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DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

O presente Estudo dentro do conteúdo dos "crimes contra a dignidade sexual" tem como intuito
entender a grande importância e relevância das significativas alterações que a Lei n.º 13.718/18, e que
revogou dispositivo da Lei das Contravenções Penais, as aludidas alterações serão tratadas de forma
objetiva, a fim de elucidar todas as modificações que estas leis introduziram no ordenamento jurídico,
como a questão da importunação sexual, estupro coletivo e corretivo, as polêmicas da alteração da ação
penal quando se trata de crimes sexuais, às amparando pela lei quando frequentam transportes públicos
coletivos, quando vão a festas e querem fazer tudo conforme as suas vontades, sabendo que em caso de
eventual delito, o infrator irá ser devidamente punido.
No entanto, sabe-se que divergências de entendimentos das turmas superiores acerca da vítima
estar desacordada, outrossim, proteção à intimidade das pessoas no âmbito sexual, tipificando
adequadamente de acordo com a gravidade do delito, dentre outras mudanças ocasionadas pelas
supracitadas leis.
"DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL".
Título VI – Dos crimes contra a dignidade sexual:
Capítulo I – Dos crimes contra a liberdade sexual – arts. 213 a 216-A;
Capítulo II – Dos crimes sexuais contra vulnerável – arts. 217 a 218-B;
Capítulo III – Do rapto – arts. 219 a 222 (todos revogados);
Capítulo IV – Disposições gerais – arts. 223 a 226 (revogados os arts. 223 e 224);
Capítulo V – Do lenocínio e do tráfico de pessoa para fim de prostituição ou outra forma de exploração
sexual – arts. 227 a 232 (revogado art. 232);
Capítulo VI – Do ultraje público ao pudor – arts. 233 e 234; Capítulo VII – Disposições gerais – arts.
234-A a 234-C.

CRIME DE ESTUPRO - ARTIGO 213 DO CÓDIGO PENAL -


Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez)
anos.
Conceito: O estupro é um crime hediondo mesmo na forma simple segunda a terceira Seção do
Tribunal Superior, pois fere a dignidade sexual, ainda que praticados na sua forma simples e antes da
edição da Lei n. 12.015/2009, são considerados hediondos e portanto, submetem-se ao regramento
previsto para este delito. Anteriormente o art. 213 (estupro) descrevia a seguinte conduta criminosa:
"Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça". E o art. 214 (atentado
violento ao pudor) tipificava o seguinte comportamento: "Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal".
Atualmente não há mais o crime de atentado violento ao pudor, porém a conduta correspondente agora é
considerada estupro; ou seja, a redação em vigor do art. 213 (estupro) alcança tanto a conduta antes
considerada estupro como aquela anteriormente considerada como atentado violento ao pudor.
O vocábulo estupro passou a ter, portanto, uma maior amplitude. O crime em referência, em todas as
modalidades, é considerado hediondo (art. 1º, V, da Lei nº 8.072/1990). Pode-se dizer que o estupro é
crime complexo, ou seja, ele é formado pela fusão de mais de um delito. Contudo, aquele que mediante
violência ou grave ameaça forçar alguém à prática de ato sexual, pratica um único crime: o de estupro.
Nos crimes complexos, há a pluralidade de bens jurídicos tutelados, o que não ocorre nos crimes simples,
que protegem um único bem (ex.: no homicídio, o bem jurídico é a vida).
Usa-se o termo:
Conjunção carnal; termo específico, dependente de apreciação particularização que é a penetração e
todas as demais formas libidinosas (ato voluptuoso que tem por finalidade satisfazer o prazer sexual).
Estupro coletivo - A lei em estudo fez a inclusão do estupro coletivo ao Código Penal Brasileiro, onde
consta a previsão do aumento de pena no inciso IV, alínea “a” de seu artigo 226: “IV – de 1/3 (um
terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: Estupro coletivo a) mediante concurso de 2 (dois) ou
mais agentes” (BRASIL, 2018).
O referido crime se trata de algo que acontecera por vezes no Brasil, por exemplo, um grupo de jovens
vão a uma festa e fazem uma garota beber demasiadamente, perdendo a noção do que está em sua volta,
ou quem está próxima a ela, e nesse ponto, os agressores aproveitam a vulnerabilidade em que a vítima se
encontra para cometer atos sexuais, todos os aludidos jovens no mesmo ato.
Ou até mesmo utilizam-se de drogas para a dita vítima ficar igualmente vulnerável, colocam as
substâncias no copo da pessoa que eles têm o plano de violentar, logo após cometia o ato libidinoso, em
ambos exemplos se têm vários indivíduos abusando de uma pessoa que estava oferecendo pouca, ou
nenhuma resistência.
Vê-se a decorrência desse repugnante delito, por exemplo nos títulos das reportagens a seguir: “Estupro
coletivo: adolescente é embebedada e estuprada por seis pessoas.” (CABRAL, 2020); “Jovem de 23
anos sofre estupro coletivo em rua do DF; Polícia Civil investiga.” (G1 DF, TV Globo, 2020).
Estupro corretivo - Verifica-se outro aumento de pena introduzido no Código Penal pela Lei 13.718/18
em seu inciso IV, alínea “b” qual seja: “IV – de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é
praticado: […] Estupro corretivo b) para controlar o comportamento social ou sexual da vítima.”
