Bart era vizinho de Simpson há cerca de 4 anos, quando se mudou para o Bairro.
Logo que avistou Margie, Bart instantaneamente gostou dela e desde então, sempre
que podia a abordava, propondo-lhe uma relação amorosa secreta, de modo a que o
marido de Margie não suspeitasse de nada.
Entretanto, Margie não só repelia os avanços de Bart como ameaçava contar ao seu
marido.
Inconformado, e pretendendo afastar de uma vez por todas Simpson do seu caminho,
Bart abordou Carl, vizinho e garantiu -lhe que viu Simpson a entrar numa pensão com a
filha daquele, Lisa, de 15 anos de idade, onde saíram passadas cerca de 2 horas depois.
Absolutamente fora de si, Carl foi ao encontro de Simpson e sem sequer trocar uma
palavra que seja, desferiu um soco que atingiu-o no olho direito, tendo este caído.
Estando Simpson no chão, Carl pontapeou-o atingindo-o no tórax, tendo este perdido
os sentidos.
Quid Juris?
Época normal 2008
IV. A esconde-se na esquina de certa rua, disposto a assaltar qualquer transeunte. Surge
a senhora B, A aborda-a, de seringa na mão, intimando-a a entregar-lhe as jóias que
ostenta. B prepara-se para obedecer quando A descobre que, num relance, que aquela
era a pessoa que, no passado, o livrara de apuros. Deixa então B, sem tocar em nada do
que lhe pertence, e volta a esconder-se na esquina da rua, esperando a próxima vítima.
Deve A ser punido pela sua conduta relativamente a B?
No caso em apreço, estamos perante um erro sobre as proibições legais (art. 16º/1/in
fine). O legislador trata como um erro excludente do dolo o erro sobre proibições cujo
conhecimento é razoavelmente necessário para que o agente possa tomar consciência
da ilicitude do facto.
Assim, para efeitos legais, age sem dolo quem pratica um facto ilícito-típico sem
conhecer a sua ilicitude pois o conteúdo de desvalor ético-social do facto é tão frágil ou
controverso que a existência da simples proibição constitui um elemento essencial para
a definição e a compreensão do seu conteúdo desvalioso. Deste modo, o erro sobre as
proibições legais deve ser percebido como um erro no terreno dos crimes de mala
prohibita, isto é, como um erro relevante no seio das condutas puníveis que não
carregam nenhuma carga de desvalor ético-social intrínseca ou imanente e cujo
conteúdo de desaprovação resulta da mera existência de uma proibição legal (delicta
mere prohibita).
Portanto, para sabermos como é que o agente vai ser punido temos de averiguar se o
erro é ou não relevante. Se for irrelevante o agente é punido a título doloso. Por outro
lado, se o erro for relevante, exclui-se o dolo e o agente pode ser punido no máximo por
negligência segundo o art.16º (sendo que a culpa negligente corresponde a uma falta de
cuidado na tomada de conhecimento da lei, é uma censura deste tipo), isto se o erro for
vencível (evitável). Caso o erro seja invencível, não há qualquer juízo de censura, sendo
o agente absolvido.