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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MINAS

JOÃO PEDRO ALVES FRAGA

ANÁLISE INDIRETA DOS MECANISMOS DE FONTE SÍSMICA POR


NÍVEIS DA MINA CUIABÁ, SABARÁ – MG

Belo Horizonte

2020
João Pedro Alves Fraga

ANÁLISE INDIRETA DOS MECANISMOS DE FONTE SÍSMICA POR


NÍVEIS DA MINA CUIABÁ, SABARÁ – MG

Trabalho de conclusão de curso


apresentado ao curso de Engenharia de
Minas da Universidade Federal de
Minas Gerais como requisito parcial
para obtenção do título de bacharel em
Engenharia de Minas.

Orientador: Professor Cláudio Lúcio


Lopes Pinto.

Belo Horizonte

2020
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à milha família, meus pais e meus avós, que sempre proporcionaram
as melhores condições para os meus estudos.

Aos meus colegas e amigos da faculdade, que tornaram essa etapa da vida acadêmica mais
prazerosa e alegre.

Ao professor Cláudio, por despertar o meu interesse na disciplina de Mecânica das Rochas e
por me orientar na confecção desse trabalho.

Aos meus companheiros da Mecânica de Rochas da mina Cuiabá, que sempre me ensinaram
bastante tecnicamente e fomentaram discussões e aprendizados que levarei para a vida.
RESUMO

A mina Cuiabá, propriedade da AngloGold Ashanti, é uma mina subterrânea profunda (1300
m) localizada na porção noroeste do Quadrilátero Ferrífero, a qual aplica os métodos de lavra
Sublevel Stoping e Corte e Aterro para a extração de ouro. A operação conta com um
monitoramento microssísmico em tempo real, com geofones instalados entre os níveis 11 e
19, o qual foi implementado em 2015 no intuito de melhorar o monitoramento do maciço
rochoso, assim como a suas regiões de instabilidade e risco associado. Os eventos sísmicos
ocorridos em minas consistem na propagação de ondas mecânicas através do maciço rochoso
e estão associados, basicamente, ao movimento ao longo de descontinuidades geológicas
preexistentes ou, de maneira mais direta, aos rompimentos de rocha ocasionados pela
redistribuição de tensão ao redor das escavações de lavra e desenvolvimento de mina
(GIBOWICZ; KIJKO, 1994). Este trabalho buscou caracterizar de forma indireta os
mecanismos da fonte dos eventos sísmicos experenciados na mina Cuiabá, através de uma
análise dos níveis de produção em atividade entre setembro de 2019 à agosto de 2020, para
melhor compreender se essas fontes estão principalmente associadas à redistribuição de
tensão gerada pelas escavações ou ao deslocamento ao longo de descontinuidades geológicas.

Palavras Chave: mina subterrânea, monitoramento microssísmico, geofones,


descontinuidades geológicas.
ABSTRACT

The Cuiabá mine, owned by AngloGold Ashanti, is a deep underground mine (1300 m)
located in the northwestern portion of the Quadrilátero Ferrífero, which applies the Sublevel
Stoping and Cut and Fill mining methods for gold extraction. The mine site uses a
microseismic monitoring, with geophones installed between levels 11 and 19, implemented in
2015 in order to improve the rock mass monitoring as well as its regions of instability and
associated risk. The seismic events that occur in mines consist of the propagation of
mechanical waves through the rock mass and are basically associated with movement along
preexisting geological discontinuities or, more directly, with rock failing caused by the stress
redistribution around the mining excavations (GIBOWICZ; KIJKO, 1994). This work
proposed to indirectly characterize the mechanisms of the source of seismic events
experienced at the Cuiabá mine through the analysis of production levels in activity between
September 2019 to August 2020, to better understand whether these sources are mainly
associated with the stress redistribution caused by excavations or displacement along pre-
existing discontinuities.

Key Words: underground mine, microseismic monitoring, geophones, geological


discontinuities.
Lista de Figuras

Figura 1: Localização da Mina Cuiabá entre as cidades de Sabará e Caeté. Fonte:


Google Maps (2019). ................................................................................................................ 16
Figura 2: Mapa geológico-estrutural simplificado do Quadrilátero Ferrífero. Fonte:
Ribeiro- Rodrigues (2007). ....................................................................................................... 17
Figura 3: Lito-estratigrafia do depósito Cuiabá, mostrando as características pré e pós
alteração hidrotermal. Fonte: Padula (2016) com base em Vieira (1992). ............................... 18
Figura 4: Megadobra tubular com representação dos pacotes de BIF e referência do
nível do mar. Fonte: Barbosa (2011). ....................................................................................... 19
Figura 5: Sublevel Stoping com perfuração em leques. Fonte: Adpatado Villaescusa
(2014). ...................................................................................................................................... 21
Figura 6: Representação da amplitude, período e do comprimento de onda. Fonte:
Adaptado de Mendecki (2013). ................................................................................................ 23
Figura 7: Representação da onda de compressão P. Fonte: Adaptado de Shearer
(2009). ...................................................................................................................................... 23
Figura 8: Representação da onda de cisalhamentoS. Fonte: Adaptado de Shearer
(2009). ...................................................................................................................................... 24
Figura 9: Representação da onda de superfície Rayleigh. Fonte: Adaptado de Shearer
(2009). ...................................................................................................................................... 25
Figura 10: Representação da onda de superfície Love. Fonte: Adaptado de Shearer
(2009). ...................................................................................................................................... 26
Figura 11: Sismograma típico com a diferenciação das ondas de corpo e de superfície.
Fonte: Adaptado de Hohensinn (2019) ..................................................................................... 26
Figura 12: Representação da redistribuição de tensão ao redor de escavação circular.
Fonte: Adaptado de Larsson (2004). ........................................................................................ 27
Figura 13: Representação de diferentes fontes sísmicas e falhas do maciço rochoso. a-
Deslocamento de falha, b- redistribuição de tensão gerando fraturas no maciço rochoso, c-
overbreak do realce no contato com intrusão, d- diferença das propriedades elásticas levando
a falha por tensão, e- rompimento de pilar e f- deformação do maciço devido ao acúmulo de
tensão. Fonte: Adaptado de Hudyma (2008). ........................................................................... 29
Figura 14: Porcentagem de eventos captados após seis horas de uma detonação na
mina de Brunswick, Canadá. Fonte: Adaptado de Hudyma (2008). ........................................ 30
Figura 15: Exemplos de gráficos representando a distribuição diária de eventos. (A)
Caso em que a sismicidade não dependente das detonações (B) Caso em que a sismicidade é
dependente do horário de detonações. Fonte: Adaptado de Hudyma & Potvin (2010). .......... 31
Figura 16: Representação do método de localização da fonte utilizando os tempos de
chegada. Onde, ti é o tempo em que a onda chega ao i-ésimo sensor, t0 é tempo de origem do
sismo, v é a velocidade de propagação da onda elástica no meio rochoso, xi, yi e zi são as
coordenadas do i-ésimo sensor e x, y e z são as coordenadas da fotne do sísmo (adaptado de
XIAO et al., 2016). ................................................................................................................... 32
Figura 17: Porcentagem acumulada de duas populações de eventos sísmicos em
função da razão Es/Ep. Fonte: Adaptado de Hudyma (2008). ................................................. 34
Figura 18: Gráfico do Logaritmo da amplitude máxima em função da distância para
diferentes terremotos. Fonte: Adaptado de Mendecki (2013). ................................................. 35
Figura 19: Exemplo da Relação Frequência-Magnitude para uma base de eventos
sísmicos completa e bem comportada. Fonte: Adaptado de Hudyma (2008). ......................... 37
Figura 20: Gráfico da distribuição da magnitude local no tempo. Fonte: Adaptado de
Hudyma & Potvin (2010). ........................................................................................................ 38
Figura 21: Representação esquemática de um Geofone. Fonte: Pamukcu & Cheng
(2017). ...................................................................................................................................... 41
Figura 22: Representação esquemática de um Acelerômetro. Fonte: Pamukcu & Cheng
(2017). ...................................................................................................................................... 41
Figura 23: Galerias de desenvolvimento da mina Cuiabá com a posição do arranjo de
geofones e destaque para os níveis 8, 11 e 19. Fonte: Autor. ................................................... 43
Figura 24: Distribuição do número de eventos por níveis da mina no período de
Ago/2019 a Set/2020. Fonte: Autor.......................................................................................... 45
Figura 25: Visualização do hipocentro dos eventos da base de dados estudada. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 46
Figura 26: Histograma de magnitude local para todos eventos da base de dados. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 47
Figura 27: Diagrama de caixas para a Magnitude Local da base de eventos sísmicos no
período estudado. Fonte: Autor. ............................................................................................... 47
Figura 28: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para todos os eventos sísmicos do período estudado. Fonte: Autor. ......... 48
Figura 29: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N8. Fonte: Autor. ......................................... 49
Figura 30: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N12. Fonte: Autor. ....................................... 49
Figura 31: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N13. Fonte: Autor. ....................................... 50
Figura 32: Hipocentro dos eventos ocorridos no N13 às 12PM, com evento de
magnitude 0.7 destacado por uma seta. Fonte: Autor............................................................... 50
Figura 33: Porcentagem acumulada da razão Es/Ep para todos os eventos do período
estudado. Fonte: Autor. ............................................................................................................ 51
Figura 34: Porcentagem acumulada da razão Es/Ep para todos os eventos do Nível 14.
Fonte: Autor.............................................................................................................................. 52
Figura 35: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para todos os eventos. Fonte: Autor. ............................................. 53
Figura 36: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 08. Fonte: Autor. ....................................................... 54
Figura 37: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 09. Fonte: Autor. ....................................................... 54
Figura 38: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 10. Fonte: Autor. ....................................................... 55
Figura 39: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 11. Fonte: Autor. ....................................................... 55
Figura 40: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 12. Fonte: Autor. ....................................................... 56
Figura 41: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 13. Fonte: Autor. ....................................................... 56
Figura 42: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 14. Fonte: Autor. ....................................................... 57
Figura 43: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 15. Fonte: Autor. ....................................................... 57
Figura 44: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 16. Fonte: Autor. ....................................................... 58
Figura 45: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 17. Fonte: Autor. ....................................................... 58
Figura 46: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 18. Fonte: Autor. ....................................................... 59
Figura 47: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 19. Fonte: Autor. ....................................................... 59
Figura 48: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em
função da magnitude local para o nível 20. Fonte: Autor. ....................................................... 60
Figura 49: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N8. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 62
Figura 50: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N9. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 62
Figura 51: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N10. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 63
Figura 52: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N11. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 64
Figura 53: Hipocentro de eventos ocorridos no N11 e próximos aos eixos de dobra
(preto) conectados com região de lavra do N13. Fonte: Autor. ............................................... 65
Figura 54: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N12. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 66
Figura 55: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N13. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 66
Figura 56: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N14. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 67
Figura 57: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N15. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 68
Figura 58: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N16. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 68
Figura 59: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N17. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 69
Figura 60: Hipocentro de eventos ocorridos próximos aos eixos de dobra (preto) e
falha (cinza) mapeada em antiga região de lavra do N15. Fonte: Autor. ................................. 69
Figura 61: Hipocentro de eventos ocorridos próximos aos eixos de dobra (preto) em
região de pilar entre os níveis 16 e 17. Fonte: Autor. ............................................................... 70
Figura 62: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N18. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 70
Figura 63: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N19. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 71
Figura 64: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N20. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 72
Figura 65: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N9. Fonte: Autor. ......................................... 77
Figura 66: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N10. Fonte: Autor. ....................................... 77
Figura 67: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N11. Fonte: Autor. ....................................... 78
Figura 68: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N14. Fonte: Autor. ....................................... 78
Figura 69: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N15. Fonte: Autor. ....................................... 79
Figura 70: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N1. Fonte: Autor. ......................................... 79
Figura 71: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos
de magnitude local para os eventos sísmicos do N17. Fonte: Autor. ....................................... 80
Lista de Tabelas

Tabela 1: Sequência de eventos deformacionais propostos para o depósito Cuiabá.


