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12 de junho de 2018
As primeiras iniciativas ativistas reconhecidas como explicitamente politizadas datam do final dos anos 1970
(Arte Andreia Freire)
Mais ainda, o lugar de acolhida das inquietações, dos receios e das dores e de
construção da esperança e de projetos de vida possível de um conjunto muito diverso
de sujeitos. Não são quaisquer sujeitos. São as(os) socialmente marcadas(os) a partir
de sua sexualidade ou identidade de gênero divergentes da norma e, por isso,
chamados a disputar discursos de verdade sobre a sexualidade e a subjetividade. Essas
intensidades políticas e emocionais são indissociáveis das disputas acerca do melhor
modo de dizer de si e de suas demandas, que constituem os fluxos de linguagem,
práticas e sentidos que atravessam as teias de relações entre indivíduos e instituições
que integraram o movimento LGBTI ao longo de sua trajetória.
Ao final dos anos 1970, momento em que os primeiros grupos de reflexão e afirmação
do MHB iniciam suas atividades e constroem boa parte da pauta política em torno da
qual atua até os dias de hoje, o “assumir-se” emerge como ferramenta política que era
usada ainda por poucas pessoas e olhada com desconfiança por tantas outras.
Por um lado, crescia no interior do próprio movimento uma inquietação com relação
aos limites dos espaços de participação e ao escopo efetivamente alcançado pelas
políticas direcionadas a LGBT. Por outro, intensificavam-se os sinais de uma
“politização reativa” do campo religioso e da articulação dessa reação com outros
setores conservadores no campo político.
Isso nos leva ao cenário atual, no qual há uma diversificação nos modos de fazer do
ativismo, muitos dos quais deixam de ter na figura do Estado o principal interlocutor.
Este momento aprofunda mudanças que já se faziam sentir desde a década anterior.
Massificavam-se críticas à institucionalização dos movimentos sociais e à
possibilidade mesma de representação política, com desvalorização do “essencialismo
estratégico” e descrédito nas possibilidades de obtenção de direitos via diálogo com
instâncias estatais.
Desde meados dos anos 2000 intensificou-se a incidência política de redes ativistas no
Judiciário, com resultados importantes como as decisões do Supremo Tribunal Federal
(STF) sobre as “uniões homoafetivas” e sobre a alteração de registro civil de pessoas
trans sem necessidade de laudos, cirurgia ou decisão judicial.