(BRASIL, 2018). Se trata de um crime de estupro que o sujeito ativo pratica o ato com o objetivo de
“corrigir” a vítima, os seus comportamentos em sociedade, até mesmo a fim de corrigir a sua orientação
sexual. Uma forma de o agressor tentar fazer com que a vítima faça o que é certo na acepção dele.
A título de exemplo, há o seguinte caso: Uma mulher é lésbica, ou um homem é gay, e o vizinho dessas
pessoas não conseguem aceitar essa atração que sentem por pessoas do mesmo sexo, e então, o aludido
vizinho prende e força a moça que está em desacordo com o que ele acredita, a fazer conjunção carnal
com ele, com a finalidade de corrigir o que ela acredita ser certo.
Ou a mulher desse vizinho prende o rapaz homossexual e o força a fazer atos libidinosos com ela, pois
esta acredita que o certo é sempre o homem e a mulher, e não como ele leva a sua vida. Em ambos os
exemplos, a finalidade é de fato corrigir ações para ficar em acordo com o que os agressores pressupõem
ser certo, o plenamente aceito na sociedade.
Posto isto, agora há norma no ordenamento jurídico que tipifica adequadamente este delito que vem
acontecendo na contemporaneidade. Outrossim, a referida lei introduziu o artigo 234-A que inseriu os
incisos III e IV como causas de aumento de pena se a mulher ficar grávida em decorrência do crime, se a
vítima contrair algum tipo de doença sexualmente transmissível, se a vítima tiver idade avançada ou
tiver deficiência. (BRASIL, 2018).
Portanto, quando o agressor comete o ato criminoso e a sua vítima engravida, este transmite a ela
doenças venéreas, é idosa ou for pessoa com deficiência, incorrerá em majorantes.
Bem jurídico tutelado - Dignidade da pessoa humana. Tem-se como objeto jurídico (bem juridicamente
protegido) tanto a liberdade quanto a dignidade sexual (GRECO, 2010, v.III, p. 452). Ninguém pode ser
forçado a práticas sexuais, sendo direito seu a escolha do parceiro com quem irá se relacionar. Tem-se em
mira a liberdade de dispor do próprio corpo para práticas sexuais. Nesse passo também ensinam
Pierangeli e Souza (2010, p. 10): "O bem juridicamente tutelado é a liberdade sexual do homem e da
mulher, que têm o direito de dispor de seus corpos de acordo com sua eleição".
O objeto material é a pessoa (homem ou mulher) vítima do constrangimento.
Crime único ou concurso de crimes: posicionamento do STJ:
Primeira corrente de posicionamento do STJ: se o agente submete a vítima, em um mesmo contexto
fático, à conjunção carnal e a ato libidinoso diverso, haverá crime único, nessa hipótese a pluralidade de
condutas deve ser levada em consideração no momento da aplicação da pena.
Segunda corrente de posicionamento do STJ: o artigo seria um tipo penal misto cumulativo, ou seja, se
praticada mais de uma das condutas previstas no dispositivo, deverá o agente responder por mais de um
delito, e não apenas por um, como ocorre quando o consideramos como tipo penal misto alternativo.
Elemento subjetivo do tipo: É o dolo, não existe forma culposa.
Tipo objetivo: o art. 213 do CP a seguinte conduta proscrita: "Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso". Constranger significa forçar, coagir, obrigar. No estupro constrange-se alguém (ser humano
– homem ou mulher). O meio de execução é a violência ou grave ameaça. A violência consiste no
emprego de força física (conhecida como vis corporalis ou vis absoluta) para obtenção da satisfação
sexual. Ocorre quando a vítima é efetivamente agredida, amarrada, ou de qualquer modo tolhida em sua
capacidade de resistir através da aplicação de força física. A grave ameaça consiste na violência moral
(vis compulsiva). No caso do estupro, a mesma interfere no plano psíquico da vítima, fazendo-a ceder,
por intimidação, aos desejos do criminoso. O mal prometido pode ser contra a própria vítima (ameaçá-la
de morte, por exemplo) ou contra terceiros a ela ligados (dizer, p. ex., que vai matar o seu genitor se ela
não ceder). Não é necessário que esse mal seja injusto, podendo até ser justo (por exemplo: sujeito que
força a vítima a manter relações sexuais com ele, ameaçando-a de denunciá-la por um crime que ela
efetivamente praticou).
Tipo Subjetivo: Entende a doutrina majoritária que não se exige finalidade especial do agente (elemento
subjetivo do tipo específico) para configuração do crime. Quanto a este ponto Fernado Capez (2011, v. 3,
p. 36) faz os seguintes comentários: "Na realidade, o que poderia causar certa dúvida é o fato de que tal
crime exige a finalidade de satisfação da lascívia para a sua caracterização. Ocorre que se trata de um
delito de tendência, em que tal intenção se encontra ínsita no dolo, ou seja, na vontade de praticar a
conjunção carnal ou outro ato libidinoso. Desse modo, o agente que constrange mulher mediante o
emprego de violência ou grave ameaça à prática de cópula vagínica não agiria com nenhuma finalidade
específica, apenas atuaria com a consciência e vontade de realizar a ação típica e com isso satisfazer
sua libido (o até então chamado dolo genérico)".
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa.
Concurso de agentes: Haverá concurso de agentes por ocasião da prática de estupro, não é exigível que
todos estejam no mesmo ambiente, constrangendo ao mesmo tempo, basta que se apresentem no mesmo
cenário.
Consumação: Não exige a consumação carnal completa.