Fonte: Adaptado Rankin (2006) apud Pereira (2017). ............................................................. 19
Tabela 2: Coeficiente b da relação Frequência-Magnitude para cada nível. Fonte:
Autor. ........................................................................................................................................ 61
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

2 OBJETIVO ............................................................................................................. 15

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 16

3.1 Área de estudo ................................................................................................ 16


3.1.1 Geologia Regional..................................................................................... 16

3.1.2 Geologia Local .......................................................................................... 17

3.1.3 Geologia Estrutural ................................................................................... 18

3.1.4 Métodos de Lavra...................................................................................... 20

3.2 Sismologia ...................................................................................................... 22


3.2.1 Ondas ........................................................................................................ 22

3.3 Eventos sísmicos ............................................................................................. 26


3.3.1 Distribuição de eventos ao longo do dia ................................................... 30

3.3.2 Localização do Evento .............................................................................. 31

3.3.3 Momento Sísmico ..................................................................................... 33

3.3.4 Energia Sísmica......................................................................................... 33

3.3.5 Magnitude ................................................................................................. 35

3.4 Monitoramento microssísmico ....................................................................... 39


3.4.1 Equipamentos ............................................................................................ 40

4 METODOLOGIA .................................................................................................. 43

4.1 Monitoramento Microssísmico da Mina Cuiabá ............................................ 43


4.2 Base de Dados ................................................................................................. 44
4.3 Análises da Magnitude e da Energia Sísmica ................................................. 44
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 45

5.1 Análise da base de dados e distribuição espacial dos eventos ........................ 45


5.1.1 Distribuição diária de eventos ................................................................... 47

5.1.2 Razão Es/Ep .............................................................................................. 51

5.1.3 Relação Frequência-Magnitude ................................................................ 52


5.1.4 Distribuição da magnitude no tempo ........................................................ 61

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 73

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 75

8 ANEXOS ................................................................................................................ 77
13

1 INTRODUÇÃO

A mina Cuiabá, uma das unidades da empresa AngloGold Ashanti no Brasil, é uma
mina subterrânea de ouro e opera, atualmente, a pouco mais de 1300 m de profundidade. O
depósito de Cuiabá está localizado na porção noroeste do Quadrilátero Ferrífero (QF) e
apresenta sua mineralização associada, principalmente, à formação ferrífera bandada (BIF) do
Grupo Nova Lima. Além disso, os métodos de lavra aplicados na mina são o Sublevel Stoping
e Corte e Aterro.

Em 2015, com o intuito de melhorar o monitoramento do maciço rochoso, assim como


a suas regiões de instabilidade e risco associado, foi implementado o monitoramento
microssísmico em Cuiabá. A unidade conta atualmente com 32 geofones, ou sensores de
vibração, instalados do nível 11 ao 19, dedicados ao monitoramento contínuo e com acesso
remoto utilizando software da empresa Institute of Mine Seismology (IMS).

A atividade sísmica associada a atividade de mineração apresenta bastantes


semelhanças com a sismologia de terremotos e, portanto, toda a teoria aplicada ao
monitoramento microssísmico na mineração advém diretamente da sísmica tectônica
(GIBWICZ; KIJJO, 1994). Dessa forma, a revisão bibliográfica deste trabalho aborda desde o
estudo das ondas sísmicas, dentre elas as ondas de superfície que são mais importantes para o
estudo de terremotos, até as aplicações do monitoramento microssísmico em minas
subterrâneas.

Os eventos sísmicos ocorridos em minas consistem na propagação de ondas mecânicas


no maciço rochoso e estão associados a falhas e/ou rompimentos de rochas, que podem variar
desde pequenos estalidos até fenômenos de ejeção de grandes quantidades de material. Nesse
sentido, o monitoramento microssísmico utilizando geofones é uma ferramenta muito
importante para o controle e mitigação dos impactos causados pelos eventos sísmicos.

Basicamente, pode-se dividir a fonte dos eventos sísmicos como sendo pelo
movimento ao longo de descontinuidades geológicas preexistentes ou devido, de maneira
mais direta, a movimentação de blocos formados pela redistribuição de tensão ao redor das
escavações de lavra e desenvolvimento de mina (GIBOWICZ; KIJKO, 1994). Sendo assim, é
importante conhecer os mecanismos associados as sismicidades observadas nas operações
mineiras, para que medidas de controle mais efetivas sejam realizadas, e seja garantida a
segurança das pessoas e das operações.
14
15

2 OBJETIVO

O objetivo deste trabalho é caracterizar de forma indireta os mecanismos da fonte de


eventos sísmicos captados pelo monitoramento microssísmico da Mina Cuiabá. Pretende-se
melhor compreender se essas fontes estão principalmente associadas à redistribuição de
tensão gerada pelas escavações ou ao deslocamento ao longo de descontinuidades pré-
existentes, utilizando uma análise de agrupamento por níveis de produção.
16

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Área de estudo

A Mina Cuiabá, propriedade da empresa AngloGold Ashanti, localiza-se no município


de Sabará – MG, região metropolitana de Belo Horizonte, e está inserida na porção noroeste
do Quadrilátero Ferrífero. O acesso a mina pode ser feito pela rodovia MG-262, no trecho que
liga as cidades de Sabará e Caeté (Figura 1), a aproximadamente 11 km do centro de Sabará.

Figura 1: Localização da Mina Cuiabá entre as cidades de Sabará e Caeté. Fonte: Google Maps (2019).

A AngloGold Ashanti é referência mundial na produção de ouro e é fortemente


reconhecida por suas operações subterrâneas. As atividades da empresa no Brasil, mina
Cuiabá juntamente com as operações em Santa Bárbara – MG e Crixás – GO, são
responsáveis por aproximadamente 15% da produção mundial do grupo (AngloGold Ashanti,
2019).

3.1.1 Geologia Regional

O Quadrilátero Ferrífero, localizado na região centro-sudeste do Estado de Minas


Gerais, é composto por rochas do Arqueano e Paleoproterozóico e representa uma das
maiores províncias de ouro do mundo. A litoestratigrafia do QF pode ser dividida em quatro
unidades principais: terrenos granito-gnáissicos; Supergrupo Rio das Velhas; Supergrupo
Minas e Supergrupo Espinhaço (Figura 2) (RIBEIRO-RODRIGUES, 2007).
17

Figura 2: Mapa geológico-estrutural simplificado do Quadrilátero Ferrífero. Fonte: Ribeiro- Rodrigues (2007).

3.1.2 Geologia Local

O depósito de ouro da Mina Cuiabá está inserido na sequência metavulcano-


sedimentar do Grupo Nova Lima, pertencente ao Super Grupo Rio das Velhas (RIBEIRO-
RODRIGUES, 2007). Segundo Vieira (1992) apud Silva (2006), as porções litológicas da
mina Cuiabá podem ser divididas em três unidades:

• Unidade inferior (espessura de 400 m): Sucessão de metavulcânicas


intercaladas com metapelitos. As rochas vulcânicas máficas estão concordantes
sobre uma camada de 15 m de BIF. Tanto as vulcânicas máficas como a BIF
estão alteradas hidrotermalmente.
• Unidade intermediária (espessura de 150 m): sequência alternada de
metapelitos carbonáceos, metavulcânicas máficas e metapelitos intercalados
localmente.
• Unidade Superior: metapelitos alternados com rochas metavulcanoclásticas
(espessura de 600 m).

A Figura 3 apresenta a coluna litoestratigráfica do depósito Cuiabá.


18

Figura 3: Lito-estratigrafia do depósito Cuiabá, mostrando as características pré e pós alteração hidrotermal.
Fonte: Padula (2016) com base em Vieira (1992).

O minério aurífero encontrado no depósito Cuiabá está principalmente associado


minerais sulfetados: pirita, pirrotita e arsenopirita (PADULA, 2016). Segundo Barbosa
(2011), a mineralização é composta por uma rocha extremamente competente de resistência
acima de 180 MPa, apresentando um comportamento elástico. As encaixantes por sua vez,
consistem em uma sequência de rochas xistosas e menos competentes de resistência próxima
de 56 MPa, apresentando um comportamento elasto-plástico.

3.1.3 Geologia Estrutural

Segundo Ribeiro-Rodrigues (1998) apud Padula (2016), a principal estrutura presente


no depósito Cuiabá é uma megadobra anticlinal fechada, cilíndrica em bainha, com mergulho
de 30-40º para SE (Figura 4). A estrutura dobra o bandamento e, consequentemente, o corpo
de minério, o que foi responsável pelo surgimento de algumas famílias de foliação e fraturas
plano-axiais.
19

Figura 4: Megadobra tubular com representação dos pacotes de BIF e referência do nível do mar. Fonte: Barbosa
(2011).

De acordo com Pereira (2017), vários estudos vêm sendo realizados na mina Cuiabá
desde 1980 para melhor entendimento da condição estrutural do depósito. Em suma, todos os
trabalhos demonstram uma evolução geológica complexa, com diversas fases e algumas
divergências nas interpretações. Rankin (2006) apud (Pereira 2017) sugere um modelo
composto por três fases de deformação principais (Tabela 1).

Tabela 1: Sequência de eventos deformacionais propostos para o depósito Cuiabá. Fonte: Adaptado Rankin (2006)
apud Pereira (2017).

Os eventos deformacionais citados foram responsáveis por gerar algumas famílias de


descontinuidades na região da mina Cuiabá. As principais famílias de descontinuidades
encontradas na região de estudo são descritas brevemente por BARBOSA (2011):

• (S0/S1): Durante o primeiro evento (D1), desenvolveu-se uma foliação paralela ao


acamamento no sentido SE-NE.
• (S2): Os dobramentos isoclinais do segundo evento (D2), geraram estruturas de
deformação cisalhante com distribuição heterogênea e progressiva.
20

• (S3): O terceiro evento (D3) gerou um conjunto de estruturas de caráter compressivo e


orientação N-S. Foram produzidas, nesse momento, a clivagem de fratura e lineação
de crenulação.

3.1.4 Métodos de Lavra

A Mina Cuiabá opera a cerca de 1300 m de profundidade e atualmente aplica os


métodos de lavra de Corte e Aterro e Sublevel Stoping. Segundo Freire & Figueredo (2016),
até meados do final da década de 2000, o Corte e Aterro era o principal método utilizado e,
em 2016, motivado entre outras razões pelo aumento de produção, o Sublevel Stoping passou
a representar até 60% em massa da produção da mina.

