Resumo
A dor ciática constitui queixa comum entre tantas outras complicações decorrentes da hérnia
de disco. A Medicina Tradicional Chinesa, através da Acupuntura dispõe de um
conhecimento milenar com crescente aprimoramento no tratamento desse tipo de dor, que em
curso, apresenta um reflexo negativo sobre a capacidade laborativa e social. Visando saber
como a acupuntura pode contribuir com tratamento da dor ciática de origem discal. Foi
realizada uma pesquisa utilizando diversas referências como: livros, artigos e periódicos. O
resultado foi a elaboração de protocolos de tratamento através de pontos sistêmicos de
acupuntura, a partir das correlações entre os fatores que contribuem para causa energética
da dor ciática, o local (ou canal) em que a dor se manifesta, e a sua natureza: se aguda ou
crônica.
1. Introdução
1
Pós-graduando em Acupuntura
2
Mestranda em Ciências da Saúde, Especialista em Acupuntura, Graduada em Fisioterapia.
2
90% terão mais de uma queixa e entre as causas variadas está a hérnia de disco, que segundo
o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afeta 5,4 milhões de brasileiros.
Nesse contexto, podemos dizer que é importante focar em técnicas que auxiliem no
tratamento dessa patologia tão comum na população. Uma das opções é a Medicina
Tradicional Chinesa (MTC), que apresenta como parte importante de sua prática a
acupuntura, que tem sido utilizada amplamente no tratamento de dores agudas e crônicas por
meio de agulhas.
Esta técnica consiste em inserir uma agulha do tipo filiforme ou fina em determinados lugares
(pontos). Esta é a técnica mais popular, e tem uma longa história, baseada nas teorias dos
Órgãos Zang Fu para prevenir e tratar doenças, através de 14 canais (Meridianos), Pontos
Extras e Pontos Ashi. Ao contrário dos tratamentos médicos ocidentais, ela utiliza ferramentas
simples e tem um baixo índice de efeitos colaterais. Associada a uma eficiência marcante tem
sido largamente aceita por médicos e pacientes. (CHONGHUO, 1993; JUNYNG, 1996).
Partindo dessa premissa, de que forma a acupuntura como opção de tratamento pode
contribuir na dor ciática que tem por etiologia a hérnia de disco? O Objetivo deste estudo foi
sugerir um protocolo de tratamento da dor ciática de origem discal, utilizando pontos
sistêmicos de acupuntura, a fim de acrescer outros estudos que avaliam a eficácia da técnica.
O que a acupuntura cura? Essa pergunta é feita ao mesmo tempo ao público e aos
próprios médicos que, não sendo acupuntores indagam quais são as indicações para
que eles possam recomendar a seus pacientes, o recuso a esse método. Em geral
acupuntura goza da reputação de curar e aliviar as dores. Essa fama é justificada por
dois motivos. O primeiro é que realmente as dores, as nevralgias (ciáticas, nevralgia
do braço, do pescoço e etc.) e as dores do reumatismo (artrites e artroses) são de
modo incontestáveis reduzidas pela acupuntura (REQUENA, 1990).
Sponchiato (2013), em recente publicação, menciona que no final de 2012, um dos maiores
estudos financiado pelo Centro Nacional de Medicina Complementar e Alternativa dos EUA,
quis saber se a ação das agulhadas em pontos específicos não era algo apenas deflagrado pela
mente (o tal efeito placebo) e decifrar como a acupuntura interfere no organismo. Depois de
revisar 29 pesquisas, totalizando quase 18 mil participantes, o trabalho mostra que a
acupuntura tradicional ajuda a combater dores crônicas nas costas, na cabeça e ligadas à
artrite. “Essa é a maior análise já feita para verificar se há diferenças entre a terapia de
verdade e a baseada em pontos falsos, o placebo. Ela resolve a questão de que a acupuntura
não se restringe a um mero efeito da mente”, diz o epidemiologista Andrew Vickers, do
Memorial Sloan-Kettering Câncer Center, líder da investigação. Estudos já identificaram
áreas do cérebro acionadas pelas agulhas, entre elas o nosso centro de controle da dor. “A
acupuntura promove a liberação de substâncias analgésicas, as endorfinas, mas precisamos
entender agora como se dá essa ação permanente na dor crônica”, diz Vickers.
prolongamento da parte principal do plexo sacro que nasce dos ramos ventrais de L4 a S3, sai
da pelve através do forame isquiático (ou ciático) maior, seu seguimento proximal localiza-se
anterior ao músculo piriforme e suas fibras descem até os dedos dos pés.
