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História da Educação do Surdo

Pollyana Santana

Curso Técnico em Tradução e Interpretação de Libras


Educação a Distância
2021
História da Educação do Surdo
Pollyana Santana

Curso Técnico em Tradução e Interpretação de


Libras

Escola Técnica Estadual Professor Antônio Carlos Gomes da Costa

Educação a Distância

Recife

1.ed. | Ago. 2021


Professor(es) Autor(es) Catalogação e Normalização
Pollyana Kaline Silva de Santana Hugo Cavalcanti (Crb-4 2129)

Revisão Diagramação
Pollyana Kaline Silva de Santana Jailson Miranda

Coordenação de Curso Coordenação Executiva


Manoel Vanderley dos Santos Neto George Bento Catunda
Renata Marques de Otero
Coordenação Design Educacional Manoel Vanderley dos Santos Neto
Deisiane Gomes Bazante
Coordenação Geral
Design Educacional Maria de Araújo Medeiros Souza
Ana Cristina do Amaral e Silva Jaeger Maria de Lourdes Cordeiro Marques
Helisangela Maria Andrade Ferreira
Izabela Pereira Cavalcanti Secretaria Executiva de
Jailson Miranda Educação Integral e Profissional
Roberto de Freitas Morais Sobrinho
Escola Técnica Estadual
Descrição de imagens Professor Antônio Carlos Gomes da Costa
Sunnye Rose Carlos Gomes
Gerência de Educação a distância
Sumário
Introdução .............................................................................................................................................. 4

1.Competência 01 | Compreender o registro histórico das idades: antiga, média, moderna e


contemporânea na história da educação do Surdo ............................................................................... 5

2.Competência 02 | Conhecer mundialmente a educação do Surdo .................................................. 18

3.Competência 03 | Identificar a nível Brasil como se deu o processo de educação do Surdo .......... 34

4.Competência 04 | Organizar o percurso histórico e o processo de educação de Surdos na atualidade


.............................................................................................................................................................. 44

Conclusão ............................................................................................................................................. 53

Referências ........................................................................................................................................... 54

Minicurrículo do Professor ................................................................................................................... 56


Introdução

Olá, estudante!
Nesta disciplina veremos todo o percurso que o Povo Surdo e Comunidade Surda
percorreu durante o processo de educação. Quais fatos aconteceram para que eles chegassem até o
que temos hoje, quem foram as pessoas que participaram dessa história e os ajudaram em toda a
caminhada.
O objetivo dessa disciplina é fazer com que você tenha a oportunidade e entenda
perfeitamente toda a história da educação do Surdo da Idade Antiga até os dias atuais, entender
também como a sociedade e família via o esse sujeito e de qual forma ele foi tratado durante muito
tempo.
No decorrer você vai ver também como a educação dos Surdos acontece nos dias atuais
e quais foram as etapas que eles percorreram para que hoje eles conseguissem ocupar os espaços
iguais aos demais que compõem a sociedade.
Todo esse material foi montado em cima de autores que nos mostram detalhadamente a
vida dos surdos da antiguidade e da atualidade, fazendo essa comparação conseguimos entender
melhor o que temos hoje quando falamos sobre a história da educação do Surdo.

Abraços!

Pollyana Santana

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Competência 01

1.Competência 01 | Compreender o registro histórico das idades: antiga,


média, moderna e contemporânea na história da educação do Surdo
Antes de entrarmos no assunto vamos entender um pouco sobre duas nomenclaturas que
poderemos ver ao decorrer deste texto:“Povo Surdo” e também “Comunidade Surda”, então para
não ficarmos “voando”, nesta aula vou te explicar o que diferencia cada um de acordo com a Karin
Strobel, tá certo?

Strobel fala que “Povo Surdo é o grupo de sujeitos surdos que têm costumes, história,
tradições em comuns e pertencentes às mesmas peculiaridades, ou seja, constrói sua
concepção de mundo através da visão; Comunidade Surda na verdade não é constituída
apenas por surdos, já que tem sujeitos ouvintes como integrantes na família, intérpretes,
professores, amigos e outros que participam e compartilham dos mesmos interesses em
comuns numa determinada localização que pode ser nas associação de surdos, federações de
surdos, igrejas e outros.

Buscamos através da história tentar entender o passado do povo surdo para


compreender o presente, pois esta nos revela em riqueza de detalhes o que eles passaram nesse
processo para chegar no que temos hoje. Vamos começar falando sobre esse povo na Idade Antiga e
consequentemente a sua história até a Idade Contemporânea, fazendo um link de cada etapa para
entendermos como tudo começou. Vamos lá?!
Na Idade Antiga a educação de surdos tinha diferença de acordo com o que se pensava a
respeito desse sujeito. Para os gregos e romanos a pessoa surda não era considerada como um ser
humano, pois para a sociedade a fala era algo de suma importância e era o que identificava a pessoa
como tal. Desta forma eram privados de algumas coisas como testamentos, o direito de ir até a escola,
a estar nos mesmos locais de pessoas ouvintes, ou seja, viver em sociedade com todos os demais. De
acordo com Márcia Honora (2014) até o século XII, os surdos não podiam se casar e
consequentemente formar as suas próprias famílias.
1Se formos estudar um pouco da história antiga veremos como se dava o tratamento das
crianças que nasciam com algum tipo de deficiência ou anomalias. Você sabe o que faziam com essas
crianças? Não?! Vou te falar aqui! Como não existia uma tecnologia como hoje, não se sabia se a

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Competência 01

criança nasceria cega, surda, autista… enfim, com alguma deficiência ou transtorno. Então esperava-
se os nove meses e ao nascer e constatar que o bebê nasceu “diferente” a família tinha duas escolhas:
a primeira, vamos esconder ele e ninguém nunca terá contato com ele, e a outra era, joga no mar ou
em algum precipício! Isso mesmo, eles não tinham o direito de gozar a vida, ainda bebê já sofriam
por nascerem “diferente” do que a sociedade propunha, todos tinham que ser “normais”.
Temos alguns filósofos que podemos estudar para entender um pouco mais sobre a
história e desenvolvimento dos surdos. Heródoto 470 a.C foi um filósofo grego e dizia que “os surdos
são seres castigados pelos deuses”, e isso acontecia pelo fato dos seus pais terem pecado e defendia
a ideia da impossibilidade dos surdos serem educados.

Figura 1 – Filósofo Heródoto


Fonte: https://escolaeducacao.com.br/herodoto/
Acesso em: 06.07.2021
Descrição: Imagem da escultura de Heródoto sentado próximo a pilares de um prédio antigo, com o dedo indicador no
queixo parece está pensativo.

Aqui neste link você terá acesso a outros filósofos e estudiodos que vamos ver
durante esse texto, clica lá:
https://acervo.sead.ufes.br/materiais/artes/libras/historia

Aristóteles disse que “o ouvido é o órgão mais importante para a educação”, com essa
frase houve então um grande entrave para que o processo de educação da pessoa surda viesse a ter
um bom resultado e mais uma vez o surdo foi visto como incapaz.
Com o passar do tempo, agora na Idade Média, a Igreja Católica aparece como instituição
de exclusão da pessoa surda, visto que acreditava - se que o homem foi criado “à imagem e

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Competência 01

semelhança de Deus” (igualzinho tem escrito lá na Bíblia). De acordo com Márcia Honora (2014) os
Surdos jamais poderiam participar do convívio social como os outros e mais uma vez foram tidos
como incapazes e não considerados como pessoas.
Talvez você já tenha se perguntado: de onde vinham tantos surdos? Então, talvez você
tenha ouvido falar que antigamente a sociedade era dividida em feudos né?! Pronto! O pessoal da
nobreza para não dividir toda a sua herança com as outras famílias se casavam entre si. Era cada ideia
que essa turma tinha! Assim ao nascerem os bebês vinham com algum tipo de deficiência ou
transtornos, entre esses nasciam os surdos. Começava então o grande “problema” para o povo
daquela época: como essa turma vai se confessar (o que era muito importante para a Igreja católica
nessa época) se ninguém sabe se comunicar com ela? Mais uma vez a exclusão aparece e com ela
surge uma tentativa de educá-los. Havia uns monges que passaram um tempo enclausurados e
fizeram um voto de silêncio, mas para não ficar todo o tempo sem comunicação eles desenvolveram
uma linguagem gestual, e daí a Igreja Católica teve uma ideia: vamos chamar os monges para ensinar
os surdos a se comunicar, afinal alguém tem que falar com esse povo!

Figura 2 – Igreja Católica


Fonte: https://www.todamateria.com.br/igreja-medieval/
Descrição: Imagem colorida, ao fundo o céu azul, uma Igreja Católica da Idade Média.

Nessa época a Igreja por ser muito influenciadora e sempre preocupada em relação à
economia, educava apenas os surdos que eram das famílias nobres, assim, sempre pessoas com esse

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Competência 01

status teriam acesso a Igreja que naquela época apenas era frequentada por elas e iriam continuar
ajudando e apoiando a Igreja no que se diz respeito a bens materiais.
Apenas no final da Idade Média a educação da pessoa surda começou a ser um pouco
melhor. Nessa época começaram a surgir as ideias e os primeiros trabalhos em relação a essa
comunidade com o objetivo realmente de educar a criança surda e integrá-la na sociedade, mas nesse
período a inclusão ainda não era de fato o objetivo da sociedade.
Até o século XV o que tínhamos era um povo com pena das pessoas que tinham
deficiência e mais uma vez a Igreja Católica estava por dentro disso, mas agora junto com a medicina.
Isso mesmo! Havia dois grupos, vamos assim dizer, de um lado a Igreja Católica e do outro a Medicina.
O primeiro grupo queria fazer caridade para essas pessoas que não tinham nada e para eles eram
dignos de pena e a doença existia por ser uma punição, e o segundo grupo estava interessado apenas
em pesquisas sobre as “doenças”, nesse caso a surdez.
No século XVI houve uma grande inovação no que se falava sobre a surdez e a
compreensão. Foi visto por Gerolamo Cardano, médico, matemático e astrólogo italiano que o Surdo
poderia ser ensinado a partir da escrita, visto que ela representa o som da fala ou das ideias do
pensamento e que a partir disso além das conversas entre o Povo e a Comunidade Surda poderiam
ser facilmente compreendida, entendemos então que não era necessário ter a audição para se
entender algo.
Em 1620 o Padre espanhol Juan Pablo Bonet criou o primeiro tratado de ensino de surdos
- mudos (termo utilizado antigamente). Esse documento iniciava com uma escrita sistematizada pelo
alfabeto e foi editado na França com o título “Redação das Letras e Artes de Ensinar os Mudos a
Falar”. Bonet entendia que “seria mais fácil para o povo surdo aprender a ler se cada som da fala
fosse substituída por uma forma visível”, por isso a ideia dele em desenhar o alfabeto manual.

