reconhecer propriedades de
materiais terrestres.
O entendimento dos processos do passado em suas distintas escalas é peça chave na
reconstrução dos ambientes e isso contribui para adotar a ideia de que o ambiente e os
ecossistemas acham-se permanentemente em transformação.

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II Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra e IV Simpósio Nacional O Ensino de Geologia no Brasil
1 a 5 de Novembro de 2009 – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo

ANÁLISE DA DISCIPLINA DE SISTEMA TERRA NA LICENCIATURA EM


GEOCIÊNCIAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

ANALYSIS OF THE DISCIPLINE OF THE EARTH SYSTEM DEGREE IN


GEOSCIENCES AND ENVIRONMENTAL EDUCATION

Luis Anselmo Costa Nascimento Ifanger¹, Ermelinda Moutinho Pataca²


¹Bolsa Ensinar com Pesquisa – Iniciação Científica financiada pela FE-USP, luisanselmo@usp.br

²FE-USP, ermelinda.pataca@gmail.com

Resumo: Uma das ações para a inserção dos conteúdos geocientíficos na Educação Básica foi
a criação do curso de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental na USP. O objetivo
deste trabalho é analisar a disciplina Sistema Terra, através da metodologia da Pesquisa-
Ação-Participante de modo a contribuir com as pesquisas em ensino de Geociências e, por
conseguinte com a reestruturação curricular e a consolidação do curso.

Palavras-chave: Pesquisa-Ação-Participante; Estruturação Curricular; Disciplina Sistema


Terra.

Abstract: One of the actions for the integration of Geosciences content in basic education
was the creation of the course of degree in Geosciences and Environmental Education at USP.
The objective of this project is to review the discipline Earth System, using the methodology
of Action Research-Participant to contribute to research in the teaching of Geosciences and
therefore with the restructuring and consolidation of the course curriculum.

Keywords: Action Research-Participant; Restructuring of the Curriculum; Discipline Earth


System.

INTRODUÇÃO
A importância de se trabalhar os conteúdos de Geociências na Educação Básica é
crescente na comunidade geológica (PASCHOALE, et al, 1981), que durante muito tempo
pouco contribuiu, com relação à difusão de seu conhecimento ao Ensino Básico e a
comunidade em geral. Este fato deixou uma grande lacuna no ensino em Ciências da Terra, de

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modo que estes conteúdos ficaram marginalizados ou foram ministrados de maneira


equivocada, desatualizada, fragmentada e que, muito provavelmente, não tiveram o
aproveitamento das características interdisciplinar e integradora desta ciência da natureza, que
seria possível atingir caso tivesse sido ministrada por um professor com formação em
Geociências.
Várias ações foram tomadas, e continuam de modo a promover a divulgação das
Ciências da Terra para a sociedade e também sua inclusão, de alguma forma, no ambiente
escolar. Uma dessas ações foi a criação em 2003 e início da primeira turma em 2004, do curso
de Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental pelo instituto de Geociências da
Universidade de São Paulo, com o intuito de formar um professor preparado para ministrar os
conteúdos básicos de Geociências que estão previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) (TOLEDO et al, 2003). Dada a importância do ensino de Geociências e Educação
Ambiental na Educação Básica como iniciativa inovadora e promissora no que tange a
contextualização das disciplinas clássicas (física, química, biologia e geografia física) com o
mundo real e, sobretudo auxiliar o educando na construção de um novo saber, pautado na
reflexão e compreensão de que o planeta Terra tem uma história geológica e um dinamismo
interativo entre suas camadas, hidrosfera, geosfera, biosfera e atmosfera, este novo educador
tem pela frente a tarefa de fazer a interface das Geociências com a Educação Ambiental, tanto
no Ensino Formal quanto Não Formal.
A criação da LIGEA foi um passo importante para que as Geociências sejam
gradualmente introduzidas no currículo da Educação Básica e nos programas de Educação
Não Formal. No entanto, implementado há poucos anos, o curso necessita de estudos sobre o
currículo, a definição dos pressupostos epistemológicos da área do conhecimento que está se
consolidando (Ensino de Geociências e Educação Ambiental) as práticas pedagógicas, a
realização dos estágios supervisionados, o perfil dos licenciados, a condução de algumas
disciplinas (PATACA, 2008).
Tais estudos já estão em andamento, no projeto “A formação inicial e continuada de
professores em Geociências e Educação Ambiental”, Pataca (2008). Este estudo desenvolve
pesquisas articulando sua atividade docente junto à LIGEA (nas disciplinas de Metodologia
de Ensino de Geociências e Educação Ambiental I e II) com as práticas investigativas em
Educação.
O presente projeto se refere a um projeto de Iniciação Científica atrelado ao projeto
de pesquisa descrito acima e que se concentra em uma articulação entre ensino e pesquisa em
Educação em Geociências, através da análise das disciplinas Ciência do Sistema Terra (IG-

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UNICAMP) e Sistema Terra (IGc-USP). Para isso o bolsista utiliza a metodologia da


Pesquisa-Ação Participante no acompanhamento das aulas de Ciência do Sistema Terra I
durante o 1o semestre de 2009 e elabora atividades para serem aplicadas na disciplina Sistema
Terra durante o 2o semestre. Também estão sendo realizadas entrevistas com os docentes que
ministram as disciplinas. Contudo, visamos contribuir com: o fortalecimento das pesquisas na
área de Ensino em Geociências, a reestruturação curricular da LIGEA e com a consolidação
do curso, o que, por conseguinte, poderá auxiliar na inserção dos conteúdos geocientíficos na
Educação Básica.

METODOLOGIA
O propósito deste projeto é o desenvolvimento das pesquisas em Ensino de
Geociências através da realização de uma análise comparativa entre as metodologias de
ensino e o currículo das disciplinas introdutórias Ciência do Sistema Terra e Sistema Terra
oferecidas nos Institutos de Geociências da UNICAMP e USP, respectivamente. Nesta
articulação entre ensino e pesquisa pretendemos estabelecer um diálogo e a realização de
entrevistas com os professores das disciplinas Ciência do sistema Terra do IG-UNICAMP,
Celso Dal Ré Carneiro, Pedro Wagner Gonçalves, Carlos Alberto Lobão da Silva Cunha,
Oscar Braz Mendonza Negrão1 e Henrique César da Silva e da disciplina Sistema Terra do
IG-USP, Paulo Cesar Boggiani, Wilson Teixeira, Maria Cristina Motta de Toledo2 e
Reginaldo Bertolo.
Para realizar a análise comparativa, através da Pesquisa Ação Participante, o bolsista
acompanha e vivencia as atividades pedagógicas das aulas da disciplina Ciência do Sistema
Terra I e recolhe os relatos dos professores através das entrevistas. O processo de condução
da disciplina estudada está sendo observado e avaliado por meio de registros descritivos de
todos os elementos observados para tentarmos captar os pressupostos epistemológicos da área
de conhecimento. Serão observados fatores como as práticas de ensino, as leituras e
discussões de textos, a participação dos alunos. Após a realização deste estudo pretende-se
elaborar algumas atividades e metodologias para aplicar na disciplina Sistema Terra, de modo
a propormos mudanças que levem a um aprimoramento das práticas analisadas.
Os relatos podem trazer muitos elementos a esta análise das disciplinas, sua riqueza
pode nos conduzir a novas indagações. Os professores a serem entrevistados vivenciaram as

1
Professor que já ministrou esta disciplina.
2
Ministrou a disciplina Sistema Terra no IG-USP, atualmente ministra a mesma disciplina na Licenciatura em
Ciências da Natureza (EACH).

