Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A INDUSTRIALIZAÇÃO
E O DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO DO BRASIL
Tradução de
Paulo de Almeida Rodrigues
■• ........... 3? edição
Baer, Werner
Bibliografia: p. 309-16
CDD338.981
CDU 338.924 (81)
, 1
A
John Kenneth Galbraith
e Arthur Smithies
4
86
5. O financiamento da industrialização
brasileira: fonte de fundos e papel de inflação
87
O e0
CD
Os
«5 <fiT
Ol CO
IO ^CO iO
<N
^
M
Oi 00 «D î>
Oi
00 «O
to <0
o 3 R -fc *:
r*~
00 00 CO «
o>
&
H
% CO
lOIO
o *o
05 8 8 o ^
CM
w
Q to 00
to «o «O
Oi <N
O
Mj
O
<
S
tí
s
o>
co r-T
o
Cu «
CO
IO Ç3 «o i>. CO CO
Oi *o CO íSSSS
S?3
M
o O
tt <o
ft
< co
e*
iO 0C 't f <o iíf
D W 05 W CO
rH
<y H
£
O
O
tO
Oi
«O
Ctt
cO 10
22
< O O
Q * tC PH
T «rtí
ff ^ C0 IO-
t~ ( o>
ü
2 tu
O»
a iO *0
<0
oc to
Cs to oT
r-
Oi
o o 00■>o co o
•+*
0?
4 *.S 'S
G0 o o ** *M -«*-s *Ü
o m3 *Ü 8
"O €> O O «8 .5 p*
83 * «5
OJ «8 o
c ' To3 g
«
13 1 Cí»*!2 °
aí
"0
cj
C, *
S’S S a s « ? . ^3
*7 es
— «• »
*-í Ä V
S o-a o .o ' S'S.g ..
3
o
is-sf8! 8
O
p* H
S oS g^i
ü ( T3 O .J 2 *-! £
^' indiretos e mais os subsidios). Fica evidenciado, que, durante a maior
parte dos anos examinados, as poupanças do setor privado forãixT
maiores do q u ê seü investíménto, ocorrendo o oposto com o governo—
No caso deste último, a União, cujas poupanças são freqüentemente
inferiores aos investimentos que realiza, deteve a parcela predomi
nante de influência.
Q uadbo 5-2
1947 12 14 4 3 2
1948 14 14 4 4 0
1949 10 10 4 5 1
1950 12 8 2 5 —1
1951 13 17 5 5 3
1952 16 17 4 6 4
1953 15 11 1 4 0
1954 19 19 4 5 1
1955 17 14 2 5 0
1956 17 13 1 ■-4 " Õ
1957 16 12 1 7 2 '
1958 12 10 5 9 2
1959 16 14 6 10 2
1960 14 12 5 10 3
Fonte: Calculado por I. ICeratenetsky, com base qm conta« naeionftúi levantadas pela Fundação
Getulio Vargas.
89
Q uadro 5-3
Variação no
R etidos papelt-moeda T otnl
Ano Outros*
lucros em poder do
público
1947 54 3 43 100
1048 45 18 37 100
1949 33 18 49 100
1950 29 48 23 100
1951 40 22 38 100
1952 47 15 38 100
1953 46 21 33 100
1954 49 24 27 100
1955 60 19 21 100
1956 58 21 21 100
1957 46 20 34 100
1958 59 20 21 100
1959 53 23 24 100
1960 55 8 37 100
90
Q uadro 5 -4
ORIGEM E APLICAÇÃO DOS RECURSOS DAS SOCIEDADES
ANÔNIMAS
(Em percentagem da origem e da oplicaçOo)
TO TA L DAS SO C IE D A D E S
ANÔNIMAS
Origem 100 100 100 100 100 100 100 100
Externa 77 71 57 79 68 67 66 71
CaDital 15 22 22 14 16 20 18 13
Exigibilidades de bancos 7 8 5 9 9 10 9 10
Exigibiiidade8 de outros 55 41 30 56 43 37 39 48
Interna 23 29 43 21 32 33 34 29
Reavaliações — 2 18 3 _ 3 4 3
Reservas 4 5 14 3 2 6 6 3
Provisões 14 16 9 10 24 17 17 18
Depraciações 5 6 2 5 6 7 7 5
Aplicação 100 100 100 100 100 100 100 100
Ativo Fixo 22 30 34 27 30 35 36 30
Disponível — 7 3 12 3 7 4 3
Realizável: estoques 26 20 10 11 13 16 14 18
Realizável: outros 52 43 53 50 54 42 46 49
COMÉRCIO
Origem 100 100 100 100 100 100 100 100
Externa 83 28 97 100 68 76 75 74
Capital 35 27 58 35 11 13 16 16
Exigibilidades de bancos 7 1 1 22 7 10 11 14
Exigibilidades de outros 41 — 38 43 50 53 48 44
Inierna 17 72 2 — 32 23 25 26
Reavaliações _ _ __ __ , 2 _ 1
Reservas 13 23 2 -3 30 19 22 23
Depreciações 4 49 — 3 2 2 3 2
Aplicação 100 100 100 100 100 100 100 100
Ativa Fixo 14 22 13 16 17 12 10 13
Disponível -17 6 — 10 3 5 5 3
Realizável: estoques 54 30 27 14 21 16 14 33
Realizável: outros 48 42 56 60 59 66 69 51
INDÚSTRIA
Origem 100 100 100 100 100 100 100 100
Externa 69 41 100 76 70 63 64 66
Capital 28 36 65 30 20 22 20 13
Exigibilidades de bancos 9 8 10 11 9 11 8 10
Exigibilidades de outros 32 26 35 41 30 36 43
Interna 32 56 -1 24 30 36 36 34
Reavaliações _ _ _, _ __ 4 3 4
Reservas 23 20 17 23 25 27 24
Depreciações 9 36 5 7 7 7 7 6
Aplicação 100 100 100 100 100 100 100 100
Ativo Fixo 32 41 38 36 31 36 36 29
Disponível -4 5 2 6 4 7
Realizável: estoques 39 21 15 20 14 19 17 21
Realizável: outros 33 33 44 39 51 38 43 46
Fonte: A» percentagens deste quadro foram oalctJadas com base nos balanços consolidados das
Bociedadei. anônimas, publicados anualmente por Conjuntura Econômica e que, em 1961, abrangeram
6 441 sociedades pertencentes ao comércio, indústria, transportes, serviços de utilidade pública e
outras atividades.
91
nam as contas a pagar. Os bancos proporcionam parcela dim inuta
dos fundos. Como o item capital compõe-se, basicamente, de novas
aiões. parece claro que somente parcela reduzida dos recursos de
minem externa representa forças impessoais do mercado (pois não
e\isie uni mercado de obrigações), que nas economias mais estáveis
e desenvolvidas atuam como força disciplinadora externa.
Da m aior im portância para nossos objetivos imediatos é a cons
tatação de que a proporção das aplicações em tativo fixo, que
representa o investim ento bruto em capital fixo das empresas, equi
vale geralm ente à parcela dos recursos cle origem interna. É uma
boa_ indicação clÇ.JÜJe_aS. íirmas apóiam-se predom inantem ente nos
recursos Tntcrnos como fonte para suaTiríVgrsõesr— ----- ™,-----.—
O quadro 5-5, revelando o modo pelo qual se tornaram dispo
níveis as poupanças de origem externa, perm ite avaliar o papel
decisivo dos capitais de compensação, públicos e privados. Apesar de
a im portância relativa desses dois tipos de capital ter variado através
dos anos, não pode haver dúvida de que, nos fins cla década de
50 e nos primeiros anos cla clêoO, foi cada vez m aior a influência
da poupança privada externa no linancnm iento das inversões.
Ao fazermos este trabalho, não cuspomos, infelizm ente, para o
setor governo, de discrim inação das fontes de poupanças sem elhante
à apresentada para o setor privado. O exame do quadro 5-2 sugere
que o grosso da poupança é feita pelo governo federal. Em m uitos
anos toda a poupança foi realizada pela U nião, transferindo-se
depois fundos de investim ento para os estados e -municípios. As
proporções relativas do investim ento público realizado pelos di
versos escalões governamentais, reproduzido no quadro 5-6, fornece
uma visão interessante da distribuição desses fundos. Fica eviden
ciado com clareza que, m algrado sua pequena contribuição para a
poupança, os estados e m unicípios são im portantes agentes de in
versão. A parte das empresas mistas, incluída a p a rtir de 1956, figu
rava antes do investim ento do setor privado. As proporções elevadas
com que figuram os departam entos — nacional e estaduais — de
estradas de rodagem dá um a idéia do vulto do investim ento infra-
estrum ra!.
No sistema aqui descrito, deve-se levar em conta a im portância
do líanco Nacional do. .D.esenvolyimento Econômico (BNDE)""nã‘
dTenagem de poupanças internas e externas para certas áreas sele
cionadas. O quadro 5-7 fornece um a indicação da im portância
fclativa das atividades levadas a efeito pelo banco durante a década
de 50. Medida em termos de proporção dos empréstimos em cruzei-
Q uadro 5 -5
Q uadro 5-tt
D IST R IB U IÇ Ã O PERCENTU AL DO IN V E S T IM E N T O PÜ B L IC Q
E m pre
Previd.
União D N ER * D E E R ’s* E sta d o s M un icí sas mis
social pios
tas**
1947 39 7 12 — 34 8 — 100
1948 43 11 12 — 27 7 — 100
1949 49 9 8 —. 27 7 — 100
1950 48 10 8 — 27 7 .— 100
1951 31 11 10 12 29 7 — 100
1952 28 8 11 7 36 9 —. 100
1953 32 12 16 9 21 10 — 100
1954 33 13 16 8 21 9 — 100
1955 33 15 15 5 22 10 — 100,
1956 29 14 12 3 21 10 11 100
1957 30 14 16 3 17 8 12 100
195.3 18 12 10 4 18 5 33 100 »
1959 24 15 10 5 16 6 24 100
1960 19 16 12 7 18 5 23 100
Proporção dos em
préstim os em moeda
nacional para a for
mação b ru ta de ca
pital fixo - 1,7 - - 3,3 7,3 5,5 7,4 6,2
Proporção dos em
préstimos em moeda
estrangeira p ara o
ingresso de capitais
autônomos 1,9 30,9 50,2 23,9 38,7 86,6 69,9 78,4
100,0
C) E M P R É S T IM O S EM M OEDA E S T R A N G E IR A — 1952-62
(Distribuição percentual)
Transportes 24,8
Energia 25,4
Indústria de base 48,1
A gricultura 1,7
100,0
94
ros para a formação b ru ta de capital, jverifica-se que as atividades
do BNDE foram de vulto suficiente para que pudessem influenciai
os rumos da formação nacional de capital, especialmente a partii
de 1956._ Se com pararm os o volum e dos empréstimos que fez em
moeda estrangeira com a entrada global de capitais no país, avulta
ainda mais a im portância do banco. Deve-se ter em m ente que,
em bora fosse inferior a 10% da poupança global[ a poupança de
origem externa desem penhou papel decisivo, pois perm itiu a im por
tação de equipam entos sem os quais a formação interna de capital
teria sido severam ente prejudicada. O quadro 5-7 também dá uma
idéia da ênfase posta pelo Banco do Desenvolvimento nos investi
mentos de infra-estrutura e em indústrias básicas como a siderurgia
(quer fossem de propriedade estatal, quer privada).
1 O autor form ulou este modelo, pela prim eira vez, no artigo Inflation and
economic growth: an interpretation of the Brazilian case. Economic Develop-
m ent and C ultural Change, Oct. 1962.
Q uadro 5 -8
1047 1,8 6 24 —1
1948 9,5 4 3 12
1949 5,6 6 4 17
1950 5,0 11 4 14
1951 5,1 11 11 12
1952 5,6 21 24 10
19.53 3,2 17 16 25
1954 7,7 26 23 24
1955 6,8 19 17 9
1956 1,9 32 33 26
1957 6,9 13 14 3
1958 6,6 17 23 28
1959 7,0 52 43 36
1900 6,3 24 32 33
líHU 7,7 43 43 50
96
contrasse politicam ente motivado para conservar esse índice de
crescimento no futuro.
