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A MENTE E OS

PROCESSOS MENTAIS
Mente: Conjunto dinâmico de processos cognitivos, emocionais e conativos, onde se conjugam
fenómenos conscientes e inconscientes. É na mente que se dá a atividade psíquica e onde se
constrói a noção de Eu, sendo um sistema que não se limita a captar informação do exterior,
mas que atribui um significado a essa mesma informação em função da qualidade da rede
neuronal, das experiências anteriores do indivíduo e das influências sociais e culturais. Isto
confere à mente um carácter único, subjetivo e pessoal.

→ Processos cognitivos – o saber


Processos cognitivos: Conjunto de mecanismos que um organismo ativa para adquirir,
conservar e explorar informação. – ‘’O quê?’’, pois trata-se de saber o que é o mundo. Os
psicólogos cognitivistas têm usado o termo cognição para designar o pensamento, a construção
de conhecimentos e a forma como estes se relacionam entre si. Esta área interessa-se pelo
estudo dos processos mentais ligados ao pensamento (Determinar o que as pessoas sabem,
como sabem, como imaginam, como planificam...).

→ Processos emocionais – o sentir


Processos emocionais: Correspondem aos aspetos afetivos, agradáveis ou desagradáveis, que
acompanham as nossas vivências. – ‘’Como?’’, trata de saber como sentimos o mundo.

As sensações que o mundo desperta em nós desempenham um papel fundamental na defesa


do organismo fornecendo uma avaliação aos estímulos do meio. Impulsionam o organismo para
os estímulos que são benéficos e afasta os que são prejudiciais.

→ Processos conativos – o fazer


Processos conativos: São os processos mentais envolvidos na ação deliberada e intencional do
ser humano. – ‘’Porquê?’’, pois trata-se de compreender por que motivo fazemos aquilo que
fazemos.

Somos capazes de agir sobre o mundo, fazer o que achamos que deve de ser ver para o nosso
bem-estar – carácter intencional.
A dificuldade para tomar decisões perante um problema faz com que a nossa adaptação ao
meio que nos rodeia exija o recurso de atividades mentais como a deliberação, a reflexão, a
análise, a imaginação e a tomada de decisão.

A afetividade e a subjetividade afirmaram-se como categorias importantes na própria


aquisição de conhecimento. Sob a influência dos neurocientistas atuais, começa a emergir um
novo e mais abrangente conceito de mente. A mente deixa de ser perspetivada como uma
série de componentes independentes, para passear a ser entendida um sistema de interações
organizadas de modo complexo que resulta da ação coordenada dos processos cognitivos,
emocionais e conativos.

• Os estados mentais resultantes das nossas cognições podem ser mais ou menos aferidos por
referência aos objetos e às situações.
• Os emocionais reportam-se à subjetividade e à individualidade, pois consistem em vivências
do sujeito.
• Os conativos são mais direcionados para a ação, associando-se à vontade e expressando-se
em comportamentos. São a base das respostas aos estímulos do meio.

Através da perceção conhecemos o mundo que nos rodeia, isto é, contactamos com as
situações, os objetos, os acontecimentos e as pessoas presentes num aqui e num agora,
formando imagens a seu respeito.

A aprendizagem consiste na construção de novos conhecimentos e de novas maneiras de agir,


como, por exemplo, andar de bicicleta, trabalhar com máquinas... A aprendizagem é uma
modificação estável na conduta ou no conhecimento, provocada pela experiência, ou seja,
pela observação, pelo treino, pelo estudo ou pelo exercício.

A memória habilita-nos a viajar no tempo e no espaço. Não conhecemos apenas o mundo que
está à nossa frente e que percecionamos no presente, mas conhecemos também
acontecimentos ocorridos noutros tempos e noutros locais. Esse conhecimento pode ser
recuperado e utilizado em qualquer momento. A memória é o processo de retenção e
recordação de informação.