De acordo com Drake, Volg e Mitchell (2005), o nervo ciático ramifica-se em nervo tibial
(L4–S3) e fibular comum (L4–S2). O nervo tibial que faz parte dos dois ramos em que se
divide o nervo ciático na fossa poplítea. Continua seu trajeto posterior à tíbia e emitindo
ramos para a articulação do joelho e parte posterior da perna e para a pele dessa mesma
região. Ao chegar ao tornozelo, passa pelo maléolo medial e chega à planta do pé, onde se
divide em nervo plantar medial e lateral, emitindo ramos que chegam à pele do calcanhar. Na
fossa poplítea, o nervo fibular comum desce obliquo e lateral se bifurcando em nervos
fibulares superficial e profundo. O nervo fibular superficial segue seu trajeto paralelo à fíbula
e perto do tornozelo se divide em dois ramos sensitivos: nervo cutâneo dorsal medial e nervo
cutâneo dorsal intermédio, que se dirigem ao dorso do pé. Dos nervos cutâneo dorsal medial e
dorsal intermédio se originam os nervos digitais dorsais dos dedos.
Devido a sua anatomia e importante relação com a coluna, o nervo ciático é testado para
diagnóstico da hérnia de disco. Segundo Cipriano (1999), o teste de elevação da perna reta e o
sinal de Laségue, são testes que provocam a tensão do nervo ciático, desta forma pode-se
observar a existência de alguma compressão em seu trajeto.
A expressão hérnia de disco é usada como termo coletivo para descrever um processo em que
ocorre ruptura do anel fibroso, com subseqüente deslocamento da massa central do disco nos
espaços intervertebrais, comuns ao aspecto dorsal ou dorso-lateral do disco (NEGRELLI,
2001).
Hérnia discal é uma protusão do núcleo pulposo, ou seja, a saída de uma parte do disco
intervertebral do seu local natural, podendo comprimir uma ou várias raízes nervosas, levando
a uma alteração no funcionamento nervoso e dando lugar a sintomatologia radicular sensitivo-
motora (GABRIEL et al., 2001).
Alguns fatores favorecem a degeneração do disco, como a idade (a partir de 35 e 40 anos)
aumenta a pressão sobre os discos por sobrecarga, alguns traumatismos que debilita os discos,
micro-traumatismos, hiperlordose, horizontalidade do sacro sobrecarregando o disco L5 e S1,
e ainda, algumas modificações biomecânicas (WEINSTEIN e BUCKWALTER, 2000).
Ricard (2003), cita o envelhecimento discal como uma das causas da hérnia de disco.
Segundo ele, o envelhecimento discal é decorrente de uma desidratação idiopática e rarefação
dos vasos sanguíneos e nutrientes. Outros fatores são enumerados por ele como sendo fatores
de risco que levam à enfermidade degenerativa discal:
a) Danos estruturais do disco
A perda repentina de pressão hidrostática conseqüente a uma fratura ou micro traumatismo
da placa cartilaginosa ou do rompimento interno do anel;
Alterações bioquímicas que aumentam a degradação e debilidade do anel fibroso: essa é a
origem do desgaste doloroso do anel discal e/ou de uma hérnia de disco. Quando o anel é
forte e o núcleo bem hidratado há uma distribuição uniforme da carga através da placa
cartilaginosa;
Nódulos de Schmorl: danificam a placa cartilaginosa superior, causando a perda de altura
do disco, diminuindo assim a pressão hidrostática. A carga axial produz um aumento de
pressão na periferia do disco.
b) As placas cartilaginosas vertebrais podem ser danificadas facilmente
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Kisner e Colby (2005), enfatizam a mesma ideia etiológica citada por Ricard (2003), ao
descrevem que as patologias do disco intervertebral seguem por lesão, degeneração do disco e
condições relacionadas, ocasionadas por: fadiga por carga e ruptura traumática, sobrecarga
axial, idade, alterações degenerativas, fatores biomecânicos, fratura por compressão,
protrusões de disco (desarranjos) e estase de fluidos nos tecidos. Dessa forma, um número de
fatores de risco ambiental tem sido sugerido, tais como hábitos de carregar peso, dirigir e
fumar, além do processo natural de envelhecimento. Há outros indícios que apontam para a
confirmação da herança genética como componente importante na etiopatogênese da hérnia
discal.