98
5.3.4 Inevitabilidade da inflação
99
I|i c c u cin iêm õ ‘ê”prõcüre résòiver seu desequilíbrio externo promo- t
'vendo a criação tanto de indústrias substitutivas de importações,
como de indústrias que am pliem sua pauta exportadora. sfA função ■
do pj e inflacionário é fòrçaí o setor consum idor a poupar para
que e i 1 iam as importações, bem como aum entar a capacidade
produtiva planejada e a capacidade de produção necessária para í
substituir importações. T a l poupança n ão seria viável se o setor de
consumo dispusesse de força para im por que suas receitas m onetá
rias aumentassem em escala suficiente para salvaguardar sua renda
real. A defasagem dos salários é, pois, um a condição indispensável
para que o processo inflacionário possa ser produtivo. •
Esta análise torna evidente que a adoção de m edidas delibe
radam ente antiinf 1acionárias seriã^pfyüdicial aos objetivos funçía-
riiêntais de crescimento econômico do país. Assim, por exemplo, a
política m onetária é de natureza geral, e com prim ir a oferta de
tneios de pagam ento com prom eteria a taxa ótim a de investimento
em itens integrantes da infra-estrutura econômica e social e em in
dústrias substitutivas de im portações ou destinadas a diversificar as
exportações. Além disso, essas indústrias não teriam força para
bombear recursos do setor de consumo corrente. Pode-se argum entar
que todos estes objetivos de política enum erados poderiam ser
alcançados por métodos mais diretos. É possível que isso pudesse
ser feito em certo núm ero dé casos, mas, eni conjunto, o m étodo
inflacionário seria mais eficiente, a curto prazo, para um país rela
tivamente subdesenvolvido, dotado de um a burocracia inexperiente,
ineficiente, atrasada e tum ultuada, bem como de um sistema tribu
tário inoperante e acanhado.
100
Restam-nos duas importantes perguntas:'primeira, quanto tempo,
precisará d u rar a inflação e, segunda, se há_possibiIidãdé cie a
inflação tornar-se galopante oü de não desempenhaí!Tpàj^7jüè~cIêlã
se espera? A resposta à primeira pergunta é a de que á anSação
deveria começar a refluir a partir do momento em que surgissem
no mercado os frutos das atividades gerais de investimento; em
outras palavras, a extensão do processo inflacionário dependerá do
período de gestaçaõ do programa de investimentos què, por sua vez,
eT ünção cia composição dos diversos projetos de investimento que
tenham sido estimulados. A resposta à segunda pergunta depende
da m edida em que piiderem"Tef"m antidos em xeque os aumentos
de salários, èviiando-se assim, a clássica espiral salários-preços, e" dp
grau em que a persistência das pressões inflacionárias não desviar
recursos para investimentos improdutivos. Empiricamente, pode-se
cfizer que tal método terá chance de êxito, enquanto o setor de
mão-cle-obra não for suficientemente esclarecido e poderoso para
reclam ar firm em ente sua parte no produto nacional. Seria desejável
que, quando os trabalhadores se tivessem organizado a este ponto,
o aparelho fiscal e outros mecanismos de controle já estivessem
suficientemente desenvolvidos para poderem canalizar recursos para
os setores decisivos de crescimento.
Q uadro 5-9
A) PODER AQUISITIVO DO SETOR C A FEEIR O (1653=100)
Fonte: B&aeado em d&doa de Conjuntura Econômica; IBGE, Anuário Estatístico; FAO, Yearbook oi
ood and agricultural statistic*.
102
Pode-se comprovar, também, que o declínio das receitas de ex
portação não foi acom panhado de um a queda correspondente na
renda interna auferida pelo setor exportador. Pelo quadro 5-9 verifi
ca-se redução acentuada dos ganhos unitários em dólar para o café,
sendo que o índice dos preços do café em cruzeiros, deflacionado pelo
custo de vida, situa-se ora abaixo, ora acima, do declínio do índice
em dólar. Mas, se levarmos em conta que a produção de café p ra
ticamente dobrou no período exam inado, perm anecendo bastante
estável seu quantum de exportação, torna-se bem claro ter o governo
defendido ativamente o setor café contra perdas internas equivalentes
ao declínio de sua receita de exportação. Desse modo, este setor
recebeu, em moeda nacional, m ontante relátivam ente superior à
capacidade de im portação que proporcionava ao país, constituindo-se
em outro fator de inflação.
O fato de a elevação das taxas de inflação não ter afetado o
índice de crescimento da economia (ver quadro 5-8) — o qual foi
em média mais alto nos últim os anos da década de 50 e nos primeiros
da de 60 do que no início do período exam inado — evidencia que
a inflação pode ter sido não apenas um fator positivo.
. 'Esse papel positivo d a inflação brasileira deve ser visto sob o
aspecto de alocacão de recursos, ou antes, de redistribuição de
recursos do setor consum idor p a ra o setor produtor. Os dados
de que dispomos parecem dar guarida a esta hipótese. Exam inado
superficialmente, o q uadro 5-10 podeçia parecer contraditório com
essa afirmativa, pois no período exam inado, aum entou ligeiram ente
a parte dos salários na renda interna bruta. Trata-se de um a ilusão,
porém, já que os salários foram tomados antes de ser feita a dedução
dos impostos. Se levarmos em conta a natureza regressiva do sistema
tributário brasileiro, por nós exam inado no capítulo anterior, bem
como o fato de a relação entre os impostos indiretos e a renda
interna b ru ta ter crescido m uito mais do que a razão dos salários
para esta últim a, pode-se concluir que isso indica a possibilidade
de um decréscimo proporcional dos salários. 8
J
8 A explicação pode trazer alguma dúvida sobre a validade dos argumentos
apresentados a respeito da inflação, pois poderá ser utilizada para m ostrar que,
em última instância, foi o sistema tributário regressivo que efetuou as trans
ferências de renda dos consumidores para o setor governo. Não afirmamos que
o governo não tenha financiado parte de suas atividades através dos impostos,
elevando-os inclusive. Mas, no inicio deste capítulo, demonstramos não serem
as rendas tributárias suficientes para financiar as atividades do governo. À menor
participação dos salários, depois de deduzidos os impostos, pode ser explicada,
em parte, pelas transferências feitas através do mecanismo tributário, mas isso
somente quanto à diferença entre a participação antes e depois de considerados
os impostos. Verificado o declínio da participação depois de deduzidos os im
postos, não fica excluído o papel da inflação na transferência de recursos dos
trabalhadores para outros setores.
103
t
Q uadro 5 -1 0
PE R C E N T A G E M DA R E M U N E R A Ç Ã O D O TRA B A LH O . E DOS
IM PO ST O S IN D IR E T O S E M RELA ÇÃ O Ä R E N D A N A C IO N A L
BRU TA AO CU STO D OS F A T O R E S
UM7 39 11
194* 40 11
lllld 41 12
1951) 41 12
1951 39 13
195‘2 40 13
195:; 40 12
195-1 39 15
1955 42 13
1950 45 14
1957 45 14
1958 45 17
1959 45 19
190D 44 18
Q uadro 5-11
RAZÃO DOS SA LÁ R IO S PA R A O VALOR A D IC IO N A D O
Ind ú stria
P rodutos
dt: transform ação
(Total) alim entares
Siderurgia
M ecânica
e. m etalurgia
19 19 27 1949 32
1955 27 1955 32
195-) 25 1956 30
1957 25 1957 31
195S 23 1958 28
1959 21 1959 23,5
Fonte: C--m base fim fiados do IBGE. Censo Industrial, 1950 e 1980 e IBGE, Produção- indui-
• Bnunl, 1956, 1957, 1958.
i0 !
O quadro 5-11 proporciona comprovação muito mais clara de
nossa tese. Nele e t registrada a relação entre os salários e o valor
adicionada, tanto para Ô conjunto da indústria de transformação
como para alguns ramos desse setor, nos dois anos censitários de
1949 e 1959 e para os quatro anos interm ediários nos quais se
procedeu a inquéritos industriais. O decréscimo da relação é bem
n ítido em todos os casos, especialmente na segunda metade da
década de 50, quando a taxa de inflação era mais elevada do que
na prim eira parte do decênio. A dim inuição mais acentuada ocorreu
nos ramos mais dinâmicos das indústrias substitutivas de impor*
tações, como na m etalurgia e na indústria mecânica. Esta constatação
perde um pouco de sua força, se levarmos em conta que se tratava
de indústrias novas e, ainda, que houve mudanças drásticas de
tecnologia, aum entando, provavelmente, sua densidade de capital.
No entanto, a tendência declinante que se observa em indústrias
tradicionais como a têxtil e de produtos alimentares, nas quais ás
m udanças tecnológicas foram reduzidas durante o período exami
nado, pesa a favor de nossa análise.
O exame do com portam ento dos salários na indústria e no
governo também contribui para com provar a tese, embora em parte
somente, dado o caráter esparso dos levantamentos e sua falta de
co n tin u id ad e.7 O quadro 5-12 resume diversas informações relativas
ao com portamento dos salários. Observa-se grande atraso no reajus
tam ento do^ salário-mínimo durante o decênio 1950-60. Ésté fato,
ríà~medida em que o salário-mínimo influencie o nível geral de
salários dos trabalhadores urbanos, significa ter havido ,ampla
margem para a transferência de recursos dos assalariados para o
setor produção. A parte fí do quadro 5-12 registra ás variações
dos salários médios do setor d a indústria de transformação con
frontando-as com as variações do custo de vida e com o crescimento
do produto real (deve-se à irregularidade dos inquéritos o número
reduzido de informações). A razão de ser desta comparação está
em que, mesmo que os salários reais tenham aum entado, seu cresci
mento foi freqüentem ente m enor do que o do produto real. Como
105
Q uadro 5-12
A) M UDANÇAS NOS S A L Â R IO S -M ÍN IM O S
Salário-mínimo mensal
Data da vigência
(em cruzeiros)
M&talurgia 183 30 16 21
Mecânica 163 27 15 21
Têxtil 175 33 19 17
Produtos alimentares 221 48 25 14
Metalurgia 81 16 — 8 20
Mec&nica — 15 — 4 8
Têxtil 41 0 — 12 34
Produtos alimentares 46 -1 2 22 10
Fonte: IBGE. Produção industrial brasileira, 1955-58; Conjuntura Econômica, Retida Brasileira
de Economia, mar. 1902.
106
1
P ro d u to s Custo de
M eta M ecâ
Período T êxtil alimen-- T otal vida
lurgia nica
tares (GB)
A 41 67 40 29 30 28 60
B 38 64 39 61 30 — 54
C 37 60 37 65 30 — 60
D 37 57 36 77 30 — 62
E 38 52 34 85 30 — 35
F 36 53 34 80 30 — 66
G 31 46 31 80 30 — —•
II 32 39 28 81 30 — 55
I 33 33 25 82 30 — —
J 34 28 22 78 30 — 46
K 31 23 23 69 30 — 53
L 32 19 24 70 30 — 51
M 35 15 14 81 30 — 50
N 38 11 12 72 30 — 50
O 40 7 11 70 30 13 44
Cuato de vida 28 51 72 21 85 28 15
Nota: Em 1959 adotou-se nova classificaç&o dos servidores civis. Os aumentos proporcionai«
regiotrados desde 1959 eSo, a grosso modo, comparáveis com os anteriores.
Fonte: Fundação Getulio Vargas.
107
4
108
tam entos m uito mais freqüentes do salário mínimo após 1961, as
greves mais amiudadas e a m aior independência do movimento
sindical em relação ao governo parecem indicar que talvez não se
possa mais repetir o que aconteceu na década de 50.
H á também indícios de que a redistribuição processou-se em
detrim ento do setor agrícola, especialmente dos trabalhadores do
campo. Não pode haver comprovação direta do fenômeno, pois as
estatísticas agrícolas são levantadas por produto e impossibilitam,
assim, o exame d a participação dos fatores. Mas o próprio fato
de, até recentem ente, não se estender à zona rural a legislação do
salário-mínimo sugere que ali os salários ficaram abaixo da ele - 1
vação do nível dos preços. Veremos adiante que foi fayorável à l
agricultura a relação de trocas que ela manteve com a indústria.
Mas não há indício de que os trabalhadores rurais tenham-se
beneficiado deste fato. JÊ sabido que, no Brasil, a rede de comercia
lização se apropria de gran3ê~parté dàTerída que cabe à agricultura,
e que existe uma" tefidêncn a ip licar;“nó setòr urbano, essa renda
captada (muitos capitalistas brasileiros de hoje começaram como
atacadistas). Sabe-se, também, que os proprietários de terra colocam
suas poupanças à disposição do setor industrial; assim, por exemplo,
boa parte das primeiras indústrias que se criaram em São Paulo
iniciaram sua existência com fundos provindos das poupanças do
setor cafeeiro.
s Grande parte deste capítulo foi originalmente publicado como artigo: Brazil:
inflation and economic efficiency. Economie Development and Cultural Change,
July 1963.
