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Investigar a nossa própria

prática profissional
Índice
I. A investigação sobre a prática profissional
1. Conceito
2. Características
3. Raízes
4. Críticas
5. Atitude
6. Momentos
7. Critérios de qualidade
8. Conclusão
II. Um exemplo
1. A investigação sobre a prática
profissional - conceito
Lawrence Stenhouse (1975)

Isabel Alarcão (2001)


Realmente não posso conceber um professor que não
se questione sobre as razões subjacentes às suas
decisões educativas, que não se questione perante o
insucesso de alguns alunos, que não faça dos seus
planos de aula meras hipóteses de trabalho a
confirmar ou infirmar no laboratório que é a sala de
aula, que não leia criticamente os manuais ou as
propostas didácticas que lhe são feitas, que não se
questione sobre as funções da escola e sobre se elas
estão a ser realizadas. (p. 5)
1. A investigação sobre a prática
profissional - conceito

A investigação sobre a prática é um processo privilegiado de


construção de conhecimento sobre essa prática, para
▪ Os profissionais envolvidos
▪ Outros profissionais (da mesma e de outras escolas)
▪ Outras comunidades (incluindo académicos) e a sociedade
em geral

Campos profissionais em que se fazem investigações sobre a


própria prática
▪ Medicina, Enfermagem, Trabalho social, Formação
profissional, Educação...

Campos de intersecção
▪ Docentes do ensino superior, com as duas valências:
Investigação e ensino
2. A investigação sobre a prática
profissional - características

Objectivos
◼ Alterar algum aspecto da prática
◼ Compreender a natureza dos problemas que
afectam essa prática

Requisitos mínimos de qualquer investigação


(Beilerot, 2001)
◼ Produzir conhecimentos novos
◼ Ter uma metodologia rigorosa
◼ Ser pública
3. A investigação sobre a prática
profissional – raízes
Reflexão (Dewey, 1925)
◼ Consideração cuidadosa e activa daquilo em que se acredita
ou se pratica, à luz dos motivos que o justificam e das
consequências que daí resultam

Investigação-acção (Lewin, 1946)


◼ Actividade com vista à realização de uma mudança, baseada
no ciclo de diagnóstico-plano-intervenção-avaliação

Professor-investigador (teacher researcher) (Stenhouse, 1979)


◼ Um professor que realiza investigação sobre a sua prática ou
sobre outros assuntos

Investigação académica (“usual”)


◼ … A investigação sobre a prática têm propósitos diferentes e
devem ser pensadas de modos diferentes
3. A investigação sobre a prática
profissional – raízes

Investigação-acção

Investigação
académica
Investigação
sobre a prática

Reflexão
Professor-investigador
Um exemplo

Objectivo
◼ Estudar o alcance, as potencialidades e as dificuldades associadas à
realização de diferentes tipos de tarefas na aula de Matemática no
ensino secundário, na perspectiva de professores e alunos.

Motivação
◼ As recomendações curriculares actuais para o ensino salientam que os
alunos devem desenvolver actividades matemáticas significativas (APM,
1988; NCTM, 2000) mas na prática continua a insistir-se sobretudo em
tarefas pobres, como a resolução de exercícios.

Pressuposto
◼ Cada tipo de tarefa possui a sua ordem interna, o seu padrão próprio,
que conduz a um esquema de actuação prática, que pode desencadear a
actividade nos alunos (Gimeno, 1998).
Metodologia do estudo
Grupo disciplinar sectorial (Matemática 11º ano)
◼ Grupo de 5 professoras, heterogéneo, com um sentido profissional comum
◼ Discutir dificuldades
◼ Elaborar tarefas, definir os modos de trabalho, organizar os recursos
◼ Espaço de reflexão crítica sobre a prática
Actividades
◼ Uma reunião semanal e outros momentos mais informais de trabalho
◼ Participação nas aulas umas das outras, observando e ajudando
◼ Reflexão (oral e escrita) individual sobre as tarefas realizadas na sua turma
Recolha de dados (4 turmas)
◼ Observação do trabalho dos alunos
◼ Questionários
◼ Entrevistas aos alunos
◼ Registos das reuniões do grupo
Diferentes tipos de tarefas
Porquê estas?

Problemas e Investigações
Por incentivarem à procura de estratégias de resolução próprias e educarem a
persistência na superação das dificuldades.

Exercícios
Por serem dominantes ao nível das práticas e terem um papel na compreensão
das ideias matemáticas.

