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Instituto Superior de Engenharia de Lisboa

Área Departamental de Engenharia Mecânica


Projeto Mecânico
2021/2022 - SI

Fadiga e Fratura: Aplicação do Eurocódigo 3 Parte 1- 10

Explosão de turbina em pleno voo abordo de um Boeing 777 em Fevereiro de 2021

Cortesia de : https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56154854

Docente: Professor João Travassos

Aluno: José Magalhães, nº 46149, Turma 61N

27 de outubro de 2021
ISEL-DEM-LEM Fratura e Fadiga: Aplicação do Eurocódigo 3

1. Intodução
A fratura de componentes devido à fadiga é a causa mais comum de falha de serviço,
particularmente em poços, eixos, asas de aviões, etc., onde o stress cíclico está a ter lugar.

Com carga estática de um material dúctil, o fluxo de plástico precede a fratura final, o pescoço
do provete e a superfície fraturada revela uma estrutura fibrosa, mas com fadiga, a fenda é
iniciada de pontos de elevada concentração de tensão na superfície do componente, tais como
alterações na secção transversal, inclusões de escória, marcas de ferramentas, etc.

Depois espalha-se ou propaga-se sob a influência dos ciclos de carga até atingir uma dimensão
crítica quando se produz uma fratura rápida da secção transversal restante.

A superfície de um componente típico de fadiga falha mostra três áreas, o pequeno ponto de
iniciação e depois, espalhando-se a partir deste ponto, uma área concordante contendo linhas
paralelas entre si, denominadas por "linhas de detenção" e, finalmente, a área cristalina de
rutura onde se dá a fratura do provete.

As falhas de fadiga podem e ocorrem frequentemente em condições de carga em forma de


ciclos, ou seja, a peça é solicitada ciclicamente ao longo de um instante de tempo. A tensão
está abaixo da tensão limite e, em alguns materiais, mesmo abaixo do limite elástico.

Devido à sua importância, o assunto foi amplamente investigado durante os últimos cem anos,
mas ainda hoje existem acidentes em que a fadiga é um principal fator contribuinte.

2. Curvas S/N
Os testes de fadiga são geralmente realizados em condições de rotação - flexão e com uma
tensão média zero como obtida por meio de uma máquina Wohler.

A partir da Fig. 1, pode-se ver que a superfície superior da amostra (provete), suportada na
máquina, está em tensão, enquanto que a superfície inferior está em compressão. À medida que
a amostra gira, a superfície superior desloca-se para a inferior e, por conseguinte, cada
segmento da superfície passa continuamente de tensão para compressão produzindo uma curva
de ciclo de tensão, como pode ser mostrado na figura 1 abaixo.

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Figura 1 - Máquina de Wohler - ensaio quanto à resistência à fadiga

A fim de compreender certos termos de uso comum, consideremos uma curva de ciclo de tensão
onde existe uma tensão média de tração positiva como pode ser obtida utilizando outros tipos

Figura 3 - Curva de Sinusoidal de tensão de Fadiga

Figura 2 - Ciclo de tensão produzindo tensão média

de máquinas de fadiga, tais como uma máquina Haigh "push-pull".

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Os dados que são tirados da curva de tensão cíclica apresentada acima pode ser obtida através
das seguintes expressões:

Amplitude de Tensões:

Tensão média:

Amplitude de tensões alternadas:

Caso o valor da tensão média não seja zero, é possível usar a expressão de “Rácio de Tensões”,
𝑅𝑠 onde é feita a relação entre a tensão máxima e a tensão mínima:

O método mais usual de apresentação de resultados dos testes feitos à fadiga de um provete é
através da criação de um gráfico que relacione a amplitude de tensões com o número de ciclos
até à falha. A reta resultante da relação entre estes dois dados dá origem à “Curva S/N”.

Figura 4 - Curva S/N de fadiga típica

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Através da utilização da “Curva S/N” pode ser vantajoso para expressar a relação entre 𝜎𝑎 e
𝑁𝑓 , o número de ciclos até à falha. As utilizações de várias relações empíricas foram propostas,
no entanto, a tensão aplicada não produz deformação plástica, logo a relação mais usada é:

Onde:
a = constante que varia entre os valores 8 e 15
K = constante que depende do material em estudo
A partir da “Curva S/N” a tensão limite de fadiga pode ser verificada. A tensão limite de fadiga
é o estado de tensão abaixo da tensão limite onde o material pode suportar um infinito número
de ciclos antes da falha. Amostras de metais ferrosos produzem na sua maioria curvas S/N
limites de fadiga onde podem ser verificados na figura 5 abaixo. A tensão limite de fadiga é o
estado de tensão onde uma amostra tem uma resistência à fadiga de N ciclos.

