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Tradução e Revisão: Seraph Wings

Leitura Final: Aurora Wings


Verificação: Asli
Formatação: Aurora Wings

05/2020
A Série
Aviso
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Sinopse

À medida que o furacão se aproxima da costa da Flórida,


um tipo diferente de tempestade está se formando na praia de
Logan.

Um recém-chegado misterioso está disputando o título


de Rei da Calçada. Ele fará qualquer coisa para roubar a
coroa, incluindo trazer de volta alguém do passado de King
que ameaçará muito mais do que o título que King passou a
vida construindo.
Um furacão está chegando.
E isso poderia destruir tudo.
Se você foder, deixe para lá. Se voltar para você...
Você pode foder de novo.
-Samuel Clearwater - Preppy
FODIDA INTRODUÇÃO
PREPPY

Adivinha quem? Vou te dar uma dica importante. Sou


tão bonito quanto um supermodelo e tão diabólico quanto o
diabo. Eu gosto muito de boceta e panquecas. Gosto do meu
boquete com minha maconha do lado, e o meu pau é enorme.
Está certo! Sou eu, Samuel, filho da puta de Clearwater.
Se você está se perguntando como sou capaz de fazer
essa introdução, você precisa ler a história de Bear, porque o
fim vai explodir sua mente! Depois, leia minha história, você
sabe, porque é sobre mim. Eu te digo uma coisa. Se você ler,
eu vou fazer panquecas. Panquecas sujas, sujas e
deliciosas. Eu vou ficar sobre você e derramar aquele xarope
direto no seu suor quente... você entendeu.
Mas, chega de divagar.
Basicamente, estou aqui porque estou muito vivo. Como
Stefano de Days of Our Lives, (não finja que nunca viu). Eu
continuo voltando para mais.
Pronto, vocês já foram atualizados. Para o alto e avante,
filhos da puta.
Vou precisar que se sentem, segurem seus mamilos e se
preparem para a continuação da história do Chefe e Doe. Ou
King e Pup. Ou Brantley e Ramie. Merda, entre os dois, eles
têm um milhão de nomes, mas não importa como você os
chama, a história ainda é sobre as mesmas duas pessoas,
que por acaso são minha família e também meus dois
melhores amigos.
Nota importante: Não conte ao Bear que eu disse
isso. Aquele filho da puta vai ficar com os peitos arrepiados
de ciúme, se souber que não é meu homem número
um. Quero dizer, com certeza ele se esforça para conseguir,
mas a maravilha sem camisa tem um fraquinho pelo Preppy
aqui, e não queremos magoar todos os seus sentimentos de
homem corpulento antes mesmo de entrarmos na história,
certo?
CERTO?
Então relaxe. Tome um banho de espuma. Coloque uma
música calma e agradável da velha escola, como um Offspring
ou o Limp Bizkit. Talvez, sirva um copo de vinho ou um
baseado leve e gordo. Um pouco de coca é sempre uma opção
divertida.
Agora, uma pequena recapitulação. *Limpando a
garganta*
Era uma vez em uma terra distante, muito distante, mas
com uma localização central no sudoeste da Flórida, uma
cidade um pouco incrível, mas de merda, chamada Logan's
Beach. Lá, há muito, muito tempo, duas pessoas se
apaixonaram loucamente da mesma maneira que a maioria
dos casais.
É uma história tão antiga quanto o tempo. Você sabe,
uma garota sem memória se oferece ao garoto como uma
prostituta esperando por segurança. O garoto rejeita a garota
e depois a sequestra. Então, a garota foge; então o garoto
decide ficar com a garota. Menino e menina se apaixonam,
fazem sexo sujo e fazem tatuagens. Em algum lugar existe
uma feira e uma declaração incorreta sobre os pinguins
serem o único pássaro que não voa. A pessoa mais legal do
mundo morre. O garoto oferece a garota de volta ao pai em
troca da filha do garoto. A menina pensa que o menino está
morto. A garota se casa com um filho da puta para adotar a
filha do garoto. O garoto está realmente vivo. A menina
recupera a memória e percebe que o filho da puta é um super
filho da puta. O filho da puta morre violentamente e muito
merecidamente. Garoto e garota têm dois filhos pelo preço de
um em uma épica família.
E eles viveram felizes para sempre.
Fim.
Até agora.
Dum dum duuuummmmmmm!
Vou fazer um delicioso sanduiche para mim. Alcanço
vocês do outro lado.
Aproveitem, crianças.
CAPÍTULO um
RAY

ESTRONDO. Estrondo. Estrondo.


Três alto-falantes enormes, empilhados um em cima do
outro, vibram e pulsam enquanto a música sai através deles.
Profundas notas de baixo batem contra o meu peito,
penetrando na minha caixa torácica. Meu coração já bate
forte. Eu tusso e chio, minha respiração instável. Coloco a
palma da mão sobre o peito, como se de alguma forma
pudesse acalmar meu coração através das camadas de
roupas, pele, sangue, músculos e ossos.
Um brilho de suor brota na minha pele aquecida, mas por
dentro estou gelada. Talvez seja um presságio. Um aviso para
não dar mais um passo.
Mas eu já passei por isso. Eu não tenho escolha.
Engulo meu desconforto com um gole seco. Cada passo
que dou pelo corredor estreito através do mar de dançarinos
de olhos fechados girando um contra o outro me move para
mais perto do inferno que criei para mim.
Para ela.
Sinto muito, mas não vejo outra saída, peço desculpas
silenciosamente à garota que não conheço. A que eu era antes
de perder a memória. Aquela que morou no meu corpo antes de
eu acordar em um banco sem nada e me tornar amiga de uma
prostituta que eu nem gosto.
Não gosto de Nikki porque ela é uma prostituta, mas
porque é uma vadia. Através dos
estranhos movimentos induzidos por drogas dos corpos ao
meu redor e entre os flashes de luz pulsante, consigo manter
meus olhos focados no objetivo.
A porta no final do corredor. A porta para a minha
salvação.
A porta para o meu - um sentimento de déjà vu quebra
meu foco. Espere, eu já estive aqui antes. Eu me lembro de
tudo isso.
Eu sei o que está do outro lado da porta. E não é
salvação ou inferno. É algo muito mais.
É amor.
É ele.
É King.
Avanço através da multidão em um ritmo vertiginoso, sem
me importar em quem bato ou derrubo, e pego a maçaneta,
abrindo a porta e entrando no escuro sem
o medo estridente que carregava comigo sobre o limiar quando
entrei pela primeira vez todos esses anos atrás.
— King? — Eu pergunto no quarto escuro.
Não há resposta, mas o movimento chama minha
atenção. Na cama, uma sombra se mexe, jogando as pernas
longas pela lateral do colchão.
Deixo a porta aberta e corro até a cama para ficar entre
as pernas dele. Coloco minhas mãos nos joelhos dele. — King?
— Eu pergunto novamente, ficando preocupada quando minha
única resposta é um silêncio persistente.
Depois do que parece uma eternidade, a sombra se senta,
o rosto iluminado pela luz da porta aberta.
Eu suspiro.
O rosto de King está duro e furioso e... diferente. A
cicatriz acima da sobrancelha direita, que normalmente é
quase imperceptível, agora está inchada, cortando um caminho
vermelho irregular na diagonal pelo nariz e lábio, terminando
na mandíbula.
— O que aconteceu? — Eu pergunto. Movendo minhas
mãos de seus joelhos, fecho meus dedos sobre os cintos em
volta de cada um de seus antebraços.
— Quem diabos é você? — Ele pergunta com uma voz
profunda e grave. Ele sacode os braços, libertando-se das
minhas mãos.
Eu procuro por reconhecimento em seus olhos, mas não
vejo nada em seu olhar verde desbotado.
— Você realmente não sabe quem eu sou? — Eu
pergunto, odiando as palavras trêmulas que caem dos meus
lábios.
Ele se inclina para mais perto, e justamente quando acho
que vai sair de qualquer estado de fuga em que esteja, que o
faz não se lembrar de mim, o canto da boca se eleva em um
sorriso divertido. — Ah, sim, — diz ele antes de seu sorriso se
achatar. — Eu me lembro agora.
Ele se levanta, e a surpresa do movimento me
derruba. Ele se inclina sobre mim e agarra minha garganta,
apertando minhas vias aéreas. Minha visão fica difusa nas
bordas enquanto luto contra ele, mas não adianta. Não há
como sair do seu domínio.
— Foi você quem fez isso comigo. E agora, você vai pagar,
porra.
Quando seu rosto zangado desaparece e minha visão fica
preta, eu me ouço grunhir minhas últimas palavras. — Mas eu
te amo.
A última coisa que ouço é o eco de sua risada.

— Pup, acorde. Acorde, porra! — Eu ouço um grito e


meu corpo inteiro está tremendo. Não é até o sono me deixar
completamente que percebo que não estou tremendo, mas
sendo sacudida.
Meus olhos se abrem para encontrar King em cima de
mim, como no meu sonho. Ele tem um olhar preocupado em
seus brilhantes olhos verdes.
Ele me ajuda a sentar. Minha respiração ainda está
ofegante. Meu corpo coberto de suor.
— Que porra foi essa? — King pergunta, alisando meu
cabelo. Pisco várias vezes para limpar o sono da minha
cabeça. King levanta uma sobrancelha. Aquela com a
cicatriz. É quase imperceptível, com exceção dos pelos à
esquerda porque não tem pigmento em comparação ao preto
do outro lado. — Pup? — Ele cutuca.
Eu arranco meus olhos de sua cicatriz. — Foi um sonho.
King zomba. — Mais como um pesadelo. Você pulou da
porra da cama e caiu no chão como se estivesse tendo uma
convulsão. Me assustou pra caralho.
— No chão? — Olho em volta e, com certeza, vejo
claramente por baixo da nossa cama a gaveta inferior da
mesa de cabeceira do outro lado.
— Sim, no chão. Você estava fazendo um som sufocado
e, por um segundo, achei que tivesse parado de respirar. —
Ele passa a mão pelo cabelo curto e escuro e solta um
suspiro.
— Estou bem, — eu asseguro a ele, levantando o melhor
que posso. Antes que eu possa dar um passo, King me pega
em seus braços e me carrega de volta para a nossa cama,
deitando-me gentilmente como se eu fosse de vidro. — Eu
disse que estou bem.
Ele balança a cabeça. — Eu sei, e eu disse que você me
assustou, — diz ele, inclinando-se sobre mim.
— Foi apenas um pesadelo. Eu não queria.
— Você se lembra sobre o que era? — King acaricia
minha bochecha com a palma da mão áspera, depois a
repousa no meu peito, sentindo as batidas aceleradas do meu
coração. — Vamos. Não é só o pesadelo. Você tem andado
estranha ultimamente. Diga-me o que está acontecendo
nessa sua bela cabeça.
— Eu só estou... — Eu aceno meus braços sobre minha
barriga. — Isto. — Não é inteiramente verdade. Estar grávida
tem algo a ver com o que estou sentindo, mas tem algo mais
também. Algo que paira sobre mim como uma sombra que
não consigo me livrar. — Nada para se preocupar. Só comi
muita pizza antes de vir para a cama. Sonhos loucos e
grávidos se seguiram.
King ri. — Eu disse a você que gomas azedas não era
uma ótima ideia para uma cobertura de pizza.
— Ei, — eu respondo com meu lábio inferior esticado
como a criança que me sinto neste momento. — O bebê quer
o que ele quer.
Ele concorda. — Concordo. Mas talvez, deva manter os
doces e a pizza separados antes de ir dormir?
Lembrando-me do sonho do qual acabei de acordar, no
chão, não nada menos, tenho que concordar. — Devidamente
anotado.
King se inclina sobre minha barriga enorme e me
beija. A sensação de seus lábios carnudos nos meus envia
um arrepio de corpo inteiro pela minha espinha. Estamos
juntos há anos. Três crianças e uma a caminho, e eu ainda
tremo com o toque dele. Dizem que a luxúria desaparece com
o tempo.
Bem, eles não sabem de nada.
King senta com um gemido e passa a mão pelo
rosto. Mais uma vez, faço beicinho, desta vez com a perda de
contato.
King se levanta da cama e estende a mão para mim. —
Vamos. Eu quero te mostrar algo.
— Mas você não pode me mostrar mais tarde? — Eu
pergunto, abanando as sobrancelhas sugestivamente. — Você
sabe depois?
O olhar de King passa por mim, começando pelos meus
cabelos emaranhados, até meus peitos ingurgitados que
lutam contra minha blusa manchada com molho de pizza da
noite passada, parando na minha barriga arredondada,
coberta com estrias vermelhas frescas, que estão apenas meio
cobertas por meu top pequeno demais.
Não é à toa que ele está me recusando. Eu sou uma
bagunça.
Movo minhas mãos para cobrir meu corpo e desvio o
olhar. Sinto meu rosto ficar vermelho.
Ele se senta e pega minhas mãos nas dele, removendo-
as do meu corpo. — Baby, olhe para mim.
Balanço a cabeça como a criança hormonal, grávida e
petulante que me tornei.
— Pup.
Eu sei que não devo ignorar o aviso em sua voz.
Relutantemente, encontro seu olhar verde escuro. Sua
testa está franzida e seus lábios formam uma careta. — Não
se esconda de mim. Já não disse isso antes?
— Sim, mas isso foi antes de eu... — Eu aceno minhas
mãos para a bagunça que meu corpo se tornou, mesmo que
minha mente não esteja mais limpa. — Antes de me
tornar isso. — Eu odeio a falta de confiança na minha
voz. Não sou eu. Nada disso é. Não o meu corpo. Minha
voz. Meus pensamentos. Mas não posso evitar a preocupação,
a insegurança ou qualquer um dos pensamentos negativos
que tenho tido, não importa o quanto tentei ignorá-los.
— Não se esconda de mim. Estou falando sério. Você
acha que eu não quero esses seios perfeitos na minha boca
agora? — King circunda meu mamilo com o polegar, e meu
corpo inteiro estremece quando um raio de prazer passa por
mim. Sua mão se move para baixo do meu corpo, sobre a
minha barriga e me toca sobre a minha calcinha. Ele me dá
um aperto leve e, por um segundo, não vejo nada além de luz
branca atrás dos meus olhos. — Porra, Pup. O jeito que você
me responde. — Ele morde o lábio inferior. — Você me deixa
duro pra caralho. Sempre. — Ele se inclina e seus lábios
roçam minha orelha. Minha pele ganha vida com necessidade
e antecipação. — Com meu bebê em sua barriga e tudo tão
sensível nesse seu corpo, estou achando muito difícil não
tirá-la desta cama. — Ele aponta para o canto do quarto. — E
fazer você assistir no espelho enquanto te inclino, puxo seu
cabelo e te fodo enquanto você grita meu nome.
Minha boca fica completamente seca. Eu engulo em
seco. — Então por que você não faz?
Olhos escuros de luxúria, King se levanta novamente,
balançando a cabeça. — Porque não podemos. — Outra onda
de rejeição está prestes a colidir comigo quando King
acrescenta: — Pelo que o médico disse. Eu não posso te
foder. Só depois que o bebê nascer.
— Eu não acho que ele usou essas palavras exatas, —
eu resmungo, finalmente me lembrando da nossa consulta
de trinta e seis semanas ontem. Eu tive alguns sangramentos
e cólicas leves nos últimos dias. Tudo certo com o bebê, mas
porque orgasmos podem estimular contrações e trabalho de
parto prematuro, recebi uma recomendação de sem sexo ou
estímulo sexual de qualquer tipo.
— Então, você se lembra, — diz King.
— Lembro-me agora. Embora, em minha defesa, meus
pensamentos estivessem na pizza me esperando em casa. Eu
poderia não ter considerado a gravidade da toda essa coisa
sem sexo.
King sorri. — Temos o resto de nossas vidas, Pup. — Ele
me beija na bochecha e sussurra sugestivamente no meu
ouvido: — Além disso, eu prometo que vou passar muito
tempo fazendo valer a pena a espera.
Com mamilos duros e uma pulsação entre as minhas
coxas que não seriam satisfeitas tão cedo, pego um
travesseiro da cama para grunhir nele.
King ri, e eu o recompenso levantando o travesseiro do
meu rosto e golpeando-o com ele.
Obviamente, ele pega o travesseiro antes de acertar seu
peito e o joga de volta na cama. — Vista-se e me encontre na
cozinha.
Ele me ajuda, mas não me libera até que eu esteja firme.
— Espere, o que você queria me mostrar?
— Encontre-me na cozinha e depois que eu te alimentar,
você descobrirá. — Ele sai pela porta e a fecha atrás dele.
— Provocador! — Eu grito.
Sua resposta é uma risada ecoante.
A mesma sensação de mau presságio que senti no meu
sonho serpenteia pela minha espinha. Estremeço quando um
arrepio assola meu corpo.
Digo a mim mesma que o sentimento provavelmente é
apenas o resultado do pesadelo ou da ansiedade às vezes
avassaladora que tenho experimentado ultimamente ou dos
hormônios da gravidez ou da falta de um orgasmo matinal ou
de qualquer outra coisa que possa explicar o sentimento de
destruição. Sinto-o profundamente na medula dos meus
ossos.
Ou talvez, seja algo muito pior.
CAPÍTULO Dois
RAY