110
no quadro 5-13, refere-se à divisão do investim ento global em for
mação de capital fixo e variação de estoques. Os prim eiros anos do
pós-guerra caracterizaram-se basicamente- pela redução de estoques,
predom inando seu crescimento durante os anos 50, em bora não
pareça existir ligação estreita entre as taxas de variação desse item
e as de inflação. Assim, por exemplo, em 1952, quando houve
sensível am ortecim ento da taxa de inflação, as proporções da
acumulação de estoques elevaram-se para 24% enquanto em 1956,
ano em que a taxa de inflação deu um grande salto, manteve-se
razoavelmente estável o índice de crescimento dos estoques. Os ú lti
mos anos do decênio foram marcados, naturalm ente, pelo acúmulo
de estoques de café nas mãos do governo. Em bora o decênio 1950-60
tenha-se caracterizado pelo crescimento dos estoques, é difícil dizer
até que ponto isto resultou do clim a de inflação ou da necessidade
de estoques proporcionalm ente maiores que possa ter um país em
processo de industrialização e urbanização. Cabe m encionar que,
em conseqüência das crises periódicas no balanço de pagamentos,
que davam origem a diversos tipos de controles diretos, a acum u
lação de estoques foi freqüentem ente influenciada pela expectativa
de mudanças na taxa cambial e em outras políticas relacionadas
com a importação.
Q uadro 5-13
VARIAÇÃO DE E ST O Q U E S NO B R A SIL
1947 — 11*
1948 — 2*
1949 — 14*
1950 — 16*
1951 15 24% 76% — (-)“ 100%
1952 24 27 42 31 (31) 100
1953 5 167 -3 0 37 (-37) 100
1954 20 36 54 10 (15)*** 100
1955 12 70 6 24 (44)*** 100
1956 12 83 2 15 (7,5) 100
1957 19 42 18 40 (30) 100
1958 12 36 -3 6 100 (97) 100
1959 19 16 3 81 (74) 100
1960 16 18 2 80 (71) 100
Q u ad ro 5-14
ÍN D IC E S DA PRODUÇÃO
(1948 = 100)
Edificação
Ano Cimento Aço residencial*
19-17 82 79 91
1949 155 119 110
195Ü 125 153 123
1951 130 167 161
1<)">2 145 174 179
1953 183 199 199
1954 217 230 191
1955 234 231 93
195G 294 268 163
1957 287 248 182
195S 337 273 124
1959 341 301 109
1960 397 356 133
1961 421 390 114
112
Mas, como mostraremos mais amplamente adiante, a inflação só
pode ser considerada como uma causa parcial do fenômeno.
E m bora conheçamos todos os percalços do emprego da relação
cap ital/p ro d u to , achamos útil examinar as variações nessa rela
ção d u ran te um período, como um dos argumentos demonstrativos
de que, no Brasil do pós-guerra não houve erro grave na alocação
dos recursos. Dividimos os anos do pós-guerra em três períodos:
1947-52, 1953-56 e 1957-60. Determinamos a proporção do investi
m ento no produto interno bruto, para cada um desses períodos e
dividimos aquela proporção pelo índice de crescimento médio anual
de cada período considerado. As proporções foram tomadas a preços,
correntes e em termos reais (ver quadro 5-15). Observa-se ligeiro
aum ento da relação do prim eiro para o segundo período, seguindo^
se no terceiro período um a queda acentuada alcançando nível
inferior ao do período inicial. Se aceitarmos o emprego da relação
cap ital/p ro d u to como representativa da eficiência da estrutura de
investimentos da economia, seu declínio no período de maiores taxas
Q uadro 5-15
VARIAÇÕES NA RELAÇÃO C A PITA L/PR O D U TO
• índice da relação capital/produto no período com base n a relação capital/produto para o período
1.947-60.
Fonte: Baseado em dados da Revista Brasileira de Economia, mar. de 1962.
114
Q uadro 5 -1 6
R ESPO ST A S DE A D M IN IS T R A D O R E S A PERGUNTAS
SO B R E A IN FLAÇÃO
j Percentagem*
5 .6 Conclusões
115
çaram freqüentem ente a quase 1/4 do orçam ento da União), con
tribuindo fortem ente para a inflação. No entanto, o investimento
nessa área não ficou m uito prejudicado porque, ou era controlado
pelo próprio governo ou as subvenções compensavam as perdas de
tarifas, como nas com panhias de navegação aérea. De uni modo
geral e em bora a solavancos, as inversões em serviços de utilidade
pública acom panharam o ritm o de crescimento econômico do país
(com a exceção dos serviços telefônicos); em decorrência, o governo
envolveu-se cada vez mais nessa área da economia.
Destinações insatisfatórias de recursos resultaram também de
certos erros cometidos durante o período de vigência de taxas
m últiplas de câmbio, como, por exemplo, os subsídios para im por
tações de petróleo e papel de imprensa, acarretando o esbanjam ento
de muitas divisas valiosas em bens que poderiam ter sido produzidos
no país ou poupados em m aior medida.
Alega-se às vezes que, nas condições de um a inflação de 20
ou 30%, o fato de conservar se a 12% a taxa m áxim a de juros
legais conduz a graves distorções na destinação das poupanças, em
benefício dos empréstimos a curto prazo. É procedente o argu
mento, mas como vimos no quadro 5-4, a m aioria das grandes
empresas industriais não recorreu m uito ao crédito das instituições
financeiras. T am pouco pode ser atribuído à inflação o recurso
preferencial ao autofinanciam ento e aos créditos diretos dos for
necedores, pois isso deve ser considerado um a característica do
subdesenvolvimento.
O utro fator institucional que pode ter influído para evitar
distorções excessivas foi a lei do inquilinato, exam inada no capítulo
anterior. Ela tornou claram ente desinteressante investir em resi
dências como meio de defesa contra a inflação. Por outro lado,
o reduzido investim ento em estoques poderá ser atribuído às difi
culdades de obtenção de crédito num am biente altam ente infla
cionário, ou m elhor, do crédito barato e por prazo suficientemente
longo necessário a tal tipo de operação. Assim, pode-se dizer, a
inflação traz consigo mesma certas garantias contra distorções ex
cessivas nos investim entos.13
Nosso objetivo neste capítulo não foi o de fazer um a defesa
cerrada da inflação como o m elhor e mais eficiente m étodo de
desenvolvimento. Nosso_ propó_sito__foi_ m ostrar que um a jparte ;.d'a i
inflação _brasileira„contribuiu-para^Q_ crescimento re a L d o país, em \
virtude de representar ura mecanismo de poupança forçada (não \
obrigatoriam ente à custajda redução do padrão de vida, mas através '
■de um a redistribuição do^increm ento do produto nacional, tom ando
13 Esta interessante observação foi feita pela prim eira vez pelo Prof. Donaíd
H uddle, da Universidade de Rice.
116
dos consumidores em benefício dos investidores).jProcuramos indicar
tãmFéTri^quêr riò Brasil', a inflação não distorceu gravemente a
alocação de recursos e que as distorções ocorridas, especialmente
no setor de serviços de utilidade pública, decorreram antes de
fatores institucionais, como o método de fixar preços nos setores
controlados da economia. Claro está que este último fenômeno não
está inteiram ente divorciado das forças inflacionárias, mas não pode
ser predom inantem ente a elas atribuído.
As reações dos setores da economia não submetidos a controle
apresentam interesse para a análise. Por que houve tão poucas
distorções nos investimentos? Além da explicação institucional que
demos, pode-se também argum entar que em um país como o Brasil
a inflação é m uito antiga e há muito que os homens de negócios
aprenderam a adaptar-se às variações de preços. Como era fácil a
adaptação às mudanças de preços e como durante longos períodos
estes m antinham-se à frente dos custos, especialmente dos custos de
mão-de-obra, os investidores achavam que eram de pequena monta
as conseqüências negativas da inflação sobre seus planos. Como
predominava o autofinanciam ento, isto é, havia pouco apelo às
instituições financeiras, não se tornaram prementes nem o equilíbrio
de caixa, nem a taxa controlada de juros. Finalmente, como numa
economia com tradição inflacionária a moeda nunca é vista como
reservatório de valor e, ainda, como eram palpáveis e iam-se trans
formando em realidade as possibilidades de desenvolvimento do pais,
que dispõe de amplo mercado, a taxa real de retorno a longo prazo,
do capital, parece ter sido mais forte do que as defesas de curto prazo
contra a elevação dos preços.
Q uadbo 7-4
140
tilidade natu ral do solo em muitas zonas do Brasil, poderia pare
cer que o grande núm ero de estabelecimentos de até 10 ha constitui
form a altam ente ineficiente de organização econômica. Chegou-se
até a alegar ser antieconômica a maioria das propriedades com me
nos de 50 h a . 10 Os dados do Censo de 1950 (último ano para o .
qual se dispõe de informações censitárias completas sobre a agri-..
cultura) m ostraram que 40,5% da área total das lavouras situavam*
se em propriedades de menos de 50 ha. Verificou-se, também, serem
exatam ente essas pequenas propriedades que têm maiores dificulda
des em adotar novas técnicas produtivas capazes de aumentar o .
re n d im e n to .11
As grandes propriedades de mais de 1 000 ha, que representam '
cerca de 1% do núm ero total de estabelecimentos, ocupam mais dé
47% da área total. E nquanto em 1950, mais de 56% das terras das ;
propriedades de até 10 ha estavam sob cultivo, nas propriedades d e :
m ais de 1 000 ha apenas 3% da área eram cultivadas e 57% eram"
utilizadas para pastagens e, assim mesmo, de maneira fortemente
extensiva.12
Desse padrão geral de distribuição da terra resulta grande con-5
cen tração da mão-de-obra agrícola nas pequenas propriedades (ha
vendo exceções, como nas áreas de cultura de cana-de-açúcar do
Nordeste). Assim, em 1950, os estabelecimentos de até 50 ha reuniam
cerca de 56% do pessoal ocupado; .
Nas pequenas propriedades, a maior parte do pessoal não é
constituída de proprietários, mas de arrendatários, de. forma que
a renda que sobra é pequena e não há incentivo para investir em ;
melhores métodos de produção. Quanto às grandes propriedades, é.
tão am pla a natureza extensiva da exploração que muitos dos seus
proprietários tam bém não tiveram estímulo para fazer grandes in
versões em suas te rra s.13
Até a década de 60 eram reduzidas as atividades de planeja
m ento relacionadas com a mudança na estrutura agrária e poucas
discussões havia a esse respeito. A partir de 1961 é qúe a reforma :
agrária passou a ser tema geral das conversas e objeto de certa.
> agitação política.’ A pressão pela reforma agrária déveu-se, de um
íado, a terem encontrado expressão política, na década de 60, as in-
, justiças sociais decorrentes do padrão de propriedade territorial
dom inante em certas regiões do país e, de outro lado, às tensões
sociais criadas pela escassez de gêneros alimentícios nos centros ur
banos. jAt‘é'_o 'mòmêrrt'ô dé‘ séif~elabbrad6 esle traSllfiW"(1965)- àinda'
141
não se formulou, e m uito menos se adotou, um programa completo de
reform a agrária que fixe os métodos de expropriação, indeniza
ção, e redistribuição da terra, bem como q ^e trate do crédito rural
e da assistência técnica às novas unidades agrícolas. Em março de
1964 foi baixado um decreto — a seguir abandonado pela revolu
ção de abril de 1964 — autorizando a expropriação de terras situa
das na faixa de 10 km de cada lado das rodovias federais, estradas
de ferro e açudes.
Em outubro do mesmo ano, o governo do Presidente Castello
Branco form ulou um novo program a de reforma agrária. Seus dis
positivos principais voltavam-se para a realização da redistribui
ção da terra através do mecanismo tributário, lançando-se mão de
um imposto altam ente progressivo sobre as terras não cultivadas ou
pouco utilizadas, ao mesmo tempo que eram encorajadas as pro
priedades utilizadas com eficiência. O imposto territorial rural se
ria transferido da esfera estadual para o âmbito federal, a fim de
assegurar arrecadação mais eficaz. Outros dispositivos dão ao go
verno o poder de expropriar terras por interesse social, pagando-
se as indenizações em títulos (garantidos até certo ponto contra a
corrosão da moeda). Ao fazermos este livro pouco se sabia a res
peito de dispositivos mais pormenorizados, bem como sobre pro
gramas complementares destinados a aperfeiçoar o crédito rural e
os serviços de extensão técnica.
