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1 TESE GUIA: LUTA SAÚDE

2 (Sistematização)
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4 CONJUNTURA
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6 (I) Emergiu um novo período histórico no Brasil com a reação da classe
7 dominante brasileira ao não reconhecer o resultado eleitoral de 2014, processo
8 esse continuado com o golpe de Estado em 2016 – impedimento da presidenta
9 Dilma Rousseff sem que houvesse crime de responsabilidade –, sua sequência
10 com a condenação, prisão e interdição da candidatura de Lula da Silva à
11 presidência da República em 2018 e sua consolidação com a vitória de Jair
12 Bolsonaro no mesmo ano.
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14 (II) Desde o início, o governo Bolsonaro vem avançando célere para concretizar
15 os interesses de amplos setores da classe dominante brasileira, e de seus aliados
16 internos e internacionais, buscando radicalizar características históricas da
17 sociedade brasileira, em relação às quais sempre houve luta e resistência, quais
18 sejam: a brutal desigualdade social, a limitação da democracia, a dependência
19 externa e o desenvolvimento conservador que concentra riqueza e poder nas
20 mãos de ínfima parcela da sociedade.
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22 (III) Ou seja: trata-se de um governo ventríloquo de setores que são
23 conspiradores históricos contra os interesses populares, as riquezas do país, a
24 soberania nacional e as liberdades democráticas, os quais, hoje, estão
25 pavimentando grandes alamedas que podem destruir irreversivelmente o Brasil.
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27 (IV) Por isso não basta derrotar o governo Bolsonaro. É fundamental derrotar a
28 sua política para colocar no lugar um programa de reconstrução e transformação
29 nacional que garanta:
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31 • a soberania nacional;
32 • o desenvolvimento econômico que expanda sobremaneira a industrialização do
33 país;
34 • o bem-estar para toda a população brasileira e os direitos sociais do nosso povo,
35 entre eles o direito social à saúde consubstanciado na existência do Sistema
36 Único de Saúde (SUS) público, estatal, universal, sem cobranças adicionais
37 diretas ao usuário;
38 • liberdades efetivamente democráticas para o conjunto da população brasileira,
39 criando-se, assim, condições para o povo decidir os rumos do Brasil.
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41 (V) Destacamos: com mais de 600 mil mortos, o Brasil continua sendo o epicentro
42 da pandemia de Covid-19 na América Latina, tendo o terceiro maior número de
43 casos no mundo e a maior taxa diária de mortes, mesmo sem considerar a
44 subnotificação.
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46 (VI) Bolsonaro promoveu uma política genocida – capturando o Ministério da
47 Saúde, negando a pandemia, sabotando a vacina, propagando e adotando
48 tratamentos sem comprovação científica – razão suficiente para exigir seu
49 impeachment e de Mourão no Congresso Nacional, como também sugerem os
50 indícios de corrupção na CPI da Covid-19 no Senado.

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52 (VII) Caberá ao campo democrático, popular e socialista a tarefa de colocar o
53 povo na rua com apoio das redes sociais para derrotar esse governo neofascista
54 e ultraliberal, que ataca as liberdades democráticas e os direitos sociais;
55 aprofunda a desigualdade, a pobreza, o desemprego e a fome; subordina a
56 soberania nacional aos interesses geopolíticos do Estados Unidos; e amplia a
57 dependência externa e o subdesenvolvimento do país.
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59 (VIII) Não se pode naturalizar o alto número de internações e mortes,
60 consequências do novo coronavírus e suas variantes. Em defesa da vida, da
61 democracia e do SUS, o Partido dos Trabalhadores (PT) joga um papel decisivo
62 para superar esse cenário regressivo. O Plano de Reconstrução e Transformação
63 do Brasil contém diretrizes estratégicas, que podem nos permitir elaborar um
64 programa mínimo com contribuições do Conselho Nacional de Saúde, do
65 Movimento da Reforma Sanitária Brasileira e da Frente pela Vida, bem como de
66 partidos de esquerda e dos movimentos sindical e popular. A unidade da
67 esquerda em torno dessa política favorecerá a mudança da correlação de forças
68 na sociedade, pautada pelo caráter efetivamente único, estatal, público,
69 universal, integral e equânime do SUS.