— Esta casa vai ficar épica pra caralho, depois que a


adição terminar. Gostaria de ter pensado nisso quando ainda
morava aqui. Lembre-me, vocês decidiram sim ou não a
minha sugestão do quarto vermelho? — Preppy pergunta. Ele
me entrega uma tigela de pipoca e se senta no sofá.
Atiro uma pipoca em Preppy.
Ele pega na boca. — Vou aceitar isso como não. Eu
deveria saber que vocês eram um bando de puritanos.
— Oh sim? Onde está sua masmorra sexual? Porque
não me lembro de ter visto uma em sua casa na última vez
que estivemos lá.
Ele levanta as sobrancelhas. — Você está brincando
comigo? Se não fosse pelas crianças e toda aquela coisa
inapropriada que Dre me lembra, eu teria uma casa inteira
de sexo.
King me mostrou o progresso na adição que está sendo
feita à nossa casa hoje de manhã. Está tudo estruturado
agora e pronto para se tornar uma nova suíte master, quarto
adicional, expansão da cozinha e uma grande sala de jogos à
prova de som para as crianças. Levará mais alguns meses
para concluir, mas Preppy está certo. Quando tudo estiver
pronto, ficará incrível e fornecerá à nossa família em
crescimento um espaço adicional muito necessário. Sem
quarto vermelho. Embora, agora esteja pensando em sexo
novamente. Ou a falta disso.
Como se eu precisasse de mais coisas para me sentir
frustrada agora.
— O que diabos está acontecendo com o seu rosto? —
Preppy pergunta, inclinando-se e apertando os olhos para
me olhar melhor.
Cubro meu rosto com o cobertor, e ele o puxa de volta
para baixo.
— Quero dizer. Por que você está carrancuda? O chefe
não está usando o pau como costumava fazer ou algo assim?
— Ou algo assim, — murmuro, colocando algumas
pipocas na boca. Isso não ajuda.
Não é King. Ou sexo. Ou sexo com King. O que é um
problema, mas não é o problema.
Preppy mastiga outro punhado de pipoca. — Você sabe,
eles têm remédios para isso agora. Peça, e darei uma merda
para o seu garoto que fará do pau dele um maldito
lançamento de ônibus espacial.
Suspiro e certifico-me de que o bando de nossos filhos
combinados não esteja ouvindo. Eles não estão; todos os seis
estão envolvidos no filme atualmente sendo exibido na TV. —
Não. Ele não precisa de drogas. Na consulta mais recente do
meu médico, ele proibiu nossa vida sexual até o bebê nascer.
— Você quer dizer até seis semanas após o nascimento
do bebê, — ele corrige.
Porra. Eu esqueci o tempo de resguardo. — Obrigada
pela lembrança.
Ele joga uma pipoca em mim e ela cai no meu cabelo. —
Qualquer coisa para ajudá-la com sua frustração
sexual. Quando Dre teve os gêmeos, foram seis semanas
difíceis. Queimei meu pau com uma corda.
— Como você conseguiu... — Finalmente entendi. —
Deixa pra lá. Entendi. — Eu abaixei minha voz. — Mas tanto
que você se queimou com corda? Sério?
— Sim. — Ele se vira para encarar a TV. — Não ajudou
usar uma corda. — O rosto de Preppy fica sério. Ele
assente. — Sim, uma corda.
Hora de mudar de assunto. Meus pensamentos se
voltam para o perturbador boletim meteorológico desta
manhã. — Eu só queria que essa tempestade passasse para
que pudéssemos continuar a construção.
Preppy acena sua mão no ar como se estivesse varrendo
minha preocupação. Se fosse assim tão fácil. — É uma
tempestade pequena. Uma turbulência ou duas. Não deve
nem chegar a terra firme. Vai se mover ao longo da costa por
alguns dias e seguir em direção ao seu destino final e,
infelizmente, a alguma outra cidade que não merece.
— Isso deveria me fazer sentir melhor?
— Aceite a mãe natureza, — responde Preppy. Ele
levanta uma sobrancelha sugestivamente. — Mas pense em
como você ficará feliz em se masturbar em sua nova banheira
de pés de garra, se isso lhe fizer sentir-se melhor.
Eu rio. — Sim, me masturbar na minha nova banheira
me fará sentir muito melhor sobre a potencial destruição
catastrófica de uma cidade e a possível perda de vidas.
— Então, meu trabalho está feito aqui. De nada.
Penso em todo o trabalho que King teve para tornar
realidade meu projeto para os novos cômodos da casa. O
homem realmente faria qualquer coisa para me fazer feliz.
Você não será feliz. Não na banheira. Em lugar
algum. Você não pode ser feliz. Não mais, a voz dentro da
minha cabeça provocou. Aquela que me enche de
desnecessárias e intermináveis quantidades de preocupação e
dúvida.
Afasto a voz. O que quer que seja isso pairando sobre
mim é como a tempestade persistente na costa. É temporário
e passará. Isso tem que passar. Além disso, tenho amor e,
portanto, tenho tudo.
E esse amor vem em todas as formas e tamanhos. Amor
romântico como o que sinto por King vem com paixão,
atração. O amor parental vem com uma necessidade de
proteção, um amor mais profundo do que qualquer outro no
mundo. Depois, há o tipo de amor que vem na forma de
amizade. Família escolhida. Atualmente, é na forma do
homem loiro, esfarrapado e marcado e tatuado, aconchegado
sob um cobertor macio no meu sofá, que atualmente está
inconscientemente esfregando meus pés inchados.
— Mamãe, o que é matubar? — Max pergunta, olhando
por cima do ombro.
— Você quer dizer se masturbar, — Bo responde antes
que o choque pela pergunta da minha filha tenha a chance de
se manifestar. —Também chamado de prazer próprio. É a
estimulação da genitá...
Preppy bate palmas. — OK! Já chega disso. Vocês estão
prontos? Esta é a melhor parte! — Ele aponta para Bo e
sussurra: — Chega de ouvir conversa de adultos.
Bo encolhe os ombros. — Então, não converse com
adultos em uma sala cheia de crianças. Ou, e isso é apenas
uma sugestão, mas vocês dois podem considerar trabalhar no
volume de seus sussurros.
Preppy abre a boca para responder e depois a fecha. Ele
franze os lábios e depois se recosta no sofá. — Touché.
Sammy e Max e as gêmeas de Preppy, Taylor e Miley
estão todas deitadas no chão de barriga para baixo, enquanto
Bo optou pela poltrona reclinável. Nicole Grace também está
no chão, mas já está dormindo com o cobertor roxo enfiado
na boca de uma maneira que costumava me fazer pensar que
estava tentando se sufocar.
— Aí vem! — Preppy aponta para a TV, e as crianças
batem palmas emocionadas quando Moana começa a cantar
sua primeira música. Preppy canta junto e as crianças o
seguem.
Sorrio para o meu amigo, que é uma justaposição literal
de um personagem. Amoroso, mas de boca suja. Sexual e
grosseiro, mas leal à esposa pela qual está irremediavelmente
apaixonado. Um animal de festa, mas um dos melhores pais
que já testemunhei. Quando a música termina, todos batem
palmas e continuam a assistir ao filme.
— O que? — Preppy pergunta quando a música termina
e ele me pega olhando para ele.
— Você é um cara legal, Preppy, — eu digo, porque falo
sério. Grace estava certa todos esses anos atrás. É possível
ser um garoto mau, mas um grande homem. Tenho a sorte de
conhecer e amar vários desses homens e chamá-los de minha
família.
— Você só está dizendo isso porque atualmente estou
esfregando seus pés de Flintstone grávidos.
— Ei, — eu repreendi, levantando os pés de Flintstone
do colo dele.
Preppy revira os olhos e os puxa de volta, continuando
minha massagem nos pés, tão necessária. — Dre me ama
muito, mas não tenho dúvida de que ela me amou ainda mais
quando estava grávida. Eu passava horas assaltando seus
lindos pés inchados.
Balanço a cabeça. — Estou dizendo que você é um cara
legal porque é.
Ele encolhe os ombros. — Eu sou legal, ou gosto de boa
vizinhança. Talvez. Possivelmente. Provavelmente não.
Eu sorrio. — Isso parece certo.
— Papai? — Taylor pergunta se virando e olhando para
nós com seus enormes olhos de corça e bochechas de
querubim. — Moana é marrom, certo?
Os olhos de Preppy se arregalam. — Ah, sim, eu acho, —
ele responde com um olhar de onde isso está indo nos olhos
que, como mãe, estou muito familiarizada.
— E eu sou branca, certo? — Ela pergunta, inclinando a
cabeça. Um pequeno fio preto cai sobre o olho, e ela o afasta
apenas para cair novamente.
— Uh, huhhhh... — ele responde, virando os olhos para
mim e depois voltando para uma de suas gêmeas.
Taylor sorri para o pai. — Mas somos todos iguais por
dentro, certo?
Preppy solta um suspiro de alívio e sorri para sua filha
gêmea de cabelos mais escuros. Há orgulho em sua voz. —
Sim, criança, somos todos iguais por dentro.
Satisfeita, Taylor volta a encarar a TV enquanto Preppy
a observa por alguns momentos em silêncio antes de falar
novamente. — Você não prende a respiração até o momento
em que acha que seu filho está prestes a parecer racista para
você.
Eu rio. — Bem, você está fazendo algo certo. Ela tem
apenas três anos e reconheceu que, embora as pessoas
possam parecer diferentes, somos todos iguais. Ela é
esperta. Atenta. Gentil.
— Ela puxou tudo isso da mãe, — diz Preppy,
pigarreando, claramente desconfortável com o elogio. O que é
muito diferente dele. Normalmente, ele aproveita a chance de
aceitar um elogio como se estivesse recebendo um Oscar.
Pressiono meu pé contra a mão imóvel dele, e ele volta a
esfregar meus pés inchados. — Dê a si mesmo algum crédito
por ser um humano decente.
Ele sorri.
Eu reviro meus olhos. — Um ser humano decente, às
vezes.
— Um lembrete de que você foi quem uniu King e eu
quando fizemos todo o possível para nos separar.
— Pffft, vocês dois eram tão perfeitos um para o outro
que poderiam ser cegos e surdos e eu ainda sabia que
deveriam estar juntos.
— Acho que há mais do que isso. Acho que você sabia
que seríamos felizes. Que ele seria feliz.
— Isso, ou eu simplesmente não queria que você fosse
embora, então tive certeza de que ficaria. É mais egoísta do
que você está imaginando.
— Uh, huh. Você continua dizendo a si mesmo, Prep.
Enquanto isso, você está aqui esfregando meus pés e
assistindo filmes da Disney com as crianças. Mas eu prometo
que seu segredo em ser um bom pai e um bom amigo está
seguro comigo.
— Você sabe que eu amo um maldito filme da Disney, —
responde Preppy.
— Eu também amo um maldito filme da Disney! — Bo
entra na conversa, repetindo as palavras do pai. Ele é o único
filho que não está sentado no chão. Em vez disso, ele está
sentado com as pernas cruzadas na poltrona, vestindo uma
gravata xadrez rosa e amarela que combina com a de Preppy.
Preppy tenta esconder seu sorriso torto e estreita os
olhos para o filho. — Bo, o que dissemos sobre usar esse tipo
de palavras?
Bo recita sua resposta sem cerimônia, como se tivesse
decorado de um livro. — Para não falar na frente da minha
mãe, minhas irmãs ou minhas professoras porque elas não
entendem que palavrões são um sinal de inteligência
emocional, de acordo com estudos recentes nas principais
publicações de psicologia médica. E socialmente não é
aceitável para uma criança de oito anos usar em público,
porque faz com que pareça que a mãe não está fazendo seu
trabalho quando todos sabemos que a minha linguagem
terrível é sua culpa.
Preppy assente. — Está certo.
Bo aponta para a TV. — Mas os filmes da
Disney são incríveis pra caralho porque, por trás de todas as
cantoras e princesas, são realmente mórbidos. Você sabia
que Moana é um dos poucos filmes da Disney em que os pais
não morrem no começo? Embora a avó bata as botas, mas
então, ela se torna uma arraia, então isso é incrível.
— Sim, é muito legal, — eu respondo. Olho de Bo para
Preppy. — Você sabe, ele pode não ter o seu sangue, mas ele
é tão seu filho. — Eu rio. — De todas as maneiras.
— Sim, sim, ele é. Mas ele é mais esperto do que jamais
serei, — diz Preppy, olhando para o filho.
— Acho que ele é mais esperto do que qualquer um de
nós jamais será, — acrescento.
Bo pega um punhado de pipoca e enfia na boca. — Isso
é verdade porque meu QI é cento e cinquenta e
seis. Tecnicamente, sou mais esperto do que 97% da
população jamais será. — Ele volta ao filme.
— Ele tem razão. Precisamos trabalhar em nossas
habilidades de sussurrar, — sussurro o mais baixo que
consigo. — Você sabe, é uma loucura vê-lo como pai,
Preppy. Você já sentiu falta do jeito que as coisas eram antes
de ter filhos?
Preppy faz uma careta. — O que? Tipo, sinto falta de
fazer sexo com alguém e qualquer coisa da maneira que
escolher, sem dar a mínima, se é errado, certo ou louco?
— Algo parecido.
— Não. E vamos ser sinceros, na maioria das vezes,
ainda sou o mesmo eu. Sou casado, mas isso não significa
que não acho mais a maioria das putas,
quero dizer, mulheres,... sexy pra caralho. E isso não
significa que eu ainda não queira fazer coisas horríveis,
deploráveis, sujas...
Eu o cortei. — Entendi.
— A única diferença é que agora só quero fazer essas
coisas com Doc. — Ele olha para onde as gêmeas estão
dormindo de barriga para baixo ao lado de Max e Sammy,
igualmente desmaiadas, e depois volta para Bo, que tem um
caderno no colo, rabiscando nas páginas. — Você já sabe que
eu não tinha uma família enquanto crescia. Agora, eu tenho
uma. Meu único objetivo é não estragá-los demais e deixá-los
serem eles mesmos.
Lágrimas brotam nos meus olhos. Eu tento escondê-las
voltando para a TV enquanto as afasto.
Preppy pausa as mãos no meu pé. — Você está bem,
garota? Você parece um pouco estranha, e eu sou especialista
em frustração sexual, mas isso parece outra coisa. Você
normalmente ri quando falo merda estúpida, e agora a risada
não está lá ou... eu não sei, apenas não o que costumava ser.
Ótimo, outra pessoa que vai me perguntar se estou bem
a cada vinte minutos. Eu forço um sorriso. — Estou bem. Eu
realmente estou. É só um filme doce. E você sabe, hormônios
e tudo mais. — Eu fungo.
A carranca de Preppy diz besteira, e posso sentir seu
olhar penetrando minha fachada através da minha
têmpora. — Não é tão doce. E não estou falando apenas de
hoje também. Você está assim há um tempo agora.
— Assim como?
— Como se seu melhor amigo tivesse morrido, mas eu já
fiz isso... o que é?
Eu não respondo por que não tenho certeza de como
responder. A mesma razão pela qual não expliquei isso a
King. Como posso explicar a eles uma sensação que nem eu
entendo bem? Além disso, eu sei quão ruim é o peso da
preocupação, e não quero repassar isso para eles e deixá-los
preocupados comigo, quando não tenho certeza de que haja
um motivo para se preocupar.
Preppy estalou os dedos. — Espere, eu já sei. Você não
ri muito porque tem medo de fazer xixi. Isso acontecia com
Dre quando ela estava grávida e ria muito. Logo depois da
gravidez também. Ela ficava envergonhada, mas não me
importei. Na verdade, eu meio que gosto quando...
— Não é nada disso, — eu deixo escapar, não querendo
ouvir o final dessa frase, embora mentalmente já tenha
ouvido tudo. — Eu só estou um pouco cansada.
Ele não parece convencido. — Tem certeza disso?
Sorrio e tento tornar o mais genuíno possível. — Tenho
certeza. Além disso, gravidez misturada com exaustão é igual
a emocional. Amanhã estarei bem.
— É o seguinte. Você vai para a cama e tenta descansar.
Vou terminar o filme com as crianças, e vou esperar o chefe
chegar em casa antes de sairmos.
Estou prestes a discutir quando ele insiste.
— Cama, criança. Agora. Caso contrário, terei de
consultar o seu bárbaro marido e você será abordada com a
edição da Inquisição Brantley King até que um ou ambos
morram de exaustão mental.
Não quero ter a mesma conversa com King
novamente. Não gosto de mentir para ele, mas estou bem. Ou
vou ficar bem.
Ou espero estar bem.
Concordo com a oferta de Preppy e manobro minha
barriga enorme para que eu possa virar para o lado e me
levantar do sofá. — Obrigada.
Estou no meio do corredor quando ouço Preppy. Mais
uma vez, Bo estava certo. Ele precisa trabalhar suas
habilidades de sussurro. — Ok, crianças. Ela se foi. Quem
quer cocaína?
Olho por cima do ombro e encontro Preppy rindo
baixinho de sua própria piada. — Elas estão todas dormindo,
— continua ele, apontando para o chão. — E você, de todas
as pessoas, sabe que eu nunca daria a minha coca as
crianças. Elas não têm dinheiro ou garantia.
CAPÍTULO Três
KING