3.1.4.1 Sublevel Stoping

O Sublevel Stoping é um dos métodos de lavra subterrâneos mais utilizados para


explotação de metais em corpos sub verticais. É considerado um método de alta produção,
alta produtividade, alta recuperação, baixo custo operacional e seguro (Villaescusa, 2014),
pelo fato de que os trabalhadores não entram na região dos realces, ou grandes vãos de lavra.
Segundo Oliveira (2012), autores como Mitchel (1981), Harim (1982), Mann (1982) e
Haycocks e Aelick (1992), propuseram que o Sublevel Stoping fosse aplicado sob as seguintes
condições: competência elevada a modera do minério; competência ligeiramente alta a alta
das encaixantes; depósito em formato tabular ou lenticular; mergulho do corpo mineral maior
do que o ângulo de repouso do material a ser lavrado; e distribuição dos teores ligeiramente
uniforme no corpo mineral. O método de lavra de Sublevel Stoping pode ser divido,
basicamente, em três variantes: Sublevel Open Stoping, Bighole Stoping e Vertical Crater
Retreat. Em todos os casos é aberto um stope, ou realce, caracterizado por um vão
verticalizado, tabular e com a largura próxima da espessura do corpo mineralizado. Na
vertical, são deixados pilares de minério que separam os realces ao longo da direção do corpo
(rib pillars) e, ao longo da direção do mergulho, são deixados pilares horizontalizados (sill
pillar e crown pillar). Esses pilares são responsáveis por individualizarem os realces e
garantir a sua estabilidade (HUSTRULID; BULLOCK, 2001).

Na mina Cuiabá, aplica-se o Sublevel Open Stope, em que são desenvolvidos subníveis
dentro do corpo mineral, entre os níveis principais, onde são realizadas perfurações de
produção em leque. A figura 5 ilustra um típico realce de lavra do tipo Sublevel Open Stope.
Essa variante ainda pode ser subdividida a depender da ordem em que são lavrados os
21

subníveis. Assim como é feito na mina Cuiabá, pode-se realizar o desenvolvimento de todo o
nível, iniciar a extração nos subníveis mais profundos e, posteriormente, realiza-se o
enchimento de todo o vão gerado para que seja realizada a lavra dos subníveis superiores.
Essa forma é chamada de bottom up, pois lavra-se de baixo para cima, e pode implicar em
maior estabilidade do hanging wall, pelo confinamento do mesmo com a utilização de
enchimento. Outro modo possível é o top down, que significa uma lavra de cima para baixo.
No momento em que se desenvolvem os níveis superiores já é possível iniciar a lavra nessas
regiões, garantindo um aumento de produção. Contudo, o enchimento do realce é
impossibilitado, podendo gerar uma maior instabilidade do hanging wall e,
consequentemente, problemas com diluição e redistribuição de tensão afetando galerias
adjacentes (FREIRE; FIGUEIREDO, 2016).

Figura 5: Sublevel Stoping com perfuração em leques. Fonte: Adpatado Villaescusa (2014).
22

3.1.4.2 Corte e Aterro

Segundo Hustrulid & Bullock (2001), método de lavra de Corte e Aterro, assim como
o Sublevel Stoping, é aplicado para corpos verticalizados e tabulares. Geralmente, a
competência do minério é moderada a alta e a da encaixante é baixa. Comparativamente, o
corpo mineralizado deve possuir teores mais elevados, mas pode ser menos regular. O método
caracteriza-se pela remoção de fatias horizontais, geralmente de baixo para cima, nos stopes
de lavra. Após a retirada de uma fatia, o vão é preenchido com uma pasta (paste fill ou ciment
fill), de rejeito ou estéril, ou com o estéril seco (rock fill). O método de Corte e Aterro tem
como vantagens a seletividade, já que os cortes podem ser realizados de maneira que sigam o
contorno do corpo mineralizado, e a flexibilidade. Além disso, a recuperação é alta, devido ao
confinamento gerado pelo enchimento possibilitar que os pilares deixados sejam
relativamente menores. Contudo, os gastos diretos e indiretos com o enchimento mecânico ou
hidráulico dos realces são altos. Na mina Cuiabá, atualmente utiliza-se o enchimento com
estéril seco ou rock fill.

3.2 Sismologia

A sismologia consiste na ciência que estuda as fontes de sismos, as ondas geradas e as


características do meio onde essas ondas se propagam. O surgimento e desenvolvimento da
sísmica se deram, principalmente, pelo estudo de terremotos que, devido ao seu poder
destrutivo, geraram interesse e aporte científico para o ramo (AGNEW, 2002). É ainda uma
ciência considerada recente, e que tem sido estudada quantitativamente apenas a cerca de um
século. Além das descobertas sobre as causas e origens dos terremotos, o estudo da sísmica
ainda proporcionou importantes contribuições para a exploração do interior da Terra e para a
teoria das placas tectônicas (SHEARER, 2009).

De maneira geral, não há diferenças sistemáticas entre os tremores ocorridos em minas


(devido a influência das escavações e detonações) e os tremores de terra naturais. Dessa
forma, as metodologias e técnicas utilizadas no monitoramento sísmico em minerações advêm
diretamente da sismologia de terremotos (GIBWICZ; KIJJO, 1994).

3.2.1 Ondas

Mendecki (2013) define onda como sendo um distúrbio que carrega energia através do
maciço rochoso desde a sua fonte sem o transporte de matéria. Essa energia se propaga, mas
as partículas não.
23

O movimento das partículas do meio e a velocidade de propagação das ondas podem


ser descritos pelas curvas senoidais da Figura 6. Observa-se que o movimento descrito é
cíclico e que o deslocamento máximo das partículas do meio é chamado de amplitude da
onda, o tempo de um ciclo ou oscilação, é definido como período da onda (T) e número de
ciclos por segundo define a sua frequência (f) em hertz, valor determinado pela fonte sísmica.
O comprimento de um ciclo é chamado de comprimento de onda (ʌ) e pode ser medido, por
exemplo, de crista a crista (ponto de amplitude máxima) (MENDECKI, 2013).

Figura 6: Representação da amplitude, período e do comprimento de onda. Fonte: Adaptado de Mendecki (2013).

Existem basicamente quatro tipos de ondas elásticas. As ondas de corpo (ondas


Primárias - P e ondas Secundárias - S) e as ondas de superfície (ondas Rayleigh e Love), que
são produto da reflexão das ondas de corpo na superfície. A diferença entre elas está,
principalmente, no tipo de movimento executado pelas partículas do meio para que as ondas
se propaguem.

3.2.1.1 Ondas Primárias

As Ondas-P, são aquelas que se propagam em uma direção e não há mudança nas
direções perpendiculares. O deslocamento das partículas do meio ocorre na mesma direção da
propagação (Figura 7), chamado deslocamento longitudinal. Dessa forma, essas ondas
induzem a variação volumétrica do meio e por isso também são chamadas de ondas de
compressão (SHEARER, 2009).

Figura 7: Representação da onda de compressão P. Fonte: Adaptado de Shearer (2009).


24

As ondas-P também são mais rápidas do que as ondas-S, que possuem uma velocidade
cerca de 2/3 das ondas-P. Sendo assim, as ondas-P também são denominadas de ondas
primárias, por serem as primeiras captadas em sismogramas. Valores típicos para a velocidade
das ondas-P na crosta são 6000 m/s em granitos e 5000 m/s em arenitos (HOHENSINN,
2019). Essa variação ocorre devido as velocidades das ondas P e S dependerem das
características elásticas do meio em que se propagam. Simplificadamente, as velocidades
dessas ondas podem ser descritas por duas constantes elásticas, constante de Lamé e módulo
de cisalhamento, e a densidade do material (SHEARER, 2009). A velocidade da onda-P pode
ser descrita pela equação abaixo:

(1)
𝜆 + 2𝜇
𝑉𝑃 = √
𝜌

Onde 𝑉𝑃 é a velocidade das ondas-P, 𝜆 é constante de Lamé (relacionada ao módulo de


elasticidade e a razão de Poisson), 𝜇 é o módulo cisalhante e 𝜌 é a densidade do material.

3.2.1.2 Ondas Secundárias

As ondas-S são caracterizadas pela movimentação das partículas do meio


perpendicularmente a direção de propagação da onda. Assim, o movimento das partículas
pode ser decomposto na movimentação no plano vertical (ondas SV) e na movimentação do
plano horizontal (ondas SH). A Figura 8 mostra o exemplo de ondas-S polarizada no eixo
vertical (SV). Pelo fato de o movimento ser cisalhamento puro, não há variação do volume e,
dessa forma, as ondas-S também são denominadas ondas de cisalhamento (SHEARER, 2009).

Figura 8: Representação da onda de cisalhamentoS. Fonte: Adaptado de Shearer (2009).

A velocidade das ondas-S pode ser descrita pela Equação 2.


25

𝜇 (2)
𝑉𝑆 = √
𝜌

Onde 𝑉𝑆 é a velocidade das ondas-S, 𝜇 é o módulo cisalhante e 𝜌 é a densidade do


material. Valores típicos para a velocidade de propagação das ondas-S são cerca de 4000 m/s
em granitos e cerca de 3300 m/s em arenitos.

3.2.1.3 Ondas de Superfície

As ondas de superfície assim são chamadas por serem originadas por reflexões das
ondas-P e ondas-S na superfície da Terra. As ondas Rayleigh são originadas após a reflexão
de ondas-P e ondas-SV (polarizada na vertical). A Figura 9 mostra o exemplo de propagação
de ondas Rayleigh em um meio homogêneo. Percebe-se que o movimento das partículas do
meio (em vermelho) caracteriza-se por uma sobreposição do movimento vertical das ondas-
SV e horizontal das ondas-P, dando origem a uma trajetória circular ou elipsoidal
(SHEARER, 2009).

Figura 9: Representação da onda de superfície Rayleigh. Fonte: Adaptado de Shearer (2009).

No caso das ondas Love ocorrem reflexões de ondas-SH (polarizada na horizontal) na


superfície. Dessa forma, há a interferência das ondas-SH refletidas na superfície que se
sobrepõem as ondas-SH que viajam em direção a superfície livre, o que causa interferências
construtivas que aumentam a amplitude de movimentação das partículas próximas à
superfície, como mostra a Figura 10 (SHEARER, 2009).
26

Figura 10: Representação da onda de superfície Love. Fonte: Adaptado de Shearer (2009).

As ondas de superfície possuem velocidades menores do que as ondas de corpo,


contudo, em menores distâncias da fonte, elas possuem um maior poder destrutivo e, dessa
forma, são responsáveis pelos maiores danos causados as construções civis quando ocorrem
terremotos. (HOHENSINN, 2019). Para o estudo da sísmica aplicado a minas, essas ondas
possuem menor importância. A Figura 11 apresenta um sismograma típico com a
representação das ondas de corpo e de superfície.

Figura 11: Sismograma típico com a diferenciação das ondas de corpo e de superfície. Fonte: Adaptado de
Hohensinn (2019)

3.3 Eventos sísmicos

Para entender o que é um evento sísmico e qual a sua origem, primeiramente é


importante revisar o conceito de estado de tensões no maciço rochoso. Essas tensões podem
ser divididas, basicamente, em tensões virgens, que são originadas principalmente pelas
tensões gravitacionais e tectônicas, ou seja, são tensões que já existem no maciço rochoso
previamente a qualquer distúrbio, as tensões induzidas, que são produto da redistribuição das
tensões previamente existentes devido à um distúrbio e as tensões totais que representam a
soma das tensões virgens e das tensões induzidas. As tensões induzidas geradas pela abertura
27

de uma escavação podem levar ao aumento ou diminuição de tensão (LARSSON, 2004). A


Figura 12 mostra uma representação esquemática da redistribuição de tensões ao redor de uma
escavação circular, com as linhas tracejadas representando as linhas de tensão.

Figura 12: Representação da redistribuição de tensão ao redor de escavação circular. Fonte: Adaptado de
Larsson (2004).