Tentativa: Admite tentativa. Aumento de pena: Se resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima
é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos; Se da conduta resulta morte. Nos casos de estupro
tentado, em que sobrevém a morte culposa ou lesão corporal também culposa, entende a doutrina
majoritária que deve o agente responder pelo estupro consumado qualificado, considerando a
impossibilidade da ocorrência de crime preterdoloso tentado. No caso de estupro contra menor de dezoito
e maior de catorze anos, com resultado morte culposo em decorrência do crime sexual, incidirá apenas a
qualificadora prevista no art. 213, § 2º, do CP. A idade da vítima não será valorada como qualificadora.
Formas qualificadoras: As qualificadoras do crime de estupro estão previstas nos §§ 1º e 2º do art. 213
do CP, conforme transcrevemos a seguir:
§ 1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou
maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
O § 1º estabelece como circunstância qualificadora a lesão corporal grave sofrida pela vítima em
decorrência do estupro. São consideradas graves para tais efeitos as lesões previstas nos §§ 1º (lesões
corporais graves) e 2º (lesões corporais gravíssimas) do art. 129 do CP.
VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE - ARTIGO 214 DO CÓDIGO PENAL (REVOGADO
PELA LEI Nº 12.015, DE 2009) -
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro
meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6
(seis) anos. Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se
também multa.
Bem jurídico tutelado: Liberdade sexual.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa.
Fraude: É a utilização do ardil, do engodo, do engano. Meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
de vontade da vítima: Qualquer mecanismo que conturba o tirocínio da vítima. por exemplo a vítima não
estar em plenitude do seu raciocínio.
Consumação: Obter, sendo o objeto a conjunção carnal ou outro ato libidinoso.
Tentativa: Não admite tentativa por no próprio artigo traz o termo “ter”, logo se necessita o ato.
Aplicação da multa: Se a finalidade for obter vantagem econômica, deve o magistrado aplicar também a
pena de multa.
IMPORTUNAÇÃO SEXUAL - ARTIGO 215-A DO CÓDIGO PENAL -
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a
própria lascívia ou a de terceiro: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui
crime mais grave.
Conceito: O núcleo do tipo é “praticar”, quer diz que realizar ou efetuar na presença de alguém e sem o
seu consentimento, qualquer ato libidinoso idôneo e diverso da conjunção carnal, com a finalidade de
satisfazer a própria lascívia ou a lascívia de terceiro.
Bem jurídico tutelado: É a dignidade sexual de qualquer pessoa.
Elemento Objetivo do tipo: "Essa elementar tem conteúdo abrangente compreendendo qualquer tipo de
ação de cunho sexual, ate mesmo o ato de encostar lascivamente nas nádegas da vítima ou em seus seios.
Trata-se de crime expressamente subsidiário, conforme se verifica no preceito secundário que ressalva a
sua aplicação quando o ato constituir crime mais grave. Nesse empregado como meio executório a
violência contra a pessoa, grave ameaça, fraude ou se aproveite de meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação de vontade da vítima." (Direito Penal, Damásio E. de Jesus, atualizador André Estefam ed.
Saraiva, 3º. Vol. 24ª.ed. pag. 112).
Elemento Subjetivo do Tipo: O dolo, a vontade e consciência de praticar a importunação sexual e
satisfazer a lascívia p´ropria ou de outrem.
Sujeito ativo: Cometido por qualquer pessoa seja do sexo masculino, feminino ao até mesmo transexuais.
Sujeito passivo: Pode ser qualquer pessoa, desde que não esteja no conceito de vulnerável. Pois, caso a
vítima seja menor de 14 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, incorrerá o agente no delito
do art. 217-A.
Lascívia: Comportamento de quem apresenta uma inclinação para os prazeres do sexo.
Consumação: Trata-se de crime formal, independente do resultado no mundo naturalístico.
Ação Penal Pública incondicionada (art. 225 CP).
Tentativa: Pela classificação dos crimes quanto o resultado naturalístico os crimes formais são
compatíveis com o conatus. Todavia, em casos práticos seria de difícil visualização.
Subsidiariedade expressa: O legislador deixou claro que o crime trata de delito subsidiário. Ou seja, ao
agente só será imputado este delito “se o ato não constitui crime mais grave”.
ASSÉDIO SEXUAL - ARTIGO 216 DO CÓDIGO PENAL (Revogado pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-
se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função.Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
Conceito: No sentido de forçar alguém a fazer alguma coisa. É um constrangimento ilegal específico.
Bem jurídico tutelado: Liberdade sexual, relacionada ao ambiente de trabalho, no sentido de a vítima
não ser importunada por pessoas que se prevalecem da sua condição de superior hierárquico ou de
ascendência. Objeto material é a pessoa constrangida (homem ou mulher), sobre a qual recai a conduta
criminosa do agente.
Elemento subjetivo do tipo: Dolo. Não admite forma culposa.
Sujeito ativo: Somente pode ser pessoa que se encontre na posição de superior hierárquico ou de
ascendência em relação à vítima, decorrente do exercício de emprego, cargo ou função.
Sujeito passivo: Só pode ser subordinado ou empregado de menor escalão.
Vantagem ou favorecimento sexual: Vantagem quer dizer ganho ou proveito, favorecimento significa
benefício ou agrado.
Consumação: Quer o agente obter satisfação da sua libido, por isso favorecimento sexual. que qualquer
forma.
Tentativa: Admite tentativa na forma plurissubsistente, embora seja de difícil configuração. Aumento de
pena: § 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.