Minhas mãos podem estar um pouco mais limpas hoje


em dia, mas meu dinheiro ainda é sujo pra caralho. E neste
momento, alguém está tentando foder com o que é meu por
direito. O que passei duas décadas construindo nesta cidade.
Quando chove, inunda.
Também não estou falando do furacão Polly, embora
isso não esteja exatamente ajudando.
A última tempestade de merda foi na noite
passada. Nine e Pike, junto com um dos caras de Bear que
chamam de Badger, estavam movendo uma carga de cocaína
quando foi roubada no meio da porra da calçada. Minha
maldita calçada, por alguns aspirantes a bandidos de
aluguel.
Infelizmente, fui eu quem investiu a porra do
dinheiro. Como se eu precisasse de mais coisas para me
preocupar agora, além de Pup e o que diabos ela está
escondendo de mim. Estou entre raiva e confusão de que ela
não está sendo honesta comigo, e odeio admitir, magoado.
O que me deixa ainda mais zangado.
Entro na estrutura da adição da casa. Pup realmente fez
um ótimo projeto. Quando terminar, será uma nova suíte
master, uma adição à cozinha e uma enorme sala de jogos
para as crianças. O que Pup não sabe é o que mais será
incluído, mas pretendo manter essa informação até que
esteja completo e cada quarto pareça exatamente como ela
imaginou.
Atualmente, é apenas um lugar que cheira a serragem,
eu vejo Pike e Nine me esperando dentro da estrutura
das paredes, e más notícias.
Pike está girando inconscientemente seus braceletes de
algemas nos pulsos, com as costas contra uma das
vigas. Seu cabelo de garoto da praia comprido até o queixo e
o rosto machucado. Há um corte acima do olho direito e uma
mancha onde ele está sangrando através do curativo. Há um
hematoma embaixo do outro olho.
Nine está no telefone, mas levanta os olhos quando me
ouve se aproximar e o coloca de volta no bolso. Eu considero
o garoto meu protegido, e não apenas porque ele é irmão de
Preppy, mas porque ele é esperto, violento quando a situação
exige, e disposto a assumir a direção. Ele é a próxima
geração. Príncipe da Praia de Logan.
Se ele não foder tudo antes mesmo de começar.
Nine, como de costume, não perde tempo nos
negócios. Ele vira um balde laranja neon e se senta.
— Conte-me tudo. — Eu exijo. — O que diabos você
descobriu? —Acendo um cigarro para dar a minhas mãos
algo para fazer além de derrubar a madeira que nos rodeia e
quebrá-la sobre o joelho.
Nine suspira. Ele tem um lábio rachado e uma marca
vermelha na bochecha. — Estamos trabalhando nisso, mas
ainda sem sorte.
Era a última coisa que eu queria ouvir. Dou um passo
em sua direção e sinto a veia na minha testa latejar a cada
passo. Os músculos no meu pescoço tensos. Eu me inclino e
aponto meu cigarro para Nine. — Ninguém brinca conosco
nesta cidade. Essa é a regra número um, e quem estiver por
trás disso aprenderá da maneira mais difícil.
Nine não se intimida com minha ordem. Ele parece
abraçá-la. Ganhar confiança com isso. Assim como Pike.
Os ombros de Nine se endireitam e ele assente.
Eu me viro para Pike. — Não pare de procurar até que
tenha falado com todos nesta cidade, até que revire cada grão
de areia naquela porra de praia. Não pare até ter um nome
ou, melhor ainda, um corpo.
Nine se levanta. — Pode deixar, chefe.
Eu quase me sinto mal pela criança. Ele sabe o que
fazer e qual o seu trabalho, mas estou com muita raiva agora
para reunir a porra de uma falsa polidez por causa de seus
sentimentos. — Então, o que sabemos? — Eu pergunto,
dando um passo para trás e tentando apagar as chamas do
meu sangue fervendo.
Pike se afasta da parede e torce as mãos. — Nós
sabemos que os filhos da puta usavam máscaras. Máscaras
de esqui de esqueleto de todas as coisas. Eles não soavam ou
pareciam familiares. Em minha opinião, eles são contratados
e não afiliados. A maneira como nos roubaram foi imprudente
e não foi bem planejada. Eles dispararam nos pneus do
caminhão por trás da mureta de proteção e colidimos com o
canteiro central. Eles cercaram o caminhão antes que
pudéssemos reagir e nos mandaram sair do
caminhão. Quando Badger os mandou se foder, eles atiraram
nele.
— Como ele está? — Eu pergunto. Não quero que
ninguém morra sob minhas ordens e na minha cidade. Não
se eu puder evitar.
Pike balança a cabeça e acende um baseado. — A bala
entrou e saiu. Nós o levamos para a casa da enfermeira Jill.
Ele está com meia garrafa de Jack e um pouco de blues. Ele
tem assobiado Dixie nas últimas seis
horas. Literalmente. Então, acho que é seguro dizer que ele
ficará bem. Bem, depois da enorme ressaca que suspeito que
o filho da puta terá.
Eu concordo. — Você disse que eles não soavam
familiares. Então, o que eles disseram?
Pike hesita e se vira para Nine. — Diga à ele.
Pike solta um suspiro. — Um deles falou para lhe dizer
que há um novo rei da calçada na cidade, e ele vai tirar tudo
que é seu, a menos que... — Ele parece estar prestes a levar
um chute no saco do jeito que prende a respiração.
— A menos que o quê? — Eu pergunto, sentindo os
tendões do meu pescoço esticarem. — Fora com isto!
Seus olhos encontram os meus. — A menos que você lhe
dê o que ele quer.
— E que porra é essa?
— Eu perguntei a mesma coisa. Ele disse que você
descobrirá em breve. — Nine leva a mão à testa e toca o nó
vermelho logo abaixo da linha do cabelo. — Então, ele usou a
coronha da arma e me nocauteou.
— Hackeie todas as câmeras de segurança daqui até a
porra de Miami. Descubra para onde foi aquele maldito
caminhão. Pike, ligue para cada conexão de
sanguessugas que você tem, dos traficantes de rua ao
cartel. Traga-me um nome, porra. E quando você conseguir
um. — Eu dou uma tragada profunda. E sopro a fumaça
lentamente pelas minhas narinas como o maldito dragão
furioso raiva que me sinto agora. — Você me liga primeiro.
— Feito, — Nine responde com um breve aceno de
cabeça.
Eu saio com raiva percorrendo meu corpo. Todos os
músculos tensos e rijos. Quem está por trás disso pagará da
maneira antiga. A maneira como construí meu nome e meu
negócio.
Com porra de sangue.
Dirijo-me à parte da casa que não consiste apenas de
árvores mortas e não muito mais. Eu meio que espero que as
crianças corram como costumam fazer quando me ouvem
subindo as escadas, mas ninguém vem me cumprimentar
hoje.
Lá dentro, encontro minha sala cheia de crianças
dormindo, tanto as minhas quanto as de Preppy. A única
exceção é o próprio Preppy, que está bem acordado e
assistindo atentamente qualquer desenho animado que esteja
prendendo sua atenção.
Abro a geladeira e pego duas cervejas. Preppy me ouve e
olha para cima. Ele se levanta do sofá e aponta o queixo em
direção à porta dos fundos. Espero ao lado da porta e entrego
uma cerveja para ele, seguindo-o de volta para fora. Eu
lentamente fecho a porta de tela para não acordar as
crianças, mas mantenho a porta interna aberta, caso uma
delas acorde.
— Onde está minha garota? — Eu pergunto, tomando
um gole da minha cerveja.
Quando chegamos à grama, Preppy acende dois
cigarros, entregando um para mim. — Eu a mandei para a
cama. Bem, enviei-a para a cama depois de lhe dar uma
famosa massagem no pé do Preppy.
O instinto faz meus dedos ficarem brancos, mesmo
sabendo que Preppy não é uma ameaça, mas quando se trata
de minha esposa, não posso evitar a raiva que sinto quando
se trata de outro homem a tocando, não importa o quão
inocentemente.
— Você é tão fofo quando está todo irritado, — comenta
Preppy, encarando meus punhos cerrados.
Reviro os olhos e ignoro o instinto de tirar o sorriso de
seu rosto. O garoto já passou por bastante nos últimos dois
anos. Ele não precisa da minha ira infundada. Pelo menos
hoje não. E ele é meu melhor amigo, embora minha pressão
arterial atualmente pense de outra forma.
Os últimos raios do dia irradiam os manguezais, e
percebo quão cedo é. — Espere, ela já está na cama? — Eu
pergunto, preocupação subindo pela minha espinha como
uma aranha retornando à sua teia. Mesmo grávida, Pup não
é do tipo que faz pausas, mesmo quando são muito
necessárias.
Preppy dá uma profunda tragada e encolhe os ombros, o
movimento contraindo uma profunda cicatriz irregular em
seu pescoço. — Ela diz que está cansada, mas se você me
perguntar, a criança não parece a mesma de sempre.
Eu vejo minha preocupação refletida em seus olhos e
suspiro de pura frustração. — Sim, eu sei. Toda vez que lhe
pergunto, ela me diz que está bem.
— Ela é teimosa como o inferno. — Preppy levanta uma
sobrancelha para mim. — Me lembra muito o marido dela.
— Mesmo assim, não muda o fato de que eu ainda não
sei o que diabos a está incomodando, ou melhor ainda, por
que ela sente que precisa mentir para mim sobre isso. — Fui
esfaqueado e fuzilado, mas minha esposa sentindo que não
pode ser honesta comigo dói muito mais do que uma bala
perfurando a pele e os músculos ou uma lâmina irregular se
projetando contra o osso.
— Diga-me, chefe. Por que alguém em um
relacionamento, aquele em que realmente gosta da outra
pessoa, mente para o parceiro? — Ele sonda.
Estou preocupado demais com Pup para tentar
responder uma charada agora. — Por quê?
Preppy sopra a fumaça. — Ugh, você é inútil. Ela está
tentando te proteger, seu homem das cavernas. Por que
mais?
— Me proteger? — Eu zombei. — De que?
Ele cruza os braços sobre o peito e se inclina contra o
corrimão da escada que leva à porta dos fundos. — Deixe-me
colocar deste jeito. Se ela lhe dissesse o que realmente estava
errado, qual seria a primeira coisa que você faria? Seja
honesto.
Eu dou de ombros. — Fácil, eu resolveria.
Ele faz uma arma de dedo e aponta para o meu peito. —
Bingo.
— O que diabos isso significa? — Eu rosno.
— Isso significa que talvez o que ela esteja passando não
possa ser resolvido com um soco na mandíbula de alguém ou
uma bala na cabeça de alguém.
— Se pudesse ser assim tão fácil, — murmuro. Olho
para os cintos que uso enrolados em meus antebraços.
Preppy ri. — Ok, ou um cinto em volta do pescoço. O
que quer que sua garota esteja lidando, ela obviamente acha
que precisa passar por isso sozinha, porque não quer
incomodá-lo. Ou qualquer outra pessoa, diga-se de
passagem.
— Então... — Faço uma pausa esperando Preppy dizer
alguma coisa. Ele não diz. — Então, o que diabos eu faço?
Ele encolhe os ombros e dá uma tragada em seu
cigarro. — Não tenho certeza. Talvez a faça perceber que ela
não está sozinha. Que você não vai apenas tentar resolver,
mas entender o que quer que seja.
Preppy está certo, e isso me irrita como uma corda
irritando minha pele. — Quando você começou a ser tão
inteligente?
Ele faz uma reverência dramática. — A morte tem uma
maneira de dar a alguém uma nova perspectiva sobre a
merda. Coisas sobre as quais nunca pensei ter uma opinião
antes. Tipo, não me fale sobre as opções do clube do livro de
Oprah. Besteira convencional patrocinada por um
pub falido...
— Me faça um favor, Prep? — Eu peço, apagando meu
próprio cigarro.
— Sim, chefe?
— Você é inteligente o suficiente, então não morra
novamente. Você sendo brilhante é ainda mais irritante.
Preppy me dá um tapa nas costas e me segue de volta
para casa.
— É uma porra de acordo. — Ele abaixa a voz para um
sussurro. — O que diabos está acontecendo com a
remessa? Alguma palavra sobre quem diabos está envolvido?
Balanço a cabeça. — Não, mas eu vou descobrir.
Preppy estrala as juntas dos dedos. — Bom, me avise
quando o fizer. — Eu vejo seus olhos se arregalarem junto
com seu sorriso quando uma ideia passa por seu rosto. — Eu
tive a melhor ideia de todas.
— Porra, eu quero saber?
— Depois que você descobrir quem está te fodendo, eu
sei para onde podemos levá-lo. Já faz um tempo e posso ter
que arrumar um pouco, mas ainda está lá. Vou te dar uma
dica. Três palavras. Um dos meus lugares favoritos do
mundo.
Sinto um sorriso se espalhando pelo meu rosto. Não
posso deixar de compartilhar sua empolgação com o que está
por vir e onde.
Galpão da matança.
CAPÍTULO Quatro
RAY
ALGUNS DIAS DEPOIS…

Nossos filhos estão se perseguindo mais uma vez. A


pequena está chorando porque não consegue acompanhar as
crianças grandes. O que está na minha barriga dá
cambalhotas. Preppy está aqui de novo, mas desta vez sem os
filhos, porque sua esposa Dre os levou a Nova York para uma
visita ao avô. Eles deveriam voltar depois de amanhã, mas
Preppy lhes disse para se preparar para ficar mais tempo,
caso a tempestade mude de direção, o que me diz que ele está
mais preocupado com isso do que me levou a acreditar.
Tenho certeza de que King colocou Preppy no serviço de
babá (eu, não as crianças) enquanto tenta descobrir a
situação com a remessa. Eu gostaria de poder fazer mais
para ajudar, e odeio ver King tão bravo, embora eu saiba que
ele atenua a severidade dessa raiva quando está perto de
mim e das crianças. Não me importa que Preppy esteja por
perto. Ele tem sido uma ajuda e distração muito necessárias.
Arte, tatuagem costumava ser essa distração. Comecei a
me envolver mais com o passar dos anos, no que se trata de
design e tatuagem. Estou ansiosa para voltar a fazê-lo, mas
mesmo que não estivesse muito grávida e incapaz de ficar
sentada em uma posição por um longo período de tempo, não
me sentia exatamente inspirada. Faz meses desde que peguei
uma pistola de tatuagem ou um lápis.
Estou arrumando um controle remoto quebrado da TV,
colocando as pilhas de volta quando King entra pela porta e o
tira da minha mão.
— Quem fez isto? — Ele pergunta, levantando uma
sobrancelha para as crianças.
— Um deles que atualmente não ocupa espaço dentro
do meu corpo. —Aponto para nossos três filhos que
subitamente estão parados no sofá. A imagem do trio perfeito
da inocência sorri para o pai deles.
— Demônios. Todos eles — murmura Preppy da
cozinha. Ele aponta sua espátula de panqueca para o próprio
peito. — E para registro, não fui eu.
— Desculpa por demorar tanto. Levei meia hora apenas
para ir do clube de Bear até a calçada. Então, tive que voltar.
— Por quê? — Eu pergunto.
— Um barco colidiu com uma das estacas. Causou tanto
dano que tiveram que fechar.
— Até quando? — Eu pergunto. A calçada é a única
maneira de entrar ou sair da Praia de Logan de carro. Meu
parto é daqui a algumas semanas e o hospital fica do outro
lado.
— Acho que até eles consertarem. O trabalhador que me
mandou voltar disse que pode levar até uma semana.
Sinto uma onda de alívio tomar conta de mim.
King se inclina e beija minha testa. — Pensei no
hospital. Foi por isso que perguntei.
Ele monta as peças do controle, colocando as pilhas
novamente e aponta para a TV. Ele muda o canal para testar
e coloca no momento em que o meteorologista da estação
local limpa a garganta. — Boa noite. Aqui é o meteorologista
Dexter Greyson com uma atualização do furacão Polly. Eu sei
que estávamos esperando ventos da categoria dois, no
máximo, com os ventos da categoria três ficando mais ao
largo da costa e na região de Port Charlotte. Infelizmente, a
partir da atualização do centro de furacões às 5h, o furacão
Polly não apenas fez uma curva drástica para o sul, longe do
cone previsto, mas também ganhou velocidade e força. Agora,
estamos esperando um desembarque na área da Praia de
Logan até Coral Pines, hoje nas primeiras horas da
noite. Lamento informar aos moradores da Praia de Logan
que, com a ponte intransponível e as águas já inseguras para
viajar de barco, que se abrigar em prédios mais altos e sólidos
é o curso de ação mais recomendável. — O meteorologista
de aparência atormentada faz uma pausa para tomar um gole
de sua caneca do Canal Dois. — Fiquem seguros, e que Deus
esteja com todos vocês.
Eu não tenho ideia por onde começar. Sento-me porque
minha cabeça está tonta com pensamentos confusos. As
crianças estarão seguras? Estaremos seguros? E a
casa? Inundações? Nosso seguro?Energia? Onde fica o
gerador?
— Respire, — ordena King, colocando a mão no meu
ombro. Eu a cubro com a minha. — Vai ficar tudo bem.
Preppy dá de ombros. — Não é nada que não tenhamos
passado antes. Além disso, o cara do canal do tempo nem
está na cidade e todo mundo sabe que o único momento para
se preocupar é quando ele aparecer.
O âncora do noticiário mais uma vez lança para o
meteorologista. — Apenas uma atualização, e eu odeio ser
portador de más notícias, mas tenho um relato de que Jim
Cantore, do Weather Channel, foi visto transmitindo do final
da Calçada.
— Foda-se, — Preppy amaldiçoa.
— Realmente, de todas as coisas que ele disse, isso é o
que mais te incomoda? — Eu pergunto, apontando para a TV.
Para minha surpresa, King sai em defesa de Preppy. —
Cantore vai aonde é considerado o marco zero durante uma
tempestade.
— O que nós vamos fazer? — Eu sussurro para King,
ciente de que as crianças estão nos observando e não
querendo deixá-las tão amedrontadas quanto eu.
— Vamos superar isso, — diz King, como se fosse muito
simples. Eu acredito nele porque tenho que acreditar
nele. Porque não consigo imaginar um mundo em que
nenhum de nós consiga passar por isso.
O repórter continua enquanto as crianças se perseguem
pelo corredor. — Embora os ventos sejam um fator
importante nesse furacão, as inundações serão a maior
preocupação para nossa área, pois estamos no lado da baixa
pressão da tempestade. Vá para terrenos altos e para uma
sala interna para evitar detritos voadores. E digo novamente,
sem sacanagem, pessoal. Que Deus esteja com...
Nós nem sequer o ouvimos terminar a frase porque a TV
junto com o resto da energia da casa se apaga. A sala fica
escura e amarela, iluminada apenas pela luz do sol poente.
Preppy suspira. — Merda, isso foi ameaçador pra
caralho. E ele disse sacanagem na TV.
— Você tem toda a razão, — diz King com um
suspiro. Ele se vira para Preppy. — Ligue para Bear. Eu vou
começar aqui. Você sabe o procedimento.
— Que procedimento? — Eu pergunto quando Preppy
tira o telefone do bolso e sai correndo pela porta.
— Este não é o nosso primeiro rodeio, moça bonita, —
responde Preppy com um sotaque no estilo cowboy do sul.
— Siga-me, — diz King enquanto também empurra a
porta da frente. Faço o que ele diz e o sigo escada
abaixo. Preppy sai da garagem quando chegamos à loja de
King, que fica ao lado de nossa garagem. — Temos um
sistema em casa. Coloquei as persianas e Preppy armazenou
os suprimentos. Alimentos e medicamentos. Vou ligar para
Bear e ver se ele planeja vir para cá ou ficar na sede do
Clube. De qualquer forma, ele está encarregado da água e dos
geradores.
— Eu nunca tinha passado por um furacão antes, — eu
admito.
— Já passamos por alguns.
— Quantos assim?
King dá de ombros. — Teve um quatro uma vez. A única
diferença é que a chegada estava prevista e estávamos mais
bem preparados. Nunca houve um que tivesse mudado de
direção assim antes.
— Um furacão coringa. Imprevisível mesmo quando
previsível.
— A preparação é a mesma para todos eles. Nós só
precisamos ser um pouco mais rápidos quando se trata deste
aqui.
— Mas a realidade do dano não é. E a adição e as
crianças...
— Pup, — diz King, e não percebi seu movimento até
que ele está bem na minha frente, segurando meu rosto e me
forçando a olhar em seus olhos. — O que importa é você, o
bebê na sua barriga e as crianças naquela casa. A adição
pode se foder. A casa pode se foder. Todas as pessoas desta
cidade podem se foder. Se nos concentrarmos no que
importa, ficaremos bem. Eu prometo a você, e nunca deixaria
nada acontecer com nenhum de vocês. Nunca.
— Isso é verdade quando há pessoas nos perseguindo,
mas você não pode lutar ou atirar em um furacão.
King tira a arma da cintura da calça jeans e sorri. —
Você quer apostar?
Acontece que a arma é para depois da tempestade, caso
saqueadores venham e tentem saquear casas que acham que
estão abandonadas. O fato de alguém tirar vantagem das
pessoas assim, chutá-las enquanto estão caídas é nojento,
mas só porque eu não faria isso não significa que não era
feito e King estava certo.
Temos que estar preparados para tudo e qualquer coisa.
No entanto, existem algumas coisas na vida que, não
importa quanto tempo você tenha, nunca estará realmente
preparada.
CAPÍTULO Cinco
RAY

