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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIFAAT

LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

LARISSA MIRELLA PEREIRA

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA NAS ESCOLAS: POR QUE É TÃO


NECESSÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS?

ATIBAIA, SP

2021
LARISSA MIRELLA PEREIRA

COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA NAS ESCOLAS: POR QUE É TÃO


NECESSÁRIA PARA O DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS?

Monografia apresentada à UNIFAAT, para obtenção


do título de Licenciatura em Pedagogia, sob a
orientação do Prof. Marcos Bernardi.

ATIBAIA, SP

2021
FOLHA DE APROVAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO “PEDAGOGIA”

Termo de aprovação

LARISSA MIRELLA PEREIRA

Título: “Comunicação não violenta nas escolas: por que é tão


necessária para o desenvolvimento das crianças?”

Trabalho apresentado ao Curso de graduação “Pedagogia”, para apreciação do


professor orientador Me. Marcos Bernardi, que após sua análise considerou o
Trabalho ________________, com Conceito ______________.

Atibaia, SP _____de ___________ de 2021.

Prof. Me. Marcos Bernardi


Dedico este trabalho aos meus pais, meu esposo,
ao coordenador e professor Gilvan Elias e ao meu
orientador Marcos Bernardi, responsável por me
apresentar a inspiração do tema deste trabalho.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me permitir finalizar esse curso tão


importante para mim.

Agradeço ao meu esposo, que esteve ao meu lado principalmente quando quis
desistir, me oferecendo apoio, compreensão e empatia. Quando pensei que não
conseguiria, ele estava lá para me mostrar a minha capacidade diante os problemas
e adversidades. A você, Vitor, toda a minha gratidão por tanto apoio e todo o meu
amor por tanta compreensão e por não ter me deixado desistir do meu sonho.

Aos meus pais e meus avós que me apoiaram desde o início do curso e foram
fundamentais em cada etapa, se orgulhando por cada conquista realizada durante o
curso.

Ao meu filho Enrico, que nasceu em meio a correria do fim do curso e me deu
uma força descomunal para seguir adiante, valorizando cada aprendizado,
principalmente pelo filho incrível que ele é e a pessoa maravilhosa que ele se tornará.

A minha melhor amiga Thais por todo o apoio desde o início do curso e,
principalmente, por todo o incentivo na reta final.

Aos meus professores, por terem partilhado tanto comigo e com meus colegas
de classe. Ensinamentos teóricos e ensinamentos da vida. Situações do cotidiano,
momentos felizes, momentos de desespero, momentos de impaciência, mas, ainda
assim: todos esses momentos nos trouxeram até aqui. Por isso, sou grata por cada
professor e cada colega de classe que conheci nesses três maravilhosos anos.
RESUMO

O objetivo do presente estudo é investigar como os processos de construção


de paz, o desenvolvimento das competências socioemocionais e as práticas da
comunicação não-violenta, teoria de Marshall B. Rosenberg, podem se expressar no
espaço escolar, garantido um ensino mais eficiente e uma relação saudável,
respeitosa e pacífica entre alunos e funcionários da instituição escolar.

A teoria também reflete sobre a influência que a CNV possui nas relações
estabelecidas entre os sujeitos que constituem esse ambiente.

Vários questionamentos foram apontados para que pudéssemos compreender


melhor o tema: o histórico do modelo, seus respectivos pilares, a importância do
desenvolvimento socioemocional na escola e como as escolas incorporam esta ideia
ao longo do tempo, qual a melhor forma de implantar a CNV na escola e quais os
principais desafios da implantação da CNV no universo escolar.

As observações feitas a partir de inúmeros artigos e através do livro de Marshall


B. Rosenberg resultaram em um trabalho cujo permite-se refletir sobre a eficácia do
ensino proposto pela teoria da CNV, onde a chave principal é composta pela
comunicação, compreensão, respeito e, principalmente, a empatia.

Palavras-chave: comunicação não-violenta; CNV; competências socioemocionais;


Marshall B. Rosenberg; conflitos escolares.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gráfico de Casel ................................................................................. 22


LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Exemplo da diferença entre as avaliações e as observações ................ 12


Tabela 2 - O que sentimos quando as nossas necessidades são atendidas x não são
atendidas .......................................................................................................... 13
Tabela 3 - Lista de necessidades humanas básicas ............................................. 15
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 9

1. O QUE É A COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA ............................................. 10

1.1 Histórico do modelo ............................................................................... 10

1.2 Pilares do modelo .................................................................................. 11

1.2.1 Observação..................................................................................... 11

1.2.2 Sentimentos .................................................................................... 12

1.2.3 Necessidades.................................................................................. 14

1.2.4 Pedido ............................................................................................ 17

2. A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL NA ESCOLA


20

2.1 Como as escolas incorporam a ideia ao longo do tempo .......................... 20

2.2 A importância da competência socioemocional no desenvolvimento da


criança ........................................................................................................... 21

3. IMPLANTANDO A CNV NA ESCOLA .......................................................... 25

3.1 Como implantar a CNV no universo escolar ............................................. 25

3.2 A aplicação da CNV na BNCC ................................................................ 26

3.3 Principais desafios na implantação da CNV no universo escolar ............... 28

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 30

REFERÊNCIAS ................................................................................................. 32
9

INTRODUÇÃO

A porcentagem de adolescentes e adultos com inúmeros traumas e inseguranças


na atualidade vem crescendo subitamente, muitos desses traumas e inseguranças,
do ponto de vista científico, estão diretamente ligados ao comportamento e ao
tratamento que estes indivíduos obtiveram na infância.

De acordo com uma pesquisa realizada pela psicóloga Vanessa Fernandes Fioresi
(2017), quando alguém passa por traumas durante a infância ou adolescência, a
pessoa passa a entender que o ambiente onde vive é inseguro e se torna mais reativo
a ele. Isso pode contribuir para um estado de hiper vigilância e ansiedade.