Graças às imensas áreas não cultivadas de que dispõe o país,
o surto inicial da industrialização não encontrou na agricultura
um ponto de estrangulamento. No entanto, é geralmente reconhe
cido que o desenvolvimento ulterior da indústria ficará seriamente
prejudicado se não for encontrada um a saída para aum entar a pro
dutividade agrícola nas proxim idades dos grandes centros de con
sumo. A elevação mais que proporcional dos preços dos gêneros
alimentícios cria tensões sociais nos centros urbanos e contribui des
necessariamente para aumentar, as pressões inflacionárias. Por outro
lado, como o incremento dos preços é absorvido pelos interm ediá
rios, a m elhoria das relações de troca, em benefício da agricultura
não contribui para elevar a renda dos produtores, que teriam nisso
um estímulo autom ático para aum entar sua produção e sua efici
ência. Finalm ente, o fortalecimento dos sindicatos, que têm tido
êxito crescente no reclamo de melhores salários reais para os tra
balhadores urbanos, faz com que a alta dos preços dos gêneros acar
rete a elevação dos custos reais na indústria. Isto poderá conduzir a
um amortecimento da expansão industrial ou a um desenvolvimen
to orientado para m aior densidade de capital, o que virá agravar
as dificuldades com que o país já se defronta para absorver o i n
cremento das populações urbanas. / ”
142
Como foi acertadam ente indicado pelo economista Ju lian Cha-
cel, diferentem ente de outros países nos quais a reform a agrária
foi um pré-requisito da industrialização, o Brasil pôde expandir
sua indústria durante um longo período sem que houvesse m udan
ças radicais na a g ric u ltu ra .14 Isto foi possível, principalm ente, gra
ças à grande disponibilidade de terras, que infundia ao país enorme
flexibilidade. No entanto, o surto inicial de industrialização chamou
a atenção para o atraso do setor agrícola, de vez que o prossegui
m ento da expansão industrial dependerá, em grande m edida, de
um a reform a agrária. Em certo sentido, pode-se dizer que, levando-
se em conta o padrão de relações sociais existentes no Brasil antes
da II C uerra M undial, fazia-se necessário um surto industrial para
alcançar, ou tornar possível, um a m udança radical nas relações eco-
nômico-sociais do campo.
Que se pode dizer das relações entre os setores industrial e
agrícola? Que tipo de inter-relações prevaleciam e em que m edida
a agricultura financiou o program a de industrialização? Infeliz
mente, a natureza dos dados disponíveis não perm ite respostas m ui
to precisas a estas perguntas. Como os dados relativos à agricultu
ra nas contas nacionais do Brasil são levantados em termos de valor
de produção, não há informações sobre a participação dos fatores
no setor. T am pouco se dispõe de dados a respeito de investim ento e
poupança na agricultura. As melhores informações provêm das es-
, tatísticas concernentes aos preços relativos. Lem brem os que as re
lações de troca atuaram a favor do setor secundário, especialmente
nos fins da década de 50 e r.o início do decênio seguinte. Lem bre
mos ainda que o grosso da elevação dos preços relativos dos produtos
agrícolas foi absorvido pelo setor de comercialização e que a maior
parte dos benefícios decorrentes daquela alta não alcançou o pro
dutor. Os dados qualitativos existentes sugerem que os elementos
que atuam na interm ediação dos bens agrícolas e que captam , atra
vés das relações de troca, a m aior parte do increm ento do produto
nacional correspondente à agricultura, tendem a investir sua pou
pança no setor não-agrícola — na construção civil e na indústria. 15
Claro está que este mecanismo não representava um a transferência
de poupança do setor agrícola para o industrial, mas, antes, um dis
positivo a im pedir que parte do acréscimo de poupança no setor
, não-agrícola se transferisse para a agricultura.
143
No que se refere à transferência de recursos da agricultura
propriam ente dita para a indústria, é difícil ir além de sugerir sua
existência. Vimos que a taxa de crescimento demográfico nos cen
tros urbanos era superior ao elevado índice geral de crescimento da
população, o que im portava num êxodo dos desempregados d isfar-
çados, do campo para as cidades. .'Lembremos, tam bém que, como vi
mos em capítulos anteriores, a taxa de absorção de trabalhadores pela
indústria era m enor do que a taxa de crescimento das cidades, fa
zendo com que muitos dos recém-chegados ingressassem no setor de
serviços. É de supor que esta pressão tenha contribuído para im
pedir que os salários acompanhassem a elevação dos preços, em m ui
tos setores da economia, tornando possível, desse modo, o funcio
nam ento do mecanismo de poupança forçada exam inado no capitulo
5. O aum ento da oferta de alim entos nas cidades foi resultado do
aum ento da produção e não de um a clássica redistribuição de ali
m entos entre o campo e a cidade, apoiada em um mecanismo fiscal.
No entanto, dada a distribuição desigual de ren d a no setor rural,
é legítim o adm itir que grande parte da renda da classe dos proprie-
v tários de terra tenha fluído para o setor não-agrícola.16
Deve-se ter em mente que o surto de industrialização dos anos 30 foi finan
ciado pelo setor cafeeiro. Ver o cap. 2.
i" A m aior parte desta seção foi publicada inicialmente sob a forma de artigo:
Regional inequality and economic growth in Brazil. Economic Development
and Cultural Change, Apr. 1964. No trabalho de Hirschman, A. O. — Journeys
toxuard progress. New York, T h e T w entieth Century Fund, 1963, cap. 1; h;i
uma análise histórica dos problemas econômicos do Nordeste brasileiro. O livro
de Robock, Stefan H. — Brazil’s developing Northeast: a study of regional
planning and foreign aid. W ashington, D.C., T h e Brookings Institution, 1963,
representa, também, ura estudo ccm pleto do Nordeste.
proporcionará um quadro de fundo para o exame dos desequilíbrios
reais existentes no caso brasileiro.
145
J
8. Epílogo da l.a edição
- Neste ponto, nossa exposição soa até como se sempre tivesse havido um órgão
central de planejamento a tom ar essas decisões de maneira deliberada. Recordar-
se-á que, como expusemos no capítulo 4, tal não se deu, sendo, aliás, bastante
desordenado o processo de formulação de decisões no Brasil. Não obstante,
do ponto de vista ex post, as várias políticas seguidas obedeceram a um padrão
bem definido.
174
provocadas pelos desequilíbrios fosse capaz de forçar um a m udança
radical das instituições econômicas e sociais da agricultura, bem
como na educação e em outros domínios. Do ponto de vista
econômico, pode-se tam bém alegar que somente depois da criação
de certo m ontante de capacidade de produção industrial poder-se-ia
dispor dos recursos necessários para atu ar sobre os setores retarda
tários. É um a interpretação que nos aproxim a m uito da conhecida
análise seqüencial de H irschm an.3
N a segunda parte deste capítulo adotarem os o ponto de vista
segundo o qual, a crise brasileira dos prim eiros anos da década de
60, pode ser interpretada como conseqüência de ter o país alcançado
aquele ponto em que certos desequilíbrios terão de ser enfrentados
e corrigidos, para que não seja prejudicado o crescimento ulterior.
Ao fazermos este trabalho, trava-se- n a Am érica L atina um
debate que poderá ter algum a relevância para a situação brasileira.
Argumenta-se que, para m uitos países como o Brasil, a industria
lização baseada na substituição de importações representou um a
força dinâm ica capaz de gerar elevados índices de crescimento eco
nômico. Virá o momento, porém, em que o processo substitutivo
terá chegado ao fim. M uitos países ingressarão, a p artir desse ponto,
num longo período de estagnação. A razão para isto está em inexistir,
mesmo nos países maiores, mercado suficiente para ocupar plena
m ente a capacidade produtiva instalada (deve-se recordar que no
Brasil, por exemplo, criou-se um a indústria bastante desenvolvida
de bens de capital). Não se tendo modificado a distribuição da
renda, o processo de industrialização deixou de elevar o poder
aquisitivo das massas em consonância com a am pliação da capaci
dade de produção. \Em alguns países alega-se até existirem evidên
cias de que a industrialização tenha acarretado redistribuição da
renda em benefício das classes mais ricas.4 O único caminho para
rom per a estagnação em diversos desses países é em preender um a
série de profundas reformas sociais (reform a agrária, reform a tri
butária) que redistribuam a renda e, desse modo, criem o nível de
procura efetiva necessária à plena ocupação da capacidade e à sua
ulterior expansão.
175
É difícil avaliar a aplicabilidade dessa argum entação ao Brasil.
Não há dúvida de que o processo de industrialização criou ou
am pliou no Brasil um a am pla classe m édia, bem como um a classe
de assalariados dotada de poder de com pra m uito superior à que
existia ao findar a II G uerra M undial. íA explicação dada pelos
defensores da tese da estagnação terá sem dúvida certas raízes, se
a estagnação iniciada no Brasil em 1961 prosseguir através da década
de 60. (Q uanto a nós, procurarem os explicá-la como um fenômeno
de curto prazo e mais em termos da análise do desequilíbrio que
foi exposta.) Esperamos que novos dados tornem-se disponíveis breve
mente a fim de que possa ser testada a hipótese de estagnação.
176
O Vice-Presidente João Goulart, eleito por parcela bem inferior a
50% dos votos, só pôde assumir o governo depois de drasticamente
reduzido o seu poder, que foi forçado a partilhar sob um sistema
parlamentarista criado para isso. O ano de 1962 foi marcâdo pela
porfiada luta entre o Congresso e o presidente e, portanto, pela
falta de liderança firme. Caracterizou-se, ainda, pelo aguçamento
da agitação política contra o capital estrangeiro e pelos reclamos em
prol de seu controle. Em outubro de 1962 foi aprovada uma lei de
remessa dos lucros destinada a controlar e limitar severamente as
remessas de lucros pelas empresas estrangeiras. Só poderiam remeter
o máximo de 10% do valor original de seus investimentos.
O plebiscito realizado em janeiro de 1963 devolveu ao presi
dente todo o seu poder. Goulart, porém, não demonstrou firmeza
diante dos problemas do país. N o que toca à inflação, por exemplo,
sua fraqueza o conduzia a ceder tanto aos reclamos dos sindicatos
como dos homens de empresa, reajustando os salários com maior
freqüência e em maiores proporções do que anteriormente, ao mes
mo tempo que abria mão de significativas restrições de crédito e
da eliminação dos subsídios à importação de combustíveis e papel
de imprensa. Disso resultou uma inflação desenfreada e de natureza
altamente contraproducente, pois nem sequer redistribuía as par
celas de renda dos consumidores para os investidores.
Goulart tinha consciência da necessidade de profundas refor*
, mas econômicas e sociais, mas nunca assumiu o seu encaminhamento.
Usava a bandeira das reformas como arma demagógica, agitando
uma plataforma reformista sem formular programas concretos para
as reformas agrárias, tributárias etc. Jogava uma classe contra a
outra, terminando por perder o controle da situação e sendo derru
bado a l 9 de abril de 1964.
Não é de admirar que em semelhante clima de efervescência
política, tanto os investidores nacionais como estrangeiros tenham
restringido drasticamente suas atividades. O afluxo de capitais
autônomos de natureza privada declinou de US$ 108 milhões, em
1961, para US$ 71 milhões, em 1962 e US$ 31 milhões em 1963.
Embora ao fazermos este trabalho ainda não se disponha de dados
relativos ao investimento realizado em 1962 e 1963, a retração das
atividades de investimento refletiu-se na queda do índice do cres
cimento da indústria do nível de 12%, em 1961, para 9% e 1,9%
respectivamente, em 1962 e 1963. A diminuição de ritmo foi também
provocada pelo grave racionamento de energia na área Rio—São
Paulo, em parte resultado da severa estiagem ocorrida em 1963 e,
em parte, dos colapsos e carências no sistema infra-estrutural.
Também tiveram sua parcela de influência as inúmeras greves
desencadeadas em 1963, como reflexo da crescente agitação política
e da diluição do controle governamental sobre os sindicatos.
N a segunda metade de 1964, havia sinais de que o novo governo
chefiado pelo Marechal Castello Branco, começava a controlar os
problemas imediatos e mediatos. Em agosto foi formulado um
Program a de Ação do Governo Revolucionário, para curto prazo,
com o objetivo de deter a inflação (lim itando a expansão do crédito,
subordinando as elevações de salário ao aum ento da produtividade
e elevando as receitas tributárias m ediante diversas reformas na
adm inistração fiscal) e estim ular a produção. Esperava-se estimular
a produção m ediante um am plo plano governamental de construção
de residências populares, que ao mesmo tempo, inrentivaria as
indústrias básicas fornecedoras da construção civil e daria saída ao
problem a social representado pela aguda carência de habitações nas
cidades. As modificações introduzidas na lei de remessa de lucros
e o acordo de pagamentos realizado em função d a nacionalização
dos serviçoS de utilidade pública que pertenciam à American and
Foreign Power concorreram substancialmente para restaurar a
confiança da iniciativa privada internacional no Brasil e, pelos fins
de 1964, já havia sinais de que o capital privado começaria a
reingressar no país.
Com a publicação do Estatuto da T erra, e sua remessa ao
Congresso em outubro de 1964, o governo Castello Branco deu
mostras de estar disposto a enfrentar os desequilíbrios socioeconô-
micos subjacentes. O estatuto aborda o problema da propriedade
da terra através do mecanismo fiscal, tributando pesadamente o uso
ineficiente da terra (e as terras deixadas ao abandono) segundo
taxas progressivas.5 Além disso, contém dispositivos que permitem
a expropriação pura e simples da terra, m ediante indenização em
títulos (que substitui o pagamento em moeda previsto na Consti
tuição). A feroz oposição que o projeto suscitou nos círculos conser
vadores do Congresso é um sintom a do seu gume, bem como do
espírito decidido de que está im buído o governo. Nos fins de
1964 o governo Castello Branco empenhou-se em medidas reformis
tas similares no dom ínio dos impostos, da adm inistração pública e
de outro mais. Resta ver até que ponto terá êxito em conseguir sua
aprovação e implementação.
