Saneamento Básico Desde a Antiguidade, a saúde da coletividade Antiguidade – Higiene pública na Roma Antiga - parece ter sido objeto de intervenções durante Aquedutos, banhos públicos, termas e esgotos epidemias – mas no primeiro milênio, a sociedade romanos, tendo como maior símbolo histórico a tendia a encarar a doença com resignação e poucas Cloaca Máxima de Roma, uma das mais antigas ações públicas eram tomadas redes de esgotos do mundo – benefícios limitados É na Idade Moderna, quando há consolidação dos a uma pequena elite Estados nacionais modernos, com o Mercantilismo e o Absolutismo, que as História da Saúde Pública populações passam a ser consideradas como Retrocesso das conquistas objeto de preservação dos governos História da Saúde Pública sanitárias na Idade Média Idade Média: regressão nas conquistas Antiguidade x sanitárias e aumento no número de epidemias Conteporeanedade Os resíduos corporais e o próprio corpo humano em decomposição, assim como os Antiguidade: Pensamento mágico-religioso / restos da alimentação, eram lançados no empírico-racional ambiente externo, contaminando a água das cidades densamente povoadas Idade Média: Domínio da Igreja Católica / Lançavam-se cotidianamente dejetos nas ruas medicina árabe através das janelas após coletados em Idade Moderna: Pensamento científico, “urinóis” reducionismo (redução ao biológico) e O consumo de água chegava a menos de 1 L objetividade (quantificação da saúde e da doença) diário por habitante: as roupas eram lavadas raramente, os banhos também eram raros Século XIX: biologia científica – patologia celular, bacteriologia, pesquisa experimental – concepção mecanicista de doença - “defeito na Pública Primeiras Medidas máquina humana” = Modelo Biomédico foram Orientadas pela Conceito contemporâneo: inclui a subjetividade e concepção miasmática a complexidade - modelos que consideram as Isolamento das pessoas acometidas pela Peste relações com o meio - Negra na Idade Média: ações precursoras da Evolução do Conceito de Quarentena “Desinfecção do ar”: perfumes nos corpos, Saúde objetos, roupas e casas O próprio conceito de saúde reflete a conjuntura Médicos usavam vestimenta especial, com social, econômica, política e cultural - depende da máscaras em forma de bico de pássaro com época, do lugar, de concepções científicas, ervas aromáticas para atender doentes com a religiosas, filosóficas. O conceito de saúde é Peste uma construção social e histórica: acompanha uma grande e significativa evolução na História Origem da Quarentena e História da Saúde Pública Isolamento de Doentes na Idade Média História da Saúde Pública – Embora as epidemias fossem tratadas com orações, alguns esforços públicos foram feitos Primórdio para conter a propagação de epidemias como varíola e peste negra: isolamento dos doentes e Etimologia: Estatística = termo de origem quarentena dos viajantes ➢Quarentena: 40 alemã, Statistik, e deriva de Staat, Estado dias de isolamento (do italiano “quaranta Século XVII: O desenvolvimento da estatística giorni”) de passageiros e cargas em navios, coincide com o surgimento de um Estado forte, imposto por autoridades de portos quando centralizado embarcações traziam doentes - adotada a Portanto, Estatística tem uma raiz política - A partir de 1384, em Veneza - principal porto de implantação do sistema capitalista de produção comércio com o Oriente – tentativa de impedir gerou a necessidade de contar a população e o que a epidemia de Peste chegasse à Europa exército História da Saúde Pública 1374, o visconde italiano Bernabo de Reggio declarou que todas as pessoas com peste deveriam ser retiradas da cidade para os campos - para morrer ou se recuperar O primeiro hospital para os doentes de peste foi aberto pela República de Veneza – 1423 - na ilha de Santa Maria de Nazareth (chamado de Nazarethum ou Lazarethum) Durante os próximos 100 anos, leis semelhantes foram introduzidas nos portos italianos e franceses No final do século XVII, cidades europeias nomearam autoridades públicas para aplicar medidas de isolamento e quarentena (e Valorização da matemática no