Ricard (2003), aponta como causa de desgaste do disco intervertebral a queda da quantidade
de moléculas de proteoglicanos agregados circulantes, tornando-se fator principal do
envelhecimento. Essa redução de proteoglicanos causa dois efeitos negativos no disco. O
primeiro seria a diminuição da pressão hidrostática (as células discais necessitam de um nível
hidrostático constante de pressão de 3 atmosferas para funcionar normalmente); o segundo,
seriam as mudanças bioquímicas, que alteram a biomecânica do disco que já não pode
aguentar a carga axial. Assim sendo, aparece o sofrimento do anel externo que repercute sobre
a apófise do anel e facetas.
Nessa reação bioquímica, de acordo com o autor supracitado, a glicose reduzida entra em
contato com as proteínas de colágeno do disco em um ambiente avascular, e isso origina a
causa do envelhecimento discal, onde o colágeno do disco será transformado em uma
substância mais grossa e mais frágil.
Magee (2005), cita quatro etapas de lesão no disco intervertebral com agravamento gradual: a
primeira é a protusão discal, segundo ele, sem ruptura do anel fibroso; a segunda é um
prolapso do disco, onde somente as fibras mais externas do anel fibroso retêm onúcleo; a
terceira é a extrusão do disco, ocorre que o anel fibroso é perfurado,e o material discal (parte
do núcleo pulposo) move-se para dentro do espaço epidural; e a quarta etapa seria um disco
seqüestrado, com uma formação de fragmentos discais do anel fibroso e do núcleo pulposo
fora do disco propriamente dito.
Ricard (2003), em seu estudo, faz distinção entre protusão e hérnia discal e diverge da ideia
de não haver ruptura do anel fibroso na fase de protusão, além de realizar outras
considerações importantes:
Na protusão discal há rompimento das fibras mais internas do anel e o núcleo pulposo desliza
no sentido da fissura, fazendo protuir o disco. As protusões discais podem ser assintomáticas
ou dolorosas, e nesse caso, haverá rompimento maior das fibras do anel, e o nervo sinus
vertebral irá transmitir os sinais de dor discal, que se manifesta por dor lombar, dor referida
no membro inferior ou ciática de origem discal. A hérnia discal se caracteriza pelo
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rompimento das fibras mais externas do anel fibroso e extrusão do núcleo, o que a distingue
da protusão.
O mecanismo da ruptura discal envolve: uma hiperpressão discal que fratura a placa
cartilaginosa do disco (mais de 268 Kg. Pa/cm2); um estiramento das fibras posteriores
fragilizadas do anel fibroso que se rompem. De acordo com o autor, a direção da fissura
cartilaginosa é que determina a direção da hérnia/protusão discal: Se é uma fissura
cartilaginosa central haverá protusão ou hérnia central, se é uma fissura cartilaginosa póstero-
lateral haverá protusão ou hérnia póstero-lateral. Dessa forma, as hérnias se classificam
conforme o seu posicionamento em: medial ou central, póstero-lateral ou interna, foraminal,
extraforaminal ou externa. Podem ser subligamentárias ou transligamentárias excluídas.
A dor ciática é antiga, mas sua relação com a hérnia de disco só foi descrita no início do
século passado por Mixter e Barr (1934), a partir de um estudo denominado: Rupture of
intervertebral disc with involvimento the spinal canal.
Segundo os estudos de Ricard (2003), a dor ciática ocorre devido a presença de citocininas
pró-inflamatórias no rompimento do anel fibroso, e dependendo do tipo de hérnia, estruturas
importantes como o nervo sinus vertebral de luschka que inerva a dura máter ou o Ligamento
Comum Longitudinal Posterior (LCLP), que é altamente inervado e protege as estruturas
posteriores do disco, entram em contato com o material nuclear irritante, ocasionando
aumento dos estímulos, pertubação na condução de influxos nervosos e edema, pode ocorrer
também, a invasão do canal raquídeo ou forame de conjugação pelo material do disco,
levando a compressão da raiz do nervo no forame, originando a dor lombar e/ou ciática e
consequente incapacidade funcional.