O médico Francisco Assumpção (2017), professor livre docente pelo


departamento psiquiatra da USP afirma que a criança precisa estar segura e se sentir
segura. A partir do momento que isso não acontece, ela tem dificuldade de se
relacionar com os demais. E ela vai se desenvolver a partir dessa dificuldade. Se você
colocar agressões do tipo físico, isso piora.

O presente estudo parte da premissa de que as crianças precisam de


compreensão e empatia, principalmente no âmbito escolar. Por vezes, nos deparamos
com situações em que a professora ou o próprio colega grita ou esbraveja com um
aluno, enxerga erroneamente o método de punição como uma forma de aprendizado,
no entanto, além deste método punitivo afastar as crianças, há grande probabilidade
de desenvolverem traumas, tornando-as inseguras, violentas e ansiosas. A forma
como o aluno é tratado na infância, reflete no adulto que ele irá se tornar.

O objetivo deste estudo é compreender a importância e os benefícios da


comunicação não violenta para o desenvolvimento infantil, colaborar com o
desenvolvimento da criança de forma pacífica e condescendente e buscar diálogos
mais positivos no âmbito escolar, a fim de formar cidadãos livres de culpa, julgamentos
e ameaças.
10

1. O QUE É A COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA

1.1 Histórico do modelo


A comunicação não-violenta, popularmente conhecida como CNV consiste em
uma abordagem de comunicação. Começou a ser desenvolvida no final de 1960 pelo
psicólogo americano Marshall Bertram Rosenberg (1934 – 2015). Rosenberg sofreu
bullying durante a infância e sua experiência fez com que ele ponderasse, desde
jovem, o que leva uma pessoa a agir de forma violenta. O psicólogo atuou em diversas
áreas, levando seu método a milhares de pessoas em mais de 65 países. Realizou
palestras em locais como universidades, escolas, empresas, protestantes, entre
muitos outros. A CNV é um método de resolução pacífica de conflitos e foi criada para
apoiar as pessoas a se conectarem mais profunda e verdadeiramente através dos
sentimentos e necessidades. Entretanto, não estamos acostumados a nos conectar
nem com nossos próprios sentimentos e necessidades, o que nos leva a CNV, que foi
desenvolvida justamente para nos auxiliar neste aprendizado. Segundo Rosenberg, a
violência entre as pessoas e a violência social estão interligadas e ocorrem a partir de
uma forma específica de se pensar. O pensamento que leva os pais a punir os filhos
é o mesmo tipo de pensamento que leva líderes mundiais a punir toda uma nação.

A diferença entre o método da CNV e o método punitivo utilizado no âmbito


familiar e escolar está, principalmente, na forma como a criança recebe a informação.
Na CNV, a criança tende a captar o que gostaríamos de dizer com clareza e
pacificidade, enquanto na forma tradicional, onde rege a abordagem punitiva, a
criança recebe a mensagem em tom de ameaça, fazendo com que a verdadeira
mensagem não seja captada e ela acate o que o adulto esbravejou por medo,
especialmente da punição.

No livro Comunicação Não-violenta, Rosenberg cita o exemplo de uma mãe ao


falar com seu filho. “- Fui para a casa e expressei meus sentimentos e necessidades
exatamente como praticamos. Não fiz críticas, nem julguei meu filho. Eu simplesmente
disse: ‘Olhe, quando vejo que você não fez as tarefas que disse que faria, fico muito
decepcionada. Gostaria de poder chegar em casa e encontrar a casa em ordem e
suas tarefas cumpridas.’ Então, eu fiz um pedido: disse a ele que gostaria que ele
arrumasse suas coisas imediatamente.
11

- Parece que você expressou claramente todos os componentes. O que aconteceu?

- Ele não arrumou suas coisas.

- E o que aconteceu depois?

- Eu disse que ele não poderia passar pela vida sendo tão preguiçoso e irresponsável.

Pude ver que aquela mulher ainda não era capaz de distinguir entre expressar pedidos
e fazer exigências. Ela ainda estava definindo o processo como bem-sucedido apenas
se ela obtivesse o atendimento a seus pedidos. Durante as fases iniciais do
aprendizado desse processo, podemos nos flagrar aplicando os componentes da CNV
mecanicamente, sem ter consciência de seu propósito subjacente.” (Rosenberg, 1999,
p. 122 e p. 123).

1.2 Pilares do modelo

Existem quatro pilares na Comunicação Não-Violenta, que são,


respectivamente: observação, sentimento, necessidade e pedido.

1.2.1 Observação
Conforme Rosenberg (1999, p. 50) "O primeiro componente da CNV acarreta
necessariamente separar observação de avaliação. precisamos observar claramente,
sem acrescentar nenhuma avaliação, o que vemos, ouvimos ou tocamos que afeta
nossa sensação de bem-estar (...) quando combinamos observação com avaliação,
as pessoas tendem a receber isso como crítica."

Na observação, discorremos o que é compreendido por nosso sentido através


de detalhes mínimos, evitando acrescentar qualquer elemento que venha a surgir de
uma opinião ou interpretação do que está sendo exposto.
A avaliação é o processo no qual fazemos essa interpretação, citada acima,
relacionada ao objeto exposto. Quando juntamos a observação com a avaliação,
passamos a interpretar a situação como se fosse um fato observado. Pode soar
como crítica ao outro e ao invés de focar na mensagem que gostaríamos de passar,
o ouvinte vai focar em sua defesa.
12

A CNV não significa o abandono da avaliação, mas neste método, é importante


sabermos separá-la da observação. Isso nos garante a autonomia para escolhermos
entre elas, conscientes da nossa linguagem.

Em seu livro, Rosenberg apresenta exemplos que distinguem as avaliações de


observações.

