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Black Feminist Thought: Knowledge, Consciousness, and the Politics of


Empowerment; by Patricia Hill Collins

Article  in  RECIIS · January 2009


DOI: 10.3395/reciis.v2i2.221en

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Neide Mayumi Osada Maria Conceiçao da Costa


University of São Paulo University of Campinas
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[www.reciis.cict.fiocruz.br]
ISSN 1981-6278

Resenhas

Black Feminist Thought: Knowledge,


Consciousness, and the Politics of
Empowerment
Patricia Hill Collins
DOI: 10.3395/reciis.v2i2.221pt

Neide Mayumi Osada


Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil
mayumi@ige.unicamp.br

Maria Conceição da Costa


Universidade Estadual de Campinas, Campinas, Brasil
dacosta@ige.unicamp.br

Em Black Feminist Thought, Patricia Hill Collins


contribui para a consolidação do Pensamento Feminista
Negro propondo uma teoria centrada na teoria crítica na
qual se privilegia o ponto de vista das mulheres negras.
Para desenvolver o argumento e as estratégias da cons-
trução do seu marco teórico, Collins busca na vivência e
na experiência da mulher negra norte-americana o trama
principal da teoria. Trata-se de um trabalho necessário
para a construção de uma sociedade plural e polifônica
cujas diversas vozes podem e devem ser acomodadas no
mundo do conhecimento e das ciências.
O trabalho de Collins articula diversas correntes
teóricas como estudos de gênero e etnia, classes sociais,
sociologia da ciência, pensamento social marxista, te-
oria crítica. Ela se inspira na Perspectiva Feminista de
Sandra Harding, dos estudos da sociologia da ciência,
nos trabalhos de Angela Davis, uma das principais re-
ferências dos estudos de gênero e etnia e nas histórias
de vida das mulheres negras que Collins coleta ao longo
da pesquisa.
O livro de 335 páginas é dividido em três partes.
É na primeira parte que ela constrói a base teórica do
Pensamento Feminista Negro que inclui com parte da
Teoria Social Crítica. De acordo com a autora, a teoria
Routledge: Nova York, 2000
social crítica permite analisar a situação da mulher negra,
assim como entender a supressão e a desvalorização do ISBN: 978-0-415-90597-8