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situações que se pretende conhecer, acompanharam os processos em curso, dispõem de


informações que podem ser úteis para uma análise singular, podem contribuir com novos
fatos ou acrescentar novas hipóteses ao conhecimento disponível, contudo, podem deter
informações únicas e/ou fundamentais. Cada entrevistado é único e com isso visa-se obter ao
máximo da contribuição que o mesmo pode dar a pesquisa. Segundo André (1995) a
pesquisa-ação pode ser relacionada ao estudo do currículo, propondo que a pesquisa volte-se
para atividades de desenvolvimento profissional, para programas de melhoria da Instituição
de Ensino, para o planejamento de sistemas e o desenvolvimento de políticas. Nesse sentido,
utilizaremos a estratégia de pesquisa-ação para a reestruturação curricular da LIGEA e para a
avaliação e contribuição para a disciplina Sistema Terra.

A DISCIPLINA SISTEMA TERRA


As Geociências é um campo de conhecimento, constituído por raciocínio histórico e
sintético da natureza. De acordo com Potapova (1968), esta área investiga os múltiplos
processos naturais que interagem historicamente ao longo do tempo geológico. Esta
investigação é constituída através do atualismo, que corresponde à comparação histórica de
processos antigos com os atuais. Este método de comparação considera que os processos do
passado continuam ocorrendo atualmente, muito embora não ocorra na mesma intensidade
(FANTINEL, 2000, p. 23).
Complementando esta visão, Press (2006, p. 36) entende que os avanços nas
pesquisas em Geociências demonstram várias evidencias de que as camadas externas do
planeta, atmosfera, hidrosfera, biosfera e a geosfera, evoluíram no decorrer do tempo
geológico através de interações múltiplas. Conhecer todas essas interações é o objetivo de
muitas pesquisas intensas, comumente chamadas de Ciência do Sistema Terra. Através desse
estudo, entendemos que a Terra funciona como um sistema interativo e dinâmico, regida pela
energia solar e o calor interno da Terra. Para entender a complexidade dos processos naturais
do planeta, os cientistas necessitam de equipamentos adequados para investigar como o
Sistema Terra realmente funciona. Embora os cientistas da Terra já pensassem há algum
tempo em termos de Sistemas Naturais, foi apenas nas ultimas décadas do século XX que,
através do avanço tecnológico, esta visão foi possível.
Assim, de acordo com Toledo (2002), a compreensão de que os processos naturais
funcionam de modo sistêmico, permite que se faça uma abordagem interdisciplinar em
ciências, em que o estudante terá um estreito relacionamento com o ambiente em que vive.
Isto será útil na tomada de suas decisões como cidadãos que precisarão refletir e atuar

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criticamente na sociedade através deste conhecimento.


Compiani (1990) relata que o conhecimento da geologia está completamente
relacionado à atuação da sociedade na natureza, possibilitando a inclusão social na medida em
que a compreensão da ciência permite que o sujeito perceba sua participação no mundo real.
Contudo, agrupar e sistematizar este conhecimento para formar o currículo de uma
disciplina que seja referência para um curso de Geociências é algo que requer uma elaboração
refletida no enfoque que se almeja, pois o tema é muito vasto e complexo, sobretudo existem
inúmeras possibilidades de abordagem. Segundo Paschoale (1981), as caracterizações
abrangentes para uma disciplina introdutória nos currículos de cursos superiores de
Geociências pautada em discernimentos distintos pode ser um risco, pois é quase improvável
que se consiga uma Ciência da Terra Globalizante.
Através do Projeto Político Pedagógico da LIGEA, entende-se que o currículo da
disciplina Sistema Terra foi elaborado com a intenção de apresentar o sistema geológico
global, pois segundo Toledo (2002):

“Considerando o caráter multidisciplinar envolvido na compreensão da história,


organização e funcionamento do planeta, o curso inicia-se com uma disciplina que
apresenta o sistema geológico global. Por meio dela, o aluno terá uma visão ampla
da complexidade da dinâmica da Terra, da seqüência dos fenômenos que a
formaram como a vemos hoje...”

É evidente o caráter interdisciplinar que as Geociências podem fomentar a um ensino


integrado de Ciências e para uma maneira peculiar de se trabalhar com Educação Ambiental.
Contudo isto não nos proporciona um enfoque ideal para a estruturação curricular de uma
disciplina que se quer como introdutória ou mesmo estruturadora de currículo.
Ademais, com o intuito de refletir sobre um enfoque ideal para a disciplina Sistema
Terra, destaco a necessidade de se pensar também nos processos de ensino/aprendizagem.
Para Severino (2007) o conhecimento deve ser assimilado por meio de seus processos, não
mais por meio de seus produtos. A Universidade tem o papel de promover que o estudante
construa seu conhecimento pela experiência ativa, pois este é o lugar priorizado da construção
do conhecimento e assim, é inconcebível aceitar processos de transmissão da ciência
desvinculados de seu processo de geração.
No Projeto Político Pedagógico da LIGEA consta ainda que as atividades didáticas
devam ser desenvolvidas em salas de aula, de maneira expositiva e prática, no campo (aulas

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práticas de campo), em laboratórios diversos, dentre outros.


Estas prerrogativas atentam para a necessidade de uma análise curricular da
disciplina e também da LIGEA de modo a contribuir com a reestruturação curricular do curso.
A análise comparativa entre as metodologias de ensino e o currículo das disciplinas Ciência
do Sistema Terra (UNICAMP) e Sistema Terra (USP) associada às entrevistas com os
docentes serão de grande valia para a definição dos pressupostos epistemológicos desta área
do conhecimento que está se consolidando (Licenciatura em Geociências e Educação
Ambiental). Com os resultados obtidos será possível definir um enfoque que além de
introduzir os conteúdos de Geociências aos alunos iniciantes, proporcione que a disciplina
atue como estruturadora do currículo das demais disciplinas do curso.
A importância da articulação entre o conteúdo do Sistema Terra com as demais
disciplinas do curso é destacada por Maria Cristina3,

“... talvez não tenha sido igual para todos os docentes, mas para mim, embora não
tenha explicitado no projeto pedagógico, eu tinha sim a intenção de que a disciplina
ST, além de servir como introdução às Geociências para os alunos que ingressam
sem saber o básico do funcionamento da Terra e das aplicações de seu estudo,
servisse para conectar os conteúdos seguintes, sempre que algo parecesse muito
isolado. Cheguei a pedir que os alunos conservassem sempre suas anotações para
os anos seguintes.”

Contudo, a própria dinâmica da pesquisa irá propor que os docentes da disciplina


Sistema Terra reflitam sua própria pratica e sobre a prerrogativa do caráter estruturador dos
conteúdos do Sistema Terra4, pois se espera que todos trabalhem para aprimorar
sistematicamente sua atuação. As entrevistas com os docentes e as atividades a serem
aplicadas com os alunos de Sistema Terra fornecerão subsídios para uma análise mais
detalhada e refletida acerca desta questão.

3
Informações recebidas por e-mail, fornecidas pela professora Maria Cristina Motta de Toledo.
4
Termo caracterizado pelas concepções de Potapova (1968), Fantinel (2000) e Press (2006), citados
anteriormente.