CAPÍTULO I-A - DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL - REGISTRO NÃO AUTORIZADO


DA INTIMIDADE SEXUAL - ARTIGO 216-B DO CÓDIGO PENAL
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: Pena - detenção,
de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem
em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.
Conceito: Entende-se como cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo que envolva uma
ou mais pessoas em ambiente restrito, não acessível ao público. É evidente que, se o ato de caráter sexual
ocorre em local acessível ao público, o bem jurídico tutelado (intimidade) é exposto pelo próprio
titular.
A Lei n.º 13.772 com dois objetivos centrais: 1) alterar a Lei n.º 11.340 (Lei Maria da Penha), de 7 de
agosto de 2006, para reconhecer que a violação da intimidade da mulher configura violência doméstica e
familiar; 2) alterar o Código Penal, para criminalizar o registro não autorizado de conteúdo com cena de
nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado.
Registro não autorizado: A lei 13.772/18 fez a inclusão do artigo 216-B no Código Penal, que se trata da
produção, fazer fotografia, filmagens ou registros independente do meio conteúdo de cunho sexual
privado e íntimo sem a autorização de quem está sendo gravado e/ou fotografado. (BRASIL, 2018).
Com a referida inclusão, há uma devida tipificação para quem de fato, registra, grava, fotografa a pessoa
sem roupas, ou até mesmo no ato sexual, sem a devida autorização desta.
Ao continuar a análise vê-se importante introdução acerca do artigo tratado nesta seção, que se
encontra em seu parágrafo único, qual seja: “Na mesma pena incorre quem realiza montagem em
fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.” (BRASIL, 2018).
Ou seja, no material de cunho sexual, não há a necessidade de ser a pessoa de fato, uma simples
montagem do material erótico vinculando à imagem da vítima já configura o crime.
Divulgações indevidas de cunho sexual - Outra adição importante da lei em estudo foi a inclusão do
artigo 218-C no Código Penal, que se trata de “Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de
vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia.” (BRASIL, 2018). A princípio, deve-se observar
atentamente que é somente os verbos ditos no artigo, e não quem de fato produz o conteúdo, filma,
fotografa, este ato incorrerá em outro tipo penal que irá ser abordado posteriormente no presente artigo
científico.
Observa-se que há necessidade de se ter mais atenção ao analisar este artigo, pois conforme observado, a
vulnerabilidade disposta não se trata da vulnerabilidade do artigo 217-A, do Código Penal que são os
menores de 14 (catorze) anos, e sim diz respeito à vulnerabilidade por enfermidade ou deficiência
mental, pois, observando o tipo penal, nota-se que se tratar de menores vulneráveis, já existe no
ordenamento jurídico brasileiro norma mais grave, logo, incorreria nos artigos 241 ou 241-A do ECA.
Posto isso, com este fato tem-se o conflito aparente de normas, que há quando “vislumbra-se a aplicação
de mais de um dispositivo legal, gerando um conflito aparente de normas.” (CUNHA, 2016, p. 141). Em
vista disso, deve-se aplicar o princípio da especialidade na questão da vulnerabilidade do caput do artigo
que está sendo tratado nesta seção, pois este princípio diz que quando há uma lei geral e outra especial, a
lei que deverá ser aplicada ao caso concreto é a especial.
A pena deste tipo penal é de 01 (um) a 05 (cinco) anos, logo, não se admite fiança em âmbito policial,
porém, por ser tratar de crime de médio potencial ofensivo, admite-se a suspensão condicional do
processo, como já foi elucidado acerca do tema neste artigo.
“Pornografia de revanche”: A causa de aumento de pena prevista no parágrafo 1º do artigo 218-C do
Código Penal, é uma alteração de grande significação, pois se trata de algo mais sentimental, íntimo,
interno do ser humano. Dessa maneira, este parágrafo se trata de algo que acontecia reiteradas vezes mas
não era tipificado corretamente, é o caso de quando um casal se separava mas um deles não aceitava, ou
não queria aceitar o fim do relacionamento, então a parte descontente com o fato, divulgava fotos, vídeos
de cunho sexual a fim de se vingar da pessoa que não quer mais um relacionamento com ele, assim
nasceu o termo “Pornografia de Vingança” ou o termo em inglês “Revenge Porn”.
Antes da edição da Lei 13.718/18, este fato vexatório muitas vezes era tipificado como uma injúria com a
majorante constante no inciso III do Artigo 141 do Código Penal, que se trata da questão de ter muitas
pessoas ou algum meio facilitador da divulgação dos crimes que atingem a honra do ser humano.
(BRASIL, 1940). Logo, o meio favorável seria a pessoa ter um relacionamento com a vítima, morar
juntos por exemplo, e que agora está bem esclarecido e com pena mais gravosa.
Bem jurídico tutelado: Liberdade sexual.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: Pode ser qualquer pessoa, desde que seja capaz de consentir ao ato.
Elemento subjetivo: É o dolo, seja ele direto ou eventual em praticar qualquer das condutas sem
autorização dos participantes.
Consumação: Consuma-se com a prática de qualquer das condutas descritas no caput ou parágrafo único.
Tentativa: Por se tratar de crime plurissubsistente, em que a conduta pode ser perfeitamente fracionada
admite a tentativa, por exemplo a vítima perceber e evita o constrangimento.