→ A perceção- a captação significativa do mundo


Dispomos dos órgãos dos sentidos para captar os seus estímulos. – os 5 sentidos (visão, tato,
audição, olfato e paladar). Este contacto com os estímulos permite-nos aperceber de que há
alguma coisa fora de nós – sensação.

Através das sensações, vemos luzes e cores, ouvimos sons, sentimos o macio, cheiramos
odores... É com as sensações que se inicia o conhecimento, mas este não termina com elas, pois
não basta sentir os estímulos; é necessário interpretá-los, organizá-los em objetos identificáveis.

Perceção: Ato de interpretação e de organização dos dados sensoriais, pelo qual formamos um
conhecimento de um objeto.

A perceção é uma operação cognitiva essencial para a compreensão do mundo à nossa


volta. Os estímulos, por si só, nada nos dizem. Eles são mudos, apenas dizem alguma coisa depois
do sujeito os pôr a um processo de ‘’leitura’’. Sons e cores, por exemplo, são algo que só adquire
realidade quando os impulsos nervosos, provocados pela estimulação do tímpano e da retina,
são descodificados por áreas cerebrais específicas. Só aí é que surge, então, a consciência de
qualquer cosa de significativo.
• Ao carregar nas teclas de um computador, enviam-se informações sob forma de impulsos
elétricos. Impulsos semelhantes são provocados no organismo quando os estímulos físicos
contactam com os órgãos recetores.
• O computador necessita, depois, de um programa para processar a informação. No ser
humano, esta função é desempenhada pelo cérebro, que descodifica os impulsos elétricos,
atribuindo-lhes significado.
• No computador existem mecanismos condutores a estabelecer as ligações. No ser humano,
os nervos exercem essa função, pondo em contacto os órgãos dos sentidos com os centros
nervosos de descodificação.

Em suma, para que os estímulos percam a mudez e comuniquem alguma coisa é necessário
que o ser humano disponha de estruturas neurológicas capazes não só de os captar, mas
também de os interpretar, descodificando a mensagem que veiculam. Dispomos de um
mecanismo seletivo que nos impede de viver num estado de confusão mental permanente: a
atenção.

A atenção é uma espécie de foco que lançamos sobre determinados aspetos do real, filtrando
ou bloqueando o processamento de algumas estimulações para que possamos responder
percetivamente a outras.

• A atenção voluntária depende do individuo, dos seus interesses e motivações.


• A atenção involuntária é despertada pelo meio exterior, evidenciando um objeto em relação
aos restantes.

Fatores de atenção
Ligados ao sujeito Ligados ao objeto
Necessidades Intensidade
Motivações Contraste
Gostos Tamanho
Hábitos Cor
Expectativas Movimento
Profissão Luminosidade
Experiências Novidade

O sujeito é um recetor ativo, cabendo-lhe o papel de descodificar os dados captados. A


perceção tem um caráter subjetivo, pois a objetividade das mensagens dá lugar a perceções
diversificadas, de acordo com os significados atribuídos por cada um. Os fatores de significação
contam-se a idade, o sexo, o contexto cultural, as motivações, a atividade profissional, a
experiência anterior, as expectativas ou o estatuto social, por fazerem parte da história pessoal
do sujeito.

→ A aprendizagem – mudar com a experiência


A aprendizagem é uma alteração no comportamento de um organismo que resulta da
influência do meio e se traduz no aumento das possibilidades de ação de forma relativamente
estável e perdurável.

• A aprendizagem é sempre uma alteração comportamental relativamente a um estado


anterior, só se podendo falar de aprendizagem se o individuo adquiriu uma conduta que não
possuía ou alterou uma já existente.
• As modificações processadas têm que apresentar carácter duradouro. Os efeitos do
processo de aprendizagem têm de se prolongar no tempo.
• A aprendizagem implica experiência, prática, treino ou estudo.
Nem todas as modificações comportamentais podem ser atribuídas à aprendizagem. As
modificações por doença ou pela ingestão de álcool ou de drogas não se incluem no âmbito
da aprendizagem.