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RESULTADOS
Até o momento realizamos:
- registro descritivo da vivência que o bolsista teve através do acompanhamento das
aulas da disciplina Ciência do Sistema Terra I.
- entrevistas com os docentes Celso Dal Ré Carneiro, Paulo Cesar Boggiani e Maria
Cristina Motta de Toledo. As entrevistas estão em fase de transcrição, de modo que possam
ser lidas e aprovadas pelos entrevistados para que possam ser utilizadas na pesquisa.
Os registros das aulas acompanhadas de Ciência do Sistema Terra I, bem como os
relatos das entrevistas com os docentes entrevistados até o momento estão trazendo muitos
elementos para se analisar. As analises preliminares já nos direcionam a algumas indagações
que estão contribuindo com a dinâmica do trabalho de pesquisa.
Compreendemos que estes elementos de análise relacionam teoria e prática numa
atitude reflexiva sobre os conteúdos e as práticas de ensino realizadas na disciplina Ciência do
Sistema Terra I (UNICAMP). Através do acompanhamento das aulas desta disciplina
percebemos que a proposta é dar ênfase ao caráter investigativo do conteúdo. Pelo fato da
disciplina ser abordada desta maneira, faz com que os estudantes possam construir o
conhecimento e, por conseguinte desenvolver uma postura ativa perante este processo.
Através deste resultado de análise podemos elaborar atividades aprimoradas e refletidas que
proporcionem aos alunos de Sistema Terra (USP) uma nova relação com o saber.
Assim, as análises preliminares nos direcionam para a elaboração de práticas
investigativas que abordam o conhecimento por meio de seus processos e não de seus
produtos. Isso nos levou a indagar sobre a aceitação destas práticas por parte dos docentes da
disciplina Sistema Terra, pois a experiência do bolsista como aluno durante os dois semestres
de 2007 e o que entendemos dos procedimentos didático-pedagógicos contidos no Projeto
Político Pedagógico do curso, a mesma cumpre mais a transmissão do conteúdo em
detrimento aos processos de construção do conhecimento. No entanto, a própria dinâmica da
pesquisa pode surtir soluções. Por exemplo: através do diálogo com Paulo Boggiani5
obtivemos uma abertura para que, em suas aulas, sejam aplicadas algumas atividades
investigativas que estamos elaborando.

5
Um dos docentes da disciplina Sistema Terra.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a iniciativa da criação do primeiro curso de Licenciatura em Geociências e
Educação Ambiental com o intuito de preencher a lacuna deixada no ensino de Geociências
na Educação Básica, faz-se necessário o desenvolvimento de pesquisas sobre esta nova área
que está se configurando, de modo que contribua com a consolidação do curso. A análise da
disciplina Sistema Terra, através da Pesquisa-Ação-Participante, pode levantar alguns
pressupostos epistemológicos do curso, servindo como instrumental importante para a
reestruturação curricular e para a atuação dos licenciandos.
Algumas proposições já podem ser colocadas em pauta, como por exemplo, a
aplicação de práticas de efetiva construção do conhecimento através da mudança das posturas
didático-pedagógicas, assim, a própria dinâmica da Pesquisa visa melhorar a qualidade do
ensino de Sistema Terra, o que, por conseguinte se refletirá na qualidade da postura dos
alunos perante as demais disciplinas do curso.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papirus, 1995.
COMPIANI, M. “Geologia para que te quero no ensino de Ciências”. Educação &
Sociedade, 36: 100-107, 1990.

FANTINEL, L. M. Pratica de campo em geologia introdutória: papel das atividades de


campo no ensino de fundamentos de geologia no curso de geografia, na Universidade Federal
de Minas Gerais. 2000. 124f. Dissertação (Mestrado em Geologia)-Instituto de Geociências,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000.

PASCHOALE, C. et al. “A Geologia e a Escola de 1° e 2° Graus”. SBG, Simpósio Nacional


sobre o Ensino de Geologia, 1981.

PATACA, E, M. A formação inicial e continuada de professores em Geociências e


Educação Ambiental. Projeto de Pesquisa. São Paulo: Faculdade de Educação – USP, 2008.

POTAPOVA, M. S. “Geologia como uma ciência Histórica da natureza”. Texto


mimeografado, traduzido por Conrado Paschoale de “Geology as an historical science of
nature. Introduction of sciences in the study of the Earth”. Moscow: Progress Publisher, 1968.

PRESS, F; SIEVER, R; GROTZINGER, J; JORDAN, T, H. Para Entender a Terra. 4a


edição. Porto Alegre: Bookman, 2006.

SEVERINO, A, J. Metodologia do Trabalho Científico. 23a edição.São Paulo: Cortez, 2007.

TOLEDO, M.C.M; MACEDO, A.B.; MACHADO, R. MARTINS, V.T.S; RICCOMINI, C;


SANTOS, P.R.; SILVA, M.E., TEIXEIRA, W. Projeto Pedagógico do Curso de
Licenciatura em Geociências e Educação Ambiental- LiGEA - INSTITUTO DE
GEOCIÊNCIAS/USP. 2003.

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CONCEPÇÕES DOS ESTUDANTES SOBRE CONCEITOS QUE EMBASAM A


COMPREENSÃO DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Nisia Krusche1 , Eliane Cappelletto2, Natalia Pereira3


¹Centro de Ciências Computacionais, Universidade Federal do Rio Grande - Rio Grande, RS, nkrusche@furg.br

²Instituto de Matemática, Estatística e Física, Universidade Federal do Rio Grande - Rio Grande, RS,
dfscapp@furg.br

³Instituto de Oceanografia, Universidade Federal do Rio Grande - Rio Grande, RS, nataliapereira@furg.br

Resumo: As mudanças climáticas são um tema atual, que aparece com muita frequência na
mídia. Para avaliar o entendimento dos estudantes universitários, realizou-se um levantamento
com 53 estudantes, antes e após um curso de meteorologia, sobre suas concepções a respeito
de alguns conceitos-chave que fundamentam a compreensão das mudanças climáticas. Os
conceitos investigados foram: tempo meteorológico, clima, estações do ano, camada de
ozônio, efeito estufa, ciclones tropicais e ciclones extratropicais. Os resultados mostraram que
alguns conceitos foram mais facilmente compreendidos. Em geral houve mais acertos após o
curso, evidenciando que as disciplinas foram efetivas em aprimorar o entendimento dos
conceitos básicos. Por outro lado, os índices de acerto, exceto por alguns itens, foram baixos e
indicam a necessidade de revisão da didática utilizada. Esta pesquisa será ampliada para que
indicativos para o ensino destes temas na educação básica sejam obtidos.

Palavras-chave: mudanças climáticas, clima, efeito estufa, camada de ozônio.

Abstract: Climate change is a central theme nowadays, and it is often an object of the media.
To evaluate the understanding of this theme among undergraduates, we have asked 53
students about their interpretation of concepts that are fundamental to the comprehension of
climate change, before and after they have taken meteorology classes during one semester.
The concepts were: weather and climate, seasons, ozone layer, greenhouse effect, and tropical
and extratropical cyclones. The results showed that some concepts are easier whether some
are not. Since the students were able to answer better after the classes, we understand that the
classes were effective to improve their understanding of those basic concepts. Nevertheless,
the total amount of rights for the questions was low, which indicates the need of a revision of
the didactics applied on the meteorology classes. The present research will now look for
suggestions on how to teach those themes at middle school levels.

