Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
1 Graduada em geografia /UEPB- Campus III; Especialista em Ciências Ambientais/ FIP. Endereço para
correspondência: R. Clotilde Maria da Silva N 127. Bairro:Ernesto Geisel- João Pessoa-PB. CEP: 58075-63. E-
mail: carlaalvesjp@yahoo.com.br.
2 Graduado em História /UEPB Campus III; Especialista em História do Brasil/ FIP. Endereço para correspondência:
R. Clotilde Maria da Silva N 127. Bairro:Ernesto Geisel- João Pessoa-PB. CEP: 58075-638. E-mail:
jovemjo@yahoo.com.br.
TARAIRIÚ – Revista Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB
RESUMO
O processo colonizador português desde o início, com a criação das Capitanias Hereditárias,
deixou claro que o objetivo da colonização era massacrar a tudo e a todos que estivessem em
seu caminho na ocupação efetiva da Paraíba. Promoveram sem sombra de dúvidas um
massacre a estes povos valentes que não tiveram outra solução se não defender-se até a morte.
O presente artigo tem por objetivo relatar a“Guerra dos Bárbaros da Capitania Real da Paraíba”,
mostrar inclusive o processo de colonização português. Os procedimentos teóricos-
metodológicos que permitiram a execução desta pesquisa compreenderam a leitura e o
fichamento bibliográfico, além de entrevistas com conhecedores do assunto.
ABSTRACT
The Portuguese colonization process from the beginning with the creation of hereditary
captaincies, made it clear that the purpose of colonization was massacring everything and
everyone who got in the way in effective occupation of Paraiba. Promoted without a doubt a
massacre to these brave people who had no other solution iF not to defend themselves to death.
This article aims to report the "War of the Barbarians of the Royal Captaincy of Paraiba " and to
discuss the Portuguese colonization process. The theoretical and methodological procedures
that allowed the execution of this research were revision of literature and interviews with experts
on the subject
Não existem dúvidas que a história de nossa colonização foi demasiadamente violenta.
Por muitos anos existiam lacunas nas informações históricas sobre os indígenas e para que esse
passado fosse de fato esclarecido é necessário compreender a conquista das terras interioranas
deste enorme país chamado Brasil. O relato desta trajetória histórica é essencial para entender a
formação social, econômica e cultural do povo brasileiro. Desse povo que hoje não possui um só
rosto, fruto da sua miscigenação, ainda há muito que se buscar e porque não dizer, que existe
uma necessidade de entendimento sobre a conquista das terras ligadas geograficamente aos
“Sertões” que compreendemos hoje como nordeste.
Com a colonização em direção ao interior, ou seja, aos Sertões foi inevitável não
mencionar o confronto com os índios dessas regiões. O que causou espanto para o colonizador
foram as diferenças culturais dos indígenas e sem sombra de dúvidas a bravura dos mesmos,
como se não bastasse o desafio de entrar no território que compreendemos como agreste e
semi-árido,com um inevitável conflito, os portugueses não os conheciam e esses índios que
não falavam o tupi e sim uma nova língua indecifrável como eles mesmo diziam, uma língua
bárbara. Esses índios não-tupis eram chamados genericamente de tapuias. Na verdade, no
interior do território paraibano havia dois grupos lingüísticos: cariri e taraíriú.Existem relatos
desses conflitos em quase todas as capitanias, na Bahia foi denominada de “guerra do
Recôncavo”, no rio Grande do Norte, de “Guerra do Açu”, na Paraíba e em Pernambuco este
construído mosteiro de São Bento e o Convento de São Francisco. Neste período os potiguaras
foram seus aliados, além de algumas tribos tarairius e cariris no sertão da capitania, a relação
entre alguns índios, principalmente, os mencionados anteriormente foi mais amistosa, essa
aproximação ainda nos dias atuais é alvo de grandes discussões entre historiadores.
A dominação holandesa na Paraíba foi de fundamental importância para o conhecimento
histórico dos índios das regiões distantes do litoral conhecidos relacionados aos seus hábitos,
costumes e táticas de “guerra” foram vistas pela primeira vez na colônia portuguesa. O domínio
dos holandeses foi quebrado em 1645, quando as tropas portuguesas com o apoio de alguns
colonos chegaram à Paraíba, os holandeses não tiveram como resistir, estando assim à Paraíba
liberta da dominação holandesa.