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doc. D.6
pensamento feminista negro pelas correntes teóricas às mulheres negras; (2) babás, matriarcado e controle de
dominantes. A teoria social crítica emerge como única imagens; (3) o poder da identidade; (4) política sexual;
possibilidade de se compreender as mulheres como gru- (5) relações afetivas; (6) maternidade e mulheres negras;
po historicamente dominado, oprimido e que sobrevive e (7) repensando o ativismo feminista negro.
ainda em condições socioeconômicas desfavoráveis. Para As questões discutidas ao longo da parte dois
a autora, a teoria permite expor o embate entre o grupo constroem o pensamento feminista negro e, ao mesmo,
dominante e as mulheres negras, escancarar a opressão questionam, deslegitimam e destroem os temas essen-
sofrida por elas, entender a vivência em guetos nos quais ciais que levam à subjugação dessas mulheres para que,
os negros foram “confinados” e analisar a falta de opor- na terceira parte, esses elementos sejam retomados e
tunidade vivida pela comunidade negra. rediscutidos dialeticamente para que possam servir de
As bases do pensamento feminista negro têm origem base para a construção de políticas de “empoderamento”
nos estudos das diversas vozes femininas que provoca- da mulher.
ram, indagaram, questionaram e expuseram a condição O capítulo no qual se discute “trabalho, família e
da mulher negra nos Estados Unidos. Essas mulheres não opressão” mostra que a escravidão nos Estados Unidos
eram necessariamente provenientes do meio acadêmi- gerou conseqüências desastrosas aos afrodescendentes,
co/intelectual ou da classe média, como afirma Collins, especialmente às mulheres. A autora analisa o sistema
“elas podem ser altamente educadas, muitas não são” (p. escravocrata e a repercussão que a escravidão terá sobre
14). A autora chama a atenção para a importância dessas a vida dessas mulheres até os dias de hoje. Discute como
mulheres que não possuem educação formal, mas que a escravidão “moldou” o gênero feminino de acordo
são consideradas por ela como intelectuais e ativistas. com as necessidades da sociedade vigente: quanto mais
São os casos da ativista negra Sojourner Truth que no filhos as escravas tivessem, mais riqueza elas geravam
século XIX lutava a favor do movimento abolicionista aos senhores de escravos.
feminista, era analfabeta e seus discursos foram relatados O fim da escravidão colocou outras questões sobre o
por outras mulheres abolicionistas; das cantoras de blues papel da mulher num contexto de poucas oportunidades
Nina Simone, Aretha Frankling; das escritoras Zora Neale econômicas e sociais. O trabalho sempre esteve presente
Hurston (Their eyes were watching God, 1937) e Alice na vida das mulheres negras norte-americanas; já num
Walker (A cor púrpura, 1983) e de mulheres como Annie mundo livre, as duas ocupações possíveis eram os tra-
Adams e Hannah Nelson, trabalhadoras domésticas. balhos no campo e o doméstico. O trabalho no campo
As mulheres afro-descendentes não podem ser era árduo e cansativo e sua força era necessária para a
consideradas vítimas passivas da situação em que se renda familiar. Até mesmo as crianças eram submetidas
encontram, ao mesmo tempo não são completamente ao trabalho que pouco se diferia, em termos de esforço,
conscientes da opressão a que são subjugadas. Por essa ao trabalho escravo. A segunda ocupação era o trabalho
razão, a proposta de Collins não se limita em criar uma te- doméstico e já na infância as meninas eram treinadas
oria social cujo objetivo seja simplesmente compreender para a função. Além do preconceito e das relações de
e analisar a situação da mulher negra norte-americana, semi-escravidão, essas trabalhadoras ainda estavam ex-
mas também promover o seu “empoderamento”, na luta postas às condições de violência como estupro, abuso,
por justiça social, porque “elas constituem um grupo violência física e moral.
oprimido” (p. 22). No pós-guerra, a sociedade norte-americana viven-
A situação das mulheres afrodescendentes, que cia profundas mudanças que provocaram o surgimento de
vivem em condições econômicas precárias, é bastante novos fenômenos na comunidade negra: o crescimento no
difícil. A maioria delas foi segregada da educação formal, número de mães solteiras adolescentes e o aparecimento
muitas trabalham como empregadas domésticas em de mulheres negras de classe média que ascenderam por
casas de famílias brancas de classe media, muitas foram meio do trabalho. Nesses dois grupos, o trabalho e as
violentadas pelos seus patrões ou até mesmo pelos ma- relações afetivas são os pontos centrais na vida dessas
ridos. Situações como estupro, gravidez na adolescência pessoas, e em ambos os casos, é a solidão que as acom-
e ausência de companheiros que as ajudem nos cuidados panha durante suas trajetórias de vida.
dos filhos ocorrem com freqüência. É a partir dessa vi- Outra questão discutida pela autora refere-se ao
vência que a autora constrói o que chama de Pensamento controle da imagem da mulher negra. Imagens que vão
Feminista Negro. desde a figura da babá, a mammy, vista de forma pejora-
Na segunda parte do livro, a autora expõe a essência tiva, até a figura da jezebel, a mulher negra pervertida
dos temas no pensamento feminista negro. Os temas sexualmente. Na atualidade, a televisão, o rádio, filmes,
analisados são fundamentais porque tratam de questões músicas e a internet constituem novas formas de contro-
perniciosas às mulheres negras, que podem levar a um lar a imagem da mulher negra, sempre de forma negativa
ciclo vicioso da opressão, do controle social por grupos e preconceituosa.
dominantes, das relações devastadoras entre homens Outro tema essencial é a questão da autodefinição
e mulheres afro-descendentes, das dificuldades em se que, sob o ponto de vista da autora, pode levar a um pro-
autodefinirem como mulheres negras, das questões re- cesso transformador da situação das mulheres negras. O
lacionadas à maternidade e à sobrevivência. Com isso, que ela entende como autodefinição vai além da identida-
os temas analisados são: (1) trabalho, família e opressão de. “Identidade não é o objetivo, mas o ponto de partida

