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Disciplina:

Educação em Saúde e Práticas Integrativas

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Apostila destinada ao Curso Técnico de Nível Médio em Enfermagem das Escolas Estaduais
de Educação Profissional – EEEP
Material elaborado/organizado pela professora Rafaelle Alves Diógenes Pontes - 2018
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Enfermagem – Educação em Saúde e Práticas Integrativas 1


APRESENTAÇÃO
Este é o Manual Pedagógico correspondente à disciplina, Educação em Saúde e Práticas
integrativas. Contém os objetivos de aprendizagem referentes ao tema acompanhado do
conteúdo no intuito de deixar claro o que é esperado do aluno ao final da disciplina. Propõe
atividades pedagógicas que focam o eixo cognitivo e sócio afetivo do processo de
aprendizagem. A bibliografia disponibilizada conduz a um aprendizado holístico na área em
questão. Elaborado no intuito de qualificar o processo de ensino-aprendizagem, este Manual é
um instrumento pedagógico que se constitui como um mediador para facilitar o processo de
ensinoaprendizagem em sala de aula embasado em um método problematizador e dialógico
que aborda os conteúdos de forma lúdica, participativa tornando o aluno protagonista do seu
aprendizado facilitando a apropriação dos conceitos de forma crítica e responsável. Espera-se
contribuir com a consolidação do compromisso e envolvimento de todos (professores e
alunos) na formação desse profissional tão importante para o quadro da saúde, tendo em
mente que, ‘sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não
aprendo nem ensino’, como lembra o mestre Paulo Freire.

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OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Ao final da disciplina os alunos devem ser capazes de...
1. Identificar as concepções de Educação bancária e libertadora;
2. Identificar as concepções de educação implicadas no setor saúde;
3. Analisar os processos de educação do setor saúde e suas potencialidades de gerar
mudanças;
4. Planejar ações de educação em saúde individuais e coletivas a partir das concepções de
educação libertadora.
5. Discutir aspectos relacionados às práticas alternativas de saúde com base na Política
Nacional das Práticas Integrativas em Saúde;
6. Considerar os valores culturais, étnicos, religiosos e sociais pertinentes aos cuidados com o
corpo;
7. Examinar as diversas práticas corporais saudáveis (alimentação, atividade física, beleza,
higiene, lazer, etc) a partir dos valores da sociedade na contemporaneidade;
8. Examinar as principais situações de risco que envolve o uso de tabaco, álcool e outras
drogas;
9. Identificar as principais formas de violência nas diversas fases da vida adulta (violência
doméstica, de gênero, contra criança, idoso, acidente de trânsito);
10. Distinguir práticas comunitárias e individuais mediados por fatores sociais, culturais,
econômicos e religiosos que se traduzem em saúde e/ou doença ponderando seu papel nos
processos de cuidado em saúde.

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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
1. Educação Bancária e Educação Libertadora em Paulo Freire;
2. Educação em saúde
3. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS;
4. Práticas corporais saudáveis;
5. Fatores e situações que influenciam a violência, o uso de álcool e drogas na
contemporaneidade;
6. Alimentação Saudável;

OBSERVAÇÃO: Ao iniciar esta disciplina vocês deverão estar atentos para as propagandas
em geral sobre saúde (televisão, rádio, jornal, revista, faixas de ruas, cartazes etc) que tenham
objetivo de “educar” a população. Durante esse período faça uma síntese sobre as
contribuições que esses instrumentos educativos em saúde proporcionaram.

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SUMÁRIO
QUEM FOI PAULO FREIRE................................................................................................7
1.EDUCAÇÃO BANCÁRIA...................................................................................................9
1.1Educar sem domesticar......................................................................................................11
2.EDUCAÇÃO LIBERTADORA.........................................................................................13
2.1.Pedagogia do Oprimido....................................................................................................16
3.EDUCAÇÃO EM SAÚDE...................................................................................................17
4.PLANEJAMENTO DE AÇOES EDUCATIVAS EM SAÚDE.......................................24
5.PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE SAÚDE.....................................................................27
5.1.Terapias alternativas estão autorizadas no SUS............................................................27
5.2.Sobre as PICs....................................................................................................................28
5.3. Os prós e contras..............................................................................................................35
5.4.As práticas mais utilizadas no Brasil..............................................................................37
5.4.A prevenção é o melhor remédio.....................................................................................38
6.POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES
EM SAÚDE..............................................................................................................................39
7.VALORES CULTURAIS, ÉTNICOS, RELIGIOSOS E SOCIAIS PERTINENTES
AOS CUIDADOS COM O CORPO......................................................................................41
7.1.O que é diversidade cultural............................................................................................41
7.2.Diversidade cultural no Brasil.........................................................................................41
7.2. Determinantes Sociais da Saúde.....................................................................................42
8. PRÁTICAS CORPORAIS SAUDÁVEIS.........................................................................45
8.1. Dinâmica e estratégias dos procedimentos usados........................................................46
9.PRINCIPAIS SITUAÇÕES DE RISCO QUE ENVOLVE O USO DE TABACO,
ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS..........................................................................................47
10.VIOLÊNCIAS NO CONTEXTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS).............54
10.1.Alguns resultados em andamento na incorporação do tema da violência pelo
Ministério da Saúde................................................................................................................55
11.ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL........................................................................................56
REFERÊNCIAS..............................................................................................................................................................62

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Antes de iniciarmos o estudo dessa Disciplina, precisamos conhecer um pouco da História de


Paulo Freire, já que o mesmo foi um dos principais autores que contribuíram, através de suas
obras, com os conteúdos aqui disponibilizados. Boa leitura e bons estudos!
QUEM FOI PAULO FREIRE?
Paulo Freire ficou mundialmente conhecido na década de 60, após desenvolver uma
proposta revolucionária de alfabetização, que visava o processo de tomada de consciência,
que fosse diretamente ligada à democratização da cultura e não uma alfabetização mecânica
que impossibilitava o ser humano de ser mais
Freire publicou várias obras que ficaram conhecidas internacionalmente, entre as quais
destacamos: Pedagogia do Oprimido, Educação libertadora, Educação como prática da
liberdade e A importância do ato de ler.
Embora suas reflexões e práticas no âmbito da educação tenham sido alvo de diversas
críticas, é inegável sua grande contribuição na transformação no sistema educacional através
de sua proposta revolucionária de alfabetização por meio da linguagem escrita a partir da
realidade vivencial o educando, para transformar e compreender o mundo.
Suas primeiras experiências no campo educacional foram realizadas em 1962 no Rio
Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais se alfabetizaram em 45 dias. Foi militante e
participou do MCP (Movimento de Cultura Popular) do Recife.
Paulo Freire foi um intelectual, militante, político sempre confiava no povo. Praticava os
conhecimentos que valorizava o homem, transformando valores, os educadores eram
formados com a sabedoria popular. Durante o regime militar, Paulo Freire foi preso, acusado
de atividades subversivas, e viu-se obrigado a deixar o país. A ação da ditadura militar vai
atingir em cheio a educação de Adultos, cindindo-a em dois caminhos quase totalmente
paralelos e quase sempre postos: por um lado cria-se uma estrutura para a Educação de
Adultos fortemente controlado pelo governo militar e seus aliados nos estados e municípios e,
por outro lado, um movimento semi-clandestino, identificado com a Educação Popular como
a entendemos hoje. Contudo, ainda assim faltava o estímulo com que Freire poderia evocar o
interesse pelas palavras e sílabas em pessoas analfabetas. Foi a partir do desenvolvimento
desse projeto que se começou a falar de um sistema de técnicas educacionais, o "Sistema
Paulo Freire", que podia ser aplicado em todos os graus da educação formal e da não-formal.
Em 1964, em meio a conflitos e empasses violentos pelo qual a nossa sociedade
passava, Freire foi convidado pelo presidente João Goulart para coordenar o Programa
Nacional de Alfabetização. Freire (1965) afirmava que, este esforço em busca de um projeto
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educativo não havia nascido do acaso, era uma tentativa de resposta aos desafios contidos
nesta passagem na qual se via a sociedade.
Logo após o golpe militar o método de alfabetização de Paulo Freire foi considerado
uma ameaça à ordem, pelos militares.
Paulo Freire foi preso, acusado de atividades subversivas, e viu-se obrigado a deixar o
país exilando-se no Chile por 14 anos.
Ao retornar do exílio, Paulo Freire, continuou suas atividades de escritor e debatedor.
Trabalhou em universidades e na Prefeitura de São Paulo, como Secretario Municipal de
Educação no governo Luisa Erundina.
Paulo Freire, reconhecido como pai da pedagogia crítica, compreende que a ação
educativa tem que estar garantindo as mudanças da sociedade e, para tal, torna-se fundamental
uma incorporação da perspectiva dialética na educação.
Paulo Freire é sem dúvida alguma: “Um educador humanista e militante. O autor
procura mostrar, nessas sociedades, qual é o papel da educação, do ponto de vista do
oprimido, na construção de uma sociedade democrática ou 'sociedade aberta'. Para ele, essa
sociedade não pode ser construída pelas elites porque elas são incapazes de oferecer as bases
de uma política de reformas. Essa nova sociedade somente poderá constituir-se como
resultado da luta das massas populares, as únicas capazes de operar tal mudança”.
(GADOTTI, 1996, p. 83-84).
Paulo Freire veio a falecer no ano 1997 aos 76 anos de idade na cidade de São Paulo,
vitima de infarto.
Em 2012, foi criada a lei que declarou Paulo Freire patrono da educação brasileira.

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1.EDUCAÇÃO BANCÁRIA
Paulo Freire denominava o modelo tradicional de prática pedagógica de “educação
bancária”, pois entendia que ela visava à mera transmissão passiva de conteúdos do professor,
assumido como aquele que supostamente tudo sabe, para o aluno, que era tido como aquele
que nada sabe. Era como se o professor fosse preenchendo com seu saber a cabeça vazia de
seus alunos; depositava conteúdos, como alguém deposita dinheiro num banco. O professor
seria um mero narrador, nessa concepção de educação. Nessa narração a realidade apareceria
como algo imutável, estático, compartimentado e bem comportado, como se fosse uma “coisa
morta”. O termo “educação bancária” traduz a metodologia educacional das instituições
tradicionais de ensino, é reprodutora do saber, faz uso da vigilância, da punição e do exame.
Na educação tradicional o professor é o centro do processo de aprendizagem, pois é
tido como o detentor absoluto do saber, a fonte de todo conhecimento. Nesse tipo de
educação, o discurso do professor deve ser decorado e reproduzido integralmente pelo aluno,
e esse deve permanecer sentado e calado enquanto o professor transmite o conteúdo.
Por isso, Paulo Freire critica esse tipo de ensino; por não considerar aquilo que o aluno
traz consigo, o conhecimento que a criança tem internalizado anteriormente ao seu período de
ingresso na escola. Ele denominava como Palavramundo, todo o saber que o aluno tem, tudo
que ele conhece de sua vida pessoal, familiar e em sociedade.
Sendo assim, o grande educador propõe que se deixe de lado a educação bancária e se
parta para uma educação realmente significativa, que tem o aluno como centro do processo de
aprendizagem e seus conhecimentos prévios de mundo sejam o ponto de partida para o
professor iniciar o trabalho educativo escolar.
A concepção bancária de educação nega o diálogo, à medida que na prática
pedagógica prevalecem poucas palavras, já que "o educador é o que diz a palavra; os
educandos, os que a escutam docilmente; o educador é o que disciplina; os educandos, os
disciplinados" (Freire, 2005, p. 68). Desse modo, vemos que o desobediente nunca é o educador,
mas, sim, o educando, aquele que precisa ser ensinado a não violar as regras impostas.
Entendemos que o professor irá "depositar" (vem daí a ideia de "bancária") os conteúdos em
suas cabeças, como se fossem recipientes a serem preenchidos. A educação bancária não é
libertadora, mas, sim, opressora, pois não busca a conscientização de seus educandos,
perpetuando e reforçando, assim, sua relação vertical e autoritária, não objetivando a
conscientização dos educandos, "é puro treino, é pura transferência de conteúdo, é quase
adestramento, é puro exercício de adaptação ao mundo" (Freire, 2000, p. 101).
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No Brasil, temos os primórdios desse tipo de educação com o chegada dos jesuítas que
tinham como missão a catequização do povo nativo, assim produziram um sistema de ensino
baseado na reprodução de conhecimento. Promoviam discursos e teatralização do conteúdo a
ser decorado e reproduzido pelos índios. Dessa forma, os índios apenas reproduziam o idioma
e a religião do povo dominador, mas de uma forma mutiladora (de suas tradições) e alienante
(sem haver assimilação desses novos conteúdos).
Essa herança deixada por nossos primeiros educadores (os jesuítas), caracterizada pela
repetição e pela memorização sem criticidade. É uma educação que valoriza a leitura
mecânica, já que, "em lugar de ser o texto e sua compreensão, o desafio passa a ser a
memorização do mesmo. Se o estudante consegue fazê-lo, terá respondido ao desafio" (Freire,
2002a
, p. 10).
Com a construção de escolas, o ensino continuava o mesmo: Uma reprodução de
conteúdos de forma arbitrária e mecânica. O modelo educacional vinha da Europa, Portugal e
França como modelos principais. O homem branco, cristão, europeu era o modelo de homem
a ser imitado, modelo ideal de ser humano.
A ditadura que se instalou no Brasil, a partir de 1964, perseguiu pensadores,
atravancou o país e impediu as Reformas de Base que poderiam, naquele momento, ter feito à
diferença em nossa história. Sobretudo, a ditadura atacou a educação. As disciplinas das
ciências humanas perderam carga horária, ou, foi substituído por disciplinas que “ensinassem
a obediência”, numa ditadura o pensamento crítico precisa ser abolido.
A Ditadura Civil e Militar tratou, por exemplo, de taxar Paulo Freire como um
perigoso “criminoso”. Seu crime? Alfabetizar os brasileiros. O educador brasileiro que
articulou uma alfabetização libertadora fortemente vinculada a um processo de
conscientização, foi um dos primeiros brasileiros a ser exilado, depois de ter sido preso por 72
dias, acusado de subversão, em 1964, partiu para o exílio no Chile, onde trabalhou por cinco
anos no Instituto de Capacitação e Investigação em Reforma Agrária (Icira) e escreveu seu
principal livro: “Pedagogia do oprimido” (1968). Freire ainda passou por Estados Unidos e
Suíça. Nesse período, prestou consultoria educacional a governos de países pobres, a maioria
no continente africano.
Tanto a concepção “bancária” da educação que Paulo Freire também denominava
como a educação como prática de dominação, quanto sua negação, representada pela
concepção problematizadora e emancipadora de educação, apareceram pela primeira vez no
seu livro Pedagogia do oprimido, escrito durante seu exílio no Chile nos anos 1967-1969 e
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publicado inicialmente em Nova York, em setembro de 1970. Esse livro, devido à censura
imposta pela ditadura militar, só teve sua primeira impressão brasileira em português em
1975, depois de terem sido publicadas edições em inglês, espanhol, italiano, francês, alemão,
holandês e sueco!
“A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, terá dois
momentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vão desvelando o mundo da opressão e
vão comprometendo-se na práxis com a sua transformação; o segundo, em que, transformada
a realidade opressora, essa pedagogia deixa de ser do oprimido e passa a ser a pedagogia dos
homens em processo de permanente libertação”.
1.1Educar sem domesticar
Paulo Freire falava do risco da educação bancária, do perigo de fazer da educação uma
domesticação, isto é, adestrar alguém. Nesse contexto, a palavra adestrar é utilizada como se
usa para outros animais: tirar deles o que é de vontade própria, o que é puramente instintivo,
fazer com que eles vivam conosco na nossa casa, o domus, o doméstico. Educar, como
domesticação, significa também desumanização. Tirar o humano, isto é, a liberdade.
Paulo Freire usava muito a palavra “autonomia”. Uma educação que eleva, que
respeita, que faz com que a pessoa ganhe a sua liberdade, é aquela que produz autonomia, em
que conseguirá pensar de modo próprio, agir com consciência, atuar de maneira deliberada
conforme aquilo que decidiu e pensou. Ele defendia uma educação assumidamente
ideológica” – “propunha uma prática de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade
dos alunos e condenava o tradicionalismo da escola brasileira. Tal sistema, só manteria a
estratificação das classes sociais, servindo o ensino de mero treinamento para a formação de
massa de trabalho. Contrariamente, Freire propunha a construção do saber de forma conjunta,
em que o professor se aproxima dos conhecimentos prévios dos estudantes, para com essas
informações ser capaz de apresentar os conteúdos aos alunos, que teriam poder e espaço para
questionar os novos saberes”.
O professor apresenta uma única via para explicar as situações relatadas pelos alunos:
a ideologia em que ele acredita. O aluno é deixado na ignorância sobre a existência de
pesquisas que explicam as situações de pobreza, desigualdade, problemas urbanos e
ambientais, entre outros, fora do universo teórico e ideológico do professor.
Não é alguém soberano, que faz qualquer coisa, mas alguém autônomo, que não é
domesticado, que não é aprisionado, como se fosse apenas treinado, adestrado para ser
obediente. É o rebanho que como uma massa homogênea, não projeta, não transforma, não
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almeja ser mais. “Na verdade, o que pretendem os opressores é transformar a mentalidade
dos oprimidos e não a situação que os oprime, e isto para que, melhor adaptando-os a esta
situação, melhor os domine”.
“A questão está em que, pensar autenticamente, é perigoso”. Mas, perigoso para
quem? Apenas para aqueles que vêem como ameaça a transformação, uma vez que são estes
os únicos beneficiados pela situação vigente. Sentem-se ameaçados pelo pensar autêntico os
dominadores, os que negam a comunicação e que impõem suas concepções aos outros com
o propósito único de manter estático o estado de coisas sempre a seu favor.

