NUTRIÇÃO ALIMENTAR
GUARULHOS – SP
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 6
3.1 Alimentação.............................................................................................................. 12
2
9 FATORES INTRÍNSECOS QUE AFETAM A BIODISPONIBILIDADE DE
NUTRIENTES........ ........................................................................................................ 36
11.4 Fitatos..................................................................................................................... 41
18 NUTRIÇÃO E EXERCÍCIO........................................................................................ 61
19.4 Vitaminas................................................................................................................ 71
4
19.5.5 Os alimentos e a oferta de vitaminas e minerais ................................................. 78
5
1 INTRODUÇÃO
Bons estudos!
6
2 NUTRIÇÃO, NUTRIENTES E ALIMENTAÇÃO EQUILIBRADA
2.1 Nutrição
No início do século XX, a ciência da nutrição tinha seu foco na descoberta dos
nutrientes essenciais, estudando os efeitos da ingestão insuficiente e determinando as
quantidades necessárias para prevenir essas deficiências. Desde então, foi evoluindo
gradualmente e reconhecendo que a “boa” nutrição não é simplesmente uma questão de
fornecer ao corpo quantidades suficientes de todos os nutrientes. Atualmente, percebe-
se que a dieta ocidental, embora contenha todos os nutrientes em quantidades
adequadas, está provavelmente contribuindo para o crescimento do número de doenças
crônicas não transmissíveis (DCNTs). Muitas pesquisas têm se concentrado em
descobrir quais nutrientes estão ligados a quais doenças, em um esforço para propor
mudanças nos padrões de ingestão alimentar e, assim, promover a melhoria da saúde
popular. A par disto, vamos pensar sobre o conceito de nutrição, observando que pode
ser entendida tanto como ciência quanto como processo fisiológico. Vamos a três
exemplos de definições (BARASI, 2003; MANN; TRUSWELL, 2011):
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• “Nutrição é o estudo de alimentos e nutrientes vitais para a saúde e da forma
como o corpo os usa para promover o crescimento, a manutenção e a reprodução de
células, além das reações causadas pelos alimentos e seus respectivos nutrientes dentro
do organismo.” — Nessa definição, o alcance da nutrição estende-se a qualquer efeito
que os alimentos possam produzir nas funções humanas (saúde e desenvolvimento,
resistência a infecções, estado mental e desempenho atlético). Há interação crescente
entre a ciência da nutrição e a biologia molecular, o que pode ajudar a explicar as ações
dos componentes da alimentação em nível celular e a diversidade das respostas
bioquímicas do corpo humano (ANNA, 2018).
• “Nutrição é o estudo da relação entre as pessoas e os alimentos.” — Essa
definição observa desde os fatores que influenciam as escolhas alimentares de uma
pessoa até os efeitos fisiológicos e bioquímicos no organismo e suas consequências para
a saúde e para a sobrevivência. Procura entender porque as pessoas mantêm certos
hábitos alimentares, mesmo quando alertadas de que eles podem não ser saudáveis.
Desse modo, o estudo dos hábitos alimentares se relaciona com ciências sociais como a
psicologia, a antropologia, a sociologia e a economia, entre outras (ANNA, 2018).
• “Nutrição é a soma dos processos pelos quais os organismos vivos captam e
transformam as diversas substâncias.” — Essas substâncias são os alimentos e
nutrientes necessários ao crescimento, ao desenvolvimento e ao funcionamento normal
do organismo (ANNA, 2018).
A partir dessas propostas de definição, podemos dizer que a nutrição visa aplicar
o conhecimento nutricional com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar. Os
nutricionistas orientam as pessoas sobre como modificar o que comem para manter ou
recuperar a saúde ideal e participam do tratamento das doenças (ANNA, 2018).
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1. A alimentação (ou fornecimento da matéria), que compreende desde o instante
em que se escolhe um alimento até o momento em que este é absorvido pelas vilosidades
intestinais.
2. O metabolismo ou (retroca de matéria e energia), que começa quando os
nutrientes são absorvidos e vai até o momento em que o organismo os utiliza como fonte
de energia, para processos materiais construtores das células ou para depositá-los, na
forma de reservas.
3. A excreção, que consiste na eliminação da parte do alimento não utilizada pelo
organismo. Essa eliminação é efetuada pelo tubo digestivo, pelos rins e pelos pulmões
(DOVERA, 2007).
2.3 Nutrientes
Os alimentos, quando ingeridos por uma pessoa, não estão em uma forma que
o organismo possa utilizar de imediato. Ou seja, o corpo não aproveita o alimento em si,
mas os nutrientes que ele contém. Para que isso ocorra, é necessário o processo de
digestão dos alimentos. O trato gastrointestinal, também chamado de trato digestório e
canal alimentar, é um tubo oco que se estende da cavidade bucal ao ânus e altera a
forma e o tamanho dos alimentos que são ingeridos. Suas estruturas incluem as descritas
a seguir (ANNA, 2018).
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e o íleo. O peristaltismo também ocorre nesse órgão, movimentando a comida e
misturando-a com as secreções digestivas do pâncreas e do fígado.
