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DEBATE DEBATE
Informação e informática em saúde:
caleidoscópio contemporâneo da saúde
Abstract This essay is based on the assumption Resumo Este ensaio assume como pressuposto que
that current practices and knowledge of Informa- as atuais práticas e saberes de Informação e Infor-
tion and Information Technology in Health are mática em Saúde não dão conta da complexidade
unable to deal with the complexity of the health/ dos processos de saúde/doença/cuidado e dos pro-
disease/care processes and contemporary problems blemas contemporâneos a serem superados, cons-
that must be overcome, curbing the expansion of tituindo-se em um dos limitantes para a amplia-
the response capacity of the Brazilian State. It aims ção da capacidade de resposta do Estado brasileiro.
to further explore the understanding of the roots Tem por objetivos aprofundar a compreensão da
and determining factors behind these constraints, gênese e dos determinantes desses limites e analisar
analyzing alternatives for confronting them that alternativas para sua superação que dependem
depend less on location-specific initiatives in the menos de iniciativas pontuais internas ao campo
field of information and more - among others - on da informação e mais, dentre outras, da adoção de
the adoption of new benchmarks, starting with novos referenciais, a começar pelo significado e
the meaning and concept of Health. It identifies conceito de Saúde. Identifica a existência de um
the existence of an ‘information and information ‘intercampo de informação e informática em saú-
technology interfield’ that arises from an de’ que se consubstancia tanto a partir de uma
epistemology based on a transdisciplinary ap- epistemologia que tenha por referencial a aborda-
proach, as well as the consolidation of a political gem transdisciplinar, quanto da consolidação de
and historical process of institutional construc- um processo político-histórico de construção ins-
tion, an area endowed with power and relevance: titucional, espaço portador de potência e relevân-
a political-epistemological interfield. The analysis cia: intercampo político-epistemológico. Desenvol-
goes on through an exploratory study of the social, ve essa análise através de estudo exploratório dos
1 Departamento de Ciências
political and epistemological processes found in the processos sociopolíticos e epistemológicos presen-
Sociais, Escola Nacional de historical construction health information tes na construção histórica das redes de informa-
Saúde Pública, FIOCRUZ. networks established by Science and Technology ção em saúde constituídas pela C&T em saúde,
Rua Leopoldo Bulhões
1480/ 9o andar, Mangui-
in health, as well as by healthcare systems and pelos sistemas e serviços de saúde e pelas informa-
nhos. 21041-210 Rio de services, in addition to social, political and ções sociais, políticas e econômicas.
Janeiro RJ. economic information. Palavras-chave Informação em saúde, Informá-
ilara@ensp.fiocruz.br
2 Instituto Brasileiro de
Key words Information in health, Information tica em saúde, Política de saúde, Processo decisó-
Informação Científica e technology in health, Health policy, Decision- rio, Epistemologia
Tecnológica, MCT taking process, Epistemology.
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Moraes, I. H. S. & Gómez, M. N. G.
“O deus que espero é inesperado; se ele vier, Apesar dos contínuos avanços tecnológicos
vou reconhecê-lo? De Esculápio curandeiro relacionados às informações, Vasconcellos et al5
não espero mais que um nome ou uma enfatizam o descompasso de sua apropriação e
imagem, designações e descrições, uso em benefício da ampliação da potência de
já o conheço demais, ele não vai me curar”. intervenção da esfera pública sobre a saúde de
Michel Serres 1 indivíduos e de populações e do próprio desen-
volvimento de um espaço cada vez mais estratégi-
Introdução co para a Ciência e a Tecnologia do país, em um
mundo globalizado. Há uma aparente aproxima-
A Saúde no Brasil está longe da perfeição! O mo- ção de discursos ao se referir à ‘informação e in-
delo político e econômico dominante, historica- formática em saúde’; no entanto, suas práticas
mente instituído, expande as desigualdades entre são díspares e desconexas, com pouca clareza so-
padrões de qualidade de vida. As desigualdades bre “do que se está falando”. Essa opacidade con-
sanitárias prevalentes entre as regiões, estados, tribui para sua não-organização, não-coordena-
cidades e mesmo intra-urbanas impedem come- ção e fragilidade institucional, tornando-se cada
morações efusivas. vez mais vulnerável às pressões do mercado, o
Por outro lado, o Sistema Único de Saúde que deixa fluido o papel do Estado na condução
(SUS) alcançou avanços significativos em seus da Política de Informação e Informática em Saú-
quinze anos de implementação. Sua construção de (PIIS)5, 6,7.
