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SUMÁRIO

1. Introdução ..................................................................... 3
2. Indicações...................................................................... 4
3. Contraindicações........................................................ 7
4. Materiais para drenagem ........................................ 7
5. Preparação ................................................................... 8
6. Técnica............................................................................ 8
7. Cuidados gerais.........................................................12
8. Critérios para retirada..............................................13
9. Complicações.............................................................14
10. Casos clínicos..........................................................16
Referências bibliográficas .........................................19
DRENAGEM DE TÓRAX 3

1. INTRODUÇÃO A pleura é uma membrana escorrega-


dia que reveste os pulmões e o inte-
O sistema respiratório começa no na-
rior da parede torácica. Ela permite
riz e na boca e continua pelas vias aé-
que os pulmões se movam suave-
reas e pulmões. O ar entra no sistema
mente durante a respiração e quando
respiratório pelo nariz e boca, passan-
a pessoa se movimenta. Normalmen-
do pela garganta (faringe) e laringe. A
te, existe apenas uma pequena quan-
entrada da laringe é coberta por uma
tidade de líquido lubrificante entre as
pequena aba de tecido, chamada de
duas camadas da pleura. Essas duas
epiglote, que se fecha automatica-
camadas deslizam suavemente uma
mente durante a deglutição, impedin-
sobre a outra quando os pulmões so-
do assim a entrada de alimentos ou
frem alterações de tamanho e forma.
líquidos nas vias aéreas.

Figura 1. Sistema respiratório. Fonte: https://bit.ly/2PDGbPu

A cavidade pleural é um espaço vir- durante o ciclo respiratório. A pressão


tual limitado pelas pleuras visceral, negativa em seu interior garante o fun-
parietal, mediastinal e diafragmática, cionamento normal dos órgãos conti-
ocupada por fina lâmina líquida que dos no tórax, principalmente pulmões
permite o deslizamento entre elas e coração. Em situações patológicas,
DRENAGEM DE TÓRAX 4

esse espaço pode ser ocupado por 2. INDICAÇÕES


conteúdo líquido ou gasoso de varia-
A indicação de drenagem no caso de
do volume, determinando alterações
conteúdo líquido está na dependência
na fisiologia respiratória que, se não
do tipo e do volume de líquido acu-
adequadamente tratadas, podem de-
mulado no espaço pleural. Em deter-
terminar a morte do doente.
minadas situações não traumáticas, a
punção pleural com agulha
precede a drenagem, pois
permite a caracterização ma-
croscópica desse conteúdo,
bem como sua análise laboratorial.
Líquidos estéreis podem ser esvazia-
dos por punção pleural sem a necessi-
dade de drenagem tubular. Entretanto,
coleções purulentas, líquidos contami-
nados, sangue e linfa devem ser sem-
pre drenados independentemente
do volume. Segue abaixo as principais
indicações de drenagem torácica:
• Pneumotórax: presença de ar
entre as duas camadas da pleu-
ra, resultando em colapso parcial
ou total do pulmão. O pneumotó-
rax pode ser espontâneo, ou seja,
sem causa aparente em pessoas
Figura 2. Ilustração da pleura parietal e visceral e da sem doença pulmonar conhecida,
cavidade pleural. Fonte: Standring, S. Gray’s anatomy, como uma ruptura de uma peque-
40ª ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
na área debilitada do pulmão (bo-
lha), traumático, que como o nome
CONCEITO: A drenagem pleural é de- já diz, pode ser consequência de
finida como um procedimento cirúrgico
uma lesão penetrante ou fecha-
cujo objetivo fundamental e restaurar ou
manter a negatividade da pressão do do, já o pneumotórax aberto ou
espaço pleural, por meio da eliminação ferida torácica aspirativa é uma
de qualquer conteúdo anômalo. Consis- lesão com solução de continuida-
te na introdução de um dreno através da
parede torácica, promovendo o esvazia-
de (ferida) em sua parede toráci-
mento desse conteúdo. ca, o que permite que o ar atmos-
férico ganhe a cavidade pleural
DRENAGEM DE TÓRAX 5

provocando o pneumo-
tórax, lesões maiores ou
iguais a 2/3 do diâmetro
da traqueia fazem com
que o ar entre e colabe o
pulmão e o pneumotórax
hipertensivo, onde ocorre
um vazamento de ar tanto
do pulmão quanto da parede
torácica para espaço pleural,
ele é caracterizado por um
deslocamento do mediastino
para lado oposto e possível
choque obstrutivo decorrente
da diminuição do retorno ve-
noso e do débito cardíaco. Figura 3. Pneumotórax. Fonte: https://bit.ly/2PEXU9a