Figura 5 - Tensão limite de fadiga (a) e Resistência à fadiga (b) numa curva S/N

Tendo em conta o formato da curva S/N dos materiais não ferrosos, estes têm sempre de ser
projetados para temos de vida finitos.

Outro facto importante a assinalar é que os resultados das experiências de laboratório utilizando
a planície, peças de teste polidas não podem ser aplicadas diretamente em estruturas e
componentes sem modificação dos valores intrínsecos obtidos.

Terão de ser tomadas em consideração muitas diferenças entre a componente no seu ambiente
de trabalho e no teste laboratorial, como o acabamento superficial, tamanho, tipo de carga e
efeito das concentrações de stress. Estes fatores irão reduzir assim o valor intrínseco (isto é,
amostra simples) da resistência à fadiga:

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Onde 𝜎′𝑁 é a “resistência à fadiga modificada”, 𝜎𝑁 é o valor intrínseco, 𝐾𝑓 é o fator de redução


de resistência à fadiga e 𝐶𝑎 , 𝐶𝑏 e 𝐶𝑐 são fatores de tamanho, acabamento de superfície, tipo
de carregamento, ou seja, fatores de correção referentes às condições de serviço.

3. Curvas P/S/N
A vida à fadiga de um dado componente é muito imprevisível, podendo dois componentes idênticos
e sujeitos a condições iguais, apresentar resultados diferentes. Esta dispersão de resultados pode ter
como origem diversos fatores tais como, o acabamento superficial, variação na distribuição das
cargas, entre outros.

Figura 6 - Efeito da Corrosão na vida à fadiga

Por forma a ultrapassar esta imprevisibilidade, devem ser testados diversos componentes idênticos,
com aplicação de tensões diferentes e de seguida realizar uma estimativa da vida a uma dada tensão,
para uma dada probabilidade. De notar que a curva cuja probabilidade de falha é de 50% (p=0,5),
é largamente utilizada na literatura para definir a curva S/N de um determinado material. Caso uma
menor probabilidade de falha seja requerida então, o valor de limite de fadiga terá que ser reduzido.

Figura 7 - Curvas P/S/N com indicação de probabilidade de falha oara uma tensão específica

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Se o ensaio de fadiga for realizado em condições tais que a tensão média seja de tração então,
para que a amostra falhe no mesmo número de ciclos que uma amostra semelhante testada sob
condições de tensão média zero, a amplitude de tensão no primeiro caso terá de ser reduzida.
O facto de uma tensão média de tração crescente baixar o limite de fadiga ou resistência é
importante, e as curvas de S/N devem conter informações relativas às condições de ensaio.

Um variado número de investigações foram realizadas para estudar o efeito quantitativo da

Figura 8 - Efeito da tensão média nas curvas S/N

tensão média de tração, representadas pelas seguintes expressões:

Onde:
𝜎𝑁 = Tensão de fadiga para “N” ciclos de tensão média zero
𝜎𝑎 = Tensão de fadiga para “N” ciclos sob condições de tensão média 𝜎𝑚
𝜎𝑇𝑆 = Tensão de rotura do material
𝜎𝑦 = Tensão de cedência do material

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As equações acima podem ser mostradas em forma gráfica, na figura 9 e na prática real
constatou-se que a maioria dos resultados dos testes se enquadram no envelope formado pela
curva parabólica de Geber e pela linha reta de Goodman. No entanto, porque a utilização de
Soderberg dá uma margem adicional de segurança, esta é a equação do exemplo 11.2 da secção
preferida.

Mesmo quando se utiliza a equação de Sodcrbcrg é habitual aplicar um fator de segurança F


aplicada a tensões estáticas e cíclicas, resultando na expressão seguinte:

A relação entre a tensão média e a amplitude da tensão alternada é usualmente apresentada em


forma de diagrama. São coletivamente denominados Diagramas de Goodman.

Figura 9 - Relação entre amplitude de tensão e média

A inter-relação entre a tensão média e a amplitude de tensão alternada é frequentemente


mostrada de forma diagramática, frequentemente designada coletivamente por diagramas
Goodman. Um exemplo é mostrado na Figura 10, e inclui as curvas derivadas
experimentalmente para os limites de resistência de um aço específico. A isto chama-se um
diagrama Smith.