Aprendizagem por habituação


•Ocorre quando somos repetidamente expostos a um determinado tipo de estímulo e, por
habituação, este torna-se de tal modo familiar que aprendemos a ignorá-lo.
Exemplo: Habituamo-nos a andar de autocarro...
Aprendizagem associativa
•Consiste na associação de dois estímulos ou de certos estímulos a determinados
comportamentos.
Exemplo: Associamos a luz do relâmpago ao som do trovão.
Aprendizagem pela ação
•Apenas conseguimos certas coisas através da prática.
Exemplo: Aprender a andar de bicicleta, a cozinhar ou a conduzir.
Aprendizagem simbólica
•Grande parte das aprendizagens que fazemos é através da linguagem e/ou outros códigos
simbólicos. Através da manipulação de simbólicos aprendemos significados e adquirimos
conhecimentos e competências que podemos transmitir aos outros.

Aprendizagem social
•Fazemos-a em contexto social, através da observação e imitação daqueles que nos
rodeiam. O psicólogo Albert Bandura dedicou-se ao estudo deste tipo de conhecimento e
desenvolveu uma situação experimeta, ''Palhaço Bobo'':

Um grupo de crianças foi divido em dois grupos: uma metade viu um vídeo de um adulto a
agredir um palhaço e a outra não. A parte que viu o vídeo foi subdivido ao meio, metade
viu o homem a ser elogiado e a outra metade viu o homem a ser repreendido pelo mesmo
comportamento. O grupo completo foi deixado num sala de brinquedos , entre os quais se
encontrava o palhaço. As crianças que viram o vídeo tiveram tendência para reproduzir os
comportamentos que observaram, quando as que não viram não apresentavam esse tipo
de tendência.

•A aprendizagem social ocorre pela observação e pela imitação do comportamento


daqueles com quem convivemos.

Os modelos de imitação impõem-se pelo sucesso, pela classe, pelo estatuto social, pela
competência ou pelo poder. Também tendemos a imitar aqueles que apresentam interesses
semelhantes aos nossos ou com quem nos identificamos.

As pessoas tanto podem modelar os seus atos tomando como referência pessoas com
comportamento social negativo, como podem fazê-lo em relação a pessoas com
comportamento social positivo.

Reforço vicariante
As experiências de Bandura mostram que o facto de vermos alguém a ser reforçado ou
recompensado quando executa um determinado comportamento aumenta a nossa tendência
para reproduzir esse comportamento. A este tipo de reforço damos o nome de ‘’reforço
vicariante’’ (ou ‘’ reforço indireto’’).

Existem diversos fatores que influenciam a aprendizagem, como, por exemplo, a inteligência, a
motivação, as experiências anteriores e alguns fatores de ordem sociocultural.

• A inteligência e a aprendizagem são tão próximas que há quem defina a primeira como a
capacidade de aprender.
• Quanto mais motivados estivermos para uma determinada aprendizagem, mais facilmente
mobilizamos os recursos necessários à sua aquisição, aumentando, deste modo a
probabilidade de estar bem sucedida.
• As nossas experiências anteriores também podem facilitar ou dificultar a aprendizagem. Por
exemplo, não posso aprender a correr sem aprender a andar.
• O facto de nos desenvolvermos num meio sociocultural estimulante também se revela
decisivo para a nossa capacidade de aprender.

Em suma, existem diferentes tipos de aprendizagem e diversos fatores que intervêm nesse tipo
de processos. Tomar a consciência que cada um de nós é mais sensível a certas aprendizagens
como a certas foras de aprender é ter um papel ativo na autorregulação das suas
aprendizagens e na sua própria formação.

→ A memória – conviver com o passado


A memória pode ser definida como a capacidade de adquirir, conservar e restituir informações.
Podemos considerar que a memória é o suporte essencial de todos os processos de
aprendizagem, permitindo ao ser humano um sistema de referências relativas à sua experiência
vivida e ao reconhecimento de si como pessoa dotada de identidade própria.