A origem da dor ciática envolve estímulo mecânico das terminações nervosas da porção
externa do ânulo fibroso, compressão direta da raiz nervosa (com ou sem isquemia) e uma
série de fenômenos inflamatórios induzidos pelo núcleo extruso (KULISCH, ULSTROM e
MICHAEL, 1991).
Se a protusão for importante, as raízes L5 e S1 podem estar afetadas e ocasionar uma
neuralgia ciática. (WEINSTEIN e BUCKWALTER, 2000). A raiz nervosa em L4 pode ser
comprimida em sua origem e curso pelas protusões do 3º disco lombar, e a raiz nervosa L5
pode ser comprimida pelo 4º disco lombar e ainda, as raízes nervosas S1 e S2 podem ser
comprimidas pela protusão do 5º disco. Esforços repetidos aumentam de volume a hérnia
discal, esta se protuirá cada vez mais para o canal vertebral, entrando em conflito com as
raízes nervosas, principalmente do nervo ciático (RICARD e SALLÉ, 2002).
Para Maciocia (1996), a dor ciática e a dores nas costas em geral, inclusive a hérnia de disco,
compartilham da mesma etiologia, patologia e tratamento. Entretanto, Chonghuo (1993), faz
distinção etiológica entre a dor ciática e a lombalgia, não deixando ainda, de estabelecer uma
relação de causalidade entre a hérnia de disco e a dor ciática. Dessa forma, o autor diferencia
ciática em: primária e secundária, sendo que a ciática secundária é que tem relação com a
causa discal. Segundo ele, esse tipo de ciática é causada pelos fatores mecânicos que tem a
origem nos tecidos vizinhos aos nervos espinhais, e um dos fatores etiológicos mencionados é
a hérnia de disco.
A ciática secundária sempre tem a doença básica. A dor é agravada com a tosse ou
espirro e com a força para evacuar. Apresenta também dor à pressão quando se
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Maciocia (1996), refere que as condições patológicas mais comuns para esse tipo de afecção
são: retenção de Frio e Umidade, Estagnação de Qi e Sangue devido a esforço excessivo e
Deficiência do Rim.
Acerca da região lombar e suas estruturas, bem como seus Meridianos ou Canais de Energia
correspondentes, Maciocia (1996) refere que área inferior das costas é intensamente
influenciada pelos Meridianos da Bexiga e do Rim, e detalha isso ao citar os Meridianos
Principal, Muscular e Divergente da Bexiga, fluindo ao longo das costas, músculos e coluna
respectivamente; os Meridianos do Rim, a saber, o Principal que flui ao longo da coluna e vai
para os Rins e para a Bexiga, o Muscular que flui ao longo da face anterior da coluna e o
Meridiano Divergente que flui para cima com o Meridiano da Bexiga e, no nível do ponto
B23 (Shenshu), encontra o Vaso Dai Mai. O autor cita ainda, o Vaso Governador como sendo
um canal intimamente relacionado com os Rins, também fluindo ao longo da coluna, e o Vaso
Penetração, também originado entre os Rins.
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Yamamura (2001), reforça esse entendimento ao citar que a região lombar é energizada pelo
Shen (Rins), pelo Canal de Energia Curioso Du Mai (Vaso Governador), pelo Canal de
Energia Principal do Pangguang (Bexiga) e pelos Pontos Shu do dorso dos órgãose vísceras;
As afecções energéticas, principalmente funcionais e orgânicas, podem acometer a área onde
se situa o ponto Shu do dorso, ocorrendo, em geral, estagnação de Yang Qi nesses pontos,
promovendo contratura dos músculos paravertebrais, processos inflamatórios com o
aparecimento de substâncias algogênicas, isquemia tissular e, sobretudo, alterando o
equilíbrio sol-gel do disco intervertebral, com isso é alterado a pressão hidrostática do disco
intervertebral, induzindo aprocesso degenerativo do ligamento longitudinal posterior,
microrroturas e microextravasamento do conteúdo discal [...] (YAMAMURA 2001).