Tabela 1 - Exemplo da diferença entre as avaliações e as observações

Avaliações Observações
Você raramente faz o que eu quero. Nas últimas três vezes em que comecei alguma
atividade, você disse que não queria fazê-la.
Ele aparece aqui com frequência. Ele aparece aqui pelo menos três vezes por
semana.

1.2.2 Sentimentos
O segundo componente é a forma de expressar como nos sentimos, uma tarefa
quase inescrutável para grande parte das pessoas atualmente, principalmente pelo
pensamento que nos assombra: o que os outros acham que é o certo a se dizer ou
fazer? Em muitas situações nos encontramos presos a este pensamento, precisando
de aprovação para todas as nossas ações e deixando de lado o que mais importa: o
que realmente queremos e pensamos. Passamos a agir automaticamente através dos
ensinamentos sobre o que é certo ou errado, bom ou mau.

“Os benefícios de enriquecer o vocabulário de nossos sentimentos são


evidentes não apenas em relacionamentos íntimos, mas também no
mundo profissional.” (Rosenberg, 1999, p. 66).

É necessário distinguir o que sentimos de como achamos que os outros reagem


ou se comportam a nosso respeito. Um exemplo que foi retirado do livro nos mostra
isso: “Sinto-me insignificante para as pessoas com quem trabalho – A palavra
insignificante descreve como acho que os outros estão me avaliando, e não um
sentimento real, que, nessa situação, poderia ser “sinto-me triste” ou “sinto-me
desestimulado”” (Rosenberg, 1999, p. 70)

Conforme Rosenberg (1999, p. 72) “Ao expressar nossos sentimentos, seria


muito útil se utilizássemos palavras que se referem a emoções específicas em vez de
palavras vagas ou genéricas. Por exemplo, se dissermos “sinto-me bem a esse
13

respeito”, a palavra bem pode significar alegre, excitado, aliviado ou várias outras
emoções. Palavras como bem ou mal impedem que o ouvinte se conecte facilmente
ao que podemos de fato estar sentindo.”

Abaixo, uma lista com alguns dos sentimentos que expressam como nos
sentimos quando as nossas necessidades são atendidas, bem como quando não são
atendidas, citados por Rosenberg em seu livro.

(Rosenberg, 1999, p. 72, p. 73, p. 74 e p. 75)

Tabela 2 - O que sentimos quando as nossas necessidades são atendidas x não são atendidas

Como nos sentimos quando as nossas Como nos sentimos quando as nossas
necessidades estão sendo supridas. necessidades NÃO estão sendo supridas.
Absorvido Assustado
Aventureiro, corajoso Agravado
Alerta Agitado
Vivo Alarmado
Atônito Distante
Divertido Zangado
Animado Angustiado
Apreciativo Incomodado
Ardente Ansioso
Estimulado Apático
Surpreso Apreensivo
Feliz Estimulado
Esbaforido Envergonhado
Flutuante Abatido
Calmo Desnorteado
Despreocupado Amargo
Satisfeito Chato
Sereno Entristecido
Preocupado Coração partido
Confiante Mortificado
Legal Frio
Curioso Preocupado
Deslumbrado Confuso
Revigorado Desapontado
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É necessário distinguir sentimento de julgamento. Ao citar desta forma, a


distinção aparenta ser indubitável. Entretanto, grande parte das pessoas fazem uso
do julgamento mascarado de sentimento, muitas vezes de forma imperceptível. É
possível sentir-se desapontado com a atitude de uma pessoa, porém, ao pensar que
foi abandonado por esta pessoa caso ela não alcance as expectativas criadas é um
julgamento em relação a outrem. No julgamento citado, é avaliado o abandono da
pessoa. Não se diz respeito a um sentimento existente, mas sim uma espécie de juízo
de valor que aponta diretamente para o que ou quem está fora de mim.

1.2.3 Necessidades
No terceiro componente da CNV assumimos a responsabilidade por nossos
sentimentos. O que os outros fazem pode ser o estímulo para nossos sentimentos,
mas não a causa. “(...) nossos sentimentos resultam de como escolhemos receber o
que os outros dizem e fazem, bem como de nossas necessidades e expectativas
específicas naquele momento. Com esse terceiro componente, somos levados a
aceitar a responsabilidade pelo que fazemos para gerar os nossos próprios
sentimentos.” (Rosenberg, 1999, p. 79).

Ao receber uma mensagem negativa, temos quatro opções de como recebê-la:


1. Culpar a nós mesmos, aceitando o julgamento da outra pessoa e sentindo-nos
envergonhados. 2. Culpar os outros, instantaneamente sentindo raiva. 3. Escutar
nossos próprios sentimentos e necessidades. Ao focarmos a atenção nesta opção,
nos conscientizamos de que nosso sentimento de mágoa deriva da necessidade de
que nossos esforços sejam reconhecidos. 4. Escutar os sentimentos e necessidades
dos outros.

Conforme Rosenberg (1999, p. 81) “Aceitamos a responsabilidade, em vez de


culpar outras pessoas por nossos sentimentos, ao reconhecermos nossas próprias
necessidades, desejos, expectativas, valores ou pensamentos.”

“Quando expressamos nossas necessidades indiretamente, através do


uso de avaliações, interpretações e imagens, é provável que os outros
escutem nisso uma crítica. E, quando as pessoas ouvem qualquer
coisa que soe como crítica, elas tendem a investir sua energia na
autodefesa ou no contra-ataque (...) estamos acostumados a pensar
15

no que há de errado com as outras pessoas sempre que nossas


necessidades não são satisfeitas.” (Rosenberg, 1999, p. 84)

Além das necessidades emocionais, há as necessidades essenciais, humanas


e universais. Ao compreendermos que todos possuem as mesmas necessidades
humanas, como dormir, respirar e se alimentar, torna-se mais fácil partirmos para a
compreensão das necessidades emocionais, acima citadas.