M inha impressão pessoal é a de que a crise política e econômica
que o Brasil atravessa nos albores da década de 60 é, em parte,
conseqüência do próprio êxito no esforço de industrialização em
preendido no decênio anterior. O florescimento de um moderno
178
setor industrial pôs em destaque o atraso da agricultura, da edu
cação, da m áquina adm inistrativa do Estado etc. E o atraso destes
setores ameaça agora o prosseguim ento da expansão do país. O
êxito da industrialização fez com que m uitos grupos sociais tomassem
consciência das iniqüidades existentes no sistema social e econômico
do país, tornando-se politicam ente cada vez mais poderosas as reivin
dicações no sentido de redistribuição da renda, tanto por meio
da reform a agrária, como pela proteção da renda real dos assala
riados contra a inflação.
Os dirigentes do país estão, claram ente, diante de um dilema.
De um lado, inúm eras reform as socioeconômicas fazem-se neces
sárias para que o desenvolvimento ulterior não se veja obstaculi-
zado. De outro, propósitos de justiça social tornam necessárias
m uitas reformas que podem pôr em perigo o crescimento —
especialmente a insistência dos grupos assalariados em obterem
m aior participação no produto interno bruto.
Os dois anos de governo João G oulart serviram apenas para
aguçar os conflitos e seus sucessores continuam a braços com a
necessidade de muitas reform as esscnciais. A estabilidade do regime
ficará seriamente com prom etida se essas necessidades não forem
atendidas. O dilema distributivo, isto é, a necessidade simultânea
de elevados índices de crescimento econômico e de distribuição
mais equitativa da renda, poderia ser solucionado na próxim a
década m ediante ‘substancial afluxo de capitais estrangeiros e m e
diante um program a maciço de ajuda por parte dos Estados Unidos
e de outros países. N ão ficarei surpreendido se, dentro de uns
15 anos, desde que ocorra essa ajuda externa, o Brasil tiver cons
truído um a base bastante forte que lhe perm ita alcançar, sim ulta
neamente, elevados índices de crescimento econômico e justiça
social.
179
•rr
9. A economia brasileira nos anos 60 *
Introdução
183
s!
Q u a d no 9-1
Formação
Consumo Consumo do Capacidade de
bruta de
i Ano pessoal governo importar
J capital
Fonte: Fundação Getulio Vargas; taxas de crescimento baseadas em agregados a preços de 1953.
184
Q uadro 9 -2
E m preços corren
tes
A gricultura 25,8 27,6 26,1 22,8 22,6 19,1 19,2 17,9
Indústria 19,4 19,8 23,7 24,4 25,2 27,2 26,2 28,0
O utros setores 54,8 52,6 50,2 52,8 52,2 53,7 5 4,õ 54,1
Fonte: Calculado com dados da Fundação Getulio-Vargas, Centro de Contas Naeiomu.-, e Con-
juntura Econômica,
Poupanças
Deficits E x p o rta Im por
Im pos Im pos
do ções de tações
tos in tos
Ano balanço bens & de ser
P riv a d a diretos diretos
Governo de paga serviços viços
liquida
m entos
' (7) (8) (9) (10) (11) (12) (13)
186
Quadro 9-3
Fonte: Conjuntura Econômica, Boletim do Banco Central, e dados fornecidos pela Fund&çSo Getulio
Vargu.
o A agricultura não havia sido inteiram ente abandonada uma vez que alguns
investimentos em instalações de comercialização e serviços de extensão foram
realizados. Além disso, a agricultura expandiu-se satisfatoriamente q u a n d c o m
parada com o crescimento da população; entretanto, vários especialiín, %':o
de opinião que isso deu-se mais devido à agricultura extensiva do que u ',;m
autnei/to de produtividade nas áreas agrícolas. Existe ainda substancial concor
dância em que as condições sociais para maioria da força de trabalho agrícola
continuou precária (no início dos anos 60 mais de 50% da população ainda
era r u r a l) . Ver Chacel, Julian. T h e principal characteristics of the agrarian
siruciure and agrieultural produetion in Brazil. Smith, Gordon W. Brazilian
agricultural policy, 1950-1957. Ambos em Howard Ellis ed. op. cít.
189
pão e passagens de ônibus, ajudou o governo a reduzir o deficit
orçam entário. Além disso o governo Jân io Q uadros impôs a con
tenção de crédito e congelamento salarial e iniciou um severo
program a de dim inuição das operações governamentais. Em meados
de 1961 já havia algum a evidência de que o crescimento d'a inflação
estava dim inuindo e os credores externos do Brasil começaram a
olhar o país com mais sim patia. U m elem ento que exerceu um certo
papel na confiança dos credores estrangeiros foi o fato de os p ri
meiros anos da década dos 60 terem m arcado o início da Aliança
Para o Progresso, de Kennedy, que supostam ente favorecia governos
especialmente reformistas. H á pouca dúvida de que os esforços
objetivando reformas estruturais e o vigoroso esforço de estabilização
estavam entre as principais causas das fortes pressões sobre Jânio
Q uadros que causaram sua renúncia à presidência. 7
Os turbulentos anos a p artir d a renúncia de Jânio Q uadros em
agosto de 1961 até à deposição do governo G oulart em abril de
1964, foram vazios de qualquer lin h a consistente de política eco
nômica. Isso foi devido à falta de liderança dem onstrada pelo Pre
sidente João G oulart e, na prim eira parte de sua adm inistração, a
circunstâncias que não haviam sido diretam ente causadas por ele.
G oulart só teve permissão de assumir a presidência após ter con
cordado que dividiria o poder com um a forma de governo parla
m entar recentem ente criada. T a l fato confundiü as linhas de
autoridade e não surgiu nenhum a liderança clara. E ntretanto, após
um plebiscito em 1963 que restaurou total poder à presidência,
G oulart revelou-se um hom em fraco subjugado por pressões, de gru
pos diversos. Houve tentativas para se conseguir a estabilização, logo
abandonadas quando ele não conseguia resistir à dem anda dos lí
deres trabalhistas para rápidos ajustes salariais, à dem anda dos
homens de negócio p ara atenuar as restrições creditícias, à préssão
de vários grupos para não abandonar as taxas d e câmbio de sub
sídio com efeitos inflacionários para a im portação de petróleo e
trigo e para não reajustar as tarifas de serviços públicos e trans
portes, de acordo com a elevação dos níveis de preços. Essa últim a
política criava mais pressões inflacionárias através de aum entos nos
deficits dos orçamentos públicos. ®
D u rante o'governo G oulart, grupos que dem andavam reformas
institucionais básicas e políticas mais nacionalistas em relação ao
capital estrangeiro, tornaram -se crescentemente exigentes e tiveraíii
" Para maiores detalhes sobre a situ ação . política do período, ver Skidmore,
Thomas E. Politics in Brazil 1930-1964, an experim ent in democracy. New
York, Oxford University Press, 1967, cap. 6.
8 Baer, W erner; Kerstenetzky, Isaac & Simonsen, Mário H . T ransportation and
inflation: a study of irrational policy-making in Brazil. Economic Development
and Cultural Change, Jan. 1965.
190
influência substancial sobre o presidente; A agitação pelas refonnas
agrária e fiscal cresceu, mudanças institucionais n a estrutura edu
cacional do país e um controle m aior sobre as atividades do capital
estrangeiro (e em alguns casos, desapropriação) foram demandadas.
G oulart simpatizava com essas forças que desejavam drásticas refor
mas socioeconômicas, usava seus argumentos em seus pronuncia
mentos, mas falhou na im plementação de programas concretos.
Algumas medidas foram tomadas no período, tais como um a
severa lei de remessa de lucros (aprovada pelo Congresso em outubro
de 1962), e um Plano T rienal foi elaborado no início de 1963,
que devia controlar drasticamente a inflação e lid ar, sistematica
m ente com os principais desequilíbrios da economia. Este plano
foi logo arquivado quando se tornou óbvio que o governo não
tin h a nem os meios nem a vontade de im por algumas de suas m edi
das de estabilização e reformas. A falta de controle político, a
contínua agitação por reformas e contra o capital estrangeiro, teve
como resultado crescentes e severos problemas econômicos. A um en
taram os deficits orçamentários e a taxa de inflação cresceu a níveis
de 50% e finalm ente a taxas anuais superiores a 100% em 1964.
Com as incertezas políticas, o investimento tanto privado como
estrangeiro declinou e a taxa de crescimento da economia decresceu
continuam ente em relação ao pico alcançado em 1961.
Logo após a deposição de G oulart, em abril de 1954, o novo
governo Castello Branco form ulou um program a de política eco
nômica de curto prazo (Programa de Ação Econômica do Governo
— PAEG), que objetivava o controle da inflação e a correção das
distorções que haviam sido criadas no sistema econômico, devidas
tanto à rápida substituição de importações dos anos 50 como ao
longo período de inflação.8 Essas políticas foram continuadas sem
grande modificação pelo governo Costa e Silva que tom ou posse
em 1967.
M edidas clássicas de estabilização foram adotadas — corte das
despesas do governo, contenção de crédito e dos salários. O novo
governo fez esforços especiais para reduzir as despesas em vários
setores e aum entar as receitas pela m elhoria do mecanismo de
arrecadação tributária. Isso resultou em um aum ento real das
receitas do governo de 25% em 1965. A política salarial foi form u
lada de modo a m anter os salários e ordenados em consonância com
os aum entos de produtividade. A política governam ental fez com
que os aum entos salariais se realizassem com um a decolagem em
191
relação aos aumentos de preços, causando assim reduções substan
ciais no poder de compra real dos trabalhadores. A contenção de
crédito foi de tal ordem que o total de crédito disponível na
economia durante os meados e fim da década de 60 foi inferior ao
dos anos iniciais da mesma. O comércio, a indústria e o crédito
pessoal sofreram o ônus dessa política, enquanto que o setor rural
ficou em melhor situação (ver quadro 9-5).
O regime após 1964 introduziu um grande núm ero de leis e
decretos que objetivavam eliminar as distorções herdadas do pas
sado e estimular a atividade econômica. Eliminaram-se os subsídios
às importações de petróleo e de trigo. As tarifas dos serviços de
utilidade pública foram aumentadas de acordo com a taxa de infla
ção. Embora essas medidas tivessem um impacto inflacionário ime
diato, esperava-se que elas, em última instância, eliminassem os
deficits orçamentários do governo federal e desse modo reduzissem
as forças inflacionárias de longo prazo (o impacto inflacionário
dessas medidas foi chamado inflação corretiva).10 Foram realizados
esforços para modernizar os mercados financeiros. Instituições espe
ciais de crédito foram criadas para auxiliar as pequenas e médias
empresas a financiar a compra de bens de capital. Uma inovação
importante foi a criação de instrumentos financeiros cujos valores
seriam sujeitos a reajustes periódicos de acordo com a taxa de in
flação. O governo introduziu títulos reajustáveis, elim inando assim
parte do impacto inflacionário de seus deticits (isto é, os deficits
sendo financiados por títulos vendidos ao público seriam menos
inflacionários do que os títulos vendidos ac Banco Central, o que
equivalia a uma injeção de dinheiro novo na economia). N atu ral
mente, essa medida teve também um impacto restritivo no mercado
de crédito privado, pois o governo estava agora, efetivamente, trans
ferindo grande volume de fundos do mercado de capitais.
De grande importância foi a criação do Banco Nacional de
Habitação, autorizado a usar instrumentos de crédito que podiam
ser reajustados à taxa de inflação.11 Após um começo pouco ativo,
o Banco Nacional de Habitação teve um im pacto substancial no
ressurgimento do setor de construção civil no final dos anos 60.
Ainda é muito cedo para determinar a extensão do sucesso dos
instrumentos de crédito reajustáveis sobre o setor habitacional a
192
Q uadro 9 -5
S IS T E M A B A N C Á R IO DO B R A SIL — E M P R É S T IM O S AO SETO R
PR IV A D O
(.Aos preços de 1962 — 1962 = 100)*
• Os números entre parênteses indicam a distribuição percentual dos empréatimos ao setor privado.
Font ;: Relatórios do Banco Central.
193
irtigo 34/18 da Sudene para atrair fundos de investim entos12 —
: para aum entar e diversificar as exportações do país. Para atingir
:sse últim o objetivo, o governo estabeleceu um a instituição de i
:rédito à exportação, aboliu os impostos que incidiam neste setor
: simplificou substancialm ente os seus processos burocráticos. Em bora
enham sido feitas tentativas para reduzir as despesas do governo,
js investimentos públicos em infra-estrutura, como construções *
-odoviárias, projetos hidrelétricos (por exemplo, a barragem de
Boa Esperança no Nordeste, o vasto projeto hidrelétrico de Ilha
solteira em São Paulo), foram m antidos.