é um marco na história do país por pressupor a Esse processo situa-se em plena vigência de
participação da sociedade nesse processo, atra- profundos questionamentos em torno da pro-
vés das Conferências e Conselhos de Saúde e por dução do conhecimento na contemporaneidade,
preconizar a busca do consenso entre as esferas onde se pontua a existência de uma crise de para-
de governo, configurando, nesse sentido, uma digmas. A ‘Informação e Informática em Saúde’
das mais avançadas política pública brasileira, está imersa e faz parte dessa crise. Esse ensaio pro-
calcada na democracia participativa e emancipa- cura demonstrar algumas de suas dimensões ao
tória 2. Nesse período, o SUS constituiu-se como apresentar fragilidades e limitações existentes na
um sólido sistema que ampliou o acesso da po- atual práxis informacional em saúde. Nesse senti-
pulação aos recursos de saúde, mas não o sufici- do, tem por objetivo aprofundar a compreensão
ente para superar a histórica e desigual dívida da gênese e dos determinantes desses limites, ana-
sanitária 3. No cotidiano dos cidadãos, o direito lisando alternativas para sua superação, através
universal à Saúde, com eqüidade e qualidade, ain- de estudo exploratório de seus processos socio-
da está distante 4. políticos e epistemológicos presentes na constru-
Essa constatação suscita um leque de desafi- ção histórica das redes de informação em saúde
os para a Sociedade e o Estado brasileiro no sen- constituídas pela informação científica e tecnoló-
tido do texto constitucional alcançar sua plena gica em saúde, pela informação e informática em
materialidade, expressa na melhoria das condi- sistemas e serviços de saúde e pelas informações
ções de vida da população. Um desses desafios é sociais, políticas e econômicas.
dotar o sistema de saúde de maior e melhor ca-
pacidade de intervenção sobre a realidade sani-
tária. Para tal, faz-se necessário aprofundar a Gênese da atual
compreensão sobre seus atuais limites e pontos práxis informacional em saúde
de estrangulamento.
O presente ensaio dedica-se a um de seus prin- Ao procurar desvendar a gênese da atual lógica
cipais limites, ao assumir como pressuposto o organizativa das informações de interesse para a
esgotamento das atuais práticas e saberes de In- Saúde, produzidas e geridas pelo aparato esta-
formação e Informática em Saúde (IIS) em face tal, observa-se que a informação em saúde sur-
da complexidade dos processos concretos de saú- ge de um certo “pré-juízo” de sinais, sintomas,
de/doença/cuidado que ocorrem em populações signos e práticas relacionados ao processo de
e dos conseqüentes problemas contemporâneos saúde/doença/cuidado que, em um determina-
a serem superados. A atual práxis informacional do contexto histórico, adquirem relevância polí-
em saúde se constitui em uma limitante aos avan- tica e social: tornam-se eventos que justificam
ços necessários para ampliar a capacidade de res- seu monitoramento, sua visibilidade, sua vigi-
posta do Estado brasileiro, na busca pela melho- lância através de dispositivos de Estado no exer-
ria da situação de saúde. cício de um biopoder.
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mação, formalizando as práticas de fixar, regis- autoridades epistêmicas que estabelecem frontei-
trar e formatar a produção de sentido, são cons- ras, relações legítimas e modelos preferenciais nas
titutivos do entretecido simbólico e intersubjetivo Ciências e Tecnologias em Saúde. A reformulação
que, intermediando a integração regulada de sa- das matrizes gnosiológicas nos leva a uma dupla
beres, técnicas e práticas, permitem a emergência questão da “governança”: governança da pesqui-
de um princípio diferencial de identificação do setor sa e da ciência e tecnologia em saúde e governança
saúde – do esquadrinhamento do corpo pela clí- como questão do regime político. O regime de
nica à vigilância epidemiológica das populações 7. informação que estabelece os modos preferenci-
“Informação em saúde” designa, assim, o en- ais de definição, preservação, transmissão e uso
quadramento dos significados da saúde recons- das informações em saúde tem, como resultante,
truídos e alargados na nova ordem da medicali- uma dupla orientação epistemológica e política.