para relatar e registrar as mortes por causa da incipiente campo científico da peste) saúde Século XVII – John Graunt: Comerciante Idade Moderna: Política e membro da Royal Society, conduziu, Mercantilista e Intervenção com base nos dados de obituários, os primeiros estudos de estatística vital Estatal (1662) - primeiro a quantificar padrões da A partir do século XVII, o poder político da natalidade, mortalidade e ocorrência de burguesia emergente consolida-se – Ocorrem doenças diferentes tipos de intervenção estatal sobre a William Petty (1623-1687): médico e saúde das populações proprietário rural - realizou estudo No século XVIII, surge uma preocupação com coletando dados sobre a população e que a saúde pública urbana a fim de sanear os incluía informações sobre a ocorrência de espaços das cidades, disciplinando a doenças localização de cemitérios e hospitais, arejando Ainda não havia uma massa crítica em as ruas e construções públicas e isolando áreas investigação epidemiológica, que somente “miasmáticas” surgiu no século XIX
Quando surgiu a necessidade Outros Precursores em Estatística Vital
- Século XIX de quantificar os fenômenos William Farr - Considerado o “Pai da ligados à saúde e à doença no Estatística Vital” e vigilância epidemiológica - Iniciou a coleta e análise âmbito populacional? das estatísticas de mortalidade na Inglaterra Surge a preocupação em Quantificar as Doenças: Pierre Charles Alexandre Louis - Um dos O Nascimento da Estatística fundadores da Epidemiologia e precursor da avaliação da eficácia das terapêuticas - Começo da quantificação das doenças Introduziu a quantificação na medicina – para avaliar sintomas, a duração das Inglaterra do século XIX: as condições de doenças, sua gravidade e frequência, saúde dos trabalhadores eram miseráveis e eficácia dos tratamentos passaram a ser uma preocupação para o governo História da Saúde Pública Quantificação na Medicina Pierre Charles Ainda que no início do século XIX não se Alexandre Louis conhecesse a etiologia das doenças infecciosas, 1834: Com pesquisa quantitativa, Louis sabia-se que algumas eram transmissíveis demonstrou que a aplicação de sanguessugas A disputa entre “contagionistas” e para tratamento das pneumonias era ineficaz “anticontagionistas” foi motivada também por Observou pacientes com pneumonia “tratados” divergências de posições quanto à organização com sanguessugas e comparou com aqueles das práticas sanitárias que não recebiam este recurso Não se sabia ainda quais seriam as medidas Os resultados deste trabalho foram imediatos mais adequadas no controle das epidemias, se em 1827, os médicos parisienses importaram medidas mais focais centradas nos indivíduos, cerca de 33 milhões de sanguessugas/ano, após ou mais gerais relacionadas ao ambiente o trabalho de Louis, Paris não importava mais que poucos milhares de sanguessugas para Século XIX: Movimento sangria Higienista Quando passou a haver Mesmo ainda sem evidências científicas que sugerissem associação entre saneamento básico e movimentos sociais de Saúde saúde pública, surgiu o Movimento Higienista na Pública? Europa com o objetivo central de proteger a O início da Revolução Industrial nos finais do população como um bem, como capital século XVIII teve consequências nefastas O Movimento Higienista contribuiu para a para a saúde: grandes epidemias decorrentes formulação de políticas de saúde pública com das mudanças sociais e das alterações do intervenções no espaço urbano e implantação de sistema de produção sistemas coletivos de saneamento No século XIX os problemas de saúde da Alemanha, França e Inglaterra tornaram-se graves principalmente como consequência da industrialização e do processo acelerado de Insalubridade dos urbanização Grande quantidade de pessoas migravam e Trabalhadores e Repercussão aglomeravam-se nas grandes cidades, com fracas Econômica condições de salubridade e habitabilidade, facilitadoras da difusão de microrganismos. França Desenvolvimento de uma saúde pública urbana A ascensão da Burguesia e a Saneamento de espaços das cidades e Medicina Urbana isolamento de “áreas