SIL e Perturbações Elétricas Causadas por Linhas

de Transmissão

Cainã du Bocage Damasceno
Departamento Acadêmico de
Eletrotécnica
Instituto Federal de Santa Catarina
Florianópolis, Brasil
caina.db@aluno.ifsc.edu.br
Gabriel Antonio Massuyama
Departamento Acadêmico de
Eletrotécnica
Instituto Federal de Santa Catarina
Florianópolis, Brasil
gabriel.am@aluno.ifsc.edu.br
Gabryel Luiz de Aguiar Paese
Departamento Acadêmico de
Eletrotécnica
Instituto Federal de Santa Catarina
Florianópolis, Brasil
gabryel.p@aluno.ifsc.edu.br

Abstract—This paper aims to introduce the concept of Surge

Impedance Loading and address some types of electrical V L
disturbances that can occur with transmission lines. =√ = Zs ()
I C

Keywords—transmission lines, SIL, electrical disturbances,

electromagnetic interference.
I. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento social e econômico de um país é
totalmente dependente com a forma que esse país tem de
captar energia, não só a sua captação mas também a sua
transmissão ao longo do território nacional. As linhas de
transmissão possuem o importante papel de levar a energia
para a nossa sociedade, de forma prática e segura, porém
existem diversos desafios relacionados ao controle de
perturbação elétricas e efeitos característicos de sistemas de
transmissão que podem acabar interrompendo tanto o serviço
de transmissão como a expansão do mesmo. Este artigo busca
apresentar tais interrupções e quais impactos elas podem
gerar.
II. SURGE IMPEDANCE LOADING
Os principais parâmetros em uma linha de transmissão
são a capacitância e a reatância e ambas são distribuídas de
forma uniforme durante toda a linha [1]. Quando a linha está
carregada, o componente de capacitância supre energia
reativa para a linha de transmissão e o componente de
indutância absorve a energia reativa do sistema [2].
Considerando o equilíbrio de ambas as potências reativas
do sistema chega-se na seguinte equação:
V²
= I2 XL
Xc
A equação com essas dimensões de resistência é chamada
de Surge Impedance. A carga é puramente resistiva e quando
conectada na extremidade receptora da linha a potência
reativa gerada pela reatância capacitiva será absorvida pela
reatância indutiva da linha como foi citado anteriormente [2].
O termo Surge Impedance é utilizado em conexão com
surtos na linha de transmissão que podem ser causadas por
descargas atmosféricas ou comutações na mesma [2]. As
perdas podem ser desprezadas de modo que:
2πfLl L
Zc = Zs = √ = ()
2πfCl C
O Surge Impedance Loading pode ser definido como a
potência fornecida por uma linha de transmissão a uma carga
puramente resistiva que em valor, é igual a Surge Impedance
dessa mesma linha. Quando a linha é interrompida por uma
Surge Impedance a tensão final de recepção é igual a tensão
final de envio, e neste caso específico é chamado de Flat
Voltage Profile [2] como é possível ver na Fig. 1:
()

Onde V é a tensão de fase, I é a corrente de linha, Xc é a

reatância capacitiva por fase e XL é a reatância indutiva por
fase. Simplificando a equação (1) obtêm-se:

V 2πfLl
= √XLXc = √ ()
I 2πfCl

Onde f é a frequência do sistema, L é a indutância por

unidade de comprimento da linha, C é a capacitância por
unidade de comprimento da linha e l é o comprimento da
linha. Assim, obtêm-se a última equação:
Fig. 1. Comportmento da tensão em uma extensa linha de trasmissão sem
um reator shunt. Fonte: [2].