Sem memória, as aprendizagens estariam permanentemente na fase de aquisição, o que


equivale a dizer permanentemente na fase da aquisição.

Aprendizagem e memória são processos indissociáveis, na medida em que, por um lado, só se


pode dizer que um comportamento foi apreendido se foi retido ou memorizado, e, por outro, só
se pode reter ou memorizar aquilo que foi, de certa forma, aprendido.
As etapas do processo de memorização (ou processo mnésico) são:

▪ Codificação: a informação é recebida, tendo que ser devidamente preparada para que o
armazenamento possa ser feito;
▪ Armazenamento: depois do tratamento das nformações, estas são arquivadas na memória;
▪ Recuperação: A ativação de um conteúdo anteriormente armazenado;

▪ Esquecimento: desaparecimento de dados anteriormente armazenados, essencial para a


aquisição de novos conteúdos.

Existe 3 tipos de memória implicados na organização do universo das nossas lembranças:


▪ Dados brutos da
memória sensorial

As informações sensoriais provenientes dos estímulos são


armazenados na memória sensorial, por um curtíssimo
Não alvo de Alvo de atenção
espaço de tempo, cerca de 0.25 segundos. Aí são atenção
restidos, onde permanecem como dados brutos, isto é,
sem qualquer tratamento ou análise.
Transferência para
A memória sensorial desdobra-se nua série de registos Deterioração
a memória a curto
Desaparecimento
sensoriais: icónico (visºao), ecoico (audição), tátil (tacto), prazo
imediato
olfativo (olfato) e gustativo (paladar). As informações que
por aqui passam são transferidas para a memória a curto prazo.

É considerada o centro da consciência, na medida em que é nela que se encontram os


pensamentos, as informações e as lembranças que em determinado momento estamos a utilizar.
A sua função é reter temporariamente a informação. As informações só estão disponíveis
durante o tempo necessário para serem utilizadas.

Confere-nos a capacidade de recordar uma quantidade substancial de informação durante


períodos bastante longos. Nela se encontra os materiais provenientes da aprendizagem, que
foram sujeitos à codificação na memória a curto prazo.

Existe uma grande flexibilidade na codificação dos materiais. Tanto se pode codificar em
termos de imagens como em termos verbais ou recorrendo a ambos.

Estamos continuamente a recuperar informação da memória a longo prazo, sendo a


recordação um processo gerido pela memória a curto prazo.

Quadro comparativo das modalidades de memória


Tipo
Memória a
Critérios Memória sensorial Memória a longo prazo
curto prazo
distintivos
Material Padrões sensoriais
Material significativo Material significativo
armazenado pelo analisados no seu
interpretado interpretado
sistema conteúdo
Tempo que o Cerca de um minuto
Geralmente, cerca Horas, dias, semanas, meses,
material pode ser (uns minutos se
de 0.5 segundos anos
armazenado repetindo)
Todos os dados que
Capacidade do
os órgãos sensoriais Cerca de oito unidades Praticamente ilimitada
sistema
registam
Atenção necessária
para inserir os dados Nenhuma Alguma Moderada
do sistema
O material é O material verbal é
O material verbal é
Formas de codificado de forma frequentemente codificado
frequentemente
codificação do paralela à em termos do seu significado;
codificado pela
material para experiência sensorial pode também ser codificado
aparência ou pelo
armazenamento (icónica, ecoica, em termos da sua aparência
significado
etc...) ou do som
Recuperam-se os
dados, atentando-se
Dificuldade variável no
neles antes que se Os dados são fáceis e
Caracaterísticas do processo de recuperação; é
apaguem; o material facilmente recuperados
processo de usada muitas vezes uma
é automaticamente durante cerca de um
recuperação estratégia de resolução de
transferido para a minuto
problemas
memória a curto
prazo
Falhas de codificação
(codificação inadequada ou
Causas do Deterioração
Deterioração inexata) ou de recuperação
esquecimento interferência
(interferência, esquecimento
motivado)

Distorção do traço mnésico


A distorção do traço mnésico deve-se a falhas que podem ocorrer na codificação, no
armazenamento ou na recuperação dos conteúdos.