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71 (IX) Essa questão precisa ser compreendida e tratada de forma estratégica pela
72 direção do partido. A pandemia colocou o SUS no centro da conjuntura. A
73 flexibilização das regras fiscais ano passado mostrou que o país não está
74 quebrado. Fortalecer o Estado para atender as necessidades de saúde da
75 população deve ser um eixo fundamental na disputa institucional e na luta de
76 massas. Orientar nossa militância nos conselhos de saúde para combater sem
77 trégua o governo Bolsonaro e seu ministro da saúde é fundamental para mobilizar
78 a população e disputar hegemonia na sociedade com os neofascistas e os
79 neoliberais.
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81 (X) Ninguém melhor que o Setorial Nacional de Saúde para mostrar o valor
82 universal da seguridade social e da saúde pública no PT, tendo como objetivo
83 mitigar as consequências do neoliberalismo com mãos de ferro e da própria
84 pandemia junto às classes populares, que não se resumirão aos anos de 2020 e
85 2021.
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87 SUS: UM PROJETO EM DISPUTA
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89 (XI) Com o desfinanciamento decorrente da Emenda Constitucional nº 95/2016,
90 aprofundou-se sobremaneira o histórico bloqueio ao suficiente financiamento
91 federal do Sistema Único de Saúde, patrocinado pela classe dominante brasileira
92 desde o nascedouro do sistema para dificultar a implantação plena do SUS.
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94 Face ao desfinanciamento, o movimento de privatização e a desmobilização do
95 controle social do Estado, o SUS – idealizado por decorrência das ações e
96 reflexões dos atores do Movimento da Reforma Sanitária, fortalecido e
97 organizado em seus princípios na 8ª Conferência Nacional de Saúde –, criado na
98 Constituição de 1988, está há anos sob fogo cruzado, sem avançar na sua
99 consolidação como sistema efetivamente único e estatal, tendo agravada sua
100 crise desde o golpe contra a Dilma e o PT em 2016.

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102 (XII) O SUS é um patrimônio da luta do povo brasileiro. Levando em conta a
103 determinação social da doença e o conceito ampliado de saúde, a reforma
104 sanitária já nos ensinou que os problemas clínicos e epidemiológicos decorrem
105 em boa medida do modo de vida e das desigualdades reproduzidas pelo
106 capitalismo. Não se pode desconhecer, entretanto, que parte de seus problemas
107 de legitimidade deriva de seus problemas crônicos de financiamento e da
108 presença do mercado de serviços de saúde dentro e fora do SUS.
109 Outra parte decorre, por opção política, do não planejamento e execução para
110 efetivar de forma planejada a estrutura pública necessária à execução de seus
111 propósitos, no que se refere a edificações, recursos materiais e recursos
112 humanos.
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114 (XIII) Nesses 33 anos, apesar da saúde ser um direito de todos e um dever do
115 Estado, se, de um lado, as forças democráticas e populares apostaram no
116 alargamento do SUS, inclusive em cidades dirigidas pelo PT, de outro lado, o
117 sistema sofreu ataques do poder econômico, da mídia corporativa e do setor
118 privado da saúde, que se opõem à sua plena consolidação desde a sua criação.
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120 (XIV) Na década de 1990, a onda neoliberal não impediu o processo de inclusão
121 social estimulado pelo SUS, que adquiriu capilaridade em todo território nacional.
122 Nesse curto período, foi evidente o impacto positivo nos indicadores de saúde,
123 tais como: redução da mortalidade infantil, da mortalidade materna, da
124 mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, bem como o aumento da
125 esperança de vida ao nascer da população.
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127 (XV) Esses avanços se consolidaram em nossos governos, no entanto, a
128 estabilização do financiamento do SUS em relação a um patamar do PIB, bem
129 menor que o desejável, especialmente se comparada a proporção entre gasto
130 público e privado com saúde. Também não foram consolidados e integrados
131 sistemas transparentes que possibilitassem um gerenciamento adequado dos
132 recursos investidos, de forma a conhecer de forma integrada e em plataforma
133 inteligente e única as destinações dos recursos, a consolidação dos seus objetos
134 e a produção de seus serviços. Não houve sistemas adequados de auditoria e
135 controle no âmbito do SUS.