zação e das instituições - primeiro de atendimen- A tematização das ações e meios de informa-
to e depois de ciência e tecnologia em saúde. ção, porém, tem seguido de modo preferencial as
O mesmo princípio, porém, que regulamenta abordagens funcionalistas e instrumentais, tendo
a divisão entre os saberes cotidianos e as “especi- como meta explícita, nem sempre alcançada, a
alizações” do conhecimento e da linguagem, re- otimização do desempenho dos setores instituci-
produz inúmeras relações concorrenciais entre as onalizados das atividades sociais regulares e prio-
“especializações” dos conhecimentos, das institui- ritárias. Incluídas e valorizadas como produtos
ções, das agências governamentais, onde em cada de serviços auxiliares, enquanto restritas a função
um dos domínios de atividade desenvolve-se um de meios, ficam invisíveis à problematização e às
princípio de identificação e sustenta-se uma de- reflexões epistemológicas que regularmente exa-
manda de autoridade epistêmica sobre o campo minam e reformulam o escopo, a abrangência e
de intervenção, de caráter excludente e parcial. as relações das ciências, práticas e políticas em
Desse modo, as relações de força que regimentam saúde. A crescente inclusão de temáticas tecnoló-
os fluxos de informação e desinformação que gicas em espaços disciplinares, acadêmicos e de P
perpassam o estado, o mercado, a sociedade civil & D não modifica, de fato, as questões aqui le-
e as comunidades locais, em torno da saúde, são vantadas (cabe lembrar, como exemplo, as revi-
reutilizadas e interiorizadas nas sub-redes locais e sões da literatura, com ênfase no papel das tecno-
setoriais onde se instalam os atores e campos es- logias de informação na área da saúde de Mac
pecializados do conhecimento, como participan- Dougall e Brittain13, Peter Bath14 e Britain15).
tes engajados nas lutas pela definição de concei- Sob o regime da dissociação e do obscureci-
tos, ações e recursos da saúde. mento da gênese, dois movimentos simultâneos
O que se manifesta, assim, como “política epis- tornam opaca a função constitutiva que as in-
temológica”, em enunciações oficiais e acadêmi- formações, as técnicas e as tecnologias de infor-
cas, pode ser considerado, numa inversão meto- mação tiveram na constituição do setor Saúde,
dológica, como uma luta pela centralidade episte- assim como dificultam sua objetivação reflexiva.
mológica, acirrada quando a construção com- Por um lado, os modos de produção das infor-
plexa dos objetos de conhecimento requer que mações e os recortes preferenciais dos regimes de
seja aceita uma autoridade epistêmica distribuída informação dominantes adquirem certa natura-
entre diferentes ofertas disciplinares, diferentes lidade e invisibilidade sob a forma opaca das co-
orientações metodológicas, mais de uma jurisdi- dificações organizacionais e as infra-estruturas
ção e nível geopolítico do Estado, enfim, mais de materiais e tecnológicas16. Por outro, o paradig-
um ator político-gnoseológico. ma da neutralidade justifica e propicia a ausência
A inversão dos processos de opacificação da do ponto de vista dos “participantes” - sujeitos
gênese da fragmentação funcional-especializada de bem-estar ou de adoecimento - cuja ausência
das informações em saúde pressupõe trabalhar, será compensada pela quantificação dos casos, a
ao mesmo tempo, na interseção de “malhas den- categorização dos sintomas e a construção dos
sas” informacionais que se justapõem, agregam “centros de cálculo”17, onde são acumuladas e
ou se confrontam nas fronteiras entre a vida cole- ordenadas as representações anônimas das po-
tiva e os subsistemas do Estado, entre as esferas pulações. Convertidos em objetos de práticas e
públicas e privadas, entre as plurais matrizes cul- tecnologias que visam à otimização de sua gera-
turais e as descrições reguladoras da ciência e da ção, uso e transmissão, documentos e informa-
tecnologia. Não é possível, assim, separar de ções deixam de ser problematizados em suas gê-
modo definido as instâncias decisórias econômi- neses. Seus modos de geração, porém, começam
cas e políticas do estabelecimento do regime de antes da inscrição/registro de significados e ge-
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outros domínios (como o das políticas sociais). micos - que substituem a participação dos sujei-
Os autores consideram que um modo produtivo tos implicados nas atividades sociais pela integra-
de olhar o “setor-intersetorial” da saúde é desde e ção por nexos infra-estruturais e por meios - tem