• Intestino grosso (cólon) — é formado pelo ceco, colo (ascendente, transverso,
descendente e sigmoide), reto e ânus. Neste órgão, as fezes, ou resíduos que sobraram
do processo digestivo, passam através do cólon por meio do peristaltismo, primeiro em
estado líquido e, finalmente, em forma sólida. Também ocorre a síntese de determinadas
vitaminas pelas bactérias intestinais e, finalmente, a eliminação de resíduos do corpo
através da defecação.
11
3.1 Alimentação
12
digestivo para a ingestão de alimentos. Quando uma pessoa começa a se alimentar, a
comida estimula os sentidos do paladar e do tato (por meio da textura e consistência da
comida). A presença de alimentos no organismo, por sua vez, libera uma séria de
hormônios que vão trazer a sensação de saciedade e avisar o indivíduo que o estômago
está cheio. Esses hormônios são a colecistocinina (CCK), o neuropeptídeo Y, a grelina e
a leptina (MAHAN; ESCOTT-STUMP, RAYMOND, 2013).
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Consumindo esses grupos de alimentos de modo equilibrado, o indivíduo receberá
não somente os macronutrientes, mas também os micronutrientes, fibras e água
necessários à sua saúde (ANNA, 2018).
Em relação à quantidade de calorias necessárias, é importante verificar que cada
pessoa tem níveis diferentes de necessidade, de acordo com vários fatores, como idade,
sexo, altura, peso, estado fisiológico ou patológico e prática de atividade física. Os
homens geralmente precisam de mais calorias do que as mulheres. Pessoas que se
exercitam precisam de mais calorias do que as sedentárias (ANNA, 2018).
Os seguintes exemplos de ingestão diária de calorias são baseados nas diretrizes
do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (UNITED STATES DEPARTMENT
OF AGRICULTURE, 2016):
Como pode ser visto, esses são exemplos bem genéricos de recomendação
energética, ou seja, apenas estimativas. O cálculo de um plano alimentar individualizado
deve ser feito por nutricionistas, utilizando fórmulas específicas, de acordo as variáveis
já citadas (sexo, idade, peso, estatura e prática de atividade física).
• Lei da Quantidade — afirma que a quantidade dos alimentos deve ser suficiente
para satisfazer as necessidades energéticas e nutricionais do organismo e mantê-lo em
equilíbrio. Se os alimentos não fornecem energia suficiente, o organismo mobilizará
energia de reserva, produzindo-se um balanço negativo (entrada menor que a saída),
condição que provoca o emagrecimento. Se os alimentos fornecerem energia em
excesso, será produzido um balanço positivo e o indivíduo ganhará peso. Tanto o
excesso quanto a falta serão prejudiciais ao organismo, pois cada indivíduo necessita de
quantidades específicas de carboidratos, proteínas, gorduras, fibras, vitaminas, minerais
e de água para manter suas funções orgânicas e atividades diárias. Isto depende do
sexo, da idade, do estado fisiológico e da atividade física. A dieta que cumpre essa lei
denomina-se dieta suficiente.
• Lei da Qualidade — afirma que os alimentos de todos os grupos devem ser
consumidos, ou seja, o regime alimentar deve ser completo; não pode omitir nenhum
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nutriente, pois a falta de algum deles produz efeitos nocivos. Por isso, não se pode
prescrever uma dieta unilateral, de frutas, leite, vegetais, etc., pois essas não provêm
todos os nutrientes indispensáveis. Quando uma alimentação não fornece um ou mais
nutrientes necessários ou o faz em quantidades abaixo do mínimo aconselhado,
denomina-se dieta incompleta.
• Lei da Harmonia — destaca a necessidade de manter uma relação adequada
entre as distribuições de nutrientes ingeridos, ou seja, não basta que a alimentação
contenha todos os nutrientes indispensáveis. Estes devem guardar certas proporções
para que o organismo os utilize convenientemente e sem provocar alterações. A dieta
que cumpre essa lei denomina-se dieta harmônica.
• Lei da Adequação — consiste em adaptar a dieta às necessidades nutricionais,
sociais e psicológicas dos indivíduos, ou seja, é necessário primeiramente ter consciência
da finalidade para prescrever um regime alimentar. Para uma pessoa sadia, a finalidade
é conservar a saúde. Para o doente, curar a doença e recuperar a saúde. Para a criança,
assegurar o crescimento e o desenvolvimento. Igualmente, a alimentação deve adequar-
se aos hábitos individuais; à situação socioeconômica do indivíduo; ao aparelho digestivo
e a órgãos ou sistemas eventualmente alterados. A dieta que cumpre essa lei denomina-
se dieta adequada (DOVERA, 2007; CHÁVEZ-BOSQUEZ; POZOS-PARRA, 2016).
5 QUALIDADE DE VIDA
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consumidos com orientação profissional, para evitar a ingestão excessiva, que também
pode ser prejudicial ao organismo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (HEALTHY..., 2018, documento
on-line) algumas recomendações para se manter uma alimentação equilibrada e obter
seus benefícios são as listas a seguir.
21
que uma alimentação saudável é adaptável, visto que qualquer padrão alimentar pode
ser ajustado às preferências pessoais e socioculturais do indivíduo (ANNA, 2018).