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2.EDUCAÇÃO LIBERTADORA
Paulo Freire chama de educação libertadora ou problematizadora a educação em que
não existe uma separação rígida entre educador e educando. Ambos contribuem e
protagonizam o processo de ensino e aprendizado. “Desta maneira, o educador já não é o
que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que,
ao ser educado, também educa”. A educação libertadora abre espaço para o diálogo, a
comunicação, o levantamento de problemas, o questionamento e reflexão sobre o estado
atual de coisas e, acima de tudo, busca a transformação. A mesma é uma constante busca
que visa com que os educandos transformem o mundo em que vivem. Para tanto, os mesmos
devem compreender a realidade que os cerca através de uma visão crítica da mesma,
respeitando-se sua cultura e história de vida. Tal concepção educacional baseia-se na
estimulação da criatividade dos educandos e numa relação de simbiose entre educador e
educando a medida em que procurar misturar os papéis dos mesmos, pois crê o autor que
ninguém educa ninguém e ninguém educa-se a sí mesmo, mas os homens educam-se em
comunhão, mediatizados pelo mundo.
Uma verdadeira libertação dos homens e a sua humanização não pode ser realizado
por meio de "depósitos", tal qual a educação bancária faz. Deve-se, sim, realizar-se com a
práxis: ação e reflexão sobre o mundo. A educação libertadora e problematizadora do sujeito
não pode ser a favor de "depósitos" de conteúdos nos corpos "vazios" dos educandos, nem
de uma consciência mecanizada. Assim, a educação libertadora, problematizadora, já não
pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir "conhecimentos"
e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação "bancária", mas um ato
problematizador, que serve à libertação. Enquanto a educação bancária tem como objetivo
realizar uma divisão entre "os que sabem e os que não sabem, entre oprimidos e opressores",
negando o diálogo, a educação problematizadora, em contrapartida, "funda-se justamente na
relação dialógico-dialética entre educador e educando: ambos aprendem juntos" (p. 69). A
libertação acontece por meio de uma educação que desenvolve a consciência e a
humanização nos educandos e educadores, possibilitando a superação da opressão, da
domesticação e da adaptação.
Reflexão: existe a pedagogia não escolar como, por exemplo, do cinema, televisão,
rádio, livros, jornal e revistas. Em todos estes exemplos a pedagogia que elas carregam são
“bancárias”, uma vez que aqueles que se submetem a elas atuam apenas como receptáculos

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sem a oportunidade de interação e diálogo? A educação “bancária” está nos ouvidos do


educando ou na voz do educador?
Na metodologia de Freire o mestre se posiciona ao lado de seus aprendizes para que
juntos possam organizar as atividades desenvolvidas nas classes, todas baseadas no debate
de temáticas sócio-políticas, inerentes ao contexto vivenciado por eles. Assim, seu método
não age apenas no circuito educativo, mas também na economia e na política.
Paulo Freire propôs um método de proporcionar uma educação libertadora. Tal
método é qualitativo e não quantitativo, donde não pode ser avaliado pela quantidade de
conteúdos sobre os quais os educando são capazes de dissertar, mas sim pelo potencial
adquirido pelos educandos de transformação da sua própria realidade e do mundo que os
cerca. Seu método está fundamentado em quatro fases:
 Investigação da demanda temática de interesse da comunidade de educandos que se dá
através do diálogo entre educadores e educandos, investigando o universo e trazendo temas de
interesse dos mesmos. Além disso, é preciso também detectar o nível de consciência dos
indivíduos sobre os temas já que o importante é justamente fazer nascer esta consciência nos
educandos.
 Escolha e codificação das temáticas adotadas para a investigação e submissão das mesmas
à análise crítica da comunidade de educandos.
 Desenvolvimento de círculos de investigação temática que visam melhorar o nível
qualitativo das propostas temáticas e explicitar precisamente as situações limites a serem
trabalhadas. De tais círculos devem participar tanto educadores quanto educandos.
 Redução dos temas a serem tratados em núcleos fundamentais que constituirão as unidades
de aprendizagem bem como a seqüência entre elas. Feito isto, prepara-se o material a ser
utilizado e procede-se a sua codificação tendo como perspectiva o canal de comunicação a ser
utilizado.
Duas análises podem ser feitas sobre a pedagogia de Paulo Freire: uma sobre a ótica
da relação entre sujeito-objeto e sobre a ótica da autonomia. Em relação à primeira, o
educando é visto como sujeito da história, construindo uma relação crítica da mesma através
de um processo de meta-reflexão que visa transformação. Do ponto de vista da autonomia, o
educando é visto como um ser autônomo a medida que o mesmo pode agir como elemento
transformador do mundo, ponto chave do processo educacional proposto pelo autor.
Finalizando, a Escola, na visão de Paulo Freire, deve ser democrática, respeitando o
educando como sujeito da história, e centrada na problemática da comunidade em que vive e
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atua, propondo práticas pedagógicas capazes de provocar no aluno uma consciência crítica
fomentadora de transformações sociais.
O termo pedagogia libertadora, está também associado à filosofia da libertação.
de Enrique Dussel. Segundo Dussel, o processo pedagógico passa pelo ser humano, que é
agente da própria libertação. A Pedagogia Libertadora utiliza "temas geradores", ou seja, os
alunos são alfabetizados com as palavras que usam no dia-a-dia, sempre associando o
processo de alfabetização com a vida.
As reflexões de Paulo Freire sobre a educação visam a criação de uma pedagogia
crítica-educativa. “Pedagogia que faça da opressão e de suas causas objeto de reflexão dos
oprimidos, de que resultará o seu engajamento necessário na luta por sua libertação, em que
esta pedagogia se fará e refará” ( FREIRE,1968, 34).
A educação libertadora proposta por Paulo Freire, por sua face crítica e educativa,
pode servir de importante instrumento de emancipação do homem diante da opressão, pois,
ela demonstra sua preocupação diante da realidade vivida pelo educando, propondo
intervenção prática no ambiente cotidiano escolar, de forma dinâmica, transformadora,
considerando, a todo instante, a realidade concreta, singular e peculiar de cada educando.
O foco central da educação libertadora de Freire é o combate acirrado à dominação e
opressão dos “desprivilegiados”. Esses podem ser entendidos como os “marginalizados” da
sociedade capitalista.
Freire acreditava na possibilidade de mudança, do ser humano, enquanto sujeitos
inacabados e na conscientização destes sobre sua situação de exploração e dominação diante
dos seguimentos mais altos da sociedade. Dentro desta perspectiva de construir uma educação
libertadora, Freire enfatiza que é preciso que se compreenda a educação como um processo de
formação humana.
Desta forma Freire (2000), afirma que ensinar não é somente transmitir conhecimento
e sim, proporcionar que o aluno aprenda de dentro para fora.
Freire propõe um modelo de educação transformador que permita ao homem, a
organização reflexiva de seu pensamento, em um processo de conscientização e
reconhecimento de si próprio como sujeito histórico e politizado, face à análise critica da
sociedade, uma educação que esteja disposta a considerar o ser humano como sujeito de sua
própria aprendizagem e não como um objeto sem saber, onde sua vivência, sua realidade e seu
modo de ver o mundo, sejam considerados, tornando esta aprendizagem realmente autêntica

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para ele. Freire afirmava que o processo de educação não se completa na etapa de
desvelamento de uma realidade, mas só com a prática da transformação dessa realidade.
A pedagogia Freriana considera o valor do “saber popular” vê como uma possibilidade
de transformação da realidade destes sujeitos.
E é nesta perspectiva de emancipação do sujeito, que Freire (1991) afirma que a
educação deve ser usada como prática de liberdade, porque segundo Freire, ninguém liberta
ninguém, ninguém se liberta sozinho, os homens se libertam em comunhão.
Aos esfarrapados do mundo e aos que neles se descobrem e assim descobrindo-se,
com eles sofrem, mas sobre tudo com eles lutam” Paulo Freire

2.1.Pedagogia do Oprimido
A Pedagogia do oprimido surgiu no contexto da ditadura no Brasil, e exílio de Paulo Freire,
bem como a luta opressores X oprimidos em âmbito brasileiro e mundial. Possui ênfase na
classe social, assim é necessária a conscientização para a libertação, mas a conscientização
deve vir acompanhada da práxis libertadora. Tem opção pelo povo e por um mundo sem
opressão, tendo os sectarismos de direita e de esquerda e o medo da liberdade como
obstáculos à verdadeira conscientização, sendo, portanto formas de manipulação das
consciências. Possui opção pelo povo e por um mundo sem opressão.
A educação pode jogar um papel decisivo no crescimento da cidadania, na formação da
consciência da dignidade humana e, num estágio mais avançado, na consciência da grandeza
de todos os seres, como expressão cósmica da Criação, como ensina Frei Leonardo Boff. Um
projeto de Educação Popular deve orientar-se numa linha de educação libertadora.

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3.EDUCAÇÃO EM SAÚDE
De acordo com os pressupostos pedagógicos de Freire (2005), a educação é uma
atividade mediadora entre o indivíduo e a sociedade, entre a teoria e a prática que se constrói
na relação de diálogo. A educação tem o potencial de desenvolver sujeitos ativos,
participantes da transformação social.
Na educação em saúde deve haver a troca de experiências e informações, na qual
ocorre o aprendizado mútuo, ou seja, tanto o profissional quanto o usuário ensinam e ambos
aprendem. Requer que o profissional de saúde ajude o usuário a buscar a compreensão de seus
problemas e de suas soluções, com base no diálogo e na troca de saberes, portanto, uma
interação entre o saber científico e o popular, em que ambos ensinam e aprendem ao mesmo
tempo (FREIRE, 2005).
O Ministério da Saúde define educação em saúde como:
Processo educativo de construção de conhecimentos em saúde que visa à apropriação
temática pela população [...]. Conjunto de práticas do setor que contribui para aumentar a
autonomia das pessoas no seu cuidado e no debate com os profissionais e os gestores a fim
de alcançar uma atenção de saúde de acordo com suas necessidades.
Marcondes (apud Santos, 1988) define educação em saúde como sendo um conjunto
de atividades que sofrem influência e modificação de conhecimentos, atitudes, religiões e
comportamentos, sempre em prol da melhoria da qualidade de vida e de saúde do indivíduo.
Educação para a saúde também é outro termo usual ainda hoje nos serviços de saúde. Aqui
se supõe uma concepção mais verticalizada dos métodos e práticas educativas, que remete ao
que Paulo Freire8 chamou de educação bancária. Nesse sentido, é como se os profissionais de
saúde devessem ensinar uma população ignorante o que precisaria ser feito para a mudança de
hábitos de vida, a fim de melhorar a saúde individual e coletiva.
Então, surge a educação em saúde como um instrumento de construção da participação
popular nos serviços de saúde e, ao mesmo tempo, de aprofundamento da intervenção da
ciência na vida cotidiano das famílias e sociedades nacional tem passado por constantes
mudanças.
Com isso, a educação em saúde pode ser entendida como uma forma de abordagem
que, enquanto um processo amplo na educação, proporciona construir um espaço muito
importante na veiculação de novos conhecimentos e práticas relacionadas.

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O conceito de educação em saúde e suas práticas desenvolveram-se nas últimas


décadas de forma significativa, reorientando as reflexões teóricas metodológicas neste campo
de estudo.
O termo educação em saúde vem sendo utilizado desde as primeiras décadas do século
XX e para sua melhor compreensão faz-se necessário o entendimento da história da saúde
pública no Brasil. A expansão da medicina preventiva para algumas regiões do país, a partir
da década de 1940, com o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), apresentava estratégias
de educação em saúde autoritárias, tecnicistas e biologicistas, em que as classes populares
eram vistas e tratadas como passivas e incapazes de iniciativas próprias. As ações do Estado
se davam por meio das chamadas campanhas sanitárias.
Movimentos sociais, tais como o Movimento de Educação Popular, protagonizado
pelo educador Paulo Freire, na década de 1960, influenciaram o campo de práticas da
educação em saúde, incorporando a participação e o saber popular à área, dando lugar a
processos educativos mais democráticos. Exemplo dessa influência foi verificado no
Movimento de Educação Popular em Saúde que se formou nos últimos 40 anos, por meio de
reflexão, produção de conhecimentos e militância em diversas organizações criadas ao longo
deste tempo, tais como a Articulação Nacional de Educação Popular em Saúde, a Rede de
Educação Popular e Saúde, a Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação
Popular e Saúde e a Rede de Estudos sobre Espiritualidade no Trabalho em Saúde e na
Educação Popular
Na década de 60, o movimento da saúde comunitária, chega à América Latina e, no
Brasil, é absorvida pelas Escolas de Saúde e pelos serviços de saúde pública, que definem
práticas simplificadas em termos tecnológicos, incluindo grupos específicos da população,
ampliando os cuidados de enfermagem, introduzindo educação em saúde e sistemas de
informação como temáticas da organização da atenção em saúde. A concepção de educação
em saúde, que passa a atuar na divulgação e indução de comportamentos "preventivos".
Primeiramente denominada educação sanitária, esta se limitava a atividades voltadas
para a publicação de livros, folhetos, catálogos os quais eram distribuídos em empresas e
escolas, porém era ineficiente já que não era capaz de alcançar todas as camadas da sociedade.
Por volta da década de 70 a então denominada educação sanitária passa a ser educação para
saúde, sendo importante ressaltar que mais que uma mudança terminológica, começava a
partir de então um novo conceito na promoção da saúde com o objetivo de introduzir os
programas de saúde desenvolvidos pelo Ministério e pelas Secretarias Estaduais de Saúde.
Enfermagem – Educação em Saúde e Práticas Integrativas 18
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Até a década de 70 a educação em saúde no Brasil foi basicamente uma iniciativa das
elites políticas e econômicas, voltada para seus próprios interesses. Depois, com o regime
militar, a política de saúde voltava-se para a expansão de serviços médicos privados,
principalmente hospitais, portanto, as ações educativas não tinham espaço. Com a conquista
da democracia política e a construção do Sistema Único de Saúde na década de 1980, os
movimentos sociais passaram a lutar por mudanças mais globais nas políticas sociais e de
saúde.
Na década de 1990 ainda era comum o uso do termo educação e saúde, e o conceito
apresentava-se como uma área de saber técnico, voltada para instrumentalizar o controle dos
doentes pelos serviços e a prevenção de doenças pelas pessoas.
Existem diversidades nos modelos de educação em saúde, sendo que todas evidenciam
um objetivo em comum, que é a mudança de hábitos, atitudes, e comportamentos individuais,
em grupos e no coletivo. Tal mudança de comportamento está atrelada a aquisição de novos
conhecimentos e adoção de atitudes favoráveis à saúde.
Diante disso é possível verificar que o termo educação em saúde está condicionado às
ações que são transmitidas aos indivíduos com intuito de elevar a sua qualidade de vida e
consequentemente de saúde. Neste processo os profissionais de saúde possuem papel
primordial, uma vez que, são eles próprios os responsáveis pela disseminação de
conhecimentos concretos para o alcance dos objetivos de melhorar a saúde das pessoas.
Contudo, devemos nos atentar que esta transmissão de conhecimento constitui-se
também em um modelo de educação, sendo necessário primeiramente que o ser educador
(neste exemplo, o profissional de saúde) seja capacitado para tal tarefa (realização da
educação em saúde). Ao contrário, os resultados serão insatisfatórios.
Visualiza-se que nas instituições de saúde onde o profissional participa de programas
de educação, o mesmo possui maiores embasamentos e interesse por ensinar, é possível então
identificar que ocorre um ciclo de informações, onde aquele que conhece o processo, o
compreende e assimila de alguma maneira, entende melhor a importância da questão
educativa para o cliente/paciente.
O processo de educação na área da saúde pode ser representado pelas mais diferentes
atividades, as quais estão interligadas a partir de ações de educação correspondentes aos
estímulos na busca por atrair o indivíduo a participar do processo de educação, seguido de
formas práticas de aquisição e formação de hábitos em prol da assimilação, construção e