a) O Rim (Shen). Partindo do conceito: “A parte inferior das costas é a residência dos
Rins”extraído do livro Simples Question, citado por Maciocia (1996), podemos citar quatro
funções fisiológicas principais do Rim, de acordo com Chonghuo (1993):
Armazenar o Jing (Essência). É a matéria fundamental da qual se constitui o corpo e
necessária para efetuar atividades diversas. Divide-se em duas partes: o Jing congênito e o
adquirido;
Controlar os líquidos. Os líquidos que se reúnem na Bexiga, passam pelo processo de
separação do límpido do turvo, e por meio da função do Yang dos Rins o límpido será
conservado e transportado para o pulmão e este o distribuirá para todo o corpo, e o turvo
será eliminado do corpo em forma de urina;
Receber o Qi (Ar). Dessa forma, o Qi puro inalado pelo Pulmão desce para os Rins que
auxiliarão na regulação da respiração;
Formação dos ossos. Os Rins determinam a condição dos ossos, gera a medula e chega ao
cérebro. Sendo assim, se a Essência dos Rins é suficiente, os ossos serão fortes, do
contrário, haverá debilidade e dor em regiões como lombar e joelhos.
b) O Meridiano dos Rins, o Chao-Yin da perna. Sendo Yin, este meridiano se apresenta
acoplado ao meridiano da bexiga, Yang. Uma das características de depleção Energética do
Rim é a lombalgia (WEN, 1985);
c) Meridiano da Bexiga, Tai-Yang da perna. Este meridiano recebe a energia do meridiano
do intestino delgado e a transmite ao meridiano dos rins. Sua natureza é Yang,
apresentando-se acoplado ao meridiano dos rins que é Yin. Dentre os sintomas de
comprometimento do Canal da Bexiga estão: dor na nuca e costas, lombalgia, rigidez na
nunca e costas, dor ciática, dor na região ílio sacra, formigamento na perna ao longo de seu
trajeto. A deficiência de Qi no referido canal, pode provocar estagnação de Qi e de Xue
(sangue) no nível da região lombar, e manifestar-se por enfraquecimento dos músculos
paravertebrais, com conseqüente desequilíbrio muscular, que correspondem a fatores
biomecânicos indutores de algias lombares. (YAMAMURA, 2001; WEN, 1985);
d) O Meridiano da Vesícula Biliar, o Chao-Yang das pernas. Este meridiano é de natureza
Yang, acoplado ao meridiano do fígado, que é de Yin. A sintomatologia do
comprometimento do canal a nível dos membros inferiores é: dor no quadril, coxa e perna,
ocasionada pela Deficiência de Energia e Sangue. Dessa forma, tem o seu interior invadido
pelo fator patogênico, devido as síndromes de Taiyang não se eliminarem e se transmitirem
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Maciocia (1996), descreve tópicos para diagnóstico da ciática e demais afecções da coluna:
a) Observação. Nesse tópico, observa-se a cor da face do paciente, se estiver pálida indica
Deficiência de Yang do Rim, se estiver escura indica deficiência do Yin, se azulada, indica
estase de sangue e dor crônica. Observa-se ainda se há presença de vênulas congestionadas
na parte posterior das pernas, indicando estase de Sangue nos Meridiano de Conexão das
costas, e verifica-se se há afundamento muscular no ponto R 3, caracterizando Deficiência
do Rim.
b) Interrogatório. Durante o interrogatório deve-se esclarecer se a dor é aguda ou crônica.
Avaliando dessa forma os tipos de dor, para se compreender se trata-se de Estagnação de
Qi e de Sangue (dor tipo facada), Deficiência (dor tipo surda), Deficiência do Rim (dor que
melhora com o repouso ou melhora pela manhã e piora gradativamente durante o dia e não
sofre com alteração climática), invasão de Vento Frio (dor que piora pela manha e melhora
durante o dia), ou invasão externa de Frio e Umidade (dor que piora mediante o clima Frio
e Úmido).
c) Palpação. Se os músculos das costas estão tensos e rígidos, indica estase de Sangue,
proveniente de trauma. Se as costas ou a parte posterior das pernas são frias, denota
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Deficiência de Yang do Rim; se a área de dor é muito grande, sugere Deficiência do Rim
ou invasão de Frio e Umidade, se é pequena, trauma. Se faz importante, detectar pontos
sensíveis: B 26, B 25, B 54, Tunzhong, B 36 e B 37, a fim de identificar os meridianos
envolvidos e pontos Ah Shi.
