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S UMÃRIO

ARTIGOS Transformações técnicas e relações de trabalho na


agricultura brasileira
Dora Rodrigues Hees . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
Periferização urbana no Brasil: um projeto de estudo
nas áreas metropolitanas
Vera Maria d'Avila Cavalcanti Bezerra
Jana Maria Cruz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Luís Cavalcanti da Cunha Bahia~a

COMUNICAÇõES Espaço geográfico: classificação e divisão. Um método


e uma abordagem conceitual
Edmon Nimer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
O impacto do metrô sobre a alocação dos recursos pú-
blicos em infra-estrutura urbana no Estado do Rio de
Janeiro após a fusão
Rosa Maria Ramalho Massena 111

TRANSCRIÇÃO Escala e ação, contribuições para uma interpretação


do mecanismo de escala na prática da Geografia
J. B. Racine
C. Raffestin
V. Ruffy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

COMENTARIO
BIBLIOGRAFICO Focalizando conceituações no urbano
Fany Rachei Davidovich . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

TIPOS E ASPECTOS
DO BRASIL Dunas I itorâneas
Barboza Leite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

I SSN 0034-723X
IRev. bras. Geogr. j Rio de Janeiro I ano 45 I n. 0
1 j p. 1 a 152j jan./mar. 1983j
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATíSTICA - IBGE
Av. Franklin Roosevelt, 166 - Centro
20 021 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil

ISSN 0034-723X

Revista brasileira de geografia I Fundação Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística • - ano 1, n. 1 (1939, jan./mar.)-
Rio de Janeiro : IBGE, 1939-
Trimestral.
órgão oficial do IBGE.
Inserto : Atlas de relações internacionais, no período de jan./mar.
1967 - out.l dez. 1976.
fndices : autor-título-assunto, v. 1-10(1939-1948) divulgado em 1950
sob o título : Revista brasileira de geografia : índices dos anos I a X,
1939-1948 • - fndices anuais de autor-título-assunto.
ISSN 0034-723X = Revista brasileira de geografia.

1. Geografia - Periódicos. 1. IBGE.

IBGE. Biblioteca Central CDD 910.5


RJ-IBGEI81-44 CDU 91(05)

Impresso no Brasil I Printed in Brazil


O IBGE não se responsabiliza por conceitos emitidos em matéria assinada.
ARTIGOS

Transformações técnicas
e relações de trabalho
na agricultura
brasileira~~
Dora Rodrigues Hees **

1 - CONSIDERAÇÕES
TEóRICO-
METODOLóGICAS

A s transformações que se vêm


processando na agricultura
brasileira, em conseqüência
da maior capitalização de suas ati-
de absorção desse contingente de
força de trabalho agrícola. A aná-
lise dessas questões será desenvol-
vida nos próximos artigos, que,
vidades, têm repercutido direta- apesar de abordados de maneira
mente sobre as relações de trabalho diferente quanto a alguns aspectos
no campo, o que torna a situação metodológicos, têm sua unidade na
dos trabalhadores rurais uma das questão que é focalizada - a mão-
questões mais importantes no âm- de-obra rural. Além disso, esses
bito das atividades agrárias. Este trabalhos se diferenciam, ainda,
problema é constatado, principal- por tratarem a situação dos traba-
mente, ao se observarem altera- lhadores rurais no Brasil, no pe-
ções, na primeira metade da déca- ríodo intercensitário considerado,
da de 70, quer na composição da em áreas que foram caracterizadas
mão-de-obra rural, quer no grau por apresentarem diferentes níveis

• Este artigo constitui a primeira parte de um trabalho mais amplo, que focaliza as
transformações da mão-de-obra na agricultura brasileira no período 1970-1975. As outras duas
partes serão publicadas em números subseqüentes desta Revista.
* * Geógrafa da. Divisão de Estudos Rurais - IDGE - SUEGE - DEGEO.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro •. ~(!) : 3-50, jan./mar. 1983 3


de modernização técnica na ativi- cações que propiCia maior intera-
dade agropecuária. Essas áreas fo- ção das áreas rurais com os seus
ram identificadas a partir da sele- centros urbanos dinâmicos. Esses
ção de duas variáveis: variação núcleos urbanos constituem-se em
absoluta do valor dos bens em importantes mercados consumido-
máquinas e instrumentos agrários/ res de produtos agropecuários, tan-
ha de estabelecimento e variação to por sua população, quanto pelas
absoluta das despesas com insumos indústrias processadoras de ali-
modernosjha de estabelecimento, mentos neles existentes. Esses mer-
no período 1970-1975. A considera- cados caracterizam-se por serem
ção desses indicadores, para a dife- exigentes quanto à qualidade dos
renciação de áreas, é relevante para produtos consumidos e por deman-
análises sobre as relações de tra- darem uma quantidade crescente
balho rurais que partem da pre- desses bens. Em função disso, os
missa básica de que as transfor- produtores seriam levados a uma
mações que vêm ocorrendo na racionalização maior em seus mé-
agricultura brasileira têm sua ori- todos de cultivo, o que implica a
gem no processo de expansão do adoção de técnicas modernas na
capitalismo no campo e que essas atividade agropecuária. Nesse sen-
transformações repercutem direta- tido, a presença de indústrias pro-
mente sobre a mão-de-obra rural. cessadoras de produtos agrícolas
Nesse sentido, pretende-se verificar nessas áreas repercute na atividade
as relações existentes entre o grau agropecuária, já que, muito fre-
de modernização da atividade agrí- qüentemente, as indústrias inter-
cola e as relações de trabalho ado- ferem no próprio processo de pro-
tadas no campo. dução agrícola, ao imporem aos
A combinação dos referidos indi- produtores uma série de exigências
cadores de modernização técnica quanto ao tipo de produto a ser
na agricultura, para o conjunto das cultivado, variedade e sistemas de
microrregiões brasileiras, permitiu cultivo empregados.
a discriminação de segmentos es- Além dos produtos agropecuários
paciais que apresentaram diferen- de alto valor comercial, voltados
tes níveis de modernização. A par- para o mercado interno, adquirem
tir dessa diferenciação regional, grande importância, nessa área, os
quanto à utilização de técnicas produtos que se destinam à expor-
modernas na atividade agrícola, tação, como o café e a soja. Estes,
delimitaram-se três áreas: áreas por serem produtos importantes na
modernizadas, áreas medianamen- pauta de exportações, recebem be-
te modernizadas e áreas de baixo nefícios governamentais que per-
nível de modernização (Mapa 1). mitem aos produtores desenvolver
seus cultivos segundo um alto nivel
As microrregiões, onde o processo de modernização do processo pro-
de incorporação de técnicas moder- dutivo. Há ainda a destacar a ex-
nas à atividade agrícola mostra-se pressão de determinados cultivos,
mais intenso, concentram-se basi- como o trigo e a cana-de-açúcar,
camente nas Regiões Sudeste e Sul, cuja produção vem sendo incenti-
havendo, entretanto, microrregiões vada a fim de equilibrar a balança
incluídas nesse nível de moderni- comercial. No caso do trigo, há
zação que se localizam no sul dos interesse em aumentar sua produ-
Estados de Mato Grosso e Goiás, ção, por ser sua importação um
além de outras que se concentram peso na pauta dos produtos impor-
numa faixa do Nordeste oriental. tados. Com relação à cana-de-açú-
Essas áreas mais modernizadas car, o estímulo ao seu cultivo
beneficiam-se de um sistema de in- prende-se à necessidade de redução
fra-estrutura viária e de comuni- das despesas com a importação de
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combustíveis. A expansão dessas Sudeste. Também no Centro-Oeste,
lavouras, desenvolvidas segundo apesar do menor número de mi-
um elevado grau de modernização, crorregiões nesse nível de moder-
é mais um fator a contribuir para nização, a superfície por elas
que essa área se caracterize por abrangida é bastante significativa.
incorporar técnicas modernas de Englobando porção tão vasta do
modo mais acentuado no contexto território brasileiro, este espaço se
da agricultura brasileira. caracteriza por grandes diferencia-
Outro aspecto que contribui para ções em termos de sua ocupação e
que os produtores intensifiquem de sua organização agrária. Há
seus métodos de cultivo, visando à áreas de ocupação antiga e de
obtenção de maior produtividade, ocupação recente, de produção de
é a crescente valorização das ter- subsistência e de produção voltada
ras. Sobretudo as áreas bem dota- para o mercado interno e externo.
das, quanto a um sistema de trans- Essas áreas vêm sofrendo transfor-
portes eficiente, e bem situadas, mações diversas no âmbito de suas
quanto aos principais centros con- atividades agrárias, em função do
sumidores, sofrem um intenso pro- processo de expansão do capitalis-
cesso de valorização da terra. mo no campo.
Além do papel de centros consu- Foram as áreas novas onde ain-
midores de produtos agropecuários, da havia terras a serem ocupadas
os núcleos urbanos importantes as que sofreram maiores impactos
exercem também a função de dis- na organização de seu espaço agrá-
tribuição de bens de origem indus- rio, sobretudo no decorrer da dé-
trial que se voltam para o desem- cada de 70, em conseqüência de
penho da atividade agrícola. A medidas governamentais implanta-
própria presença no Sudeste e no das nos anos 60 e início dos anos
Sul do Brasil de fábricas produto- 70. Tais medidas visavam a incen-
ras de máquinas e implementos tivar a ocupação de espaços "va-
agrícolas, como também de insu- zios" e a integração de áreas da
mos modernos, pode ser um dos pré-Amazônia e da Amazônia ao
fatores a estimular a maior adoção, Centro-Sul do País. Para promover
por parte dos produtores, desses a ocupação dessas áreas de fron-
elementos modernizadores. Nessa teira agrícola, tem sido muito esti-
situação, o sistema de infra-estru- mulada a instalação de projetos
tura viária e de comunicações agropecuários que, na verdade, têm
adquire um papel importante no como finalidade principal desen-
processo de modernização agrícola, volver a pecuária. Esta tem sido a
ao condicionar a difusão de técni- atividade econômica mais incenti-
cas modernas e ao propiciar orien- vada a ocupar grandes espaços
tação técnica aos produtores ru- distantes dos mercados consumido-
rais. res, pelas próprias características
Quanto às microrregiões que se da produção, que suporta grandes
situaram no nível de modernização deslocamentos e, por ser capaz de
intermediário, verifica-se que, ao gerar, num curto período de tempo,
contrário do que ocorreu com aque- um produto final altamente lucra-
las que apresentaram nível mais tivo em relação aos investimentos
elevado de modernização, elas se realizados.
distribuem por todas as regiões Na realidade, acentuou-se o des-
brasileiras, sendo mais concentra- locamento de pessoas, de diferentes
das no Nordeste (Mapa 1). É im- regiões do País e com objetivos
portante, também, a incidência de diversos, para essas áreas novas
unidades de observação nessa cate- que, após a abertura de estradas
goria de modernização na Região e a concessão de incentivos fiscais

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e creditícios, passaram a exercer expansão da pecuana bovina. Re-
atração sobre aqueles que deseja- giões tradicionalmente policulto-
vam desenvolver explorações com ras, como o Agreste, vêm demons-
fins comerciais ou praticar lavou- trando essa tendência à pecuariza-
ras de subsistência ou, simplesmen- ção. O mesmo observou-se em áreas
te, investir na compra de terras. de importância da agricultura,
Assim, fazendeiros e pequenos pro- cujos produtos se voltam, não só
dutores procedentes de diversas para o mercado interno, como
regiões do País, e empresários pro- também para o externo. Essa é a
venientes, principalmente, do Sul situação de áreas produtoras de
e do Sudeste, dirigem-se a essas algodão, cana-de-açúcar e cacau,
áreas cuja ocupação vem sendo es- onde se percebe uma retração das
timulada. superfícies ocupadas com lavouras
As regiões de fronteira agrícola, e uma ampliação dos espaços des-
incluídas nessa área de nível in- tinados à pecuária. Este fato está
termediário quanto ao processo de vinculado a políticas de incentivo
modernização, situam-se nos limi- à pecuária, viabilizadas através de
tes da Amazônia Legal, área de programas da SUDENE, que reali-
atuação da SUDAM, e compreen- za empréstimos para a instalação
dem microrregiões do norte dos de projetos agropecuários. A im-
Estados de Mato Grosso e Goiás. plantação desses projetos resulta,
Além dessas regiões, há outras que, com freqüência, em sérios proble-
fora da jurisdição da SUDAM, têm mas sociais, principalmente quan-
sua ocupação incentivada por or- do se trata de áreas de povoamento
ganismos e programas de valoriza- antigo, uma vez que proprietários
ção regional, como a SUDECO e o que empregavam grande contin-
POLOCENTRO. gente de trabalhadores rurais, ao
substituírem lavouras por pasta-
No Centro-Oeste, a ocupação de gens, expulsam de suas terras
novas áreas está muito relacionada grande parte dos moradores, que
à expansão da atividade agrope- acabam se deslocando para as ci-
cuária no cerrado. A exploração do dades ou povoados próximos.
cerrado em moldes empresariais,
como vem sendo estimulada, con- Em função de limitações ambi-
tribui para que determinadas mi- entais, a pecuária bovina é a ati-
crorregiões de Mato Grosso e Goiás vidade qué possui maiores condi-
apresentem aumento de mecaniza- ções de se expandir, já que, por
ção e de emprego de insumos mo- sua natureza, tende a ser menos
dernos, já que, por suas caracterís- afetada pelas secas do que as la-
ticas naturais, os solos de cerrado vouras. Essa tendência à pecuari-
necessitam, para o seu aproveita- zação de vastas áreas do Nordeste
mento, de correção e adubação tem contribuído para uma redução
química. Além disso, a topografia do pessoal ocupado nas atividades
plana dos campos cerrados muito agrárias, tendo em vista ser esta
favorece a utilização de maquina- atividade menos absorvedora de
ria. mão-de-obra do que a lavoura. Es-
As transformações de caráter ta é a situação do Agreste, que vem
econômico mais importantes que acusando reduções no seu contin-
têm sido observadas nas áreas de gente de trabalhadores rurais e
ocupação antiga, de agricultura vem revelando expansão da pe-
tradicional, dizem respeito a mu- cuária.
danças nos usos da terra. Assim, Na medida em que a atividade
verificou-se no Nordeste uma ten- criatória é estimulada e que proje-
dência expressiva à redução das tos agropecuários são implantados,
áreas com lavouras, em função da através de financiamentos bancá-

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rios, passa a haver uma melhoria ração econômica, mas à constitui-
do nível técnico empregado nessa ção de reservas de valor.
atividade. Em função disso é que O baixo nível de modernização
se verifica nessas áreas de nível verificado em microrregiões do
intermediário quanto à moderniza- sertão e do litoral ocidental nor-
ção, paralelamente à tendência à destino, vem demonstrar que essa
pecuarização, uma incorporação área tem-se mantido à margem do
maior de máquinas e insumos mo- processo de modernização que se
dernos no desempenho da pecuária. desencadeia no Sudeste e Sul do
Ainda no que diz respeito à clas- Brasil e que já atingiu algumas
sificação das microrregiões brasi- áreas do Nordeste, principalmente
leiras quanto aos níveis de moder- a Zona da Mata. Fatores de ordem
nização, destaca-se uma porção do natural, condicionamentos históri-
território brasileiro, por se situar cos relativos à sua ocupação, baixa
no nível mais baixo quanto à in- densidade demográfica agravada
corporação de técnicas modernas pela evasão de população rural, são
à atividade agrícola. As microrre- algumas das razões que condicio-
giões incluídas nessa categoria de nam uma atividade agropecuária
modernização concentram-se, prin- pouco absorvedora de técnicas mo-
cipalmente, nas Regiões Norte e dernas. A predominância de uma
Nordeste (Mapa 1). pecuária extensiva, ao lado de
uma lavoura fortemente calcada
O baixo nível técnico com que se na produção para a subsistência
desenvolve a atividade agropecuá- ou voltada para o mercado interno,
ria na Amazônia é reflexo, não só faz com que essa porção do espaço
das características das suas explo- nordestino se apresente como uma
rações econômicas pecuária das regiões brasileiras onde a in-
extensiva e extrativismo vegetal-, corporação de técnicas modernas à
como também do baixo grau de atividade agrícola se faz de manei-
aproveitamento das terras. Essa ra menos intensa.
subutilização dos estabelecimentos
rurais prende-se à tendência de Além dessa área de nível muito
aquisição de terras com fins espe- baixo de modernização, há outras
culativos· que tem-se acentuado, microrregiões que se situam nessa
sobretudo, a partir da década de mesma categoria e que se distri-
70. A especulação de terras au- buem pelo leste goiano, sul da Ba-
menta após a criação da SUDAM, hia e nordeste de Minas Gerais. Há,
na década de 60, que vem estimu- ainda, ocorrências menos expressi-
lar, através de uma série de medi- vas, em termos espaciais, de mi-
das governamentais, a intensifica- crorregiões de baixa modernização
ção da ocupação da Amazônia. A no litoral norte paulista e no leste
concessão de créditos e de incen- paranaense.
tivos fiscais vem incentivar a As microrregiões do leste de
implantação de projetos agrope- . Goiás, por serem áreas de solos de
cuários na área abrangida pela baixa fertilidade, não exercem
SUDAM. Além disso, o recrudesci- atração sobre aqueles que visam à
mento do processo inflacionário implantação de projetos agrope-
contribuiu para que a compra de cuários. Além disso, a situação
terras se tornasse uma alternativa dessas microrregiões, distantes da
segura de investimento de capital. principal via de penetração, a Be-
As taxas de juros do crédito rural, lém-Brasília, contribui para que
abaixo dos ritmos de crescimento essas áreas se mantenham ainda à
da inflação, são vantagens que se margem da recente expansão da
apresentam àqueles que visam, na pecuária em moldes empresariais
compra de terras, não à sua explo- que vem-se desencadeando nesse

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Estado, sobretudo em áreas de in- nessa atividade, como também pelo
fluência mais direta desse eixo fato dessas transformações se
rodoviário. Em função dessas ca- desencadearem em todo o espaço
racterísticas, que envolvem ques- rural brasileiro.
tões do meio físico e locacionais, Na realidade, percebem-se na
essas microrregiões continuam de- década de 70, alterações significa-
senvolvendo uma pecuária exten- tivas nas categorias de pessoal
siva, permanecendo, portanto, pou- ocupado, reflexo de políticas e me-
co alteradas pelo processo de didas governamentais criadas nos
modernização que se difunde no anos 60 visando à expansão da
setor agrário. atividade agropecuária. De fato, ao
As demais unidades de observa- se examinarem alguns indicadores
ção, que se apresentam nesse nível de crescimento da agricultura re-
mais baixo de modernização, cor- ferente à utilização da terra e à
respondem a áreas que, por suas modernização técnica, constatam-
condições topográficas de relevo se modificações que podem afetar,
escarpado e de difícil acessibilida- não só a composição da mão-de-
de, até recentemente distantes das obra, como também o grau de
principais vias modernas de comu- absorção de trabalhadores e o seu
nicação, permanecem, ainda, pou- nível sócio-econômico. Nesse senti-
co afetadas pela modernização que do, na medida em que se verificam
se incorpora às atividades agrope- retrações nas áreas ocupadas com
cuárias. lavouras em favor da ampliação
A categorização de áreas com a dos espaços dedicados à pecuária,
finalidade de se detectar o grau de ocorre uma liberação da mão-de-
modernização técnica da atividade obra empregada nos estabelecimen-
agrícola no País, na primeira me- tos rurais. Da mesma forma, há
tade da década de 70, resultou na uma tendência à menor absorção
delimitação de três grandes con- de trabalhadores pelos estabeleci-
juntos de microrregiões nos quais mentos rurais quando se altera a
foram identificadas diferenças sig- base técnica do sistema de produ-
nificativas na composição da ção agrícola. Apesar dessas trans-
mão-de-obra rural. Nesse sentido, formações estarem ocorrendo com
pode-se afirmar que existe uma freqüência no País como um todo,
vinculação entre os níveis de mo- não significa que esteja havendo
dernização e a composição da mão- uma redução do número de traba-
de-obra rural, uma vez que se ve- lhadores, pois, concomitantemente
rificam tendências à expansão, a essas modificações ampliam-se os
manutenção ou redução de deter- espaços voltados para o desenvol-
minadas categorias de pessoal vimento da atividade agrícola.
ocupado em função dos menciona- Assim, ao se analisarem as catego-
dos níveis de modernização. rias de pessoal ocupado, segundo
Assim, o crescimento da ativida- os Censos Agropecuários de 1970
de agrícola, quer pela incorporação e 1975, constata-se significativo
de novas áreas, quer pela intensi- aumento no número total de pes-
ficação de seus métodos de cultivo, soal ocupado no País (15,7%), que
através do emprego de técnicas foi acompanhado de alterações
modernas, gera uma série de trans- substanciais no que diz respeito à
formações no âmbito da agrope- importância de cada uma das cate-
cuária. Dentre elas destacam-se, gorias de mão-de-obra. Verificou-se
de modo especial, aquelas relativas um crescimento expressivo de al-
à reorganização nas relações de gumas categorias, como a dos tra-
trabalho, não só em função do ele- balhadores permanentes (34,4%),
vado número de pessoas envolvidas em trabalho familiar (16,0%) e em

8
BRASIL
MICRORREGIÕES HOMOGÊNEAS

so o 5o 100 zoe 300 400 !!SOOKm


......... w ______L_---L.._----'-----..l._____J..____l__~_____L____..,l..._______/

NÍVEIS DE MODERNIZAÇÃO

D Baixo CLASSIFICAÇÃO DAS MICRORREGIÕES


SEGUNDO A INTENSIFICAÇAO DA
ITIIIIJ Médio
MODERNIZAÇÃO TÉCNICA NA
[:}'/'/i}J Alto AGRICULTURA -1970 - i 975.

Fonte. Censos Agropecuários -IBGE- 1970-1975

Mapa 1
regime temporário (14,0%), ao campo apresenta-se de maneira
lado de uma redução das demais bastante complexa e, em determi-
(parceiros e "outra condição"). nadas situações, essa tendência
Essas alterações, observadas na para o salariado puro não exclui
composição da mão-de-obra rural, a possibilidade de que relações de
decorrem, entre outros fatores, do trabalho não assalariadas possam
f a to de estarem ocorrendo vultosos ser compatíveis com a agricultura
investimentos de capital na agri- de caráter empresarial.
cultura brasileira. Esse fato tem A presença mais acentuada de
ocasionado, na maior parte das re- empregados assalariados, perma-
giões, não só um aumento da ex- nentes ou temporários, na compo-
pressão de certas categorias de sição da mão-de-obra rural, em
pessoal ocupado, em detrimento de determinadas áreas do País, pode
outras, como também uma realo- ser considerada um indicador de
cação destas em diferentes áreas um maior desenvolvimento do pro-
do espaço rural brasileiro. cesso de produção capitalista na
A maior utilização de determina- agricultura, na medida em que a
expansão do capitalismo, objeti-
das categorias de trabalhadores vando maior lucratividade, tende
rurais, em prejuízo de outras, re- à separação dos trabalhadores dos
laciona-se, principalmente, à ques- meios de produção, sobretudo da
tão da expropriação do trabalha- terra, e à sua reabsorção sob o
dor rural dos seus meios de pro- sistema de assalariamento.
dução, que é um fator inerente à
expansão do capitalismo no campo. Ao se considerar a posição que
Tal situação se deve ao fato de que os empregados permanentes ocu-
o capital só se reproduz à custa do pam na agricultura brasileira, veri-
trabalho, que necessita, então, ser fica-se que esse contingente de
subjugado. Assim, o trabalhador, trabalhadores apresenta menor im-
separado dos seus instrumentos portância do que o de pessoal
de trabalho, é obrigado a vender ao ocupado em regime de trabalho
capitalista a sua força de trabalho. temporário. Tem-se constatado
Essa separação dos trabalhadores também, no Brasil que os empre~
dos meios de produção é condição gados permanentes tendem, de
necessária para que estes deixem modo geral, a se concentrar nos
de trabalhar para si, para fazê-lo maiores estabelecimentos agríco-
apenas para o capitalista. Nesse las, onde é crescente a sua utiliza-
sentido é que as categorias de em- ção. São de fato as maiores unida-
pregados assalariados serão as mais des produtivas as que têm melhores
adotadas no sistema capitalista, condições de manter, em caráter
uma vez que elas estabelecem a permanente, um número maior de
relação de compra e venda da for- empregados assalariados. A utiliza-
ça de trabalho entre patrão e em- ção desses trabalhadores se dá
pregado. Sendo o emprego de tra- tanto em explorações de cunho
balhadores assalariados vantajoso tradicional, quer se dediquem à
para a acumulação de capital, as lavoura, quer à pecuária, quanto
relações de trabalho que supõem naquelas onde o processo de pro-
um vínculo do trabalhador rural dução agrícola se caracteriza por
com a terra apresentam uma ten- uma maior modernização tecnoló-
dência a serem substituídas, em gica.
muitas áreas, onde o processo de Naturalmente, a adoção de de-
intensificação do capitalismo no terminadas relações de trabalho,
campo vem-se dando de forma além de se vincular com o tipo de
mais acentuada. Porém, esta ques- atividade econômica dos estabele-
tão das relações de trabalho no cimentos rurais, relaciona-se, tam-

9
bém, com a localização dos empre- produtos cultivados nas diferentes
endimentos agropecuários, com a regiões do País. Outra parte desse
sua dimensão e volume de capital segmento da população dirige-se
investido. Assim, nas áreas rurais, para as cidades, onde, integrando-
onde a atividade agropecuária se se ao contingente de força de tra-
transformou num empreendimento balho urbano, irá se somar ao
capitalista, as relações de produção grupo de desempregados e sub-
tendem para o salariado puro, por empregados.
ser esta a que melhor se coaduna Em áreas onde as empresas ca-
com o caráter do processo de pro- pitalistas não absorveram a tota-
dução agrícola empresarial, que, lidade das unidades produtivas
devido ao elevado grau de capita- voltadas para a subsistência, boa
lização de suas atividades, vai exi- parte de seu contingente de traba-
gir um retorno mais rápido do lhadores assalariados temporários
capital investido. A fim de diminuir é constituída por pequenos proprie-
os custos de sua produção, o em- tários, posseiros, arrendatários e
presário rural tende a manter em parceiros que, impossibilitados de
seus estabelecimentos apenas um garantir sua sobrevivência, unica-
número mínimo de empregados em mente pelo produto de seu traba-
trabalho permanente, que se res- lho em seus lotes de terras, vêem-se
tringe àquela mão-de-obra de mais na contingência de se assalariarem
alta qualificação (tratoristas, con- em determinados períodos do ano.
tadores, etc.). Para tanto, faz-se
necessária uma modernização mais O fato das empresas agrícolas
intensa das diferentes etapas da lançarem mão de trabalhadores
produção agrícola, através da in- assalariados temporários nos pe-
tensificação do emprego de insu- ríodos de maior demanda de força
mos e máquinas. Em decorrência de trabalho não significa uma ex-
disto, verifica-se nesses estabeleci- clusão de relações de trabalho não
mentos uma absorção maior de tipicamente capitalistas. A compa-
mão-de-obra especializada, conco- tibilidade entre as formas de rela-
mitantemente com uma liberação ções de trabalho capitalistas e
do contingente de força de traba- da aquelas que supõem uma ligação
mão-de-obra com os meios de
lho não qualificada. produção, ocorre de modos diversos
Esses trabalhadores expulsos, em e varia segundo o tipo de atividade
sua maioria moradores, agregados, produtiva desenvolvida pelos em-
parceiros, arrendatários, passam a preendimentos agropecuários, co-
ser reintegrados pelas empresas mo também em função das carac-
agrícolas capitalistas na condição terísticas do espaço rural em que
de trabalhadores assalariados tem- se localizam essas empresas.
porários. A especificidade do pro- Parceria e agregância são formas
cesso de trabalho agrícola, impe- de relações de trabalho não capi-
dindo a mecanização homogênea talistas que se articulam, de forma
de todas as suas fases, origina subordinada, às relações de produ-
fortes oscilações nas demandas de ção capitalistas de assalariamento
trabalho. Assim, grande parte e que são comumente utilizadas
desse segmento da população, per- pelos empresários rurais. Nessas
manecendo na zona rural, irá cons- condições, o parceiro se insere no
tituir um contingente de mão-de- sistema produtivo. Não possuindo
obra em constante disponibilidade, capital suficiente para realizar sua
que só será utilizado para suprir a exploração, não dispõe, efetivamen-
demanda diferenciada de força de te, do controle e direção desse pro-
trabalho, que varia em função dos cesso. Essa ausência de autonomia
calendários agrícolas dos diversos torna vantajoso, em muitas situa-

10
ções, o emprego dessa categoria de subordinação da produção ao capi-
mão-de-obra. Isto se deve ao fato tal não estaria se realizando atra-
de que a parceria possibilita não vés da aplicação direta de investi-
só uma diminuição dos custos da mentos na própria atividade agrí-
produção, através de um aumento cola, mas pelo capital comercial.
de produtividade decorrente do ca- Essa situação é freqüentemente
ráter "societário", inerente a esta observada no caso da mão-de-obra
relacão de produção, mas, também, familiar cujos estabelecimentos se
permite uma "socialização" dos diferenciam quanto às formas de
custos e perdas do empreendimento organização da produção, não só
agrícola. em função das características das
Os agregados e moradores que regiões nas quais estes se distri-
se incluem na categoria que o Cen- buem, mas, também, pela própria
so Agropecuário denomina "outra natureza da vinculação dessas uni-
condição" têm participação bas- dades com a produção capitalista.
tante reduzida no total da força A própria lógica do sistema capi-
de trabalho agrícola. Sua perma- talista leva a que esses estabeleci-
nência se justifica, sobretudo em mentos se vinculem com as grandes
áreas que se mantêm à margem unidades de produção de formas
do processo de modernização da variadas, de acordo com os objeti-
atividade agropecuária ou, mesmo,
no interior de empreendimentos vos da acumulação de capital.
rurais capitalistas que possuem Pode-se distinguir basicamente
uma extensão de suas terras como "três formas de articulação entre
reserva de valor. Por serem as di- a pequena produção na agricultura
mensôes desses estabelecimentos e a produção capitalista. Na pri-
superiores à capacidade de expan- meira, a pequena produção consti-
são de suas atividades produtivas, tui para o resto da economia um
os agregados e os moradores são reservatório de produção de sub-
mantidos pelos grandes proprietá- sistência e de mão-de-obra; na
rios, não só como força de traba- segunda, constitui um reservatório
lho subsidiária, mas, também, como de terras; na terceira, a pequena
forma de preservar a totalidade de produção não é mais um "reserva-
suas áreas, ao se fixarem, com tal tório de recursos", mas a sua vin-
objetivo, nos limites dessas unida- culação com a produção capitalista
des de produção. é direta, é parte integrante dela" 1 .
Apesar de a utilização dessas re- Como reservatório de produção
lações de trabalho não assalariadas de subsistência e de mão-de-obra
serem compatíveis com formas de estão incluídas as pequenas unida-
produção agrícola de natureza des de produção de subsistência
capitalista, considera-se que a e/ou de pequena pecuária, que,
maior participação de parceiros, além de responsável pela produção
agregados e moradores, assim como de 50% dos alimentos consumidos
de trabalhadores em regime fami- nos centros urbanos, contribuem,
liar, no conjunto da força de tra- também, para a manutenção do
balho, denotaria um menor desen- baixo nível de remuneração da
volvimento das forças produtivas mão-de-obra assalariada para o
.na atividade agrícola. Nas áreas País como um todo, em função do
onde se verifica tal situação, a custo reduzido da produção de ali-

1 Centro de Pós-graduação em Desenvolvimento Agrícola.. Evolução Recente e Situação


Atual da Agricultura Brasileira. Brasília, BINAGRI, 1979.

11
mentos e, portanto, da reprodução nadas pelas empresas industriais e
da mão-de-obra:?. o produto cultivado a ela se destina
A mão-de-obra familiar, reali- integralmente.
zando uma produção de subsistên- Apesar de todos esses problemas
cia e se constituindo em reserva que afetam a pequena produção
de força de trabalho, está, muitas agrícola no Brasil, observa-se que
vezes, alocada no interior dos o total de pessoas ocupadas em re-
grandes estabelecimentos. Sendo gime de trabalho familiar no País
assim, é comum verificar-se certas tem acusado crescimento. Isto sig-
combinações de relações de traba- nifica que, se, por um lado, a pe-
lho que variam de acordo com as quena produção se restringe, em
fases do calendário agrícola. Um conseqüência de um processo de
parceiro pode se tornar, num de- concentração fundiária que se dá
terminado momento, um trabalha- de forma mais acentuada em cer-
dor assalariado, ao realizar tarefas tas regiões, por outro, ela ainda
não discriminadas em seu contrato encontra condições de se expandir,
de parceria. onde haja relativa disponibilidade
Outra forma de articulação, a de terras, ou onde sua presença se
de reservatório de terras, ocorre faça necessária aos interesses eco-
nas regiões de fronteira agrícola, nômicos dominantes.
onde as áreas ocupadas pelos pos- As questões aqui levantadas a
seiros podem representar disponi- respeito da situação da mão-de-
bilidade de terras para a expan- obra rural no Brasil, no período de
são dos grandes empreendimentos 1970 a 1975, em face do processo
agropecuários. Além disso, a partir de modernização que se expande
do momento em que esses grandes na agricultura brasileira, serão re-
empreendimentos agropecuários se tomadas nos capítulos que se se-
instalam nessas áreas, a presença guem. Dessa forma, poderão ser
de posseiros passa a significar dis- mais bem percebidas certas ten-
ponibilidade de mão-de-obra e de dências que se delineiam no âmbito
produtos para a subsistência. das atividades agrárias no que diz
A pequena produção articula-se, respeito às relações de trabalho.
também, com o sistema de produ- Em linhas gerais, o que tem se
ção dominante através de uma verificado é que a modernização
subordinação indireta que se dá que atinge o campo se faz de ma-
via comercialização, financiamento neira diferenciada, ao longo do
e assistência técnica. Nessas con- espaço rural brasileiro: atinge es-
dições, o pequeno estabelecimento pecialmente certas áreas, determi-
perde suas características de pro- nados produtos (sobretudo aqueles
dutor de gêneros para subsistência, voltados para a exportação), algu-
pois, estando essas unidades pro- mas classes de estabelecimentos,
dutivas subordinadas às exigências algumas categorias de produtores
da produção industrial, passam a rurais e se dá no sentido de preser-
cultivar em escala crescente os pro- var a propriedade fundiária.
dutos por ela exigidos. Dessa for- É ainda importante ressaltar
ma, a pequena produção estando que, apesar de se ter como tendên-
subordinada à indústria, que se cia expressiva o aumento dos em-
apropria do processo de trabalho e pregados assalariados na atividade
de produção, tem reduzida a sua agrícola, ocorre a preservação de
autonomia como unidade de pro- relações de trabalho de natureza
dução familiar, uma vez que as não tipicamente capitalista quando
especificações técnicas são determi- essa relação de produção for con-

SILVA, José Graziano da. A porteira está fechando? - Ensaios de Opiniões, vol. 11, 1979.

12
veniente ao processo de acumula- ocorre em função de que certas
ção de capital. atividades não são, por exemplo,
Essas especificidades que envol- compatíveis com pequenas unida-
vem o processo de capitalização da des de produção. Essas transforma-
agricultura brasileira serão apro- ções podem repercutir sobre as ca-
fundadas nos capítulos onde os racterísticas dos produtores rurais,
autores procuram mostrar como as já que ao ocorrer uma redução do
transformações do pessoal ocupado número dos pequenos estabeleci-
se dão de forma diferenciada nas mentos pode se dar a eliminação
diversas regiões do País, em função dos produtores, parceiros e ocupan-
das características do processo de tes, que são aqueles aos quais, mais
produção agrícola. freqüentemente, se associam as
pequenas unidades de exploração.
Com efeito, verificam-se nas
2 - ALTERAÇÕES NAS áreas que se destacaram pelas
RELAÇÕES DE maiores variações positivas dos fa-
TRABALHO EM ÁREAS tores considerados indicativos de
DE NíVEL MAIS um grau mais elevado de moderni-
zação na atividade agrícola 3 alte-
ELEVADO DE rações nas características da mão-
MODERNIZAÇÃO de-obra rural, que se diferenciam
de acordo com as peculiaridades do
As transformações técnicas que espaço rural, isto é, de como esses
vêm ocorrendo no processo de pro- fatores considerados se inter-rela-
dução agrícola têm afetado as ca- cionam nas diferentes áreas (Ma-
racterísticas da distribuição do pa 2).
pessoal ocupado nas atividades Desta forma, a região que abran-
agrárias. A intensificação da me- ge as microrregiões que alcança-
canização das tarefas agrícolas ram os maiores níveis de moderni-
tem contribuído para conferir ao zação na atividade agrícola engloba
emprego da mão-de-obra rural um áreas que muito se diferenciam,
caráter eminentemente sazonal, ao quanto às variações no total de
mesmo tempo em que pode vir a pessoal ocupado nas atividades
afetar, também, as características agrárias, uma vez que algumas se
da estrutura fundiária, uma vez destacam por uma forte redução
que alterações técnicas incorrem, do número de trabalhadores e ou-
muitas vezes, em modificações na tras por um crescimento acentuado
distribuição dos estabelecimentos, de sua força de trabalho. Isto
equivale a dizer que às maiores
segundo as diversas classes de área. incorporações de técnicas moder-
Além da introdução de novas nas não correspondem semelhan-
técnicas que podem alterar a esca- tes variações absolutas no total de
la de exploração, também as mu- pessoal ocupado. Exemplos de si-
danças no uso da terra, tanto no tuações que expressam contrastes
que diz respeito à substituição da marcantes encontram-se no Rio
atividade de lavoura pela pecuária, Grande do Sul e em São Paulo,
quanto a alterações dos próprios onde se verificaram, na maior par-
produtos cultivados, podem contri- te das microrregiões, posições ex-
buir para uma reorganização da tremas quanto ao crescimento do
estrutura fundiária. Tal situação pessoal ocupado em atividades

• As variáveis escolhidas para a caracterização de níveis de modemização na atividade


agrícola foram: valor dos bens em máquinas e instrumentos agrários/ha de estabelecimento e
valor das despesas com insumos modemos/ha de estabelecimento.

13
agrárias. Enquanto no Rio Grande período de 1970 a 1975, indicam
do Sul deu-se um crescimento que a mão-de-obra familiar, apesar
grande do contingente de pessoal de não ser a categoria que se apre-
ocupado, em São Paulo, na maioria senta em maior expansão, continua
das unidades de observação, veri- a crescer, o que revela sua impor-
ficou-se uma redução desse total 4 • tante função para o processo de
Essa situação pode refletir as dife- acumulação de capital. Essa cate-
renças existentes no processo de goria de mão-de-obra que se vin-
produção agrícola dessas áreas. O cula, sobretudo às pequenas explo-
Rio Grande do Sul, por estar em rações 6 , articula-se com o sistema
fase de expansão de sua lavoura de produção dominante, através
em áreas tradicionalmente pecua- de uma subordinação indireta, que
ristas, principalmente no que diz pode se dar via comercialização,
respeito àqueles produtos altamen- financiamento e assistência técnica
te valorizados no mercado, estaria, à produção agrícola. Nesse sentido,
em função disso, apresentando o movimento de acumulação de
maior emprego de mão-de-obra na capital estaria se processando, me-
atividade agrícola 5 • Por outro lado, nos através da expropriação do
o nível de modernização atingido produtor direto e introdução de
por São Paulo e alterações verifica- relações de trabalho assalariadas,
das na natureza dos cultivos como, do que através da subordinação da
por exemplo, a substituição do café pequena produção, ou seja, da ma-
por cultivos temporários, estariam nutenção de um processo de tra-
contribuindo para a redução do balho não capitalista. Assim sendo,
pessoal envolvido nas atividades o pequeno produtor passa a produ-
agrárias. zir não mais para a sua subsistên-
Cabe observar que, para o con- cia, mas para atender às necessi-
junto de microrregiões que englo- dades das indústrias que, ao
bam essa área de nível mais eleva- imporem urna série de exigências
do, quanto ao emprego de técnicas técnicas ao sistema de cultivo dos
modernas na agricultura, ocorreu produtos industriais, descaracteri-
uma expansão do número de tra- zam-no como produtor autônomo.
balhadores da ordem de 9,5%. Além do trabalho familiar, des-
Quando se analisam as situações tacou-se, nessa região, a importân-
das diversas categorias de pessoal cia das formas de trabalho assala-
ocupado nas áreas que alcançaram riadas que passaram a adquirir
os níveis mais elevados quanto à maior expressão no período consi-
adoção de técnicas modernas na derado. Essa modalidade de mão-
agricultura, verifica-se que é a de-obra associa-se aos níveis mais
mão-de-obra familiar a que engloba elevados de emprego de técnicas
o maior contingente de pessoal modernas na agricultura verifica-
ocupado tanto em 1970, quanto em dos nessa área, uma vez que, a
1975, urna vez que participava, partir do momento em que a agri-
respectivamente, com 78,0% e cultura se torna um empreendi-
76,0% desse total. Apesar da me- mento capitalista, são privilegiadas
nor porcentagem em 1975, as va- as relações de trabalho assalaria-
riações absolutas e relativas, no das.

• As variações relativas do total de pessoal ocupado, em São Paulo e no Rio Grande do


Sul, no período de 1970-1975, foram da ordem de -3,9% e de 30,9%, respectivamente.
& Para se ter uma idéia da. expansão da. lavoura. nesse Estado, a soja., produto altamente
valorizado no mercado internacional, teve uma expansão de sua área. de 1.595.846ha, no período
de 1970-1975, o que correspondeu a um crescimento de quase 100%.
• Nessa área, os estabelecimentos com menos de lOOha. representam 93,0% do total de
estabelecimentos.

14
BRASIL
MICRORREGIÕES HOMOGÊNEAS

50 o 50 100

CLASSIFICAÇÃO DAS ALTERAÇÕES


REDUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DA R.M.N.R.F.
e aumento da participação de empregados temporários

e aumento da participação de empregados permanentes

e aumento da participação de parceiros

e estabilidade das demais categorias

SITUAÇÃO DE RELATIVA ESTABILIDADE

AUMENTO DA PARTICIPAÇÃO DE EMPREGADOS PERMANENTES


e redução da participação do R.M.N.R.F.

e redução da participação de empregados temporários

e redução da participação de parceiros

e estabilidade das demais categorias

AUMENTO DA PARTICIPAÇÃO DE R.M.N.R.F.

e perda e/ou estabilidade das demais categorias

AUMENTO DA PARTICIPAÇÃO DE EMPREGADOS TEMPORÁRIOS

H e redus;:ão da participas;:õo de R.M.N.R.F.


CLASSIFICAÇÃO DAS MICRORREGIÕES

-m
H e estabilidade das demais categorias

e redução da participação de empregados permanentes


SEGUNDO AS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES
REDUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DE PARCEIROS
NAS CATEGORIAS DE PESSOAL
e aumento da participa~õo de assalariados, sobretudo de empregados permanentes OCUPADO NA AGRICULTURA:
Area de nível mais elevado de modernização
H e reducão da participação de R.M.N.R.F.
1970- 1975
.REDUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DE EMPREGADOS TEMPORÁRIOS
e aumento da participação de empregados permanentes

e aumento da participação de R.M.N.R.F.

DILUS/S.O • R.C. N. Fonte: IBGE- Censos Agropecuários 1970 -1975

Mapa 2
Na categoria de assalariados, rais, enquanto se processava uma
destaca-se a dos empregados per- expansão da área abrangida por
manentes como aquela que se si- estas unidades produtivas, o que
tua em 'termos do número de
'
pessoas -
. que
envolvidas, em pos1çao
resultou num aumento médio dos
estabelecimentos. Essa concentra-
se segue em importância à do tra- ção de terras processou-se, de for-
balho familiar. Em termos de ma acentuada, nesse período de
crescimento foi a modalidade de apenas cinco anos, através da re-
. va-
trabalho que' apresentou :r~.a1~r dução do número e da área das
riação relativa, q~e atmgm ,a unidades produtivas com menos de
30 0%. Já os assalanados tempora- 100ha, enquanto aquelas com
ri~s, além de se constituírem num 100ha a l.OOOha se expandiam.
menor contingente de trabalhado- Apesar de se verificar uma certa
res, apresentaram crescimento in- estabilidade quanto ao número dos
ferior ao dos permanentes, uma maiores estabelecimentos rurais,
vez que a variação relativa se si- ou seja, aqueles com 5.000ha e
tuou em 13,8%. Em termos abso- mais, percebe-se uma redução de
lutos, porém, essas vari~ções . co~­ suas áreas, expressando uma dimi-
respondem a incorporaçoes signi- nuição do tamanho médio desses
ficativas de trabalhadores: os estabelecimentos rurais.
empregados permanentes e tempo- O decréscimo do número total
rários acusaram, respectivamente, de estabelecimentos, levando a
aumentos de 211. 014 e 80.871 tra- uma redução do número de produ-
balhadores. tores, afetou, principalmente, as
Quanto à participação de ambas formas indiretas de exploração,
as categorias no total do pessoal isto é, a parceria e o arrendamento.
ocupado em 1970 e em 1975, veri- No que diz respeito às áreas ex-
fica-se que, em 1975, os emprega- ploradas pelas diferentes condições
dos permanentes e temporários de produtores rurais, destaca-se a
alcançaram índices de participa- superioridade daquelas em poder
ções mais elevados, o que não se de proprietários, em relação às dos
verificou com as demais categorias demais, acrescida ao fato de ser
que apresentaram índices inferio- esta a única categoria a se apre-
res aos de 1970. Nesse sentido, os sentar em crescimento.
empregados parceiros e aqueles As transformações ocorridas na
incluídos na categoria "outra con- malha fundiária, bem como nas
dição", que possuem expressão características dos produtores ru-
bastante reduzida no conjunto da rais, são reflexos da expansão de
força de trabalho, tiveram, nesse capital que vem se processando nas
período, reduções no total de seus atividades agrícolas e que tem uma
contingentes. repercussão direta sobre as formas
O aumento dos empregados assa- de relações de trabalho no meio
lariados, que foi a principal trans- rural. Sendo a área em análise a
formação nas características da que mais se destacou das demais
composição da mão-de-obra, no áreas do País pelas maiores incor-
período de 1970 a 1975, relaciona- porações de máquinas e insumos
se ao processo de expansão do ca- modernos no processo de produção
pitalismo no campo, que tem afe- agrícola, as principais alterações
tado, entre outros aspectos, o que se verificaram na composição
arranjo da estrutura fundiária e da mão-de-obra deram-se no sen-
as características dos próprios pro- tido da maior utilização de empre-
dutores rurais dessa área. Assim, gados assalariados. A atividade
verificou-se uma redução do nú- agrícola, ao se tornar um empre-
mero total de estabelecimentos ru- endimento capitalista, reduz o

15
número de trabalhadores residen- porário, que serão a seguir consi-
tes nos estabelecimentos, pois, des- deradas (Mapa 2).
ta forma, os trabalhadores sepa-
rados dos meios de produção, 2. 1 - Redução da importância do
deixam de trabalhar para si, tra- trabalho familiar
balhando somente para o detentor
dos meios de produção. Assim, os O Censo considera como mem.
empregadores restringem o núme- bros não remunerados da família
ro de pessoas residentes nos esta- do responsável "os componentes
belecimentos, contratando assala- do grupo familiar que o ajudavam
riados permanentes, em geral para efetivamente nos trabalhos agro-
tarefas mais especializadas (ma- pecuários sem receber qualquer
nuseio de máquinas, administração espécie de pagamento". Como a de-
dos estabelecimentos, etc.), e assa- nominação "responsável" pelos es-
lariados temporários, para as di- tabelecimentos rurais refere-se a
versas fainas agrícolas. Entretanto, diversas condições de produtores
formas de relações de trabalho não proprietários, arrendatários,
assalariadas são muitas vezes uti- parceiros e ocupantes -, percebe-
lizadas, paralelamente às assalaria- se que os dados relativos ao con-
das, nos casos em que tal sistema tingente de mão-de-obra familiar
represente vantagens econômicas escondem diferentes tipos de tra-
para o empresário agrícola. balho familiar e diferentes formas
através das quais este se insere no
A caracterização de áreas segun- sistema produtivo.
do as alterações verificadas nas Quando se analisa a composição
categorias da mão-de-obra rural da mão-de-obra nos anos de 1970
possibilitou a discriminação de a 1975, percebe-se que, em algumas
segmentos espaciais que se dife- áreas, o fato mais marcante se
renciaram, quer pelo incremento constitui na redução do trabalho
da participação de uma categoria familiar, enquanto outras catego-
em relação às demais, ou por seu rias se afiguram com maior ex-
decréscimo, quer por apresentarem pressão. Assim, destacam-se princi-
uma situação de relativa estabili- palmente uma extensa área que
dade quanto à posição das micror- abrange a grande maioria das mi-
regiões em 1970 e em 1975, quanto crorregiões do Paraná, com forte
à composição do pessoal ocupado predominância em sua metade
nas atividades agrárias 7 • ocidental, algumas microrregiões
Assim, destacaram-se, quer pelo do sudoeste, norte e leste, além de
aspecto de contigüidade, bem como áreas situadas na parte meridional
pela freqüência da ocorrência, de Mato Grosso do Sul. Ocorrências
áreas que se caracterizaram prin- isoladas foram verificadas em San-
cipalmente pela perda de impor- ta Catarina, Rio Grande do Sul e
tância do trabalho familiar, por Minas Gerais (Mapa 2).
uma situação de ·relativa estabili- Nesse quadro, onde se tem como
dade quanto à composição da mão- principal traço a perda de impor-
de-obra, pela expansão do trabalho tância relativa do trabalho fami-
assalariado, pelo crescimento do liar, esboçam-se tendências diver-
trabalho familiar ou por reduções sas quanto às relações de trabalho,
na expressão de certas categorias, em função de diferenciações regio-
como a parceria e o trabalho tem- nais derivadas da influência de

• Essa. caractertza.çâo de áreas pôde ser efetuada, a partir da comparação entre as posições
das diversas categorias de pessoal ocupado na. atividade agrícola, em 1970 e em 1975. Esse
procedimento permitiu a. identificação das diferentes alterações na composição da mão-de-obra
rural nas microrregiões em estudo.

16
diversos fatores que atuam sobre a 288) e Alto Ivaí (n.o 277), que
atividade agrícola. As principais apresentaram crescimento do nú-
variações que ocorreram aliadas à mero e área das menores unidades
queda da participação do trabalho de exploração 8 • Essa expansão de
familiar foram o aumento da par- pequenos estabelecimentos relacio-
ticipação do trabalho temporário, na-se ao padrão colonial de sua
do permanente, da parceria, e, ocupação, que, no caso da Extremo
num menor número de microrre- Oeste Paranaense, realizou-se mais
giões, a situação de relativa estabi- recentemente. É a partir da década
lidade quanto à composição da de 60 que essa microrregião passa
mão-de-obra rural. a ser efetivamente incorporada aos
A perda de importância do tra- mercados do Sul e Sudeste, quando
balho familiar, que se processa, se observa grande expansão da
paralelamente, à crescente expan- área de produtos alimentares e
são das categorias de empregados industriais. Também na Microrre-
assalariados, reflete mudanças que gião Alto Ivaí observou-se uma
se desencadeiam no caráter da ati- incorporação acentuada de áreas
vidade agrícola desse espaço rural, cultivadas, o que se deve a um pro-
que se expressam pela tendência cesso recente de reativação em sua
ao privilégio de relações de traba- ocupação, incentivada pela solici-
lho de caráter mais tipicamente tação desses mercados 9 •
capitalista. Assim, observa-se que Na realidade, o que se observou
nessa área um dos fatores impor- como tendência mais acentuada
tantes, responsável pela menor em toda essa área onde o trabalho
participação do contingente de familiar vem perdendo importân-
pessoal ocupado em regime de tra- cia, em termos relativos, foi o
balho familiar, é o processo de con- crescimento da participação de
centração fundiária. Tal processo, empregados temporários, que se
ao eliminar os estabelecimentos de verificou, sobretudo, num número
menores dimensões, ou seja, aque- expressivo de microrregiões do Pa-
les com área inferior a 100 ha, onde raná e São Paulo, e em algumas
mais se concentram as unidades microrregiões de Santa Catarina e
de exploração de tipo familiar, Rio Grande do Sul (Mapa 2). Sa-
concorreria para a redução desse bendo-se que o desenvolvimento
segmento de força de trabalho. Ao das forças produtivas se dá com a
mesmo tempo, a tendência à ex- crescente expropriação dos traba-
pansão das unidades produtivas lhadores dos meios de produção,
com dimensões que variam de 100 essa maior participação de empre-
a 5 . 000 ha e mais reflete uma mo- gados assalariados temporários po-
dificação nas características da de significar que nessas áreas, cada
estrutura fundiária, que se orienta vez mais, o capital vem dominar o
para uma distribuição de estabele- processo de produção agrícola. Nes-
cimentos de maior tamanho médio. se sentido, vários fatores podem
Apesar dessa tendência marcan- contribuir para que essa forma de
te de redução do número de esta- relação de produção ganhe impor-
belecimentos pequenos, verifica- tância no desenvolvimento da ati-
ram-se algumas exceções, tais como vidade agrícola. A maior utilização
as situações das Microrregiões de máquinas, insumos e técnicas
Extremo Oeste Paranaense (n. 0 modernas nas diferentes etapas do

• Nas Microrregiões Extremo Oeste Paranaense e Alto Ivai verificaram-se variações relativas
no número de estabelecimentos com área inferior a 20 ha, no período de 1970-1975 da ordem de
14,5% e 29,0%, respectivamente.
o Nessa Microrregião o aumento da área cultivada foi de 32%.