• Hemotórax: fruto de um trauma


torácico, seja ele contuso ou pene- estéril, infectado ou inflamatório
trante, pós-operatório de cirurgia como no empiema ou no derra-
torácica ou abdominal superior ou me parapneumônico, maligno, ou
condições cardíacas ou aórticas seja, condições não emergenciais
não traumáticas como infarto agu- decorrentes de um tumor causan-
do do miocárdio e dissecção agu- do derrame pleural, como no qui-
da de aorta. Casos em que ocorre lotórax, que é o acúmulo de linfa
um rápido acumulo com mais de no espaço pleural, podendo resul-
1500ml ou 1/3 do volume de san- tar de obstrução da drenagem lin-
gue do doente na cavidade toráci- fática, de lesão do ducto torácico
ca são considerados como hemo- ou do aumento da produção lin-
tórax maciço, sendo capazes de fática, tem como causas mais co-
promover compressão pulmonar muns neoplasias, trauma, causas
suficiente para gerar importante congênitas, infecções e trombose
desconforto respiratório, hipoten- venosa do sistema da veia cava
são e choque. Condições como superior, ruptura esofágica/brôn-
essa, são comuns em casos de fe- quica ou síndrome de Boerhaave
rimento penetrante que atinge va- (protocolo de drenagem bilateral)
sos sistêmicas ou hilares
• Realização de pleurodese: in-
• Derrame pleural sintomático ou serção do tubo torácico para fa-
recidivante: o derrame pode ser cilitar a instilação de agentes
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MAPA: PRINCIPAIS INDICAÇÕES DE DRENAGEM DE TÓRAX

esclerosantes (Tetracicli-
na, Nitrato de Prata, Po-
Estéril Neoplasia
vidine, Bleomicina, talco
estéril) no espaço pleu- Empiema
ral para o tratamento de
Infectado ou
derrame refratário Trauma
inflamatório
• Hemopneumotórax Derrame
Quilotórax
parapneumônico
• Após procedimento ci- Lesão do
rúrgico (com abertura ducto torácico
de pleura) Tumor Maligno
Aumento da
produção linfática
1500ml ou 1/3 do Derrame pleural
Hemotórax maciço sintomático ou
volume de sangue
recidivante

Instilação de
Realização de
Hemotórax agentes esclerosantes
pleurodese
no espaço pleural
Deslocamento do me- PRINCIPAIS
diastino para lado oposto INDICAÇÕES
Pneumotórax Hemopneumotórax

Choque obstrutivo
Pneumotórax
Condições não Após procedimento
hipertensivo Abertura da pleura
emergenciais cirúrgico
Desvio de traqueia

Lesão com solução de continuidade (ferida)


Diagnóstico clínico
Pneumotórax aberto
Quando o doente inspirar, o ar seguirá
preferencialmente pela abertura torácica
em vez de penetrar na via aérea
DRENAGEM DE TÓRAX 7

• Cirrose hepática
SE LIGA! O motivo mais comum para a
• Paquipleuris
colocação de um tubo torácico na popu-
lação pediátrica é o pneumotórax. Como
nos adultos, parece ser mais comum
entre o sexo masculino, isso também é 4. MATERIAIS PARA
válido na população neonatal. Outros DRENAGEM
diagnósticos principais para os quais a
colocação do tubo torácico na população • Equipamentos de proteção indivi-
pediátrica são derrames parapneumôni-
dual (EPIs): luva estéril, bata, más-
cos e empiema. Porém cerca de metade
das crianças com derrame parapneumô- cara, óculos de proteção
nico ou empiema pode ser tratada ape-
nas com antibióticos. O restante exigirá
• Material de antissepsia: pinça Fo-
intervenções como colocação de tubo erster; PVPI tópico ou Clorexidina
torácico, com ou sem terapia fibrinolítica alcoólica e gaze
ou desbridamento cirúrgico.
• Campo cirúrgico