136
137 (XVI) Com a introdução da Emenda Constitucional nº 95/2016, esse quadro muda
138 totalmente de figura. Está em curso um verdadeiro desmonte do padrão de
139 financiamento das políticas públicas, que tinha sido inaugurado pela Constituição
140 Federal de 1988 e impulsionado pelo partido, abrindo um processo violento de
141 desfinanciamento do SUS, ao congelar por 20 anos os gastos sociais e os
142 investimentos públicos.
143
144
145 FORTALECER O ESTADO E O SUS
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147 (XVII) Sem democracia, sem emprego e direitos sociais, o Brasil não supera o
148 caos provocado pelos neofascistas e neoliberais. Na verdade, além de melhorar
149 os indicadores epidemiológicos, a política de saúde poderia, a um só tempo,
150 combater o desemprego e a desigualdade, contribuindo para o crescimento

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151 econômico e a desconcentração de renda, em um novo ciclo de desenvolvimento
152 inclusivo com sustentabilidade ambiental.
153
154 (XIX) Em plena pandemia, por exemplo, o mercado não fabricou luvas, nem
155 seringas, tampouco agulhas e kit de testes em quantidade suficiente para que
156 pudéssemos combater a pandemia. Em nome da soberania sanitária, fica
157 evidente o caráter estratégico do SUS para o desenvolvimento nacional, seja pela
158 sua capacidade de promoção do bem-estar social, ressaltando necessidade de
159 implementar e dinamizar os complexos econômico-industriais produtivos em
160 saúde locais, regionais e nacionais.
161
162 (XIX) Para garantir perante a sociedade brasileira o futuro do SUS, o PT deve
163 manifestar publicamente seu compromisso contra a privatização do sistema de
164 saúde e contra as diversas formas de mercantilização no seu interior, com a
165 reversão gradual, organizada e acelerada da privatização até então resistente,
166 criando as bases econômicas e institucionais para a reconstrução do Estado. Boa
167 parte de seus problemas de gestão decorrem do seu sucateamento e sob
168 controle social o Estado deve privilegiar a progressiva e definitiva alocação de
169 recursos financeiros para a administração pública direta e indireta, como reza a
170 Lei nº 8080/1990, até efetivamente os recursos públicos serem investidos de
171 forma planejada apenas nas instituições públicas estatais, ficando a compra de
172 serviço privado complementar destinada para as necessidades imprevistas e
173 emergenciais.
174
175 (XX) Destacamos as questões nacionais de fundo para a sustentabilidade e o
176 futuro do Sistema Único de Saúde que devem ser enfrentadas por um governo
177 de reconstrução e transformação nacional:
178
179 (XXI) Estancar e reverter toda sorte de privatização direta ou indireta do Sistema
180 adotada pelo Ministério da Saúde e pelas Secretarias Estaduais e Municipais de
181 Saúde, porque:
182
183 • os processos de privatização direta ou indireta, inclusive da gestão, que foram
184 se amiudando no SUS nos últimos 20 anos, tornaram-no mais custoso ao Erário
185 Público do que se fosse operado exclusivamente pelo Poder Público;
186 • do ponto de vista da gestão do cuidado fornecido às pessoas e da multiplicidade
187 de serviços prestados aos cidadãos e às cidadãs que envolvem o cuidado às
188 pessoas, tornaram-no incontrolável;
189 • existem evidências sólidas, extraídas da experiência internacional, sobre o
190 modo mais efetivo para organizar a saúde, ou melhor, Sistemas públicos e
191 nacionais têm melhor desempenho que modelos privados;
192
193 (XXII) Impõe-se que a União e todos os Estados da Federação (re) assumam
194 protagonismo maior e de novo tipo no Sistema, dando um basta ao sacrifício que
195 se impôs historicamente às municipalidades e, assim, garantindo a efetiva
196 integração sanitária sistêmica entre os entes federados e a natureza nacional do