Os profissionais de saúde, principalmente enfermeiros e nutricionistas, podem
interagir com as pessoas para que essas adaptem suas escolhas e desenvolvam uma
alimentação saudável considerando suas preferências culturais, étnicas, tradicionais e
pessoais, bem como questões financeiras e de acesso ao alimento. É mais provável que
uma alimentação saudável, aconselhada visando esses fatores, seja motivadora, aceita
e mantida ao longo do tempo, com o potencial de levar a mudanças significativas na
ingestão alimentar e, consequentemente, melhorar a saúde (ANNA, 2018).
6 BIODISPONIBILIDADE DE NUTRIENTES
22
6.1 Conceitos básicos
O termo biodisponibilidade de nutrientes foi definido pela primeira vez nos Estados
Unidos pela Food and Drug Administration (FDA) como uma maneira de compreender a
proporção em que as substâncias consideradas ativas são absorvidas, tornando-se
disponíveis no sítio de ação do órgão-alvo. Também se desejava verificar a forma
química, o tamanho e quanto era absorvido, além de sua disponibilidade no organismo.
Após a década de 1980, o termo biodisponibilidade passou a ser usado também na área
da Farmácia. Passou a integrar a Nutrição, uma vez que, por meio dela, compreende-se
que a ingestão de um alimento não garante sua utilização, e que alguns fatores podem
interferir diretamente na absorção e utilização dos nutrientes pelo organismo, conforme
Cozzolino (2009). Podem exercer interferência no processo de utilização desses
nutrientes fatores como sexo, idade, estado fisiológico e nutricional, além da matriz
alimentar em que os nutrientes estão inseridos, a interação entre nutrientes e condições
de preparo, entre outros fatores.
Entendido como um conceito-chave, o termo biodisponibilidade corresponde a
uma fração de um determinado nutriente que, após ser consumida, digerida e absorvida,
torna-se disponível para encontrar o órgão-alvo e desempenhar suas funções no
organismo humano, conforme Mota et al. (2015). Portanto, o termo biodisponibilidade
significa “[...] grau de absorção de um nutriente ingerido e o quanto ele está disponível
para ser usado pelo corpo”, como resumido por Wardlaw (2013, p. 331). A
biodisponibilidade visa a descrever os efeitos de uma sequência de eventos metabólicos,
incluindo digestão, solubilização, absorção, liberação, transformações enzimáticas,
secreção e excreção na utilização de nutrientes, conforme Schönfeldt, Pretorius e Hall
(2016).
Outros conceitos são importantes para a compreensão da biodisponibilidade:
23
• Bioacessibilidade: fração de nutriente que é liberada da matriz alimentar e está
disponível para absorção intestinal.
• Biodisponibilidade: fração de nutrientes ingeridos que está disponível para
utilização em funções fisiológicas normais e para armazenamento.
• Bioatividade: efeito de um determinado agente, como alimento, drogas ou
vacina, em um organismo vivo ou em tecido vivo.
• Alimentos excipientes: alimento projetado especificamente para aumentar a
biodisponibilidade de compostos bioativos.
• Fitoquímicos: produtos químicos de plantas não nutrientes que têm
propriedades protetoras ou preventivas de doenças em seres humanos. Há mais de mil
fitoquímicos conhecidos, conforme Chang (2018).
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Quando o alimento entra no estômago, o bolo alimentar vai encontrar um conjunto
de diferentes condições físico-químicas diferentes da cavidade oral. As secreções ácidas
produzidas pela mucosa gástrica e pelas enzimas digestivas, como a lipase gástrica ou
a pepsina, transformarão o bolo em um quimo, afetarão a estrutura dos alimentos e
modularão a taxa de esvaziamento gástrico. A taxa de esvaziamento gástrico depende
da carga calórica da refeição e da osmolaridade e das estruturas do quimo. A hidrólise
de macronutrientes é iniciada no estômago para proteínas e lipídios e na boca para
carboidratos, sendo concluída no intestino delgado, sob a ação de enzimas altamente
eficientes, como lipase pancreática, tripsina, quimiotripsina, elastase e A-amilase
pancreática. É também aí que ocorre a maior parte da absorção de nutrientes, devido à
estrutura do epitélio intestinal, que é coberto por vilosidades que aumentam a superfície
de absorção (VENTURI, 2018).
O epitélio intestinal libera uma grande quantidade de enzimas que ajudam a
completar a quebra de nutrientes antes de sua absorção. O epitélio também é coberto
por uma camada de muco, cujo efeito protetor contra bactérias patogênicas deriva da
presença de glicoproteínas, as mucinas, e também de grânulos de DNA gerados por
apoptose de células epiteliais. Os sais biliares facilitam a capacidade de uma partícula
alimentar passar por essa camada protetora (VENTURI, 2018).
Finalmente, constituintes não digeridos, em particular as fibras solúveis (pectina,
alginato, carragenina, etc.) e insolúveis (celulose, hemicelulose, lignina), atingirão o
intestino grosso, onde serão metabolizados pela microbiota intestinal. Todo o processo
digestivo é regulado por hormônios gastrointestinais, que podem retardar ou acelerar a
motilidade intestinal. Por exemplo, um excesso de triglicérides atingindo o íleo (parte
distal do intestino delgado) terminará na produção de peptídeos GLP1 e PYY, que
retardarão o esvaziamento gástrico, permitindo a melhor hidrólise e a absorção de
lipídios. Sensores são visivelmente encontrados ao longo de todo o trato gastrointestinal
(especialmente no duodeno), onde são capazes de ligar peptídeos dietéticos, ácidos
graxos livres e micronutrientes para regular o processo, conforme Dupont et al. (2018).