miasmáticas” A urbanização e a resultante concentração de Europa - Final do século XVIII sujeira eram consideradas, por si, uma causa de doenças Inglaterra do século XIX: as condições O poder político da burguesia estava de saúde dos operários eram miseráveis e consolidado, passaram a ocorrer diferentes passaram a ser uma preocupação pela intervenções do Estado sobre a saúde das repercussão econômica populações O controle de doenças ainda mas passou da França - Desenvolvimento de uma medicina quarentena e limpeza e melhoria se urbana – saneamento de espaços das cidades, concentrava em epidemias, isolamento do ventilando as ruas e isolando áreas miasmáticas indivíduo para a do ambiente comum. microbiologia e, portanto, do isolamento e identificação do Vibrio cholerae Politização da Saúde: Surge a Chadwick denunciou a insalubridade da Londres Medicina Social vitoriana, e propôs o saneamento da cidade através de uma lei que obrigava a mudanças no sistema de esgoto As casas foram ligadas ao Implantação de medidas compulsórias de controle sistema fluvial, a fim de que os excrementos das doenças pelo Estado, iniciado na França e na fossem levados para longe da cidade e os Alemanha miasmas se extinguissem Movimento de Reforma Médica Alemã - liderado Este sistema favoreceu a disseminação do então por Rudolph Virchow que, posteriormente, desconhecido vibrião colérico por toda a região tornou-se o mais respeitado patologista alemão - Os surtos de cólera voltaram com elevada Virchow concluiu que as causas da epidemia de mortalidade tifo em 1847 eram tanto econômicas e sociais quanto físicas O primeiro a utilizar o termo “Medicina Social” para designar a análise dirigida às condições John Snow e a da sociais que causam doenças foi Jules Guérin, Veiculação Hídrica Cólera membro do Movimento Revolucionário Francês John Snow investigou epidemias de cólera de de Saúde Pública. Londres em 1850 Antecipou a Teoria Microbiana antes mesmo de A Epidemia de Cólera e as Pasteur e Koch, abrindo portas para a teoria Primeiras Iniciativas de microbiana Com agudo senso de observação e perseverança, John Snow desafiou a comunidade Organização Sanitária em médica e as autoridades sanitárias da sua época Londres no Século XIX para provar a causa infecciosa da cólera. Mapa de ruas marcado com locais das bombas de água e dos casos de cólera. Os “X” indicam a O reformador social inglês Edwin Chadwick localização de várias bombas de água e os demonstrou que a expectativa de vida dos pontos indicam a localização dos casos de cólera trabalhadores urbanos era significativamente Pode- se observar uma relação entre a bomba A e menor que a da nobreza e dos comerciantes os casos de cólera Chadwick propôs a “ideia sanitária”, supondo que as doenças seriam causadas pelo ar sujo provocado pela decomposição de resíduos e Controvérsias entre propôs rede de drenagem para remover 1848: As sugestões de Chadwick a construção de uma Contagionistas e o esgoto e o lixo foram adotadas na “Lei de Anticontagionistas Saúde Pública”. Com o desenvolvimento das ciências básicas, da tecnologia e da epidemiologia, o conhecimento científico passou a dominar as práticas de saúde pública Embate entre a teoria miasmática - defendida por Controvérsias, como as disputas Edwin Chadwick (Comitê Geral de Saúde,1848) contagionista e anticontagionista durante o - e a teoria da transmissão do cólera pela água - século XIX e a oposição aos movimentos de de John Snow, médico que realizou estudo a reforma sanitária atrasaram a adoção do respeito de epidemias de cólera em Londres conhecimento científico disponível na área de (1849-54) Saúde Pública. O caráter transmissível da cólera - teoria do contágio - foi demonstrado quase 30 anos antes do início das descobertas no campo da Teoria Microbiana A partir dos estudos de Snow sobre a cólera - com provas epidemiológicas – e as descobertas de Pasteure Koch – com provas microbiológicas - a Século XX: Da teoria microbiana firmou-se como explicação hegemônica para as doenças infecciosas, Unicausalidade à Inaugurou-se um período conhecido como Era Multicausalidade