197 SUS.
198
199 (XXIII) Múltiplos fatores na evolução histórica do SUS determinaram a
200 fragmentação do Sistema em redes de unidades de saúde dos entes federados

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201 – Municípios, Estados, Distrito Federal e União – em função das Secretarias
202 Estaduais de Saúde e o Ministério da Saúde não terem conseguido integrar o
203 aparato sanitário nacional ao longo do tempo. Tal fragmentação é aprofundada
204 pela existência de:
205
206 • múltiplas lógicas organizativas no Sistema (administração direta e indireta,
207 contratos e convênios, organizações sociais – OS e outros);
208 • relação existente entre hospitais e ambulatórios privados e filantrópicos e o
209 SUS, há décadas, sobre os quais os gestores públicos têm baixa capacidade de
210 controle e governabilidade;
211 • crescente – e destrutiva! – privatização da gestão de serviços e de redes de
212 unidades de saúde municipais e estaduais, criando-se nos territórios de entes
213 federados gestores privados com poder e autonomia para definir política de
214 pessoal, estratégias de cuidado de usuários, entre outros.
215
216 (XXIV) Uma nova institucionalidade para o SUS, o que pressupõe lutar pela
217 organização e a operacionalização do SUS a partir das 438 Regiões de Saúde
218 existentes no país – processo denominado regionalização previsto na
219 Constituição Federal de 1988 –, buscando superar a fragmentação e garantir a
220 integração sanitária do Sistema.
221
222 (XXV) O processo de regionalização demanda o forte protagonismo das
223 Secretarias Municipais de Saúde, das Secretarias Estaduais de Saúde dos
224 Estados da Federação e a do Distrito Federal, compartilhado necessariamente
225 com o Ministério da Saúde, tratando-se de gestão compartilhada pelos entes
226 federados cuja institucionalização requer aprovação de lei federal específica;
227
228 (XXVI) Criação de Carreira Única do SUS nacional e interfederativa, com perfil
229 multiprofissional, contemplando todas as profissões e ocupações existentes no
230 Sistema, cujo concurso de ingresso tome como referência territorial o Estado da
231 Federação e que, na sua estruturação, possibilite a adesão de funcionários
232 municipais, estaduais e federais.
233
234 (XXVII) Ressaltamos que, ainda que um processo de transformação do Brasil
235 pressuponha mudar a essência da chamada lei de responsabilidade fiscal (LRF)
236 no sentido de substituí-la por legislação de responsabilidade social, em caráter
237 emergencial é necessário lutar para que sejam retirados os funcionários da área
238 da saúde – Municípios, Estados, Distrito Federal e União – da base de cálculo da
239 chamada LRF, porque a área da saúde é intensiva no emprego de mão-de-obra,
240 além de também ter atribuições de fiscalização e controle que lhes são próprias
241 e são destinadas a preservar a saúde e a vida das pessoas.
242
243 (XXVIII) É preciso, igualmente, conhecer e eliminar os fatores que causam as
244 doenças, sendo hoje os principais determinantes a superexploração do trabalho,
245 a desigualdade, a pobreza, a fome, o desemprego, a violência, o analfabetismo
246 e a destruição do meio ambiente. É preciso água de qualidade, saneamento
247 básico em cada moradia, alimento sem veneno em toda mesa e transporte
248 público adequado para todas e todos.
249

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250 (XXIX) Esse conjunto de medidas representa um desafio gigantesco, mas com o
251 apoio das frentes populares estariam reunidas condições mais favoráveis para a
252 realização dessas reformas estruturais. É uma tarefa extraordinária, mas possui
253 um ponto de apoio importante na cultura socialista: o debate em torno da
254 transição passa pela aplicação de certo capitalismo de Estado, que valorize a
255 solidariedade entre as nações, a função social da propriedade, o planejamento e
256 o mercado interno, desprivatizando o fundo público e incorporando a sociedade
257 civil autenticamente representativa, consciente e organizada no processo
258 decisório governamental.
259
260 (XXX) A saúde é um elemento decisivo para ampliar o grau de consciência da
261 classe trabalhadora e dos assalariados na luta contra a extrema direita e o capital
262 financeiro. Esse deslocamento nos reaproxima da nossa base social, contribui
263 para nos tirar da crise e nos fortalece contra a hegemonia conservadora e
264 reacionária.
