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ESTUDO DE CASO COMO MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO


QUALITATIVA: uma abordagem bibliográfica

Alba Valéria Penteado Orsolini1 – Uni-FACEF


Sheila Fernandes Pimenta e Oliveira2 – Uni-FACEF

Introdução
A pesquisa é ato de liberdade. É bilhete de passagem para
sujeitos que se querem sujeitos. A pesquisa legitima o ato de rebeldia de
investigar, para formar o novo; para dar à luz o conhecimento que dormiria
latente dentro de tantas vidas que se manteriam estanques, não fosse o
rebelde ato de investigar e fazer convergir para o mesmo discurso observações
e teorias que, juntas, efervescem a pesquisa.
Uma das formas de se deixar a condição de objeto, e vir a ser
sujeito, é, a partir da conscientização da necessidade da emancipação, ocupar
o próprio espaço. Demo (1996) fala do tripé educação – pesquisa –
emancipação, que permite ao sujeito lançar olhares sobre os fenômenos para
extrair-lhes verdades e instrumentos de libertação. Conhecer permite conduzir-
se em direção à emancipação. Esse conhecimento permite, ainda, o
empoderamento de sujeitos e grupos. E o conhecimento se faz pelo mergulho
no outro, pela troca com esse outro. E pesquisar é ir ao encontro do outro para
que se faça do par pesquisador-pesquisado, um novo sujeito, emancipado,
motivado e que constrói sua transformação.
Esse mergulho no outro, no entanto, necessita de consistência,
lógica, critérios e validade científica, além de suporte teórico, que confira o rigor
e a seriedade que a pesquisa científica exige. Esse mergulho no outro se faz a
partir das teorias estabelecidas - conhecimento produzido no passado, mas
revisto e atualizado - que, ao mesmo tempo, produzem um novo conhecimento.
                                                            
1
 Mestranda em Desenvolvimento Regional, no Programa de Pós‐Graduação do Centro Universitário de 
Franca. 
2
 Doutora em Linguística, pela UNESP – Universidade estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e 
Professora no Centro Universitário de Franca. 

Uma das formas de efetuar esse mergulho no outro, é através do estudo de


caso, estratégia de pesquisa de uso frequente na produção de conhecimento
na área de Ciências Sociais e das Ciências Sociais Aplicadas. Neste estudo,
uma reflexão teórica sobre esse método de pesquisa, serão apresentadas as
considerações de teóricos, contemplando os pontos positivos e os negativos
em suas respectivas análises. O estudo de caso, convém destacar, é muitas
vezes visto com estereotipada desconfiança, em virtude de uma suposta falta
de rigor metodológico do pesquisador, considerado negligente na busca de
evidências, na falta de critérios, por exemplo e por um mal alinhado
planejamento, que acabam por comprometer os resultados e a própria validade
do estudo realizado. Esse quadro dificulta, também, o próprio fortalecimento do
método, ao demonstrar as possibilidades de inconsistência em seus
procedimentos metodológicos.
É com este cenário, de pano de fundo para o estudo de caso, que
este estudo pretende refletir teoricamente sobre este método de pesquisa e
contribuir para o incremento da aplicação deste método de pesquisa.
Inicialmente, serão apresentadas, em uma revisão bibliográfica, as
considerações dos seguintes estudiosos: Bonoma (1985); Demo (1996); Gil
(2002); Gomes e Pozzebon (1989); Goode e Hatt (1975); Minayo (2001);
Oliveira (2002); Pádua (2004) e Yin (1990). A partir dessas considerações
pretende-se comprovar a aplicabilidade deste método de pesquisa ao Uni-
FACEF Centro Universitário de Franca, em estudo para verificar a contribuição
dessa IES pública municipal para o desenvolvimento local, a partir da
observação da alavancagem promovida pela produção de conhecimento em
cursos de Graduação e que se efetiva no mercado de trabalho, junto a
ingressantes e egressos do Centro Universitário de Franca/SP.

JUSTIFICATIVA
Nas palavras de Minayo (2000), o homem, desde tempos
imemoriais, busca conhecer a realidade. Tribos primitivas explicavam os
enigmas da vida e da morte, do indivíduo, de seu lugar na sociedade, do poder,

do amor, das doenças, da reprodução, da própria história, através dos mitos.