Bacteriológica (1880-1920) Aparece a ideia de multicausalidade no decorrer do século XX: Os fatores causais das doenças não eram mais relacionados apenas ao agente . Afirmaçãoda Teoria etiológico, mas também ao hospedeiro e ao Microbiana e Enfrentamento de meio ambiente Passa-se também a considerar os fatores psíquicos Epidemias nas Cidades como causadores de doenças: O homem começa a ser visto de novo como ser Disputas entre defensores das teorias miasmática e biopsicossocial microbiana emergente arrefeceu ao final do século XIX, pela afirmação da teoria dos germes Diante das epidemias de cólera, febre tifoide e febre amarela nas cidades = passou a haver maior Criação da OMS e o Conceito preocupação com a higiene, aprimoramento de de Saúde legislação sanitária e criação de uma estrutura A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi administrativa para aplicação de medidas de saúde criada como uma agência das Organizações das pública Nações Unidas (ONU) após o final da II Guerra Medicina Científica e Conceito de Saúde da OMS: “estado de completo Modelo Biomédico bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de doenças” (OMS, 1948) História da Saúde Pública A teoria microbiana passa a ser predominante, obscurecendo concepções Século XX: Transição que destacavam a multicausalidade das doenças Epidemiológica O modelo biomédico ou mecanicista, Ocorre uma mudança no perfil de doenças ainda hoje predominante, tem suas raízes prevalentes na segunda metade do século XX: A históricas vinculadas à Medicina Científica transição epidemiológica e a supremacia das Na segunda metade do século XX, tornou- Doenças Crônicas Não Transmissíveis – diabetes se evidente a crise do modelo biomédico mellitus, doenças cardiovasculares, obesidade, alguns tipos de cânceres Medicina Social Queda da morbimortalidade e mortalidade por doenças infecciosas transmissíveis e elevação de doenças e agravos não transmissíveis - devido às Passou-se a considerar a unicausalidade melhorias nas condições gerais de vida, mais do como um forma de entendimento que aos progressos médicos insuficiente do processo saúde-doença As ocorrências das doenças foram então associadas às condições de existência e às Século XX: Mudança de formas de vida dos indivíduos, Pensamento da Saúde Coletiva transformando-se historicamente de acordo com estas condições Década de 1960-1970 1960: Motivadas por pensamentos libertários, iniciaram-se as discussões e mobilizações que marcaram profundamente • Pensamento da promoção da saúde como um a história da Saúde Pública no Mundo eixo fundamental para atingir a utopia de “Saúde 1970: A maioria dos países do mundo para todos até o ano 2000 passou a viver a crise do setor saúde, crise de custos e de paradigmas, para a qual foram propostas transformações nas políticas de saúde, com ênfase na atenção primária à saúde e no desenvolvimento comunitário.
Informe Lalond: Determinantes da Saúde
O moderno movimento de promoção da saúde
surgiu formalmente no Canadá, em maio de 1974, com a divulgação do documento A New Perspective on the Health of Canadians, também conhecido como Informe Lalonde (1974) Os fundamentos do Informe Lalonde encontram- se no conceito de campo da saúde, que reúne os chamados determinantes da saúde O moderno movimento de promoção à saúde surge no Canadá em maio de 1974, com a divulgação do conhecido "Informe Lalonde" que teve motivação política, técnica e econômica para enfrentar os aumentos do custo da saúde
Conferência de Alma Ata
(1978): Atenção Primária A proposta de medicina comunitária consolidou- se como alternativa aos modelos hegemônicos de prestação de serviços médicos a partir da Conferência de Alma Ata (1978), quando passou a ser defendida pela Organização Mundial de Saúde e seus órgãos regionais Modelo centrado nos Cuidados Primários em Saúde
Conferência de Alma Ata (1978)
• A promoção e oteção da saúde da população é indispensável para o desenvolvimento econômico e social sustentado • A população tem o direito e o dever de participar individual e coletivamente na planificação e na aplicação das ações de saúde