265
266 (XXXI) No plano da luta política, ideológica e cultural, quanto à relevância
267 estratégica da saúde para a perspectiva da luta pelo socialismo no país, o Partido
268 dos Trabalhadores deve instituir organizada e sistematicamente discussões
269 teóricas de fundo, que levem em conta na sua concepção e na sua execução a
270 diversidade de formulações teóricas hoje existente no Partido, e que tenham
271 como público alvo quadros políticos do aparelho partidário e os que ocupam
272 funções dirigentes nas Administrações Públicas e Parlamentos das três esferas
273 de poder.
274
275
276 O SUS E O ESTADO DE SÃO PAULO
277
278
279 No estado de São Paulo há um certo reconhecimento de que há na Secretaria
280 Estadual de Saúde (SES) uma equipe técnica competente e que conhece o SUS.
281 Talvez pelo grande período dos tucanos na gestão, desde 1995, essa equipe não
282 tem sofrido grandes mudanças, ressaltados os quadros de primeiro escalão como
283 secretário estadual e diretores mais próximos. Sabidamente são alvo de disputas
284 políticas regionais os diretores das Diretorias Regionais de Saúde (DRS),
285 instâncias administrativas da SES. Nessas, é frequente a troca a partir da maior
286 influência de deputados (as) da região e de apadrinhados do governador em
287 exercício.
288
289 Também nas DRS há profissionais de carreira comprometidos e que se esforçam
290 muito para ser referência e suporte para os municípios menores, nessa instância
291 não há reposição de pessoal e as equipes estão envelhecidas e cansadas. Há
292 anos não há concurso público e os mais antigos não se aposentam por perderem
293 financeiramente pois há vários abonos e “prêmios” que não são incorporados ao
294 salário por ocasião da aposentadoria.
295
296 Mesmo com essas considerações sobre um corpo técnico qualificado no nível
297 central e regional da SES, é importante destacar nossas maiores divergências:
298 membros do primeiro escalão e dos níveis intermediários de gestão entendem a
299 terceirização do SUS e a entrega de serviços as OSs como “fazer parcerias”.

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300 Estes serviços, AMES e Hospitais regionais sob gestão de OS não reconhecem
301 a diretriz do controle social e praticamente nenhum deles, distribuídos pelo
302 estado, organizam conselhos com participação de usuários. Também há muita
303 dificuldade de se integrarem às redes municipais, de reconhecerem a legitima
304 submissão aos Conselhos Municipais de Saúde e a autoridade da gestão dos
305 municípios onde se localizam atuando sempre ao largo dessas.
306
307 Uma segunda divergência diz respeito a ausência da SES em políticas que
308 deveriam ser financiadas de forma tripartite. Os exemplos mais graves dessa
309 ausência estão na Rede de Atenção Psico Social (RAPS) e no financiamento dos
310 SAMUs.
311
312 Ainda outro ponto de discordância está no papel da SES para as regiões de
313 Saúde. O processo de regionalização em São Paulo, se deu inicialmente por
314 iniciativa do COSEMS em 2006 conforme diretrizes do Pacto pela Saúde
315 desencadeado pelo Ministério da Saúde pouco valorizado na época pela SES. A
316 regionalização se concretizou finalmente com a deliberação CIB 153/2007
317 aprovada de forma bipartite pelos secretários municipais e pela gestão da
318 secretaria, referendada e atualizada em 2012 pela deliberação CIB n° 64 de
319 20/09/2012 definiu 63 regiões de saúde e criou 17 Redes Regionais de Atenção
320 à Saúde (RRAS) no estado de São Paulo.
321
322 A SES nunca assumiu política e financeiramente a importância de ter essas
323 regiões para que acontecesse de forma real a integralidade do sistema e o
324 funcionamento das Redes Regionais de Atenção à Saúde. Essa ausência de
325 coordenação política fez com que as regiões sofressem com o predomínio de
326 governos municipais dos municípios maiores que ora reconheciam dever
327 responder, pelas regras da regionalização, às necessidades dos munícipes das
328 menores cidades, ora faziam dos serviços localizados em suas cidades moedas
329 de trocas e conchavos partidários, em especial respondendo aos serviços do
330 setor privado, contratados e conveniados que raramente se pautavam, e se
331 pautam, pela legislação do SUS.