17
processo de trabalho agrícola vem ou manteve-se estável, na maioria
acentuar o caráter sazonal do em- dos casos, apresentando crescimen-
prego de mão-de-obra rural. Assim, to significativo apenas na Grande
se por um lado a utilização de in- São Paulo 10 • Nessa Unidade da
seticidas (herbicidas) gera uma Federação a redução no total de
redução de trabalhadores que se pessoal ocupado na agricultura, no
ocupariam das carpas, por outro, o período de 1970 a 1975, conforme
emprego de insumos, elevando a já foi observado, tanto se deve ao
fertilidade do solo, pode aumentar nível de modernização por ela
a demanda por força de trabalho atingido, quanto à substituição de
na época da colheita. Em função cultivos. Entre eles situa-se o café,
dessa maior periodicidade da de- produto que muito solicitava mão-
manda de força de trabalho, tor- de-obra e que se viu preterido, em
nam-se os empregados assalariados muitas áreas, por certos cultivos
temporários aqueles que melhor temporários mais valorizados no
atendem às necessidades de mão- mercado e, também, pela pecuária.
de-obra dos estabelecimentos ru- Por essas razões, a categoria de
rais. empregados permanentes também
Também a categoria de empre- apresentou uma redução nesse in-
gados assalariados permanentes tervalo de tempo, mas, num con-
apresentou, em muitas áreas, ten- texto em que se deu, em geral, uma
dência à expansão, paralelamente diminuição do contingente de tra-
à redução do trabalho familiar balhadores rurais, essa categoria
(Mapa 2). Quando se observam, foi a que adquiriu maior expres-
entretanto, as variações absolutas são, no período d~ 1970 a 1975, ao
e relativas desse contingente de mesmo tempo em que decrescia o
mão-de-obra rural nas diversas mi- trabalho familiar.
crorregiões que se caracterizaram Microrregiões do Paraná que
por essa tendência, quanto às alte- também se caracterizaram por·
rações nas relações de trabalho, maiores participações na categoria
percebe-se que, em algumas delas, de pessoal ocupado em trabalho
deu-se redução desse contingente permanente revelaram, entretanto,
de pessoal ocupado, enquanto nou- situações contrastantes com rela-
tras se verificou crescimento sig- ção às variações dessa categoria de
nificativo (Tabela 1). Essas dife- pessoal ocupado. Enquanto na de
rentes situações relacionam-se às Norte Novíssimo de Paranavaí
variações no total de pessoal ocu- (n.o 283) a categoria de emprega-
pado. Se se verifica uma redução dos permanentes apresentou um
da mão-de-obra rural como um crescimento de 49%, na de Norte
todo, a categoria de empregados Novo de Londrina (n. 0 281) ocor-
permanentes, mesmo tendo sofrido reu uma redução desse contingen-
um decréscimo, pôde, em 1975, al- te, da ordem de 31% no período em
cançar maiores participações no questão. Tais variações fazem-se
conjunto da força de trabalho. acompanhar, respectivamente, de
Em São Paulo verificou-se que, fortes reduções e de elevados cres-
de modo geral, nessa área onde a cimentos das áreas utilizadas com
mão-de-obra familiar vem perden- lavouras temporárias, nessas áreas
do expressão, em relação às demais que se caracterizam pela impor-
categorias de pessoal ocupado na tância da atividade de lavoura. A
agricultura, a categoria de empre- incorporação de áreas à superfície
gados permanentes acusou redução utilizada com cultivos temporários

10 Nessa Microrregião a variação relativa do total de empregados em trabalho permanente


!oi de 14,6%.

18
na região de Londrina está relacio- oeste, revela-se, em Mato Grosso do
nada à erradicação dos cafeeiros Sul, numa área que se caracteriza
que aí se processou. A menor ab- também pela redução de importân-
sorção de pessoas ocupadas em tra- cia do trabalho familiar com ten-
balho permanente verificada em dência à expansão dos empregados
Londrina associa-se à substituição assalariados permanentes, consti-
de uma lavoura permanente, o tuída pelas Microrregiões Cam-
café, por produtos anuais, como o pos de Vacaria e Mata de Dourados
trigo e a soja. Tal situação decorre (n. 0 344) e Pastoril de Campo
do fato de que, enquanto o café se Grande (n. 0 342) (Mapa 2). Nes-
notabiliza por demandar um núme- sas áreas dá-se, a partir da década
ro significativo de trabalhadores de 70, a expansão da atividade
permanentes para tratos do cafe- agrícola em áreas de cerrado e de
zal e, sobretudo, para a colheita, campo limpo, que, até então, eram
esses cultivos temporários, além de basicamente voltadas para a pe-
não possuírem essa característica, cuária. A conquista dessas áreas
têm incorporado técnicas moder- para a prática da lavoura tornou-
nas nas suas diversas fases de se viável, mediante a utilização
cultivo, o que resulta num menor maciça de máquinas e de insumos
emprego de mão-de-obra em cará- modernos. Essa inovação vai se re-
ter permanente. fletir nos dados de 1975, que acusa-
Na Microrregião Norte Novís- ram uma superioridade das áreas
simo de Paranavaí (n. 0 283) a si- em lavoura temporária, em relação
tuação que se apresenta é oposta. às de 1970. Como esses cultivos
Verifica-se uma expansão do traba- temporários são realizados, muitas
lho permanente, ao mesmo tempo vezes, em áreas que se destinam à
em que ocorre uma redução das formação de pastagens, estas tam-
áreas em lavouras temporária e bém apresentaram crescimento no
permanente 11 • O que se percebe é período considerado. Além disso,
que a atividade de pecuária é a que as lavouras permanentes, sendo o
se expande, uma vez que as áreas café o seu principal representante,
em pastos naturais e artificiais fo- expandem-se nessa região de Mato
ram os usos da terra a apresenta- Grosso do Sul 1 3.
rem crescimento 12• Tal alteração Entretanto, a análise das varia-
parece ser responsável pela maior ções do total de pessoal ocupado
expansão dos assalariados perma- nas atividades agrícolas nessas
nentes e também pela redução do duas microrregiões revelam, para
total de pessoal ocupado nas ativi- o período de 1970 a 1975, diferen-
dades agrícolas. tes situações quanto à absorção da
O prolongamento dessa área on- mão-de-obra rural. Embora se tra-
de se concentram os níveis mais te de área onde a lavoura se cons-
elevados quanto ao emprego de titui numa atividade importante,
máquinas e insumos modernos na o que se pode constatar pelo eleva-
agricultura, em direção ao centro- do valor de sua produção 14 , verifi-

u Enquanto o contingente de trabalhadores permanentes apresentou um crescimento de


86,0%, as áreas em lavouras permanente e temporária. sofreram reduções de -13,0% e --45,6%,
respectl va.mente.
u A área. em pastagem natural sofreu um aumento de 223,0%, enquanto a. de pastos
plantados cresceu 28,0%.
,., A expansão da área cultivada. é constatada pelas seguintes variações relativas: Micror-
região n.o 344 (lavoura permanente: 71,0%; lavoura temporária: 123,0%; pastos plantados: 80,0%).
H Nas Microrregiões Campos de Vacaria e Me.ta de Dourados e na Pastoril de Campo Grande o
valor da lavoura atinge, respectivamente, <:3,8% e 52,6% do valor da produção agropecuária.

19
cou-se que nas Microrregiões Cam- de ação do Programa Nacional de
pos de Vacaria e Mata de Dou- Desenvolvimento da Pecuária de
rados ocorreu, nesse período, um Corte, implantado no início da dé-
aumento do contingente de pessoal cada de 70, tem apresentado ex-
ocupado na agricultura, enquanto pansão da pecuária bovina, ainda
na Pastoril de Campo Grande que com características de um
deu-se uma redução. Apesar desses sistema pouco melhorado, pois fo-
diferentes quadros, no que diz res- ram os pastos naturais que acusa-
peito à absorção de mão-de-obra, ram as maiores incorporações de
observa-se que há uma tendência áreas 11'. Tal fato pode ser decorren-
comum a essas áreas de Mato te da exploração da madeira,
Grosso do Sul, que é a expansão do quando, então, as áreas de mata
emprego de assalariados perma- dariam lugar à formação de pas-
nentes. A intensificação da utili- tos espontâneos. A importância do
zação de trabalhadores assalaria- trabalho permanente que vem
dos relaciona-se às características apresentando uma variação relati-
da atividade agrícola em moldes va positiva pode estar relacionada
empresariais que vem sendo prati- a essa atividade de extração madei-
cada nessa região, palco de muitos reira, bem como à expansão da
investimentos de sulistas e paulis- pecuária (Tabela 1).
tas que aí adquirem grandes pro- Resultante da heterogeneidade
priedades em áreas de campo cer- das formas de relações de produção
rado. A chegada desses produtores integrantes do sistema capitalista,
que inovaram quanto à utilização têm-se, áreas em que, paralela-
de solos, ao efetuarem o plantio de mente à redução da participação
cultivos temporários em áreas que, do trabalho familiar, verifica-se
até então, tinham como finalida- uma expansão, em 1975, de rela-
de básica a criação bovina, trouxe, ções de trabalho não tipicamente
naturalmente, profundas trans- capitalistas, como é o caso da par-
formações nas características do ceria. Em São Paulo, essa situação
emprego da mão-de-obra na agri- ocorre apenas na MRH de Nova
cultura. Assim, reduz-se, de 1970 Alta Paulista (n.o 239), onde a
para 1975, a participação do traba- importância da lavou r a poderia ser
lho familiar, em função de um apontada como fator responsável
processo de concentração fundiá- pela crescente adoção da parceria
ria e de modernização das técnicas, (Mapa 2). Apesar de ter-se verifi-
e surge como tendência mais acen- cado uma redução da área ocupada
tuada o emprego de trabalhadores com lavouras temporárias, nesse
permanentes. Constituindo-se, de período, essa microrregião ainda
modo geral, no segmento de força mantém uma posição de destaque
de trabalho mais qualificado, os no Estado quanto à produção de
empregados permanentes se asso- cultivos anuais. Por outro lado, a
ciam a esses empreendimentos mo- lavoura permanente, tendo o café
dernos que se instalam nessa área como seu principal representante,
de Mato Grosso do Sul. vem apresentando expansão de sua
Ainda nessa mesma categoriza- área 16 • É ele, dentre os produtos
ção, quanto às transformações da agrícolas, o mais importante quan-
mão-de-obra, inclui-se uma extensa to à área ocupada. Assim, o cresci-
área do norte do Espírito Santo, mento da parceria pode estar liga-
a Microrregião Baixada Espírito- do, não só à expansão dos cafeeiros,
Santense (n. 0 205) (Mapa 1). Zona como também à própria expressão

10 A expansão da área em pastagens naturais nessa Microrregião foi de 82,8%.


" O crescimento da área em lavoura permanente foi de 8,8%.

20
que a lavoura temporária ainda Grande do Sul: Litoral Oriental
ostenta nessa microrregião. da Lagoa dos Patos (n.o 318) e
No Paraná, verifica-se que essa Colonial das Missões (n. 0 323)
relação de trabalho alcança maior (Mapa 2). Uma vez que era na
expressão, simultaneamente com o força de trabalho familiar que se
declínio da importância do traba- concentrava, nos anos em estudo, a
lho familiar, nas Microrregiões grande maioria dos trabalhadores
Norte Novo de Apucarana (n.o 284) agrícolas dessas áreas, as demais
e Norte Novíssimo de Umuarama categorias de pessoal ocupado pos-
(n.o 285), que se distinguiram pe- suíam importância muito reduzida.
la expansão de superfícies em pas- Assim, torna-se necessário, sobre-
tagens, o que vem sugerir que a tudo, compreender o sentido da
parceria esteja sendo empregada forte predominância nessas áreas
mais freqüentemente na pecuária, do regime de trabalho familiar.
onde os parceiros empregados, re- A grande concentração de esta-
crutados para a formação de pas- belecimentos de pequenas dimen-
tos, teriam como remuneração sões (menos de 20 ha), que de
porcentagem da produção dos cul- modo geral participam com mais
tivos temporários que antecedem de 60% do número total de esta-
as pastagens 11. belecimentos, é uma das caracte-
Com pequena expressão espacial, rísticas das áreas consideradas, o
situam-se as áreas, onde, concomi- que concorre para que seja elevada
tantemente com a menor partici- a participação do trabalho fami-
pação do trabalho familiar, alte- liar. Assim, a redução da participa-
rou-se pouco significativamente a ção deste contingente de mão-de-
participação das demais categorias obra no conjunto da força de
de mão-de-obra (Mapa 2). Cabe trabalho, apesar de não ser acen-
observar que, apesar dessa redução tuada, pode ser entendida através
do trabalho familiar, verifica-se da diminuição, no período de 1970
que este segmento de força de tra- a 1975, desses pequenos estabeleci-
balho abrange, tanto em 1970 mentos nas áreas de Missões e
quanto em 1975, porcentagens Irati 18 • Regiões coloniais antigas
muito significativas no total do vêm sofrendo, de alguma forma,
pessoal ocupado na atividade agrí- uma reorganização em sua estru-
cola, que variam de 84,0% a 94,0%. tura fundiária. De um lado, reduz-
Embora se tenha verificado, nas se o número de pequenas unidades
microrregiões que se enquadram de exploração, o que tem dado
nesse tipo, crescimento no total do origem à saída de população do
contingente de pessoal ocupado
na agricultura, não se observa- campo, e de outro, aumenta o nú-
ram transformações significativas mero de estabelecimentos de maio-
quanto à posição que ocupavam as res dimensões. Paralelamente, per-
demais categorias de trabalhadores cebe-se um aumento tanto das
num e noutro ano (Tabela 1). áreas em lavoura temporária.
Nesse caso, inclui-se a Microrre- quanto das pastagens plantadas, o
gião paranaense Colonial do Irati que expressa uma tendência ao
(n.o 276) e as Microrregiões do Rio desenvolvimento da pecuária 19 •
11 Nas Microrre!Üóes n.• 284 e n.• 285 a expansão das pastagens plantadas foi da ordem de
19,8% e 58,0%, respectivamente.
1s Nas Microrregiões Colonial do Iratl e Colonial das Missões a redução do número de
estabelecimentos com área inferior a 20ha foi de 37,9% e 17,3%, respectivamente .
.•o A expansão da lavoura temporária é expressiva principalmente na Microrregião Colonial
das Missões, onde se verificou um crescimento de 35,7% das áreas com esse uso da terra.
Quanto às áreas com pastagens plantadas, constata-se nas Microrregiões Colonial do Irati e
Colonial. das Missões uma variação de 68,0% e 72,47c, respectivamente.

21
TABELA 1

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
a) Redução da participação dos responsáveis e membros não
remunerados da família - 1970-1975
(continua)
PESSOAL DCU PADD

I Responsáveis e I
UNIDADES DA FEDERAÇÃO membros não Empregados
E Total remunerados da permanentes
Variação Variação Varia cão
MICRORREGIÕES relativa família relativa relatíva
19 70
I 1975 1970
I 1975 1970
I 1975
·--~

Espírito Santo
Baixada Espírito-Santense..... . 50 150 49 826 - 0.65 38 839 34 498 -11.18 4 536 7 032 55,03

São Paulo
Médio São José dos Dourados .. . 16 520 11 440 -30.75 13 956 7 805 -44.07 1 354 2 493 84,12
Média Araraguarense .......... . 37 433 38 403 2.59 17 996 15 926 -11,50 9 355 10 991 17.49
Alta Paulista ................. . 68 434 57 881 -15,42 36 054 25 183 -30,15 20 147 20 277 0.65
Jundiaí. ...................... . 17 135 17 114 - 0,12 9 644 8 877 - 7.95 4 413 5 270 19.42
Vale do Paraíba Paulista ..... . 37 019 36 935 - 0,23 19 455 16 915 -13.06 12 694 15 048 18,54
Grande São Paulo ............ .. 40 494 42 007 3.74 26 561 25 813 - 2,82 10 284 11 790 14,64
Nova Alta Paulista .......... .. 102 800 81 184 -21.03 80 347 52 118 -35,13 8 402 10 443 24.29
Alta Sorocabana de Presidente
Prudente ...................... . 88 669 86 895 - 2.00 72 879 59 276 -18,67 6 488 10 613 63,58
Alta Sorocabana de Assis ..... . 36 602 40 562 10.82 28 119 22 862 -1B,70 4 535 8 623 90.14
Divisor Turvo-Grande ......... .. 11 043 8 874 -19.64 5 980 3 932 -34,25 2 259 2 152 -4,74
Alta Mogiana ................ . 20 602 22 744 10.40 10 530 8 396 -20,27 6 653 8 713 30,96
Açucareira de Piracicaba ..... . 27 050 25 460 - 5,88 13 585 10 356 -23,77 7 901 8 365 5,87
Bragança Paulista ............. . 23 992 24 977 4,11 16 476 14 678 -10,91 4 612 5 604 21.51

Paraná
Norte Novo de Londrina ....... . 158 703 131 828 -16,93 92 222 57 243 -37,93 30 787 42 055 36.60
Norte Novíssimo de Paranavaí. .. 80 142 79 038 - 1,38 64 951 48 353 -25,55 8 959 16 669 86,06
Norte Novo de Apucarana ........ 150 084 148 338 -1,16 129 790 122 797 - 5,39 8 612 1o 482 21.71
Norte Novíssimo de Umuarama .. 223 219 208 271 - 6.70 204 303 167 058 -18.23 8 212 12 654 54,09
Campo Mourão .............. .. 194 593 180 663 -7.16 169 206 146 246 -13.57 9 394 12 196 29,83
Extremo Oeste Paranaense .... .. 309 372 370 564 19.78 289 017 332 424 15,02 6 702 11 080 65.32
Campos de Guarapuava ....... .. 51 231 56 014 9.34 46 481 46 667 0.40 2 290 3 725 62.66
Campos de Lapa .............. . 21 374 25 303 18,38 18 869 20 948 11.02 982 1 370 39,51
Curitiba ...................... . 50 436 53 232 5,54 46 194 44 555 - 3,55 1 734 2 206 27,22
Alto lvaí. .................... . 45 335 52 026 14.76 42 020 45 797 8,99 902 1 465 62.42
Norte Novo de Maringá ...... .. 67 090 70 713 5.40 58 271 45 023 -22.74 5 301 11 562 118,11
Colonial do lrati. ..... 51 866 51 516 - 0,67 48 758 47 194 - 3.21 829 1 108 33,66

Santa Catarina
Planalto de Canoinhas .. 54 219 58 824 8,49 47 678 47 346 - 0.70 1 725 2 469 43,13

Rio Grande do Sul


Porto Alegre............... 32 666 33 164 1,52 25 629 26 643 - 3,70 4 166 4 803 15,29
Litoral Oriental da Lagoa dos
Patos......................... 19 109 23 553 23.26 16 533 19 795 19.73 1 374 1 877 36,61
Colonial das Missões.......... 61 482 77 006 25,25 55 756 68 166 22.26 2 247 3 933 75,03

Mato Grosso do Sul


Pastoril de Campo Grande.. .. . 30 21 B 28 957 - 4.17 22 307 16 538 -25,86 3 738 8 012 114.34
Campos de Vacaria e Mata de
Dourados...................... 108 294 124 329 14,81 96 251 100 552 4.47 5 782 12 357 113.71

22
TABELA 1

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
a) Redução da participação dos responsáveis e membros não
remunerados da família- 1970-1975
(conclusão)
PESSOAL OCUPADO

UNIDADES DA FEDERAÇÃO Empregados


E temporários Parceiros Outra condição
Variação Variação Variação
MICRORREGIÕES relativa relativa relativa
1970
I 1975 1970
I 1975 1970
I 1975
-
Espírito Santo
Baixada Espírito-Santense ..... . 2 470 3 158 27,85 3 181 4 769 49,92 1 124 369 -67,17
São Paulo
Médio São José dos Dourados .. . 937 657 -29.88 227 477 110,13 46 8 -82,61
Média Araraguarense .......... . 4 590 4 785 4,25 5 306 6 431 21,20 186 270 45,16
Alta Paulista ....... . 9 584 8 456 -11.77 2 347 3 359 43,12 302 606 100,66
Jundiaí. ............ . 1 451 1 473 1,52 1 413 1 399 - 0,99 214 95 -55,61
Vale do Paraíba Paulista ..... . 4 431 4 406 - 0,56 11 o 92 16,36 329 474 44,07
Grande São Paulo ............ . 3 201 3 937 22.99 193 211 9,33 255 256 0,39
Nova Alta Paulista ...... . 13 101 7 985 -39.05 792 10 054 1 169,44 158 584 269,62
Alta Sorocabana de Presidente
Prudente .....•................ 8 233 15 787 91,75 379 269 -29,02 690 950 37,68
Alta Sorocabana de Assis ..... . 3 378 8 294 145,53 329 313 - 4,86 241 470 95,02
Divisor Turvo-Grande .......... . 2 142 2 484 15,97 599 110 -81,64 63 196 211,11
Alta Mogiana ................ . 3 135 5 307 69,28 250 20 -92,00 34 308 805,88
Açucare ira de Piracicaba ..... . 4 978 6 213 24,81 418 461 10,29 168 65 -61,31
Bragança Paulista ............. . 2 129 3 460 62,52 633 490 -22.59 142 745 424,65
Paraná
Norte Novo de Londrina ...... . 23 423 16 040 -31,52 11 209 15 789 40,86 1 062 701 -33,99
Norte Novíssimo de Paranavaí .. . 5 516 8 234 49,27 539 5 358 894,06 177 424 139,55
Norte Novo de Apucarana..... . . 1O 120 7 072 -30,12 1 081 7 850 626,18 481 137 -71.52
Norte Novíssimo de Umuarama.. 9 434 13 782 46.09 443 14 018 3 064,33 827 759 -8,22
Campo Mourão................ 14 530 19 499 34,20 881 2 271 157,78 582 451 -22,51
Extremo Oeste Paranaense. ... • 8 254 21 412 159,41 3 407 4 593 34,81 1 992 1 055 -47,04
Campos de Guarapuava........ 2 389 5 425 127,08 45 400,00 62 152 145,16
Campos de Lapa.............. 1 351 2 895 114.29 72 18 -75,00 100 72 -28,00
Curitiba. .. .. .. .. .. .. .. . .. .. . .. 2 279 6 286 175,82 33 44 33,33 196 141 -28,06
Alto lvaí...................... 2 250 4 469 98,62 81 69 -14,81 82 226 175,61
Norte Novo de Maringá........ 3 211 9 979 210,78 277 3 753 1 254,87 30 396 1 220.00
Colonial do lrati.............. 2 059 3 006 45,99 103 81 -21,36 117 127 8,55
Santa Catarina
Planalto de Canoinhas .... 4 586 8 793 91,74 151 153 1,32 79 63 -20,25
Rio Grande do Sul
Porto Alegre.................. 1 450 2 167 49.45 301 457 51.83 120 94 -21,67
Litoral Oriental da Lagoa dos
Patos......................... 884 1 333 50.79 209 372 77,99 109 176 61,47
Colonial das Missões.......... 2 883 4 239 47,03 427 373 -12,65 169 295 -74,56
Mato Grosso do Sul
Pastoril de Campo Grande.. . .. 3 376 4 136 22,51 569 70 -87.70 228 201 -11,84
Campos de Vacaria e Mata de
Dourados...................... 5 540 1O 623 91,75 366 201 -45,08 355 596 67,89

FONTE: IBGE - Censos Agropecuários de 1970 e 1975.

23
Esse contingente de mão-de-obra ocupado. Apesar de se tratar de
familiar é composto principalmen- uma área onde é marcante a supe-
te de pequenos proprietários e rioridade da mão-de-obra familiar
ocupantes. Estes últimos, sobretu- em relação às demais categorias de
do em áreas menos dinâmicas pessoal ocupado, percebe-se, no pe-
quanto ao desenvolvimento das ríodo de 1970 a 1975, a tendência
forças produtivas na atividade à sua redução.
agrícola, participam de forma mais
expressiva no conjunto dos produ- 2. 2 -Relativa estabilidade quan-
tores rurais e até acusam aumento, to à composição da mão-de-obra
como ocorre na área do Litoral rural
Oriental da Lagoa dos Patos 20 •
Essa expansão dos ocupantes é As microrregiões que se carac-
acompanhada de um crescimento terizam por manter, em certa me-
do número de pequenos estabeleci- dida, as mesmas características da
mentos 21 • Por se tratar de uma composição da mão-de-obra, em
área de restingas, a presença de 1970 e 1975, destacam-se por for-
solos de má qualidade não constitui mar um conjunto de unidades de
fator de atração para a realização observação que se apresentam de
de investimentos na atividade agrí- forma bastante contínua no espa-
cola, o que favoreceria a ocupação ço. Esse conjunto estende-se desde
de terras por posseiros. o sudoeste do Paraná, abrange
A redução de importância do quase a totalidade do Estado de
trabalho familiar assume grande Santa Catarina e alcança o Rio
relevo nessa área que se destacou Grande do Sul, onde engloba mi-
pela maior incorporação de técni- crorregiões do litoral norte, do
cas modernas ao processo de pro- Planalto Meridional, do vale do
dução agrícola, haja visto ter sido Jacuí e do Alto Uruguai. Além des-
essa a transformação predominan- sa área, verificaram-se também
te nesse conjunto de microrregiões. ocorrências isoladas nos Estados do
As inovações técnicas e a intensifi- Paraná, São Paulo e Pará (Ma-
cação de seu uso no processo de pa 2).
produção agrícola trouxeram alte- Apesar desta região se distin-
rações na organização do quadro guir por conservar, de certa forma,
agrário, que afetaram as caracte- as mesmas características quanto
rísticas da mão-de-obra na ativida- à distribuição das categorias de
de agrícola. Nesse sentido, a mo- pessoal ocupado na agricultura,
dernização técnica e a concentra- expressa situações diferentes quan-
ção fundiária situam-se como os to à variação do total da força de
fatores que contribuíram mais di- trabalho nas diversas microrre-
retamente para a redução do tra- giões. Tal situação deve-se ao fato
balho familiar e para a expansão de que as transformações que vêm
concomitante das relações de tra- se processando na agricultura des-
balho assalariadas. Além desses sas unidades de observação, quer
fatores há que considerar também quanto à estrutura fundiária,
a influência de alterações no uso quanto ao uso da terra ou quanto
da terra, que condicionaram, fre- às técnicas utilizadas nessa ativi-
qüentemente, certas transforma- dade, não chegaram a afetar, sig-
ções nas características do pessoal nificativamente, as relações de

"0 Na Microrregião Litoral Oriental da Lagoa dos Patos o número de produtores ocupan-
tes sofreu uma. variação de 35,3%.
m Foi da. ordem de 11,6% o aumento do número de estabelecimentos com área. inferior a
20ha.

24
trabalho no campo. Neste sentido, plantadas, tem atuado no sentido
não se observou uma realocação de intensificar a ida para a região
das diversas categorias de trabalha- de pessoas voltadas para a ativida-
dores, mas se constatou, sobretudo, de agrícola. Sendo essa área tra-
como repercussão dessas transfor- dicionalmente de característica
mações na agricultura, um aumen- colonial, essas alterações não che-
to do contingente de pessoas en- garam a afetar a composição da
volvidas na atividade agrícola. mão-de-obra rural, que tem no
Destacam-se, quanto à expansão grupo de responsáveis e membros
do número de trabalhadores na não remunerados da família seu
agricultura, grupos de microrre- mais importante segmento de força
giões que se estendem pelo sudo- de trabalho.
este do Paraná, oeste de Santa Ca- Apesar da manutenção das mes-
tarina, Alto Vale do Uruguai, no mas características quanto à par-
Rio Grande do Sul, como também ticipação das diversas categorias
no Planalto Meridional rio-gran- de pessoal ocupado, em 1970 e em
dense e vale do Jacuí (Tabela 2). 1975, no total da força de trabalho,
Analisando-se a distribuição dessas ao se analisarem as variações rela-
áreas, no contexto da região que tivas ocorridas nesse mesmo perío-
se caracterizou por apresentar os do, percebe-se que foram as catego-
mais elevados níveis quanto à in- rias de trabalho não regidas pelo
corporação de técnicas modernas à assalariamento, como a de parceria
atividade agrícola, observa-se que e a de responsáveis e membros não
há uma certa coincidência entre remunerados da família, que acu-
microrregiões que se apresentaram saram elevadas variações relativas
nos níveis mais elevados, quanto num maior número de microrre-
ao crescimento do pessoal ocupado giões. Porém, observa-se que essa
na agricultura, e áreas de relativa expansão de formas de relações de
estabilidade, quanto às caracterís- trabalho não tipicamente capita-
ticas da composição da mão-de- listas ocorre concomitantemente
obra. com a expansão do assalariamento.
Essa expansão do pessoal ocupa- Assim, num número significativo
do relaciona-se à dinamização que de microrregiões se dá, ao lado do
a agricultura vem sofrendo nessas aumento da parceria e do trabalho
regiões, onde os produtos de alto familiar, o crescimento do número
valor comercial vêm tendo suas de trabalhadores assalariados tem-
áreas ampliadas, passando a ocu- porários e permanentes (Tabela 2).
par, muitas vezes, áreas anterior- Tal fato pode expressar algumas
mente utilizadas com pastagens. das transformações que vem so-
frendo essa área.
As microrregiões pertencentes a
essa área em análise caracterizam- A redução do número e área de
se, todas elas, pela importância do estabelecimentos de tamanho infe-
trabalho familiar, que chega a rior a 100 ha em grande parte das
atingir participações superiores a microrregiões, enquanto se dá um
90,0%, em 2/3 das unidades de aumento das superfícies ocupadas
observação que a integram, tanto com aqueles de maiores dimensões,
em 1970, quanto em 1975. A dina- isto é, com área acima de 1. 000 ha,
mização que vem se processando no período de 1970 a 1975, expres-
na atividade agrícola, observada sa uma concentração de terras nas
não só pela maior adoção de me- mãos de um menor número de
canização e utilização de insumos produtores. Na realidade, paralela-
modernos, como também pela ex- mente à redução dos pequenos
pansão das áreas utilizadas com estabelecimentos, tem-se observado
lavouras temporárias e pastagens uma diminuição do número de

25
TABELA 2

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
b) Situação de relativa estabilidade - 1970-1975
(continua)
PESSOAL OCUPADO

Responsáveis e
UNIDADES DA FEDERAÇÃO Total membros não Empregados
E Variação remunerados da Varia cão permanentes Variação
MICRORREGIÕES relativa família relativa relativa
1970
I 1975 1970
I 1975 1970
I 1975

ará
Salgado ....... . 52 901 69 216 30,84 48 660 64 644 32,85 307 571 85.99

São Paulo
Rio Claro .. 14 643 14 662 0,13 8 864 9 038 1,96 3 770 3 875 2.79
Paranapiacaba 44 559 53 411 19,87 30 746 36 542 18,85 3 575 5 030 40.70

Paraná
Norte Velho de Venceslau Brás.. 66 058 73 732 11,62 56 700 62 590 10,39 3 527 5 131 45,43
Sudoeste Paranaense.. 195 330 242 807 24,31 186 275 227 368 22,06 2 266 4 147 83,01
Médio Iguaçu 37 668 38 601 2.48 34 130 34 539 1,20 1 665 1 978 18,80
Santa Catarina
Colonial de Joinvile .. .. 30 825 27 833 -9.71 29 275 26 373 -9.91 664 857 29.07
Colonial de Blumenau......... 61 735 67 517 9,37 59 025 65 388 10,78 1 120 1 055 -5,80
Colonial do ltajaí do Norte.... 17 251 22 653 31,31 16 776 21 742 29,60 170 170 0,00
Carbonífera................... 52 751 61 995 17,52 50 277 58 815 16,98 498 765 53,81
li!Oral Sul Catarinense......... 28 697 33 127 15,44 26 203 30 449 16,20 255 434 70,20
Colonial do Sul Catarinense...... 26 562 31 743 19,51 23 762 28 737 20,94 460 301 -34,57
Campos de Curitibanos......... 45 206 49 335 9,13 38 070 42 009 10,35 2 210 2 505 13,48
Colonial do Rio do Peixe...... 106 502 105 374 -1,06 100 284 98 612 -1,67 2 662 3 986 49.74
Colonial do Oeste Catarinense.. 184 712 222 474 20,44 177 835 215 229 21,03 1 866 2 721 45,82
Florianópolis..... 22 680 21 701 -4,32 21 008 20 491 -2,46 567 600 5,82
Rio Grande do Sui
Colonial da Encosta da Serra
Geral.......................... 68 879 73 E54 6,79 66 354 70 228 5,84 1 229 1 474 19,93
liroral Setentrional do Rio
Grande do Sul................. 44 053 52 105 18,28 40 733 47 964 17.75 1 205 1 472 22,16
Vinicultura de Caxias do Sul... 64 789 72 535 11,96 60 533 69 095 14,14 1 526 1 875 22,87
Colonial do Alto Taquari....... 57 567 83 549 45,13 55 623 81 292 46,15 516 650 25,97
Colonial do Baixo Taquari...... 68 799 88 610 28,80 66 516 85 601 28,69 682 899 31,82
Fumicultura de Santa Cruz do
Sul........................... 91 900 133 638 45.42 84 264 123 885 47,02 1 679 1 655 -1.43
Vale do Jacuí..... ...... .. .. .. 55 714 79 243 42,23 47 849 68 222 42,58 4 063 4 759 17,13
Colonial de Santa Rosa....... 158 057 201 079 27.22 152 396 191 852 25,89 1 697 1 713 0,94
Colonial do lraí............... 124 632 170 623 36,90 118 084 163 923 38,82 1 591 1 858 16,78
Colonial de Erechim........... 119 795 162 562 35,70 115 266 156 936 36,15 1 811 2 053 13,36
Colonial de ljuí...... .. . 29 976 38 474 28,35 27 720 35 514 28,12 856 1 559 82,13
Colonial do Alto Jacuí..... .. . 13 606 17 986 32,19 11 958 16 049 34,21 554 1 098 98,19
Soledade...................... 36 641 39 891 8,87 34 191 36 937 8,03 540 1 345 149,07

26
TABELA 2

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
b) Situação de relati-z;a estabilidade - 1970-1975
(conclusão)
PESSOAL OCUPADO

UNIDADES DA FEDERAÇÃO Empregados I


E temporários
Parceiros Outra condição
Variacão Variação Vari:Jcão
MICRORREGIÕES relativa relativa relativa
1970
I 1975
I 1970
I 1975
I 1970
I 1975
-
Pará
Salgado ... 3 137 3 781 20.53 114 141 23.68 683 79 -88.43

São Pauiu
RIO Claro. 1 544 1 420 -3,03 212 21 o -0,94 253 119 -52.96
Paranapiacaba. 7 741 9 395 21.33 2 392 2 192 -8,36 105 251 139.05

Paraná
Norte Velho de Venceslau Brás. . 4 096 4 305 5,10 1 246 1 464 17,50 489 242 -50,51
Sudoeste Paranaense........... 4 160 9 982 139,95 874 738 -15,56 1 755 572 -63.73
Médio Iguaçu.. 1 363 1 911 40,21 34 49 44,12 476 124 -73,95

Santa Catarina
Colonial de Joinvile... 762 466 -38,85 70 98 40,00 54 39 -27.78
Colonial de Blumenau 1 380 939 -31,96 103 47 -54,37 107 88 -17,76
Colonial do ltajaí do Norte 285 730 156,14 14 2 -85,71 50,00
Carbonífera..... 1 418 1 929 36,04 395 380 -3,80 163 106 -34,87
Litoral Sul Catarinense......... 1 835 1 963 6,98 351 249 -29,06 53 32 -39,62
Colonial do Sul Catarinense..... 2 127 2 168 1,93 150 313 108,67 63 224 255.56
Campos de Curitibenos 4 653 4 587 -1.42 98 96 -2,04 173 138 -20,23
Colonial do Rio do Peixe...... 2 357 2 421 2.72 689 237 -65,60 510 118 -76,86
Colonial do Oeste Catarinense.. 3 591 3 013 -16,10 901 955 5,99 519 556 7,13
Florianópolis... 886 556 -37,25 89 40 -55,06 130 14 -89,23

Rio Grande do Sul


Colonial da Encosta da Serra
Geral..................... 635 1 111 74.96 466 488 4.72 195 253 29,74
Litoral Setentrional do Rio
Grande do Sul................ 1 659 2 438 46,96 286 107 -62,59 170 124 -27.06
Vinicultura de Caxias do Sul.. 2 317 959 -58,61 174 362 108,05 239 244 2.09
Colonial do Alto Taquari...... 1 145 1 421 24,10 86 124 44.19 197 62 -68,53
Colonial do Baixo Taquari..... 703 958 36,27 81 o 837 3,33 88 315 257,95
Fumicultura de Santa Cruz do
Sul........................... 3 228 5 358 65,99 2 518 2 345 -6,87 211 395 87,20
Vale do Jacuí............. 2 337 4 481 91,74 1 215 1 196 -1,56 250 585 134,00
Colonial de Santa Rosa..... 2 747 5 965 117,15 1 081 1 170 8,23 136 379 178,68
Colonial do lraí 3 505 3 941 12.44 934 585 -37,37 518 316 -39,00
Colonial de Erechim. 2 068 2 996 44,87 408 330 -19,12 242 247 2,07
Colonial de ljuí..... 803 1 020 27,02 457 284 -37,86 140 97 -30,71
Colonial do Alto Jacuí...... 817 732 -10.40 248 80 -67.74 29 27 -6,90
Soledade... 647 1 451 -11,90 217 119 -45,16 46 39 -15.22

FONTE: IBGE - Censos Agropecuários de 1970 e 1975.

27
produtores proprietários, ao mes- ocupadas por um maior número de
mo tempo em que se percebe uma posseiros no período de 1970 a
tendência à expansão das áreas 1975 ~ 2 • A faixa litorânea, que
exploradas por esses produtores. compreende áreas de solos de
Essas variações, que vêm refletir pior qualidade, e, portanto, menos
mudanças na distribuição dos es- disputados para a atividade agrí-
tabelecimentos rurais, podem ser cola, propicia essa forma de apro-
responsáveis por alterações nas priação da terra. No Rio Grande
relações de trabalho. Assim, a ten- do Sul verifica-se que, nessa área
dência observada à redução dos caracterizada por uma relativa es-
pequenos estabelecimentos, tendo tabilidade quanto à composição da
em vista a realização de explora- mão-de-obra, não há, com exceção
ções agrícolas em escala comercial, apenas de uma Microrregião, Có-
que se caracterizam por maiores lonial de Ijuí (n. 0 327), áreas que
investimentos em máquinas e in- tenham se destacado por apresen-
sumos modernos, pode estar rela- tarem variações positivas muito
cionada à maior adoção de empre- significativas quanto ao número de
gados em regime de assalariamen- estabelecimentos explorados por
to. Sabe-se que esta modalidade de ocupantes 23 • Desta maneira, a ex-
trabalho, permitindo maximizar a pansão do trabalho familiar pode
taxa de lucros das explorações, é ter sua explicação, não só no
a mais adequada ao tipo de agri- crescimento das explorações dos
cultura, de caráter empresarial, ocupantes, mas, sobretudo, no au-
que vem se estruturando nessas mento das explorações realizadas
áreas do sul do País. por parceiros, que se verificou em
Em algumas microrregiões a ex- áreas como as do vale do Taquari
pansão verificada no número de e Alto Uruguai.
unidades de exploração dirigidas De modo geral, percebe-se que
por ocupantes parece ser respon- nessa área em estudo tem se veri-
sável pelo aumento do trabalho ficado um aumento expressivo do
familiar, já que os posseiros, por número e área de estabelecimentos
ocu parem em geral áreas mais res- cujos responsáveis por sua explo-
tritas e por sua menor disponibili- ração são parceiros. Na realidade,
dade de recursos, tendem a se valer foi esta categoria de produtor ru-
basicamente da força de trabalho
familiar. Assim, verificou-se que, ral a que acusou variações positivas
principalmente em microrregiões mais significativas num maior nú-
de Santa Catarina e Rio Grande mero de microrregiões, que se
do Sul, há uma correspondência apresentam bastante concentradas
entre variações relativas positivas no Rio Grande do Sul. Nesse Estado
do número de estabelecimentos ex- a expansão desse regime de explo-
plorados por ocupantes e variações ração tem se dado de forma gene-
positivas referentes ao número de ralizada, no âmbito da área em
pessoas ocupadas em regime de questão, pois tal situação é obser-
trabalho familiar. Em Santa Cata- vada tanto em microrregiões do
rina é sobretudo na parte leste que · litoral, quanto do Planalto Meri-
se concentram as áreas que foram dional e Alto Uruguai.

oa Ne!IBe sentido, a Carbonifera é o melhor exemplo, em Santa Catarina, de exuansll.o do


núm€'ro de estabelecimentos explorados por ocupantes (82,5%). Nessa mesma Microrr;gião veri-
ficou-se, também, um aumento do contingente de responsáveis e membros nll.o remunerados
da familia (16,9%).
03 Nessa Microrregião a variação relativa do número de estabelecimentos explorados por
ocupantes foi de 35,4%, enquanto a do contingente de trabalhadores em regime familiar foi
da ordem de 28,1%.

28
Além da expansão de parceiros agricultura. Da mesma forma, as
produtores (parceiros autônomos), alterações que se processaram na
que estaria contribuindo para que estrutura fundiária no regime de
o trabalho familiar, que já é domi- exploração e no uso da terra tive-
nante nessa área em questão, tives- ram como conseqüências princi-
se um aumento em grande parte pais, no que se refere à mão-de-
das microrregiões, no período de obra rural, o crescimento do total
1970 a 1975, tem-se um crescimento do contingente de trabalhadores,
do número de parceiros emprega- verificando-se o aumento, tanto de
dos, conforme já assinalado (Tabe- formas de relações de trabalho não
la 2). Essa relação de trabalho é assalariadas (responsáveis e mem-
freqüentemente utilizada mesmo bros não remunerados da família
em áreas onde as transformações e parceiros), quanto de formas
da agricultura, em face da expan- assalariadas (permanentes e tem-
são da penetração do capitalismo porários). Assim, a tese de que a
no campo, são marcantes. A manu- expansão do capitalismo no campo
tenção da parceria se dá em função se dá através da preservação ou
de uma série de vantagens que o expansão de relações de produção
emprego dessa modalidade de tra- não tipicamente capitalistas pode
balho oferece, como, por exemplo, ser comprovada, ao se estudar essa
a divisão, entre o empresário e o área do sul do País.
parceiro, de eventuais prejuízos
com perdas de produção. 2. 3 - Aumento da participação
A maior adoção dessa relação de do trabalho assalariado perma-
trabalho faz-se acompanhar de um nente
crescimento das áreas em pasta-
gens e em lavoura, principalmente A análise das variações do total
da temporária, pois a permanente de pessoal ocupado na agricultura,
apresenta-se em expansão apenas para o conjunto de microrregiões
em algumas microrregiões. Os par- que se caracterizou pela expansão
ceiros, além de serem empregados do trabalho assalariado permanen-
na atividade de lavoura, são tam- te, no período 1970-1975, revelou
bém contratados freqüentemente que, em grande parte dessas uni-
para a formação de pastagens, re- dades de observação, deu-se uma
cebendo, neste caso, participação redução do contingente de pessoal
nos produtos que tenham cultiva- ocupado na agricultura (Tabela
do enquanto se ocupavam em rea- 3). Tal situação se refere sobretudo
lizar aquela tarefa. às microrregiões de São Paulo e
se vincula ao processo de moder-
A ocupação da terra em moldes nização, que, nesse Estado, tem
coloniais, que é característica em alcançado proporções superiores às
grande número de unidades de das demais Unidades da Federação.
observação dessa área em análise, Muitas dessas áreas destacaram-se
parece ser um fator importante no passado pela importância da
a influenciar a manutenção de atividade agrícola, baseada forte-
praticamente a mesma estrutura mente no cultivo do café. A mu-
quanto à composição da mão-de- dança para uma outra atividade,
obra rural em 1970 e 1975. As a pecuária, que, ao contrário do
transformações técnicas, no que café, era poupadora de mão-de-
diz respeito à maior utilização de obra, resultou na liberação de tra-
máquinas e insumos modernos na balhadores rurais em grandes pro-
atividade agrícola, não foram ca- porções. Apesar da retomada da
pazes de atuar no sentido de pro- atividade de lavoura, devido aos
vocar uma realocação das diversas incentivos que lhe têm sido dirigi-
categorias C.e pessoal ocupado na dos, não tem havido solicitação de

29
mão-de-obra que corresponda a vas, no período de 1970 a 1975,
essa expansão da lavoura. Assim é apresentou, de fato, aumentos
que no intervalo de tempo de 1970 acentuados em praticamente todo
a 1975, em que se verifica maior esse conjunto de microrregiões
emprego de técnicas modernas na (Tabela 3 e Mapa 2).
agricultura, simultaneamente com
a incorporação de áreas à atividade Esse aumento do contingente de
de lavoura, constata-se redução no trabalhadores assalariados perma-
total do contingente de força de nentes, numa região que se carac-
trabalho. Tal situação revela o ca- terizou pelas maiores incorporações
ráter da atividade agrícola cada de técnicas modernas à atividade
vez menos absorvedor de mão-de- agrícola, merece reflexão na me-
obra, devido à mecanização e uti-
. em que é sobretudo' ao au-
d1da
lização de técnicas e insumos mento do número de trabalhadores
modernos, que reduzem, substan- temporários que normalmente se
cialmente, as necessidades de tra- vinculam práticas agrícolas mo-
balhadores nas diferentes fases do dernas. Sabe-se que o empregado
processo de produção agrícola. permanente, em regiões onde a
Por outro lado, num menor nú- expansão da agricultura vem se
mero de microrregiões observou-se dando em moldes empresariais mo-
um crescimento do total de pessoal dernos, tende a ser absorvido ape-
ocupado na agricultura, nesse nas em pequeno número pelas
mesmo período, ainda que de for- unidades produtivas, em geral para
ma não muito acentuada (Tabela funções mais especializadas. Assim
3). Torna-se interessante observar sendo, a maior parte dos trabalhos
que o aumento do contingente de agrícolas seria realizada por tra-
trabalhadores faz-se acompanhar balhadores temporários, contrata-
também da expansão de áreas de dos nos períodos de maior necessi-
lavoura, mas supõe-se que essa si- dade de mão-de-obra para realizar
tuação se relacione, sobretudo, ao tarefas específicas. Entretanto, os
nível de modernização menos in- dados relativos ao pessoal ocupado
tenso da atividade agrícola dessas nas atividades agrícolas, em 1970
microrregiões, responsável por essa e 1975, revelaram que, num con-
maior solicitação de mão-de-obra. junto de microrregiões que se des-
Apesar de algumas delas se locali- tacou pela maior utilização de
zarem em São Paulo, que se carac- técnicas modernas na atividade
teriza por desenvolver uma agri- agrícola, foram os empregados
cultura mais modernizada, esse permanentes os que passaram a
aumento do número de trabalha- apresentar maior participação no
dores ocorre também em áreas do total da força de trabalho. Esta
sul. de Minas Gerais e de Goiás, situação se torna mais estranha,
assim como em Alagoas (Tabela 3). quando se observa que são sobre-
tudo microrregiões do Estado de
Num contexto em que as unida-
des de observação se caracteriza- São Paulo, onde a proletarização
ram, sobretudo, pela redução do do trabalhador rural é fenômeno
contingente de trabalhadores na de proporções já bem conhecidas,
agricultura, tem-se como tendência que se incluem nessa categoria
comum a maior participação da quanto às transformações nas re-
categoria de empregados assalaria- lações de trabalho. Diante de tal
dos permanentes no total da força fato é-se levado a crer que essa
de trabalho, que, em termos de maior participação dos assalaria-
suas variações absolutas e relati- dos permanentes se deva, em gran-

30
TABELA 3

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
c) Aumento da participação de empregados
permanentes - 1970-1975
(continua)
PESSOAL OCUPADO

I Responsáveis e
UNIDADES DA FEDERAÇÃO membros não Empregados
E Total remunerados da
Variação Variação permanentes Variação
MICRORREGIÕES
I relativa família relativa relativa
1970
I 1975
I I 1970 II 1975 1970
I 1975

Pernambuco
Mata Seca Pernambucana ....... 77 194 72 240 -6.42 38 334 35 539 -7,29 21 373 22 303 4,35

Alagoas
Mata Alagoana .... 83 771 81 423 -2,80 41 411 37 912 -8,45 20 360 30 822 51,39
Tabuleiros de São Miguel dos
Campos ...................... 16 965 26 907 58,60 6 355 9 052 42,44 4 266 9 010 111,20
Maceió .. .............. 7 921 9 489 19,80 2 445 2 192 -10,35 3 056 5 237 71.37

Minas Gerais
Furnas .... 77 460 87 823 13.38 41 975 44 014 4,86 15 898 25 918 63,03
Uberaba .................. 15 310 14 560 -4,90 7 152 6 091 -14,84 2 995 4 288 43,17
Mogiana Mineira ............. 48 788 48 295 -1,01 28 832 27 486 -4,67 11 244 13 562 20,62

Rio de Janeiro
Rio de Janeilo .. 259 841 278 564 7.21 162 653 174 689 7,40 f,9 546 56 521 14,08

São Pa~lo

Planalto de Franca ... 16 060 15 911 -0,93 7 480 5 644 -24,55 5 134 6 933 35,04
Divisor São José dos Dourados·
Tietê ........... ············· 24 934 18 711 -24,96 16 700 12 737 -23,73 3 263 3 495 7,11
São José do Rio Preto ....... 34 160 30 707 -10,11 20 914 19 345 -7,50 4 818 7 150 48,40
Ribeirão Preto ................ 29 088 30 540 4,99 9 660 8 650 -10,46 11 650 14 705 26,22
Serra de Batatais .............. 14 111 17 146 21,51 5 375 7 107 32,22 4 914 7 015 42,76
Bauru .............. 49 744 48 850 -1,80 23 208 19 802 -14,68 15 952 20 781 30,27
Araraquara ................•... 40 495 45 913 13,38 18 385 16 057 -12,66 12 422 19 040 53,28
Jd ..................•...... 21 884 22 183 1.37 10 689 8 962 -16,16 6 178 8 724 41,21
Campinas ................ 51 601 48 181 --6,63 24 857 22 774 -8,38 13 227 15 409 16,50
Estâncias Hidrominerais
Paulistas ...................... 23 643 21 703 -8,21 12 401 10 268 -17,20 5 168 6 758 30,77
Serra de Botucatu ............. 44 583 37 7P.6 -15,25 24 521 19 556 -20,25 12 627 12 855 2.04
Sorocaba ................... 28 707 27 510 -4,17 16 036 14 132 -11,87 7 887 9 384 18,98
Baixada do Ribeira ... 26 828 23 350 -12,96 18 162 16 260 -10.47 3 836 4 352 13.45

Paraná
Norte Velho de Jacarezinho . ... IDO 975 87 207 -13,64 59 197 48 423 -18,20 28 358 27 619 -2.61

Santa Catarina
litoral de ltajal 8 859 7 056 -20,35 7 960 6 102 23,34 349 727 108,31
Rio Grande do Sul
Triticultura de Cruz Alta ... 44 740 61 523 37,51 37 714 50 868 34,88 3 129 6 319 101,95

Goiás
Serra do Caia pó ..... 29 060 39 110 34,58 16 521 19 762 19,62 3 451 7 588 119,88
Distrito Federal ....... 7 284 8 582 17,82 5 393 6 169 14,39 1 160 1 810 56,03

31
TABELA 3

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
c) Aumento da participação de empregados
permanentes -1970-1975
(conclusão)
PESSOAL OCUPADO

UNIDADES DA FEDERAÇÃO Empregados Parceiros Outra condição


E
MICRORREGIÕES
temporários Variação
relativa I Variação
relativa
VariBcão
relaÜva
1970
I 1975 1970
I 1975J 1970
I 1975

Pernambuco
Mata Seca Pernambucana. 17 365 14 176 -18.36 12 29 141,67 110 193 75,45

Alagoas
Mata Alagoana .......... 19 407 12 194 -37,17 160 136 -15,00 2 433 359 -85,24
Tabuleiros de São Miguel dos
Campos ................ 5 573 8 804 57,98 481 -100,00 290 41 -85,86
Maceió .. 2 406 2 054 -14.63 -20.00 9 -77,78

Minas Gerais
furnas ..... 12 992 15 193 16,94 5 965 2 237 -62,50 630 461 -26.83
Uberaba 4 101 3 717 -9,36 946 362 -61,73 116 102 -12,07
Mogiana Mineira ... 5 158 5 843 13,28 3 437 1 012 -70,56 117 392 235,04

Rio de Janeiro
Rio de Janeiro .. 29 710 36 054 21,35 14 754 9 530 -35,41 3 178 1 770 -4~.30

São Paulo
Planalto de franca ... ? 165 3 107 43,51 1 131 220 -80,55 150 -95,33
Divisor São José dos Dourados-
Tietê ......................... 2 236 1 212 -45,80 2 521 1 240 -50,81 214 27 -87,38
São José do Rio Preto ....... 2 743 1 696 -38,17 5 117 2 434 -52,43 568 82 -85,56
Ribeirão Preto ................ 6 315 6 136 -2,83 1 322 581 -56,05 141 468 231,91
Serra de Batatais ..... 2 641 2 359 -10,68 1 062 641 -39,64 119 24 -79,83
Bauru .......... 8 788 5 845 -33,49 1 220 2 002 64,10 576 420 -27,08
Araraquara .......... 6 801 7 949 16,88 2 304 2 483 7.77 583 384 -34,13
Jaú .............. 4 013 3 367 -16.10 761 846 11.17 243 284 16,87
Campinas .......... 9 077 6 150 -32,25 3 868 3 598 -6,98 572 250 --56,29
Estâncias Hidrominerais
Paulistas .............. 2492 3 016 21.03 3 363 1 565 -53,46 219 96 -56,16
Serra de Botucatu ............. 6 376 4 683 -26,55 924 464 -49,78 135 198 46,67
Sorocaba ...................... 3 721 3 015 -18,97 775 878 13,29 288 101 -64,93
Baixada do Ribeira .......... 4 043 2 498 -38,21 614 120 -80,46 173 120 -30,64

Paraná
Norte Velho de Jacarezinho .... 9 929 1o 399 4,73 3 179 569 -82,10 312 197 -36,86

Santa Catarina
Litoral de ltajai ....... 471 206 -56,26 56 21 -62,50 23 -100,00

Rio Grande do Sul


Triticultura de Cruz Alta ....... 2 616 3 742 43,04 410 279 -31,95 871 315 -63,83

Goiás
Serra do Caiapó ......... 6 758 9 653 42,84 2 091 044 -50,07 239 1 063 344,77
Distrito federal ............... 556 558 0,36 111 35 -68,47 64 10 -84,38

FONTE: IBGE- Censos Agropecuários- 1970 e 1975.