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reconstrução de experiências. Os mecanismos de orientação, didática e terapêutica também


fazem parte de um enfoque entre os métodos de transmissão e veiculação de conhecimentos.
Segundo a OMS a educação em saúde é entendida como sendo uma combinação de
ações e experiências de aprendizado planejado com o intuito de habilitar as pessoas a obterem
controle sobre fatores determinantes e comportamentos de saúde.
Na busca da saúde de forma integral, a educação tem tido um significado muito
importante por colaborar na orientação de ações práticas, trazendo com isso resultados e
melhorias na qualidade de vida e no fortalecimento do sujeito como um todo.
Toda e qualquer prática educativa, deve possibilitar ao indivíduo o ato de conhecer ou
reconhecer a aquisição de suas habilidades a favor da tomada de decisões na busca por um
melhor aperfeiçoamento. É perante este entendimento que a saúde e a educação em saúde
devem orientar suas práticas, tendo um papel defensor e facilitador para com o grupo de
atuação, os quais interagem necessitando de mudanças em toda a sociedade.
Uma educação em saúde favorável e ampliada inclui políticas públicas, as quais são
representadas pelos tratamentos preventivos e curativos por meio do comprometimento com o
desenvolvimento de ações cuja essência está voltada para a melhoria da qualidade de vida e a
promoção da saúde da população.
COLOMÉ; OLIVEIRA (2008) destacam que existem formas diversificadas de
modelos inter-relacionados na educação em saúde, e esta variedade pode ser considerada
como maneiras que se agrupam dentro de um modelo tradicional ou preventivo e de um
modelo radical. Para tanto ao modelo tradicional inclui-se os princípios que envolvem a
biomedicina, com o objetivo focado na prevenção das doenças e uma vida saudável. Este
modelo envolve mudanças dentro das áreas complexas de uma nova saúde pública com
perspectivas de uma educação moderna e mais complexa com uma abordagem na busca de
um fortalecimento da consciência crítica das pessoas, a partir da participação nas
circunstâncias ampliadas da condição de vida da população.
O modelo radical de educação em saúde adapta-se dentro de um processo mais
adequado à promoção da saúde, pois estimula os indivíduos a assumir um maior controle
sobre a sua qualidade de vida, por meio de atitudes e críticas as quais se relacionam ao
processo individual e no coletivo.
No dia a dia observa-se que os serviços de saúde são constituídos diante de uma
perspectiva coletiva entre a comunidade e os profissionais, onde se fazem necessários um

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deslocamento e um enfoque preventivo e mais abrangente nos desafios da promoção da saúde,


com propostas de melhoria da qualidade de vida da população.
A educação em saúde está, segundo as referências estudadas, mais relacionada ao
cliente do que ao próprio profissional e diferencia-se dos demais tipos de educação aqui
descritos no momento em que o sujeito paciente (população) é o ser educado e não o
profissional, porém como citado anteriormente, para que o cliente receba a educação de forma
eficiente é necessário que o profissional esteja adaptado ao contexto do processo educativo,
desta forma é possível compreender que uma educação em saúde eficaz relaciona-se direta e
indiretamente a uma educação em serviço.
A educação em saúde, pela sua magnitude, deve ser entendida como uma importante
vertente à prevenção, e que na prática deve estar preocupada com a melhoria das condições de
vida e de saúde das populações. Para alcançar um nível adequado de saúde, as pessoas
precisam saber identificar e satisfazer suas necessidades básicas. Devem ser capazes de adotar
mudanças de comportamentos, práticas e atitudes, além de dispor dos meios necessários à
operacionalização dessas mudanças. Neste sentido a educação em saúde significa contribuir
para que as pessoas adquiram autonomia para identificar e utilizar as formas e os meios para
preservar e melhorar a sua vida.
Portanto, a educação em saúde precisa ser sistematicamente planejada e assumida
como um papel importante do profissional de enfermagem.
Considerando que a educação em saúde está relacionada à aprendizagem, desenhada para
alcançar a saúde, torna-se necessário que esta seja voltada a atender a população de acordo
com sua realidade. Isto porque a educação em saúde deve provocar conflito nos indivíduos,
criando oportunidade da pessoa pensar e repensar a sua cultura, e ele próprio transformar a
sua realidade.
Geralmente, a educação em saúde é realizada por meio de aconselhamentos
interpessoais ou impessoais, os primeiros realizados em consultórios, escolas de forma mais
direta e próxima do indivíduo, e os aconselhamentos impessoais são os que ocorrem
utilizando-se a mídia, com o objetivo de atingir grande número de pessoas. Ambos visam o
mesmo objetivo que é levar conhecimento, na intenção de provocar mudança de atitude.
O papel que cabe à educação em saúde como estratégia para a promoção consiste não
só em identificar fatores que favorecem a iniqüidade, mas também em atuar como agente de
mudança que conduza a transformações radicais nas atitudes e condutas da população e seus
dirigentes.
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A educação para a saúde é vista como prática social concreta que se estabelece entre
determinados sujeitos - profissionais e usuários - que atuam no interior das instituições de
saúde em busca de autonomia, capazes de escolher e tomar decisões, considerando valores
éticos de justiça, solidariedade, produtividade e eqüidade, atuando no sentido de fazer com
que os serviços de saúde sejam organizados para a defesa da vida. Tal consideração aponta
como espaço de intervenção das práticas educativas, as instituições de saúde, cujos sujeitos
sociais seriam profissionais e usuários que se comunicariam através de relações dialógicas nas
quais cada qual seria educador em relação ao outro.
Ações de educação em saúde voltadas para promoção poder-se-iam denominar de agir
educativo. O agir educativo percorre todos os espaços de socialização: família, grupo, escola,
religião, trabalho, consumo etc. É ação esperada de cidadãos que vivem numa sociedade
democrática, comprometidos com valores da emancipação humana e conscientes de seu papel
de sujeitos sociais.
A prática da Educação em Saúde requer do profissional de saúde, e principalmente de
enfermagem, por sua proximidade com esta prática, uma análise crítica da sua atuação, bem
como uma reflexão de seu papel como educador.
Outras formas de educação em saúde eram caracterizadas por ações verticais de
caráter informativo com o intuito de transformar hábitos de vida, colocando o indivíduo como
o responsável pela sua saúde. Um trabalho realizado por Alves e Aerts em 20116 afirma:
[...] com o apogeu do paradigma cartesiano e da medicina científica, as responsabilidades
referentes às ações de educação em saúde foram divididas entre os trabalhadores da saúde e
os da educação. Aos primeiros, cabia desenvolver os conhecimentos científicos capazes de
intervir sobre a doença, diagnosticando-a e tratando-a o mais rapidamente possível. Ao
educador, cabia desenvolver ações educativas capazes de transformar comportamentos. Essa
lógica, além de fragmentar o conhecimento, não levava em consideração os problemas
cotidianos vivenciados pela população.
O termo educação e saúde, utilizado ainda hoje como sinônimo de educação em
saúde, pode ter se originado dessa prática, indicando um paralelismo entre as duas áreas, com
separação explícita dos seus instrumentos de trabalho: a educação ocupando-se dos métodos
pedagógicos para transformar comportamentos e a saúde dos conhecimentos científicos
capazes de intervir sobre as doenças.

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O educador é o profissional que usa as palavras e gestos como instrumento de trabalho


nesta luta coletiva. A educação em saúde engloba todas as ações de saúde, deve estar inserida
na prática diária dos profissionais de Enfermagem.
A educação em saúde, então, é prática privilegiada no campo das ciências da saúde,
em especial da saúde coletiva, uma vez que pode ser considerada no âmbito de práticas onde
se realizam ações em diferentes organizações e instituições por diversos agentes dentro e fora
do espaço convencionalmente reconhecido como setor saúde.
A educação em saúde tem grande proporção e importância nos serviços de saúde
devido a sua relevância para a prática do cuidado. Independente das ações desenvolvidas
sejam elas de promoção da saúde, prevenção de agravos e doenças, tratamento, cura e 3
reabilitação, as práticas educativas encontram-se imersas em todo o processo de trabalho em
saúde, sendo um instrumento de trabalho para a prática profissional (PINAFO et al, 2011). A
educação em saúde está presente em todo contato entre o profissional de saúde e o usuário.
As práticas educativas buscam promover mudanças tanto para os usuários quanto para
o profissional e também para o próprio processo de trabalho em saúde, acreditando no
potencial transformador da educação, como um propósito a ser defendido em direção à
mudança do modelo de saúde vigente.
As práticas educativas podem ser desenvolvidas nos momentos de encontro entre
usuário e trabalhador ocorrendo de maneira formal ou informal. Nos momentos de encontro
que se dão nos espaços convencionais dos serviços, como a realização de grupos e palestras
educativas são momentos denominados formais. Já nas ações de saúde cotidianas como a
realização de orientações ou uma conversa entre usuário e trabalhador, é denominado
momento informal.
O Ministério da Saúde (MS) aborda a prática da educação em saúde como atribuição
básica e essencial da equipe de Saúde da Família (SF), sendo prevista e atribuída a todos os
profissionais que compõem a equipe (BRASIL, 2007). De acordo com Alves (2005) ela é uma
atividade essencial para a prática do profissional de saúde e seu próprio reconhecimento
enquanto sujeito do processo educativo, bem como o reconhecimento dos usuários enquanto
sujeitos em busca de autonomia

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4. PLANEJAMENTO DE AÇOES EDUCATIVAS EM SAÚDE


Para o planejamento e avaliação das ações de educação em saúde, é imprescindível
considerá-las sob o formato de um programa de intervenção em saúde, entendendo programa
como qualquer ação organizada. E, nesse sentido, tal consideração pode ser aplicada para
avaliação de intervenções diretas dos serviços, mobilização dos esforços comunitários,
sistemas de vigilância, desenvolvimento de políticas, campanhas de comunicação, educação e
treinamento, sistemas administrativos, entre outros aspectos.
É essencial que haja a flexibilização no planejamento das atividades de Educação em
Saúde (EDS) de acordo com a realidade vivenciada nos grupos operativos terapêuticos.
As práticas educativas compõem a prática social da enfermagem e caracterizam-se
como instrumentos valiosos no processo de trabalho em saúde. Estando a educação em saúde
presente no processo de trabalho e no ato de cuidar do enfermeiro, a participação desse
profissional é de suma importância na organização e desenvolvimento das ações.
O processo de educação em saúde deve ser desenvolvido conforme a necessidade,
capacidade, interesse, cultura e conhecimento individual e coletivo, e tem de ser planejado e
executado de forma estruturada e sistematizada. As ações de educação em saúde podem ser
realizadas no âmbito individual, na forma de grupos ou para uma grande população. As ações
educativas realizadas no âmbito individual também contribuem para promoção e prevenção, e,
em longo prazo, podem modificar o conceito de saúde, não somente para a reabilitação.
A disponibilidade de materiais e um ambiente físico adequado são essenciais para a
realização das ações educativas, tanto para o individual quanto para o coletivo. Sua falta para
a realização das ações em saúde dificulta o atendimento realizado pelos profissionais e para os
usuários no acesso aos serviços de saúde. As ações de educação em saúde só podem ser
desenvolvidas (com qualidade) se houver ambiente físico adequado e disponibilidade de
recursos, incluindo-se materiais financeiros e humanos.
As ações de educação em saúde são integrantes do processo de transformação no
modo de agir na saúde, para mudanças de conceitos, para além do curativo. Para tanto, o
processo educativo deve estar presente nas atividades prestadas nas comunidades. É por meio
dessas ações que a promoção para qualidade de vida pode ser alcançada, e a participação da
equipe é essencial nesse processo.
A adesão da população às ações educativas é um grande entrave relatado por muitos
profissionais em sua prática e em estudos realizados sobre educação em saúde. Para que

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ocorram mudanças nesse paradigma, é preciso um trabalho contínuo de conscientização dos


profissionais junto à comunidade.
O planejamento das atividades; o desenvolvimento das ações educativas a partir da
necessidade da comunidade; o trabalho em equipe com foco na área de promoção e prevenção
de saúde são ações primordiais para aprimorar e qualificar a EDS.
O planejamento é feito com participação dos profissionais da equipe, porém nem toda
a equipe reúne-se para desenvolvê-lo, assim fica evidente que existem muitas dificuldades
para planejar e desenvolver as ações educativas. E entre elas estão: comprometimento da
equipe, adesão da comunidade, falta de recursos humanos, materiais e financeiros e falta de
apoio por parte dos gestores. O planejamento das atividades de educação em saúde nos grupos
é realizado conforme a necessidade da população e a partir dos diagnósticos de vida e saúde
da comunidade. Percebe-se o papel primordial do enfermeiro na organização e planejamento
dos grupos operativos terapêuticos e das atividades educativas
As atividades formais ou coletivas são designadas desta maneira porque exigem certa
organização e planejamento por parte da equipe de saúde. Planejar compreende um modo de
possibilitar interagir com a realidade, programar as estratégias e ações necessárias no sentido
de tornar possível alcançar os objetivos e metas desejadas. O planejamento é a maneira de
agir sobre algo de forma eficaz, sendo considerado um instrumento de gestão que promove o
desenvolvimento (TANCREDI; BARRIOS; FERREIRA, 1998).
Já utilizada antes mesmo da reformulação das políticas de saúde, a educação em saúde
permite a transformação da realidade por meio da conscientização crítica dos indivíduos.
Entende- -se que, em um processo contínuo de interação, a postura de “escuta atenta” e
abertura ao saber do outro garante a possibilidade de uma construção compartilhada do
conhecimento e de formas de cuidado diferenciadas a partir dessa construção. Observa-se que
a educação em saúde é uma ferramenta e instrumento de grande valia para promoção em
prevenção em todos os níveis de atenção. Propulsionará o desenvolvimento de
conhecimentos, atitudes e comportamentos favoráveis ao cuidado de saúde, mediante o
processo de empowerment (é uma palavra derivada da língua inglesa, que traduzida para o
nosso idioma significa: empoderamento. O termo é muito utilizado no universo
organizacional para designar “descentralização da liderança” cujo modelo de gestão é mais
aberto e participativo) e luta pelo alcance de estratégias que permitam um maior controle
sobre suas condições de vida, individual e coletivamente

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Muitas são as dificuldades que permeiam o processo de Educação em Saúde


atualmente, que provocam desmotivação para planejar e analisar um novo caminho para
implantação e desenvolvimento das ações educativas. Talvez um dos grandes desafios seja a
formação de uma nova hegemonia, representada por recursos humanos de formação orientada
pela educação popular e respeito aos saberes da comunidade, em busca de uma verdadeira
cidadania compartilhada. Educar na saúde envolve sujeitos, ambiente, cultura, mas também
precede de um planejamento com apoio do gestor e recursos para que se efetive nas
comunidades.

