Você está na página 1de 2

A resenha presente pretende relacionar a obra “A crítica da divisão do trabalho”, do

autor André Gorz, e a primeira parte do livro “Culturas de Classe”, organizado por Cláudio
Batalha, Fernando da Silva e Alexandre Fortes.
A parcela do livro de André Gorz que será apresentada é a do capítulo “Da manufatura
à maquinaria moderna”. Na manufatura, o capital se apropria do trabalho, porém a alienação é
apenas do corpo, isto é, o trabalhador é explorado, mas com o seu conhecimento. Enquanto,
no trabalho industrial, o processo é desmontado pelo capital e remontado com a sua própria
lógica, sendo o trabalhador propriedade do capital e a alienação é total.
A relação hierárquica dessa indústria é feita por meio de uma divisão entre o trabalho
manual e o trabalho intelectual, em que os trabalhadores da ciência e da técnica têm a função
de copiar as condições e as formas de dominação do capital sobre o trabalho. Dessa forma, é
acentuado, cada vez mais, a separação entre a execução do trabalho e o conhecimento sobre o
que se faz, intensificando a alienação do operário perante o que ele faz.
O livro “Culturas de Classe” é dividido em cinco partes, sendo a primeira parte
chamada de “Classe e Cultura: um balanço conceitual e historiográfico”, a que será retratada
nesta resenha. Essa parte é dividida em dois capítulos, sendo o primeiro, “Classe e história do
trabalho”, escrito pelo inglês Mike Savage, e o segundo, “Cultura: costume, comercialização e
classe”, pelo autor Neville Kirk.
No primeiro artigo, Mike Savage expõe que o recuo do movimento sindical gerou uma
crise de autoconfiança na história do trabalho, a busca por uma história do trabalho
politicamente envolvida modifica a noção de classe social em uma “palavra de ordem”. A
mudança na agenda política, porém, pôs sob rasura o conceito.
Duas origens teóricas sustentavam a ideia de classe, por um lado, a tradição marxista,
que para Savage, o principal fundamento para falar em classe operária era a extração do
trabalho excedente, ou seja, da mais-valia. Assim, ele argumenta que a crítica da teoria do
valor-trabalho ao negar a divisão trabalho produtivo e improdutivo, tornou a defesa dessa
teoria problemática e que as visões culturalistas dos marxistas poderiam levar ao
desaparecimento do foco sobre a classe.
De outro lado, o conceito weberiano de determinar a classe pela posição no mercado
de trabalho, acarreta em uma infinidade de situações de classe e impossibilita a demarcação
de fronteiras. Portanto, é notável que em ambas as tradições o definição de classe está
abalado, tornando a possibilidade de abandoná-lo tentadora. Entretanto, Savage diz que não
existe substituto à altura da noção de classe para refletir as questões de desigualdade,
principalmente no problema da origem da resistência ao poder.
O autor propõe a restauração radical do conceito de classe, uma vez que o que
determina a vida operária seria a sua insegurança estrutural e a retirada dos meios de
subsistência que leve o trabalhador a procurar estratégias para uma vida menos incerta. Em
que pese o mérito dessa ideia, ao não especificar um desdobramento necessário de ação do
trabalhador, não é novidade que o proletário é aquele que nada possui a não ser sua força de
trabalho.
Por sua vez, Neville Kirk, no segundo capítulo, reconhece duas abordagens
conflitantes na história do trabalho britânico: a marxista e a revisionista. Enquanto, a primeira,
evidencia a mudança, o conflito e a formação da classe, a segunda, preocupa-se com a
continuidade, a estabilidade, o consenso e todo tipo de divisões fixas no meio operário. Desse
modo, ao observar o debate entre essas abordagens, Kirk defende a ideia de que a diversidade
da classe operária não ocasiona conflitos por si só, mesmo comunidades muito heterogêneas
podem desenvolver solidariedades, inclusive em termos de classe.
Para o autor, Hobsbawm foi responsável por exibir uma imagem geral mais
globalizada, ao contrário daqueles que acentuavam os “elementos de diferença e divisão no
cotidiano operário”, o historiador argumentava que nessa época “as vidas dos trabalhadores se
caracterizavam mais pela mutualidade, coletivismo e pela consciência de classe do que por
diferenciações”.
É evidente, portanto, que, enquanto, Savage acredita que a ideia de classe deve ser
restabelecida, pois o trabalhador vive por meio de uma constante insegurança estrutural e
sempre em busca de estratégias para reduzir a incerteza em sua vida, trazendo conflitos entre
a classe operária. Kirk demonstra uma opinião contrária ao defender que os operários são
capazes de desenvolver o coletivismo mesmo em comunidades heterogêneas, pois a
diversidade não é o que causa o conflito sozinha.
Por isso, é possível relacionar a escrita de Savage com a de Gorz, ao que ambos
demonstram opiniões semelhantes, pois o sociólogo britânico retrata que o conceito de classe,
ainda que insubstituível, provoca conflitos dentro da comunidade e cria uma resistência do
poder, ao viverem constantemente pela sobrevivência e a melhoria de vida e, filósofo
austro-francês mostra que com a evolução da indústria houve uma separação entre o trabalho
manual e intelectual que acarretou em uma relação de oposição e personificação de interesses
de classes antagônicas, além de provocar uma alienação completa nos operários.

Você também pode gostar