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INTRODUÇÃO ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS

1. PERSPETIVA DA VIDA QUOTIDIANA E DO QUE É A ESPECIFICIDADE


DO SOCIAL

1.1 REFLEXÃO SOBRE O QUE É A VIDA QUOTIDIANA E AS RELAÇÕES


SOCIAIS

O quotidiano é um lugar privilegiado de análise da sociologia, com processos de


funcionamento, transformações da sociedade e de conflitos que se opõem aos agentes
sociais. Não é possível separar o quotidiano do social, da mesma forma que não é
possível encontrar fronteiras entre as vivências do dia-a-dia, com todas as tensões,
alegrias, mudanças e reflexões sociológicas que delas se fazem. Todos os dias desde a
infância o individuo tem certas rotinas que definem o seu quotidiano, essas rotinas estão
presentes, mesmo que inconscientemente nas suas relações sociais, uma vez que a
vivência de momentos inesperados (sejam eles de felicidade ou tristeza) fazem parte do
quotidiano e durante a socialização são relembrados e transportados para as suas
relações sociais. O quotidiano constrói-se do que é mais rotineiro e também pode ser
inesperado.
Em suma, o quotidiano é um conjunto de ações/comportamentos que o indivíduo
coloca em prática no seu dia a dia, opcional ou obrigatoriamente, resultantes da
alteração e evolução das sociedades, bem como dos conflitos entre os agentes sociais
que nelas coabitam.
Sendo a vida quotidiana uma realidade num determinado espaço-tempo, onde o
acaso/imprevisto retira o indivíduo da sua quotidianidade, faz com que ele regresse à
mesma, de uma forma alterada. Podemos concluir que as relações sociais acabam por
determinar ou condicionar o quotidiano de cada indivíduo.

1.2 DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE SOCIAL NO ÂMBITO DAS CIÊNCIAS


SOCIAIS (A ESPECIFICIDADE DO SOCIAL)

A especificidade do social é uma visão global sobre a vida quotidiana e o


processo de aprendizagem de como se tornar membro de determinada sociedade, através
das relações sociais e as formas de sociabilidade. O social é único, mas com múltiplas
abordagens, ou seja, as ciências que se ocupam do social são várias. O social é um todo,
que engloba diferentes tipos de relacionamentos que os humanos desenvolvem entre si e
os artefactos dos quais são produtores. O social resulta de uma conjugação de elementos
contextuais, relacionais e de interação social. Pese embora o objeto das ciências sociais
seja o estudo de como as pessoas vivem e interagem na sociedade, a ciência social tem
como objeto científico teorias e métodos, para assim definir e construir o seu próprio
objeto científico.
Podemos concluir que além da sua multidisciplinaridade, as ciências sociais
debruçam-se sobre os fenómenos sociais. Neste contexto verifica-se a relevância do
método sociológico de Durkheim, que defende que o facto social é visto como a
maneira de agir, fixa ou não, ou seja, a definição da especificidade do social baseia-se
nos critérios de exterioridade e constrangimento, ou seja, os factos sociais são exteriores
ao indivíduo: “A sociedade já constituída condiciona a personalidade individual.”
Durkheim considera que nenhuma teoria ou análise que parta do indivíduo em
qualquer sentido, poderá apreender as propriedades específicas dos fenómenos sociais.
Não existe indivíduo sem social, nem sociedade sem indivíduo.

CONCEITOS
Quotidiano – é o normal desenrolar do dia-a-dia de um individuo, ou seja, um conjunto
de rotinas adotadas por um individuo, embora possa haver quebra com acontecimentos
imprevistos;

Rotina – é um conjunto de atividades, embora muitas vezes de forma inconsciente, que


um individuo faz de forma repetitiva;

O Social – abrange diferentes tipos de relacionamento, é um conjunto de complexos


processos que tem como papel dominantes o ser humano, a sua forma de estar no
mundo e como o mesmo se dispõe no próprio contexto. O social, é uma combinação de
ambientes contextuais, relacionais e de interação social.