As religiões e as filosofias, o faziam através de dogmas, mitos e saberes. A
poesia e a arte também ocuparam lugar na função de explicar o cotidiano e o
destino humano. Dessa forma, “a ciência é apenas uma forma de expressão
desta busca, não exclusiva, não conclusiva, não definitiva” (MINAYO, 2000, p.
10). Mas a ciência constituiu-se, histórica e hegemonicamente, como
autoridade na forma de conhecer, respondendo a questões técnicas e
tecnológicas; gerou linguagem própria, coerente e controlada “por uma
comunidade que a controla e administra sua reprodução” (MINAYO, 2000, p.
10).
Fazer ciência só é possível através da pesquisa, esse ato de
liberdade, bilhete de passagem para outras instâncias do humano. Pesquisar é
um bilhete de passagem para sujeitos que se querem sujeitos. A pesquisa, que
legitima a ciência, é o ato de rebeldia de investigar para formar o novo, para
dar à luz o conhecimento que dormiria latente, não fosse o rebelde ato de
investigar e fazer convergir, para o mesmo discurso, observações e teorias
que, juntas, consolidam a ciência, o conhecimento. Nas palavras de Minayo
(2000), pesquisa é:

“a atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da


realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a
atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma
prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação” (MINAYO,
2000, p. 17)

Se a ciência permite, através da pesquisa, a passagem de objeto


a sujeito, esta condição se dá a partir da conscientização da necessidade da
emancipação, de ocupar o próprio espaço. Demo (1996) fala do tripé educação
– pesquisa – emancipação, que permite ao sujeito lançar olhares sobre os
fenômenos para extrair-lhes verdades e instrumentos de libertação. Fazer
ciência é conhecer; que permite, por sua vez, conduzir-se em direção à
emancipação. Esse conhecimento permite, ainda, o empoderamento de
sujeitos e grupos. E o conhecimento se faz pelo mergulho no outro, pela troca
com esse outro. E pesquisar é ir ao encontro do outro para que se faça do par

pesquisador-pesquisado, um novo sujeito; emancipado, motivado e que capaz


de operar a sua transformação.
Conhecer, como visto, é uma necessidade humana e se faz
também pela pesquisa, que permite ao pesquisador ir além de si mesmo; ir
além de seus limites. Bachelard (Apud FOUREZ, 1995, p.22), ao referir-se a
essa necessidade humana, utilizava uma metáfora afirmando que o homem
precisava, por vezes, “subir ao sótão” e, noutras vezes, “descer ao porão”. Ele
entendia que o homem necessita tanto da “busca de significações da existência
por meio dos símbolos filosóficos, poéticos, artísticos, religiosos etc”, quanto de
“olhar o que se passa nos subsolos e fundamentos psicológicos ou sociais de
nossa existência e discernir nos condicionamentos o que nos oprime ou libera”.
Mas esse mergulho no outro, no entanto, exige consistência, lógica, critérios e
validade científica, além de suporte teórico, que confere o rigor e a seriedade
exigidos pela pesquisa científica.

1. O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Uma das formas de conhecer a realidade do outro é pela
investigação científica, norteada por critérios estabelecidos e pela própria
ciência, que, por si só, se refere a uma prática sistematizada e reflexiva a cerca
do pensamento a fim de construir o conhecimento. Essa construção deve ser
livre de amarras, de paradigmas e de preconceitos. Uma atitude no sentido da
construção da ciência e, por fim, do conhecimento deve ser voltada, conforme
Demo (2000, p. 128), para o “aprender a aprender”; assim, a pesquisa
adequada e corretamente realizada, disseca seu objeto de estudo em um
ambiente “educativo e emancipatório”, evitando o “simples repasse copiado”.
Para Demo (2000, p. 128), “pesquisa significa diálogo crítico e criativo com a
realidade, culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção”.
A partir do entendimento de que pesquisar é “aprender a
aprender”, processo que conduz à emancipação dos sujeitos envolvidos,
acredita-se que o conhecimento, a descoberta do novo, a descoberta de
respostas, só sejam possíveis à luz do desprendimento cientificamente

pautado, regulado por métodos sistematizados e, concomitantemente, flexíveis


a ajustes e avaliações. Fávero (Apud DEMO, 2000, p.127) acredita que a
pesquisa que “aprende a aprender” é função da própria universidade,
constituindo-se desafio central da educação superior a “produção de
conhecimento próprio com qualidade formal e política, capaz de postá-la na
vanguarda do desenvolvimento”. Pacificado, dessa forma, o entendimento de
que à universidade reserva-se a função também de oferecer rumos, tendências
e respostas à sociedade em sua busca pelo desenvolvimento enquanto ideal,
conforme Demo (2000, p. 140):

“(...) a sociedade procura na universidade a sinalização dos rumos, o


sensoriamento das tendências, o faro das oportunidades. A instituição
que mais próxima está da produção científica e tecnológica assume,
cada vez mais, a condição de lugar privilegiado para discutir e fazer o
futuro”.