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Figura 10 - Diagrama de Smith

Existem várias alternativas de apresentação de dados, incluindo o diagrama Haigh mostrado na


Figura 11, e quando compreendido pelo engenheiro, estes diagramas podem ser utilizados para
prever a vida de fadiga de um componente sob um regime particular de stress. Se o leitor desejar

Figura 11 - Diagrama de Haigh

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obter mais informações sobre a utilização de estes diagramas é recomendado que outros textos
sejam consultados.

O efeito de uma tensão média compressiva sobre a vida de um componente não é tão bem
documentado ou entendido como o de uma tensão de tração média, mas em geral a maioria dos
materiais faz não se tornar pior e pode mesmo mostrar um melhor desempenho sob uma
compressiva de tensão média. Nos cálculos é habitual, portanto, tomar a tensão média como
zero sob estes condições.

4. Efeito de concentração de tensões


A influência da concentração de stress pode ser ilustrada pela consideração de uma fenda
elíptica numa placa sujeita a uma tensão de tração. Desde que a placa seja muito grande, o fator
Kt, concentração teórica de tensões, é dado por:

Onde A e B são as dimensões de fratura mostrados na figura abaixo.

Se a fenda for perpendicular à direção da tensão, então A é grande em comparação com B e,


portanto, Kt será maior. Se a fenda for paralela à direção da tensão, então a dimensão A é muito
pequena em comparação com a dimensão B e, portanto, K = l. Se as dimensões de A e B forem
iguais de modo que a fenda se torne um furo redondo, então K, = 3 e uma tensão máxima de
3𝜎𝑛𝑜𝑚 atua no lado da fenda.

Figura 12 - Fenda Elítica numa placa semi-infinita

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O efeito de mudanças bruscas de secção, entalhes ou defeitos no desempenho de fadiga de um


componente pode ser indicado pelo fator Kf, redução da resistência à fadiga, onde o rácio da
amplitude de tensões na fadiga limite.

Kf é sempre inferior ao factor de concentração de tensão teórico estático acima referido porque
sob a parte compressiva de um ciclo de fadiga por tracção-compressão, uma fissura por fadiga
é pouco provável de crescer. Também a proporção de Kf /Kt diminui à medida que Kt, aumenta,
entalhes acentuados tendo menos efeito sobre a vida à fadiga do que seria de esperar. A medida
em que a concentração de stress o efeito sob condições de fadiga aproxima-se do que, para
condições estáticas, é dado pelo desengorduramento fator de sensibilidade q, sendo este sempre
menor que 1 e a relação entre eles pode ser expressa por:

A sensibilidade ao entalhe é um fator muito complexo, dependendo não só do material mas


também do tamanho do grão, um tamanho de grão mais fino resultando num valor de “q” mais
elevado do que um tamanho de grão de maiores dimensões. Também aumenta com o tamanho
da secção e a resistência à tração (assim, em algumas circunstâncias é possível diminuir a vida
de fadiga aumentando a resistência à tração) e, como já foi dito foi mencionado, depende da
gravidade do entalhe e do tipo de carga.

Ao lidar com um material dúctil, é habitual aplicar o fator Kf apenas ao fator flutuante ou
componente alternada da tensão aplicada.

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5. Dano Cumulativo
Foram feitas várias tentativas para prever a força à fadiga para tensões de valor diferenciado
utilizando curvas S/N para condições de valores médios de tensão. Alguns métodos existentes
são de alto grau de complexidade. No entanto, o mais conhecido e simples é a Lei de Miner.

Miner postulou que, quando um componente ao sofrer fadiga, ocorreria uma acumulação de
dano interno. Afirmou também que a magnitude dos danos acumulados seria diretamente
proporcional ao número de ciclos, para um determinado valor de tensão. A razão n/N é
denominada “razão de ciclo” e Miner propôs que a falha ocorreria quando a soma das razões
de ciclo atingisse a unidade, sendo por isso representado por:

6. Tensões Cíclicas
Enquanto muitos componentes tais como eixos de eixo, etc., têm de resistir a um quase infinito
número de inversões de tensão durante a sua vida útil, as amplitudes de tensão são
relativamente pequenas e normalmente não excedem o limite elástico. Na outra banda, há um
número crescente de estruturas, tais como cabines de aviões e recipientes de pressão, onde o
intervalo entre ciclos de tensão é grande e onde as tensões aplicadas são muito elevadas, de tal
forma que pode ocorrer deformação plástica. Nestas últimas condições, embora o período de
tempo possa ser longo, o número de ciclos até à falha será pequeno e, nos últimos anos, o
interesse tem vindo a crescer nesta "fadiga de baixo ciclo".