Problema social – é um problema que atinge um determinado grupo da sociedade,


como, por exemplo a violência doméstica, as drogas, etc…

2. APRENDER A SER MEMBRO DA SOCIEDADE: FORMAS DE


SOCIABILIDADE

2.1 O PROCESSO DE SOCIALIZAÇÃO

A sociedade é uma construção das relações estabelecidas entre seres sociais,


quer seja grupal ou individual. O processo de socialização é fundamental para o
desenvolvimento/construção das sociedades em diversos espaços sociais. É por meio da
deste processo que o indivíduo aprende e interioriza as regras e valores de determinada
sociedade, de forma a adaptar-se a ela.
É um processo que advém das relações sociais estabelecidas entre indivíduos
durante a vida, ou seja, é um processo que decorre ao longo de toda a vida do ser
humano. Trata-se de um processo que nunca termina, uma vez que se inicia após o
nascimento e só termina com a morte.
O processo de socialização tem 2 fases distintas: a socialização primária e a
socialização secundária.

SOCIALIZAÇÃO PRIMÁRIA

No que concerne à socialização primária, esta trata-se de uma aprendizagem


social que se verifica no interior do seio familiar (pai, mãe, irmãos, vizinhos e
professores). É a primeira socialização, logo após a nascença, que o indivíduo inicia,
pois, o mesmo nasce já com a predisposição para a sociabilidade e socialização. Em
termos genéricos, o ponto inicial deste processo de socialização é a interiorização, em
que o indivíduo apreende e reconhece determinados postulados sociais que lhe são
transmitidos.
Todo este processo de interiorização é acompanhado pela atribuição de
significado, processo subjetivo, que preconizarão eventuais e futuras manifestações
sociais. Após conhecer os seus pares, o individuo apreenderá a realidade social,
assumindo assim o mundo já percecionado pelos demais. Trata-se de um contexto de
partilha, em que o individuo partilha o ser dos seus pares, existindo assim uma
interiorização de experiências transmitidas no seio familiar que preparam o individuo
para uma futura socialização secundária, tornando-o membro ativo de determinada
sociedade.
Neste momento, o indivíduo não se confronta com o problema da identificação,
sendo que se encontra num momento de acolhimento passivo de experiências. O
indivíduo, após interiorizar a partilha de papéis e atitudes dos seus pares mais próximos,
procederá a uma abstração progressiva destes, o que lhe permitirá a obtenção e
acolhimento de outras experiências alargadas, ou seja, partir para “o outro
generalizado”, iniciando assim o processo de formação de uma consciência social
genérica.

SOCIALIZAÇÃO SECUNDÁRIA

Já no que concerne à socialização secundária, esta pode ser entendida como um


processo posterior ao da socialização primária, onde se complementa uma personalidade
social já concebida, tornando-se no momento da maturação do homem enquanto ser
eminentemente social. Genericamente, verifica-se que novos conceitos experienciais
surgirão, por forma a completar os diferentes tipos de interiorizações já ocorridos.
Carecendo de importância as limitações biológicas de cada um, o indivíduo
caminha também ausente das variáveis emotivas na perceção, podendo ser necessária a
criação de técnicas especiais na produção da identificação, ou seja, este na sua conceção
enquanto ser social, aplicará esforços no sentido de absorver determinados
conhecimentos característicos da opção seguida.
Na socialização secundária, num modo geral, a ligação emocional e a
necessidade de identificação não é tão avassaladora como na socialização primária.