Exploração e Modelação
Pela descoberta e pelo que trazem de novo à aprendizagem experimental da
Matemática, utilizando tecnologia.

Projecto
Pela envolvência prolongada e por permitir a pesquisa, selecção e organização de
dados, e o desenvolvimento de capacidades como o espírito crítico, a autonomia
e a comunicação.
Avaliação do trabalho pelas
professoras
Trabalho colaborativo
▪ Essencial para desenvolver actividades inovadoras e vencer dificuldades.
Perspectivas profissionais
▪ Enfrentar desafios e realizar tarefas complexas como fonte de
realização pessoal.
Perspectivas didácticas
▪ Necessidade de pensar a longo prazo.
▪ Organizar tempos, espaços e materiais.
▪ Criar ambientes de aprendizagem ricos em tecnologias e materiais.
▪ Importância de definir critérios de selecção das tarefas.
Relação com o currículo
◼ Assumiram a ideia do currículo como praxis
Tarefas
◼ Constataram ter um conhecimento muito diferente umas das outras
◼ Ganharam consciência da necessidade de analisar as características
próprias de cada tarefa
◼ Constataram que as diferentes formas de exploração das tarefas na
turma e a reflexão conjunta permitem realçar as características
específicas de cada uma
Reflexões

O ponto de vista dos alunos


◼ Consideraram que todas as actividades
realizadas tiveram bastante interesse
◼ Destacaram o prazer sentido e a criatividade
(em especial na modelação e no projecto)
◼ Salientaram a importância das interacções na
aula e a necessidade de praticarem mais
4. O conceito de investigação
sobre a prática – críticas

Relativa ao conhecimento gerado


◼ Crítica epistemológica: porque razão o
conhecimento produzido pelos professores pode
ser considerado conhecimento válido

Relativa aos meios


◼ Crítica do rigor metodológico: falta de clareza e
de rigor

Relativa aos fins


◼ Crítica dos objectivos: frequentemente
demasiado “instrumentais”
5. A atitude de investigação
sobre a prática

Duas condições requeridas para investigar sobre a prática


i. Disposição para questionar (Dewey, Stenhouse, Alarcão)
ii. Domínio de certos instrumentos metodológicos
6. Os momentos da investigação
sobre a prática

◼ Formulação do problema ou das questões


do estudo

◼ Recolha de elementos que permitam


responder a esse problema

◼ Interpretação da informação obtida com


vista a tirar conclusões (confronto com
“teoria”)

◼ Divulgação dos resultados e conclusões


obtidas
7. ... A investigação sobre a
prática – critérios de qualidade

Anderson e Herr (1999), sugerem cinco critérios que


dizem respeito à validade...
◼ (i) dos resultados; (ii) dos processos; e (iii) dialógica

Zeichner (1998)
◼ (i) clareza, (ii) expressão de um ponto de vista próprio,
(iii) qualidade dialógica, e (iv) vínculo com a prática

Da “definição”
◼ (i) refere-se a um problema ou situação prática vivida
pelos actores; (ii) contém algum elemento novo, (iii)
possui uma certa “qualidade metodológica”, e (iv) é
pública
7. ... A investigação sobre a
prática – critérios de qualidade
Vinculo com a prática
refere-se a um problema ou situação prática vivida pelos actores
Autenticidade
exprime um ponto de vista próprio dos respectivos actores e a
sua articulação com o contexto social, económico, político e
cultural
Novidade
contém algum elemento novo, na formulação das questões, na
metodologia usada, ou na interpretação que faz dos resultados
Qualidade metodológica
contém, de forma explícita, questões e procedimentos de recolha
de dados e apresenta as conclusões com base na evidência obtida
Qualidade dialógica
é pública e foi discutida por actores próximos e afastados da
equipa
8. Conclusão
Paradigmas
▪ “Clássicos”: positivista, interpretativo
▪ Um novo “candidato”: A investigação sobre a prática

Expressão na educação
▪ Zack, Mousley e Breen (1997): a investigação sobre a
prática como algo mais exigente que a simples troca de
experiências
▪ Crawford e Adler (1996): a investigação-acção como
ponto intermédio num contínuo entre a reflexão e a
investigação académica
▪ Nelson (1997): os professores podem inspirar-se nos
métodos de investigação dos pesquisadores
▪ Lampert e Ball (1997): investigações na formação inicial
com base em representações digitalizadas da prática

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