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Acupuntura no tratamento da Dor Ciática de origem Discal


Giselle Rodrigues Negreiros1
Renata Mayumi Onogi2
E-mail: fisioterapeutagisellenegreiros@gmail.com
Pós-graduação em Acupuntura – Faculdade FASAM

Resumo

A dor ciática constitui queixa comum entre tantas outras complicações decorrentes da hérnia
de disco. A Medicina Tradicional Chinesa, através da Acupuntura dispõe de um
conhecimento milenar com crescente aprimoramento no tratamento desse tipo de dor, que em
curso, apresenta um reflexo negativo sobre a capacidade laborativa e social. Visando saber
como a acupuntura pode contribuir com tratamento da dor ciática de origem discal. Foi
realizada uma pesquisa utilizando diversas referências como: livros, artigos e periódicos. O
resultado foi a elaboração de protocolos de tratamento através de pontos sistêmicos de
acupuntura, a partir das correlações entre os fatores que contribuem para causa energética
da dor ciática, o local (ou canal) em que a dor se manifesta, e a sua natureza: se aguda ou
crônica.

Palavras-chave: Acupuntura; Ciática; Hérnia de Disco.

1. Introdução

Ciática são sintomas da extremidade inferior, relacionados com as costas e sugerem


comprometimento de raiz nervosa (DUTTON, 2007).
Myers (1998), corrobora esse conceito ao citar que a ciática é uma síndrome de dor aguda que
se irradia da região lombar para as nádegas, desce para a coxa até a panturrilha e, às vezes,
para a sola ou dorso do pé e associa-se a hérnia de disco.
Ricard (2003), define a dor ciática como sendo uma dor de origem discal com alterações de
reflexos; e a difere da ciatalgia, que segundo ele, trata-se de comprometimentos mono
radiculares de origem muscular ou cápsulo-ligamentária. A dor ciática de origem discal
apresenta sinais na flexão de tronco, na tosse, na defecação e em posição sentada. A dor da
ciatalgia por causa ligamentar, aparece depois da manutenção prolongada de uma posição,
com tempo de latência de 10 minutos a 1 hora e aumenta na mudança de posição. Se a
ciatalgia tiver como causa o comprometimento da cápsula articular e dos ligamentos, terá
ainda como característica uma dor unilateral que aumenta com a inclinação lateral do tronco
associada a rotação homolateral, e os ligamentos envolvidos podem ser os iliolombares,
interespinhosos e sacrociáticos. Se a dor da ciatalgia for por origem muscular, haverá o
comprometimento de músculos como o piriforme e glúteo mínimo.
Santos (2012), cita que a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que no Brasil, 80%
dos adultos sofrerão pelo menos uma crise aguda de dor nas costas durante a vida. Desses,

1
Pós-graduando em Acupuntura
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Mestranda em Ciências da Saúde, Especialista em Acupuntura, Graduada em Fisioterapia.
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90% terão mais de uma queixa e entre as causas variadas está a hérnia de disco, que segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afeta 5,4 milhões de brasileiros.
Nesse contexto, podemos dizer que é importante focar em técnicas que auxiliem no
tratamento dessa patologia tão comum na população. Uma das opções é a Medicina
Tradicional Chinesa (MTC), que apresenta como parte importante de sua prática a
acupuntura, que tem sido utilizada amplamente no tratamento de dores agudas e crônicas por
meio de agulhas.
Esta técnica consiste em inserir uma agulha do tipo filiforme ou fina em determinados lugares
(pontos). Esta é a técnica mais popular, e tem uma longa história, baseada nas teorias dos
Órgãos Zang Fu para prevenir e tratar doenças, através de 14 canais (Meridianos), Pontos
Extras e Pontos Ashi. Ao contrário dos tratamentos médicos ocidentais, ela utiliza ferramentas
simples e tem um baixo índice de efeitos colaterais. Associada a uma eficiência marcante tem
sido largamente aceita por médicos e pacientes. (CHONGHUO, 1993; JUNYNG, 1996).
Partindo dessa premissa, de que forma a acupuntura como opção de tratamento pode
contribuir na dor ciática que tem por etiologia a hérnia de disco? O Objetivo deste estudo foi
sugerir um protocolo de tratamento da dor ciática de origem discal, utilizando pontos
sistêmicos de acupuntura, a fim de acrescer outros estudos que avaliam a eficácia da técnica.

2. Medicina Tradicional Chinesa

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC), constitui um vasto campo de conhecimento, de