Se, durante os testes de fadiga nestas condições de ciclo de tensão elevada, a tensão e a
deformação forem continuamente monitorizado, um ciclo de histerese desenvolve o
característico de cada ciclo.

A figura 11.13 mostra loops típicos sob condições de amplitude de tensão constante, cada loop
ser deslocado para a direita por uma questão de clareza. Observar-se-á que a cada ciclo, devido
ao endurecimento do trabalho, a largura do laço é reduzida, eventualmente o laço estreitando-
se para uma linha recta em condições de el total como deformação de tic.

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A relação entre a largura do laço W e o número de ciclos N é dada por:

Onde “A” é uma constante e “h” a medida de taxa de endurecimento.

Figura 14 - Tensões Cíclicas sob condições de tensão estática

Figura 13 - Tensões Cíclicas sob condições de tensão constante

Se for desenhado um gráfico (utilizando coordenadas logarítmicas) do alcance de deformação


plástica em relação ao número de ciclos até à falha, uma linha reta é obtida.

A partir deste gráfico, é possível obter uma expressão para a amplitude de extensão, Δ𝜀𝑝,
também conhecida por Lei de Coffin-Manson, apresentada abaixo:

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Figura 15 - Relação entre tensão plástica e ciclos até à falha

O valor de b varia entre 0,5 e 0,6 para a maioria dos metais, enquanto a constante K, está
relacionada com a ductilidade do metal.

A relação entre Δ𝜀𝑝 e 𝑁𝑓 é dada pela equação da Lei de Coffin-Manson, mas uma relação entre
Δ𝜀𝑒 e 𝑁𝑓 poderá ser obtida através duma modificação da mesma, conhecida como Lei de
Basquin, abaixo representada como:

Se um gráfico é realizado colocando a amplitude de deformação em relação ao nº de ciclos até


à falha, a reta adota um declive muito próximo do declive da equação de Coffin-Manson, mas,
assim que o número ciclos alcança os 105, o declive da reta passa a ajustar-se mais com o
descrito pela equação de Basquin. Com isto é possível concluir que até este ponto, os
fenómenos de fadiga são em função da ductilidade do material, enquanto que após o mesmo,
passam a ser em função da resistência do material.

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Figura 16 - Relação entre extensão total e ciclos até à falha

7. Propagação de Fissura
Durante o processo de seleção de um material sob condições de fadiga é aconselhável escolher
um que mostre uma tensão limite de fadiga maior em vez de um que mostre uma resistência
mecânica maior. De um modo geral, as ligas de aço têm uma tensão limite de fadiga que é
cerca de 0.5 da sua tensão de rutura, assim através da seleção de um material com uma elevada
resistência mecânica as tensões de trabalho podem ser aumentadas.

Figura 17 - Comportamento de vários materiais sob condições de fadiga

No seguimento do acima exposto, qualquer processo que aumente a resistência à tração deverá
aumentar a fadiga limite e um método possível para o conseguir com aços é a realização de
tratamentos térmicos.

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Figura 19 – Efeito de tratamentos térmicos nas propriedades mecânicas de uma material

Caso houver alterações significativas na secção, a resistência à fadiga diminuirá severamente.


Da mesma forma, o estado da superfície pode ter um efeito significativo na vida à fadiga de
um componente com determinado material, estes devem ser analisados de acordo com os testes
efetuados em laboratório que permitem tirar algumas conclusões acerca das propriedades
mecânicas de diversos materiais dependendo da sua condição superficial, como é possível
verificar na figura abaixo.

Figura 18 - Propriedades mecânicas de um material consoante o seu acabamento superficial

Tendo em consideração que as fissuras por fadiga se iniciam geralmente na superfície de um


componente sob tensão de rotura em certas condições fisiológicos, e certos processos, tanto
químicos como mecânicos, que introduzem a superfície residual as tensões compressivas
podem ser utilizadas para melhorar as propriedades de fadiga. Entre os tratamentos químicos,
os dois mais utilizados são a carbonização e a nitretação, que provocam uma expansão da malha
na superfície do metal através da introdução de átomos de carbono e azoto, respectivamente.