Keywords: climate change, climate, greenhouse effect, ozone.


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INTRODUÇÃO
Os alunos dos cursos de Oceanologia e Geografia, ao estudar Meteorologia,
demonstram, no início das aulas, pouco entendimento de alguns conceitos fundamentais para
a compreensão da questão das mudanças climáticas. Para uma das autoras, que tem lecionado
há 15 anos esta disciplina, a situação é recorrente. Essa constatação foi a motivação inicial da
presente pesquisa, que busca verificar se a hipótese de pouco entendimento está correta, bem
como avaliar se os temas trabalhados ao longo da disciplina serviram para minimizar as
lacunas existentes.
As mudanças climáticas tornaram-se objeto central da mídia nos últimos anos, pois se
trata de uma questão relevante para a sociedade contemporânea. Como afirmou a então
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, “Agir agora não é apenas uma questão de vontade
política, é uma questão de responsabilidade, de compromisso, de visão, de ética e de
sobrevivência”. Hoje percebe-se uma tendência na cobertura jornalística sobre as mudanças
climáticas, detectada inclusive por estudos internacionais (Stamm, Clark e Eblacas, 1997;
Bell, 1994), de salientar as conseqüências, geralmente negativas desse fenômeno,
focalizando-se menos suas causas e soluções. Os resultados do estudo coordenado por Canela
(2007) apontam claramente para um crescimento expressivo da cobertura sobre mudanças
climáticas a partir do último trimestre de 2006, especialmente nos jornais nacionais e de
cunho econômico.
Alguns conceitos fundamentam a compreensão da questão das mudanças climáticas.
Tempo e clima são, muitas vezes, usados pela mídia como sinônimos, muito embora os
grandes jornais atualmente disponham de manuais de redação onde a diferença entre estes
dois conceitos está posta. Há uma crescente confusão entre as variações climáticas associadas
à passagem das estações do ano e mudanças climáticas, pois não está claro como ocorrem as
variações climáticas anuais, já que as estações do ano foram e continuam sendo explicadas em
muitas escolas com um problema de distância da Terra ao Sol. O buraco da camada de ozônio
tem sido alvo de muita divulgação desde a década de oitenta, quando se associou este
fenômeno aos gases clorofluorcarbonos (CFC). Similarmente, o aumento do efeito estufa
passou a ser discutido mais ou menos na mesma época, mas só se tornou central quando as
mudanças climáticas a ele associadas tornaram-se evidentes. Infelizmente, há uma grande
confusão sobre a causa do efeito estufa, pois os conceitos de absorção, emissão e reflexão de
radiação e de radiação de onda longa e de onda curta estão pouco claros. Estas constatações
referem-se a conceitos básicos para a compreensão das mudanças climáticas. Por outro lado,
desde o fenômeno Catarina, um ciclone extratropical que se transformou em um ciclone
tropical na costa de Santa Catarina, há um crescente interesse no tema, especialmente no sul
do Rio Grande do Sul, que se encontra na região de formação e de trajetória de ciclones
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extratropicais, onde eles atuam em média 50 vezes por ano (Gan e Rao, 1991). Como há uma
importância local sobre tais tópicos, julgou-se importante avaliar sua compressão juntamente
com os conceitos básicos.
Buscou-se, portanto, avaliar as concepções dos estudantes dos cursos de Oceanologia
e Geografia da Universidade Federal do Rio Grande, antes e após a instrução, sobre conceitos
que embasam a compreensão das mudanças climáticas.

METODOLOGIA DE PESQUISA
Nesta pesquisa foram avaliadas as respostas de estudantes de três disciplinas:
A) Meteorologia, oferecida para o terceiro de cinco anos do curso de Oceanologia,
tendo como pré-requisito cálculo e física; é semestral, diurna, os alunos têm idade média de
cerca de 21 anos e são provenientes de vários locais do país;
B) Meteorologia e Climatologia Básicas, oferecida para o segundo de quatro anos do
curso de Bacharelado em Geografia, tendo como pré-requisito cálculo e física; é anual,
noturna, os alunos têm idade média de 28 anos e são, na maioria, da própria cidade do Rio
Grande;
C) Elementos de Climatologia, oferecida para o primeiro de quatro anos da
Licenciatura em Geografia, sem pré-requisitos; é semestral, noturna, os alunos apresentam
perfil semelhante aos do Bacharelado, mas têm, em média, 25 anos de idade.
Para os três grupos foi aplicado o mesmo questionário no primeiro dia de aula. Para os
dois primeiros grupos (Meteorologia e Meteorologia e Climatologia Básicas), o questionário
tornou a ser aplicado ao final do semestre.
O questionário é aberto e consiste de cinco questões objetivas. Definiu-se um gabarito
e avaliaram-se as respostas dos estudantes em função deste, considerando acerto, se houvesse
coincidência, erro, se não houvesse qualquer semelhança e parcial se apenas parte da
resposta foi apresentada. As questões e as respostas esperadas (o gabarito) são as seguintes:
1) Qual a diferença entre tempo (meteorológico) e clima?
Resposta: Tempo é o estado instantâneo da atmosfera ou a condição da atmosfera neste
momento. São exemplos de tempo: tempestade, chuva, granizo. Clima é o estado médio da
atmosfera, média de mais de 30 anos ou as condições da atmosfera ao longo de um período.
Exemplos são: primavera, frio, aquecimento global. Logo, a diferença entre tempo e clima é
que tempo é avaliado a cada momento, enquanto clima é estimado por informações de muito
tempo.
2) Sob que condições o planeta Terra não apresentaria estações do ano?
Resposta: Se o eixo da Terra não fosse inclinado em relação ao plano da órbita.
3) Qual a causa do buraco da camada de ozônio?
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Resposta: Aumento da concentração de gases CFC. Estes são aprisionados pelo vórtice polar
e interferem na reação de formação de ozônio.
4) O aquecimento global é causado pelo aumento do efeito estufa na atmosfera. Por que
este aumento está ocorrendo?
Resposta: Porque há um aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera,
causado principalmente pela queima de combustíveis fósseis.
5) Qual a diferença entre um ciclone extratropical e um ciclone tropical?
Resposta: Um ciclone extratropical tem origem na instabilidade entre o ar tropical e o ar
polar, tem núcleo frio, move-se de oeste para leste e ocorre em regiões extratropicais. Um
ciclone tropical é causado pela evaporação nos oceanos tropicais quentes, tem núcleo quente,
move-se de leste para oeste e ocorre em oceanos tropicais.

DADOS OBTIDOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


Foram respondidos, antes da instrução, 53 questionários e após, 43, assim distribuídos
nos cursos de: Oceanologia (antes 20, depois 27), Geografia Bacharelado (antes 14, depois
16) e Geografia Licenciatura (antes 19).
As respostas escritas de todos os estudantes foram categorizadas em três níveis:
correta, parcialmente correta e incorreta. Efetuou-se as totalizações por curso e por etapa.
A figura 1 apresenta uma síntese dos dados, indicando os percentuais comparativos
antes e após a instrução, de respostas consideradas corretas, parciais ou errôneas, para cada
uma das cinco questões. Os rótulos são: 1a refere-se a “tempo”, 1b a “clima”, 2 a “estações
do ano”, 3 a “camada de ozônio”, 4 a “efeito estufa”, 5a refere-se a “ciclone tropical” e 5b a
“ciclone extratropical”.