Logo após a expulsão dos holandeses da colônia, a metrópole portuguesa buscou
retomar o crescimento dos anos anteriores a chegada dos holandeses. No entanto, os flamengos
haviam adquirido muita experiência com o plantio da cana na África e na América, isso afetou
enormemente os lucros da Coroa Portuguesa, que deixou de barganhar com o açúcar, foi
necessário encontrar novas atividades para auxiliar o plantio da cana-de-açúcar, dessa forma a
Metrópole esperava não diminuir seus lucros.
A colonização da Paraíba ficou no litoral até os anos de 1650, a empresa açucareira era
algo tão lucrativo que por muitos anos nem se pensou em ir a outras regiões mais afastadas
como os denominados os “sertões”. Nas primeiras décadas depois da expulsão dos holandeses
vislumbrou-se a busca de atividades secundárias e metais preciosos.
Para os portugueses o caminho em direção ao sertão da Capitania Real da Paraíba,
“não marcham em ordem, e sim correm em confusão. Contudo sabem pôr as suas
emboscadas, donde fazem muito mal aos seus inimigos, o que os nossos soldados
(holandeses) dão testemunho de ter várias vezes praticado com eles”.
(HERCKMANS, 1982, p 41)
3 Organização derivada da Espanha onde o tercio era originalmente um regimento de infantaria paga e profissional,
no entanto, as companhias de terço eram tropas irregulares constituídas por malícias que não recebiam
pagamentos. Ver mais informações em, PUNTONI. A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do
sertão nordestino do Brasil, 1650 – 1720, 2002 , p 180-186.
4 Região localizada nos sertões do Rio Grande banhada pelo rio Açu que é chamado na Paraíba de Piranhas, está
região possui enormes campos, ideais para se criar gado, é um lugar de difícil acesso, está a centenas de
quilômetros do litoral, cercada de morros e encostas.
TARAIRIÚ – Revista Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB
Pretendia-se uma guerra rápida e eficiente, onde os portugueses buscaram a ajuda dos
paulistas, na sua maioria bandeirantes acostumados a penetrar nos sertões com o objetivo de
explora riquezas das Sesmarias. Um dos primeiros paulistas a se enveredar pelo sertão da
Capitania da Paraíba foi Domingos Jorge Velho. Ele era tetraneto de índios, nasceu na Vila de
Paranaíba em 1641, na Capitania Real de São Paulo, antes de chegar à Paraíba já fazia a
guerra contra índios e negros fugidos no nordeste da colônia. Às vésperas de chegar a Capitania
Real da Paraíba recebeu a ordem de ir a Capitania Real de Pernambuco e massacrar todos os
índios que estivessem pelo caminho.
Domingos Jorge Velho penetrou na Capitania da Paraíba vindo pelo rio Açu, que na
Paraíba é chamado de Piranhas; por lá ele encontrou os índios chamados “pegas” e “ariús”,
onde travou com esses índios batalhas que duraram dias. Esses nativos não resistiram por muito
tempo, sendo criado nesta região em 1687 um forte de mantimentos. Seguindo o curso dos rios
Domingos Jorge Velho alcançou os “icós” e “panatins” sertão adentro, além dos “coremas’ na
região próxima a Piancó. Muitos destes índios guerrearam com seus inimigos em conflitos
mortais. A grande maioria dos índios que não foram exterminados viram-se capturados e levados
para regiões como o Açu no Rio Grande. Anos mais tarde, em 1691, Domingos Jorge Velho
retorna a região do Piranhas na Capitania Real da Paraíba, onde adquiriu sesmarias na região.
Embora possa parecer que a sublevação indígena dos Tapuias na região do Açu e Piranhas
estivesses controlada no final do século XVII, não foi o que aconteceu, principalmente no Açu na
Capitania do Rio Grande.
Em 1696 corria a notícia que os índios aprisionados na região do Açu estavam mais
assustou tanto aos moradores próximos a região, que os fizeram fugir para os matos em busca
de proteção. O objetivo de Navarro não teve sucesso algum, muitos de seus homens morreram
nas batalhas e os que restaram contraíram bexiga e foram entregues a própria sorte. Navarro
totalmente derrotado retorna a Capitania da Paraíba, onde pede socorro ao Capitão–mor Manuel
Soares de Albergaria.