AGENTES DE SOCIALIZAÇÃO

Segundo Giddens (1997) os processos de socialização significativos são


designados por agentes de socialização. Entre eles destacam-se a família, pois, é um
agente que existe em todas as culturas, apesar de o processo de socialização variar de
cultura para cultura e de família para família.
Na sociedade Moderna, apesar de a família continuar a ser o principal agente de
socialização, assiste-se ao estabelecimento de uma relação estreita com os outros
agentes de socialização e que, obviamente influenciam de forma inquestionável a
socialização dos indevidos.
A escola, os grupos de pares, os meios de comunicação social, são agentes de
socialização muito relevantes para o indivíduo. Os locais de trabalho, os grupos
religiosos, também são exemplos de agentes de socialização, pois, acabam também por
alterar a vida dos indivíduos mudando alguns comportamentos e atitudes.

INTERIORIZAÇÃO E ESTRUTURA SOCIAL

Devem considerar-se as condições e consequências sociais estruturais em que


ocorre a interiorização das normas sociais e não apenas o conteúdo da socialização, pois
a socialização realiza-se sempre num contexto de uma estrutura social específica.
Existem condições de socialização imperfeitas se na sociedade existir uma distribuição
mais complexa de conhecimento de cada um, devendo-se quase sempre a fatores
relacionados com a heterogeneidade das condições sociais, dos indivíduos ou das
instituições socializadoras.

2.2 PAPÉIS SOCIAIS – INTERPRETAÇÃO E INTERIORIZAÇÃO DE


NORMAS SOCIAIS
O indivíduo faz parte da sociedade, e como tal, tem necessidade de aprender e
incorporar as suas normas, os seus valores e culturas, de forma a o indivíduo pertencer a
ela e não ser excluído. Ao pertencer aos grupos, classes e famílias, ele próprio vai
assumir vários papéis, e transmitir as normas e valores que devem respeitar e cumprir.

DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE PAPEL SOCIAL

É o papel que o indivíduo representa perante a sociedade, comportando-se da


forma que é esperada pelos outros membros com quem se relaciona. Por outras
palavras, papel social é um conjunto de direitos e deveres que caracteriza uma posição
social, sendo de considerar também os valores e as normas pelas quais o individuo rege
a sua vida quotidiana.
No entanto, independentemente da situação em que um individuo se encontre e a
posição social que seja detentor não deve sobrepor-se à vida do outro, quer seja no
âmbito familiar ou no âmbito profissional. Importa referir ainda que o mesmo individuo
desempenha em simultâneo vários papéis sociais.

A APRENDIZAGEM DE MÚLTIPLOS PAPÉIS SOCIAIS

A aprendizagem de múltiplos papéis sociais é conseguida através da


socialização. Este múltiplo de papéis sociais, deve se ao facto de o indivíduo estar
inserido numa sociedade baseada na concorrência e na competitividade onde as
exigências são cada vez maiores em termos laborais, familiares, sociais e culturais.
No processo de aprendizagem dos variados papéis sociais, o individuo depara-se
com diversas mudanças ao longo da vida, vendo-se obrigado a uma constante adaptação
perante determinadas situações. Desta forma, o indivíduo aprende e conviver com as
mudanças que vão surgindo, consubstanciando acontecimentos inesperados, como a
morte de um familiar, uma mudança de cidade, ou o nascimento de um filho. Através
destas mudanças e da socialização, o individuo encontra-se em constante aprendizagem,
num processo que consiste em compreender os comportamentos dos outros e os seus
próprios comportamentos como membro da sociedade.
Em suma, trata-se de uma constante adaptação social nos diversos contextos.

3. CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

3.1 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Todas as ciências se orientam por um conjunto de regras e procedimentos


estabelecidos sobre a forma de um método científico de forma a garantir o rigor dos
resultados observados. Esta perspetiva de rigor metodológico deve existir no início dos
trabalhos, nomeadamente desde a colocação das hipóteses de trabalho no decorrer do
processo de investigação. No caso das ciências sociais, o objeto de estudo é a realidade
social, sendo por isso necessário diferenciar o processo de estudo científico sobre a
realidade social e a própria realidade social, atendendo a que também o próprio
investigador é parte integrante dessa realidade social. No desígnio de assegurar a
objetividade, é necessário identificar os obstáculos epistemológicos e progredir para se
fazer uma rutura com o senso comum. De acordo com Bachelard apud Magano (2014:
49) “a ciência não se opõe absolutamente à opinião”, sendo possível a coexistência dos
dois tipos de conhecimento.
A ciência, para se construir, tem de romper com as evidências, tem de inventar
um novo “código”, deve recusar e contestar o mundo dos “objetos” do senso comum,
devendo constituir um novo “universo conceptual”, ou seja, todo um corpo de novos
objetos, um sistema de novos conceitos e de relações entre conceitos.
Para que seja possível formular um processo de construção de conhecimento
científico, é necessário passar por 3 etapas:
1) Rutura com as evidências do senso comum
2) Construção do objeto de análise (desenvolvimento de teorias explicativas)
3) Verificação (validade dessas teorias pelo confronto com a informação empírica).
Esclarecer em que consiste cada uma das fases do conhecimento científico:
 Salientar o carácter indissociável das 3 etapas de construção do conhecimento
científico.
 Acentuar a centralidade assumida pela construção teórica neste processo.
 Referir a importância da relativização e da relacionação no processo de rutura.
 Importância de questionar, problematizar de modo permanente os
conhecimentos adquiridos.
Após o investigador ultrapassar esta 3 etapas, pode dar início ao seu estudo.

RUTURA COM O SENSO COMUM

Para que seja possível fazer a rutura com o senso comum, é necessário romper
com as noções herdadas e com as influências do meio social e cultural, económico e
político em que se vive, ou seja, pôr de parte todo o pensamento que se tenha sobre
determinado assunto ou caso em concreto. O conhecimento de senso comum limita a
objetividade pondo em causa a construção do conhecimento científico, facto
ultrapassável pela desconstrução de pré-noções e pré-conceitos que cada um tem sobre a
realidade social.
O senso comum ou o conhecimento vulgar são opiniões, um tipo de
conhecimento falso com que é preciso romper para que se torne possível o
conhecimento científico, racional e válido. Para fazer a rutura com o senso comum é
necessário relativizar, relacionar e proceder à análise científica das conceções do senso
comum. Este processo de rutura nunca será completo, nem feito de uma só vez. Para
romper com o senso comum, o investigador, enquanto membro de uma sociedade, deve
ser neutro e colocar de parte todas as ideias pré-concebidas da própria investigação
científica em que está inserido. O investigador enfrenta aí diversos obstáculos,
designados de obstáculos epistemológicos, que passam pela familiaridade com o social,
o senso comum, a dicotomia natureza-cultura, a dicotomia indivíduo-sociedade e o
etnocentrismo.
Podemos definir obstáculos epistemológicos como todos aqueles que o
investigador enfrenta ao longo de uma investigação enquanto membro da sociedade. Ao
investigador (também ele possuidor de senso comum), é-lhe conferido uma espécie de
tendência natural para julgar e explicar uma realidade apenas a partir do que vê e do que
sabe previamente sobre determinado assunto. “Para combater essas barreiras, o
investigador deve fazer um processo de rutura com o senso comum, nomeadamente pela
desconstrução de preconceitos que obstem ao raciocínio científico” (Magano, 2014, p.
28).

A FUNÇÃO DE COMANDO DA TEORIA

Define o objeto de análise, conferindo através dela orientação à investigação,


dando-lhe significado, atribuindo-lhe capacidades explicativas assim como limites. É
fulcral que o investigador mantenha a teoria inicial, tendo ao seu alcance outras teorias
auxiliares, como forma de conseguir explorar todas as possibilidades de cada uma, até
obter o resultado pretendido. A teoria é essencial na medida em que é indispensável
integrar outros conhecimentos, como sejam uma análise histórica, social e cultural das
populações.
Através da teoria é possível definir o objeto de análise, permitindo uma
orientação e um significado, sendo a interrogação o primeiro passo na medida em que, o
questionar e o problematizar, é a essência para a construção do conhecimento científico.