em direção à transdisciplinaridade. A síntese levado Habermas22 a propor um novo modelo
transdisciplinar, ao ir além das sínteses discipli- de análise, considerando os jogos de comunica-
nares, é também um bom ponto de partida para ção e informação em duas dimensões. A primei-
superar as crises paradigmáticas. ra, o mundo de vida (ou “formas de vida”), onde
No contexto de proposição da transdiscipli- os jogos de ação e integração social se constituem
naridade como desejo e como projeto, propõe-se e legitimam no agir comunicativo dos participan-
falar de modo atual num ‘intercampo de infor- tes. A segunda, os sistemas onde os poderes polí-
mação e informática em saúde’, a fim de colocar ticos, administrativos e econômicos monopoli-
de manifesto que se tratam de atores, práticas, zam as definições dos modos de integração e di-
procedimentos e saberes que tanto atravessam e reção das atividades sociais, através de seus con-
penetram em outros “campos”, que já têm consti- troles de meios e infra-estruturas.
tuído seus critérios diferenciados de identidade e Esta abordagem permite reconstruir com
de valor dentro de sua referência comum à saúde, maior acuidade o diagrama político das relações
quanto constituem e interpelam as zonas de in- entre atores, saberes e práticas de informação,
terseção que estariam a existir nos interstícios dos como parte do intenso esforço por (re)pensar
diferentes campos que hoje parecem descrever as novos desenhos epistemológicos de investigação
complexas e segmentadas facetas das ciências e no campo da Saúde Coletiva e de sua relação com
ações em saúde. as Ciências Sociais e Humanas, a Ciência da In-
No intercampo, visa-se à constituição dos flu- formação, a Comunicação, as Telecomunicações
xos e estruturações que viabilizam o intercâmbio, e a Ciência da Computação, respeitados em suas
a cooperação, as interações, tanto intra como in- especificidades.
tercampos; ao mesmo tempo, nele ficam expos- A proposta de intercampo de informação e
tas às segmentações, os conflitos e os “buracos informática em saúde se consubstancia tanto a
estruturais” que esgarçam em pontos cruciais o partir de uma epistemologia que tenha por refe-
tecido social da saúde. O intercampo, conforme rencial a abordagem transdisciplinar, quanto da
proposto aqui, tem dois princípios de identifica- consolidação de um processo político-histórico
ção e definição de valor: um, que compartilha com de construção institucional, espaço portador de
os domínios que perpassa e interliga, identifica- potência e relevância: intercampo político-epis-
ção que nele se realiza com um certo grau de abs- temológico.
tração e generalização, por vezes como represen-
tação (neste caso, a saúde); outro, que lhe perten-
ce com caráter primário (neste caso, informação), Intercampo de informação e informática
mas à custa de ser formal, relacional e operatório, em saúde: domínio de saberes e ação
de tal forma que lhe seja possível perpassar, de política
modo permanente ainda que provisório e incom-
pleto, todas as fronteiras de interseção que lhe Para o Intercampo de Informação e Informática
coloque aquele outro princípio de identificação. em Saúde participar, em toda sua potencialidade
Para acompanhar aproximadamente o mo- e no mesmo patamar epistêmico e político, do
delo de Paim e Almeida Filho12 para a Saúde Co- enfrentamento da crise paradigmática da(s)
letiva, a indagação epistemológica, social e políti- Ciência(s) da Saúde pari passu com a ampliação
ca acerca da informação em saúde tem que refor- de seu uso no processo decisório pressupõe que
mular, num escopo e abrangência reticular e trans- as respostas a esses desafios se inscrevam na luta
disciplinar, as delimitações e interstícios das con- dos agentes coletivos, em uma ação política que
figurações segmentares e por vezes dissociadas com conquiste novas correlações de forças, resultan-
que se apresentam hoje as práticas, saberes e in- tes de novas relações de poder e produção de no-
formações em saúde. Entende-se que, sob a refe- vos saberes. Ação política que se materialize tan-
rência delimitadora do campo, se esboçam as fi- to no âmbito epistemológico, quanto na política
guras relacionais melhor compreendidas sob o de saúde (e como parte dessa na Política de C&T
conceito de redes21. em Saúde e Política de Informação e Informática
A valorização do ponto de vista dos partici- em Saúde), na gestão do SUS, conferindo à práxis
pantes, frente sua crescente substituição pelos de informação em saúde visibilidade e potência
empreendimentos dos poderes políticos e econô- de intervenção.