CAPÍTULO II - DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL -
SEDUÇÃO - ARTIGO 217 DO CÓDIGO PENAL (REVOGADO PELA LEI Nº 11.106, DE 2005)
ESTUPRO DE VULNERÁVEL - ARTIGO 217-A DO CÓDIGO PENAL -
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena
- reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 5º As penas
previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente do consentimento da
vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao crime.
Conceito: Objetivo é ter a conjunção carnal de forma violenta ou não. Pela redação atual, se a vítima for
menor de 14 (quatorze) anos, seja do sexo masculino ou feminino, ocorrerá o crime, pouco importando o
seu histórico sexual.
Classificação doutrinária: crime comum, material, de forma livre, instantâneo, comissivo
(excepcionalmente, omissivo impróprio), unissubjetivo e plurissubsistente.
Do Consentimento da vítima no estupro de vulnerável - Esta seção irá tratar da inclusão do parágrafo
5º no artigo 217-A, no Código Penal qual seja:
“Art. 217-A. […] § 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais
anteriormente ao crime. (BRASIL, 2018)”.
Anteriormente havia muita discussão entre os operadores do direito, alguns queriam defender a tese de
que quando houvesse o consentimento da vítima, não seria crime, e outros diziam que incorreria em crime
mesmo com a clara anuência da vítima. E para resolver esta celeuma, o Superior Tribunal de Justiça
editou a súmula 593 que dispõe:
“O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com
menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente. (STJ, 2017)”.
Para consolidar a explanação acerca da dificuldade em tipificar e julgar corretamente, mesmo com a
edição da referida súmula, observa-se este julgado que trata do tema:
APELAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – ESTUPRO DE VULNERÁVEL (ART. 217-A, CAPUT, DO
CP)- VÍTIMA MENOR DE 14 (CATORZE) ANOS – SENTENÇA QUE ABSOLVEU O RÉU,
RELATIVIZANDO A PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA – INADMISSIBILIDADE – OFENSA À SÚMULA
593 DO STJ – DECISÃO REFORMADA. 1. Para a caracterização do crime de estupro de vulnerável,
previsto no art. 217-A, caput, do CP, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer ato
libidinoso com pessoa menor de 14 (catorze) anos. O consentimento da vítima, sua eventual experiência
sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não afastam a
ocorrência do crime. Inteligência da Súmula 593 do STJ. 2. Recurso provido, para condenar o réu nos
termos da denúncia. (TJ-RR – ACr: 0045130013142 0045.13.001314-2, Relator: Des., Data de
Publicação: DJe 10/01/2018, p. 29).
A parte autora, Ministério Público do Estado de Roraima, interpôs apelação criminal, pois a sentença
absolveu o réu, desconsiderando a supramencionada súmula, assim, colocando relatividade à presunção
de violência que a vítima menor de 14 (quatorze) anos deveria ter por força da aludida súmula. Com a Lei
n.º 13.718/18, não deixa mais espaço para esses debates, pois o legislador deixou clara a presunção
absoluta de violência, presunção legal contra essa vítima na redação do referido parágrafo 5º, não
somente presunção jurisprudencial.
Posto isso, entende-se, observando a alteração, que não tem importância na aplicação da norma, se a
vítima já havia feito atos sexuais, com conjunção carnal ou não, nem tampouco se namorava
anteriormente ao crime, ou se namorava com o próprio agressor, até mesmo se o menor estiver praticando
a prostituição, o fato irá ser devidamente tipificado e julgado.
Bem jurídico tutelado: Liberdade sexual.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: Deve ser pessoa vulnerável, criança ou adolescente menor de 14 anos, enfermidade ou
deficiência mental.
STJ e a idade da vítima: O fato é que a condição objetiva prevista neste artigo se encontra presente e
ocorreu o crime imputado ao agravante. Basta que o agente tenha conhecimento de que a vítima é menor
de catorze anos de idade e decida com ela manter conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, o
que efetivamente se verificou in casu, para se caracterizar o crime de estupro de vulnerável, sendo
dispensável, portanto, a existência de violência ou grave ameaça para tipificação desse crime.
Consumação - Duas correntes:
Segundo o STJ: “Para a consumação do crime de estupro de vulnerável, não é necessária a conjunção
carnal propriamente dita, mas qualquer prática de ato libidinoso contra menor.
Segunda corrente para alguns doutrinadores: Consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico
tutelado.
Tentativa: Admite tentativa embora de difícil comprovação.
Elemento subjetivo do tipo: É o dolo. Não existe forma culposa.
Aumento de pena: Se resulta lesão corporal de natureza grave ou morte.
CORRUPÇÃO DE MENORES - ARTIGO 218 DO CÓDIGO PENAL
Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão,
de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Conceito: Induzir significa dar a ideia ou sugerir algo a alguém.
Classificação doutrinária: crime comum, material, de forma livre, instantâneo, comissivo (em regra),
unissubjetivo e plurissubsistente.
Abolitio criminis: Com a publicação da Lei nº 12.015/09, esta Corte Superior de Justiça firmou
orientação no sentido de que a corrupção sexual de maiores de 14 (quatorze) anos e menores de 18
(dezoito) anos deixou de ser tipificada no Estatuto Repressivo, operando-se em relação à conduta
verdadeira abolitio criminis, como é o caso dos autos.
Bem jurídico tutelado: Liberdade sexual.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: Necessita ser pessoa menor de 14 anos. Se a vítima for maior de 18 (dezoito) anos, o
crime será o do art. 227 do CP. Se for maior de 14 (quatorze) e menor de 18 (dezoito) anos, aplicar-se-á a
forma qualificada do art. 227.