origem e de concepção filosófica, abrangendo vários setores ligados à saúde e à doença. Suas
concepções são voltadas ao estudo dos fatores causadores da doença, à sua maneira de tratar,
conforme os estágios de evolução do processo de adoecer, e, principalmente, aos estudos das
formas de prevenção, na qual reside toda a essência da filosofia e da medicina chinesa
(YAMAMURA 2001).
A cerca da concepção filosófica chinesa a respeito do universo, a mesma está apoiada em três
pilares básicos: a teoria do Yin e Yang, dos cinco movimentos e dos Zang Fu (órgãos e
vísceras). O conceito do yin e yang conceito básico e fundamental de todas as ciências
orientais que corresponde à condição primordial e essencial para a origem de todos os
fenômenos naturais, como, por exemplo, o princípio da energia e da matéria. O conceito dos
cinco movimentos: por meio desse conceito, procuram-se explicar os processos evolutivos da
natureza, do universo, da saúde e da doença. Os Zang Fu podem ser descritos como os
sistemas de órgãos da Medicina Tradicional Chinesa (MTC), são considerados sistemas
órgãos em termos das inter-relações funcionais, e neste aspecto não têm correspondência com
os sistemas de órgãos da Medicina Ocidental. ( YAMAMURA, 2001; ROSS, 1985)
Esses conceitos remontam a aproximadamente 5.000 anos atrás, surgindo da observação, por
parte dos chineses, da natureza em comparação com o homem a fim de entender os princípios
que regem os universos, externo e interno do ser humano (MARQUES 2009).
Dessa forma, o homem é visto como um organismo único, sem divisões. Seu perfeito
funcionamento depende não somente dos fatores internos (orgânicos), mas de fatores externos
(natureza). Qualquer situação que venha prejudicar o normal funcionamento dessa estrutura
acarreta o surgimento de sinais e sintomas, indicativos da presença de desequilíbrio, as
chamadas síndromes energéticas [...] Tratar em MTC nada mais é que estimular o próprio
organismo a encontrar o seu equilíbrio, pois o foco principal é o próprio organismo, a pessoa,
o paciente (NEVES 2011).

3. Atuação da Acupuntura no tratamento de doenças


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Em seus 2500 anos de desenvolvimento, um grande ganho de experiência vem se acumulando


na prática da acupuntura, sendo utilizada para uma grande variedade de patologias e
condições que podem ser efetivamente tratadas por esse método (ZHANG, 1991).
A medicina oriental se baseia no equilíbrio do Yin e do Yang no corpo humano, sendo
qualquer doença encarada como um rompimento desse equilíbrio. O corpo acha-se dividido
em partes yin e yang. Globalmente falando, o interior do corpo é yin e sua superfície yang; a
parte posterior é yang, a anterior é yin; existem órgãos yin e yang. O equilíbrio de todas essas
partes é mantido por intermédio de um fluxo contínuo de Qi, ou energias vitais, que correm ao
longo de um sistema de meridianos que contém os pontos utilizados na acupuntura [...]
Sempre que o fluxo entre yin e yang é bloqueado, o corpo adoece. A doença, contudo, pode
ser curada fixando agulhas nos pontos de acupuntura para estimular, sedar e restaurar o fluxo
de Qi (PINHEIRO, 2010).
A aplicação de agulhas pode ser feita superficialmente sobre a pele ou mais profundamente
atingindo tecidos musculares, nervosos, ligamentos ou ossos, e provoca um tipo de
estimulação sensorial vinda da estimulação seletiva de pequenas áreas chamadas de
acupontos. Nessas delimitadas regiões da pele há uma grande concentração de fibras nervosas
espinhais, pois está em relação íntima com nervos, vasos sanguíneos, tendões, periósteo e
cápsulas articulares. São pontos altamente vascularizados e inervados, resultando numa baixa
resistividade elétrica local (impedância), o que facilita a estimulação de feixes
eletromagnéticos, mecânicos e térmicos (ZHANG, 1991).
Segundo Yamamura (1995), os pontos de acupuntura (acupontos), funcionam como meio de
comunicação entre o exterior e o interior do nosso corpo, com isso esses pontos estão sujeitos
diretamente a influências das energias transmitindo-as para os canais de energia principais
conduzindo aos Zang Fu (órgãos e vísceras) e destes para os tecidos.

O que a acupuntura cura? Essa pergunta é feita ao mesmo tempo ao público e aos
próprios médicos que, não sendo acupuntores indagam quais são as indicações para
que eles possam recomendar a seus pacientes, o recuso a esse método. Em geral
acupuntura goza da reputação de curar e aliviar as dores. Essa fama é justificada por
dois motivos. O primeiro é que realmente as dores, as nevralgias (ciáticas, nevralgia
do braço, do pescoço e etc.) e as dores do reumatismo (artrites e artroses) são de
modo incontestáveis reduzidas pela acupuntura (REQUENA, 1990).

Sponchiato (2013), em recente publicação, menciona que no final de 2012, um dos maiores
estudos financiado pelo Centro Nacional de Medicina Complementar e Alternativa dos EUA,
quis saber se a ação das agulhadas em pontos específicos não era algo apenas deflagrado pela
mente (o tal efeito placebo) e decifrar como a acupuntura interfere no organismo. Depois de
revisar 29 pesquisas, totalizando quase 18 mil participantes, o trabalho mostra que a
acupuntura tradicional ajuda a combater dores crônicas nas costas, na cabeça e ligadas à
artrite. “Essa é a maior análise já feita para verificar se há diferenças entre a terapia de
verdade e a baseada em pontos falsos, o placebo. Ela resolve a questão de que a acupuntura
não se restringe a um mero efeito da mente”, diz o epidemiologista Andrew Vickers, do
Memorial Sloan-Kettering Câncer Center, líder da investigação. Estudos já identificaram
áreas do cérebro acionadas pelas agulhas, entre elas o nosso centro de controle da dor. “A
acupuntura promove a liberação de substâncias analgésicas, as endorfinas, mas precisamos
entender agora como se dá essa ação permanente na dor crônica”, diz Vickers.