Macronutrientes, como lipídios, carboidratos e proteínas, têm sido utilizados para
aumentar a biodisponibilidade de compostos bioativos. Tem sido demonstrado que esses
macronutrientes influenciam na biodisponibilidade de fitoquímicos de várias fontes.
28
Carboidratos, sejam eles açúcares simples ou polissacarídeos, podem afetar a
biodisponibilidade de compostos bioativos por numerosos mecanismos. Por exemplo, os
polissacarídeos podem afetar o processo de digestão e absorção de lipídios em todo o
trato gastrointestinal, impedindo a interação de enzimas, como a lipase; assim, a taxa de
digestão lipídica é afetada. Os lipídios incorporados em hidrogéis à base de amido
proporcionam maior biodisponibilidade de b-caroteno, com maior taxa de digestão
lipídica. Possivelmente isso acontece porque o amido é capaz de prevenir a formação
dos agregados de moléculas lipídicas no trato gastrointestinal, aumentando a
acessibilidade da lipase (VENTURI, 2018).
Proteínas e peptídeos possuem capacidade antioxidante, o que pode impedir a
degradação de fitoquímicos no trato gastrointestinal. Como exemplos, as antocianinas do
mirtilo ligadas a proteínas têm uma melhor taxa de absorção, enquanto a presença de
proteína láctea, a lactoferrina, reduz a biodisponibilidade do b-caroteno. Alguns
compostos fitoquímicos, como quercetina, curcumina, piperina e algumas catequinas,
têm sua biodisponibilidade aumentada quando consumidos na presença de proteínas,
pois esses fitoquímicos interagem com os transportadores nas membranas celulares do
epitélio e podem afetar potencialmente a biodisponibilidade de compostos bioativos
(VENTURI, 2018).
O cálcio desempenha um papel importante na digestão da gordura do leite. No
sistema digestivo, o cálcio aumenta a lipólise, a liberação de ácidos graxos de
triacilgliceróis, mas também limita a absorção de ácidos graxos saturados. Estudos
realizados in vitro com queijos demonstraram que diferentes estruturas de queijo levam
a comportamentos diferentes durante a digestão, demonstrando o potencial papel da
matriz de queijo como um modulador de liberação de lipídios. Queijos do tipo cheddar,
com diferentes níveis de cálcio e diferentes tipos de gorduras lácteas (com diferentes
teores de ácidos graxos de cadeia longa), tiveram seu perfil de bioacessibilidade lipídica
observado durante um modelo de digestão no trato gastrointestinal simulado in vitro,
conforme Chang (2018).
29
7 FATORES QUE AFETAM A BIODISPONIBILIDADE DOS NUTRIENTES
8.1 Especiação
32
Quadro 1. Exemplos de nutrientes para os quais a biodisponibilidade é afetada pela sua forma
química
33
da enzima biotinidase para realizar hidrólise e liberar o composto antes da absorção. No
caso das vitaminas lipossolúveis, o grau de absorção é determinado pela sua estrutura
química e polaridade, conforme Jaworski e Fabisiak (2018).
Em relação às proteínas, vê-se que as mesmas são extremamente sensíveis ao
calor, ao pH e aos processos mecânicos. O aquecimento do leite pode afetar a estrutura
da β-lactoglobulina, aumentando a taxa de digestão pelas enzimas tripsina e
quimiotripsina a 37°C. No entanto, a digestão é reduzida após o aquecimento a 78°C. A
proteína do leite que sofre esterilização (no caso de leites que passam pelo processo
U.H.T.) tem maior resistência à digestão do trato gastrintestinal em relação ao leite não
aquecido, devido à agregação proteica induzida pelo calor no leite, com a formação de
agregados solúveis ligados a micelas. O aquecimento a 100°C pode modificar a estrutura
primária de proteínas por isomerização e destruição de aminoácidos (arginina, cisteína,
isoleucina, lisina, treonina), conforme Chang (2018).
34
O primeiro passo para tornar um nutriente biodisponível é liberá-lo da matriz
alimentar e transformá-lo em uma forma química que pode se ligar e entrar nas células
do intestino ou passar entre elas. Isso é chamado de bioacessibilidade. Os nutrientes se
tornam bioacessíveis pelos processos de mastigação e digestão enzimática inicial dos
alimentos na boca, misturando-se com ácido e outras enzimas no suco gástrico após a
deglutição e, finalmente, sendo liberados no organismo no intestino delgado, o principal
local de absorção de nutrientes. Nesse local, com a ação das enzimas fornecidas pelo
suco pancreático, continuam quebrando a matriz alimentar (THE EUROPEAN FOOD
INFORMATION COUNCIL, 2010).
A matriz alimentar provavelmente tem o maior efeito sobre a absorção de
carotenoides e folatos. Ambos os micronutrientes podem ser aprisionados na matriz
insolúvel ou na estrutura celular de determinados alimentos vegetais, reduzindo sua
biodisponibilidade, conforme Gibson (2007).