A postura do pesquisador ao buscar respostas para fenômenos


sociais que, em última instância devem satisfazer às necessidades sociais,
deve ir ao encontro da criticidade e da cientificidade teórica e empírica. Toda
busca científica, ou seja, toda pesquisa deve ser planejada, levando-se em
consideração o objeto, sua natureza e particularidades; o contexto tempo-
espaço no qual ele está inserido; o que se busca saber; recursos à disposição
do pesquisador; melhores práticas que se apliquem à pesquisa; o melhor
método a ser utilizado.
O pesquisador, alerta Fourez (1995, p. 49) não pode ser
totalmente subjetivo, uma vez que está inserido na “instituição social” da
ciência, uma instituição que sistematiza e controla a produção do
conhecimento. Entretanto, o pesquisador não pode ser tão somente objetivo,
uma vez que, aponta Minayo (2000, p. 11) a objetivação é natural das ciências
naturais, não das ciências sociais. Além disso, o pesquisador é também agente
e sujeito. Ainda em Minayo (2000, p. 14-15), a relação entre pesquisador e
objeto de estudo se dá na arena do humano, local em que ambos se
solidarizam, se imbricam e se comprometem; entre eles existe uma
“identidade”.

Antes que se apresente o estudo teórico sobre o estudo de caso,


se faz necessário refletir-se sobre a própria observação científica no
desenvolvimento da ciência. “Uma observação é uma interpretação: é integrar
uma certa visão na representação teórica que fazemos da realidade”
(FOUREZ, 1995, p. 40). Dessa forma, observar e interpretar fazem parte do
mesmo modus operandi da ciência, que exige do pesquisador um conjunto
simbiótico de objetividade, subjetividade e suporte teórico. Sem o suporte
teórico, e com a centelha humana da subjetividade, apenas teoriza-se a
respeito da nova informação, o que carecerá de consistência e validade. E, por
sua vez, o olhar neutro do indivíduo sobre o mundo é uma ficção, conforme
Fourez (1995). Para que se mantenha a aura da cientificidade e da criticidade,
a observação científica, a própria metodologia,
O conhecimento, como se nota, forma-se a partir da pesquisa,
que segundo Gil (2007), pode-se classificar a pesquisa, com base em seus
objetivos, de três maneiras: a exploratória; a descritiva; e a explicativa.
De acordo com Gil (2007), a pesquisa exploratória visa uma maior
aproximação, uma maior familiaridade com o problema, explicitando-o. Com
um planejamento mais flexível, permite-se a consideração de variados
aspectos. Na maioria das vezes, assume a condição de pesquisa bibliográfica
ou de estudo de caso, segundo Gil (2007), e envolve levantamento
bibliográfico, entrevistas e análises de elementos diversos (do conteúdo, do
discurso, de exemplos).
A pesquisa descritiva, conforme Gil (2007) é uma análise em
profundidade que visa descrever, classificar e interpretar o objeto estudado.
Utiliza técnicas mais sistematizadas e rigorosas. Elas podem ir além da mera
identificação de variáveis, aproximando-se, nesse caso, da pesquisa
explicativa, analisando detalhadamente fatos e fenômenos. E, nos casos em
que se proporciona uma nova visão do objeto, aproxima-se da pesquisa
exploratória.
Por fim, a pesquisa explicativa, no entender de Gil (2007), visa
especialmente a identificação de fatores que determinem ou contribuam para
que determinados fenômenos ocorram. Ela permite grande aprofundamento no

entendimento a cerca da realidade. A pesquisa explicativa, muitas vezes, é a


continuação de uma pesquisa descritiva.
Com base nos procedimentos técnicos utilizados, Gil (2007)
classifica as pesquisas como: bibliográfica; documental; experimental; ex-post-
facto; levantamento; pesquisa-ação; pesquisa participante; e o estudo de caso.
A pesquisa bibliográfica, explica Gil (2007), contempla apenas
material já elaborado, como livros e artigos científicos, utilizando-se da
contribuição de diversos autores sobre certo assunto. A maioria dos estudos
exige este procedimento, mas a pesquisa bibliográfica se resume a ele.
Permite grande cobertura de informações e conhecimento, sendo indispensável
em estudos que requeiram dados geográficos e históricos diversos, por
exemplo. As fontes bibliográficas podem, no entanto, ser incorretas ou
desatualizadas, constituindo-se, esta possibilidade, uma desvantagem que
compromete a pesquisa. As fontes bibliográficas, na classificação de Gil (2007,
p. 49) são:

A pesquisa documental, segundo Gil (2007), diferencia-se da


pesquisa bibliográfica por utilizar: a) material que não recebeu, ainda, nenhum
tratamento analítico, como documentos arquivados em órgãos públicos e
organizações privadas; e b) documentos como relatórios de pesquisa, tabelas
estatísticas, relatórios de empresas etc. Entre as vantagens na utilização da
pesquisa documental, elencadas por Gil (2007), estão: documentos são fonte
de dados rica e estável; baixo custo; não se exige contato com os sujeitos da

pesquisa. Como desvantagem: subjetividade e não-representatividade dos


documentos.
A pesquisa experimental, aponta Gil (2007), busca construir o
conhecimento através de procedimentos sistematizados, rigorosamente
controlados e verificáveis. Por este tipo de pesquisa, define-se o objeto a ser
estudado, suas variáveis e os controles, para que se verifique a possibilidade
de ocorrência do fenômeno. De grande aplicabilidade nas ciências físicas e
biológicas, a pesquisa experimental encontra resistência quando confronta
questões éticas e humanas.
Gil (2007) elenca também a pesquisa ex-post-facto. Neste tipo de
pesquisa, muito parecida com a pesquisa experimental, uma experiência é feita
depois dos fatos. Ela permite uma intervenção na realidade do objeto estudado.
De grande aplicação nas ciências sociais, a pesquisa ex-post-facto “possibilita
a consideração de fatores históricos, que são fundamentais para a
compreensão das estruturas sociais” (GIL, 2007, p. 56).
Outro tipo de pesquisa, o levantamento consiste em “uma
interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.”
(GIL, 2007, p. 56), embora parta, inicialmente, do levantamento de informações
junto a um grupo sobre o objeto de estudo. Entre as vantagens de sua
aplicação, estão o conhecimento mais imediato da realidade; baixo custo e
rapidez de execução; fácil quantificação. Como desvantagem, há o risco de
valorizar os aspectos mais visíveis; pouco aprofundamento da realidade e da
estrutura estudada.
A pesquisa-ação, ainda em Gil (2007), envolve o pesquisador e as
pessoas do grupo, o que gera críticas em virtude do risco de perda da
objetividade.
A pesquisa participante “caracteriza-se pela interação entre
pesquisadores e membros das situações investigadas” (GIL, 2007, p. 61).
Envolve ação planejada que pode ser social, educacional ou técnica.
E, por fim, o estudo de caso, que será apresentado através da
reflexão teórica a partir da contribuição de alguns estudiosos.

2. O ESTUDO DE CASO
Pesquisar, como já visto, é um mergulho no outro, que se faz a
partir de teorias estabelecidas - conhecimento produzido no passado, mas que
pode ser revisto e atualizado - que, ao mesmo tempo, produzem um novo
conhecimento. Para Minayo (2000), teoria é um

“conhecimento de que nos servimos no processo de investigação


como um sistema organizado de proposições que orientam a
obtenção de dados e a análise dos mesmos, e de conceitos, que
veiculam seu sentido” (MINAYO, 2000, p. 19).