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Figura 20 - Efeito dos processos químicos que introduzem tensões superficiais na resistência à fadiga de um aço

O método mecânico mais popular para melhorar os limites de fadiga é o shot peening, sendo a
superfície do material sujeita a bombardeamento por pequenos pellets ou shot de material.
Desta forma, são induzidas tensões residuais compressivas, mas apenas a uma profundidade
limitada, cerca de 0,25 mm. Outros métodos mecânicos envolvem a melhoria das propriedades
de fadiga em torno de furos, empurrando bolas que são ligeiramente sobredimensionadas - um
processo chamado "ballising," e a utilização de bolas ou de um rolo para trabalhar a frio ombros
em rolos - um processo chamado "rolling".

8. Faixas de deslizamento e Fadiga


O início da fadiga é normalmente caracterizado pelo aparecimento na superfície do espécime
de bandas deslizantes que, após cerca de 5% da vida de fadiga, se tornam permanentes e não
pode ser removido por electro polimento. Com o aumento do número de ciclos de carga, estes
as bandas se aprofundam até que eventualmente se forma uma fenda.

Usando técnicas de microscopia eletrónica Forsyth observou extrusões e intrusões de bandas


de deslizamento bem definidas e propôs uma teoria de deslizamento cruzado ou deslizamento
sobre planos de deslizamento alternados em que, durante a metade do ciclo de tensão, ocorre
um deslizamento em cada plano por sua vez para produzir dois passos de superfície que na
metade compressiva do ciclo são convertido numa intrusão e numa extrusão (ver Fig. 11.21).
Embora uma intrusão seja apenas muito pequeno, sendo aproximadamente 1 μm profundo,
pode, no entanto, agir como um fator de stress e iniciar a formação de uma verdadeira fissura
por fadiga.

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Figura 21 - Formação de entalhes eextrusões no material consequentes da fadiga

A resistência à fadiga é normalmente dividida em dois períodos: (i) o período de "iniciação à


fenda"; (ii) o período de "crescimento da fenda" ou "propagação". É agora aceite que a fissura
por fadiga é iniciada pelo aprofundamento das ranhuras da banda deslizante por movimento de
deslocamento em fendas e finalmente fissuras, mas isto torna muito difícil distinguir entre a
iniciação de fissuras e propagação da fenda e, portanto, uma divisão da fadiga baseada no modo
de crescimento da fenda é muitas vezes mais conveniente.

Inicialmente as fissuras formar-se-ão nos grãos de superfície e desenvolver-se-ão ao longo do


plano de deslizamento ativo como mencionado brevemente acima. É provável que estas
fissuras estejam alinhadas com a direção de cisalhamento máximo dentro do componente, ou
seja, a 45° à tensão de tração máxima. Isto é frequentemente referido como Fase I de
crescimento e é favorecido por um stress médio zero e um stress cíclico baixo condições.

Figura 22 - Estágio 1 e 2 de fratura devido a fadiga

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A dada altura, normalmente quando a fenda encontra um limite de grão. A fase I é substituída
pela fase II de crescimento em que a fenda é normal até à tensão de tração principal máxima.
Esta fase é favorecida por uma tensão média de tração e condições de tensão cíclica elevada.
O exame atento da superfície fraturada mostra que, sobre a parte associada à Fase II, existe um
grande número de linhas finas chamadas "estrias", sendo cada linha produzida por um ciclo de
fadiga e medindo a distância entre um certo número de estrias a taxa de crescimento da fenda
por fadiga pode ser calculada.

Quando a base da fissura por fadiga atinge um comprimento crítico tal que a energia para um
maior crescimento pode ser obtida a partir da energia elástica do metal circundante, verifica-se
uma falha catastrófica. Esta área de fratura final é mais áspera do que a área de crescimento da
fadiga e em aço macio é frequentemente cristalina na aparência. Por vezes, pode apresentar
provas de deformação plástica antes de ocorrer a separação final.

9. Mecânica da Fratura
A análise de tensões na fase projeto garante que, em serviço normal (ideais), poucos
componentes irão falhar devido à carga a que estão submetidos. Contudo, mecanismos como
corrosão ou fadiga podem levar a que, em algumas situações, ocorra a fratura catastrófica do
componente. Esta situação leva a que seja de elevada importância estudar a forma como os
materiais fraturam, a esta área chama-se Mecânica de Fratura, à capacidade do material resistir
à fratura chamamos Tenacidade.