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Competência 01

Figura 3 – Abecedario criado por Bonet


Fonte: https://www.timetoast.com/timelines/historia-da-educacao-especial-e-inclusiva-d30aab95-9886-46ff-bd2d-
8130252e5902
Descrição: Imagem dividida em oito partes, quatro em cima e quatro em baixo, no primeiro quadro superior lemos
“Abecedario” e abaixo uma mão com a letra A em língua de sinais, nos três quadros cada uma com três letras do
alfabeto seguindo a sequência do mesmo, abaixo mais quatro quadros, o primeiro tem duas letras do alfabeto e os três
últimos cada um com mais três letras do alfabeto

Figura 4 – Juan Pablo Bonet


Fonte: https://alchetron.com/Juan-Pablo-Bonet
Descrição: Foto antiga do Padre Juan Pablo Bonet.

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Competência 01

Durante esse processo alguns estudiosos surgiram na curiosidade e tentativa de


desenvolver algo para esse processo de educação da Pessoa Surda. Van Helomnt (1614 -1699) veio
com a proposta da Oralização através do alfabeto hebraíco, pois ele entendia que as letras hebraicas
tinham as mesmas posições da laringe e da língua ao reproduzir o som. Helomnt foi a primeira pessoa
que falou sobre a Oralização e o uso do espelho nesse processo.
Johann Conrad Amman (1669 - 1724) foi médico e educador de surdos, teve participação
no aperfeiçoamento do processo da leitura labial utilizando o tato e a partir daí poderiam ser sentidas
as vibrações da laringe. Amman defendia o Oralismo, era totalmente contra a Língua de Sinais e dizia
que o uso dela atrofiava a mente e com isso os surdos não teriam desenvolvimento.
Mais adiante ainda na Idade Moderna conhecemos um pouco sobre Charles - Michel de
L'Epée (1712 - 1789), foi educador francês conhecido até hoje como “pai dos surdos”. L’Epée foi um
dos primeiros educadores que defendeu o uso da Língua de Sinais, estudou e viu que era uma língua,
tinha a sua estrutura e servia para comunicação entre pessoas surdas e ouvintes, ele foi o homem
mais importante que surgiu nessa época!
L’Epée teve a capacidade e curiosidade em aprender a língua para se comunicar com eles
e em 1760 criou a primeira instituição educacional pública para Surdos - Mudos, tinha como nome
Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris, a escola foi criada com o seu próprio dinheiro. Ele
sempre respeitou a comunidade surda e escreveu um livro em 1776 que tinha como tema “A
verdadeira maneira de instruir os Surdos - Mudos”. A ideia que ele teve em criar uma escola para
esse público estimulou o interesse em outros lugares no mundo.

Figura 5 – Instituição Educacional Pública para Surdos - Mudos


Fonte: http://mapa.arquivonacional.gov.br/index.php/dicionario-primeira-republica/747-instituto-dos-surdos-mudos

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Competência 01

Descrição: Foto preta e branca da instituição, um prédio com dois andares e várias janelas, ao redor árvores e na
entrada uma escadaria.

A partir de agora vamos ver o início de um tempo maravilhoso para os Surdos, criação de
escolas, comunicação através da Língua de Sinais, a primeira faculdade voltada para o público Surdo,
estão prontos?! Então vamos nessa!!!
O século XVII foi o melhor período para a educação da Pessoa Surda, porque em diversos
países foram criadas escolas para esse público. O formato da educação teve avanços significativos,
proporcionando aos surdos terem as suas capacidades cognitivas desenvolvidas, podendo discursar
sobre qualquer assunto e escolher a profissão que desejavam seguir.

Olha, pra você entender melhor sobre o que falamos até agora escuta o
podcast desta competência.

Chegamos agora na Idade Contemporânea! Até então tínhamos L’Epée como diretor do
Instituto e após o seu falecimento o Abbé Sicard (1742 - 1822) ficou em seu lugar. Escreveu dois livros,
um era gramática geral e outro um relato de como ele treinou Jean Massieu, um rapaz surdo. Sicard
faleceu e após ele vieram vários diretores para o Instituto, tivemos Massieu, o aluno que ele treinou,
Itard e Gérando.
Jean - Marc Itard (1775 - 1838) médico - cirurgião francês que trabalhava dentro do
instituto como médico residente em 1814, tinha um amigo Philipe Pinel da área da psiquiatria. Ambos
estudavam e lutavam pela erradicação da surdez, acreditando que o surdo tinha capacidade e acesso
ao conhecimento.
Vocês devem conhecer o filme da Disney, “Mogly. O menino lobo”? Ou já ouviram falar
sobre ele né?! Ele é uma inspiração do que aconteceu no instituto em Paris. No filme é descrito o
momento em que Itard encontra um menino que tem cerca de 12 anos de idade que vivia no bosque
ao lado do instituto em 1800, o garoto andava de quatro (igual um animal) e comia bolotas de
carvalho. A princípio foi entendido que Victor (nome do menino) não falava oralmente e com isso
foi entendido que ele era surdo. Victor ficou cinco anos no instituto, forçado a falar durante esse
tempo, mas nunca adquiriu a linguagem.

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Competência 01

A gestão de Itard não foi muito boa, ele tinha métodos agressivos com os seus alunos,
era absurda a sua forma de trabalhar e nunca aprendeu a Língua de sinais. Dezesseis anos após o seu
trabalho apresentar pouquíssimos resultados positivos ele se rendeu ao uso da Língua de Sinais,
lembrando que para isso acontecer muitos surdos sofreram por causa dele e seus métodos
irresponsáveis causaram traumas nas pessoas com surdez.
Após Itard chegou outro diretor para o Instituto, o barão Gérando, que era filósofo,
administrador e filantropo. Ele discriminava o surdo, achava que o povo europeu estava sempre
acima dos demais e que os surdos deveriam ser banidos da educação. Gérando os comparavam com
animais selvagens e defendia a ideia que a língua de sinais era pobre, diferente da língua oral. No
instituto todos os professores surdos foram substituídos por professores ouvintes e durante esse
tempo a Língua de Sinais não era mais vista dentro deste ambiente, e só após anos de trabalho ele
reconheceu a importância do uso dessa língua.
No ano de 1864 foi criada a primeira faculdade para surdos em Washington nos Estados
Unidos, ainda hoje existe e tem como nome de Universidade de Gallaudet, tendo como a sua primeira
língua, a Língua de Sinais, e foi fundada por Edward Gallaudet. Trabalhando muito tempo com surdos
ele viajou para outros países e outras instituições, voltando de viagem e contestando o seu método
de ensino, estudando e verificando se ele estava adequado. Ao voltar de viagem com a ideia de
defender o método oralista e foi isso o que ele fez, passou a trabalhar com os surdos a leitura orofacial
e a partir disso houve um grande benefício para eles. Após os anos oitenta o método oralista foi a
principal forma de educação e comunicação dos surdos.
Atualmente não temos outra faculdade de artes liberais que tenha o ensino voltado para
os surdos, sendo a Universidade Gallaudet a única do mundo tendo como sua primeira língua a Língua
de Sinais.
Mais adiante, ainda falando sobre o Oralismo temos o Alexander Graham Bell (1847 -
1922), não simpatizava nem um pouco com os surdos. Vejam só! Filho de uma Surda e casada com
Mabel que também era surda, oralizada e não gostava de está no convívio com outros Surdos.
Alexander achava que a surdez era um desvio, que os Surdos deveriam se adaptar ao mundo dos
ouvintes, e se um aluno Surdo tivesse um professor Surdo isso implicaria no seu desenvolvimento e
consequentemente na forma da integração com a sociedade. E tem mais viu?! Ele queria que os
Surdos estivessem no meio dos ouvintes mas não pensava na inclusão. Era uma forma de um Surdo

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Competência 01

não conhecer o outro e assim eles não formariam uma família. No ano de 1876 na tentativa da criação
de um aparelho para os Surdos usarem, ele criou o telefone.
Em 1878 aconteceu o I Congresso Internacional Mundial de Surdos - Mudos em Paris, que
tinha o objetivo de discutir sobre qual seria o melhor método de ensino para a educação dos surdos.
Neste foi resolvido que nas instituições teriam dois métodos: o da leitura labial e o uso de gestos nas
séries iniciais, mas isso não durou muito tempo! Vê o que aconteceu: Em 1880 houve outro congresso
que ficou marcado até hoje na comunidade surda, tivemos o II Congresso Mundial de Surdos - Mudos,
nele houve uma votação e este evento contou com a participação de cinquenta e quatro países, então
cada país enviou uma pessoa que estudava sobre a Surdez, porém apenas um Surdo participou deste
evento. O método escolhido a partir de agora seria o oral puro, o uso da Língua de Sinais foi excluído
da educação dos surdos. Fizeram um congresso, chamaram vários especialistas da área, mas apenas
um surdo participou e ele não teve direito ao voto! Isso mesmo, ele foi excluído de algo que fazia
parte da vida dele.

Figura 6 – Cartaz de divulgação do Congresso de Milão de 1880


Fonte: https://www.scielo.br/j/hcsm/a/QkzPkkNgwTzG69wJKDzN66p/?lang=pt&format=pdf
Descrição: Imagem preta em branca do cartaz de divulgação do Congresso de Milão de 1880, com todas as informações
em inglês um pequeno texto justificado explicando dia, local e horário do evento.

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Competência 01

A decisão tomada nesse Congresso foi um retrocesso enorme para os surdos, chegaram
na educação com a Língua de Sinais com tanto suor, uma caminhada muito difícil e que em um dia
foi interrompida por pessoas que não tinham o mínimo de conhecimento na área. A partir desta data
os surdos frequentavam as escolas eram obrigados a se comunicar apenas com a oralização e quando
tentavam sinalizar eles tinham suas mãos amarradas e recebiam palmatórias. Uma crueldade!
Exclusão! Mas nem por isso eles deixavam de se comunicar através da Língua de Sinais, fazendo isso
escondidos para não serem “pegos”. Foi uma fase muito difícil e complicada para eles.
Na ilustração de W. H. Margeston podemos ver como funcionava a educação das pessoas
Surdas na época da proibição da Língua de Sinais, com a exceção da aluna que está com o professor,
todas as outras estão com as suas mãos para trás.

Figura 7 – Ensinando mudos a falar


Fonte: https://culturasurda.net/congresso-de-milao/
Descrição: A imagem mostra um professor com seis alunos, um deles está próximo ao professor que ensina o método
do oralismo ao aluno e os demais estão observando.

