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GÉNEROS TEXTUAIS1

DISCURSO POLÍTICO
O discurso político é um género de texto essencialmente argumentativo em que se
defendem ideias e propostas sobre o caminho que um país ou uma comunidade deve
tomar e sobre as medidas que devem ser adotadas para que essas propostas sejam bem
sucedidas. O objetivo central deste género textual é convencer os interlocutores a aceitar
e a apoiar as ideias avançadas e desencadear uma reação do público (ou seja, levar os
outros a agir): votar, intervir, apoiar, mobilizar-se para uma iniciativa, etc.

Marcas de género
• Não devemos limitar o discurso político ao discurso partidário: não se trata mera-
mente de um texto em que se pede o apoio ou o voto para um candidato ou
um partido. É antes, um texto persuasivo (oral ou escrito) destinado ao público
com o propósito de se defender uma causa política, um rumo de ação para um
país ou medidas para assuntos concretos.
• A argumentação é a estratégia usada para convencer os ouvintes a aderir às pro-
postas do enunciador. Os argumentos mobilizados devem ser válidos e coerentes
e devem guiar-se por princípios honestos e justos. Por vezes é necessário rebater
a posição de outras posições através de contra-argumentos.
• Neste género textual, a argumentação surge articulada com o registo expositivo;
isto porque é necessário apresentar os factos que fundamentam a argumentação
e atestar as afirmações proferidas através de provas. Daí que há quem defenda
que se trata de um texto expositivo-argumentativo.
• O discurso político deve ter uma dimensão ética e social: deve preocupar-se
genuinamente com o bem-estar dos cidadãos, com o melhoramento das suas
condições de vida e com o progresso da comunidade.
• O discurso político é, por excelência, um texto eloquente em que o orador/escritor
mobiliza habilmente recursos expressivos da língua: a repetição, a enumeração,
a metáfora, a comparação, a pergunta retórica, a apóstrofe e a ironia são alguns
dos recursos expressivos mais comuns nestes textos.
• Na sua versão oral, o orador explora outros
tipos de recursos como a postura do corpo,
a expressão facial, o tom e o volume de voz,
como estratégias para alcançar os seus fins
persuasivos. Isto porque a persuasão é bem-
-sucedida através de argumentos racionais
mas também através de uma sensibilização
por afetos e sentimentos.
• O discurso político pode ser preparado para
ser proferido oralmente ou ser escrito a fim
de chegar ao público em suporte de papel
ou em suporte eletrónico.

(1) O Programa de Português segue o conceito


de que um texto é «uma sequência autónoma
de enunciados, orais ou escritos» («Texto
e textualidade», in Dicionário Terminológico).

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DEBATE

Um debate é um género comunicativo em que duas ou mais pessoas se encontram


para apresentar o seu ponto de vista sobre um tema e defender a sua posição. Como
cada interveniente tem ideias próprias sobre o tema — ideias que são diferentes das dos
demais —, avança argumentos com o objetivo de persuadir (de convencer) os interlo-
cutores, e/ou o público que assiste ao debate, sobre a razão e a legitimidade da perspe-
tiva que ele defende. O debate vive desta troca de razões e raciocínios.

Marcas de género
• Num debate, os participantes podem desempenhar quatro papéis diferentes,
cada um com a sua função:
a) Moderador: inicia e encerra o debate, apresentando o tema e os intervenien-
tes; conduz a discussão do assunto, dando a palavra a quem deseja intervir
e colocando questões quando necessário; apresenta as conclusões no fim.
b) Secretário: inscreve quem pede para intervir; controla o tempo de intervenção;
redige, no fim, um documento com as conclusões do debate.
c) Intervenientes: depois de se prepararem previamente, exprimem o seu ponto
de vista sobre o tema; argumentam de forma clara, coerente e convincente;
respeitam as regras do debate.
d) Público: assiste ao debate, podendo, em algumas situações, colocar questões
aos intervenientes.
• Tendo em conta que, num debate, cada interveniente defende a sua ideia, a
argumentação é fundamental para persuadir os demais a aceitarem o nosso ponto
de vista. Argumentar é apresentar factos e razões bem articulados que funda-
mentem a nossa posição sobre um tema e mostrem que ela é justa, válida e é a
que deve ser seguida. É importante expor exemplos para corroborar os nossos
argumentos.
• Ao argumentar, os intervenientes devem partir de factos verdadeiros para expri-
mirem o seu ponto de vista sobre um assunto de forma honesta. Essa honesti-
dade passa também por saber ouvir os argumentos dos outros e aceitar o que eles
têm de válido e justo. Só assim um debate se torna um espaço útil de reflexão em
grupo sobre uma determinada questão.
• Para que a nossa posição seja honesta e tenha qualidade, devemos informar-nos
previamente sobre os temas de um debate e sobre as suas implicações, se vamos
intervir na discussão de ideias. Uma boa investigação sobre os assuntos a tratar
é absolutamente fundamental.
• Num debate, é fundamental proceder a uma outra operação: contra-argumentar.
Os contra-argumentos são raciocínios fundamentados usados para contestar os
argumentos de outros com que não concordamos.
• As intervenções num debate devem ser concisas, limitar-se ao essencial das
ideias e reger-se pelos princípios da relevância, da coerência, da lógica e do bom
senso no uso o tempo.
• É também fundamental respeitar outros princípios da interação verbal: princípio
da cortesia, do respeito pela intervenção do outro, da elevação do discurso, etc.
• Ao encerrar o debate, é útil que o moderador apresente as conclusões que
sobressaíram da discussão de ideias.

