Resumo
A presente investigação parte do princípio de que a maioria dos países ainda não obteve êxito
em alcançar os padrões mínimos para colocar a profissão docente a altura da sua importância.
Diversas modificações têm sido realizadas, tanto em termos legais quanto em aumento da
discussão acerca de quais seriam as características que comporiam a formação ideal,
abrangendo desde estudos sobre o perfil dos estudantes que optam pela docência, quanto
trabalhos comparativos entre instituições formadoras, reflexões acerca do currículo. Essas
investigações apontam para permanência de preceitos neoliberais, a proliferação de cursos de
formação a distancia, bem como a dissociação entre teoria e prática pedagógica.
Considerando-se que para melhor analisar o presente, é necessário retomar o passado,
buscando desvendar aspectos positivos e negativos das práticas adotadas, optou-se por
realizar um exame teórico para nortear a compreensão da problemática que envolve a
formação docente no Brasil, possibilitando, ao presente estudo, analisar a evolução das
estratégias de formação de professores no Brasil e relacioná-la ao período histórico e as
políticas econômicas que influenciaram em diversas esferas a nossa sociedade. Considerando
as dificuldades na formação dos professores do Brasil, faz-se necessário a presente
investigação no sentido de desvendar as ações que permearam a preparação dos nossos
docentes no decurso da história. Para alcançar o objetivo proposto, utilizou-se a pesquisa
bibliográfica, apoiada em livros, revistas e artigos especializados, com base em Tanuri (2000),
Saviani (2011), Perrenoud (2002), Gatti (2009), Cunha (1985), Romanelli (1984), Freire
(2012), Tardif e Lessard (2005), Ribeiro (1986) e Gadotti (2004).
1
Mestrando em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Professor da SEED/PR e da prefeitura
municipal de Curitiba. E-mail: rudigbertotti@gmail.com.
2
Mestranda em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Pesquisadora da Fundação
Araucária. Professora do Núcleo de línguas da PUCPR e da SEED/PR. E-mail: gisele.rietow@pucpr.br.
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Introdução
formação dos cursos de licenciatura tem de se adaptar as novas demandas do século XXI, “a
formação não tem nenhum motivo para abordar apenas a reprodução, pois deve antecipar as
transformações (PERRENEOUD, 2002, p. 17)”, assumindo dessa forma o relevante papel que
o magistério deve exercer na sociedade.
Com a criação das escolas normais, a educação brasileira do século XIX concebeu as
primeiras iniciativas no que tange a formação docente no país. Estas instituições foram
pioneiras no que se refere à formação dos professores, responsáveis pela instrução dos
docentes que atuavam no ensino elementar. A primeira experiência ocorreu na província do
Rio de Janeiro com a criação da primeira escola normal brasileira, por meio da Lei nº 10, de
1835. Nas décadas seguintes, a prática foi reproduzida em várias outras províncias do país.
Não obstante, as escolas normais não lograrem êxito, seja por falta de engajamento de
uma população predominantemente agrária e marcada pela escravidão ou pela ausência de
interesse pelo magistério. O fato foi que a implantação das escolas normais não produziu os
resultados esperados, conforme argumenta Tanuri:
Pode-se pois dizer que nos primeiros 50 anos do Império, as poucas escolas normais
do Brasil, pautadas nos moldes de medíocres escolas primárias, não foram além de
ensaios rudimentares e mal sucedidos. Em 1867, Liberato Barroso, registrando a
existência de apenas quatro instituições desse gênero no país – no Piauí, em
Pernambuco, na Bahia e no Rio –, lamentava o fato de que,em virtude de suas
deficiências, “nenhum aproveitamento notável tinham elas produzido até então”, de
forma que a escola normal era ainda uma instituição “quase completamente
desconhecida” (apud Tanuri, 1979, p. 22).
Por outro lado, sob a influência do ideário iluminista, a educação brasileira passou a
assumir uma importância profícua nos anos subsequentes. Talvez pelo crescimento da camada
burguesa que percebia a necessidade de oferecer instrução mínima para a massa trabalhadora
(GADOTTI, 2004) ou pela ideia que a educação colaboraria com o desenvolvimento do país.
A crença de que “um país é o que a sua educação o faz ser” generalizava-se entre os
homens de diferentes partidos e posições ideológicas e a difusão do ensino ou das “
luzes”, como se dizia frequentemente nesse período, era encarada como
indispensável ao desenvolvimento social e econômico da nação (Barros, 1959, p. 23)
Contudo, desde o Império até a instauração da República, a instrução primária não era
centralizada, ficando sob a responsabilidade das províncias. O governo central ocupava-se do
ensino secundário e superior administrando o ensino primário somente no Distrito Federal.
Diante da ausência do governo central, os estados passaram a ser os protagonistas das ações
educacionais sob sua jurisdição. Em 1890 o estado de São Paulo iniciou uma ampla reforma
educacional alcançando ”avanços no que diz respeito ao desenvolvimento qualitativo e
quantitativo das escolas de formação de professores” (TANURI, 2000). Nesse contexto, havia
uma preocupação com a implantação do ensino graduado na Escola Normal, afinal, “a
condição prévia para a eficácia da escola primária é a adequada formação de seus
professores” (SAVIANI, 2011).