Infelizmente nem tudo aconteceu como deveria, veremos agora o declínio que houve
após o uso da Língua de Sinais ser proibida naquela época, não existia a valorização da Pessoa Surda,
da sua identidade e cultura. Isso é o que vamos ver agora, vamos lá?

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Competência 01

Com o não uso da Língua de Sinais a partir do século XX, a educação dos Surdos entrou
em decadência, eles passavam entre oito e dez anos dentro da escola e quando inseridos no mercado
de trabalho eram sapateiros ou costureiros, estavam sempre abaixo das pessoas ouvintes e suas
habilidades eram limitadas. Quando não se adaptavam ao oralismo, as pessoas os consideravam
como retardados.
A sociedade naquele tempo não estava preocupada em incluir o Surdo, queriam que eles
fossem tidos como “normais” (naquela época para ser “normal” era necessário ouvir e falar
oralmente). O surdo em sua minoria que deveria se adaptar a sociedade e não o contrário.
O uso da Língua de Sinais só voltou a ser aceito a partir de 1970 com a nova metodologia
de comunicação: a Comunicação Total. E agora, que novidade é essa? O que ela traz para o surdo? É
o que iremos aprender agora.
Eles poderiam se comunicar em qualquer lugar que estivessem, nesse momento não
existia mais a proibição! Os surdos poderiam usar a linguagem oral e a língua de sinais ao mesmo
tempo. Isso é a Comunicação Total, a junção de duas modalidades, com isso na medida em que um
surdo oraliza ele também sinaliza, o que facilitou mais a comunicação entre eles naquela época.

Ei! Para saber mais sobre a Comunicação Total clica nesse link!!!
https://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/fundam
entosDaEducacaoDeSurdos/scos/cap10912/1.html#:~:text=A%20Comunica%C3
%A7%C3%A3o%20Total%20foi%20desenvolvida,como%20uma%20alternativa%2
0de%20comunica%C3%A7%C3%A3o

O linguista William Stokoe em seus estudos comprovou que a Língua de Sinais é realmente
uma língua, como já falado aqui anteriormente. O objetivo dele era tentar diminuir o máximo possível
as lacunas e entraves que apareciam para o povo surdo durante o processo de educação e
comunicação deles.
Assim como a Língua de Sinais é fundamental para o Surdo, acreditava - se que a
Comunicação Total também era, assim como as outras formas de comunicação. Por exemplo, a
oralização, os gestos, as expressões facial e ou corporal, a escrita, entre outros, com todos esses
artefatos o Surdo tinha a oportunidade de se desenvolver ainda mais e ter comunicação entre surdos
e ouvintes.

15
Competência 01

Até agora vimos o que foi a Oralização, a Comunicação Total e para encerrar o processo
da educação dos Surdos veremos então o que é o Bilinguismo. Estão prontos?! Então vamos lá!
O Bilinguismo tem como objetivo básico tornar o surdo bilíngue e para que isso aconteça
o Surdo deve saber a Língua de Sinais, e em seguida a língua oral do seu país na modalidade escrita.
Como o nome já diz, o Bilinguismo acontece quando temos a presença de duas línguas.
Aqui no Brasil na Comunidade Surda temos a Libras e o Português escrito. A autora Skliar defende
que a criança surda ao ser inserida na escola deve aprender primeiro a sua língua natural, a Língua de
Sinais e em seguida a língua oral do país em questão. A educação bilíngue deve oferecer à criança
surda um ensino de qualidade de forma que ela tenha contato com a Libras a partir da educação
infantil.

VOCÊ SABIA?
Temos um documento oficial que nos dá essa garantia, o Decreto Federal nº
5626, de 22 de dezembro de 2005.

Levando isso em consideração entendemos que os conteúdos trabalhados na escola


devem ser por meio da Libras como defendeu Skliar. É importante e necessário que as crianças Surdas
ao serem inseridas na escola logo cedo tenham contato com pessoas que sejam fluentes na Língua
de Sinais, no caso da escola, os seus professores e em casa os seus pais e demais familiares. Desta
forma ela terá um domínio e consequentemente uma fluência na sua Língua, no caso do Brasil, a
Libras, e a partir disso constrói a sua identidade cultural e linguística tendo então a capacidade de
concluir a educação básica de forma igualitária com as demais crianças ouvintes.
Logo, podemos perceber que uma parte da inclusão na escola, de fato, só pode acontecer
quando esse processo for respeitado e seguido. Mas, para isso é necessário que a família entenda e
respeite os passos que devem ser seguidos para que o sujeito surdo se torne uma pessoa
independente. Vê esse trecho que eu vou destacar aqui falando justamente sobre essa questão da
necessidade da família saber e respeitar o Surdo:
Os adultos ouvintes que privam seus filhos da língua de sinais nunca compreenderão o que
se passa na cabeça de uma criança surda. Há a solidão, e a resistência, a sede de se comunicar
e algumas vezes, o ódio. A exclusão da família, da casa onde todos falam sem se preocupar
com você. Porque é preciso sempre pedir, puxar alguém pela manga ou pelo vestido para

16
Competência 01

saber, um pouco, um pouquinho, daquilo que se passa em sua volta. Caso contrário, a vida é
um filme mudo, sem legendas. (LABORIT, 1994 p. 59).

Nesse trecho ele deixa bem claro o que realmente acontece quando a família não tem
conhecimento e nem respeito para com o Surdo e isso pode ser visto por exemplo numa reunião
familiar, um almoço de domingo, uma festa… enfim no âmbito familiar.
Desta forma, vimos todo o processo histórico da educação de surdos e a sua importância
para que pudéssemos chegar ao que temos hoje como suas conquistas, mas também suas limitações,
os retrocessos que ocorreram durante esse percurso quando os Surdos foram proibidos de usarem
a língua de sinais e os avanços quando as escolas começaram a ser criadas em todo o mundo. Assim,
aprendemos o passo a passo de tudo o que o Povo Surdo passou e o que temos na atualidade.

Para entendermos mais sobre esse assunto acesse a vídeoaula desta


competência.

Na próxima competência você vai ver como se deu o processo de educação do Surdo no
mundo. Você irá perceber que filósofos dos tempos passados contribuíram para que o Povo Surdo
conseguissem ter uma melhor qualidade de educação, mas também alguns declives. Espero você lá!

17
Competência 02

2.Competência 02 | Conhecer mundialmente a educação do Surdo


Na aula anterior vimos como se deu o processo da educação dos Surdos entre a Idade
Média e Contemporânea. Agora vamos conhecer a nível mundial como aconteceu a educação do
Surdo. Estão prontos?! Vamos lá!
Durante o processo de educação dos Surdos podemos destacar vários nomes de pessoas
que participaram dessa trajetória. Anteriormente, vimos que durante muito tempo os Surdos foram
privados de liberdade, mas por causa dessas pessoas eles conseguiram galgar espaços na sociedade
junto com os ouvintes e passaram a ser vistos como pessoas.
Ao passar do tempo, escolas foram fundadas em diversos lugares no mundo e nelas
haviam professores surdos. Este espaço foi alcançado e garantido com muito esforço pelo Povo
Surdo. A seguir veremos alguns precursores que fizeram total diferença neste processo para este
povo.
Laurent Clerc ( 1785 - 1869), professor surdo do Instituto Nacional de Jovens Surdos -
Mudos de Paris que foi fundado por Michel Charles de L’Epée, ensinou língua de sinais a Thomas
Gallaudet e ambos fundaram a primeira escola para Surdos nos Estados Unidos.

Figura 8 – Laurent Clerc


Fonte: https://pt.findagrave.com/memorial/10984120/laurent-marie-clerc
Descrição – Foto preta e branca do filósofo Laurent Clerc

18
Competência 02

Ernest Huet (1858 - 1917), professor surdo, é de Paris mas veio ao Brasil a convite de D.
Pedro II em 1855, fundou e dirigiu por cinco anos o Imperial Instituto de Surdos - Mudos, hoje
conhecido como Instituto Nacional de Surdos (Ines), foi fundado em 26 de setembro de 1857.

Figura 9 – Hernest Huet


Fonte: https://www.meon.com.br/meonjovem/alunos/no-dia-nacional-dos-surdos-conheca-a-historia-da-lingua-
brasileira-de-sinais
Descrição: Imagem preto e branco do filósofo Hernest Huet.

Ferdinand Berthier (1803 - 1886), escreveu vários livros e artigos, tem uma biografia como
tema “Um surdo antes e depois de L’Epée”, defendeu o povo surdo, a cultura surda e a língua de
sinais, no Instituto de Jovens Surdos - Mudos de Paris ele estudou e mais tarde foi professor, criou
junto com alguns surdos a primeira associação para surdos e consequentemente outras associações
foram criadas pelo mundo.

19
Competência 02

Figura 10 – Ferdinand Berthier


Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-2-Foto-de-Ferdinand-Berthier-Fonte-INJS-2018_fig2_332551841
Descrição: Foto preto e branco do filósofo Ferdinand Berthier.

Pierre Pélissier (1814 - 1863), professor, poeta, membro da Sociedade de Educação de


Assistência aos Surdos Mudos, criou um manual de sinais que posteriormente um surdo brasileiro
Flausino Gama o reproduziu.

Figura 11 – Pierre Pélissier


Fonte: https://fr.wikipedia.org/wiki/Pierre_P%C3%A9lissier
Descrição: Foto colorida do filósofo Pierre Pélissier.

Nos Estados Unidos a história da educação para surdos teve início com o reverendo
Gallaudet. Ele viu crianças brincando em seu jardim e percebeu que uma estava afastada das demais;
ela não participava por ser surda e as demais não a incluía. Assim, Gallaudet teve a ideia de ensinar a
menina com o apoio do pai dela, o médico Masson Fitch Gogswell. Como naquele tempo não havia

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Competência 02

escola para Surdos, os dois tiveram a ideia de abrir uma escola voltada às Pessoas Surdas. Gallaudet
resolveu viajar até a Europa em busca de conhecimentos para poder alcançar as crianças surdas, ao
chegar lá não lhe mostraram nenhum método. Foi então que ele viajou para a França e lá aprendeu
a metodologia da língua de sinais usada pelo abade Sicard.
Laurent Clerc voltou com Gallaudet para a América e durante a viagem de volta ele
ensinou a língua de sinais ao reverendo e ele ensinou inglês a Clerc. Houve então, uma troca de
saberes. Não é à toa que até hoje existe a única Universidade que tem serviços voltados aos surdos,
acessível na Língua de Sinais Americana (ASL). A maioria dos alunos de todos os cursos que lá são
ofertados são surdos, há acessibilidade comunicacional, professores e alunos ouvintes se comunicam
através da língua de sinais o tempo todo.