— Mamãe, estou preocupada com o furacão, — diz Max,


parada entre meus joelhos.
Meu coração dói porque ela está preocupada com algo
fora de seu controle. — Ei, é trabalho dos adultos se
preocupar com esse tipo de coisa. Pare de tentar roubar meu
trabalho, fedorenta.
— Eu não sou fedorenta! Sammy é o fedorento. Você
sentiu o cheiro das meias dele?
— Infelizmente, sim, — eu digo, colocando um cacho
rebelde atrás de sua pequena orelha.
— Sammy, você é um fedorento! — Max grita e corre de
volta para perseguir seu irmão, que está subindo em uma
árvore.
King sai para a varanda usando seu preto habitual, com
um boné de beisebol preto na cabeça. — Ei, Pup. — Sua voz é
puro desafio que atinge todas as terminações nervosas
do meu corpo. Eu achei que desapareceria com o tempo, mas
não. Todo dia com ele apenas amplifica meus sentimentos.
Coração e corpo
Ele senta no degrau acima de mim e olha para o jardim
da frente, onde nossos filhos estão brincando.
Nicole Grace está brincando, perseguindo seu irmão e
irmã. Sammy e Max estão atirando um no outro com enormes
armas de água, presentes de Bear. Estou acariciando
a futura nova adição à nossa família em minha barriga
saliente, enquanto absorvo as risadas e os gritos de alegria
vindos de nossa crescente e louca ninhada.
— Eu tenho que ir encontrar com os caras e discutir
algumas coisas. Você ficará bem aqui por um tempo? —
Pergunta King.
— Eu ficarei bem. Tudo certo? — Eu pergunto.
— Ficará, — ele responde, mas vejo preocupação em
seus olhos que não estava lá antes. Estou prestes a lhe
perguntar o que o está incomodando, além da tempestade
iminente, mas antes que eu possa tirar a pergunta da minha
boca, somos interrompidos por uma pequena cabeça de
longos cachos loiros.
— Mamãe! Papai, lembram-se de quando foram se casar
sem a gente! — Max nos chama com o lábio inferior em um
beicinho adorável.
Eu sorrio para King. — As crianças ainda estão meio
chateadas conosco por nos casarmos no tribunal. Eles
queriam estar lá. Estão mais chateados com isso do que
quando lhes disse que não podiam brincar aqui fora amanhã
por causa da tempestade.
King gentilmente coloca a mão na minha garganta. Um
abraço possessivo que eu vim a amar. — Sim, mas eu não
podia esperar mais para casar com você.
— Eu também, — eu admito.
Ele se inclina e pressiona um beijo suave nos meus
lábios.
— Ewwwwwww! —Sammy geme.
Nós nos separamos e olhamos para Sammy, que está
apontando para nós, franzindo o nariz. — Isso é nojento.
King ri. — Cuide dos seus negócios, garoto. Você nem
sempre vai achar nojento. Algum dia, você pode até querer
beijar uma garota.
Sammy balança a cabeça. — De jeito
nenhum. Isso é nojento, e eu não vou mudar de ideia. Agora
não! Nunca!
Max sai de trás do tronco grosso do carvalho no centro
do quintal e esguicha Sammy por trás com sua pistola de
água. Ele solta um grito surpreso e depois sai atrás dela.
— Talvez eles precisem nos ver casar, — sugere King. —
Quando toda essa merda acabar.
Minha cabeça vira para ele. — O que?
Ele observa as crianças por mais um momento antes de
se virar para olhar para mim. — Quero que eles vejam o que
há entre nós e o que é. Algo bom. Algo forte. — Ele se levanta
e pega minha mão, me puxando com ele. Sua mão volta para
a minha garganta e a outra para a minha barriga. — Procure
um vestido branco, Pup. Porque depois que o céu limpar e o
bebê estiver aqui, você e eu vamos ter um casamento de
verdade. — Ele me beija devagar, mas não é terno. É uma
posse lenta da minha boca e corpo. Ele se afasta, me
deixando sem fôlego. Seus olhos estavam fortemente
fechados. — Agora que você é minha em todos os sentidos,
acho que vale a pena comemorar. Não é?
Tudo o que posso fazer é assentir porque, assim como
toda vez que ele me beija, ele roubou meu fôlego.
— Vejo você daqui a pouco, — ele ri. — Preciso comprar
mais parafusos para as persianas. Eu volto logo. — Ele desce
os degraus da varanda e corre atrás de Sammy, levantando-o
no ar para que Max possa dar um bom tiro nele. Ele solta
Sammy e as crianças começam a correr mais uma vez.
King dá um beijo em cima da cabecinha loira e
adormecida de Nicole Grace e depois caminha até sua
motocicleta. Cada passo que ele dá faz minha respiração
acelerar. Ele monta a grande moto preta e o motor ruge à
vida. Ele vira o boné de beisebol e sai da garagem.
Fico olhando boquiaberta para ele como uma
adolescente da escola com uma paixonite, porque caramba
esse homem ainda é a coisa mais linda que eu já vi.
Eu desço para o quintal e pego Nicole Grace, colocando-
a no meu quadril. Grito para as outras duas crianças que vou
colocar a mais nova na cama.
Quando saio da casa, momentos depois, Max e Sammy
estão sentados na grama, vendo joaninhas rastejarem sobre
dentes de leão.
Um carro que não reconheço estaciona na
calçada. Meus ombros enrijecem. Minha mente em alerta
total.
— Sammy, Max! Entrem agora!
Sammy e Max fazem exatamente o que eu
pedi. Levantando-se e passando correndo por mim para casa
porque conhecem minha voz séria. Eles também sabem que
mamãe não brinca quando há uma pequena possibilidade de
ameaça, especialmente quando se trata de seus filhos.
Observo quando uma mulher sai do BMW preto
brilhante. Ela é linda e loira. Magra, sem um cabelo fora do
lugar. Ela é alta, usa óculos de sol enorme e moderno
e sapatos de salto alto, não destinados a uma entrada de
automóveis de cascalho, mas de alguma forma, ela anda sem
tropeçar.
— King está por aí? — Ela pergunta, com um doce
sotaque sulista que faz meus cabelos arrepiarem. Ela olha
para a casa e a área circundante antes de olhar de volta para
mim.
— Por aqui, nos apresentamos antes de fazer perguntas,
— digo a ela, cruzando os braços sobre o peito.
Ela não responde. Porque está distraída com alguma
coisa. Ela tira os óculos e olha para a janela da frente, onde
Max e Sammy estão espiando por cima do sofá.
Não, ela não está olhando para as crianças como um
todo. Ela está olhando para Max. O medo toma conta do meu
estômago quando um pensamento passa pela minha cabeça e
a realização me bate como um bastão no meu peito.
Não. Não pode ser.
Ela coloca os óculos escuros sobre a cabeça. — De fato,
há algo em que você pode me ajudar, — diz ela. — Não sei se
King falou com você sobre mim, mas sou Tricia. Max é
minha...
— Você não é nada de Max, — eu interrompo quando a
raiva ofuscante nubla minha visão e faz meus punhos
cerrarem ao meu lado.
Ela franze a testa, depois endireita os ombros enquanto
seus lábios se achatam e seus olhos se arregalam com
determinação. — Oh, mas, de fato, eu sou
ela algo. Uma coisa muito significativa, como se vê. E pelo
que parece, acho que você sabe exatamente quem eu sou.
— Eu sou a mãe dela. Tenho documentos que darão
suporte a isso e uma arma que os apoiará. Então, por que
diabos você está aqui? — Eu consigo dizer.
Tricia coloca a ponta dos óculos de sol no canto da
boca. — Estou aqui para ver Max, é claro. Minha filha.
Por dentro, estou tremendo. Meu coração está batendo
forte. Minha natureza protetora entra em ação, e juro que se
tivesse uma arma comigo, já teria nivelado essa mulher no
cascalho. Por fora, permaneço o mais calma e tranquila
possível.
Desço lentamente até o degrau inferior, um passo lento
de cada vez, até que olho no olho da cadela. — Você quer ver
minha filha? — Eu rio, porque este será o único aviso que
estou disposta a dar à cadela. — Sobre o seu cadáver.

— Tivemos uma visita, — digo a King no segundo em


que ele passa pela porta da garagem. Minhas palavras
tremem quando saem dos meus lábios como granadas
prontas para explodir aos meus pés. Sinto meu rosto
pálido. Dizer as palavras torna o que aconteceu real, e me
ocorre que essa mulher pode tentar tirar minha filha de mim.
— Quem? — King pergunta, olhando nos meus olhos e
segurando meus ombros.
Eu não consigo respirar. Eu não posso respirar,
porra. — Tricia. Max... — Faço uma pausa, não querendo
dizer a palavra mãe enquanto a bile gira em meu estômago já
enjoado.
Suas mãos se fecham em punhos em um pedaço de
folha de caderno, esmagando-a com força. — Isso explica
essa merda, — diz King, as veias em seus antebraços
salientes de raiva.
Desdobro seus dedos do papel. — O que é isso? — Abro
o que parece ser uma nota.
King passa a mão pelos cabelos e respira fundo. —
Alguma besteira fodida que estava pregada na porta da
garagem quando estacionei. Uma remessa foi roubada de Pike
e Nine alguns dias atrás. Uma remessa que paguei.
— Por que você não me contou?
— Você tem muito na cabeça ultimamente. Eu não
queria te preocupar.
Eu quero ficar brava, mas isso me faria uma hipócrita
desde que tenho protegido King, mantendo meus problemas
para mim também.
King limpa a garganta. — Acho seguro dizer que o
responsável por roubar o caminhão foi quem escreveu esta
nota. Coincidência demais Tricia aparecer assim. Ela
provavelmente trouxe isso até aqui.
Olho para a nota.
King,
Seu reinado acabou. Há um novo rei da calçada. Vou
continuar dificultando os negócios para você na Praia de
Logan. Posso pegar tudo o que você tem ou você pode entregá-
lo. Desista de seus negócios nesta cidade ou desista da
garota. A escolha é sua.
Vida longa ao rei.
—Eu não entendo. — Eu digo, balançando a cabeça. —
Claro. A ameaça parece um pouco estranha.
— Sim, eu notei isso também. Quem me conhece sabe
que negócios significam merda para mim em comparação a
família e eu desistiria facilmente. Quem enviou Tricia a está
usando como um peão para que possa reivindicar a Praia de
Logan como sua. Não acho que o objetivo final deles seja
Max. É o dinheiro. Quem quer que seja, têm muita coragem
se metendo comigo assim.
Eu levanto meus olhos da ameaça na minha mão e olho
para King. — O que você vai fazer?
— Vou começar dizendo a todos que fazem negócios
dentro ou fora da Praia de Logan para interromper qualquer
operação que dependa de mim. Pelo menos até descobrir
quem está por trás dessa merda e cortar a garganta do filho
da puta, estamos em uma paralisação. — Ele segura meu
rosto em suas mãos. — Não se preocupe. Não posso e não
correrei o risco de perder nossa filha. Eu vou mantê-la
segura. Não importa o custo.
Viro a nota na minha mão como se houvesse mais para
ler quando as poucas palavras na página dizem mais que o
suficiente.
— Como você vai descobrir quem a enviou?
— Meu palpite é que há uma pessoa que sabe. — Seus
olhos ficam escuros e frios. — E no segundo em que a
tempestade passar, vou encontrá-la.
Tricia.
— E se ela não lhe disser? — Eu pergunto, me sentindo
estúpida no segundo em que as palavras saem da minha
boca porque já sei a resposta antes que ela saia de seus
lábios.
— Ela vai se quiser continuar respirando.
CAPÍTULO SEIS
RAY

Eu entendo agora por que a frase calma antes da


tempestade é usada. Porque horas antes do furacão Polly
derramar sua ira na Praia de Logan, tudo está invulgarmente
imóvel, incluindo meu coração normalmente acelerado que
fica congelado enquanto espera o que está por vir.
O céu está limpo de nuvens. A brisa não é suave; é
inexistente, como se estivesse prendendo a respiração. Nem
uma folha de grama está balançando. Nem um pássaro está
cantando. As águas da baía não se atrevem a ondular.
Até o cheiro de sal e peixe que geralmente permeia o ar é
mais sal e menos peixe. Como se eles soubessem que é hora
de nadar para longe.
Infelizmente, não acho que nosso filho por nascer tenha
recebido a mesma mensagem.
O bebê está chegando. Sinto nos ossos da mesma forma
que sinto a mudança no ar à medida que a tempestade se
aproxima.
Por favor, fique um pouco mais, pequenino. Dê-me apenas
dois dias. Por favor. Não apenas porque tenho algumas
semanas de antecedência, mas porque não quero que o bebê
nasça no caos e é exatamente assim que a vida em nossa
casa e em nossa cidade se parece agora.
Caos puro e absoluto.
As dores que sinto ainda estão distantes e um pouco
piores que uma cãibra, mas estão se tornando mais
consistentes a cada hora que passa. As estradas estão
fechadas. Não haverá como ir para um hospital tão cedo. Se
você puder esperar até a cesárea agendada.
Se o novo bebê for tão teimoso quanto seu pai ou eu,
nenhuma quantidade de raciocínio o manterá dentro de mim
se estiver disposto a vir ao mundo.
— É isso aí. É hora de fechar esta também. — King diz,
colocando a última persiana sobre a janela e descendo a
escada. Ele a dobra e a guarda em uma correia presa à
parede na área aberta sob a casa.
Eu o sigo, mas assim que dou um passo, sinto outra
dor. Esta mais forte que as outras.
Teimoso. Eu sabia.
Pressiono as mãos sobre a barriga e respiro fundo até
que a dor passe.
— Mexendo muito? — King pergunta, afastando-se e
esfregando a mão sobre o meu estômago.
Eu aceno e pisco de volta minhas lágrimas não
derramadas. — Estamos bem. Só um pouco de dor. Foi o
mesmo com Nicole Grace. Lembra? Não há mais espaço,
então todos esses órgãos vitais irritantes estão atrapalhando,
para não mencionar minha coluna.
King me segura, mesmo que a dor tenha passado, e eu
me dobro em seu corpo, buscando apoio de um tipo
diferente. — Esse médico é um maldito boceta, — ele
murmura.
Eu sorrio contra seu peito. — Por quê?
— Porque, ele é um covarde do caralho.
Agora eu tenho que rir. — Ele é um covarde? Por que,
porque ele está fora da cidade em suas férias programadas
três semanas antes do nascimento do bebê?
— Isso também.
— E porque não atende à sua ordem de pegar um voo
inexistente, porque o aeroporto está fechado e voe de volta ao
marco zero de uma zona de furacões onde não há energia e as
estradas estão intransitáveis, para fazer o parto do nosso
bebê se e quando precisarmos dele?
— Você resumiu isso melhor do que eu.
— Você é impossível.
— Isso pode ser verdade, mas ainda vou quebrar todos
os ossos do pescoço daquele bastardo na próxima vez que o
vir.
Eu me afasto para dar um tapa em seu peito. King pega
meu pulso e o segura contra o peito. Seus olhos examinam os
meus, e eu desvio o olhar, desconfortável sob seu olhar
determinado. Preocupado que ele veja tudo o que estou
sentindo por dentro, porque se ele vir, será real, e é a última
coisa que precisamos agora.
— Olhe para mim, Pup.
Eu levanto meu queixo e, relutantemente, meus olhos
encontram os dele.
— Estou aqui por você. Você sabe disso, certo? — Ele
pergunta no meu cabelo. — Você sabe que estou com você?
— Suas palavras são mais do que apenas o bebê. Há uma dor
em sua voz que me atinge muito mais forte do que as dores
no meu corpo.
Eu sei que ele está aqui por mim. Que ele me tem. Eu
sempre soube disso. Eu odeio que ele pense por um segundo
que duvido disso. Que eu duvido dele. É de outros que
duvido. É da tempestade que duvido. É dos meus
sentimentos que duvido. É de qualquer outra fodida
coisa. Mas não de King. Nunca de King. — Eu sei. E estou
atrás de você. Todo o caminho. Sempre.
King balança a cabeça e levanta meu queixo para que
meus olhos encontrem os dele. — Não, Pup, seu lugar não
é atrás de mim. É e sempre foi ao meu lado.
Suas palavras são um bálsamo muito necessário para
minha alma, e não posso evitar o sentimento de felicidade e
tristeza que me domina. Não sei se devo beijá-lo ou chorar. É
como derrubar várias cores de tinta que se juntam e
terminam em uma bagunça marrom. Não consigo discernir
uma emoção da outra.
E eu sou a bagunça do caralho.
— Venha comigo. — King pega minha mão e me leva
para a varanda. Por um tempo, ficamos em silêncio com King
esfregando minha barriga em um círculo preguiçoso.
— Eu te amo, — digo, colocando minha mão sobre a
dele, sentindo as palavras profundamente no meu peito
enquanto elas saem dos meus lábios. Há muito mais em
minhas palavras. Tanto que não estou dizendo, mas espero
que ele sinta as coisas que não consigo dizer.
— Eu te amo. — A sinceridade em seus olhos me diz que
ele sente isso. Eu pisco minhas lágrimas.
— Pup, você pode falar comigo. Você sabe disso. Eu sei
que pergunto muito isso, mas você está bem? Porque se você
não estiver, tudo bem e podemos trabalhar nisso. Juntos.
Você está bem? É uma pergunta que eu vim a odiar e
amar. Um lembrete constante de que há algo errado, mas um
reforço do quanto ele se importa em continuar perguntando.
Há tanta coisa que quero dizer a ele. Tanto que quero
tentar explicar, mas não posso. Eu nem sabia por onde
começar. Mas cansei de lhe dizer que estou bem ou apenas
cansada. Eu não posso mais mentir para ele. Dói demais, e
ele merece mais do que mentiras, mesmo que eu não esteja
pronta para explicar a verdade. Balanço a cabeça. — Não, eu
não estou bem.
Ele levanta as sobrancelhas, claramente esperando uma
das duas respostas acima mencionada. — Você pode me dizer
qualquer coisa. Falar comigo sobre qualquer coisa. Eu posso
cuidar da merda com Trish e da merda com o caminhão de
Nine, mas está me matando você não me dizer qual é o
problema ou dizer que só está cansada quando eu sei que há
mais.
Como começo a explicar que, na tentativa de não
afundar no abismo que cresce no meu cérebro, eu tenho me
isolado. Dos meus filhos. De King. Da vida. Não fisicamente,
mas emocionalmente. Eu me tranquei em uma sala do pânico
de minha própria autoria, aterrorizada que, se eu abrir a
porta, meus piores pesadelos estarão me esperando do outro
lado. Nos últimos meses, tenho desfiado a corda que me
conecta as pessoas que amo. Manteve a preocupação
distante, mas causou um tipo diferente de dor que não me
permitiu descansar ou sentir verdadeira felicidade.
— Eu acho que preciso de ajuda. Na verdade, eu sei que
sim. Ajuda profissional — admito, olhando para minhas
mãos. Estou surpresa com a sensação de alívio que vem com
um pouco do peso sendo retirado do meu corpo. É um
sentimento físico real. Imediatamente, meus ombros se
endireitam. O aperto no meu peito ainda está lá, mas não tão
constritivo. Eu respiro fundo. A primeira vez no que parece
muito tempo.
— Feito, — diz ele, fazendo uma pausa enquanto espera
pacientemente que eu continue, mesmo sabendo que o está
matando porque King não tem paciência.
Eu fungo e quase rio do absurdo de não ser capaz de
contar meus problemas para o homem que amo e a pessoa
em quem mais confio neste mundo. Quero lhe contar mais, e
vou contar. Prometo que vou lhe contar tudo. Eu olho para o
céu em mudança. — Mas se estiver tudo bem com você, eu
gostaria de enfrentar esta tempestade uma de cada vez.
CAPÍTULO SETE
RAY