Lista de necessidades humanas básicas. (Rosenberg, 1999, p. 86 e p. 87)

Tabela 3 - Lista de necessidades humanas básicas

NECESSIDADES FÍSICAS
− Ar
− Comida
− Movimento
− Exercício
− Proteção contra formas de vida ameaçadoras (vírus, bactérias, insetos,
predadores)
− Descanso
− Expressão sexual
− Abrigo
− Toque
− Água

AUTONOMIA
− Escolher os sonhos, objetivos
− Escolher os planos para realizar os sonhos, objetivos, valores

CELEBRAÇÃO
− Celebrar a criação da vida e a realização dos sonhos
− Celebrar perdas: pessoas queridas, sonhos (luto)

INTEGRIDADE
− Autenticidade
− Criatividade
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− Sentido
− Valor próprio

INTERDEPENDÊNCIA
− Aceitação
− Apreciação
− Proximidade
− Comunidade
− Consideração
− Contribuição para o enriquecimento da vida (exercer o próprio poder dando o
que contribui com a vida)
− Segurança emocional
− Empatia
− Honestidade
− Amor
− Reconforto
− Suporte
− Confiança
− Compreensão
− Calor (afetuosidade)

LAZER
− Diversão
− Sorrir

COMUNHÃO ESPIRITUAL
− Beleza
− Harmonia
− Inspiração
− Ordem
− Paz
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Conforme a lista acima, é compreensível que em algum momento, todos os


indivíduos apresentem tais necessidades ao longo de suas vidas. O conflito
relacionado às necessidades se faz presente ao chegarmos no modo de satisfazê-las.
A discordância a respeito do modo de satisfazer uma necessidade é fonte de assuntos
conflituosos entre as pessoas e alguns grupos.
Todas as pessoas necessitam de alimentos. Algumas optam como estratégia para
suprir essa necessidade comer carne, outras são vegetarianas e outras são veganas.
Todas precisam da diversão, entretanto, algumas optam pela balada e outras por
assistir a um filme em sua própria casa.
Todo ser humano que já viveu, está atualmente vivendo ou irá viver, apresenta tais
necessidades. Estas são universais, independente de lugar, cultura, religião ou etnia.
Entretanto, o modo como cada um satisfaz as suas necessidades é substancialmente
variada.
Ao notar que todos possuem as mesmas necessidades, a capacidade de se ter
mais compaixão se torna incrivelmente maior. Se eu prefiro me divertir indo ao cinema
e meus amigos preferem ir à balada, está tudo bem. Ao compreender que a
necessidade implícita é congênere (diversão), consigo me conectar com eles, embora
discordemos da estratégia utilizada para nos divertirmos. Neste caso, não significa
que desejemos coisas totalmente diferentes. Queremos diversão, mas supriremos a
necessidade com estratégias distintas.

1.2.4 Pedido
O quarto e último componente da CNV consiste em realizar um pedido usando
a linguagem positiva. Parece simples, mas muitas vezes expressamos um pedido de
forma errônea e o ouvinte não compreende como gostaríamos.

“(...) devemos expressar o que estamos pedindo, e não o que não


estamos pedindo.” (Rosenberg, 1999, p. 105).

Quando um pedido é formulado de forma negativa, o ouvinte tende a se


confundir quanto ao que, de fato, está sendo pedido e geralmente, solicitações
negativas provocam resistência no outro.

Além da linguagem positiva, faz-se necessário evitar frases vagas.


Frequentemente utilizamos uma linguagem vaga para indicar o que queremos que o
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ouvinte sinta ou seja, sem especificar uma ação concreta que o faça alcançar aquele
estado.

Conforme Rosenberg (1999, p. 112) “Solicitações não acompanhadas dos


sentimentos e necessidades do solicitante podem soar como exigências.”

Quando fazemos um pedido, é natural que queiramos saber se esta solicitação


foi recebida pelo ouvinte da forma como gostaríamos. Geralmente conseguimos por
pistas verbais, mas nem sempre isso ocorre. Seguindo a teoria de Rosenberg, para
ter certeza de que a mensagem que enviamos é a mesma que foi recebida, podemos
pedir ao ouvinte que a repita para nós. Ao solicitar, é considerável que expressemos
apreciação quando a outra pessoa tentar entender ao seu pedido de repetição e
empatia caso a pessoa se negue a atender ao pedido.

“O uso da CNV requer que estejamos conscientes da forma específica


de honestidade que desejamos receber, e que façamos esse pedido
de honestidade em linguagem objetiva.” (Rosenberg, 1999, p. 116).

Quando desejamos solicitar algo a um grupo, é importante que sejamos claros


a respeito do tipo de compreensão que desejamos obter depois de nos expressarmos.
Quando não somos claros quanto a resposta que desejamos, podemos iniciar
conversas improdutivas que terminam sem satisfazer as necessidades de ninguém.

Algo de extrema importância abordado na CNV é como os pedidos podem ser


recebidos como exigências quando o ouvinte acredita que será culpado ou punido se
não o fizer. Exigência gera no outro desmotivação de responder compassivamente ao
que foi solicitado.

Conforme Rosenberg, para sabermos se é uma exigência ou pedido, devemos


observar o que quem pediu fará se a solicitação não for atendida.

“É uma exigência se quem fez a solicitação crítica ou julga a outra


pessoa em seguida. (...) também é uma exigência se quem fez a
solicitação tenta fazer a outra pessoa sentir-se culpada. (...) é um
pedido se a pessoa que pediu oferece em seguida sua empatia para
com as necessidades da outra pessoa.” (Rosenberg, 1999, p. 119 e p.
121).