Um evento sísmico consiste na liberação repentina de energia pela emissão de ondas


mecânicas geradas pelo escorregamento de blocos ao longo de descontinuidades do maciço
rochoso ou pelo faturamento de rocha intacta (BRADY; BROWN, 2004). Entende-se que a
origem do evento sísmico é então a desestabilização do maciço, que é controlada pela relação
de três elementos: o estado de tensão, a condição geomecânica (resistência e rigidez da rocha
intacta e as estruturas geológicas, como falhas e dobras), e a atividade de mineração. A
relação entre esses fatores irá produzir eventos em maior ou menor grau, assim como as
consequências e riscos associados. Grosso modo, esses eventos podem estar restritos a regiões
próximas às escavações ou gerar movimentos de estruturas geológicas levando a fenômenos
similares aos terremotos (LARSSON, 2004).

Gibowicz & Kijko (1994) afirmam que existem dois tipos gerais de eventos sísmicos:
aqueles que estão diretamente associados com as escavações da mina, principalmente as de
lavra que geram maiores vãos, e aqueles associados a movimentações de descontinuidades
geológicas mais importantes. Os eventos associados as escavações ocorrem próximos aos
limites das mesmas e estão diretamente relacionados à redistribuição de tensão ao redor dos
vãos criados e são mais propensos a ocorrer quando há tensões mais elevadas.

Segundo Larsson (2004), o rompimento do maciço rochoso por tensão ocorre devido
ao acúmulo de energia pelo excesso de tensão até que o limite de resistência da rocha intacta é
superado, causando lascamento próximo a superfície das escavações ou criando fraturas no
maciço rochoso. Nesse caso, é possível que pequenos fragmentos de rocha sejam ejetados
para dentro da escavação. As falhas por tensão normalmente causam menores danos devido a
28

quantidade de energia liberada ser menor. Entretanto, no caso de rompimento de pilares,


podem ocorrer eventos mais violentos que causem danos mais severos às escavações, a
depender da localização do pilar e seu estado de tensão. Pilares que absorvem altos valores de
tensão, exercendo importante papel estrutural no suporte das escavações, quando rompem
liberam uma quantidade de energia significativamente maior, e as ondas geradas podem
causar danos em locais distantes da região de ruptura (LARSSON, 2004).

Os eventos sísmicos associados a descontinuidades geológicas, também influenciados


pela redistribuição de tensão, apresentam uma energia em escala maior. Como já existe a
descontinuidade no maciço rochoso, é possível que a influência das escavações ative
sismicamente zonas que contenham essas descontinuidades (falhas, contatos geológicos,
zonas de cisalhamento, entre outras) e mesmo depois de cessadas as atividades de mineração
próximas a essas zonas, continua havendo liberação de energia e consequentes eventos
sísmicos. Os danos causados por esses eventos podem ser severos e afetar uma grande área, e
as vezes podem até ser sentidos na superfície (LARSSON, 2004).

É possível realizar a classificação dos eventos sísmicos em relação ao seu tamanho,


amplitude e quantidade de rocha desplacada. Scott (1990 e 1997) apud Larsson (2004)
dividem os eventos sísmicos em microssismos, rockbursts e terremotos. Para esses autores
eventos com magnitude Richter acima de 0.5 e que mobilizam mais de 10 toneladas de
material na escavação ou com um pico de amplitude acima de 30mm em um sismógrafo, são
classificados como rockbursts, grandes eventos sísmicos. Já os microssismos, são pequenos
eventos sísmicos com magnitude Richter abaixo de 0.5, que mobilizam menos que 3-5
toneladas de material ou amplitude menor do que 30 mm. A Figura 13 mostra uma
representação esquemática com imagens de diferentes fontes sísmicas e danos causados ao
maciço rochoso e as escavações.
29

Figura 13: Representação de diferentes fontes sísmicas e falhas do maciço rochoso. a- Deslocamento de falha, b-
redistribuição de tensão gerando fraturas no maciço rochoso, c- overbreak do realce no contato com intrusão, d- diferença
das propriedades elásticas levando a falha por tensão, e- rompimento de pilar e f- deformação do maciço devido ao acúmulo
de tensão. Fonte: Adaptado de Hudyma (2008).
30

3.3.1 Distribuição de eventos ao longo do dia

Segundo Hudyma (2008), a distribuição dos números de eventos, captados pelo


monitoramento microssísmico em minas, ao longo do dia é uma forma de indicar o possível
mecanismo que gerou o evento. O número de eventos induzidos por detonações diminui
drasticamente algumas horas após o horário em que a detonação ocorre. A Figura 14
apresenta um exemplo da porcentagem de eventos captados pelo monitoramento sísmico na
mina de Brunswick em New Brunswick no Canadá (HUDYMA, 2008), observa-se que duas
horas após a detonação a taxa de eventos captados cai drasticamente.

Figura 14: Porcentagem de eventos captados após seis horas de uma detonação na mina de Brunswick, Canadá.
Fonte: Adaptado de Hudyma (2008).

Os autores Hudyma & Potvin (2010) apresentam uma maneira simples de se analisar o
tipo de mecanismo da fonte do evento sísmico e o risco associado a eventos de maiores
magnitudes, utilizando um gráfico com a distribuição de eventos ao longo do dia. O eixo das
ordenadas representa o número de eventos, considerando o eixo da direita como eventos
significantes, que são o número de eventos acima de determinado limite de magnitude, e o
eixo das abcissas representa as horas do dia. Dessa forma, é possível observar o quão
dependente são os eventos dos horários de detonação e se há uma relação diferenciada dos
eventos de maior magnitude com a detonação em relação aos de menor magnitude. A Figura
15, apresenta dois exemplos de gráficos da distribuição diária de eventos em uma mina em
que os horários de detonação são às 6 h e às 18 h. Na Figura 15 (A) observa-se que tanto os
eventos de baixa quanto de alta magnitudes não possuem dependência evidente com os
horários de detonação, o que indica mecanismo de deslocamento dos blocos ao longo de
descontinuidades e representa uma fonte sismicamente ativa. Já a Figura 15 (B), apresenta um
31

caso em que há uma maior concentração dos eventos de baixa e alta magnitude próximo aos
horários de detonação, indicando eventos induzidos pela variação de tensões após as
detonações (HUDYMA; POTVIN, 2010).

Figura 15: Exemplos de gráficos representando a distribuição diária de eventos. (A) Caso em que a sismicidade
não dependente das detonações (B) Caso em que a sismicidade é dependente do horário de detonações. Fonte: Adaptado de
Hudyma & Potvin (2010).

3.3.2 Localização do Evento

O primeiro passo para analisar eventos sísmicos, quantitativamente e qualitativamente,


é determinar a localização da fonte, chamada de hipocentro. Muitos dos parâmetros sísmicos
são função da distância entre a fonte do evento e o sensor sísmico (HUDYMA, 2008).
Segundo Ge (2003), os métodos de localização da fonte podem ser separados em duas
32

abordagens distintas, do sensor tri-axial e do tempo de chegada. A abordagem do sensor tri-


axial utiliza a amplitude e o tempo de chegada das ondas. Neste caso, a localização do evento
é definida pela sua distância relativa e seu azimute em relação ao sensor, o que é determinado
pela diferença de chegada das ondas P e S e pelas amplitudes em três direções ortogonais. Os
métodos que utilizam o princípio do tempo de chagada necessitam apenas dessa informação,
que não é restrita apenas as ondas P e S, apesar de serem as mais utilizadas. Essa abordagem
requer o uso de pelo menos quatro transdutores. Sendo assim, uma função do tempo de
chagada é utilizada em cada transdutor para os sinais sísmicos captados. A Equação 1
apresenta a forma simplificada desta função.

√(𝑥𝑖 − 𝑥)2 + (𝑦𝑖 − 𝑦)2 + (𝑧𝑖 − 𝑧)2 = 𝑣(𝑡𝑖 − 𝑡) (1)

Onde xi, yi e zi são as coordenadas do i-ésimo transdutor, ti é o tempo de chagada no i-ésimo


transdutor, x, y e z são as coordenadas da fonte, t é o tempo de origem do sismo e 𝑣 é a
velocidade de propagação da onda elástica no meio rochoso (GE, 2003). Dessa forma, são
necessários pelo menos quatro transdutores captando o evento, para resolver a Equação 1, que
possui quatro incógnitas (x, y, z e t). A Figura 16 representa o princípio da localização do
hipocentro de eventos sísmicos utilizando os tempos de chegada.

Figura 16: Representação do método de localização da fonte utilizando os tempos de chegada. Onde, ti é o tempo
em que a onda chega ao i-ésimo sensor, t0 é tempo de origem do sismo, v é a velocidade de propagação da onda elástica no
meio rochoso, xi, yi e zi são as coordenadas do i-ésimo sensor e x, y e z são as coordenadas da fotne do sísmo (adaptado de
XIAO et al., 2016).
33

3.3.3 Momento Sísmico

O momento sísmico (Mo) é um parâmetro muito utilizado para medir a força de um


evento sísmico. Ele é definido utilizando uma fonte puramente cisalhante, o que não é sempre
verdade, principalmente, para eventos ocorridos em ambientes influenciados por minerações
(GLAZER, 2016). O momento sísmico pode ser definido por:

𝑀𝑜 = µ ū 𝐴 (2)

Onde µ é o módulo de cisalhamento da fonte, ū é o deslocamento médio ao longo da falha e A


é a área da falha. Para calcular o momento sísmico pela Equação 3 seria necessário acessar a
área da fonte do evento, o que é possível somente em raras ocasiões. Dessa forma, a Equação
3 apresenta uma alternativa para calcular o momento sísmico utilizando análise espectral.

(4𝜋𝜌𝑜 𝑐𝑜3 𝑅𝑐 ′Ω𝑐 )


𝑀𝑜 =
𝐹𝑐 𝐶𝑐 𝑆𝑐 (3)
Onde 𝜌𝑜 é a densidade do material da fonte, 𝑐𝑜 é a velocidade das ondas-P ou ondas-S na
fonte, 𝑅𝑐 é a distância entre a fonte e o sensor, ′Ω𝑐 é o nível de frequência baixa (parâmetro
espectral), 𝐹𝑐 corresponde a radiação das ondas-P ou ondas-S, 𝐶𝑐 corresponde à amplificação
das amplitudes das ondas-P ou ondas-S e 𝑆𝑐 é correção local para as ondas-P ou ondas-S
(GLAZER, 2016).

3.3.4 Energia Sísmica

A energia sísmica radiada pelas ondas-P e ondas-S pode ser calculada pela integral do
espectro de velocidade:

(4)
𝐽 = 2 ∫ 𝑉 2 (𝑓)𝑑𝑓
0

Onde f é a frequência. Dessa forma, utilizando o resultado da equação (4), a Energia Sísmica
(E) pode ser calculada pela Equação 5.