Considerando a reforma educacional concretizada em 1890, o modelo paulista que
estabelecia a instrução primária, a criação dos grupos escolares e a implantação das escolas
normais, se disseminou pelos outros estados da república. Inclusive, as modificações
substanciais que o governo do estado executava no setor educacional, como, por exemplo, a
instrução primária que fora dividida em duas partes: elementar e complementar com duração
de oito anos no total, sendo o ensino complementar uma preparação para o ingresso na escola
normal que passaria a ser dividida em ciclos. Esta alteração irradiou-se por outros estados da
nação, influenciando em 1923 o educador Lysimaco Ferreira da Costa no estado do Paraná,
que separou a escola normal, em dois cursos: o fundamental com duração de três anos e o
profissional com duração de três semestres (TANURI, 2000) .
No decorrer dos anos as escolas normais passariam a oferecer cursos de cinco anos
com fortes influências escolanovistas. Esta nova tendência se enraizaria em todas as esferas
da educação brasileira, oferecendo uma nova forma de enxergar as questões educacionais e a
formação do professor, iniciando um novo período educacional no país.
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Para iniciar este item entende-se pertinente a colocação de Saviani (2011, p. 34) a
respeito da não criação de uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação após o golpe civil-
militar de 1964: “[...] dado que o golpe visava garantir a continuidade da ordem
socioeconômica que havia sido considerada ameaçada no quadro político presidido por João
Goulart, as diretrizes gerais, em vigor, não precisavam ser alteradas”. Nesse sentido, bastava
ajustar a organização da educação, o que se concretizou por meio do decreto das leis Nº
5540/68 (reforma universitária) e Nº 5692/71 (reforma do ensino de 1º e 2º graus).
A Reforma Universitária, por meio das medidas da Lei N o 5540 de 28 de novembro de
1968, alterou de forma profunda as estruturas da educação superior no país. O ensino passou
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ser ministrado preferencialmente nas universidades, salvo alguns casos isolados, ao passo que
a menor fração da estrutura universitária passou a ser o departamento que reunia as disciplinas
afins. Neste contexto, o governo extinguiu as faculdades e as reagrupou na universidade por
meio da federalização, desta forma foi eliminada a duplicação de meios para os mesmos fins,
como por exemplo: laboratórios e bibliotecas.
Para solucionar o problema da duplicação o governo criou departamentos para áreas
de conhecimentos afins, reunindo os profissionais por área congruente. Desta forma o
estudante de Pedagogia, que possuía em sua grade curricular a disciplina de Estatística, assim
como o discente de Engenharia civil, deveriam se dirigir ao departamento de matemática
aplicada para assistir a aula. Formando turmas “enormes” que prejudicavam o rendimento dos
alunos, mas que barateavam os custos com professor, apesar dos péssimos resultados
pedagógicos.
Contudo, a departamentalização inviabilizou a transição dos estudantes pelos
departamentos da universidade e, para solucionar o problema, o governo instituiu o método de
créditos. Importado das universidades americanas, o sistema preconizava que os estudantes
deveriam acumular os créditos necessários para a conclusão da graduação. Desconstruindo
dessa forma a integração estudantil, pois essa organização foi o responsável pela dissolução
das turmas, o que contribuiu para o enfraquecimento do movimento estudantil.
Entretanto, outro ponto que mereceu relevância e que era uma reivindicação de alguns
setores acadêmicos, foi a extinção da cátedra vitalícia. A reforma universitária extinguiu o
regime de cátedra, que por um lado afastou professores que não contemplavam a pesquisa,
mas em contrapartida desmantelou instituições e áreas acadêmicas que obtiveram sucesso
com o regime de cátedra como afirma Cunha (1985, p. 86):
Foi o caso das Faculdades de Medicina, para falar numa área acadêmica. Foi o caso,
também, da Universidade de São Paulo, para falar numa instituição especifica, que
teve em seus quadros professores catedráticos da maior competência. A “escola” de
Sociologia que se desenvolveu na USP, gérmen da fértil produção brasileira e latino-
americana, não foi barrada nem distorcida pelo regime de cátedras.
Considerando o teor dos referidos textos nota-se uma exígua exigência no que refere à
formação mínima dos professores. Podemos apontar que essas exigências legais foram
reflexoda emergência em suprir as novas demandas educacionais, que surgiam por conta de
intensos movimentos migratórios e da necessidade da expansão da instrução oferecida a
população. Isso não a eximiu do caráter técnico que permeou sua essência, e que embora não
de forma determinante, influenciou os diferentes formatos de preparar os professores para o
exercício do magistério.
Considerações Finais
(SILVA, 2001, p.329). Em termos educacionais, isso significa compreender que os dilemas da
educação emergiram a partir da relação não só de questionamentos e novos paradigmas da
área, mas da sua relação com o modo de produção econômico.
REFERÊNCIAS
________. Lei n. 5692 de 11 de agosto de 1971. Fixa as diretrizes e Bases para o Ensino de 1º
e 2º Graus e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 11 ago. 1971.
CUNHA, Luiz Antonio; GÓES, Moacyr de. O golpe na educação. Rio de Janeiro: J. Zahar,
1985.
GADOTTI, Moacir. História das ideias pedagógicas. São Paulo: Editora Ática, 2004.
SILVA, Maria Abádia da. A questão docente nas políticas públicas. In: Cunha, Célio da;
SOUSA, José Vieira de; SILVA, Maria Abádia da. Políticas públicas de educação na
América Latina: lições aprendidas e desafios. Campinas, SP: Autores Associados, 2001, p.
325 - 354.
TANURI, Leonor M.. O ensino normal no estado de São Paulo: 1890-1930. São Paulo:
Faculdade de Educação da USP, 1979.
TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência
como profissão de interações humanas. Petropólis: Vozes, 2005.