35
9 FATORES INTRÍNSECOS QUE AFETAM A BIODISPONIBILIDADE DE
NUTRIENTES
36
de inadequação de folato, bem como problemas neurológicos e psiquiátricos associados,
conforme aponta Matthews (2018).
• idade;
• estado de saúde geral e estado do trato gastrointestinal: taxa de esvaziamento
gástrico, estado de motilidade, hora do dia e estilo de vida;
• presença de doença aguda ou crônica do indivíduo (por exemplo, insuficiência
hepática e função renal comprometida);
• gravidez;
• presença de doenças: unidade de cuidados intensivos, queimaduras, câncer,
HIV;
• estado pós-operatório: recuperação ativa da intervenção cirúrgica e estágio de
cicatrização;
• uso de fumo ou álcool.
10.1 Interações
11.1 Taninos
39
11.2 Nitratos e nitritos
11.3 Oxalatos
O oxalato é um sal formado a partir de ácido oxálico, como o oxalato de cálcio, que
tem sido pesquisado por ser amplamente distribuído em plantas e por formar ligações
com minerais, como cálcio, magnésio, sódio e potássio. Essa combinação química
resulta na formação de sais de oxalato, e a elevada quantidade desse composto na urina
aumenta o risco de formação de cálculos renais de oxalato de cálcio, pois o mesmo é
pouco solúvel na urina, podendo também causar irritações na mucosa intestinal. Cerca
de 75% de todos os cálculos renais são compostos, principalmente, de oxalato de cálcio.
Portanto, a restrição da ingestão desse antinutriente na dieta previne a nefrolitíase
recorrente em alguns pacientes, conforme Gemede e Ratta (2014).
As principais fontes de oxalato são o espinafre, a beterraba, o cacau e o farelo de
trigo. Uma das maneiras de se inativar os oxalatos é por meio do cozimento, que reduz
significativamente esse composto e pode ser uma estratégia eficaz para diminuir a
oxalúria em indivíduos com predisposição para o desenvolvimento de cálculos nos rins.
40
A fervura dos alimentos fontes é melhor do que cozinhá-los ou assá-los, conforme
apontam Benevides et al. (2014).
11.4 Fitatos
42
neutrófilos estimulados, inibindo, assim, o crescimento do tumor, conforme Farzana
(2017).
Os inibidores de protease são amplamente distribuídos no reino vegetal, incluindo
as sementes da maioria das leguminosas, como soja in natura e nos cereais, de acordo
com Oliveira e Macedo (2011). Uma das maneiras de se inativar esses compostos é por
meio da cocção em meio úmido por tempo prolongado, em alta temperatura. A
fermentação desses alimentos também é uma das opções que ajudam a reduzir ou
eliminar esses compostos, conforme Benevides et al. (2014).
45
• substituição da dieta “tradicional” (com base no arroz com feijão) por alimentos
ultra processados (com alto conteúdo calórico e teores elevados de gorduras, sódio e
açúcar, além de baixo teor de micronutrientes);
• declínio do nível de atividade física, reforçado pela adesão de um padrão de dieta
rica em alimentos com alta densidade energética e baixa concentração de nutrientes;
• persistência das deficiências de ferro e vitamina A;
• desajuste do consumo de iodo por adultos, o que resulta do consumo excessivo
do sal de cozinha iodado (ORDONEZ, 2016).
47
A PNAN está organizada em diretrizes que abrangem o escopo da atenção
nutricional no SUS com foco em vigilância, promoção, prevenção e cuidado integral de
agravos relacionados à alimentação e nutrição. Tais atividades são integradas às demais
ações de saúde nas redes de atenção, tendo a atenção básica como ordenadora das
ações (ORDONEZ, 2016).
As diretrizes da PNAN são nove e integram a síntese das ações que compreendem
a política de alimentação e nutrição, indicando as linhas de ações para o alcance do seu
propósito. Tais diretrizes são descritas a seguir (ORDONEZ, 2016).
51
fatores representam uma necessidade estratégica para o enfrentamento dos agravos e
problemas decorrentes do atual quadro alimentar e nutricional brasileiro.
Os cursos de graduação e pós-graduação, em especial de Nutrição, devem
contemplar a formação de profissionais que atendam às necessidades sociais em
alimentação e nutrição e que estejam em sintonia com os princípios do SUS e da PNAN.
Os Centros Colaboradores de Alimentação e Nutrição – localizados em instituições
públicas de ensino e pesquisa e credenciados pelo Ministério da Saúde para o apoio ao
desenvolvimento de estratégias que aperfeiçoem as ações da PNAN – são parceiros
estratégicos para articular as necessidades do SUS com a formação e qualificação dos
profissionais de saúde para agenda de alimentação e nutrição.
7. Controle e Regulação dos Alimentos: a preocupação é ofertar alimento
saudável e com garantia de qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica à
população, como produto final de uma cadeia de processos, isto é, produção (incluindo
a agricultura tradicional e familiar), processamento, industrialização, comercialização,
abastecimento e distribuição. A responsabilidade é partilhada com diferentes setores de
governo e sociedade.
A atual complexidade da cadeia produtiva de alimentos coloca a sociedade
brasileira diante de novos riscos à saúde, como a presença de agrotóxicos, aditivos,
contaminantes, organismos geneticamente modificados e inadequação do perfil
nutricional dos alimentos. A PNAN e o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária se
convergem na finalidade de promover e proteger a saúde da população na perspectiva
do direito humano à alimentação, por meio da normatização e do controle sanitário da
produção, comercialização e distribuição de alimentos.