d) Pulso. A parte inferior das costas é refletida na posição posterior esquerda do pulso
(Meridiano da Bexiga), se o pulsofor em Corda e Flutuante: dor aguda com exacerbação de
um problema crônico nas costas; se for Fino, Profundo e ligeiramente em Corda: dor
crônica nas costas em um fundo de Deficiência do rim, se essa posição for atada, indica
invasão de Umidade–Frio no meridiano da Bexiga. O autor cita que de acordo com a obra
A study of the eight extraordinary vessels, quando o pulso esquerdo é flutuante e levemente
em corda nas três posições, reflete tensão do Vaso Governador e dor aguda nas costas por
Vento Frio. Os pulsos: Fraco e Flutuante (Macio), Fino e ligeiramente em Corda, indicam
dor crônica por Umidade. O pulso em Corda e Rápido, denota invasão de Umidade-Calor
nos Meridianos das costas.
e) Língua. Chonghuo (1993), ressalta a importância da avaliação da língua, pois a mesma
está vinculada a certos órgãos internos, e às vezes, refletem as mudanças patológicas
desses órgãos. Dessa forma, a língua é dividida em quatro partes: a ponta (Coração), o
centro (Pulmão e Estomago), a raiz (Rim) e as bordas (Fígado e Vesícula Biliar). Dessa
forma, nas Síndromes de Frio, a língua estará com aspecto mais descorado que o normal
(sintoma de debilidade da Energia Yang e de insuficiência de Energia de Sangue); no caso
de Estagnação de Qi e de Sangue, a língua se apresentará purpúrea. Se essa língua
purpúrea estiver seca, indica que a Estagnação é consequência do calor, se estiver úmida,
decorre que a Estagnação é consequência de Frio. Uma língua com saburra branca e fina,
sugere uma Síndrome de Frio e que o fator patogênico exógeno ainda não penetrou no
interior do corpo. Se a língua estiver pálida e toda coberta por uma saburra branca, indica
Síndrome de Frio interno. A saburra amarela aparece em Síndromes de Calor ou Calor de
origem interna. A Saburra de cor cinza, revela a presença de Frio e Umidade.
Yamamura et. al, (1996), realizaram um estudo com uma amostra de 41 pacientes. Os
mesmos apresentavam quadro clínico de lombalgia com dor irradiada para os membros
inferiores, e resultado clínico e tomográfico compatível com o diagnóstico isolado de hérnia
de disco intervertebral lombar. Foram avaliados os parâmetros de intensidade de dor relatada,
capacidade de andar, correr, subir e descer escadas; atividades cotidianas como o tempo que
podiam permanecer sentados, deitados ou em pé; o aparecimento ou agravamento da dor com
a manobra de Vasalva e parâmetros objetivos como o Teste de Elevação da Perna Retificada,
Teste de Shober (movimento de flexão) de Moll (inclinação lateral) e extensão da região
lombar. Foram realizadas 30 aplicações de acupuntura com 30 minutos de duração cada sessão.
Os pontos de tratamento foram: M-BW-35 (Jiaji),VG 2, VG 4,VB 30, B 5, B 60, R 2, R 3, ID 3 e
M-HN-3 (Yintang). Os pontos adicionais para o tratamento específico do Canal de Energia
afetado foram: Vesícula Biliar: TA 2, TA 3, VB 41 e VB 43 . Estômago: IG 2, IG 3, E 43 e E 44.
Bexiga: ID 2, ID 3, B 65 e B 66.
Esse primeiro estudo rendeu um bom resultado, e fez com que Yamamura et. al, (1996),
decidissem prosseguir a pesquisa, que contou com outros colaboradores e apenas 22 dos 41
pacientes que deram início a primeira pesquisa. O tratamento durou em média de 3 - 9 meses
e média de 24,8 aplicações de acupuntura. Foi realizado o controle tomográfico em média 3,2
meses após remissão do quadro clínico da hérnia de disco para observar a evolução do
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tratamento. Desses 22 pacientes que faziam parte da amostra, 10 apresentavam hérnia discal
isolada. Os pontos de tratamento utilizados foram os mesmos da primeira pesquisa.