32
de medida, a uma subenumeração simultaneamente com a redução
dos empregados temporários 24 • da participação do contingente de
Já em relação à categoria de trabalho familiar (Mapa 1). En-
empregados permanentes não há contrando-se fortemente concen-
restrições quanto à qualidade do tradas no Estado de São Paulo
dado censitário. As variações de situam-se sobretudo numa faix~
1970 a 1975 indicam que, de fato, que, no sentido norte-sul, se esten-
tem-se verificado uma expansão do de, de forma bastante continua da
trabalho assalariado permanente, Microrregião Planalto de Fra~ca
que apresenta, na maior parte des- (n. 0 230) até a Serra de Botu-
sas microrregiões, incorporações catu (n. 0 253). Nessas áreas o pro-
muito significativas de trabalhado- cesso de expansão da atividade
res. Esse crescimento do número agrícola, em moldes empresariais
de empregados permanentes parece gerando a concentração de terras'
associar-se à expansão das super- através da absorção de estabeleci~
fícies ocupadas com lavouras, já mentos de menores dimensões re-
que às maiores variações positivas percute diretamente sobre o ~on­
verificadas nas áreas com cultivos tingente de mão-de-obra familiar
correspondem as mais elevadas já que a essa categoria de pessoaÍ
variações do número de pessoas ocupado estão associadas essas me-
ocupadas nessa categoria. É, sobre- nores unidades de exploração.
tudo, com relação à lavoura per- Apesar de sua participação ex-
manente que se percebe maior pressiva no total de pessoal ocupa-
vinculação com essa relação de do nas atividades agrícolas, em
trabalho. 1970 e 1975, a mão-de-obra fami-
A essa maior importância do liar vem perdendo expressão nessa
as.salariamento permanente corres- área, o que se percebe através de
ponderam reduções na participação suas variações relativas e absolu-
de outras categorias de pessoal tas. De fato, é esta a categoria de
ocupado, como ocorreu, principal- pessoal ocupado que revelou, num
mente, com o trabalho familiar e conjunto maior de microrregiões,
também com as categorias de em- reduções mais acentuadas quanto
pregados temporários e de parcei- ao contingente de trabalhadores
ros. Em apenas uma unidade de (Tabela 3). A alteração dessa rela-
observação deu-se a expansão dos ção de trabalho está associada a
trabalhadores assalariados perma- transformações importantes que
nentes, enquanto as demais cate- fazem parte do processo de expan-
gorias mantiveram certa estabili- são do capitalismo no campo e que
dade quanto à composição de sua se referem, tanto às características
mão-de-obra rural. da estrutura fundiária, quanto às
do uso da terra e às alterações
Nas microrregiões que se carac- técnicas. Neste sentido, a moder-
terizaram pela maior participação nização da agricultura pode con-
da mão-de-obra assalariada perma- duzir a uma reorganização da es-
. nente verifica-se que, num maior trutura fundiária, uma vez que
número delas, tal situação ocorre, vem alterar a escala das explora-

.. O levantamento censitário, que só relaciona aqueles empregados que tenham sido con-
tratados pelos responsáveis pelos estabelecimentos e que estivessem presentes nessas unidades
de investigação na data de referência do Censo, pode ser responsável por uma situação que
apresente de fonna reduzida o verdadeiro contingente de trabalhadores temporários na e.gricul-
tura brasileira. Como se percebe, todos aqueles trabalhadores recrutados por empreiteiros, que
constituem, cada vez mais, parcela considerável da força de trabalho rural, sobretudo nessas
áreas onde o processo de modernização se apresenta mais intenso, são omitidos no levantamento
censitário. Este fato constitui uma séria limitação a um estudo que se proponha, a partir de
dados censitários, a analisar a questão do trabalhador temporário.

33
ções. Assim, a mecanização das estar vinculada a uma forma de
atividades agrícolas supõe um ta- retenção de mão-de-obra nas uni-
manho mínimo de área para que dades de exploração, nesse sentido,
a exploração se torne economica- já que vem se processando nessas
mente viável. Tanto assim, que se microrregiões uma redução do nú-
verificou a redução do número de mero de pessoas envolvidas nas
estabelecimentos rurais com área atividades agrícolas. Em microrre-
inferior a 20 ha e de 20 ha a 100 ha, giões onde a expansão da lavoura
enquanto se percebeu uma tendên- vem sendo observada, os produto-
cia acentuada à expansão daqueles res estariam optando pela contra-
com área superior a 100 ha. A tação de assalariados permanentes
absorção das menores unidades de nos estabelecimentos, já que não
exploração, num período em que podem contar com a oferta de mão-
se moderniza o processo de produ- de-obra temporária a que possam
ção agrícola, revela a tendência recorrer em períodos de maior ne-
concentradora, própria à intensifi- cessidade de trabalhadores.
cação do emprego de capital no Apesar da limitação existente
campo. em relação aos dados censitários,
Portanto, a modernização das referentes aos trabalhadores tem-
técnicas agrícolas, ao alterar a es- porários, acredita-se que essa redu-
cala de exploração, torna-se res- ção da utilização de assalariados
ponsável por transformações nas temporários possa expressar trans-
relações de trabalho, como a que formações que vêm ocorrendo na
se manifesta na redução do contin- agricultura e que estão contribu-
gente de trabalho familiar. indo para a expulsão de pessoal no
Paralelamente à maior expres- campo. O que se percebe é que,
são do trabalho permanente, veri- a pós um processo de expropriação
fica-se, num conjunto de microrre- dos trabalhadores dos meios de
giões, não só a redução do total de produção e de suas transformações
pessoal ocupado nas atividades em empregados assalariados tem-
agrícolas, como, também, do con- porários, não vêm ocorrendo, no
tingente de mão-de-obra em regime período de 1970 a 1975, oportuni-
de trabalho temporário (Tabela dades de emprego para esse seg-
3). Esta característica foi consta- mento da força de trabalho, que,
tada em unidades de observação por não ser absorvida nos estabe-
do Sudeste, São Paulo e Rio de lecimentos agrícolas, está deixando
Janeiro, como também do Nordeste a zona rural dessas microrregiões.
e dos Estados de Alagoas e Per- A acentuada expansão das áreas
nambuco. Na realidade, _enquanto em lavoura, em especial a de la-
o número de assalariados temporá- vouras permanentes, nessas mi-
rios se apresenta em declínio em crorregiões que se caracterizaram
todas essas unidades de observação, pela maior participação de assala-
a categoria de empregados perma- riados permanentes, tem-se apre-
nentes é a única que, no pe- sentado como fator capaz de ab-
ríodo 1970-1975, revela crescimento sorver um maior número de em-
acentuado. Esta tendência à maior pregados permanentes da atividade
absorção de empregados perma- agrícola 25 • Esta tendência ao maior
nentes nos estabelecimentos rurais, emprego de assalariados perma-
que se mostrou bastante expressiva nentes mostra-se mais evidente em
nesse curto período de tempo, pode áreas que se caracterizaram pela
25 Essa correlação pode ser observada, por exemplo, nas Microrregiões Araraquara (SP) e
Fumas (MG), onde a expansão das áreas em lavoura permanente, da ordem de 62,0% e de
89,8%, respectivamente, é acompanhada de crescimentos significativos do contingente de em-
pregados permanentes. Em Araraquara essa variação foi de 53,3% e em Furnas de 63,0%.

34
redução do contingente de pessoal desigual pela qual se expande o
ocupado na agricultura, quando, capitalismo no espaço rural brasi-
então, outras categorias revelaram leiro.
decréscimos acentuados nesse pe- A expansão do trabalho familiar,
ríodo. Assim é que, em algumas não ocorre em microrregiões con-
microrregiões de São Paulo e Minas tíguas, na maioria das vezes, e não
Gerais, paralelamente ao aumento chega a caracterizar grandes seg-
da segmento de empregados per- mentos espaciais. Assim, verifi-
manentes, foi a categoria de par- caram-se microrregiões incluídas
ceiros que acusou as maiores redu- nesse tipo de transformação da
ções em seus contingentes, no mão-de-obra rural em diversas
período 1970-1975 (Tabela 3). Acre- Unidades da Federação: Minas Ge-
dita-se que em algumas dessas rais, São Paulo, Paraná, Santa
microrregiões, onde a lavoura vem Catarina, Rio Grande do Sul, Pa-
atingindo maiores níveis de produ- raíba, Alagoas e Sergipe (Mapa 2).
tividade, em função do maior em- As microrregiões dessas Unidades
prego de técnicas e insumos moder-
nos, os produtores tenderiam a não da Federação que se caracteriza-
utilizar empregados parceiros, por ram por apresentar, em 1975,
ser mais econômico, neste caso, o maiores participações na categoria
pagamento de salários. Tal situa- de responsáveis e membros não re-
ção parece ocorrer com os produ- munerados da família, no total
tores de café, que, ao realizarem de pessoal ocupado nas ativida-
lavouras através de financiamento des agrícolas, revelaram, também,
e tendo que atender a uma série acentuadas incorporações de traba-
de exigências técnicas determina- lhadores à sua força de trabalho
das pelo !BC, o que representa rural. Uma vez que se verificou,
maiores custos de produção, vão paralelamente à expansão do grupo
dar preferência a empregados que de responsáveis e membros não
sejam remunerados mediante um remunerados da família, uma re-
salário fixo e não àqueles que re- dução dos contingentes das demais
cebam porcentagem da produção. categorias de trabalhadores, per-
cebe-se que o aumento do total de
2. 4 - Aumento da participação pessoal ocupado está estreitamente
da categoria de responsáveis e vinculado a esse crescimento da
membros não remunerados da fa- mão-de-obra familiar (Tabela 4).
mília e queda e/ou estabilidade das Essa situação parece relacionar-
demais se ao aumento do número de esta-
belecimentos de menores dimen-
Observou-se, como principal ten- sões, isto é, aqueles com área
dência em determinadas microrre- inferior a 20 ha, que acusaram
giões, a expansão da categoria de expansão no período em análise.
trabalhadores em regime de traba- Nesse sentido seriam, sobretudo, as
lho familiar, enquanto as demais explorações de parceiros e de ocu-
categorias apresentavam-se em de- pantes as que estariam contribu-
clínio ou mantinham uma relativa indo mais para o incremento do
estabilidade quanto às caracterís- contingente de trabalho familiar,
ticas da com posição de sua mão- uma vez que esses produtores se
de-obra rural. Esse crescimento de caracterizam por estarem na dire-
formas de relações de trabalho não ção dos trabalhos de suas unidades
remuneradas, num contexto que de produção e por se valerem da
se destaca pelas maiores incorpo- ajuda dos membros de suas famí-
rações de técnicas e insumos mo- lias. Apesar de ter-se observado um
dernos ao processo de produção aumento do número de estabeleci-
agrícola, vem revelar a maneira mentos explorados por parceiros e

35
TABELA 4

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
d) Aumento da participação de responsáveis e membros
não remunerados da família- 1970-1975

PESSOAL OCUPADO

Responsáveis e
UNIDADES DA FEDERAÇÃO
E Total I Variação membros não
remunerados da Variação
Empregados
permanentes Varia cão
MICRORREGIÕES relativa família relativa relativa
1970
I 1975 I I
I
1970
I 1975 1970
I 1975

Paraíba
litoral Paraibano ..... 50 087 64 947 29,67 39 184 56 382 43,89 3 322 3 507 5,57
Alagoas
Arapiraca ......... 101 521 99 174 -2,31 88 655 90 634 2.23 3 895 2 143 -44,98
Sergipe
Cotinguiba ...................... 20 280 20 978 3,44 11 522 15 721 36,44 4 334 2 595 -40,12
Minas Gerais
Belo Horizonte ................ 22 651 28 299 24.93 11 869 18 821 58,57 4 008 5 121 27,77
Bacia do Manhuaçu ........... 71 298 72 125 1.16 41 971 46 097 9,83 5 242 8 818 68,22
São Paulo
Campos de ltapetininga ........ 42 530 47 692 12,14 31 675 37 818 19,39 4 165 4 741 13,83
Paraná
Campos de Jaguariaíva ........ 13 559 15 296 12,81 8 866 11 389 28,46 2 962 1 440 -51,38
Alto Rio Negro Paranaense .... 17 219 14 908 -13,42 15 316 13 779 -10,04 152 372 144,74
Santa Catarina
Colonial do Alto ltajaí. ...•... 51 276 63 662 24.16 46 208 61 433 32,95 1 840 620 -66,30
Colonial Serrana Catarinense ... 30 800 36 037 17,00 28 748 34 861 21,26 607 307 -49,42
Rio Grande do Sul
Passo Fundo ................... 53 768 68 696 27.26 47 846 62 674 30,99 2 666 3 600 35,03

PESSOAL OCUPADO

UNIDADES DA FEDERAÇÃO Empregados


E temporários Parceiros Outra condição
Variação Variação Variação
MICRORREGIÕES ------ relativa relativa relativa
1970
I 1975 1970
I 1975 1970
I 1975

Paraíba
Litoral Paraibano ......... 7 065 4 875 -31,00 25 60 140,00 491 123 -74,95
Alagoas
Arapiraca ..................... 8 448 5 741 -32,04 25 41 64,00 498 615 23,49
Sergipe
Cotinguiba .................... 4 401 2 605 -40,81 4 -50,00 19 55 189,47
Minas Gerais
Belo Horizonte ........ 5 031 3 513 -30,17 1 367 595 -56,47 376 249 -33,78
Bacia do Manhuaçu ........... 6 703 5 086 -24,12 14 817 10 773 -27,29 2 565 1 351 -47,33
São Paulo
Campos de ltapetininga ........ 5 669 4 554 -19,67 822 397 -51,70 199 182 -8,54
Paraná
Campos de Jaguariaíva ........ 1 222 1 915 56.71 460 300 -34.78 49 252 414,29
Alto Rio Negro Paranaense .... 1 335 685 -48,69 326 47 -85,58 90 25 -72,22
Santa Catarina
Colonial do Alto ltajaí. ....... 2 425 1 432 -40,95 615 97 -84,23 188 80 -57,45
Colonial Serrana Catarinense ... 1 262 794 -3708 118 47 -60,17 65 28 -56,92
Rio Grande do Sul
Passo Fundo .................. 2 506 1 948 -22,27 491 375 -23,63 259 99 -61.78

FONTE: IBGE- Censos Agropecuários de 1970 e 1975.

36
por ocupantes, verificou-se, tam- produtor direto e introdução de
bém, que estes produtores passa- relações de trabalho assalariadas
ram a explorar menores áreas. do que da subordinação da pequena
Assim sendo, os proprietários con- produção. Entretanto, como as
tinuariam a se utilizar da parceria, microrregiões que se enquadram
pelas vantagens que esse sistema nessa situação, quanto às transfor-
oferece, mas estariam, cada vez mações nas características de sua
mais, cedendo aos parceiros meno- força de trabalho rural, não cons-
res superfícies para serem explora- tituem segmentos espaciais expres-
das. Num quadro de expansão da sivos, e se inserem em regiões que
atividade de lavoura, evidenciado se diferenciam entre si, supõe-se
não só pela ampliação das áreas que os fatores que contribuem para
cultivadas, sobretudo com produtos que em determinada microrregião
temporários, como também pela seja a mão-de-obra familiar a re-
incorporação de técnicas modernas lação de trabalho privilegiada tam-
à atividade agrícola, passam a pre- bém possam variar de uma área
dominar, principalmente em ter- para outra. Assim, acredita-se que
mos de área, as explorações a cargo a importância verificada quanto à
dos próprios proprietários ou as de utilização do trabalho familiar e a
arrendatários capitalistas. tendência à expansão que este
A redução das áreas exploradas apresentou, no período em análise,
por ocupantes vem expressar uma possam resultar da injunção de
tendência já bem conhecida na diversos fatores, que podem variar
agricultura brasileira, que é a da de acordo com características eco-
restrição à ocupação como uma das nômicas, sociais e políticas dos es-
vias de acesso à terra. Embora o paços em que se inserem.
número de ocupantes tenha se
expandido, diminuem suas oportu- 2. 5 - Aumento da participação
nidades de encontrar áreas a serem do trabalho assalariado temporário
ocupadas, pois, sobretudo no cen-
tro-sul do Brasil, cada vez mais as Uma das tendências importantes
terras se encontram apropriadas que têm-se delineado, quanto à
pelo capital. composição do pessoal ocupado na
agricultura, e que se manteve, no
A variação positiva do número período 1970-1975, foi a expressão
de estabelecimentos explorados por que os empregados em regime de
proprietários e por arrendatários, assalariamento temporário adqui-
verificada no período de 1970 a riram em algumas microrregiões
1975, não se apresentando de forma que integram o conjunto de unida-
muito acentuada, não parece con- des de observação que se caracteri-
tribuir de maneira significativa zou pelos níveis mais elevados
para o crescimento da força de quanto ao emprego de técnicas
trabalho familiar. Além disso, as modernas no processo de produção
explorações de proprietários e de agrícola. Essas microrregiões apre-
arrendatários não se encontram sentaram-se concentradas no Rio
vinculadas ao trabalho familiar da Grande do Sul, em vastas áreas de
mesma maneira que as de ocupan- sua porção meridional. Em São
tes e as de pequenos arrendatários. Paulo, Minas Gerais e Rio de Ja-
A preservação e a expansão de neiro verificaram-se algumas ocor-
formas de relações de trabalho não rências isoladas (Mapa 2).
assalariadas, como é o caso da A maior utilização dessa catego-
mão-de-obra familiar, significam ria de trabalhadores rurais muito
que nessas microrregiões a acumu- se relaciona com o processo de
lação de capital estaria se dando, expansão do capital na atividade
menos através da expropriação do agrícola, que tende a separar os

37
trabalhadores dos meios de produ- tratos culturais, nas quais havia a
ção, isto é, a transformar a maioria participação grande de mão-de-
dos colonos, parceiros e moradores obra residente nos estabelecimen-
em trabalhadores assalariados. tos, substitui a força de trabalho
Essa maior participação dos em- permanente pela temporária. Nesse
pregados assalariados temporários processo, ocorre uma mudança de
no conjunto da força de trabalho caráter qualitativo, no que diz res-
rural dessas microrregiões ocorreu peito à mão-de-obra, pois os traba-
concomitantemente com um cres- lhadores permanentes que são
cimento significativo do total de mantidos pelos produtores passam
pessoal ocupado nas atividades a ser aqueles de maior qualificação.
agrícolas (Tabela 5). Tal situação Na fase da colheita, os emprega-
parece se relacionar à incorporação dos temporários podem ser substi-
de espaços dedicados a essas ativi- tuídos pelas máquinas "dependen-
dades que se dá de forma bastante do da relação entre o custo da
expressiva, de 1970 a 1975, nessas máquina e o salário pago por uni-
microrregiões que se caracteriza- dade de área colhida" 26 •
ram pela maior participação dos O emprego de fertilizantes, ao
assalariados temporários. E, sobre- gerar maior produtividade por uni-
tudo, a expansão de áreas de lavou- dade de área, resulta em maior
ras que parece ser responsável por exigência de mão-de-obra na co-
esse incremento do contingente de lheita, que, por sua vez, em função
mão-de-obra rural. Nesse processo de amadurecedores químicos, va-
de ampliação dos espaços cultiva- riedades precoces, mecanização
dos ocorreram alterações na base parcial do carregamento, etc., tem
técnica de produção, capazes de sua duração reduzida.
afetar, não só a estrutura fundiá- Também a maior adoção de de-
ria, como também as característi- fensivos (herbicidas) tem como
cas dos produtores rurais e das re- conseqüência a redução das exigên-
lações de trabalho. cias de mão-de-obra nos tratos
Ao se transformarem as caracte- culturais, o que resulta em maior
rísticas do processo de produção descontinuidade da absorção de
agrícola, altera-se a escala de ex- trabalhadores nessas atividades.
ploração, uma vez que aumenta o Além desses fatores, podem tam-
tamanho mínimo em que esta pode bém contribuir para o aumento do
se efetuar de maneira rentável. caráter sazonal da ocupação da
Neste sentido, observa-se uma con- mão-de-obra a substituição de de-
centração de terras que se traduz terminadas culturas, cujos méto-
pela redução do número de estabe- dos de cultivos se caracterizem por
lecimentos menores e pela expan- maior emprego de mão-de-obra,
são da área daqueles de maiores por outras, cujos sistemas sejam
dimensões. mais modernizados, e a especiali-
A intensificação da utilização de zação das atividades agrícolas que
máquinas contribui, juntamente se processa de forma diferenciada
com um maior emprego de fertili- no espaço rural. Em função, tanto
zantes e defensivos, para acentuar da modernização da agricultura,
a variação das exigências de mão- quanto da especialização de ativi-
de-obra durante o ciclo produtivo dades em certas áreas, é o traba-
dos cultivos. lhador temporário aquele que me-
A mecanização, ao atingir as fa- lhor atende às necessidades de
ses de preparo do solo, plantio e produção dos estabelecimentos, na

"' SILVA, José Francisco Graziano da. Progresso Técnico e Relações de Trabalho na Agri-
cultura. São Paulo, Hucitec, 1980, mimeo., p. 145.

38
TABELA 5

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
e) Aumento da participação de empregados
temporários - 1970-1975

PESSOf..L OCUPADO

Responsáveis e
UNIDADES O~ FEDERAÇÃO membros não Empregados
Total
Variação remunerados da Variação permanentes Variação
MICRORREGIÕES família
relativa relativa relativa

Minas Gerais
Alto Paranaíba ... . 28 393 33 117 16,64 19 319 20 288 5,02 2 123 4 266 100,94
Planalto Mineiro .......... . 80 439 87 486 8,76 54 356 52 439 - 3,53 14 828 16 842 13,58
Planalto de Poços de Caldas ... 26 099 28 427 8,92 17 396 17 644 1.43 4 806 5 503 14,50
Rio de Janeiro
Açucareira de Campos. 76 588 70 205 -8,33 47 722 42 551 -10,84 16 953 13 397 -20,98
São Paulo
Barretos ....... . 13 233 16 895 27,67 8 586 6 334 -26,23 3160 4123 30,47
Durinhos ....... . 30 485 35 960 17,96 15 574 17 019 9,28 9 037 11 704 29,51
Tatuí ........ . 19 061 18 310 -3,94 15 364 13 337 -13,19 1 961 2 447 24,78

Rio Grande do Sul


Santa Maria ..... .. 36 863 53 929 46,30 34 148 47 929 40,36 1 422 1 952 37,27
Lagoa dos Patos ...... . 101 259 137 547 35,84 92 292 122 868 33,13 4 480 4 928 10,00
Lagoa Mirim ........... . 12 627 23 262 84,22 8 504 13 159 54,74 3 371 5 502 63,22
Alto Camaquã ...... .. 36 800 57 852 57,21 31 552 46 178 46,36 2 685 4 437 65,25
Campanha .... 66 343 96 839 45,97 41 388 58 289 40,84 17 190 23 800 38,45

PESSOAL OCUPADO
UNIDADES DA FEDERAÇÃO Empregados
E temporários Parceiros Outra condição
MICRORREGIÕES Varia cão Varia cão Variacão
relaÜva relaÜva relativa
1970
I 1975 1970
I 1975 1970
I 1975

Minas Gerais
Alto Paranaíba .......... 3 236 6 517 101,39 3 319 1 882 -43,30 396 164 -58,59
Planalto Mineiro .............. 5 926 15 428 160,34 4 739 2 430 48,72 590 347 -41,19
Planalto de Poços de Caldas 2 037 3 001 47,32 1 629 2 095 28,61 231 184 -20,35
Rio de Janeiro
Açucareira de Campos. 8 884 13 523 52,22 2 017 672 -66,68 1 012 62 -93.87
São Paulo
Barretos. 1 315 6 380 385,17 150 18 -88,00 22 40 81.82
Durinhos ...................... 3 254 5 625 7?.86 2 081 1 286 -38,20 539 326 -39,52
Tatuí ................. 664 2 244 237,95 1 041 202 -80,60 31 80 158,06

Rio Grande do Sul


Santa Maria ........... 708 3 331 370,48 456 366 -19.74 129 351 172.09
Lagoa dos Patos ......... 3 886 8 339 114,59 406 1 102 171,43 195 310 58.97
Lagoa Mirim ...... 497 4 361 777,46 123 69 -43,90 132 171 29,55
Alto Camaquã ............. 1 710 6 282 250,95 559 613 9,66 214 342 59,81
Campanha .. 6 673 13 499 102,29 469 414 -11,73 623 837 34,35

FONTE: IBGE- Censos Agroper;uarios de 1970 e 1975.

39
medida em que possibilita suprir é a expansão do trabalho assala-
as necessidades de mão-de-obra dos riado temporário a alteração mais
estabelecirnen tos nos períodos de marcante. Considerando a redução
pico de demanda. do número de estabelecimentos
No conjunto de microrregiões com área inferior a 100 ha que se
que se caracterizaram :pela maior registrou nessas microrregiões, su-
participação de assalanados tem- põe-se que o trabalho familiar vem
porários, no total de sua força de se realizando em maiores unidades
trabalho verificou-se a incorpora- produtivas. Percebe-se também que
ção acen:tuada de espaços à ativi- a mão-de-obra familiar parece es-
dade de lavoura, no período em tar mais afeta aos produtores
questão. Tal fator parece ser res- proprietários e aos posseiros, que
ponsável por alterações em certas foram aqueles que acusaram va-
características do quadro agrário riações positivas no período em
dessas microrregiões, que se reba- questão.
tem em mudanças nas relações de Urna vez que se ampliam as áreas
trabalho. Assim, paralelamente ao das explorações desses produtores,
aumento da participação do con- a mão-de-obra familiar torna-se
tingente de trabalhadores assal~­ insuficiente para realizar os tra-
riados, verificou-se urna reduçao balhos agrícolas em suas respecti-
da participação do trabalho fa- vas unidades produtivas. Em vista
miliar. disso, seriam os trabalhadores tem-
porários requisitados para suprir
A expansão do trabalho assala- as necessidades de mão-de-obra dos
riado temporário, ao mesmo tempo estabelecimentos.
em que se restringe o contingente A alteração verificada no arran-
de mão-de-obra familiar, se deu, de jo da estrutura fundiária associa-
forma contígua, apenas no Rio se às transformações técnicas do
Grande do Sul, nas Microrregiões processo de produção agrícola que
Santa Maria Alto Carnaquã e La- podem conduzir a um agrupamen-
goa Mirim, e~quanto em São Paulo to dos estabelecimentos menores.
e em Minas Gerais verificaram-se Tal situação relaciona-se ao fato
ocorrências isoladas (Mapa 2). de as explorações agrícolas que
Há que se distinguir a situação visam ao desenvolvimento da la-
de microrregiões do Rio Grande do voura em moldes empresariais,
Sul, que apresenta algumas carac- com largo emprego de capital ell!
terísticas diferentes daquelas veri- máquinas e insumos modernos, so
ficadas em certas microrregiões se realizarem num limite mínimo
dos estados do Sudeste. No Rio de área capaz de garantir renta-
Grande do Sul, ocorreu, de 1970 a bilidade. Em função disso, é co-
1975, um elevado crescimento do mum se verificar, no momento em
total de pessoal ocupado nessas que se expandem esses e~p.ree~C!_i­
microrregiões que acusaram au- rnentos no campo, urna dtmtnmçao
mentos que variaram de 17.000 a do número das menores unidades
21.000 pessoas empregadas na ati- produtivas. Acentuadas incorpora-
vidade agrícola. Esse crescimento ções de áreas para a realização de
do número de trabalhadores rela- lavouras temporárias, que nessas
microrregiões gaúchas se situaram
ciona-se, principalmente, ao au- entre 27. 000 ha e 42. 000 ha, ao
mento do contingente de trabalha- mesmo tempo em que se observou
dores em regime familiar, que é a redução de áreas com lavoura
o segmento da força de trabalho permanente e também pastos na-
que mais cresce nesse período. En-
tretanto, em termos de transforma- -
turais , refletem a intensidade com
que se processaram alteraçoes nos
ção na composição da mão-de-obra usos da terra.

40
Verificou-se, ainda, que em gran- situações diferentes da que se veri-
de parte do Rio Grande do Sul, ficou no Rio Grande do Sul. Assim,
nas Microrregiões Campanha Gaú- não há um crescimento do total de
cha (n.o 321) e Lagoa dos Pa- pessoal ocupado nas atividades
tos (n. 0 317), a expansão da cate- agrícolas na mesma medida como
goria de empregados temporários a que se observou nas microrre-
não chegou a acarretar alterações giões gaúchas e o contingente de
nas características da composição mão-de-obra familiar apresentou,
da mão-de-obra rural, no que se não só redução em sua participa-
refere às demais categorias, uma ção em 1975, como, também, va-
vez que estas conservaram, em riações absolutas negativas. Acre-
1975, aproximadamente as mesmas dita-se que nessas microrregiões a
participações que possuíam em expansão das áreas cultivadas não
1970. seria suficiente para atrair um
A característica que de imediato número tão elevado de trabalhado-
se destaca ao se analisarem as va- res rurais, como o que se percebeu
riações, no período 1970-1975, do no Rio Grande do Sul, uma vez
total de pessoal ocupado nas ativi- que aí o processo de produção agrí-
dades agrícolas, nessas microrre- cola já vem se dando como carac-
giões, foi a enorme expansão do terísticas modernas há mais tem-
contingente de pessoal ocupado, po. Neste sentido, o crescimento
que se situou na faixa dos 30.000 do número total de pessoas ocupa-
trabalhadores (Tabela 5). Esse das nas atividades agrícolas se
crescimento acentuado de traba- vincula mais à expansão dos em-
lhadores pôde ser explicado pelo pregados temporários que se dá
impulso sofrido pela lavoura nesse simultaneamente à redução do
intervalo de tempo. É sobretudo a trabalho familiar (Tabela 5) . O
superfície utilizada com lavoura agrupamento de menores unidades
temporária que acusa as maiores de produção, isto é, de estabeleci-
incorporações de áreas. Neste sen- mentos com área inferior a 100 ha,
tido, destaca-se Campanha Gaú- contribuindo para uma concentra-
cha, por apresentar um crescimen- ção de terras, estaria acarretando
to de 165. 608 ha para a realização uma substituição de formas de
de cultivos temporários. Essa ex- relações de trabalho não assalaria-
pansão se deve aos incentivos para das por aquelas assalariadas que
a produção de certos produtos pa- tendem a ser as privilegiadas, a
ra abastecer o mercado interno, partir do momento em que se capi-
como o trigo, que vieram provocar taliza a atividade agrícola.
profundas transformações na ati- Paralelamente à tendência de
vidade agrícola dessa microrregião. maior adoção de empregados assa-
Assim, a lavoura de trigo, que era lariados temporários, verificou-se,
tradicionalmente realizada em solo também, além das situações de re-
de mata, passa a ocupar também dução da participação do trabalho
espaços até então utilizados pela familiar e de relativa estabilidade
pecuária, ou seja, as áreas de quanto às características da com-
campo. posição da mão-de-obra, a menor
Ainda no que se refere às mi- participação de empregados per-
crorregiões que se caracterizam manentes. Tal situação foi consta-
pelo aumento da participação de tada em Campos (n. 0 213), onde
trabalhadores temporários e pela a lavoura canavieira é responsável
menor participação daqueles em por essa crescente utilização de
regime familiar, constatou-se que empregados temporários nas dife-
aquelas localizadas em São Paulo rentes fases de seu ciclo produtivo.
e em Minas Gerais apresentaram É a expansão dessa categoria de

41
pessoal ocupado que tem conduzido de-obra rural, situam-se em São
a esse aumento do contingente de Paulo, Minas Gerais e Goiás (Ma-
mão-de-obra rural, já que se veri- pa 2). Esse tipo de transformação
ficou um decréscimo, no período da força de trabalho ocorre num
de 1970-1975, dos demais segmen- número de unidades de observação
tos da força de trabalho (Tabe- menor que o dos demais tipos até
la 5). então analisados, uma vez que fo-
ram sobretudo a menor expressão
2. 6 - Redução da participação do do trabalho familiar e a expansão
pessoal ocupado como parceiro do assalariamento as alterações
mais marcantes verificadas no pe-
Uma das transformações que se ríodo 1970-1975, nessa área que se
verificaram nas características do caracterizou por uma agricultura
pessoal ocupado nas atividades realizada em níveis mais moder-
agrícolas, quando se comparam as nos. Apesar de o maior número de
características da composição da microrregiões, individualizadas pe-
mão-de-obra rural em 1970, com as la redução da parceria, apresentar-
de 1975, foi a perda de expressão se de forma dispersa, destaca-se,
que sofreu a categoria de pessoal por formar um segmento espacial
ocupado que compreende os traba- expressivo, uma área que engloba
lhadores em regime de parceria. microrregiões do sul de Goiás e
Num período em que o setor agrí- Triângulo Mineiro (Mapa 2).
cola brasileiro vem se apresentando
como um importante mercado de _:"..nalisando-se a composição da
consumo de produtos industriais mao-de-obra rural nessas microrre-
- máquinas, equipamentos e in- giões em análise, em 1970 e 1975,
sumos modernos - , alteram-se as verifica-se, não só a perda de ex-
relações de trabalho no campo. pressão da categoria de parceiros,
Assim, na medida em que a ativi- como também a redução numérica
dade agrícola se capitaliza, há uma desse contingente de pessoal ocu-
tendência ao predomínio de rela- pado nas atividades agrícolas (Ta-
ções de trabalho de natureza assa- bela 6). Além disso, constatou-se
lariada, que é a forma de remune- que a menor utilização de traba-
ração que mais contribui para a lhadores em regime de parceria
acumulação de capital. É nesse vem ocorrendo ao mesmo tempo em
sentido que se vê, em grande parte que se intensifica o emprego da
do espaço rural brasileiro, reduzir- mão-de-obra assalariada, sobretudo
se o contingente de pessoal ocupa- aquela de caráter temporário (Ma-
do como parceiro na atividade agrí- pa 2). Na realidade, essa foi a
cola. Entretanto, o fato de ter sido principal tendência verificada,
constatada, em algumas situações, quanto às transformações nas re-
a preservação da parceria, mesmo lações de trabalho nas microrre-
em áreas de agricultura capitali- giões que acusaram decréscimos no
zada, significa que essa relação de contingente de parceiros, no perío-
produção, não tipicamente capita- do em questão. A categoria de em-
lista, é mantida, pelas vantagens pregados temporários, apesar de
que esse sistema é capaz de ofe- ter acusado maiores participações
recer 27 • no total da força de trabalho, em
As microrregiões que tiveram na 1975, não apresentou apenas acrés-
redução da parceria a principal cimos em seu contingente de pes-
transformação, quanto às caracte- soal ocupado, mas também redu-
rísticas da composição de sua mão- ções em algumas microrregiões

. "' Para maiores Informações sobre esse ·assunto, ver Maria Rita Loureiro. Parceria e Capita-
lismo. Rio de Janeiro, Zahar, 1977.

42
TABELA 6

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
f) Redução da participação de parceiros - 1970-1975

PESSOAL OCUPADO

Responsáveis e
UNIDADES DA FEDERAÇÃO membros não Empregados
E Total
Variação remunerados da Variação permanente!:i Variação
MICRORREGIÕES família
relativa relativa relativa
1970
I 1975 1970
I 1975 1970
I 1975

Minas Gerais
formiga ........ . . . . . . . . . . . . . 60 882 59 735 -1.88 38 596 38 041 -1,44 5 690 7 844 37,86
Uberlândia ... 44 386 47 169 6.27 19 531 23 773 21.72 4 775 9 889 107,10

São Paulo
Oeprmão Periférica Setentrio-
na I. ...... ............... 27 888 33 907 21.58 11 510 13 787 19.78 7 102 10 303 45,07
Serra do Jaboticabal .......... 34 579 32 258 -6.71 16 276 15 789 -2.99 9 374 10 093 7,67
Alto Araraquarense de fernandó-
.
polis .......... . . . . .. .. .... . 73 661 47 795 -35,11 58 907 37 530 -36.29 5 670 4 715 -16.84
Encosta Ocidental da Mantiquei-
ra Paulista .... 37 632 44 947 19.44 14 409 13 939 -3,26 14 557 20 110 38.15

Goiás
Meia-Ponte .. 29 839 35 339 18.43 18 040 20 509 13,69 2 736 4 974 81.80
Vertente Goiana do Paranaíba .. 47 559 60 754 27.74 20 642 30 148 46,05 5 241 11 439 118,26

PESSOAL OCUPADO
UNIDADES DA FEDERAÇÃO Empregados
E temporários Parceiros Outra condição
MICRORREGIÕES Variação Variação Variação
relativa relativa relativa
1970
I 1975 1970
I 1975 1970
I 1975
-

Minas Gerais
formiga ..... 8 452 9 363 10.78 7 554 4 299 -43,09 590 188 -68,14
Uberlândia. 11 955 10 321 -13.67 7 166 2 718 -62,07 959 468 -51.20

São Paulo
Depressão Periférica Setentrio-
nal. ........ 5 028 6 400 27.29 4 168 3 046 -26,92 80 371 363.75
Serra do Jaboticabal.. 5 370 4 448 -17.17 3 491 1 809 -48.18 68 119 75.00
Alto Ararcqmense de fernandó-
polis ........................ 4 234 3 597 -15,04 4 509 1 812 -59,81 341 141 -58,65
Encosta Ocidental da Mantiquei-
ra Paulista 4 646 7 397 59.21 3 696 994 -73,11 324 2 507 673.77

Goiás
Meia-Ponte ... 4 458 7 136 60,07 4 376 1 865 -57,38 229 855 273,36
Vertente Goiana de Paranaíba .. 15 325 16 075 4,89 5 694 2 210 -61.19 657 882 34.25

FONTE: IBGE - Censos Agropecuários de 1970 e 1975.

43
(Tabela 6). Essa situação está de modernização da atividade agrí-
vinculada à liberação de mão-de- cola, através do qual se intensifi-
obra, que, de modo geral, se veri- cam os investimentos em máqui-
ficou nos estabelecimentos dessas nas e insumos modernos, que,
unidades de observação. Assim, aumentando a produtividade, le-
conclui-se que, mesmo havendo vam o produtor a optar por uma
uma diminuição do número de relação de trabalho assalariada.
empregados temporários no pe- Dessa forma, ele não se vê na con-
ríodo em questão, é essa a categoria tingência de repartir com o parcei-
que vem adquirindo expressão ro os lucros de seu empreendi-
crescente no conjunto da força de mento.
trabalho. A menor utilização da parceria
A redução da parceria ocorreu, em áreas que apresentaram redu-
tanto em áreas onde tem-se veri- ções das superfícies em cultivos
ficado expansão acentuada da la- temporários e aumento daquelas
voura, como, também, naquelas em pastos plantados expressa alte-
onde essa atividade apresentou rações nas relações de trabalho
uma redução, em função possivel- decorrentes de mudanças na uti-
mente da expansão da pecuária, lização da terra. De fato, essa
uma vez que foram as superfícies situação pode ser comprovada
utilizadas com pastos plantados na Microrregião paulista Alta
aquelas que mais cresceram no pe- Araraquarense de Fernandópolis
ríodo de 1970 a 1975. (n. 0 225), que revelou reduções
Situações em que incorporações acentuadas em suas áreas em la-
expressivas de áreas à atividade de voura temporária, enquanto as de
lavoura, sobretudo para o cultivo pastos formados tiveram um au-
de produtos temporários, se dão ao mento correspondente ao dobro da
lado de reduções no contingente redução sofrida pela área de lavou-
de trabalhadores parceiros po- ra 29 • Em função dessa expansão da
dem ser exemplificadas com o pecuária, verificou-se uma grande
caso das Microrregiões Uberlândia redução no contingente de força
(n.0 170), Vertente Goiana do Pa- de trabalho, que atingiu a 25.866
ranaíba (n. 0 360) e Meia-Ponte trabalhadores. Nesse sentido, a
(n. 0 358) 2s. Trata-se de áreas que substituição da atividade de lavou-
têm sofrido transformações recen- ra pela pecuária foi, portanto,
tes no caráter de sua atividade responsável por essa menor absor-
agrícola, em função da valorização ção de trabalhadores na atividade
das terras e de sua maior procura agrícola, em especial aquelas em
por investidores procedentes de ou- regime de parceria.
tras regiões do País. Nesse processo Outra situação que se afigura
de expansão das áreas cultivadas, como uma tendência, quanto às
a lavoura vem sendo realizada, fre- transformações da mão-de-obra ru-
qüentemente, durante um período ral, foi a redução dos trabalhado-
relativamente curto, quando, en- res em regime familiar, paralela-
tão, as áreas com produtos tempo- mente à perda de expressão da
rários passam a ser utilizadas com parceria. Essa situação foi consta-
pastagens. Em tais condições, a tada na Encosta Ocidental da Man-
parceria estaria sendo menos ado- tiqueira Paulista (n.o 244), onde
tada, em função de um processo foram expressivas, no período de

"' NeEsas Microrregiões ocorreram aumentos das superfícies utilizadas com lavouras tempo-
rárias da ordem de 20 360ha, 124 202ha e 48 938ha, respectivamente.
"' Enquanto as áreas em cultivos temporários sofreram reduções da .ordem de 56 973ha, as
de pastagens plantadas tiveram uma expansão de 112 761ha.

44
1970 a 1975, as incorporações de a organização de seu espaço agrá-
empregados ao processo de produ- rio, na de Divinópolis é a siderurgia
ção agrícola, na condição de assa- a atividade que comanda a utiliza-
lariados, permanentes e temporá- ção da terra. Cabe observar que a
rios (Tabela 6). Microrregião Divinópolis revela pe-
quena expressão da lavoura e da
2. 7 - Redução da participação de pecuária, sendo o reflorestamento,
empregados temporários entre as atividades primárias, aque-
la que vem se expandindo, em
Em relação às transformações função da produção de carvão ve-
que se processaram nas caracterís- getal.
ticas da mão-de-obra rural, no pe- Essa menor expressão do empre-
ríodo 1970-1975, destacou-se ainda, go de trabalhadores temporários
em algumas microrregiões, a redu- ocorre em algumas Microrregiões
ção da participação dos emprega- - Recife, Alta Noroeste de Pená-
dos temporários no conjunto da polis, Algodoeira de Assaí e Campos
força de trabalho. As microrregiões de Ponta Grossa - paralelamente
que se enquadram nessa categoria à expansão da utilização de em-
situam-se, de forma bastante dis- pregados permanentes (Mapa 1).
persa, em todo o espaço que se Apesar de essas unidades de obser-
caracterizou pelos níveis mais ele- vação se situarem em áreas que
vados de incorporação de tecnolo- muito se diferenciam e sabendo-se
gia moderna ao processo de produ- que os fatores que estariam provo-
ção agrícola. Assim, verificaram-se cando as alterações nas relações
ocorrências desse tipo em Pernam- de trabalho seriam, portanto, de
buco, Minas Gerais, São Paulo e naturezas diversas, verifica-se, en-
Paraná (Mapa 2). tretanto, que há alguns elementos
Apesar de ter-se verificado nas explicativos que são comuns a essas
microrregiões em questão 30 urna microrregiões. Verificou-se assim
mesma tendência quanto às altera- que, na maior parte dessas unida-
ções nas relações de trabalho, ou des de observação, há urna certa
seja, aquela que revelou a menor correspondência entre redução de
expressão do emprego de assalaria- área de lavoura e diminuição do
dos temporários nas atividades contingente de pessoal ocupado.
agrícolas, percebe-se que essas uni- As microrregiões que acusaram as
dades de observação apresentam reduções mais significativas de
diferentes situações quanto às ca- áreas de lavoura foram aquelas
racterísticas de seu quadro agrário. onde também se observaram as
Nesse sentido, encontram-se reuni- maiores reduções do número de
das numa mesma categorização trabalhadores agrícolas. Esse é o
microrregiões que sofrem influên- caso, por exemplo, da Microrre-
cias de fatores de naturezas diver- gião paulista Alta Noroeste de Pe-
sas, que são, naturalmente, respon- nápolis (n. 0 240), que chegou a
sáveis por diferentes estruturações acusar urna redução de 12. 020 tra-
do espaço. Exemplos dessas situa- balhadores rurais, ao mesmo tempo
ções são encontrados nas Micror- em que se reduzia em 15. 594 ha a
regiões Recife e Divinópolis. En- superfície com lavouras temporá-
quanto a de Recife tem na pre- rias. Nessa Microrregião, essa me-
sença de urna metrópole regional nor expressão da atividade de la-
o principal elemento a influenciar voura se associa a urna valorização

ao As Microrregiões em questão são as seguintes: Recife (n.o 111) e Mata úmida Pernam-
bucana (n.o 112), em Pernambuco; Divinópolis (n.o 186), em Minas Gerais; Alta Noroeste de
Penápolis (n.o 240), em São Paulo; campos de Ponta Grossa (n. 0 273) e Algodoeira de Assaí
(n.o 280), no Paraná.

45
da pecuária expressa através de ao maior emprego de trabalhado-
:um grande ~umento da área tot~l res permanentes, uma vez que foi
em pastos planta_dos, o_ que se~Ia essa a única categoria a apresentar
responsável pela hberaçao ~e mao- crescimento (Tabela 7). De fato, a
de-obra que ocorreu no penodo em utilização de assalariados perma-
análise. Nesse processo de substi- nentes pode se intensificar, em
tuição de usos da terra, que teve função da expansão da lavoura em
como conseqüência a menor absor- moldes modernos, já que esse tipo
ção de trabalhadores pelos estabe- de mão-de-obra se caracteriza por
lecimentos rurais, foram os empre- um maior nível de qualificação, o
gados temporários aqueles que que vem corresponder às exigências
sofreram, em termos de sua parti- dessa lavoura.
cipação no total de pesso_al ocupado
em 1970 e 1975, as maiores redu- Comparando-se a composição do
ções enquanto se verificava uma pessoal ocupado na atividade agrí-
expansão da categoria de empre- cola em 1970 com a de 1975, veri-
gados permanentes. Pode-se, em ficou-se que, em algumas microrre-
certa medida, atribuir esse aumen- giões, além de se registrar em 1975
to dos trabalhadores em regime uma participação dos empregados
de assalariamento permanente ao temporários inferior à de 1970,
incremento da criação bovina, em- observa-se, ao mesmo tempo, parti-
bora se saiba ser essa atividade cipações mais elevadas do trabalho
poupadora de mão-de-obra, princi- familiar (Mapa 2). Entretanto,
palmente ao se verificar que _as ao se analisar as variações desse
variações absolutas desse contm- contingente de trabalhadores ru-
gente não foram muito acentuadas, rais, percebe-se que ocorreram,
situando-se em torno de 800 traba- nesse período, reduções nessa ca-
lhadores. tegoria de pessoal ocupado, que
acompanharam os acentuados de-
Noutras microrregiões, o que se créscimos apresentados pelo total
observou foram aumentos acentu- da mão-de-obra (Tabela 7). A esse
ados da área ocupada com lavouras decréscimo do contingente de tra-
temporárias, ao mesmo tempo em balhadores em regime familiar se
que o conti~gente de pessoa~ o~u­ associa, tanto uma d~minuição do
pado tambem acusava van~çoes número de estabelecrmentos com
positivas. Entretanto, essas MICror- menos de 20 ha, registrada no pe-
regiões - Recife (n.0 111) e Cam- ríodo 1970-1975, quanto a menor
pos de Ponta Grossa (~. 0 . 273) .- ocorrência de explorações realiza-
não se situaram em mve1s mmto das por arrendatários, parceiros e
elevados, quanto às variações do ocupantes 31 • A redução do número
total de pessoal ocupado, o que se de estabelecimentos explorados por
supõe estar relacionado ao grau de esses produtores rurais vem acar-
modernização técnica empregado retar essa diminuição do contin-
na atividade de lavoura (Tabela 7). gente de mão-de-obra familiar, uma
o maior emprego de máquinas e vez que essas categorias de produ-
insumos modernos seria responsá- tores rurais estão vinculadas, fre-
vel nessas situações, por cresci- qüentemente, ao trabalho familiar.
me~tos pouco significativos do
contingente de mão-de-obra. Veri- A maior participação alcançada,
fica-se ainda que esse aumento do em 1975, pelo grupo de pessoal
total de pessoal ocupado se deve ocupado nas atividades agrícolas

31 Essa situação pode ser exemplificada com o caso da Microrregião Alta. Araraquarense
de Fernandópolis onde se observaram, paralelamente à redução de 20,0% no numero de esta-
belecimentos co~ área inferior a 20ha, diminuições de 53,2% no número de estabelecimentos
explorados por arrendatários, 13,7% no de parceiros e 17,5% no de ocupantes.