Consumação: Bastaria a prática da conduta para que o delito estivesse consumado, não necessitando
qualquer ato libidinoso, porém seria insuficiente para uma pena de 2 a 5 anos de reclusão, por isso é
fundamental que o menor realmente tome medida prática, relacionando-se com o agente.
Tentativa: Admite tentativa.
Elemento subjetivo do tipo: É o dolo. Não admite forma culposa.
SATISFAÇÃO DE LASCÍVIA MEDIANTE PRESENÇA DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE -
ARTIGO 218-A DO CÓDIGO PENAL
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem: Pena -
reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Conceito: Praticar significa realizar, executar; induzir quer dizer dar a ideia ou sugerir; presenciar no
sentido de assistir. Essas são as condutas que tem por objeto o menor de 14 anos, com a finalidade de
satisfação de lascívia própria ou de outrem.
Bem jurídico tutelado: Liberdade sexual no prisma moral; Vítima corrompida: Pouco importa o
histórico sexual da vítima. Ainda que se prostitua, sendo menor de 14 (quatorze) anos ocorrerá o crime,
caso ela venha a presenciar o ato sexual por dolo do agente.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: Apenas o menor de 14 anos.
Consumação: Tipo prescreve duas formas de consumação, praticar na presença e induzir a presenciar a
prática, sendo certo que a prática dos dois núcleos, mesmo que de forma subsequente e no mesmo
contexto, configura uma única infração penal, cuidando, portanto, de tipo misto alternativo.
Contato físico com a vítima: É essencial, para a configuração do crime do art. 218-A, que a vítima não
se envolve fisicamente no ato – ela apenas assistirá ao ato sexual. Caso contrário, o crime será o de
estupro de vulnerável, art. 217-A.
Tentativa: Admite tentativa.
Elemento subjetivo: É o dolo, com a especial finalidade de satisfação da lascívia.
Elemento subjetivo do tipo: É o dolo, não admite forma culposa.
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL - ARTIGO 218-B DO CÓDIGO PENAL
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor
de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a
10 (dez) anos.
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.
§ 2o Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de
14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no
caput deste artigo.
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença
de localização e de funcionamento do estabelecimento.
Conceito: não se confunde com o artigo 218 do Código Penal. Neste, o agente induz a vítima a satisfazer
a lascívia de pessoas certas e determinadas. Aqui, o agente leva, atrai, propicia ou retém a vítima , visando
desta o exercício da prostituição, consistente em satisfazer a lascívia de outro. A exploração sexual pode
ser definida como uma dominação e abuso do corpo de crianças, adolescentes e adultos, por exploradores
sexuais, organizados , muitas vezes, em rede de comercialização local e global, ou por pais ou
responsáveis, e por consumidores de serviços sexuais pagos, sendo suas modalidades divididas em quatro:
a) prostituição; b) turismo sexual; c ) pornografia; d) tráfico para fins sexuais.
Objeto da tutela penal: tutela-se a dignidade sexual do vulnerável.
Sujeitos do crime: crime comum, qualquer pessoa pode praticar. O polo passivo será integrado por
pessoa menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato.
Conduta: este crime contém várias ações penais, quai s sejam: submeter, induzir, atrair a vítima à
prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá -la ou impedir ou dificultar que alguém a
abandone.
Voluntariedade: dolo consiste na vontade consciente de induzir ou atrair alguém à prostituição, facilitá
-la ou impedir que alguém abandone.
Consumação e tentativa: induzir, atrair e facilitar, consuma-se o delito no momento em que a vítima
passa a se dedicar à prostituição, colocando-se, de forma constante, à disposição dos clientes, ainda que
não tenha atendido nenhum. Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono da prostituição, o
crime se consuma no momento em que a vítima deliberou por deixar a atividade e o agente obsta esse
intento. A tentativa é possível em todas as modalidades.
DIVULGAÇÃO DE CENA DE ESTUPRO OU DE CENA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL, DE
CENA DE SEXO OU DE PORNOGRAFIA - ARTIGO 218-C DO CÓDIGO PENAL
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou
telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro
de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de
sexo, nudez ou pornografia: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime
mais grave. Aumento de pena:
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que
mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
Exclusão de ilicitude:
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em publicação de
natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a
identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.
Objeto da tutela penal : tutela-se a dignidade sexual das pessoas vítimas do crime de estupro, além da
intimidade sexual.
Sujeitos do crime: crime comum , qualquer pessoa pode praticá-lo.
Conduta: Incide no crime aquele que oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir , vender ou expor à venda
, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que
tenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável, ou que faça apologia ou induza a sua prática, bem
como, cena de sexo, nude zoupornografia sem autorização da vítima.
Voluntariedade: dolo.
Consumação e tentativa: consuma-se o crime com a prática das ações descritas no núcleo penal. Sendo a
tentativa plenamente possível.
Exclusão de ilicitude - Há a previsão de uma exclusão de ilicitude prevista no parágrafo 2º do artigo
218-C, da Lei 13.718/18. Que diz respeito à publicação para outros fins que não sejam para expor a
vítima de forma vexatória, como publicações jornalísticas, acadêmica, ou científica, mas utilizando
meios para que a pessoa não seja identificada, exceto se esta anuir com a sua identificação. (BRASIL,
2018).