4. A Dor Ciática de origem Discal na visão da Medicina Ocidental

4.1. Anatomia do Nervo Ciático


A dor ciática envolve o comprometimento do nervo ciático, que de acordo com Moore e
Dalley (2010), é o maior nervo do organismo e constitui a maior porção do plexo sacro. É um
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prolongamento da parte principal do plexo sacro que nasce dos ramos ventrais de L4 a S3, sai
da pelve através do forame isquiático (ou ciático) maior, seu seguimento proximal localiza-se
anterior ao músculo piriforme e suas fibras descem até os dedos dos pés.
De acordo com Drake, Volg e Mitchell (2005), o nervo ciático ramifica-se em nervo tibial
(L4–S3) e fibular comum (L4–S2). O nervo tibial que faz parte dos dois ramos em que se
divide o nervo ciático na fossa poplítea. Continua seu trajeto posterior à tíbia e emitindo
ramos para a articulação do joelho e parte posterior da perna e para a pele dessa mesma
região. Ao chegar ao tornozelo, passa pelo maléolo medial e chega à planta do pé, onde se
divide em nervo plantar medial e lateral, emitindo ramos que chegam à pele do calcanhar. Na
fossa poplítea, o nervo fibular comum desce obliquo e lateral se bifurcando em nervos
fibulares superficial e profundo. O nervo fibular superficial segue seu trajeto paralelo à fíbula
e perto do tornozelo se divide em dois ramos sensitivos: nervo cutâneo dorsal medial e nervo
cutâneo dorsal intermédio, que se dirigem ao dorso do pé. Dos nervos cutâneo dorsal medial e
dorsal intermédio se originam os nervos digitais dorsais dos dedos.
Devido a sua anatomia e importante relação com a coluna, o nervo ciático é testado para
diagnóstico da hérnia de disco. Segundo Cipriano (1999), o teste de elevação da perna reta e o
sinal de Laségue, são testes que provocam a tensão do nervo ciático, desta forma pode-se
observar a existência de alguma compressão em seu trajeto.

4.2. Hérnia de Disco: Conceito e Etiologia

A expressão hérnia de disco é usada como termo coletivo para descrever um processo em que
ocorre ruptura do anel fibroso, com subseqüente deslocamento da massa central do disco nos
espaços intervertebrais, comuns ao aspecto dorsal ou dorso-lateral do disco (NEGRELLI,
2001).
Hérnia discal é uma protusão do núcleo pulposo, ou seja, a saída de uma parte do disco
intervertebral do seu local natural, podendo comprimir uma ou várias raízes nervosas, levando
a uma alteração no funcionamento nervoso e dando lugar a sintomatologia radicular sensitivo-
motora (GABRIEL et al., 2001).
Alguns fatores favorecem a degeneração do disco, como a idade (a partir de 35 e 40 anos)
aumenta a pressão sobre os discos por sobrecarga, alguns traumatismos que debilita os discos,
micro-traumatismos, hiperlordose, horizontalidade do sacro sobrecarregando o disco L5 e S1,
e ainda, algumas modificações biomecânicas (WEINSTEIN e BUCKWALTER, 2000).
Ricard (2003), cita o envelhecimento discal como uma das causas da hérnia de disco.
Segundo ele, o envelhecimento discal é decorrente de uma desidratação idiopática e rarefação
dos vasos sanguíneos e nutrientes. Outros fatores são enumerados por ele como sendo fatores
de risco que levam à enfermidade degenerativa discal:
a) Danos estruturais do disco
A perda repentina de pressão hidrostática conseqüente a uma fratura ou micro traumatismo
da placa cartilaginosa ou do rompimento interno do anel;
Alterações bioquímicas que aumentam a degradação e debilidade do anel fibroso: essa é a
origem do desgaste doloroso do anel discal e/ou de uma hérnia de disco. Quando o anel é
forte e o núcleo bem hidratado há uma distribuição uniforme da carga através da placa
cartilaginosa;
Nódulos de Schmorl: danificam a placa cartilaginosa superior, causando a perda de altura
do disco, diminuindo assim a pressão hidrostática. A carga axial produz um aumento de
pressão na periferia do disco.
b) As placas cartilaginosas vertebrais podem ser danificadas facilmente
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Queda sobre os glúteos, levantar objetos muito pesados e movimentos repetitivos de


levantamento. Quando ocorre a compressão discal a ponto de haver destruição, são as
placas cartilaginosas que se rompem primeiro, não o disco.
c) Herança e genética pobre
Considera-se o fator de risco número um para a enfermidade discal degenerativa.
d) A ocupação do indivíduo
O tipo de trabalho que a pessoa realiza está muito relacionado a dor lombar e a ciática.
e) Tabagismo
Fumar danifica os leitos capilares já comprometidos (reduzindo a fonte de nutrientes do
disco, desidratando-o) nas placas cartilaginosas vertebrais.

Kisner e Colby (2005), enfatizam a mesma ideia etiológica citada por Ricard (2003), ao
descrevem que as patologias do disco intervertebral seguem por lesão, degeneração do disco e
condições relacionadas, ocasionadas por: fadiga por carga e ruptura traumática, sobrecarga
axial, idade, alterações degenerativas, fatores biomecânicos, fratura por compressão,
protrusões de disco (desarranjos) e estase de fluidos nos tecidos. Dessa forma, um número de
fatores de risco ambiental tem sido sugerido, tais como hábitos de carregar peso, dirigir e
fumar, além do processo natural de envelhecimento. Há outros indícios que apontam para a
confirmação da herança genética como componente importante na etiopatogênese da hérnia
discal.