Os principais objetivos do governo desde 1964 eram reduzir
gradualm ente a taxa de inflação, elim inar as distorções de preços
; outras que a inflação havia introduzido, m odernizar os mercados
Einanceiros e restaurar um clima de confiança do investidor na
;conomia. Os formuladores de política pensaram que, em bora a
:urto prazo essas medidas requeressem alguns reajustam entos peno
sos por vários grupos socioeconômicos (durante a m etade dos anos 60
houve um a constante admoestação pelos formuladores de política,
ao público, da necessidade de sacrifícios para restaurar a ordem
econômica), em últim a instância haveria um aum ento das poupan- j
ças disponíveis; essas poupanças seriam canalizadas para os setores
mais rem unerativos e desse m odo produziriam , a longo prazo, taxas
de crescimento satisfatórias. P ara os form uladores de política “ . . . o
principal problem a da economia era visto do lado da oferta. A <,
volta de um sistema de preços refletindo a escassez relativa e a
criação de melhores instituições para capturar as poupanças da
economia eram consideradas como a estrada real para um a taxa
mais elevada de crescimento econômico”. 13
194
9.4 Inflação
195
(liderai é usado aqui para indicar pressão relativa sobre o nível
de preço, ao invés de indicar tempo). O leitor pode ver que após
1964 a alimentação não foi um setor que exerceu pressão sobre o
custo de vida. Os setores líderes eram representados pela habitação
e os serviços públicos (que em conjunto representam um peso de
18%); essas pressões representavam parte do período de inflação
Q uadro 9-6
A) RELAÇÃO DO ÍN D IC E D E ALTERAÇÃO D E IT E N S IN D IV ID U A IS
D E CONSUM O E A ALTERAÇÃO DO ÍN D IC E G ER A L DO CUSTO
D E V IDA - ESTA D O D A GUANABARA
Ali Artigos
Ves H abi Serviços Serviços
Ano domés Saúde
m ento tuário tação pessoais públicos
ticos
Nota: Até julho de 1966, as ponderações do indice de custo de vida foram as seguintes:
Alimentos 43,0%
Habitação 20,0%
Vestuário 11,0%
Artigos domésticos 5,7%
Saúde 4,0%
Serviços pessoais 5,8%
Serviços públicos 10,5%
Após aquela data, as ponderações usadas foram as seguintes:
Alimentos 45,15%
Habitação 10,57%
Vestuário 8,48%
Artigos domésticos 11,49%
Saúde 5,52%
Serviços pessoais 11,12%
Serviços públicos 7,67%
Fonte: Calculado com base nos dados do custo de vida em Conjuntura Econôtnica.
196
Q u a d ro 9-6 — Continuação
B) RELAÇÃO DO ÍN D IC E D E P R E Ç O S IN D IV ID U A IS PO R ATACADO
E O ÍN D IC E G ER A L DOS P R E Ç O S P O R ATACADO
Ali M etais
M aterials P rodu
mentos Combus e produ de cons tos de Têxteis P rodutos
Ano Café sem quím icos
tíveis tos m etá trução couro
café licos
13 D urante o longo período inflacionário dçs anos 50 e início dos anos 60,
os preços controlados pelo governo não tinham permissão para se e le v a r na
mesma taxa do índice geral de preços. Isso introduziu severas distorções de
preços. Parte do programa de estabilização consistiu na elevação do s preços
dos setores em atraso (alimentos, combustíveis, serviços públicos, a lu g u é is ).
Esta medida teve um im pacto inflacionário de curto prazo q u e é ch a m a d o
inflação corretiva. Ver Baer, W.; Kerstenetzky, I. & Simonsen, M. H. T r a n s p o r
tation a n d inflation: a study o£ irrational policy-making in B ra zil. E c o n o m i c
Development a n d Cultural Change, Jan. 1965; Simonsen, M. H. Brazilian in
flation: postwar experience and outcome of the 1964 reforms. In: E c o n o m i c
Development Issues: Latin America. Supplem entary Paper n. 21, issued b y the
committee for economic development. New York, Aug. 1967: Ellis, H o w a r d S.
Corrective inflation in Brazil, 1964-1966, in T h e Economy o f B r a z i l , e<l. b y
H. S. Ellis, Berkeley & Los Angeles, University of California Press, I960.
atacado mostra que os produtos químicos, têxteis e m ateriais de
construção eram freqüentem ente os líderes nos aum entos de preço.
Infelizm ente essa identificação dos pontos de maior ou m enor
pressão na inflação contínua não responde à questão fundam ental,
isto é, por que as forças inflacionárias persistiram durante um perío
do prolongado de estagnação relativa, de capacidade ociosa na indús
tria e, durante todo o período, um a taxa de crescimento adequada da
oferta de alimentos. £ verdade que as condições para um a inflação
contínua estavam presentes, um contínuo crescimento da oferta
m onetária e a existência de deficits orçam entários do governo. No
entanto, essas últimas características não explicam as causas básicas
do fenômeno.
A tentativa mais interessante para explicar essa anom alia foi
feita por Samuel Morley em um artigo re cen te.16 Prim eiro, com
base em estimativas das mudanças trim estrais na atividade econô
mica, Morley encontrou um a relação clara na taxa de modificação
da expansão m onetária e da produção real durante os anos 60.
Isso “ . .. sugere que a razão pela qual o program a de estabilização
resultou em um período tão longo de estagnação com inflação é a
m aneira pela qual ele foi a p lic a d o ...” . A contenção'm onetária
" . . . foi aplicada de forma irregular, o que causou inicialm ente
recessão com inflação residual, em seguida recuperação com infla
ção ainda maior. Do ponto de vista da estabilidade dos preços, os
benefícios integrais de cada período de contenção foram pedidos em
excessivas expansões su b se q ü e n te s...”. 17 Morley acha que a con
tenção da oferta de m oeda não foi m antida durante longo tempo,
em virtude das pressões para abrandam ento que foram geradas.
Entretanto, como a política de contenção contiuou, " . . . essas re
versões tem porárias de política apenas prolongaram o período de
ajuste a uma taxa de inflação mais baixa. Elas criaram tam bém a
falsa impressão de cinco anos de preços crescentes com produção
constante ou em declínio. Ao invés disso, todos os declínios de
produção concentram-se em três subperíodos, ao passo que mais da
metade da inflação vem em diferentes períodos de expansão m one
tária excessiva”. ls
Em bora o que foi m encionado esclareça um pouco- o fenômeno
da coexistência de estagnação com inflação, a análise de M orley diz
pouco sobre a baixa taxa de crescimento econômico a longo prazo
durante os anos 60. N aturalm ente, se em alguns trimestres houver
uma contenção m onetária que afete adversamente o crescimento, é
198
difícil saber se o crescimento teria continuado n a ausência das várias
restrições m onetárias a curto prazò. Ele apresenta, no entanto,
algumas sugestões interessantes sobre a fonte das persistentes pressões
inflacionárias nos anos 60.
Existe pouca evidência de que havia prevalecido a clássica
inflação de dem anda ou de custos, ou inflação causada por rigidez
estrutural. A oferta de alimentos, como já vimos, cresceu a um a
taxa satisfatória e, exceto em curtos períodos, não exerceu liderança
na pressão sobre os índices de preços. Morley encontrou uma
quedà nas relações matérias-primas e custo de mão-de-obra e valor
das vendas na m aioria das indústrias, o que afasta a explicação de
um a inflação de custo. A capacidade ociosa na m aioria das indús
trias tam bém afasta a explicação de um a inflação de ;dem anda.19
Morley achou tam bém que da m etade dos anos 5.0 à m etade dos
anós 60 as altas de preços das indústrias que cresciam a taxas mais
baixas (tradicionais) eram mais rápidas do que as das Indústrias
mais dinâmicas. Para confundir as coisas, achou também que os
lucros (definidos como valor das vendas, menos o valor dos insumos)
elevaram-se em meados dos anos 60 subindo mais rapidam ente nas
indústrias mais velhas, menos dinâmicas, embora esses aumentos de
preços não tenham estim ulado a - expansão da produção.20
Morley sugere um a possível explicação do fenômeno de estag
nação com inflação no efeito peculiar que a restrição de crédito
teve sobre as firmas brasileiras. Elas dependem m uito mais do cré
dito externo para capital de giro do que as empresas em países
mais * *ados. Com a redução do crédito externo, as empresas
tive.- '«sar recursos internos, lucros, como capital de giro.
Daí, a fi ue se m anter em operação durante um período em que
são tentadas m edidas clássicas de estabilização, as firmas tentarão
elevar os preços para aum entar os lucros. Elas tenderão a usar os
lucros nas operações correntes ao invés de destiná-los à expansão da
capacidade e da produção, ou seja, os preços são elevados apenas
20 Muitas das indústrias tradicionais do Brasil, tais como têxteis, estão sobre
carregadas com um grande volume de equipam ento obsoleto. Lucros mais
elevados devido a pieços mais altos podem, não necessariamente, induzir mais
investimento e produção nessas indústrias, de vez que um a completa moder
nização só seria possível com um grande volume de fundos do governo. Esta
possibilidade foi sugerida por Anníbal Villela.
com o objetivo de aum entar o capital de g iro .21 N aturalm ente, na
medida em que os preços não puderem ser aum entados em algumas
indústrias, há alguma pressão sobre aum entos de produtividade
para reduzir custos a fim de gerar o capital de giro necessário.
21 Tem sido afirmado também que os custos unitários mais altos, de níveis
de produção mais baixos também foram transferidos pelos produtores brasileiros
através de preços mais elevados. Dada a estrutura oligopolística da indústria
brasileira, custos mais altos sSo geralmente transferidos na forma de preços
mais altos ao invés de serem absorvidos pelas firmas.
200
Como a perspectiva para as exportações tradicionais não c
m uito favorável e como não liá garantia de que suficiente capital
privado e /o u estrangeiro estaria disponível em épocas de queda das
receitas cam biais,22 faria sentido que o Brasil expandisse suas
exportações e diversificasse a estrutura das mesmas a fim de evitar
estrangulam entos nas importações que poderiam causar um a recessão
industrial. Isso não aconteceu (ver quadro 9-7B). T em havido pouca
modificação na estrutura das exportações do Brasil. Na verdade,
até meados dos anos 60 o país não tinha nenhum a política para
estim ular tanto as exportações tradicionais como as novas expor
tações. N a realidade os exportadores tinham de pagar impostos de
exportação e lu tar contra um a complicada barreira burocrática para
exportar seus produtos. 23
Segundo um autor a estagnação dos anos 60 foi causada por
um estrangulam ento das irriportações, que ocorreu em 1963.24 Os
dados não apóiam essa opinião. Por exemplo, o quantum das im
portações de bens interm ediários e m atérias-primas caiu de 12% em
1962, mas aun\entou novam ente de 28% em 1963; em bora o cresci
m ento industrial declinasse em 1962 (ver quadro 9-1), ele havia
praticam ente estagnado em 1963.25 O quadro 9-7 indica que o valor
das im portações declinou substancialm ente em meados dos anos 60,
ao passo que o valor das exportações cresceu firm em ente após
1962. Não obstante a restrição de im portação não ter sido uma
causa da redução do crescimento econômico nos anos 60, ela não
deve ser afastada como um a possível limitação ao crescimento
futuro da economia brasileira.
201
Q üaduo 9 -7
A) Q U A N T U M E VALOR DAS E X P O R T A Ç Õ E S E
IM P O R T A Ç Õ E S DO B R A S IL
(1953 = 100)
E xportações Im portações
Ano
Quantum Valor
Quantum Valor Quantum Valor
(sem café) (sem café)
B) ESTRUTURA DAS EX PO R TA Ç Õ E S E IM PO R T A Ç Õ E S
DO B R A SIL
[Em, percentagem)
Exportações
Animais vivos
M atérias-prim as 23,9 23,6 30,5 28,3 28,0 32,1
Alimentos e bebidas 75,0 73,7 61,8 62,4 64,4 59,1
Produtos químicos e farm acêuticos 1,1 1,0 1,7 1,4 1,4
M aquinaria e equipam entos de
transporte 1,1 0,1 1,8 2,6 2,2 2,6
M anufaturas 0,5 4,1 4,3 3,4 3,5
Diversos 1,0 0,8 0,7 0,6 1,2
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 00,0
Importações
Animais vivos 0,8 0,1 0,2 0,1 1,5
M atérias-prim as 28,7 27,6 24,8 19,4 19,7 16,8
Alimentos e bebidas 17,1 13,6 19,4 19,6 1,5,7 13,3
Produtos químicos e farm acêuticos 9,5 15,9 13,8 15,2 14,9
M aquinaria e equipam entos de
transporte 35,6 22,3 28,5 31,0 33,1
M anufaturas 53,4 13,5 17,1 17,7 18,1 20,0
Diversos 0,2 0,4 0,8 0,3 0,4
Tota! 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: ,-tnu<íno ÆsfaMsîtVo.