46
TABELA 7

Principais alterações nas categorias de pessoal ocupado na agricultura,


por categoria, segundo as Unidades da Federação e as microrregiões
g) Redução da participação de empregados
temporários - 1970-1975

PESSOAL OCUPADO

Responsáveis e
UNIDADES DA FEDERAÇÃO membros não Empregados
E Total
MICRORREGIÕES Variação remunerados da Variacão permanentes Variação
relativa família relatíva relativa
1970
I 1975 1970
I 1975
I 1970
I 1975

Pernambuco
Recife ................. 22 233 23 847 7,26 10 913 12 331 12,99 5 292 8 194 54,84
Mata Úmida Pernambucana ..... 105 453 88 882 -15.71 41 233 39 954 -3,10 37 540 34 617 -7,79
Minas Gerais
Divinópolis ........ 24 793 21 017 -15,23 15 568 14 778 -5,07 2 170 3 002 38,34
São Paulo
Alta Noroeste de Penápolis .... 37 021 25 001 -32.47 27 896 19 366 -30,58 3 406 4 209 23,58
Paraná
Algodoeira de Assaí. .......... 36 810 31 335 -14,87 26 800 23 004 -14,16 3 809 4 619 21,27
Campos de Ponta Grossa ...... 26 910 27 379 1.74 20 395 21 623 6,02 2 695 3 817 41,63
Norte Novo de Apucarana ...... 150 084 148 338 -1,16 129 790 122 797 -5,39 8 612 10 482 21,71

PESSOAL OCUPADO
UNIDADES DA FEDERAÇÃO Empregados
E temporários Parceiros Outra condição
MICRORREGIÕES Variação Varia cão Varia cão
relativa relatÍva relati.va
1970 1975
1970
I 1975
I 1975 1970
I
Pernambuco
Recife ........................ 6 000 3 297 -45,05 6 2 -66,67 22 23 4,55
Mata Úmida Pernambucana .... 26 585 11 852 -55.42 15 76 406,67 80 2 383 2 878,75
Minas Gerais
Divinópolis .................... 4 991 1 953 -60,87 1 826 1 051 -42,44 738 233 -2,10
São Paulo
Alta Noroeste de Penápolis .... 4 721 1 068 -77.38 202 117 -42,08 796 241 -30,28
Paraná
Algodoeira de Assaí. .......... 5 917 3 256 -44,97 252 273 8,33 32 183 471,88
Campos de Ponta Gross• ...... 3 544 1 832 -48,31 44 22 -50,00 232 85 -63,36
Norte Novo de Apucarana .....• 10 120 7072 -30,12 1 081 7 850 626,18 481 137 -71,52

FONTE: IBGE - Censos Agropecuários de 1970 e 1975.

em regime de trabalho familiar, no que, além de se localizarem em di-


conjunto da força de trabalho, ao ferentes regiões geográficas, reve-
mesmo tempo em que diminui a lam características bem diversas,
participação dos assalariados tem- no que diz respeito à importância
porários, vem indicar que outras de certos elementos que fazem par-
categorias apresentaram reduções
ainda mais acentuadas. Nessa si- te de sua organização agrária.
tuação encontram-se as Microrre- A Mata úmida Pernambucana
giões Mata úmida Pernambucana destaca-se pela importância da la-
(n.o 112) e Divinópolis (n.o 186), voura, que se apresenta em expan-

47
são, no período em análise 32 • Nessa nessa Microrregião, a hipótese de
Microrregião o crescimento acen- que ela possa estar se desenvol-
tuado da área em lavoura tempo- vendo, através de uma intensifica-
rária faz-se acompanhar de uma ção de seus métodos, em vez de se
forte redução do contingente de expandir em área, é afastada. Pode-
trabalhadores rurais, que chega a se perceber ainda que as áreas em
atingir a cifra de 16.579. A espe- pastagens naturais vêm acusando
cialização de cultivos para a pro- redução, o que se supõe ocorrer em
dução industrial, como a cana-de- função da expansão do plantio de
açúcar, ao ocu par cada vez mais espécies vegetais voltadas para a
espaços antes reservados à lavoura produção de carvão, para o abaste-
de subsistência e, também, o nível cimento das siderúrgicas instala-
técnico elevado atingido por essa das nessa Microrregião e em re-
lavoura vêm contribuir, tanto para giões próximas. Este mesmo fato
a expulsão de trabalhadores resi- parece explicar a retração nas
dentes nos estabelecimentos rurais, áreas em lavoura temporária.
quanto para a menor utilização de O fato de ter-se verificado em
trabalhadores temporários. De fa- apenas um pequeno número de
to, a modernização das técnicas microrregiões a menor participa-
empregadas na lavoura parece ser ção dos empregados temporários,
um dos principais fatores a influ- no conjunto da força de trabalho
enciar a redução acentuada de tra- rural, revela que essa alteração
balhadores, sobretudo dos assala- nas relações de trabalho, no perío-
riados temporários, que apresenta- do intercensitário considerado, não
ram, no período de 1970 a 1975, um constitui uma tendência geral das
decréscimo da ordem de 14.733 transformações da mão-de-obra.
trabalhadores. Tal situação se deu, sobretudo, em
A menor absorção de pessoal unidades de observação onde tam-
ocupado nas atividades agrícolas bém ocorreram reduções acentua-
verificada no período em análise das no contingente total de mão-
ocorre simultaneamente à incor- de-obra ou crescimentos pouco sig-
poração de áreas à atividade de nificativos. Nesse sentido, a menor
lavoura e, também, à maior utili- participação dos assalariados tem-
zação de máquinas e insumos porários estaria, portanto, menos
modernos ao processo de produção relacionada a alterações no tipo de
agrícola, o que vem demonstrar mão-de-obra utilizada, mas sua
que essa liberação de mão-de-obra perda de expressão seria, principal-
é decorrente da intensificação das mente, conseqüência da diminuição
técnicas agrícolas modernas. dos trabalhadores na atividade
Em Divinópolis, a redução do agrícola, que, como se observou,
número de trabalhadores rurais ocorreu em função da substituição
parece estar relacionada ao fato, já de alguns usos da terra.
mencionado, de que a lavoura tem- Entre as transformações que se
se apresentado em declínio e a
pecuária, pelo que se pôde apreen- processaram nas características do
der pelas variações das áreas em pessoal ocupado na atividade agrí-
pastagens plantadas, no período cola, nessa área que se caracteri-
1970-1975, não tem-se expandido zou pelos níveis mais elevados
em termos da área por ela ocupa- quanto à incorporação de técnicas
da. Sabendo-se que essa atividade modernas à atividade agrícola, no
não possui expressão econômica período de 1970-1975, destacam-se

s2 A expansão da lavoura temporária, em termos absolutos, nessa Microrregião, foi da


ordem de 42.393ha, o que corresponde a um crescimento de 21,4%.

48
aquelas que traduzem a perda de em grande parte das microrregiões
importância de um segmento de em questão. Essa transformação
força de trabalho não assalariado vem revelar uma tendência já bem
e a expansão de categorias de tra- conhecida, no âmbito da agricul-
balhadores em regime de assalaria- tura brasileira, que é a separação
mento. Nesse sentido, foi o grupo dos trabalhadores dos meios de
de responsáveis e membros não re- produção, constatada, sobretudo,
munerados da família a categoria através da menor participação do
que teve, num maior número de trabalho familiar, e a proletariza-
microrregiões, sua participação re- ção do trabalhador rural, verifica-
duzida no total de pessoal ocupado. da pela expansão dos assalariados.
Esse fato parece vincular-se a Apesar dessa tendência predo-
transformações nas características minante verificam-se outras si-
do processo de produção agrícola, tuações, no que diz respeito às
que, ao conduzir a uma concentra- alterações nas características da
ção fundiária, concorreria para a mão-de-obra rural, no período em
redução do número dos estabeleci- estudo. Esse fato vem indicar que
mentos de menores dimensões, on- a expansão de capital na atividade
de se concentra o trabalho familiar. agrícola não se faz de forma ho-
Paralelamente à redução do tra- mogênea e se caracteriza, ora por
balho familiar, destaca-se a maior eliminar determinadas relações de
participação de categorias de pes- trabalho, ora por preservá-las, na
soal ocupado em regime de assala- medida em que sua eliminação ou
riamento, ou seja, a de trabalha- manutenção atendam às necessi-
dores permanentes e temporários, dades de acumulação de capital.

49
SUMMARY RÉSUMÉ
Thls paper focus the problem o! technlcal On étudie lei le probléme des transformatlons
transformations and their repercussions In the
relations of work in the bmzillan farmlng. Thls techniques et ses consequénces dans les rela-
subject ls so important, that lt really cons- tions de traval.l dans l'agriculture brésil!enne,
titutes one of the most relevant problems In sujet d'une três grande lmportance dans le
the agrarlan actlvitles of the Country. The domalne des activltés agraires du Pays. Les
changes In the technical basls of the farm transformations à la base technlque du systéme
productlon system have dlrectly affected the
de production agricole exercent une influence
characterlstlcs of people engaged in farmlng,
causlng a reductlon In the group of rural dlrecte sur les caractérlstiques du personnel
workers employed in certaln areas - where the employé à l'agriculture et provoquent une ré-
degree of technlcal modemlzation ls higher -, duction du personnel emploYé dans les aires
as well as giving rlse to changes in the com- ou le degrée de modemisatlon technique est
position of the labor force In agrlculture. le plus elevé, en alterant la composition de la
This article deals wlth the transformatlons of main-d'oeuvre utilisée pour l'élevage.
the people engaged in the brazillan farmlng,
from 1970 to 1975, In a set of microregions Il s'agit lei d'étudier ces altérations durant
stressed by the highest level of lncorporatlon la pérlode 1970/1975, dans un ensemble de mi-
of modern technlques to the process of farm cro-régions choisies à cause du degrée le plus
production. Followlng articles W!ll present the
elevé par rapport à l'incorporation de techni-
same subject in other sets of mlcroregions cha-
racterlzed by thelr medium and low levels of ques modernes au mode de production agricole.
technical modemlzation in their farm actlvlty. D'autres études le suivront, pour les mlcro-
The differentiatlon of areas, based on thelr réglons ou la modernisation technique est au
degree of modemization, began with the selec- niveau moyen ou bas. La differentlation des
tion of two indicators (absolute variation of Rires par leur niveaux de modernlsation a été
the value of agrarian machines and tools/ha
établie à partir de la selection de deux ren-
of establlshment, and absolute variation of
costs with modem lnputs/llil. of establishment seignements: la variation absolue de la valeur
from 1970 to 1975), which are very important en machines et outils/ha et la varlation abso-
for analyses of the relations of rural workers. lue des frais des i?tputs modemes/ha (de 1979
These analyses assert that the current trans- à 1975). Ces deux renseignements sont consi-
formations in the brazll!an farming are reflec- derés tres importants pour l'analyse des rela-
ted directly on the rural labor force and have
tions de travail rural, qui partent d'une pré-
their origin in the process of expansion of the
capltalism in the field. In this sense, the artl- misse: les transformatlons de l'agriculture bré-
cle tries to verifY the relations between the silienne ont une lnfluence direct sur la main-
degree of modemizatlon of the farm activity d'oeuvre rurale et elles sont orlginaires du
and the relations of work in the fleld. processus d'expansion du capitallsme à la cam-
so, among the transformatlons in the cha- pagne.
racterlstics of people engaged in the farm acti-
vity - in the area of high levels regarding the Ensuite, on vér!fie les relations entre le degré
incorporation of modern technlques to the farm de modernisation du travall agricole et les re-
activity -, should be noticed those which lations de travall utilisées à la campagne. Alors,
reflect the loss of importance Of a segment of il a été observé que les transformations plus
self-employed work power and the expansion
importantes sont: la réduction d'une parti e de
of categorles of wage and salary workers. In
this way, it was the category of non-wage la force de travail non-salarlé et l'expansion
earned members of a famlly, in a greater num- de catégories de travailleurs salarlés. C'est dane
ber of mlcroregions, who had its partlcipation la categorie de responsables et membres de la
reduced In the set of rural labor force. At the famllle des travallleurs qui a eu rédulte sa
same time, it 1s stressed the greater particl- participation dans l'ensemble de la main-d'oeu-
pation of categories of wage and salary workers,
vre rurale. Il-y-a au même temps une plus
that is, of permanent and temporary workers,
which reveals a trend in the brazlllan farm- grande participation des salar!és, c'est-à-dire,
ing - that of the dissociatlon of the workers des travailleurs permanents et temporaires. Tout
from the means of productlon. Despite this cela vient mettre à jour une tendance de séparer
predominant trend, there are some sltuatlons, les travailleurs des moyens de productlon. Mal-
regarding the composition of the rural labor gré cette constatation, il-y-a de situations qui
force, in the period in question, which show montrent que l'expansion du capitalisme dans
that the expansion o! the capitalism in farm-
l'agriculture ne se passant pas d'une façon ho-
lng - lf it doesn't occur in a homogeneous
way in the brazilian rural space, it does occur mogéne à la campagne brésllienne, se fait ou
sometimes ellminatlng certaln relations of work, bien en écartant quelques relations de travail,
sometimes keeping them, to the extent that ou bien en les gardant, à mesure que l'accumu-
one situatlon or the other situation meets the latlon du capital aura besoin de l'une ou de
needs of the accumulation of capital. l'autre.

50
Periferização urbana
no Brasil: um proieto
de estudo nas áreas
metropolitanas
Vera Maria d'Avila Cavalcanti Bezerra
Jana Maria Cruz
1 - INTRODUÇÃO Luís Cavalcanti da Cunha Bahiana

E ste projeto sobre a periferi- de crescimento urbano além das


zação urbana pode ser con- metropolitanas. Segundo as auto-
siderado uma fase posterior ras, a "primeira etapa dos estudos
dentro dos estudos que o Depar- sobre aglomerações urbanas no
tamento de Geografia vem empre- Brasil indicou formas de estrutu-
endendo sobre as formas espaciais ras espaciais elaboradas sob inten-
urbanas. Numa primeira etapa, so processo de urbanização, contri-
constituiu-se o Grupo de Areas buindo para o diagnóstico da
Metropolitanas (GAM) (1) com o situação urbana brasileira à me-
objetivo não só de determinar as dida que identificou tipos de
áreas metropolitanas do País, a espaços resultantes da concentra-
partir de uma determinada meto- ção progressiva da população"
dologia, como também conceituar (p. 107).
processos e identificar formas que Os resultados de ambos os tra-
são da natureza do processo de balhos justificam a continuação
metropolização. dessa linha de estudos, acrescidos
Posteriormente, Davidovich e dos primeiros resultados do Re-
Lima (2) empreenderam um es- censeamento Geral do Brasil de
tudo objetivando, num primeiro 1980. É com esse intento que a
momento, delimitar novas formas Diurb (Divisão de Estudos Urba-
R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, -~(1): 51-92, jan./mar. 1983 51
nos) vem realizar esse estudo rização como processo vigente, nas
que privilegia um aspecto da pro- áreas metropolitanas, de alocação
blemática referida - o da perife- de uma grande parte da população
rização urbana entendida dentro em espaços social e economica-
do quadro do fenômeno de metro- mente desvalorizados, responden-
polização do qual alguns dados de do à dinâmica de valorização do
1970 já mostravam a relevância. núcleo de nossas grandes cidades
Porém, não bastassem somente os que se acentou sobremaneira na
números, há que se considerar a última década. É claro que uma
relevância qualitativa do processo tal definição não possui o mesmo
de periferização, avaliação que poder de explanação para todas as
constituirá o outro eixo de análise. áreas, e nem se pretende defi-
A consolidação de grandes uni- nitiva, mas apenas dá uma situa-
dades urbanas nas formações capi- ção da problemática a ser estu-
talistas centrais e nas dependentes dada.
trouxe à luz uma problemática O projeto tem dois objetivos. De
referente às formas de organização um lado, fornecer uma descrição
dos espaços que circundam a geral, a nível das metrópoles bra-
cidade. Foi nos países onde o pro- sileiras, da evolução do processo
cesso primeiro se fez sentir que a de periferização no decênio 1970-
literatura a respeito do assunto 1980; de outro, obter um quadro
surgiu. Naturalmente a extensão conceitual geral sobre as formas
do problema implica num aporte atuais deste processo, que se cons-
eclético. A composição social das titua num referencial visando ex-
franjas urbanas, a jornada para o trair novas linhas de investigação.
trabalho, a "esterilização" das ter- Em sua fase inicial este projeto
ras agricultáveis, a verificação de adotará os mesmos critérios demo-
hipóteses thunianas para o caso gráficos utilizados para a delimi-
das terras periurbanas, a conver- tação das áreas metropolitanas.
são do solo rural em solo urbano, Para tal, a dimensão populacional
as estratégias dos proprietários de será a variável que permitirá a
terra e de firmas imobiliárias são, análise descritiva do comporta-
entre outros, temas que percorrem mento periférico para o decênio
as revistas científicas no período 1970-1980.
de 1940 aos anos 60.
Entre nós a formulação do prO- O número de habitantes das
blema, embora remonte ao final da áreas metropolitanas vai permitir
década de 50, período em que se o diagnóstico previsto a partir dos
acentou a metropolização das valores de tamanho-crescimento
Cidades do Rio de Janeiro e São absoluto e taxa de crescimento.
Paulo, ganhou força nos últimos Tais valores populacionais vão
anos, em vista da acentuação dos apontar as áreas de maior ocupa-
problemas tocantes às populações ção e suas variações . As unidades
periféricas e a transformação de selecionadas são as nove metró-
questão científica em questão polí- poles do País que se encontram em
tica. A emergência do conteúdo anexo, tendo sido a análise feita
político da questão traz, por outro ao nível de distrito.
lado, modificações no seu status O presente trabalho divide-se
conceitual, particularizando então em três partes: a primeira, con-
o conceito de periferização como siste de uma análise dos padrões
um processo que aloca pessoas de crescimento demográfico. das
e equipamentos a porções de nove áreas metropolitanas do País
espaço não valorizado. Desen- no decênio 1970-1980; segue-se
volvendo, conceituaríamos perife- uma revisão temática das tradi-

52
ções de pesquisa em torno do as- mográfico relativo do distrito-sede
sunto; e, finalmente, levando-se da cidade central no total de cada
em conta os padrões observados e área metropolitana nos anos de
as formulações conceituais, procu- 1970 e 1980 (Quadro 2) . Num
ra-se levantar questões passíveis segundo momento, a análise consi-
de aprofundamento em trabalhos dera as taxas de crescimento dos
específicos posteriores . distritos que compõem cada área
Acompanham o texto, em anexo, metropolitana, procurando estabe-
as tabelas e os mapas com dados e lecer padrões espaciais de cresci-
padrões referentes à evolução de- mento demográfico.
mográfica dos distritos das nove Em relação ao primeiro momento
áreas metropolitanas. da análise, o quadro 1 indica que
todos os distritos-sede das cidades
centrais apresentaram crescimento
2 - OS PADRÕES demográfico inferior ao crescimen-
ESPACIAIS DE to global da área metropolitana
onde se localiza e, à exceção de
CRESCIMENTO Curitiba, todos os distritos-sede
DEMOCRÁTICOS apresentaram crescimento demo-
NAS ÁREAS gráfico inferior a 50% .
METROPOLITANAS
QUADRO 1
Inicialmente, deve-se esclarecer
que a presente análise baseou-se Comparação entre o crescimento
exclusivamente nos aspectos demo- do distrito-sede da cidade central
gráficos do processo de periferiza- de cada área metropolitana e o
ção, aqui entendido como cresci- conjunto metropolitano em
mento populacional ocorrido fora 1970-1980
do distrito-sede da cidade central
da área metropolitana. CRESCIMENTO DO
DISTRITO-SEDE DA CRESCIME'ITO DA
ÁREA METROPOLITANA CID~.DE CENTRAL ÁREA METROPOL!-
Para tanto foi elaborada uma (1 970-1980) TANA (1 970-1 980)
tabela (ver Anexo) de variação (%) (%)

absoluta e relativa da população


residente por distrito, no decênio Belém ..... 40 52
1970-1980, para cada um dos mu- Fortaleza ...
Recife .... _
25 52
14 37
nicípios componentes das nove Salvador ..... 49 54
áreas metropolitanas existentes Belo Horizonte. 20 27
no País em 1980, bem como nove Rio de Janeiro._ . 30 58
mapas (ver Anexo) que descrevem São Paulo .. 37 55
Curitiba ...... 71 76
a distribuição espacial dessas Porto Alegre. 27 45
variações no crescimento demográ-
fico dentro das áreas metropo- FONTE: Sinopses Preliminares dos Censos Demográficos -1970 e 1980,
litanas. IBGE.

Esta análise espacial estabele-


ceu, num primeiro momento, a
comparação do crescimento demo- Ressalte-se que o caso de Curi-
gráfico de cada área metropoli- tiba foi o único em que se verificou
tana, seja através da comparação um crescimento bem superior a
entre o crescimento do distrito- 50% tanto no distrito-sede da
sede da cidade central com o cres- cidade central como no conjunto
cimento de cada conjunto metro- metropolitano, e ainda, que este
politano (Quadro 1), seja através crescimento demográfico foi prati-
da comparação do quantitativo de- camente equivalente.

53
o quadro 2, por sua vez, mostra de se ter iniciado pelo menos na
que a participação demográfica dos década de 40, continua sendo mar-
distritos-sede das cidades centrais cado pelo peso do distrito-sede
diminuiu de 1970 para 1980. Este e que este mesmo processo é espa-
decréscimo, porém, não foi muito cialmente desigual ao nível das
elevado porque os distritos-sede nove áreas metropolitanas. Assim,
concentravam um elevado percen- nos casos de Belém e Salvador os
tual de população e o processo de distritos-sede das cidades centrais
periferização, embora com taxas concentram, tanto em 1970 como
elevadas de crescimento em alguns em 1980, mais de 80% da popula-
distritos, não foi suficiente para ção metropolitana. As demais áreas
diminuir muito o peso dos distri- metropolitanas apresentam valores
tos-sede das cidades centrais face situados entre 40 e 70%.
às áreas metropolitanas nas quais Esta "permanência", maior ou
se localizam. Por outro lado, verifi- menor, do peso demográfico dos
cou-se em muitos distritos da peri- distritos-sede pode ser explicada,
feria um crescimento muito ele- ao menos em parte, por vários ar-
vado, mas relacionado a valo- gumentos:
res absolutos muito baixos (ver
Anexo). a) a configuração da malha dis-
trital, onde a extensão maior ou
menor do distrito-sede da cidade
QUADRO 2 central possibilitaria um também
maior ou menor espaço a ser
Comparação do peso demográfico ocupado;
relativo dos distritos-sede das b) o processo de densificação do
cidades centrais das áreas distrito-sede, onde um cr-escimento
metropolitanas em demográfico se faz internamente;
1970 e 1980 c) a acessibilidade, onde eixos
garantiram, ou não, a dispersão ou
POPULAÇÃO DO DISTRITO-SEDE DA
CIDADE CENTRAL/POPULAÇÃO TOTAL a atração de população, a partir
DA ÁREA METROPOLITANA do, ou para o distrito-sede;
ÁREA METROPOLITANA (%)
d) e, finalmente, o sítio da cidade
1970 1980
central, que também tem sua im-
Belém ................... 88 81
portância na dispersão ou concen-
Fortaleza ................ 50 41 tração da população.
Recife ......... 62 51
Salyador. ....... 87 84 Em relação ao segundo momen-
Belo Horizonte .. 69 57 to da análise, constatou-se que o
Rio de Janeiro .. 60 56 crescimento demográfico assume
São Paulo ..... 64 55
Curitiba ....... 59 58 dois padrões espaciais diferentes a
Porto Alegre ... 58 50 partir do distrito-sede da cidade
central. De um lado, apresenta um
FONTE: Sinopses Preliminares dos Censos Demográficos- 1970 e 1980.
IBGE. padrão em semicírculos ou em cír-
culos e, de outro, apresenta um pa-
Como anteriormente, aparece drão caracterizado por eixos de
mais uma vez como exceção a área crescimento demográfico.
metropolitana de Curitiba que O padrão caracterizado por semi-
apresentou participação demográ- círculos ou círculos define-se por
fica praticamente igual em 1970 e um conjunto de distritos que se lo-
1980. calizam em torno do distrito-sede
Já se pode então afirmar que o da cidade central e que apresentam
processo de periferização, apesar altas taxas de crescimento demo-

54
gráfico, algumas delas superiores a de São Paulo e Curitiba caracteri-
200% . Tal padrão é verificado em za-se por um padrão que tende a se
todas as áreas metropolitanas, a aproximar a um círculo em torno
exceção das de Recife e de Porto do distrito-sede da cidade central
Alegre. O crescimento periférico (ver Mapas 1 a 9). O quadro 3 des-
das metrópoles de Belém, Fortale- creve as taxas de crescimento de-
za, Salvador, Belo Horizonte e Rio mográfico periférico das áreas me-
de Janeiro caracteriza-se por assu- tropolitanas que se caracterizam
mir uma forma semicircular, en- por assumirem um padrão espacial
quanto o das áreas metropolitanas semicircular ou circular.

QUADRO 3

Distritos com altas taxas de crescimento demográfico localizados em


torno do distrito-sede da cidade central em 1970-1980
(continua)
TAXA DE CRESCIMENTO
ÁREA METROPOLITANA MUNICÍPIO DISTRITO 1970-1980
(%)

Belém Belém Val-de-Cãs 292


Belém !cora ci 119
Ananindeua Ananindeua 192

Fortaleza Fortaleza Mondubim 202


Fortaleza Messejana 140
Fortaleza Antônio Bezerra 102
Caucaia Caucaia 125
Maranguape Maracanaú 143

Salvador Lauro do Freitas Lauro de Freitas 251


Camaçari Camaçari 263
Camaçari Abrantes 95
Csmaçari Dias d'Avifa 117
Simões Filho Simões Filho 98
Belo Horizonte Contagem Contagem 271
Contagem ?arque Industrial 107
Ribeirão das Neves Justinópolis 1 007
Ribeirão das Neves Ribeirão das Neves 185
Santa luzia São Benedito 343
Belo Horizonte Venda Nova 167
Betim Betim 123
lbirité lbirité 124
Pedro Leopoldo Doutor lund 145
Vespasiano Vespasiano 102
Rio de Janeiro ltaboraí ltambi 206
São Gonçalo Monjolo 106
Magé Guia de Pacobaíba 118

55
QUADRO 3

Distritos com altas taxas de crescimento demográfico localizados em


torno do distrito-sede da cidade central em 1970-1980
(conclusão)
TAXA DE CRESCIMENTO
ÁREA METROPOLITANA MUNICÍPIO DISTRITO 1970-1980
(%)

São Paulo Carapicuíba Carapicuíba 238


Embu Embu 427
São Pau!o Guaianazes 101
São Paulo ltaquera 119
São Paulo Jaraguá · 143
São Paulo Parelheiros 120
Barueri Barueri 105
Barueri Jardim Silveira 114
Cotia Ccttia 123
Diadema Diadema 1GO
Embu-Guaçu Embu-Guaçu 104
Ferraz de Vasconcelos Ferraz de Vasconcelos 118
Guaru!hos Guarulhos 125
ltapecerica da Serra ltapecerica da Serra 156
ltaquaquecetuba ltaquaquecetuba 150
Jandira Jandira 188
Mau á Mau á 102
Ribeirão Pires Ribeirão Pires 97
São Bernardo do Campo São Bernardo do Campo 112
Taboão da Serra Taboão da Serra 138

Curitiba Colombo Colombo 227


Piraquara Pinhais 343
Piraquara Piraquara 165
Curitiba Campo Comprido 145
Curitiba Santa Fel:cidade 157
Curitiba Tatuquara 173
Almirante Tamandaré Almirante Tamandaré 170
Araucár:a Araucária 120
Campo largo Ferraria 125
Piraquara Piraquara 165
São José dos Pinhais São José dos Pinhais 134

FONTE: Sinopses Preliminares dos Censos Demográficos - 1970 e 1980, IBGE.

O padrão caracterizado por único eixo de crescimento demo-


eixos de crescimento demográfico gráfico periférico mais acentuado.
é encontrado na área metropolita- O quadro 4 descreve as taxas de
na de Recife, onde há um setor de crescimento demográfico dos dis-
crescimento mais significativo lo- tritos que se localizam ao longo de
calizado ao norte e outro ao sul do eixos que tem suas origens nos dis-
distrito-sede, e na área metropoli- tritos-sede das cidades centrais de
tana de Porto Alegre, onde há um Recife e Porto Alegre.

56
QUADRO 4

Distritos com altas taxas de crescimento demográfico localizados ao


longo de eixos a partir do distrito-sede da cidade central em 1970-1980

TAXA DE CRESCIMENTO
ÁREA METROPOLITANA MUNICÍPIO DISTRITO 1970-1980
(%)

Recife Paulista Navarro 380


Paulista Praia da Conceicão 690
Jaboatão Muribeca dos GÚararapes 93

Porto Alegre Cachoeirinha Cachoeirinha 104


Gravataí Gravata i 106
Gravataí Barnabé 135
Gravataí lpiranga 165
Sapucaia do Sul Sapucaia do Sul 90
Campo Bom Campo Bom 104
Sapiranga Sapiranga 142
Sapiranga Picada Harll 108
Alvorada Alvorada 129

FONTE: Sinopses Preliminares dos Censos Demográficos - 1970 e 1980, IBGE.

Convém ressaltar que o cresci- No caso da área metropolitana


mento periférico de Porto Alegre, do Rio de Janeiro, os distritos de
que se apresenta com uma forma pequeno crescimento ou de cresci-
axial que não é contínua, mostra, mento negativo situam-se não ape-
de um lado, um conjunto consti- nas além das áreas de crescimento
tuído pelos Distritos de Sapucaia elevado, mas também entre elas
do Sul, Barnabé, Gravataí, Alvo- e a própria Cidade do Rio de Janei-
rada, Cachoeirinha e Ipiranga, e de ro. É o caso de Niterói, Sete Pon-
outro, mais ao norte, pelos Distri- tes, Neves, Nilópolis, Olinda e Du-
tos de Sapiranga, Campo Bom e que de Caxias. Verifica-se também
Picada Hartz . que, de modo geral, as taxas de
A partir dos dois padrões de ele- crescimento demográfico não são
vadas taxas de crescimento demo- muito elevadas.
gráfico verifica-se que, no processo
de crescimento da periferia, emer- Em relação às áreas metropoli-
gem distritos com pequenas taxas tanas que apresentam um padrão
de crescimento ou mesmo com cres- de crescimento axial, verifica-se a
cimento demográfico negativo. presença de setores localizados na
Em relação às áreas metropoli- periferia, formando um amplo anel
tanas que apresentam um padrão de taxas de crescimento demográ-
de crescimento semi-circular ou cir- fico pequeno ou negativo, como em
cular, verifica-se a presença de um Recife, ou a presença de setores
anel localizado além das áreas de que ladeiam unilateralmente o
alto crescimento, e que apresentam eixo de crescimento periférico ele-
crescimento pequeno ou negativo. vado, como em Porto Alegre. O qua-
O quadro 5 indica exemplos típicos dro 6 mostra a situação acima des-
de tal tipo de crescimento. crita.

57
QUADRO 5

Exemplos de distritos com crescimento demográfico pequeno ou negativo


na periferia das áreas metropolitanas (padrão semi-circular ou circular)
em 1970-1980

TAXA DE CRESCIMENTO
ÁREA METROPOLITANA MUNICÍPIO DISTRITO 1970-1980
(%)

Belém Belém Mosqueiro 29


Fortaleza Aquiraz Aquiraz 32
Aquiraz Justiniano Serpa 37
Pacatuba Pacatuba 23
Pacatuba Gererau 40
Maranguape Maranguape 41
Maranguape Sapupara 12
Caucaia Mirambé 14
Caucaia Catuana -19
Caucaia Guararu -11
Caucaia Tucunduba -25
Salvador Salvador Madre de Deus 9
São Francisco do Conde Mataripe -43
Camacari Monte Gordo 4
ltapar.ica ltaparica 30
Vera Cruz Vera Cruz 3
Vera Cruz Mar Grande J8
Vera Cruz Jiribatuba 12
Vera Cruz Cacha-Pregos 5
Belo Horizonte Sabará Sabará 26
Sabará Mestre Caetano -12
Sabará Ravena -35
Nova Lima Nova Lima 21
Raposos Raposos 17
Rio de Janeiro Niterói Niterói 22
São Gonçalo Sete Pontes 14
São Gonçalo Neves 22
ltaboraf Cabucu -10
ltaboraí Samb.aetiba 15
Magé Suruí 8
Duque de Caxias Duque de Caxias 19
Duque de Caxias Xerém 24
Ni!ópo!is Nilópolis 19
Nilópol is Olinda 18
Maricá Manoel Ribeiro 6
São Paulo Guararema Guararema 28
Mogi das Cruzes Taiaçupeba 11
Salesópolis Salesópo!is 11
Santo André Paranapiacaba 7
Curitiba Bocaiúva do Sul Bocaiúva do Sul 9
Campina Grande do Sul Campina Grande do Sul 24
São José dos Pinhais Campo Largo da Roseira 21
Contenda Contenda 13
Contenda Catanduva do Sul -20
Araucária Guajuvira -6
Almirante Tamandaré Campo Magro 11

FONTE: Sinopses Preliminares dos Censos Demográficos - 1970 e 1980, !BGE.

58
QUADRO 6

Exemplos de distritos com crescimento demográfico pequeno ou negativo


na periferia das áreas metropolitanas (padrão axial) em 1970-1980

TAXA DE CRESCIMENTO
ÁREA METROPOLITANA MUNICíPIO DISTRITO 1970-1980
(%)

Recife Moreno Moreno 12


Cabo Juçaral -12
Cabo Santo Agostinho -36
São Lourenço da Mata Nossa Senhora da Luz 13
lgarassu Aracoiaba 2
lgarassu Nov'a Cruz -12
lgarassu Três Ladeiras -24

Porto Alegre Viamão Passo da Areia 8


Viamão Águas Claras -8
Viamão Capão da Porteira -31
Viamão ltapuã -9
Gravata i Glorinha 4
Gravata f Dom Feliciano -37
Gravata i Morungava -16

fONTE: Sinopses Preliminares dos Censos Demográficos- 1970 e 1988, IBGE.

A análise dos padrões espaciais objetivo de fornecer questões pas-


de crescimento demográfico peri- síveis de serem aprofundadas nas
férico mostra que, a par de algu- etapas posteriores do presente pro-
mas regularidades entre as áreas jeto, dentro do grande leque que
metropolitanas, a configuração es- abrang-e o tema geral da periferi-
pacial traduz-se em padrões desi- zação urbana. Nesta revisão serão,
guais, cuja compreensão passa pelo assim, abordadas as seguintes li-
exame das várias dinâmicas que nhas ou tradições de pesquisas:
atuam na formação das periferias
metropolitanas. Para isso, proce- 3 .1 - as franjas urbanas;
de-se a seguir a uma revisão te- 3. 2 - o processo de crescimento
mática que, embora não exaustiva, urbano e a esterilização rural-valo-
possa separar as diversas aborda- rização da terra periurbana;
gens do assunto, capazes de gerar
questões para investigações poste- 3. 3 - expansão urbana e descen-
riores. tralização de atividades e popu-
lação;
3 . 4 - tendências atuais da pes-
3 - O PROCESSO DE quisa.
PERIFERIZAÇÃO
Uma análise da literatura mostra
URBANA: UMA que o interesse pelo assunto em
REVISÃO TEMÁTICA pauta surge e se acentua durante
os anos 1930-40, nos países anglo-
A presente revisão de caráter saxônicos, principalmente nos Es-
geral pretende dar conta das tradi- tados Unidos, em vista das formas
ções de pesquisas mais importan- que o processo de urbanização vi-
tes durante quarenta anos, com o nha assumindo naquele País. Ora,

59
o fato marcante da urbanização, do solo, ela é esquecida pelos espe-
na escala do crescimento físico das cialistas de ambos os lados, que se
cidades, era a aceleração da expan- limitam a estudar outras zonas em
ção urbana das grandes cidades es- transição como a zona entre fazen-
timulada de início pela ferrovia e das e florestas. Segundo Wehrwein
em franca generalização pelo uso "bem menos tem sido feito pelos
do automóvel, e que se caracteri- órgãos de pesquisa e os administra-
zava principalmente pelo extrava- dores na outra zona de transição
zamento pelas cidades, de seus li- - a franja rural-urbana. Os estu-
mites administrativos. Para esta diosos dos problemas da terra rural
"nova cidade" deviam corresponder param, quando chegam na "terra
novos conceitos, tanto da parte dos da cidade" e os economistas urba-
geógrafos, como também dos soció- nos e planejadores, geralmente,
logos, economistas e outros repre- nos limites da cidade a menos que
sentantes das "disciplinas do ur- estejam envolvidos no planejamen-
bano", que se lançam à cunhagem to regional" (p. 217).
de novos conceitos e aprimoramen- No entanto, conclui que uma
to dos antigos, visando não so- série de problemas que requerem
mente ao interess·e acadêmico, mas solução estão acontecendo nestas
também aprésentando uma forte áreas: descentralização industrial,
orientação para o processo de pla- problemas urbanos para os quais
nejamento, que não podia :nais ter as administrações rurais não en-
como unidade de atuaçao uma contram solução, favelas e proble-
cidade apenas, mas sim_ uma "re- mas de "delinqüência fiscal". O
gião urbana"; e as quest~es corres- propósito precípuo do trabalho é,
pondentes passam entao a ser, segundo o autor, "examinar a es-
entre outras, o esvaziamento eco- trutura de uso do solo urbano da
nômico das cidades centrais e a' franja rural-urbana que pode ser
delimitação dos limites urbanos, definida como a área de transição
que passam a ser difusos. entre usos reconhecidamente urba-
nos e a área devotada à agricul-
3. 1 - As franjas urbanas tura" (idem) .
Dentro desta ordem de questões Tentando de início entender o
é que se insere a primeira grande porquê do surgimento de tais áreas
tradição de estudos, a mais abran- nos limites das modernas cidades,
gente, cobrindo dos anos 40 até Wehrwein se volta para as formu-
aproximadamente o final dos anos lações clássicas de Von Thünen,
60: o estudo das franjas urbanas, Burgess e Christaller a respeito do
ou seja, a região que fica entre o processo de crescimento urbano.
campo e os limites externos da ci- Ainda que estes autores avancem
dade. Um dos especialistas no hipóteses capazes de explicar, em
assunto Robin Pryor, observa que parte, a formação das franjas, seus
se deve ao sociólogo T. Lynn Smith esquemas não levam em conta os
a introdução do termo significando fatores que de fato impulsionaram
"a área construída junto aos limi- o crescimento das cidades nesta fa-
tes administrativos da cidade". se: as ferrovias e, principalmente,
Contudo, o trabalho geralmente as rodovias, possibilitando a rápida
apontado como clássico é de expansão residencial e os movimen-
Wehrwein (3), onde ele discute a tos pendulares, a descentralização
natureza da franja rural-urbana, do comércio e das indústrias, cau-
apontando para o fato de que, sen- sando assim um impacto decisivo
do esta á1ea uma área de transição na terra antes utilizada para uso
de usos urbanos para usos rurais agrícola. Após uma exemplificação

60
do caso de Indianápolis, Indiana, lação está voltada para outras par-
nos Estados Unidos, o autor conclui tes da cidade, o equipamento das
que: "a franja rural-urbana é, na franjas não é proporcional à popu-
realidade, real e potencialmente, lação que aí vive).
uma extensão da cidade e que o Em relação ao Brasil o tema foi
planejamento e o zoneamento estão considerado, ainda que os estudos
inadequados pois partem de um~ se limitem praticamente ao Rio de
hierarquia de usos do solo que dei- Janeiro e São Paulo. Em 1959, por
xa a terra agrícola e outras terras ocasião da XIV Assembléia Geral
não urbanas como resíduo ou então Ordinária da Associação dos Geó-
uma área sem restrições, onde se grafos Brasileiros, realizou-se um
"joga tudo" (p. 228). simpósio sobre O Habitat Urbano
Como já foi apontado, foram no Brasil. Os trabalhos de Sega-
numerosos os estudos de definição das Soares (7) e Bernardes (8)
e de limitação de franja rural- abordam mais de perto o assunto.
urbana em vários estudos de caso Este último sugere a expressão
e discussões conceituais. Gol- "Faixa Pioneira Urbana" da qual
ledge (4), no seu estudo para a Ci- voltou a falar alguns anos mais
dade de Sydney, Austrália, vê as tarde (9) : "além deste limite, a
seguintes características no uso do faixa suburbana do espaço urbano,
solo da franja rural-urbana: estende-se a última unidade em
a) mudanças constantes no pa- que dividimos a área em estudo: a
drão de ocupação; faixa pioneira da aglomeração.
Trata-se da rural-urban fringe
b) estabelecimentos rurais de dos geógrafos de língua inglesa"
pequeno porte; (p. 104).
c) produção leiteira;
d) alta mobilidade populacional Em termos de estudo de caso
com baixa densidade; merecem menção, além da contri-
buição de Maciel e Albani (10)
e) rápida expansão residencial; para o caso de Austin, Município
f) fornecimento incompleto de de Nova Iguaçu, na área metropo-
serviços; litana do Rio de Janeiro, para a
g) crescimento especulativo. mesma área, os trabalhos realiza-
A complexidade do uso da terra dos no âmbito do Departamento de
na franja rural-urbana aparece Geografia da PUC-RJ, sob a orien-
ainda em diversos trabalhos, como tação do professor Aluizio Capde-
o de Bastié (5) que~ estudando o ville D'uarte, como estudos de
banlieu (subúrbio) pariense mos- casos de núcleos da faixa periur-
tra o uso do solo na franja sul bana desta cidade: Martins (11)
da cidade com usos típicos de fran- para Xerém, Caetano (12) para
J.a ' tais como: cemitérios, hospitais Japeri e Bahiana (13) sobre Para-
,
psiquiátricos, reservatorios d'água. cambi.
Já Pahl (6), em estudo clássico so- Aparte os estudos de caso, exis-
bre Hertfordshire, Inglaterra, ali- tem também aquelas contribuições
nhou quatro grandes traços da de cunho mais conceitual. Um bom
franja urbana: exemplo é a discussão sobre a sig-
a) segregação; nificância sociológica das franjas
b) imigração seletiva; rurais-urbanas realizada num con-
gresso da Sociedade Sociológica
c) movimentos pendulares; Americana, onde o tema foi desen-
d) colapso das hierarquias geo- volvido do ponto de vista urbano e
gráficas e sociais (como a popu- rural, como aponta Lively (14) :

61
a) a franja rural-urbana repre- da cidade central e aumento real e
senta uma posição no continuum potencial da densidade populacio-
de uma distribuição rural-urbana; nal acima dos distritos rurais cir-
b) a franja rural-urbana repre- cundantes, porém inferior ao da
senta um sombreamento de duas cidade central. Tais características
distribuições- rural e urbana; podem se diferençar zonalmente e
c) a franja rural-urbana repre- setorialmente e se modificar no
tempo" (p. 62) .
senta uma terceira distribuição
contendo características das outras A franja rural-urbana como
e características próprias . tema de estudos encerra, na reali-
dade, uma série de questões que
Na discussão que se segue, ainda for~m alvo de pesquisas; uma das
que certos termos evoquem as clás- mais importantes é a questão da
sicas visões da "cultura urbana", esterilização rural - valorização
continuum rural-urbano existentes em terras periurbanas, que passa-
na sociologia, os autores parecem mos agora a focalizar .
inclinar-se para o fato de que a 3. 2 - O processo de crescimento
franja rural-urbana é de fato outra urbano e a esterilização rural -
coisa e que oferece efetivamente valorização da terra periurbana
grande campo de estudos para a
sociologia, tal como afirmam Me Qual o efeito da expansão urbana
Kain e Burnight (15): "os autores nas terras circundantes? Para ten-
acreditam que uma linha clara não tar responder a esta questão, uma
separará os sociólogos do seu inte- série de estudos foi feita e que
resse. A franja rural-urbana é um podemos classificar em dois gran-
campo fértil para a pesquisa e que des eixos: de um lado, os estudos
pode acomodar tanto a sociologia empírico-conceituais sobre a ques-
rural como a urbana. Quer parecer tão em geral e, de outro, a discus-
aos autores que a velha dicotomia são sobre a relevância do esquema
rural-urbana se tornou obsoleta" de Von Thünen para os dias atuais.
(p. 11) . 3. 2. 1 - Formulações empírico-
Tentando reunir quase trinta conceituais sobre a questão em
anos de pesquisa e juntar as defi- geral: o processo de esterilização
nições operacionais diversas aos rural - valorização da terra ur-
conceitos, Pryor (16) tenta agregar bana
as duas coisas num estudo em que, A questão da modificação do uso
após realizar levantamento de mais das terras periurbanas pelo avanço
de 60 estudos de caso de áreas de da expansão urbana é das mais im-
franja rural-urbana e suas técnicas portantes dentro da questão geral
de delimitação, propôs a seguinte da periferização urbana. Tem sido
definição: "a franja rural-urbana notada a presença de um processo
é a zona em transição de uso do de "esterilização" de terras antes
solo e características sócio-demo- agrícolas e que, com a chegada das
gráficas que se localiza entre (a) pontas-de-lança da urbanização,
a zona construída das áreas urba- são retidas p~ra fins especulativos,
nas e suburbanas da cidade central sem que se de nenhum uso a elas.
· e (b) a hinterlândia rural, caracte- Um bom exemplo é dado pelo es-
rizada pela ausência quase com- tudo de Geiger e Mesquita (17) em
pleta de moradias não rurais e de trabalho que, embora seja um es-
orientação rural e urbana, pene- tudo de aspectos rurais da Baixada
tração incompleta de serviços pú- Fluminense na região do Grande
blicos, zoneamento desordenado, Rio, serve de subsídio à compreen-
extensão em áreas além, mas con- são dos fenômenos de estruturação
tígua, aos limites administrativos periurbana, já que um dos seus

62
capítulos foi dedicado ao loteamen- 2% . Um fazendeiro, com pouco
to como forma de expansão periur- capital, que ainda tem de economi-
bana. zar, às voltas com taxas de emprés-
A contribuição de Griffin e timos de 6% ou mais, vai neces-
Chathan (18) mostra o impacto do sariamente especular a 6,8% ou
crescimento urbano no condado de talvez 10%".
Santa Clara, na Califórnia, essen- Da mesma forma ,que Griffin e
cialmente agrícola, e como esta ex- Chathan, Clawson sugere medidas
pansão se dá justamente em cima de cunho governamental para lidar
dos melhores solos. Entendem que com o processo, a começar pelo le-
os fatores que causam a transição vantamento do mercado de terras
da área estão ligados ao crescimen- suburbano, suplementado por estu-
to da população no pós-guerra, à dos de demanda e previsão dos ti-
falta de uma política de planeja- pos que são realizados em economia
mento e a problemas da economia agrícola, até a implementação de
agrícola. O fato é que os agricul- taxas fundiárias a nível local.
tores começaram a vender as suas
terras ao perceberem sua crescente 3. 2. 2 - A discussão sobre a rele-
valorização. Os autores procura- vância dos esquemas de Von
ram mostrar o desperdício que Thünen para as cidades atuais
constitui a implantação urbana em O esquema de Von Thünen se
terras de primeira classe para a constitui talvez no primeiro mo-
agricultura, sugerindo uma série de delo para a explicação dos proces-
medidas para contornar esta si- sos e padrões de expansão urbana.
tuação, tão comum à época (1957), Seu esquema, no entanto, dá conta
nos Estados Unidos. Assim, a aqui- de uma realidade do século passa-
sição de terras pelo Governo Fede- do. Como visto anteriormente,
ral e a sua obrigatoriedade de uso Wehrwein já tinha levantado a
agrícola, bem como medidas fis- questão da validade do modelo,
cais, poderiam servir para contor- para explicar o surgimento das
nar o problema. franjas rurais-urbanas: "neste es-
Uma discussão de cunho concei- quema super simplificado de uso
tual é feita por Clawson (19) tra- da terra não existe franja rural-ur-
tando do problema da relação entre bana como a conhecemos hoje; os
expansão urbana e especulação limites da cidade são os limites do
fundiária. Discutindo o problema "modo de vida urbana"" (p. 73).
pela ótica da valorização, observa A discussão, tudo indica, só foi re-
que o valor das terras periurbanas tomada muito tempo depois, sendo
emerge da urbanização próxima, a contribuição clássica um artigo
ainda que as terras sejam utiliza- de Sinclair (20) relacionando as
das para uso agrícola: "É a cidade teses de Von Thünen com a expan-
como local de residência e trabalho são urbana. Ele entende que, ao
que dá valor a estas propriedades redor das grandes cidades do
e não a sua produção agrícola" mundo desenvolvido, "padrões de
(p. 315) . uso do solo estão se formando em
função de forças diversas daquelas
Ao discutir o montante da taxa identificadas por Von Thünen e
de juros para cada caso, a autora que a sua teoria não fornece expli-
enfatiza ser isto dependente da cação para os padrões surgidos"
situação do proprietário. Assim, (p. 73). Generalizando a questão, o
"alguém com grandes fundos de desenvolvimento dos transportes, a
investimentos às voltas com taxas multiplicação dos mercados, aco-
marginais altas, pode especular plados à própria natureza do mo-
com juros talvez não menores que derno processo de expansão urba-

63
na, que conduz à esterilização pela coeficientes de correlação, o autor
antecipação de uso urbano, faz com entende que o caso empírico por
que o padrão al?r:esentado. por Vo~ ele estudado não parece desencora-
Thünen se modifique. Ass1m, a pn- jar os proprietários agrícolas a
meira zona ao redor da cidade (de realizarem investimentos a curto
horticultura e produção de leite no prazo. "Sabendo que terão que
modelo original), "estaria mudan- vender a terra, tentam maximizar
do para usos urbanos, sendo s':b- os lucros a curto prazo. Os investi-
dividida e usada para especulaçao, mentos a longo termo provavel-
e os proprietários agrícolas, em sua mente já teriam sido feitos pelos
maioria se vêem obrigados a aban- fazendeiros provavelmente bem an-
donar a ' atividade
~ '
agncola por cau- tes de perceberem o avanço urbano,
sa dos altos impostos pelo zonea- como por exemplo, investimentos
mento e outras mazelas associadas nos prédios, cercas e maquinário,
à vida urbana" (p. 81); "a segunda que tem longa vida" (p. 49).
zona (a de produção de lenha no A questão da relevância do mo-
modelo original) é a típica zona de delo thuniano aparece ainda com
terra sem uso, onde a subdivisão Juilliard (23) que analisa o uso da
ainda não acontece, mas onde tam- terra periurbano na Europa e no
bém não há mais agricultura, sen- Brasil. Argumenta o referido autor
do caracterizada por grandes tratos que as cidades européias apresen-
de terra pertencentes a especula- tam, via de regra, um cinturão hor-
dores ou proprietários agrícolas tigranjeiro, fruto da permanência
que intentam vender a terra no mo- de uma estrutura agrária solida-
mento mais propício" (idem), e mente implantada, enquanto na
assim por diante, num padrão que periferia das cidades brasileiras,
praticamente reverte o que foi pro- como Salvador, verifica-se um cin-
posto por Von Thünen. Concluin- turão esterilizado em termo de
do, o autor observa que "as forças agricultura, esterilização esta que
básicas identificadas por Von decorre da decadência de uma es-
Thünen são ainda importantes trutura agrária fundamentada na
em lugares pouco desenvolvidos plantation.
mas ... nas áreas mais industriali-
zadas. . . as forças básicas identifi- 3. 3 - Expansão urbana e descen-
cadas por Von Thünen não são tralização de atividades e popu-
mais as determinantes primárias lação
dos padrões de uso agrícola ao re- Um último conjunto de questões
dor das cidades" (p. 87) . A propo- dentro das visões clássicas do pro-
sição de Sinclair é testada por cesso de periferização urbana diz
Mattingly (21) em um estudo na respeito à descentralização das ati-
área em torno de uma aglomera- vidades urbanas e da população.
ção do meio-oeste americano, que, A descentralização é na verdade
ainda que não tenha analisado a um processo que encerra uma com-
influência da distância no uso, ponente já histórica, pois vem se
confirma as hipóteses de Sinclair. dando desde o século passado. Este
Dayal (22) discute o caso de duas processo só faz se acelerar no de-
cidades na costa sul da Austrália, correr do presente século. A indús-
preocupado com o "t~ste da teoria tria se descentraliza, mercê da es-
da intensidade de Thunen ao redor cassez de solo no centro urbano; o
dos centros urbanos e examina a comércio segue a população, que,
relação entre a intensidade da por sua vez, se periferiza atenden-
agricultura e o tempo" (p. 43) e do a dinâmicas distintas. No caso
verifica a validade das teses de dos países do Terceiro Mundo é a
Sinclair. Usando de regressões e periferização de amplos setores de

64
baixa renda e em um caso e outro, trias pelo tipo de mercado servido,
há que se c~n~iderar uma variante sua dependência em matéria-pri-
de fatores. . ma local ou importada e a comu-
nicação entre empresas.
3. 3 .1 - Descentralização: o caso Reinemann (26) estudou pa-
das indústrias drões de distribuição industrial na
área de Chicago, de 1939 a 1954,
O deslocamento das indústria.s definindo quatro zonas indus-
para as periferias urbanas, em que triais: in terna, externa, franja
pese os fatores exclusiva:s de cada suburbana e periferia adjacente.
caso ' se deve fundamentalmente,
à Para o caso brasileiro, Ribeiro e
escassez de solo urbano na area Almeida (27), baseados principal-
central. No caso, as indústrias im- mente no esquema de Pred, pro-
plantadas antes da fase de grande curaram definir os padrões de
crescimento se deslocam para a pe- localização industrial na área me-
riferia pois vendem seus terrenos tropolitana de Recife, e Ribei-
a bom preço para uso residencial ro (28) realizou estudos da mesma
e as de implantação recente, já o natureza para Salvador. Ainda
f~zem diretamente em áreas peri- entre os estudos realizados no
féricas, em muitos casos em distri- Brasil citamos o de Mattos (29)
tos industriais implantados pelo que, não sendo especificamente
Estado. É bom frisar que está se um estudo a respeito de localiza-
falando de indústrias de grande ção industrial, apres~nta, v~ri9:s
porte, já que muitas empresas de informações com respeito a distn-
pequeno porte mantêm atividades buição espacial, por gênero, das
no centro urbano. Os teóricos da indústrias da Cidade de São Paulo,
Escola de Ecologia Humana de e ainda o de Turnowski (30) para
Chicago abordam o problema de o então Estado da Guanabara.
maneiras diferentes: faixa mista de
vendas por atacado e indústrias
leves junto ao Distrito Central de 3. 3. 2 - Descentralização das ati-
Negócios, no caso de Burgess; loca- vidades terciárias
lização junto às vias de transporte,
no caso de Hoyt; e a existência de A questão da descentralização
distritos de indústrias leves e pe- bémcomércio
do
uma
e serviços gerou tam-
ampla literatura, da
sadas, sugerida por Harris e Ul-
lmann. qual faremos referências seletivas.
As contribuições clássicas são as de
Posteriormente, os estudos cir- Proudfoot (31), Vancer Jr. (32) e
cunscreveram-se ao âmbito da Berry (33), que inspiraram muitos
"teoria" de localização industrial estudos posteriores. Da parte dos
ou à verificação de padrões empí- geógrafos brasileiros, as contribui-
ricos, com ou sem tentativa de ções, mais uma vez, centram-se em
generalização. Para o caso das estudos para o Rio de Janeiro e
cidades americanas, existem duas São Paulo: Segadas Soares (34),
contribuições clássicas: as de Geiger (35) e Barros (36) entre
Murphy (24) e Pred (25), ambos outros, realizaram estudos sobre o
elaborando esquemas de localiza- tema.
ção industrial em grandes cidades Cumpre ressaltar que os estudos
sob a forma de generalizações. de descentralização de atividades
Murphy procura categorizar uma terciárias têm lugar secundário na
tipologia de áreas industriais den- questão do processo recente de pe-
tro e em torno de uma cidade típi- riferizaç8.o, uma vez que a ênfase
ca, enquanto que Pred define a é dada à descentralização residen-
localização intraurbana das indús- cial.