XXX-X-XXXX-XXXX-X/XX/$XX.00 ©20XX IEEE

 Para satisfazer a condição de Flat Voltage Profile o
sistema de transmissão precisa ter as seguintes
características:
• Fixar as tensões de envio e recebimento utilizando
métodos de controle de tensão em ambas as
extremidades.
• Carregar a linha de transmissão com Surge Impedance
Load.
Quando satisfeita ambas as condições é obtida a mesma
magnitude de tensão em qualquer ponto da linha de
transmissão [3].
III. INTERFERÊNCIAS ELETROMAGNÉTICAS
Algumas das perturbações em linhas de transmissão são
criadas por campos elétrico e magnéticos, cuja intensidade
vai depender da tensão de operação, carga atual da linha e
disposição dos cabos nas torres de transmissão [4].
A. Efeito Corona
O Efeito Corona ocorre na superfície de condutores que
possuem um campo elétrico intenso, como é o caso de linhas
de transmissão. A descarga do Efeito Corona cria um
fenômeno luminoso por conta da ionização de partículas de
poeira e umidade, induzindo correntes de alta frequência que
se propagam pela linha e causam interferência em sinais de
rádio, ruído audível e perdas no sistema de transmissão por
conta de cargas espaciais [5].
Para reduzir a intensidade do campo elétrico sobre a
superfície das linhas de transmissão, e consequentemente
reduzir o Efeito Corona, utiliza-se conjuntos de dois a quatro
fios paralelos entre si para cada fase [4], chamados de cabos
múltiplos. A Fig. 2 mostra a intensidade do campo elétrico
com diferentes configurações de cabos múltiplos em uma
linha de transmissão de 400 kV.
Fig. 2. Intensidade de campo elétrico com cabos múltiplos de dois (a), três
(b) e quatro (c) cabos - 400 kV. Fonte: [4].
B. Acoplamento Indutivo e Capacitivo
Estruturas metálicas aéreas muito próximas a linhas de
transmissão, como dutos metálicos, podem sofrer influência
capacitiva dos condutores, criando tensões de alto valor entre
as estruturas metálicas quando isoladas [6]. Com relação a
influência indutiva, o campo magnético criado pelas linhas de
transmissão pode gerar tensões induzidas em estruturas
metálicas próximas, como dutos, cercas, construções e
veículos [6, 7].
Tais interferências em estruturas e veículos podem
acarretar em choques elétricos, danos a revestimentos,
corrosão metálica e danos a equipamentos conectados [6, 7].
C. Ruído
O ruído produzido por linhas de transmissão pode ser
tanto audível como por rádio interferência.
O ruído audível é uma das consequências mais comuns do
efeito corona, criando ruídos entre 30 e 40 dB a uma distância
de 30 metros, podendo chegar a 55 dB em dias de chuva [4].
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
ruídos a partir de 50 dB durante o dia e de 5 dB durante a
noite são considerados incômodos [8], o que torna inviável a
moradia perto de linhas de transmissão.
O ruído em radiofrequência é provocado por linhas de
transmissão acima de 1kV e pode atingir frequências de 0,15
MHz a 300 MHz, abrangendo a faixa AM, FM e TV [9]. A
causa mais comum desse tipo de ruído é o efeito corona, mas
também pode ser causado por isoladores defeituosos,
contatos frouxos e descargas atmosféricas na estrutura de
transmissão [9].
IV. DESCARGAS ATMOSFÉRICAS
O Brasil é o país que tem a maior incidência de raios do
mundo, portanto a estrutura de sistemas de transmissão fica
exposta a descargas atmosféricas indiretas e diretas.
Quando há descargas indiretas, que ocorrem próximas à
linha, o caminho da descarga atua como uma fonte de campo
eletromagnético, podendo induzir sobretensões nas linhas de
transmissão, tendo impacto maior em sistemas de baixa e
média tensão [10]. Descargas com incidência direta nas
linhas de transmissão ou em cabos de blindagem podem
causar a ruptura de isolamentos e consequentemente provocar
desligamentos [10].
V. EFEITO FERRANTI
O Efeito Ferranti é um aumento da tensão ao longo da
linha de transmissão, ocorrendo quando a tensão do receptor
é maior que a do emissor. Normalmente esse efeito ocorre
quando as linhas de transmissão estão operando a vazio ou
em carga reduzida, pois são formadas por capacitores e
indutores de valor elevados ao longo de sua dimensão [11].
Quando os capacitores estão sendo carregados há uma
elevação de tensão no indutor devido a corrente capacitiva,
que estando em fase com a tensão do emissor aumenta a
tensão do receptor [11].
As linhas de transmissão que operam em frequências mais
altas têm uma maior probabilidade de serem afetadas pelo
Efeito Ferranti. Entre linhas de cabo e uma linha aérea, tal
efeito será mais nítido nas linhas de cabo. O comprimento da
linha também influencia e, para evitar o Efeito Ferranti, é
necessário limitar o comprimento máximo das linhas de
transmissão [12].
A ação do Efeito Ferranti é controlada com a utilização
de compensações de reatância em série (capacitores) e/ou em
derivação (reatores Shunt) à carga, que absorvem a potência
reativa gerada pela capacitância da linha [12].
VI. CONCLUSÃO
Existem diversos tipos de perturbações elétricas causadas
por linhas de transmissão, sejam elas efeitos próprios como o
Efeito Corona e Efeito Ferranti, ou também efeitos externos
como acoplamentos em estruturas metálicas e ruídos criados
pelo campo magnético das linhas. Tais perturbações podem
ser atenuadas, fazendo o uso da metodologia de Surge
Impedance Loading para diminuir a potência reativa da linha
que seria armazenada em campos magnéticos, ou utilizando
cabos múltiplos para diminuir o campo elétrico na superfície
das linhas.
REFERÊNCIAS