O quadro 9-8 dá um a visão agregada do balanço de pagamentos
do Brasil no período 1958-68. Observe-se que, exceto em 1960 e
1962, q balanço de mercadorias esteve sempre com saldo, o qual
cresceu em meados da década e declinou fortem ente em 1968. O
balanço favorável de mercadorias de meados dos anos 60 foi clara
m ente causada pela recessão por que passou a produção industrial,
de vez que, como já mencionamos, um a proporção crescente das
importações do Brasil durante o período dé substituição de im por
tações consistiu de insumos para o setor industrial. Nos anos 60
o estrangulam ento das importações não foi um a causa' do declínio
do crescimento, mas o declínio do crescimento industrial foi um a
causa do declínio das importações.
Com a exceção de um período de dois anos a conta-corrente
do balanço de pagamentos tem sido negativa. Deve-se isto ao fato
de que o balanço de serviços que é tradicionalm ente negativo
cresceu nos anos 60. De US$ 400 milhões no início da década o
déficit de serviços cresceu para US$ 500 milhões nos últim os anos
da mesma. Grande parte dos pagamentos de serviços do Brasil
cohsiste em fretes, juros da dívida externa e remessas de lucros por
firmas estrangeiras. Os pagamentos de fretes permaneceram em tom o
de um a média de US$ 125 milhões durante os anos 60, enquanto
que os pagamentos de juros e remessas de lucros aum entaram de
U^$ 190 milhões no início da década para cerca de US$ 300 milhões
no fim da mesma. O Brasil está fazendo um esforço para construir
sua m arinha mercante, aum entar a proporção de suas exportações
e importações transportadas em navios nacionais para, désse modo,
reduzir o déficit de pagamentos. Entretanto, as remessas dfe paga
mentos de juros provavelmente continuarão sendo um a pesada carga
por m uitos anos de vez que a dívida externa total foi d a ordem de
US$ 4 bilhões em 1969 e, dados os extensivos investimentos estran
geiros diretos (que freqüentem ente cresceram nos últim os anos com
um grande volume de lucros retidos e empréstimos locais), deve-se
esperar que as remessas de lucro cresçam nos anos 70.
O movimento total de capital autônom o declinou substancial
m ente na crise dos meados da década dos 60 e só em 1968 ultrapassou
os níveis atingidos no fim. dos anos 50 ou início dos 60. É interes
sante observar o declínio drástico do capital privado direto, que
nunca mais chegou aos níveis dos anos 50, durante a década seguinte.
Em parte, esta redução na entrada de capital estrangeiro deveu-sé
à falta de confiança na estabilidade política do país, à m edida que os
anos 60 decorriam, tendo como um fator, agravante adicional o pró
prio esmorecimento da economia brasileira. M uitas das firmas indus
triais que se estabeleceram no Brasil nos anos 50 e que expandiram
suas instalações nos anos 60, lançaram m ão em larga escala dos lu
cros retidos e de fundos tomados emprestados localm ente.
203
Q uadro 9 -8
BALANÇO DE PAGAMENTOS DO BRASIL — 1958-1968
(Em milhoea de U 8 Í)
|
Empréstimos oficiais e privados declinaram substancialmente
do início aos meados dos anos 60, mas elevaram-se novamente a
níveis ainda mais altos no fim da década. É digno de nota também
a elevação nos pagamentos das amortizações que absorveram uma
grande proporção desses empréstimos. Considerando-se que a dívida
externa do Brasil era de cerca de US$ 4 bilhões no fim dos anos 60,
é de se esperar que na década dos 70 um a grande proporção das
receitas cambiais do Brasil será gasta no serviço da dívida externa.
Os dados que apresentamos devem esclarecer o enigma de um
volume substancialm ente mais elevado de recursos colocados à dis
posição do governo brasileiro pela USAID, pelo BIRD e outros
órgãos internacionais, após a m udança de regime em 1964, que
ocorreu em um a época de reiativa estagnação. Grande parte do
novo crédito externo foi usado para pagar a antiga dívida a curto
prazo e não representou capital a ser usado para iniciar investi
mentos maciços em setores novos, que teriam tido um impacto
cum ulativo na taxa da atividade econômica in te rn a .28
Um a interessante m edida de política econômica foi introduzida
em 1968. O governo instituiu o que foi chamado um a taxa de
câmbio jlexiv&l, tendo, anteriorm ente, lim itado a desvalorização do
cruzeiro a um a, ou, no máximo, duas vezes por ano. Dadas as taxas
de inflação, era óbvio que após um certo período de tempo
realizar-se-ia um a desvalorização e antes da mesma, ocorreriam
substanciais especulações contra o cruzeiro — os exportadores ten
dendo a m anter seu dinheiro no exterior ou a atrasar seus paga
mentos, en quanto que os im portadores tenderiam a comprar suas
cambiais tão rapidam ente quanto possível. Pelo novo sistema, as
modificações no valor do cruzeiro ocorrem a intervalos curtos, mas
de m aneira errática. Teoricam ente, o valor poderia ir em ambas as
direções, mas vai sempre para baixo. D ada essa incerteza, existe
menos especulação contra o cruzeiro, permanecendo a taxa de
câmbio m elhor alinhada com a taxa interna de inflação e, assim,
as exportações não serão desestimuladas e haverá menos tentação
para se realizarem im portações especulativas. Finalmente, desvalo
rizações mais freqüentes tornariam a própria desvalorização um
assunto político de m enor im portância do que quando ela ocorria
apenas um a vez por ano.
205
9.7 Duas visões opostas das tendências econômicas nos anos 60
206
investim ento do setor privado e tam bém o im pacto das atividades
pública^ de investim ento n a infra-estrutura conduzam o país a um a
década de crescimento continuado e equilibrado nos anos 70.
Im plícita nas racionalizações dessa escola de pensamento é a
idéia de que os acontecimentos havidos durante grande parte dos
anos 60 não poderiam ser evitados. A industrialização dos anos 50
foi m uito rápida, mal planejada e excessivamente unilateral para
que pudesse sustentar-se sem alguns reajustes. Desse modo, as m edi
das saneadoras dos anos 60 eram realm ente inevitáveis — era preciso
restabelecer um a estrutura de preços que indicasse escassez relativa,
o governo tinha de descobrir meios não-inflacionários de financiar
suas operações, pois a economia tinha elim inado a capaddade de
utilizar um mecanismo inflacionário para realocar recursos, um
mercado financeiro m oderno tin h a de ser criado para captar pou
panças para investimentos futuros e era preciso descobrir, através
de um sistema de incentivos de m ercado e fiscais, um a m aneira de
diversificar as exportações a fim de evitar futuros estrangulamentos
nas importações e neutralizar o desequilíbrio regional produzido
pela industrialização no passado.
208
do mecanismo tributário. E o tipo de redistribuição de renda re
gional tentado no início e meados da década dos 60 não exerceu
grande im pacto sobre a dem anda agregada.
Em suma, os estagnacionistas também alegam que a ênfase
exclusiva sobre as indústrias substitutivas de im portação nos anos 50
produziu distorções. N o entanto, eles se preocupam menos com as
distorções ocorridas no mecanismo de preços do que com o descaso
dos outros setores da economia e as distorções distributivas daí
resultantes. A necessidade de investimentos e reform a na agricultura,
em regiões menos privilegiadas do Brasil, e em educação, são enca
radas como im portantes para m anter a paz social e também suprir
um a base para taxas de crescimento satisfatórias nos anos 70. A
política seguida pelo governo nos meados e fim dos anos 60 é vista
apenas como medidas incompletas. A elim inação de distorções no
mecanismo de preços, dim inuição das taxas de inflação, m oderni
zação do mercado de capital, todas são ações relativas à oferta. No
entanto, o problem a básico da estagnação nos anos 60 não pode
ser solucionado sem medidas paralelas do lado da procura.
Os estagnacionistas criticam a política de incentivos, seguida
pelo governo desde 1964. Os incentivos fiscais para investimentos
no Nordeste e na região amazônica carrearam investimentos subs
tanciais para apenas dois centros urbanos (Recife e Salvador),
onde estão sendo construídas indústrias que absorvem m uito pouca
mão-de-obra. Houve um a duplicação da capacidade já subutilizada
do Centro-Sul. Além disso, as novas indústrias do Nordeste ver-se-ão
em dificuldades, pois m uito pouco se tem feito naquela região para
redistribuir as rendas nos centros urbanos e rurais, criando assim
um mercado para a capacidade recém-construída. Alega-se, que
através desses incentivos, a situação em que se encontrava o país
na década dos 50 está sendo reproduzida/ no Nordeste — um boom
regional de substituição de importações, ò qual não está produzindo
suas finalidades de longo prazo. Os incentivos para investimento
no mercado de capitais, para exportação etc., tam bém não estão
sendo considerados como solução para o problem a principal, de
acordo com o m odo de ver dos estagnacionistas.
209
Q uadro 9 -9
B) IM PO R T A Ç Õ E S E E X P O R T A Ç Õ E S D E B E N S E SE R V IÇ O S E M
percen ta g em DA O F E R T A TOTAL D E B E N S E SERV IÇO S*
210
tudo, é de se notar que as grandes oportunidades para substituições
de importações já tinham sido aproveitadas na década dos 60 e que
o país teve de procurar outros meios para levar avante o cresci
m ento industrial. A parte B do quadro 9-9 apresenta estimativas
mais recentes das importações e exportações como uma proporção
do suprim ento total de bens e serviços. Esta evidência também indica
que o coeficiente de im portação dificilmente descerá abaixo dos 5%.
Alguns críticos da política de industrialização do Brasil já
objetaram ao uso do índice de importação/oferta total como um
indicador de até quando se pode conseguir crescimento baseado
em substituição de importações. Eles alegam que isto representa um
descaso total das vantagens comparativas atuais ou potenciais e uma .
falta completa de seletividade quanto aos setores que são merece
dores de ser estimulados. Esses críticos devem ter sido escutados
pelos responsáveis pela po’itica no Brasil no fim da década dos 60,
pois em março de 1967 as tarifas em geral foram reduzidas. Os bens
que estavam incluídos em um a categoria de câmbio especial per- ■
deram esse privilégio e a faixa de tarifas que os protegiam caiu de
180 a 220% para um a de 60 a 100%.31 A idéia geral era de aumentar
a eficiência da indústria brasileira por meio de uma competição
real ou um a ameaça. Depois que algumas indústrias começaram *
a sentir essa competição, foram restauradas algumas medidas prote- '
cionistas, m uito em bora o nível geral das tarifas tenha sido mantido
baixo.
A política de m aior seletividade levanta uma série de dúvidas.
De que modo os responsáveis pela política econômica no Brasil '•
poderiam prever onde o país gozaria de maior vantagem compa
rativa? Ainda, a seletividade significa maiores possibilidades para
exportação de produtos m anufaturados. N o entanto, levando em
conta a atitude de países mais industrializados, no passado, as pos
sibilidades de eles im portarem grande quantidade de produtos
m anufaturados de países como o Brasil pareciam duvidosas até bem
pouco tempo. Portanto, um a m aior seletividade não seria neces
sariamente um a estrada aberta ao Brasil. A questão de diminuir
as barreiras tarifárias a fim de aum entar a eficiência das indústrias
brasileiras também suscita algumas interrogações. É prudente fazer
isso na ocasião de um program a de estabilização, quando a produ
ção industrial já está sendo duram ente atingida? Do mesmo modo,
dado o pequeno tam anho do mercado, as indústrias brasileiras têm
pouca oportunidade de se beneficiar de economias de escala. Assim,
211
o fato de ter de com partilhar um pequeno mercado com im por
tadores aum enta seus custos fixos unitários e não soluciona neces
sariamente o problem a da eficiência. Caso as tarifas mais baixas
tiverem como objetivo um a ameaça à indústria local, forçando-a
a racionalizar sua produção, elas farão mais sentido. Se os custos
altos d a indústria brasileira são devidos, em grande parte, à falta
de economias de escala, também se poderia argum entar que a
política redistributiva, através do alargam ento do mercado, aum enta
a escala de produção, aum entando a possibilidade de custos mais
baixos. Finalm ente, m uitas indústrias foram criadas nos fins da
década dos 50 e, além dós problemas de escala, teriam de atravessar
um certo período de aprender fazendo gradualm ente. É ainda uma
questão aberta se um a década é suficiente para indústrias na in
fância atingirem a m aturidade, considerando o longo período de
gestação das indústrias do século X IX na Alem anha e nos Estados
Unidos.