3.3 CONSTRUÇÃO E VERIFICAÇÃO DE TEORIAS: PROBLEMAS E


CONTROVÉRSIAS

TEORIAS E PARADIGMAS NAS CIÊNCIAS

A construção da teoria é incrementada pela colocação de perguntas, pela


interrogação sobre determinados aspetos da realidade social. Verifica-se que a atividade
científica constitui um processo social peculiar, podendo-se afirmar que passa pelo
constante aperfeiçoamento das teorias e dos métodos disponíveis. Neste contexto, o
paradigma nas ciências pode revelar-se fonte de problemas e incongruências, e o
universo científico que lhe corresponde irá converter-se aos poucos num complexo
sistema de erros, dando origem a outro paradigma.
O novo paradigma redefine os problemas e incoerências dando-lhe uma solução
convincente. No entanto, esta substituição não é rápida, sendo que as divergências entre
o velho e o novo paradigma se podem-se estender por um longo período, mas uma vez
imposto, este novo paradigma é aceite quase sem discussão.

O PROBLEMA DE VERIFICAÇÃO

A relação entre a hipótese e a experiência é, sem dúvida, o aspeto mais decisivo


da ciência. “O justificacionismo afirmava só ser científico o que pudesse ser provado, o
que fosse positivamente demonstrado pela articulação de factos repetidamente
observados com os enunciados abstratos da teoria.” (Magano, 2014, p.61). No entanto,
segundo o entendimento de Popper, nunca podemos estar seguros de que a nossa teoria
seja absolutamente verdadeira ou que não possa vir a ser substituída por outra mais
plausível e satisfatória. Daí a necessidade de contínua correção das hipóteses e teorias e
o contínuo progresso do conhecimento por uma espécie de tentativa-erro.
O real social é pluridimensional, e por isso suscetível de ser abordado de
diferentes formas. As diferentes ciências sociais analisam as mesmas realidades, os
mesmos fenómenos sociais, sendo que esta interdisciplinaridade significa um
intercâmbio de saberes de forma a poder explicar melhor os fenómenos sociais na sua
totalidade. O teste da experiência poderia entender-se simplesmente como a procura de
experiências que confirmem a teoria. Neste caso, uma teoria seria verdadeira se, e
apenas se, correspondesse aos factos ou se estes a confirmassem. De facto, não é raro a
comunidade científica ser ludibriada por supostas descobertas, algumas delas publicadas
nas mais conceituadas revistas científicas, e que mais tarde são reconhecidas como
falsas descobertas. É devido a este problema que alguns filósofos contemporâneos
consideram a forma de verificação de uma hipótese pela simples confirmação, como
uma prova fraca que não oferece absoluta certeza e garantia da sua verdade. Por isso,
apresentam uma alternativa que consiste em procurar insistentemente casos ou
fenómenos que possam infirmar a hipótese ou teoria proposta. Neste sentido, uma teoria
científica não pode pretender alcançar propriamente a verdade, mas tão só uma maior
possibilidade.
Todas as teorias são, por isso, conjeturais e provisórias, o que não quer dizer que
todas sejam equivalentes. Abre-se assim o caminho, não a uma conceção do relativismo
em ciência, mas à contínua evolução e progresso dos nossos conhecimentos científicos.

CONCEITOS
Conhecimento Científico – trata-se de um processo de construção, fundamentado em
observações e experimentações de ocorrências ou factos, que coloca em causa pré-
noções e preconceitos que cada um tem sobre a realidade social.