BOM SABER
O campus principal foi doado em 1856, por Amos Kendall, um político que queria
fundar um internato para crianças surdas e cegas. Assim, em 1857, foi
inaugurada a “Comlumbia Institution for the Instruction of the Deaf and Blind”,
dirigida por Edward Miner Gallaudet, filho mais novo de Thomas Hopkins
Gallaudet, fundador e coordenador da primeira escola para surdos dos Estados
Unidos. Foi então que em 1864, o Congresso Nacional autorizou a escola a
conferir títulos universitários. Na época o programa permitia a matrícula de
apenas oito pessoas. Assim, em 1954 outra decisão do Congresso mudou o nome
da instituição para Gallaudet College, para honrar a memória do fundador da
educação para surdos nos Estados Unidos, Thomas Hopkins Gallaudet.

21
Competência 02

Figura 12 – Universidade de Gallaudet


Fonte: https://ensino.digital/blog/conheca-a-unica-universidade-do-mundo-voltada-para-surdos
Descrição: Foto colorida do campus da Universidade de Gallaudet. A frente do prédio uma estatua feita em
homenagem a Thomas Hopkins Gallaudet .

Na universidade de Gallaudet tivemos Willian Stokoe que foi um dos primeiros


linguistas a estudar e pesquisar uma língua de sinais, ele é considerado até hoje como o pai da
linguística da Língua de Sinais Americana - ASL. Estrutura da Língua de Sinais: um esquema de
sistemas de comunicação visual dos surdos americanos, essa foi uma publicação que ele fez e nela foi
afirmando que a ASL é uma língua e por conter todas as características deve ser considerada como
tal.

Quer saber mais sobre Stokoe? Clica nesse link!


http://gupress.gallaudet.edu/stokoe.html

No Egito acreditava-se que os surdos eram deuses, eles eram privilegiados e foram
enviados para o mundo para serem adorados. Eram considerados intercessores entre os deuses e

22
Competência 02

Faraó. Os Surdos que tinham educação eram respeitados e adorados, porém, o fato de não serem
ativos na sociedade da época o faziam ser pessoas sem educação.

Figura 13 – Papiros do Antigo Egito


Fonte: https://goo.gl/ixWXxU
Descrição: Imagem de um papiro antigo com algumas rasuras

Na Roma os Surdos não eram bem vistos perante a sociedade. Vejam o que acontecia
com eles: Strobel (2009) diz que as pessoas que tinham algum tipo de deficiência eram jogados ao
Rio Tiger, os que conseguiam nadar e saiam do rio conseguiam sobreviver, os demais morriam.
Também tinham alguns poucos pais que escondiam seus filhos da sociedade para que eles não
morressem, mas eram pouquíssimos, sem contar que algumas dessas famílias escondiam eles da
sociedade mas os faziam escravos.

Figura 14 – Roma Antiga


Fonte: https://www.todoestudo.com.br/historia/roma-antiga

23
Competência 02

Descrição: Imagem colorida de Roma, pessoas passeiam em frente aos prédios antigos.

Na Grécia os Surdos eram vistos como incapazes. Veloso & Filho falam que eles eram
considerados como inválidos, por isso eram condenados à morte. Vocês conseguem perceber o
quanto eles sofreram durante muito tempo para hoje estarem em espaços que não conseguiram
conquistar durante a antiguidade? Assim como na Roma eles eram jogados ao rio, na Grécia não era
diferente! Nasceu com deficiência? Então joga abaixo do topo dos rochedos de Taygéte, nas águas
de Barathere e mais uma vez acontece o quê? Isso mesmo! Os que conseguiam sobreviver viravam
escravos e abandonados.

Figura 15 – Grécia
Fonte: https://www.todamateria.com.br/grecia-antiga/
Descrição: Pintura colorida da Grécia, algumas pessoas andam de frente ao Templo Partenon, três pessoas estão na
escada e quatro estão na parte coberta do Templo.

Você lembra o que vimos na outra competência sobre filósofos que pensaram no sujeito
Surdo? Pronto, aqui nessa competência vou destacar apenas três, e cada um com uma linha de
pensamento diferente um do outro. Hipócrates não tinha opinião formada sobre a surdez; Heródoto
afirma que eram seres castigados por deuses e Aristóteles dizia que eram pessoas sem pensamento
porque não tinham nenhuma linguagem. Tudo isso aconteceu a.C .
Na França tivemos o primeiro professor de Surdos, Jacob Rodrigues Pereire. Ele
ensinou a sua irmã que era surda e usou o ensino da fala com demais Surdos. Pereire foi reconhecido
na França como melhor professor de Surdo diante da Academia Francesa de Ciências.

24
Competência 02

Figura 16 – Jacob Rodrigues


Fonte: https://vendovozes.webnode.pt/educa%C3%A7%C3%A3o%20de%20surdos/
Descrição: Imagem colorida de Jacob Rodrigues e uma criança. Ele está sentado e segura as duas mãos da menina
próximas ao seu rosto.

Na Inglaterra de 1715 - 1806, Thomas Braidwood abriu a primeira escola para surdos
que tinha como premissa ensinar o significado de cada palavra e sua pronúncia, modernizando a
leitura oral facial que é feita concomitantemente pelo movimento da face.

Figura 17 - Thomas Braidwood


Fonte: https://www.londonremembers.com/subjects/thomas-braidwood
Descrição: Foto preto e branco de Thomas Braidwood

25
Competência 02

E não poderíamos deixar de citar novamente o famoso L’Epée (1712-1789), conhecido


mundialmente na educação da Pessoa Surda iniciou o contato Surdo com pessoas carentes. Na sua
própria casa deu início ao trabalho ensinando língua de sinais e gramática francesa, os educadores da
área oralista não concordavam com a sua linha de ensino. L’Epée contribui muito para a educação
dos Surdos.

Figura 18 – L’Epée
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles-Michel_de_l%27%C3%89p%C3%A9e
Descrição: Foto preto e branco de L’Epée

Vocês lembram que os surdos foram proibidos de usar a língua de sinais e


consequentemente obrigados a oralizar?! Pronto! Nos Estados Unidos por volta de 1960 chegou a
Comunicação total, era um misto de oralização, língua de sinais, gestos, alfabetos manuais e formas
de escrita, ela foi desenvolvida após verem que os Surdos não conseguiram se adaptar ao método do
Oralismo. Com esse novo método professores e pesquisadores da época perceberam que era de
suma importância que a comunicação fosse feita através da língua de sinais e para que a comunicação
acontecesse de forma que todos pudessem ser entendidos e reconhecidos, percebem-se então que
existiria a possibilidade de se ter uma comunicação ampla e um aprendizado de alta qualidade para
os alunos Surdos, daí surge a necessidade da criação de outro método, o Bilinguismo.
O Bilinguismo nasce nos anos 90 a partir da necessidade e da busca de uma boa qualidade de
ensino e aprendizagem do surdo. Goldfeld em 1997, p.38 fala que o pressuposto para o Surdo ser

26
Competência 02

bilíngue é que ele tenha a língua de sinais como língua materna, que para os surdos é a língua natural
e como segunda língua a que seja oficial do seu país. O bilinguismo apresenta o direito da Pessoa
Surda a ser ensinada a Língua de Sinais respeitando a sua cultura e identidade.
O Oralismo, a Comunicação Total e o Bilinguismo foram filosofias que surgiram durante cada
período e uma foi criada a partir da necessidade que existia no percurso. O objetivo de todas três foi
fazer com que o Surdo fosse reconhecido enquanto Pessoa e respeitado dentro da sociedade.

Que tal ouvir um podcast para ampliar o conhecimento sobre as três filosofias?
Vamos lá?!

Chegamos agora a Língua Gestual Portuguesa – LGP que foi reconhecida pela Constituição
da República em 1997, nela o Estado deixa claro que é responsável proteger “e valorizar a língua
gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade
de oportunidades” (PORTUGAL, 2005, p. 56). A comunicação por gestos passou a ser uma ferramenta
pedagógica e vários autores escreveram sobre a mesma destacando a sua importância na utilização.
Tivemos vários tratados como veremos na infográfico abaixo:

Chirologia: Or the Natural


educción de las letras y arte Language of the Hand e
Tratado de L´arte de' cenni,
de enseñar a hablar o los Philocophus, or The Deafe and
do jurista italiano Giovanni
mudos, pelo Padre Juan Dumbe Man's Friend, ambos do
Bonifacio de 1616;
Pablo Bonet de 1620; médico britânico John Bulwer de
1644 e 1648

Ars Signorum, do linguista Instituto de Surdos - Mudos


inglês George Delgarro de do francês Charles - Michel
1661; de L'Epée de 1776

Figura 19 – Tratados a partir de 1616


Fonte: Própria do autor
Descrição: Infográfico com cinco blocos, três a cima e dois abaixo. Fundo azul com letras brancas.

27
Competência 02

A comunicação gestual partiu do princípio da necessidade de se ter um ensino voltado


para os surdos em 1823. O ensino da através de gestos e sem oralização foi usado durante muito
tempo naquela época.
As línguas de sinais surgiram na Idade Média como vimos na competência anterior e a
partir dessa comunicação feita através dos monges com os Surdos, Pedro Ponce de León resolveu
usá-la como método de ensino. De acordo com Márcia Honora (2014, p.67) “as línguas de sinais são
complexas, com semântica, sintaxe, morfologia, e estrutura e gramática específicas”. Com isso
entendemos que não é uma linguagem, códigos ou até mesmo gestos criados sem significados, pois
ela tem a sua própria estrutura gramatical.

Assim como o português, inglês, espanhol e outras línguas, a língua de sinais não
é universal, tendo cada país sua própria língua de sinais: no Brasil a Libras -
Língua Brasileira de Sinais, na França a LSF - Langue de Signaux Française, na
Espanha a LSE - Lengua de Signos Española, em Portugal a LGP - Língua Gestual
Portuguesa, nos Estados Unidos a ASL - American sign Language. Vale a pena
ressaltar que aqui no Brasil a Libras tem as suas variações de acordo com as
regiões, assim como os ouvintes têm as suas peculiaridades na língua
portuguesa, os Surdos também tem as suas na Libras, chamamos isso de
regionalismo.

Para entendermos mais como funciona a Libras e a Língua Portuguesa, na tabela abaixo
faremos um paralelo entre as duas línguas. Vejam:

Língua Portuguesa Língua Brasileira de Sinais


Ausência da conjunção verbal: quando
Presença da conjunção verbal necessário usa-se apenas o passado,
presente ou futuro.
Ausência de concordância de gênero:
Presença da concordância de gênero quando necessário usamos apenas o sinal
de homem ou mulher
Ausência de artigos e poucos usos de
Presença de artigos e preposições preposições.

Presença de um alfabeto manual: conjunto


Presença de um alfabeto fonêmico de sinais que representam cada letra da
língua portuguesa.