3. CONTRAINDICAÇÕES • Anestésico: lidocaína 1%

Não há contraindicação absoluta • Agulha e seringa para anestesia


para a drenagem pleural. Existem • Cabo de bisturi (n° 3 ou 4)
situações, no entanto, em que sua
• Lâmina de bisturi (n° 11 ou 15 para
indicação é controversa, como nos
o cabo 3 ou 21, 22, 23 ou 24 para
doentes que podem ser trata- dos
o cabo 4)
por punção pleural esvaziadora, tra-
tamento medicamentoso ou mesmo • Pinça hemostática Kelly ou
apenas com conduta expectante. É o Rochester
caso do pneumotórax e do hemotó-
• Material para sutura: porta-agulha
rax pequenos, desde que assintomá-
Mayo-Hegar; pinça traumática; fio
ticos e não progressivos, já que estes
Sertix (agulhado); e tesoura reta
podem ser esvaziados por punção ou
observados clinicamente, associados • Material para curativo: gaze; e es-
ou não a antibioticoterapia. paradrapo ou micropore
Por outro lado, existem algumas con- • Dreno: diâmetro de 2-6mm (6-
dições as quais o médico deve estar 26 French) para uso pediátrico e
atendo, que caracterizam contrain- 5-11mm (20-40 French) para uso
dicações relativas à drenagem de adulto
tórax:
• Sistema selo d`água
• Coagulopatias ou uso de anticoa-
gulantes orais
DRENAGEM DE TÓRAX 8

5. PREPARAÇÃO apropriadamente a técnica e os cui-


dados necessários.
Durante a preparação do paciente,
alguns pontos importantes devem
ser analisados, dentre eles, a neces- 6. TÉCNICA
sidade de profilaxia antibiótica an-
O tipo mais executado de drena-
tes da colocação dos drenos. Tal si-
gem é a drenagem pleural tubular
tuação depende das circunstâncias
fechada simples, mas em situações
clínicas. De modo geral, a maioria
especiais pode-se recorrer a outras
das evidências da profilaxia com an-
formas como a drenagem fechada
tibióticos envolve a população adulta
sob aspiração continua e mesmo a
acometida por traumas penetrantes
drenagem pleural aberta. Na maior
e cirurgias torácicas eletivas, sendo
parte das drenagens utilizamos dre-
administrada apenas como uma dose
nos multifenestrados de material
pré-operatória.
plástico e siliconizado.
A escolha do dreno apresenta uma
Na drenagem tubular fechada sim-
ampla variação. Nos adultos, estão
ples, um tubo ou dreno é introduzido
disponíveis tubos torácicos padrão,
no interior da cavidade pleural. A ou-
variando de 24 a 40 French, para
tra extremidade é conectada ao siste-
crianças, os tamanhos variam de 16
ma de selo d’agua que consta de um
a 24 French e, em bebês, os tama-
tubo de borracha mergulhado 2-3
nhos variam de 8 a 12 French. Deve-
cm na superfície líquida de um fras-
-se lembrar que quanto mais visco-
co, cuja tampa existe um respiro para
so o conteúdo a ser drenado (pus
o meio externo e que não está em
ou sangue) mais calibroso será o
contato com o líquido. Dessa forma,
dreno.
o selo d’agua garante um fluxo uni-
direcional ao conteúdo drenado: da
SE LIGA! Segundo a 10ª edição do cavidade pleural para o frasco, sem
ATLS, a drenagem torácica deve ser fei- possibilidade de retorno a ela. O ar
ta utilizando drenos de menor calibre,
entre 28 e 32 Fr. drenado pode ganhar o meio externo
pelo respiro, mas não consegue voltar
ao espaço pleural, pois o nível líquido
O procedimento necessita ser in- impede o retorno ao sistema.
formado ao paciente e consentido
pelo mesmo, a exceção de uma situ-
ação de emergência. Feito isso, a dre-
nagem pode ser iniciada, seguindo
DRENAGEM DE TÓRAX 9

A B

Figura 4. A. Drenagem tubular fechada simples; B. Drenagem pleural sob aspiração contínua. Fonte: Massaia, I. F. D.
S. et al. Procedimentos do internato à residência médica. 1ªed. São Paulo. Editora Atheneu; 2012.