Obstáculos Epistemológicos – Além de investigador, o investigador de ciências sociais


também faz parte de uma sociedade, e ao realizar qualquer estudo sobre a realidade
social este enfrenta diversos obstáculos, designados por obstáculos epistemológicos que
estão relacionados com o conhecimento que o investigador possui da realidade social –
a familiaridade com o social; o senso comum; a dicotomia natureza cultura; a dicotomia
individuo sociedade; o etnocentrismo e a relação do investigador com os outros. É
essencial para o investigador o processo de rotura com os obstáculos epistemológicos no
sentido em que esta ligação prejudica a racionalização do processo de objetivação
científica.

Familiaridade com o social – Além de investigador, ele próprio exerce um papel social
na sociedade em estudo, identificando se com a cultura da sociedade e suas ideologias,
possuído desta forma conhecimentos do senso comum/realidade social, que poderá
influenciar a criação de teorias no processo de conhecimento científico.

Senso comum – Significa o conhecimento que possuímos, desenvolvido ao longo do


nosso processo de socialização, baseado na vivencia de experiências, nas ideologias e
troca de opiniões dos diversos grupos sociais onde socializamos
Dicotomia natureza e cultura – Esta é reveladora do relativismo cultural embrenhado
nas sociedades e é uma forma de atribuir causas físicas e biológicas a comportamentos
sociais. Por um lado, o individuo é um ser físico e biológico, dotado de instintos, por
outro, o individuo é parte integrante de uma cultura, em que teve que aprender normas
para fazer parte dela sem conflitos, o que faz com que tenha comportamentos sociais
esperados pela sua cultura. Isto é, todo o comportamento social (cultura) tem uma base
biológica (natureza).

Dicotomia individuo sociedade – é importante a individualidade de cada ser humano,


tornando-o diferente de todos os outros, mas, no entanto, dificulta explicações
sociológicas, principalmente porque os comportamentos sociais de um individuo são
sempre imprevisíveis. Mas, no entanto, um individuo não vive sem sociedade, nem uma
sociedade o é sem indivíduos. Se por um lado um individuo quer acentuar a sua
individualidade através de comportamentos sociais, por outro, terá que respeitar as
normas da sua sociedade, não podendo extrapolar o que é esperado dele. No entanto, se
o mote “todo o individuo é diferente, é singular” fosse levado até as últimas
circunstâncias, tornar-se ia impossível fazer analises e previsões de comportamentos.

Etnocentrismo – é a sobrevalorização de uma cultura em detrimento de outra. É o


modo que cada individuo ou sociedade tem de ver o seu mundo como o centro de tudo,
e a sua realidade como a mais acertada, tomando tudo o resto por errado ou desfocado.
Todo o individuo considera a sua cultura como a melhor. Nesse sentido, o investigador
terá que ultrapassar esta obstáculo, mantendo uma mente aberta aquando a análise
científica do real social de uma cultura que não seja a sua.

A construção do Conhecimento Científico – Em ciências sociais o objeto de estudo é


a realidade social, é necessário saber distinguir o processo de estudo científico sobre a
realidade social e a própria realidade social de que o investigador também faz parte,
tendo pela frente obstáculos epistemológicos, que deve saber identificar e sobretudo
entrar em rutura com o senso comum, mantendo sempre uma posição neutra e imparcial
relativamente ao que se encontra em estudo.

Rutura com o senso comum – O senso comum é um dos obstáculos epistemológicos


que o investigador enfrenta no seu trabalho. Pretende-se que o investigador se liberte de:

 Noções normativas herdadas;


 Influencias do meio social e cultural, económico e político da sociedade onde
vive, onde trabalha e ganha rendimento;
 Influencias que derivam da personalidade.

Mas tal não é fácil, estando mais perto da realidade o investigador tem de ignorar todo o
seu conhecimento social, visto que o senso comum são opiniões, formas de
conhecimento falso com que é preciso romper para que se torne possível o
conhecimento científico, racional e válido, para fazer rotura com o senso comum é
necessário relativizar, relacionar e fazer a análise científica do senso comum.

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