4.3. Fisiopatologia da Hérnia de Disco

Ricard (2003), aponta como causa de desgaste do disco intervertebral a queda da quantidade
de moléculas de proteoglicanos agregados circulantes, tornando-se fator principal do
envelhecimento. Essa redução de proteoglicanos causa dois efeitos negativos no disco. O
primeiro seria a diminuição da pressão hidrostática (as células discais necessitam de um nível
hidrostático constante de pressão de 3 atmosferas para funcionar normalmente); o segundo,
seriam as mudanças bioquímicas, que alteram a biomecânica do disco que já não pode
aguentar a carga axial. Assim sendo, aparece o sofrimento do anel externo que repercute sobre
a apófise do anel e facetas.
Nessa reação bioquímica, de acordo com o autor supracitado, a glicose reduzida entra em
contato com as proteínas de colágeno do disco em um ambiente avascular, e isso origina a
causa do envelhecimento discal, onde o colágeno do disco será transformado em uma
substância mais grossa e mais frágil.
Magee (2005), cita quatro etapas de lesão no disco intervertebral com agravamento gradual: a
primeira é a protusão discal, segundo ele, sem ruptura do anel fibroso; a segunda é um
prolapso do disco, onde somente as fibras mais externas do anel fibroso retêm onúcleo; a
terceira é a extrusão do disco, ocorre que o anel fibroso é perfurado,e o material discal (parte
do núcleo pulposo) move-se para dentro do espaço epidural; e a quarta etapa seria um disco
seqüestrado, com uma formação de fragmentos discais do anel fibroso e do núcleo pulposo
fora do disco propriamente dito.
Ricard (2003), em seu estudo, faz distinção entre protusão e hérnia discal e diverge da ideia
de não haver ruptura do anel fibroso na fase de protusão, além de realizar outras
considerações importantes:
Na protusão discal há rompimento das fibras mais internas do anel e o núcleo pulposo desliza
no sentido da fissura, fazendo protuir o disco. As protusões discais podem ser assintomáticas
ou dolorosas, e nesse caso, haverá rompimento maior das fibras do anel, e o nervo sinus
vertebral irá transmitir os sinais de dor discal, que se manifesta por dor lombar, dor referida
no membro inferior ou ciática de origem discal. A hérnia discal se caracteriza pelo
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rompimento das fibras mais externas do anel fibroso e extrusão do núcleo, o que a distingue
da protusão.
O mecanismo da ruptura discal envolve: uma hiperpressão discal que fratura a placa
cartilaginosa do disco (mais de 268 Kg. Pa/cm2); um estiramento das fibras posteriores
fragilizadas do anel fibroso que se rompem. De acordo com o autor, a direção da fissura
cartilaginosa é que determina a direção da hérnia/protusão discal: Se é uma fissura
cartilaginosa central haverá protusão ou hérnia central, se é uma fissura cartilaginosa póstero-
lateral haverá protusão ou hérnia póstero-lateral. Dessa forma, as hérnias se classificam
conforme o seu posicionamento em: medial ou central, póstero-lateral ou interna, foraminal,
extraforaminal ou externa. Podem ser subligamentárias ou transligamentárias excluídas.

4.4. Fisiopatologia da Dor Ciática por Hérnia de Disco

A dor ciática é antiga, mas sua relação com a hérnia de disco só foi descrita no início do
século passado por Mixter e Barr (1934), a partir de um estudo denominado: Rupture of
intervertebral disc with involvimento the spinal canal.
Segundo os estudos de Ricard (2003), a dor ciática ocorre devido a presença de citocininas
pró-inflamatórias no rompimento do anel fibroso, e dependendo do tipo de hérnia, estruturas
importantes como o nervo sinus vertebral de luschka que inerva a dura máter ou o Ligamento
Comum Longitudinal Posterior (LCLP), que é altamente inervado e protege as estruturas
posteriores do disco, entram em contato com o material nuclear irritante, ocasionando
aumento dos estímulos, pertubação na condução de influxos nervosos e edema, pode ocorrer
também, a invasão do canal raquídeo ou forame de conjugação pelo material do disco,
levando a compressão da raiz do nervo no forame, originando a dor lombar e/ou ciática e
consequente incapacidade funcional.
A origem da dor ciática envolve estímulo mecânico das terminações nervosas da porção
externa do ânulo fibroso, compressão direta da raiz nervosa (com ou sem isquemia) e uma
série de fenômenos inflamatórios induzidos pelo núcleo extruso (KULISCH, ULSTROM e
MICHAEL, 1991).
Se a protusão for importante, as raízes L5 e S1 podem estar afetadas e ocasionar uma
neuralgia ciática. (WEINSTEIN e BUCKWALTER, 2000). A raiz nervosa em L4 pode ser
comprimida em sua origem e curso pelas protusões do 3º disco lombar, e a raiz nervosa L5
pode ser comprimida pelo 4º disco lombar e ainda, as raízes nervosas S1 e S2 podem ser
comprimidas pela protusão do 5º disco. Esforços repetidos aumentam de volume a hérnia
discal, esta se protuirá cada vez mais para o canal vertebral, entrando em conflito com as
raízes nervosas, principalmente do nervo ciático (RICARD e SALLÉ, 2002).