Em algumas situações como no con- não deve ultrapassar 25 a 30 cm de


teúdo purulento espesso ou na fístula H2O pelo risco de lesão pulmonar,
aérea pode-se recorrer a drenagem motivo pelo qual não devemos conec-
pleural sob aspiração continua e, tar a fonte de aspiração diretamente
nesse caso, e necessário mais um no frasco de drenagem convencional
frasco. Utilizamos um segundo fras- sem o auxílio do frasco de três vias.
co fechado para o exterior por uma Segue abaixo as etapas da técnica
tampa com três vias. A do meio re- de drenagem de tórax:
presenta a abertura para o ar de um
tubo mergulhado na superfície líquida • Comunicar/informar ao paciente
cerca de 15 a 20 cm de H2O. Uma sobre o procedimento
das vias laterais está conectada ao • Paramentação completa com os
vácuo da parede ou a um aparelho EPIs
que faz aspiração constante, e a ou-
tra via serve para conectar esse fras- • Posicionar paciente em decúbito
co ao frasco coletor com selo d’agua. dorsal (braços abduzidos com a
Assim, se o tubo central (aberto para mão atrás da cabeça facilitando a
o meio externo) está mergulhado 15 exposição do tórax)
cm no líquido, então essa é a pressão • Antissepsia/assepsia e colocação
de aspiração que está sendo gerada de campos estéreis
no sistema. A pressão de aspiração
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• Bloqueio anestésico com lidocaína situação de emergência, os pontos


a 1% no local escolhido para inser- de referência são a linha do mami-
ção do dreno (anestesia-se a pele, lo nos homens e o vinco infra ma-
subcutâneo e periósteo) mário nas mulheres)
• Incisão cutânea de 1,5 a 2,0 cm
de extensão, paralela aos arcos Divulsão romba com pinça Kelly ou
costais e junto à borda superior da Rochester dos planos subcutâneos
costela inferior, no 5° espaço inter- e muscular até perfurar a pleura pa-
costal (EIC) anterior à linha axilar rietal. Deve-se, nesse tempo, manter
média, buscando assim, não atin- a pinça dentro da cavidade e abri-la
gir os vasos nessa região (em uma para garantir o espaço para passa-
gem do dreno
Exploração digital do interior da ca-
vidade: avaliar consistência dos ór-
gãos, presença de aderências, cor-
po estranho, tumorações ou hérnia/
lesões diafragmáticas
O dreno deve ser pinçado com a
Kelly ou Rochester na extremidade
em que será inserido na cavidade
(proximal) e na porção distal
Com o auxílio de uma pinça tipo
Kelly ou Rochester, o dreno é
introduzido na cavidade e di-
recionado posterossuperior-
mente (pneumotórax) ou
posteroinferiormente (he-
motórax ou derrame pleu-
ral) e depois a pinça pro-
ximal é retirada.

Figura 5. Vasos intercostais. Fonte: Standring, S. Gray’s


anatomy, 40ª ed. - Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
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Figura 6. A. Posiciona-
mento do paciente; B.
Toracocentese ascenden-
te para identificação de
local de inserção de dreno
torácico; C. Exploração
digital da cavidade; D. In-
serção de dreno torácico.
Fonte: Massaia, I. F. D.
S. et al. Procedimentos
do internato à residência
médica. 1ªed. São Paulo.
Editora Atheneu; 2012.

• O dreno é conectado ao sistema • O fio é trançado ao redor do tubo


sela d`água e depois a pinça Kelly (nó frouxo) e confeccionada “bai-
ou Rochester distal deve ser reti- larina”, amarrando o fio apenas
rada. Obrigatoriamente deverá ha- na última volta. Uma fixação frou-
ver oscilação da coluna líquida. O xa pode levar ao escape do dre-
contrário indica erro na drenagem no e comprometimento clínico do
doente.
• Fixa-se o dreno à pele, sem perfu-
ra-lo, com um ponto em ´´U`` de fio
inabsorvível e resistente

Figura 7. A. Primeiro, o ponto de ancoragem é frouxamente amarrado sobre o tubo, B. Em seguida, o tubo é preso
ao ponto de ancoragem. Observe o recuo no tubo, indicando uma ligação confortável para evitar derrapagens. Fonte:
UpToDate. 2019.
DRENAGEM DE TÓRAX 12