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5. PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE SAÚDE


5.1.Terapias alternativas estão autorizadas no SUS
O uso de plantas medicinais, fitoterapia, homeopatia, acupuntura, termalismo (uso de
águas minerais para tratamento de saúde) e de outras práticas terapêuticas alternativas está
autorizado nas unidades no Sistema Único de Saúde (SUS). OMinistério da Saúde
normatizou, por meio da Portaria 971, uma antiga demanda da população brasileira: a Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS.
Por meio da portaria, o Ministério da Saúde reconhece oficialmente a importância das
manifestações populares em saúde e a chamada medicina não-convencional, considerada
como prática voltada à saúde e ao equilíbrio vital do homem. Além disso, estabelece as
diretrizes para a incorporação e implementação dessas práticas no SUS de forma a garantir
qualidade, eficácia, eficiência e segurança a todos os brasileiros usuários do sistema público
de saúde.
Aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde e finalizada após amplo diálogo com a
comunidade médica e científica, a PNPIC define as ações e responsabilidades dos gestores
federais, estaduais e municipais na implementação de novas terapias e serviços no SUS como
também a adequação de programas que já vinham sendo desenvolvidos em âmbito regional.
Uma das principais medidas inseridas na Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares no SUS é a Proposta para Plantas Medicinais e Fitoterapia, cujo objetivo é
ampliar as opções terapêuticas aos usuários do Sistema Único de Saúde com garantia de
acesso a plantas medicinais, medicamentos fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia,
sempre voltada à segurança, eficácia, qualidade e integralidade da atenção à saúde de todos os
brasileiros.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que 80% da população dos países
em desenvolvimento utiliza-se de práticas tradicionais nos cuidados básicos de saúde. Deste
universo, 85% utilizam plantas ou preparados. Nesse sentido, a OMS recomenda a difusão
mundial dos conhecimentos necessários ao uso racional das plantas medicinais e
medicamentos fitoterápicos.
Em sua estratégia global sobre a medicina tradicional e a medicina complementar e
alternativa para os anos de 2002 a 2005, a OMS ainda reforça o compromisso de estimular o
desenvolvimento de políticas públicas com o objetivo de inseri-las no sistema oficial de saúde
dos seus 191 estados-membros. E o Brasil, com sua diversidade genética vegetal estimada em
55 mil espécies catalogadas, possui ampla tradição de uso das plantas medicinais vinculado ao
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conhecimento popular e transmitido por gerações, além de tecnologia para validar


cientificamente este conhecimento.
Link para a Portaria971: http://www.in.gov.br/materias/xml/do/secao1/2117398.xml
Recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde a década de 1970,
as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde – mais conhecidas por sua sigla, “PICs”
– envolvem abordagens tradicionais e alternativas, simples e de baixo custo, para a
recuperação do equilíbrio físico, emocional, mental e espiritual. No Brasil, atualmente 19
práticas integram a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema
Único de Saúde (SUS), lançada inicialmente em 2006.
Segundo o Ministério da Saúde, evidências científicas têm mostrado os benefícios do
tratamento integrado entre medicina convencional e práticas integrativas e complementares.
Além disso, há um crescente número de profissionais capacitados e habilitados e
maior valorização dos conhecimentos tradicionais.
Já o Conselho Federal de Medicina rebate as afirmações do ministério e critica a
inclusão de tais técnicas. "As práticas integrativas feitas no SUS não têm resolubilidade, não
têm base na medicina em evidências e, portanto, oneram o sistema e não deveriam estar
incorporadas", declarou nesta segunda o presidente do conselho, Carlos Vital.
Ele afirmou ainda que os médicos não podem prescrever essas terapias, com exceção
da acupuntura, reconhecida como especialidade médica. "Os médicos só podem atuar com
procedimentos e terapêuticas que têm reconhecimento científico", disse.
5.2.Sobre as PICs
Veja abaixo a lista de algumas terapias alternativas:
Acupuntura
A Medicina Tradicional Chinesa é um conjunto de práticas voltadas para o bem-estar integral
do ser humano, associando o trabalho energético à saúde do corpo. Alguns exemplos dessas
práticas são o Tai-Chi-Chuan e a Acupuntura que é uma terapia muito utilizada e conhecida
da medicina chinesa tradicional, e se baseia na utilização de agulhas metálicas descartáveis,
aplicadas em pontos energéticos do corpo do paciente, para tratamento de diferentes doenças
ou para uso anestésico.
O que é: Técnica de agulhamento originalmente praticada como parte do sistema de medicina
chinesa.
Como funciona: Em sua concepção original, a acupuntura busca modificar a dinâmica da
energia no corpo. A medicina tradicional chinesa possui um mapeamento dos meridianos
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(canais de energia) que circulam pelo corpo. Os pontos de acupuntura são pontos de comando
para modificar esses padrões de circulação energética.
Indicações: Questões neuromusculares, lesões e reabilitação. Porém, dentro
da medicina tradicional chinesa, pode ser utilizada para tratar praticamente qualquer
desequilíbrio, seja físico ou mental-emocional.
Antroposofia
A antroposofia, nome originário do grego que quer dizer "conhecimento do ser humano",
surgiu no início do século XX, introduzida pelo austríaco Rudolf Steiner, como um método
que leva ao conhecimento da natureza do ser humano e sua ligação com Universo, ampliando
a compreensão em várias áreas da vida humana, inclusive ciência e medicina.
Apiterapia
Método que utiliza produtos produzidos pelas abelhas nas colmeias como a apitoxina, geléia
real, pólen, própolis, mel, cera, larvas de zangão e o veneno da abelha - para fins
terapêuticos. Aqui vale fazer um parênteses, ressaltando que existem muitos outros
tratamentos de saúde que se pode fazer uso, sem interferir na vida das abelhas, respeitando
sua preservação e integridade.
Como funciona: O veneno da abelha (apitoxina) é produzido por uma glândula
no interior do abdômen da abelha obreira, que tem como característica ser formado
por uma diversidade de aminoácidos, enzimas, substâncias voláteis e 88% de
água. Suas propriedades antiartríticas são historicamente reconhecidas.
Os efeitos terapêuticos são atribuídos principalmente à melitina: substância de elevada ação
antiinflamatória. A terapia tradicional envolve a aplicação de picaduras de abelha na área
afetada do paciente. Hoje já existe aplicação subcutânea.
Quais Indicações: No tratamento de doenças articulares, como artrites, artroses
e tendinites, e também infecções, doenças cardiovasculares e pulmonares.
Aromaterapia
Uso de concentrados voláteis extraídos de vegetais, os óleos essenciais promovem bem estar e
saúde. A Aromaterapia faz uso de concentrados voláteis extraídos de vegetais, que são óleos
essenciais que com seus aromas promovem bem estar e saúde.
Arteterapia
A arteterapia utiliza recursos artísticos/visuais ou outras expressões artísticas como método
terapêutico. A arte criada através desta prática terapêutica, favorece a promoção do bem-estar
do paciente, tanto no âmbito físico, como mental e emocional.
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Auriculoterapia
Técnica que utiliza pontos específicos na pele do pavilhão da orelha para diagnosticar e tratar
dor e condições médicas do corpo.
Ayurveda
Em sânscrito, a palavra Ayurveda significa ciência (veda) da vida (ayur). Na índia é tida
como medicina oficial e tem sido difundida pelo mundo inteiro, como uma prática terapêutica
milenar.
Esta terapia se fundamenta na análise do Dosha, que é o perfil biológico de cada indivíduo.
Existem três doshas: Vata, Pitta e Kapha e cada um deles apresenta determinadas
características. As pessoas possuem os três doshas, mas em proporções diferenciadas,
variando de indivíduo para indivíduo.
O que é: Sistema terapêutico da Medicina Tradicional Indiana.
Como funciona: O Ayurveda é um sistema muito abrangente, composto de inúmeras técnicas,
desde fitoterapia (uso de plantas medicinais) até massagens, processos de mudança de hábitos,
alimentação, meditação e processos de limpeza chamados panchakarmas.
Indicações: Como é um sistema terapêutico amplo, uma racionalidade médica (um sistema
médico completo), quaisquer tipos de desequilíbrios podem ser tratados por meio do
ayurveda. As técnicas mais utilizadas no Brasil são, principalmente, baseadas em mudanças
na alimentação, massagens terapêuticas, fitoterapia e processos de desintoxicação.
Biodança
A Biodança, denominação derivada do grego bio (vida) e do espanhol danza (dança), que
quer dizer "dança da vida". Essa prática também é chamada de psicodança e se baseia em um
sistema de integração afetiva e desenvolvimento humano, através de vivências criadas com o
uso dos movimentos da dança.
Bioenergética
Visão diagnóstica aliada à compreensão do sofrimento/adoecimento, adota a psicoterapia
corporal e exercícios terapêuticos. Ajuda a liberar as tensões do corpo e facilita a expressão de
sentimentos e trabalhos energéticos, visando a liberação das tensões do corpo e a expressão de
sentimentos. Tratamento que tem por base, para o diagnóstico do problema de saúde, a
relação da emoção com a doença.
Constelação familiar
Técnica de representação espacial das relações familiares que permite identificar bloqueios
emocionais de gerações ou membros da família. Método psicoterapêutico desenvolvido pelo
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alemão Berl Hellinger, que se baseia no estudo e análise das relações familiares, ajudando a
identificar bloqueios emocionais no indivíduo, herdadas de gerações anteriores ou por
problemas de relacionamento em família.
Cristaloterapia
O que é: Técnica terapêutica integrativa que utiliza cristais previamente selecionados,
posicionados em pontos específicos, chamados de chakras, para reequilibrar o corpo através
do reestabelecimento do livre fluxo de seu sistema de energia. O objetivo é que o corpo como
um todo (físico, energético, emocional, mental e espiritual) possa voltar ao seu estado de
saúde.
Como funciona: “Além do corpo físico, todo ser humano possui um campo de energia que é
responsável por manter a saúde em ordem, regulando estado de humor, qualidade do sono e
várias funções fisiológicas. Este campo, muitas vezes, perde seu estado de equilíbrio devido a
estresse, traumas, fadiga, doenças, irritação, ambientes nocivos e problemas emocionais e
mentais. Não há nada de esotérico nisso”, explica Eduardo Mello, naturólogo do Espaço Pluri.
A Cristaloterapia parte do princípio de que todo cristal é um modulador de frequências
energéticas, ou seja, possui a capacidade de reequilibrar energias desequilibradas. “A
estrutura molecular do cristal segue um padrão perfeito e sua energia emana um padrão de
vibração que ajuda nosso corpo a voltar a vibrar em harmonia”.
Cromoterapia
Utiliza as cores nos tratamentos das doenças com o objetivo de harmonizar o corpo.
Dança circular
O principal propósito da Dança Circular Sagrada é desenvolver o sentimento de união e
fraternidade e despertar o espírito comunitário, através da prática em grupo dessa dança. Essa
prática promove a calma emocional, melhora a concentração e memória e desenvolve a
expressão lúdica e corporal, favorecendo a saúde mental, emocional e física dos indivíduos.
Fitoterapia
Fitoterapia é uma denominação oriunda do grego therapeia = tratamento e phyton =
vegetal. Essa prática atua com a utilização de plantas medicinais para tratamento e cura das
doenças.
Geoterapia
Uso da argila com água que pode ser aplicada no corpo. Usado em ferimentos, cicatrização,
lesões, doenças osteomusuculares. Tratamento que utiliza a argila com água, em aplicação nas

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áreas do corpo a serem tratadas. A argila pode ser usada em ferimentos e lesões com o
objetivo de promover a cicatrização, ou em doenças osteomusuculares, entre outros usos.
Homeopatia
Como terapia curativa, a Homeopatia utiliza substâncias da Natureza, diluídas e dinamizadas,
para tratamento de doenças partindo do princípio similia similibus curantur (semelhante pelo
semelhante se cura). A Homeopatia foi criada no século XVIII, pelo médico alemão Samuel
Hahnemann (1755-1843).
Hipnoterapia
Conjunto de técnicas que pelo relaxamento, concentração induz a pessoa a alcançar um estado
de consciência aumentado que permite alterar comportamentos indesejados. A Hipnoterapia é
conjunto de técnicas que produzem relaxamento e através da indução do terapeuta, que
faz hipnose, o paciente revela emoções reprimidas e bloqueios psíquicos, podendo reconhecer
seus desequilíbrios.
Imposição de mãos
Cura pela imposição das mãos próximo ao corpo da pessoa para transferência de energia para
o paciente. Promove bem estar, diminui estresse e ansiedade. Através da imposição das mãos,
o terapeuta passa energia para o paciente promovendo recuperação, calma, equilíbrio,
revitalização e bem-estar.
Meditação
A meditação é uma prática na qual o indivíduo foca sua mente em um objeto, pensamento,
paisagem ou atividade em particular, com o objetivo de alcançar um estado de clareza mental
e emocional e equilíbrio físico. A origem da Meditação remonta às antigas tradições orientais
e tem relação com ensinamentos milenares, como o Hinduísmo, Budismo, e até mesmo o
Cristianismo.
Musicoterapia
Essa atividade se baseia em um conjunto de técnicas que utilizam a música para tratamento de
problemas psicossomáticos.
Naturoterapia
A Naturoterapia aplica ações terapêuticas naturais, como nutrição e utilização de cuidados
naturais, para levar o indivíduo a alcançar o reequilíbrio físico e emocional e uma melhor
qualidade de vida.