332
333 Qualquer gestão do PT seja estadual ou municipal, deve conhecer esse cenário;
334 se estadual, assumir a coordenação política e a importância das Regiões de
335 Saúde e se municipal fortalecer essa instância diminuindo a diferença e a
336 desigualdade de acesso para moradores dos diversos municípios, sejam grandes
337 ou pequenos, mais ricos ou menos, governados ou não por partidos aliados.
338
339
340 PROPOSTAS
341

342 GERAL
343
344 1. Tributar os super-ricos, a partir de leis tributárias que isentam os mais pobres
345 e as pequenas empresas, fortalecem estados e municípios, geram acréscimo na
346 arrecadação estimado em R$ 292 bilhões e incidem sobre as altas rendas e o
347 grande patrimônio, onerando apenas os 0,3% mais ricos.
348

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349 2. Posicionamento radicalmente contrário ao Projeto de Emenda Constitucional
350 nº 32 de 2020 (PEC nº 32/2020) que descontrói a administração pública.
351
352 3. Fomentar política industrial para incrementar o complexo econômico-industrial
353 da saúde, gerando empregos inclusive a partir do perfil de oferta do SUS.
354
355 4. Desonerar tributos de bens e serviços de primeira necessidade da população,
356 mudando o perfil da isenção fiscal do governo federal.
357
358 5. Instituir Programa de Renda Básica Universal.
359
360 6. Garantir incentivos creditícios e fiscais à agricultura familiar e a reforma agrária.
361
362 7. Promover e planejar a integração de políticas públicas nas cidades, pautadas
363 pelo modo petista de governar, garantindo acesso a bens e serviços públicos para
364 todas e todos, garantindo uma efetiva reforma urbana.
365
366 COVID-19
367
368 1. Combater o represamento das verbas extraordinárias a serem utilizadas no
369 combate à pandemia, sem a devida distribuição desses recursos aos estados e
370 municípios
371
372 2. Denunciar em cada ente da federação qualquer crime contra a saúde pública
373 por irresponsabilidade sanitária no enfrentamento da pandemia da Covid-19
374
375 3. Defender a transparência e o controle do gasto público em saúde, acrescido
376 da liberação de recursos para a manter milhões de desempregados (as) e
377 subempregados (as), mediante a orientação, sempre que necessário, de
378 isolamento social durante a pandemia.
379
380 4. Dinamizar o complexo econômico-industrial da saúde para atender ao
381 suprimento de testes diagnósticos, de equipamentos de proteção individual
382 (EPIs), medicamentos, em particular vacinas e insumos para enfrentar a
383 pandemia.
384
385 5. Proteger todos (as) trabalhadores(as) de serviços essenciais, que sofrem com
386 a insuficiência de EPIs, de orientações de proteção às suas famílias, de desprezo
387 às condições dos transportes coletivos, o combate e denúncia da subnotificação
388 de casos por indisponibilidade de testes diagnósticos, o que leva à dificuldade de
389 planejamento nos locais de combate à pandemia, assim como dificulta o
390 planejamento de retorno ao convívio social.
391
392 6. Incorporar suficientemente as Equipes de Saúde da Família nas ações de
393 combate à covid-19, por meio de ações educativas, para prevenir o aumento de
394 casos de infecção e para cuidar dos pacientes, em nível domiciliar e nas unidades
395 de saúde, o que poderia diminuir o número de internações.
396
397 SAÚDE
398

8
399 1. Aprovar a PEC nº 36/2020, apresentada no Senado Federal, que revoga a
400 Emenda Constitucional nº 95/2016 e estabelece regras fiscais compatíveis com
401 um novo modelo de financiamento do SUS e a geração de emprego, renda e
402 inclusão social.
403
404 2. Implantar piso emergencial do SUS para ampliar os recursos para as ações e
405 serviços públicos de saúde de maneira sustentada e permanente.
406
407 3. Eliminar o parasitismo do mercado sobre o SUS, para reduzir os gastos dos
408 trabalhadores e dos empregadores com bens e serviços privados de saúde,
409 revogando a internacionalização da saúde, regulando a indústria farmacêutica,
410 os planos empresariais de saúde, os hospitais privados e a medicina liberal.