Soletração Datilologia.

28
Competência 02

Figura 20 – Tabela sobre os paralelos entre duas línguas


Fonte: Inclusão Educacional de Alunos com Surdez: concepção e alfabetização.
Descrição: Tabela dividida ao meio, à esquerda presença de elementos na língua portuguesa, à direita elementos que
estão ausentes da língua de sinais.

O alfabeto manual é usado quando determinada palavra não tem um sinal específico, seja
o nome de pessoa, endereço, objeto ou quaisquer que seja a palavra a ser falada. Na imagem abaixo
veremos o Alfabeto Manual da LIBRAS.

Figura 21 – Alfabeto da Língua de Sinais Brasileira - Libras


Fonte: Inclusão Educacional de Alunos com Surdez: concepção e alfabetização.
Descrição: Imagem colorida do alfabeto manual da Libras com 27 quadrinhos, cada uma contém uma letra do alfabeto
manual em Libras e o alfabeto em português.

Você lembra que anteriormente vimos que assim como cada país tem a sua língua oral
falada, com o Povo Surdo não é diferente? Cada país também tem a sua Língua de Sinais própria! A
seguir veremos imagens de alguns alfabetos manuais usados em outros países.

29
Competência 02

Figura 22 – Alfabeto da Língua Gestual Portuguesa - LGP


Fonte: Inclusão Educacional de Alunos com Surdez: concepção e alfabetização.
Descrição: Imagem colorida do alfabeto manual da LGP com 27 quadrinhos, cada um contém uma letra do alfabeto
gestual da LGP e o alfabeto em português.

30
Competência 02

Figura 23 – Alfabeto da Língua de Sinais Americana – ASL


Fonte: Inclusão Educacional de Alunos com Surdez: concepção e alfabetização.
Descrição: : Imagem colorida do alfabeto manual língua de sinais francesa com 27 quadrinhos, cada uma contém uma
letra do alfabeto manual em LSF e o alfabeto em português.

Figura 24 – Alfabeto da Língua de Sinais Francesa - LSF


Fonte: Inclusão Educacional de Alunos com Surdez: concepção e alfabetização.

31
Competência 02

Descrição: Imagem colorida do alfabeto manual língua de sinais francesa com 27 quadrinhos, cada uma contém uma
letra do alfabeto manual em LSF e o alfabeto em português.

VOCÊ SABIA: A Língua de Sinais não é formada da tradução de letra por letra, e
sim, constituída por sinais que correspondem a objetos, pronomes, verbos,
substantivos etc. Nunca devemos nos comunicar traduzindo as letras de cada
palavra, HONORA (2014, P.74)

Veja a seguir dois exemplos, o primeiro da forma inadequada (usando letra por letra do
alfabeto) e o segundo da forma adequada (usando sinais).

Figura25 – Formas dos usos do alfabeto em libras como datilologia


Fonte: Inclusão Educacional de Alunos com Surdez: concepção e alfabetização.
Descrição: Quadro colorido, a esquerda em português “QUAL SEU NOME” a direita em Libras a mesma frase porem com
o alfabeto manual da Libras.

A imagem acima nos mostra como seria a comunicação usando apenas o alfabeto como
datilologia. Na imagem a seguir temos a mesma frase que vimos acima, desta vez com uso do sinal,
veja só:

32
Competência 02

Figura 25 – Formas dos usos do alfabeto em libras como datilologia


Fonte: Inclusão Educacional de Alunos com Surdez: concepção e alfabetização.
Descrição: Quadro colorido, a esquerda em português “QUAL SEU NOME” a direita em Libras a mesma frase porem com
o alfabeto manual da Libras.

Assista a vídeo aula desta competência para entender ainda mais o que vimos
até aqui!

Aqui vimos a nível mundial o processo de educação dos Surdos. Na próxima competência
aprenderemos como se deu esse mesmo processo, porém aqui no Brasil, iremos compreender
também a Lei Federal 10.436/2002 que reconhece a Libras enquanto língua, a importância das
criações de Institutos entre outros assuntos. Estão prontos? Espero você lá!

33
Competência 03

3.Competência 03 | Identificar a nível Brasil como se deu o processo de


educação do Surdo

Durante as competências anteriores vimos muito do que o Povo Surdo passou e ao


decorrer desta você irá rever alguns assuntos que discutimos em outras competências, além de
aprofundarmos mais neste novo assunto, está pronto? Então vamos lá!
Você deve se lembrar que o ensino da Língua de Sinais teve início no Império do Brasil,
contudo veio o Congresso de Milão e barrou esse método por cerca de 100 anos e apenas em 2002
conseguimos ter a Língua de Sinais e o Bilinguismo como metodologia oficial aqui no Brasil, certo?
Aqui no Brasil a educação dos Surdos teve início quando Huet chegou, vocês lembram?
Ele veio com o alfabeto manual francês juntamente com a Língua de Sinais Francesa e a partir disso
surgiu então a Língua Brasileira de Sinais - Libras, nesse tempo ainda não existiam escolas para os
Surdos. Após o Congresso de Milão a Língua de Sinais foi proibida e apenas o Oralismo foi adotado
como método de ensino dentro do INES.
Durante os anos de 1930 - 1947, o Instituto passou a ter o Dr. Armando Paiva Lacerda
como diretor. Ele criou uma a Pedagogia Emendativa do Surdo - Mudo, a qual tinha a visão de que o
Oralismo sem sombras de dúvidas seria o único método para o Surdo ser inserido na escola. No
decorrer das aulas os Surdos deveriam passar por uma “prova” que avaliava se ele estava apto para
oralizar, desta forma, os alunos eram separados de acordo com a sua capacidade.
Vejam que interessante, durante todo esse processo de ensino após quase 100 anos uma
profissional da educação assume a gestão do instituto, isso em 1951 quando a professora Ana Rímoli
de Faria Dória chegou com uma inovação para os alunos que estudavam no instituto. Dória
concretizou o Curso Normal de Formação de Professores para Surdos, com esse curso o Instituto se
tornou referência para todo o Brasil, professores de todo o país iam até lá para fazer o curso que
durava três anos e a sua metodologia era voltada para o Oralismo.
Ivete Vasconcelos educadora da famosa Universidade de Gallaudet chegou no Brasil em
1970 sua filosofia de ensino era a Comunicação Total. Uma década depois duas professoras, Lucinda
Ferreira Brito pesquisava sobre a Libras e a professora Eulália Fernandes sobre a Educação dos Surdos
e a partir desses estudos o Bilinguismo passou a ser usado no país.
Outros institutos que fizeram parte da história da educação do Povo Surdo, como o
Instituto Santa Teresinha, fundado em 1929, criado em Campinas e em 1933 foi transferido para São

34
Competência 03

Paulo. Até 1970 era um internato que tinha como proposta de ensino o Oralismo, atendendo apenas
meninas Surdas e após esse ano meninos também foram aceitos. Atualmente, com foco no ensino
médio e a partir de 2002 aceitou como método de ensino o Bilinguismo.

Instituto Santa Teresinha - 89 anos


https://www.youtube.com/watch?v=PeKvS1OXT4g&t=162s
Neste vídeo você poderá ver como a escola funciona e os seus objetivos no
método de ensino. É didático, espero que goste! Ah, ele tem legenda e
intérprete de Libras!!!

Você sabia que em São Paulo uma nova instituição surgiu? Foi a Escola Municipal de
Educação Especial Helen Keller, fundada pelo Prefeito de São Paulo Dr. Armando de Arruda Pereira,
em 1951. O Instituto Educacional São Paulo - IESP também foi muito importante, fundado em 1954,
doado em 1969 para a PUC/SP e hoje é referência em pesquisas e estudos na área da deficiência
auditiva.

Nesse podcast você poderá conhecer um pouco mais sobre a história de Hellen
Keller, vamos nessa?!

Figura 26 – Escola Municipal de Educação Especial Helen Keller


Fonte:https://secure.avaaz.org/community_petitions/po/Escola_Municipal_Especial_de_Ensino_Fundamental_Helen_K

35
Competência 03

eller_AEE_EJA/
Descrição: Imagem preto e branco da Escola, contém dois andares, uma porta de entrada e é cumprida.

Vimos a importância das criações dos institutos aqui no Brasil, onde oportunidades foram
oferecidas aos Surdos que durante muito tempo buscaram esse tipo de ensino, mas não
encontravam. Hoje temos a Lei Federal aprovada em 2002 e é isso que vamos ver nos próximos
parágrafos, além de citar fatos que aconteceram anos antes dessa aprovação. Vamos?
A Lei Federal 10.436 de 24 de abril de 2002 foi um marco legal para toda a Comunidade
Surda. Não se trata apenas de aprovar uma Lei, mas de tudo o que ela traz, a história dos Surdos foi
marcada por muita luta e sofrimento. A Lei reconhece a Libras enquanto língua, porém não só isso! É
questão de cultura, identidade, reconhecimento, direito ao estudo, respeito entre outros, ou seja,
tudo o que eles não tinham desde a idade antiga. Com essa Lei as escolas foram obrigadas a terem
intérpretes, professores e instrutores de Libras, as unidades de saúde precisam ter profissionais
capacitados para atender o Surdo. Atualmente, vemos igrejas das mais diversas religiões com o
profissional de Libras, enfim, espaços que eles podem utilizar e usufruir com toda a acessibilidade
comunicacional.
Strobel (2009) fala sobre a importância que teve quando Eduardo Huet fundou a primeira
escola de Surdos no Brasil. Huet era professor, viveu em Paris e ficou Surdo com 12 anos de idade por
causa do sarampo. Campello e Quadro (2010) destacam que os primeiros alunos Surdos a
frequentarem a escola de Surdos no Brasil foi um menino de 10 anos de uma menina de 12 anos de
idade. O Imperial Instituto de Surdos- Mudos era o nome da primeira escola, atualmente conhecida
como Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES.

Veja que interessante!


O Instituto foi criado através da Lei: 939 em 26 de setembro de 1856, data que
comemoramos o Dia Nacional dos Surdos.

Rocha (2008) afirma que Huet ficou no Instituto até 1861, após isso viajou e passou a
ensinar a alunos no México, com isso, o Ines passou a ser dirigido por Frei do Carmo que desistiu do
cargo em pouco tempo e Ernesto do Padro Seixa o substituiu, lembrando que durante muitos anos
vários homens foram diretores do Ines.

36
Competência 03

Naquele tempo a minoria linguística era o Povo Surdo, tivemos então o Congresso de
Milão que proibiu o uso da Língua de Sinais e durante muitos anos os Surdos foram obrigados a usar
o método oralista para que pudessem se comunicar uns com os outros. Entendemos então que
antigamente em um longo período de tempo a Língua de Sinais foi marginalizada, a cultura do Surdo
não foi respeitada, e eles voltaram a ser vistos como incapazes. Com o passar do tempo estudiosos
de linguísticas surgiram e então apareceram pesquisas na área, assim os Surdos começaram a ter
novamente a liberdade de se comunicar através da Língua de Sinais e consequentemente através da
política foram reconhecidos como Povo Surdo dignos de direitos e deveres.