5. A Dor Ciática de origem Discal na visão da Medicina Tradicional Chinesa


5.1. Etiologia

Para Maciocia (1996), a dor ciática e a dores nas costas em geral, inclusive a hérnia de disco,
compartilham da mesma etiologia, patologia e tratamento. Entretanto, Chonghuo (1993), faz
distinção etiológica entre a dor ciática e a lombalgia, não deixando ainda, de estabelecer uma
relação de causalidade entre a hérnia de disco e a dor ciática. Dessa forma, o autor diferencia
ciática em: primária e secundária, sendo que a ciática secundária é que tem relação com a
causa discal. Segundo ele, esse tipo de ciática é causada pelos fatores mecânicos que tem a
origem nos tecidos vizinhos aos nervos espinhais, e um dos fatores etiológicos mencionados é
a hérnia de disco.

A ciática secundária sempre tem a doença básica. A dor é agravada com a tosse ou
espirro e com a força para evacuar. Apresenta também dor à pressão quando se
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golpeia lateralmente as vértebras lombares, além disso, aparecem os transtornos


motores da região lombar e os movimentos provocam a irradiação da dor para o
membro inferior (CHONGHUO, 1993).

Maciocia (1996), refere que as condições patológicas mais comuns para esse tipo de afecção
são: retenção de Frio e Umidade, Estagnação de Qi e Sangue devido a esforço excessivo e
Deficiência do Rim.

a) Retenção de Umidade-Frio. Segundo ele, pode haver predominância de Frio ou Umidade.


Na predominância do Frio, pode haver rigidez e contração da musculatura das costas, a dor
tende a ser mais severa, aliviada pelo movimento e agravada pelo repouso. Se houver
predominância de Umidade os sintomas possíveis são: inchaço, formigamento e sensação
de peso. Se houver a associação da retenção Umidade-Frio pode haver uma Síndrome de
Obstrução Dolorosa na parte inferior das costas;
b) Estagnação de Qi. Nessa condição patológica, o autor cita como característica uma dor
severa, do tipo facada. Essa dor tende a piorar com o repouso e melhorar com exercício
moderado, podendo piorar com exercício excessivo. Ao toque, a região estará mais
sensível, não respondendo às alterações do clima e agravando nas posições em pé e
sentada. Haverá tensão e rigidez acentuada dos músculos das costas e diminuição de
movimentos;
c) Deficiência do Rim. Qualquer Deficiência do Rim causa dor crônica nas costas, porém, a
mais comum é a proveniente de Deficiência de Yang do Rim. A Deficiência do Rim
facilita a invasão de frio e umidade e traumas repetidos que pode ser mais comum na meia-
idade ou entre idosos, contudo, pessoas jovens também podem ser acometidas e nesse caso,
a Deficiência do Rim seria uma Deficiência hereditária. Na patologia de Deficiência do
Rim, haverão crises de dor do tipo surda que melhora com o repouso e piora mediante o
cansaço. A atividade sexual pode agravar essa dor, e se a mesma for causada por uma
deficiência de Yang do Rim, pode ocorrer uma sensação de frio nas costas com melhora
obtida mediante a aplicação de calor.

Dessa forma, o autor relaciona retenção de Umidade-Frio, Estagnação de Qi e Sangue e


Deficiência do Rim como condições interativas, ou seja, uma influenciando a outra,
exemplificando que, invasões repetidas de Frio-Umidade causam retenção permanente de
Umidade-Frio nos músculos das costas. Essa retenção vai enfraquecendo os Rins, já que
interfere na transformação da Água do Rim, levando à deficiência do órgão; por outro lado
causando Estagnação de Qi e de Sangue, pela obstrução da circulação na região.

5.2. Canais de Energia envolvidos na Dor Ciática de origem Discal

Acerca da região lombar e suas estruturas, bem como seus Meridianos ou Canais de Energia
correspondentes, Maciocia (1996) refere que área inferior das costas é intensamente
influenciada pelos Meridianos da Bexiga e do Rim, e detalha isso ao citar os Meridianos
Principal, Muscular e Divergente da Bexiga, fluindo ao longo das costas, músculos e coluna
respectivamente; os Meridianos do Rim, a saber, o Principal que flui ao longo da coluna e vai
para os Rins e para a Bexiga, o Muscular que flui ao longo da face anterior da coluna e o
Meridiano Divergente que flui para cima com o Meridiano da Bexiga e, no nível do ponto
B23 (Shenshu), encontra o Vaso Dai Mai. O autor cita ainda, o Vaso Governador como sendo
um canal intimamente relacionado com os Rins, também fluindo ao longo da coluna, e o Vaso
Penetração, também originado entre os Rins.
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Yamamura (2001), reforça esse entendimento ao citar que a região lombar é energizada pelo
Shen (Rins), pelo Canal de Energia Curioso Du Mai (Vaso Governador), pelo Canal de
Energia Principal do Pangguang (Bexiga) e pelos Pontos Shu do dorso dos órgãose vísceras;
As afecções energéticas, principalmente funcionais e orgânicas, podem acometer a área onde
se situa o ponto Shu do dorso, ocorrendo, em geral, estagnação de Yang Qi nesses pontos,
promovendo contratura dos músculos paravertebrais, processos inflamatórios com o
aparecimento de substâncias algogênicas, isquemia tissular e, sobretudo, alterando o
equilíbrio sol-gel do disco intervertebral, com isso é alterado a pressão hidrostática do disco
intervertebral, induzindo aprocesso degenerativo do ligamento longitudinal posterior,
microrroturas e microextravasamento do conteúdo discal [...] (YAMAMURA 2001).