O conflito nesta região só foi controlado pelos portugueses em 1699, quando morreu o
rei dos Janduis (Canindé), vitimado pela malária. Enfraquecidos, os índios não resistiram às
novas investidas de Manuel Álvares de Morais Navarro que ficou na Paraíba reorganizando seu
terço até a investida “final”. Como pudemos observar, feita a guerra com os índios “Pegas” e
“Ariús” na região do Piranhas, a Capitania Real da Paraíba foi importantíssima, no que se refere
à logística para as bandeiras no Piranhas e Açu. Um outro paulista que ficou muito conhecido no
final do século XVII, na Capitania Real da Paraíba foi Theodósio de Oliveira Lêdo, que veio pelo
Rio Grande, de onde sua família, os Oliveira Ledo possuíam enormes sesmaria. Ele tinha como
missão ainda em 1663 auxiliar o Governador da Paraíba Mathias de Albuquerque Maranhão no
conflito contra os índios, embora não se saiba se ele naquele período tivesse guerreado com os
Tapuias.
Quando João do Rego Barros natural de Olinda, sucedeu Mathias de Albuquerque
Maranhão em 1663, ordenou que Theodósio de Oliveira Lêdo organizasse uma bandeira que
chegasse a região do planalto da Borborema, por lá, estavam os “ariús”, “carnoiós” e “sucurus”
que se abrigavam nesta região. A região do Planalto da Borborema e Serra de Teixeira foi
conquistada por Theodósio de Oliveira Lêdo Por volta de 1696, ele organizou sua bandeira e
tamanha importância que foi mencionada em carta régia; Como podemos perceber.
“Havendo visto a carta que me deste do bom sucesso que se teve na Campanha
como os índios nossos inimigos nos certões do distrito das Piranhas e Pinhancó em
que o Capitão mor dellas Theodosio de Oliveira Ledo se tinha havido com muito valor
e desposição e trazido cncigo hua nação de Tapuyas chamada Arius, que estavão
aldeiados junto com os cariris onde chamam a Campina Grande que queriam viver
com seus vassallos e reduziremse a nossa Santa fé Me pareceu estranha mui
severamente o que obrou Theodosio de Oliveira Ledo em matar a sangue frio muitos
dos índios que tomou na guerra, porque suposto em sncia (?) era incapazes isto não
hia ser conveniente uzarce com elles de toda a piedade por q. o exemplo do rigor
que com elles executou seria dar occasião a fazer aos mais nossos contrários vdo a
nossa impiedade; e a sy se faz caso digno de um exemplar castigo e emquanto a
creação do arrayal me pareceu dizervos se aprova o que nesta parte se assentou,
pois sse entende que se escolheria o que tivesse por mais conveniente. Escrita em
Lisboa em 16 de Setembro de 1699. Rey”. (PINTO, 1977, p. 33)
Muitos dos índios dos sertões da Capitania Paraíba eram irredutíveis, os que haviam
fugido sempre retornavam, destruíam os currais matando o gado, fazendeiros e vaqueiros. Os
índios tarairius guerrearam com os portugueses por muito tempo até meados do século XVIII,
TARAIRIÚ – Revista Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB
mesmo depois do tratado de “paz perpétua” 5 feito ainda em 1692, esse tratado de paz tinha
como principal termos: o reconhecimento do reino de Portugal das 22 aldeias (cerca 14 mil
índios) tapuias, inclusive a dos tarairius na Paraíba. Para Pedro Puntoni este “Tratado de Paz
deve ser entendido muito mais como uma capitulação de obediência do que como um contrato”.
Neste tratado os portugueses deviriam zelar pela vida dos índios, tornado índios e
colonizadores aliados nas capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba ou Rio Grande.
Deveriam os índios permitir que os currais fossem implantados nas regiões já “conquistadas” em
suas terras, sem nenhuma resistência ou morte de animais. Em uma última clausula ficou
garantido aos índios, que nenhum capitão ou soldado poderia perturbar e inquietar os tapuias. 6
Depois deste tratado as bandeiras em direção aos sertões da Capitania da Paraíba e
suas capitanias circunvizinhas se intensificaram. Com o acordo feito, muitos dos índios
aceitaram, foram poucos índios que continuaram resistindo.
O extermínio dos índios continuou, a exemplo da Paraíba com os “Sucurus’, ‘Ariús” na
região do Planalto da Borborema. Algumas das tribos que pertenciam aos Tarairius que não
aceitaram o tratado de paz feito em 1692 fugiram ainda mais para os sertões das capitanias do
nordeste.