• Falhas na codificação: quando lemos um texto e não prestamos atenção àquilo que está
escrito, não é possível que nos lembremos do seu conteúdo. Não sendo codificado, o
material não é armazenado ou então, é-o de forma incorreta.
• Falhas no armazenamento: os conhecimentos armazenados na memória e longo prazo
estão sujeitos também a falhas e perdas. Nestas falhas interfere o fator tempo, as atividades
da pessoa e outrosn mecanismos da inibição.
• Falhas na recuperação: devem-se à interferência de outras informações, a erros na
recuperação dos sinais que dão acesso ao local onde a informação está armazenada, à
supressão de um pensamento ou acontecimento que provoca perturbação no sujeito ou
ainda ao desaparecimento da informação por falta de ativação.

Interferência de outras aprendizagens


A inferência de outras aprendizagens pode também conduzir ao esquecimento ou à
incapacidad de recordar um determinado conteúdo.

• Influência proativa: a recordação de uma informação anterior impede a memorização de


uma nova informação.
Exemplo: quando não conseguimos fixar uma nova palavra-passe porque só nos
conseguimos lembrar da palara-passe anterior.
• Influência retroativa: É a nova informação que inviabiliza a recordação de uma informação
anterior.
Exemplo: depois de ficar uma nova palavra-passe deixamos de conseguir recordar a palavra-
passe anterior.
Motivação inconsciente
Segundo Sigmund Freud, o processo de esquecimento é seletivo, ou seja, não nos esquecemos
de tudo, apenas aquilo que insconscientemente nos interessa esquecer.
Freud chamou de recalcamento ou repressão à tendência que os seres humanos têm para
evitar insconscientemente a recordação de certas impressões e situações penosas.

Existe uma dimensão postiva no esquecimento, na medida em que desempenha uma


insubstituível função seletiva. O psiquismo necessita de depurar materiais, eliminando muitos
deles antes de proceder ao armazenamento de novos materiais. Desta forma, evitam-se
perturbações graves, associais à impossibilidade de a memória fazer a gestão normal das
informações.

É pelo esquecimento que nos libertamos do peso de informações sem interesse e nos mantemos
disponíveis, abertos a outras aprendizagens. É a memória que suporta os nossos estados mentais,
sem ela eramos incapazes de aprender ou de adaptar.

A nossa relação com o mundo produz em nós experiências agradáveis ou desagravéis, de


prazer ou de dor, de satisfação ou da insatisfação... A este tipo de experiências que se
caracterizam por uma interação positiva ou negativa com o mundo dá-se o nome de ‘’afetos’’.

→ Afetos, emoções e sentimentos


Afetos: Estado psíquico elementar que corresponde a uma avaliação da realidade.
A principal marca dos afetos é a sua bipolaridade que desempenha um papel
fundamental na nossa sobrevivência e na nossa adaptação, pois, leva-nos a aproximar daquilo
que nos faz sentir bem e afastar daquilo que nos faz sentir mal, orienta o nosso comportamento
no sinto de assegurar a satisfação das nossas necessidades.

Emoções: Estado do organismo decorrente de uma situação que desencadeia alterações


psicológicas e expressivas internas e de curta duração. Caracterizam por um conjunto de
alterações fisiológicas no organismo que se manifestam por um conjunto de sinais visíveis e
facilmente reconhecíveis por aqueles que nos rodeiam.

Sentimentos: Tipo de afeto que corresponde a estados psíquicos mais íntimos e privados,
relativamente estáveis e de intensidade moderada, que se prolongam no tempo. Envolve a
tomada de consciência e interiorização da forma como somos afetados por esta ou por aquela
realidade.

Ao contrário das emoções que têm uma forte componente expressiva e comunicacional,
voltada para o exterior, os sentimentos são vividos numa esfera interior, íntima e privada, sem que
se manifestem necessariamente aos outros.