a) O Rim (Shen). Partindo do conceito: “A parte inferior das costas é a residência dos
Rins”extraído do livro Simples Question, citado por Maciocia (1996), podemos citar quatro
funções fisiológicas principais do Rim, de acordo com Chonghuo (1993):
Armazenar o Jing (Essência). É a matéria fundamental da qual se constitui o corpo e
necessária para efetuar atividades diversas. Divide-se em duas partes: o Jing congênito e o
adquirido;
Controlar os líquidos. Os líquidos que se reúnem na Bexiga, passam pelo processo de
separação do límpido do turvo, e por meio da função do Yang dos Rins o límpido será
conservado e transportado para o pulmão e este o distribuirá para todo o corpo, e o turvo
será eliminado do corpo em forma de urina;
Receber o Qi (Ar). Dessa forma, o Qi puro inalado pelo Pulmão desce para os Rins que
auxiliarão na regulação da respiração;
Formação dos ossos. Os Rins determinam a condição dos ossos, gera a medula e chega ao
cérebro. Sendo assim, se a Essência dos Rins é suficiente, os ossos serão fortes, do
contrário, haverá debilidade e dor em regiões como lombar e joelhos.

O Shen (Rins) é o órgão mais solicitado e importante do nosso organismo, pois é o


órgão-fonte, gerador do yang e do yin do corpo. Desse modo, fatores inatos,
emoções, fadiga, exposição ao frio e a umidade ou alimentação desregrada podem
levar à deficiência energética do Shen (Rins) e de seu Canal de Energia Principal,
refletindo-se por fraqueza energética da região lombar com dores lombares
(YAMAMURA, 2001).

b) O Meridiano dos Rins, o Chao-Yin da perna. Sendo Yin, este meridiano se apresenta
acoplado ao meridiano da bexiga, Yang. Uma das características de depleção Energética do
Rim é a lombalgia (WEN, 1985);
c) Meridiano da Bexiga, Tai-Yang da perna. Este meridiano recebe a energia do meridiano
do intestino delgado e a transmite ao meridiano dos rins. Sua natureza é Yang,
apresentando-se acoplado ao meridiano dos rins que é Yin. Dentre os sintomas de
comprometimento do Canal da Bexiga estão: dor na nuca e costas, lombalgia, rigidez na
nunca e costas, dor ciática, dor na região ílio sacra, formigamento na perna ao longo de seu
trajeto. A deficiência de Qi no referido canal, pode provocar estagnação de Qi e de Xue
(sangue) no nível da região lombar, e manifestar-se por enfraquecimento dos músculos
paravertebrais, com conseqüente desequilíbrio muscular, que correspondem a fatores
biomecânicos indutores de algias lombares. (YAMAMURA, 2001; WEN, 1985);
d) O Meridiano da Vesícula Biliar, o Chao-Yang das pernas. Este meridiano é de natureza
Yang, acoplado ao meridiano do fígado, que é de Yin. A sintomatologia do
comprometimento do canal a nível dos membros inferiores é: dor no quadril, coxa e perna,
ocasionada pela Deficiência de Energia e Sangue. Dessa forma, tem o seu interior invadido
pelo fator patogênico, devido as síndromes de Taiyang não se eliminarem e se transmitirem
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internamente, ou porque o fator patogênico invade diretamente o Shaoyang, fazendo com


que o mecanismo não funcione corretamente. (CHONGHUO, 1993; WEN, 1985);
e) O Meridiano do Estômago, Yang-Yin da perna. O meridiano do estômago é um
meridiano Yang acoplado com o meridiano do baço-pâncreas, que é Yin. A sintomatologia
do Canal em relação aos membros inferiores quando afetado é: dor, parestesia e
adormecimento ao longo do meridiano;
f) Du-Mai (O Meridiano do Governador). Este meridiano é o Mar de Energia Yang, tem
um ramal que sobe pelo períneo, passa por baixo do abdômen, ligando-se à bexiga e aos
rins [...] No Du Mai circula a energia ancestral que é a qualidade e a quantidade das
diversas energias que herdamos dos nossos pais e da longa série de antepassados; ela atua
como um catalisador que se desgasta lentamente no decorrer da vida, mas que se esgota
rapidamente no caso de estilo de vida excessivo e processos patológicos graves. Quando
este meridiano apresenta algum problema, haverá espasmo e rigidez da coluna vertebral
(ECKERT, 2012; MARQUES, 2009; WEN, 1985);
g) Chong-Mai (O Meridiano da vitalidade). Quando o Chong Mai está acometido, o
paciente apresenta dor localizada ao longo de sua extensão; na parte anterior da coluna, o
sintoma pode ser dor na região renal com piora à flexão e à extensão da coluna [...] no
ramo descendente os sintomas podem ser: dor no ânus e na parte interna da coxa até o pé.
No ramo secundário posterior, o paciente pode apresentar dor lombar [...] (MARQUES
2009);
h) Shu (dorsais) e Mo (ventrais). Os pontos Shu (dorsais) de acordo com Chonghuo (1993),
são pontos que se encontram na região dorsal do corpo, onde a Energia dos órgãos internos
se transporta e se dispersa. Localizam-se no Canal de Energia da Bexiga, situados mais ou
menos no nível do órgão que representam; são Yang e tratam doenças das Vísceras. Os
pontos Mo (ventrais) são aqueles onde se concentra a Energia dos Órgãos, se localizam no
tórax e no abdome e a maioria também está no nível do Órgão que correspondem; são Yin
e tratam doença dos Órgãos. Os pontos dorsais e ventrais podem ser utilizados em
combinação em casos complexos, nas afecções dos Canais de Energia, acoplados interior-
exteriormente e na associação de sintomas de excesso e deficiência, entre outras
disfunções.