Com o avanço dos resultados e na tentativa de dar continuidade as pesquisas, Yamamura et.
al, (1996), realizaram outro estudo com uma amostra maior. Desta feita, com 82 pacientes que
apresentavam queixa de dor lombar com irradiação para os membros inferiores. Desses,
21,9% tinham diagnóstico de hérnia discal intervertebral lombar isolada, os demais
apresentavam dor resultante de outras afecções da coluna vertebral. Os pontos de tratamento
citados nas pesquisas anteriores, foram mantidos nessa pesquisa.
O resultado final de todos os estudos, foi uma melhora importante em todos os parâmetros
avaliados, sendo que o estudo em que a amostra foi de 82 pacientes apresentou o resultado
mais significante de todos, com redução em 100% dos casos em relação ao tamanho da
hérnia. Dessa forma, de acordo com Yamamura et. al, (1996), a acupuntura tem melhor efeito
nas doenças com menores lesões orgânicas do que com maiores lesões anatômicas.
Os pontos para os protocolos abaixo, foram selecionados de acordo com a natureza da dor
(Aguda e Crônica), localização mais comum da dor ou canal afetado (posterior e lateral), e
Disfunções Energéticas (Retenção de Umidade-Frio, Estagnação de Qi e Deficiência de Rim).
Disfunções Energéticas
Localização Retenção de Retenção de Estagnação de Deficiência de
da dor ou canal afetado Umidade Frio Qi Rim
VB 31 VB 31 VB 31 VB 31 -
Lateral VB 40 VB 40 - VB 40 -
B 40 B 40 - B 40 -
B 26 B 26 B 26 - B 26
B 54 B 54 - - -
B 58 - - B 58 -
B 62 - B 62 B 62 -
D B 57 - - B 57 -
O B 59 - - B 59 -
R B 17 B 17 - B 17 -
B 25 - - B 25 -
A
G B 36 - - B 36 -
U B 37 - - B 37 -
Posterior
D B 65 - - B 65 -
A VG 26 - - VG 26 -
VG 8 VG 8 - VG 8 -
VG 3 VG 3 VG 3 VG 3 VG 3
VG 4 VG 4 VG 4 VG 4 VG 4
VB 30 VB 30 VB 30 VB 30 -
VB 34 VB 34 - VB 34 -
ID 2 - - ID 2 ID 2
ID 3 ID 3 - ID 3 -
TA 2 - - TA 2 -
TA 3 - - TA 3 -
Jiaji - - Jiaji -
Shi qi zhu xia - Shi qi zhu xia Shi qi zhu xia -
Lateral VB 39 VB 39 - VB 39 VB 39
D B 10 - B 10 - -
O B 60 - - B 60 B 60
R B 57 - - B 57 -
12
Posterior B 17 B 17 - B 17 -
C B 26 B 26 B 26 - B 26
R B 25 - - B 25 -
Ô B 23 B 23 - B 23 B 23
N B 36 - - B 36 -
I B 66 - - B 66 -
C VG 4 VG 4 VG 4 VG 4 VG 4
A VG 8 VG 8 - VG 8 -
VG 3 VG 3 VG 3 VG 3 VG 3
VB 34 VB 34 - VB 34 -
Jiaji - - Jiaji -
7. Considerações Finais
8. Referências
CIPRIANO, J. J. Manual Fotográfico de Testes Ortopédicos e Neurológicos. São Paulo: Manole, 1999.
CHONGHUO, T. Tratado de Medicina Chinesa. São Paulo: Roca, 1993.
DRAKE, L. R.; VOGL, W.; MITCHELL, M. W. A. Gray. Anatomía para estudiantes. Madrid: Elsevier, 2005.
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ECKERT, A. Oito Meridianos Maravilhosos: funções psíquicas e físicas dos oito vasos extraordinários da
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GABRIEL, M. S.; PETIT, J. D.; CARRIL M. L. S. Fisioterapia em Traumatologia Ortopedia e
Reumatologia. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.
JUNYING, G.; WENQUAN, H.; YONGPING, S. Selecionando os pontos certos de acupuntura: um manual
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KISNER, C.; COLBY, L. Exercícios Terapêuticos: Fundamentos e técnicas. 3 ed. São Paulo: Manole, 1998.
KULISCH, S. D.; ULSTROM, C.L.; MICHAEL, C. J. The tissue origin of low back pain and sciatica: a report
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Orthopedic Clinics of North America, Minneapolis, v. 22, n. 2, p.181-7, 1991.
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