Figura 1 Síntese dos resultados, percentual de respostas corretas (primeira linha), parcialmente corretas (linha
do meio) e incorretas (terceira linha), para as cinco questões, pelo total dos alunos (primeira coluna), dos alunos278
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de oceanologia (segunda coluna) e do bacharelado em geografia (terceira coluna).

Em algumas questões, foi possível perceber um aumento nas respostas corretas, bem
como a migração de respostas parcialmente corretas para corretas. Em outras, a diminuição de
concepções incorretas deu lugar apenas a respostas parcialmente aceitáveis, demonstrando
que o ensino não teve a eficiência desejada.
A compreensão correta de tempo meteorológico subiu de 55% para 77%, enquanto que
a de clima passou de 30% para 60%.
O tema estações do ano continua a ser mal compreendido pelos alunos. Inicialmente
75% desconheciam as explicações corretas. Após a instrução, 54% deles ainda não foram
capazes de responder corretamente a questão, evidenciando que este tema precisa ser tratado
com mais profundidade.
Sobre o buraco da camada de ozônio, quase metade dos alunos sabem que deve-se à
presença de compostos que contém CFC liberados pelo homem na atmosfera. Contudo,
muitos dos estudantes (de 35% para 23%) acreditam que a camada de ozônio é afetada pelo
dióxido de carbono ou por outros gases (ditos “poluentes”) causadores de efeito estufa. Após
a instrução, o número de alunos que mencionou CO2 diminuiu sensivelmente (de 46% para
19% das respostas erradas), mas isso não resultou em um aumento de respostas corretas. Quer
dizer, os alunos optaram para respostas mais genéricas (e menos comprometedoras) como
“gases” ou “gases poluentes”.
O efeito estufa é compreendido por metade dos estudantes, mas é recorrente a mistura
de causas corretas e inadequadas, como pensar que a Terra simplesmente reflete a radiação
que a atinge. Poucos estudantes compreendem que a energia radiante é absorvida e reemitida.
Outros fatores incorretos também são citados como causadores de efeito estufa.
No tema ciclone tropical e ciclone extratropical percebe-se um grande
desconhecimento inicial (56%), que diminui sensivelmente após a instrução (11%). Contudo,
as diferenças entre os dois tipos de ciclone não estão claras porque grande número (56% e
51%) de respostas é apenas parcialmente correta ou bastante incompleta. As respostas mais
completas, por sua vez, passaram de 9% para 30% (tropical) e 37 % (extratropical).

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CONCLUSÃO
Em síntese, o fato dos sete temas terem sido discutidos nas disciplinas propiciou um
certo aprendizado. Contudo, muitos alunos continuaram demonstrando dificuldades com estes
conceitos-chave para o entendimento das mudanças climáticas. Esse resultado aponta para a
necessidade de estratégias de ensino específicas, tanto no nível universitário como na
educação básica, de modo a modificar os conhecimentos errôneos ou parciais evidenciados
pelos estudantes.
Seria desejável também um tratamento mais acurado dos temas na mídia, para
esclarecer melhor a população não-acadêmica, possibilitando aos cidadãos conhecimentos
científicos suficientes para compreender e se posicionar sobre questões relacionadas às
mudanças climáticas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BELL, A. Media (mis)communication on the science of climate change. Public
Understanding of Science, v. 3, p. 259-275, 1994.

CANELA, G. (Coordenador) Mudanças Climáticas na Mídia Brasileira: uma análise de 50


jornais no período de julho de 2005 a junho de 2007, ANDI: Agência de Notícias dos
Direitos da Infância, Brasília, 2007, 59p.

GAN, M. A., RAO, B. V. Surface ciclogenesis over South America. Mon. Wea. Rev., 119, p.
293-302. 1991.

STAMM, K. R.; CLARK, F.; EBLACAS, P. R. Mass communication and public


understanding of environmental problems: the case of global warming. Public Understanding
of Science, v. 9, p. 219-237, 2000.

STRAHLER, A.; STRAHLER, A. Introduting Physical Geography. 2nd ed. New York: J.
Wiley, 1997. 567p.

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COMO CONSTRUIR UM CURRÍCULO A PARTIR DE UMA ABORDAGEM


AMBIENTAL DO CICLO DA AREIA?

HOW CAN WE BUILD A CURRICULAR INNOVATION FROM ENVIRONMENTAL


APPROACH OF CYCLE OF SAND?

Mirian Moneda Alberto de La Corte1, Reino Luiz De Figueiredo2


1
E. E. Dr. Tomas AlbertoWhatelly, decorte@terra.com.br
2
E. E. Dr. Tomas Alberto Whatelly, reinoluiz@ig.com.br

Resumo:A pesquisa tenta responder: como o local permite uma mudança na aprendizagem do
aluno do ensino médio? Elegendo conceitos das Geociências como fio condutor, as
disciplinas Biologia e Geografia foram articuladas para desenvolver habilidades e
competências dos alunos para observar, pesquisar e apropriar-se de conteúdos que conduzam
a compreender os fluxos da areia (desde a natureza até seu uso pela construção civil).
Levantamento da procedência da areia indicou que alunos e adultos acreditam que vem de
rios, desertos e praias e é transportada pelo vento. A inovação curricular pretende formar ideia
mais integrada de processos responsáveis pelo ciclo da areia, bem como de substâncias
transportadas pela água que envolva intemperismo e erosão.

Palavras-chave: Ensino de Geociências, Educação ambiental, Geomorfologia, intemperismo,


areia.

Abstract:This research intents to answer: how can place organize a change in learning of
students of high school? We adopt the topics of Earth Sciences as a guide in order to combine
biology and geography. This way we intent that students can observe, research and use
contents to understand the ways of sand from the nature to use civil buildings. We did a
survey to investigate what students and community think about where sand is from, the
answers show up which people believe that sand is from streams, deserts and beaches and it
is carry on by wind. The curricular innovation intents to form a integrated notion on cycle of
sand as well as the transported substances by means of water which include weathering and
erosion.

Keywords: Teaching of Earth Sciences, Environmental education, Geomorphology,


weathering, sand.
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho se dá no contexto do grupo de estudos “Ensino de Ciência do
Sistema Terra e formação continuada de professores”, que desenvolve pesquisa colaborativa
com a participação de: professores do ensino médio da rede pública de Ribeirão Preto,
assistentes técnicos da Diretoria de Ensino, pesquisadores da universidade (Instituto de
Geociências da UNICAMP e pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Educação do
CUML).
O grupo tem como objetivo promover um novo traçado para o conhecimento escolar
por meio do planejamento, num espaço interdisciplinar, de uma inovação curricular, seguido
de uma investigação educacional. Tal inovação tem como eixo a contextualização a partir do
ambiente, assumindo uma metodologia que implica em desenvolver conteúdos de modo
sistêmico, a partir de dados locais, propiciando meios mais eficazes de promover a
compreensão do ambiente natural, a partir de conhecimentos da Ciência do Sistema Terra.
O subgrupo, formado por uma professora de Biologia e um professor de Geografia, do
ensino médio, de uma escola da rede pública de ensino, elegeu como tema de estudo e ensino,
“Os caminhos da areia”. Este tem sido planejado de modo a possibilitar o estudo de aspectos
pertinentes a uma bacia hidrográfica local, contemplando processos naturais com uma
abordagem ambiental. A educação ambiental percebida no âmbito escolar está vinculada a
cultura veiculada pela imprensa com idéias de alterações ambientais antrópicas. Esse trabalho
pretende indicar que ocorrem mudanças ambientais provocadas pela própria natureza,
permitindo ao aluno, uma compreensão mais ampla do que seja educação ambiental.
Neste trabalho vamos expor os resultados de uma pesquisa realizada, primeira fase da
elaboração da inovação curricular, a qual buscou compreender como os alunos e adultos da
comunidade próxima a escola compreendem os seguintes eixos de estudo: o papel da areia na
transformação do relevo ao longo do tempo geológico e o transporte de minerais
(contaminantes naturais) e sua absorção pelos seres vivos.