8. Pesquisa, inovação e conhecimento em alimentação e nutrição: O
desenvolvimento do conhecimento e o apoio à pesquisa, à inovação e à tecnologia, no
campo da alimentação e nutrição em saúde coletiva, possibilitam a geração de evidências
e instrumentos necessários para implementação da PNAN.
9. Cooperação e articulação para a segurança alimentar e nutricional: a
garantia da SAN para a população, assim como a garantia do direito à saúde, não
depende exclusivamente do setor da saúde, mas este tem papel essencial no processo
de articulação intersetorial. A articulação e cooperação entre o SUS e o SISAN
52
proporciona o fortalecimento das ações de alimentação e nutrição na rede de atenção à
saúde, com vistas ao enfrentamento da insegurança alimentar e nutricional e dos agravos
em saúde, na ótica de seus determinantes sociais.
54
O comportamento alimentar engloba métodos, reações e maneiras de proceder
que podem ser sumarizados como as ações que o indivíduo tece em relação ao ato de
se alimentar. Portanto, quando se objetiva mudança de comportamento, o profissional de
saúde tem o papel de identificar os comportamentos disfuncionais e habituais com o
objetivo de modificá-los por meio de estratégias de mudança (que podem ser ações de
educação alimentar e nutricional) e por meio da resolução de problemas (ROCKETT,
2016).
O termo consumo alimentar é um dos mais claros, pois diz respeito à ingestão de
alimentos, enquanto consumo nutricional é utilizado para definir a ingestão dos nutrientes
(energia, macro e micronutrientes). Embora o padrão alimentar seja definido por meio de
uma técnica estatística ou matemática e representa a combinação de características de
consumo de uma determinada população, muitas vezes é utilizado como sinônimo de
consumo alimentar (ROCKETT, 2016).
Por outro lado, ao usarmos o termo atitude alimentar, estamos nos referindo às
crenças, aos pensamentos, aos sentimentos e aos comportamentos relacionados com
os alimentos. E o hábito alimentar refere-se aos costumes e modos de comer de uma
pessoa ou comunidade, sendo geralmente inconsciente. A escolha alimentar é a forma
de seleção e consumo dos alimentos, que consideram aspectos do comportamento
alimentar. Por fim, a prática alimentar é a forma como as pessoas se relacionam com a
alimentação em diferentes esferas (ROCKETT, 2016).
Outro ponto importante a se considerar entre essas definições é de que as atitudes
são influenciadas por múltiplos fatores ambientais, sejam eles culturais, familiares,
sociais ou religiosos. Ainda, não podemos excluir os fatores pessoais internos, que
envolvem sentimentos, pensamento, crenças e tabus (ROCKETT, 2016).
Portanto, se queremos propor uma mudança de comportamento, é necessário ter
a compreensão de que o comportamento está relacionado a tudo que a pessoa conhece
e acredita sobre alimentação e nutrição. O alimento não está somente associado à
dimensão biológica que ele representa, mas sim a um contexto maior que engloba
aspectos culturais, sociais e afetivos, seja de um indivíduo ou de uma comunidade
(ROCKETT, 2016).
55
A educação alimentar e nutricional (EAN), visando à mudança de comportamento,
precisa focar no indivíduo, no comportamento e no contexto em que ele está inserido.
Essa combinação é a chave para o sucesso das ações de EAN. Por isso, é de suma
importância que o educador compreenda as forças que influenciam as decisões
individuais ou de uma comunidade nas suas escolhas alimentares: esses são os
determinantes do comportamento alimentar (ROCKETT, 2016).
Todo comportamento humano, seja ele qual for, envolve a interação de muitos
fatores. O hábito é uma das variáveis que mais se destacam no impulso e na
predisposição dos comportamentos. Hábitos são comportamentos que aprendemos e
repetimos com frequência, sem refletir ou pensar como executá-los. Muito do que
fazemos diariamente, executando uma série de tarefas, são hábitos, ou seja, buscando
economizar energia e otimizar nossa rotina, o nosso cérebro converte as atividades
rotineiras em hábitos (ROCKETT, 2016).
Portanto, os “hábitos alimentares” podem ser traduzidos como aqueles costumes
e modos de comer repetidos por um indivíduo ou comunidade, geralmente sem o ato de
pensar, ou seja, de modo inconsciente. Muitas vezes nem nos damos conta da existência
de um hábito e, para modificá-lo, será necessário tomar consciência desse fato. Muito se
fala de mudar hábito, quando na verdade se está falando em mudar de comportamento,
pois como poderíamos mudar algo que é inconsciente e automático (ROCKETT, 2016)?
60
18 NUTRIÇÃO E EXERCÍCIO
61
Segundo seus nutrientes, os alimentos podem ser classificados em (SISTO, 2019):
19.1 Carboidratos
63
anabólica, ou seja, disponibilizar ao organismo “blocos formadores” de material celular,
atuando na reparação e na formação de tecidos, especialmente o muscular (MUTTONI,
2016).