— Como eles estão? — King pergunta quando saio do


corredor. Ele parece muito menos preocupado do que antes, e
estou feliz por poder aliviar parte da tensão com a minha
confissão e alisar as linhas que têm sido um elemento quase
permanente em sua testa.
— A hora da soneca está em pleno andamento. Preppy
está lendo uma história para dormir. Ou devo dizer uma
história de sesta? — Eu sorrio, mas isso rapidamente se
transforma em uma careta quando outra dor me faz parar e
me segurar na parede em busca de apoio. Desta vez, estou
em pânico porque, novamente, é mais forte que a última.
Há quanto tempo foi a última? Uma hora? Vinte
minutos? Não me lembro. Merda, eu deveria estar anotando
isso.
— Fique aí, — eu sussurro para o bebê enquanto a dor
diminui até que desapareça como se nunca estivesse aqui. —
Por favor.
Eu nem percebi que King se mexeu até que ele estivesse
ao meu lado, me guiando para a poltrona reclinável. — Você
deveria estar em um hospital, — King murmura.
— Meio difícil entre as estradas que estão sendo
fechadas e aquela coisa toda que aconteceu na ponte, — eu
respondo. — Você já ligou para eles um milhão de
vezes. Mesmo se pudéssemos chegar lá, eles não têm energia
e seus geradores não estão funcionando. — Não apenas isso,
mas a enfermeira que atendeu ao telefone disse a King que
eles estavam transportando pacientes prioritários para outro
hospital até o vento ficar forte demais para impedir o
helicóptero de voar. Eu não seria um paciente prioritário. A
maioria dos hospitais nem sequer me admitiria nesta fase. Se
esse bebê vier, estaremos por nossa conta. — Você está bravo
porque eles não mandaram o helicóptero para mim.
King resmunga. — Eu conheço o paramédico do
helicóptero. Eu vou...
— Quebrar o pescoço dele?
O lado de seu lábio vira para cima em um meio
sorriso. — Eu ia dizer colocar uma bala na cabeça dele.
— Olhe para você, cheio de surpresas, — eu provoco.
Ele coloca um travesseiro atrás da minha cabeça. —
Descanse.
— Não consigo. Nem estou cansada — discuto, mas no
momento em que minha cabeça cai na suavidade que agora
apoia meu pescoço, estou dormindo.
Acordo um pouco mais tarde e encontro King dormindo
no sofá ao meu lado. Suas longas pernas apoiadas sobre o
braço do sofá. A visão de seu corpo grande fazendo o sofá
de tamanho perfeitamente normal parecer pertencer a uma
casa de bonecas me faz rir quando outra contração chega. Eu
assobio, conto, respiro e faço tudo o que me lembro dos
filmes quando as pessoas entram em trabalho de parto. Nada
disso funciona, mas me distrai até que a dor passe.
Lá fora, um pedaço de madeira voa pela janela. As
persianas antifuracão instaladas por King são claras. A chuva
que passa pela janela é horizontal. Eu admiro por alguns
segundos e, de repente, muda de direção até pulverizar a
persiana como uma mangueira de incêndio. O vento é
barulhento. Muito mais do que eu esperava, quase como uma
buzina de carro... se as buzinas de carro pudessem gritar.
O furacão Polly está aqui.
Levanto-me do sofá e verifico as crianças. Estão todos
dormindo, sãos e salvos. Preppy está dormindo no chão do
quarto de Nicole Grace, com uma história de ninar aberta no
colo. Fechei a porta suavemente, depois voltei para a sala e
fui até a janela para ter uma visão melhor da
tempestade. Minha preocupação com o furacão é
temporariamente substituída pelas atividades
fascinantes do lado de fora. A chuva muda novamente e, de
repente, desaparece, reduzida a apenas uma garoa, dando-
me uma visão mais clara de como um furacão realmente se
parece.
Em algum lugar entre a terra e o céu, um caleidoscópio
de nuvens cinzentas e negras parece dedos, girando cada vez
mais, entrelaçando-se em um aperto de mão sobrenatural
como amantes ciumentos se preparando para conter a
vingança ou redenção na Terra.
A escuridão captura o céu como nunca vi
antes. Agourenta. Espessa. Ainda não são seis da tarde, mas
a luz não consegue penetrar nas nuvens, como se o calor e a
luz do sol nunca tivessem realmente existido. Uma mera
lenda ou mito. Uma oração a um Deus nunca visto.
E depois há a chuva.
A água dá vida a todas as
coisas. Plantas. Pessoas. Limpa e fornece. A água é uma coisa
boa. Não, uma coisa ótima.
Até que não é.
A água como uma única gota é inofensiva. No entanto,
torna-se cada vez mais perigosa à medida que as gotículas
juntam forças. Eu estou testemunhando exatamente isso. A
chuva corre para a terra como soldados saltando de um
avião. Uma vez que aterrissam no chão, eles se reúnem em
unidades, formando várias poças ao redor do quintal e
garagem, aumentando e subindo até que todas as poças se
fundam, formando um pequeno rio de um lado ao outro do
quintal.
Eu ando até o outro lado da casa. O quintal também
está cercado, mas esses soldados não estão caindo do céu,
mas rastejando de barriga para baixo da baía, capturando
cada vez mais espaços verdes à medida que desce lentamente
sobre a casa.
— Merda, — King murmura atrás de mim, observando
as águas subindo. — Este é apenas o esboço da tempestade e
a água já está subindo.
— Você acha que chegará a casa?
— Provavelmente, mas é por isso que é construída sobre
palafitas, para que as águas da enchente não possam chegar
até nós.
— Onde estão Bear e Thia nisso tudo? — Eu pergunto.
— Bear está no clube. Com as novas reformas, vai
aguentar. Se a água subir até o primeiro andar, iremos para o
quarto extra no segundo.
Se havia dúvida antes, não há agora. Estamos no meio
do maior desastre de nossas vidas.
Bem como, o furacão está aqui.
— Mamãe? — Sammy pergunta, saindo do quarto,
esfregando os olhos sonolentos com os punhos. — Onde está
Maxie?
Meu corpo inteiro congela, preso em um iceberg de
medo. King e eu trocamos um olhar rápido e, sem hesitar, ele
corre pelo corredor. Ele volta, parecendo despenteado e
frenético. Seus brilhantes olhos verdes tão selvagens quanto
tenho certeza que os meus estão.
— Ela não está lá, — diz ele, correndo pela cozinha. Ele
verifica todos os ambientes. Depois a despensa.
— Nicole Grace? — Eu pergunto.
— Dormindo, — ele responde.
Puxo a mão de Sammy e me abaixo ao nível de seus
olhos. — Para onde Maxie foi, querida? Você viu? — Sou
incapaz de esconder o tremor na minha voz.
Ele balança a cabeça.
King lentamente levanta os olhos para os meus e
responde à pergunta no segundo em que travam sem dizer
uma palavra. Ela não foi a lugar nenhum. Ela foi levada.
— Não! — Eu quero chorar, mas não quero assustar
Sammy.
A porta de tela na parte de trás da casa bate ao vento, e
King não perde tempo correndo naquela direção. Eu me
levanto, e isso leva uma eternidade, porque minha mente já
está na porta dos fundos com King.
— Não sei para onde ela foi. Eu acordei e ela tinha
sumido — Sammy diz, logo atrás.
King olha pela porta em ambas as direções. — Nada. A
porta estava aberta, mas a porta de tela estava fechada. Vou
verificar a garagem e a casa da árvore. Talvez não seja o que
pensamos, e ela esteja apenas se escondendo.
— Eu vou com você, — diz Preppy.
King e Preppy correm para a chuva que escolhe esse
momento para se abrir sobre a terra como se o oceano
estivesse caindo do céu. Se Max está lá fora neste... não. Não
vou deixar meus pensamentos vaguear.
Ela ficará bem. Ela tem que ficar bem.
Sammy puxa a manga da minha blusa. — Maxie vai
ficar bem?
Eu escovo seu cabelo macio para trás em sua cabeça. —
Ela vai ficar bem. Papai vai buscá-la agora. Por que você não
dorme na cama da mamãe e do papai por um tempo?
Ele assente e caminha sonolento pelo corredor, contente
com a garantia de sua mãe de que Max ficará bem.
Eu realmente esperava que o que disse a ele não fosse
uma mentira.
Outra contração vem, e desta vez, eu não respiro. Em
vez disso, cerro os dentes e espero que passe. Quando isso
acontece, percebo que não posso ficar parada, então checo
novamente todos os possíveis esconderijos da casa atrás de
Max, mas não encontro nada.
Outra contração me atinge, e é tão forte que, quando
passa, eu me ajoelho no meio da cozinha.
— Mamãe! — Ouço uma pequena voz ao longe e, a
princípio, acho que é minha imaginação ou o vento.
— Mamãe! — Não é a tempestade ou meu cérebro me
chamando. É a minha filha.
Os gritos de Max são uma injeção de adrenalina direto
no meu coração. Espero que King a tenha ouvido também,
mas não posso confiar nisso. Eu tenho que chegar até ela. É
o meu único pensamento. Meu único objetivo.
Vou para a porta da frente em direção ao som de seus
gritos. Por instinto, abro a gaveta da mesa lateral e pego a
pistola que King mantém lá. Está no cinto, então eu o jogo
por cima do ombro.
O que me recebe lá fora é a tempestade começando a
flexionar seus músculos. Metal trançado do que parece ser os
postes que sustentavam o letreiro de Bem-vindos a Praia
de Logan, bate na casa, mas não consigo ouvir o impacto com
o vento uivando em meus ouvidos como um lobo chorando à
noite.
A peça de metal bate contra a casa uma e outra vez,
girando e caindo como um peixe fora d'água. Raspa ao longo
do telhado, arrancando as telhas, antes de se lançar sobre os
fundos da casa.
Eu me abaixo para evitar que um dos pedaços de
estilhaços de forma retangular gire em minha direção. Eu mal
consigo evitar a decapitação quando outro me atinge com
força, aterrissando contra minhas costas com violência
rasgando o ar dos meus pulmões. Eu cambaleio para frente,
tentando manter o equilíbrio. O vento torna difícil encher
meus pulmões novamente, e parece uma eternidade até que
eu seja capaz de respirar produtivamente.
Eu me arrasto para frente na água marrom até
as canelas. Cada passo encontra resistência e parece que há
um peso de cem quilos amarrado em cada uma das minhas
coxas. Eu protejo meus olhos da chuva ardente e tento piscar
a água embaçando minha visão enquanto procuro na chuva
por qualquer sinal de Max.
Uma contração me atinge com tanta força que
temporariamente fico cega. A dor pode vir. Eu não dou a
mínima para a dor agora. Eu preciso da minha visão para
encontrar Max, no entanto, e o número de segundos que levo
para recuperar o uso dos meus olhos parece uma eternidade.
Estou na metade do jardim quando vejo Tricia
empurrando Max para o banco de trás do carro. A água está
na metade do pneu. À maioria das estradas está fechada. Há
literalmente estilhaços voando em todas as direções. A dor e a
raiva que sinto em minhas veias sobre ela tentando levar
minha filha me dominam, mas em segundo vem o fato de que
o plano desta cadela é uma merda e ela está colocando Max
em perigo ao executá-lo.
Max me vê. — Mamãe!
Tricia se vira e me vê chegando e tenta novamente
empurrar Max pela porta, mas minha garota não se mexe,
chutando as pernas para evitar ser empurrada para
dentro. — Eu sou sua mãe agora, — diz Tricia entre
dentes. Pego a arma de King e aponto para a cabeça dela e
engatilho.
— Você realmente vai me matar por recuperar minha
própria filha? — ela diz com uma risada maligna e revira os
olhos. Ela colocou os braços em volta de Max quando se virou
para mim, usando-a como um escudo contra uma bala em
potencial.
Eu vejo a porra do vermelho. Rios de vermelho. Malditos
oceanos de vermelho.
— Ela não é sua. Nunca foi. Você perdeu essa chance. E
se você quisesse visitá-la, havia outras maneiras do que levá-
la durante um maldito furacão de seus pais legítimos. — Eu
digo com cada grama de raiva que sinto fluindo através de
mim. — Solte-a, ou vou explodir sua maldita cabeça.
Os olhos de Max estão focados nos meus e menos
assustados do que quando Tricia estava tentando empurrá-la
para dentro do carro. Porque eu sou a mãe dela. Porque ela
sabe que eu vou fazer tudo ficar bem. Porque ela confia em
mim.
Não vou decepcioná-la, digo a Max com um olhar
silencioso.
— Essa linguagem em torno da criança, — diz Tricia,
puxando Max para mais perto dela e depois a pegando em
seus braços. Max luta contra ela, mas ela a segura firme. —
Atire em mim, e você corre o risco de matá-la, — diz ela
triunfante.
— Por quê? — Eu pergunto, abaixando minha arma
para que não fique apontada para minha filha. — Apenas me
diga, por que você está fazendo isso? Isso não faz
sentido. Depois de todo esse tempo.
O sorriso de Tricia desaparece. — Ele... ele quer
filhos. Ele não se casa comigo porque não posso mais ter. —
Seu sorriso retorna, e ela ajeita Max em seus braços. — Mas
vou levar para ele minha filha, nossa filha. Ele disse que
podemos ser uma família, e nos casaremos, e tudo ficará
bem. — Ela olha para Max, cujos grandes olhos ainda estão
treinados em mim. Sua voz é mais suave quando ela repete:
— Tudo ficará bem, — ela diz como se estivesse tentando
convencer a si mesma de sua própria mentira.
— Mesmo que você pudesse colocá-la nesse carro, a
água subiu acima do seu pneu. Você não pode levá-la
daqui. As estradas estão fechadas e inundadas. A ponte está
caindo.
— Sempre há um caminho. As mães sempre encontram
uma maneira de lidar com os filhos.
Sim. Sim, elas fazem. Pelo menos nisso, podemos
concordar.
— Então, essa é sua ideia de maternidade? Levá-la de
seu lar para que ela possa pagar pela vida que você
deseja? Arriscar a vida dela em uma tempestade para que
você possa viver um sonho distorcido? — Eu grito quando a
chuva me atinge de todos os lados enquanto penso em meu
próximo passo. Eu tenho que chegar a Max sem arriscar que
ela se machuque, mas terei que esperar por uma brecha. Um
movimento. Qualquer coisa.
— Minha ideia de maternidade é ser mãe da minha filha,
— ela responde.
A água continua subindo. Eu posso ver Tricia lutando
para ficar de pé enquanto corre por ela.
— Não, você entendeu tudo errado. Ser mãe é sobre a
merda que você faria por si mesma, é sobre a merda que você
faria por seus filhos. Além disso, quem quer que seja esse
cara misterioso, ele está te usando para conseguir o que
quer. Pense nisso. Ele sabe que King faria qualquer coisa por
seus filhos, incluindo abrir mão do controle sobre a praia de
Logan. Estava na nota que você entregou. Você nunca a teria
porque não é o que ele realmente quer. Ele quer o
dinheiro. Ele está te enganando esse tempo todo, te fazendo
acreditar que se trata de família, quando só se trata de uma
coisa. Ganância.
Tricia está prestes a responder quando uma onda de
água como do oceano lava sobre elas. Max grita quando a
água a varre para fora dos braços de Tricia, e as duas são
levadas pela corrente.
— Não! — Eu grito, engasgando com a chuva na minha
garganta.
Sem pensar em nada além de Max, corro para frente e
mergulho, deixando a corrente me levar em direção a minha
filha.
Porque foda-se.
Foda-se esta vida.
Terei prazer em dar a minha pela dela. Bem aqui. Agora
mesmo.
Não só de bom grado. Entusiasmada.
Porque enquanto ela viver, e ela viverá, minha vida é
uma pequena bugiganga para negociar em troca de tal
retorno.
Eu tento flutuar acima da água, mas de vez em quando
meu pé pega algo que me puxa para baixo. Quando eu
emergi, perdi de vista Max, até ouvi-la gritar novamente. Olho
na direção de sua voz e a vejo pendurada em um pedaço de
madeira que se parece com o topo de seu balanço. Eu não
luto contra a água. Não há sentido. Está muito rápida. Muito
forte. Em vez disso, me estico o máximo que posso, abrindo
meus braços e pernas na esperança de encaixar no
brinquedo. Se eu puder me aproximar o suficiente. Eu
acalmo minha respiração, mesmo quando os gritos da minha
filha ficam mais altos, e todos os meus instintos estão me
pedindo para tentar nadar até ela.
Outra onda me leva para baixo, mas quando eu emergi
novamente, eu vejo o balanço. Estou quase nele. Max ainda
está agarrada ao poste, mas ela grita quando ela começa a
escorregar.
Solto um grito enquanto estico meus membros o mais
longe que posso. Consigo enganchar meu pé na madeira sob
a água, conectando à peça à qual Max está se agarrando. A
dor corta através de mim, outra contração ou algo na água
me cortando, mas não tenho tempo para sentir dor. Eu me
impulsiono sobre a madeira e pego a mão de Max.
— Segure-se em mim! — Eu grito para ela por causa do
vento e da chuva.
Ela se inclina e estende a mãozinha trêmula. Eu agarro
e a puxo contra mim, colocando-a sobre a minha barriga
enorme. — Olá. Bom te ver aqui — digo, aliviada pelo peso
dela em meus braços, um sentimento que, por um momento,
não sabia se alguma vez experimentaria novamente. Mesmo
com chuva e lágrimas escorrendo pelo meu rosto, ela
consegue sorrir da minha piada.
— Você tem que segurar firme, querida. Você pode fazer
isso por mim? Só mais alguns minutos?
Ela assente e agarra a madeira o mais forte que
pode. Temos apenas mais um ou dois minutos antes de
estarmos completamente submersas mais uma vez, por isso
tenho que pensar rápido. Eu me guio, uma mão sobre a outra
ao longo do topo da barra do balanço até que minha mão
encontre a corrente de metal que prende o balanço. Solto as
duas correntes e amarro uma ponta em volta da minha
cintura. — Vou amarrar isso na sua cintura, ok?
Ela assente enquanto eu a amarro. Pego os dois
balanços e os coloco entre as correntes e nossos corpos para
agir como flutuadores. Felizmente, isso nos manterá acima da
água para que possamos ser encontradas.
Não tenho tempo para pensar antes de sermos
arrastadas pela água mais uma vez. Conseguimos nos
manter na vertical enquanto flutuo de costas com minha filha
no meu peito acima do estômago, mas não sei quanto tempo
vou conseguir manter essa posição. Detritos flutuantes
colidem com meu ombro e sei que estou sangrando, mas
foda-se o sangue. Sangue não importa. Nunca importou.
Nunca importaria. Não na nossa família.
— Você está bem?— Pergunto a Max.
— Estou com medo, mamãe, — ela responde.
— Não tenha. Mamãe pegou você. Mamãe nunca
deixaria nada acontecer com você. Você sabe disso, certo?
Ela assente no meu pescoço.
— Bom. Eu estou com você. Eu sempre estarei com
você.
Olho em volta procurando algo para agarrar, mas não
vejo nada além de água e o topo de algumas árvores.
O som da água correndo fica cada vez mais alto até eu
perceber que não é a água.
Duas ondas enormes emergem da parte de trás da casa
e aceleram em nossa direção, correndo à nossa frente. Eles
param pouco antes do outdoor e, antes de colidirmos com
ela, somos içadas da água por braços fortes e colocadas no
colo de King. — Maxie, você está bem, bebê? — Ele grita com
o vento.
— Sim Papai. Mamãe me salvou.
Ele olha para mim. — Eu sei. Ela também me salvou,
querida. Ela me salvou também.
King acelera e volta para casa. A água está tão alta
agora que cobre o primeiro andar. King desliga o motor e para
ao lado de uma janela do quarto extra no segundo andar. A
janela se abre. Paramos abaixo da janela aberta, e King
desacorrenta Max de mim, levantando-a nos braços de
Bear. King me vira para que minha barriga fique de costas
para a casa e me levanta pelas minhas coxas, não soltando
até Bear me sentar na borda da janela. Cuidadosamente me
girando ao contrário, ele me embala em seus braços, depois
coloca meus pés no chão, mas minhas pernas cedem e eu
caio de joelhos.
— Olá, querida, — Bear diz como se tivéssemos nos
encontrado no bar local.
Max corre para os meus braços. — Mamãe!
— Oh, Maxie. Minha menina corajosa. — Eu a abraço o
mais forte que posso enquanto lágrimas escorrem pelas
minhas bochechas já molhadas.
Bear joga um cobertor quente sobre nossos ombros,
assim que um estrondo soa contra a parede. As mãos de King
aparecem no parapeito. Bear lhe dá uma mão e o ajuda a
entrar.
King corre para nós, envolvendo-nos em seus braços. —
Eu estava com tanto medo de perdê-las, — diz King, sua voz
frenética. — Com tanto medo. Tricia não estava
sozinha. Tinha alguns caras esperando por nós na
garagem. Eles atiraram em nós. Matamos dois deles antes
que eu pudesse chegar até vocês. Eu estava com tanto medo.
— Estou bem. Nós duas estamos — asseguro-lhe,
aliviada por poder pronunciar as palavras em voz alta.
— Não acredito que você fez isso. Que foi até lá, — ele
diz, examinando a mim e a Max por quaisquer ferimentos
visíveis.
— Eu precisava, — eu digo, — não tive escolha. A porta
estava aberta. Eu a ouvi me chamando. — Meu peito aperta
enquanto repito os eventos na minha cabeça. — Eu
precisava, — repito.
King pressiona sua testa na minha. Ele agarra a parte
de trás do meu pescoço e me segura contra ele o mais perto
possível. — Eu sei, Baby. Eu sei, porra — sua voz falha.
Sammy entra no quarto e entra no abraço em
família. Por alguns momentos, não dizemos nada.
Thia entra na sala segurando Nicole Grace.
— Quando vocês chegaram aqui? — Eu pergunto,
finalmente capaz de respirar.
Thia faz uma careta. — A casa está embaixo d'água e o
telhado do clube sumiu. Nós pegamos o barco e chegamos
aqui logo antes da água entrar.
— Estou feliz que você esteja bem, — eu digo.
Thia sorri e olha para a nossa família. Ensopados em
uma pilha no chão. — Idem.
— Posso dizer uma palavra suja mamãe? — Maxie
pergunta, puxando minha camisa molhada.
Eu sorrio em seus cabelos. — Claro, por que não? As
palavras sujas parecem um pouco tolas depois do que
acabamos de passar, mas apenas desta vez.
Ela olha para mim, colocando a boca em concha com a
mão. Inclino-me o máximo que minha grande barriga permite
para ouvi-la melhor. — Aquela senhora é uma verdadeira
cabeça de xixi, — ela sussurra.
King ri. Aparentemente, Preppy e eu não somos os
únicos que precisam trabalhar em nossas habilidades de
sussurro.
Eu a beijo no topo de seus cachos molhados. — Sim, ela
é. Ela definitivamente é.
— Era, — diz King, então só eu posso ouvir.
— Era o que? — Eu pergunto.
— Ela era uma cabeça de xixi.
Eu levanto uma sobrancelha. — E o que ela é agora?
Um Preppy encharcado entra no quarto, ajeitando
a gravata empapada. — Morta.
***
Max e Sammy se livraram de nossos braços e agora
estão brincando com os filhos de Bear no canto da
sala. Nicole Grace está dormindo nos braços de Thia.
Preppy e King viram o corpo de Tricia flutuando no
galpão, e não posso deixar de me sentir mal por ela. Talvez
ela não quisesse realmente ser mãe, mas queria ser amada e
estava disposta a sacrificar qualquer coisa ou alguém para
conseguir isso.
Meu estômago enrijece, e eu sinto que estou sendo
rasgada de dentro para fora. — Ahhhhh!
King se aproxima do meu lado e faz uma pergunta
silenciosa, receio e preocupação revestindo seu rosto mais
uma vez.
Eu aceno porque não posso responder. A dor é muito
grande. E assim que diminui, começa um novo. Sinto uma
pressão como nunca senti antes, e não há dúvida sobre o que
está acontecendo.
King diz a Thia para levar as crianças para a sala ao
lado do quarto extra. Preppy aparece com alguns cobertores.
King coloca os braços em volta dos meus ombros para
me levantar, mas eu balanço a cabeça. — Não há tempo, —
eu consigo dizer enquanto meu corpo inteiro se contorce de
dor como se estivesse possuído por um demônio.
Bato minha mão na legging de maternidade, e King se
move rapidamente para tirar a calça molhada e a calcinha
pelas minhas pernas.
— O que você precisa que eu faça?— Pergunta King.
— Ahhhhhhhhh... — Eu grito quando a dor me bate
mais forte do que qualquer outra antes dela. Desta vez, cedo
à necessidade de empurrar o mais forte que posso até sentir
um vaso sanguíneo estourar nos meus olhos. Há essa
sensação de queimação entre minhas pernas e é como ser
fatiada e incendiada ao mesmo tempo.
King olha para baixo. — Eu vejo a cabeça. Você está
indo bem, querida. Você é a pessoa mais forte que eu
conheço. Você consegue. — Eu me concentro nos olhos de
King enquanto outra contração pressiona meu estômago
como uma bigorna. A dor é maior do que eu sabia ser
possível, mas mesmo quando causa estragos no meu corpo,
meu instinto entra em ação, e quando empurro mais uma vez
e minha visão se torna estática, eu levo a mão para baixo e
sinto o meu bebê.
King se ajoelha e assiste com medo e admiração
enquanto entrego nosso novo bebê ao mundo. Eu a puxo do
meu corpo e a coloco no meu peito. King a limpa com um
lençol limpo e, embora ela não esteja chorando, eu sei que ela
está bem, porque olhos azuis brilhantes me encaram com
espanto.
A dor se foi como se nunca tivesse existido.
King cobre ambas com um cobertor e eu olho para meu
marido.
— Puta merda, — diz Preppy do canto da sala. — Você é
um maldito super-herói ou algo assim, e eu acho que você
deveria ter me dito isso antes e, francamente, estou um
pouco magoado por isso.
— Porra, sim, ela é, — diz King, com orgulho em sua voz
que ondula no meu peito. Ele me cobre e ao nosso novo bebê
com outro cobertor macio e limpo. — Não acredito que ela
está aqui. Não acredito no que você acabou de fazer.
Preppy limpa a garganta. — Uh, é um bom momento
para informar que o que eu acabei de ver aí embaixo foi um
show de merda, mas por algum motivo, eu tenho uma ereção.
— Ele coça a barba. — E pela primeira vez na minha vida, até
eu estou preocupado com meu estado mental.
— Prep, — adverte King.
— Vou dar a vocês um pouco de espaço, — diz Preppy,
como se sua saída fosse voluntária e não porque King a
exigisse com os olhos. Ele caminha até a porta. — Espero que
o serviço de celular volte em breve. Tenho que conversar
sobre isso com a Doc. — Ainda posso ouvi-lo murmurando
para si mesmo do outro lado da porta. — Talvez eu devesse
começar a ir à igreja...
Olho para nossa pequena mais nova, que passou a
mãozinha em volta do meu dedo indicador. Ela faz um
barulho como um grunhido divertido, e eu rio. — Eu tenho o
nome perfeito para ela.
King sorri conscientemente. — Acho que posso
adivinhar qual é.
Pressiono um beijo no topo da cabecinha da nossa
filha. — Bem-vinda ao mundo, Polly Storm King.
Podemos tê-la nomeado em homenagem a um furacão,
mas ela não será páreo para um.
Eu descanso minha cabeça no peito de King. Assim
como os pais dela.
CAPÍTULO oito
RAY
SEIS SEMANAS DEPOIS…