Ao oferecer a empatia em vez de culpar o outro, somos capazes de demonstrar


que estávamos, de fato, realizando um pedido. Escolher pedir em vez de exigir não
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significa desistir sempre que alguém disser não à nossa solicitação. Significa que não
tentaremos convencer a pessoa antes de oferecermos nossa empatia para com o que
está impedindo de dizer sim.

O objetivo da Comunicação não-violenta é um relacionamento baseado na


sinceridade e na empatia. Neste método, não temos a garantia de que a pessoa
responderá da forma como esperamos. Entretanto, a empatia deve-se ao fato de que,
caso a pessoa aja de forma contrária ao esperado, sejamos capazes de compreender
e respeitar ao invés de julgar, culpar ou punir.

A empatia é simplesmente o fato de estar presente. Inteiramente presente. É o


ato de esvaziar a mente e ouvir com todo o nosso ser. Sem ideia preconcebida, sem
conselhos importunos e não solicitados, sem competição pelo sofrimento, sem
interrogação e sem correção. Quando nos ocorre que devemos “consertar” alguma
situação para fazer com que o outro sinta-se melhor, isso nos impede de estarmos,
de fato, presentes.

Não importa o que seja dito, na CNV somente ouvimos o que eles estão
observando, sentindo, necessitando e pedindo.
20

2. A IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL


NA ESCOLA

2.1 Como as escolas incorporam a ideia ao longo do tempo


O desenvolvimento socioemocional significa a ativação das competências
socioemocionais relacionadas ao reconhecimento de si, do outro e do coletivo. São
habilidades que você pode aprender, praticar e ensinar. São maleáveis e podem ser
aprendidas ao longo de toda a vida.

Uma das saídas para reconectar o indivíduo ao mundo onde vive passa
pelo desenvolvimento de competências socioemocionais. Nesse processo,
tanto crianças como adultos aprendem a colocar em prática as melhores
atitudes e habilidades para controlar emoções, alcançar objetivos, demonstr ar
empatia, manter relações sociais positivas e tomar decisões de maneira
responsável, entre outros. Uma abordagem como essa pode ajudar, por
exemplo, na elaboração de práticas pedagógicas mais justas e eficazes, além
de explicar por que crianças de um mesmo meio social vão trilhar um caminho
mais positivo na vida, enquanto outras, não. (PORVIR, 2014)

No Brasil, o desenvolvimento socioemocional tornou-se obrigatório no currículo


de todas as escolas públicas e privadas. Com a Base Nacional Comum Curricular,
além da educação ganhar uma nova lei, foi contemplada com um novo propósito –
formar os estudantes de maneira integral. Neste sentido, contemplou-se também um
novo consenso sobre o estudante que queremos formar para um futuro melhor:
curioso, colaborativo, crítico, capaz de solucionar problemas, criativo, e de se
conhecer e cuidar de si, do outro e do ambiente.

O papel do desenvolvimento socioemocional na redução das desigualdades


educacionais é de extrema importância. A maioria das crianças e jovens brasileiros
vão à escola, infelizmente, trata-se de uma conquista recente para os pais e mães de
famílias mais pobres. Entretanto, sua aprendizagem é muito desigual devido às
diferenças socioeconômicas e a escolaridade dos pais. Essas diferenças poderiam
ser diminuídas pela escola, mas isso requer uma qualidade de ensino que ainda não
temos. No entanto, contraditoriamente, a desigualdade na aprendizagem aparece
também entre municípios com o mesmo índice de desenvolvimento socioeconômico,
entre escolas com as mesmas condições ou até mesmo entre estudantes na mesma
sala de aula. A qualidade da gestão escolar e do quadro de funcionários da instituição
21

faz uma enorme diferença na aprendizagem. As diferenças de aprendizagem entre


estudantes da mesma sala de aula, em grande parte, dependem da forma como eles
se veem e como são vistos pelos professores, o que afetará sua autoestima e sua
relação com o aprendizado.

A solução deve ocorrer no próprio âmbito escolar, de forma metodológica, em


uma sala de aula, todos os estudantes são expostos a atividades curriculares
desafiantes, que pedem colaboração entre pares para ensinar uns aos outros e levá-
los à solução de problemas. Todos os estudantes se veem e são vistos pelo professor
e os colegas como capazes de contribuir, expor seus pontos de vista, trazer suas
paixões e fragilidades, errar e aprender com os erros. Todos, incluindo o próprio
professor, são aprendizes capazes de dizer o que sabem, o que ainda não sabem e
que apoio precisam para aprender, desde que haja um espaço colaborativo, sem
julgamentos e perseguições.

2.2 A importância da competência socioemocional no desenvolvimento da


criança
As competências socioemocionais possibilitam a construção de indivíduos mais
completos, capazes de se relacionar consigo mesmos e com os outros são essas
habilidades e competências que permitem a crianças, jovens e adultos gerenciarem
suas emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia, manter relações sociais,
tomar decisões responsáveis. Um aprendizado para o resto da vida que deve se iniciar
ainda na infância, capacitando o ser humano a compreender, buscar soluções, ter
empatia, entender seus sentimentos e resolver conflitos da melhor forma possível.

Conforme a especialista norte-americana Pamela Bruening (2018), as principais


competências que permeiam o aprendizado socioemocional são autoconsciência,
autogerenciamento, consciência social, habilidades de relacionamento e tomada de
decisão responsável. É em torno desses pontos que se constrói um aprendizado para
o aluno que possa guiá-lo por toda a vida.
22

Figura 1 - Gráfico de Casel

Fonte: Lucas Magalhães, NOVAESCOLA (2018)

Cada uma delas envolve, respectivamente:

Autoconsciência
Identificação de emoções, percepção aguçada, reconhecimento de pontos
fortes e desenvolvimento de autoconfiança.
A autoconsciência trata-se de refletir sobre si próprio, assim como o
autoconhecimento. É a capacidade de olhar para si sem julgamentos e com
honestidade.