Em de agosto de 1699 o paulista Manoel Álvares de Morais Navarro muito conhecido
nas regiões do Piranhas e Açu, com cerca de 400 homens (entre índios aliados e soldados),
encontrou um grande grupo Tarairius na região da capitania do Ceará. Ao chegarem na tribo
foram recebidos com enorme desconfiança, estes índios não sabiam se os paulistas estavam
apenas de passagem ou desejavam a guerra. Este episódio mais pareceu uma emboscada
5 Em meados de 1692 Canindé cacique dos Janduis foi posto em liberdade, já que havia sido preso por Domingos
Jorge Velho que esperava a ajuda de Canindé para mostrar as minas de esmeraldas [...]. Mais tarde no dia 5 de abril
de 1692, Canindé enviou alguns de seus índios ao Governo Geral, propondo um acordo que ficou conhecido como
“paz perpetua”. Ver mais informações em PUNTONI. A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do
sertão nordeste do Brasil, 1650-1720, p.157-162.
6 Ver mais informações em referência já citada PUNTONI, Pedro. p.157-163.
TARAIRIÚ – Revista Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A expansão marítima portuguesa que teve início no século XV trouxe uma das mais
violentas formas de exploração já vistas, à medida que se tornavam “donos das terras” viram
povoamento entre o agreste e o sertão, porém, estas bandeiras promoveram o maior massacre
entre índios na América, sendo inclusive mencionadas por historiadores como Irineu Joffily como
“a maior guerra anti-colonialista que já se travou em território brasileiro”. (MELLO, 2002, p.77)
Foi com a colonização do sertão que se formou uma população própria a sertaneja,
marcada pela violência. Os sertões desta maneira foram sendo “construídos e cortados”,
contudo foi da conquista do sertão e dominação deletéria dos índios Tapuias que surgiu um
novo homem que passou a ser chamado de “sertanejo”.
No litoral pouco restou sobre a cultura dos índios Tupi-Guaranis, a Baía de Acajutibiró
hoje Município de Baía da Traição, quase não vemos elementos indígenas, encontramos índios
que desconhecem sua própria história, e o mais triste de tudo é que muitos deles não tem
orgulho de serem índios ou “guerreiros” potiguaras, embora algumas escolas venham tentando
resgatar um pouco da história e tradições potiguaras, o que se observa- na prática é uma luta
entre Davi e Golias. No que diz respeito aos tabajaras a situação é ainda mais trágica, não há
nenhum vestígio concreto da presença desses índios na Paraíba nos dias atuais, isso demonstra
o quanto nossa colonização foi violenta. Massacraram nossos índios, ao ponto de quase apagá-
los de nossa história. Graças aos documentos e memórias, nossos índios revivem nos relatos
científicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Horácio de. História da Paraíba, João Pessoa: IMPRENSA UNIVERSITÁRIA, 1966.
FREIRE, Maria das Neves Padilha do Prado. Baía da Traição: Acajutibiró dos potiguaras. João
Pessoa: EPGRF, 1985.
HERCKMANS, Elias. Descrição geral da capitania da Paraíba. João Pessoa: A UNIÃO, 1982.
LIMA, Ruy Cirne. Pequena história territorial do Brasil: sesmarias e terras devolutas. 4ª ed. São
Paulo: FAC SIMILE, 1990.
MACHADO, Maximiniano Lopes. História da província da Paraíba. V. II. João Pessoa: EDITORA
UNIVERSITÁRIA / UFPB, 1977.
MARIZ, Celso. Evolução política da Paraíba. 2ª ed., João Pessoa: A UNIÃO , 1978.
MELLO, José Octavio de Arruda. História da Paraíba. 7ª ed. João Pessoa: A UNIÃO, 2002.
PINTO, Irineu Ferreira. Datas e notas para a história da Paraíba. V. I João Pessoa:. EDITORA
UNIVERSITÁRIA /UFPB, 1977.
PIRES, Maria Idalina da Cruz. Guerra dos bárbaros: resistência indígena e conflito no nordeste
colonial. Recife: FUDARPE, 1990.
PUNTONI, Pedro. A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do
Brasil, 1650 - 1720. São Paulo: HUCITEC, EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2002.