𝐸 = 4𝜋𝜌𝑜 𝑐𝑜 𝐽 (5)

Onde 𝜌𝑜 é a densidade do material da fonte, 𝑐𝑜 é a velocidade das ondas-P ou ondas-S na


fonte. Para calcular o total de energia liberado por um dado evento sísmico, utiliza-se a soma
entre as energias das ondas-P e ondas-S (GLAZER, 2016).
34

3.3.4.1 Razão entre a energia das ondas-S e ondas-P (Razão Es/Ep)

Uma forma de analisar o mecanismo da fonte sísmica é realizando uma análise da


razão entre as energias das ondas-S (Es) e das ondas-P (Ep). Quanto maior essa razão, maior é
a componente cisalhante e, consequentemente, o indício de mecanismo de escorregamento ao
longo de estrutura geológica preexistente (HUDYMA, 2008). Hudyma (2008) apresenta o
gráfico da porcentagem acumulada de determinado grupo de eventos em função da razão
Es/Ep. A partir deste gráfico é possível observar a proporção de eventos com razão Es/Ep
acima de 10, apontando mecanismo gerador de cisalhamento ou escorregamento em
descontinuidades preexistentes, e a proporção abaixo de 10, indicando mecanismo da fonte
como geração de estruturas por tensões induzidas pelas escavações. A Figura 17 mostra um
exemplo de duas populações de eventos sísmicos. A população representada pela curva (A)
apresenta cerca de 60% dos eventos com razão Es/Ep acima 10, e a população representada
por (B) apresenta 80% dos eventos com a razão Es/Ep abaixo de 10. Conclui-se que a
população de eventos (A) apresenta maior componente cisalhante como mecanismo da fonte
em comparação a população (B).

Figura 17: Porcentagem acumulada de duas populações de eventos sísmicos em função da razão Es/Ep. Fonte:
Adaptado de Hudyma (2008).
35

3.3.5 Magnitude

Um sismólogo japonês chamado Wadati elaborou em 1931 um gráfico do logaritmo da


amplitude máxima captada em função da distância entre o epicentro e o sismógrafo para
alguns terremotos. Ele observou que os pontos obtidos para diferentes eventos formavam
curvas paralelas, representadas na Figura 18. Em 1934, o americano Charles Richter construiu
um diagrama similar onde realizou o mesmo para terremotos ocorridos no sul da Califórnia e
criou a primeira escala de magnitude (MENDECKI, 2013).

Figura 18: Gráfico do Logaritmo da amplitude máxima em função da distância para diferentes terremotos. Fonte:
Adaptado de Mendecki (2013).

A escala definida por Richter pode ser descrita pela Equação 6.

𝑚𝐿 = 𝑙𝑜𝑔𝐴(𝑅) − 𝑙𝑜𝑔𝐴0 (100) (6)

Onde 𝑚𝐿 é magnitude Richter, A é a amplitude máxima horizontal medida em mm


utilizando um sismógrafo do tipo Wood-Anderson, R é distância do epicentro e 𝐴0 é a
amplitude máxima na distância de referência de 100 km, escolhida arbitrariamente por Richter
para que os terremotos com os quais ele trabalhava não tivessem magnitudes negativas
(MENDECKI, 2013). Posteriormente, em 1945, Gutenberg desenvolveu uma escala de
magnitude para trabalhar com terremotos a longas distâncias e criou a magnitude para ondas
de superfície, que é representada pela Equação 7.

𝑚𝑠 = 𝑙𝑜𝑔(𝑢/𝑇) + 𝑐1 𝑙𝑜𝑔∆ + 𝑐2 (7)


36

Onde 𝑚𝑠 é a magnitude das ondas de superfície (Rayleigh ou Love), 𝑢 é a máxima


amplitude das ondas Rayleigh em µm, T é o período, ∆ é a distância em graus e 𝑐1 e 𝑐2 são
constantes de calibração (MENDECKI, 2013). Para considerar terremotos ocorridos em
qualquer profundidade, Gutenberg também desenvolveu uma escala de magnitude para as
ondas de corpo. Essa escala de magnitude pode ser obtida pela Equação 8.

𝑚𝑏 = 𝑙𝑜𝑔(𝑢/𝑇) + 𝑞(∆, ℎ) (8)

Onde 𝑚𝑏 é a magnitude das ondas de corpo (ondas-P ou ondas-S), T é o período


associado com a onda de maior amplitude, 𝑢 é a máxima amplitude captada e 𝑞(∆, ℎ) é uma
função de calibração para a correção de profundidade h e distância do epicentro ∆
(MENDECKI, 2013). Segundo Mendecki (2013), outra escalada de magnitude bastante
utilizada é a magnitude de momento. A mais utilizada delas foi proposta por Hanks e
Kanamori, que propuseram a relação mostrada na Equação 9.

𝑚𝐻𝐾 = (2/3)𝑙𝑜𝑔𝑃 + 0.92 (9)

Onde 𝑚𝐻𝐾 é a magnitude de momento e P é a potência sísmica.

A Potência sísmica, por sua vez, pode ser obtida pelo produto entre a tensão na fonte e
o volume da fonte, representada por:

∆𝜎 (10)
𝑃 = ( )𝑉
µ
Onde ∆𝜎 é a média da queda de tensão obtida com a liberação de energia do sismo, µ
é o módulo de rigidez da maciço rochoso ao redor da fonte e V é o volume da fonte
(MENDECKI, 2013).

Finalmente, para eventos sísmicos ocorridos em minas, que geralmente são menores e
não são captados por uma rede regional ou nacional de monitoramento sísmico, utiliza-se uma
escala de magnitude chamada magnitude local, que seria o equivalente a escala Richter
calibrada para determinada localidade (MENDECKI, 2013). A Equação 11 apresenta uma
equação genérica para a magnitude local e a Equação 12 mostra a equação utilizada na mina
Cuiabá.

𝑚𝐿 = 𝑐1 𝑙𝑜𝑔𝐸 + 𝑐2 𝑙𝑜𝑔𝑃 + 𝑐3 (11)


37

Onde 𝑚𝐿 é magnitude local, E é a energia sísmica, P é a potência sísmica, 𝑐1, 𝑐2 e 𝑐3


são coeficientes de calibração.

𝑚𝐿 = 0.344𝑙𝑜𝑔𝐸 + 0.516𝑙𝑜𝑔𝑃 − 1.166 (12)

A magnitude aplicada neste trabalho será a magnitude local adaptada para Cuiabá e,
nas seções seguintes, será utilizada apenas a letra m para referir-se a magnitude local.

3.3.5.1 Relação Frequência-Magnitude

A relação entre a frequência e a magnitude local, ou relação de Gutenberg-Richter,


representa uma ferramenta amplamente utilizada na sismologia. É reconhecido que a relação
entre o logaritmo do número de eventos sísmicos e a magnitude local segue a relação linear
apresentada na Equação 13 (HUDYMA, 2008).

𝐿𝑜𝑔10 (𝑁(𝑚)) = 𝑎 + 𝑏𝑚 (13)

Onde N é o número de eventos de pelo menos magnitude local m, a e b são constantes e m é a


magnitude local. A Figura 19 apresenta um exemplo de gráfico que representa a relação
Frequência-Magnitude para uma base de dados de eventos sísmicos completa.

Figura 19: Exemplo da Relação Frequência-Magnitude para uma base de eventos sísmicos completa e bem
comportada. Fonte: Adaptado de Hudyma (2008).

Segundo Hudyma & Potvin (2010), para uma grande quantidade de eventos sísmicos
no banco de dados e um monitoramento sísmico adequado o valor da constante b (inclinação
38

da relação linear entre frequência e magnitude) tende a -1,0. Mas quando são analisados
agrupamentos de eventos ou fontes sísmicas individuais, o valor de b é geralmente maior do
que -1,0 para mecanismos de eventos ao longo de estruturas preexistentes, e menor do que -
1,0 para eventos gerados por estruturas ocasionadas pela redistribuição de tensão devido as
detonações, indicando uma menor proporção de eventos de maior magnitude e,
consequentemente, menor risco sísmico associado.

3.3.5.2 Distribuição da Magnitude ao longo tempo

Segundo Hudyma & Potvin (2010), a distribuição da magnitude local ao longo do


tempo é uma ferramenta que permite analisar a relação entre a sismicidade e as mudanças no
ambiente de tensão ocasionadas pelas detonações em uma mina. Ao representar em um
gráfico as magnitudes dos eventos sísmicos de determinado agrupamento e o seu número
acumulado em função da data, é possível observar se há aumento da taxa de ocorrência de
eventos ou da magnitude dos mesmos nos períodos em que há detonações na região. Para
isso, basta inserir, no mesmo gráfico, as datas em que há detonações no local (HUDYMA;
POTVIN, 2010). A Figura 20 apresenta um exemplo dessa análise. É possível observar que
no período em que ocorrem os desmontes no local (representado pela tarja preta), é
justamente quando começam a ocorrer eventos na região, todos de baixa magnitude (m < 0), e
logo após cessar o período de desmontes, cessa também a sismicidade verificada pelo
monitoramento.

Figura 20: Gráfico da distribuição da magnitude local no tempo. Fonte: Adaptado de Hudyma & Potvin (2010).
39

3.4 Monitoramento microssísmico

O monitoramento microssísmico em minas realizado diariamente permite quantificar e


localizar a sismicidade do ambiente minerado, e funciona como uma ferramenta para realizar
a prevenção, controle e predição de potencias áreas de instabilidade do maciço rochoso e que,
em alguns casos, podem resultar em rockburts (MENDECKI; ASWEGEN; MOUNFORT,
1999). Os objetivos específicos desse monitoramento, segundo Mendecki et al. (1999),
podem ser resumidos como:

• Áreas propensas a Rockburts: Localizar áreas que sejam propensas a ocorrências de


rockburts, associadas à sismos de média a alta magnitude, e alertar a gerência da mina
sobre esses riscos.
• Prevenção: Confirmar alguns dos parâmetros empregados no planejamento do
empreendimento. É extremamente importante na validação de premissas utilizadas na
modelagem numérica, i.e., mudanças na orientação de alguma descontinuidade podem
afetar a distribuição de tensões cisalhantes atuantes sobre a estrutura. Isso permite
realizar correções no layout da lavra, sequenciamento e taxas de extração.
• Controle: Detectar mudanças na distribuição espacial e temporal dos eventos, assim
como variações nos parâmetros da fonte e aumento de eventos de maior magnitude.
Isso permite que haja medidas de controle e melhoria do gerenciamento do tempo de
exposição dos colaboradores às áreas sismicamente ativas.
• Alarme: Detectar grandes variações na distribuição espacial e temporal dos eventos,
assim como grandes variações dos parâmetros da fonte que excedam valores limites,
i.e., é possível aplicar um limite para a Magnitude local e caso haja algum evento que
exceda esse valor um alarme é acionado na central de controle da operação.
• Retro análise: Realizar a retro análise de grandes desarticulações por meio de
modelagem numérica e monitoramento sísmico. Essa análise deve considerar o
comportamento do maciço rochoso associado a pilares, a presença de backfill, a
variações das taxas de extração e diferentes layouts.

Segundo Ge (2005), o monitoramento microssísmico pode proporcionar importantes


ganhos para a segurança e para a produção em empreendimentos mineiros. Ao fornecer a
localização de rockbursts ou áreas com atividade sísmica anômala, um monitoramento
microssísmico diário facilita operações de resgate, isolamento de áreas e evita que haja pânico
40

entre os colaboradores. Dessa forma, realiza-se um melhor controle e gerenciamento de


riscos, além de evitar que haja atrasos na produção.

O monitoramento microssísmico também pode ser utilizado como uma importante


ferramenta para o planejamento de mina. É possível realizar correlações entre a localização e
magnitude dos eventos induzidos e as atividades de mina, como detonações de
desenvolvimento e de lavra, e as litologias, layout das escavações e condições de tensão.
Dessa forma, é possível reavaliar o plano de lavra, introduzindo mudanças no sequenciamento
de extração, no desenho das escavações e até mesmo, em casos mais extremos, alterando o
método de lavra. Por fim, cada medida pode ser avaliada realizando uma nova análise dos
eventos sísmicos (GE, 2005).