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Osteopatia
Esta Terapia foi criada por Andrew Taylor Still (1828-1917), e seu fundamento se baseia na
teoria de que o corpo tem capacidade de produzir seus próprios medicamentos e remédios
para sua autocura. De acordo com os princípios da Osteopatia, para o corpo se curar, é preciso
cuidar dele, proporcionando condições ambientais favoráveis e alimentação saudável. A
análise da estrutura corpórea do indivíduo é uma das formas de diagnóstico desta prática
terapêutica.
Ozonioterapia
Mistura dos gases oxigênio e ozônio por diversas vias de administração com finalidade
terapêutica e promove melhoria de diversas doenças. Usado na odontologia, neurologia e
oncologia.
Quiropraxia
Este método terapêutico tem por base, para tratamento de saúde, as condições do sistema
músculo-esquelético, principalmente da coluna vertebral do paciente.
O que é: Os quiropratas são vitalistas, acreditam que o poder do corpo cura
o corpo. A base científica é fundada na neurologia e todos os procedimentos têm uma
fundamentação no sistema nervoso. O quiroprata faz ajustes articulares específicos para
corrigir disfunções nos movimentos, em especial na coluna vertebral, “que chamamos de
Complexo de Subluxação Vertebral”, explica Fernando Azevedo, coordenador acadêmico do
curso de quiropraxia da Universidade Anhembi Morumbi.
Como funciona: “Temos mais de cem métodos e, no Brasil, aplicamos aproximadamente oito.
A finalidade de todos é a correção do complexo de subluxação vertebral, que nada mais é que
uma deficiência nos movimentos macro ou microscópicos da coluna que limita a transmissão
do impulso nervoso. Aplicada normalmente com as mãos, as manobras curtas e rápidas
podem provocar estalos devido à liberação da reação gasosa presente na articulação.
Algumas técnicas também utilizam aparelhos para realizar o ajuste articular, que libera ou
facilita o funcionamento pleno do sistema nervoso.
Indicações: “A quiropraxia é boa para tudo e tratamento para nada. Isso porque, do ponto de
vista clínico, não tratamos doenças. Há melhoras em condições das mais diversas, desde
hérnia lombar até qualidade do sono.”
Reflexoterapia
Essa prática está relacionada com os fundamentos da medicina tradicional chinesa, e consiste
na aplicação de pressão, utilizando os dedos das mãos em pontos energéticos situados na
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plantas dos pés e nas palmas das mãos, promovendo o equilíbrio e revitalização do organismo
e do corpo, através dessa ativação energética.
Reiki
O Reiki surgiu em 1922, através do monge budista japonês Mikao Usui e tem por base o
trabalho com a energia vital universal "Ki", através da imposição de mãos, com a finalidade
de energizar o corpo físico, trazendo saúde e equilíbrio. É uma terapia natural japonesa de
harmonização e reposição energética com intuito de reestabelecer a saúde física, mental,
emocional e espiritual.
Shantala
A Shantala é uma massagem milenar indiana. Essa prática foi trazida para o Ocidente pelo
médico francês Frédéric Leboyer, que de passagem pela Índia, viu a cena de uma mulher,
chamada Shantala, à massagear seu bebê. Dessa "descoberta", esse médico criou a terapia
Shantala, que consiste em massagem feita pelas mães em seus bebês, principalmente, para
aliviar cólicas e acalmá-los.
Terapia comunitária integrativa
A Terapia Comunitária Integrativa tem como eixo temático a reunião em grupo com o
objetivo de diminuir o sofrimento, melhorar a autoestima e criar redes sociais solidárias. Esse
tratamento coletivo é um instrumento que contribui para a prática de solidariedade coletiva,
visando a promoção da vida, mobilização de recursos e o desenvolvimento de competências
dos indivíduos, das famílias e das comunidades.
Terapia de Florais
Uso de essências florais que modifica certos estados vibratórios. Auxilia no equilíbrio e
harmonização do indivíduo. O que é: É uma terapia que utiliza essências extraídas de flores
em altas diluições para tratar aspectos relacionados principalmente a emoções e
comportamentos.
Como funciona: A terapia floral pode ser compreendida a partir de um entendimento
aproximado da homeopatia. Não há princípio ativo, mas uma informação transmitida da flor
para a água, formando as essências em diluições homeopáticas.
Indicações: Desequilíbrios emocionais, relacionais e comportamentais diversos. O terapeuta
individualiza a fórmula a partir de uma avaliação que vai além do sintoma. Normalmente,
combinam-se essências florais para determinado caso.

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Terapia Crânio Sacral


Técnica manual suave que visa o reequilíbrio e a homeostase corporal, atuando sobre as
fáscias (tecido responsável pela condução vascular e nervosa).
Termalismo/Crenoterapia
A água termal contém inúmeros componentes (minerais e gases) que contribuem para
tratamento e cura de diversas patologias. O Termalismo usa vários meios para utilização da
água mineral em tratamentos de saúde e do corpo (Crenoterapia).
Yoga/Meditação
Ioga ou yoga é uma prática mística e meditativa originária da Índia. Esta prática tem por
finalidade proporcionar equilíbrio, força, harmonia e saúde para o corpo físico, através de
suas asanas (posições e movimentos).
Derivado da palavra em sânscrito yug, que significa “união” ou “julgo”, Yoga consiste em
unir o indivíduo com a totalidade do universo. As práticas do Yoga incluem as posturas
físicas (asanas), técnicas de respiração (pranayama) e treinamento de meditação (dhyana).
5.2. Prós e contras
As práticas integrativas, complementares ou alternativas são defendidas por
praticantes e pesquisadores no mundo todo como medidas que colaboram na prevenção de
doenças (por meio de placebo ou não), na qualidade do envelhecimento, ou ainda auxiliam na
atenuação de outros quadros, como dor crônica, depressão e estresse; sem que para isso sejam
ignorados os avanços da medicina convencional ou moderna. Dessas práticas, aquelas
associadas a técnicas antigas de medicina tradicional cumprem ainda outro objetivo: o de
integrar praticantes de técnicas terapêuticas de comunidades tradicionais ao sistema público
de saúde.
No Chile, por exemplo, o governo promoveu uma integração do tipo, permitindo que
praticantes de medicina tradicional do povo mapuche pudessem atender a população local
dentro da estrutura do estado. Em 2014, um grupo de conhecedores dessa prática ancestral foi
dado o título de Tesouros Humanos Vivos pela Unesco. “Em muitos países em
desenvolvimento, particularmente em áreas rurais, praticantes de medicina tradicional são as
principais ou únicas fontes de atenção à saúde nas suas comunidades”, afirmou a Organização
Mundial da Saúde no documento em que detalha a estratégia internacional a ser seguida sobre
o tema até 2023. Evidências A adoção de práticas do tipo pelo governo, no entanto, é criticada
por quem considera as técnicas tradicionais desprovidas de fundamentação científica. É o caso
do CFM (Conselho Federal de Medicina), entidade responsável pela normatização da prática
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médica e pelo registro dos profissionais no país, que se posicionou contra a medida. A opinião
– sustentada por representantes da entidade desde a promulgação da política governamental
sobre o tema em 2006 – implica a proibição do exercício das práticas por médicos
credenciados no Brasil. “Os médicos só podem atuar na medicina com procedimentos
terapêuticos que têm reconhecimento científico”, disse Vital. Caso um paciente peça por
tratamentos do tipo, o presidente do CFM diz que o médico deve dar esclarecimentos sobre a
eficácia e sobre “as verdades científicas do que se faz na medicina”. “Paradoxalmente, essas
verdades (...) não existem na prática alternativa. Portanto não seria correto o médico apoiar ou
estimular o seu paciente na busca por práticas integrativas.”
Ingleses contra homeopatia: Na direção oposta à medida adotada pelo governo
brasileiro, o serviço nacional de saúde britânico (conhecido pela sigla NHS) anunciou o fim
da prática de homeopatia no Royal London Hospital for Integrated Medicine, um importante
centro hospitalar de Londres e o maior do tipo na Europa. “Não há evidências de qualidade de
que a homeopatia é eficiente como um tratamento para qualquer condição de saúde”, disse a
agência de saúde britânica, anunciando o fim do uso de dinheiro público para esse fim. Para o
diretor do serviço de saúde na Inglaterra, Simon Stevens, homeopatia é “na melhor das
hipóteses um placebo, além de um mal uso da escassa verba do NHS”. De acordo com a BBC,
hospitais de outras regiões do Reino Unido, como Bristol (Inglaterra) e Glasgow (Escócia),
não foram afetados pela medida e poderão seguir oferecendo tratamentos com homeopatia a
seus pacientes.
5.3. As práticas mais utilizadas no Brasil
Na atualidade, a acupuntura é a prática mais utilizada, com 707 mil atendimentos e
277 mil consultas individuais. As práticas de Medicina Tradicional Chinesa, como Tai-chi-
chuan e Lian gong, também, aplicadas no SUS, estão em segundo lugar com os atendimentos
de 151 mil sessões. Em terceiro lugar, om 142 mil procedimentos, vem a auriculoterapia, uma
prática similar a acupuntura, com a diferença, que trata pontos energéticos através do pavilhão
auditivo.
Em seguida, se tem registradas 35 mil sessões de yoga, 23 mil de dança
circular/biodança e 23 mil de terapia comunitária, entre outras.
Os benefícios do tratamento integrado entre medicina convencional e práticas
integrativas e complementares, têm sido mostrados com comprovações médico-científicas.
Outros fatores que contribuem para viabilizar essas práticas no atendimento à
população pelo serviço de saúde pública, é o crescente número de profissionais capacitados e
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habilitados e maior reconhecimento e valorização da eficácia dos conhecimentos milenares,


envolvidos nestas terapias complementares de saúde.
Infelizmente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) reconhece como prática médica
apenas duas da lista das práticas complementares incluídas pelo SUS: a acupuntura e a
homeopatia.
Segundo o CFM, os médicos não podem clinicar e indicá-las como tratamento básico
de saúde, entretanto o Ministério da Saúde as incorporou, de forma a serem realizadas por
outros profissionais e especialistas da saúde, de forma complementar ao tratamento
convencional.
Em contrapartida, a Presidente da Associação Brasileira de Ozonioterapia, Maria
Emília Gadelha, especialista em otorrinolaringologista de formação, diz que se trata de uma
grande conquista. Ela enfatiza que é de fundamental importância entender a saúde de forma
mais ampla:" Oferecer novas formas de cuidado à saúde é algo que afeta diretamente o bem-
estar da população.
Estamos lutando, há mais de 10 anos, para a regulamentação da ozonioterapia, como
mais uma forma de cura de doenças, comprovada por estudos científicos. Ela pode ser usada
para membros da família, evitar complicações provocadas pelo diabetes e para tratar
inflamações intestinais crônicas e queimaduras, entre outros problemas."
O Ministro da Saúde, Ricardo Barros, a respeito dessas medidas instituídas em seu
ministério, que visam a prevenção das doenças, afirmou: "Primeiro, estamos consolidando a
oferta do serviço, permitindo que as estruturas de atenção básica implantem esses serviços e
coloquem à disposição das pessoas. Agora é fazer a divulgação e o engajamento dos cidadãos
na prevenção, que não é a nossa cultura.
Se você vai à China, a cada 50 metros tem uma casa de massagem. Aqui, a cada 50
metros tem uma farmácia. Essa é a mudança que precisa ser alcançada."
5.4.A prevenção é o melhor remédio
De fato, em nosso país, precisamos desenvolver a cultura da prevenção da saúde. Cuidar,
evitar e tratar da saúde, antes da doença aparecer ou se instalar no corpo. Realmente, a
prevenção continua sendo o melhor remédio.
Que, essas novas terapias, no SUS, sejam bem viabilizadas, para que mais e mais pessoas
possam usufruir de seus benefícios e prevenir, em vez de remediar!

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6.POLÍTICA NACIONAL DE PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES


EM SAÚDE
Em virtude da crescente demanda da população brasileira, por meio das Conferências
Nacionais de Saúde e das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) aos
Estados membros para formulação de políticas visando a integração de sistemas médicos
complexos e recursos terapêuticos (também chamados de Medicina Tradicional e
Complementar/Alternativa MT/MCA ou Práticas Integrativas e Complementares) aos
Sistemas Oficiais de Saúde, além da necessidade de normatização das experiências existentes
no SUS, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no SUS, contemplando as áreas de homeopatia, plantas medicinais
e fitoterapia, medicina tradicional chinesa/acupuntura, medicina antroposófica e termalismo
social – crenoterapia, promovendo a institucionalização destas práticas no Sistema Único de
Saúde (SUS).
A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares tem como objetivos:
1. Incorporar e implementar as Práticas Integrativas e Complementares no SUS, na
perspectiva da prevenção de agravos e da promoção e recuperação da saúde, com ênfase na
atenção básica, voltada ao cuidado continuado, humanizado e integral em saúde;
2. Contribuir ao aumento da resolubilidade do Sistema e ampliação do acesso à PNPIC,
garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso;
3. Promover a racionalização das ações de saúde, estimulando alternativas inovadoras e
socialmente contributivas ao desenvolvimento sustentável de comunidades e;
4. Estimular as ações referentes ao controle/participação social, promovendo o envolvimento
responsável e continuado dos usuários, gestores e trabalhadores nas diferentes instâncias de
efetivação das políticas de saúde.
Entre suas diretrizes, destacam-se:
1. Estruturação e fortalecimento da atenção em PIC no SUS;
2. Desenvolvimento de estratégias de qualificação em PIC para profissionais o SUS, em
conformidade com os princípios e diretrizes estabelecidos para educação permanente;
3. Divulgação e informação dos conhecimentos básicos da PIC para profissionais de saúde,
gestores e usuários do SUS, considerando as metodologias participativas e o saber popular e
tradicional;
4. Estímulo às ações intersetoriais, buscando parcerias que propiciem o desenvolvimento
integral das ações;
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5. Fortalecimento da participação social;


6. Provimento do acesso a medicamentos homeopáticos e fitoterápicos na perspectiva da
ampliação da produção pública, assegurando as especificidades da assistência farmacêutica
nestes âmbitos na regulamentação sanitária;
7. Garantia do acesso aos demais insumos estratégicos da PNPIC, com qualidade e segurança
das ações;
8. Incentivo à pesquisa em PIC com vistas ao aprimoramento da atenção à saúde, avaliando
eficiência, eficácia, efetividade e segurança dos cuidados prestados;
9. Desenvolvimento de ações de acompanhamento e avaliação da PIC, para
instrumentalização de processos de gestão;
10. Promoção de cooperação nacional e internacional das experiências da PIC nos campos da
atenção, da educação permanente e da pesquisa em saúde;
11. Garantia do monitoramento da qualidade dos fitoterápicos pelo Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária.
Link para acessar a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde na
íntergra: http://dab.saude.gov.br/portaldab/pnpic.php

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7.VALORES CULTURAIS, ÉTNICOS, RELIGIOSOS E SOCIAIS PERTINENTES


AOS CUIDADOS COM O CORPO
7.1.O que é Diversidade cultural:

Diversidade cultural são os vários aspectos que representam particularmente


as diferentes culturas, como a linguagem, as tradições, a culinária, a religião, os costumes, o
modelo de organização familiar, a política, entre outras características próprias de um grupo
de seres humanos que habitam um determinado território.
É um conceito criado para compreender os processos de diferenciação entre as várias
culturas que existem ao redor do mundo. As múltiplas culturas formam a chamada identidade
cultural dos indivíduos ou de uma sociedade; uma "marca" que personaliza e diferencia os
membros de determinado lugar do restante da população mundial.
A diversidade significa pluralidade, variedade e diferenciação, conceito que é
considerado o oposto total da homogeneidade. Atualmente, devido ao processo de
colonização e miscigenação cultural entre a maioria das nações do planeta, quase todos os
países possuem a sua diversidade cultural, ou seja, um "pedacinho" das tradições e costumes
de várias culturas diferentes.
Algumas pessoas consideram a globalização um perigo para a preservação da
diversidade cultural, pois acreditam na perda de costumes tradicionais e típicos de cada
sociedade, dando lugar à características globais e "impessoais".
Com o intuito de tentar preservar a riqueza da diversidade cultural dos países,
a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) criou a
"Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural".
Essa Declaração reconhece as múltiplas culturas como uma "herança comum da
humanidade", e é considerada o primeiro instrumento que promove e protege a diversidade
cultural e o diálogo intercultural entre as nações.
7.2.Diversidade cultural no Brasil
O Brasil é um país incrivelmente rico em diversidade cultural, devido a sua extensão
territorial e a pluralidade de colonizações e influências que sofreu ao longo do processo de
construção da sociedade brasileira.
As diferenças são bastante visíveis mesmo entre as diferentes regiões do país: norte,
nordeste, centro-oeste, sudeste e sul.