O gerador alimentando a geladeira e as luzes, aquele na


nossa varanda que tem funcionado 24 horas por dia nas
últimas seis semanas, é mais barulhento que um cortador de
grama, mas depois de seis semanas, já me acostumei. A
vibração no meu ouvido se tornou o novo normal.
Polly está apoiada no balcão em seu assento inflável
enquanto aqueço sua mamadeira. Verifico a temperatura do
leite no meu pulso. Está perfeito. — Tudo bem, menina. O
almoço está pronto. — Olho para baixo só para descobrir que
Polly está dormindo profundamente.
Eu sorrio e largo a mamadeira. — Eu acho que o almoço
terá que esperar, — eu sussurro, passando a parte de trás do
meu dedo indicador sobre sua bochecha gorda. Eu a tiro
cuidadosamente do assento e a carrego para o nosso quarto,
onde a coloco no berço e ajeito o cobertor macio.
Verifico meu telefone para garantir que o monitor do
bebê esteja funcionando antes de sair para a sala de estar.
— Ray? — Uma voz pergunta. A esposa de Preppy, Dre,
enfia a cabeça pela porta de tela aberta. — Desculpe, eu não
queria simplesmente entrar. Toquei a campainha, mas essa
maldita coisa é tão barulhenta que não sabia se você ouviu
ou não.
Eu não ouvi. — Entre, — eu digo. — Como foi em Nova
York?
Dre sorri e entra. — Obrigada. Foi ótimo, mas
sinceramente, amo meu pai, mas essas últimas semanas
foram as mais longas da minha vida. Pegamos o primeiro voo
de volta depois que o aeroporto reabriu.
Eu retribuo o sorriso dela. Fico feliz em ver minha amiga
novamente. Faço uma pausa e meu sorriso se amplia.
Feliz.
Eu me senti muito melhor nas últimas semanas, mas é
a primeira vez que consigo atribuir essa palavra a algo que
estava sentindo.
— O que te deixou toda sorridente? — Dre pergunta,
sentando-se a mesa do café da manhã.
Balanço a cabeça. — Estou feliz em vê-la.
— Igualmente.
— Preppy e King estão no quintal com a ninhada. — Eu
contorno o balcão da cozinha e pego uma caneca do
armário. — Café? Chá? Cerveja? — Eu pergunto a Dre.
Ela aplaina as mãos no balcão. — Não. Eles não
estão. Preppy e Bear levaram todos eles para a casa de Bear
para conferir o novo playground que Thia construiu, e a
única coisa que quero agora é cuidar do seu bebê enquanto
você tira um tempo pra si mesma.
Eu guardo a caneca. — Tudo bem. Você não precisa...
— Eu sei que não, mas estou fazendo assim mesmo e
não aceito um não como resposta. Onde está o pequeno
milagre?
— Ela está dormindo em seu berço no nosso quarto, —
digo lentamente.
Dre bate palmas. — Ótimo.
— As mamadeiras estão...
— Não é meu primeiro rodeio, Ray! — Ela diz, já no meio
do corredor.
— Você está começando a parecer muito com o seu
marido, sabe, — eu digo de volta.
Ela olha por cima do ombro. — Falei sério. Reserve um
tempo para si mesma e não volte, porque te mandarei sair
novamente. — Ela pisca e abre cuidadosamente a porta do
quarto, desaparecendo lá dentro e fechando-a
silenciosamente sem nem um clique.
Olho em volta da silenciosa sala de estar.
Agora, que porra eu devo fazer?
Enfio meus pés nos meus chinelos e vou para fora. A luz
do sol é quente contra a minha pele. O gerador é
ensurdecedor, mas felizmente desaparece quando avanço,
atravessando o quintal até a baía.
O cheiro de sal e peixe está como antes da tempestade,
perfumando levemente o ar úmido.
Passo pela adição e paro para dar uma olhada. Foi
severamente danificada durante a tempestade. O que restou
da estrutura teve que ser demolido e reconstruído. Mas King
pediu a ajuda de um empreiteiro e, depois de reparar o
telhado e o revestimento da casa, danificados pela inundação,
eles trabalharam rápido ao negócio de expandir a
casa. Agora, parece parte da casa, uma parte sem pintura,
mas ainda assim uma parte. Corro meus dedos pelo estuque
cinza e sinto a emoção de usar todo o novo espaço que está
sendo criado.
Não ouso entrar. King já me avisou que não devo entrar
até que esteja completo porque não é seguro.
Meus pensamentos voltam para a tempestade e como
consegui salvar Max ainda grávida, em trabalho de parto,
durante um furacão.
E King está preocupado comigo pisando em um prego ou
algo assim. Eu rio com o pensamento.
O ar úmido parece pegajoso e quente contra a minha
pele pálida enquanto atravesso a grama em direção à água,
que agora está de volta ao seu devido lugar dentro da
baía. Sento-me e balanço meus pés sobre a borda. O sol
poente brilha na água e, longe do barulho raivoso do gerador,
eu posso ouvir os pássaros farfalhando nas árvores e salpicos
ocasionais de uma tainha pulando.
Fecho os olhos e me inclino para trás na grama, mas no
momento em que meus olhos estão fechados, percebo que
sinto falta de algo comigo, aproveitando o momento.
Alguém.
O homem que tem sido tudo para mim há anos. De
repente, sinto-me culpada por como ele deveria estar se
sentindo enquanto eu estava presa sob uma névoa por não
ser eu mesma. King ainda é o homem por quem me apaixonei
todos esses anos atrás, mas quem sou eu agora?
Ele deve ter ouvido meus pensamentos porque, de
repente, ouço sua voz profunda acima de mim, penetrando na
minha pele e me cobrindo com mais calor do que o sol jamais
poderia.
— Diga-me o que você está pensando, — diz ele.
Abro os olhos e seu lindo rosto aparece. Olhos verdes
brilhantes olham para mim com preocupação e amor. Eu dou
um tapinha no espaço de concreto ao meu lado, e King senta,
nossas coxas se tocando.
Não conversamos muito desde o furacão. Com toda a
honestidade, não houve tempo. E com tudo o que aconteceu
durante o furacão, acho que ambos estávamos contentes em
saber que todos estavam vivos e seguros e a conversa,
parecendo muito menos importante diante da morte, foi
temporariamente colocada em uma prateleira.
Está na hora.
— Eu estava pensando que não sou a mesma garota
inocente que era quando nos conhecemos, — admito.
King aponta para a tatuagem nas minhas costas. O que
ele me deu anos antes. Ele passa as pontas dos dedos sobre
as palavras escritas no elaborado desenho da videira. Não
quero repetir minha inocência. Quero o prazer de perder tudo
de novo.
— Você está certa. Você não é, — diz King.
Eu mentiria se dissesse que não senti uma pontada de
mágoa por suas palavras.
Ele continua: — Quando nos conhecemos, achei que
você era a coisa mais sexy que já vi. Você era mal-
humorada e perspicaz, e o modo como me desafiou me fez
querer você ainda mais. Depois que ficamos juntos, não achei
que fosse possível você ficar ainda mais inteligente ou mais
sexy do que já era. — Sua voz se aprofunda. — Ou me deixe
mais duro do que já fez, mas você deixa. Sim, você
mudou. Porque você é mais agora. Não menos. Não é
totalmente diferente, mas mais.
Eu permaneço em silêncio porque suas palavras
acalmaram minha língua e provocaram todas as outras
emoções. Aquelas que não estão reunidas em uma poça de
marrom, mas separadas e identificáveis.
King se recosta na grama, mantendo-se apoiado nas
mãos. — Você viveu. Você cresceu. Isso acontece com todo
mundo. Até comigo.
Não posso deixar de perguntar: — E o Preppy?
Ele levanta uma sobrancelha, aquela com a cicatriz no
meio. — Bom argumento. Ok, talvez isso não se aplique ao
Preppy. — Ele ri de sua própria piada. O som me
envolve. Profundo e puro, ele invade meus sentidos e, mesmo
depois de todos esses anos, ainda sinto a risada dele
vibrando por todo o meu corpo, vibrando direto para o meu
coração. — Isso te incomoda? Que você mudou?
— Não, mas continuo pensando que não sou mais ela. A
garota por quem você se apaixonou. — Minhas bochechas
queimam com a admissão. Ele pode estar me forçando a
encará-lo, mas meus olhos se fixam em um pedaço de grama
entre nós.
— Olhe para mim, — ele exige.
Eu quero olhar para ele, mas ainda estou muito
envergonhada. — Pup, olhe para mim, — ele repete.
Eu finalmente levanto meus olhos para encontrar os
dele. Eles estão lindos e brilhantes sob a lua cheia, mas há
raiva neles que não estavam lá há momentos atrás. O espaço
entre as sobrancelhas alinhado em uma profunda
carranca. — As versões mais jovens de nós mesmos não são
as melhores. — Sua mão procura e encontra a minha e dedos
grandes se unem aos meus pequenos. Pele bronzeada pálida,
descansando na minha coxa. — Você não vê isso? Você é
muito mais agora. Muito mais porra.
Seus olhos verdes parecem ainda mais brilhantes sob o
brilho da lua cheia. — Se lembra de quando eu disse que você
me assustava?
Lembro-me do passado e das palavras que trocamos
naquela noite dentro de sua caminhonete enquanto
observávamos Max à distância.
— Eu estive em uma prisão de segurança máxima. Estive
em torno do pior dos piores. Eu tinha que dormir com um olho
aberto, pensando que meu próximo suspiro poderia ser o
último, — diz King.
— Por que você está me dizendo tudo isso?— Eu
pergunto.
Ele se vira para mim e nossos olhos travam. Ele estende
a mão e passa a parte de trás do dedo indicador ao longo da
minha bochecha. — Porque eu quero que você saiba que
nenhum desses filhos da puta me assustou tanto quanto você.
Meu corpo esquenta com a memória. Eu pressiono as
pontas dos meus dedos na minha bochecha como se ainda
pudesse sentir o calor do seu toque a partir daquela noite. —
Eu me lembro.
Como eu poderia esquecer?
— Pup, eu estava com medo dessa sua versão inocente,
— os lábios de King permanecem planos quando ele olha de
volta para a baía. Ele cobre nossas mãos unidas com a outra
mão. Ele se vira na cintura, sua metade superior agora de
frente para mim. Ele estende as mãos e segura meu rosto. —
Agora, você é uma mãe que faria qualquer coisa para proteger
seus filhos, a qualquer custo.
— Então, você não está mais assustado comigo. — Não é
uma pergunta. Eu odeio o som derrotado na minha voz e
como estou desanimada por dentro.
— Não, Pup, você não entendeu. — King rosna. Seu
olhar perfura o meu. — Eu estava assustado com você
naquela época. Agora?... estou aterrorizado.
King nunca foi bom em palavras, e por isso vai direto ao
ponto, comunicando da maneira que sabe que será
entendido.
Seus lábios reivindicam os meus em uma posse
emocional e crua da minha boca e da minha alma.
Ele se afasta, me deixando querendo mais e odiando o
espaço entre nós, então preencho o espaço com palavras
muito atrasadas. Tomo um momento para reunir meus
pensamentos e limpar minhas mãos suadas no meu
jeans. Eu respiro fundo porque King está certo. É hora de
contar tudo a ele.
— Desde que Nicole Grace nasceu, é como se houvesse...
essa coisa. Essa entidade de desesperança tecendo seu
caminho dentro do meu corpo, como um parasita, me dizendo
que é impossível ser feliz. Como se a qualquer momento, tudo
isso pudesse desaparecer. Vocês. As crianças. Não posso
perder nenhum de vocês. Eu estava andando por aí sem
sentir nada além de preocupação ou culpa a cada segundo do
dia e a maior parte da noite, porque não conseguia
dormir. Você, as crianças, vocês são tudo para mim. O
pensamento de que alguma coisa possa acontecer a qualquer
um de vocês a qualquer momento estava me dominando,
fazendo as menores tarefas parecerem como escalar uma
montanha. Eu desliguei. E então, com o furacão chegando e
Tricia aparecendo... tudo exacerbou esses sentimentos. Isso
se tornou demais. A voz dentro da minha cabeça ficou mais
alta e a desesperança cravou suas unhas em mim ainda mais
fundo.
— Lamento que você tenha passado por isso. — King
diz, pegando minha mão. — Como você se sente agora?
Eu sorrio. — Eu estava pensando sobre isso quando Dre
apareceu. Feliz. Pela primeira vez em muito tempo, me sinto
feliz.
Os olhos de King brilham. — Bom. Bom pra caralho. —
Ele pressiona um beijo na minha cabeça, e eu ouço o alívio
em suas palavras. Ele suspira nos meus cabelos, e é como se
eu pudesse sentir a preocupação deixando-o com a
respiração.
— Sabe, quando eu estava lá no furacão tentando
chegar a Max, fiquei aterrorizada, mas então me lembrei de
algo que alguém muito importante me disse uma vez. Algo
que eu tinha esquecido na névoa — digo, olhando em seus
olhos.
— O que foi isso?
Eu aperto sua mão. — Pare de estar viva e comece a
viver. Suas palavras. Era sua voz me empurrando quando a
outra voz estava tentando me puxar para baixo. Em algum
momento entre o segundo que pulei na água e o tempo em
que cheguei a Max, percebi que as coisas
aconteciam. Furacões acontecem. Tragédias acontecem.
Prometi a mim mesma que, quando tudo terminasse, e Max
estivesse segura, eu lutaria contra a voz e faria todo o
possível para não gastar meu tempo me preocupando com o
próximo evento inevitável. Tenho que viver em vez de ter
medo das coisas que a vida pode trazer. — Eu suspiro. —
Quero dizer, era mais fácil falar do que fazer. Não era como se
eu magicamente pensasse que ficaria melhor e puf
aconteceria. A fadiga hormonal e os antidepressivos tiveram
um papel importante nisso.
No dia seguinte ao nascimento, as estradas foram
desobstruídas e King foi capaz de levar Polly e eu para o
hospital para garantir que não houvesse complicações pós-
parto. Foi quando conheci Ruby, a enfermeira que me
escutou enquanto eu chorava, desmoronava e contava minha
história de vida. Foi ela quem puxou um médico do corredor
até o meu quarto e o forçou a me prescrever uma receita de
antidepressivos na mesma hora.
Olho para King, que não parece tão surpreso quanto
achei que estaria.
Ele sorri para a minha expressão confusa. — Pup, eu
sei. Eu conversei com a enfermeira do hospital. Ela me
contou tudo. Bem, eu a fiz me contar tudo. Disse a ela que
apareceria todos os dias se ela não contasse.
— Você fez isso? — Eu levanto minhas
sobrancelhas. Não deveria me surpreender.
— Claro que fiz. Por que você acha que estou lhe dando
tanto espaço? Por que não tenho perguntado se você está
bem? Ela me disse para não falar e que você falaria quando
estivesse pronta e que eu não deveria pressioná-la.
— E você a ouviu?
— Não foi nada fácil, — ele admite. — Mas você foi tão
corajosa. Admitir que precisava de ajuda e procurá-la. Meu
único problema foi admitir que nem sempre posso ser capaz
de ajudá-la, e que simplesmente não está bom para
mim. Mas percebi que poderia ajudá-la, enviando Ruby até o
seu quarto.