3.4.1 Equipamentos

A instrumentação utilizada para o monitoramento microssísmico pode ser dividida em


quatro componentes principais, sendo eles: sensores, instrumentos de aquisição de dados,
instrumentos de transferências de dados e a unidade central com o software de processamento
dos dados (XIAO et al., 2016).

3.4.1.1 Sensores

Os sensores utilizados no monitoramento microssísmico são transdutores capazes de


captar os sinais das ondas emitidas pelo escorregamento ao longo de planos ou pelo
fraturamento do maciço rochoso e convertê-los em um sinal analógico. Esses instrumentos
podem ser divididos em dois tipos mais utilizados, os geofones e acelerômetros (XIAO et al.,
2016). Os geofones são sensores capazes de monitorar a velocidade de vibração do maciço.
Eles são compostos por um cilindro contendo bobinas que envolvem um núcleo magnético,
representado na Figura 21. Esse núcleo está conectado ao maciço rochoso através de um apoio
e, dessa forma, tende a vibrar com ele. As bobinas por sua vez se ligam ao apoio com um
feixe de mola que reduz o movimento e faz com que a bobina tenda a ficar parada. Assim,
quando uma onda mecânica atinge o geofone, a vibração do núcleo magnético no cento das
bobinas gera um sinal elétrico que é convertido em velocidade de vibração (PAMUKCU;
CHENG, 2017).
41

Figura 21: Representação esquemática de um Geofone. Fonte: Pamukcu & Cheng (2017).

Os acelerômetros por sua vez são utilizados para obtenção de medidas de aceleração.
O tipo mais comum para o monitoramento geotécnico são os piezoelétricos. A Figura 22
apresenta esquematicamente esse tipo de sensor. Um cristal piezoelétrico, de quartzo por
exemplo, suporta uma pequena massa M. Ao receber as ondas sísmicas a massa M realiza
uma carga ou pressão dinâmica no cristal, que cria uma carga elétrica rapidamente dissipada.
As propriedades do sensor podem ser ajustadas por uma mola e um capacitor. O sinal elétrico
é convertido em aceleração de vibração (PAMUKCU; CHENG, 2017).

Figura 22: Representação esquemática de um Acelerômetro. Fonte: Pamukcu & Cheng (2017).

Os sensores podem ser uniaxiais ou triaxiais, a depender do número de eixos presente.


Para escolher qual utilizar, é necessário conhecer o propósito do monitoramento, o alcance
desejado e o número de pontos de monitoramento. De maneira geral, para estudar os
mecanismos de deslocamento e falha do maciço rochoso, deve-se optar por um maior número
de sensores triaxiais, que proporcionam mais informações sobre os parâmetros da fonte
geradora dos sismos. Todavia, nos casos em que permitem uma localização dos eventos mais
grosseira e não se preocupa com os parâmetros da fonte, é possível utilizar sensores uniaxiais
que proporcionam um alcance maior, comparado aos triaxiais, e podem ser utilizados quando
houver um número limitado de sensores (XIAO et al., 2016).
42

A instalação dos componentes do monitoramento microssísmico, como sensores,


instrumentos de aquisição e transferências de dados é parte crucial para obter dados de
monitoramento de maior qualidade e que permitam interpretar e caracterizar a sismicidade
induzida pela mineração. No caso de sensores, basicamente, eles são instalados ou na
superfície ou em furos no maciço rochoso. Os sensores instalados em furos são mais comuns
para monitoramento microssísmico in situ, mas sensores em superfície podem ser a melhor
escolha caso haja problemas com altas temperaturas, pressões ou substâncias químicas no furo
(XIAO et al., 2016).

3.4.1.2 Aquisição de dados

Os instrumentos de aquisição de dados são responsáveis pela amplificação e conversão


de sinais analógicos em digitais, e podem ser divididos em três componentes, amplificador,
conversor analógico-digital (conversor A/D) e computador embutido para aquisição de dados
(DAC). O amplificador, como o próprio nome diz, é utilizado para amplificar o sinal elétrico
captado pelo sensor acionado. Em seguida, o conversor A/D transforma o sinal analógico e
contínuo em um sinal digital e discreto. Por fim, o DAC associa tempos para os sinais
gravados (XIAO et al., 2016).

3.4.1.3 Transferência de dados

As unidades de transferências comunicam os instrumentos de aquisição de dados com


uma unidade central de armazenamento e processamento de cada dado sísmico captado. Além
disso, as unidades de transferência realizam a sincronização temporal entre cada instrumento
de aquisição de dados, e podem ser divididas em três partes. A primeira, do sensor para o
instrumento de aquisição (cabos de fio de cobre revestido com bobina de alumínio). A
segunda, do instrumento de aquisição para uma unidade de retransmissão em campo (fiação
de cobre ou fibra óptica), que comumente é necessária devido as grandes distâncias para a
unidade central, o que poderia atenuar o sinal de monitoramento, e da unidade de
retransmissão para um servidor central (fibra óptica ou wireless). A terceira parte comunica o
servidor central de monitoramento com unidades de processamento e de tomada de decisão
(rede de internet), as quais são caracterizadas por software onde os dados podem ser tratados
e manipulados (XIAO et al., 2016).
43

3.4.1.4 Processamento de dados

As unidades de processamento de dados são caracterizadas por softwares que


permitem a visualização e processamento dos dados em tempo real. É possível verificar o
funcionamento da comunicação de todo o sistema através da emissão de sinais de teste e
posterior verificação da leitura. Além disso, os parâmetros da fonte são rapidamente
calculados e um software para visualização e interpretação desses dados no tempo e no espaço
também é utilizado (XIAO et al., 2016).

4 METODOLOGIA

4.1 Monitoramento Microssísmico da Mina Cuiabá

O monitoramento microssísmico utilizado na Mina Cuiabá foi implementado no final


de 2015. A instalação dos equipamentos, sensores, unidades de transferência e processamento
de dados, realizada pela empresa IMS, a qual também é responsável pelo processamento dos
dados. O arranjo do sistema de monitoramento microssísmico da mina atualmente conta com
32 geofones (20 uniaxiais e 12 triaxiais), 7 estações transmissoras, uma estação central e
cabos que interligam todo o sistema, e estão instalados entre os níveis 11 (cota Z = 700 m) e
19 (cota Z = 1200 m). A Figura 23 apresenta uma imagem com as galerias de
desenvolvimento da mina e o arranjo dos geofones utilizados no monitoramento.

Figura 23: Galerias de desenvolvimento da mina Cuiabá com a posição do arranjo de geofones e destaque para os
níveis 8, 11 e 19. Fonte: Autor.

O monitoramento é realizado em tempo real e os dados são transmitidos por cabos de


fibra ótica até um servidor central em superfície que armazena e disponibiliza os dados para
processamento, visualização e tratamento dos dados, utilizando o pacote de software da IMS.
44

O Synapse permite o controle e a checagem do funcionamento da rede de monitoramento. O


Trace é utilizado para a visualização e processamento dos sismogramas coletados pelo
monitoramento, por meio da determinação do tempo de chegada das ondas-P e das ondas-S. O
Vantage é utilizado para a visualização e estudo da microssismicidade, espacial e temporal. E
o Ticker 3D mostra a ocorrência dos eventos sísmicos mais recentes, com localização espacial
e parâmetros da fonte, podendo ser acessado por computador ou celular.

4.2 Base de Dados

A base de dados utilizada neste trabalho é composta por dados eventos não advindos
de ondas provenientes de detonações, durante 12 meses de monitoramento. Foram analisados
os eventos ocorridos entre os dias 01 de setembro de 2019 até 31 de agosto de 2020, e entre as
cotas superior do nível 8 (Z = 530 m) e inferior do nível 20 (Z = -330 m), totalizando uma
base de dados de 3493 eventos sísmicos.

Para a condução das análises dos parâmetros da fonte estudados, dividiu-se a base de
dados de eventos sísmicos em clusters ou agrupamentos por nível. Essa divisão foi realizada
filtrando as cotas superiores e inferires de cada nível, do nível 8 ao nível 20. Esses níveis
foram escolhidos por compreenderem a maior parte das atividades de lavra e desenvolvimento
no período estudado.

É importante ressaltar que os níveis 8, 9, 10 e 20 estão além dos limites do arranjo de


geofones e que houve uma ampliação do monitoramento em março de 2020, com a adição de
mais 8 geofones abaixo do nível 17, totalizando os 32 geofones atuais. Dessa forma, os
resultados das análises para os esses níveis, e para os níveis 18 e 19, que antes de março de
2020 não eram compreendidos pelo arranjo, devem ser feitas com ponderações.

4.3 Análises da Magnitude e da Energia Sísmica

A metodologia aplicada consistiu no estudo por níveis dos parâmetros da fonte de


magnitude local e de energia sísmica. Inicialmente foi realizada análise estatística para
verificar a distribuição dos eventos por nível e os valores de magnitude local para a base de
dados completa. Posteriormente, foram realizadas as seguintes análises gráficas por níveis:
distribuição de eventos ao longo do dia; razão entre as energias das ondas-S e as energias das
ondas-P (Es/Ep); relação entre frequência e magnitude; e distribuição da magnitude ao longo
do tempo.
45

Para a confecção dos gráficos da distribuição de eventos ao longo dia e da relação de


frequência e magnitude, foi utilizado o software Vantage (IMS). As retas da relação
frequência e magnitude foram construídas com ajuste manual, buscando os trechos de maior
linearização. As curvas da razão Es/Ep e os gráficos de distribuição das magnitudes no tempo
foram realizados exportando uma planilha com as localizações e informações de cada evento,
e posterior tratamento dos dados. Para os gráficos de distribuição da magnitude no tempo
também foram verificados os dias de detonação de lavra e de desenvolvimento no período
estudado.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Análise da base de dados e distribuição espacial dos eventos

A Figura 24 mostra a distribuição de eventos sísmicos da base de dados por níveis da


mina. Observa-se que houve uma grande concentração de eventos nos níveis 12, 13 e 19,
compreendendo cerca de 45% dos eventos totais. Este número corrobora com a alta
concentração de atividades, tanto de lavra quanto de desenvolvimento, para esses níveis no
período de análise. Os níveis 8 e 9, além de estarem em menores profundidades e, portanto,
ambiente de menores tensões, estão a uma distância considerável do arranjo de
monitoramento onde poucos eventos normalmente são captados, o que também é refletido
pelo gráfico da Figura 24, em que apenas 2,5% dos eventos ocorreram nos níveis 8 e 9.

Distríbuição de eventos por Nível


16.5%
15.9%

12.7%
Número de eventos

% de eventos

9.3%

6.5% 6.9% 6.8%


6.3% 6.0%
5.6%
4.9%

2.0%
0.5%
19 70 228 242 554 575 326 170 221 197 210 445 236

8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Níveis

Figura 24: Distribuição do número de eventos por níveis da mina no período de Ago/2019 a Set/2020. Fonte:
Autor.
46

Na figura 25 é mostrado o hipocentro traçado para os eventos estudados coloridos pela


data, e os níveis destacados em diferentes cores para facilitar a visualização. Observa-se que
para os eventos do fundo da mina, níveis 18, 19 e 20, há uma maior dispersão da localização
dos hipocentros, principalmente para os dados de 2019 e início de 2020 (esferas azuis e verde
claro), o que pode ser influência do erro de localização na região previamente a ampliação do
monitoramento. No geral, observa-se que os hipocentros estão próximo às escavações.