Uma das formas de efetuar esse mergulho no outro, é através do


estudo de caso, estratégia de pesquisa de uso frequente na produção de
conhecimento na área de Ciências Sociais e das Ciências Sociais Aplicadas. O
estudo de caso, convém destacar, é muitas vezes visto com estereotipada
desconfiança, em virtude de uma suposta falta de rigor metodológico do
pesquisador, considerado negligente na busca de evidências, na falta de
critérios, por exemplo e por um mal alinhado planejamento, que acabam por
comprometer os resultados e a própria validade do estudo realizado. Esse
quadro dificulta, também, o próprio fortalecimento do método, ao demonstrar as
possibilidades de inconsistência em seus procedimentos metodológicos. É com
este cenário de pano de fundo, que se pretende, inicialmente, refletir
teoricamente sobre o estudo de caso, de forma a contribuir para o incremento
da aplicação deste método de pesquisa.
Todas as formas de pesquisa têm suas vantagens e
desvantagens e, para a melhor aplicação da pesquisa, Yin (2005, p. 19) afirma
que se deve levar em consideração: “a) o tipo de questão da pesquisa; b) o
controle que o pesquisador possui sobre os eventos comportamentais efetivos;
c) o foco em fenômenos históricos, em oposição a fenômenos
contemporâneos”. Uma das formas de pesquisar em ciências sociais, de,
cientificamente, conhecer o outro, mergulhando e conhecendo em
profundidade sua realidade, é através do estudo de caso.
10 

“Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida


quando se colocam questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, quando o
pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o
foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum
contexto da vida real”. (YIN, 2005, p. 19)

Nas palavras de Pádua (2004, p. 74), o estudo de caso trata-se


de abordagem qualitativa, seja como o próprio trabalho monográfico, seja como
elemento complementar em uma coleta de dados. Alinhando este raciocínio a
Minayo (2000, p. 21-22), que afirma:

“A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela


se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não
pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos
e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização
das variáveis”. (MINAYO, 2000, p. 21-22)

Depreende-se que Pádua (2004) visualiza o estudo de caso como


não aplicável a estudos quantitativos, não aplicável a estudos donde se extrai
apenas a informação “visível, ecológica, morfológica e concreta” (MINAYO,
2000, p. 22), forma pela qual esta pesquisadora se refere aos estudos
quantitativos. Vale ressaltar que Minayo (2000, p. 22) afirma que:

“Não existe um ‘continuum’ entre ‘qualitativo-quantitativo’, em que o


primeiro termo seria o lugar da ‘intuição’, da ‘exploração’ e do
‘subjetivismo’; e o segundo representaria o espaço do científico,
porque traduzido ‘objetivamente’ e em ‘dados matemáticos’
A diferença entre qualitativo-quantitativo é de natureza. Enquanto
cientistas sociais que trabalham com estatística apreendem dos
fenômenos apenas a região ‘visível, ecológica, morfológica e
concreta’, a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos
significdos das ações e relações humanas, um lado não perceptível e
não captável em equações, médias e estatísticas”.

Segundo Goode e Hatt (1975), o estudo de caso permite


investigar, em profundidade, o desenvolvimento, as características e demais
aspectos constitutivos de qualquer unidade social: um indivíduo; um núcleo
familiar; um grupo social; uma empresa pública ou particular etc. Na visão
destes estudiosos, o estudo de caso permite que se organize todos os dados
de caráter social do objeto estudado e, assim, se mantenha preservados, de
forma íntegra, sua natureza e caráter. Os autores ainda destacam as
11 

possibilidades de expandir a investigação dada a flexibilidade, no planejamento


e mesmo nos procedimentos, que o estudo de caso permite.
Oliveira (2002, p. 50) destaca a competência do estudo de caso
enquanto método suficiente para identificar e analisar as múltiplas ocorrências
de um mesmo fenômeno, em vários casos. Esta observação vai ao encontro do
objetivo desta dissertação, que investiga a relação entre o perfil e as
expectativas do ingressante Centro Universitário de Franca Uni-FACEF e o
perfil e a realidade mercadológica encontrada pelo egresso do mesmo Centro
Universitário, e o impacto do conhecimento, com eles produzido, no
desenvolvimento local. Em outras palavras, o estudo de caso confirma-se
método suficiente para a investigação da percepção do aluno de ensino
superior em relação à capacidade do Centro Universitário de Franca Uni-
FACEF, em responder satisfatoriamente aos seus anseios de transformação
profissional, levando-se em conta que uma transformação desta natureza traz a
reboque toda uma série de transformações e ganhos: pessoal, social, cultural,
econômico-financeiro, cultural etc.
Bonoma (1985), por sua vez, levanta um dos aspectos mais
criticados, no que se refere ao estudo de caso: tem menor rigor e, por isso, é
pouco estruturado, o que lhe confere uma aplicação mais dificultada da
metodologia, e que, por esse motivo, exige maior dedicação acadêmica. Os
quantitativistas, afirma Bonoma (2005), esquecem-se de que as verdades
quantitativas obrigam-se a ser exatas e que a precisão deve rigorosamente
estar presente não apenas no tratamento dos dados, mas também na coleta
dos referidos dados. Mas pode ocorrer, a despeito de tratamentos estatísticos
com técnicas sofisticadas, a aplicação dessas técnicas sobre dados mal
coletados, e com amostras duvidosas em qualidade e quantidade. O autor não
questiona que os métodos qualitativos têm suas limitações, e que estas devem
ser claramente citadas nos trabalhos científicos publicados. Ele defende o
entendimento de que estas falhas ou limitações são comuns a outros métodos,
concluindo pela não invalidação do estudo de caso.
Gil (2007, p. 58) conceitua o estudo de caso como um estudo
aprofundado sobre objetos que podem ser um indivíduo, uma organização, um
grupo ou um fenômeno e que pode ser aplicando nas mais diversas áreas do
12 