[1] “Surge Impedance Loading”. Circuit Globe, circuitglobe.com/surge-

impedance-loading.html.
[2] “Surge Impedance Loading or SIL”. Electrical4U,
www.electrical4u.com/surge-impedance-loading-or-sil/.
[3] “What is a flat voltage profile in a transmission line?”. Quora, Raheem
Elsayed, www.quora.com/What-is-a-flat-voltage-profile-in-a-
transmission-line.
[4] R. Tarko, K. Kochanowicz, W. Nowak, W. Szpyra and T. Wszolek,
“Reduction of the Environmental Impact of Electric Field Generated
by High Voltage Power Transmission Lines”, MDPI Energies Journal,
vol. 14, issue 19, October 2021.
[5] R. G. Urban, H. C. Reader and J. P. Holtzhausen, “AC transmission
line corona noise issues in a small corona cage”, IEEE AFRICON. 6th
Africon Conference in Africa, pp. 639-644, October 2002.
[6] A. G. L. Furlan, “Estudo de Interferências Eletromagnéticas Entre
Linha de Transmissão e Dutos Enterrados”, Universidade Federal de
Santa Catarina, 2015.
[7] S. Ladan, A. Aghabarati, R. Moini and F. P. Dawalibi, “Induced
Disturbances by High Voltage Transmission Lines on Nearby
Stationary Vehicles”, IEEE International Symposium on
Electromagnetic Compatibility, pp. 298-302, July 2016.
[8] B. Berglund, T. Lindvall and D. H. Schwela, “Guidelines for
Community Noise”, World Health Organization, April 1999.
[9] R. M. Leão, “Rádio Interferência Proveniente de Linhas de Alta
Tensão”, Potifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008.
[10] L. V. Cunha, “Desempenho de Linhas de Transmissão Frente a
Descargas Atmosféricas: Influência do Efeito Corona na Ruptura do
Meio Vão”, Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.
[11] “Efeito Ferranti em Linhas de Transmissão”, Linkedin, Anderson
Leite, pt.linkedin.com/pulse/efeito-ferranti-em-linhas-de-transmissão-
anderson-leite.
[12] “Compreendendo o Efeito Ferranti em Linhas de Transmissão”,
Shunlongwei Co. Ltd, www.shunlongwei.com/pt/understanding-the-
ferranti-effect-in-transmission-lines/.