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Entendemos a escrita como uma função social, utilizada para registrar fatos,
expressar ou comunicar informações, ideias opiniões, sentimentos, enfim, usar as mais
diversas formas de linguagem com significado social.
Apoiamo-nos na teoria histórico-cultural que entende a escrita como um
instrumento cultural e complexo. Nesse sentido, a aprendizagem é um processo que
exige apropriação do objeto, pois aprender é estar envolvido por inteiro: corpo, mente e
emoção. Aprender algo exige que a criança seja um sujeito ativo e participante do
processo de aprendizagem. A leitura e a escrita, conforme explica Vigotski, precisa se
tornar uma necessidade vital da criança”.
É importante que os espaços pedagógicos passem por processos de mudanças,
assumindo o compromisso com a democracia e produzindo bens culturais
enriquecedores de aprendizagem. O compromisso da escola é fazer com que a criança
tenha acesso a cultura e aprenda a cultura escrita de maneira significativa, através da
leitura de mundo elas possam partilhar saberes e, assim, construir identidade.
As situações que garantem mais aprendizado para as crianças são aquelas que
elas realizam com a consciência daquilo que estão fazendo, com isso, elas se empenham
e se dedicam a realizar uma atividade que elas compreendem a necessidade de seus
esforços. O motivo da atividade, aqui, é significativo, ao contrário do aspecto puramente
mecânico de aprender.
A cultura escrita no E.F não tem o objetivo de reproduzir letras soltas, cópia de
palavras sem sentido para as crianças, mas o de torná-la sujeito participante do
processo, dar significado a linguagem escrita, a partir de sua função social. A criança é
parte integrante no processo de ensino e de aprendizagem, ela possui caráter ativo, é
detentora de voz e vez no espaço pedagógico, sendo protagonista, juntamente, com a
professora, em mediação com a cultura.
Que elas sejam sujeitos autônomos e livres para explorar o espaço geográfico e
com ele aprender e se desenvolver. Assim como aponta Vigotski (2010) o meio e a
cultura são elementos determinantes para o desenvolvimento das crianças. Nesse
sentido, a escola é ferramenta para elas aprenderem a ser humano no processo de
aprendizagem que acontece no decorrer da vida e se organizarem para atual conjuntura
da realidade das crianças do século XXI.
Assim, os problemas que iam surgindo nas interações da turma não se revolviam
facilmente. Havia debates e exposição de exemplos que as crianças traziam de casa na
interação com a família sobre princípios e valores éticos. As crianças lidavam com as
emoções e, algumas vezes, não aceitavam serem criticadas por algo que fizeram.
Nesse momento o conselho foi importante para as crianças exporem os seus
problemas e angústias que até a professora desconhecia. Aprender a falar e ouvir,
compreender o coleguinha e agir com respeito foram atitudes valorizadas durante a
atividade no espaço pedagógico.
A nossa intenção foi explicar que antes de começar um conflito ou se envolver
em uma briga, as crianças podem registrar no diário os descontentamentos na coluna
“não gostei”. Na sexta-feira discutiremos todos os questionamentos. É necessário,
primeiramente, debater esses problemas em grupo antes de agir emocionalmente, ou
seja, com raiva.
O diário de turma possui ainda uma outra função, conforme Niza (1991), de ser
“catalisador emocional”. Assim, segundo Garcia (2010, p. 8) esta perspectiva mostra
que “as crianças, ao escreverem sobre os problemas e os conflitos que as atingem,
também estão a aprender a conter a sua impulsividade, a evitar agir de forma emotiva e
a racionalizar as suas emoções através da escrita”.
Essa função de “catalisador emocional” foi confirmada durante as intervenções.
Antes de começar uma briga, as crianças escreviam o problema no diário para ser
discutido posteriormente. A escrita tem o seu papel de regulador por excelência, pois o
fato de escrever “a sangue frio” os descontentamentos de cada criança auxilia no
controle das emoções.
A aprendizagem de novos conhecimentos e novas aptidões parte de uma ideia de
apropriação que decorre primeiramente, a nível social, ou seja, através do meio no qual
a criança está inserida. Assim, a valorização da comunicação entre as pessoas atua
interpsicologicamente, construindo interações em grupo e promovendo aprendizagens
para além dos “muros da escola”. Depois, ocorre a aprendizagem a nível individual, ou
seja, intrapsicologicamente, sendo construído no interior da criança. Essa aprendizagem
valoriza o pensamento crítico-reflexivo, a tomada de inciativa, autonomia, cooperação,
solidariedade, princípios e valores morais mediados pela cultura.
O processo dialógico presente durante a reorganização do espaço pedagógico
nos permitiu estreitar a ligação entre a teoria e a prática. Enquanto estudávamos a teoria,
também pensávamos juntas as possíveis intervenções a serem realizadas no espaço. A
contribuição do MEM veio a somar o cumprimento da nossa proposta. A articulação do
MEM com a teoria se mostrou essencial na intervenção prática, ainda, nas mudanças
constantes que foram ocorrendo no decorrer da pesquisa.