António Damásio apresentou-nos a sua perspetiva acerca da distinção entre emoções e


sentimentos. Sugere que as emoções sejam associadas a alterações corporais, como a
aceleração dos ritmos circulatório e respiratórios, e os sentimentos à experiência consciente
dessas mesmas alterações.
→ Componentes das emoções
Entre as alterações corporais características das emoções destacam-se as reações fisiológicas e
as manifestações expressivas. As reações fisiológicas associam-se à necessidade de
preservação, de defesa e de adaptação do organismo.

Todas as reações fisiológicas são coordenadas pela colaboração integrada do sistema nervoso
autónomo e do sistema nervoso central.

Relembrar os sistemas nervosos

O sistema nervoso central participa nos comportamentos emotivos, sobretudo por ação do
sistema límbico e do sistema ativador reticular. É o sistema líbico, designadamente o hipotálamo,
que ativa o sistema simpático para o controlo das alterações fisiológicas anteriormente referidas.
Fá-lo permanecer alerta e mobilizar as energias necessárias em situações que exigem uma
resposta rápida e eficaz. O sistema ativador reticular alerta as diversas áreas do córtex cerebral,
de modo a estarem aptas a emitir respostas ajustadas. Neste sentido, discrimina os estímulos,
indicando as mensagens que requerem uma atenção mais imediata.

As reações expressivas são acompanhadas por sinais externos que nos permitem comunicar aos
outros as nossas emoções e identificar nos outros as emoções que eles estão a sentir e adequar
as nossas ações de acordo com essa informação.

Paul Ekman acreditava que culturas diferentes teriam emoções diferentes, para comprovar a
sua hipótese trabalhou numa investigação. No entanto, Ekamn acabou por constatar que
estava errado e que existem emoções básicas e universais que se expressam de forma
semelhante em diferentes partes do mundo (felicidade, tristeza, medo, raiva, surpresa, desgosto)

→ Emoções primárias e secundárias


Charles Darwin acreditava que as emoções eram universais e inatas, pois resultavam do
processo de evolução por seleção natural, comum não apenas aos membros da nossa espécie,
mas também a outros mamíferos com os quais partilhamos um ancestral comum.
Os estudos de Darwin conduziram à conclusão de que existem 6 emoções básicas e universais:
alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa e aversão. Segundo ele, o valor adaptativo destas
emoções traduz-se quer a nível da ativação para a ação quer a nível comunicacional.

• As emoções primárias têm de ser praticamente as mesmas em todas as culturas,


obedecendo a uma espécie de padrão natural com tendência para a generalidade ou
universalidade. Têm de se manifestar muito cedo na vida das pessoas.

Apesar do carácter universal de certas emoções, diferentes culturas apresentam um leque de


variantes e normas específicas de manifestações que definem. Exemplo: onde e quando se
deve de rir ou chorar... Isto significa que se faz sentir na modificação das reações naturais da
emoção, imprimindo-lhe características relacionadas com a cultura em que as pessoas vivem.
→ Damásio e a teoria do marcador somático
A investigação de António Damásio conduziu-nos a concluir que as emoções desempenham
um papel determinante no processo de tomada de decisão.

Antes de pôr em prática uma decisão, fazemos uma avaliação (ou é agradável ou
desagradável) das consequências possíveis dos diferentes cursos de ação ao nosso dispor. Este
processo pode ser demorado ou até mesmo infindável. E é aqui que entra em cena as emoções,
através dos ‘’marcadores somáticos’’.

Marcador somático: Mecanismo biofisiológico que marca positiva ou negativamente diferentes


cursos de ação disponíveis, favorecendo a eficácia do processo de tomada de decisão.

Este mecanismo reduz o leque das possibilidades sobre o qual nos chegamos efetivamente a
debruçar, trazendo maior eficácia ao processo deliberativo.