Figura 25: Visualização do hipocentro dos eventos da base de dados estudada. Fonte: Autor.

O histograma da Figura 26 mostra que, cerca de 98% dos eventos do período estudado
apresentam magnitude local menor do que -1, e apenas 5 eventos tiveram magnitudes entre 0
e 0,5 e 3 eventos com magnitude acima de 0,5. Percebe-se que se trata de uma mina com
eventos de baixa magnitude e com praticamente 100% dos eventos do período classificados
como microssismos segundo Scott (1990 e 1997) apud Larsson (2004), que define um limite
de magnitude local menor do que 0,5 para essa classe. A Figura 27 apresenta o box plot das
magnitudes da base de dados, onde se observa uma média de magnitudes de,
aproximadamente, -2,47 e que valores acima -0,8 já podem ser considerados outliers ou
valores fora do usual para a área de estudo. Não foram observados eventos com magnitudes
inferiores a -4,0, pois os eventos abaixo desse limite não são processados pela IMS.
47

Figura 26: Histograma de magnitude local para todos eventos da base de dados. Fonte: Autor.

Figura 27: Diagrama de caixas para a Magnitude Local da base de eventos sísmicos no período estudado. Fonte:
Autor.

5.1.1 Distribuição diária de eventos

O gráfico da distribuição diária de eventos, segundo Hudyma & Potvin (2010), é uma
maneira simples de analisar a relação dos eventos sísmicos com os horários de detonação e,
dessa forma, obter um indício do mecanismo da fonte. Na Figura 28 é mostrado o gráfico com
a distribuição ao longo das horas do dia para todos os eventos do período de estudo.

Os horários de detonação na mina Cuiabá ocorrem entre 7h e 8h da manhã e entre 7h e


8h da noite. Dessa forma, a partir da Figura 28 é possível concluir que, no geral, os
microssismos ocorridos na mina apresentam grande influência das detonações, pois são
observados picos do número de eventos exatamente próximos a esses horários.
Posteriormente, entende-se que o maciço rochoso vai se acomodando e verifica-se a
diminuição gradual desses eventos nas horas seguintes. Contudo, ao analisar os eventos de
magnitude acima de 0, observa-se que apenas 1 dos 8 presentes na base de dados coincidiu
48

com o horário de detonação da manhã, os outros ocorreram às 3h, 4h, 12h e 21h. Isso mostra
que os maiores eventos ocorridos possivelmente não estão diretamente associados as
detonações de lavra ou desenvolvimento.

Figura 28: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
todos os eventos sísmicos do período estudado. Fonte: Autor.

Os gráficos da distribuição diária de eventos foram realizados para todos os níveis


separadamente e, no geral, a tendência obtida com a base de dados completa foi repetida,
exceto para os níveis 8, 12 e 13 que apresentaram algumas diferenças. A Figura 29 apresenta
o gráfico para o nível 8, onde nota-se que apenas o pico de eventos entre 19h e 20h ocorreu.
Todavia, a quantidade de eventos ocorrida no N8 é tão pequena que, possivelmente, não
houve eventos suficiente para o aparecimento da tendência global. Apenas 19 eventos foram
captados no N8 durante o período de um ano de monitoramento.
49

Figura 29: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N8. Fonte: Autor.

Em relação ao nível 12, a Figura 30 mostra que há apenas a concentração de eventos


entre 19h e 20h. Observa-se que há uma maior quantidade de eventos nas horas próximas ao
intervalo entre 7h e 8h em comparação as horas seguintes, mas de fato, estatisticamente, não
há uma diferença na quantidade de eventos. Além disso, não se observa no gráfico do N12
eventos com magnitudes acima de 0.

Figura 30: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N12. Fonte: Autor.
50

Em relação ao nível 13, a Figura 31 mostra picos do número de eventos nos intervalos
de 7h às 8h e de 19h às 20h. Contudo, é observado que há uma concentração de eventos às
12h, horário que também ocorreu um evento de magnitude 0,7. Dessa forma, ao analisar esses
eventos, foi constatado que 30 dos 44 eventos ocorridos às 12h foram no mesmo dia (23/02),
assim como o evento de magnitude 0,7. Isso indica que, provavelmente, esses eventos foram
gerados pela mesma fonte e, possivelmente, caracterizada por uma ruptura no sill pilar entre
os níveis 12 e 13, como mostra a localização do hipocentro desses eventos na Figura 32.

Figura 31: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N13. Fonte: Autor.

Figura 32: Hipocentro dos eventos ocorridos no N13 às 12PM, com evento de magnitude 0.7 destacado por uma
seta. Fonte: Autor.
51

Os gráficos da distribuição diária para os níveis 9, 10, 11, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20
estão presentes nos anexos desse trabalho.

5.1.2 Razão Es/Ep

Como é indicado por Hudyma (2008), o gráfico de porcentagem acumulada de eventos


em função da razão da energia das ondas-S sobre a energia das ondas-P é uma forma de obter
um indicativo do mecanismo da fonte. Dessa forma, gráficos da razão Es/Ep foram realizados
para todos os eventos da base de dados e para cada nível analisado. A Figura 33 mostra o
gráfico para todos os eventos do período estudado. Cerca de 80% dos eventos tiveram valor
de Es/Ep menor do 10. Como afirma Hudyma (2008), valores para a razão Es/Ep menor do
que 10 são indicativos de mecanismo da fonte por evento provocado pela redistribuição de
tensões induzidas devido às escavações.

Figura 33: Porcentagem acumulada da razão Es/Ep para todos os eventos do período estudado. Fonte: Autor.

Em todos os níveis foi observado que 80% dos eventos ou mais tiveram a razão Es/Ep
menor do que 10 exceto o nível 14, que apresentou 70% dos eventos com essa razão menor do
que 10 (Figura 34). Dessa forma, baseando-se no limite abordado por Hudyma (2008), é
possível concluir que a grande maioria dos eventos ocorridos em todos os níveis estudados
estão associados principalmente as mudanças de tensão devido às escavações de lavra e de
desenvolvimento.
52

Figura 34: Porcentagem acumulada da razão Es/Ep para todos os eventos do Nível 14. Fonte: Autor.

Os gráficos da razão Es/Ep para os outros níveis estão presentes nos anexos desse
trabalho.

5.1.3 Relação Frequência-Magnitude

A análise da frequência da magnitude foi realizada para todos os eventos presentes no


banco de dados e o resultado está representado na Figura 35. Observa-se que houve a
linearização de pouco mais de uma unidade e meia de magnitude (-1,7 a 0) com o coeficiente
de inclinação b = -1,0. O que segundo Hudyma & Potvin (2010) aponta qualidade dos dados
de monitoramento.
53

Figura 35: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
todos os eventos. Fonte: Autor.

Com o intuito de analisar a variação do coeficiente b nos diferentes níveis da mina,


foram realizados gráficos de frequência das magnitudes dos níveis 8 ao 20, e os resultados são
apresentados nas Figuras 36 à 48. Diferentemente do gráfico obtido para a base de dados
completa, a linearização não foi bem alcançada para todos os níveis. Isso pode ter ocorrido
pelo fato de o agrupamento realizado considerar níveis inteiros, o que acaba por englobar
fontes sísmicas distintas e que, muito provavelmente, podem apresentar mecanismos distintos.
Todavia, essa análise foi realizada no intuito de captar tendências macro que possam variar,
dentre outras, com a profundidade da mina.
54

Figura 36: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 08. Fonte: Autor.

Figura 37: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 09. Fonte: Autor.
55

Figura 38: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 10. Fonte: Autor.

Figura 39: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 11. Fonte: Autor.
56

Figura 40: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 12. Fonte: Autor.

Figura 41: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 13. Fonte: Autor.
57

Figura 42: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 14. Fonte: Autor.

Figura 43: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 15. Fonte: Autor.
58

Figura 44: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 16. Fonte: Autor.

Figura 45: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 17. Fonte: Autor.
59

Figura 46: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 18. Fonte: Autor.

Figura 47: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 19. Fonte: Autor.
60

Figura 48: Gráfico da relação do número de eventos e o tempo de recorrência em função da magnitude local para
o nível 20. Fonte: Autor.

Os valores dos coeficientes b obtidos para cada nível estão apresentados na Tabela 2.
Os níveis 11, 14, 15, 16, 17, e 18 apresentaram a constante b maior do que -1,0, o que aponta
mecanismo dos eventos por deslocamento ao longo de descontinuidades preexistentes
(HUDYMA; POTVIN, 2010). Isso é possível pelo fato de que as famílias de foliação S1, S2 e
S3 além de eixos de dobras e algumas regiões com fraturas mais, estão presentes nesses
níveis. Contudo, assim como afirmam os mesmos autores, Hudyma & Povin (2010), fontes
sísmicas relacionadas ao movimento ao longo de falhas ou estruturas geológicas preexistentes
estão associadas a eventos de maior potencial de danos e com maiores magnitudes, sendo o
coeficiente b uma maneira de analisar, também, o risco associado a determinada fonte. Nesse
sentido, dentre os níveis que tiveram o coeficiente b maior do que -1, apenas o nível 11 teve
eventos com magnitude acima de 0, totalizando 5 eventos que ocorreram fora dos horários de
detonação o que também poderia evidenciar a participação de estruturas geológicas
preexistentes nos eventos.
61

Tabela 2: Coeficiente b da relação Frequência-Magnitude para cada nível. Fonte: Autor.

Nível Coeficiente b Mecanismo da fonte segundo Hudyma (2008)


8 -1,1 Induzido por tensão
9 -1,2 Induzido por tensão
10 -1,0 Induzido por tensão
11 -0,7 Desclocamento de estrutura geólogica
12 -1,0 Induzido por tensão
13 -1,0 Induzido por tensão
14 -0,9 Desclocamento de estrutura geólogica
15 -0,9 Desclocamento de estrutura geólogica
16 -0,8 Desclocamento de estrutura geólogica
17 -0,6 Desclocamento de estrutura geólogica
18 -0,9 Desclocamento de estrutura geólogica
19 -1,3 Induzido por tensão
20 -1,2 Induzido por tensão

5.1.4 Distribuição da magnitude no tempo

Assim como os parâmetros e gráficos discutidos anteriormente, a distribuição da


magnitude ao longo do tempo também foi gerada para todos os níveis estudados. No intuito
de verificar a relação entre os períodos de detonação e a quantidade de eventos, assim como a
sua magnitude, os períodos com detonações de lavra foram destacados de preto e os períodos
com detonações de desenvolvimento foram destacados de cinza, nos gráficos das Figuras 49 à
61.

Os resultados obtidos para os níveis 8, 9 e 10 mostraram uma alta correlação entre os


eventos sísmicos captados para esses níveis e as desmontes de lavra, o que não ocorreu para
as detonações de desenvolvimento presentes durante maiores períodos, mas não evidenciaram
relação direta com as datas de maior atividade sísmica. Esse fato é justificável pois as
detonações de lavra ocorrem nos subníveis de produção que estão associados a BIF, que
possui maior competência e maior módulo de elasticidade, portanto, uma litologia mais
propensa a ocorrência de sismos. Além disso, as detonações de lavra são responsáveis por
criarem maiores vãos e, assim, causarem maiores perturbações no estado de tensões ao redor
das escavações.