Consciência social
Análise das coisas em perspectiva, desenvolvimento de empatia, apreciação
da diversidade e respeito aos demais.
É a definição da capacidade que um indivíduo possui de perceber a sociedade
ao seu redor. Também entra em questão a sensibilidade relacionada às necessidades
23

de outras pessoas, essencial para a construção de valores fundamentais, como o


respeito, a responsabilidade e o senso de justiça.

Autogerenciamento
Aprender a controlar impulsos, saber lidar com estresse, ter disciplina,
automotivação, buscar objetivos, construir habilidades organizacionais.
Uma das habilidades mais difíceis, justamente por considerarmos mais fácil
atribuir defeitos e qualidades a outrem do que a nós mesmos. O autogerenciamento
está interligado ao autoconhecimento, habilidade citada anteriormente.

Habilidades de relacionamento
Comunicação, engajamento social, construção de relações e trabalho em
grupo.
Também conhecida como habilidades interpessoais, trata-se da capacidade de
se relacionar bem socialmente e obter um resultado positivo com essas conexões.
Estas habilidades estão presentes em nosso cotidiano desde o início da vida,
entretanto, algumas escondem-se em nosso subconsciente devido a educação, ao
ambiente e a cultura em que nós vivemos.

Tomada de decisão responsável


Identificação de problemas, análise e avaliação de situações, solução de
problemas, reflexão, responsabilidade ética.
A principal característica desta habilidade está em realizar escolhas
construtivas consolidadas e respaldadas pela ética e padrões sociais através de uma
análise realista das consequências de inúmeras ações e através da consideração do
bem-estar do indivíduo.

“Escolas que estão implementando o aprendizado de


habilidades socioemocionais de maneira sistêmica registraram um
aumento no nível acadêmico de seus alunos. Uma pesquisa com
diretores mostrou que no desenvolvimento da habilidade dos alunos de
aplicar seu conhecimento em situações do mundo, 30% reportaram
sucesso. Em relação ao desenvolvimento do conhecimento do aluno
em áreas importantes, as escolas que fizeram essa opção tiveram
46%.” (CRIANÇAS PRECISAM aprender habilidades emocionais na
escola, 2018).
24

O desenvolvimento da criança no que se refere às competências


socioemocionais tem uma enorme importância. Conforme citado anteriormente,
podemos perceber a eficácia desta implementação no ensino infantil.

Tratando-se de uma implementação adequada, é necessária uma estrutura


organizada a fim de dar apoio aos educadores acometem a educação de forma
integral. É necessário que essas competências sejam ensinadas em cenários variados
e que cheguem à comunidade.

Além disso, é importante salientar que a eficácia é maior quando há a


participação da família no que se refere o desenvolvimento infantil. De acordo com
Pamela (2018), se o aluno tem um aprendizado em habilidades socioemocionais na
escola, ele é capaz de compreender melhor algumas questões que podem surgir em
sua casa.

Esta implementação deve acompanhar a mudança de hábitos e atitudes do


educador. Ao ensinar a um aluno sobre valores e crenças e agir de forma contrária ao
que se leciona em seu dia a dia, o professor pode gerar uma imagem de hipocrisia.
25

3. IMPLANTANDO A CNV NA ESCOLA

3.1 Como implantar a CNV no universo escolar


É comum que nos deparemos com situações conflitantes em nosso cotidiano e
isso não seria diferente no âmbito escolar. Como alunos, professores ou funcionários,
já presenciamos alguma briga verbal ou até mesmo física, os próprios professores
perdendo a paciência em uma sala de aula e inúmeras outras situações. É neste
momento que se deve falar a respeito da comunicação não-violenta.

A violência verbal, infelizmente muito comum na realidade escolar, é capaz de


gerar até mesmo o afastamento do professor por questões de saúde, desmotivação e
o comportamento cada vez mais agressivo do aluno incompreendido.

Neste aspecto, a CNV é uma das formas mais eficazes para solucionar conflitos.
Não é um método que mantém seu foco no que as pessoas fazem, mas sim no que
as leva a fazer aquilo. Absolutamente tudo o que fazemos é para atender uma
necessidade.

Existem diversas formas de nos expressarmos sem sermos violentos. Desta


forma, podemos introduzir a CNV a fim de solucionar conflitos, nos comunicando da
melhor forma possível.

As vantagens da aplicação da CNV nas escolas são inúmeras, como por


exemplo, desenvolvimento de sensibilidade, a quebra do paradigma de que o
professor autoritário sempre tem razão, a expressão dos sentimentos em sua forma
positiva, a solução de problemas e conflitos, promoção da educação afetiva, o
desenvolvimento da autonomia na aprendizagem e, especialmente, a criação de um
ambiente amistoso na escola.

É importante que saibamos tudo o que engloba a CNV para introduzi-la de forma
correta. Por exemplo, muitas vezes, o ato de gritar, ordenar, brigar e repreender um
aluno estão automatizados na rotina do educador. Na maioria das vezes, é
imperceptível os danos que isso pode causar ao aluno. Constrangimento, inibição,
traumas... enfim, são inúmeros fatores considerados “pequenos” que podem marcar
de forma negativa a vida e a aprendizagem de um aluno.
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É preciso que ocorra o estímulo ao invés da punição. Que o aluno seja capaz de
ouvir seus colegas de forma colaborativa com o desenvolvimento das habilidades
socioemocionais.

Um excelente começo para essa implantação são algumas atividades para a


sala de aula, como a prática da escuta ativa, uma habilidade que pode ser adquirida
e desenvolvida com a prática e significa, literalmente, concentrar-se totalmente no que
está sendo dito, em vez de apenas ouvir passivamente a mensagem de quem está
falando. Ao abrir espaço para que as necessidades dos alunos possam ser ouvidas e
atendidas, automaticamente eles se sentirão compreendidos e acolhidos, trazendo-os
cada vez mais para perto de forma colaborativa.