411
412 4. Valorizar a Estratégia de Saúde da Família, revogando a Portaria MS nº
413 2.979/19 do Ministério da Saúde, que substituiu o modelo de financiamento da
414 atenção primária com o objetivo de estabelecer mecanismos conveniais e
415 privatizar o SUS, bem como extinguir a Agência de Desenvolvimento da Atenção
416 Primária em Saúde.
417
418 5. Lutar para operacionalizar o SUS por meio das Regiões de Saúde, organizando
419 tais regiões nos estados, como previsto na Constituição Federal de 1988 e no
420 decreto nº 7.508/2011, buscando superar a fragmentação e efetivar a integração
421 sanitária do SUS, apoiada na gestão compartilhada dos entes federativos.
422
423 6. Adotar a Carreira nacional do SUS de base federal para todas as categorias,
424 que seja única, multiprofissional e interfederativa com cogestão regionalizada, a
425 partir de norma pactuada no plano administrativo e financeiro entre o SUS e os
426 entes da federação. Estabelecer o Plano de Carreira Nacional para todos os
427 Trabalhadores e Trabalhadoras da Saúde, com condições dignas, salários dignos
428 e desprecarização definitiva das condições do trabalho em saúde.
429
430 7. Universalizar a atenção básica garantindo que toda a população brasileira
431 tenha equipe de atenção básica de referência, incluindo agentes comunitários e
432 saúde bucal, com unidades públicas que possuam infraestrutura física e
433 tecnológica adequadas, com um número de pessoas adscritas segundo
434 parâmetros pactuados, bem como com condições de trabalho adequadas aos
435 profissionais de saúde, recomposição das equipes profissionais mediante
436 realização de concurso público anual, necessária à continuidade dos serviços.
437
438 8. Ampliar assistência farmacêutica no SUS, estabelecendo política de fomento
439 e valorização da produção de medicamentos na rede de laboratórios oficiais,
440 estabelecidos em todos os estados da federação, bem como a aquisição de
441 medicamento a base de canabidiol.
442
443 9. Aprovar Lei de Responsabilidade Sanitária no Congresso Nacional para coibir
444 crimes praticados na saúde pública e aprovar lei para normatizar a autonomia
445 administrativa e financeira dos gestores locais do SUS
446

9
447 10. Viabilizar a universalidade e integralidade do SUS com excelência, na
448 totalidade dos serviços necessários em todos os níveis de complexidade, com
449 ênfase na atenção primária em saúde, vigilância em saúde (sanitária e
450 epidemiológica) e a efetivação de redes de atenção à saúde, levando-se em
451 conta as especificidades das autoridades sanitárias regionais.
452
453 11. Priorizar implantação da Política de Saúde do Trabalhador do SUS, com a
454 inclusão do atendimento de urgência e emergência, ambulatorial, diagnóstico
455 precoce, o tratamento, a recuperação e a reabilitação das trabalhadoras e
456 trabalhadores, que apresentarem agravos relacionados ao trabalho como
457 enfermidades, acidentes de trabalho e intoxicações.
458
459 12. Priorizar a implementação no SUS da Política Nacional de Saúde do
460 Trabalhador voltada para o conjunto do mundo do trabalho, nas dimensões
461 individual e coletiva, objetivando o diagnóstico precoce, o tratamento, a
462 recuperação e a reabilitação dos trabalhadores e das trabalhadoras que
463 apresentarem agravos relacionados ao trabalho como enfermidades, acidentes
464 de trabalho e intoxicações, bem como a fiscalização dos ambientes, condições e
465 processos de trabalho.
466
467 13. Os hospitais universitários e as unidades de saúde que tratam do nível
468 secundário e terciário devem retomar o protagonismo na área assistencial,
469 científica e tecnológica para garantir que os avanços institucionais do SUS
470 possam objetivamente melhorar as condições de atenção à saúde das camadas
471 populares e médias da sociedade brasileira.
472
473 14. Defender a Reforma Psiquiátrica e fortalecer as diretrizes da luta
474 antimanicomial, a redução de danos e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS)
475 pública e toda a rede de cuidado integral de base comunitária, em observância a
476 Lei 10.216/2001 e as políticas de direitos humanos, opondo-se a todas as formas
477 manicomiais segregadoras, como as comunidades terapêuticas e a outros tipos
478 de organização de serviços, promovendo abertura de leitos integrais e atenção à
479 crise nos hospitais gerais.