— Você conhece Ruby? Aquela traidora.
— Conheço todos nesta cidade, Pup. Você deveria saber
disso agora. Eu estava preso com o irmão dela. Ela
costumava nos passar maconha em tortinhas de peru. — Ele
leva minha mão na boca e beija meus dedos. — Eu não sei o
que ela te disse, mas estou feliz que ela tenha te ajudado.
Traço meus dedos sobre a cicatriz que reveste sua
sobrancelha. — Eu também. Ela disse que o que tenho
é depressão pós-parto prolongada, exasperada pelos
hormônios da gravidez. Eu sempre achei que pós-parto era
algo que desaparecia depois que você tem o bebê, mas ela
disse que é diferente para cada mulher e que às vezes pode
durar anos. Eles podem ter ajustá-los com o passar do
tempo, mas agora, me sinto... muito melhor. E quando Ruby
me contou sua própria história de como passou pela mesma
coisa, me senti, não sei, menos sozinha.
— Pup, você nunca está nisso sozinha.
A pontada de culpa exibe seu lado feio. — Eu queria te
contar. Eu queria. Eu tentei várias vezes. Mas não entendia o
que estava acontecendo, e o pensamento de lhe dizer que me
sentia triste ou desanimada me pareceu bobo e egoísta.
— Egoísta é a coisa mais distante que você poderia
ser. E não há nada que você não possa me dizer, mas
entendo por que não o fez. Eu não gosto disso, mas entendo.
— Ele pressiona a testa na minha e eu inspiro o cheiro de
sabão e o leve traço de cigarro. — Prometa-me uma coisa. No
futuro, quando você não estiver se sentindo bem, mesmo que
não possa explicar ou entender o porquê, diga-me que algo
não está certo. Prometo não tentar resolver. Só estarei aqui
para você. Eu estou aqui por você. Sempre.
— Quando você se tornou tão sábio? — Eu pergunto
com uma fungada quando meu peito incha e o amor que
sinto por King vaza dos meus olhos.
King enxuga a lágrima com o polegar e a chupa na boca.
— Quando Preppy ressuscitou dos mortos.
Eu torço o nariz. — Hã?
Ele ri. — Nada, eu te explico mais tarde. Melhor ainda,
vou deixar Preppy divagar sobre isso.
— Há mais uma coisa que tenho para lhe dizer, — eu
admito, mordendo meu lábio.
— Diga-me qualquer coisa, — diz ele.
Eu lambo meu lábio inferior e vejo os olhos de King
seguirem os movimentos da minha língua. — Quando fui hoje
à minha consulta de acompanhamento, o médico me deu
outra receita. Uma que você não sabe.
Ele parou. — Para quê?
Coloquei meus braços em volta do pescoço e o puxei
para mais perto. — Para você. Já faz seis semanas.
Os olhos do King escurecem, as pálpebras
encapuzadas. — Agora isso é algo que posso ajudá-lo a
resolver. — A antecipação aquece o ar entre nós. King se
levanta e me pega em seus braços.
— Você não precisa me carregar! — Eu grito.
Sua voz é baixa e sombria, cheia de desejo e emoção
brutos. — Eu te carreguei naquela época. Eu te carrego
agora. Eu te carrego. Sempre.
CAPÍTULO NOVE
RAY

Houve tantos momentos em que não me senti bem ou


forte o suficiente nos últimos meses, mas estar com King,
assim, é um lembrete de clareza. Do que importa.
De nós.
King me beija apaixonadamente, uma queimadura lenta
que se transforma em um inferno com um golpe de sua
língua contra a minha. Quando ele se afasta, é só para ele
poder subir as escadas, dois degraus de cada vez, até
estarmos sozinhos na nova adição da casa. Está escuro e
vazio, mas vejo mais claramente do que nunca.
Eu vejo King.
Estou nervosa, embora saiba que não deveria estar. Já
faz um tempo, mas não há dúvida do que eu quero, e o que
eu quero é ele. Todo ele. Para sempre.
Agora.
— Estou dolorido por você, Pup. Agora mais do que
nunca. — Ele se aproxima de mim. Os músculos de suas
coxas fortes flexionando sob seu jeans apertado. — Você sabe
disso? Você sabe o que faz comigo?
Balanço a cabeça. Minhas pernas tremem.
— Bem, agora você sabe, — diz ele. Ele para na minha
frente, sem me tocar. — O que você quer, Pup?
Não hesito, minhas palavras saem sem fôlego. —
Você. Eu quero você.
Ele geme e envolve sua mão grande em volta da minha
garganta, firme e forte. Um aviso possessivo do que está por
vir.
Meu corpo estremece e meu pulso acelera.
King me leva para trás até eu colidir com a parede. — É
isso que você quer, Pup? — A outra mão dele sobe pela
minha coxa, acendendo um fogo na minha pele. Ele empurra
meu vestido, expondo minha calcinha úmida. — Sim, — eu
respiro.
King me afasta da parede e me vira, me puxando para o
chão, e eu caio sem jeito no tapete.
O desejo é o anseio de apagar toda a distância. É
exatamente o que eu quero. Apagar a distância entre mim e
King. Tanto a distância na minha cabeça quanto os trinta
centímetros ou mais entre nós agora.
Ele paira sobre mim e pega o botão da minha bermuda,
abrindo-o lentamente. Eu levanto meus quadris
ansiosamente.
King balança a cabeça. — Paciência, Pup. Vou levar meu
tempo com você hoje à noite.
Ele puxa meu short pelas minhas pernas, e não estava
brincando. Ele demora. Seus dedos se arrastam contra a pele
nua das minhas coxas, e sou inundada por sensações e
necessidade que faz o sangue correr para os meus ouvidos
como chuva forte na calçada.
Ele joga meu short no chão e agarra meus joelhos,
abrindo minhas pernas para acomodar seu corpo grande
entre elas. Ele lambe minha calcinha e eu imploro o contato.
Ele ri baixo, e eu arqueio minhas costas. Por que ele não
se apressa? Eu não sei o quanto disso posso aguentar, penso
quando ele dá outro golpe no meu clitóris com sua língua
talentosa.
Ele remove minha calcinha, e agora, sou deixada apenas
na sua camisa, nua da cintura para baixo.
Se a sensação da língua dele contra a minha calcinha
me fez pular, a sensação contra o meu clitóris sem barreira
entre os dois me faz praticamente pular da cama com todos
os músculos e nervos do meu corpo reagindo ao choque do
prazer que estou sentindo agora por toda parte.
— Eu senti falta dessa linda boceta, — ele rosna,
raspando levemente os dentes sobre a minha coxa. Por um
momento, ele permanece lá, apenas olhando. Eu tento fechar
minhas coxas, pensando que algo está errado ou que não
parece como costumava parecer, mas sua cabeça está no
caminho, e tudo o que consigo fazer é apertar minhas pernas
em torno de suas orelhas.
Ele abre meus joelhos mais uma vez e me segura lá. —
Pup, — ele avisa. King achata a língua e me lambe da bunda
ao clitóris, chupando levemente antes de soltá-lo. — Eu
esperei muito tempo para ver esse seu belo corpo novamente,
e pretendo passar muito tempo apreciando cada parte sua e
me refamiliarizando. Você é a coisa mais sexy que eu já vi,
todas as partes de você. — Ele fica de joelhos e pega minha
mão, guiando-a para onde sua ereção está esticada por trás
do jeans. —Nunca estive tão duro na minha vida. É tudo por
você. Sempre por você.
Eu suspiro. Eu sei que já faz um tempo, mas de alguma
forma, ele parece ainda maior do que antes.
Ele se abaixa sobre meu corpo. — Chega de se esconder,
— diz ele.— Agora não. Nunca. Estamos entendidos?
Aceno porque não consigo encontrar as palavras. Não
apenas porque ele colocou um dedo dentro de mim enquanto
circulava meu clitóris com a língua, mas porque não sei o que
dizer que possa fazê-lo entender o quanto suas palavras
significam para mim. Eu sei que ele me ama. Sei que sou
linda. Sei as coisas incríveis que meu corpo criou e
passou. Sei há muito tempo. Eu simplesmente não consegui
conectar meu cérebro e meu coração e colocá-los na mesma
página, mas é exatamente isso que King está fazendo.
Conectando os dois mais uma vez.
E pela primeira vez em algum tempo, acredito nele. Eu
me sinto bonita. Eu me sinto desejada. E eu quero.
Oh, porra, eu quero.
King rosna em minha boceta quando sinto uma
liberação de umidade com o meu desejo aumentado. — É
isso, Pup. Você está tão molhada pra mim. Tão pronta.
— Então me tome, — eu ofego. — Agora.
Ele balança a cabeça. A barba em seu rosto adicionando
uma nova sensação, aumentando a dor crescente no meu
corpo. — Ainda não. Não até você gozar.
Ele insere outro dedo, e meus olhos reviram enquanto
ele tira e mete de volta em um ritmo que me faz montar no
seu rosto enquanto ele implacavelmente chupa, lambe,
belisca o meu clitóris e as dobras externas. Ele remove os
dedos e pressiona levemente as dobras externas da minha
boceta, colocando pressão no meu clitóris. Ele as massageia
junto com meu pobre clitóris sensível e cobre com a boca, e
minha cabeça cai no travesseiro. Minhas costas arqueiam, e
ele empurra sua língua diretamente para o local que eu
preciso uma última vez.
Eu juro que ficarei cega com todo o prazer. Dele.
Não estou mais no quarto ou no chão. Estou em outro
planeta onde flutuo acima de mim mesma, assistindo a cena
mais sexy que já vi se desdobrando abaixo de mim. King
entre as minhas pernas. King me dando prazer. King me
fazendo gozar até ter certeza de que estou desmaiando.
Quando eu gozo, King está entre minhas pernas com a
cabeça grossa de sua ereção latejante cutucando a entrada
da minha boceta molhada. Ele agarra seu pau e esfrega a
cabeça através da minha umidade, e eu gemo, a necessidade
aumentando ainda mais rápido desta vez. A parte inferior do
meu estômago está tensa, assim como todas as terminações
nervosas fazendo horas extras para manter meu corpo unido
e impedir que ele exploda de puro prazer.
— Tão molhada para mim. Você quer esse pau? — Ele
pergunta, me beijando nos lábios. Ele chupa meu lábio
inferior e depois o libera, procurando nos meus olhos a
resposta.
Sorrio para ele. — Foda-se, sim, eu quero, — eu
sussurro.
Ele se reposiciona na minha entrada e, com uma flexão
dos quadris, está dentro de
mim. Afundando. Alongando. Preenchendo.
— Apertada pra caralho, — ele geme.
Está apertado porque estremeço quando a mordida da
dor se torna quase demais.
King se acalma. — O que está errado?
— Só faz muito tempo, — explico.
— Eu posso parar, — diz ele, afastando-se um pouco.
Enterro minhas unhas em seus ombros. — Não, você
não pode, — eu me ouço rosnar. — Eu só preciso de um
segundo.
King ri. — Aí está minha garota.
Flexiono meus quadris para testar minha prontidão, e
ele assobia entre os dentes. Eu me sinto forte, poderosa por
ser capaz de provocar esse tipo de reação nele. — Estou bem,
— digo a ele. A verdade é que estou mais que bem. Estou
ótima pra caralho. Seu pau está tocando todas as partes da
minha boceta que precisam ser tocadas, e isso está
acontecendo de uma só vez. Estou tão incrivelmente cheia
dele, mas tudo que consigo pensar é que quero mais. Muito
mais. Disto. Dele.
De nós.
King beija meu pescoço e passa os lábios até minha
mandíbula, ainda sem se mexer. — Porra. Eu odeio que você
não esteja confortável, mas merda, você está tão apertada
que está sufocando meu pau.
— Eu posso parar, — repito suas palavras, levantando
uma sobrancelha para ele.
Agora, é a vez dele de usar minhas palavras contra
mim. — Não, você não pode, — ele diz com um sorriso.
Flexiono meus quadris novamente e seus olhos
escurecem. Ele começa a entrar e sair. Cada movimento
provocando um suspiro ou gemido de qualquer um de
nós. Eu levanto meus quadris, e ele empurra cada vez mais
rápido. Eu aguento o melhor que posso. Ele não está apenas
me fodendo. Estamos transando.
É como quando fogo e gelo colidem. Uma bomba de
sentimentos. Opostos se unindo em uma explosão dos
sentidos. Tudo o que posso sentir, cheirar, provar é ele. Tudo
ao meu redor. Dentro de mim. Ele está em todo lugar. Meu
corpo. Meu coração.
— Estou perto. Tão perto — eu consigo gritar.
— Eu sei. Eu posso sentir isso, porra — responde King,
os nervos do pescoço tensos. Os músculos de seu peito e
abdômen flexionando enquanto ele empurra em mim uma e
outra vez.
Meus seios estão pesados e minha pele está pegando
fogo. O som de nossos corpos batendo e o cheiro de suor e
sexo é demais pra caralho. Minha boceta aperta em torno de
seu pau. Eu contraio, apertando-o com tudo o que tenho,
quando gozo ainda mais difícil do que na primeira vez, minha
visão se tornando estática e meu corpo perdido para o prazer,
os sentimentos e as sensações de King. Eu ainda estou
gozando, inundada por uma onda de um orgasmo de nível
superior, quando ele coloca uma mão debaixo de mim,
levantando meus quadris. A outra encontra seu caminho em
volta da minha garganta. Ele deixa lá quando sinto seu pau
inchar dentro de mim, ficando ainda mais duro até que
alguns movimentos selvagens e luxuriosos mais tarde ele está
gemendo meu nome. Meus dedos cravam em sua bunda, e ele
para quando goza dentro de mim. — Porra, Pup. Oh,
porraaaaa, — ele rosna, enquanto monta minha boceta até
que seu próprio orgasmo diminui e somos deixados em uma
pilha de suor e respiração pesada um ao lado do outro na
cama.
— Eu senti falta disso, — eu digo, ainda tentando
recuperar o fôlego.
Ele agarra meu queixo e me obriga a encará-lo. Seus
olhos verdes se fixam nos meus com uma ferocidade
possessiva que sinto no meu peito já pesado.
— Porra eu senti sua falta. Tudo de você. Não só isso. —
Sua voz fica suave. Estou sentindo todas as emoções
possíveis por esse homem, mas a maior das emoções gritando
dentro do meu coração é o amor.
Sempre o amor.
— Você me assustou por um tempo. Não tenha medo de
falar comigo. Nunca. Isso é muito importante. Nós somos
muito importantes.
Eu concordo. — Não queria que você pensasse que eu
era fraca, — eu finalmente admito.
Ele me segura em seus braços. — Fraca? Porque você
está passando por um período difícil? Você acha que o que fez
salvando Max foi fraco? Você acha que parir seu próprio filho
é fraco? Você acha que tentar ser a heroína em nossas vidas
cotidianas enquanto caminha com esse fardo interno é fraco?
Pup, você é a pessoa mais forte que eu conheço. Estamos
nesta vida juntos.
Concordo e deixo que ele me pressione em seu peito,
onde minhas lágrimas encharcam sua pele já úmida. —
Juntos, — repito.
— Quando você estiver se sentindo fraca, eu serei forte
por você. Se você não puder ver, eu serei seus olhos. Se você
não puder ouvir, eu a guiarei. Só somos fracos quando não
somos um time. Juntos? Somos totalmente imparáveis.
Meu coração se contrai no meu peito. — Você tira meu
fôlego.
King segura meu olhar. — Você é a porra da minha
respiração.
CAPÍTULO Dez
RAY

