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FACULDADE BOAS NOVAS DE CIÊNCIAS

TEOLÓGICAS, SOCIAIS E BIOTECNOLOGIAS


CURSO COMUNICAÇÃO SOCIAL-
JORNALISMO

TEORIAS DE MASSA
ALUNA: ANDREZA KAROLINE DE SOUZA LOPES

MANAUS
2021
Construa um texto crítico sobre conceito e características da teoria
hipodérmica e sua relação com os dias de hoje.
A imprensa pode ser vista sob duas óticas: como vítima do sistema
governamental predominante? afinal, está sob censura? ou como parceira
oportunista, o que dispensa explicações. O fato é que o período pressupõe
manipulação das informações, com o intuito de moldar a opinião pública.
A Primeira Guerra Mundial (1914-1919) motivou o surgimento da primeira teoria
crítica da comunicação de massa. A teoria hipodérmica pretendia indicar quais
os efeitos provocados pelos mass media, em especial a propaganda. Alguns
intelectuais até mesmo a definem como teoria da propaganda e sobre a
propaganda.
Para compreender a teoria hipodérmica, faz-se necessário conhecer o contexto
em que ela se insere. Com a Revolução Industrial (século 19), a sociedade
ocidental sofreu profundas transformações: de comunitária passou a contratual.
Inicia-se aí o conceito da sociedade de massa, formulado em 1830 pelo
positivista Augusto Comte e aperfeiçoado por Herbert Spencer, Ferdinand
Tönnies e Émile Durkheim, seus contemporâneos.
Psicologia behaviorista
Caracterizada pelo isolamento psicológico de seus membros, predominância da
impessoalidade e da obrigação social forçosa, a ideia de sociedade de massa é
de fundamental importância para o entendimento da teoria hipodérmica. Difere-
se da massa do pão e circo romano, pois inclui em sua alienação a presença
constante dos veículos de comunicação.
Enquanto a produção intelectual emergia, os mass media ampliavam seu
alcance. Os governantes dos países em guerra, com destaque para britânicos e
estadunidenses, viram nas novas instituições excelentes canais para divulgar
suas ideias patrióticas e nacionalistas. Era necessário unificar as pessoas do
mesmo país, torná-las comprometidas com a ideologia governamental.
A propaganda e o cinema mostraram-se irrepreensíveis para essa função.
Discursos, cartazes, fotos, filmes e até mesmo noticiários telegráficos foram
utilizados para manipular a opinião pública. Os cidadãos comuns foram
persuadidos a amar sua pátria e odiar a do vizinho, a comprar a ideia da guerra.
Para isso, os comunicadores se basearam em mentiras e distorções
sensacionalistas. Funcionou.
Terminada a guerra, deu-se início a uma análise do ocorrido. Diante dos
resultados obtidos e do conceito de sociedade de massa, chegou-se à conclusão
de que qualquer conteúdo exibido pela mídia atingiria os indivíduos de maneira
uniforme. Todos os receptores responderiam às mensagens midiáticas sem
questionar ou sugerir visões diferentes? como robôs.
Assim, enxergou-se a mídia como uma arma poderosíssima, capaz de moldar a
opinião pública conforme os interesses do comunicador. Deu-se a essa ideia o
nome de "teoria hipodérmica" ou "teoria da bala mágica". Ambos os termos
remetiam à psicologia behaviorista? bastaria injetar uma injeção no corpo para
que este respondesse a seu efeito, ou metralhar um organismo para que este se
debilitasse.
Mentiras e distorções
Obviamente, a teoria hipodérmica é por demais simplista para ser aceita sem
restrições. Inexperientes no quesito "mídia", os primitivos teóricos da
comunicação desconheciam o poder das diferenças individuais. Todavia, a teoria
foi amplamente aceita: havia os indiscutíveis efeitos da propaganda na guerra.
Com o passar do tempo e a difusão das ideias a respeito dos mass media, os
estudiosos abandonaram a teoria hipodérmica, considerando-a obsoleta. Seus
postulados, porém, foram utilizados para a construção de novas teorias. Chegou-
se ao consenso de que a mídia não poderia alcançar a mesma resposta de todos
os receptores; poderia, sim, prever variadas espécies de comportamento.
Quanto aos efeitos resultantes da guerra, não houve uma resposta satisfatória
para todos: alguns teóricos concluíram que haveria outras explicações para o
resultado, desconhecidas até então; em contrapartida, outros estudiosos
questionaram se a agulha proposta pela teoria hipodérmica realmente não foi
injetada nos organismos.
Detenho-me nesta última premissa. É fato que os cidadãos do início do século
20 desconheciam as técnicas de persuasão da mídia. Até mesmo o termo
"propaganda" não tinha o significado de hoje. Assim, não é ilógico conjeturar que
as mensagens emitidas aos receptores realmente os levaram ao nacionalismo
xenófobo e exacerbado.
Mas, e depois? Nos cenários de guerra criados pelo governo norte-americano,
pode-se afirmar que os estímulos da agulha hipodérmica não foram tão eficazes
na manipulação da opinião pública?
Apesar de já ter se tornado lugar-comum, é impossível não lembrar da Guerra
do Golfo, quando as emissoras de televisão só exibiam o conteúdo permitido
pelo governo norte-americano. Mentiras e distorções também aconteceram ali,
como no caso das imagens das crianças kuwaitianas torturadas por Saddam
Hussein, bem como a omissão do número de iraquianos mortos.
O mesmo aconteceu na recente guerra contra o terror. Até hoje se questiona a
veracidade das imagens de palestinos comemorando o ataque ao World Trade
Center. Todavia, o efeito veio como uma bomba: todo o mundo ocidental
enxergou os Estados Unidos como a grande vítima e ofereceu apoio a
Washington para o combate.
MANAUS
2021
Seria ingênuo acreditar que a população norte-americana se deixaria levar em
massa pela tendenciosidade de um único noticiário ou propaganda. Mas o
mesmo não pode ser dito quando a esmagadora maioria dos veículos de
comunicação estadunidenses são unilaterais e pró-guerra. Ao oferecer apenas
uma opção aos receptores, a mídia os deixa expostos à agulha hipodérmica. O
resultado inclui posicionamento uniforme e adoção da mesma ideia a respeito do
assunto. Funcionou uma vez, por que não funcionaria de novo?
O leitor atento viria me lembrar dos movimentos pacifistas ocorridos nas
principais cidades do mundo, incluindo Nova York, San Francisco e Chicago.
Mas eles estão funcionando? Bush retira suas tropas do Iraque, apenas por
causa da "força" da opinião pública? Na verdade, os manifestos remetem mais
ao rebelde festival de Woodstock (1969) do que a uma opinião antiguerra
fortemente embasada. Virou moda ser pacifista; mas também é normal para o
norte-americano voltar para casa e assistir o combate ao vivo pela televisão. Não
há grande diferença em relação às guerras passadas.
No atual combate, dos 20 principais jornais norte-americanos, apenas dois se
posicionaram contra o ataque ao Iraque? a saber, o New York Times e
o Register. O restante se restringiu a reproduzir a ótica governamental. Em
noticiário que mistura propaganda com o fazer jornalismo não é difícil encontrar
vítimas da agulha hipodérmica. Reza-se para que, ao menos, esteja esterilizada.

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