conhecimento. O estudo de caso permite, conforme Gil (2007), que o objeto


estudado tenha preservada sua unidade, mesmo que ele se entrelace com o
contexto onde está inserido; que sejam formuladas hipóteses e teorias; e
permite a explicação de variáveis em situações ainda que complexas.
As vantagens do estudo de caso, segundo Gil (2007, p. 59) são:
a) sua capacidade de estimular novas descobertas, em virtude da flexibilidade
do planejamento e da própria técnica; b) a possibilidade de visualização do
todo, de suas múltiplas facetas; e c) a simplicidade de aplicação dos
procedimentos, desde a coleta até a análise de dados. Entre as desvantagens,
Gil (2007, p. 60) destaca, como a mais grave, a “dificuldade de generalização
dos resultados obtidos”, ou seja, as particularidades e especificidades na
natureza do objeto de estudo não sejam aplicáveis a outros fenômenos.
Etapas do estudo de caso, conforme Gil (2007, p. 137-142):
a) formulação do problema: etapa inicial da pesquisa. Geralmente decorre da
reflexão sobre profundas bases bibliográficas. É fundamental que o problema a
ser pesquisado seja passível de ser verificado, sendo ideal para estudos
exploratórios e descritivos. O estudo de determinado fenômeno vai além do
levantamento de dados; ele permite explicar, de forma profunda, os motivos, os
motus que levam àquela realidade, indo muito além da mera descrição;
b) definição da unidade-caso: é o fenômeno a ser estudado, que tanto pode ser
uma organização, quanto um fenômeno ou ainda um indivíduo e/ou seu grupo,
analisado em um contexto claramente definido, mas que, ainda assim, oferece
o risco de ver-se, aos olhos do pesquisador, mimetizado com esse contexto,
alerta Gil (2007), no que concordam Goode e Hatt (apud GIL, 2007, p. 138);
c) determinação do número de casos: pode-se investigar tanto um único caso
como vários. Gil (2007) afirma que o estudo de um único caso é justificado
quando tratar-se de caso específico, extremo ou exista a dificuldade de acesso
a múltiplos casos. Gil (2007) entende que o ideal é a observação de quatro a
dez casos, com a adição gradual de cada caso até que se alcance a saturação
teórica, ou seja, quando novas observações não significam o aumento
significativo de informações;
d) elaboração do protocolo: é o estabelecimento de um roteiro, um instrumento
que documenta a conduta a ser adotada. O protocolo, segundo Yin (apud GIL,
13 