Num componente solicitado, a fratura pode-se propagar de 3 maneiras, no modo I a fissura


tende a ser “aberta”, isto é, as superfícies da fissura tendem a ser afastadas na direção
perpendicular ao plano de corte, no modo II a fissura tende a propagar-se devido a tensões de
corte perpendiculares ao plano frontal, por fim, no modo III a fissura propaga-se devido a
tensões de corte paralelas ao plano frontal, para uma melhor compreensão a imagem a baixo
sugere uma explicação para os 3 modos de propagação.

Figura 23 - Tipos de Propagação de fissuras

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10. Variação de energia em superfícies fissuradas


O estudo das variações de energia em fissuras permite concluir que o aumento do comprimento
da fissura (a) leva a uma diminuição da energia necessária para propagar essa mesma fissura.

Figura 24 - Representação da diminuição de energia com o aumento de "a+δa"

11. Critério de Griffith (G)


Na sequência das conclusões retiradas do estudo da variação energética em fendas, o critério
definido por Griffith é um critério energético que demonstra que caso essa diminuição seja
menor do que a energia necessária para formar novas fendas, irá existir uma propagação da
fenda.

A libertação de energia crítica pode ser dada por:

Onde:

O caso em cima serve para deformação plana

Onde:

O caso em cima é aplicável para tensão plana

O Gc trata-se de uma propriedade do material que é dada para uma tensão crítica. No entanto
as expressões são análogas caso se pretenda calcular G para qualquer tensão.

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12. Critério de Irwin

Figura 25 - Modelo Matemático para análise de Irwin

Por ser um critério energético o modelo de Griffith é um pouco inflexível, não permitindo
analisar o estado de tensão em redor da fissura, o que levou Irwin a desenvolver um critério de
forças que considera esforços biaxiais. Deste critério podemos obter o parâmetro K que indica
o fator intensidade de tensão, sendo este fator apenas função da carga aplicada e do
comprimento da fenda (o fator K pode vir acompanhado dos sufixos I, II, III, dependendo do
modo de falha a que está associado).

Caso estejamos perante uma fissura numa aresta.

Para contemplar fissuras de variadas formas pode ser acrescentado à expressão um fator Q-

Também é possível obter esta expressão para fissuras em arestas.

13. Critério de Rice (J)


Quando se ultrapassa o limite de elasticidade do material onde se encontra a fissura, deixa de
ser possível utilizar os critérios anteriormente referidos. Um dos critérios para que se possa
estudar fratura em materiais em regime plástico é o critério de Rice, que define o integral J,
este trata-se de um critério energético que na sua forma generalizada pode ser dado por:

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Em analogia com o que acontecia com Griffith é também possível estabelecer um J crítico
correspondente à libertação de energia crítica.

Figura 26 - Curva Força-Deslocamento genérica(esquerda); energia total absorvida em


função do comprimento de fissura (direita).

“J” pode ser dado pelo declive de reta utilizando qualquer combinação de comprimento de
fenda e deslocamento, podendo ser representado em função do deslocamento como indicado
abaixo.

Figura 27 - J em função do deslocamento

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14. Material a utilizar


S355K2G4

Tabela 1 - Propriedades do Aço S355K2G4

O S355K2G4, sendo um aço de construção, é utilizado na produção de componentes soldados,


aparafusados e rebitados, por exemplo, pontes e partes de automóveis. A sua liga com cobre e
crómio permite uma boa resistência à corrosão e uma aparência apelativa aos componentes que
utilizam este material

15. Relação Energia de Impacto – Temperatura

Figura 28 - Relação energia de impacto-temperatura

O gráfico apresentado em cima é descrita a variação da energia de impacto sob influência da


temperatura, onde KV representa a energia que leva o provete à rotura no ensaio Charpy que
deverá ser no mínimo 27 J para uma dada temperatura T27j.

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16. Determinação de espessura máxima admissível

Tabela 2 - Espessura admissível em função da temperatura, da classe do aço, da sua tenacidade (KV) e do
nível de tensão.

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17. Referências Bibliográficas


E.J. Hearn, Na introduction to the mechanics of elastic and plastic deformation of solids and
structural materials, 3rd edition , 1997.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-56154854

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