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no processo da autodefinição” (p. 114). A autodefinição avança nos estudos sobre políticas de “empoderamento”
faz com que as mulheres rejeitem o controle externo da e sobre o ativismo das mulheres negras.
sua própria imagem, cria auto-respeito, independência A construção de uma epistemologia que valorize o
e o seu próprio “empoderamento”. Infelizmente, muitas ponto de vista da mulher negra é fundamental. A expe-
mulheres negras, especialmente as jovens, resistem à idéia riência das mulheres negras norte-americanas no que se
da autodefinição. refere ao tipo de trabalho a que estão sujeitas, ao tipo de
Em política sexual do universo das mulheres negras, comunidade em que vivem e ao tipo de relacionamento
a autora discute as várias formas que a sociedade branca que mantém com o outro torna a vivência dessas mulhe-
conformava a mulher enquanto um exótico negócio. res diferente daquelas negras. Porisso, dirá a autora, “os
O caso da Vênus de Hottentot no século XIX, Sara temas principais que norteiam o livro - trabalho, família,
Bartmann, mulher negra que era exibida na França e política sexual, universo da mulher e ativismo político
na Inglaterra como objeto de exposição é discutido pela - se inter-relacionam e são moldados por um sistema de
autora como um ícone degradante da sexualidade da opressão que ela denomina matrix da dominação” (p.
mulher negra. Ao longo do capítulo, Collins discute a 251). Ou seja, a dominação exercida por homens brancos
perniciosa associação do corpo da mulher negra como e que têm o controle não só social, mas também econô-
objeto vendável, sujeito ao estupro, à violência sexual, à mico, da informação e do conhecimento.
exploração, aos maus tratos e de como ela foi silenciada A validação do Pensamento Feminista Negro passa
desde a sua chegada aos Estados Unidos, como escrava, pelo crivo de três distintos grupos: da mulher negra
até os dias de hoje. comum, já que o conhecimento é fortemente baseado
Os dois capítulos seguintes tratam das relações afe- na sua vivência e experiência; das intelectuais negras e
tivas e do universo da maternidade e dos cuidados dos do grupo dominante, o que controla escolas, programas
filhos. O tema das relações afetivas das mulheres negras acadêmicos, publicação e outros mecanismos de legiti-
é crucial para a autora, daí a necessidade de discutir a mação do conhecimento.
ausência dos homens negros quanto aos cuidados dos A fim de validar o conhecimento proposto, Collins
filhos, já que a proporção de homens que não assumem aposta nas mulheres negras como agentes do conheci-
a sua parte nesses cuidados é relativamente alta. mento, uma vez que elas seriam as pessoas autorizadas
Outro fenômeno analisado pela autora refere-se a discutir um conhecimento teórico baseado em suas
à solidão das mulheres negras; Collins inicia a seção próprias experiências. Para isso, é preciso resistir à teo-
afirmando que as mulheres negras buscam nos homens ria hegemônica e encontrar espaços e caminhos para o
negros relações afetivas, no entanto, muitas acabam Pensamento Feminista Negro.
sozinhas. Segundo a autora, as mulheres negras estão O livro traz um debate essencial, necessário e atu-
atentas para o fato de que é difícil se relacionar com alizado. Para construir o Pensamento Feminista Negro,
bons homens negros, por essa razão mães solteiras con- os temas utilizados pela autora abarcam a vida cotidiana
centram-se nos cuidados dos filhos, enquanto outras dessas mulheres a partir dos recortes de gênero, de classes
investem na carreira profissional encontrando assim sociais, de etnia e da sexualidade. Collins defende que
mais dificuldades em encontrar um companheiro negro é necessário re-significar a prática cotidiana, incorporar
da mesma classe social e que compartilhem os mesmo novos conhecimentos para que as experiências das mu-
valores. Outra questão retratada pela autora refere-se à lheres negras se transformem em elementos de resistência
competição com as mulheres brancas e as preferências e de “empoderamento”.
dos homens negros pelas mulheres brancas. Para fechar A proposta da autora é tirar o pensamento feminista
a questão, a autora afirma que o amor começa com negro do obscurantismo, torná-la respeitada no meio
questões bastante simples: auto-respeito, amor próprio acadêmico e pelos grupos dominantes, argumentando
e ações que proporcionem a autodefinição e o ativismo sobre a importância de que o conhecimento deve abarcar
político. O amor está na liberdade e na justiça social, diversos pontos de vista. No entanto, Collins falha por
afirma Collins. reforçar o mundo dividido entre o feminismo das mu-
Ao tratar do universo da maternidade e dos cuidados lheres negras e o grupo hegemônico, ratifica a ideologia
do filho, a autora evoca o ponto de vista da maternidade da dualidade e reforça a diferença étnica e de gênero
da mulher negra como fundamental na construção da a ponto de, em certos momentos, cair nas “ciladas da
teoria crítica feminista. Para a formulação da proposta, diferença”.
a autora considera alguns temas essenciais que tornam
singular a experiência das mulheres negras no universo
da maternidade: escravidão, cotidiano em comunidades
Fontes de consulta
rurais no sul do país, estratificação de classe, segregação Pierucci AF. Ciladas da Diferença. São Paulo: Editora
racial nas zonas urbanas. Esses pontos impulsionaram a 34; 2000.
construção do que seria o ponto de vista feminino negro
Harding S. Feminist Standpoint Epistemology. In: Leder-
e a questão da maternidade.
man M, Bartsch I. The Gender and Science Reader. Nova
Na terceira parte do livro, a autora consolida o cam- York: Routledge; 2001.
po do conhecimento do pensamento feminista negro e

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