É comum a ocorrência de estalidos após os fogos de desenvolvimento dentro da BIF,


até que o maciço se acomode, nos níveis mais profundos da mina Cuiabá. Dessa forma, como
os fogos de desenvolvimento não foram divididos entre detonações na BIF e nas encaixantes,
62

compostas em sua maioria, principalmente de xistos, que possuem menor módulo de


elasticidade e, assim, dissipam mais energia por se deformarem consideravelmente mais, é
plausível que períodos com apenas detonações de desenvolvimento não apresentem
sismicidade elevada.

Figura 49: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N8. Fonte: Autor.

Figura 50: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N9. Fonte: Autor.
63

Figura 51: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N10. Fonte: Autor.

O nível 11 apresentou baixa sismicidade até o início do mês de julho de 2020, quando
há um adensamento de eventos (Figura 52). No mês de julho ocorreram 3 eventos de
magnitude acima de 0, de 0,2 (10/07), 0,4 (18/07) e 0,3 (27/07). No mês de agosto ocorreram
mais dois grandes eventos, 0,3 (11/08) e 0,3 (17/08). Contudo, não foram verificadas
detonações contínuas de lavra durante os dois últimos meses de análise. E nos dias em que
ocorreram os eventos de magnitude 0,4 e 0,3 em julho, não houve detonação de lavra e nem
de desenvolvimento no nível 11.
64

Figura 52: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N11. Fonte: Autor.

Ao analisar a localização da concentração de eventos do N11 a partir do mês de julho


de 2020, foi constatado a sua possível relação com uma lavra realizada entre os níveis 12 e 13.
A lavra do bloco, destacado de amarelo, ocorreu no período de julho a agosto de 2020, assim
como os eventos com os hipocentros representados na imagem da Figura 53. Sendo assim, é
possível que a lavra do bloco, em região de pilar, possa ter causado um distúrbio no ambiente
de tensões e afetado a região do N11, ativando-a sismicamente. Além disso, as regiões da
lavra e da ocorrência dos eventos estão conectadas por eixos de dobra (mostrados de preto na
Figura 53), que podem representar uma direção de propagação preferencial de ondas, devido a
sua maior rigidez, além de ser uma região de contato geológico propensa ao deslocamento e,
consequentemente, liberação de energia através de sismos. Há, portanto, o indício da presença
de fonte sísmica relacionada a estrutura geológica, assim como apontou o gráfico da relação
de frequência e magnitude com um coeficiente b = -0,7 para o nível 11.
65

Figura 53: Hipocentro de eventos ocorridos no N11 e próximos aos eixos de dobra (preto) conectados com região
de lavra do N13. Fonte: Autor.

Como mostram as Figuras 54 e 55, os níveis 12 e 13 apresentaram eventos sísmicos


durante todo o período, e como foi comentado anteriormente, juntamente com o nível 19,
foram os níveis que apresentaram a maior atividade sísmica durante o período de estudo. O
nível 12 teve detonações de desenvolvimento praticamente durante todo o ano e alguns
períodos com focos de detonação de lavra. Justamente durante esses períodos, houve uma
maior atividade sísmica associada. Já o nível 13, além de detonações de desenvolvimento
durante todos os 12 meses, também apresentou detonações de lavra mais constantes. Isso
refletiu na atividade sísmica, apresentando também eventos durante os 12 meses. Contudo,
observa-se que a partir do dia 13 de fevereiro, há um pico no número de eventos e poucos dias
depois, no dia 23 de fevereiro, há o pico de eventos destacados na seção 5.2.1, que esteve
associado ao provável rompimento de pilar. Após esses dias, a taxa do número de eventos se
mantém aproximadamente constante, mas superior a tendência que havia previamente aos
picos de eventos em fevereiro de 2020.
66

Figura 54: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N12. Fonte: Autor.

Figura 55: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N13. Fonte: Autor.

O nível 14 apresentou detonações de desenvolvimento durante todo o ano de análise e


alguns períodos com detonações de lavra (Figura 56). Todavia, a atividade sísmica se manteve
constante e sem grandes variações exceto próximo a abril de 2020, quando há o maior período
de detonações e um discreto aumento na taxa de eventos.
67

Figura 56: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N14. Fonte: Autor.

Os níveis 15, 16 e 17 apresentaram baixíssima atividade de lavra, nenhuma detonação


de nos níveis 15 e 16, e poucas detonações no nível 17 (Figuras 57 à 59). Em relação ao
desenvolvimento, apenas um dia de detonação no N15, detonações contínuas somente até
meados de outubro no N16, e períodos mais longos no N17. Entretanto, esses níveis
apresentaram sismicidade constante no período de análise. Apesar de não serem verificados
grandes eventos (m>0,0), a não correlação direta com as detonações nesses níveis indica a
possibilidade da existência de zonas sísmicas ativas nessas regiões, o que também foi
apontado pelos coeficientes b da relação frequência e magnitude, de -0,9, -0,8 e -0,6 para os
níveis 15, 16 e 17, respectivamente.
68

Figura 57: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N15. Fonte: Autor.

Figura 58: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N16. Fonte: Autor.
69

Figura 59: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N17. Fonte: Autor.

A Figura 60 mostra uma região com concentração de eventos sísmicos próximos aos
eixos de dobra, destacados de preto, e uma falha, em cinza, em uma antiga região de lavra do
nível 15. Há, portanto, a possibilidade desses eventos estarem associados a essas estruturas e
evidenciarem os indícios encontrados nos gráficos de magnitude.

Figura 60: Hipocentro de eventos ocorridos próximos aos eixos de dobra (preto) e falha (cinza) mapeada em
antiga região de lavra do N15. Fonte: Autor.

A Figura 61 apresenta uma imagem com agrupamento de eventos em uma região de


pilar entre os níveis 16 e 17. Mesmo sem detonações constantes nesses níveis durante o
período de análise, é observado que esta é uma região sismicamente ativa e que se encontra
muito próxima a dois eixos de dobra, destacados de preto (Figura 61). Acredita-se que
detonações ocorridas em outros níveis, mas que estejam interconectadas por esses eixos,
70

sejam responsáveis por mobilizar essas estruturas e ocasionar o deslocamento no contato


geológico dessas regiões.

Figura 61: Hipocentro de eventos ocorridos próximos aos eixos de dobra (preto) em região de pilar entre os níveis
16 e 17. Fonte: Autor.

O nível 18 apresentou detonações de desenvolvimento durante quase todo o período


analisado e alguns momentos com detonações de lavra (Figura 62). A sismicidade manteve-se
constante durante quase todo o ano. Não se verifica a relação direta entre detonações e
sismicidade, mas como os fogos de desenvolvimento ocorreram durante a maior parte dos
meses, essa hipótese não pode ser descartada.

Figura 62: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N18. Fonte: Autor.
71

Por fim, os Níveis 19 e 20 apresentaram tendências similares (Figuras 63 e 64). Com a


ampliação do monitoramento abaixo do nível 17 até o nível 19, em março de 2020, houve um
aumento considerável na taxa de eventos sísmicos em ambos os níveis a partir desse período,
o que pode estar relacionado ao aumento da sensibilidade e acurácia do monitoramento nessas
regiões. Além disso, detonações de desenvolvimento ocorreram durante quase todo ano para
ambos os níveis e, nesses casos, representam as regiões da mina em que mais há a ocorrência
e relatos de estalidos, devido a acomodação do maciço rochoso após as detonações.

Figura 63: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N19. Fonte: Autor.
72

Figura 64: Gráfico de distribuição da magnitude local no tempo para o N20. Fonte: Autor.
73

6 CONCLUSÃO

O presente trabalho buscou caracterizar de forma indireta os mecanismos da fonte dos


eventos sísmicos ocorridos na mina Cuiabá. Apesar da limitação da metodologia aplicada,
associada ao agrupamento de diferentes fontes sísmicas na análise por níveis, os parâmetros e
gráficos estudados permitiram alguns apontamentos quanto a esses mecanismos.

A análise da distribuição de eventos ao longo do dia mostrou que a tendência geral da


mina é de acúmulo de eventos nos horários de detonação, o que indica a predominância de
mecanismos de ruptura por redistribuição de tensão induzidas por escavações. Ao analisar os
níveis separadamente, foi verificada uma tendência similar para todos os níveis com ressalvas
para os níveis 8, 12 e 13. O nível 8 apresentou baixa quantidade de eventos, o nível 12 não
apresentou o pico de eventos da manhã (7h às 8h) e o nível 13 obteve um pico de eventos às
12h, provavelmente associado a ruptura em sill pillar entre os níveis 12 e 13.

Os gráficos das porcentagens acumuladas em função da razão da energia Es/Ep


também indicaram que a grande maioria dos eventos ocorridos na mina estão relacionados à
redistribuição de tensão, tomando como base o limite de 10 para essa razão referenciado no
trabalho apresentado por Hudyma (2008). Todos os níveis tiveram 80% ou mais dos eventos
com essa razão menor do que 10 exceto o nível 14, que apresentou 70% dos eventos abaixo
desse limite.

Os gráficos de frequência de magnitude resultaram em coeficiente b de -1,0


considerando todos os dados, o que indicou qualidade do monitoramento realizado na
operação (HUDYMA; POTVIN, 2010), e os níveis com o coeficiente b maior do que -1,0
foram: 11, 14, 15, 16, 17, e 18. Há, portanto, o indício de uma maior possibilidade de fontes
sísmicas associadas ao escorregamento ao longo de descontinuidades geológicas preexistentes
nesses níveis. Hipótese que foi reforçada pelos gráficos de distribuição de magnitude para os
níveis 11, 15, 16 e 17, que não apresentaram correlações explicitas entre a atividade sísmica e
os períodos de detonação. Além disso, a análise de algumas concentrações de eventos
ocorridos nesses níveis, indicou uma possível associação com eixos de dobra, que podem
conectar lavras ocorridas em outros níveis ao local de adensamento de eventos, caracterizando
uma região de contato geológico, a qual pode ser ativada sismicamente pela variação de
tensão ou influência direta das detonações.
74

Por fim, conclui-se que, apesar das limitações da metodologia aplicada, a sismicidade
da mina Cuiabá está principalmente associada à redistribuição de tensões ao redor de
escavações de lavra e desenvolvimento. Contudo, os níveis 11, 15, 16 e 17, apresentaram
indicativo de outros mecanismos de fonte predominantes, após a análise dos gráficos de
magnitude e da localização dos hipocentros de alguns focos de eventos. Sugere-se como
trabalhos futuros, a realização de estudos mais detalhados em alguns desses níveis, com a
redução do tamanho dos agrupamentos realizados e a utilização de dados de mapeamento
estrutural e outras ferramentas disponíveis, para que a tendência macro obtida nesse trabalho
seja verificada em menor escala.
75

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77

8 ANEXOS

Figura 65: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N9. Fonte: Autor.

Figura 66: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N10. Fonte: Autor.
78

Figura 67: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N11. Fonte: Autor.

Figura 68: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N14. Fonte: Autor.
79

Figura 69: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N15. Fonte: Autor.

Figura 70: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N1. Fonte: Autor.
80

Figura 71: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N17. Fonte: Autor.

Figura 72: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N18. Fonte: Autor.
81

Figura 73: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N19. Fonte: Autor.

Figura 74: Distribuição do número de eventos ao longo das horas do dia por intervalos de magnitude local para
os eventos sísmicos do N20. Fonte: Autor.
82

Figura 75: Porcentagem acumulada da razão Es/Ep para os níveis 8, 9, 10, 11, 12 e 13. Fonte: Autor.
83

Figura 76: Porcentagem acumulada da razão Es/Ep para os níveis 15, 16, 17, 18, 19 e 20. Fonte: Autor.

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