2007, p. 140), contempla: a) visão global do projeto, que envolve objetivos e


cenários; b) procedimentos de campo, que relacional informações e
procedimentos de forma geral; c) determinação das questões que nortearão o
trabalho; e d) guia para a elaboração do relatório. Esta etapa permite que se
demonstre a confiabilidade e o rigor da pesquisa;
e) coleta de dados: nesta etapa, utiliza-se mais de uma técnica, pois, no estudo
de caso, os dados devem ser obtidos pela convergência/divergência das
observações e evidências. Utiliza-se, concomitantemente, análise de
documentos, entrevistas, depoimentos pessoais, observação etc, para que não
prevaleça a subjetividade do pesquisador;
f) análise de dados: como o estudo de caso coleta dados de formas variadas, a
análise e interpretação desses dados também devem ser feitas de formas
variadas, prevalecendo a qualitativa. O risco é a “certeza” do pesquisador;
problema mais comumente encontrado no estudo de caso. Daí a necessidade
de um forte referencial teórico para que o subjetivismo não traia o pesquisador;
g) redação do relatório: aqui, o relatório tem menor formalidade em relação a
outras pesquisas. Porém, mantém-se a apresentação dos demais relatórios de
pesquisa: apresentação do problema, metodologia, resultados e conclusões.
Nessa etapa, cabe ao pesquisador direcionar suas verificações na direção da
conclusão, à luz do referencial teórico. Yin (2005) destaca que existem quatro
formas de redigir o relatório: a) a clássica: narrativa descreve e analisa caso
único, com o apoio de tabelas, gráficos e imagens; b) o mesmo, mas no caso
de múltiplos casos, sendo uma narrativa para cada caso; c) aplicável tanto a
caso único quanto a múltiplos casos e no lugar de uma narrativa, uma
sucessão de perguntas e respostas; e d) aplicável aos casos múltiplos, com
análise de todos os casos estudados, apresentados juntos, em uma análise
cruzada e as questões são tratadas em capítulos.
Para Yin (2005, p. 33), o estudo de caso, que ele chama de
“estratégia de pesquisa”, compreende “um método que abrange tudo”, em uma
investigação em que fenômeno e contexto quase se mimetizam em situações
da “vida real”. Yin defende a aplicabilidade do estudo de caso a “fenômenos
individuais, organizacionais, sócias, políticos e de grupo, além de outros
fenômenos relacionados” (Yin, 2005, p. 20). Para Yin, o estudo de caso pode
14 

ter objetivo exploratório, estudo de caso descritivo e estudo de caso


explanatório, conforme as seguintes condições: a) tipo de questão; b) se exige
controle ou não; e c) se focaliza acontecimentos contemporâneos. No caso do
estudo de caso, Yin (2005, p. 24) responde:

Estratégia de Exige Focaliza acontecimentos


Tipo de questão
pesquisa controle? contemporâneos?
Experimento como, por que sim sim 

quem, o que, onde,


Levantamento não sim 
quantos, quanto
quem, o que, onde,
Análise de arquivos não  sim/ não
quantos, quanto

Pesquisa histórica como, por que  não não

Estudo de caso como, por que  não sim

Yin, no prefácio de sua obra de 2005, afirma que “o estudo de


caso há muito foi (e continua a ser) estereotipado como parente pobre entre os
métodos de ciência social”. Esse estudioso lembra, ainda, que “os estudos de
casos também têm sido denegridos, como se tivessem precisão (ou seja,
quantificação), objetividade e rigor insuficientes” (Yin, 2005, xi).

“Embora o estudo de caso seja uma forma distintiva de investigação


empírica, muitos pesquisadores demonstram um certo desprezo para
com a estratégia. Em outras palavras, como esforço de pesquisa, os
estudos de caso vêm sendo encarados como uma forma menos
desejável de investigação do que experimentos ou levantamentos”.
(YIN, 2005, P. 29)

As objeções que dificultam a larga aceitação desse método


científico referem-se, no mais das vezes, à falta de rigor metodológico:

“Por muitas e muitas vezes, o pesquisador de estudos de caso foi


negligente, não seguiu procedimentos sistemáticos ou permitiu que
se aceitassem”. (YIN, 2005, P. 29)

Situações dessa natureza, somadas a uma visão distorcida de


que o rigor metodológico, no estudo de caso, é menor que em outros métodos,
conduzem, por fim, a um equivocado entendimento de que as análises e
15 

interpretações decorrentes do estudo de caso são passíveis de contestações.


Outro aspecto, levantado por César e Antunes (Apud LIMA et. all, 2010, p.
128), e que vai ao encontro da questão apresentada por Yin:

“As críticas em relação ao uso da estratégia do estudo de caso têm


como pano de fundo os pesquisadores que não buscam evidências,
não seguem um protocolo de pesquisa e não usam critérios que
justifiquem a escolha dos casos estudados. O principal resultado
desse descuido é o baixo poder de generalização dos resultados, o
que diminui a capacidade preditiva da teoria assim gerada.”