REFERENCIAL TEÓRICO
Refletimos sobre uma proposta de desenvolvimento do trabalho voltado à percepção
do ambiente, com a realidade local, a contextualização e interdisciplinaridade, tendo como
pilar a Ciência do Sistema Terra.
Cuello Gijón apud (Gonçalves, 2005) Enfatiza a potencialidade da Geologia para
servir como núcleo voltado para abordagens interdisciplinares de conteúdo no ensino de
crianças e adolescentes. Nota ele que as bases metodológicas e epistemológicas, vinculadas ao
conhecimento da história da natureza são especialmente favoráveis ao tratamento sistêmico de
temas ambientais com significativas possibilidades para o trabalho educativo. (p.367)

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Complementando tal raciocínio Guimarães (2004) nos indica que:

Através do raciocínio e de procedimentos específicos da Geologia é feita à


caracterização dos materiais, das formas de energia e das suas interações no espaço
e no tempo, definindo-se como um conjunto de parâmetros inter-relacionados que
servem de padrão de referência do meio físico, construído pelo estudante, este
padrão leva a compreensão do ambiente físico local e de suas relações com o
contexto sociocultural, estendendo-a para o contexto mais amplo, até chegar à
concepção da Terra como sistema evolutivo complexo, que favoreceu o surgimento
e evolução dos organismos, humanidade e que modificam a superfície terrestre.
(p.87)

Guimarães (2004) apoiada em (Compiani, 1991) e Compiani e Carneiro (1994) afirma


que o estudo interdisciplinar, em atividades práticas de laboratório e de campo, desenvolve
nos estudantes a habilidade de registrar, caracterizar, relacionar evidências, criar modelos
compará-los com outros já existentes.
Se apoiados nestes autores pudemos compreender a importância do conhecimento
geológico para promovermos a tão almejada interdisciplinaridade à leitura do texto de
Rodrigues e Garzón (2003) nos fortaleceu na concepção de que é relevante o estudo do local
feito por alunos e professores para entender as características da cidade.
Seguindo neste caminho tentamos mostrar a ligação das Geociências a saúde, e
conseqüentemente, a contribuição interdisciplinar.
Olle Selinus (2005) nos mostra que o ambiente é uma rede de interações. As rochas
sofrem alterações (intemperismo) e se convertem em outros materiais, e assim, os elementos
químicos estarão disponibilizados no solo e serão levados para os rios (que são os principais
modeladores da paisagem) e poderão representar ou não riscos a saúde. “Todos os elementos
conhecidos estão presentes em algum nível de concentração no ambiente natural, nos
organismos humanos e animal, nos vegetais e nos minerais e seus efeitos benéficos ou
maléficos estão presentes desde o início da evolução do planeta”. (p. 1)
O homem não é o único agente transformador do planeta, a própria natureza sofre
transformações (degradação natural), dessa maneira tentaremos mostrar que ao longo do
tempo o ambiente sofre transformações que se repetem.
Gonçalves e Carneiro (2001) afirmam que

Muitas coisas estão se modificando: os minerais das rochas vão sendo desgastados e
renovados, os solos são erodidos e repostos etc.; ao longo de intervalos de tempo da
ordem de centenas de anos a paisagem vai sendo substituída por outra que pode ser
muito parecida com a anterior. (p. 8)
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O plano da inovação curricular


Objetivos a serem perseguidos:
• Compreender as transformações do relevo dentro da bacia hidrográfica e suas
conexões com o mundo biológico.
• Analisar com os alunos a formação, caminhos e acúmulos da areia e sua relação com o
desenvolvimento do relevo.
• Discutir a ação do intemperismo e identificar substâncias liberadas da rocha até sua
transformação em areia.
• Analisar a presença de minerais, seu intemperismo e liberação de produtos que
alteram o ambiente, seu comportamento durante o trajeto e seus efeitos na fisiologia
dos seres vivos (metais pesados que possam estar na água ou nos sedimentos).
Os passos planejados
Esse trabalho é organizado segundo um conjunto de atividades. As etapas fundamentais das
atividades didáticas são as seguintes:
Fase de preparação: Nas bibliografias pesquisadas, foram selecionados textos científicos,
documentários e figuras pertinentes aos assuntos, permitindo a preparação de aulas
expositivas e material de apoio para os alunos.
Primeira fase de implementação: Diagnóstico sobre o conhecimento dos alunos e da
comunidade acerca do ciclo da areia.
Segunda fase de implementação: o aluno terá um material de apoio que elaborado pelos
professores a partir de trechos retirado de artigos científicos para discussão em sala de aula.
As aulas expositivas foram preparadas com conteúdos articulados entre as disciplinas, que
contará com mapas, figuras e filmes para abordar os assuntos. Será solicitado ao aluno a
elaboração de relatório. Perseguir-se-á a resposta a questões que serão feitas no decorrer das
aulas, como, por exemplo: Como a Ciência oferece meios para entender a presença de
minerais na água? Os relevos estão se modificando constantemente?
Terceira fase de implementação: na atividade de campo está prevista uma visita a um porto
de areia para que o aluno possa observar a deposição das camadas de areia, a geomorfologia
do terreno e suas diferentes altitudes e locais de depósito; coleta de areia, água e outros
materiais de amostras para verificação de contaminantes naturais e características dos
mesmos.
Para visita de campo será utilizado um roteiro que permitirá a observação de pontos
estratégicos, contando com equipamentos que possibilitarão a coleta e manipulação de
materiais, registros e imagens para análise e investigações, procurando engajar os estudantes
na formalização de dados da cidade (local) para os diversos tópicos do conteúdo abordado.
Entendemos que a saída para campo é de fundamental importância para compreensão e
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articulação dos saberes.

METODOLOGIA
Esta pesquisa se refere à primeira fase da implementação da inovação curricular. Foi
aplicado um questionário aos alunos da 3ª série do ensino médio de uma escola pública do
interior de São Paulo, para diagnosticar e direcionar uma aprendizagem mais efetiva, e
contará com a participação da comunidade em alguma atividade.
O diagnóstico inicial foi realizado com as seguintes questões dirigidas ao aluno e a
comunidade por meio do aluno.
1- De onde vem à areia?
2- Onde você encontra acúmulo de areia?
3- Quais os meios utilizados pela natureza para transportar areia?