• Coloca-se um curativo oclusivo ao de soltar o clamp ao término da


redor do local de inserção do dreno manipulação
• Vedação da extremidade distal do • Manter o selo d’água com 300-
dreno com o encaixe do selo d`á- 500 mL de SF 0,9% (cerca de 2,5
gua, utilizando esparadrapo ou cm de altura), e trocá-lo a cada 12-
micropore 24 horas
• Pode ser feito o raio-X de tórax para • Posicionar o selo d’água no piso,
confirmar a colocação apropriada com suporte próprio, ou sustenta-
do dreno, porém, não é necessário do em local adequado
no pós-operatório imediato, desde
• Nuca elevar o selo d’água acima
que o dreno esteja funcionante e
do tórax sem que esteja clampea-
com oscilação da coluna liquida
do (fechado)
• Manter a pinça do dreno sempre
abaixo do nível da cintura ou do
leito do paciente
• Mensurar o débito do dreno a cada
6 horas, ou menos, caso haja dre-
nagem superior a 100 mL/hora
(colocar uma fita adesiva ao lado
da graduação do frasco)
• Sempre registrar o aspecto do lí-
quido (ex.: seroso, sero-hemático,
hemático, purulento)

Figura 8. Raio-x de tórax após colocação do dreno.


• Inspeção e troca diária do curativo
Fonte: www.sanarflix.com.br
• Verificar a oscilação na coluna lí-
quida: deve subir na inspiração,
7. CUIDADOS GERAIS e descer na expiração. Caso não
haja esse movimento espontâneo,
• Sempre que for manipular o dreno, pode haver obstrução do tubo
lavar as mãos, secar e aplicar ál-
cool gel 70% • “Ordenhar” ou massagear a tubu-
lação, na direção de saída (frasco
• Clampear o dreno, para que não coletor), de 2/2-4/4 horas, ou con-
haja entrada de ar, e lembrar forme protocolo próprio (ex.: às 6
horas)
DRENAGEM DE TÓRAX 13

• Atentar para a presença de vaza- 8. CRITÉRIOS PARA


mentos e/ou risco de desconexão RETIRADA
• Manter a cabeceira do leito relati- O dreno torácico deve permanecer
vamente elevada, para facilitar a o menor tempo possível no interior
drenagem da cavidade, para que seu aproveita-
• A fixação pode ser do tipo meso mento seja máximo. Poderá ser reti-
(lateral), com distância de 2 cm en- rado nas seguintes situações:
tre o dreno e a pele, ou conforme • Dreno obstruído, que não se con-
protocolo da instituição segue desobstruir (o doente é re-
• Atentar para a presença de bolhas drenado, se necessário)
no frasco de drenagem, que podem • Dreno que cumpriu sua função
ser indicativos de fístula aérea inicial, na ausência de borbulha-
• Manter o dreno sob aspiração con- mento, com baixo debito (abaixo
tínua, se indicado. A intensidade de 100 a 200 mL/24 horas) e com
da aspiração do sistema é determi- boa expansão pulmonar clínica e
nada pela quantidade de água no radiológica
frasco de aspiração contínua, e não
pela frequência de borbulhamento Retirada do dreno é feita da seguin-
• Se disponível, preferir a bolsa de te forma:
drenagem com válvula de Heimi- • Desfazer todas as fixações
lich, que é um sistema unidirecio-
nal seguro de drenagem torácica e • Cortar a amarração e desfazer a
mediastinal “bailarina”, mantendo o fio tracio-
nado para impedir a entrada de ar
• Cuidado na passagem entre ma- na cavidade pleural
cas, pois o dreno pode ficar preso
e/ou ser arrancado • Solicitar ao doente que evite inspi-
rar durante a retirada, para não re-
• Atenção para que a extremidade duzir a pressão intrapleural
do sistema de drenagem não fique
fora d’água • Solicitar que o paciente realize uma
expiração forçada e retirar rapida-
• Não ocluir o dreno durante o mente o dreno durante o processo,
transporte buscando rapidamente ocluir com
um curativo a região de abertura,
evitando a entrada de ar
DRENAGEM DE TÓRAX 14