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TEXTO DE OPINIÃO E ARTIGO DE OPINIÃO

O texto de opinião e o artigo de opinião são textos argumentativos na sua essência,


tendo em conta que o seu autor pretende apresentar o seu ponto de vista sobre um
assunto e procura convencer os leitores sobre a validade e a justeza da sua perspetiva
através dos argumentos que avança. Contudo, ambos os tipos textuais têm também uma
componente expositiva, visto que fornecem alguma informação sobre o tema tratado
antes de ser expressa uma opinião sobre ele.

Marcas de género
A) Texto de opinião
• No que importa à disciplina de Português, o texto de opinião é um género
textual que se distingue do artigo de opinião por ser produzido pelo aluno em
contexto escolar e sem um destino concreto em mente: não é feito a pensar
que será publicado num periódico.
• Num texto de opinião, o autor é chamado a tratar (oralmente ou por escrito)
um tema e a apresentar o seu ponto de vista sobre esse tema, fundamen-
tando-o.
• A posição do autor deve ser bem clara, como claros e pertinentes devem ser
os argumentos desenvolvidos para a defender e os exemplos introduzidos para
atestar as ideias apresentadas. O discurso é, portanto, marcado por juízos de
valor (explícito ou implícito).
• Em contexto escolar, um texto de opinião deve ter uma estrutura fixa — intro-
dução, desenvolvimento e conclusão —, e o estilo usado deve ser claro, sim-
ples e eficaz.

B) Artigo de opinião
• Podemos considerar o artigo de opinião como o grupo de tipos de texto que
encontramos na imprensa e noutros meios de comunicação social e em que
o autor apresenta o seu ponto de vista sobre um tema ou um acontecimento
da atualidade.
• Neste grupo de textos incluem-se a crónica, o editorial ou o artigo de opinião
propriamente dito.
• Os artigos de opinião podem cobrir assuntos de um vasto leque de domínios:
política, sociedade, cultura, desporto, ciência, etc. Além de abordarem ques-
tões atuais, é fundamental que os temas comentados pelo autor do artigo
despertem interesse entre os leitores.
• O autor do artigo de opinião é sempre identificado e responsabiliza-se pelas
opiniões que emite. Regra geral, trata-se de um especialista, jornalista ou não,
na matéria ou na área em questão, e a sua opinião é investida de credibili-
dade.
• É certo que num artigo de opinião se procura informar e esclarecer os leitores
sobre um determinado assunto. Mas o objetivo central é interpretar questões
ou acontecimentos da realidade (social, política, etc.) e apresentar um ponto
de vista sobre o assunto e os argumentos que conferem validade e razão
a essa perspetiva.
• Se muitos artigos de opinião se caracterizam pela sobriedade, outros primam
pela riqueza do estilo usado ou até pelo recurso ao humor.

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EXPOSIÇÃO SOBRE UM TEMA
A exposição é um tipo de texto em que se pretende tratar um tema com alguma
profundidade. O objetivo consiste em explicar e dar informação sobre o assunto pro-
posto, analisando os aspetos mais relevantes.

Características
• O texto expositivo tem um carácter demonstrativo, na medida em que se pre-
tende elucidar o leitor/ouvinte sobre o tema em causa. Ao explanar esse tema, é
necessário fundamentar as ideias e apresentar exemplos ilustrativos.
• Por isso, num texto expositivo necessitamos de proceder a operações como identi-
ficar, caracterizar, descrever, analisar, comparar o assunto e as ideias (ou objetos).
• Um exemplo: se o tema é o sistema político português, o texto expositivo deve
caracterizá-lo (explicar que vivemos numa democracia e que o regime é republi-
cano), analisá-lo (mencionar os órgãos de soberania e os partidos…), identificar
os aspetos que compõem o tema, etc. Nas páginas 268-270 encontra um texto
expositivo sobre a história da língua portuguesa.
• O texto deve estar bem organizado (introdução, desenvolvimento e conclusão) e
as ideias bem estruturadas e bem articuladas entre si. Para organizar o conteúdo
é previsível que seja necessário recorrer a formas linguísticas como conectores e
deíticos. A apresentação do conteúdo deve reger-se pelos princípios da concisão,
da objetividade e da clareza.
• Existem dois tipos de texto expositivo: o expositivo-informativo, cujo objetivo é apre-
sentar informação sobre um dado assunto; e o expositivo-argumentativo, que tem
por finalidade dar informação e defender um ponto de vista, uma opinião, sobre um
tema através de argumentos (ex.: defender ou condenar a pena de morte).

ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA


O artigo de divulgação científica é um tipo de texto em que se procura transmitir
ao grande público, em linguagem acessível, conhecimento científico, em muitos casos
resultado de investigações mais ou menos recentes realizadas nas diferentes ciências,
sobretudo nas exatas e naturais mas também nas ciências sociais e humanas.

Características
• A função deste tipo de texto não é apresentar em primeira mão o resultado do tra-
balho científico de um investigador — para esse fim existe o artigo científico —, mas
antes divulgar conhecimentos já aceites pela comunidade científica. Os artigos de
divulgação científica são escritos por investigadores e jornalistas e publicados na
imprensa generalista, em revistas de divulgação de conhecimento ou na Internet.
• Tratando-se de um tipo de texto que se destina ao público geral, o artigo de divulga-
ção científica tem de ser curto, e a informação apresentada, seletiva. As ideias devem
estar hierarquizadas para organizar bem o texto e encadear eficazmente a informa-
ção, mas também para o leitor reter, em primeiro lugar, os factos mais relevantes.
• Um artigo de divulgação exige investigação. É desejável que as fontes consultadas
sejam referidas para o leitor poder confirmar a informação ou aprofundar os seus
conhecimentos.
• Visto que o propósito é informar com rigor, o discurso deve ter um carácter predomi-
nantemente expositivo e formal. Deve primar pela objetividade, pela exatidão e pela
clareza. É aconselhável explicar bem os termos técnicos usados e evitar uma funda-
mentação demasiado complexa em termos de teorias e conclusões. No entanto,
a linguagem deve também ser suficientemente apelativa para cativar os leitores e
fazer sobressair aspetos curiosos, intrigantes e inovadores desse conhecimento.

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APRECIAÇÃO CRÍTICA

A apreciação crítica é um texto, escrito ou oral, em que se apresentam,


analisam e avaliam obras artísticas e culturais: um livro, um filme, uma peça
de teatro, um documentário, etc.
A avaliação da obra tanto incide sobre aspetos que o crítico (o autor da aprecia-
ção) considera meritórios (positivos) como sobre os que considera menos bem con-
cebidos (negativos). Se o texto se destinar aos meios de comunicação social, deve ser
escrito por um especialista da área, com conhecimento do assunto superior ao da
maioria dos seus leitores, e centrar-se numa obra recentemente publicada ou exibida.
A opinião do crítico é forçosamente pessoal e subjetiva, mas assente em fac-
tos verdadeiros e válidos, e deve ser sempre bem fundamentada. Por isso se
afirma que o autor da apreciação deve descrever o objeto para depois o comentar
criticamente.
No 10.º ano de Português, propõe-se que o aluno leia, escreva e produza oralmente
apreciações críticas de livros, filmes, peças de teatro, mas também de documentários,
entrevistas, reportagens (estas como base de uma apresentação oral) ou ainda de outro
tipo de manifestações culturais, como uma exposição.

Estrutura
Os textos de apreciação crítica têm uma estrutura pouco rígida, pois o crítico tem
liberdade para organizar o modo como informa o leitor e lhe transmite a sua opinião.
Ainda assim, há uma estrutura elementar deste texto que deve ser respeitada.
• A apreciação crítica tem obrigatoriamente um título e pode organizar-se, como
qualquer texto, em três partes: introdução, desenvolvimento e conclusão.
• Se o texto for escrito, o crítico pode tratar no desenvolvimento aspetos diferentes
da obra em cada parágrafo (ex. personagens, espaço, enredo, etc.), começando
por dar informação, para depois avaliar os aspetos em causa. Mas o crítico tem
liberdade para traçar a sua própria rota.

Conteúdo
Vejamos alguns aspetos que podem ser analisados em apreciações críticas, segundo
o tipo de obra:
• Livro — os temas e ideias da obra, a linguagem; se se tratar de uma obra de fic-
ção, atente-se também ao enredo, às personagens, ao espaço, ao tempo, ao nar-
rador, a episódios interessantes;
• Filme — temas e ideias do filme, a ação, os diálogos, o desempenho dos atores,
a reconstituição de uma época, a «fotografia» do filme, o guarda-roupa, os efeitos
especiais, a banda sonora, as cenas marcantes;
• Espetáculo teatral — temas e ideias da peça, o enredo, o desempenho dos ato-
res, o cenário e os adereços, a reconstituição de uma época, o guarda-roupa, a
música e a luz, a linguagem, as cenas marcantes;
• Documentários, reportagens, entrevistas — tema geral e ideias particulares que
se pretendem transmitir, pontos de vista dos intervenientes, registos de linguagem.

Linguagem
Como a atitude do crítico é marcada pela subjetividade, a linguagem usada é pau-
tada por marcas pessoais, podendo ele recorrer à ironia, ao subentendido e à metáfora
na construção da argumentação. Ainda assim, o discurso deve ter a clareza necessária
para comunicar com o público em geral; os termos técnicos usados, que são incontor-
náveis neste tipo de texto, devem ser acessíveis ao leitor.

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