Assista o próximo vídeo mostrando um pouco de como aconteceu no Congresso


de Milão.
Fonte: FILME CONGRESSO DE MILAO 1880 – UFES
https://www.youtube.com/watch?v=sGBMqmtZxV0

O vídeo é uma encenação de como aconteceu no Congresso de Milão. A vitória dos


ouvintes por terem conseguido o método Oralista e a tristeza dos Surdos por não conseguirem que a
Língua de Sinais pudesse continuar a fazer parte do convívio entre o Povo e a Comunidade Surda.
Durante toda a história da educação do Surdo haviam surdos que defendiam o Oralismo,
outros que defendiam a Comunicação Total e mais recente os que defendem o Bilinguismo.
Como vimos em competência anterior a essa, vamos agora fazer uma breve trajetória
entre os três métodos de ensino usados na educação dos Surdos, para que possamos entender como
funcionava cada um deles. Está pronto? Então vai nessa!
O Oralismo surgiu no século XVIII no Congresso Internacional de Educadores Surdos em
1880, nele foi decidido que esse método seria utilizado e a Língua de Sinais banida e não existia mais
o ensino dela nas escolas. Esse método ensina que essa é a única maneira de que haja comunicação
entre os sujeitos. Pregavam que o uso da Língua de Sinais atrasava e atrapalhava o desenvolvimento
do Povo Surdo.

37
Competência 03

Figura 27 – Oralismo
Fonte: http://fabiosellani.blogspot.com/2011/10/proibicao-da-lingua-de-sinais-seculo.html
Descrição: Caricatura colorida de dois bonecos com as mãos para trás e os dois com suas bocas abertas um olhando
para o outro.

Você percebe o que queriam fazer com os Surdos? Entendemos que queriam que eles
tivessem o mesmo costume, comportamento e cultura do ouvinte, sendo necessário o aprendizado
da fala. Dessa forma a comunicação só poderia ser feita por duas vias, pela leitura da face da boca e
pela via auditiva. Contudo, Goldfeld destaca que o Oralismo vê a surdez como uma deficiência que
deve ser estimulada com a audição, desta forma negavam a identidade Surda na tentativa de fazer
igual a pessoa ouvinte “O oralismo, ou filosofia oralista, usa a integração da criança surda à
comunidade de ouvintes, dando-lhe condições de desenvolver a língua oral (no caso do Brasil, o
Português). O oralismo percebe a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada através da
estimulação auditiva (GOLDFELD, 1997, p. 30-31).
Com o passar do tempo não foram vistos resultados positivos através desse método,
dessa forma de acordo com Lopes (2006) muitos surdos eram vistos como pessoas sem capacidade e
seres que não pensavam!
Dorziat (2006) nos mostra três modelos das técnicas utilizadas no oralismo, foram eles:
• O treinamento auditivo: estimulação auditiva para reconhecimento e discriminação
de ruídos, sons ambientais e sons da fala, geralmente fazem treinamento com as
aparelhagens como AASI e outros.
• O desenvolvimento da fala: exercícios para a mobilidade e tonicidade dos órgãos
envolvidos na fonação, lábios, mandíbula, língua etc., e exercícios de respiração e
relaxamento.

38
Competência 03

• A leitura labial: treino para a identificação da palavra falada através da decodificação


dos movimentos orais do emissor.

Mais adiante tivemos outro método de ensino, a Comunicação Total. A partir de agora
vamos aprender o que foi e como funcionava. Vamos nessa?!
Em 1960 junto com a oralização e a língua de sinais surgiu a Comunicação Total. Freeman,
Carbin e Boese (1999) trazem para a gente uma definição sobre esse método, nos explicando que:
A Comunicação Total inclui todo o espectro dos modos linguísticos: gestos criados pelas
crianças, língua de sinais, fala, leitura orofacial, alfabeto manual, leitura e escrita. A
Comunicação Total incorpora o desenvolvimento de quaisquer restos de audição para a
melhoria das habilidades de fala ou de leitura orofacial, através de uso constante, por um
longo período de tempo, de aparelhos auditivos individuais e/ ou sistemas de alta fidelidade
para amplificação em grupo (DENTON apud FREEMAN; CARBIN; BOESE, 1999, p. 171).

Para Goldfeld (2011), a filosofia desse método atende os processos comunicativos entre
Surdos e ouvintes:

Esta filosofia também se preocupa com a aprendizagem da língua oral pela criança surda, mas
acredita que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não devem ser deixados de lado,
em prol do aprendizado exclusivo da língua oral. Por esse motivo, essa filosofia defende a
utilização de recursos espaço-viso-manuais como facilitadores da comunicação (GOLDFELD,
2001, p. 38).

Goldfeld (2001 p.42) destaca que algumas escolas e clínicas aqui no Brasil durante um
tempo usaram esse método para ensino dos Surdos, a Escola Concórdia em Porto Alegre e algumas
turmas do INES são exemplos dessa filosofia. Para a autora, a Comunicação Total teve mais resultado
positivo do que o Oralismo, visto que a Comunicação Total mostra que é importante os pais estarem
presentes na educação e desenvolvimento dos filhos. Esse método traz meios artificiais no processo
de educação da Pessoa Surda, gestos, técnicas da língua ou o português sinalizado.

39
Competência 03

Educação de Surdos no Brasil


https://www.youtube.com/watch?v=XwjdvvYWqTg
Neste vídeo podemos ver algumas imagens que retratam muito bem o que
falamos até aqui.

A criança no processo de aprendizagem da linguagem passa pelo bimodalismo. E o que


seria esse “Bimodalismo”? Lembra do oralismo que não deu certo e aí partiram para outro método?
Pronto! Foi daí que surgiu ele, o Bimodalismo, onde o foco não é apenas o oral, mas o bimodal que
acontece quando se faz o uso da Língua de Sinais com a fala, como isso é retirado da criança Surda o
direito em aprender a real estrutura gramatical da sua língua natural, no nosso caso, a Libras. Quadros
(1997), nos fala que as expressões faciais e movimentos com a boca na LIBRAS são impossíveis de
serem concomitantemente trabalhados com a fala.
Daí entramos no Bilinguismo, cuidado para não confundir essas duas palavrinhas que se
parecem um pouco! Conhecemos o Oralismo, a Comunicação Total, o Bimodalismo e agora veremos
o que é o Bilinguismo. Para entender melhor usaremos alguns autores que servem de base para o
nosso entendimento. Vamos lá?!
O Bilinguismo é um método de ensino adotado por várias escolas em todo o mundo. A
partir da década de 1970, estudiosos entenderam que existia a possibilidade da Língua de Sinais ser
independente da língua oral e em 1980 foi espalhado por todos os países do mundo. Capovilla,
Raphael e Mauricio (2012) levantam um questionamento “o que almeja o bilinguismo?” Eles falam
que a educação bilíngue deve almejar que a Escola Bilíngue para Surdos precisa fazer com que a
criança Surda alcance a proficiência em Libras e Português. O método bilíngue tem como objetivo a
aquisição de duas línguas, a Língua de Sinais (L1) e a Língua do seu país (L2) na modalidade escrita
(leitura e escrita).

Assista a vídeo aula dessa competência para entender melhor o processo de


educação do surdo aqui no brasil.

40
Competência 03

Figura 28 – Banner da Escola Bilíngue para Surdos


Fonte: http://www.maosemmovimento.com.br/pre-escola-bilingue-para-surdos-alfabetizacao-e-lingua-de-sinais/
Descrição: Banner colorido acima “ESCOLA” na cor azul, abaixo “Bilíngue” na cor preta, em seguida “PARA” na cor verde
e mais abaixo “SURDOS” na cor vermelha.

A seguir podemos ver dois vídeos referentes à Educação e a Escola Bilíngue para Surdos.
No primeiro vídeo são crianças usando a ASL na pré escola e no segundo uma Escola aqui no Brasil
que é referência no DF. Vale à pena dar uma olhada lá!

Learning English in an ECE ASL-English Bilingual School


https://www.youtube.com/watch?v=Z3llKtPpY90&t=34s

Escola Bilingue de Taquatinga é referência no ensino para surdos


https://www.youtube.com/watch?v=tCJ5ybItWTg

Todo o direito à educação de qualidade é assegurado pela Lei e desta forma a criança
Surda deve ser atendida dentro dos parâmetros que a mesma nos traz. Goldfeld (2001) traz para nós
a importância dos Surdos terem contato com pessoas fluentes em sua língua materna, a Libras, para
que a partir disso ela tenha um bom desenvolvimento cognitivo. A meta do bilinguismo é que o Surdo
adquira a Língua de Sinais como língua materna, e como segunda língua a oficial do seu país. Os

41
Competência 03

autores que estudam e falam sobre o Bilinguismo entendem que a Pessoa Surda não precisa ter a
vida igual do ouvinte, desta forma, ele deve se apropriar e assumir a sua surdez.
Na Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência em Barcelona no
ano de 1996 foi discutido sobre a caracterização das Escolas Bilíngues. Vamos então entender de que
forma ela deve funcionar: As escolas Bilíngues são aquelas onde a língua de instrução é a Libras e a
Língua Portuguesa é ensinada como segunda língua, após a aquisição da primeira língua; essas escolas
se instalam em espaços arquitetônicos próprios e nelas devem atuar professores bilíngues, sem
mediação de intérpretes na relação professor – aluno e sem a utilização do português sinalizado
(BRASIL, 2014b).
Skliar (2012) nos apresenta quatro projetos políticos que sustentam a educação bilíngue
para Surdos: O bilinguismo com aspecto tradicional; O bilinguismo com aspecto humanista e liberal;
O bilinguismo progressista e o bilinguismo crítico na educação de surdos. Vamos detalhar e
aprender cada um deles!
No bilinguismo com aspecto tradicional não é valorizada a identidade do Surdo, os
professores têm a formação na educação na ideia do estudo clínico, assim o que temos nele é uma é
uma sociedade tentando adaptar aos seus costumes. Graças a Lei 10.436 de 2002 temos a Libras
sendo reconhecida como língua, os Surdos reconhecidos e respeitados com sua cultura e identidade
preservadas.
A seguir temos o bilinguismo com aspecto humanista e liberal que acredita na igualdade
entre surdos e ouvintes, contudo, o que vemos é totalmente o contrário: falta de respeito, não
aceitação da Pessoa Surda, desconhecimento de cultura, enfim… não se tem essa igualdade. Temos
como exemplo as escolas que ainda querem trabalhar com o método parecido com o oralismo, tudo
é falado e escrito em português e o intérprete de Libras na sala de aula faz a tradução e interpretação,
achando que essa forma é a inclusão do aluno Surdo. Esse profissional faz parte do bilinguismo, mas
apenas ele não representa a proposta da escola bilíngue.
No bilinguismo progressista é ignorada a história e cultura do Surdo. Agora, imaginem só,
se tudo o que estudamos até agora for esquecido por todos? Aqui se identifica a surdez, mas os
Surdos não são respeitados.