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ASSISTÊNCIA SIS
ADMINISTRAÇÃO EM SAÚDE SIS
REGULAÇÃO SIS
ASSISTÊNCIA INTERCAMPO DA
IIS INFORMAÇÃO E
ADMINISTRAÇÃO EM SAÚDE INFORMÁTICA
IIS EM SAÚDE
REGULAÇÃO
IIS
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
IIS IIS
RECURSOS HUMANOS
IIS
CONTROLE/AVALIAÇÃO IIS
PLANEJAMENTO
IIS IIS
VIGILÂNCIA SANITÁRIA
SAÚDE SUPLEMENTAR
IIS
ORÇAMENTO e FINANÇAS
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Moraes, I. H. S. & Gómez, M. N. G.
Uma estratégia como essa requer esforços con- a) Os espaços de pesquisa, de desenvolvimen-
tínuos e agentes vocacionados para tal, legitima- to tecnológico e de ensino no âmbito da Ciência e
dos institucionalmente. É nesse contexto que surge Tecnologia em Saúde e em Informação;
a necessidade de constituição de instância forma- b) Os espaços governamentais e de adminis-
lizada dedicada à informação e informática em tração pública no âmbito da saúde e no âmbito
saúde (IIS), conformando novas arenas e atores da informação e informática; e os espaços de
em uma ação política em forma de rede. Nesse empreendimentos econômicos e de administra-
processo, existem diferentes forças intervenien- ção privada da Saúde e da Informação, incluindo
tes, que se somam ou se conflitam, em uma in- suas tecnologias associadas – considerando tam-
tensa dinâmica de negociação a cada passo, a de- bém a computação e as telecomunicações); e
pender do momento histórico e/ou da agenda de c) Os espaços de conquista e exercício de cida-
atuação. É óbvio que as negociações já existem. dania: modos de vida & saúde, enquanto conjun-
Esse ensaio propugna a entrada nessa cena de to articulado das práticas da vida cotidiana9.
novos atores em novas arenas, revestindo de Com a preocupação de participar desse em-
maior visibilidade todo o processo que passa a preendimento coletivo, agregam-se ao exposto
pressupor maior mobilização social e política, anteriormente algumas iniciativas estratégicas
forjando uma rede complexa de poderes e sabe- para conferir maior visibilidade e mobilização
res que amplia a potência de intervenção no jogo social e política ao processo como um todo:
político. Identificação de centros de formação, pes-
De fato, a ação política voltada para a quisa e desenvolvimento tecnológico para o de-
(re)constituição do intercampo de informação e senvolvimento de uma Rede Nacional de Cen-
informática em saúde, para ser efetiva, precisa tros de Ensino e Pesquisa em Informação e In-
envolver (Figura 3): formática em Saúde voltada para um intensivo
Instâncias integradoras de
INTERCAMPO DA informação em saúde na
Instâncias da sociedade INFORMAÇÃO E estrutura organizacional
civil organizada: INFORMÁTICA
Conselhos de Saúde; EM SAÚDE
EMPREENDIMENTOS
Rádios Comunitárias;
ECONÔMICOS
Associações de Moradores etc.
E ADMINISTRAÇÃO PRIVADA
C&T EM SAÚDE
E
C&T EM INFORMAÇÃO
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