64
19.2.3 Necessidades proteicas para atletas
65
de peso para todos os tipos de exercício físico. Salienta-se aqui a importância da oferta
e distribuição racional de proteínas ao longo do dia e as fontes alimentares selecionadas,
não apenas a quantidade diária de proteínas (MUTTONI, 2016).
66
19.2.6 Consumo excessivo de proteínas
67
Quadro 3. A proteína como substrato energético
68
treinamentos, assim como das competições. Além disso, é necessário fazer a avaliação
detalhada do estado nutricional do esportista profissional. Especificamente quanto às
proteínas, a síntese proteica muscular aumenta em proporção à ingestão de aminoácidos
essenciais. Entretanto, existe uma quantidade máxima desses componentes que o
músculo consegue utilizar para a geração de novas proteínas. Assim, de nada adianta
consumir proteínas em quantidades elevadas objetivando maior “crescimento” muscular,
pois o excesso proteico supera a capacidade de digestão e absorção do organismo
(MUTTONI, 2016).
70
19.3 Lipídeos
19.4 Vitaminas
As vitaminas não são fontes de energia para os exercícios, mas têm participação
importante nos processos metabólicos, especialmente na regulação das reações
químicas de produção de energia, de síntese de substâncias e estruturas vitais (enzimas,
hormônios, etc.) e degradação de compostos, sendo classificadas como substâncias ou
71
compostos reguladores (UNESCO, 2013a). As vitaminas são classificadas em
lipossolúveis (solúveis em gordura) e hidrossolúveis (solúveis em água).
As vitaminas A, D, E e K são as lipossolúveis, enquanto as vitaminas do complexo
B e a vitamina C são hidrossolúveis. O metabolismo aeróbio é regulado pelas vitaminas
hidrossolúveis, como é o caso da atuação das vitaminas do complexo B como cofatores
(auxiliares) na mobilização e na utilização dos carboidratos nos processos oxidativos. As
vitaminas antioxidantes (vitaminas C, E e o betacaroteno) são fundamentais pelo papel
que desempenham como varredoras de radicais livres, que são responsáveis por
processos de destruição celular (TIRAPEGUI, 2000; WILLIAMS, 2004).
19.5 Minerais
72
19.5.1 Micronutrientes: vitaminas e minerais no exercício físico
73
19.5.2 Como os micronutrientes influenciam na prática esportiva?
• contração muscular;
• impulsos nervosos;
• batimentos cardíacos;
• transporte de oxigênio;
• fosforilação oxidativa;
• ativação enzimática;
• função imunológica;
• função antioxidante;
74
• saúde óssea; e equilíbrio acidobásico do sangue (MUTTONI, 2016).
75
vitaminas e minerais (até 1.000 vezes a ingestão diária recomendada [RDA]),
caracterizando o uso abusivo e indiscriminado (MUTTONI, 2016).
Ao falar de suplementação, é preciso que você considere a interação destes
nutrientes entre si, pois o consumo elevado de um pode interferir na biodisponibilidade
de outro. Assim, a necessidade de suplementação deve ser criteriosamente avaliada e
indicada por um profissional da área esportiva, para evitar possíveis impactos negativos
à performance esportiva e à condição de saúde dos praticantes de exercícios físicos
(MUTTONI, 2016).
77
proteínas. O desequilíbrio destes níveis pode trazer malefícios para a saúde e para o
rendimento esportivo.
• Sódio, cloro e potássio: estes minerais têm função primordial na homeostase
do organismo. Suas concentrações ideais evitam que quantidades muito elevadas de
água entrem ou saiam das células, evitando a desidratação ou o acúmulo. Estes
componentes também têm grande importância na condução de impulsos elétricos, que
são gerados e propagados pelo movimento controlado dos íons através das membranas
celulares. Durante a prática esportiva, ocorrem perdas consideráveis dos eletrólitos
sódio, cloro e potássio. A reposição, portanto, é fundamental, sendo através da
alimentação ou de bebidas isotônicas.
78
19.5.6 Recomendações de vitaminas e minerais na prática esportiva
79
inglês recommended dietary allowance) das DRIs quanto ao consumo de vitaminas e
minerais mais relacionados à prática de exercícios físicos (MUTTONI, 2016).
• Grupo dos feijões: inclui vários tipos de feijão e outros alimentos do grupo das
leguminosas, como ervilha, lentilha, grão-de-bico, soja e fava. Representam fontes de
vitaminas do complexo B, ferro, zinco e cálcio.
• Grupo dos cereais: abrange arroz, milho, trigo, aveia, centeio e todos os
derivados desses alimentos. São fontes de vitaminas do complexo B.
• Grupo das raízes e dos tubérculos: inclui mandioca, batatas, cará e inhame.
Tais alimentos representam fontes de potássio e vitamina A e C.
• Grupo dos legumes e das verduras: junto com as frutas, são excelentes fontes
de diversas vitaminas e minerais.
• Grupo das frutas: assim como as verduras e os legumes, as frutas são os
alimentos que representam as principais fontes de vitaminas e minerais.
80
• Grupo das castanhas e nozes: abrange os vários tipos de castanhas e nozes,
além de amêndoas, amendoim e avelã. São ótimas fontes de compostos antioxidantes,
como selênio, além de manganês e fósforo.
• Grupo do leite e dos queijos: inclui leite de vaca, coalhadas, iogurtes naturais
e queijos. São as principais fontes de cálcio e vitamina A, além de apresentarem boas
quantidades de vitaminas D e B2.