42
Competência 03

Dentro da perspectiva do bilinguismo crítico na educação dos Surdos, vimos que ele deve está
inserido numa escola com Surdos e ouvintes, o convívio entre ambos acontece com um planejamento,
não tem a estruturação de conceitos.
Durante todo o processo de educação dos Surdos vimos o quanto eles foram marginalizados
perante a sociedade. Tivemos três modalidades de ensino: o Oralismo, a Comunicação Total e o
Bilinguismo. O primeiro que veio a partir do Congresso de Milão em 1880, o segundo com o objetivo
de usar qualquer forma de comunicação e por fim temos o bilinguismo com uma proposta real de
inclusão para o Povo Surdo que é a proposta de ensino que utilizamos hoje em algumas escolas do
país.
Na próxima competência estudaremos o percurso histórico e o processo de educação da
pessoa Surda até chegar nos tempos atuais. Você irá perceber que muito do que aconteceu no
passado contribui para acontecimentos do que temos hoje. Espero por você lá!

43
Competência 04

4.Competência 04 | Organizar o percurso histórico e o processo de


educação de Surdos na atualidade
Nas competências anteriores a essa, aprendemos muito sobre o Povo Surdo e todo o
percurso da sua vida, fizemos destaques de cada período como a Idade Antiga, Média, Moderna e
Contemporânea. Vimos também como as famílias faziam quando a criança nascia com surdez e como
a sociedade agia com os surdos. Aprendemos todo o processo histórico da educação da Pessoa Surda
e o passo a passo do que aconteceu para a Comunidade Surda ter o que tem hoje e conquistar espaços
que por muitos anos apenas os ouvintes podiam estar, fazer e participar.
Nessa competência vamos ter a oportunidade de entender como se deu o percurso da
educação, como eram as escolas, quem eram os professores, quais as leis e decretos que tínhamos e
o que temos hoje aqui no Brasil. Vamos para mais uma aula?
Durante muitos anos o que vimos foram Pessoas Surdas sendo excluídas primeiro no seu
laço familiar e perante a sociedade. As escolas não o aceitavam e consequentemente não conseguiam
empregos, com isso alguns se tornavam escravos e viviam à margem da sociedade, pois não existiam
leis para assegurá-los de qualquer que fosse o direito, tudo era bastante complicado!
Vimos também em competências anteriores que o processo de educação dos Surdos deu
início no Congresso de Milão em 1880, onde todas as instituições da Europa e Estados Unidos foram
obrigadas a passar a ensinar o método oralista e desde então a Língua de Sinais foi proibida, vocês
lembram? É um marco até hoje na Comunidade Surda!
Com o passar do tempo, chegamos aqui, mais precisamente no Rio de Janeiro com o
Instituto de Surdos - Mudos no Brasil, que hoje chamamos de Instituto Nacional de Educação dos
Surdos - INES - fundado pelo Professor Ernest Huet a convite do seu amigo D. Pedro II para trabalhar
com os Surdos, assim, deu início em 26 de setembro de 1857, guardem essa data! O que tínhamos
naquele tempo eram professores ouvintes que não tinham especialidade na área da surdez. Naquele
tempo médicos e outros profissionais acreditavam que o Instituto era o local apropriado para o Surdo
está, e o que temos até hoje como grande referência ao falarmos em Instituição para Surdos no que
diz respeito à educação, é o INES.
Pensando sobre essa questão do profissional que irá atender o Surdo na escola foi criado
o Decreto 5.626, de 22 de dezembro de 2005, no qual consta que os Cursos de Formação de
Professores tem como obrigatoriedade oferecer ao futuro profissional conhecimento sobre essa

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Competência 04

questão. A classe de profissionais deve atender os alunos levando em conta as suas necessidades
linguísticas, não apenas inseri-los na escola, mas capacitando cada profissional que irá atendê-lo, com
a finalidade de incluir e fazer uma sociedade igual para todos o que ela compõem.
A Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que pertence à lei de Diretrizes e Bases e no
Art. 59° assegura aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação técnicas de ensino que atendam a cada necessidade, professores com
especializações adequadas, educação especial e acesso igualitário ao ensino.

Aqui nesse link você terá acesso aos incisos i, ii, iii, iv e v deste artigo citado. Art.
59 da Lei de Diretrizes e Bases - Lei 9394/96
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/11686882/artigo-59-da-lei-n-9394-de-20-
de-dezembro-de-1996

Levando em conta a cultura do sujeito Surdo, a educação especial surge com o objetivo
de mostrar que existe a possibilidade deste ter oportunidades nunca tida anos atrás, atendendo cada
um de acordo com as suas especificidades. Vejam o que Machado (2008, p. 78) nos diz:
Visualizar uma escola plural, em que todos que a integram tenham a “possibilidade de
libertação”, é pensar uma nova estrutura. Para tanto, é necessário um currículo que rompa
com as barreiras sociais, políticas e econômicas e passe a tratar os sujeitos como cidadãos
produtores e produtos de uma cultura [...] pouco adianta a presença de surdos se a escola
ignora sua condição histórica, cultural e social.

Podemos lembrar da Idade Média, tempo de crueldade e perseguição para os que


nasciam com alguma deficiência! A história da Pessoa com Deficiência é notada por exclusão em
todos os espaços que permeiam a sociedade; essas pessoas tiveram uma trajetória para chegarmos
no que temos hoje. Vamos ver adiante um pouco sobre a segregação, integração e a inclusão da
Pessoa com Deficiência.
Durante o processo de educação da Pessoa Surda tivemos a fase da exclusão que
percorreu durante muitos anos na sociedade, pois enquanto as crianças sem deficiência estavam em
escolas, igrejas, parques e praças, as que tinham deficiência encontravam-se escondidas dentro de
casa, trabalhando como escravos ou eram mortas. E sobre esse período podemos mencionar a Lei nº
7.853, de 24 de outubro de 1989, a qual no artigo 8º, inciso I mostra que é terminantemente proibido

45
Competência 04

e é crime “recusar, cobrar valores adicionais, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar
inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, público ou privado, em
razão de sua deficiência” (BRASIL, 1989).
Mais adiante, com o passar do tempo tivemos o período da segregação, onde as Pessoas
com Deficiências eram isoladas dos demais alunos ditos "normais''. Nesse tempo existiam as “escolas
especiais” para esses alunos.
Em seguida veio a integração, período que algumas pessoas confundem com a inclusão.
Nesta etapa era ofertado o ensino à Pessoa com Deficiência, porém, a mesma não poderia estar
inserida no mesmo espaço que a pessoa sem deficiência. Nas escolas haviam salas separadas para
atender os alunos que tivessem algum tipo de deficiência.
A Declaração Nacional dos Direitos Humanos de 1948 afirma que: "Todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem
agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (BRASIL, 1998)”. Com isso temos a
Inclusão no Brasil e tê-la é uma questão de respeito aos direitos humanos! É dar dignidade, vez e voz
a quem por muito tempo foi privado disso.

Figura 29 – Declaração Universal dos Direitos Humanos


Fonte: https://www.amazon.com.br/DECLARA%C3%87%C3%83O-UNIVERSAL-DOS-DIREITOS-HUMANOS-
ebook/dp/B00G43O2F6

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Competência 04

Descrição: Imagem com o fundo azul, em letras brancas justificadas “DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS”, mais
abaixo “A declaração dos Direitos Humanos que delineia não direitos humanos básicos, foi adotado pela Organização
das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948 (A/RES17)”. Abaixo o símbolo da Declaração.

Impossível segregar ou excluir alguém apenas pelo fato do mesmo ter alguma deficiência,
ou por ter algum atraso cognitivo e até mesmo por ser de uma minoria linguística. A escola deve se
adaptar para receber e atender ao aluno com quaisquer que seja a sua deficiência. Sobre isso vejam
o que Sánchez, 2005 p.7 nos diz: “A filosofia da inclusão defende uma educação eficaz para “todos”,
sustentada em que as escolas, enquanto comunidades educativas devem satisfazer as necessidades
de todos os alunos, sejam quais forem as suas características pessoais, psicológicas ou sociais (com
independência de ter ou não deficiência). A educação especial aparece no contexto da educação
inclusiva com o objetivo de se ter um sistema educacional digno para que os alunos permaneçam na
escola, dando um acesso contínuo a todos os estudantes como por exemplo os que têm algum tipo
de deficiência e ou transtorno.

Figura 30 – Quadro das etapas da educação inclusiva


Fonte: https://estrategiasocial.com.br/incluir-pessoas-com-deficiencia-no-mercado-de-trabalho-qual-e-o-tamanho-do-
desafio/
Descrição: Quadro colorido das etapas da educação inclusiva, os dois superiores retratam a exclusão e segregação, os
dois abaixo, a integração e inclusão.

Ouça esse podcast explicando melhor sobre essas etapas da educação inclusiva.

47
Competência 04

A partir do momento que tivemos a valorização da Libras vimos a primeira barreira sendo
quebrada por parte da sociedade, mas ainda assim temos alguns entraves quando falamos da
educação inclusiva da Pessoa Surda. As pessoas continuam querendo não ouvir o Surdo e atender às
suas especificidades, como por exemplo propostas de ensino que sejam voltadas para esse sujeito
que é totalmente visual, adaptar as aulas o máximo possível, não com a justificativa de “passar” ele
para outra série, mas, oferecendo meios para que possa entender o conteúdo; que o português seja
realmente ensinado como segunda língua na modalidade escrita, ou seja, que a sua condição
enquanto Surdo seja respeitada.
Na Lei 10.436 de 24 de abril de 2002 podemos ver a obrigatoriedade que as instituições
devem oferecer profissionais capacitados em Libras para que eles acompanhem os professores e
alunos com deficiência auditiva. Vejam o Art. 4º da Lei de Libras:

O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito


Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de
Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua
Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais -
PCNs, conforme legislação vigente (BRASIL, 2005)

Com a inclusão do aluno Surdo na escola a primeira barreira foi quebrada, pois o Surdo
está na escola junto com os demais, porém, agora aparece outra barreira, a qualidade do ensino para
esse público. As escolas precisam entender aspectos que aprendemos em outras competências: o
ensino da Libras como primeira língua e o Português na escrita, mas não é isso que vimos na maioria
das escolas, de acordo com Quadros (1997).
Ao falarmos sobre a educação inclusiva para a Pessoa Surda é necessário conhecermos o
papel do professor, instrutor, do intérprete de Libras e suas metodologias de ensino, saber como se
dá o processo de interação entre aluno Surdo e intérprete de Libras e do aluno Surdo com a escola.
Desta forma, percebemos e entendemos que não basta apenas inserir o aluno na sala de
aula para que a inclusão aconteça de fato, mas capacitar os professores e todos os que fazem parte
da escola para atender o aluno e assim garantir a inclusão nas instituições de ensino.