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Nas regiões norte e nordeste, a predominância é das tradições indígenas e africanas,


sincretizadas com os costumes dos povos europeus, que colonizaram o país.
Na região centro-oeste, onde predomina o Pantanal, existe ainda uma grande presença
da diversidade cultural indígena, com forte influência da culinária mineira e paulista.
No sudeste e sul destacam-se costumes de origem europeia, com colônias portuguesas,
germânicas, italianas e espanholas que, ainda hoje, mantêm a cultura típica de seus países de
origem.
A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural prevê ações de preservação das
múltiplas culturas de origem indígena e africana, como as línguas indígenas ameaçadas de
extinção, além dos rituais e festas tradicionais do povo indígena e afrodescendente.
Diversidade cultural e religiosa
A diversidade religiosa está intrinsecamente relacionada com a cultura. O chamado
conceitua o processo de mistura e diversificação de várias religiões reunidas dentro de uma
sociedade.
No Brasil, por exemplo, a diversidade religiosa está na presença das várias crendices
coabitando em um mesmo território, como os católicos, judeus, muçulmanos, hindus e etc.
7.2. Determinantes Sociais da Saúde

As mudanças sociais resultantes da livre circulação de pessoas acarretam uma grande


diversidade cultural de religiões e etnias, formas de estar e de viver que impõem necessidades
de se redefinirem novas prioridades nos cuidados de saúde.
De acordo com Minayo e colaboradores (2000) qualidade de vida é uma noção
humana e relativa de vida, pelo menos, ao contexto histórico, cultural e de classes sociais,
interligada ao grau de satisfação pessoal, ao conforto e bem-estar. Abrange os mais diferentes
olhares, objetivos ou subjetivos, seja da ciência, de outras disciplinas, do senso comum, da
coletividade ou do indivíduo. Quando direcionada à saúde, reflete a capacidade de viver sem
doenças, superar dificuldades, estados e condições de morbidade.
A existência de países ou cidades multiculturais tem origem, principalmente, nos
fenômenos migratórios que durante o século passado se verificaram num fluxo sem
precedentes. Vivemos, sem dúvida, numa sociedade multicultural e embora os fluxos
migratórios sejam conhecidos há muitos séculos, foi nas últimas décadas que se tem tomado
consciência desta realidade histórica quer pelas crescentes migrações em todo o mundo quer
pela presença de minorias culturais que muito influenciam os países para onde se deslocam. A

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busca de uma melhoria nas condições de vida das famílias, a necessidade de novos horizontes,
fundamentalmente relacionados com aspectos econômicos, culturais e intelectuais são os
motivos pelos quais as pessoas tendem a abandonar os seus países de origem, integrando-se
noutras sociedades e noutras culturas muitas vezes de maneira traumática (MAYOL, 2003).
Pode dizer-se que todas as sociedades e todos os países são compostos por uma multiplicidade
de culturas que coabitam no mesmo espaço.
Na atualidade, a diversidade de pessoas oriundas de outras culturas, faz com que
tenhamos que repensar nas práticas de cuidados de saúde de uma forma mais coerente,
coordenada e eficaz, não desligadas dos seus contextos individuais, sociais e culturais.
Os Determinantes Sociais da Saúde e os fatores étnico-culturais podem estar
relacionados à produção das desigualdades em saúde ao exporem segmentos da população a
uma condição de maior vulnerabilidade, para isso é necessário que haja a alimentação de
informações necessárias ao funcionamento adequado do Sistema Único de Saúde. Como
exemplo da etnicidade, podes citar o uso consciente e simbólico de elementos de raça,
história, origem comum, costumes, valores e crenças.
As fronteiras sociais e culturais têm uma coincidência cada vez menores”, já que,
contemporaneamente, a diversidade cultural está cada vez mais dentro das próprias
sociedades, fazendo com que o confronto e as trocas sejam muito mais presentes nos
processos da renovação cultural do que o foram no passado. Essa situação na qual os outros já
não se apresentam distantes como outrora e seus modos de ser e viver se desenvolvem
entrecruzados aos nossos parece criar uma série de novos desafios.
Com efeito, a principal estrutura institucional de prestação de cuidados de saúde é o
hospital onde os diagnósticos e tratamentos são codificados, estereotipados, e não é tido em
conta, ou muito pouco, as hipóteses etiológicas das famílias, a sua percepção quanto à
natureza e gravidade da doença, quando sabemos que as culturas e as famílias se organizam
em torno da gravidade e dos motivos que imaginam possam ter causado tais sintomas
(KLEINMAM, 1980).
Aos profissionais de saúde deverá ser possível o acesso a uma formação sólida que
lhes permita desenvolver competências interculturais para compreender e gerir, na sua prática
diária de cuidados, outros entendimentos sobre a vida, a saúde e a doença e outras formas de
coexistir numa ética de cuidados que implique ter em conta a cultura das pessoas doentes,
suas famílias e as maneiras de a interpretar no momento em que a vivem (RAMOS, 2004,
2009).
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Uma das primeiras dificuldades dos doentes pertencentes a outras culturas verifica-se
no momento em que chegam ao hospital. Desconhecem as regras de comportamento
hospitalar, os documentos necessários, a posição e direitos da família em todo o processo, as
horas de visita, os hábitos alimentares condicionados pelo internamento, o vestuário
necessário e toda uma variedade de dificuldades que terão que enfrentar em conjunto com a
sua nova situação de sofrimento e doença.
O corpo e a forma como será tratado, é um dos aspectos que mais perturbam pessoas
de outra cultura e religião. De uma maneira geral é o profissional de saúde que dá as diretrizes
e as explicações e, frequentemente não temos em conta que em muitas culturas, tantas
perguntas não são bem aceites. Alguns pacientes, não só não respondem como não pedem
nenhuma clarificação sobre o assunto. Tais premissas podem levar a que as pessoas doentes
podem não entender a sua condição ou não serem capazes de seguir o seu plano de tratamento
comprometendo bastante o seu processo de recuperação.
Nunca é demais referir que não é possível prestarmos cuidados de saúde com
qualidade sem atendermos às características culturais de ambos os intervenientes na relação –
o profissional de saúde e o usuário. As competências culturais situam-se assim, como novos
desafios para uma prática diária de cuidados que se procura a mais adaptada para promover a
saúde e bem estar e prevenir a doença e a sofrimento. Falar do corpo como instrumento
privilegiado de cuidados é muito mais do que mencionar as sensações que se têm quando
cuidamos de alguém. É fazer um percurso pessoal que é mais do que utilizar as mãos para
manipular, transportar, levantar, puncionar, acariciar e massajar.
A cultura e o conhecimento sobre a diversidade cultural, são a chave que melhor
permitirá adequar as práticas de cuidados às necessidades da sociedade contemporânea. São
novos desafios que temos que enfrentar e temos que tomar consciência de que, quando se fala
de transculturalidade, interculturalidade ou multiculturalidade, estamo-nos a referir não só à
diversidade cultural como também à diferença e à convivência com essa mesma diferença.
O melhor conhecimento das culturas vai permitir-nos cuidar melhor destas pessoas e
compreender de forma mais global os seus universos.

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8. PRÁTICAS CORPORAIS SAUDÁVEIS


O conceito das Práticas Corporais difere, significativamente, dos conceitos de
atividade física e exercício físico, pois considera o ser humano em movimento, ou seja, estuda
e considera a sua gestualidade, os seus modos de se expressar corporalmente, atribuindo
valores, sentidos e significados ao conteúdo e à intervenção (Carvalho, 2006). Agrega as
diversas formas do ser humano se manifestar por meio do corpo e contempla as duas
racionalidades: a ocidental (modalidades esportivas, ginásticas, caminhadas, como exemplos)
e a oriental (Tai-Chi, Lian Gong, Yoga entre outras). Nesse sentido, as práticas corporais são
“olhadas” a partir das ciências humanas e sociais, das artes, da filosofia e dos saberes
populares, sem desconsiderar as ciências biológicas e naturais.
O conceito de práticas corporais amplia a compreensão relativa ao homem em
movimento, buscando o sentido e o significado da prática, de modo a estabelecer estreito
diálogo entre outras áreas do conhecimento, numa perspectiva interdisciplinar e intersetorial.
Pensar os sentidos das práticas corporais na sociedade atual é considerar os diversos discursos
produzidos no meio em que vivemos.
É consenso que a aquisição de "qualidade de vida" engloba aspectos interligados e que
têm relação com as condições materiais necessárias à sobrevivência e à satisfação das
necessidades humanas básicas, como acesso a um sistema educacional e de saúde qualitativo,
a uma alimentação adequada, a um vínculo ocupacional satisfatório que gere renda, posse de
uma habitação digna. Entretanto, essas não são condições únicas.
O termo qualidade de vida abrange outros significados e integra várias dimensões de
conhecimento, experiências, valores individuais e coletivos e construção de sujeitos de
direitos, sendo, portanto, uma construção social que se realiza dada uma base territorial, por
meio da intersetorialidade e da participação social. Outros valores, como solidariedade,
liberdade, inserção social e acesso à informação, preservação e proteção do ecossistema,
políticas de desenvolvimento econômico social sustentável, também devem ser considerados.
A inserção de um programa de prática corporal/atividade física, integrada a uma
política pública de promoção de saúde e direcionada à população, deve estar fundamentada
em um processo educativo que vá além da transmissão de conhecimentos, aumento no nível
de atividade física e/ou aquisição de determinantes relacionados à aptidão física, como força e
flexibilidade.
É esperado através das práticas corporais e da atividade física um aumento da
autonomia e sensação de bem estar, aumento da força muscular, manutenção ou melhoria da
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flexibilidade, maior coordenação motora e equilíbrio, maior sociabilidade, controle do peso


corporal, diminuição da ansiedade e de depressão, maior dependência pessoal ajuda no
tratamento e prevenção de doenças, entre outras.
8.1. Dinâmica e estratégias dos procedimentos usados:

-Controle do peso corporal, aumento da força muscular e manutenção ou melhoria da


flexibilidade: realização de triagem, avaliação física e composição corporal e pressão arterial .
- Aumento da autonomia, sensação do bem estar, maior dependência pessoal e sociabilidade:
Promoção e prevenção da saúde através de palestra em educação e saúde, exercícios de
equilíbrio e coordenação motora, realização de atividades de vida diária, troca de experiências
através de dinâmicas grupais e terapia integrativa comunitária.
- Redução nos quadros de ansiedade e depressão: Participação em atividades físicas leves e
moderadas, grupo de dança-terapia recreativa, participação em atividades de lazer, esporte,
turismo e recreação, apresentação de coreografias em eventos assistemáticos e exposição de
trabalhos artesanais..

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9.PRINCIPAIS SITUAÇÕES DE RISCO QUE ENVOLVE O USO DE TABACO,


ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS
O abuso de drogas lícitas e ilícitas é uma preocupação mundial. O álcool e o tabaco
são as drogas que mais matam em todo o mundo. Seu uso frequente causa prejuízos sociais,
psíquicos e biológicos, além de implicações para a vida futura dos usuários. A adolescência é
a faixa etária de maior vulnerabilidade para experimentação e uso abusivo de drogas, e os
motivos que levam ao aumento do uso dessas substâncias são diversos e complexos. Alguns
fatores podem estar relacionados a essa fase da vida, como a sensação juvenil de onipotência,
o desafio à estrutura familiar e social, e a busca de novas experiências.
O consumo excessivo de álcool é um dos responsáveis pelo aumento das mortes no
trânsito, principalmente na adolescência. A experimentação pela primeira vez costuma ocorrer
precocemente, em idade inferior a 12 anos. Em muitos casos, o consumo acontece junto à
família, em casa e com os amigos,9 em festas, bares e shoppings. Além disso, sabe-se que o
uso de substâncias psicoativas costuma produzir um efeito multiplicador, em que o consumo
de uma substância aumenta o risco do consumo de outras.
O uso de drogas é um fenômeno bastante antigo na história da humanidade e constitui
um grave problema de saúde pública, com sérias conseqüências pessoais e sociais
Os problemas de saúde característicos dos tempos atuais são: estresse, drogadição,
desnutrição tanto qualitativa quanto quantitativa, inatividade física, excesso de lixo, esgoto,
falta de água, poluição atmosférica, sonora, visual, diminuição das áreas verdes e ocupação
desordenada, que resultam em demandas sociais, políticas e institucionais.
Questões frequentes relacionadas ao uso de álcool e drogas incluem os mecanismos de
ação dessas substâncias, se o uso traz piores consequências na população jovem e se existem
drogas mais fortes ou piores que outras.
No Brasil e em diversos países, o uso do tabaco por adolescentes é bastante prevalente.
Fumantes têm maior risco de desenvolver diversos tipos de câncer, particularmente câncer de
pulmão, e maior probabilidade de ocorrência de doenças cardíacas, acidente vascular
encefálico e enfisema pulmonar. Preocupa a associação entre um menor desempenho escolar e
uso do tabaco e outras drogas. Classe social, escolaridade, vínculo com a escola e a ocorrência
de reprovações escolares estiveram associadas a consumo de tabaco e drogas ilícitas, prejuízo
no desempenho e baixa frequência escolar. O consumo de tabaco tem maior prevalência entre
grupos com menor escolaridade.

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As escolas têm vivenciado um aumento da agressividade e violência. O uso abusivo de


drogas psicotrópicas retroalimenta a violência e está associado com bullying para ambos
sexos. Também, os jovens que fazem esse uso apresentam maior agressividade, estão menos
predispostos ao estudo e são mais desatentos.
As pesquisas neurofisiológicas sugerem que as drogas psicotrópicas usadas de forma
abusiva estimulam a ação dopaminérgica em vias mesolímbicas localizadas na área
tegumentar ventral e no núcleo accumbens, o que teria papel determinante no estabelecimento
de dependência. Além de agir sobre vias dopaminérgicas, cada substância age também em
outros neurotransmissores, o que faz com que os vários tipos de drogas tenham efeitos
diferentes. Assim, o álcool e outros depressores do sistema nervoso central, como os
benzodiazepínicos, agem estimulando a neurotransmissão gabaérgica, provocando um efeito
inicialmente desinibidor e posteriormente depressor. O álcool age também em receptores de
glicina, glutamato (NMDA, AMPA e kainatos), acetilcolina (nicotínicos), proteína G, AMP
cíclico e canais de cálcio. Os efeitos crônicos incluem uma ação na adenil ciclase e interferem
na expressão genética e de fatores neurotrópicos. Não se sabe se esses efeitos teriam relação
com o desenvolvimento de quadros como a síndrome alcoólica fetal e a neurotoxicidade no
cérebro do adulto.
Os prejuízos provocados pelas drogas podem ser agudos (durante a intoxicação ou
"overdose") ou crônicos, produzindo alterações mais duradouras e até irreversíveis. O uso de
drogas por adolescentes traz riscos adicionais aos que ocorrem com adultos em função de sua
vulnerabilidade. Todas as substâncias psicoativas usadas de forma abusiva produzem aumento
do risco de acidentes e da violência, por tornar mais frágeis os cuidados de autopreservação,
já enfraquecidos entre adolescentes. Esses riscos ocorrem especialmente com o uso do álcool,
a droga mais utilizada nessa faixa etária. O álcool pode causar intoxicações graves, além de
hepatite e crises convulsivas.
O uso abusivo de benzodiazepínicos pode potencializar os efeitos do álcool e, em altas
doses, provocar depressão respiratória. O uso crônico de benzodiazepínicos produz
dependência e sua retirada abrupta pode provocar síndrome de abstinência. O risco do
desenvolvimento desses quadros não deve ser negligenciado pelos médicos.
Os inalantes, como a cola de sapateiro, solventes de tinta, esmalte, benzina e lança-
perfume incluem ampla gama de substâncias absorvidas pelos pulmões. As mortes durante
intoxicações são raras, podendo acontecer por asfixia ou arritmias cardíacas. Várias síndromes
neurológicas persistentes podem ocorrer com o uso crônico, principalmente neuropatia
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periférica, ototoxicicidade e encefalopatia. Também podem ocorrer lesões renais, pulmonares,