• Grupo das carnes e dos ovos: inclui as carnes de gado, porco, cabrito, cordeiro,
carnes de aves e de pescados e vísceras, além de ovos de galinha e de outras aves. São
fontes de ferro, zinco, vitaminas B12 e B6, niacina, biotina e cobre.
Uma alimentação saudável e adequada deve fazer parte da vida das pessoas que
buscam qualidade de vida, para prevenir doenças e garantir energia e vigor para as
atividades do dia a dia. As principais metas das pirâmides alimentares são (MUTTONI,
2017):
83
de quatro horas, suficiente para a ressíntese muscular completa (RODRIGUES et al.,
2009).
86
Quadro 5. Substratos energéticos utilizados pelas células musculares
87
22 ALIMENTOS FUNCIONAIS E AS PERSPECTIVAS DE INOVAÇÃO
Há mais de 2.500 anos, o grego Hipócrates, com sua famosa frase “Faça do seu
alimento seu medicamento”, já sugeria que o alimento tem propriedades terapêuticas.
Porém, a terminologia “alimento funcional” é mais recente, originária do Japão na década
de 1980. Em virtude do interesse em explorar as potencialidades dos alimentos em
prevenir algumas doenças, os alimentos funcionais se assemelhavam aos convencionais,
porém, além de suas características nutricionais já conhecidas, demonstravam algum
benefício fisiológico e/ou minimizavam o risco de doenças crônicas não transmissíveis
(DCNT) (GIUNTINI, 2018; SOUZA; MARTÍNEZ, 2017).
Ainda no Japão, em 1991, de maneira pioneira, foi definida a expressão FOSHU
(foods for specied health use) para regulamentar os alimentos para uso específico de
saúde. Aprovados pelo Ministério da Saúde e Previdência Social do Japão, esses
alimentos apresentam um selo em suas embalagens, por serem comprovadamente
capazes de produzir um efeito específico sobre a saúde pelo fato de conterem
determinados compostos bioativos (SOUZA; MARTÍNEZ, 2017; VIZZOTTO; KROLOW;
TEIXEIRA, 2010). Na Europa, entre os anos de 1998 e 1999, foi criado o Functional Food
Science in Europe — FUFOSE (Projeto Ciência dos Alimentos Funcionais na Europa),
88
que relacionou as alegações de alimentos funcionais a evidências científicas,
classificando as alegações em dois tipos: melhora da função e redução de risco. E, nos
Estados Unidos, foi a partir dos anos 1990 que os alimentos funcionais se tornaram mais
conhecidos pela criação do programa Designer Food Program (Programa de Alimentos
Projetados), que financiava pesquisas sobre os componentes fitoquímicos presentes nos
alimentos. Atualmente, os norte-americanos não dispõem de nenhuma legislação
específica para esses alimentos, porém a Food and Drug Admistration (FDA) orienta os
consumidores por meio das seguintes categorias de alegação (GIUNTINI, 2018; SOUZA;
MARTÍNEZ, 2017):
89
Não há um consenso mundial sobre o conceito de alimento funcional, pois cada
país tem uma regulamentação específica, com critérios para aprovação. Para os
europeus, por exemplo, é considerado alimento funcional apenas aquele consumido de
modo habitual na alimentação, excluindo aqueles consumidos em formas farmacêuticas,
como cápsulas ou comprimidos. Já para o International Life Sciences Institute of North
America (ILSI), um alimento funcional fornece benefícios à saúde, além de sua nutrição
básica, em decorrência de seus compostos bioativos. Nos Estados Unidos, não existe
reconhecimento legal para um alimento funcional, mas a American Dietetic Association
(ADA) inclui no rol de alimentos funcionais os alimentos fortificados e modificados, por
suas propriedades funcionais relativas às ações metabólicas ou fisiológicas promovidas
por alguma substância, com efeitos potencialmente benéficos para a saúde (GIUNTINI,
2018; CAÑAS; BRAIBANTE, 2019).
E, no Brasil, não há uma definição sobre a expressão “alimento funcional”, mas,
por meio da Resolução Anvisa/MS n.º 18, em 1999, definiu a alegação de propriedade
funcional, relacionada ao papel metabólico ou fisiológico que algum componente tem
sobre as funções normais do organismo, e a alegação de propriedade de saúde, que
implica a existência de uma relação entre o alimento ou algum componente com alguma
doença ou condição relacionada à saúde, sem alegar propriedades de cura ou prevenção
(BRASIL, 1999). Para entender um pouco melhor esses aspectos, veja o esquema
apresentado na Figura 5.
92
Quadro 6. Principais compostos bioativos e suas funções no organismo
93
94
Fonte: Adaptado de Giuntini (2018) e Souza e Martínez (2017).
95
24 DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS COM ALEGAÇÃO FUNCIONAL
Figura 6. Nhoque de biomassa de banana-verde elaborado pela empresa Fruto das Mãos.
Fonte: Nhoque... (2020, documento on-line).
98
• Menos proteína animal: uma forte tendência atual consiste no flexitarianismo, que
propõe a redução no consumo de produtos de origem animal, como a campanha
“Segunda sem carne” (SCHMITZ, 2020).
99
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