48
Competência 04

Figura 31 – Sala de aula inclusiva


Fonte: http://mariguedes.blogspot.com/2014/04/importancia-do-segundo-professor.html
Descrição: Na foto uma sala de aula, e três alunas, a frente uma professora e ao lado dela uma intérprete de Libras que
sinaliza para uma das alunas.

Ao falarmos sobre a educação inclusiva é importante também conhecermos o que é a


educação especial citada em alguns pontos dessa competência. Podemos dizer que o atendimento a
Pessoas com Deficiência aqui no Brasil deu início no Império quando foram criadas duas instituições,
o Imperial Instituto dos meninos Cegos no ano de 1854, conhecido hoje com Instituto Benjamin
Constant (IBC), e o Instituto de Surdos Mudos no ano de 1857, conhecido atualmente como Instituto
Nacional de Educação dos Surdos (INES), ambos localizados no Rio de Janeiro.

Figura 32 – Instituto Benjamin Constant – IBC


Fonte: https://www.jotazerodigital.com.br/instituto-benjamin-constant-completa-161-anos.php
Descrição: Imagem colorida aérea do IBC.

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Competência 04

Figura 33 – Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES


Fonte: https://academiadelibras.com/blog/primeira-escola-de-surdos-no-brasil-1857/
Descrição: Imagem colorida do INES, a frente uma bandeira do Brasil hasteada.

No século XX foi fundado o Instituto Pestalozzi em 1926, esse tinha sua especialidade em
atender Pessoas com Deficiência Mental. No ano de 1954 foi criada a primeira Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais (APAE) e em 1945 foi criado o primeiro Atendimento Educacional
Especializado a Pessoas com Superdotação na Sociedade Pestalozzi por Helena Antipoff (Brasil, 2015).

Vejamos a seguir alguns fatos marcantes sobre a Educação Especial no Brasil:

Ano O que aconteceu


Lei 4.024 de Diretrizes e Bases para a Educação: Art. 88- A educação de
excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral de
educação, a fim de integrá-los na comunidade. Art. 89- Toda iniciativa privada
1961
considerada eficiente pelos conselhos estaduais de educação, e relativa à educação
de excepcionais, receberá dos poderes públicos tratamento especial mediante
bolsas de estudo, empréstimos e subvenções (BRASIL, 1961).
Lei 5.692 de diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus: Art. 9º- Os alunos
que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso
1971 considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão
receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos
competentes Conselhos de Educação (BRASIL, 1971).

50
Competência 04

Constituição Federal Brasileira, Art. 208: III - atendimento educacional


1988 especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino (BRASIL, 1998).
Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de Goten, Tailândia)
1990
(UNICEF, 1990).
Lei nº 8.069/90: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Art. 54- É dever do
Estado assegurar à criança e ao adolescente: III - atendimento educacional
1990
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de
ensino (BRASIL, 1990)
Declaração de Salamanca na área das necessidades educativas especiais
1994
(Salamanca, Espanha) (UNESCO, 1994).
Lei nº 9394/96- Atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN).
1996 Pela primeira vez no Brasil, uma LDB tem um capítulo reservado à Educação
Especial, cujos detalhamentos são fundamentais (BRASIL, 1996).
Resolução CNE/CEB Nº 2, de 11 de setembro de 2001: Institui Diretrizes Nacionais
2001
para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001).

No Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) pontua-se algumas orientações que


asseguram:
Promoção e proteção dos direitos das pessoas com deficiência e garantia da acessibilidade
igualitária” (BRASIL, 2010). As orientações estão no Objetivo Estratégico IV, são elas: a)
Garantir às pessoas com deficiência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação. b)
Garantir salvaguardas apropriadas e efetivas para prevenir abusos a pessoas com deficiência
e pessoas idosas. c) Assegurar o cumprimento do Decreto de Acessibilidade (Decreto nº
5.296/2004), que garante a acessibilidade pela adequação das vias e passeios públicos,
semáforos, mobiliários, habitações, espaços de lazer, transportes, prédios públicos, inclusive
instituições de ensino, e outros itens de uso individual e coletivo. d) Garantir recursos
didáticos e pedagógicos para atender às necessidades educativas especiais e) Disseminar a
utilização dos sistemas braile, tadoma, escrita de sinais e libras tátil para inclusão das pessoas
com deficiência em todo o sistema de ensino. f) Instituir e implementar o ensino da Língua
Brasileira de Sinais como disciplina curricular facultativa. g) Propor a regulamentação das
profissões relativas à implementação da acessibilidade, tais como: instrutor de Libras, guia-
intérprete, tradutor- intérprete, transcritor, revisor e ledor da escrita braile e treinadores de
cães-guia. h) Elaborar relatórios sobre os municípios que possuem frota adaptada para
subsidiar o processo de monitoramento cumprimento e implementação da legislação de
acessibilidade. (BRASIL, 2010).

51
Competência 04

É possível que a Educação Especial aconteça de fato, mas para isso é preciso a vontade
dos políticos e coragem dos líderes para que tudo aconteça de acordo com as leis, decretos,
resoluções e professores capacitados para atender esse público. Temos o acesso garantido por Lei,
porém para que exista efetividade no atendimento especializado e uma permanência desse aluno na
escola é de fundamental importância a inclusão nas escolas.
Vimos que para chegar até o que temos hoje um longo caminho foi e ainda é percorrido
pelo Povo e Comunidade Surda, durante muito tempo tivemos a exclusão e segregação que de fato
atrapalhou bastante para chegarmos até a inclusão. Todos os direitos reconhecidos por lei devem ser
assegurados e quando falo nisso volto a dizer, professores, intérpretes, gestores, toda a escola deve
está apta para receber o Surdo com a dignidade e respeito que ele merece.

Assista agora a videoaula desta competência fazendo um breve resumo do que


estudamos.Ok?!

Espero que tenha gostado e aprendido bastante! Até a próxima!!!

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Conclusão
Você conseguiu perceber como foi sofrida a história dos Surdos durante muito tempo?!
Entendeu todo o percurso que eles percorreram para conseguirem ser vistos enquanto Pessoa pela
sociedade? Visse também que eles não desistiram? Pois é, persistiram para que hoje a gente estivesse
aqui contando a história deles e aprendendo com eles!
E por quanto tempo eles foram privados a frequentarem escolas, serem inseridos na
sociedade e vistos com Pessoas Surdas, terem acesso e liberdade comunicacional através da língua
de sinais, publicação de Decreto e Lei, ficou ligado nisso também?
Podemos dizer que essa disciplina norteou você a entender um pouco do percurso do
Povo e Comunidade Surda no Brasil e no mundo e sua trajetória de vida até os tempos atuais e como
foi importante a criação das escolas para esse público e o quanto foi importante e valioso a etapa da
inclusão do aluno Surdo nas escolas! É, vimos muito assunto e muitos autores ótimos que relataram
bem a história desse Povo e que estudaram e pesquisaram para o bom desenvolvimento, respeito e
dignidade que a comunidade e o Povo Surdo têm hoje.
Tudo o que vimos aqui te norteará para as próximas competências no decorrer desse
curso! Espero que você tenha gostado dessa disciplina e quero ver você em breve nas nossas próximas
aulas, ta certo?
Até logo, espero te ver nas próximas disciplinas desse curso que eu sei que você vai amar
(se é que já não está amando)! Até breve, abraços!

53
Referências

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Inclusão. Relatório Sobre a Política e Linguística de Educação Bilíngue - Língua Brasileira de Sinais -
Língua Portuguesa. Brasília, 2014.

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de licenciatura em matemática na modalidade a distância. Florianópolis: UFSC, 2010

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Libras: dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue: língua brasileira de sinais. São Paulo: Universidade
de São Paulo, 2012. 1-2 v. Sinais A a Z.

Decreto n. 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002,


que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro
de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 2005.

DORZIAT, Ana. Metodologias específicas ao ensino de surdos: análise crítica.


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GOLDFELD, Márcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São
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HONORA, Márcia. Inclusão Educacional de Alunos com Surdez: concepção e alfabetização. São Paulo:
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HONORA, Márcia. Livro ilustrado de Língua Brasileira de Sinais: desvendando a comunicação usada
pelas pessoas com surdez/Márcia Honora, Mary Lopes,Esteves Frizanco. São Paulo: Ciranda Cultural,
2009

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LABORIT, Emmanuelle. O vôo da gaivota. São Paulo. Ed Best Seller, 1994.

ROCHA, Solange Maria da. O INES e a educação de surdos no Brasil: aspectos da trajetória do
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54
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VELOSO, Éden; FILHO, Valdeci Maia. Aprenda a Libras com eficiência e rapidez. Editora - Mãos Sinais.
Curitiba - PR. 2009.

55
Minicurrículo do Professor

Pollyana Kaline Silva de Santana


Oi, tudo bom? Espero que sim!!!
Me chamo Pollyana Kaline Silva de Santana (mas pode me chamar de Polly), sou
Professora e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais, minha primeira graduação é em Comunicação
Social e a segunda é em Letras Português e minha especialidade é em Libras e Educação da Inclusão
da Pessoa Surda pela Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (FACHO), minha maior experiência é
como Intérprete de Libras no âmbito educacional e religioso e tenho onze anos de experiência nessa
área.
Atualmente sou Professora no Curso Técnico de Interpretação e Tradução de Libras npela
ETEPAC e em uma outra instituição escolar particular que oferece a Libras como disciplina!
Ah, quase esqueço de falar para você, fui aluna desse mesmo curso na modalidade
presencial (única modalidade oferecida na época) por volta do ano de 2009 e é um orgulho está hoje
no lugar de professora passando para você o meu conhecimento e aprendendo contigo também!
Nessa disciplina procurei o máximo de conteúdos para você aprender e se aprofundar
nessa área que é maravilhosa de ser estudada (busque, pesquise, estude, pergunte...) você vai sair
desse curso mais do que realizado e um ótimo profissional!
Obrigada por está até aqui e até a próxima disciplina, nos veremos logo mais!

Até breve! Abraços!!!

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