• Durante o período subsequente desconhecimento da técnica cirúrgi-


o paciente deve ser monitorizado ca, dos cuidados na manutenção do
atentamente buscando identificar sistema e até mesmo dos princípios
qualquer desconforto respiratório de fisiologia respiratória. Entre as
que acabe se desenvolvendo principais complicações que a dre-
nagem de tórax pode estar associa-
• Raio-X de tórax após retirada
da, tem-se:
• Enfisema subcutâneo
9. COMPLICAÇÕES
• Lesão do feixe vasculonervoso
A drenagem torácica é um procedi-
mento tecnicamente simples, além • Edema pulmonar de reexpansão
de altamente eficiente, pela eleva- (volume maior do que 1500mL)
da frequência de realização e sim- • Empiema
plicidade técnica, porém, o procedi-
mento acaba sendo negligenciado • Lesão de estruturas torácicas
e, muitas vezes, é executado sem o • Lesão de vísceras abdominais
devido rigor metodológico. Em con-
sequência, pode apresentar índices • Posicionamento errado do dreno
de complicação desproporcionais
a sua simplicidade, o que revela
DRENAGEM DE TÓRAX 15

MAPA: RESUMO DO TEMA DRENAGEM DE TÓRAX

Adultos: 24-40Fr
Empiema pleural Cirrose hepática

Coagulopatias ou uso de Crianças: 16-24Fr


Quilotórax
anticoagulantes orais
Derrame pleural Bebês: 8-12Fr
sintomático ou recidivante Paquipleuris

Escolha do dreno
Hemotórax
CONTRAINDICAÇÕES
Profilaxia antibiótica
Hemopneumotórax

Após procedimento
cirúrgico INDICAÇÕES PREPARAÇÃO

Pneumotórax
COMPLICAÇÕES TÉCNICA
Condições não
emergenciais
Ruptura esofágica/ Edema pulmonar de Drenagem pleural
brônquica reexpansão (V > 1500mL) CRITÉRIOS PARA tubular fechada simples
Lesão do feixe RETIRADA DO DRENO Drenagem fechada sob
Realização de pleurodese vasculonervoso aspiração continua
Dreno obstruído, que não
Posicionamento se consegue desobstruir Drenagem pleural aberta
errado do dreno
Lesão de vísceras Dreno que cumpriu sua
abdominais função inicial, na ausência
de borbulhamento.
Enfisema subcutâneo Dreno que cumpriu sua
função inicial, baixo debito
(< 100 a 200 mL/24 horas)
Empiema
Dreno que cumpriu sua
Lesão de estruturas função inicial, com boa expansão
torácicas pulmonar clínica e radiológica.
DRENAGEM DE TÓRAX 16

10. CASOS CLÍNICOS vesicular abolido à direita com hi-


pertimpanismo e hipotensão. Dian-
Agora que você já aprendeu sobre
te do quadro, como é feito o diag-
drenagem torácica, vamos aplicar
nóstico e tratamento para essa
isso na prática clínica:
paciente?

Paciente do sexo feminino, 29 anos,


O quadro condiz com uma situação
vítima de trauma automobilístico
de pneumotórax hipertensivo. Situa-
após dormir ao volante. Dá entra-
ção grave, em que o diagnóstico é clí-
da no serviço trazida pelos bom-
nico com base nos sinais e sintomas
beiros que relatam acidente carro-
de dispneia, redução da expansivida-
-poste com paciente sem cinto de
de pulmonar do hemitórax envolvido
segurança, projetada sob o volan-
associado a desvio contralateral da
te. Paciente sonolenta, gemente,
traqueia, turgência jugular, diminui-
desorientada em tempo e espaço
ção ou ausência de murmúrio vesi-
apresentando sinais claros de em-
cular no lado acometido, hipotensão
briaguez. Escala de coma de Glas-
ou enfisema subcutâneo. No caso em
gow 13. No local, hipocorada +/4+,
questão, o tratamento deve ser ime-
Fr 27irpm, Fc 110bpm, apresentan-
diato, devendo ser realizada a toraco-
do dor em tórax anterior e abdome.
centese de alívio no 2° espaço inter-
A ausculta cardíaca BRNF2T, sem
costal, na linha hemiclavicular do lado
sopros. Asculta pulmonar sem ruí-
acometido, para então ser realizado
dos adventícios, MUV+ rude. Lesão
o tratamento definitivo, que consiste
corto-contusa na região frontal di-
na drenagem de tórax no 5° espaço
reita, sem outras lesões aparentes
intercostal.
ou sangramentos ativos. A paciente
é recebida pelo médico de plantão
em prancha rígida e com colar cer- Paciente do sexo masculino, 19
vical, sendo prontamente solicita- anos, se apresenta ao departamen-
do dois acessos venosos calibrosos to de Emergência com ferimentos
nos MMSS, avaliada as vias aéreas por arma de fogo em hemitórax
e ofertado O2 a 100% em máscara esquerdo. Seus sinais vitais iniciais
válvula-balão. Durante a avaliação são: Fr 40 irpm/min, Fc 110bpm,
cardíaca e pulmonar o médico per- Saturação 88% com O2 a 15L/
cebe que a paciente começou a fi- min, PA 102/60 mmHg. Durante a
car agitada, apresentando piora da avaliação inicial, você verifica que
dispneia, turgência jugula, bulhas o jovem é capaz de manter a per-
cardíacas hipofonéticas, murmúrio viedade das vias aéreas, porém o
DRENAGEM DE TÓRAX 17