Embora eu e King sejamos legalmente casados e ligados


de todas as formas, hoje é o dia do nosso casamento.
Será um casamento simples que acontecerá em um
campo na fazenda onde Nine e Preppy operam seus negócios
de maconha. Luzes cintilantes e mesas de
piquenique. Um casamento sem frescuras, seguido de uma
festa entre amigos, família e um buffet servido por Billy's
Crab Shack.
Observo a paisagem da praia de Logan passar pela
janela do banco de trás do Cadillac de Preppy. Ele insistiu
que ele e Dre me levariam para o casamento, e não pude
negar quando ele parecia tão honrado por ser o único a me
levar até King no dia do casamento.
Eu aliso meu vestido e o puxo de onde está preso entre a
parte de trás das minhas pernas e o assento para evitar
rugas. Eu me visto para evitar rugas. Não é branco, mas
coral. Sem renda ou miçangas para mim, apenas tiras finas
com um decote em V na frente e depois reto até o
chão. Adorei no segundo em que vi e sabia que era com ele
que me casaria com King. Meu cabelo platinado está liso e
separado ao meio com uma coroa de pequenas flores que
combinam com a cor do meu vestido. O único brilho são as
folhas de ouro rosa que cercam as flores. Dre fez minha
maquiagem e, embora seja mais pesada do que normalmente
costumo usar, especialmente ao redor dos meus olhos, ainda
sou eu, apenas uma versão embonecada.
Preppy enfia a cabeça entre os bancos da frente e
sorri. — Você está pronta para hoje, garota?
— Estou pronta, — eu respondo.
Ele pisca e desliga o motor.
Ele abre a porta para Dre, depois corre ao redor do carro
para abrir minha porta. Ele está usando um smoking de cor
marrom com uma gravata rosa coral, e eu percebo por que ele
insistiu em ver meu vestido no dia em que o comprei.
Preppy oferece um braço para Dre e um para mim. Ele
me leva ao redor do pequeno prédio de um andar e, quando
viramos no canto, paro e tiro o braço do Preppy para cobrir
minha boca com a mão.
Estou chocada com o que vejo diante de mim. Não há
luzes cintilantes simples penduradas nas árvores ou bancos
de mesa de piquenique que revestem um corredor sem forro.
É uma feira.
E não é pequena também.
É completa com carrossel, jogos com prêmios
pendurados acima dos funcionários da feira, gritando as
poucas chances de ganhar, e o melhor de tudo... há uma
roda gigante.
— O que? Quando? Como? — Eu pergunto, incapaz de
formar uma pergunta coerente.
Preppy pega meu braço novamente e me leva para
frente. — King. Foi tudo King. King recriou a feira.
Tenho lágrimas de alegria nos meus olhos quando ele
me leva e Dre a uma barraca montada nos fundos. — Você
está linda, — diz Dre, soltando o braço de Preppy. — Vejo
vocês dois lá dentro. — Ela se abaixa e entra.
— Sinto muito que seu pai não possa estar aqui.
Minha felicidade é temporariamente substituída pela dor
de não ter meu pai aqui. Ele está se recuperando de uma
pneumonia e a viagem era demais. Embora eu tenha
conversado por vídeo com ele depois que me arrumei, ele me
viu no meu vestido de noiva e insistiu que alguém gravasse a
cerimônia para que ele pudesse assistir mais tarde.
— Está tudo bem. Essas coisas acontecem.
Preppy enfia as mãos nos bolsos e balança nos
calcanhares. — Então, o que você diria se eu me oferecesse
para substituí-lo?
— Eu... — Eu fungo. — Eu gostaria muito disso.
Seu sorriso brilha. — Eu sei que não sou sua primeira
escolha para levá-la pelo corredor, mas às vezes a segunda
pode surpreendê-la. Como sua segunda escolha em uma
orgia.
Caí na gargalhada. A música começa a tocar e Preppy
empurra a aba da tenda para o lado. Minha risada cessa, e
meu coração para quando vejo King me esperando no final do
corredor.
Ele não tira os olhos de mim. Tanta coisa passa entre os
nossos olhares trancados. Amor. Luxúria. História. Futuro. E
embora os assentos ao nosso redor estejam cheios de gente,
somos só eu e ele neste momento.
Nem percebo que o ministro está falando até que seja a
vez de King recitar nossos votos. Optamos por dizer o que
queremos diretamente do coração, e estou me inclinando
para ele, ansiosa para ouvir o que ele escolheu dizer.
Ele limpa a garganta e pega minhas mãos. — Prometo
guardar isso entre nós, assim como proteger você e as
crianças. Prometo protegê-la com a minha vida. Para sempre.
Estou tão cheia de tantas emoções que nem lembro o
que queria dizer. Eu fungo. — Como diabos eu devo superar
isso?
Os olhos de King nunca deixam os meus. — Apenas
prometa que você será minha para sempre.
— Eu sou sua. Para sempre. Prometo.
— Porra, isso aí, você é, — rosna King. Ele me puxa, me
levantando no ar e pressionando seus lábios nos meus em
um beijo que não seria apropriado para qualquer tipo de
casamento na igreja.
A multidão assobia e grita quando o reverendo fecha seu
livro. — Acho que você não vai precisar do resto, pois parece
que resolveu o problema com suas próprias mãos. Então,
pelo poder investido em mim e pelo fato de você já estar
legalmente casado, eu agora os declaro marido e mulher.
Estamos todos procurando por um pouco de luz na
escuridão. Algo a que se agarrar quando a vida ataca. Eu
tenho isso com meus filhos. Com King. Faço outro voto para
mim mesma. Confiar na rede de segurança que ele construiu
ao nosso redor e me apoiar nele quando me sentir
caindo. Porque King não é apenas meu marido ou meu
parceiro, ele é minha alma, meu lugar seguro.
Meu abrigo de qualquer tempestade.
Capítulo Onze
KING

— Você pode querer derrubar a porra da placa, — diz


Bear, apontando para o topo da cabana do velho caçador
escondido entre os grossos pinheiros da ilha Motherfucker,
para a brilhante placa de neon pendurada acima da porta.
Preppy olha para cima e coça a cabeça. — Por quê? Não
é grande o suficiente? Eu deveria ter usado um 'g' em vez do
apóstrofo? Eu sabia que não deveria ter usado gírias. O ING
teria sido muito mais elegante.
Bear dá um tapa na parte de trás da cabeça dele. —
Porque é um grande letreiro de neon que diz The Killin 'Shed.
— Como as pessoas que matamos saberão que é um
galpão se não houver placa?
— Eles saberão, e os policiais também, — Bear aponta,
deixando cair a bolsa aos pés.
— Vocês dois discutem como velhinhas no
supermercado brigando pela última tapioca de merda, —
murmuro, ajustando minha própria bolsa de couro pesada,
pendurada sobre os ombros.
As velhinhas me ignoram e continuam com Preppy
apontando para a placa. — Não, eles nunca pensariam que
um lugar com uma placa dizendo que galpão da morte é
um galpão real. Duh, Bear, é psicologia reversa comum. Ou
você não tem livros no seu grande teatro de motoqueiros
ruins?
— Clube, — Bear rosna, ficando para trás comigo
quando Preppy entra. A porta se fecha atrás dele, mas ainda
podemos ouvi-lo cantar. — Não é um negócio como o Killin
'Shed, como nenhum negócio que eu conheço.
— Você sabe, — diz Bear, dando uma tragada no
cigarro. — Ele pode ter voltado à vida, mas acho que alguns
pedaços de seu cérebro ainda estão mortos.
— Não seria Preppy se não estivéssemos questionando
constantemente sua falta de sanidade.
— Essa é a porra da verdade, — diz Bear. Ele apaga o
cigarro e entramos onde Preppy ainda está cantando sua
música enquanto coloca um par de luvas grossas de
borracha. O tipo destinado a soldadores. Ou no nosso caso,
assassinos.
— Bem-vindo ao matadouro! — Preppy anuncia. — É
como a Disney World, exceto que não há passeios e não é o
lugar mais feliz do mundo. Bem, não para você, pelo
menos. — Preppy coça a cabeça. — Merda, acho que não é
nada como a Disney World. OK. OK. Deixe-me tentar de novo.
— Ele coça o queixo com a faca longa e afiada na mão. — Ok,
que tal isto. — Ele limpa a garganta. — Bem-vindo ao galpão
matador. O último lugar que você estará.
O cara geme por trás de sua mordaça, e Preppy torce os
lábios. — Não? Droga. Vou continuar trabalhando
nisso. Pena que você não vai conseguir ouvir que tipo
de slogan incrível finalmente escolherei. — Ele bate a faca no
nariz do cara. — Caso eu não tenha deixado claro, você não
ouvirá, porque estará morto e tudo mais. — Preppy faz sua
melhor imitação de homem morto pendurado no final de um
de laço.
— Acho que ele entendeu, — diz Bear, apontando para
as calças do homem onde uma grande mancha molhada se
formou. — Ele se mijou.
— Oh, que bom. Eu nem precisei usar a apresentação
em power point, — diz Preppy, voltando à mesa de itens de
tortura que ele montou, depois acena para mim. — Você
escolhe, chefe.
Não me mexo porque estou olhando para um dos
homens responsáveis pelas quase mortes da minha esposa e
filha e a raiva percorre meus ouvidos e a visão afunilada em
torno de seu rosto é tudo em que posso me concentrar. —
Então, você queria foder com o rei da calçada? — Eu
finalmente pergunto. — Você está prestes a sentir o que
acontece com as pessoas que mexem com a porra da família
errada.
Bear pega a faca de Preppy e entrega para mim. Testo o
fio da lâmina na ponta dos dedos enquanto ando lentamente
ao redor do homem.
— Ultimas palavras? — Bear pergunta.
O homem assente, e eu arranco a fita da boca dele. —
Eu... me desculpe. Eu só quero dizer... não foi minha culpa.
— Então me diga quem, — eu exijo.
— Eu não posso. Qualquer coisa que você fizer comigo
aqui, ele fará pior. Ele sabe onde minha família mora. É
assim com todos que ele trabalha. Ninguém lhe dirá quem ele
é ou corre o risco de perder tudo. Posso lhe dizer que ele
disse algo sobre alguém chamado Pike. Que tudo isso é por
causa dele. É tudo o que posso lhe dizer. — Seus olhos
encontram os meus. — Você sabe, além de foda-se.
Cubro sua boca de volta com a fita.
Pike? O que diabos isso tem a ver com Pike?
— Essas foram grandes últimas palavras do caralho, —
diz Bear com um encolher de ombros. — Você foi considerado
culpado de alta traição, — diz Preppy. — E sua sentença é a
morte.
Eu corto sua garganta em um movimento rápido. O
sangue jorra e escorre pelo pescoço. Os sons confusos que ele
faz diante de meus olhos são irritantes pra caralho. O cara
não podia nem morrer sem me irritar.
— Merda, — diz Preppy. Ele está olhando para o sangue
acumulado no plástico transparente que cobre o chão.
— Você está mole? — Eu pergunto, limpando o sangue
da minha bochecha com o antebraço e jogando a faca no
chão.
Ele revira os olhos e aponta um dedo para o próprio
peito. — Eu? Por favor. Essa merda deixa meu pau duro pra
caralho.
— Então, qual é o seu problema? — Bear pergunta,
acendendo um cigarro e testando a serra elétrica.
— É que eu acabei de me lembrar que Doc me pediu
para pegar um molho de tomate a caminho de casa, porque
ela voltará hoje e quer fazer... eu não sei, algo com molho de
tomate, e quase me esqueci. — Ele olha o cadáver fresco e
sorri. — Até agora. — Ele dá um tapinha no meu ombro com
sua grossa luva de borracha. — Obrigado pelo
lembrete, chefe.
— Estar de volta aqui com certeza me lembra os velhos
tempos, — diz Bear, tirando as luvas. — Eu sinto a falta
desses dias.
— Sim, o galpão matador tem uma maneira de trazer o
melhor de todos nós, — diz Preppy com o que só posso
descrever como um suspiro sonhador, e juro que há uma
lágrima na porra do seu olho.
— Hoje, eu concordo com você, — eu respondo,
acendendo um cigarro.
— Quer matá-lo de novo? — Preppy pergunta, pegando a
faca do chão.
— Nah, — aponto para o outro lado da sala para os
outros homens amordaçados com expressões horrorizadas
em seus rostos condenados que acabaram de testemunhar
como serão seus breves futuros. — Temos mais dois.
— É como o Natal, mas melhor e sem todo o sexo
excêntrico, — lamenta Preppy.
O rosto de Bear se torce em confusão. — Que porra de
Natal você está tendo em sua casa?
Preppy solta um suspiro exasperado. — Um com sexo
excêntrico. Eu não acabei de dizer isso?
Bear e eu trocamos o mesmo olhar, nunca saberemos
onde está a cabeça dele e é melhor não tentar.
Preppy aponta para Bear com sua faca. — Você ficou
surdo na velhice, Beary-cocô?
— Com metade da merda que você diz? — Zomba
Bear. — Eu desejo.
Preppy pega uma serra elétrica. — Oh, isso me dá uma
boa ideia. Deveríamos cortar as orelhas deles.
— Vamos nos ater à boa e velha matança, pelo bem dos
velhos tempos, — eu digo.
— Bear, você quer fazer as honras?
Bear arranca a faca da mão de Preppy. — Com prazer.
— Preppy bufa. — Sempre uma dama...
Eu dou um tapa no ombro dele. — Você pega o próximo,
Prep.
Sua carranca se transforma em um sorriso radiante. Ele
liga a serra elétrica e grita sobre o som ensurdecedor. —
Como eu disse, como a porra do Natal.

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