65
3. 3. 3 - Periferização da popu- dos migrantes, mas sim a própria
lação periferia.
Este tema é aquele que talvez re- 3. 4 - Tendências atuais da pes-
presente mais strictu sensu à quisa
questão da periferização, pois que
traz consigo uma série de questões Ultimamente assiste-se a um in-
tratadas nos itens anteriores ares- teresse cada vez maior pela questão
peito da dinâmica de outras ativi- da periferização urbana nos países
dades nos espaços periurbanos. do Terceiro Mundo, a ponto de se
Também aqui há uma diferença poder identificar uma nova ten-
fundamental, quer consideremos o dência com enfoques diferentes dos
caso das cidades em países anglo- que orientaram os estudos que aqui
saxônicos ou em países do Terceiro foram resenhados. Quer parecer
Mundo. Sabe-se, com efeito, que a que os novos elementos que carac-
estrutura interna das cidades di- terizam essas novas linhas são:
fere sobremaneira num caso e no a) a ênfase no processo de peri-
outro: se, naqueles países, assisti- ferização da população em cidades
mos à periferização das camadas do Terceiro Mundo;
de média e alta renda, nos países b) a adoção de um aporte teó-
subdesenvolvidos a predominância rico conceitual que procura identi-
será a periferização dos grupos de ficar agentes e estratégias na pro-
renda baixa. Deve-se ainda lem- dução do espaço urbano.
brar que não é só uma diferença Cumpre ressaltar que, nestes
qualitativa, pois que as taxas de países, a questão da periferização
crescimento se diferenciam sobre- assume muitas vezes tonalidades
maneira e também o peso dos com- mais dramáticas que nos países
ponentes (relação crescimento ve- anglo-saxônicos, a periferia se tor-
getativo-migração). nando uma questão política de
Isto posto, queremos crer que peso, que pouco a pouco, em certos
para o caso dos países anglo-saxô- casos, como a do Rio de Janeiro,
nicos uma boa parte da literatura vem tomando mais importância
coincide com aquela sobre a franja que o problema das favelas: isso é
rural-urbana, acrescida de estudos observado por Santos (41) em tra-
específicos sobre o conteúdo social balho onde procura dar conta do
destas áreas, embora a questão já processo de periferização na Cidade
venha sendo estudada desde a dé- do Rio de Janeiro, encarado como
cada de 20, mais uma vez pela expressão de relações sociais . O
Escola de Chicago. O caso das autor mostra que, ao contrário do
cidades latino-americanas mere- que ainda pensam muitos, não é
ce também muitas contribuições, a favela, mas a periferia, a opção
como as de Mangin (37) e Tur- de moradia para as classes mais
ner (38) sobre o deslocamento dos desfavorecidas, em vista da crista-
migrantes da área central para a lização de um modelo em que o
periferia; a de Ward (39), que em núcleo se "enobrece" cada vez mais,
estudo para a Cidade do México o que faz, no mínimo, a diferença
encontra evidências empíricas de de se morar numa favela e na peri-
que a população esteja se deslo- feria.
cando para a periferia e a de Cor- A periferia é assim, produto de
rêa (40), que através de dados in- um modelo concentrador que refle-
diretos, e procurando aplicar esta te no plano espacial, o que aconte-
hipótese para o caso do Rio de ce na sociedade. O rebatimento no
Janeiro, encontra indícios de que, espaço desta desigualdade resulta
neste caso, a área central não é na concentração de recursos e in-
mais a área de localização inicial fra-estrutura, como constataram

66
Vetter, Massena e Rodrigues (42) tões que são definidas mediante o
analisando a concentração de in- confronto entre os resultados obti-
fraestrutura no núcleo da Cidade dos na análise dos padrões de cres-
do Rio de Janeiro, e de uma larga cimento demográfico nas nove
faixa mal servida, onde a auto- áreas metropolitanas e os eixos
construção constitui-se na estraté- temáticos identificados anterior-
gia básica de grande parte da mente. Tais questões poderão ser-
população, como mostram, entre vir como pontos de referência para
outros, Beozzo de Lima (43). Den- futuras pesquisas dentro do grande
tro destas novas tendências de se leque que abrange o tema geral de
encarar o crescimento periférico, periferização urbana. Podemos
cumpre assinalar o conjunto de subdividí-las em dois grandes con-
estudos gerados no simpósio pro- juntos:
movido pelo CEGET (Centre
d'Etudes de Geographie Tropicale) 4. 1 - Questões gerais
da Universidade de Bordeaux. Res-
saltam-se aí os estudos de Ven- a) Que diferenças decorrem no
netier (44) para o Congo, Urbi- processo de periferização segundo
na (45) para o Chile, Doumen- os diferentes tamanhos demográ-
ge (46) para a Nova Caledônia e, ficos das áreas metropolitanas?
principalmente, o de Deler (47) Esta questão se coloca pelo fato
que analisa as estratégias dos pro- de que, de um lado, as áreas metro-
prietários fundiários, quer oriun- politanas do Rio de Janeiro e São
dos das grandes famílias rurais Paulo apresentam respectivamente
tradicionais, quer oriundos dos 9,0 e 12,5 milhões de habitantes e,
negócios urbanos, tendo investido de outro, as demais áreas apresen-
capital em terras na periferia das tam uma população variando entre
Cidades de Guayaquil, Quito, Lima 1,0 a 2,5 milhões de habitantes, ou
e La Paz. Tais estratégias são in- seja, há pelo menos dois grandes
fluenciadas, basicamente, pela lo- conjuntos de áreas metropolitanas
calização das terras em dois am- no País.
plos setores da periferia urbana: o b) Como a temporalidade do pro-
setor periférico dotado de amenida- cesso de metropolização tem afe-
des naturais e o sem amenidades. tado o padrão atual de periferiza-
Acreditamos, para finalizar este ção? Esta questão se refere ao tipo
inventário sumário, que a questão e intensidade de ocupação em áreas
da periferização ainda oferece uma próximas à cidade central e o seu
série de problemas a serem com- processo de incorporação às cida-
preendidos. O que se segue, cons- des centrais das áreas metropolita-
titui-se em um conjunto de ques- nas.
tões que emergem a partir do c) As formas espaciais circular I
confronto entre o quadro descri- semi-circular e axial, resultam de
tivo sumário sobre a periferização que condicionantes, processos e
nas nove metrópoles brasileiras e a agentes? Será que para uma dada
revisão temática aqui realizada. área metropolitana, que hoje se
apresenta com um dado padrão,
este padrão foi sempre o mesmo?
4 - QUESTõES PARA Em que circunstâncias mudou?
APROFUNDAMENTO c .1) A acessibilidade seria um
POSTERIOR fator básico para que haja mudan-
ças na forma espacial? Por exem-
Esta parte do trabalho objetiva plo, a área metropolitana de São
fornecer maiores subsídios para o Paulo que hoje apresenta um pa-
projeto em pauta, através de ques- drão circular, poderia ter apresen-

67
tado em décadas anteriores um a ele limítrofe teve um crescimen-
padrão do tipo axial, ditado pelos to com índice acima de 200% . Será
eixos de transporte, onde se verifica que isto é o começo de um processo
que, o crescimento populacional, de esterilização?
na maioria das vezes, margeia esses a. 2) Se ocorre um processo de
eixos em maiores ou menores pro- esterilização na periferia metropo-
porções. litana, como se configura este pro-
c. 2) Esta mudança da forma cesso? Que agentes dela partici-
espacial expressaria que outros pro- pam? Grandes proprietários rurais,
cessos em atuação? pequenos proprietários rurais, em-
presas de loteamento e/ou incor-
d) Qual o papel do sítio (bar- poradoras imobiliárias? Quais as
reiras topográficas, de drenagem, articulações entre estes agentes?
etc.) no processo de induzir ou Qual o papel do Estado neste pro-
viabilizar um mais rápido ejou
mais lento processo de periferiza- cesso?
ção? Qual o papel do sítio na forma b) Qual a influência do proces-
espacial assumida no processo de so de metropolização na agricul-
periferização? tura periurbana (horti-frutigran-
jeiros, aves, ovos e produção lei-
e) será que as áreas met~oi?oli­ teira)? Tal questão vem calcada
tanas tais como foram defm1das na discussão do modelo thuniano
em ui7o, e que foram aqui consi- às áreas periurbanas.
deradas como unidades territoriais,
são válidas ainda hoje? Será que o b.l) Qual o seu peso e signifi-
processo de periferização já não cado nas diferentes áreas metropo-
extrapola de muito os limites litanas do País?
atualmente considerados? Neste b. 2) Qual a capacidade de resis-
caso, que fatores influenciam, esta tência que as áreas agrícolas da
expansão? Por outro lado, sera que periferia metropolitana apresen-
algumas áreas metropolitanas não tam face à expansão urbana?
foram superdimensionadas no pas- c) As indústrias tendem a se
sado? Quais? concentrar na periferia, tendo
como uma das causas principais a
4.2 - Questões específicas escassez do solo urbano no distrito-
sede da cidade central. Devido a
a) A análise do crescimento de- este movimento centrífugo, qual o
mográfico dos distritos das áreas papel das indústrias na ampliação
metropolitanas revela que na peri- de novas áreas periféricas? E das
feria das mesmas verificam-se ta- atividades industriais e terciárias
xas de crescimento baixas ou nega- em geral na conversão de terras
tivas. As questões que podem ser rurais em urbanas?
levantadas são: d) A expansão periférica se dá
a.l) Tais taxas de crescimento em conseqüência do crescimento
baixa ou negativa indicam um cO- demográfico, quer devido à saída
meço do processo de esterilização da população da cidade central,
rural, marcado pelo abandono de quer devido a correntes migrató-
atividades rurais e a conseqüente rias que se destinam a ambo.s os
perda de população, quer em ter- locais . Que peso tem cada um des-
mos relativos, quer em termos tes fatores, em cada uma das nove
absolutos? Como exemplo, pode-se áreas metropolitanas brasileiras
indicar que na área metropolitana que apresentam dimensões demo-
de Recife, o Distrito de Nova Cruz gráficas, padrões de uso do solo,
apresenta taxas de crescimento legislação urbana e fase do proces-
negativas, enquanto que o distrito so de periferização diferenciado?

68
e) Existem setores da periferia tégias? O que justifica tais estra-
urbana que se diferenciam entre tégias se as houver?
si no que se refere aos grupos so- e.2) No que se refere às perife-
ciais que ali vão residir? Pode-se rias pobres, com expressiva taxa de
distinguir setores de "amenidades" cresciment-o demográfico, que es-
destinados a certo tipo de clientela tratégias desempenha a população
e setores "sem amenidades" desti- que para lá se dirige ou é dirigida,
nados a outra clientela? face às precariedades das condições
e . 1) Que diferenças de estraté- de vida ali existentes?
gias desempenham os agentes mo- O conjunto de questões aqui le-
deladores - proprietários fundiá- vantadas teve como objetivo maior
rios, incorporadores imobiliários, abrir um eixo no sentido de que se
o Estado e a população - face a possa ampliar os estudos sobre o
esses possíveis tipos de periferia processo de periferização urbana.
urbana? São estratégias semelhan- No decorrer de tais estudos, outras
tes ou há diferenças nessas estra- questões podem surgir.

69
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40- CORREA, Roberto Lobato A. - Localização inicial do imigrante na cidade: o caso do Rio
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41 - SANTOS, Carlos Nélson F. - Rio de Janeiro: urbanização e metropolização - em Revista


de Administração Municipal, 149; veja-se também, do mesmo autor - Como o pensamento
produz espaços na periferia - em União Geográfica Internacional - Simpósios e mesas
redondas - Rio UGI-IBGE, 1982.

42- VETTER, David; MASSENA, Rosa Maria e RODRIGUES, Elza F. - Espaço, valor da terra
e equidade dos investimentos em infra-estrutura do Município do Rio de Janeiro -
Revista Brasileira de Geografia 41 (1-2) : 32-71, jan.jjun. 1979.

71
43 - LIMA, Maria Helena Beozzo de. - Em busca da casa própria: auto construção na peri-
feria do Rio de Janeiro in VALLADARES, Lícia. (org.) - Habitação em questão -
69-91, Rio, Zahar, 1980.

44 - VENNETIER, P. - Nature et aspects de la croissance urbaine peripherique à Loubomo


(République Populaire du Congo) - La roissance péripherique des Villes du tiers monde:
le róle de la pr.omotion fonciére et immobiliére - Travaux et Documents de G-éographie
Tropicale 40, CEGET, Talence, 57-75, 1980.

45 - URBINA, R. - Urbanization périphérique a Santiago du Chile - op. c't. ref. 187-218.

46 - DOUMENGE, J. P. - Croissance périphérique et promotion immobiliêre à c·aractêre social


de Noumia (Nouvellé Calédonie) - idem: 229-49.

47 _ DELER, Jean Paul - Promotion fonciére et stratification residentielle à la pêripherie des


métropoles de l'Amerique Andine tropicale - idem: 121-42.

72
ANEXO

Variação da população residente nas áreas metropolitanas


entre 1970-1980
(continua)
POPULAÇÃO RESIDENTE CRESCIMENTO 1970- 1980
UNIDADES OBSERVACIONAIS
(MUNIC[PIOS E DISTRITOS)
1980 Relativo
1970 Absoluto
(%)

ÁREAS METROPOLITANAS ......... 23 737 330 34 525 294 10 787 964 46

BELÉM .......... 656 351 1 000 349 343 998 52

BELÉM ............... 633 749 934 322 300 573 47


1 -Belém .......... 577 473 808 460 230 987 40
2 - lcoraci ........ 37 773 82 840 45 067 119
3 - Mosqueiro ..... 11 195 14 393 3 198 29
4 - Val-de-Cãs ....... 7 308 28 629 21 321 292

ANANINDEUA ......... 22 602 66 027 43 425 192


5 - Ananindeua ........ . . . . . . . . . . . 22 602 66 027 43 425 192

FORTALEZA ........ 1 038 041 1 581 588 543 547 52

FORTALEZA ............... 859 135 1 308 919 449 784 52'


1 - Fortaleza •...... ........... 520 175 648 815 128 640 25
2 - Antônio Bezerra .......... 61 948 125 348 63 400 102
3 - Messejana ........ 46 009 110 538 64 529 140
4 - Mondubim ......... 66 671 201 363 134 692 202
5 - Parangaba ....... 164 332 222 855 58 523 36

AOUIRAZ ...... 32 558 45 214 12 656 39


6 - Aquiraz ......... B 201 10 849 2 648 32
7 - Eusébio ........ . ····· .... 6 928 12 120 5 192 75
8 - Jacaúna.... .. . 9 688 11 627 1 939 20
9 - Justiniano Serpa ..... 7 741 1o 618 2877 37
CAUCAIA ............... 54 801 94 157 39356 72
1O - Caucaia ......... 32 960 74 212 41252 125
11 - Catua na ....... 4 521 3 681 - 840 -19
12 - Guararu ....... ............ 4 325 3 851 - 474 -11
13- Mirambé ....... 2 874 3 287 413 14
14- Sítios Novos ...... 3 222 3 946 724 22
15 - Tucunduba ..... 6 899 5 180 -1 719 - 25
MARANGUAPE ............ 59 516 91 222 31 706 53
16 - Maranguape ........ 16 332 23 093 6 761 41
17 - Amanari ............ 4 229 4 729 500 12
18 -Antônio Marques ...... 1 206 1 099 - 107 - 9
19 - ltapebussu ....... 6 345 6 597 252 4
20 - Jubaia........ . 7 048 9 242 2 194 31
21 - Maracanaú ......... 15 624 37 942 22 31 B 143
22 - Sapupara .... 5 380 6 031 651 12
23 - Tanques ......... 2 662 1 952 - 710 27
24 - Vertentes do Lagedo ..... 690 537 - 153 22
PACATUBA ............ 32 031 42 076 10 045 31
25 - Pacatuha.. . . . . 5 937 7 332 1 395 23
26 - Água Verde ...... 2 818 3 076 258 9
27 - Gereraú .... B 617 12 098 3 481 40
28 - Guaiuba .... 6 11 o 7 647 1 537 25
29 - ltacima .... 2 930 2 791 - 139 5
30 - ltapó....... . . 2 974 4 582 1 608 54
31 - Pavuna ..... . ......... 2 645 4 550 1 905 72

73
ANEXO

Variação da população residente nas áreas metropolitanas


entre 1970-1980
(continua)
POPULAÇÃO RESIDENTE CRESCIMENTO 1970 - 1980
UNIDADES OBSERVACIONAIS
(MUNIC[PIOS E DISTRITOS) Relativo
1970 1980 Absoluto
(%)

RECIFE. ..................................... . 1 716 708 2 348 362 631 654 37

RECIFE. ........ . 1 060 752 1 204 738 143 986 14


1 - Recife ........................ . 1 060 752 1 204 738 143 986 14

CABO.................. . ........ . 75 980 104 425 28 445 37


2 - Cabo .................... . 39 171 58 946 19 775 50
3 - Juçaral ...... . 8 558 7 515 - 1 043 -12
4 - Ponte dos Carvalhos ........... . 21 573 33 666 12 093 56
5 - Santo Agostinho .......... . 6 678 4 298 - 2 380 -36

IGARASSU ........................... . 55 127 73 219 18 092 33


6 - lgarassu ... . 29 218 45 662 16 444 56
7 - Araçoiaba .... . 8 670 8 863 193 2
8 - ltapissuma ................. . 8 863 11 905 3 042 34
9 - Nova Cruz ............. . 3 568 3 125 -443 -12
10 -Três ladeiras .................... . 4 808 3 664 -1 144 -24

ITAMARACÁ ............ . 7 140 8 259 1 119 16


11 - Itamaracá ..... . 7 140 8 259 1 119 16

JAROATÃO ................................ . 201 460 330 923 129 463 64


12 - Jaboatão ..................... . 61 278 86 503 25 225 41
13 - Cavaleiro ............... . 58 811 85 961 27 150 46
14 - Muribeca dos Guararapes ........ . 81 371 158 459 77 088 95

MORENO ..................................... . 31 342 34 985 3 643 12


15 - Moreno ......................... . 31 342 34 985 3 643 12

OLINDA............... . 196 471 281 858 85 387 43


16 - Olinda ....... . 196 471 281 858 85 387 43
PAULISTA ............... . 70 279 165 827 95 548 136
17- Paulista......... . ......... . 23 613 28 768 5 155 22
18 - Abreu e lima .................... . 26 130 47 088 20 958 ao
19 - Navarro ........... . 5 689 27 321 21 632 380
20 - Paratibe .............. . 8 862 15 342 6 480 73
21 - Praia da Conceição ... . 5 985 47 308 41 323 690
SÃO LOURENÇO DA MATA ..... . 94 137 144 128 49 991 53
22 - São Lourenço da Mata ... . 40 617 66 363 25 746 63
23 - Camarajibe ............... . 41 216 67 029 25 813 63
24 - Nossa Senhora da luz ...... . 12 304 10 736 1 568 13

SALVADOR ............ . 1 148 828 1 772 018 623 190 54

SALVADOR..... . ... . 1 007 744 1 506 602 498 858 49


1 - Salvador. ..... . 998 258 1 496 276 498 01 B 49
2 - Madre de Deus .... 9 486 10 326 840 9

CAMAÇARI.... ....... .. . ........... . 33 533 89 511 55 978 167


3 - Camaçari.... . .......... . 15 768 57 289 41 521 263
4 - Abrantes. . . . . . . . . . . . . . 5 171 10 092 4 921 95
5 - Dias d'Avila .......... . 5 233 14 476 9 243 177
6 - Monte Gordo.. . . . . . . ....... . 7 361 7 654 293 4

74
ANEXO
Variação da população residente nas áreas metropolitanas
entre 1970-1980
(continua)
POPULAÇÃO RESIDENTE CRESCIMENTO 1970 - 1980
UNIDADES OBSERVACIONAIS
(MUNICIPIOS E DISTRITOS)
Relativo
1970 1980 Absoluto
(%)

CANDEIAS ............. . 34 388 54 197 19 809 58


7 - Candeias .......... . 34 388 54 197 19 809 58

ITAPARICA .......... . 8 350 10 892 2 542 30


8 - ltaparica ........ . 8 350 10 892 2 542 30
LAURO DE FREITAS..... . ........... . 1o 126 35 572 25 446 251
9 - Lauro de Freitas ... . 1o 126 35 572 25 446 251

SÃO FRANCISCO DO CONDE .......... . 20 928 17 886 - 3 042 -15


10 - São Francisco do Conde .... . 8 588 9 90[) 1 312 15
11 - Mataripe ............ . 1o 182 5 790 - 4 392 - 43
12 - Monte Recôncavo. . . 2 158 2 196 38 2

SIMÕES FILHO .......... . 22 088 . 43 693 21 605 98


13 - Simões Filho ... . 22 088 43 693 21 605 98

VERA CRUZ ............. . 11 671 13 665 1 994 17


14 - Vera Cruz ....... . 4 784 4 919 135 3
15 - Cacha Pregos .... . 1 470 1 540 70 5
16 - Jiribatuba ....... . 2 272 2 542 270 12
17 - Mar Grande.. . . . . . 3 145 4 664 1 519 48

BELO HORIZONTE ....... . 1 605 663 2 541 788 936 125 58

BELO HORIZONTE ......... . 1 235 001 1 781 924 546 923 44


1 - Belo Horizonte .......... . 1 108 351 1 443 531 335 180 30
2 - Venda Nova ....... . 126 650 338 393 211 743 167

BETIM .............•.... 37 883 84 290 46 407 123


3- Betim .... 37 883 84 290 46 407 123

CAETÉ ........ . 25 176 30 593 5 417 22


4 - Caeté ........... . 19 914 24 933 5 019 25
5 - Antônio dos Santos ..... . 1 530 2 244 714 47
6 - Morro Vermelho ........ . 1 186 1 105 -81 - 7
7 - Penedia ....... . 1 263 625 - 638 -51
8 - Roças Novas ...... . 1 283 1 686 403 31

CONTAGEM........ . . . . .. 111 338 28[) 721 169 383 152


9 - Contagem ................. . 30 766 114 095 83 329 271
1O - Parque Industrial ... . 80 572 166 626 86 054 107

IBIRITÉ Ctl ..... . 19 523 40 017 20 494 105

} 13 954 } 31 982 } 18 028 } 124

12 - Sarzedo. . . . . . . . . . . . . . . . .......... . 5 569 8 035 2 466 44


LAGOA SANTA....... . .. . 14 050 19 525 5 475 39
13 - Lagoa Santa ....... . 1o 558 14 933 4 375 41
14 - Confins.......... . ........... . 1 989 2 344 355 18
15 - Lapinha ......... . 1 503 2 248 745 50

~IOVA LIMA ..•............. 34 001 41 239 7 238 21


16 - Nova Lima ........ . 34 001 41 239 7 238 21

75
ANEXO

Variação da população residente nas áreas metropolitanas


entre 1970-1980
(continua)
POPULAÇÃO RESIDENTE CRESCIMENTO 1970 - 1980
UNIDADES OBSERVACIONAIS
(MUNICÍPIOS E DISTRITOS) ReIativo
1970 1980 Absoluto
(%)

SÃO JOÃO DE MERITI...... . . 303 108 398 686 95 578 32


50 - São João de Meriti ............ 163 934 210 548 46 614 28
51 - Coei ho da Rocha ......... 100 781 140 028 39 247 39
52 - São Mateus ••....... 38 393 48 110 9 717 25

SÃO PJ\ULO ............... 8 137 401 12 588 439 4 451 038 55

SÃO PAULOC 4l .......... .. 5 921 796 8 493 598 2 571 802 43


1 - São Paulo ............ 5 209 545 7 115 245 1 905 700 37
2 - Ermelino Matarazzo .... 151 836 241 571 89 735 59
3 - Guaianazes •..... ............ 74 627 150 366 75 739 101

{ ltaim Paulista .........


4-
São Miguel Paulista.
} 235 427 } 445 581 } 210 154 } 89
5- ltaquera ......... 189 098 414 011 224 913 119
6- Jaraguá ........ 20 999 51 084 30 085 143
7- Parelheiros .... ·················· 12 439 27 306 14 867 120
8- Perus ......... 27 825 48 434 20 609 74

ARUJA •................. ..... . . . . . 9 585 17 482 7 897 82


9- Arujá .......... 9 585 17 482 7 887 82

BARUERI ................ 37 803 75 321 37 518 99


1O - Barucri ...... 17 481 35 914 18 433 105
11 -Aldeia .......... 6 158 12 066 5 908 96
12 - Jardim Selva! ........ ··········· 6 947 11 905 4 958 71
13 - Jardim Silveira .......... 7 217 15 436 8 219 114

BIRITIBA-MIRIM ........................... 8 966 13 379 4 413 49


14 - Biritiba-Mirim ................ 8 966 13 379 4 413 49

CAl EIRAS ................. ··················· 15 563 25 066 9 503 61


15 - Caieiras ...... ············· 15 563 25 066 9 503 61
CAJAMAR .••............ ············· 10 440 21 941 11 501 11 o
16 - Cajamar ....... ············· 6 108 12 527 6 419 105
17- Jordanésia ... 4 332 9 414 5 082 117
CARAPICU[BA .•......... ............. 54 907 185 763 130 856 238
18 - Carapicuíba .......... ········· ... 54 907 185 763 130 856 238
COTIA ...•.... .... ······ 30 957 63 373 32 416 105
19- Cotia ........................ 21 293 47 444 26 151 123
20 - Caucaia do Alto ............ 4 576 6 182 1 606 35
21 - Raposo Tavares .. . . . ' . . . . . . . . . 5 088 9 747 4 659 92
DIADEMA ................. ············· 78 957 228 594 149 637 190
22 - Diadema ................. 78 957 228 594 149 637 180
EMBU ................... 18 161 95 764 77 603 427
23 - Embu...... .. .. .. .. .... 18 161 95 764 77 603 427
EMBU~GUAÇU ............. 1o 301 21 028 10 727 104
24 - Embu-Guaçu ... ············· 1o 301 21 028 10 727 104

78
ANEXO

Variação da população residente nas áreas metropolitanas


entre 1970-1980
(continua)
POPULAÇÃO RESIDENTE CRESCIMENTO 1970 - 1980
UNIDADES OBSERVACIONAIS
(MUNICfPIOS E DISTRITOS)
1970 1980 Absoluto Relativo
(%)

FERRAZ DE VASCONCELOS ...... . 25 248 55 107 29 859 118


25 - Ferraz de Vasconcelos .... . 25 248 55 107 29 859 118
FRANCISCO MORATO ...... . 11 210 28 462 17 252 154
26 - Francisco Mo rato ....... . 11 210 28 462 17 252 154
FRANCO DA ROCHA........ . . . . . . . . .... 36 391 50 710 14 319 39
27 - Franco da Rocha ..... . 36 391 50 710 14 319 39
GUARAREMA ............ . 12 636 15 123 2 487 20
28 - Guararema .... . 12 636 15 123 2 487 20
GUARULHOS ............... . 236 865 532 908 296 043 125
29 - Guarulhos ......... . 236 865 532 908 296 043 125
ITAPECERICA DA SERRA ......... . 25 312 60 716 35 404 140
30 - ltapecerica da Serra ........... . 21 153 54 086 32 933 156
31 - São Lourenço da Serra ...... . 4 159 6 630 2 471 59
ITAPEVI ................... . 27 569 53 325 25 756 93
32 - ltapevi ............ . 27 569 53 325 25 756 93
ITAQUAQUECETUBA ....... . 29 153 72779 43 626 150
33 - ltaquaquecetuba.. . . . 29 153 72779 43 626 150
JAND!RA ............. . 12 490 36 017 23 527 188
34 - Jandira.. .. .. .. . .. .. 12 490 36 017 23 527 188
JUQUITIBA ............ . 7 290 12 500 5 210 71
35 - Juquitiba .... . 7 29Q 12 500 5 210 71
MAIRIPORÃ ................. . 19 640 27 498 7 858 40
36 - Mairiporã........ .. ........ . 19 640 27 498 7 858 40
MAUÁ ...................... . 101 726 205 817 104 091 102
37 - Mauá......... . .. . 101 726 205 817 104 091 102
MOGI DAS CRUZES ....... 138 746 198 081 59 335 43
38 - Mogi das Cruzes... .. ......... .. 100 650 133 197 32 547 32
39 - Brás Cubas ......... . 16 670 35 563 18 893 113
40 - Jundiapeba ........... . 8 129 12 747 4 618 57
41 - Sabaúna ......................... .. 3 512 5 711 2 199 63
42 - Taiaçupeba ...... . 9 785 1o 863 1 078 11
DSASCO ................ . 283 203 473 856 190 653 67
43 - Osasco ...... . 283 203 473 856 190 653 67
PIRAPORA DO BOM JESUS ....... . 3 714 4 815 1 101 30
44 - Pirapora do Bom Jesus ...... . 3 714 4 815 1 101 30
POÁ ................. . 32 382 52 795 20 413 63
45- Poá ...... . 32 382 52 795 20 413 63
RIBEIRÃO PIRES ........ . 29 117 58 487 27 370 94
46 - Ribeirão Pires .... . 24 876 48 882 24 006 97
47 - Duro Fino Paulista ...... . 4 241 7 605 3 364 79
RIO GRANDE DA SERRA .......... . 8 314 20 102 11 788 142
48 - Rio Grande da Serra ...... . 8 314 20 102 11 788 142

79
ANEXO

Variação da população residente nas áreas metropolitanas


entre 1970-1980
(continua)
POPULAÇÃO RESIDENTE CRESCIMENTO 1970 - 1980
UNIDADES OBSERVACIONAIS
(MUNICÍPIOS E DISTRITOS)
1970 1980 Absoluto Relativo
I I
(%)

SALESÚPOLIS ............. 9 560 10 649 1 089 11


49 - Salesópolis ... 9 560 10 649 1 089 11
SANTA ISABEL. ........ 17 179 28 997 11 818 69
50 - Santa lsahel ..... 17 179 28 997 11 818 69
SANTANA DE PARNAÍBA ...... 5 428 10 070 4 642 86
51 - Santana de Parnaíba ... 5 428 10 070 4 642 86
SANTO ANDA~ .............. .......... 418 578 552 797 134 219 32
52 - Santo André •...... 415 291 549 278 133 987 32
53 - Paranápiacaba ....... 3 287 3 519 232 7
SÃO BERNARDO DO CAMPO .... 201 t\62 425 780 224 318 111
54 - São Bernardo do Campo .... 1e6 385 416 048 219 663 112
55 - Riacho Grande .... 5 077 9 732 4 655 92

SÃO CAETANO DO SUL. ...... 150 171 163 030 12 859 9


56 - São Caetano do Sul .. 150 171 163 030 12 859 9
SUZANO ............... 55 622 101 067 45 445 82
57 - Suzana ••........ 55 622 101 067 45 445 82
TABOÃO DA SERRA .... 40 959 97 642 56 683 138
58 -- Taboão da Swa .. 40 959 97 642 56 683 138
CURITIBA ......... 820 766 1 441 743 620 977 76
CURITIBA..... .. .. . . . 608 417 1 025 979 417 562 69
1 - Curitiba ....... 483 038 843 733 360 695 75
2 - Bacacheri ........... 20 937 27 825 6 888 33
3 - Campo Comprido ........ 14 779 36 217 21 438 145
4 - Pinheirinho ....... 50 302 41 248 - 9 054 -18
5 - Santa Felicidade ........ 16 753 42 989 26 249 157
6 - Santa Ouitéria ........ 16 740 21 502 4 762 20
7 - Tatuquara ...... 1 920 5 245 3 325 173
8 - Umbará....... . 3 948 7 220 3 272 83
ALMIRANTE TAMANDAR~ ..... 15 367 34 226 18 859 123
9 - Almirante Tamandaré . 1o 782 29 123 18 341 170
1O - Campo Magro ....... 4 585 5 103 518 11
ARAUCÁRIA ............... 17 162 34 832 17 670 103
11 - Araucária ............ 14 874 32 677 17 803 120
12 - Guajuvira ............ 2 288 2 155 - 133 - 6

BALSA NOVA .......... 4 709 5 283 574 12


13 - Balsa Nova ........ 1 923 2 154 231 12
14- Bugre ...... 1 874 2 228 354 19
15 - São Luiz do Purunã ... 912 901 - 11 - 1
BOCAIÚVA DO SUL ..... 1o 733 12 135 1 402 13
16 - Bocaiúva do Sul ....... 6 494 7 099 605 9
17 - Marquês de Abrantes .... 1 842 2 421 579 31
1R - Tu nas .... 2 397 2 615 218 9
CAMPINA GRANDE DO suL. .. 7 885 9 800 1 915 24
19 - Campina Grande do Sul. 7 885 9 800 1 915 24

80
ANEXO

Variação da população residente nas áreas metropolitanas


entre 1970-1980
(continua)
POPULAÇÃO RESIDENTE CRESCIMENTO 1970 - 1980
UNIDADES OBSERVACIONAIS
(MUN ICfPIOS E DISTRITOS)
1970 1980 Absoluto Relativo
(%)

CAMPO LARGO ............................. . 34 340 54 901 20 561 60


20 - Campo largo ......•............... 23 489 41 903 18 414 78
21 - Bateias ........................... . 3 016 3 742 726 24
22 - Ferraria ........................... . 1 651 3 721 2 070 125
23 - São Silvestre ...................... . 2 789 2 170 619 22
24 - Três Córregos ..................... . 3 395 3 365 - 30 -1
COLOMBO ••.................................. 19 228 62 874 43 646 227
25 - Colombo .......................... . 19 228 62 874 43 646 227
CONTENDA ................................... . 7 212 7 552 340 5
26 - Contenda .......................... . 5 324 6 038 714 13
27 - Catanduvas do Sul. ................ . 1 888 1 514 - 374 -20
MANDIRITUBA ............................... . 11 051 15 454 4 403 40
28 - Mandirituba ....................... . 7 548 10 424 2 876 38
29 - Areia Branca dos Assis ............ . 3 .503 5 030 1 527 44
PIRAQUARA .................................. . 21 266 70 561 49 295 232
30 - Piraquara ......................... . 13 291 35 218 21 927 165
31 - Pinhais ........................... . 7 975 35 343 27 368 343
QUATRO BARRAS ............................ . 4 079 5 715 1 636 40
32 - Quatro Barras ...................... . 2 640 3 973 1 333 50
33 - Borda do Campo .................. . 1 439 1 742 303 21
RIO BRANCO DO SUL .................... . 25 163 31 794 6 631 26
34 - Rio Branco do Sul .....•........... 22 200 28 796 6 596 30
35 - Açungui ........................... . 2 963 2 998 35 1

SÃO JOS~ DOS PINHAIS<5) ............... . 34 154 70 637 36 483 107


36 - São José dos Pinhais .............. . 25 288 59 209 33 921 134
de São Jos~ ......... .
37 _ { Cachoeira
Campo largo da Rose1ra ........ . } 6 366 } 7 709 } 1 343 } 21

38 - Colônia Murici. ................... . 2 500 3 719 1 219 49


PORTO ALEGRE ...••............................. 1 531 168 2 232 370 701 202 46
PORTO ALEGRE ...•.......................... 885 564 1 125 901 240 337 27
1 - Porto Al~re ....................... . 885 564 1 125 901 240 337 27
ALVORADA .•.................................. 40 378 91 487 51 109 127
2 - Alvorada ........................... . 39 586 90 651 51 065 129
3 - Estância Grande .................... . 792 836 44 6
CACHOEIRINHA •.............................. 31 023 63 228 32 205 104
4 - Cachoeiri nha •....................... 31 023 63 228 32 205 104
CAMPO BOM ••.............................. 16 623 33 831 17 208 104
5 - Campo Bom ........................ . 16 623 33 831 17 208 104
CANOAS .•.................................... 153 759 220 569 66 810 43
6 - Canoas ............................. . 148 798 214 115 65 317 44
7 - Santa Rita ......................... . 4 961 6 454 1 493 30
ESTÂNCIA VELHA .................•........... 8 897 14 220 5 323 60
B - Estância Velha ..................... . 8 897 14 220 5 323 60
ESTEIO ............................ ··········· 34 587 50 975 16 388 47
9 - Esteio ............................. . 34 587 50 975 16 388 47

81
ANEXO

Variação da população residente nas áreas metropolitanas


entre 1970-1980
(conclusão)
POPULAÇÃO RESIDENTE CRESCIMENTO 1970 - 1980
UNIDADES DBSERVACIONAIS
(MUNIC[PIOS E DISTRITOS)
1970 1980 Absoluto Relativo
(%)