Rodas de conversa também são uma excelente opção, possibilitando ao aluno


que compartilhe seus sentimentos com os demais. A medida em que eles vão se
expressando, os outros vão se tornando mais receptivos, capacitados de falar com
uma maior confiança sobre o que sente.

De forma mais lúdica, é possível criar uma tabela de sentimentos, com


ilustrações que os alunos possam compreender e se identificar. Esta atividade
possibilita ao professor uma conversa com os alunos a fim de demonstrar a
importância de se expressar.

3.2 A aplicação da CNV na BNCC


A BNCC delimita a necessidade das escolas estimularem o desenvolvimento de
habilidades socioemocionais nos alunos. É através de erros e acertos que os
estudantes compreendem as relações da vida adulta.

As habilidades socioemocionais são desenvolvidas de acordo com a inteligência


emocional, partindo de si mesmo até os demais indivíduos. É a habilidade de responder
às diversidades das emoções que surgem durante nossa vida, principalmente no início.

A aplicação da CNV é muito importante para o desenvolvimento desse tipo de


inteligência, pois facilita as interações sociais e estimula a compaixão e a empatia,
peça chave na teoria de Marshall B. Rosenberg.
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Existem dez competências gerais presentes na BNCC. São elas: 1.


Conhecimento; 2. Pensamento científico, crítico e criativo; 3. Repertório cultural; 4.
Comunicação; 5. Cultura digital; 6. Trabalho e projeto de vida; 7. Argumentação; 8.
Autoconhecimento e autocuidado; 9. Empatia e cooperação e 10. Responsabilidade e
cidadania. Em cada uma, aborda-se algo em comum: o estímulo das habilidades
socioemocionais dos alunos.

Todos os alunos precisam desenvolver a inteligência emocional na escola e a


CNV é de extrema importância para isso.

“Na BNCC, competência é definida como a mobilização de


conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas
e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da
vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.”
(BRASIL, 2018)

Com ênfase nas três últimas competências, que dizem propriamente sobre o
reconhecimento das próprias emoções, o exercício da empatia, a solução de conflitos,
o ato de agir de forma pessoal e coletiva, conforme a BNCC:

“8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e


emocional, compreendendo-se na diversidade humana e
reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e
capacidade para lidar com elas.

9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a


cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e
aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade
de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas
e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia,


responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando
decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos,
sustentáveis e solidários.” (BRASIL, 2018)

Ao implantar a CNV na escola, os benefícios são incontáveis. Tanto os alunos


quanto as famílias serão capazes de compreender com maior facilidade qual o seu
papel no quesito educacional. Aos professores, diretores e funcionários, a CNV
possibilita uma melhor percepção sobre o seu trabalho, além de pacificar o ambiente
profissional e abrir espaço a todos que fazem parte da comunidade escolar.
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3.3 Principais desafios na implantação da CNV no universo escolar


A escola é um local de aprendizagem, mas este processo inclui inúmeros
desafios diários – tanto para os educadores quanto para os alunos – e se relacionar é
um dos mais difíceis. Infelizmente, é comum ouvir relatos de violência verbal e física
no ambiente escolar provocadas, dentre vários motivos, por falta de comunicação.
São situações que causam dor e sofrimento aos envolvidos, levando, em alguns
casos, ao afastamento de professores.

“Por sermos convocados a revelar nossos pensamentos e


necessidades mais profundos, às vezes podemos achar desafiador nos
expressarmos em CNV. Entretanto, essa expressão fica mais fácil
depois que entramos em empatia com os outros, porque teremos então
tocado sua humanidade e percebido as qualidades que
compartilhamos. (...) Com frequência, as situações em que somos mais
relutantes em expressar vulnerabilidade são aquelas em que
desejamos manter uma “imagem durona”, por medo de perdermos a
autoridade ou o controle.” (Rosenberg, 1999, p. 162).

Um dos fatores que dificulta a implantação da CNV no âmbito escolar é a


hierarquia e o tradicionalismo imposto em grande parte das escolas. Afinal,
infelizmente ainda é comum entre alguns profissionais considerar que um ensino
rígido, baseado em gritos e castigos, seja eficiente. De acordo com Rosenberg (1999,
p. 161), “Quando trabalhamos numa instituição estruturada hierarquicamente, há uma
tendência a ouvir ordens e julgamentos daqueles que estão acima de nós na
hierarquia. Embora possamos facilmente ter empatia com nossos colegas e com
aqueles em posição de menor poder, podemos nos perceber sendo defensivos ou nos
justificando, em vez de termos empatia, na presença daqueles que identificamos como
“nossos superiores”.”

Entretanto, as instituições vêm se moldando cada vez mais de acordo com o


que se aplica na CNV. Onde o respeito, empatia e compreensão são a chave para um
ensino de sucesso.

Para ir além da teoria e colocá-la em prática no cotidiano escolar, é necessário


mais do que estudar. É preciso praticar constantemente. O melhor caminho para isso
é ler, participar de cursos e grupos de prática onde há trocas, locais de fala e de escuta
ativa.
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Conforme Silvio de Melo Barros (2019), a busca é constante e ter uma rede de
apoio e um espaço de acolhimento é fundamental durante o processo para que a
pessoa praticante possa oferecer o que aprendeu. “Como tenho paz interior se estou
em um lugar onde as pessoas não me veem, não me consideram?”, questiona.

Desta forma, a participação de todo o núcleo escolar é de extrema importância


para uma Comunicação Não-Violenta realmente efetiva. A transformação da escola
transcorre por todos os funcionários.