5.3. Diagnóstico Energético da Dor Ciática de origem Discal

Maciocia (1996), descreve tópicos para diagnóstico da ciática e demais afecções da coluna:

a) Observação. Nesse tópico, observa-se a cor da face do paciente, se estiver pálida indica
Deficiência de Yang do Rim, se estiver escura indica deficiência do Yin, se azulada, indica
estase de sangue e dor crônica. Observa-se ainda se há presença de vênulas congestionadas
na parte posterior das pernas, indicando estase de Sangue nos Meridiano de Conexão das
costas, e verifica-se se há afundamento muscular no ponto R 3, caracterizando Deficiência
do Rim.
b) Interrogatório. Durante o interrogatório deve-se esclarecer se a dor é aguda ou crônica.
Avaliando dessa forma os tipos de dor, para se compreender se trata-se de Estagnação de
Qi e de Sangue (dor tipo facada), Deficiência (dor tipo surda), Deficiência do Rim (dor que
melhora com o repouso ou melhora pela manhã e piora gradativamente durante o dia e não
sofre com alteração climática), invasão de Vento Frio (dor que piora pela manha e melhora
durante o dia), ou invasão externa de Frio e Umidade (dor que piora mediante o clima Frio
e Úmido).
c) Palpação. Se os músculos das costas estão tensos e rígidos, indica estase de Sangue,
proveniente de trauma. Se as costas ou a parte posterior das pernas são frias, denota
10

Deficiência de Yang do Rim; se a área de dor é muito grande, sugere Deficiência do Rim
ou invasão de Frio e Umidade, se é pequena, trauma. Se faz importante, detectar pontos
sensíveis: B 26, B 25, B 54, Tunzhong, B 36 e B 37, a fim de identificar os meridianos
envolvidos e pontos Ah Shi.
d) Pulso. A parte inferior das costas é refletida na posição posterior esquerda do pulso
(Meridiano da Bexiga), se o pulsofor em Corda e Flutuante: dor aguda com exacerbação de
um problema crônico nas costas; se for Fino, Profundo e ligeiramente em Corda: dor
crônica nas costas em um fundo de Deficiência do rim, se essa posição for atada, indica
invasão de Umidade–Frio no meridiano da Bexiga. O autor cita que de acordo com a obra
A study of the eight extraordinary vessels, quando o pulso esquerdo é flutuante e levemente
em corda nas três posições, reflete tensão do Vaso Governador e dor aguda nas costas por
Vento Frio. Os pulsos: Fraco e Flutuante (Macio), Fino e ligeiramente em Corda, indicam
dor crônica por Umidade. O pulso em Corda e Rápido, denota invasão de Umidade-Calor
nos Meridianos das costas.
e) Língua. Chonghuo (1993), ressalta a importância da avaliação da língua, pois a mesma
está vinculada a certos órgãos internos, e às vezes, refletem as mudanças patológicas
desses órgãos. Dessa forma, a língua é dividida em quatro partes: a ponta (Coração), o
centro (Pulmão e Estomago), a raiz (Rim) e as bordas (Fígado e Vesícula Biliar). Dessa
forma, nas Síndromes de Frio, a língua estará com aspecto mais descorado que o normal
(sintoma de debilidade da Energia Yang e de insuficiência de Energia de Sangue); no caso
de Estagnação de Qi e de Sangue, a língua se apresentará purpúrea. Se essa língua
purpúrea estiver seca, indica que a Estagnação é consequência do calor, se estiver úmida,
decorre que a Estagnação é consequência de Frio. Uma língua com saburra branca e fina,
sugere uma Síndrome de Frio e que o fator patogênico exógeno ainda não penetrou no
interior do corpo. Se a língua estiver pálida e toda coberta por uma saburra branca, indica
Síndrome de Frio interno. A saburra amarela aparece em Síndromes de Calor ou Calor de
origem interna. A Saburra de cor cinza, revela a presença de Frio e Umidade.

6. Estudos relacionados ao tratamento da Dor Ciática de origem Discal

Yamamura et. al, (1996), realizaram um estudo com uma amostra de 41 pacientes. Os
mesmos apresentavam quadro clínico de lombalgia com dor irradiada para os membros
inferiores, e resultado clínico e tomográfico compatível com o diagnóstico isolado de hérnia
de disco intervertebral lombar. Foram avaliados os parâmetros de intensidade de dor relatada,
capacidade de andar, correr, subir e descer escadas; atividades cotidianas como o tempo que
podiam permanecer sentados, deitados ou em pé; o aparecimento ou agravamento da dor com
a manobra de Vasalva e parâmetros objetivos como o Teste de Elevação da Perna Retificada,
Teste de Shober (movimento de flexão) de Moll (inclinação lateral) e extensão da região
lombar. Foram realizadas 30 aplicações de acupuntura com 30 minutos de duração cada sessão.
Os pontos de tratamento foram: M-BW-35 (Jiaji),VG 2, VG 4,VB 30, B 5, B 60, R 2, R 3, ID 3 e
M-HN-3 (Yintang). Os pontos adicionais para o tratamento específico do Canal de Energia
afetado foram: Vesícula Biliar: TA 2, TA 3, VB 41 e VB 43 . Estômago: IG 2, IG 3, E 43 e E 44.
Bexiga: ID 2, ID 3, B 65 e B 66.

