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Webinar | Geologia aos 12 anos. Que desafios?

Atividade prática – Onde está a geologia?

A geologia está, literalmente, em tudo o que nos rodeia. As cidades, através dos afloramentos
naturais que ficam preservados na malha urbana e das suas construções, são um ponto de
partida para conhecer a geodiversidade, associando a Geologia, a Biologia, a História e o
património cultural.
À semelhança dos seres vivos, também as rochas podem ser observadas quer no seu ambiente
natural quer em contexto urbano. Este facto constitui uma oportunidade para, tal como
preconizado nas Aprendizagens Essenciais, alargar os horizontes de aprendizagem dos alunos.
O ensino em geral, e na disciplina de Ciências Naturais em particular, deverá ser contextualizado
em situações reais e atuais, sendo importante que o professor tenha em conta, na concretização
das aprendizagens essenciais transversais:
– a natureza da ciência, procurando, sempre que possível, adotar estratégias que
evidenciem o processo de construção do conhecimento científico explorando as inter-
relações entre a ciência, a tecnologia, a sociedade e o ambiente (CTSA);
– a valorização das atividades práticas, considerando-as como parte integrante e
fundamental dos processos de ensino e de aprendizagem em todas as temáticas.
Incentivar os mais novos a olhar o mundo e a descobrir nele os temas abordados nas aulas
ajuda-os a abrirem caminho para o verdadeiro conhecimento, aquele que se interioriza, que sai
das páginas do manual e que se usa para explicar o dia a dia e o mundo que os rodeia.

Com base nestes pressupostos, disponibilizamos este documento de apoio à implementação de


uma atividade prática para exploração da geologia urbana com os alunos. Conta também com
uma apresentação PowerPoint®, que pode utilizar para mostrar aos alunos exemplos de
exploração de aspetos da geologia visíveis nas cidades.
Nos centros históricos, onde a construção é essencialmente representativa da geologia regional,
são as rochas que determinam as cores e as formas dos edifícios e pavimentos. Nestes é
possível observar os mesmos aspetos que são visíveis nas amostras de mão e outros passíveis
de identificação, dada a dimensão dos blocos utilizados nas construções.
A pedra, nos edifícios e monumentos, está sujeita à degradação, resultante tanto de fatores
ambientais como de fatores antrópicos, o que constitui uma oportunidade para abordar conceitos
associados à sedimentogénese, como a meteorização e a erosão, mas também para discutir a
importância da preservação do património.
Para além de construções e pavimentos, os materiais geológicos são utilizados para os mais
diversos fins, e um passeio pela cidade permite testemunhar a sua utilização pelo ser humano.
O estudo dos materiais geológicos utilizados nas construções urbanas pode ser o ponto de
partida para a identificação e caracterização de cada litologia, assim como a sua relação com a
geologia local, regional, nacional ou global.
Nas urbes é também possível observar rochas in situ, em afloramentos e em taludes de ruas,
permitindo explorar, entre outros, os princípios da estratigrafia. Outra possibilidade prende-se
com a observação do horizonte a partir de um espaço mais amplo ou de um ponto mais alto (um
mirante, uma torre de um monumento ou o último piso de um centro comercial) para explorar o
contexto paisagístico.
Seguem-se alguns exemplos de aspetos que podem ser observados e explorados num percurso pela cidade.
Rochas sedimentares Rochas magmáticas plutónicas Rochas magmáticas vulcânicas Rochas metamórficas