murmúrio vesicular está diminuído sangramento contínuo de acima de


em hemitórax esquerdo e há maci- 250ml/h, transfusões repetidas.
cez à percussão. A expansibilidade
torácica também está diminuída no
lado afetado. A traqueia parece es- Paciente do sexo feminino, 32 anos,
tar centralizada e você acha a aus- vítima de acidente automobilístico.
culta cardíaca normal. Em seguida, Durante a avaliação preconizada
ele evolui para franca insuficiência pelo ATLS® percebe-se sinais de
respiratória. Com esses achados, fratura na caixa torácica, com co-
qual é o diagnóstico mais provável labamento durante a inspiração e
e o tratamento? Quando é provável abaulamento durante a expiração.
a necessidade de toracotomia nes- Esse movimento é característico
ses casos? em pacientes que apresentam múl-
tiplas fraturas em arcos costais ad-
jacentes em pontos consecutivos,
O quadro é consistente com hemo- especialmente na porção anterior
tórax, podendo ser confirmado por do tórax. Diante disso, qual o pro-
meio de uma radiografia de tórax. vável diagnóstico e qual conduta
Caso a perda sanguínea seja maior deve ser tomada para resolvê-lo?
que 1500ml, temos o que se chama
de hemotórax maciço. Ele pode ser
associada a trauma torácico contuso O achado clínico consiste numa res-
ou penetrante. Sinais de choque hipo- piração paradoxal, sendo condizente
volêmico estão geralmente presentes com o quadro de tórax instável ou flail
devido à perda de sangue para dentro chest, o que suscita imediatamente a
do tórax e o tratamento do hemotórax suspeita de contusão pulmonar (san-
e da perda sanguínea precisa ser re- gue nos alvéolos e no interstício pul-
alizado simultaneamente. De modo monar). Nesses casos, a abordagem
geral, o tratamento envolve oxigênio inicial envolve a administração de oxi-
em alto fluxo, drenagem torácica (di- gênio umidificado e a reposição volê-
recionada anteriormente se houver mica. Na ausência de hipotensão sis-
pneumotórax associado), acesso ve- têmica, a administração intravenosa
noso calibroso para permitir reposição de soluções cristaloides deve ser cui-
volêmica simultânea. A toracotomia dadosamente controlada para evitar
é indicada em alguns pacientes com hiper-hidratação. A terapia definitiva
hemotórax maciço. As indicações in- consiste em garantir a oxigenação
cluem drenagem imediata maior que mais completa possível, administrar
1500ml de sangue de um hemitórax, líquidos cautelosamente e fornecer
analgesia para melhorar a ventilação.
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A melhora da dor permite uma maior


expansibilidade torácica, o que leva a
alinhamento das fraturas (com maior
rapidez da consolidação) e evita acú-
mulo de secreções pulmonares. O
uso de ataduras por sobre as fraturas
costais é formalmente contraindicada,
sob o risco de agravamento ou preci-
pitação de insuficiência respiratória.
Em determinadas condições pode ser
indicado o tratamento cirúrgico para
estabilização das fraturas. Perceba
que nesse caso, a drenagem torácica
não apresenta indicação.

CONCEITO: Tórax instável ou flail


chest é definido pela perda da continui-
dade da parede torácica com o restante
da caixa torácica devido a uma separa-
ção em 2 ou mais arcos costais conse-
cutivos, com cada arco fraturado em 2
ou mais pontos. O paciente cursa nesses
casos com uma respiração paradoxal,
ou seja, durante a inspiração o segmen-
to fraturado colaba (pressão intrapleu-
ral negativa) e, durante a expiração, há
abaulamento desta região, levando ao
aumento do trabalho respiratório e a
uma hipoventilação alveolar.
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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