Segundo António Damásio, o marcador somático possui uma base orgânica e é


desencadeado pela modificação de padrões neuronais inatos cujo objetivo consiste em garantir
a sobrevivência. O seu funcionamento depende da aprendizagem, pois necessita da
associação de certos factos a sensações agradáveis ou desagradáveis.

o Se a avaliação do marcador somático for positiva, funciona como um incentivo.


o Se a avaliação for negativa, o marcador funciona como uma campainha de alarme.

Os marcadores somáticos não eliminam a vontade do agente, simplesmente, elimina algumas


opções e evidenciando outras.

É impossível separar a cognição e emoção, na medida em que o funcionamento equilibrado


da mente só é possível mediante a intervenção coordenada e complementar destes dois tipos
de processos.

O caso de Phineas Gage e de Elliot demonstram o quão a nossa capacidade de se emocionar


ou de gerir as nossas emoções é importante.
Gage e Elliot sofreram lesões no córtex pré-frontal. Em ambos, as consequências negativas
centram-se na incapacidade de tomar decisões adaptadas:

o Sob a vista social e moral, são incapazes de seguir normas e valores vigentes, regendo.se por
interesses de momento.
o Sob o ponto de vista pessoal, são incapazes de seguir planos de futuro.

Segundo Damásio, estas dificuldades estão relacionadas com a incapacidade de fazer circular
informação proveniente dos centros emocionais que se encontram no sistema límbico para os
centros de coordenação e decisão presentes no córtex pré-frontal.
→ Damásio e a teoria do marcador somático
A intenção corresponde ao ‘’porquê’’ da ação, à finalidade ou ao objetivo dinamizador e
organizador de um ato ou comportamento. Se a ação humana é intencional, significa que os
atos humanos são constituídos por duas partes interdependentes:

o A intenção ou projeto, referente a uma representação mental e antecipada do que se quer


fazer.

A intenção diz respeito ao que o ser humano se propõe realizar. Designada por propósito ou
projeto, a intenção é uma antecipação da ação processada no interior da pessoa. Nela se inclui
todo o processo através do qual se pensou e planificou, a ponderação de todos os motivos, a
escolha dos meios para a colocar e a avaliação das consequências da sua realização.

o A ação propriamente dita, referente à concretização ou realização efetiva do projeto


concebido.

A ação diz respeito aos atos que concretizam a intenção. Por isso, compreender a ação exige
que se detete na mente da pessoa as razões que a determinaram a agir, o que significa
descobrir o porquê da ação que praticou.

Nem sempre os seres humanos estão conscientes do que querem fazer e dos motivos pelos
quais fazem aquilo que fazem. Mas o facto de não saberem, não implica que não exista um
motivo para agirem como agem. Existe etapas comuns a todos os atos intencionais, o chamado
‘’ciclo motivacional’’:

1º Surge a necessidade, um estado de desequilíbrio provocado por uma carência ou privação

2º Sentimos um impulso, um estado de tensão que ativa e direciona o organismo para um


determinado comportamento

3º Executamos o comportamento, isto é, realizamos a atividade desenvolvida e desencadeada


pela pulsão

4º Segue-se a saciedade, ou seja, a redução ou eliminação da pulsão, restabelecendo o


equilíbrio do organismo.
Classificação das tendências ou das motivações
Quanto à origem
Primárias Correspondem às necessidades naturais e básicas e são independentes da
aprendizagem.
• Tendência à preservação do individuo: conservação, nutrição, defesa, movimentos
• Tendência à conservação da espécie: reprodução
Secundárias Correspondem a necessidades sociais e são adquiridas por aprendizagem.
• Tendência para a música ou para o desporto, aptidão para o desenho ou para a
matemática, vocação para a medicina ou para o ascetismo, etc
Quanto ao objeto
Individuais Visam os interesses relacionados com a conservação e o crescimento ou a progressão
de cada ser humano.
• Orgânicas: alimento, atividade, descanso, conforto, saúde e bom funcionamento.
• Psíquicas: competição, amor-próprio, posse, ambição.
Sociais Visam o estabelecimento de relações com os outros, sendo a base da vida social.
• Imitação, inserção e promoção social, gregarismo, simpatia, partilha, execução de
atividades conjuntas, prossecução de objetivos comuns, cidadania, patriotismo,
consciência cósmica e ecológica, solidariedade, filantropia.
Ideias Visam promover valores.
• Intelectuais: conhecimento, curiosidade, compreensão, verdade.
• Morais: bens, justiça, liberdade, solidariedade, igualdade.
• Estéticas: inclinação pra a beleza e para a arte.