GRAVATA[ C6> ••••••.•••••••••••••••••••••••••• 52 457 107 500 55 043 105


{ Gravataí. ...................... .
10 - Barro Vermelho ................. . } 15 359 } 31 563 } 16 204 } 106
11 - Barnabé .......................... . 23 638 55 606 31 968 135
12 - Dom Feliciano ..................... . 2 320 1 473 -847 - 37
13 - Glorinha ........................... . 3 349 3 484 135 4
14 - lpiranga .......................... . 4 862 12 904 8 042 165
15 - Morungava ........................ . 2 929 2 470 -459 - 16
GUA[BA C7> •••••••••••.•..•.•.•.•...•••.••.•• 33 695 55 038 21 343 63

~~~b~~;i·r~. d~· -G~~ib~:::::::::: :


16
_

I Sans-Souci ....•.................
Eldorado ........................ .
Mariana Pimentel .............. .
Sertão de Santana ............. .

NOVO HAMBURGO ........................... .


17 - Novo Hamburgo ................... .
SÃO LEOPOLDO ............................. .
l33 695 155 03B 121 343
j
85 356
85 356
64 311
136
136
98
551
551
586
51
51
34
195
195
275
60
60
53
18 -São Leopoldo .................... .. 64 311 98 586 34 275 53
SAPIRANGA .................................. . 16 402 37 286 20 884 127
19 - Sapiranga ......................... .. 13 012 31 544 1B 532 142
20 - Araricá ............................ . 1 523 1 934 411 27
21 - Campo Vi cente .................... . 394 741 347 88
22 - Picada Hartz ...................... . 1 473 3 067 1 594 108
SAPUCAIA DO SUL ........................ . 41 749 79 402 37 653 90
23 - Sapucaia do Sul .................. . 41 749 79 402 37 653 90
VIAMÃO ..................................... . 66 367 117 756 51 389 77
24 - Viamão ........................... . 24 380 48 599 24 219 99
25 - Águas Claras ...................... . 2 542 2 351 -191 - 8
26 - Capão da Porteira ................. . 2 547 1 769 -778 - 31
27 - Espigão ........................... . 4 776 8 852 4 076 85
28 - ltapuã ............................. . 4 662 4 225 -437 - 9
29 - Passo da Areia ................... . 2 254 2 438 184 8
30 - Passo do Sabão ................... . 25 206 49 522 24 316 96
FONTE: Sinopse Preliminár do Censo Demográlico- VIII Recenseamento Geral do Brasil - 1970 - IBGE.
Sinopse Preliminar do Censo Demográfico - IX Recenseamento Geral do Brasil - 1980 - IBGE.
NOTAS: (1) - Os dados referentes ao Distrito de Parque Durval de Barros 1157 611 hab.) foram incorporados aos do Distrito de lbirité 116 221 hab.) em
1980, para efeito de comparação, já que ele não existia em 1970.
(2) - Os dados referentes ao Dis:rito de São José da Lapa 17173 hab.)loram incorporados aos do Distrito de Vespasiano (17 982 hab,) em 1980,
para efeito de comparação, já que ele não existia em 1970.
13) - Os dados referentes ao Distrito de Posse 15 162 hab.) foram incorporados aos do Distrito de Pedro do Rio (1 O 558 hab.) em 1970, para
efeito de comparação, já que ele foi extinto a incorporado ao Distrito de Pedro do Rio em 1980.
(4) - Os Distritos de ltaim Paulista 1125 13ê hab.J e São Miguel Paulista 1320 443 hab.)tiveram seus dados incorporados, em 1980, para efei-
to de comparação, Já que lta1m Paulista nao ex1st1a em 1970.
15)- Os dados do Distr!to de Cachoeira de. São Jos~ 12 035 h_ab.) foram incorporados aos de Campo Largo da Roseira 15 674 hab.) em 1980,
para efeito de comparaçao. Já que Cachowa de Sao José nao ex1st1a em 1970.
16) - O Distrito de Barro Vermelho 14 991 hab.)teve seus dados incorporados aos do Distrito de Gravataí 126 572 hab.) em 1980, para efeito de
comparação, já que Barro Verll_!elho não existia em 1970. . . . .
(7)- Para efeito de comparaçao, em 1970, os dados referentes aos D1stntos de Gua1ba 121 984 hab.). Bom Retiro do Guaíba 13 552 hab,),
Sans-Souci 14 991 hab.), Mariana Pimentel 11 564 hab.) e Sertão de Santana 12 384 hab.) foram somados; e. em 1980, somaram-se os dados re-
ferentes aos Distritos de Guaíba 147 908 hab.), Bom Retiro do Guaiba 1877 hab.), Mariana Pimentel 12 182 hab.) e Sertão de Santa-
na (2 163 hab.),. havendo ainda a extinção do Distrito de Sans-Souci e a criação do Distrito de Eldorado (1 908 hab.).

82
FIGURA 1

I I

AREA METROPOLITANA DE SELEM

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
RELATIVO POR DISTRITO
1970-1980

o
25
50

100
200

lOkm O 10 20 30 40km

FONTE, Sinopses Preliminares de


Censos Demográficos: 1970-1980

83
FIGURA 2

ÁREA METROPOLITANA DE FORTALEZA

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
RELATIVO POR DISTRITO
1970 -1980 ,·,,

o
25
50
100
200

5km o 10 15 20 km

FONTE: Sinopses Preliminares dos


Censos Demográficos: 1970.1980

84
FIGURA 3

ÁREA METROPOLITANA DE RECIFE

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
RELATIVO POR DISTRITO
1970-1980

o 10 15km
FONTE. Smopscs Preliminares dos
Cento& Oem()9rÓficos: 1970 ~1980

85
FIGURA 4

ÁREA METROPOLITANA- DE -SALVADOR


00
a

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
RELATIVO POR DISTRITO
1970-1980

o
25
50

100
200

4 o 4' e 12km

Pteliminores dos
1970-1980
,
AREA METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
RELATIVO POR DISTRITO
1970-1980

o
25
00
-::1 50

100
200

o 5 10 15 20 25km

FONTE: Sinopses Preliminares dos


Censos OemoQrÕficos: 1970-1980
FIGURA 6

co
co ÁREA METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
·RELATIVO POR DISTRITO
1970-1980

o
25
50

4 O 4 8 12 16 20 km
FONTE: Sinop$es Preliminore6 de
Censos Oemooráficos~ 1970- 1980
FIGURA

AREA METROPOLITANA DE SÃO PAULO

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
RELATIVO POR DISTRITO
1970-1980

o
25
50
co
~ 100
200
5 o 5 10 15 20 25~m

FONTE: Sinopses Prelimínores dos


Censos Demo(lrÔficos, 1970 -1960
FIGURA 8

ÁREA METROPOLITANA DE CURITIBA

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
RELATIVO POR DISTRITO
1970 - 198J

o
25
50

100
200

lO 15 20 25 km
L--L--L--L~--~

FONTES: Sinopses Prehminares dos


Censos Demogro'ficos- 1970- 1980.

90
J:l'lliU.KA ~

ÁREA METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE

CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
RELATIVO POR DISTRITO
1970-1980

o
25
50
100

(O
200
.....
10 km O 10 20 30 40km

FONTE: Sinopses Preliminares dos


Censos Demográficos, 1970- 1980
SUMMARY RÉSUMÉ
Thls project about urban perlpherlc growth Ce travall peut être conslderé une phase pos-
may be consldered as a !ater phase o! studles térieure dans les études sur les formes de !'es-
on urban spatlal forms, whlch are being made pace urbaines.
by the Geogmphy Department (DEGEO).
Les résultats justlflent la sulte de ces études,
The results o! the mentioned studles fully
justlfY the sequence of thls Une of studies, qui comptent dejà avec les premleres données
added by the fact of the first data provlded by du Cense Généra! du Brésil (1980). La Divisão
the Brazlllan Census of 1980. It ls wlth thls de Estudos Urbanos (DIURB) vient de réallser
!ntent, that the Divlsion of Urban Studles ce travall dont on met en relie! un aspect:
(DIURB) has carried out these studies, which celul de la pér!phérisatlon urbalne comprlse
actually pri vilege an aspect o f the referred dans !e cadre du phénomene de métropollsat!on.
problem - the urban perlpheric growth focused Quelques données prélevées en 1970 l'ont dejà
lnslde the p!cture of the metropolltan growth mls en valeur. Cependant, li est nécéssalre de
phenomena, whlch lmportance was already se rendre compte de l'lmportance de Ia quallté
. shown by some 1970's Census data. Nevertheless, du processus de périphérlsation, les ch!ffres
as lf the numbers only were not enough, it ls n'étant polnt sufflsantes. Cette évaluatlon est
to be consldered the quality importance of the !e deuxleme axe de cette analyse.
perlpherlc growth process, constitutlng such
evaluatlon the other slde o! the analysls. Les trols :Dartles du travail sont: d'abord une
The work !s div!ded In three sectlons: In the analyse des patrons d'accrolssement démogra-
flrst one, an analysls is dane focusing the de- phlque des neuf Aires Métropolitaines du Pays
mographic growth patterns of the nine Metro- pendant les années 1970/1980. Ensulte, on re-
polltan Areas In the country, durlng the 1970/80 voit les recherches tradltlonnelles à ce sujet.
dec·ade. Followlng, a revlew of research tradl-
Et finalement, en se tenant compte des pa-
tions on the subject; and 1tna!ly, conslder!ng
the observed patterns and rthe conceptual for- trona observés et des concepts formulés, on
mulations, questiona were ·raised aimlng at a cherche à poser de questlons qu'on pulsse exa-
possible deepening of future specific studies. miner à fond Iors d'un travail postérieur.

92
COMUNICAÇÕES

Espaço geográfico:
classificação e divisão.
Um método e uma
abordagem conceitual
Edmon Nimer

1 - INTRODUÇÃO diacrônica, mas, sobretudo, de


uma análise epistemológica que se
presente trabalho é parte inserisse no contexto da "Ciência

O integrante de uma série de


seminários sobre Regionali-
zação e Unidades Ambientais, rea-
Regional".
Como se sabe, há diversos méto-
dos regionais segundo diferentes
lizados no âmbito interno da abordagens conceituais, que, por
Superintendência de Recursos Na- sua vez, parecem atender à evolu-
turais e Meio Ambiente da Funda- ção diacrônica do conceito de
ção IBGE, de dezembro de 1982 a região. Conforme Aluízio C. Duar-
fevereiro de 1983. te 1 existem quatro abordagens
Os principais objetivos desses conceituais sobre regionalização:
seminários foram reforçar o inte- regionalização como diferenciação
resse pelo enfoque regional como de áreas; regionalização como clas-
abordagem metodológica nas pes- sificação; regionalização como ins-
quisas sobre o meio ambiente como trumento de ação; e regionalização
espaço geográfico, bem como uma como processo. Estas formas não
postura crítica diante do método, são necessariamente excludentes,
não tanto através de uma análise pois a "diferenciação de áreas",

1 DUARTE, c. Aluízio. "Regionalização - Considerações Metodológicas", BoL Geog. Teo-


rética, Rio Claro, São Paulo, v. 10 (20) : 5-32, 1980.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~(1): 93-109, jan./mar. 1983 93


como objetivo, pode estar contida 2 - REFERENCIAS
nas demais abordagens, desde que EPISTEMOLóGICAS
possa ser considerada como obje- SOBRE DIVISÃO DO
tivo final, ou pelo menos tra-
dicional da ciência regional. A ESPAÇO GEOGRÁFICO
maneira como a região é identifi-
cada em cada uma dessas aborda- A postura epistemológica de
gens conceituais é que parece jus- Bertrand, em termos de ciência
tificar a distinção dessas quatro geográfica, de "ciência regional"
categorias de abordagens. Na abor- ou da própria ciência como um
dagem de "diferenciação de áreas", todo, é de que os fenômenos, fatos
por exemplo, a unidade espacial é ou coisas do universo de interesse
científico existem independentes
identificada na forma clássica de dos conceitos e teorias que temos
definição de região como diferen- ou formulamos sobre eles. Cabe a
ciação de paisagens, como é o caso nós constatá-los, identificá-los,
do método de classificação e divi- classificá-los e agrupá-los, através,
são do espaço do geógrafo G. evidentemente, de uma metodolo-
Bertrand 2 , motivo de enfoque do gia científica. Segundo esta pos-
presente trabalho. tura, os conceitos e as teorias sobre
A seleção desse método na pro- a realidade empírica são o retrato
gramação dos seminários decorreu, da própria realidade, mesmo que
sobretudo, de três motivos: pri- seja um retrato parcial, simplici-
meiro, pela sua própria aborda- cado ou sintetizado, como é o pro-
gem - "diferenciação de áreas". pósito da "ciência regional" ou
Esta abordagem conceitual está dos métodos de regionalização -
ligada à tradicional noção de pai- construir retratos parcializados ou
sagem geográfica e de síntese re- uma síntese que reflete e o espaço
gional, conforme observa Aluizio geográfico. Apesar de sua pureza
empirista, a metodologia de clas-
c. Duarte 3 , e também ao conceito sificação e divisão do espaço
de "região natural" - conceito geográfico de Bertrand, pela pre-
tradicional de "região geográfica"; ocupação conceitual, intenção ta-
segundo, através dessa abordagem, xionômica e formalização classifi-
Bertrand procura reabilitar o en- catória, demonstra uma clara
foque de paisagem, imprimindo ao influência neo-positivista, através
seu conceito tradicional uma no- de um certo enfoque ecológico, em-
ção mais rica, complexa e dinâmi- bora seu método não seja o que
ca. A noção tradicional de espaço se poderia chamar de método or-
é acrescida a noção de tempo; ter- gânico.
ceiro, apesar de sua base empirista, Segundo a abordagem de dife-
esse método contém uma forte renciação de áreas 4 , Bertrand pro-
preocupação conceitual, definida cura reabilitar o enfoque de paisa-
intensão taxionômica e acentuada gem, imprimindo ao seu conceito
formalização classificatória, de- tradicional uma noção mais rica,
monstrando uma clara influência complexa e dinâmica. A noção
neo-positivista através de um certo tradicional de espaço é acrescida
enfoque ecológico. a noção de tempo.

• BERTRAND', Georges. "Paysage et Geographie Globale - Esquisse Methodologique", Revue


Geographique des Pyrenées et du Sud-Ouest, Tolouse, 39 (3) : 249-272, 1968.
• Op. cit.
• Op. cit.

94
Antes de se prosseguir com a Pela idéia de estabilidade rela-
análise conceitual da proposta de tiva que a geografia tradicional
Bertrand, considera-se útil tecer tinha dos processos físicos do es-
algumas considerações sobre o que paço geográfico, compreende-se
o enfoque de paisagem geográfica porque a paisagem de cada região
representa do ponto de vista da natural era entendida como algo
produção do conhecimento geográ- relativamente estável. Além disso,
fico. A noção de paisagem geo- embora para os mestres da Geo-
gráfica não deve ser confundida grafia clássica a paisagem geográ-
com a noção do paisagismo, que fica fosse caracterizada por uma
está ligada a uma certa noção de combinação particular de fenôme-
estética. Para a ciência geográfica nos geográficos resultantes de um
a paisagem deve ser entendida conjunto de fatores naturais, al-
como indicadora de conteúdo ou guns "geógrafos regionais" costu-
de processos. Este método do co- mavam caracterizar a paisagem
nhecimento, aliás, é anterior ao regional por um ou outro aspecto
método científico, tendo a ciência individual do relevo, do clima, da
dele se utilizado e o aperfeiçoado. vegetação, do solo, etc., simplifi-
A paisagem geográfica compreende cando em demasia a interpretação
formas que se supõe indicar fatos da fisionomia e de sua fundamen-
muito complexos e dinâmicos. Isto tação metodológica.
permite postular que o processo Essas parecem ser as razões que
pode ser observado através de sua conduzem Bertrand a criticar e a
forma e fisionomia que são suas pretender reformular o conceito
manifestações externas e concre- tradicional de paisagem geográ-
tas. Entende-se daí porque para fica, reivindicando maior precisão,
alguns geógrafos o método de in- dinamismo e totalidade ao conceito
terpretação da paisagem é o pró- de paisagem e, conseqüentemente,
prio método geográfico. de unidades geográficas.
Contudo, o conceito de paisagem Para Bertrand, este é um "pro-
geográfica esteve, desde sua ori- blema de ordem epistemológica
gem, impregnado da noção de exigindo uma reflexão metodoló-
estabilidade e sua evolução tendia gica e pesquisa específica que esca-
a ser compreendida numa escala pam parcialmente à Geografia
de tempo a longo prazo. Conse- Física tradicional. O autor consi-
qüentemente, a regionalização da dera a Geografia Física tradicional
superfície da terra, fundamentada "desequilibrada" pela "hipertrofia"
nos fatos físicos (relevo, vegetação, da pesquisa geomorfológica e pela
clima, solo; etc.), visava reconhe- carência dos geógrafos físicos de
cer um certo número de áreas cuja conhecimentos teóricos e metodoló-
gicos do domínio das ciências bio-
unidade ou homogeneidade fisio- lógicas. Na opinião do autor a Geo-
gráfica eram consideradas distin- grafia Física tem permanecido
tas das áreas adjacentes. Tais "dualista" e "separativa". Neste
áreas eram então chamadas de específico caso, Bertrand exclui de
regiões naturais. Nelas, mesmo que seu comentário crítico a climatolo-
os fatos humanos e econômicos gia. As aspas no termo "separati-
fossem considerados, eram as ca- va" é do próprio autor, porque ele
racterísticas físico-geográficas que toma esse termo emprestado de
formavam a estrutura espacial e uma crítica de P. Pedelaborde 5 aos
emprestavam os fundamentos me- métodos usados na climatologia
todológicos dessa estrutura. "clássica", sobre os quais ele acusa-

• PEDELABORDE, P. Introduction à l'etude scientijique du climat - Centre de Documen-


ta.tion Ca.rtographique de l'Institute de Geogra.phie de la. Sorbone, Paris, v. 2, 1966.

95
va de conduzir à abordagem sepa- Hiléia, tendo como "fator funda-
rativa (temperatura, precipitação, mental" o clima, enquanto esse
etc., separadamente), opondo-se a mesmo mestre da Geografia clás-
ela a abordagem da climatologia sica caracterizava a "Região Me-
"moderna" (climatologia dinâmi- ridional" do Brasil (São Paulo,
cá), que aborda o clima de modo Paraná, Santa Catarina e Rio
"global", com enfoque dinâmico, Grande do Sul) pelas diferentes
fundamentado na dinâmica das formações vegetais, tendo como
massas de ar. "fatores fundamentais" a litologia
Assim, Bertrand conclui que a e a estratigrafia.
imprecisão do conceito de paisa- Bertrand discorda de que a pai-
gem se deve à abordagem "separa- sagem física seja um elemento
Uva" e propõe que ela seja estu- relativamente estável. Recorda-se
dada no quadro da "Geografia que essa "estabilidade" era um dos
Física Global". postulados teóricos da maioria dos
mestres franceses da Geografia
Em suma, Bertrand deseja co- clássica, com o qual eles justifica-
nhecer o espaço geográfico através vam a necessidade de se caracte-
da paisagem física, isto é, do qua- rizar a "região natural" e os crité-
dro natural, que ele denomina de rios de regionalização com bases
quadro da "Geografia Física Glo- físicas em detrimento dos fatos
bal". Para esse autor, a "paisagem humanos, por serem estes últimos
não é a simples adição de elemen- considerados muito instáveis.
tos geográficos desbaratados" ... Outra coisa é aquela que Ber-
mas sim " ... o resultado da com- trand chama de relação dialética
binação dinâmica, portanto instá- dos elementos físicos, biológicos e
vel, de elementos físicos, biológicos antrópicos. Do seminário anterior,
e antrópicos que, reagindo dialeti- sobre "região natural", depreende-
camente uns sobre os outros, fa- se que a Geografia Física - essa
zem da paisagem um conjunto que Bertrand chama de "Geografia
único e indissolúvel em perpétua Física tradicional" - embora con-
evolução". siderasse a paisagem como resul-
É oportuno analisar esta defini- tante de uma combinação de fato-
ção, porque ela soa claramente res, mais freqüentemente não
como uma crítica à forma pela considerava tais combinações co-
qual a paisagem era considerada mo resultantes de inter-relações
pela Geografia clássica, conforme mútuas, na forma em que é pos-
foi' visto na exposição anterior, tulada pelo método dialético. Sua
que, com o título Regionalização e abordagem mais usual era sob a
Região Natural, deu início à série forma, que poderíamos dizer, de
de seminários referidos. uma cadeia natural linear de rela-
De fato, embora a paisagem ções de causalidade, pelo menos ao
fosse, pela Geografia clássica, reco- nível da análise. Dir-se-ia, pois,
nheqid.~. como um resultado de que a análise científica da paisa-
um.~:· determinada combinação de gem era conduzida mais à luz da
fatples/'súa análise era "separa- lógica formal do que do método
'ti."a';. Por exemplo, a bacia pari- dialético. Justifica-se, assim, a
siense, como "região natural", foi, proposta de C. Vallaux de identi-
por Vidal de Lablache, caracteri- ficar o "elemento fundamental",
zada pelo relevo, isto é, o relevo lhe isto é, o suposto elemento propul:.
emprestava a "nota caracterís- sor da cadeia de processos natu-
tica", tendo como "fatores funda- rais que explicaria a "paisagem
mentais" a litologia e estratigrafia. característica" de cada "região
A Amazônia foi por C. Vallaux natural". A noção que Bertrand
caracterizada pela paisagem da procura imprimir ao conceito de

96
paisagem, ao contrário, são as tiva estabilidade fisionômica do
inter-relações mútuas em "perpé- que por suas transformações, uma
tua evolução", embora mantendo vez que as mudanças são atribuí-
sua unidade, isto é, sua caracte- das às transformações processadas
rística ou "conjunto único". Assim, a longo prazo.
parecem claros os motivos da esco- Em seus níveis inferiores (geos-
lha da dialética como método de sistema, geofácie e geótopo) a pai-
investigação da paisagem. sagem é entendida pela sua rela-
Deve-se, entretanto, observar, ção com os fatores mais localizados
antecipadamente, que não se trata no espaço e seus limites de exten-
realmente da dialética das contra- são espacial são definidos segundo
dições ou dos contrários de que critérios que se apóiam em postu-
trata o marxismo. A dialética a lados teóricos de mudanças ambi-
que Bertrand se refere parece a de entais a curto prazo. Tais mudan-
relações recíprocas e do movimento ças são tanto mais dinâmicas
transformador, embora o fator de quanto mais baixo é seu nível de
transformação não seja a luta dos hierarquia -- nível: paisagem e
contrários. tempo. Nesses níveis a paisagem
deve ser entendida dentro de um
contexto morfogenético e sujeita a
ação constante de fatores muito
3 - O ESBOÇO dinâmicos.
METODOLóGICO Outro aspecto que deve ser des-
tacado na proposta metodológica
3 .1 - Pontos básicos da abor- de Bertrand se refere ao que po-
dagem demos chamar de relação da pai-
sagem com a natureza de seus
Antes de dissertar sobre o méto- fatores. De acordo com essa pre-
do de Bertrand, é oportuno desta- ocupação a análise da paisagem
car alguns pontos de sua aborda- deve ser conduzida ao seu limite
gem metodológica diretamente de maior complexidade, onde a
relacionados às questões teóricas paisagem é interpretada como re-
observadas até este momento. sultado da ação combinada de
Nesse método a paisagem deve fatores naturais e antrópicos, in-
ser explicada e classificada con- clusive daqueles ligados direta-
forme diferentes níveis de defini- mente às mais ativas intervenções
ção conceitual, e estes, por sua vez, humanas que caracterizam, princi-
são inseparáveis de seus níveis palmente, as atividades industriais
hierárquicos - nível: paisagem e e urbanas. É nesse nível analítico
taxionomia. que Bertrand propõe a elaboração
Em seus níveis superiores (zona, de uma síntese da paisagem geo-
domínio e região) a paisagem é gráfica que ele denomina de pai-
analisada através de seus traços sagem total.
mais gerais, os quais são explica- Em suma, esse método de clas-
dos pela sua admitida vinculação sificação do espaço geográfico tem
com os fatores de maior abrangên- como objetivo primordial o reco-
cia (clima zonal e regional, bio- nhecimento de uma estrutura es-
mas, grandes formações vegetais, pacial constituída de unidades
estrutura geológica, etc.) -nível: geográficas diferenciadas por suas
paisagem e escala espacial. Nesses fisionomias particulares. O indi-
níveis de hierarquia as paisagens cador dessas unidades é a paisa-
definidoras das unidades espaciais gem total, cujo enfoque morfoge-
são abordadas mais por sua rela- nético deve estar vinculado à

97
questão da escala tempo espacial, ção fitogeográfica de Gaussen para
e esta, aos diversos níveis taxio- a vegetação mediterrânea: andar
nômicos e concentuais 6
• (ex. mediterrâneo) , série (ex. car-
valho verde) e estádio (ex. gar-
3. 2 - Estruturação físico-geográ- rigue).
fica em unidades ambientais Baseado nesses princípios, Ber-
trand se propõe a trabalhar nas
3. 2. 1 - Unidades homogêneas e diversas categorias de unidades;
unidades da paisagem primeiramente as específicas, as
quais ele denomina de unidades
Pelo que até aqui foi observado, elementares, cada qual com sua
Bertrand pretende que se reco- hierarquia particular à sua cate-
nheça uma ampla estrutura cujas goria: climatológica, geomorfoló-
unidades espaciais sejam definidas gica, biogeográfica e botânica.
pela paisagem geográfica, a qual Assim, a partir das sínteses ele-
ele denomina de paisagem. total ou mentares ele chega às sínteses
global. Não obstante, sua metodo- globais. Em outras palavras, a
logia não despreza a análise seto- partir das unidades elementares
rial das paisagens, as quais pode- (unidades de característica única)
mos nos referir como paisagens chega-se às unidades da paisagem
parciais 7 • Estas são, ao contrário, (unidades de características múl-
fundamentais para se chegar à tiplas).
definição e classificação das uni- A estrutura físico-geográfica é
dades de paisagens totais. Em ou-
tras palavras, a partir das classifi- compreendida por 'l,lnidades ele-
cações elementares, como se refere mentares e unidades de paisagens.
Bertrand, chega-se às classifica- Mas seja qual fôr a categoria das
ções das unidades de paisagem unidades, estas estão dispostas em
geográfica. níveis hierárquicos, de tal modo
Bertrand observa que "cada dis- que as de níveis inferiores estão
ciplina especializada 8 no estudo contidas nas de níveis superiores.
de um aspecto da paisagem se Resulta daí que cada nível possui
apóia num sistema 9 de classifica- "grandezas" diferentes, pois cor-
ção mais ou menos esquemático, respondem ao que Bertrand deno-
formado por "unidades homogê- mina de "diferentes níveis de
neas" 10 - ao menos em relação escala tempo-espacial". Assim, por
à escala considerada - e hierar- exemplo, a unidade elementar de
quizadas, que "se encaixam 11 umas grandeza III da categoria de aná-
nas outras". Como exemplo ele lise geomorfológica deve corres-
menciona o critério de classifica- ponder a certa unidade climatoló-

•o A noção de escala temporo-espacial é tomada da noção geomorfológlca de Callleux e


Tricart (TRIOART, Jean - "Príncipes et Methodes de la Geomorphologie", Paris, Maison, 1965,
79-90). Recomenda-se também a leitura de Glangeaud (GLANGEAUD, L. - "Degrée de régio-
naUté", Boll. Soe. Géol. - França, 1952).
• A expressão paisagens parciais é nossa.
a Embora Bertrand não mencione o nome dessas dlsclpllnas, é evidente que ele se refere às
disciplinas da Geografia Física.
• o termo sistema empregado por Bertrand não deve ser entendido com lmpllcações ao
método de análise de sistemas, mas a um certo conjunto de critérios. Observamos ainda que
Bertrand não usa o termo "regionalização", o que é perfeitamente compreensivo porque em sua
metodologia "região" é um termo usado para designar unidades geográficas de um certo nível
taxionômico na estruturação geral do espaço.
>o considerando o objeto referido, julgamos que a expressão "unidades elementares" seja
mais apropriado.
ll Nesta específica frase o termo "encaixar" deve ser entendido por "estar contido".

98
Estrutura das unidades

ESCAlA UNIDADES ElEMENTARES


UNIDADES TEM PORO- EXEMPlO TOMADO
DA ESPACIAL G NUMA MESMA SÉRIE DE
PAISAGEM (grandeza)!' PAISAGENS Relevo14 Clima15 Botânica I Biogeugrafia
I
ZONA .........• G.l TEMPERADA Zona I Bioma
DOMINIO ...••• G.ll CANTÁBRIO Domínio Regional
Estrutural
REGIÃO NATURAl G.III·G.IV PiCOS DE EUROPA Região Andar
Estrutural Série
GEOSSISTEMA •• G.IV·G.V GEOSSISTEMA ATlÂNTICO MONTANHÊS Unidade local Zona
(calcário sombreado com faia higrófila em "terra fusca") Estrutural Equipotencial
GEOFÁCIE ...... G.VI Prado de ceifa com "MOUNIO-ARRHENATHERETEA" Estadia
em solo lixiviado hidromórfico formado em um depósito Agrupamento
Morainico
GEÚTOPO ...... G.VII "lAPIES" de Dissolução com "ASPIDIUM lONCHITIS Micro Biótopo·
SW" em microssolo úmido carbonatado em bolsas Clima Biocenose

NOTA- As correspondências entre as urm!ades são muito aproximativas e dadas somente a títulos de exemplo.

gica, biogeográfica e botânica do A taxionomia geomorjológica é


mesmo nível taxionômico. baseada na classificação morfo-
Estas, por sua vez, devem ter estrutural de G. Viers 17 e em tra-
correspondência com a unidade de balhos de A. Cailleux e J. Tricart 18 ,
paisagem do mesmo nível, uma que definiram as seguintes unida-
vez que a partir das sínteses par- des elementares: domínio estrutu-
ticulares das unidades elementares ral (ex. a Europa herniciana -
G.II), a região estrutural (ex. as
do mesmo nível compõe-se a sín- Ardenas - G.III), a unidade es-
tese mais complexa da unidade de trutural (ex. um anticlinal pré-
paisagem do nível em questão 12 • alpino- G.IV).
O sistema de classificação bio-
3. 2 . 2 - Hierarquia das unidades geográfica tem como unidades
elementares hierarquicamente superiores os
biomas ( G .I) . Esses podem ser
Para a hierarquia das unidades
definidos como "uma massa rela-
climatológicas é adotado o sistema
tiyamente homogênea de vegetais
de classificação de Max Sorre 16 , e animais em equilíbrio entre elas
que, baseado na dinâmica da cir- e com o clima". São eles: tundra,
culação atmosférica e sob o enfo- savana, floresta tropical úmida,
que de ritmo de tempo, define deserto, etc. No nível inferior está
quatro níveis taxionômicos básicos compreendida a menor unidade
de clima: zonal (G.I), regional biogeográfica denominada de bió-
(G.II, G.III e G.IV), local (G.V e topo-biocenose (G.VII). De acordo
G.Vl) e microclima (G.VII). com Angelier 19 a biocenose é defi-

'" Vide quadro Estrutura das unidades.


:L3 Baseado em A. CAILLEUX e J. TRICART (op. cit).
" Conforme A. CAILLEUX, .J. TRICART (op. cit.) e VIERS (VIERS, G. - Elements de
Geomorphologie, Paris, Nathan, 1967).
1• Conforme M. SORRE (SORRE, Max - Les Fondements de la Geographie Humaine Tome
Premier: Les Fondements Biologiques. 3.a ed., Paris, Libraire Armand Colin, 448 p. il., p. 13-113,
1951) e (PEDELABORDE, P., op. cit.).
" Op. cit.
17 Idem.
lB Idem.
1• ANGELIER, M. - Cours de biogeographie animale. Faculdade de Ciências de Toulouse,
1963/64.

99
nida como "um agrupamento de 3. 2. 3 - Síntese da paisagem e sua
seres vivos, correspondendo, pela hierarquia
composição e pelo número das es-
pécies e dos indivíduos, a certas 3. 2. 3 .1 - Considerações prelimi-
condições médias do meio, agrupa- nares
mento de organismos ligados por Após a explicação dos esquemas
uma dependência recíproca que se específicos de classificação das
mantém por reprodução de manei- unidades elementares, Bertrand
ra permanente". O pântano é um apresenta o sistema de classifica-
exemplo dessa combinação. Nele ção das unidades de paisagem,
"a biocenose coloniza o biótopo aquelas unidades espaciais cuja
que é a unidade elementar corres- caracterização e definição devem
pondente ao menor conjunto ho- ser realizadas através da constru-
mogêneo do meio físico-químico". ção de uma "nova síntese da pai-
Para ocupar os níveis intermediá- sagem" não mais "separativa",
rios entre o bioma e o biótopo - mas "total" ou "global". Antes,
biocenose, Bertrand sugere as "zo- contudo, ele tece um breve comen-
nas ecológicas eqüipotenciais" de tário crítico sobre os critérios tra-
R. Rey 2 o, cuja noção, após subme- dicionais de síntese da paisagem e
tida por M. Phipps 21 aos métodos salienta alguns aspectos sobre a
de análise multifatoriais, resultou dificuldade de se elaborar uma
numa estrutura da "paisagem bio- síntese a partir da dinâmica do
geográfica" e na definição de um "conjunto único" dos fenômenos
"modelo biogeográfico" da pai- geográficos e, através do qual, es-
sagem 22 • pera que, ao nível de cada escala
seja assegurada a superação entre
Para a hierarquia das unidades o espaço e o tempo, e ao nível da
de botânica é tomada como ponto análise da paisagem, o conheci-
de partida a classificação fitogeo- mento da "totalidade". Bertrand
gráfica de H. Gaussen, aquela a critica a noção de região natural
que nos referimos, com seus três da "idade de ouro" da Geografia
níveis taxionômicos: andar e série, Regional francesa. Para ele, as
que constituem unidades de gran- sínteses da Geografia Física peca-
deza III e IV; e estádio, a unidade vam pela carência de conhecimen-
de grandeza IV. Espera Bertrand tos da área bioecológica. Salienta
que "a fitossociologia com orien- que os geógrafos têm tentado se
tação sinecológica poderá harmo- manter na trilha da síntese geo-
niosamente complementar este sis- gráfica, definindo o ecossistema
tema, permitindo delimitar unida- com suas cadeias tróficas. Isto
des homogêneas 23 do ponto de equivale dizer que eles têm se pre-
vista florístico com associações e ocupado com questões ligadas à
agrupamentos" (grandezas V e circulação, acumulação e transfor-
VI). mação de energia potencial pela

oo REY, R. et alii - Les bases biogeographiques de la restauration torestiere et pastorale


dans de département de l'Aude - Corbieres, Razes. Piege Toulouse, 1961 (CNRS, Service de la
Carte de la Végétation, 39 p. roneo).
"' PHIPPS, M. - Introductton on concept de modéle biogeographtque. Actes 2. 0 Symposlum
Internat. Phot. Interpretation, Paris, 1966, IV (2) : 41-49.
22 Bertrand procura justificar sua definição de unidades biogeográficas em bioma, biótopo-
biocenose, etc, em detrimento de possíveis unidades de ecossistemas, por várias raeões, dentre as
quais a de que o "ecossistema não tem nem escala nem suporte esp,acial bem definidos. Ele
tanto pode ser um oceano, como pode ser um pântano com rãs. Não sendo, portanto, um conceito
geográfico".
22 ou unidades elementares.

100
ação dos seres vivos e seu metabo- landscape é de se chegar a uma
lismo. Entretanto, como Bertrand tipologia dinâmica das paisagens
reconhece, o ecossistema não tem em função da migração das subs-
definição espacial, podendo ser um tâncias geoquímicas. Assim se tem
oceano, um pântano ou até mesmo distinguido três categorias de pai-
um tronco de árvore tombado e sagens: um tipo residual - carac-
em decomposição numa floresta, terizado por relativa estabilidade
não podendo, portanto, conter - um tipo de trânsito - caracte-
conceito geográfico. Assim, ele rizado pela perda de substância -
acha sensato renunciar à tentativa e um tipo de acumulação 24 •
de reajustar a taxionomia da pai- Existem, entretanto, formula-
sagem, especialmente a biogeográ- ções diferentes, como a de H.
fica, ao conceito de ecossistema. Erhart 25 , que certos geógrafos têm
Considera melhor tentar fazer a procurado adaptar à Geografia
"escolha livremente das unidades Física. Baseado, justamente na
geográficas globais e adaptá-las ao teoria da bio-resistasia desse autor,
estudo da paisagem". Bertrand tenta desenvolver sua
Nesse sentido, diversas tentati- tipologia dinâmica das unidades
vas têm sido realizadas, principal- de paisagens ao nível dos geossis-
mente por pesquisadores soviéticos temas e unidades inferiores.
e americanos preocupados em
abordar a paisagem sob aspectos 3. 2. 3. 2 -- O método de síntese
quantitativos. A paisagem, nesse
caEo, tem sido considerada como Após essas considerações, Ber-
"um sistema energético cujo estu- trand apresenta seu esboço meto-
do se lança em termos de transfor- dológico intitulado "A Síntese da
mação e de produtividade bioquí- Paisagem". Antes, contudo, escla-
mica". Esses pesquisadores acredi- rece que seu método renuncia à
tam que a geochimical landscape, prática de definir as "unidades
como tem sido chamada, enriquece sintéticas" a partir de "unidades
e simplifica ao mesmo tempo a elementares", quer pelo método
noção tradicional de paisagem. A cartográfico de superposição, quer
esse respeito, entretanto, Bertrand pelo método matemático, com má-
faz a si próprio uma pergunta e ximo de unidades elementares
não encontra resposta satisfató- para se obter uma "unidade
ria: como poderá ser medida as média" na qual desapareceria a
transformações energéticas ao ní- "estrutura dialética".
vel de outros elementos que não
sejam os vegetais, como, por exem- O método de síntese de Bertrand
plo, ao nível da microfauna? comporta seis níveis tempo-espa-
Contudo, no momento, o prin- ciais: zona, domínio, região natu-
cipal interesse da geochimical ral (unidades superiores); geossis-

2• Particularmente, entretanto, desconhecemos uma relação definida com a precisão dese-


jável, para um modelo de diferenciação do espaço geográfico entre essas três situações dinâmicas
do sistema de paisagens e a própria paisagem. Nas ocasiões em que participamos de simpósios
e congressos intemacionais patrocinados pela secção da União Geográfica Internacional - UGI,
sobre Aspectos Geográficos de Problemas Ambientais - (Praga, 1977 - Cidade do México ~
1981 e Rio de Janeiro - 1982), tivemos a oportunidade de apreciar trabalhos de alguns geógrafos
de nações socialistas, principalmente da União Soviética, Polônia e Tcheco-Eslováquia, nos quais
esse tipo de abordagem tem sido realizada, talvez ao nível de geótopo e geofácie. Nesses trabalhos,
entretanto, a relação entre tais situações e a paisagem nos pareceu ter validade apenas para os
geossistemas que estavam sendo focalizados. Naqueles geossistemas a paisagem não parecia que
poderia servir de indicadora de situações dinâmicas de outras regiões de condições ambientais
potencialmente diferentes.
,; ERHART, H. - La genese des sols entant que phénomene geologique - Esquisse d'une
théorie geologique et géochimique. Exemples d'application, Paris, 1967 - 177 p.

101
tema, geofácie e geótopo (unida- mantida na tipologia da paisagem,
des inferiores). mas "com a condição de colocá-la
num sistema taxionômico coeren-
Zona (G.I) - o conceito de zona te". Isto é feito por Bertrand, que
está ligado ao conceito de zonali- distingue como região natural os
dade planetária (zona temperada, Picos de Europa no domínio can-
por exemplo), que, por sua vez, tábrio. Essa região é individuali-
está diretamente relacionado ao zada pela tectônica de um maciço
conceito de clima zonal. As zonas calcário vigorosamente comparti-
são, pois, determinadas basica- mentado e carstificado; é hiperú-
mente pela definição de climas mida e hipernebulosa e caracteri-
zonais, segundo conceito de Sorre26 zada por um andar biogeográfico
e Pedelaborde27 , e seus biomas e, original (mistura de faia-carvalho
acessoriamente, pela estrutura verde nas baixas encostas, ausên-
geológica. cia de resinosas e por ser passagem
Domínio (G.II) - deve ser de- das terras fuscas oceânicas para os
finido por uma combinação carac- solos alpinos húmicos).
terizada pela estrutura geológica, Os termos geossistema, geofácie
relevo, clima e vegetação. O domí- e geótopo, ao contrário, têm a van-
nio contábrio, situado a nordeste tagem de terem sido construídos
da Espanha, serve de exemplo. num modelo idêntico e de evoca-
Esse domínio é caracterizado por rem os traços característicos da
uma combinação de relevos mon- unidade correspondente.
tanhosos e climas oceânicos. Ber-
trand ressalta, entretanto, que a Geossistema (G.IV e G.V)
definição de domínios deve ser reflete o complexo geográfico e
maleável, para permitir combina- dinâmico do conjunto. O geossis-
ções diferentes, nas quais a hie- tema Sierras Planas, por exemplo
rarquia dos fatores pode não ser a (situado no domínio cantábrio, na
mesma, como se verifica nas defi- região natural Picos de Europa),
nições dos domínios alpino e atlân- resulta de uma combinação de fa-
tico europeu. tores dinâmicos, geomorfológicos,
climáticos e hidrológicos e é cons-
Região Natural (G.III e G.IV) tituído por plataformas escalona-
- sobre essa unidade regional, das entre 180 e 450 metros de
Bertrand comenta que a noção de altitude, talhadas em arenitos e
"região natural" da Geografia quartzitos e representam vestígios
clássica francesa escapa a toda de superfícies de aplainamento de
definição racional "tanto pelo con- idade miocênica. Seu clima é hipe-
teúdo como pela superfície cober- roceânico, úmido e nebuloso. É
ta". Citando Cholley 28 , Bertrand ainda caracterizado por lands,
considera que "o termo região se turfeiras e fenômenos de podzoli-
aplica". . . "tanto a conjuntos fí- zação. Do ponto de vista botânico
sicos, estruturais ou climáticos sua série é dominada pelo carva-
como a domínios 29 caracterizados lho. Sua umidade resulta da com-
pela vegetação". Assim, ele ratifica binação local e única do sistema
essa noção tradicional, conside- de declive das encostas, do clima,
rando que essa unidade espacial da natureza das rochas, do manto
"maleável e cômoda" deve ser de decomposição e da hidrologia

., Op. cit.
zr Idem.
oo CHOLLEY, A. - La géographie guide de l'étudiant. Paris, 1951, p. 31.
"' Nesta frase o termo "domínio" não tem compromisso com o conceito proposto por
Bertrand nesse trabalho.

102
das suas vertentes. As Sierras sistemas resultam de combinações
Planas foram desmatadas e usadas de fatores geomorfológicos (ro-
para pastagens desde o neolítico. chas, declive, manto superficial,
Atualmente algumas de suas áreas dinâmica das vertentes, etc.), cli-
servem ao pastoreio, outras estão máticos (precipitações, tempera-
reflorestadas com eucaliptos e tura e outros) e hidrológicos (tais
pinus e nelas há exploração de como lençóis freáticos e nascentes,
turfa. 1 ;
Ph das águas e tempo de resseca-
menta dos solos). Resulta, portan-
Bertrand se permite esboçar to, de um certo potencial ecológico
uma definição teórica de geossis- (geomorfologia, clima e hidrolo-
tema que pode ser assim resumida: gia) e se define pelo que Bertrand
nos níveis superiores ao geossis- chama de exploração biológica do
tema- domínio e região - ape- espaço (vegetação, solo e fauna) e
nas o relevo e o clima importam pela ação antrópica. A convergên-
e, acessoriamente, as grandes mas- cia desses fatores pode ser assim
sas vegetais. Entretanto, os geos- esquematizada:

(geomorfologia + clima + hidrologia) (vegetação + solo + fauna)

POTENCIAL ECOLóGICO~---------~ EXPLORAÇÃO BIOLóGICA


~ f
''
y y
GEOSSISTEMA

-------------- -~AÇÃO ANTRóPICA ~------- ----------

Há uma certa relação, diz o das intervenções humanas são os


autor, entre o potencial ecológico fatores de sua mobilidade, isto é,
e a valorização ou exploração bio- de suas transformações. São justa-
lógica, embora esta última depen- mente essas mudanças que dão os
da também dos estoques florísticos traços de caracterização em seu
da sua região. nível taxionômico. O estado de
clímax de um geossistema é teó-
Ainda teorizando sobre o geos- rico e significa um certo equilíbrio
sistema, Bertrand observa que um entre o potencial ecológico e a
geossistema é um complexo essen- exploração biológica, o que, aliás,
cialmente dinâmico, cujo clímax é muito raro acontecer. Em vir-
está sempre longe de ser realizado, tude de sua dinâmica interna, o
daí seus "dados" (isto é, suas con- geossistema não apresenta, neces-
dições empíricas) serem instáveis sariamente, grande homogeneida-
no tempo e no espaço. A dinâmica de fisionômica 30 • Ao contrário,
natural da vegetação, dos solos, geralmente ele é formado por pai-
dos lençóis freáticos, da erosão e sagens diferentes, que representam

30 Não se julga desnecessário observar que o conceito de homogeneidade é distinto do


conceito de unidade e que ambos estão contidos no conceito tradicional de região natural.

103
diferentes estágios de evolução do a prática da teoria, ao nível do
geossistema, tendentes ao mesmo método teórico é igualmente muito
clímax. Essas distintas unidades difícil isolar de nossa explanação
menores estão, entretanto, unidas a síntese da análise da paisagem.
numa mesma família geográfica Assim é que, ao enfocarmos o
denominada família de geofácies. "método de síntese", abordamos
Geofácie corresponde, pois, a simultaneamente alguns critérios
um setor fisionomicamente homo- de análise da paisagem. Contudo,
gêneo, que, por sua vez, representa neste específico tópico, sob o título
uma determinada fase da evolução "O Método de Análise", seleciona-
geral do geossistema de que ele mos alguns postulados teóricos,
faz parte. Sua unidade dimensio- dispersos no texto original de Ber-
nal deve ser de algumas centenas trand, que consideramos especial-
de metros quadrados. Em um geo- mente importante para a análise
fácie pode ser reconhecido um que deverá conduzir o investigador
determinado potencial ecológico e a compor sua síntese da paisagem
uma exploração biológica. Nesse geográfica segundo o método de
nível de análise e escala, muitas Bertrand.
vezes é a exploração biológica que Observa-se até aqui que a paisa-
se constitui em fator determinante gem geográfica, sobretudo ao nível
na evolução do potencial ecológico. de geossistema, geofácie e geótopo,
Assim é que num mesmo geossis- não é estática. Isto significa que
tema pode-se falar em cadeias re- sua análise deverá ser conduzida
gressivas e cadeias progressivas de não apenas ao nível espacial, mas,
geofácies. sobretudo, ao nível temporal. Con-
ÀS vezes torna-se recomendável sidera-se, pois, que a paisagem
conduzir a análise da paisagem ao geográfica evolui segundo uma
nível de microformas. Quando isso certa dinâmica do geossistema.
se verifica, estamos trabalhando ao Considera-se ainda que cada geos-
nível do geótopo. Esta microuni- sistema possui sua própria dinâ-
dade, que é a unidade de grandeza mica evolutiva, mas .sua dinâmica
VII, corresponde a um complexo comum não corresponde necessa-
biótopo-biocenose. Uma diáclase, riamente à evolução de cada cate-
por exemplo, alargada pela disso- goria de análise "tomada separati-
lução, uma cabeceira de nascente vamente - evolução do relevo, da
de água, um fundo de vale que o biogeografia, do complexo botâni-
Sol não atinge, uma face monta- co, do clima local, do .solo, etc. -,
nhosa, etc., constituem-se em bió- pois admite-se que exist2.m meca-
topo cujas condições ecológicas nismos gerais de evolução da pai-
são muito específicas, tornando-se, sagem, sobretudo nos níveis dos
por isso, refúgios de biocenoses ecossistemas e geofácies.
particulares, às vezes endêmicas. O "sistema de erosão" de A.
Este complexo biótopo-biocenose Cholley 31 foi a primeira fonte que
corresponde a um geótopo e é a inspirou Bertrand a procurar o
menor unidade geográfica homo- "sistema geral de evolução da pai-
gênea. sagem" 32 • Baseando-se principal-
mente na fisionomia e nos proces-
3.2.3.3 - O método de análise sos evolutivos - progressivos e
regressivos - do domínio cantá-
Assim como na pesquisa ao nível brio, região natural pico de Europa
do empírico é impossível separar e, especialmente, nos geossistemas

31 Op. cit.
"" Veremos mais adiante que, baseado nas teorias geomorfológicas de ERHART (op. cit.),
Bertrand encontra esse sistema geral e o define, ao menos em seu esboço.

104
e geofácies dessa região, Bertrand níveis taxionômicos, não se faz
conclui que a evolução de uma necessário conhecer os diferentes
unidade de paisagem de um geos- modos de produção, as relações de
sistema "reúne todas as formas de trabalho ou as diferentes formas
energia" que, reagindo dialetica- ou estrutura da organização social
mente umas sobre as outras deter- do espaço geográfico em questão.
minam a evolução geral dessa Julga-se até mesmo dispensável
mesma paisagem, constituindo um lidar com os diferentes modos de
sistema dé evolução. Embora tal uso do solo em sua noção mais
sistema seja constituído por três ampla. Neste específico aspecto o
outros sistemas intimamente soli- que parece mais importar são as
dários, que se entrecruzam meto- resultantes da ação dos grupos
dologicamente, se reconhece a humanos sobre o ambiente geográ-
necessidade de analisá-los isolada- fico ao nível dos processos natu-
mente. São eles: o sistema geo- rais e, mais especificamente, sobre
morfológico, tal como é com- a paisagem físico-geográfica, isto
preendido pelos geomorfologistas é, sobre o "potencial ecológico" e a
modernos que vêem o caráter di- "exploração biológica".
nâmico e bioclimá tico do sistema; Após essas observações voltemos
o sistema biológico, que atua ao à abordagem do sistema de evolu-
nível da cobertura vegetal e dos ção da paisagem de um geossiste-
solos, cuja dinâmica é assegurada ma, que é o nível onde se deve
pela cadeia de reações ecofisioló- interpretar a inter-relação entre o
gicas, as quais se manifestam homem, o potencial ecológico e a
através dos fenômenos de adapta- exploração biológica, da qual re-
ção, plasticidade, disseminação e sultam diferentes sistemas de evo-
concorrência entre as espécies, lução e, conseqüentemente, distin-
com prolongamento ao nível dos tas unidades espaciais.
solos; e o sistema de exploração Os sistemas de evolução são
antrópica, ao qual se atribui, mui- definidos por uma série de agentes
tas vezes, um papel determinante, e processos mais ou menos hierar~
quer ativando a erosão, quer mo- quizados. Alguns são naturais (cli-
dificando a vegetação e os solos. máticos, biológicos, etc.) e apare-
Julga-se oportuno observar que cem refletidos através de ravina-
a ação antrópica na metodologia mentos, pedogênese e dinâmica
de Bertrand não parece estar rela- ecofisiológica. Outros são antrópi-
cionada, pelo menos diretamente, cos e resultam em desmatamento,
a qualquer teoria científica sobre incêndio, reflorestamento, etc. Tais
a sociedade humana, ou a qual- sistemas são passíveis de serem
quer filosofia social; pelo menos reconhecidos em função de seus
essa não parece ser sua intensão. "fatores dominantes": geomorfo-
As "inter-relações dialéticas" refe- genéticos e antrópicos 3 3.
ridas não têm nada a ver com a
dialética das contradições do ma- 3. 2. 4 - A tipologia da paisagem e
terialismo histórico-científico de a classificação dos geossistemas
Marx e Engels, como alguns pa-
recem supor. Para ser compreen- 3 . 2. 4. 1 - Evolução dos geossiste-
dida a ação antrópica, nesta meto- mas e sua classificação
dologia de análise e síntese do A complexidade desse esboço
espaço geográfico em diferentes taxionômico sublinha os proble-

"" Do ponto de vista metodológico a expressão "fator dominante" tem aqui a .mesma cono-
tação atribuida por C. VALLAUX, mestre da geografia clássica francesa (cit. p/Fábio de M.
Soares Guimarães in "Divisão Regional do Brasil", Rev. Bras. Geog. - Fundação IBGE, Rio de
Janeiro. 3 (2): 318-370, abr./jun. 1941.

105
mas que aparecem na classificação processos bioquímicas: pedogêne-
global das unidades de paisagem. se, concorrência entre as espécies
As dificuldades de se chegar a uma vegetais, etc. A intervenção an-
definição sintética dessas unida- trópica costuma provocar uma
des parecem, entretanto, menores dinâmica regressiva da vegetação
do que ajustar o sistema geral de e dos solos, mas de modo algum
classificação, uma vez que a estru- ele compromete seriamente o equi-
tura e a dinâmica das diferentes líbrio entre o potencial ecológico
unidades mudam com os níveis de e a exploração biológica que os
escala tempo-espacial. A adoção de caracteriza. Os geossistemas em
métodos tipológicos baseados na estado de biostasia classificam-se
fisionomia ou na ecologia, embora de acordo com seu grau de estabi-
cômodas, não deram bons resulta- lidade. São eles:
dos, por carecerem de rigor e por
serem de difícil generalização. Daí, Os Geossistemas climácicos, pleo-
a opção de Bertrand em adotar sioclimácicos ou subclimácicos.
uma "tipologia dinâmica", que
pretende dar conta de uma classi- Correspondem a paisagens onde
ficação de geossistemas, não mais o clímax é mais ou menos bem
pelos seus aspectos fisionômicos conservado. Uma vertente monta-
ou ecológicos, mas em função de nhosa sombreada com cobertura
sua evolução. vegetal contínua e estável, forma-
da por uma floresta de faias em
Essa evolução, que admite en- solos brunas florestais mul-moder,
globar todos os aspectos da paisa- é um exemplo desses geossistemas.
gem, leva em conta três elemen- Neles a intervenção humana, de
tos: o sistema de evolução, o está- caráter limitado, não compromete
gio dessa evolução em relação ao o equilíbrio do conjunto do geos-
seu clímax, e o sentido geral da sistema, e em caso de um desma-
dinâmica dessa evolução. Quanto tamento ou mesmo de um acidente
ao sentido da evolução, pode ser "natural" (aspas do próprio au-
progressiva, regressiva ou estar em tor), a reconstituição da cobertura
estabilidade. vegetal e dos solos se dá rapida-
Inspirada na teoria da bio- mente, isto é, seu potencial ecoló-
resistasia de Erhart, 34 a tipologia gico não parece muito modificado.
de Bertrand prevê sete tipos de
geossistemas, os quais podem ser Os Geossistemas paraclimácicos
agrupados em dois conjuntos di-
nâmicos : os geossistemas em bios- Surgem no decorrer de uma
tasia e os geossistemas em resis- evolução regressiva, geralmente de
tasia. origem antrópica, imediatamente
após ter sido cessada a evolução
3.2.4.1.1 -Os geossistemas em regressiva. O bloqueamento do
biostasia processo regressivo está ligado a
uma modificação parcial do poten-
Compreendem aqueles, em cujas cial ecológico ou da exploração
paisagens a atividade geomorfo- biológica. O melhor exemplo dado
genética é fraca ou praticamente é o geossistema hiperoceânico das
nula. O potencial ecológico desses Sierras Planas, cujas florestas de
geossistemas é mais ou menos carvalho, que haviam sido destruí-
estável. das, foram substituídas por uma
Neles o sistema geral de evolu- lande empobrecida em equilíbrio
ção é dominado pelos agentes e com os podzóis. A podzolização

•• Op. cit.

106
impede o retorno espontâneo do vegetais, humos, solos e, às vezes,
clímax florestal. A evolução pro- o manto superficial, e lençóis freá-
gressiva só pode prosseguir artifi- ticos epidérmicos).
cialmente para uma outra forma No primeiro caso, a evolução das
de clímax (recomenda-se, nesses paisagens se limita ao sistema
casos, reflorestamento com resino- clássico de erosão. A destruição
sas após aração profunda). da vegetação e dos solos pode ser
total, a ponto de criar-se um geos-
Os Geossistemas degradados com sistema inteiramente novo. A ação
dinâmica progressiva antrópica pode acelerar este estado
Estes são muito comuns nas de coisa caracterizador do geossis-
montanhas temperadas úmidas tema, mas pode tratar-se de uma
submetidas ao êxodo rural. Os ruptura de equilíbrio natural
territórios rurais, após abandona- "catastrófico" (aspas do próprio
dos, são ocupados por landes, ca- autor), como é o caso de uma lava
poeiras e, finalmente, por florestas, torrencial em montanha, por
diferentes das florestas clímax. exemplo.
No segundo caso, o sistema de
Os Geossistemas degradados com evolução não envolve a erosão
dinâmica regressiva, porém, sem "verdadeira" ou geomorfológica
modificações importantes do po- mas apenas a erosão "epidérmica",
tencial ecológico que se refere à "erosão sob cober-
Embora suas paisagens sejam tura vegetal". Os geossistemas em
fortemente humanizadas, com ve- resistasia classificam-se de acordo
