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A princípio, é observado uma certa dificuldade em se identificar o que é e o que não

é o direito propriamente dito, devido a situações em que o direito é visto fazendo o


que é justo para alguns, mas injusto para outros. Para se entender as definições
sobre o direito atual é necessário fazer uma viagem mental pelas vastas mudanças
na história. É visto a partir dos tempos modernos que o direito anteriormente não
era tratado de forma isolada e própria, mas sim atrelado a moral e a religião, e a
partir de novas estruturas sociais e econômicas, principalmente com o capitalismo,
foi necessário a especificidade da prática jurídica para reger esse novo sistema. É
exposto que o direito abrange quantitativamente várias áreas, como por exemplo a
área penal e a trabalhista, mas que ele age qualitativamente sobre cada uma
dessas áreas de modo extremamente específico, e que essa qualidade do direito é
o que caracteriza o fenômeno jurídico moderno. além disso, é mostrado que o
direito é tratado nos mais diversos assuntos, e que é preciso entender quais os
mecanismos e estruturas dão especificidade ao direito perante qualquer assunto. No
capitalismo há estruturas necessárias que conformam os indivíduos e suas
relações. Principalmente por causa da mercantilização das relações sociais e do
comércio que o direito se transformou em uma esfera social específica, estritamente
técnica. Observa-se que o capitalismo está intrinsecamente ligado ao direito,
portanto as relações sociais capitalistas são necessariamente relações jurídicas; no
capitalismo uns vendem e outros compram mercadorias, e essa relação comercial
só acontece se ambas as partes forem considerados sujeitos de direito, e essa troca
de direitos subjetivos e deveres é intermediada pela autonomia da vontade desses
sujeitos. Conforme Evguiéni Pachukanis, toda vez que se estabelece uma economia
de circulação mercantil um conjunto de formas sociais se estabelece e uma série de
ferramentas jurídicas precisa ser instituída em apoio a essa atividade mercantil.
Dado o regime capitalista que é regido impessoalmente pelo estado que determina
a produção e a circulação de mercadorias, formas sociais intrínsecas a o elemento
primário do capitalismo, que é a mercadoria, e uma tecnicidade do direito se fizeram
primordiais. O conceito de sujeito de direito é uma forma necessária ao tipo de
relação social capitalista que foi se forjando continuamente com a reprodução da
troca de equivalentes. É mostrado que quando todos são considerados iguais e
livres formalmente, é apenas um mecanismo para que todos sejam capitalistas ou
mão de obra explorada, e mesmo com tantas garantias dadas a essa mão de obra
não se elimina o fato que ele é um sujeito de direito tomado no sentido menos
humano da palavra: é mais alguém que pode explorar e ser explorado no sistema
de movimentação de capital. Portanto, como o capitalismo com o passar do tempo
vai tornando tudo em mercadoria, por sua vez as formas jurídicas modernas tomam
para si o controle de todas as relações sociais, e consequentemente como não há
lugar onde o capitalismo e suas práticas não cheguem, também não há local onde
não cheguem às modernas práticas jurídicas. A grande diferença entre as
sociedades é o quanto de proteção se dá aos trabalhadores no âmbito capitalista,
que não deixa a prática exploratória. Também é importante ressaltar que o direito
está presente na sua omissão, como no abandono das pessoas desamparadas, se
tratando de uma política jurídica de abandono. A totalidade dos fenômenos sociais é
abrangida pelo direito, como uma via de mão dupla o direito é abrangido por tais
fenômenos. De fato,o capitalismo impessoaliza a todos, torna o mundo um
movimento mecânico que gira apenas em prol da exploração do trabalho e em prol
dos lucros e quem garante essa impessoalidade capitalista é a própria
impessoalidade jurídica. O direito individualiza as subjetividades e sua sorte e
sustenta a apropriação privada e a divisão do mundo em classes. E as sociedades
do capitalismo, ao tornarem juridicamente a todos iguais, desprezam a todos e
fazem com que haja o domínio apenas de classes que detêm o capital. Por isso, o
fim do capitalismo seria a extinção do direito como uma forma social específica de
equivalência de trocas entre sujeitos de direito, e o fim da exploração social.

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