Esse primeiro estudo rendeu um bom resultado, e fez com que Yamamura et. al, (1996),
decidissem prosseguir a pesquisa, que contou com outros colaboradores e apenas 22 dos 41
pacientes que deram início a primeira pesquisa. O tratamento durou em média de 3 - 9 meses
e média de 24,8 aplicações de acupuntura. Foi realizado o controle tomográfico em média 3,2
meses após remissão do quadro clínico da hérnia de disco para observar a evolução do
11

tratamento. Desses 22 pacientes que faziam parte da amostra, 10 apresentavam hérnia discal
isolada. Os pontos de tratamento utilizados foram os mesmos da primeira pesquisa.
Com o avanço dos resultados e na tentativa de dar continuidade as pesquisas, Yamamura et.
al, (1996), realizaram outro estudo com uma amostra maior. Desta feita, com 82 pacientes que
apresentavam queixa de dor lombar com irradiação para os membros inferiores. Desses,
21,9% tinham diagnóstico de hérnia discal intervertebral lombar isolada, os demais
apresentavam dor resultante de outras afecções da coluna vertebral. Os pontos de tratamento
citados nas pesquisas anteriores, foram mantidos nessa pesquisa.
O resultado final de todos os estudos, foi uma melhora importante em todos os parâmetros
avaliados, sendo que o estudo em que a amostra foi de 82 pacientes apresentou o resultado
mais significante de todos, com redução em 100% dos casos em relação ao tamanho da
hérnia. Dessa forma, de acordo com Yamamura et. al, (1996), a acupuntura tem melhor efeito
nas doenças com menores lesões orgânicas do que com maiores lesões anatômicas.

7. Sugestão de protocolos de pontos sistêmicos de Acupuntura para o tratamento da Dor


Ciática de origem Discal

Os pontos para os protocolos abaixo, foram selecionados de acordo com a natureza da dor
(Aguda e Crônica), localização mais comum da dor ou canal afetado (posterior e lateral), e
Disfunções Energéticas (Retenção de Umidade-Frio, Estagnação de Qi e Deficiência de Rim).

Disfunções Energéticas
Localização Retenção de Retenção de Estagnação de Deficiência de
da dor ou canal afetado Umidade Frio Qi Rim
VB 31 VB 31 VB 31 VB 31 -
Lateral VB 40 VB 40 - VB 40 -
B 40 B 40 - B 40 -
B 26 B 26 B 26 - B 26
B 54 B 54 - - -
B 58 - - B 58 -
B 62 - B 62 B 62 -
D B 57 - - B 57 -
O B 59 - - B 59 -
R B 17 B 17 - B 17 -
B 25 - - B 25 -
A
G B 36 - - B 36 -
U B 37 - - B 37 -
Posterior
D B 65 - - B 65 -
A VG 26 - - VG 26 -
VG 8 VG 8 - VG 8 -
VG 3 VG 3 VG 3 VG 3 VG 3
VG 4 VG 4 VG 4 VG 4 VG 4
VB 30 VB 30 VB 30 VB 30 -
VB 34 VB 34 - VB 34 -
ID 2 - - ID 2 ID 2
ID 3 ID 3 - ID 3 -
TA 2 - - TA 2 -
TA 3 - - TA 3 -
Jiaji - - Jiaji -
Shi qi zhu xia - Shi qi zhu xia Shi qi zhu xia -
Lateral VB 39 VB 39 - VB 39 VB 39
D B 10 - B 10 - -
O B 60 - - B 60 B 60
R B 57 - - B 57 -
12

Posterior B 17 B 17 - B 17 -
C B 26 B 26 B 26 - B 26
R B 25 - - B 25 -
Ô B 23 B 23 - B 23 B 23
N B 36 - - B 36 -
I B 66 - - B 66 -
C VG 4 VG 4 VG 4 VG 4 VG 4
A VG 8 VG 8 - VG 8 -
VG 3 VG 3 VG 3 VG 3 VG 3
VB 34 VB 34 - VB 34 -
Jiaji - - Jiaji -

Fonte: (CHONGHUO, 1993; JUNING, 1996; MACIOCIA, 1996)

Tabela 1 – Sugestão de protocolo de pontos sistêmicos de acupuntura para dor ciática

7. Considerações Finais

As referências pesquisadas indicam um bom prognóstico para o tratamento da dor ciática,


com bons resultados na patologia de base que é a hérnia de disco, além disso, permitem a
elaboração de protocolos de tratamento utilizando pontos sistêmicos de acupuntura, como os
que foram sugeridos neste estudo. É importante ressaltar, que esses protocolos norteiam o
tratamento, porém, precisam se moldar às necessidades peculiares de cada paciente. Por isso,
os efeitos da acupuntura se destacam, tornando-a um recurso importante para tratamentos. No
entanto, recomenda-se que, não obstante as dificuldades de escassez literária e estudos sobre o
tema, a produção de mais pesquisas científicas no campo da Acupuntura seja instigada, uma
vez que, patologias envolvendo a coluna vertebral sempre permearam o cotidiano da
sociedade, e muito mais nos dias atuais com a celeridade da vida moderna gerando estresse e
maus hábitos.

8. Referências

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MAGEE, D.J. AvaliaçãoMusculoesquelética. 4 ed. Barueri- SP: Manole, 2005.
13

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