Dessa forma, torna-se inconteste que o estudo de caso exige do


pesquisador postura e capacitação elevados, para que esse método, que não
oferece um conhecimento à guisa da exatidão, mas que permite uma visão
capaz de levar o pesquisador à identificação das respostas necessárias para a
compreensão do fenômeno estudado.
Yin (2005, p. 29-30) destaca, também, outro preconceito em
relação ao estudo de caso:

“Uma segunda preocupação muito comum em relação aos estudos


de caso é que eles fornecem pouca base para fazer uma
generalização científica. ‘Como você pode generalizar a partir de um
caso único’ é uma questão muito ouvida. [...] Uma resposta muito
breve é que os estudos de caso, da mesma forma que os
experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não a
populações ou universos. Nesse sentido, o estudo de caso, como o
experimento, não representa uma ‘amostragem’, e, ao fazer isso, seu
objetivo é expandir e generalizar teorias (generalização analítica) e
não numerar frequências (generalização estatística). Ou, como
descrevem três notáveis cientistas sociais em seu estudo de caso
único, feito anos atrás, o objetivo é fazer uma análise ‘generalizante’
e não ‘particularizante’ (Lipset, Trow e Coleman, 1956, p. 419-420)”.

Para Yin (2005 p. 32-33), o estudo de caso, essa estratégia de


pesquisa que abrange tudo, se aplica a diversas situações pesquisáveis e sofre
preconceitos, define-se por ser: a) uma investigação empírica de um fenômeno
contemporâneo, em seu contexto real, espaço-tempo, e cujos limites entre
fenômeno e contexto não são claros; e b) uma investigação flexível que se
baseia em várias fontes de evidências, o que permite uma visão global do
objeto de estudo.
16 

Yin (2005, p. 75-76) aconselha que se opte, sempre que possível,


por estudos de casos múltiplos ao invés de caso único, pois “projetos de caso
único são vulneráveis” e os “benefícios analíticos de ter dois (ou mais) casos
podem ser substanciais”. E aconselha, também, manter a flexibilidade durante
a execução do projeto, sem perder se olvidar de que toda alteração deve ser
muito criteriosa, para que não se comprometa o rigor no projeto.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gomes e Pozzebon (1989, p. 129) destacam a que a ciência e o
conhecimento são, por si mesmos, interdisciplinares, posto que ambos se
constroem de forma coletiva. A partir deste entendimento, constata-se que o
conhecimento será concretizado desde que através da interação produtiva, que
se opera por conexões entre realidades distintas. Esse cruzamento de
realidades proporciona, então, a possibilidade de um novo pensar, de um
entendimento que surge a partir de todos. Entende-se, então, que o estudo de
caso é um olhar completo sobre o objeto, que é visto em sua totalidade e de
forma contextualizada. Verificou-se, de forma pacífica, que o estudo de caso
colabora para a construção do conhecimento de forma contributiva e solidária.
É característica desse método de pesquisa, que o investigador dele lance mão
sempre que desejar não somente a discussão teórica, mas, aprofundar-se
naquela realidade, investigando o fenômeno de forma socialmente
contextualizada. E, nessa arena, teoria e dados observáveis dialogam,
permitindo que, desse jogo de forças, surja um novo conhecimento. Ao
encontrar, no outro, uma informação, um elo se forma e, dessa relação, uma
outra informação surge: um novo saber, um novo conhecimento. E o
conhecimento, em seu moto contínuo, continua a provocar e estimular outras
buscas e olhares, dos quais novos conhecimentos surgem e, destes, novas
realidades e relações.
17 

REFERÊNCIAS

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a process. EUA: Journal of Marketing Research, v. XXII, p. 199-208, May,
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Citado por DEMO, Pedro. Desafios modernos da educação. Petrópolis:
Vozes, 2000.

FOUREZ, Gerard. A construção das ciências: introdução à filosofia e à ética


das ciências. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1995.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas,
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GOMES, Paulo de T.; POZZEBON, Pulo M. G. Técnicas de dinâmica de Grupo.


In: CARVALHO, Maria Cecília M. de (org.). Construindo o saber: metodologia
científica: fandamentos e técnicas. Campinas: Papirus, 1989.

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MINAYO, Maria Cecília de Souza. Ciência, técnica e arte: o desafio da


pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa social:
teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2000.

OLIVEIRA, Sheila Fernandes Pimenta e. Estrutura e formatação de


trabalhos acadêmicos: compilação e discussão das normas da ABNT.
Franca: Uni-FACEF, 2008.

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prática. Campinas: Papirus, 2004.

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proposta de um esquema teórico para pesquisas no campo da contabilidade.
In: Revista de Contabilidade e Organizações, vol. 6 n. 14 (2012) p. 127-144.
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Disponível em <www.rco.usp.br/index.php/rco/article/download/299/230>.
Acesso em 03 Maio. 2013

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