Dessa forma, o sujeito ativo da conduta que estiver publicando o material de cunho sexual para os fins
descritos no referido §2º, em que não haja a identificação do sujeito passivo ou este dê anuência, se for
maior de 18 (dezoito) anos. Logo, não haverá crime.
Ação Penal - Vê-se uma importantíssima alteração em relação à ação penal trazida no artigo 225 da
Lei 13.718/18, qual seja: “Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-
se mediante ação penal pública incondicionada.” (BRASIL, 2018). Não é mais condicionada à
representação, o que gerou muitas polêmicas e debates por parte dos juristas, a parte contrária à
modificação, alega que retira a liberdade de escolha da vítima, e que estas, muitas vezes não querem
reviver o fato que lhes acontecera.
Ao continuar a análise do artigo 225 do CP, percebe-se a desnecessidade da Súmula 608 do Supremo
Tribunal Federal, com o seguinte enunciado: “No crime de estupro, praticado mediante violência real,
a ação penal é pública incondicionada.” (STF, 1984). Pois o crime de estupro está previsto no capítulo I
do Título IV do Código Penal, logo, não há mais a necessidade da supracitada súmula, posto que está
explicitada no caput do artigo 225 do CP.
Outra discussão que perdeu seu efeito foi a indagação da vítima estar temporariamente
desacordada, a 6ª Turma do STJ entendia que neste caso, seria ação pública condicionada à
representação, no entanto, a 5ª Turma do STJ entendia que seria pública incondicionada, com fulcro no
supracitado artigo, será incondicionada de qualquer forma.
FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL -
ARTIGO 228 DO CÓDIGO PENAL-
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la,
impedir ou dificultar que alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de
quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Conceito: Neste artigo pode-se observar o induzimento/atração que leva alguém à prostituição ou outra
forma de exploração sexual. Observando as jurisprudências o que mais podemos observar que o que mais
se tem tratado deste dispositivo são as casas de prostituição infantil, casos recentes e chocantes.
Classificação doutrinária: Crime comum, material, de forma livre, instantâneo ou permanente,
comissivo, unissubjetivo e plurissubsistente.
Sujeitos ativo e passivo: Qualquer pessoa.
Elemento subjetivo: É o dolo. Não se admite a modalidade culposa.
RUFIANISMO - ARTIGO 230 DO CÓDIGO PENAL -
Art. 230. Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se
sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Conceito: Segundo Mirabete (2016) o rufianismo consiste em uma espécie de lenocínio. Significa
explorar, facilitar ou tomar vantagem de quem exerce a prostituição.
Objeto jurídico: disciplinam a vida sexual.
Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa (homem ou mulher).
Conforme Mirabete (2016) existem várias espécies de rufiões, sendo eles:
[...] “Maquereau, cáften ou apache”: São os que se utilizam de coação. “Cafinflero”: Aqueles que se
utilizam do poder do amor. Comerciante: Aqueles que atuam em um comércio [...].
Observação: Os “Amants du coeur” são os chamados “gigolôs”, e servem-se gratuitamente da meretriz.
*ESTES NÃO PRATICAM O CRIME*
Sujeito passivo: Seja homem ou mulher, é aquele que dedica-se à prostituição. Segundo Damásio (2011),
pode ser débil mental.
Tipo objetivo: De acordo com Mirabete (2016), o delito caracteriza-se quando o agente tira proveito da
prostituição, nos casos em que participa de seus lucros ou porque se faz sustentar da prática.
Consumação: É necessário que exista habitualidade pela participação reiterada nos lucros.
Tentativa: Não admite tentativa. (trata-se de crime habitual).
Forma qualificada: Dispõe Mirabete (2016) que o crime de rufianismo é previsto na forma qualificada,
se for cometido por “ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância”.
Ainda neste ínterim, destaca o autor que incide a qualificadora também se a “vítima é menor de 18 anos e
maior de 14 anos”. Nesses casos a pena prevista é de 3 a 6 anos de reclusão e multa.
§ 1º Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por
ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Entretanto, é importante destacar que se o rufião submete a criança menor de 14 anos à prática da
prostituição, configura-se o crime de Estupro de Vulnerável previsto no art. 224 do CP. Também se
qualifica o delito quando este for cometido com emprego de violência, grave ameaça, fraude ou outro
meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima. Assim a pena prevista cominada
é de 2 a 8 anos de reclusão. (MIRABETE, 2016, p. 465)
§ 2º Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou
dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: - Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem
prejuízo da pena correspondente à violência.
Concurso de crimes: Para Mirabete (2016) o rufianismo é admitido na forma de crime continuado
quando o rufião explora várias pessoas que praticam a prostituição.
CAPÍTULO VI - DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR -
ATO OBSCENO - ARTIGO 233 DO CÓDIGO PENAL
Art. 233. Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Conceito: De acordo com Mirabete (2016), a conduta tipificada como “ato obsceno” é o primeiro crime
definido como ultraje público ao pudor.
Objetivo jurídico: Visa tutelar o pudor público e individual de quem presencia o ato.
Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa.
Sujeito passivo: O Estado e qualquer pessoa que presencie o ato.
Tipo objetivo: Segundo a doutrina, ato obsceno é aquele que apesar de não se referir estritamente ao ato
sexual, envolvem partes (órgãos) a ele referente.
Dispõe Mirabete (2016) que o ato obsceno não se confunde com prática erótica ou libidinosa. No ato
obsceno a agente atenta contra os bons costumes. Para que se constitua o ato obsceno é necessário que
seja praticado em local público e em qualquer momento.