RESULTADOS PARCIAIS
Primeira fase: Ao serem indagados quanto a origem da areia, de um total de 38 alunos,
11 responderam que a areia vinha do mar e 6 que vinha da praia. Já entre as pessoas da
comunidade, numa porcentagem de 52,2%, a areia é originada do fundo do rio.
Na segunda questão um total de 30 alunos respondeu que é nas praias e nos desertos
onde se verifica maior acúmulo de areia, resposta coincidente com um total de 15 pessoas da
comunidade sendo que outras 5 pessoas da comunidade afirmam que o acúmulo se dá nos
rios.
Na terceira questão tanto os alunos (27) como a comunidade (21) acreditam que os
meios utilizados pela natureza para transportar areia é o vento.
Concebendo que tanto os alunos como a comunidade não compreendem fases
essenciais dos fluxos da areia no ambiente bem como seu papel no ambiente,
desenvolveremos esta inovação organizada na busca de propiciar uma visão sistêmica do
fluxo da areia.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
GONÇALVES, P. W. & CARNEIRO, C. D. R. Ciclos da Natureza. Ciência Hoje, v.10, p.6-
10, 2001.
GONÇALVES, P. W. e SICCA, N.A.L. Didática de Ciências da Terra: Cidade e Ambiente
como focos para o Ensino Médio. Anais da 28ª Reunião Anual da ANPED, 2005.p.1-16.
GUIMARÃES, E. M. A contribuição da Geologia na construção de um padrão de referência
do mundo físico na Educação Básica. Revista Brasileira de Geociências, v.34, p.87-94, 2004.
RODRIGUES, J. G; GARZÓN, J.C. Cooperação escola-universidade e construção do
currículo. In: Garcia, Regina Leite; MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa. Currículo na
contemporaneidade: incertezas e desafios. São Paulo: Cortez, 2003.p. 209- 253.
SELINUS, O. Geologia médica. In: SILVA, C. R. et al. (Ed.). Geologia médica no Brasil:
efeitos dos materiais e fatores geológicos na saúde humana e meio ambiente. Rio de Janeiro:
CPRM (Serviço Geológico do Brasil): 2006. p.1-5.

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A DISCIPLINA DE GEOLOGIA AMBIENTAL NO CURSO DE TECNOLOGIA EM


GESTÃO AMBIENTAL (CESCAGE-PR)

THE ENVIRONMENTAL GEOLOGY SUBJECT IN THE TECHNOLOGY IN


ENVIRONMENTAL MANAGEMENT'S COURSE (CESCAGE-PR)

Isonel Sandino Meneguzzo


CESCAGE – PR, isonelm@yahoo.com.br

Resumo: Este texto tem por objetivo apresentar os principais aspectos do conteúdo da
disciplina de Geologia Ambiental e os procedimentos metodológicos básicos empregados em
sua docência. A disciplina conta com uma carga horária total de 54 horas/aula, sendo que
deste total, 36 horas/aula são teóricas e 18 horas/aula são práticas. Nesse sentido, 15
horas/aula foram distribuídas em saídas de campo e 3 horas/aula foram direcionadas à análise
de amostras de rochas. No transcorrer do semestre letivo foi adotada a abordagem sistêmica
como orientação teórico-metodológica com o intuito de estabelecer relações entre os itens
presentes na ementa. Os cursos superiores de Gestão Ambiental devem ter em suas grades
curriculares, disciplinas relacionadas à Ciência Geológica, para que os futuros gestores
tenham plena consciência da importância deste campo do conhecimento nas atividades
produtivas e na conservação dos recursos naturais superficiais e subterrâneos.

Palavras-chave: Geologia Ambiental, Ensino de Geologia, Gestão Ambiental.

Abstract: This test has for the purpose to show the main aspects about Environmental
Geology subject and the basic methodological procedures employed in its teaching. The
Environmental Geology subject has 54 hours/class, these, 36 hours/class are theoretical and
18 hours/class are practices. Accordingly, 15 hours/class were destined to practices activities
and 3 hours/class were directed to analysis to sample rocks. During the semester a systemic
approach was adopted as theoretical-methodological guidance in order to establish
relationships between items on the menu. The Environmental Management's courses should
have in their curriculum, subjects related about Geology science, this way, the future
managers will be aware about importance of this field of knowledge in productive activities
and conservation of natural resources above and underground.

Keywords: Environmental Geology, Teaching of Geology, Environmental Management.


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INTRODUÇÃO
Este texto tem por objetivo apresentar os principais aspectos do conteúdo da disciplina
de Geologia Ambiental e dos procedimentos metodológicos básicos empregados em sua
docência no contexto do curso superior de Tecnologia em Gestão Ambiental.
A disciplina de Geologia Ambiental foi ministrada no primeiro semestre letivo de
2009, no curso de Tecnologia em Gestão Ambiental do Centro de Ensino Superior dos
Campos Gerais (CESCAGE), município de Ponta Grossa1, Paraná.
O curso tem duração de aproximadamente dois anos, sendo que as disciplinas estão
agrupadas em módulos semestrais. O curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, recente,
porém, pioneiro na região forma no início do próximo ano sua primeira turma de gestores.
Diante disso, a Geologia Ambiental, que se ocupa em estudar os problemas geológicos
decorrentes da relação que existe entre o homem e a superfície terrestre (Leinz & Amaral,
1998) possui papel fundamental na formação profissional do futuro tecnólogo, pois interage
com outras áreas, como a Geografia, a Biologia, a Geomorfologia, a Agronomia, a Química,
entre outros campos do conhecimento científico (Medina et al. 2007).
Nesse sentido, a supracitada disciplina é de suma importância para a formação
acadêmica, pois com a promulgação da Lei nº 10.410/02 que cria e estabelece normas para a
carreira de gestor ambiental, o mesmo deve estar apto a formular políticas nacionais de meio
ambiente e de recursos hídricos, atuar na melhoria da qualidade ambiental, na exploração
sustentável dos recursos naturais, na regulação, gestão e ordenamento do uso e acesso aos
recursos ambientais (Brasil, 2002).

A GEOLOGIA AMBIENTAL NO CONTEXTO DA GESTÃO AMBIENTAL


No contexto do curso que visa formar tecnólogos em Gestão Ambiental, a disciplina
de Geologia Ambiental, enquadrada no primeiro semestre do curso, é a única diretamente
ligada à área de Geociências da grade curricular.
Disciplinas como Avaliação de Impacto Ambiental, Gerenciamento de Recursos
Hídricos, Gestão de Resíduos Sólidos, Legislação e Licenciamento Ambiental e Manejo e
Recuperação de Áreas Degradadas, são trabalhadas em módulos posteriores.
Nesse sentido, um dos objetivos da Geologia Ambiental no contexto do curso
supracitado é subsidiar a formação dos alunos para que os mesmos possam no âmbito
acadêmico e no futuro, realizar estudos técnicos com uma visão de totalidade e