getação muito modificada ou des- com seu grau de instabilidade e
truída e com solos transformados podem ser:
pelas práticas agrícolas, nesses
geossistemas o equilíbrio ecológico Geossistemas com Geomorfogênese
não é rompido, não obstante um "Natural" (aspas do próprio autor)
certo ressecamento ambiental. As Nesse caso a erosão instabiliza-
erosões mecânicas são muito loca- dora do geossistema é, principal-
lizadas e excepcionais, geralmente mente, um processo "natural" e a
ao longo dos caminhos vicinais. ação antrópica pode, até mesmo,
não ter qualquer importância. Nas
3.2.4.1.2 - Geossistemas em regiões áridas e semi-áridas, bem
resistasia como nas altas montanhas, por
Nesses a geomorfogênese domi- exemplo, a erosão natural faz par-
na a dinâmica das paisagens. A te, às vezes, do próprio clímax e
erosão, o transporte e a acumula- contribui para limitar natural-
ção de detritos de toda espécie mente o desenvolvimento da vege-
conduzem à mobilidade e à impor- tação e dos solos. Exemplos desses
tante modificação do potencial casos podem ser observados nas
ecológico. A geomorfogênese, por- vertentes montanhosas com talude
tanto, opõe-se à pedogênese e à móvel de detritos, nas superfícies
colonização vegetal. de glacis de erosão alimentada
por escoamento anastomosado de
É necessário, entretanto, distin-
oued.
guir dois níveis de intensidade: o
de resistasia verdadeira - ligada Geossistemas Regressivos com Geo-
a uma crise geomorfoclimática morfogênese ligada à ação an-
que leva a modificar o relevo - trópica
e o de resistasia limitada à "cober-
tura viva" (expressão de P. Birot) Desse tipo é preciso reconhecer
das vertentes (vegetação, restos três casos distintos : os geossiste-

107
mas em resistasia bioclimática, ter o traço ou associação geográ-
cuja geomorfogênese é ativada fica característica, qualquer que
pela ação do homem; os geossis- seja a natureza", acrescentando-se
temas marginais em "mosaico" o nome do conjunto regional no
(aspas do próprio autor), isto é, qual está contido o geossistema. A
com alguns geofácies em resistasia título de exemplificação, Bertrand
e outros em biostasia caracteriza- menciona diversos geossistemas
dos por certo desequilíbrio e algu- contidos nas regiões do domínio
ma fragilidade natural; e os geos- do "Maciço Cantábrio Central",
sistemas regressivos com potencial tais como, o geossistema hípero-
ecológico degradado, cujo desen- ceâníco das Sierras Planas, o geos-
volvimento se dá por intervenção sistema da montanha média oceâ-
antrópica no seio das paisagens nica silicosa da Sierra dé Cuera, o
em plena biostasia. Certas cultu- geossistema do setor das gargantas
ras de plantation em economia calcárias com lenhosas, e o geossis-
colonial são exemplos desse último tema de alta montanha cárstica
caso. dos Picos de Europa.
Para os geofácies, Bertrand ra-
3. 2. 5 Recomendações para tifica sua preferência pela vegeta-
denominação ção, considerando que nesse nível
a vegetação "oferece as melhores
Por considerar muito importan- opções sob a forma de agrupamen-
te o estabelecimento de critérios tos fitossodológicos", por exemplo:
um tanto coerentes para dar nome geofácies do prado calcícola pasto-
aos geossistemas, Bertrand reco- ril com Elyno-Sesleterietea; geofá-
menda que essa unidade seja cies das paredes calcárias de mon-
designada pelo nome da sua for- tanha com Potentilletalia caules-
mação vegetal clímax e de seu centis.
traço ecológico essencial: geossis-
tema da floresta de carvalho Finalmente, para os geótopos,
atlântica acidófila; geossistema da Bertrand recomenda a adoção dos
floresta de faia montanhosa higró- mesmos princípios: turfeira com
fila, por exemplo. "Sphaignes", por exemplo.
Sobre essa específica questão
sua preferência pela vegetação
decorre do fato de considerar a ve- 4 - CONCLUSÕES
getação a melhor síntese do meio.
Todavia ele reconhece que não se Pela própria natureza da pes-
pode fazer disso uma regra geral, quisa, abordando o tema "regiona-
porque "a cobertura vegetal não é lização", o esboço metodológico de
sempre o elemento dominante ou Bertrand permite muitas conclu-
característico da combinação", co- sões. Em virtude, porém, do tipo
mo acontece com geossistemas de de trabalho que foi desenvolvido
altas montanhas e com os das sobre ele - comentário e análise
regiões áridas 35 • Para tais casos, - foi forçosamente necessário ex-
recomenda-se preferivelmente "re- plicitar, ao longo da leitura, algu-

35 Do ponto de vista metodológico a expressáo "elemento dominante" tem aqui a mesma


conotaçáo atribuída por C. VALLAUX, mestre da Geografia clássica francesa (cit. p/Fábio
M. S. Guimarães, in "Divisão Regional do Brasil", Revista Brasileira de Geografia, 3 (2): 318-370,
abr.jjun. 1941 - Rio de Janeiro - Fundação IBGE). Gostaríamos ainda de chamar a atenção
para as expressões "característica mais importante", "característico da combinação" e "elemento
caracterizador", que têm conotações semelhantes às conferidas pelos mestres franceses da Geo-
grafia clássica. Essas expressões, embora transformadas, mantêm-se com significados idênticos,
como é também o caso da expressão "nota característica", de Pe. G. PAUWES (cit. p/F. M.
Guimarães, op. cit.) .

108
mas conclusões mais ou menos ceitos bem definidos e critérios de
específicas. Assim, pois, optou-se maior precisão.
pela formulação de algumas con- Para os níveis inferiores (geos-
clusões de caráter mais geral. sistema, geofácie e geótopo), além
Trata-se de uma bem sucedida da fundamentação teórica, consi-
tentativa de criar uma metodolo- dera-se indispensável constante
gia de definição de espaços geo- contato do pesquisador com a rea-
gráficos diferenciados e caracteri- lidade empírica e com a experiên-
zados por uma rica síntese de cia daqueles que, de uma forma
fenômenos ambientais dispostos ou de outra, têm levado a cabo a
em uma certa tipologia taxionô- adoção dessa metodologia.
mica cujos diferentes níveis devem Considerando que a "síntese da
ser relacionados a distintos concei- paisagem" proposta nesse trabalho
tos mais ou menos bem definidos, resulta de diversas categorias de
não obstante tratar-se de um es- análise - clima, relevo, solo, bo-
boço metodológico. tânica, etc. -, para a obtenção
Os critérios de definição das dessa síntese recomenda-se uma
unidades espaciais são muito fle- equipe multidisciplinar de pesqui-
xíveis e carecem de maior precisão, sadores, sem se perder de vista o
caráter interdisciplinar da pes-
principalmente nos níveis superio- quisa.
res das "unidades de grandeza", o Esse esboço metodológico cons-
que exige dos pesquisadores conhe- titui um esforço meritório de supe-
cimento teórico e empírico sobre a ração da antiga contradição entre
matéria a ser regionalizada, bem a "Geografia Humana" e a "Geo-
como experiência mais profunda e grafia Física", cuja dicotomia hoje
vasta sobre regionalização do que é ainda muito profunda, principal-
seria necessário se tratasse de uma mente nos estudos e pesquisas so-
metodologia que envolvesse con- bre regionalização.

109
O impacto do metrô
sobre a alocação dos
recursos públicos em
infra-estrutura urbana
no Estado do Rio de
Janeiro após a fusão
Rosa Maria Ramalho Massena *

U ma das formas de integração


econômica do Estado foi
pensada como um acesso
mais homogêneo à infra-estrutura
que diz respeito ao aspecto acima
citado, não vem se concretizando
eficientemente.
Esta assertiva tem respaldo na
urbana. A desigual distribuição análise aqui feita, para a qual fo-
espacial dessa infra-estrutura, que ram apropriados os dados referen-
vem gerando quistos sociais, foi tes às obras e projetos de infra-es-
sem dúvida um elemento rele- trutura urbana realizados pelo
vante para justificar a prioridade novo Estado do Rio de Janeiro no
e a oportunidade da fusão. Ho- período imediatamente posterior à
je, no entanto, decorridos alguns fusão, ou seja, entre 1975 e 1978.
anos da integração oficial dos dois A análise que se segue procura ava-
Estados, a integração sócio-econô- liar de que forma vem sendo im-
mica pretendida, pelo menos no plantada essa infra-estrutura após

* A autora agradece as sugestões e críticas de David Michael Vetter na elaboração das tabelas
aqui contidas, assim como a Elza Freire Rodrigues, que efetuou os câlculos.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~~1) : 111-122, jan./mar. 1983 111


a fusão. Nesse sentido, nossa dis- Estes investimentos, que no Es-
cussão se aterá menos à eficiência tado chegaram aos 27 bilhões de
com que vêm sendo realizados esses cruzeiros nos três primeiros anos
investimentos do que à eqüidade após a fusão, mostraram uma dis-
decorrente da distribuição indireta tribuição espacial bastante concen-
da riqueza que se realiza através trada na região metropolitana. Só
do acesso dos diferentes estratos ela recebeu 84,1% do total daque-
da população à infra-estrutura. les investimentos. Alguns setores
É conhecido de todos que a polí- tiveram suas obras e projetos total-
tica da fusão viu nesta implanta- mente, ou quase, concentrados na
ção o elemento necessário à descen- região metropolitana, como foi
tralização das indústrias, tida, en- o caso dos esgotos e sanitários
tão como prioritária pelos objeti- (100,0%), do gás canalizado ....
vos da fusão. A participação do (100,0%), do Metrô (100,0%) e da
empresariado carioca, sobretudo o habitação popular (96,8%). Pou-
ligado à indústria, foi bastante quíssimos setores fugiram a essa
eficiente nas reivindicações a favor concentração e podemos citar ape-'
da fusão (Brasileiro, A. M., 1979). nas o da energia elétrica (9,1%) e
Os seus interesses casavam-se com o da educação e cultura (33,2%),
os da União, que argumentava a cuja inexpressividade na região
necessidade do crescimento econô- metropolitana parece decorrer em
mico da Região pela dinamização parte do fato de que seus projetos
do setor industrial, uma vez que o geralmente não estão individuali-
equilíbrio federativo só seria al- zados a nível de Município ou de
cançado se o novo Estado formasse região metropolitana, mas quase
um pólo de desenvolvimento que sempre a nível de Estado como um
competisse com São Paulo. Preten- todo. Esta concentração poderia ser
dia-se, portanto, obter facilidades vista como decorrência natural da
a fim de realizar o deslocamento criação da região metropolitana,
da indústria para a periferia me- que só foi possível graças à fusão
tropolitana. e através da qual pretendia-se
atender às prementes necessidades
da expansão industrial, bloqueada
1 - DISTRIBUIÇÃO até então pelas restrições fiscais
ESPACIAL·DOS administrativas. Essa expansão es-
INVESTIMENTOS EM tá configurada pelo montante de
INFRA-ESTRUTURA investimentos em distritos indus-
URBANA triais alocados sobretudo na perife-
ria da região metropolitana .....
Os investimentos em infra-estru- (63,9%, ou seja, Cr$ 284 milhões)
tura durante o período 1975-1978 no período 1975-1978 e que foi ab-
que serão aqui analisados se encon- sorvido quase que exclusivamente
tram relacionados no anexo A da na implantação do Distrito Indus-
publicação Fusão-Realizações e Re- trial de Nova Iguaçu (Monte Ale-
sultados do I PLAN-Rio (Estado do gre). Esta soma destinada aos dis-
Rio de Janeiro, 1979). Excluíram-se tritos industriais, embora pequena
dela os· projetos ligados à Adminis- em relação ao total dos investimen-
tração Geral do Governo Estadual, tos feitos no Estado ou na região
à .Justiça e à Agropecuária (Ane- metropolitana, representou 25% do
xo A). Assim, dos 74 órgãos exe- total dos investimentos feitos na
cutores foram selecionados 30 que periferia.
se constituíram em 15 itens ou
setores classificados segundo a na- Na verdade, estes investimentos
tl}reza dos seus projetos ou obras referentes aos distritos industriais
(Tabela 1). são os que vêm dar sentido ao ex-

112
TABELA 1

Distribuição dos investimentos públicos em obras e projetos do Governo Estadual por unidades espaciais de estudo,
segundo os setores - Estado do Rio de Janeiro - 1975-1978

VALOR (Cr$ 1 000) (1)

SETORES CÚOIGOS I Região Metropolitana do Rio de Janeiro


Estado (exceto a Estado não indi-
(VER ANEXO A)
Total
Total Município do
Rio de Janeiro
Município de
Niterói
I Periferia (rwo
da Região Me-
I Não indivi-
dualizada
Região Metro-
politana)
vidualizario
(2)
\ I I tropolitana) (2)

TOTAL.. .................................... 27 025 422 22 723 708 20 035 168 604 648 1 152 647 931 245 2 480 250 1 821 454
100,0 84.1 74,1 2.2 4,3 3,5 9,2 6.7
1) Desportos, Turismo, Recreação e lazer. ..... (1) (4) (18) (21) 183 147 124 736 98 836 24 230 1 670 - 54 908 3 503
100,0 68,1 54,0 13,2 0,9 - 30,0 1.9
2) Centros Sociais Urbanos e Assistência Social
Geral. ..................................... (2) (1 9) (25) 303 123 270 223 37 076 16 916 43 906 172 325 25 864 7 036
100.0 89,1 12.2 5,6 14.5 56,8 8,6 2,3
3) Distritos Industriais ......................... (3) 444 165 372 835 88 813 - 284 022 - 66 386 4 944
100,0 83,9 20,0 - 63,9 - 15,0 1,1
4) Saneamento Ambiental. ...................... (5) (19) 369 108 259 636 202 970 5 870 27 325 23 471 82 771 26 701
100,0 70.4 55,0 1,6 7.4 6.4 22.4 7.2
5) Abastecimento de Água ....................• (6) (19) 1 232 414 792 290 225 375 197 368 222 186 147 361 438 286 1 838
100,0 64,3 18,3 16,0 18,0 12,0 35,6 0.1
6) Esgotos e Sanitários ....................... (6) 465 954 465 805 258 039 205 058 - 2 708 149
100,0 100,0 55.4 44.0 - 0,6 0.0
7) Gás Canalizado ............................• (7) 590 175
100,0
590 175
1DO. O
553 903
93,9
-- 36 272
6.1
8) Energia Elétrica ............................ (8) (18) 834 076 76 017 44 078 1 963 1 258 28 718 82 150 675 909
100,0 9.1 5,3 0,2 0,1 3,5 9,8 81.1
9) Habitação Popular. ......................... (9) (19) 1 001 055
100,0
969 198
96,8
902 764
90,2
15 111
1,5
51 323
5,1
-- 31 857
3,2
10) Proteção Ambiental.. ....................... (10) (11) (19) 168 445 139 210 47 780 8 936 68 016 14 478 7 100 22 135
100,0 82.7 28.4 5,3 40.4 8,6 4,2 13.1
11) Serviço de Saúde ..........................• (12) (19) 816 220 612 014 360 108 50 878 1 215 199 813 62 849 141 357
100,0 75,0 44,1 6,2 0.2 24.5 7.7 17,3
12) Segurança Pública (Civil, Militar, Bombeiros). (13) (14) (15) (16) (19) 333 682 207 765 104 870 - 44 765 58 130 64 637 61 280

13) Educação e Cultura ......................... (17) (19) (20) (21) (22)


100,0
1 499 931
62,2
498 892
31.4
305 602
-
25 644
13.4
26 249
17.4
141 397
19.4
365 494
18.4
635 545
(23) (24) (26) 100,0 33.2 20.4 1,7 1,7 9.4 24.4 42.4"
14) Rodovias e Terminais .....................• (18) (1 9) (27) (28) (30) 3 285 033 1 846 018 1 306 060 52 674 344 440 142 844 1 197 809 241 206
100,0 56,2 39,8 1,6 10,5 4.3 36,5 7,3
15) Metrô ...................................... (29) 15 498 894 15 498 894 15 498 894
100,0 100,0 100,0

FONTE: Fusão: Realizações e Resul•ados do I PLAN- Rio- 1975/1979- Estado do Rio de Janeiro. .
NOTA: (1) O valor em cruzeiros na tabela representa o somatório dos valores (cruzeiro corrente) dos investimentos reelizados entre 1975 e 1978. Uma vez que os dados anuais não foram publicados, tornou-se impossível calcular o valor em cruze~ros
t-o
constantes de um ano. Se a variação espacial destes investimentos durante este período foi pequena, a distorção provocada pela variação dos preços não deve ser grande, ou seja, se a distribuição relativa em cada ano fosse igual, o impac-
t-o to das mudanças no preço durante os três anos teria sido pequrno. lembre-se que estamos mais interessados nos valores relativos. Em cruzeiros de janeiro de 1983, os valores seriam aproximadamente 23 vezes mais a!tos.
tA) (2) Não individualizado significa que os dados não são fornecidos a nível de municípios. estando classificados a nível de Região Metropolitana ou Estado.
TABELA 2

Distribuição percentual dos investimentos públicos em obras e projetos


do Governo Estadual por unidades espaciais de estudo, segundo os
setores - Estado do Rio de Janeiro - 1975-1978

REGIÃO METROPOLITANA DO RI O DE JANEIRO I


ESTADO ESTADO
Periferia (EXCET_O (NÃO IN-
SETORES CÚDIGO TOTAL Municí- Municí- Não indi- A REGIAO DIVIOUA-
(resto da
(VER ANEXO A) Total I pio do
Rio de
pio de
Niterói
Região
Metro-
viduali-
zada
METRO-
POLITANA)
LIZADO)
(1)
Janeiro (1)
I politana)

TOTAL .••...........•• 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
I) Infra-estrutura Físi-
ca ................ (5) (6) (7) (8) (1 O)
(11) (1 8) (19) 13,6 10,2 6,7 69,3 30,8 23,3 24,6 39,9
11) Infra -estrutura-Social. (1) (2) (4) (12) (17)
(18) (19) (20) (21)
(22) (23) (24) (25)
(26) 10,4 6,6 4,0 19,5 6.3 55,1 20,5 43,2
111) Habitação ......... (9) (19) 3,7 4,3 4,5 2,5 4.5 1.3
IV) Segurança ......... (13) (14) (15) (16)
(19) 1,2 0,9 0,5 3,9 6,2 2,6 3,4
V) Transportes ........ (1 8) (19) (27) (28)
(29) (30) 69,5 76,3 83,9 8,7 29,9 15,4 48,3 13,2
Sem Metrô ....... 12,2 8.1 6,5
Com Metrô ........ 57,3 68,2 77.4
VI) Distritos Industriais .. (3) 1,6 1.7 0,4 24,6 2,7 0,3

FONTE: Fusão: Realizações e Resultados do I PLAN - Rio - 1975{1979 - Estado do Rio de Janeiro.
NOTA: (1) Não individualizados significa que os dados não são fornecidos a nível de municípios, estando classificados a nível de Região Metropolitana
ou de Estado.

plícito objetivo da fusão, ou seja, à CODIN pensar em estudar novos


viabilização da região metropoli- projetos industriais, como mal e
tana, já que os demais projetos e mal está conseguindo tocar as
obras que beneficiam sobretudo es- obras de infra-estrutura que se
ta Região continuam inegavelmen- comprometeu a realizar" (Jornal
te bastante centralizados no Muni- do Brasil, 20-03-80).
cípio do Rio de Janeiro. É interes- Segundo a Exposição de Motivos
sante, no entanto, notar que muito que encaminha a Lei Complemen-
embora os investimentos nos distri- tar n. 0 20, a criação da Região Me-
tos industriais na periferia possam tropolitana do Rio de Janeiro " ...
em um determinado período ter poderia modificar drasticamente a
correspondido aos objetivos da fu- situação da infra-estrutura de ser-
são, hoje parece estar oco~rendo viços básicos do segundo maior
um afastamento crescente as ex- aglomerado urbano do País". Isto
pectativas da fusão. Há denúncias diz respeito às deficiências de uma
de uma gradativa desaceleração do periferia constituída por 12 muni-
programa dos distritos industriais cípios fi uminenses reconhecida-
do Estado do Rio. O orçamento da mente carentes - o Município de
CODIN para 1980 (Cr$ 200 mi- Niterói está excluído da periferia,
lhões) teria sido nominalmente me- uma vez que em análise fatorial
nor do que o de 1979 (Cr$ 243 mi- feita em trabalho anterior (Vetter,
lhões, dos quais apenas Cr$ 162 David Michael et alii, 1981) ele fi-
milhões aplicados). Há portanto cou tipicamente caracterizado co-
uma implícita escassez de recursos mo núcleo -, à qual se agregam
e por isso "não só não pode a dificuldades de implementação de

114
infra-estrutura em áreas conurba- de água e proteção ambiental. Não
das, onde as soluções perdem o seu obstante, se se considera o total dos
caráter local para dar lugar aos investimentos em infra-estrutura
problemas da Região, porém divi- física feitos no Estado, observa-se
didas política e institucionalmente. quão insignificante foi a parte que
O período 1975-1978, imediata- coube à periferia da Região Metro-
mente posterior à fusão, não mos- politana (9,7%). O investimento
trou no entanto uma ação fecunda per capita neste setor e no de
neste sentido: persiste o desequilí- transportes (que absorveu a segun-
brio núcleo-periferia, com excessiva da maior parcela de investimentos
concentração de investimentos no feitos na periferia) foi de apenas
Rio de Janeiro (Tabela 3). Habita- Cr$ 100,00 (Tabela 5), o que a nos-
ção, Transporte e setor denomina- so ver não parece atestar nenhuma
do de Infra-estrutura Física apre- modificação na deficiente situação
sentam forte concentração no Mu- das populações periféricas. Para o
nicípio do Rio de Janeiro (93,1%, Município do Rio de Janeiro, onde
96,9% e 57,4%, respectivamente, esses serviços de infra-estrutura
dos investimentos de cada setor fei- física e de transporte já atingiram
tos na Região Metropolitana). En- um nível infinitamente superior ao
tendendo-se que nesta categoria da periferia, a relação de investi-
estão incluídos, entre outras, obras mento per capita foi de Cr$ 300,00
como gás canalizado, esgotos e sa- e Cr$ 3.500,00 e para o Município
nitários e saneamento ambiental, de Niterói foi de Cr$ 1.100,00 e ...
observa-se que estas são inexpressi- Cr$ 100,00, respectivamente. Aliás,
vas na periferia. No entanto, do to- cabe aqui notar que a posição de
tal dos investimentos feitos na pe- destaque desfrutada por Niterói
riferia, sem dúvida a maior parcela quanto à infra-estrutura física se
(30,8%) coube à infra-estrutura estende também ao investimento
física, só que aplicados quase que per capita geral (Cr$ 1.600,00), que
exclusivamente em abastecimento seria o mais alto (Tabela 4), se não

TABELA 3
Distribuição percentual dos investimentos públicos em obras e projetos
do Governo Estadual por unidades espaciais de estudo, segundo os
setores - Estado do Rio de Janeiro - 1975-1978
REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
ESTADO ESTADO
Periferia (EXCETO (NÃO IN-
SETORES CÚDIGO TOTAL Municí- Não indi- A REGIÃO DIVIDUA-
pio do Municí- ( resto da
(VER ANEXO A) pio de Região viduali- METRO- L17ADO)
Total Rio de zada
Niterói Metro- POLITANA) (1)
Janeiro (1)
politana)

TOTAL.. .............. 100,0 84,1 74,1 2,2 4,3 3,5 9,2 6,7
100,0 88,2 2,6 5,1 4,1
I) Infra-estrutura Físi·
ca ................ (5) (6) (7) (8) (1 O) 1DO, O 63,5 36,4 11,5 9,7 5,9 16,7 19,8
(11) (18) (19) 100,0 57.4 18,0 15,3 9,3
11) Infra-estrutura-Social. (1) (2) (4) (12) (17) 100,0 53,7 28,6 4,2 2,6 18,3 18,7 28,1
(18) (19) (20) (21) 100,0 53,2 7,8 4,9 34,1
(22) (23) (24) (25)
(26)
111) Habitação ......... (9) (19) 100,0 96,8 90,2 1,5 5,1 3,2
100,0 50,0 0,0 21,5 28,0
IV) Segurança ......... (13) (14) (15) (16) (19) 100,0 62,2 31.4 13,4 17,4 19,4 18,4
100,0 93,1 1,6 5,3 0,0
V) Transportes ........ (18) (19) (27) (28) 100,0 92,3 89,3 0,3 1,8 0,8 6,4 1,3
(29) (30) 100,0 96,9 0,3 2,0 0,8
VI) Distritos Industriais .. (3) 100,0 83,9 20.0 63,9 15,0 1,1
100,0 23.8 0,0 76,2 0,0

FONTE: Fusão: Realizações e Resultados do I PLAN - Rio - 1975/1979 - Estado do Rio de Janeiro.
NOTA: co Não individualizados significa que os dados não são fornecidos a nível de municípios, estando classificados a nível de Região Metropolitana
ou de Estado.

115
TABELA 4
Investimentos públicos por unidades espaciais de estudo, segundo as
variáveis - Estado do Rio de Janeiro - 1975-1978

VALOR (Cr$ 1 000) (1)

Região Metropolitana do Rio de Janeiro


VARIÁVEIS TOTAL Estado (exceto
Periferia Região Metro-
Total Município do Município de (re1to da
Rio de Janeiro Niterói Região Metro- politana)
palita na)

INVESTIMENTOS PÚBLICOS 1975/


1978
Inclusive Metrô .......... 27 025 422 22 723 708 20 035 168 604 648 1 152 647 2 480 260
%................. 100,0 84.1 74.1 2.3 4.3 9.2
Exclusive Metrô .............. 11 526 528 7 224 814 4 536 274 604 648 1 152 647 2 480 260
%............................ 100,0 62,7 39.4 5,2 10.0 21,5
POPULAÇÃO 1975
Absoluto(habitantes) ...•.....•. 10 400 216 8 328 784 4 857 716 376 033 3 095 035 2 071 432
%............................ 100,0 80,1 46.7 3,6 29,8 19,9
INVESTIMENTO "PER CAPITA"
Inclusive Metrô ............... 2.6 2.7 4,1 1,6 0.4 1.2
Exclusive Metrô ............... 1.1 0,9 0,9 1,6 0.4 1,2
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO ECO-
NOMICAMENTE ATIVA POR CLAS-
SES DE RENDIMENTO (2)
TOTAL ....................... 2 764.4 (1 00,0%) 81,2 53,0 4,0 24,2 18,8
Até 200 ............... -.- 1 269,6 (1 00.0%) 71.9 41.4 3,3 27,2 28,1
De 201 a 400 ............ 741,4 (100,0%) 86,6 54.2 4,1 28,3 13.4
De 401 a 1 000 ......... 540,4 (1 00,0%) 90,8 67,2 4.7 18,9 9.2
De 1 001 a 2 000 ... 144.4 (100,0%) 93,6 79.4 6,8 7.4 6.4
Mais de 2 000 ........... 68,7 (100,0%) 95.3 85.7 6.6 3,0 4,7

FONTE: Fusão: Realizações e Resultados do I PLAN - Rio - 1975/1979 - Estado do Rio de Janeiro.
- Indicadores Sociais para áreas urbanas - SUEGE/DEISO/IBGE- Censo Demográfico do Rio de Janeiro de 1970 e Estimativa da População do
Rio de Janeiro em 1.' de julho de 1975 - CEBED/SUEGE/IBGE.
(1) ovalor em cruzeiro na tabela representa o somatório dos valores (cruzeiro corrente) dos investimentos realizados entre 1975 e 1978. Uma vez
que os dados anuais não foram publicados, tornou-se impossível calcular o valor em cruzeiros constantes de um ano. Se a variação espacial des-
tes investimentos durante este período foi pequena. a distorção provocada pela variação dos preços não deve ser grande, ou seja, se a distribui-
cão relativa em cada ano fosse igual, o impacto das mud1nças no preço durante os três anos teria sido peque". Lembre-se que estamos mais
interessados nos valores relativas. Em cruzeiros de janeiro de 1983, os valores seri3m aproximadamente 23 vezes mais altos.
(2) Em 1 000 pessoas.

TABELA 5
Investimento "per capita" em infra-estrutura física e transportes no
- Estado do Rio de Janeiro - 1975-1978

VALOR (Cr$ 1 000) (1)

Região Metropolitana do Ria de Janeiro


Estado Estado
INVESTIMENTO "PER CAPITA" TOTAL Periferia (exceto (não indi;i-
Município Município (rena da Periferia Região dual i-
Total do Ria de de Niterói Região Me- não indivi- Metropa- zado)(2)
Janeiro tropolitana) dualizada(2) litana)

Em Infra-estrutura Física .. . 0.4 0,3 0,3 1.1 0,1 0,3


Em Transportes .............. . 1,8 2,1 3,5 0,1 0,1 0,6

FONTE: Fusão: Realizações e Resultados da I PLAN- Rio- 1975/1979- Estado do Rio de Janeiro.
(1) o valor em cruzeiro na tabela representa o somatório dos valores (cruzeiro corrente) dos investimentos realizadas entre 1975 e 1978. Uma vez
que os dadas anuais não foram publicados, tornou-se impossível calcular o valor em cruzeiros constantes de um ano. Se a variação espacial
destes investimentos durante este período foi pequena. a drstorçãa provocada pela variação dos preços não deve ser grande, ou seja, se a dis-
tribuição relativa em cada ano fosse rgual, o impacto das mudanças na preço durante os três anos teria sido pequeno. Lembre-se que estamos
mais interessados nos valores relativos. Em cruzerros de Janeiro de 1983, as valores seriam aproximadamente 23 vezes mais altas.
(2) Não individualizados significa que os dados não são fornecidos a nível de municípios, estando classificadas a nível de Região Metropolitana
ou Estado.

116
considerássemos a obra do Metrô, com algumas evidências, que estes
que, como se verá, eleva substan- investimentos vêm sendo distribuí-
cialmente aquela taxa no Rio de dos sem que pareça haver uma
Janeiro. Neste sentido parece que preocupação maior no atendimento
não obrigatoriamente estaria ocor- a uma população economicamente
rendo o que muitos temiam, ou se- desprivilegiada e espacialmente se-
ja, a evasão de investimentos que gregada. A pobreza alocada na pe-
antes da fusão o Município de Ni- riferia metropolitana é percebida,
terói recebia. Niterói sem dúvida tanto por uma altíssima concentra-
perdeu status e poder político; no ção de sua população nas classes
entanto, mesmo que ele anterior- de baixa renda (82,8% de sua po-
mente possa ter tido um investi- pulação ganhavam 2,1 salários mí-
mento per capita maior, inegavel- nimos em 1970), quanto por inex-
mente, ainda hoje o tem relativa- pressiva presença na classe de ren-
mente alto. dimento superior a dez salários
mínimos (0,3%) (Tabela 6).
A distribuição da população eco-
2 - A DISTRIBUIÇÃO DOS nomicamente ativa, segundo gru-
INVESTIMENTOS X A pos de rendimentos, mostra clara-
DISTRIBUIÇÃO DA mente o quanto decresce a sua par-
POPULAÇÃO ticipação na população da periferia
à medida que se reporte aos grupos
Uma análise comparativa entre de rendimentos mais elevados. Em
a distribuição da população econo- outras palavras, da população eco-
micamente ativa, por classe de ren- nomicamente ativa que recebia até
dimento, e a distribuição dos inves- Cr$ 200,00 o núcleo concentrava
timentos em infra-estrutura, se- 44,7%, enquanto a periferia ficava
gundo as diferentes unidades espa- com 27,2%, ou seja, aproximada-
ciais aqui consideradas, mostra, mente a metade do núcleo; porém,

TABELA 6

Distribuição percentual da população economicamente ativa por


unidades espaciais de estudo, segundo classes e rendimento mensal
-Estado do Rio de Janeiro- 1970

POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA

ClASSES DE RENDIMENTO Região Metropolitana do Rio de Janeiro(!)


MENSAL DA PEA TOTAL
TOTAL Estado {não
Município do Município de Periferia (resto individualizado){2)
Total Rio de Janeiro Niterói da Região
Metropolitana)

TOTAL {1.000 pessoas) ........... 2 764.4 2 245,1 1 464.3 111,0 669,8 519,2
%............................... 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Até 200 ...................... 45,9 40,6 35,9 37.3 51.5 68,8
De 201 a 400 ................ 26,8 28,6 27.5 27.1 31,3 19.2
De 401 a 1 000 ..... " ...... 19,6 21.9 24,8 22.?. 15,3 9,6
De 1 001 a 2 000 .......... 5.2 6,0 7,8 8,8 1.6 1.8
Mais de 2 000 ............... 2.5 2,9 4,0 4,0 0,3 0,6

FONTE: IBGE- SUEGE/DEISQ- Indicadores Sociais para áreas urhanas- Censo Demográfico do Rio de Janeiro- 1970.
{1) Utilizamos Indicadores Sociais para áreas urhanas.
{2) Para cálculo do resto do Estado. C_enso de 1970 do Estado do Rio de Janeiro e Indicadores Sociais para áreas urhanas, excluindo a população
sem rendrmento e sem declaraçao.

117
ao se tomar a PEA, que recebia damente a relação investimento
mais de Cr$ 2.000,00, verificou-se per capita no Rio.
que o núcleo concentrava 92,3%, É importante ressaltar que esta
contra apenas 3,0% da PEA da pe- obra não pode ser vista como ne-
riferia, ou seja, cerca de 30 vezes cessária à integração econômica do
mais. O núcleo, que é o reduto da Estado, pois não leva sequer à "ho-
PEA de maior rendimento, teve in- mogeneização do acesso à infra-es-
vestimentos per capita de ....... . trutura urbana" dentro do próprio
Cr$ 4.100,00 no Rio de Janeiro e de município, já que seu traçado e seu
Cr$ 1.600,00 em Niterói (Tabela 4). preço não atendem às necessidades
Para esta concentração contri- da maior parte da população. Nà
buíram muito os investimentos do teoria de causação circular (Vetter,
Metrô do Rio de Janeiro, que sozi- D. M. e Massena, R. M. R. 1982)
nho absorveu 68,2% dos investi- afirmamos que os investimentos
mentos feitos em toda a região determinam uma segregação resi-
metropolitana (Cr$ 15,5 bilhões dencial, com concentração de po-
entre 1975 e 1978) e 77,0% dos pulação de alta renda, que, por sua
realizados no Município do Rio de vez, atrai para si novos investimen-
Janeiro. tos. O exemplo do Metrô no Rio de
Conhecendo-se o traçado do Me- Janeiro parece encaixar-se perfei-
trô e suas prioridades, fica claro o tamente dentro do raciocínio desta
descompasso entre os objetivos pro- teoria. Se não, vejamos: fundada
postos pela fusão e o tipo de obras em 1968, a Companhia Metropoli-
que até agora vêm sendo tocadas. tana do Rio de Janeiro deu início
oficialmente a 23 de agosto de 1970
à construção do Metrô, que segun-
3 - OS INVESTIMENTOS do o PIT (Plano Integrado de
NO METRô Transportes), teria o sistema bási-
co de Metrô e Pré-Metrô conside-
Pretendeu-se com a fusão do Rio rado para 1979, constituídos pela
de Janeiro-Guanabara criar uma linha 1 do Metrô (trecho entre as
situação de equilíbrio nacional. Ho- estações de Botafogo e Saens Pe-
je, no entanto, a discussão é se es- na), pela linha 2 do Metrô (trecho
taria sendo efetuado o apoio, que, entre as estações de Estácio de Sá
juntamente com Minas e São Pau- e Maria da Graça) e pela linha 1
lo, o novo Estado deveria dar ao do Pré-Metrô (trecho entre as es-
desenvolvimento do País. tações de Maria da Graça e Pavu-
Do ponto de vista dos investi- na). Esta rede básica (como passou
mentos públicos em infra-estrutura a ser chamada) se estenderia por
urbana, o novo Estado vem frus- 38,3km de linhas, sendo 20,8km do
trando aquelas expectativas de Metrô e 17,5km do Pré-Metrô.
desenvolvimento. Em 1. 0 lugar, se Decorridos dez anos, o Metrô ti-
nos reportarmos ao argumento do nha apenas 6km de sua rede básica
Marechal Paulo Torres (Coelho em funcionamento (trecho entre as
Neto, R. 1980) de que a "fusão só estações de Estácio de Sá e Glória)
beneficiaria o Rio e prejudicaria os e uma dívida de US$ 800 milhões,
63 municípios do interior", pode-se além do que, pairava a ameaça de
dizer que ele possivelmente fazia não cumprimento do novo prazo de
premonições a respeito do grande entrega já previsto para 1982, em-
ônus que representou para o Esta- bora 80,0% desta rede estivessem
do o Metrô, obra que sozinha ab- em fase final de acabamento. Os
sorveu quase 57% dos investimen- contínuos atrasos fizeram com que
tos públicos feitos no Estado entre os preços e os encargos aumentas-
1975 e 1978 e que elevou exagera- sem de forma não prevista. Em

118
1980, segundo o Ministro dos custo dessa expansão seria muito
Transportes Eliseu Resende (O Glo- elevado (4 vezes o custo para ope-
bo, 08-06-80), o preço de cada qui- rar o Pré-Metrô) e o trecho de 1.800
lômetro chega a US$ 70 milhões metros entre as estações de Bota-
(Cr$ 3 bilhões e 500 milhões), ou fogo e a Praça Cardeal Arcoverde
seja, cada metro do Metrô custa logo seria insuficiente para resol-
Cr$ 3.500.000,00. ver a saturação de Copacabana.
O traçado do Metrô, ou seja, os Além do mais, esta proposta de
20,8km, é considerado prioritário, ampliação, tida pelo Metrô como
enquanto o Pré-Metrô (17,5km), indispensável, vai ao encontro das
embora seja parte da rede básica, aspirações dos próprios moradores
foi colocado em segundo plano. Es- do bairro, que se fazem representar
te último só foi iniciado em 1977, por inúmeras associações comer-
portanto com dois anos de atraso e, ciais e de moradores do bairro e que
em 1980, suas obras estavam pa- apóiam sugestões de alternativas
radas, tomadas pelo lixo e lama melhores e mais baratas. Segundo
(havia apenas uma precária ma- declarações do urbanista José Ge-
nutenção e conservação), devendo mal à imprensa (O Globo, ..... .
ser retomadas apenas em 1981. Isto 08-06-80), "faixas exclusivas para
tudo ocorre, a despeito de ser o Pré- ônibus, uma melhor operação do
Metrô a obra considerada de maior tráfego, oferta de estacionamento
"alcance social", uma vez que be- fora das pistas e os ônibus articula-
neficia população de baixa renda dos melhorariam muito o tráfego
que residem entre Maria da Graça em Copacabana, deixando a alter-
e Pavuna. nativa do Metrô para o futuro.
Visto que esses investimentos se Aliás, essas medidas poderiam ser
concentraram sobretudo em áreas o primeiro passo para uma futura
caracteristicamente de populações construção e operação do Metrô no
de alta e média rendas, parece ter- bairro. Custariam, pelo menos, 20
se esvaziado a perspectiva da fusão vezes menos que o Metrô".
de viabilização da Região Metropo-
litana do Rio de Janeiro, que per- Não deixa de ser interessante ob-
de terreno à medida que o Pré-Me- servar que, a partir de 1975, quando
trô é abandonado. A tônica na efi- o Metrô passou a ser prioridade, ele
ciência tem portanto relegado a foi considerado símbolo da fusão.
um plano secundário a eqüidade na Hoje, a análise do impacto da fu-
distribuição desses investimentos. são sobre a distribuição espacial
Em função dessa eficiência cogitou- dos benefícios líquidos apresenta-o
se, na Companhia do Metropolita- no entanto como o grande respon-
no, da expansão do Metrô para Co- sável pela exacerbada diferença
pacabana em 1981, antes portanto entre o núcleo e a periferia. O in-
da conclusão da rede básica (Metrô vestimento per capita do núcleo
linhas 1 e 2 e Pré-Metrô linha 1) diminui de Cr$ 3.900,00 para ....
prevista para 1982. O bairro, se- Cr$ 1.000,00 quando se excluem os
gundo o Metrô, está em vias de sa- investimentos feitos no Metrô.
turação em transporte e só poderá
continuar crescendo até 1984. Os O símbolo da fusão transformou-
técnicos contrários a essa expansão se, em última instância, numa
consideram essa uma prioridade grande crise entre União e Estado,
política e não técnica. Primeiro, gerada pelos crescentes problemas
porque o projeto repercutiria nega- financeiros, que, no curso de sua
tivamente para o Pré-Metrô e ores- solução, sem dúvida permitirá ain-
tante da linha básica, já carentes da por algum tempo aos cariocas
de recursos. Segundo, porque o desfrutarem da excepcional taxa de

119
investimento P'er capita de ..... . Foi possível aqui, através da
Cr$ 4.100,00 (Tabela 4). A impren- análise da distribuição dos investi-
sa (Oliveira, J. 1980) afirma que o mentos públicos, chegar-se às ini-
ônus do Metrô é que impede o Rio qüidades de certas políticas públi-
de crescer mais rapidamente, visto cas, avaliadas a nível regional. Há
que o seu desenvolvimento sócio- porém mais ainda a saber sobre a
econômico estaria sendo sacrifica- matéria, a nível local. Quem, por
do pela dívida externa do Estado, exemplo, no Município do Rio de
que, em 1980, foi de Cr$ 50 bilhões, Janeiro se apropriará dos benefí-
dos quais Cr$ 41 bilhões contraídos cios líquidos desse imenso investi-
pela -Companhia do Metropolitano. mento?

ANEXO A 12- Departamento Geral de Or-


ganização e Administração dos Ser-
RELAÇÃO DOS óRGÃOS viços de Saúde- (SES).
EXECUTORES 13 - Departamento Geral de Po-
ESTADO DO RIO DE JANEIRO - lícia Civil - DGPC (SESP).
I PLAN - RIO, 1975-1978
14 - Polícia Militar do Estado
1 - Superintendência de Despor- do Rio de Janeiro - PMERJ
tos do Estado do Rio de Janeiro- (SESP).
SUDERG (SG). 15 - Departamento Geral de
2 - Fundação Leão XIII - Defesa Civil - (SESP).
(SG).
16- Corpo de Bombeiros doEs-
3 - Companhia de Distritos In- tado do Rio de Janeiro - CBERJ
dustriais - CODIN (SEICT) . (SESP).
4 - Companhia de Turismo do 17 - Coordenação de Assuntos
Estado do Rio de Janeiro S/A - de CEDES (Cultura) - ........ .
FLUMITUR (SEICT). (SPCGGE).
5 - Superintendência Estadual 18 - Fundo Contábil da Região
de Rios e Lagos - SERLA ...... . Metropolitana - FCRM - ..... .
(SEOPS). (SPCGGE).
6 - Companhia Estadual de 19 - Infra-Estrutura de Trans-
Aguas e Esgotos CEDAE portes Urbanos e Metropolitanos -
(SEOSP). (SPCGGE).
7 - Companhia Estadual de Gás
do Rio de Janeiro- CEG ....... . 20 - Gabinete do Secretário de
(SEOSP). Educação- (SEEC).
8 - Companhia Brasileira de 21 -Departamento de Educação
Energia Elétrica - CBEE ...... . - (SEEC).
(SEOSP). 22 - Departamento de Cultura
9 - Companhia Estadual de Ha- - (SEEC).
bitação- CEHAB (SEOSP).
23 - Fundação Estadual de Mu-
10- Fundação Estadual de En- seus do Rio de Janeiro- FEMURJ
genharia do Meio-Ambiente - (SEEC).
FEEMA (SEOSP).
24 - Fundação Estadual de Tea-
11 - Empresa de Obras Públicas tros do Rio de Janeiro- ....... .
- EMOP (SEOSP). FUNTERJ (SEEC).

120
25 - Fundação Estadual de 28- Companhia de Desenvolvi-
Educação do Menor - FEEM- RJ mento e Terminais do Estado do
(SEEC). Rio de Janeiro - CODERT (SET).
26 - Fundação Centro de Desen- 29- Companhia do Metropolita-
volvimento de Recursos Humanos no do Rio de Janeiro- METRô
de Educação e Cultura - CDRH (SET).
(SEEC). 30 - Companhia de Transportes
27- Departamento de Estradas Coletivos do Estado do Rio de Ja-
de Rodagem - DER - RJ (SET). neiro- CTC- RJ (SET).

121
BIBLIOGRAFIA

1 -BRASILEIRO, Ana Maria- A Fusão: análise de uma política pública. IPEA- série Estudos
para Planejamento n.o 21 - 1979.

2 -ESTADO DO RIO DE JANEIRO - Fusão: Realizações e Resultados do I PLAN - Rio -


1975-1979.

3 - JORNAL DO BRASIL - Fusão e Preconceito - Editorial de 20-03-80.

4 - COELHO NETO, Rogério - Fusão acaba sem avalista - Coisas da Política - Jornal do
Brasil de .02-02-80 - 1. o caderno.

5 - O GLOBO de 08-06-80 - Caderno de Economia - p. 33.

6 - O GLOBO de 08-06-80 - Metrô - Associações contra ampliação da linha até Copacabana


em 81.
Brasil de 09-11-80 - 1. 0 caderno.

7 - OLIVEIRA, Jorge - Só ônus do Metrô impede o Rio de crescer mais rápido - Jornal do

8 - VETTER, D. M. et alii - A apropriação dos benefícios das ações do Estado em áreas urbanas,
seus determinantes e análise através de ecologia fotorial - Revista Brasileira de Geografia
n.o 4, ano 43, out./dez. 1981.

9 - VETTER, D. M. e MASSENA, R. M. R. - Quem se apropria dos benefícios líquidos dos


investimentos do Estado em infra-estrutura urbana? Uma teoria de causação circular, in
Solo urbano: tópicos sobre o uso da terra. Série debates urbanos, v. 1, 1982 -Editores Zahar.

122
TRANSCRIÇÃO

Escala e ação,
contribuições para
uma 1nterpretaça o
. ~

do mecanismo de
escala na prática
da Geografia*
J. B. Racine
Unlverslté de Lausanne, Institut de Géographle

C. Raffestin
Universlté de Genêve, Institut de Géographle

V. Ruffy
Service Cantonal de 1' Aménegement du
Territoire

H á alguns anos, os autores


deste texto iniciaram uma
reflexão tendo como objeti-
vo, primeiramente, afirmar a ne-
almente ao nível da explicitação
dos conceitos e procedimentos pe-
los quais abordamos o conhecimen-
to e a prática que as sociedades
cessidade de uma problemática ex- têm do espaço ..É a este nível que
plícita ao se iniciar qualquer pes- intervem, por exemplo, o problema
quisa. Esta reflexão prossegue atu- chave da escala, através do qual se

• Transcrito de Geographica Helvetica, 1980, v. 35, n.o 5 (número especial). Trabalho


apresentado ao 24.° Congresso Internacional de Geografia realizado em Tóquio, Japão, em agosto
de 1980.
Tradução de Sylvia Heller, da DA/CEDIT.

R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~(1): 123-135, jan./mar. 1983 123


pode precisar as condições e as ma- O problema, virulento quanto ao
nobras necessárias para realizar ponto de vista do espaço, também
observações coerentes e para inter- o é sob o ponto de vista social. Co-
pretá-las no conjunto de um siste- mo falar de sociedade sem colocar o
ma conceitual explícito. irritante problema das relações
A este respeito, não se pode mais entre o indivíduo e o grupo, entre
aceitar, hoje em dia, que uma pes- propriedades individuais e proprie-
quisa seja conduzida sem que a es- dades coletivas? Pode-se aceitar,
cala esteja claramente especifica- por exemplo, mesmo a título de
da. Mais ainda, a própria escala, simplificação, que a sociedade seja
enquanto fenômeno consubstanciai simplesmente a soma dos indiví-
de toda análise, merece ser estu- duos, quando, na imensa maioria
dada de modo particular. dos casos, estudamos apenas sub-
conjuntos discretos cujas motiva-
ções, interesses, constrangimentos
1 - DA ESCALA e comportamentos em matéria de
CARTOGRÁFICA decisões, de localizações e de repre-
A ESCALA sentações não são simplesmente
adicionais. O simples fato de que a
GEOGRÁFICA adição corre o risco de ser falível
convida a restituir os fenômenos
Na verdade, os geógrafos, por te- aos níveis distintos que tornam ne-
rem consagrado a carta topográfica cessária a explicitação da escala
- esse primeiro modelo geométri- geográfica, complemento da escala
co-matemático- adotaram o con- cartográfica.
ceito de escala tal como foi definido
e empregado pela cartografia. As
conseqüências deste empréstimo 2 - A ESCALA, MEDIADORA
têm sido consideráveis para a Geo- DAS CONFIGURAÇÕES
grafia porque esta não dispõe, de OBSERVADAS
fato, de um conceito próprio de
escala e não é evidente que o da
cartografia lhe seja apropriado. A Se considerarmos o conjunto da
cartografia é um instrumento dis- produção geográfica disponível até
ponível, mas não é a "Geografia". hoje, mesmo por meio de sonda-
Às vezes é necessário lembrar cer- gens, verificamos, infelizmente, -
tos truísmos. Com Yves Lacoste apesar da existência de alguma re-
(1976), lembremos, mesmo aos ferência ao assunto, com mais fre-
geógrafos, que freqüentemente se qüência ao final da análise - que
enganam, que quanto mais a esca- a escala só raramente é introduzi-
la de uma carta é dita "pequena", da explicitamente como uma das
mais a superfície do território re- variáveis fundamentais que vai
presentada é considerável; quanto condicionar tanto a natureza das
mais a carta é dita em "grande es- observações quanto a imagem que
cala", mais ela representa de modo delas se dará, quer ao nível descri-
detalhado um espaço restrito. A es- tivo quer ao nível explicativo. Com
cala cartográfica exprime a repre- algumas exceções de inspiração es-
sentação do espaço como "forma sencialmente metodológica (Davis,
geométrica", enquanto a escala 1965; Cox, 1972; Lacoste, 1976;
que poderíamos e, sob muitos as- Chapman, 1977; Holly, 1978), a
pectos, deveríamos qualificar de escolha das escalas de análise é ar-
geográfica, exprime a representa- bitrária, muitas vezes aleatória,
ção da relação que as sociedades quase sempre não explicitada.
mantêm com esta "forma geométri- No entanto, os geógrafos sabem
ca". há muito tempo que não podem

124
avaliar diretamente uma distribui- possa fazer abstração da escala na
ção qualquer sem levar em conta a qual estes meios e estas distribui-
escala. Nós nos sentiríamos até ções foram observados. O que é ver-
tentados a propor, como uma regra dadeiro ao nível do estudo morto-
de ordem muito geral, que a proba- funcional, também o é, evidente-
bilidade que uma dispersão unifor- mente, ao nível dos estudos conce-
me tem de se transformar em dis- bidos em termos mais explicita-
persão, apresentando formas de mente processuais. É assim que os
grupamento ou de concentração, geógrafos têm, inúmera~ vezes,
aumenta na medida em que se am- sublinhado e demonstrado que os
plia a escala do estudo, a diminui- arranjos espaciais que eles defi-
ção progressiva da escala aumen- niam eram, na realidade, o resul-
tando a probabilidade de homoge- tado de um processo duplo de com-
neidade do espaço estudado e, por petição e concentração, cada qual
sua vez, esta homogeneidade co- operando em diferentes escalas
mandando formas de grupamento geográficas. Cada um a seu jeito,
no interior da dispersão dos pon- os geógrafos behavioristas e os
tos. A questão que se coloca então marxistas baseiam seus estudos
é saber se, ao passar de uma es- dos processos na escolha de esca-
cala a outra, as modificações na las geográficas diferentes, sem que
natureza ou na medida da disper- infelizmente seja explicitada, pelo
são serão previsíveis. Na maior menos na maioria dos casos, essa
parte dos casos, a tendência à ho- distinção fundamental entre esca-
mogeneidade cresce na razão inver- la cartográfica e escala geográfica.
sa da escala. Isto é válido tanto
para a escala cartográfica quanto
para a escala geográfica, sendo es- 3 - A ESCALA MEDIADORA
ta última estruturada por abstra- DE UMA PERTINENCIA
ções sucessivas.
Nessas condições, a escala geo- Colocar o problema da escala é
gráfica se inscreve num processo também colocar o problema da per-
contínuo cujo caráter de reversibi- tinência da ligação entre uma uni-
lidade pode fazer aparecer, em fun- dade de observação e o atributo que
ção justamente dessas abstrações, associamos a ela. Em qual escala,
um fenômeno tanto homogêneo por exemplo, as unidades possuem
(ou uniforme) como heterogêneo propriedades globais? Muitos estu-
(ou concentrado), e reciprocamen- dos empíricos têm demonstrado
te. Na escala de uma região urba- que pode haver propriedades glo-
na, por exemplo, a "coroa urbana" bais em níveis diferentes. Cada
parece homogênea. Os mesmos da- estudo merece ser colocado dentro
dos, estudados na escala da coroa, de sua perspectiva correta, isto é,
somente, mostram um grau de he- dentro de seu campo de pertinên-
terogeneidade muito grande. Va- cia, não somente em relação à área
riações locais podem produzir for- escolhida mas também em relação
mas de grupamento em grande es- ao tipo de dados utilizados na aná-
cala enquanto que variações re- lise. Assim, estudar a centralidade
gionais podem traduzir-se pelo que apoiando-nos sobre os dados do co-
nos aparece como uma distribuição mércio varejista, pode ser apropria-
homogênea. do no caso de pequenas cidades.
Para as grandes aglomerações é,
Homogeneidade e concentração sobretudo, através da coleta de da-
são casos limites que são assinala- dos medindo uma função de ordem
dos pela escala. Não há, portanto, superior (o comércio atacadista, ,
generalização possível sobre uma por exemplo), que a diferenciação
ocorrência geográfica qualquer que entre os centros pode aparecer. Es-

125
te problema de pertinência pode Dogan e Tokkan, ed. 1969). Assim,
ser aproximado também de um ou- quem quer que pense poder asso-
tro ponto de vista: o das relações ciar as formas de uma distribuição
entre a teoria que guia a pesquisa aos processos que as engendram ou
e o nível de generalização dos da- as sustentam, dando mais e mais
dos que se utiliza para testar o seu importância ao estudo das atitudes
alcance. Enquanto a teoria dos lu- e dos comportamentos individuais,
gares centrais se baseia em uma deve antes questionar-se: em que
reflexão que se apóia nos compor- condições uma informação sobre os
tamentos do consumidor em rela- coletivos coloca o problema da in-
ção aos tipos de bens, os geógrafos ferência em relação a uma informa-
passam o tempo testando-a, apoi- ção sobre os indivíduos ou inversa-
ando-se principalmente sobre o mente? Ora, foi demonstrado a es-
número ou sobre a variedade dos se respeito que em virtude do efeito
estabelecimentos ou das funções. de g.rupamento, o coeficiente de
Já se pode dizer que os geógrafos correlação dito "ecológico" (corre-
encontram obrigatoriamente dois lação coletiva ou correlação so-
tipos de diferença de escala, pelo bre as unidades coletivas) au-
menos, em suas análises. O primei- menta na medida em que se rea-
ro, bem conhecido (mesmo que não grupam as unidades sobre as quais
tenha sido resolvido) , é o que está ele é calculado. De modo que satis-
ligado ao tamanho da unidade de fazer-se com as correlações lineares
observação considerada. O segundo, entre dados que descrevem unida-
ainda menos estudado, está ligado des coletivas significa fazer um
à escala de generalização dos da- postulado propondo que aquilo que
dos utilizados. é exprimido pelos dados permanece
No entanto, mesmo estando cons- constante (por exemplo, "numa
cientes desses problemas simples, zona qualquer", uma ligação entre
os geógrafos adquiriram, apesar de votos comunistas e proporção de
tudo, o hábito de postular que to- operários, entre propensão ao suicí-
dos os comportamentos que eles dio e nível de conforto ou tipo de
estudam, todas as ocorrências que religião). Em outros termos, signi-
observam, medem e correlacionam, fica dizer que tal comportamento
se manifestam praticamente numa individual não depende nem do jo-
só escala. Está aí, com toda a evi- go das variáveis ditas "contextu-
dência, um postulado falacioso ais", que geram "efeitos do meio",
cujas conseqüências sobre a vali- nem dos efeitos das "variáveis ex-
dade científica e prática do discur- ternas" (Voyé, 1973).
so geográfico são consideráveis. Resta assinalar, contudo, que es-
tas correlações ecológicas ou coleti-
vas podem nos dizer alguma coisa
4 - ESCALAS E de pertinente no que diz respeito às
CORRELAÇÕES unidades territoriais, que possa jus-
tamente ligar-se às propriedades
FALACIOSAS contextuais que explicam as varia-
ções no interior das variáveis cor-
Ainda há outro problema de es- relacionadas. O essencial é mobili-
cala, o das relações entre proprie- zar os métodos adequados que per-
dades coletivas e propriedades in- mitam estimar a importância do
dividuais. Agora se sabe que, desde erro realizado, quando os dados
o começo dos anos 50, as primeiras ecológicos são utilizados para in-
não podem ser reduzidas a uma ferências a respeito de unidades
simples justaposição das segundas individuais (Allardt, 1969). O pro-
(Robinson, 1950; Duncan e Davis, blema é que os geógrafos não os
1953; Boudon, 1963; Riley, 1964; conhecem, ainda que todos tenham
126
a intuição do interesse que haveria rais, deveriam ser fecundas, com-
em selecionar variáveis situando-se binando os dados agregados e os
a diferentes níveis de agregação, dados individuais. Permanece o fa-
nem que fosse como garantia con- to de que, embora permitindo es-
tra o caráter freqüentemente tri- tudar a interação entre estes ní-
vial, arbitrário ou tautológico da veis, a introdução de variáveis per-
definição operacional dos dados e tencentes a sistemas teóricos e es-
das generalizações que eles acredi- calares diferentes, multiplica as
tam poder tirar de suas correlações. possibilidades de interpretação fa-
Isso é confirmado por Holly (1978), laciosa (sofisma "agregativo",
depois de ter analisado com cuida- "atomístico", ilusão sociológica ou
do nossa mais moderna literatura psicológica, conforme o caso) .
disciplinar: não dispomos ainda de Quanto a nós, chegamos à conclu-
uma estrutura conceitual unifica- são de que as diversas fontes de
da que pudesse incorporar tanto as ambigüidade assinaladas acima es-
dimensões espaciais (e também as tão ligadas de fato à confusão ini-
temporais) do comportamento, as cial entre a escala cartográfica de
características contextuais do um lado e a escala geográfica de
meio-ambiente exterior, os objeti- outro.
vos e as motivações dos que tomam
decisões individuais. De qualquer
modo, as relações implicadas no
seio de uma tal estrutura nos são 5 - A ESCALA COMO
ainda desconhecidas. Nós continua- PROCESSO DE
mos, por não compreender as esca- "ESQUECIMENTO
las e por não possuir a linguagem COERENTE"
capaz de apreender as interferên-
cias, a trabalhar dimensão por di- Aliás, não é por acaso que a ne-
mensão, talvez situando cada uma cessidade de um conceito geográ-
dentre elas em sua escala de refe- fico, e não cartográfico, de escala
rência (Villeneuve e Rai, 1975; Vil- se faz sentir hoje em dia: é a con-
leneuve, Polêse e Carlos, 1976), po- seqüência direta da irrupção de
rém inferindo relações de uma pa- uma problemática geográfica espe-
ra outra que talvez sejam falacio- cífica. Entretanto, é estranho que
sas, e muito freqüentemente esque- esta necessidade não se tenha im-
cendo de refletir no fato de que as posto mais rapidamente na medida
coordenadas necessárias à localiza- em que a idéia de escala se impõe
ção dos eventos modificam-se de assim que aparece a necessidade de
acordo com a escala em que os "representar" ou de "representar-
eventos são analisados. se" a realidade dentro da qual es-
Dir-se-ia que teoricamente é al- tamos imersos. Se não recorrêsse-
tamente desejável estudar os "in- mos à noção de escala, seríamos
divíduos" com referência ao con- pura e simplesmente afogados pela
texto coletivo, os indivíduos sendo corrente de percepções que nos as-
caracterizados pelas propriedades saltam ininterruptamente. Nossa