A compreensão de uma ação exige que se descubra, no interior do sujeito, o que é que foi
capaz de o impulsionar a praticar essa ação. Temos de saber o que o moveu, quais as suas
intenções, quais as suas necessidades e quais os seus objetivos. Só o conhecimento destes
elementos poderá clarificar os atos realizados.

→ Esforço de realização
O esforço de realização diz respeito ao empenho que colocamos nas atividades que
desenvolvemos para atingir os objetivos selecionados. Exige perseverança e relaciona-se com a
coragem de persistir na prossecução de um determinado objetivo, especialmente quando
surgem barreiras difíceis de transpor.

Necessidades de autorrealização

Necessidade de estima (autoestima,


reconhecimento, prestigio, competência e
autonomia)

Necessidades sociais (aceitação, afeto, afiliação,


amor, necessidade de pertença)

Necessidade de segurança (estabilidade, proteção,


ausência de medo, necessidade de ordem)

Necessidades fisiológicas (comida, abrigo, roupa,


conforto, sexo, necessdades sensoriais
Da base para o topo da pirâmide, segundo Abraham Maslow, as necessidades são:

1. Necessidades fisiológicas: correspondem às necessidades orgânicas. Sem alimentação,


água, oxigênio, sono, atividade e estimulação sensorial, o individuo não sobrevive;

2. Necessidades de segurança: Uma vez assegurado o seu bem-estar fisiológico, o ser


humano começa a sentir necessidades relativas à segurança, tentando escapar a diversos
graus de ansiedade respeitante a situação de perigo;

3. Necessidades sociais: A satisfação desta necessidade é conseguida quando a pessoa


sente que pertence a alguém e a algum lugar, que é querida e desejada e que faz parte de
grupos em que é aceite e tratada com afeto.

4. Necessidades de estima: Referem-se à necessidade de ser estimado, de sentir aceitação, o


respeito, a admiração e a simpatia dos que o rodeiam.

5. Necessidades de autorrealização: A necessidade do ser humano realizar as suas


potencialidades. Esta necessidade coloca-se no topo da hierarquia e é uma das condições
para que possa atualizar tudo o que está latente no seu interior.

• As pessoas só tendem a atingir um nível superior de motivações se as necessidades dos níveis


inferiores estiverem satisfeitas;
• À medida que se sobe a escola hierárquica de tendências, vai crescendo a diferença entre o
que é comum a homens e animais e o que é específico dos seres humanos;
• As necessidades dos níveis inferiores são sentidas por todos os seres humanos, enquanto as
necessidades superiores surgem apenas num número cada vez mais reduzido de pessoas.

Segundo Maslow, a realização pessoal é uma construção continuada cujo trajeto implica que
as necessidades de cada estádio sejam satisfeitas.

Aaron Ralson mostra que, por vezes, estamos disposts a sacrificar as nossas necessidades mais
básicas para satisfazer necessidades de nível superior.
À medida que se sobe na escala, uma maior dose de esforço e um maior refinamento de
competências são exigidos: força de vontade, empenho, firmeza de carácter, tolerância,
capacidades criativas... Requer-se ainda iniciativa, desejo de enfrentar situações novas,
coragem para assumir riscos e aptidão para escolher o que é oportuno.

No seio dos conflitos da pessoa, a vontade surge, assim, como uma capacidade de gerir
desejos e tendências, em confronto.

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