A lista abaixo, retirada do artigo feito por Camila Cecílio (2019) e disponibilizado
através do site NOVAESCOLA, serve como apoio para colocar em prática a CNV no
ambiente escolar:

− Pratique a escuta ativa com todos, principalmente com os alunos;


− Observe seus alunos sem fazer avaliações, apenas entenda o que eles estão
tentando dizer;
− Desenvolva a empatia;
− Observe a necessidade de quem está em sua volta sem querer fazer
diagnóstico;
− Entenda que se você não ouvir o outro não saberá o tamanho de sua dor;
− Aprenda a perceber os feedbacks que as pessoas estão dando com pequenas
atitudes;
− Procure ouvir o tom de sua fala. Às vezes, o jeito de falar se sobrepõe ao valor
das palavras;
− Nem todo mundo teve as mesmas oportunidades que você teve, seja paciente;
− Entenda que a vulnerabilidade é uma oportunidade para abrir novos caminhos;
− Observe os sinais que o corpo de seu interlocutor emite, o gestual também é
um tipo de linguagem.

Quando o corpo docente inicia a prática da Comunicação Não Violenta, respostas


automáticas são repensadas. A partir dessa reflexão, as crianças e adolescentes
passam a ter a possibilidade de, futuramente, se tornarem adultos mais conscientes
sobre as formas de se relacionar, além de terem mais autoconfiança.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No ano de 2020 conheci a CNV de Marshall B. Rosenberg através de uma


disciplina aplicada pelo professor Marcos Bernardi, coincidentemente, o meu
orientador deste trabalho.

Ao ter conhecimento sobre a teoria, resolvi me aprofundar por ter me interessado


demasiadamente a respeito do assunto. Desta forma, fiz questão de comprar o livro
de Marshall B. Rosenberg e comecei a devorá-lo, tendo a consciência de que este
não só seria o tema do meu TCC, como tentaria aplicar cada pilar da teoria no meu
dia a dia, principalmente no âmbito profissional.

Rosenberg define a Comunicação Não-Violenta, assunto acercado neste trabalho,


como uma abordagem da comunicação, que compreende as habilidades de falar e
ouvir, que leva o indivíduo a se entregar de coração, permitindo a conexão consigo
mesmo e com os outros, possibilitando que a compaixão seja desenvolvida. Quanto à
expressão Não-Violenta, Rosenberg utiliza a definição de Gandhi, se referindo a uma
condição compassiva natural que aparece quando a violência é afastada do coração.

O papel da escola, mais do que nunca, é tornar possível a criação das


competências socioemocionais desde as fases iniciais da aprendizagem.
O desenvolvimento socioemocional é algo de grande impacto durante toda a vida da
criança, transformando-a em um indivíduo responsável e consciente.

O cidadão que possui um ensino focado no desenvolvimento pessoal e comunitário


aprende a expressar sua individualidade com respeito. Além disso, torna-se capaz de
acolher o outro, compreendendo, com facilidade, como conviver com as diferenças.

Algumas boas indicações para aplicar a comunicação não-violenta, principalmente


no ambiente escolar:

1. Desenvolva a empatia;
2. Pratique a escuta ativa com todos;
3. Guarde o seu julgamento consigo e encare as situações sem nenhum tipo de
avaliação;
4. Abrace a vulnerabilidade do outro e entenda que ela é um caminho para novas
trajetórias;
5. A expressão corporal do outro diz muita coisa;
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6. Tenha em mente que pessoas diferentes possuem realidades diferentes,


portanto, suas atitudes podem ser reflexo da falta de oportunidade ou injustiça;
7. As pessoas que mais precisam de amor, cuidado e escuta ativa são as que vão
pedir isso de maneira mais desairosa;
8. Encare o erro de forma diferente do convencional, fazendo com que os alunos
aprendam com eles ao invés de serem punidos.

Como educadores e futuros educadores, devemos nos conscientizar dia pós dia e
compreendermos que a empatia proposta pela CNV é fundamental em todos os
aspectos. Principalmente ao implantá-la no ensino. Quando colocamos a
Comunicação Não-Violenta em prática, fica cada vez mais perceptível que a chave
para um ensino eficiente não está na autoridade e na hierarquia impostas pelo ensino
tradicional, mas sim na compreensão e na comunicação propostos por este modelo.

Além de ser completamente benéfico na relação aluno x corpo docente, é


essencial também para o relacionamento entre os funcionários, os familiares e a
relação aluno x aluno.

Que consigamos cada vez mais implantar essa teoria no âmbito escolar,
possibilitando a formação de jovens e adultos mais seguros de si, empáticos, capazes
de dialogar e compreender o que, infelizmente, muito de nós adultos não conseguimos
por medos e inseguranças causados na infância.
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REFERÊNCIAS

- ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-violenta: Técnicas para aprimorar


relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006

- VARELLA, Thiago. Traumas na infância podem levar a transtorno de ansiedade na


vida adulta. UOL, 2017. Disponível em:
<https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2017/10/24/traumas-na-infancia-
podem-levar-a-transtorno-de-ansiedade-na-vida-adulta.htm>. Acesso em: 23 de
março de 2021.

- PORVIR. Especial Socioemocionais. PORVIR, 2014. Disponível em:


<https://socioemocionais.porvir.org/>. Acesso em: 28 de abril de 2021.

- YOSHIDA, Soraia. Crianças precisam aprender habilidades socioemocionais na


escola. NOVAESCOLA, 2018. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/11731/criancas-precisam-aprender-habilidades-
socioemocionais-na-escola>. Acesso em: 29 de abril de 2021.

- BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília,


2018.

- CECILIO, Camila. Comunicação Não-Violenta: o que é e como aplicá-la no dia a dia


escolar. NOVAESCOLA, 2019. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/18280/comunicacao-nao-violenta-o-que-e-
como-aplica-la-no-dia-a-dia-escolar>. Acesso em: 10 de agosto de 2021.

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