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No entanto, sabemos que o Neolítico não é exclusivo ao Próximo Oriente e que chegará
ao Mediterrâneo Ocidental incluindo a Península Ibérica. Naturalmente, surge a questão
do como lá chegaram as espécies originais do Próximo Oriente assim como as restantes
inovações que o Neolítico traz.
Os causewayed enclosures sugerem uma separação deliberada do que está dentro e fora.
Talvez para separar aquilo que é “nosso” daquilo que não é ou para marcar o local como
sagrado e para o proteger, que em tal caso, justificaria as “barreiras” (o uso do termo
proteger implica aqui um sentido mais metafórico do que literal). De qualquer maneira,
tudo aponta, incluindo o facto de não serem permanentemente habitados, que estes
espaços foram construídos e utilizados maioritariamente para fins culturais e rituais e
que possuíam um cargo sagrado. Não sabemos que tipo de rituais aconteciam dentro dos
causewayed enclosures e sequer se algum era exclusivo ao local, no entanto os dados
indicam um grande consumo de cereais, plantas, frutos silvestres e carne, o que poderá
denotar para a ocorrência de banquetes, eventos que estão interligados com festas ou
festins e são ainda outra ferramenta para estabelecer e fortificar a hierarquia social
assim como assentar a comensalidade entre os membros da sociedade. O ato de comer
com outrem poderá fortalecer relações sociais e até fluir novos pactos ou alianças,
vemos isto a acontecer nos dias de hoje protagonizado pelos homens de negócios.
Ademais, o elevado consumo e até desperdício inerente aos banquetes é em si uma
demonstração de poderio. Para a comunidade a festejar: um sinal de prosperidade; para
outras comunidades próximas: um sinal de superioridade. Resumindo, as festas podem
ser vistas como um “microcosmo” da vida rotineira e dos sistemas sociais inclusos
nessa mesma, porém não exatamente realistas na sua representação. «As
festas/banquetes distinguem-se pela sua escala e riqueza: transformam o ato quotidiano
de comer num “drama” (…), envolvendo mais pessoas, mais comida e horários e locais
distintos dos do quotidiano [CITATION Mic11 \p 185 \l 2070 ]». Além disso, “As festas
também têm efeitos; elas criam condições para trocas (de variada natureza) e
confraternização, aumentam a solidariedade social, criam obrigações sociais e pagam
(ou repagam) dívidas”[CITATION Mic11 \p 182 \l 2070 ] . Ainda no mesmo tema, não
podemos não referir os modos de reciprocidade. Estes dividem-se em três “categorias”:
reciprocidade generalizada, equilibrada e negativa.
Lubell, D., Jacke, M., Schwarcz, H., Knyf, M., & Meiklejohn, C. (1992).
The Mesolithic-Neolithic Transition in Portugal: Isotopic and
Dental evidence of Diet .