1
O município de Ponta Grossa está inserido na Região dos Campos Gerais do Paraná. Nesta região
predominam solos agricultáveis, desenvolvidos sobre formações geológicas distintas como arenitos siluro-
devonianos da Formação Furnas, folhelhos devonianos da Formação Ponta Grossa e arenitos permo-
carboníferos do Grupo Itararé. Nesse sentido, no andamento da disciplina, foi dada ênfase para a questão da
alocação de atividades produtivas e com potencial poluidor em áreas onde ocorrem rochas areníticas, pois as
mesmas são porosas e permeáveis o que permite com que a água se movimente com relativa facilidade,
289
podendo assim promover poluição do lençol freático.
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interdisciplinaridade, estabelecendo assim relações com as outras disciplinas presentes na


grade curricular.
A ementa2 da disciplina do curso acima referido é a seguinte: Conceitos básicos e
Aplicabilidade; Situação brasileira (Fósseis do Brasil) e Potencialidades; Perspectivas
Profissionais; Fenômenos Geológicos: Vulcanismo; Terremotos; Movimentos Tectônicos e
Variação do Nível do Mar; Movimentos de Massas; Erosão e Sedimentação; Enchentes.
Exploração de Recursos naturais: Limitações dos Bens Naturais; Recursos Combustíveis;
Espécies Minerais e a Qualidade Ambiental; Mineração a Céu a Aberto (natureza, extensão e
significado no contexto ambiental); Rejeitos de Mineração. Formas de Ocupação e o Meio
Ambiente: Urbanização (Geotecnia e Saneamento); Irrigação e Drenagem; Agricultura
(intensiva e extensiva) Barragens, Estradas e Túneis: A Geologia e a Implantação de Infra-
Estruturas; Planejamento de Ocupação do Meio Físico. Constituição do Globo Terrestre,
Minerais e Rochas, Intemperismo e a Ação dos Ventos; Água Subterrânea, Geomorfologia do
Paraná: Trilhas de Interpretação da Natureza em Sítios Geológicos e Geomorfológicos, Mapa
Geológico do Paraná: Recursos Minerais do Paraná, Campos Gerais do Paraná:
Potencialidades geológicas e Geologia de Ponta Grossa, Sensoriamento Remoto: Imagens de
Radar, Satélite e Fotografias Aéreas em Estudos Geológicos e Prática de Campo.
A ementa, organizada levando-se em consideração os preceitos definidos pelo
Ministério da Educação e Cultura, procura também contemplar o contexto geológico regional,
tendo em vista que os futuros profissionais podem vir a atuar na própria região onde vivem.
A disciplina de Geologia Ambiental conta com uma carga horária total de 54
horas/aula, sendo que, deste total, 36 horas/aula são teóricas e 18 horas/aula são práticas.
Nesse sentido, 15 horas/aula foram distribuídas em saídas de campo e 3 horas/aula foram
direcionadas à análise de amostras de rochas (folhelhos da Formação Ponta Grossa, arenitos
da Formação Furnas e diabásio da Formação Serra Geral) que ocorrem na região de Ponta
Grossa.
Partindo da premissa de que o meio ambiente é produto da inter-relação e
funcionamento entre diversos elementos (Penteado Orellana, 1985) optou-se pela metodologia
sistêmica preconizada por Bertalanffy (1973) como forma de abordagem dos conteúdos ao
longo do semestre letivo.
Praticamente todos os itens constantes na ementa foram trabalhados por meio de aulas
expositivas. Os itens referentes à Geologia Regional e local foram contemplados com três
saídas de campo a sítios geológico/geomorfológicos situados no município de Ponta Grossa.
Além dos aspectos conceituais, teóricos e metodológicos abordados no decorrer do
semestre letivo, o item “Legislação Ambiental e Geologia” também foi ministrado aos

2 290
Ressalta-se que os itens constantes na ementa não estão em ordem de apresentação.
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educandos. Especificamente, no que tange ao subsolo, duas legislações foram contempladas:


o Código de Mineração e o Código de Águas. Tais leis foram apresentadas e discutidas em
sala-de-aula com o intuito de que os alunos estejam cientes de que existe um arcabouço legal
que regulamenta a exploração dos recursos ambientais ligados à Ciência Geológica.
Além disso, visando aprimorar o processo ensino-aprendizagem com conhecimentos
perfeitamente aplicáveis a atual conjuntura ambiental, aspectos gerais da norma NBR
13030:1998 - “Elaboração e apresentação de projeto de reabilitação de áreas degradadas pela
mineração” bem como, o Decreto número 97.632/89 que dispõe sobre a regulamentação do
Artigo 2°, inciso VIII, da Lei n° 6.938, de 31 de agosto de 1981 também alusivo à exploração
mineral e recuperação de áreas degradadas, foram apresentados em sala.
Complementarmente, aos aspectos legais, o item e subitens a seguir foram
apresentados na perspectiva de contribuir para o aprofundamento do conteúdo alusivo a NBR
13030:1998: Indicadores geológicos e geomorfológicos na recuperação de áreas degradadas:
Formação geológica (nome da unidade geológica, idade, características geotécnicas como
granulometria, minerais presentes e estabilidade físico-química dos mesmos); Presença de
falhas e fraturas (gênese, orientação e distribuição espacial); Existência de afloramentos
rochosos (área e distribuição espacial); Contato solo-rocha (abrupto ou não); Formas de
relevo (vertentes convexas, côncavas e retilíneas); Processos predominantes (escoamento
superficial, subsuperficial e infiltração); Comprimento das encostas e presença dos rejeitos
nos compartimentos de relevo.
Principalmente no que tange aos tipos litológicos e às estruturas geológicas do
substrato rochoso, a disciplina de Geologia Ambiental demonstra ampla aplicação prática.
Isto se deve ao fato, de que, reconhecendo as principais características do substrato, medidas
como implantação de atividades com riscos de gerar poluição hídrica, alocação de infra-
estruturas de porte significativo e impactantes como barragens e pontes e explotação de
recursos minerais, por exemplo, o futuro tecnólogo terá consciência e capacidade em tomar as
medidas técnicas e legais de acordo com a natureza do empreendimento.
Ressalta-se que, o meio físico entendido enquanto item que deve ser contemplado
quando da realização de diagnósticos ambientais e estudos de impacto ambiental, por
exemplo, o substrato rochoso é parte integrante deste item e deve ser apreendido numa
perspectiva de inter-relação com os demais componentes ambientais.

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II Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra e IV Simpósio Nacional O Ensino de Geologia no Brasil
1 a 5 de Novembro de 2009 – Instituto de Geociências – Universidade de São Paulo

CONCLUSÕES
Apesar da ementa da disciplina de Geologia Ambiental ser bastante abrangente,
procurou-se no desenvolver do semestre letivo estabelecer relações existentes entre os itens
constantes na ementa e, para tanto, utilizou-se a abordagem sistêmica.
Optou-se por tal metodologia devido ao fato de que o meio ambiente deve ser
entendido com uma visão de totalidade, onde os problemas ambientais, bem como a gestão
ambiental devem ser encarados numa perspectiva de inter-relação dos diversos componentes
que o constituem.
Amplamente utilizada em trabalhos técnico-científicos, esta orientação metodológica
pode ser perfeitamente aplicada no ensino de Geologia Ambiental, tendo em vista a sua
característica integradora e holística, em detrimento de uma abordagem fragmentada e sem
concatenação com os demais itens constantes na ementa.
No tocante aos assuntos abordados, mesmo havendo uma relativa complexidade
envolvendo a compreensão dos mesmos por parte dos alunos, a carga horária total da
disciplina apresentou-se compatível com os conteúdos inicialmente propostos no plano de
curso. Nesse sentido, a prática pedagógica diversificada, aliada a uma abordagem holística
pôde proporcionar aos acadêmicos um aprimoramento na compreensão de assuntos
pertinentes à temática geoambiental.
O substrato rochoso, além de possuir recursos minerais que são utilizados pela
sociedade, serve de suporte para implantação de aterros sanitários, condiciona o
desenvolvimento dos solos e de processos de erosão hídrica e pode abrigar corpos hídricos
como aqüíferos.
Nesse sentido, os cursos superiores de Gestão Ambiental devem ter em suas grades
curriculares, disciplinas relacionadas à Ciência Geológica, para que os futuros gestores
tenham plena consciência da importância deste campo do conhecimento nas atividades
produtivas e na conservação dos recursos naturais superficiais e subterrâneos.

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