480
481 15. Fomentar os cursos da área da saúde para formar profissionais capazes de
482 implementar o modelo de atenção à saúde consonante com os princípios da
483 Reforma Sanitária, bem como constituir plano de educação permanente em
484 saúde e educação continuada para promover a atualização e capacitação dos
485 profissionais de saúde, utilizando dos meios que possibilitem amplo acesso sejam
486 presenciais e/ou virtuais.
487
488 16. Promover a saúde em unidades públicas estatais em todos os níveis de
489 complexidade, mediante um processo gradual de adequação físico estrutural e
490 de profissionais com carreira pública nacional, implementando políticas efetivas
491 de reversão da privatização com estratégia programada para 4 anos.
492
493 17. Implementar políticas nacionais transversais induzidas pelo Estado para
494 consolidar os complexos médico-industriais em saúde, com definição das
495 prioridades e de orçamento, de forma a contemplar e maximizar as

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496 potencialidades naturais e econômicas regionais, para a produção em saúde que
497 se fizer necessária ao país.
498
499 18. Conhecer as necessidades locais, regionais e nacionais de todos os serviços
500 de média e alta complexidade, fazer o levantamento das necessidades em cada
501 esfera e local, planejar e executar a oferta de toda estrutura necessária mediante
502 a construção de complexos de saúde para diagnóstico, tratamento, reabilitação,
503 através de unidades de exames diagnósticos, hospitais, unidades de tratamento
504 especializado e reabilitação de alta complexidade.
505
506
507 PT - SETORIAL NACIONAL DE SAÚDE
508
509 1. Defender a criação da Secretaria Nacional de Saúde junto à Comissão
510 Executiva Nacional.
511
512 2. Fortalecer a participação de petistas nos Conselhos de Saúde, sem qualquer
513 tipo de aparelhamento, fortalecendo a participação social, a educação política de
514 conselheiros e conselheiras e apoiando o espírito combativo, mas respeitando a
515 autonomia da militância petista que atua nos movimentos sociais da saúde.
516
517 3. Construir coletivamente o programa de governo na área da saúde nas eleições
518 presidenciais de 2022.
519
520 4. Atuar em conjunto com o Núcleo de Apoio de Políticas Públicas (NAPP/Saúde)
521 da Fundação Perseu Abramo, quando for necessário, em conformidade com as
522 deliberações do Coletivo do Setorial Nacional de Saúde
523
524 5. Respeitar a decisões da maioria, garantindo a democracia interna e a
525 pluralidade de posições ideológicas e políticas em todos os fóruns organizados
526 pelo Setorial Nacional de Saúde, bem como instituir reuniões regulares com a
527 coordenação nacional, os setoriais estaduais e municipais de saúde do partido
528
529 7. Criar junto com a Escola Nacional de Formação Política cursos específicos
530 sobre política de saúde, controle social e outros voltados para a atuação política
531 na saúde em âmbito nacional.
532
533 8. Propor à Escola Nacional de Formação Política e à Fundação Perseu Abramo,
534 na perspectiva de luta pelo socialismo no país, instituir discussões teóricas de
535 fundo sobre a relevância estratégica da saúde para o projeto do PT, tendo como
536 público alvo quadros políticos que ocupam funções dirigentes nas Administrações
537 Públicas e Parlamentos das três esferas de poder, que abordem:
538
539 • o papel do Estado na garantia da existência de um Sistema Nacional de Saúde
540 público, universal e socializado, voltado para a preservação da saúde e a defesa
541 da vida de todas as pessoas;
542 • o papel do Estado na organização de carreiras nacionais para os trabalhadores
543 e trabalhadoras de diversas profissões e ocupações que atuam no âmbito no
544 Sistema de Saúde nacional;

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545 • o papel do Estado na garantia do direito social à saúde, bem como o papel de
546 organizações de trabalhadores, de organizações partidárias, de movimentos
547 populares e da sociedade em geral na defesa dos direitos sociais.
548
549 9. Manifestar-se publicamente sobre os rumos da política de saúde e acerca de
550 temática da área, visando orientar a militância partidária e a subsidiar as direções
551 partidárias, de modo a qualificar a intervenção do Partido na realidade sanitária.

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