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Nome: Diego Costa Farias

Matrícula: 508261

ANÁLISE LITERÁRIA DO POEMA “ELEGIA 1938”

O poema “Elegia 1938” faz parte da obra “Sentimento do Mundo”, livro profundo que
traz poemas que retratam a realidade nua e crua, mas com doçura e serenidade que só Carlos
Drummond de Andrade sabia fazer. Drummond critica a mecanização do homem e a falta de
sentido da vida. O poema “Elegia 1938” tem caráter fúnebre, sombrio, e a tristeza é percebida
ao longo de seus versos, tal fato está de acordo com a época em que Drummond de Andrade
escreveu-o. O final da década de 1930 é marcado pelo endurecimento do regime de Getúlio
Vargas, conhecido como Estado Novo, e pela ascensão dos regimes totalitários Nazismo e
Fascismo, na Alemanha e na Itália, respectivamente.

A leitura do poema remete a um indivíduo alienado e pessimista, um indivíduo


acuado. O poema começa com “Trabalhas” é percebido que o autor fala diretamente à quem
lê o poema, independente da época, por isso é um texto muito atual.

“Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,


onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.”

Nos primeiros versos, Drummond atribui uma mecanicidade, gestos comuns a um


homem comum. Tais gestos, não produzem ao eu poético nenhuma satisfação ou desejo.
Além disso, o autor problematiza a questão do trabalho e sua desumana regime de horas, que,
mesmo exercendo uma mão de obra, ainda lhe faltam coisas básicas, ali Drummond já
problematiza a vida da classe trabalhadora no mundo capitalista. Algo semelhante é feito no
filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, que denuncia a mecanização do trabalho e a
alienação da classe trabalhadora.

“Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,


e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.”

O poema tem caráter social, aqui Drummond faz uma alusão, e também uma crítica,
aos autointitulados “heróis” que vez ou outra surgem na nossa história com bravatas
autoritárias e discursos prontos, muitas vezes populistas, em busca de apoio para alcançarem
e se manterem no poder. O “guarda chuvas de bronze” nos induz a pensar no militarismo
desses heróis, que recorrem à “sinistras bibliotecas” que nos faz pensar em escritos sombrios
e retrógrados que inspiraram figuras como Adolf Hitler e Benito Mussolini. Aqui, o autor faz
uma crítica a um momento sombrio e tenebroso que o Brasil e a Europa passavam, momentos
de repressão e coerção de direitos e liberdades.

“Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra


e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.”
Na continuidade do poema, o autor enfatiza a alienação do indivíduo, que dorme para
fugir dos seus problemas e dos dilemas da vida (dilemas esses já retratados pelo autor, fome,
frio, desejos não saciados etc), contudo, Drummond, faz um contraponto e diz que essa
alienação é passageira, dura apenas uma noite, pois logo pela manhã o trabalhador enfrenta
seus problemas crônicos. Aqui, Carlos Drummond de Andrade, faz uma crítica ao sistema
capitalista, retratado como “Grande Máquina” que reduz o trabalhador perante os dilemas da
vida.

“Caminhas entre mortos e com eles conversas


sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.”

Aqui, apesar de enfatizar a pequenez do indivíduo e sua mediocridade, é percebido


que o autor tenta mostrar que o indivíduo está inquieto com essa situação. Aqui retratado
como “mortos”, os pares do eu poético o ouvem falar sobre um futuro diferente, talvez um
futuro dos livros, da literatura, já que ele perdeu muito tempo lendo que até estragou
possíveis amores. Aqui, Carlos Drummond de Andrade coloca um paradoxo desse indivíduo,
apesar de ser alienado com essa sociedade capitalista, o mesmo é inquieto e busca na
literatura um futuro diferente e busca angariar adeptos dessa nova filosofia, mesmo que
muitos já estejam “mortos”.

“Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota


e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.”

O desfecho do poema apresenta de forma clara e incisiva a ideologia comunista do


autor. Nesse ideário, a felicidade é de todos e ela tem que ser alcançada, mesmo que seja só
no próximo século. Além disso, o indivíduo está conformado a passar todas as dificuldades
impostas pelo sistema capitalista, pois o mesmo sabe que a revolução socialista só poderia ser
realizada em conjunto e não sozinho. O autor termina em rota de colisão com o sistema
capitalista quando expressa sua vontade de “dinamitar a ilha de Manhattan”, coração do
sistema financeiro, localizado nos Estados Unidos da América.

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