dos grupos aos quais eles perten- ação é comandada pelas informa-
cem ou, inversamente, estudar os ções que a memória estoca. Se esta
"grupos" com referência ao arran- fosse perfeita, teríamos ao nosso
jo interno de seus elementos, os dispor uma quantidade de informa-
segmentos de grupos sendo então ções das quais algumas não seriam
caracterizados pelas propriedades pertinentes, e até mesmo inúteis,
dos membros individuais. Tais aná- no momento de agir. Felizmente,
lises, ditas contextuais ou estrutu- existe o esquecimento: "Assim,

127
uma imagem é uma percepção aquilo que é pertinente em relação
memorizada enfraquecida" (Lu- a uma dada intenção.
pas.c~, 1971) . É verdade que, no
cotidiano, o esquecimento pode
ser incoerente, isto é, coisas per- 6 - A ESCALA COMO
tinentes podem não ser estocadas. MEDIADORA DE
Mas façamos abstração deste fe- UMA INTENÇÃO
nômeno fisiológico e admitamos
que o esquecimento seja coerente.
Ou seja, consideremos que os O geógrafo não está numa situa-
elementos conservados da percep- ção diferente. Ele se encontra sem-
ção original são em número consi- pre tomado pela realidade do mun-
deravelmente inferior àqueles per- do que ele quer tentar descrever e
explicar, isto é, que ele finalmente
cebidos, mas que sendo, no entanto . Consideremos um'
pertinentes, bastam para orienta~ quer comumcar.
uma ação determinada a realizar. conjunto R finito: R(1;2; ..... i; ..
Há portanto uma relação entre . .. n). O objetivo é construir uma
elementos percebidos e elementos representação de R, quer dizer,
efetivamente memorizados e mobi- uma mensagem R' para comunicar
lizáveis num dado momento. Tome- R. A comunicação supõe uma in-
mos um exemplo banal. Suponha- tenç~o •. ou se preferirmos, uma pro-
mos que devêssemos ir à casa de blematiCa da parte do sujeito (o
uma pessoa residente em lugar que geógrafo). Mas o problema do su-
nos seja desconhecido. A pessoa em jeito não é a descrição separada
questão vai nos dar um número dos elementos, uns depois dos ou-
:n:;uito. restrito de. informações, po- tros, mas a descrição dos subcon-
rem JUlgado suficiente para que juntos coerentes pertinentes que
nos permita chegar até ela. Que expliquem R, em relação a uma
faz ela em suma? Recorta do con- ação eventual situada em aval da
co!ll~nicaç~o .. Ou seja, o princípio
junto dos elementos reais um sub- mmimo e ultrmo que orienta o su-
conjunto pertinente que nos é co- jeito é o conceito de correlação que
municado. Se o recorte é coerente podemos reter como pertinentes em
e pertinente, a ação de ir à casa t?dos os empreendimentos geográ-
dessa pessoa será possível e bem ficos. A correlação é sem dúvida o
sucedida. No entanto, em relação no, ,. -
d.a questao de toda '
' a teoria geo-
à realidade, a representação comu- grafiCa, mesmo embrionária. Num
nicada é extraordinariamente po- conjunto composto de elementos
bre e elementar. Isto não impedirá heterogêneos quando tomados u~
uma ação eficaz. Haverá esqueci- a um, o sujeito deve recortar os
mento consciente de uma multidão
de detalhes que descobriremos no subconjuntos que maximizam a
momento do trajeto real. A escolha homogeneidade em relação a sua
de . um. subconjunto é necessária' problemática. É preciso passar do
,. .
pnmeiro porque e Impossível fazer he.terogê~eo ao homogêneo, ou
uma descri~~o exa~stiva e depois seJa, da mformação de fraca pro-
porque. . . e Impossivel memorizar babilidade.
uma tal descrição. , Como o número de subconjuntos
Como primeira aproximação po- e enorme e alguns não têm ne-
de-se, pois, definir a escala como nhum interesse em relação à pro-
uma função do esquecimento coe- blemática, há filtragem para que
rente que permita uma ação bem se ~e~enha somente o pertinente. É
sucedida. A escala aparece desde suf~Iente dizer que toda a apre-
então como um filtro que empobre- ensao da "realidade geográfica"
ce a realidade mas que preserva pelo sujeito geográfico passa por
128
uma problemática intencional
(Figura 1).
• I

REPRESENTAÇAO GRAFICA
,
I Problemática
intenções \
DE UMA METAFORA

Sujeito.-----~---- -Realidade
ATRIBUTOS DA GRANDE ESCALA

Fig. 1 -Informação factual


- Dados individuais ou desagregados
Esta se exprime necessariamen-
te, senão exclusivamente, pela de- -Fenômenos manifestos
terminação de uma escala, pois é - Tendªncia à heterogeneidade
valorizando ou aceitando (limita-
ção dos dados disponíveis, por - Valorização do vivido e do existência!
11
exemplo) uma escolha de escalas •• comunhão
que a problemática determina, pra-
ticamente, os subconjuntos que se-
rão observados. É um recorte no
interior de um combinatório. Esco-
lha de combinações dentro do he-
terogêneo para chegar ao homogê-
neo, passagem do desagregado e
agregado, do vivenciado ao organi-
zado, do manifesto ao latente. Isto
mostra bem que não é mais possí-
j
vel, atualmente, conduzir uma pes-
quisa sem que a escala seja expli-
citamente especificada (Figura 2).

7 - A ESCALA, MEDIADORA
DA AÇÃO
ATRIBUTOS DE PEQUENA ESCALA
Toda tentativa de estudo de um
espaço geográfico qualquer, em
vista de lançar as bases de uma
política ativa de organização (amé- -Informação estruturante
nagement) do território, deveria -Dados agregados
passar por uma tomada de consci- -Fenômenos latentes
ência desta dialética das escalas
geográficas e cartográficas. Todas - Tendência à homogeneidade e ao modelo
as nossas observações, na verdade, -Valorização do organizado e do produ-
levam em conta simultaneamente
as duas escalas que certamente es- tivismo "comunicação"
tão em correspondência (Figura
3A), mas não têm a mesma signifi-
cação para a ação. Poderíamos até
mesmo acrescentar que a mediação

129
2 3 4 5 6 7

• • o • •
2 o o

4

o
• • •
o

5 • • o • •
Fig. 3A. eO centro primacial
Centro de 1°ordem • Centro de 2Q c r de..-.

destas duas escalas é feita através tem já como conseqüência con-


de uma problemática que é, ela pró- trair o espaço, quer dizer, modifi-
pria, sempre sustentada, quer quei- car a escala cartográfica. Mas é ao
ramos ou não, por uma relação de mesmo tempo uma relação de po-
poder que mantemos com o terri- der, pois isto significa que somente
tório e o que ele contém. levamos em conta o conjunto ur-
Para demonstrá-lo, é suficiente bano. Estamos então na lógica "ci-
que construamos um exemplo pu- dade" em oposição à "não-cidade".
ramente geométrico: o de um con- Admitimos o princípio "população
junto de territórios mais ou menos co:r:_cent~ada" em oposição à "popu-
urbanizados segundo um modelo laçao nao-concentrada", negligen-
hierárquico clássico e sobre o qual ciando esta última. No interior des-
desejaríamos aplicar uma política te duplo conjunto, podemos conti-
de aménagement voluntária. nuar a recortar os subconjuntos.
Mas, a partir desse momento, so-
Suponhamos que temos um con- mos obrigados a explicitar uma no-
junto de 19 cidades, repartidas em va, ou mais precisamente, novas
um conjunto de 35 territórios. Ca- problemáticas que vão fornecer os
da cidade, assim como cada territó- instrumentos para este recorte.
rio, pode ser definida por coordena-
das. Como o gráfico constitui uma Suponhamos por exemplo que,
matriz podemos, evidentemente, por razões de organização, adote-
numerar as cidades e os territórios. mos uma estratégia de valorização
O conjunto C (cidades) compreen- de todos os centros urbanos, levan-
de C (1.1;1.2;1.3;1.4; ..... 5.7) do-se em conta, é claro, o seu po-
e o conjunto territorial T(l.1;1.2; tencial e as suas possibilidades, de
maneira que seja maximizada a
.... 2.1; ..... 3.1;4.1; ..... 5.7). A "experiência" das populações das
partir desse nível, a escolha de uma diferentes cidades. Trata-se de uma
problemática determinou uma abs- política que tende a impedir a fu-
tração ou "esquecimento coerente", ga dos centros de 2.a ordem para
uma vez que não se considera a os de 1. a ordem e destes para o
conjunção desses dois conjuntos centro primacial. Trata-se, pois, de
senão através do fenômeno urbano uma estratégia de "descentraliza-
e que se levará em conta somente ção regionalizante" em matéria de
19 territórios em vez dos 35 que população urbana (Figura 3B) .
comporta o conjunto territorial. Conseqüentemente, distribui-se de
Uma pura problemática urbana uma maneira diferencial os recur-

130
2 3 4 5 6 7

Fig. 3 8. Descentrclizcç11o concentrcdc reoionclizcnte.

sos entre os diversos centros de mo- ção organizada" que tende a valo-
do que, em matéria de empregos, rizar somente o centro primacial,
capitais e bens coletivos, não haja porque os recursos são escassos e,
diferenças que estimulem a emigra- por outro lado, considera-se que é
ção. É, evidentemente, uma estra- preciso dar privilégio a um só cen-
tégia que dá aos diversos elementos tro. Neste caso, não se leva mais
do conjunto urbano uma parte su- em conta senão um só elemento
ficiente dos benefícios públicos. Do urbano (1/19) e um só território
ponto de vista da população urba- (1/35). O centro primacial é então
na, isto significa que os detentores o elemento pertinente representa-
de recursos procedem a uma distri- tivo do conjunto urbano. Tudo con-
buição descentralizada que pode verge então para o centro prima-
ser considerada como um meio de cial que constitui o único ponto de
preservar uma estrutura diferen- cristalização e de organização (Fi-
ciada. No fundo, é uma relação de gura 3C). Lidamos com um verda-
poder que é simétrica em relação deiro modelo reduzido do conjunto
à população urbana, pois a finali- urbano, ou seja, com uma "carica-
dade é tentar conservar a rede no tura". É a maximização do organi-
estado. Em relação ao conjunto ur- zado, segundo uma finalidade pro-
bano, podemos admitir que se trata dutivista que implica o crescimento
de uma política em grande escala. mas não leva em conta a noção de
Inversamente, pode-se escolher território, ou se preferirmos, da
uma estratégia dita de "concentra- região definida (Bresso e Raffestin,

2 3 4 5 6 7


2

3 •

5

Fig. 3C. Concentrcçao orocnizcdc

131
1979). É o privilégio dado ao gran- ganização. Trata-se, de alguma ma-
de princípio da hierarquia, à dissi- neira, de uma otimização das duas
metria, à superioridade, à desigual- tendências, não contraditórias em
dade, ao valor de troca, à tempora- si mesmas, mas dialéticas na medi-
lidade, ao custo econômico, à con- da em que se considera uma "des-
centração. O cantão, a província, é centralização concentrada seletiva"
somente uma região, aquela da ci- sobre os pontos fortes da rede (Fi-
dade primacial. Tudo o que é bom gura 3D) aqueles que se mostram
para esta última é bom para "sua" os mais aptos a funcionar como
região. Igualdade, simetria, valor "relés" do desenvolvimento e sobre
de uso, espacialidade, custo social os quais se poderia talvez apoiar
e dispersão são eliminados, porque para tornar operacional um modelo
eles não permitem a realização da que seja ao mesmo tempo equitati-
finalidade produtivista. Esses con- vo e eficaz; é o objetivo, hoje em
ceitos ilustram bem ao contrário dia, de um certo número de pes-
uma finalidade existencial onde o quisas tanto econômicas quanto
vivido sobrepujaria o organizado; geográficas, após uma iniciativa de
a simetria, a assimetria; a regula- Alonso, e que utilizam o conceito
gero, a produção; a grande escala, de effiquity 1 (Gaile, 1977).
a pequena escala, a economia sendo
antes um meio do que uma finali-
dade. 8 - CONCLUSÃO: A ESCALA,
É evidente que no caso da figu- MEDIADORA DOS
ra 3C lidamos verdadeiramente VALORES, DO PODER
com uma representação em peque- E DAS PREOCUPAÇÕES
na escala, tanto do ponto de vista HUMANAS
geográfico quanto do cartográfico.
Mas existe, evidentemente, uma si- Ao final desta análise, diversas
tuação intermediária ou escala ordens de reflexão merecem ser
média que consiste em considerar postas em evidência como portado-
o centro primacial e os seis centros ras de uma promessa de uma possí-
de 1.a ordem. Neste caso, a proble- vel superação das lacunas tradicio-
mática, que não é aquela do justo nais do trabalho geográfico e das
meio termo, consiste em considerar ações voluntárias que podem decor-
ao mesmo tempo a vivência e a or- rer delas.

2 3 4 5 6 7


2

3 •
4

5 •
Fig.3D. Descentralização concentrada seletiva

1 Trata-se de uma expressão inventada pelo autor, (Gaile, 1977) que mistura "eficiência"
com "eqüidade" = "efiqüidade" (nota do tradutor).

132
Ao nível do exemplo dado, das ção, se faz a uma escala que não é
três opções possíveis de organiza- da reprodução das forças produti-
ção ligadas a três escalas de refe- vas. A partir desse momento é for-
rência, diremos simplesmente que çoso constatar que uma contradi-
as variantes apresentadas o foram ção se desenvolve: a reprodução do
a título de modelos. Extremamente aparelho de produção se fazendo a
distanciadas uma da outra, tendo uma escala mundial, transnacio-
cada uma suas vantagens e seus nal, provoca uma tendência a de-
incovenientes, elas deixam espaço
para correções. Têm como objetivo senvolver regiões especializadas,
prático e político atrair a atenção monoatividades ao nível regional.
para os mecanismos que, quer se No sistema, a exigência ao nível das
queira ou não, agem, transformam, forças produtivas será então a de
estruturam ou também desestrutu- ter uma mão-de-obra estritamente
ram. A intenção aqui é de estimu- adaptada e localmente especializa-
lar a reflexão a fim de permitir a da, o que significa, de fato, a eli-
antecipação necessária a uma minação das atividades das forças
eventual ação corretiva, mostran- produtivas. Daí as posições de in-
do que mesmo se as origens das for- satisfação que registramos atual-
ças econômicas que garantem o de- mente. Elas são ligadas à contra-
senvolvimento de um espaço são dição entre o espaço de produção
pouco conhecidas e devessem ser (organização dos espaços restrita-
estudadas mais a fundo sob um mente especializados) e o espaço
ponto de vista econômico, socioló- das forças produtivas (exigência do
gico, psicológico, é claro que uma desenvolvimento da reprodução
ação regional repousa ainda mais ampliada).
sobre a vontade política, de respei-
tar um conjunto de valores e sobre Para voltarmos agora ao traba-
as medidas preparadas do que so- lho do geógrafo no seio destes jogos
bre os dados que se desejaria fos- contraditórios, devemos admitir
sem cientificamente exatos. que mesmo quando tenta se situar
Observamos, em relação a isto, ao nível de uma pura representa-
que a escala se apresenta como me- ção caracterizada por uma ou ou-
diadora entre a intenção e a ação. tra escala em questão, o geógrafo
De fato, nada proíbe que se vá mais não consegue livrar-se do problema
longe ainda nesta reflexão associ- da ação e do poder, que são duas
ando o conceito de escala ao concei- noções que ele integra sem saber e
to de dimensão de um fenômeno e sem querer. A única coisa que ele
utilizando, sempre a respeito da faz está no fato de que, no momen-
problemática de aménagement re- to da representação, ele "atualiza"
gional tomada como exemplo, atra- a relação funcional que mantém
vés da concepção marxista da re- com o duplo conjunto, "potencia-
produção social. Por que as lu- lizando" a relação de poder que
tas regionais? Podemos responder decorrerá da ação que este terá a
(Barrot, 1978) que, durante muito partir de sua representação. Ne-
tempo, houve adequação de dimen- nhuma ação é possível sem sua pré-
via representação e isso é uma
são entre escala de reprodução das constante verdadeira em todo o
forças produtivas e escalas de re- reino animal, dos mais primitivos
produção do aparelho de produção. animais aos mais evoluídos ho-
Com o desenvolvimento do sistema mens. O que distingue suas repre-
capitalista, registramos uma mu- sentações respectivas é conseqüên-
dança da relação entre essas duas cia do domínio da escala. O poder
unidades. O modo de estruturação sobre as coisas depende então de
do espaço, do aparelho de reprodu- uma representação adequada dos

133
conjuntos "de objetos", que cons- Aquele que age realiza uma in-
tituem nosso ambiente. É próprio terseção entre um conjunto de
do homem poder jogar sucessiva- utilidade e um conjunto represen-
mente ou simultaneamente com tado; quer dizer então que ele atua-
várias escalas. Assim, o geógrafo, liza a relação de poder e que poten-
ao propor diversas representações cializa a relação funcional. O do-
para um conjunto dado, diversas mínio das escalas é, portanto, um
caricaturas ou modelos, prepara elemento prévio a toda a ação. É
em suma "planos" para as ações talvez essa a ocasião de convidar
futuras. A escolha de uma repre- os geógrafos a descobrir uma "es-
sentação funcional dependerá da cala das preocupações humanas"
relação de poder que se quer ter, que transcendem as preocupações
levados em conta os recursos dis- técnicas daqueles que somente se
poníveis e os custos que se pode interessam pelas variações das es-
aceitar. calas geográficas em si mesmas.

134
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÃFICAS
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VOYÉ L. 1973 - Sociologie du geste religieux. Bruxelles, Les Editions Vie Ouvriére, p, 57-69.

135
COMENTÁRIO
BIBLIOGRÁFICO

Focalizando
,.,
conce1tuaçoes
.
no urbano
Fany Rachei Davidovich

O fenômeno urbano contem-


porâneo tem suscitado in-
terpretações distintas se-
gundo diferentes correntes de pen-
1 - INTERPRETAÇÕES
POSITIVISTAS DO
URBANO
samento. Não são poucos os estu-
diosos que a ele se referem como O referencial básico será o artigo
questão ainda carente de desenvol- de P. Wheatley The Concept of Ur:..
vimento teórico satisfatório, em banism (1972), o que se justifica
face da complexidade da sociedade de um lado pelo conteúdo erudito e
de nossos dias. Outras áreas de ex- pela crítica que levanta a conceitos
pressão têm procurado teorizar a referentes ao urbano e à urbaniza-
respeito, relacionando o fenômeno ção; justifica-se também pelos as-
em questão ao crescimento econô- pectos importantes que permite in-
mico promovido pelo sistema capi- ferir a respeito da postura positi-
talista. vista e de seu corolário de coloca-
ções empiricistas. As principais
Sem pretender aprofundar o te- observações podem ser assim con-
ma sob a ótica de posições episte- densadas:
mológicas diversas, o comentário
vai se centrar basicamente em al- 1. com respeito a urbano e ur-
guns autores suficientemente re- banização, o referido autor levanta
presentativos para esse fim. Inte- ressalvas quanto à adequação des-
ressa principalmente captar nessas ses termos aos fenômenos que se
interpretações a maneira pela qual propõem a expressar, dada a cono-
são concebidos o urbano, a urbani- tação geralmente insuficiente ou
zação e a cidade. difusa dos conceitos envolvidos.
R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, ~.1): 137-148, jan.jmar. 1983
137
Segundo Wheatley, o urbano tem o fato urbano seja compreendido
sido focalizado em cinco aborda- como processo e não apenas num
gens principais, que nos limitare- estágio do desenvolvimento social.
mos a citar: a do contraste urbano- Contudo é preciso notar que sua
rural; a das teorias ecológicas de idéia de processo se relaciona pri-
desenvolvimento urbano; a do com- mordialmente à de gênese das ci-
plexo de atributos urbanos (trait- dades, no que atribui importância
complex); a das cidades como cen- particular a estudos arqueológicos.
tro de dominação; a expediential, Por sua vez, no tocante à urbani-
que não é propriamente um con- zação, as conceituações são parti-
ceito, mas um expediente operacio- cularmente criticadas pelo seu ca-
nal com vistas a classificações de- ráter difuso. Considera assim que
mográficas. Em síntese, tais abor- ora a urbanização é remetida à
dagens consideram o urbano sob concepção comportamental, que
dois aspectos principais, identifi- implica o ajustamento da popula-
cando-o como modo de vida ou co- ção ao modo de vida urbano; ora é
mo a cidade. remetida à concepção estrutural
A concepção do contraste urba- ou econômica que se detém em si-
no-rural visualiza o urbano parti- tuações nas quais grupos de comu-
cularmente como modo de vida, a nidades dominantemente agríco-
partir de construtos de tipo idea- las vão sendo absorvidos por comu-
lizado (ideal type constructs) que nidades maiores, mais complexas
se referem à dicotomia urbano/ e não agrícolas (está aqui implícita
;rural ou ao continuum rural-ur- a teoria da especialização funcional
bano. Por sua vez as demais abor- que relaciona urbanização à exis-
dagens conceituais identificam o tência de produtores especializados
urbano à cidade, entendida de vá- não agrícolas); ora ainda a urbani-
rias maneiras : seja pela ênfase no zação é remetida à concepção de-
tamanho, forma e densidade, seja mográfica que diz respeito basica-
pela tônica no agregado de deter- mente ao processo de concentração
minadas características urbanas, espacial da população. Vale assina-
seja ainda pelo seu papel como foco lar que, para Wheatley, a urbani-
de relações hierarquizadas de po- zação parece definir-se sobretudo
der. pela expressão numérica, envolven-
do basicamente a relação entre po-
As críticas que o autor levanta a pulação urbana e população total;
essas concepções, embora reconhe-
cendo o valor de cada contribuição, 2. a essas colocações, o men-
dizem respeito principalmente à cionado autor opõe a idéia de ur-
sua deficiência para a formulação banismo, baseada em determinada
do que deveria ser uma teoria espe- concepção de cidade. Com efeito,
cificamente urbana. Refere-se as- para Wheatley a cidade é pensada
sim tanto ao reducionismo de va- como "entidade analítica discreta".
riáveis que fundamentam certas A premissa aí implícita é a de
teorias (a exemplo da de Christal- que o urbano se define por contras-
ler), como à heterogeneidade de te ao rural, a partir de caracterís-
atributos urbanos ou contradições ticas específicas a cada uma das
assumidas em certas interpreta- partes. Essa discriminação se fixa
ções (a exemplo da de Wirth). Re- tanto na dualidade cidade/campo,
fere-se igualmente à necessidade de embasada principalmente na for-
superar teorias parciais e o caráter ma espacial, como na diferenciação
descritivo nelas dominante. Colo- entre padrões culturais, urbanismo
ca-se portanto a favor de uma teo- versus ruralismo, envolvendo mo-
ria abrangente e de um nível mais dos de vida distintos. Para o autor
satisfatório de explanação, em que torna-se pois crucial a necessidade

138
de aprofundar a investigação em- conseguiram levantar, deixando
pírica, a fim de alcançar uma ca- porém de levar em conta que afi-
racterização mais precisa de um a nal essas teorias também podem
outros segmentos, com o uso deva- considerá-la como mero substrato.
riáveis exclusivas. Aliás, a idéia de .É válido portanto supor que tal
individualizar o urbano, destacan- concepção de cidade proceda de sua
do-o de outras categorias ligadas ao imagem como obra urbanística, da-
processo social encontra-se tam- da a relevância que é atribuída ao
bém em autores mais antigos, como contexto urbano em si mesmo. Esse
H. Tisdale (1942), por exemplo, que deveria constituir-se no objeto de
deu particular ênfase à sua expres- investigação por excelência, com
são através da concentração demo- vistas ao desenvolvimento de estu-
gráfica. dos comparativos transculturais
Mas a cidade é também concebi- até então negligenciados, o que se-
da por Wheatley como uma estru- gundo Wheatley representaria o
tura constante que corresponde a cerne de uma teoria urbana.
um "agregado de instituições fun- Elementos positivista-empiricis-
cionalmente inter-relacionadas" e tas das colocações até agora comen-
que implica portanto uma certa tadas podem ser inferidos e suma~
magnitude. Com isto deve ser en- rizados nos seguintes aspectos:
tendido que a combinação de ins- - a existência do urbano, con-
tituições políticas, sociais, econô- siderada como a partir da transfor-
micas, religiosas e outras varia se- mação de sociedades relativamente
gundo culturas diferentes, mas um igualitárias e não hierarquizadas
denominador comum que permeia em sociedades estratificadas, polí-
o tempo e as culturas é justamente tica e territorialmente organiza-
o fenômeno de agregação represen- das. O urbano suposto pois como fe~
tado pela cidade. nômeno em si mesmo, dotado de
O urbanismo assim concebido autonomia;
tem em vista intenções teóricas, fo- - o privilegiamento da análise
calizando a cidade como objeto de formas e funções, enquanto o
passível de comparações culturais. questionamento sobre a natureza
Sem dúvida, a importância de con- do urbanismo é remetido à esfera
siderar tanto os princípios sócio- das especulações filosóficas;
econômicos quanto os culturais é
ressaltada, mas desde que pertinen- - a definição de regularidades
tes à cidade propriamente dita. estruturais capazes de conferir
Deste modo, o mencionado autor uma ordenação à grande variedade
pretende opor-se seja a enfoques da de cidades surgidas há milênios;
cidade como modelo idealizado, se- - a necessidade de ampliar o
ja a análises que a utilizam apenas cabedal de informações específicas
como substrato de um conjunto de sobre a complexidade do ambiente
eventos ou como base para levan- urbano, através de exaustiva in-
tamento de determinados proble- vestigação empírica capaz de con-
mas teóricos. Manifesta-se pois cri- duzir à formulação de conceitos e
ticamente quanto a abordagens de generalizações . específicas da
que fazem uso de variáveis de na- cidade, visando ao desenvolvimento
tureza cultural mas que não são de um corpo teórico considerado
específicas da vida urbana. Assim, ainda insuficiente.
a importância que o autor atribui - a aspiração de estabelecer,
à contribuição das teorias ecológi- através da teorização, termos uni-
cas de desenvolvimento urbano de- versais de comparabilidade e cortes
corre em grande parte da quanti- culturais no sentido horizontal,
dade de dados sobre a cidade que com vistas a objetivos de predição;

139
3. no tocante ao crescimento cidade em si mesma e à irradiação
urbano, este é pensado como con- de valores e práticas urbanas para
tinuum, o que traduz igualmente as áreas circundantes.
uma concepção da postura positi- Tal colocação encontra igual-
vista. Na proposta de Wheatley o mente respaldo na idéia de que o
crescimento é remetido à diversifi- desenvolvimento de cidades é con-
cação de formas e funções que a ci- dição necessária para o crescimen-
dade como estrutura permanente to econômico, envolvendo a corre-
apresenta ao longo da existência do lação entre densidade acentuada
urbano. de lugares centrais de categoria
Para H. Tisdale, já citada, a ur- elevada e países com renda mais
banização reporta-se ao processo alta. Efetivamente, para Friedman,
milenar de aglomeração populacio- a hierarquia de centros urbanos re-
nal que derivaria do próprio instin- presenta a via de efetiva organiza-
to gregário do homem. Neste sen- ção de uma área geográfica em
tido, um continuum poderia ser seus setores econômico, social e po-
reconhecido desde as primeiras co- lítico-administrativo. A noção de
munidades agrícolas sedentárias, "espaço efetivo" emerge assim do
que corresponderiam a um passo papel da cidade na propagação de
inicial da urbanização, até sua cul- instituições urbanas que articulam
minância em Nova Iorque. O fenô- regiões em seu redor, nelas intro-
meno urbano atual é interpretado duzindo modos de pensar e de agir;
como uma dinâmica muito rápida
que alcança escala mundial, ao 4. as interpretações acima co-
contrário do passado, quando se mentadas têm levantado uma série
mostrou esporádico e muito locali- de críticas. Em primeiro lugar, é
zado. Critérios referentes a esse preciso considerar que as concep-
processo, basicamente os de cresci- ções de urbanismo preconizadas
mento e de concentração popula- por Wheatley têm certamente ins-
cional, seriam contudo insuficien- piração em Weber. Com efeito, a
tes para caracterizar a urbaniza- abordagem weberiana do urbano
ção contemporânea, quando então confere importância particular ao
é realçado o papel da tecnologia método comparativo em escala uni-
no aceleramento da aglomeração versal e ao papel dos fenômenos
urbana. culturais como embasamento da
O crescimento urbano é também história. Para tanto, torna-se fun-
interpretado como um continuum damental a identificação de deter-
através de sua articulação com o minadas estruturas que sejam co-
crescimento econômico, o que im- muns às cidades, capazes de sobre-
plica reconhecer uma relação de por-se a contingências de tempo e
causa-efeito, em que a cidade é to- de espaço. Tal procedimento envol-
mada como causa de processos de ve necessariamente níveis excessi-
modernização. Esta é seguramente vos de reducionismo e de abstra-
a posição de Hoselitz (1960), quan- ção, na medida em que seleciona
do estabelece diferenciação entre um número limitado de elementos
cidades generativas, que favorecem similares do contexto urbano e na
o crescimento econômico da região, medida em que transcende as si-
e cidades parasíticas, que, em opo- tuações reais em que se encontram.
sição, são espoliadoras da região. Segundo M. Harloe (1977), o mé-
Aqui também devem ser incluídas todo comparativo assim concebido
as noções de Urbanização I e Urba- conduz a um isolamento de fato-
nização II defendidas por Fried- res de desenvolvimento urbano,
man (1969), correspondendo res- que, subtraídos de seu contexto his-
pectivamente ao crescimento da tórico, se mostram semelhantes

140
apenas na aparência. Níveis de to, com ·base no pensamento de
abstração alcançados se mostram Mingione (1977), "a oposição ru-
meramente formais, bem como teo- ral-urbana" se expressaria, por
rias que se pretendem universais, exemplo, entre cidades em que pre-
enquanto as categorias dissociadas valece o capital de origem fundiá-
das singularidades de suas condi- ria e cidades em que prevalece o
ções históricas nada mais seriam capital industrial. A idéia subja-
do que propostas arbitrárias e com cente é de que a uma e outra fração
significado social precário. É assim do capital, representando diferen-
que, apesar das críticas que levan- tes setores produtivos, correspon-
tou a construtos idealizados de ci- dem diferentes tipos de investimen-
dade, Wheatley, na sua concepção tos e diferentes estruturas econô-
de urbanismo, propôs um modelo micas, sociais, políticas e espaciais.
igualmente idealizado.
Por sua vez, quanto ao apelo de
intensificação da pesquisa empiris- 2 - INTERPRETAÇÕES DO
ta sobre a cidade, um questiona- URBANO EM OUTRAS
mento que se impõe é a respeito de CORRENTES DE
quais seriam os limites de tal inves- PENSAMENTO
tigação ou de quantas observações
se fazem necessárias para compor
uma presumível lei universal. Ais- As observações críticas acima co-
to se soma ainda a dúvida sobre mentadas deixam inegavelmente
ate que ponto os eventos empíricos transparecer interpretações diver-
assim detectados estariam de fato sas do urbano. Referência parti-
retratando ou, ao contrário, distor- cular deve ser conferida ao posi-
cendo as estruturas subjacentes cionamento de Castells (1971) com
(Urry, J., 1981). respeito à questão urbana. Preo-
Já com respeito à postura con- cupado em discutir o status de ci-
cernente à dualidade urbano-rural, ência na sociologia urbana, o autor
Pickvance (1976), por exemplo, as- aponta a importância de discrimi-
sinala que, ela deixa de ter expres- nar o que é ideológico do que é ci-
são na moderna sociedade indus- entífico nesse campo do conheci-
trial, visto que representa partes mento.
estruturalmente complementares. A problemática em pauta, tal
Por sua vez, Lefébvre (1972, 1976) como comentada por Pickvance, le-
argumenta que a produção agrária va a cingir a designação de ciência
abdicou de características específi- a determinado tipo de conhecimen-
cas a partir do momento em que to, aquele capaz de envolver um
passou a ser um setor da produção objeto científico, compreendido co-
industrial. Isto não impede reco- mo uma relação dialética objeto
nhecer que agricultura e indústria teórico objeto real. Tal definição
apresentam problemas próprios e implica a idéia de que o conheci-
que um contraste do campo com mento teórico deve resultar da
relação à cidade pode manifestar- ação de conceitos teóricos sobre o
se numa diferenciação entre níveis objeto real, conceitos esses funda-
de desenvolvimento, particular- mentados no materialismo históri-
mente nos países de economia mais co. É assim que se alcança a noção
atrasada. de objeto cientificamente construí-
Aqui se poderia porém adiantar do, em oposição à postura empiris-
a hipótese de que uma "contradi- ta, que preconiza a abstração a
ção urbano-rural" tem possibilida- partir da realidade percebida, en-
de de ser identificada no contexto volvendo a ação de um pensamen-
do próprio sistema urbano. De fa- to subjetivo sobre o objeto real.

141
Sob tal enfoque, Castells levan- o que não exclui o interesse de ana-
ta a discussão sobre se a sociologia lisá-lo como elemento material em
urbana apresenta efetivamente re- contato com outros aspectos da
quisitos científicos que correspon- sociedade. Neste sentido, a expres-
dessem, no caso, à relação objeto são estrutura espacial, tomada co-
teórico urbano - objeto urbano mo equivalente a sistema urbano,
real. Sem pretender esmiuçar o reveste-se apenas de caráter des-
complexo pensamento do autor, critivo, expressando a maneira pela
que tem merecido ampla atenção qual "elementos básicos da estru-
entre estudiosos do assunto, pare- tura social se articulam espacial-
ce suficiente apontar para proble- mente".
mas que levantou e que tocam mais Com tais colocações, Castells
de perto ao tema aqui tratado: contraria a idéia de um objeto teó-
rico urbano, questionando assim a
1. a denúncia do urbano como viabilidade científica de uma so-
ideologia, embasada seja em inter- ciologia urbana desprovida de um
pretações sociológicas que atribu- objeto teórico específico. Segundo
em o contraste urbano-rural a uma o autor, a falta de um objeto teóri-
especificidade cultural do urbano co específico nesse campo do co-
referida ao padrão de vida moder- nhecimento pode ser atestada pela
no-industrial do ocidente, seja em própria dispersão de temas a que se
interpretações que consideram essa tem dedicado a pesquisa na socio-
modernidade como produto de uma logia urbana tradicional, a exem-
forma espacial, a cidade, tornada plo da urbanização associada à or-
em explicação de si mesma. Segun- ganização espacial, a aculturação
do cãstells, o conteúdo ideológico de migrantes, o complexo ecológico
do urbano reside no fato de que en- e outros. O que se observa é que fe-
volve uma "falsa explanação da na- nômenos sociais quase sempre do-
tureza e causas de padrões cultu- tados de objetos teóricos reais e
rais". O que importa é detectar específicos são designados de ur-
problemas urbanos e regionais, 9-ue banos unicamente por serem estu-
derivam, na verdade, de conflitos dados freqüentemente nas cidades,
mais fundamentais, relacionados a sem terem nada a ver com um ob-
crescimento econômico, a desenvol- jeto teórico urbano propriamente
vimento social, a controle político. dito.
A ideologia do urbano estaria mas- Contudo, a despeito de negar ao
carando o que é essencial, isto é, o espaço um status teórico, Castells
capital e sua ação totalizante, não preocupou-se em recuperá-lo corno
tendo pois expressão em qualquer realidade objetiva, colocando-se
campo da realidade. Perdem assim
significado os dualismos urbano- contrata.
concepções de base idealis-
Opôs-se deste modo à aborda-
rural, rnoderno-tradic;tonal, e ou- gem do espaço através de constru-
tros, já que nada mais seriam do tos, que nada mais seriam do que
que interpretações meramente for- formulações subjetivas aplicadas
mais de estruturas integradas, di- ao real.
ferenciadas apenas na aparência;
A reação às posições de Castells
2. a negação do espaço corno se define em parte no assumir o
dimensão social, reconhecido ape- espaço urbano como objeto teórico
nas corno dimensão física. É assim e não apenas como objeto real, con-
que a forma espacial só ganh~ sig- siderando a relação objeto teórico
nificância enquanto expressao de objeto real.
"certa eficácia da atividade social". Para certos autores, a identifica-
Para Castells, o espaço é um objeto ção do espaço urbano como objeto
real, mas nunca um objeto teórico, teórico refere-se ao mesmo corno

142
produto da moderna sociedade ca- bos tem na sociedade uma origem
pitalista industrial. Segundo Pi- comum. Tal enfoque pretende de
ckvance, por exemplo, a comuni- um lado superar a idéia de um fe-
dade, na medida que corresponde tichismo do espaço, denunciado co-
à coincidência entre uma unidade mo forma de mascaramento de
espacial e um sistema social, seria conflitos sociais. Por outro lado, o
um produto dessa sociedade e, co- reconhecimento da dimensão social
mo tal, um objeto teórico válido. do espaço em termos do par objeto
Opõe-se assim duplamente a Cas- teórico objeto real não deve ser
tells: seja com respeito à conota- simplesmente interpretado como a
ção teórica do espaço, seja com res- espacialidade inerente a qualquer
peito à adoção da comunidade co- fenômeno. Em outras palavras, tra-
mo referencial, que para aquele ta-se de investigar as implicações
autor não tem igual significado so- sociais do espaço de maneira explí-
ciológico. cita.
Já a construção teórica de Loj- Sem dúvida é a H. Lefebvre que
kine (1977) ou de Harvey (1978) cabe uma contribuição particular
se pauta, cada qual à sua maneira, e por que não dizer apaixonada
na interpretação do papel do es- com respeito ao papel crucial do
paço urbano no desenvolvimento do espaço na própria manutenção do
capitalismo. A grande cidade da sistema capitalista.
sociedade contemporânea ociden- De fato, para esse autor os meios
tal não é portanto reificada como seguros de sobrevivência do capita-
se fora um objeto isolado ou au- lismo, desde sua fase concorrencial
tônomo, mas desempenha uma até o período monopolista de nossos
função necessária nessa sociedade, dias estão "na ocupação do espaço
integrada que é à totalidade da e na produção de um espaço". É
formação social. É assim que Loj- através de tal processo que o capi-
kine dá ênfase particular à impor- tal consegue atenuar suas contra-
tância da concentração urbana pa- dições internas e assegurar sua
ra as condições gerais da produção, existência. Esse papel é desempe-
na medida em que atende à neces- nhado pelo espaço urbanizado, que
sidade de socialização dos meios de é o espaço social por excelência, na
produção, na medida em que favo- medida aue se constitui numa base
rece a circulação e que propicia materia( de reprodução ampliada
condições para a reprodução da das estruturas sociais do capitalis-
força de trabalho, através do de- mo.
senvolvimento dos meios de con-
sumo coletivos. Harvey, na análise Enquanto a ocupação do espaço
que faz da cidade capitalista con- se define pela progressiva conquis-
temporânea, recupera a noção de ta de segmentos da superfície ter-
meio ambiente construído, salien- restre, o conceito de produção do
tando seu papel como capital fixo espaço é mais refinado. De fato, pa-
na dinâmica da valorização I desva- ra Lefebvre, isto não significa assu-
lorização do capital. mi-lo simplesmente como produto.
Tais estudos orientam-se portan- Trata-se muito mais de compreen-
to para a compreensão da integra- dê-lo como espaço produzido segun-
ção do espaço urbano na teoria so- do as regras da engrenagem indus-
cial, interpretando-o segundo di- trial que o transformam em mer-
ferentes papéis que desempenha cadoria, nele introduzindo um va-
nas sociedades contemporâneas. É lor de troca. Esse espaço é portanto
neste sentido que Soja (1980), por uma realidade concreta do sistema
exemplo, assinala que o social e o capitalista, enquanto meio de acu-
espacial são homólogos, isto é, am- mulação, e meio de circulação da

143
mercadoria, do dinheiro e do capi- de transformação, cada qual ca-
tal. racterizada pela prevalência de
A sobrevivência do sistema tor- determinadas relações sociais:
nou-se assim subordinada a uma 1. a cidade política, que se con-
ocupação progressiva do espaço, cretiza com a organização social da
efetivada através de "um consumo vida urbana, mas tão-somente em
burocraticamente controlado, atra- meio a civilizações eminentemente
vés da diferenciação entre centros agrárias. A cidade se torna expres-
e periferias, através da penetração são da ordem e do poder, estenden-
crescente do Estado na vida coti- do sua influência a amplos terri-
diana". É a estrutura das relações tórios, através da ação administra-
de produção que determina a re- tiva e fiscalizadora e da exploração
partição de lugares e de funções, de recursos;
diversificadas ou especializadas.
Deste modo, o sistema espacial se 2. a cidade comercial, que se de-
torna socialmente necessário, ad- senvolve à medida do fortalecimen-
quirindo um valor de uso específi- to do mercado, impondo-se como
co que afeta as próprias condições lugar de contatos e de trocas. O in-
gerais da produção, na medida tercâmbio comercial passa a ser a
em que articula processos de pro- função urbana por excelência, en-
dução, circulação e consumo. Sob quanto se elabora nova estrutura-
tal ótica é que se reconhece uma ção do espaço urbano. Essa cidade
convergência entre sistema urbano não resiste porém por muito tem-
e sistema espacial. po à proeminência da cidade indus-
trial, dada a supremacia que o ad-
vento do capital industrial passa a
3 - CONSIDERAÇÕES A ter sobre o capital mercantil;
RESPEITO DOS 3. a cidade da indústria vem si-
CONCEITOS gnificar a ruptura da imagem ur-
ENUNCIADOS bana anterior. Na medida em que
a indústria se torna cada vez mais
independente de localizações espe-
Seguindo o pensamento de Le- cíficas e se fixa nos grandes cen-
fêbvre, o "urbano" pode ser consi- tros do capital, do mercado e da
derado um fenômeno em movimen- mão-de-obra, gera-se uma nova for-
to, que envolve profundas transfor- ma espacial e uma nova estrutura
mações históricas e que é sustenta- que corresponde a novas relações
do pelas suas contínuas contradi- sociais;
ções. Mostra-se assim mais adequa- 4. uma chamada zona crítica,
do como objeto de estudo do que a que resultaria da superação da era
cidade, na medida em que se pre- industrial e que mostraria contor-
tende um conhecimento dinâmico, nos confusos e pouco definidos,
que se elabora acompanhando o precedendo o advento da sociedade
processo urbano geral e sua prá- urbana propriamente dita.
xis, enquanto a cidade figura para
este fim como objeto de certo mo- Lefêbvre faz, portanto, distinção
do rígido, ao ser definitivo e histo- entre a expansão urbana vincula-
ricamente definido. da à indústria e a sociedade pro-
As idéias do autor em questão fo- priamente urbana, imaginada co-
ram ilustradas através de um es- mo um vir a ser. Define-se assim
quema de formas básicas de cida- como objeto futuro e ainda não
des ao longo de um eixo espaço- consumado, que envolve contudo
temporal que se estende de um um processo e uma prática social,
ponto de origem a um ponto crítico a prática urbana.

144
O interesse central da pesquisa tros urbanos que representam so-
deveria então voltar-se para as re- bretudo empórios comerciais. Claro
lações que articulam situações da está que não se trata de formas pu-
sociedade atual com as da socieda- ras de cidades, já que todas elas se
de que vai se desenvolver, ainda acham sob o domínio da produção
que esta seja concebida como uma capitalista industrial. Por sua vez,
hipótese. A premissa aí implícita é é particularmente nas áreas metro-
de que o objeto não precisa cingir- politanas que se dá a conjugação
se ao empírico imediatamente ve- da cidade política, da cidade co-
rificável, ele pode ser um objeto mercial e da cidade da indústria.
possível ou virtual e nem por isso Mais uma palavra sobre o tema
deixa de ter validade científica. em questão faz recorrer novamente
A seqüência de formas de cidades a Lefêbvre, na medida em que se
apontada no esquema de Lefêbvre tem em vista compreender um ur-
não significa porém uma simples bano que não resulta apenas de de-
continuidade histórica ou uma sim- terminações econômicas. Ao con-
ples evolução linear. Na verdade, a trário de Castells, que radicalizou a
passagem de uma para outra não crítica a defensores de mitos e ideo-
se fez sem crises e rupturas: a ci- logias "por suas atitudes pouco ci-
dade política apresentou diferentes entíficas", aquele pensador não re-
reações à penetração crescente do jeita a idéia de uma cultura urba-
comércio e ao risco que a proprie- na, transcendendo, assim, reducio-
dade móvel, dinheiro e mercadoria, nismos economicistas. Neste senti-
envolvia contra a propriedade imó- do, Lefêbvre chega a ser tachado
vel, seu sustentáculo. A cidade co- de ideológico, ao defender o "urba-
mercial, por sua vez, ergueu tam- nita integral" como agente de uma
bém barreiras ao capital indus- nova sociedade sem precedente na
trial, através de vários recursos, história.
entre os quais o corporativismo. É Considera-se assim que urbani-
nesta fase que o setor agrário co- zação e cidade se inserem no mo-
meça a infletir para o urbano, en- vimento do urbano, a primeira
quanto a submissão completa se compreendida como um processo
verifica na passagem da cidade in- específico e a segunda como for-
dustrial para a zona crítica, quan- ma/conteúdo pertinente à cada fa-
do tem lugar o que Lefêbvre deno- se do urbano. A "urbanização"
mina de "implosão-explosão", isto pode ser concebida como expressão
é, a concentração e a dispersão do de um fenômeno multidimensional,
urbano. intimamente associado ao desen-
Cabe ainda considerar que a volvimento das forças produtivas,
passagem de uma forma de cidade desencadeadas pela revolução in-
para outra não implica necessaria- dustrial. Relaciona-se, assim, às
mente dissolução. Ao contrário, profundas e rápidas mudanças que
sua sobrevivência pode manifestar- se manifestam em diversas estru-
se, seja no interior de cada uma turas- econômica, social, político-
delas, seja pela coexistência de for- institucional, cultural e espacial
mas distintas no território nacio- -, a partir aproximadamente dos
nal em dado momento histórico. últimos duzentos anos.
Tomando o Brasil como exemplo, A urbanização opõe-se drastica-
pode-se apontar a sincronização de mente, portanto, ao urbano de sis-
aglomerações metropolitanas, ex- temas de produção precedentes, ba-
pressando a cidade da indústria ou seados em economia agrária. Com
da urbanização, a nosso ver, com respeito à vinculação entre urba-
capitais estaduais que são antes de nização e desenvolvimento econô-
tudo cidades políticas e com cen- mico, as opiniões se dividem. Para

145
certos autores, essa vinculação não sentido, pessoas, idéias, atividades
é tão evidente, já que o crescimento e recursos variados se apresentam
urbano nem sempre está ligado à fortemente concentrados; em ou-
indústria, esta, sim, indissoluvel- tro sentido, assiste-se à dispersão
mente associada à expansão econô- de segmentos periiéricos do tipo
mica. Outros, a exemplo de Mingio- núcleos satélites, residências se-
ne, reconhecem a urbanização sem cundárias, envolvendo a dissolução
industrialização como parte inte- do quadro rural preexistente com
grante da urbanização com indus- eixos viários, a grande indústria, o
trialização. Ela se expressa na dife- moderno estabelecimento comer-
renciação regional e contribui pa- cial. O espaço detém assim impor-
ra a manutenção de um status quo, tante papel na urbanização da so-
dada a tensão inerente à acumula- ciedade.
ção do capital - a do desenvolvi- Compreende-se deste modo aue a
mento/subdesenvolvimento -, que "cidaae" apresenta conotação- dis-
contraria as tendências à mudan- tinta da urbanização, na medida
ça, referindo-se tanto à relação en- em que envolve um fenômeno his-
tre blocos distintos de países, quan- tórico que remonta a cinco mil
to à relação entre diferentes fra- anos, segundo uns, ou a dez mil
ções de um espaço nacional. anos, segundo outros. A idéia da
Nesse processo específico do ca- cidade como categoria geral esta-
pitalismo, o espaço representa um ria aliás embutida, ainda que de
elemento crucial para a própria so- maneira difusa, em alguns dos tra-
brevivência do capital. Como se viu balhos aqui citados.
anteriormente nãs colocações de Para H. Tisdale, por exemplo, o
Lefêbvre, a ocupação progressiva termo usado é urbanização, conce-
do espaço e a produção de um es- bida como fenômeno único que
paço social - o espaço urbanizado permeia ·diferentes civilizações e
por excelência - , constituem-se cuja sustentação se faz através de
em meios seguros para o cresci- pontos resultantes de processos de
mento econômico. concentração: as cidades. É igual-
Assim é que a cidade da burgue- mente nesse sentido que Redfield
sia conquistou o domínio de um e Singer (1954) admitem que "a
território nacional forjado pela história da civilização pode ser
economia de mercado, através de conta da como a história das cida-
uma hierarquia de centros, impon- des". Por seu turno, as colocações
do-se como foco do poder político, de Wheatley envolvem também a
econômico e cultural. A rede de lu- preocupação de reconhecer nos as-
gares centrais que por vezes se su- pectos institucionais funcional-
perpôs a pequenas localidades de mente inter-relacionados os atribu-
mercado pré-existentes veio corres- tos urbanos capazes de transcender
ponder ao espaço social do capita- o tempo.
lismo concorrencial (Corrêa, 1982). Essas posturas confundem cida-
No capitalismo monopolista, a de e urbanização ou urbanismo,
produção de um espaço urbano-in- . conforme o dizer de Wheatley, co-
dustrial tornou-se a estrutura ca- mo um mesmo fenômeno. A difi-
racterística da urbanização, enten- culdade de conceber cidade e urba-
dida como estratégia de reprodução n~zação como conceitos distintos se
do capital, seja em países centrais, faz igualmente presente em pro-
seja em países periféricos. Essa es- postas que interpretam a urbani-
trutura compreende novas formas zação como resultante da atuação
urbanas. Ao se romperem os limi- da cidade em si mesma: cabe men-
tes da cidade tradicional, um "te- cionar as do tipo urbanização pri-
cido urbano" ganha extensão: num mária e urbanização secundária,

146
cidades ortogenéticas e heterogené- nal, resultam na ruptura de uma
ticas, embasadas em diferentes for- forma, a cidade". Para Lefêbvre,
mas de atuação cultural das cida- essa ruptura implica a anticidade,
des. que se opõe à realidade urbana an-
A possibilidade de atribuir à ci- terior, não só pela perda da forma,
dade uma abstração conceitual como pela perda "da totalidade or-
que lhe confira um caráter univer- gânica, do sentimento de perten-
sal encontra muito mais razão de cer, da imagem exaltadora, do es-
ser quando pensada como espaço paço dominado por esplendores
de concentração e reprodução das monumentais". Contudo, pode-se
relações sociais dominantes de pro- pensar que se a nova realidade ur-
dução em cada período histórico. bana se constitui igualmente em
suporte de processos produtivos e
No capitalismo avançado, de acor- de reprodução social, ela mesma
do com Castells, "a formação da como força produtiva, parece válido
mercadoria como base do sistema concebê-la também como "cidade",
econômico, a divisão técnica e so- a cidade da economia industrial.
cial do trabalho, a diversificação Com os elementos aqui apresenta-
de interesses econômicos e sociais dos espera-se contribuir para re-
sobre um espaço mais vasto, a ho- flexões em torno da problematiza-
mogeneidade do sistema institucio- ção do urbano.

147
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148
TIPOS E ASPECTOS
DO BRASIL

Dunas litorâneas
Barboza Leite
DEDIL/CEDIT/IBGE

Aspecto dos mais curiosos da fai- Acaraú-CE, que ficou oculta du-
xa litorânea brasileira, a formação rante várias décadas, até que, no-
de dunas oferece um espetáculo vamente o vento transferisse a
que se verifica, maiormente, no li- areia que sobre ela se acumulara.
toral nordestino, e nos Estados do Com extensas plantações de co-
Rio de Janeiro e Santa Catarina. queiros situados na orla da praia,
De consistências diferentes, as também o mesmo fenômeno acon-
dunas se classificam conforme a tece, a areia afogando os troncos e
acumulação dos grãos de quartzo atingindo as copas até que só res-
que indicam a origem eólica, fluvial tem algumas palmas coroando os
ou marinha, ocupando posições sínuosos movimentos que o vento
geográficas que as distinguem em traça e retraça, criando contornos
dunas marítimas e dunas conti- bizarros no material fofo e desli-
nentais, estas localizadas no hin- zante dos grãos de quartzo.
terland e as dunas marítimas, ou As dunas móveis, ou vivas, são
litorâneas, como o próprio termo extensas à barlavento, apresentan-
indica, ao longo dos patamares que do quedas abruptas à sotavento; já
bordejam as águas atlânticas. as dunas fixas, com declividade
A formação das dunas se ressen- mais acentuada, indicam uma es-
te da falta de linhas de diretrizes tratificação que estabiliza ou re-
do relevo, o que permite ao vento tém a vocação migratória dos
deslocá-las em vários sentidos, até quartzos soltos, inclusive pela in-
que encontrem qualquer acidente terferência de culturas arbustivas
que se anteponha à marcha cons- que nelas se instalem.
tante da areia tangida pelo vento. Do noroeste ao sudeste do litoral
Quando isso acontece, a acumula- cearense, inúmeras dessas forma-
ção se processa gradativamente ções singularizam paisagens que
até que o obstáculo seja submerso . atraem a curiosidade, assim como
.É o que tem se verificado com al- ocorre a partir de Bitupitá, atin-
deias de pescadores, e como acon- gindo Tatajuba e o promontório de
teceu com uma igreja na região do Gericoacoara, extensão por onde
~(1):
R. bras. Geogr., Rio de Janeiro, 149-151, jan./mar. 1983 149
deságuam os rios Coreaú, Acaraú la impulsão dos ventos, o inquieto
e Aracati-Mirim. O cordão arenoso relevo das dunas que se deslocam
e de formações irregulares, vezes lentamente até atingirem obstá-
mais próximo e vezes mais afasta- culos que as retenham, e onde se
do do oceano, prossegue dali em estratificam permitindo, em conse-
diante, numa inflexão quase reta qüência, a eclosão de cactáceas e
até Mucuripe, em Fortaleza, indo outras vegetações rasteiras, ou de
atingir Majorlândia, abaixo de Ca- pequeno porte, nos alvos patama-
noa Quebrada, onde deságua o Ja- res que emolduram as praias nor-
guaribe; sempre apresentando, pe- destinas.

150

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