Para Damásio (2011) o ato tem que atingir a coletividade sendo um número indefinido de pessoas. Em
suma o local do ato praticado é discutível, a titulo de exemplo o automóvel, quando praticado a conduta e
o mesmo estiver na rua, configura-se o delito, exceto se o mesmo estiver dentro de uma garagem em que
não haja exposição ao público.
Tipo subjetivo: Segundo Damásio (2011) e Mirabete (2016), o tipo subjetivo define-se pelo dolo (direto
ou eventual) de praticar o ato, ou seja, a ciência do agente que pratica em lugar público, aberto e exposto
ao público.
Tentativa: Não se admite tentativa neste caso, (configura-se ou não o ato obsceno).
ESCRITO OU OBJETO OBSCENO - ART 234 DO CÓDIGO PENAL -
Art. 234. Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de comércio, de distribuição
ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. Parágrafo único: . Incorre na mesma pena quem:
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo;
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica
de caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter
obsceno.
Conceito: Consiste na conduta de “fazer, importar, exportar adquirir ou ter sob sua guarda, para fim de
comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer outro
objeto obsceno”.
Objetivo jurídico: Busca proteger o pudor público e particular.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: A coletividade. Pois como previsto no delito de “ato obsceno”, envolve o Estado.
Tipo objetivo: São os objetos materiais previstos no art. 234 do CP. É necessário que se inscreva em
pornografia dirigida a lascívia. Para tanto existe a necessidade de ser destinado ao comércio com as
características de atentar contra o pudor público. (MIRABETE, 2016, p. 478).
Para Damásio (2011), o humor grosseiro e chulo, liberação da obra pela censura oficial, não constituem o
delito. Entretanto prevê o autor que integram o tipo, filmes, “pôsteres”, chaveiros pornográficos.
Tipo subjetivo: Caracteriza-se o delito pelo dolo do agente em praticar qualquer uma das condutas
previstas no caput do art. 234. Além disso afirma a doutrina que existe a necessidade do intuito de
comercializar, distribuir ou expor ao público o objeto do delito.
Consumação: O delito fica consumado com a prática de qualquer das condutas enumeradas no
dispositivo. (MIRABETE, 2016, p.479).
Tentativa: É admissível, trata-se de crime de perigo.
CAPÍTULO VII - DISPOSIÇÕES GERAIS -
AUMENTO DE PENA - ARTIGO 234-A DO CÓDIGO PENAL
Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é aumentada: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
I – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
II – (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta gravidez; (Redação dada pela Lei nº 13.718, de
2018)
IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite à vítima doença sexualmente
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com
deficiência. (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
Conceito: O artigo 234-A do Código Penal apresenta duas novas majorantes em se tratando de crimes
sexuais. A primeira delas diz respeito à gravidez. Busca-se punir com mais severidade o agente que, em
decorrência de seu ato, ainda provocou na vítima uma gravidez certamente indesejada. A outra causa de
aumento diz respeito à transmissão de DST à vítima. Quanto a esta, previu o legislador expressamente
que deve o agente saber (dolo direto) ou, pelo menos, que deveria saber (dolo eventual) ser portador da
patologia transmitida.
Abrangência do dispositivo: O artigo 234-A é aplicável a todos os delitos inseridos no Título VI – Dos
Crimes Contra a Dignidade Sexual, isto é, aplicável do art. 213 ao art. 234. Ao contrário, as causas de
aumento do art. 226 só são aplicáveis aos delitos do Capítulo I e II, isto é, do art. 213 ao art. 218-C.
Causas de aumento de pena do art. 234-A: “Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título a pena é
aumentada: III – de metade a dois terços, se do crime resultar gravidez. IV - de um a dois terços, se o
agente transmite à vitima doença sexualmente transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou
se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência”.
Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Conceito: O artigo 234-B do Código Penal determina que os processos pertinentes aos crimes contra a
dignidade sexual devem correr em segredo de justiça. Por fim, os processos em que se apuram crimes
definidos neste título correrão em segredo de justiça, como verte da redação do novo artigo 234-B.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Promulgada em 05 de outubro de


1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em:
26 mar. 2020.

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual do Direito Penal: Parte Especial (Arts. 121 ao 361). Imprenta:
Salvador, JusPODIVM, 2017. Acesso em: 04 de junho de 2019.

AZEVEDO, Luciana. Lei 13772/2018: Alterações na Lei Maria da Penha e no Código Penal. Jusbrasil,
Publicado em: 20/12/2018. Disponível em:
<https://lucianaasazevedo.jusbrasil.com.br/artigos/661463263/lei-13772-2018-alteracoes-na-lei-maria-da-
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GRECO, Rogério. Código penal comentado. 4 ed. revista, ampliada e atualizada. Rio de Janeiro: Impetus,
2010.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. 7 ed. revista, ampliada e atualizada. vol. III. Rio
de Janeiro: Impetus, 2010.

MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de Direito Penal: parte especial. 27 ed. São
Paulo: Atlas, 2010.

CABRAL, Karina. Estupro coletivo: adolescente é embebedada e estuprada por seis pessoas. Olivre,
Publicado em: 02/01/2020. Disponível em: <https://olivre.com.br/estupro-coletivo-adolescente-e-
embebedada-e-estuprada-por-seis-pessoas>. Acesso em: 20 fev. 2020.

CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Geral (Arts. 1º ao 120). 4. ed. rev., ampl. e
atual. Salvador: JusPODIVM, 2016.

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