A evidência disponível pareceria confirm ar o argum ento dos
estagnacionistas de que há um a tendência a um a concentração na
distribuição de renda. O quadro 9-10 indica um declínio acentuado
na relação entre salários e o valor adicionado nas indústrias de
transformação desde os anos 50 até meados dos anos 60. Isso sugere
a m udança de tecnologia na indústria, ou seja, o crescimento de
indústrias com índices mais elevados de capital/mão-de-obra nos
anos 50 em comparação com as relações existentes no período ime
diatam ente depois da guerra. Nos meados dos anos 60, o declínio
dessa relação reflete também o declínio dos salários reais resultante
da política de estabilização do governo. Contudo, na segunda parte
do quadro 9-10, devc-se notar que o declínio nos salários reais da
indústria só começou depois de 1963 e, desse modo, o índice salários/
valor adicionado na indústria reflete, em grande parte, a tecnologia
utilizada. T a n to as cifras dos salários por operário industrial como
as do valor real do salário-mínimo deixam claro que a renda real
do trabalhador decresceu durante todo o período de estabilização.
Embora as primeiras tenham aum entado novam ente em 1968, con
tinuou ainda abaixo do salário real em 1965 e o salário-mínimo
real apresentado na tabela dem onstra que, 1969, o mesmo estava
substancialmente abaixo do nível de 1964. A últim a parte do
quadro 9-10 oferece um outro indício sobre as tendências na concen
tração de renda. Para os grupos de indústria apresentados e para
a indústria de transformação como um todo, a taxa de crescimento
da produtividade esteve bastante à frente do crescimento dos salários
reais, tanto na segunda metade dos anos 50 como em grande parte
da década dos 60.
T odos os indícios sugerem que o Brasil experim entou uma
grande subutilização da capacidade nos anos 60. A evidência apre-
212
Q uadro 9 -1 0
1958 1 56 1 56
1959 1 17 1 72
1960 1 54 1 58
1961 1 71 1 81
1962 1 43 1 52
1963 1 31 1 39
1964 1 33 1 3S
1965 1 32 1 34
1966 1 14 1 20
1967 1 12 1 17
1968 1 09 1 16
1969 1 13 1 13
213
w < B
Q uadro 9 -1 0
D) PR O D U T IV ID A D E DO O P E R Á R IO E A U M E N TO S D E SALÁRIO
R EA L NO SE T O R DA IN D Ú S T R IA D E TRANSFORM AÇÃO
(1955 = 100)
S P S P S P S P S P S P S P
Grupo I 110 99 112 125 107 148 117 146 115 152 110 147 100 145
Grupo II 105 115 109 123 107 152 131 152 131 158 124 158 109 157
Grupo III 104 117 110 161 111 221 142 216 131 207 125 206 106 231
Total 108 107 113 132 112 173 131 170 129 175 123 173 119 178
Grupo I: Produtos de madeira, mobiliário, produtos de couro, têxteis, alimentos e bebidas, fumo.
editorial e gráfica.
Grupo II: Minerais nSo-metálicos, produtos de papel, produtos de borracha, produtos químicos,
produtos metálicos.
Grupo III; Equipamentos de transportes, equipamentos elétrico e de comunicação, produtos
mecânicos.
S “ Salário real.
P = Produtividade por operário.
Fontes: Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, Programa estratégico de desenvolvimento
1969-1970. Estudo especial, A industrialização brasileira: diagnóstico e perspectivas. Rio de Janeiro,
jan. 1969, p. 146.
214
Quadro 9 -1 1
A) UTILIZAÇÃO DA CAPA C ID A D E EM IN D Ú S T R IA S D IV E R SA S
Fonte: Baseado em relatórios não publicados do IPEA, BNDE e estudos da Boos, Allen, Hamilton
para o BNDE.
C) UTILIZAÇÃO D E C A PA C ID A D E E M L IN H A S D E PR O D U TO S
DA IN D Ú S T R IA PESA D A B R A S IL E IR A - 1960
Fonte: Leff, Nathaniel H. The Brazilian capital foods industry. Cambrideo, Mass. Harvard Uni*
versity Press, 1968. ^
novos investimentos em aço será provavelmente m uito m aior nos
anos 70 do que o foi na década dos 6 0 .33
A existência de excesso de capacidade e de relações mais elevadas
produto/capital, no futuro, em m uitas indústrias, dem onstram cla
ram ente a necessidade de um crescimento substancial na dem anda.
Os dados de distribuição de renda citados indicariam , no entanto,
que as tendências observadas nos anos 50 e 60 não prognosticam
um aum ento substancial na dem anda, a não ser que essas tendências
fossem revertidas por meio de medidas quaisquer de redistribuição
de renda.
O quadro 9-12, que contém taxas de crescimento anuais de
grupos de indústrias individuais até 1967, m ostra taxas m uito baixas
de crescimento das indústrias que servem os mercados de massa no
Brasil — têxteis, vestuário, artefatos de couro, produtos alimentícios.
Isto se torna especialmente claro na recessão dos anos 60 quando,
por exemplo, num curto período de recuperação, como em 1966,
essas indústrias não se levantaram como no caso dos setores de
transporte e quím ico/farm acêutico. Considerando-se as tendências
de longo prazo na distribuição de renda io Brasil e a queda dos
níveis absolutos dos salários reais das classes operárias nos anos 60,
não é de adm irar que indústrias que servem aquelas classes (um
simples olhar à ponderação do índice de preços cio consumidor nos
mostra que quase 54% do salário do trabalhador é gasto em alim en
tação e vestuário) foram as que experim entaram as taxas mais baixas
de crescimento.
Devido à falta de informações desagregadas na ocasião em que
este trabalho está sendo escrito, sobre a alta taxa de crescimento
que a economia brasileira experim entou em 1968 e na prim eira
metade de 1969, podemos utilizar apenas alguns dados parciais para
avaliar o significado dessas tendências no fim da década. H á um a
indicação de que a economia estava retornando a um novo caminho
de alto crescimento a longo prazo e, deste modo, corroborando as
idéias da escola de pensamento do curto prazo, ou tratava-se de um
fenômeno temporário?
Segundo informações preliminares, a alta taxa de crescimento
do setor industrial em 1968 e 1969 foi encabeçada pelos setores
automobilístico, de construção, m ateriais de construção e siderúrgico.
A taxa de crescimento da produção de veículos de passeio de 1967
53 Parte da capacidade ociosa nos meados dos anos 60 foi também causada
pela escassez de capital de giro, o que forçou muitas firmas a reduzir as
operações.
216
. . ^
to oo cq
»o eo os* t^'
oo n o co_ oo c q c q h - o_
Cl 00‘ CO CO CO O» co" W
rH W N N
(O N •”!. ®. ÍN. CO
o> o* cí uj oo“ IO h - C Í
a io n 03_ c q o <q o
CÍ tC co"
B R A S IL
(O N O) CC O) o i cq cq n ^ o
o‘ o o‘ cí li CO* co o ^ 00
<N <N
~ 1 I I 1
oo H 'f O i iq c q O O» ^ H T f 1« cq © cq
NO
00 00
INDÚSTRIA
05 CO CO *— * co c q cq IO CO
■-O C Í 02 —’ o
9-12
oo c q n <M^ -< 00 00 03 00
DA
io eo e o ^ c o o o ^ *q
•-O °i
cq cq cq
CRESCIMENTO
co“ »o cp* oí
N N cq o o »q cq !>. O O CJ o
co ' »o t>-‘ »o o " N Oi O* b-‘ io ~
m_ c q «-<_ q q ^ q ©_ CO O i 00 S 05 í- cq 00
c s Oi oo’ bT co" »o co“ b- r-T os“ 00" r i x"
co *-* *-<
TT
r“L ® 05 ©_ o ^ -t cq t -
- tsT f-í co" 00'
DE
T
05 Tf iq o *q »q
TAXAS
»0 N W O q
V o" o" 0“ »0 oo" t-* 00'
<N <N co t-Tio o <M
*
cq N IN W <N 05 o
de E c
o ' m* C£> 05 W
5 co eo" V c í
A)
oo_ Cí 05_ 05 oo o fq oi
cn 05* •o" co" co* c i »0* •-<“
Brasileiro
h<b
a o§
T3T3
V
Instituto
<r ® ’c o* +-
•«aj
— o
io>l§ 2.8
a-I K
o.Í ' .2 .*0
_ a . - §^ 33 C
Já C ? ! •
4) -0 -O %
1
Fonte:
3 cí S s aJ 3 "Õ
1 i j i ■ O. u. O P* ® D.$
oS O o o íí U«u < -g ”£o *o
Ü
I ã S S 8 s $ Ps a U-o H > 5í « « q h :
00 •00
100,0
o* oo‘
rN
co t- ©
©‘ ©‘
100,0
< cs
ca
00 co
100,0
o ©“
£
o N» Ui
o“ IO
100,0
*< rH
o
<J
S © ©
t-4
100,0
tf H
o
fc(
CQ *-4
03 «5 Ol O Kí H !
£ CO
100,0
1-4
tf
H
CS *“<
100,0
W
CO
H
e
es N
100,0
CO - T CS v li; 1/3 M M CO
tf
Q uadro 9-12
H
m
w
100,0
Q
Í5
H
cs co co «-<*cí cí
/N->
H ^ co 'f O O q N N
Cß w« O- b-‘ -*f t-’ COcs «T cs
100,0
r co cs ©'
ffi
W
O
o> Oi N « H o CO co_fr- jo o o>
V o" -<r r-T"tf j-T
100,0
c
o a §
><■1
V o
«* e
à £ 2, 8
transformação
&ã •S
« e ç ’53
80*®
«J 4) 3
ü •§ D. E S 5 3OaB M b V 'S 3 ■§ o c 2
> S 15 S cã «1 o
j O P £. 1-« «j ©^ C. S9í §
3 1w1-••
S S 8 s s Ah « O -i a*á H > S f c B h i aWf 1i
a 1968 foi de mais de 22%. O crescimento da construção em 1968
refletiu-se em um a taxa de crescimento de 15% na produção média
mensal em comparação com 1967. A produção de aço em( lingotes
no mesmo período cresceu em mais de 20%, o que constituiu
provavelmente um a reação ao aumento da atividade de construção,
à produção de automóvsis e programas de investimento do governo,
em setores como de projetos de hidrelétricas e construção de
estradas.
O boom verificado n a produção automobilística é atribuído
principalm ente ao surgim ento dos consórcios. £ um artifído enge-.
nhoso inventado nos anos 60 para criar crédito para a comprà de
carros. N um esquema típico, um grupo de, digamos, 24 pessoàs;
reúne-se para com prar um Volkswagen. Cada membro do consórcio
concorda em pagar cada mês 1/24 do preço de um Volkswagen'que
vai para um bolo comum, sendo que cada mês um desses veículos
é adquirido. Os pagamentos são reajustáveis pela taxa de. inflação.
Desse modo, cada mês um membro obtém um Volks, mas todos,
continuam a pagar durante os 24 meses, até que cada ura tenha
recebido seu carro. Isso fez com que a venda de diversos modelos
de carro aumentasse no Brasil. E o crescimento da produção de.
automóveis certam ente aum entou a produção de aço e afetou também,
outros setores A dúvida que poderá ser levantada acerca dessa fonte
de crescimento é se o custo de oportunidade resultante para a
economia não será grande demais. As pessoas que compram carros,
desistirão de com prar muitos outros bens (muitas vezes deixam de
pagar em dia aluguéis ou outros compromissos) e muitos deixarão
de poupar. Deste modo, poder-se-á questionar a base de crescimento
apoiada no consórcio. Ela utiliza o poder de compra para aumentar
a produção autom obilística, com sacrifício da produção dè outros
bens e da poupança e, portanto, da construção de uma nova capa
cidade produtiva n a economia.
Como já dissemos anteriorm ente, o aumento na taxa da ativi
dade construção no fim da década dos 60 foi devido principalmente
ao funcionam ento do Banco Nacional de Habitação, que pode
operar com instrum entos financeiros reajustáveis à taxa de inflação.
Isso canalizou quantidade substancial de créditos para aquele setor.
A construção de um a indústria intensiva de mão-de-obra, que po
deria tornar-se um a fonte de crescimento de longo prazo no Brasil,
se levarmos em conta o grande déficit habitacional do país. Não
se pode saber, no entanto, até que ponto as famílias de baixa
renda poderão arcar com uma dívida que não diminuirá de valor
até que seja toda paga.
9.11 Está a economia brasileira em um impasse estrutural?
220
I
(
A década dos 70 abriu para o Brasil, após dois anos, altas taxas
de crescimento. Quais são as possibilidades de m anutenção dessas
taxas?
Estimamos que, se foi m antido o índice m édio de poupança
dos anos 60, a taxa real de crescimento anual do produto interno
bruto nos anos 70 poderia alcançar 5 ,6 % .35 Se, no entanto, o índice
221