● Fósseis em rochas da calçada, do ● Dimensão dos cristais, permitindo inferir ● Cores da calçada portuguesa ● Fósseis em algumas rochas
revestimento de edifícios e de sobre a rapidez de arrefecimento do (com predominância do basalto metamórficas. A observação de
monumentos. A observação de magma. negro com desenhos a branco). fósseis nas rochas
fósseis nas rochas calcárias permite metamórficas permite explorar
explorar com os alunos os ● Texturas de diferentes granitos (grão fino, ● Xenólitos em construções que com os alunos os
paleoambientes, identificar os seres médio, grosseiro), permitindo comparar a utilizam ignimbritos. A observação paleoambientes, identificar os
vivos fossilizados e os processos de rapidez de arrefecimento do magma que de xenólitos permite explorar com seres vivos fossilizados e os
fossilização. lhes deu origem. os alunos os princípios da processos de fossilização.
datação relativa (princípio da
● Desgaste nos relevos dos ● Alinhamento de fenocristais inclusão) e os métodos que ● Diversidade de cores dos
monumentos e estátuas construídas (megacristais) de feldspato resultantes do permitem conhecer o interior da mármores portugueses, quer
em calcário, que é particularmente fluxo magmático. Terra. nos revestimentos quer na
sensível aos agentes químicos e estatuária. Os padrões
biológicos de meteorização e ● Alterações de cor de um granito, ● Cor da pedra utilizada na curvilíneos do mármore são
erosão. associadas à meteorização química. A construção dos edifícios. É indicadores da deformação que
coloração avermelhada é resultante da possível comparar a cor dos a rocha sofreu.
● Diversidade de cores do calcário na meteorização química das biotites. edifícios construídos em rocha
calçada portuguesa (com vulcânica e inferir sobre as ● Deformações e texturas
predominância dos tons claros com ● Encraves em pavimentos e edifícios características da lava que lhes geológicas. As deformações
desenhos em tons mais escuros). graníticos, permitindo ao professor deu origem. Por exemplo, o podem ser exploradas na
explorar os princípios da datação relativa basalto é uma rocha vulcânica aplicação de princípios de
● Depósitos sedimentares em (princípio da inclusão). mais escura que resulta da datação relativa.
taludes de rua, permitindo explorar solidificação de lavas básicas,
com os alunos as características do ● Filões a atravessar granitos, permitindo enquanto o traquito é uma rocha ● Foliação das rochas. A
ambiente sedimentar, como, por ao professor explorar os princípios da vulcânica clara que resulta da utilização da ardósia e do xisto
exemplo, a energia do agente datação relativa (princípio da interseção). solidificação de lavas ácidas. em placas que revestem
transportador e o tipo de bacia paredes e telhados é possível
sedimentar. ● Composição mineralógica da rocha ● Pulverização superficial de devido à natureza foliada destas
facilmente identificável em granitos de rochas como o traquito devido à rochas.
● Rochas ornamentais com grão grosseiro ou em pegmatitos. Por corrosão salina e aos gases de
importância cultural e patrimonial, vezes, é possível identificar minerais circulação automóvel. ● Rochas ornamentais com
como, por exemplo, a brecha da acessórios, como a turmalina. importância cultural e
Arrábida. patrimonial, como, por exemplo,
● Relevo menos detalhado em estátuas e o mármore de Estremoz (rocha
● Seixos na pavimentação tradicional elementos decorativos em granito classificada de Pedra
madeirense, provenientes, entre comparativamente aos de calcário, Património Mundial).
outros, de depósitos fluviais e permitindo ao professor explorar com os
marinhos. A análise destes seixos alunos a dureza destas rochas.
permite concluir sobre a sua rocha
de origem – rochas vulcânicas e ● Arestas suavizadas em estátuas e
rochas carbonatadas (com fósseis monumentos podem resultar da
de corais, algas e conchas). arenização do granito.
Implementação da atividade “Onde está a geologia?”

Esta atividade prática deve realizar-se em três etapas: pré-saída, saída e pós-saída.

Pré-saída: A atividade poderá ser planificada em conjunto com seus alunos, devendo-se definir
o local a visitar, os pontos de observação, a calendarização da atividade e o produto final.
Apresentam-se sugestões que podem contribuir para a planificação da atividade:

Local Pontos de Calendarização Produto final


observação

Quarteirão da Pavimentos Saída única durante Realização de um roteiro geológico


escola visita de estudo. (em papel ou recorrendo a
Muros ferramentas digitais, como, por
Centro histórico Trabalho para exemplo, o Google Maps).
da cidade mais Edifícios – desenvolver ao
próxima da revestimentos longo do ano letivo. Elaboração de um póster.
escola interiores e
exteriores Trabalho para Elaboração de um folheto de
Zona de desenvolver ao divulgação.
residência dos Monumentos longo de um
alunos período de tempo Realização de um documentário.
Taludes de de duração
estrada intermédia. Realização de uma fotorreportagem.
Etc. Etc.

Saída: Recolha e registo de dados.


Anexo A – Ficha de registo do trabalho de campo

Pós-saída: Elaboração e apresentação do produto final.


Anexo B – Guião simplificado de apoio à construção de um roteiro geológico no Google
Maps

Bibliografia
Alves, C. (2015). Geologia na cidade. Correio do Minho, p. 30.

Ministério da Educação. Direção Geral da Educação (2018). Aprendizagens essenciais 7.º ano – Ciências Naturais.
Disponível em
https://www.dge.mec.pt/sites/default/files/Curriculo/Aprendizagens_Essenciais/3_ciclo/ciencias_naturais_3c_7a_ff.pdf

O Mundo da Ciência (s.d.). Açores Hoje. RTP Açores, emissão de 1 Novembro de 2017.

Rodrigues, L.A., Agostinho, M. & Manteigas, R. (2014). Geologia e Paleontologia Urbanas – potencialidades e aplicações
em três cidades do Algarve. Comunicações Geológicas, 101, Especial III, 1359-1363.

Silva, C.M. (2009). Fósseis ao virar da esquina: um percurso pela Paleontologia e geodiversidade urbana de Lisboa.
Paleolusitana, I, 459-463.

Silva, J. (Coord.) (2017). Geodiversity Route of Funchal Historical Centre. Disponível em http://cm-
funchal.pt/pt/not%C3%ADciaspt/3530-percurso-da-geodiversidade.html

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