hepáticas, cardíacas e no sistema hematopoiético.
A cocaína e as anfetaminas estimulam as ações dopaminérgica e noradrenérgica,
podendo produzir, durante a intoxicação, crises convulsivas, isquemia cardíaca e cerebral,
além de quadros maniformes e paranóides. O uso crônico induz a síndromes psiquiátricas
semelhantes a depressão, ansiedade, pânico, mania, esquizofrenia e transtornos de
personalidade. Também provoca piora do desempenho em tarefas que exigem a integridade de
funções cognitivas, exaustão crônica e alterações funcionais de lobos frontais. O uso
endovenoso está relacionado à transmissão de doenças como a síndrome de imunodeficiência
adquirida (AIDS), e as hepatites B e C. Além das lesões já descritas que podem ser
provocadas por outras formas de utilização da cocaína, o uso do crack pode provocar vários
problemas pulmonares, como tosse, expectoração, pneumonia, hemoptise, bronquioespasmo e
edema pulmonar. A cocaína e, principalmente, o "crack" são drogas que podem desenvolver
dependência de forma rápida. Atividades ilícitas podem constituir o modo pelo qual crianças e
adolescentes que não têm meios próprios adquirem as drogas.
Segundo Hird et al, a maconha produziria a síndrome amotivacional, caracterizada por
passividade, apatia, falta de objetivos, de ambição e de interesse na comunicação, podendo
levar à queda do desempenho escolar, o que, por sua vez, pode aumentar a ansiedade,
provocando aumento do uso.
Entre os alucinógenos, o LSD age em vários neurotransmissores, mas sua ação sobre a
serotonina parece ser a mais importante. Durante a intoxicação, quadros delirantes e
alucinatórios aumentam o risco de acidentes, entre outros.
Diagnóstico
Outro aspecto muito importante desse tema é como realizar a identificação do jovem
que usa drogas e tem problemas relacionados, o "adolescente de risco". O uso de drogas é um
fenômeno multidimensional, que pode acontecer durante a adolescência, quando também
podem surgir outros transtornos psicológicos, comportamentais e sociais. Entre as
psicopatologias que mais incidem na puberdade (depressão maior, transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade e do comportamento disruptivo) detectam-se sinais e sintomas
semelhantes àqueles também observados com o uso dessas substâncias, dificultando o
diagnóstico diferencial. Assim, uma avaliação inicial cuidadosa do jovem que procura
tratamento pode auxiliar o diagnóstico e melhorar o prognóstico, pois essa população não

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busca ajuda por conta própria, principalmente quando estão em dificuldades relacionadas ao
uso de drogas.
Eles pouco relacionam possíveis alterações de seu comportamento, pensamento e
mesmo de seu funcionamento orgânico com o uso dessas substâncias, pois essas mudanças
muitas vezes decorrem também da adolescência normal. Quando o fazem, minimizam ou
negam as evidências e, dentro de uma postura ainda ambivalente, dizem que "isso não é nada"
e que poderão resolver tudo sozinhos. Portanto, esse momento é muito especial e, dependendo
da forma de abordar o problema pelos familiares, amigos ou mesmo pelo profissional, a
resistência pode aumentar e a chance de intervir diminuir. Portanto, o primeiro passo da
intervenção com um jovem é adequar esse contato, por meio de uma entrevista afetiva, ativa,
objetiva e clara, buscando a cooperação do paciente e reforçando o sigilo das informações.
Deve-se propiciar uma anamnese livre, na qual o jovem responda a duas questões
básicas: por que ele veio para a consulta e o que ele pensa que está errado com ele. O
profissional deve conduzir esse contato tentando vencer a resistência do jovem e obtendo as
informações necessárias para um diagnóstico mais preciso. A confidencialidade e a
importância da percepção por parte do adolescente de que tem um papel a assumir no
processo de mudança que ali se inicia são amplamente debatidos e garantidos. Esses cuidados
são imprescindíveis para desenvolver um bom rapport, o objetivo principal dessa primeira
entrevista.
São objetivos dessa avaliação: estabelecer o vínculo; investigar sobre a saúde física e
mental; sobre o comportamento e o relacionamento social e familiar; o ajustamento escolar ou
profissional; sobre seu lazer; e, finalmente, sobre o uso de drogas e os problemas a ele
associados, estabelecendo uma história sobre o uso de drogas na vida. Após essa avaliação
global do adolescente, por meio da investigação das diversas áreas de sua vida, realiza-se o
exame físico e solicitam-se exames laboratoriais, se necessário. O jovem deve receber todos
os resultados dessa investigação. A seguir, define-se a gravidade do uso de drogas e suas
conseqüências, desenvolvendo um plano de intervenção subsequente, com metas e critérios de
sucesso esperados com o tratamento. Se não for possível aplicar tal estratégia, é melhor
encaminhar o jovem para um serviço especializado.
Sabe-se da importância do sistema familiar nas intervenções para prevenção e
tratamento da dependência de álcool e outras drogas. Para a maioria dos jovens, o suporte
socioeconômico vem dos pais e, para eles, os serviços de tratamento devem um
esclarecimento legal sobre alguns problemas. Garantindo ao jovem o sigilo das informações
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pessoais, os pais devem saber compulsoriamente sobre risco de suicídio, síndrome de


abstinência grave, intoxicação grave e abuso sexual. Muitas famílias também devem ser
inseridas no tratamento.
Em função da complexidade da questão, é muito importante que se utilize
questionários, inventários e escalas desenvolvidos para o jovem, com o objetivo de
fundamentar o diagnóstico e o encaminhamento do caso. Para o diagnóstico, recomenda-se a
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da Organização Mundial da Saúde
(CID-10, WHO, 1992). No capítulo sobre transtornos mentais e de comportamento
decorrentes do uso de substâncias psicoativas (F10 a 19), encontram-se os critérios
diagnósticos para vários estados, sendo os mais importantes: intoxicação aguda, uso nocivo,
síndrome de dependência, estado de abstinência, entre outros. Um diagnóstico de síndrome de
dependência usualmente só deve ser feito se três ou mais dos seguintes requisitos estiveram
presentes durante o último ano:
a) um forte desejo ou senso de compulsão para consumir a substância;
b) dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em termos de
seu início, término ou níveis de consumo;
c) um estado de abstinência fisiológico quando o uso da substância cessou ou foi
reduzido, como evidenciado por: a síndrome de abstinência característica para a substância ou
o uso a mesma substância (ou de uma substância intimamente relacionada) com a intenção de
aliviar ou evitar sintomas de abstinência;
d) evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância psicoativa
são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas
(exemplos claros disso são encontrados em indivíduos dependentes de álcool e de opiáceos,
que podem tomar doses diárias suficientes para matar ou incapacitar usuários não tolerantes);
e) abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da
substância psicoativa, aumento da quantidade de tempo necessária para obter ou tomar a
substância ou para se recuperar de seus efeitos; e
f) persistência do uso da substância, a despeito da evidência clara de consequências
manifestamente nocivas. Deve-se fazer esforços para determinar se o usuário estava realmente
(ou se poderia esperar que estivesse) consciente da natureza e extensão do dano.
OBSERVAÇÃO: NO PRESENTE TEXTO TEMOS NOS REFERIDO AOS JOVENS
(FAIXA ETÁRIA MAIS INCIDENTE NO USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS),
MAS EXISTEM ABORDAGENS ESPECÍFICAS PARA CADA PERÍODO.
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Tratamento
Como tratar o adolescente com problemas relacionados ao uso de álcool ou outras
drogas? O tratamento depende de fatores extrínsecos, isto é, da disponibilidade do tratamento
mais adequado para o jovem (próximo ao local de sua residência e compatível com sua
condição socioeconômica e com seu sistema familiar), como também de fatores intrínsecos,
como a motivação do jovem e a gravidade de seu diagnóstico como um todo. O tratamento do
adolescente deve levar em consideração também, o tipo da droga utilizada e a frequência do
consumo.
Cerca de 80% dos jovens com problemas associados ao uso de drogas são tratados em
ambulatórios por meio de abordagens individual, grupal, familiar ou uma combinação dessas,
aplicando-se modelos teóricos variados. O tratamento pode ser feito em regime de internação
parcial (hospital-dia) e em regime de internação integral, utilizando-se a psicanálise, a terapia
comportamental, a cognitivo-comportamental, a interacional e a sistêmica, entre outras.
Segundo Newcomb (1995), os fatores de risco para o uso de drogas incluem aspectos
culturais, interpessoais, psicológicos e biológicos. São eles: a disponibilidade das substâncias,
as leis, as normas sociais, as privações econômicas extremas; o uso de drogas ou atitudes
positivas frente às drogas pela família, conflitos familiares graves; comportamento
problemático (agressivo, alienado, rebelde), baixo aproveitamento escolar, alienação, atitude
favorável em relação ao uso, início precoce do uso; susceptibilidade herdada ao uso e
vulnerabilidade ao efeito de drogas.
Pesquisas etnográficas e epidemiológicas utilizando uma metodologia rigorosa podem
fundamentar projetos e prevenção em todos os níveis, fornecendo dados e elucidando muitas
questões, pois o custo pessoal e social com a dependência nos países desenvolvidos tem sido
muito maior que o gasto com a prevenção. No Brasil, mesmo sem tradição nessa área, é
preciso priorizar políticas preventivas, gerando projetos mais ajustados à realidade brasileira,
pois prevenir ainda é melhor que remediar!
A Política Nacional do Ministério da Saúde para a Atenção Integral aos Usuários de
Álcool e Outras Drogas preconiza que definir políticas públicas para a promoção de mudanças
nos diferentes níveis envolvidos requer: mudanças individuais de comportamento; mudança
de crenças e normas sociais; ações de informação e prevenção; diversificação e ampliação da
oferta de serviços assistenciais; adoção de políticas de promoção da saúde que contemplem
ações estruturais nas áreas de educação, saúde e de acesso a bens e serviços. Essa política
contempla também a discussão das leis criminais de drogas e a implementação de dispositivos
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legais para a equidade do acesso dos usuários às ações de prevenção, tratamento e redução de
danos; a revisão da lei que permite demissão por justa causa por uso de drogas por
funcionários; a discussão do impedimento da testagem de uso de drogas, realizada de forma
compulsória em empresas e escolas públicas (Brasil, 2004).
A abstinência não pode ser o único objetivo a ser alcançado (Brasil, 2004). Quando se
trata de cuidar de vidas humanas, temos que necessariamente lidar com as singularidades e
com as diferentes possibilidades de escolha. Deve-se acolher sem julgar o que cada usuário
necessita, sempre levando em conta o seu desejo e participação. Nesse sentido, a abordagem
de Redução de Danos (RD) pode ser uma alternativa. A estratégia de RD reconhece cada
usuário na sua singularidade, reflete sobre alternativas que estão voltadas não só para a
abstinência, mas para a defesa de sua vida. Assim, cuidar significa aumentar o grau de
liberdade e corresponsabilidade dos sujeitos (Brasil, 2004). Isso implica a construção de
vínculo com os profissionais que também passam a ser corresponsáveis pela vida daquele
usuário.
O uso de substâncias psicoativas apresenta-se como um processo complexo, em razão
dos diferentes domínios da vida dos indivíduos que podem estar envolvidos, sendo
considerado assim, um problema multifatorial. Os dados evidenciam que o entorno geográfico
e as redes sociais dos indivíduos podem se constituir como fatores de risco ou de proteção.
Essas redes podem favorecer aos indivíduos manter-se no uso de drogas ou podem oferecer
recursos para o indivíduo integrar-se à vida social.
A família e a prática da espiritualidade, incluindo o ambiente na qual ela se dá, como
também a expectativa de reaver a independência, através da obtenção de renda e permanência
em vínculo empregatício, são referidos como fatores que auxiliam na sustentação do
tratamento e na abstinência. Tais recursos devem ser explorados pelos profissionais nos
projetos terapêuticos singulares, tanto no tratamento como na reabilitação psicossocial.

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10.VIOLÊNCIAS NO CONTEXTO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)


A violência se incorporou à agenda do setor Saúde recentemente, por volta das duas
últimas décadas do século XX, pautada pelo crescimento dos números de óbitos e
adoecimentos por causas externas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, anualmente,
mais de 1,6 milhão de pessoas morrem vítimas de violência individual ou coletiva.
A violência é um fenômeno social e histórico de conceituação complexa, que encerra
eventos de natureza diversa relacionados às estruturas sociais, econômicas, políticas, culturais
e comportamentais, os quais, muitas vezes, fundamentam e legitimam atos de violência
institucionalizada.
O Relatório Mundial sobre a Violência e a Saúde, da Organização Mundial da Saúde,
conceitua a violência como "uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça,
contra si próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que possa resultar
em ou tenha alta probabilidade de resultar em morte, lesão, dano psicológico, problemas de
desenvolvimento ou privação".
Minayo e Souza conceituam a violência como "evento representado por ações
realizadas por indivíduos, grupos, classes, nações, que ocasionam danos físicos, emocionais,
morais e ou espirituais a si próprio ou a outros". A violência, portanto, não é praticada
apenas contra indivíduos, senão também contra grupos, gêneros, etnias e até nações, sendo um
fenômeno não apenas contemporâneo, porém arraigado na história da constituição da
humanidade.
A violência apresenta uma forte associação com a pobreza, resultante das
desigualdades sociais e da exclusão,3revestindo-se de complexidade, seja pela multiplicidade
de seus determinantes, seja pela variedade de abordagens e potencialidades de intervenção, o
que, na Saúde, aponta para um novo significado do conceito Prevenção.
A consciência social sobre o tema tem se aprofundado, enquanto a tolerância contra
atos violentos, reduzido. Entretanto, sobre este último ponto, ainda permanecem
diferenciações e flexibilidades na aceitação social. Por exemplo, a violência do trânsito –
atropelamentos e mortes por consumo de álcool abusivo e alta velocidade – todavia é aceita
como fatalidade, mais tolerada que os homicídios. A violência doméstica contra crianças,
adolescentes, mulheres e idosos permanece um tabu, algo não dito e restrito aos "lares",
oculta, silenciada e, de certa maneira, tolerada com a conivência pactuada dos membros da
família e da comunidade. A violência da criminalidade e da delinqüência social, por outro
lado, inscreve-se no imaginário social como indiscutivelmente condenável.
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O Ministério da Saúde motivou a concepção da rede de prevenção de violência para o


desenvolvimento de estratégias pactuadas de vigilância, prevenção e controle sustentável das
violências e fatores de risco, apoiadas nas realidades social, econômica e regional do País.
Participam da sustentação dessas redes gestores, profissionais de saúde, instituições públicas,
instituições de ensino e pesquisa e entidades profissionais; e conselhos de saúde, instituições
privadas e instituições não governamentais.
10.1.Alguns resultados em andamento na incorporação do tema da violência pelo
Ministério da Saúde
Reconhecendo a importância do tema, o Ministério da Saúde reuniu especialistas no
tema Violência, gestores e profissionais de atendimento de serviços de urgência, que
elaboraram um documento estabelecendo as diretrizes e atividades para o setor Saúde e a
construção de políticas intersetoriais. O documento foi pactuado junto ao Conselho Nacional
de Saúde e apresentado como a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por
Acidentes e Violências do Sistema Único de Saúde (PNRMAV/SUS).
Essa Política lida com a violência em suas várias formas de expressão: agressão física;
abuso sexual; violência psicológica; e violência institucional. Nela, a violência é abordada
como um problema de Saúde Pública a ser compartilhado com outros setores, que necessita de
definições de estratégias próprias de "promoção da saúde e de prevenção de doenças e
agravos". São pressupostos da PNRMAV: (I) saúde entendida como um direito humano
fundamental e essencial ao desenvolvimento social e econômico; (II) direito e respeito à vida
como valores éticos da cultura e da saúde; e (III) promoção da saúde como base para o
desenvolvimento de todos os planos, programas, projetos e atividades de redução da violência
e dos acidentes.
O documento também define as seguintes diretrizes
1. Promoção e adoção de comportamentos e ambientes seguros e saudáveis
2. Monitoramento da ocorrência de acidentes e de violências
3. Sistematização, ampliação e consolidação do atendimento pré-hospitalar
4. Assistência interdisciplinar e intersetorial às vítimas de acidentes e violências
5. Estruturação e consolidação do atendimento voltado à recuperação e à reabilitação
6. Capacitação de recursos humanos
7. Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas

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11.ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL

Ter uma alimentação saudável é fundamental para que as funções do organismo


funcionem de foma equilibrada.De forma prática, uma alimentação saudável é aquela
composta por todos os macro e micronutrientes.
Os macronutrientes são os carboidratos (pães, massas e batatas, entre outros), gorduras
(como os óleos, as oleaginosas, abacate e outros) e proteínas (peixes, ovos, carnes vermelhas,
carne de frango, entre outros). Enquanto os micronutrientes são as vitaminas e minerais, que
estão presentes nos mais diversos alimentos, como frutas, verduras, legumes, entre outros. As
fibras, a parte não digerível do alimento vegetal, a qual resiste à digestão e à absorção
intestinal, com fermentação completa ou parcial no intestino grosso, também são essenciais
para a alimentação saudável e estão presentes nos alimentos integrais, nas frutas e verduras.
Uma alimentação composta por estes nutrientes de forma equilibrada costuma ser bem
variada, não tem exageros e não segue nenhum tipo de modismo.
Ter uma alimentação saudável proporciona uma série de benefícios para as pessoas.
Ela contribui para a melhora no sistema imunológico, na qualidade de sono, no trânsito
intestinal, no humor, na capacidade de concentração e pode contribuir até mesmo para a perda
de peso. Em gestantes, ela é essencial para o bom desenvolvimento do feto e em mulheres que
amamentam irá contribuir para o desenvolvimento saudável do bebê. Entre outros inúmeros
benefícios.
Pirâmide alimentar brasileira
A pirâmide alimentar foi adaptada para a população brasileira em 1999 pela
nutricionista sanitarista Sonia Tucunduva Philippi, professora da Universidade de São Paulo.
Esta pirâmide foi criada com o objetivo de facilitar o entendimento do público sobre quais os
alimentos que devem ser mais ingeridos e quais devem ter um consumo menor.
A adaptação envolveu basicamente trocar alguns alimentos que não eram tão comuns
no Brasil por outros nutricionalmente equivalentes, mas que eram ingeridos com maior
frequência pelos brasileiros.
Os alimentos presentes na base da pirâmide são aqueles que devem ser mais
consumidos, quanto mais para cima o alimento estiver localizado, em menores quantidades
ele deve ser ingerido. A orientação de acordo com a pirâmide é ingerir 6 porções ao dia de
carboidratos, como pães, arroz, batata, mandioca e outros, 3 poções de legumes e verduras, 3

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de frutas, 3 de laticínios, como queijos, leite e iogurte, uma de carnes e ovos, uma de feijão e
outras leguminosas, uma de óleos e outras gorduras e uma de açúcares e doces.
A seguir confira a pirâmide alimentar brasileira:

Fonte: Redesenho da Pirâmide Alimentar Brasileira para uma alimentação saudável


Os macronutrientes
Os macronutrientes consistem nas gorduras, carboidratos e proteínas. Os carboidratos
são a principal fonte de energia do corpo, eles possuem 4 calorias por grama e se dividem
entre simples e complexos.
A digestão e absorção dos carboidratos simples acontece rapidamente levando a um
aumento dos níveis de glicose no sangue (glicemia). Exemplos de alimentos que são fontes de
carboidratos simples: frutas, mel, xarope de milho, açúcar. O excesso dos carboidratos
simples pode favorecer problemas de saúde como diabetes.
Já os carboidratos complexos possuem estrutura química maior (polissacarídeos). Por
ser uma molécula maior são digeridos e absorvidos mais lentamente, ocasionando aumento
gradual da glicemia. Exemplos de alimentos fontes de carboidratos deste grupo: arroz
integral, pão integral, batata doce, massa integral. Estes carboidratos complexos são ricos em

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fibras e por isso contribuem para a melhora no trânsito intestinal, previnem o diabetes, ajudam
na perda de peso, controle do nível de colesterol, entre outros.
Outro macronutriente é a proteína. Ela possui quatro calorias por grama e tem como
uma de suas principais funções reparar as microlesões que ocorrem como um processo
fisiológico normal quando se pratica atividade física e proporcionar a sua regeneração e
formação de novas células musculares.
As proteínas podem ser encontradas em alimentos de origem animal, como carnes
vermelhas, peixes, aves, laticínios e ovos. Elas também estão presentes nos alimentos de
origem vegetal, especialmente leguminosas como feijão e soja.
O outro macronutriente é a gordura e possui 9 calorias por gramas. Elas se dividem
entre gorduras monoinsaturadas, poli-insaturadas e saturadas. As gorduras proporcionam
saciedade e algumas delas proporcionam benefícios para o cérebro. As gorduras poli-
insaturadas são encontradas em alimentos como a chia, a linhaça e peixes de água fria, salmão
e sardinha por exemplo. Já as monoinsaturadas estão presentes em óleos, como o azeite e no
abacate.
Quantidades recomendadas de macronutrientes
A recomendação é que uma alimentação saudável seja composta de 40 a 55% de
carboidratos, 15 a no máximo 30% de proteínas, sendo metade de origem animal e outra
vegetal, e entre 25 e 30% de gorduras, sendo um terço de saturadas, um terço de poli-
insaturadas e um terço de monoinsaturadas.
Macronutrientes para priorizar
Os carboidratos complexos, aqueles em que o açúcar demora mais para ser absorvido
no sangue, e menor carga glicêmica, quantidade de açúcar presente no alimento, são os que
devem estar presentes com maior frequência em uma alimentação saudável. As frutas,
especialmente quando ingeridas com casca, e os alimentos integrais costumam ter estas
características.
Quanto às proteínas, a recomendação é ingerir tanto aquelas de origem vegetal, como
a soja e o feijão, quanto às de origem animal. Porém, uma pessoa consegue manter uma dieta
vegetariana e ainda assim ser saudável. Fontes de proteínas de origem animal que vale a pena
investir são aquelas com menor concentração de gorduras saturadas como os peixes, as aves,
os ovos e o leite semi-desnatado. Quanto aquelas de origem vegetal, todas parecem ser boas
alternativas, como o feijão, a soja, a lentilha, o grão de bico e a quinoa.

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Quanto às gorduras, aquelas insaturadas são boas alternativas para a saúde. Vale
investir em fontes de ômega 3 como o salmão, a sardinha e outros peixes de águas frias, a chia
e a linhaça. Alimentos ricos em gorduras monoinsaturadas como o abacate e o azeite também
são ótimas opções.
Macronutrientes para evitar
É importante reduzir o consumo de fontes de carboidratos com alto índice e taxa
glicêmica, como o pão branco, a batata, a massa e o arroz branco. Isto porque eles podem
levar a picos de insulina que em excesso favorecem desde o ganho de peso até o diabetes.
Quanto à proteína, é importante não abusar do consumo da carne vermelha. Ingerir
cerca de 300 gramas deste alimento por semana já é o suficiente. O excesso de carne vermelha
leva ao maior consumo de gorduras saturadas que aumenta o risco de problemas
cardiovasculares, entre outros.
Em relação às gorduras o mesmo cuidado com a saturada é válido. Evite exagerar no
consumo de fontes de gorduras saturadas, principalmente as carnes vermelhas gordurosas e o
leite integral, entre outros.
Micronutrientes
Entre os micronutrientes temos os minerais e as vitaminas, o que resulta em dezenas
de substâncias essenciais para a manutenção da vida. Alguns bons exemplos de vitaminas são:
vitamina A, importante para a visão e crescimento e que é encontrada em ovos, cereais
fortificados, leite, cenoura, entre outros, vitaminas do complexo B, grandes aliadas do cérebro
e que são encontradas principalmente em carnes, leite e ovos, e vitamina C, que melhora a
imunidade e pode ser encontrada nas frutas como kiwi, laranja e acerola.
Quanto aos minerais, eles se dividem entre macromineais, que precisamos ingerir em
grandes quantidades, como o cálcio, e os elementos traços, que precisamos de pequenas
porções, como o boro. Exemplos de macrominerais são o ferro, que previne anemia, é bom
para o coração e pode ser encontrado em carnes, e o cálcio, aliado dos ossos e dentes que está
presente principalmente nos laticínios.
Como existem diversos micronutrientes, a melhor maneira de saber que está ingerindo
quantidades suficientes deles é manter sempre uma grande variedade na dieta. Procure
consumir todos os grupos alimentares e seguir o conceito de variabilidade alimentar que
sugere que a sua dieta abranja ao menos 30 alimentos. Produtos alimentares, como embutidos,

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Atitudes que garantem a alimentação saudável


Para ter uma alimentação saudável é importante que ela seja muito variada e conte
com todos os grupos alimentares. Seguir o conceito de variabilidade alimentar, que sugere que
a sua dieta abranja ao menos 30 alimentos, é uma boa ideia. Lembrando que produtos
alimentares, como embutidos, bolachas recheadas, entre outros, não entram na conta.
Outro cuidado importante está na escolha dos alimentos. Em relação aos carboidratos
é importante priorizar os complexos, como pães integrais, arroz e massas integrais. Já quando
falamos de gorduras, as fontes de gorduras insaturadas devem ser ingeridas em maior
quantidade, como as oleaginosas, o azeite, o abacate, o salmão e a chia. Quanto às proteínas,
vale priorizar as versões magras, como peixes, aves, carnes vermelhas com pouca gordura e
aquelas de origem vegetal, como feijão, lentilhas e soja.
O papel da água
A água é essencial para o transporte de nutrientes no organismo e a hidratação. A
orientação é ingerir 30 ml de água por quilo de peso no dia, o que equivale a cerca de dois ou
três litros de água por dia. A água não deve ser substituída por refrigerantes, sucos,
especialmente os industrializados, e muito menos bebidas alcoólicas.
Sugestões de cardápio para alimentação saudável
Abaixo vemos a distribuição calórica por refeição baseada em uma dieta de 2000 kcal,
composta por 6 refeições diárias.

Refeição Sugestão

Invista em frutas, cereais, pães integrais e oleaginosas. Para beber: sucos naturais,
Café da
água de coco, chás, leite ou café. Um café da manhã ideal pode ter 20% do
manhã
consumo diário, cerca de 400 kcal.

Esta refeição deve ser leve e rápida, com alimentos de baixo índice glicêmico
Lanche da (devagar absorção). Invista em frutas, oleaginosas, alimentos naturais e integrais.
manhã Para beber: sucos naturais, chás ou água de coco. O lanche da manhã ideal pode
ter 5% do consumo diário, cerca de 100 kcal.

O prato recomendado para o almoço é dividido em quatro partes: duas partes


Almoço preenchidas com saladas e legumes, uma parte com fontes de carboidrato e uma
parte com fontes de proteína. Para beber: sucos naturais ou chás. O almoço ideal

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pode ter 30% do consumo diário, cerca de 600 kcal.

Faça lanches que contenham carboidrato, proteína e gordura boa. Dê preferência


Lanche da aos alimentos naturais e integrais. Outras boas sugestões são as frutas secas,
tarde cereais ou castanhas. Para beber: café, chás ou iogurtes. O lanche da tarde pode
ter 15% do consumo diário, cerca de 300 kcal

Carboidratos, proteínas (de digestão simples), gorduras, vitaminas e minerais


devem ser fornecidos adequadamente. Frutas e legumes são bons alimentos para
Jantar
essa refeição. Para beber: sucos naturais e chás. A janta pode ter 25% do consumo
diário, 500 kcal

Escolha um lanche rico em proteína. se quiser, pode adicionar uma fruta, que é
Ceia um carboidrato leve ou, no máximo, 1 torrada integral. A ceia pode ter 5% do
consumo diário, 100 kcal

Este exemplo pode variar de acordo com os hábitos alimentares e necessidades de


cada indivíduo, mas a partir dele podemos observar que não se deve restringir a alimentação
comendo muito pouco em alguns períodos e exagerando em outros.
Alimentos menos saudáveis
Doces, bolos, brigadeiro, alimentos industrializados e ricos em sódio, temperos
prontos ente outros precisam ser evitados.
Alimentos que possuem grandes quantidade de gorduras saturadas e trans também
devem ser evitados, especialmente as trans que não devem passar de dois gramas por dia. Os
alimentos ricos em gorduras saturadas são as carnes vermelhas, especialmente as mais
gordurosas, o leite integral e seus derivados e os queijos amarelos.
Alguns exemplos de alimentos que possuem a gordura trans são: margarinas sólidas ou
cremosas, recheios de biscoitos, salgadinhos de pacote e congelados, como salgadinhos de
festa, ou pizza congelada, pastéis, macarrão instantâneo, sopas e cremes em pó, coberturas,
sorvetes, pães, alimentos pré-assados ou fritos, bolos, tortas, pipoca de micro-ondas, glacê
pronto para consumo, dentre outros alimentos industrializados.
Apesar de serem prejudiciais para a saúde, é difícil restringir completamente o
consumo deles. Saiba que isto não é necessário para manter uma alimentação saudável, basta
não fazer com que o consumo deles não seja algo constante na sua dieta. Por exemplo:

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considerando que uma pessoa faça 5 refeições por dia, o que equivale a 35 refeições por
semana. Se entre essas 35 refeições, 30 forem saudáveis e 5 não forem, isto provavelmente
não irá comprometer a saúde de uma pessoa saudável.

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REFERÊNCIAS
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Libertadora” de Paulo Freire, do livro “Introdução à Psicologia Escolar” organizado por
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia - Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra (Coleção Leitura), 1997.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da Liberdade. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 1980
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro; Paz e Terra, 2005
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saúde: conceitos e implicações para a saúde coletiva. Ciênc Saúde Coletiva. 2014;19(3):847-
52. http://dx.doi.org/10.1590/141381232014193.01572013
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RAMOS, Edla Análise ergonômica do sistema hiperNet buscando o aprendizado da
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Graduação m Engenharia Produção e Sistemas da UFSC. Novembro de 1996. Capítulo 4 -
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TANCREDI, F. B.; BARRIOS, S. R. L.; FERREIRA, J. H. G. Planejamento em saúde. São
Paulo: Edusp, 1998.
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Hino Nacional Hino do Estado do Ceará

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas Poesia de Thomaz Lopes


De um povo heróico o brado retumbante, Música de Alberto Nepomuceno
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Terra do sol, do amor, terra da luz!
Brilhou no céu da pátria nesse instante. Soa o clarim que tua glória conta!
Terra, o teu nome a fama aos céus remonta
Se o penhor dessa igualdade Em clarão que seduz!
Conseguimos conquistar com braço forte, Nome que brilha esplêndido luzeiro
Em teu seio, ó liberdade, Nos fulvos braços de ouro do cruzeiro!
Desafia o nosso peito a própria morte!
Mudem-se em flor as pedras dos caminhos!
Ó Pátria amada, Chuvas de prata rolem das estrelas...
Idolatrada, E despertando, deslumbrada, ao vê-las
Salve! Salve! Ressoa a voz dos ninhos...
Há de florar nas rosas e nos cravos
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido Rubros o sangue ardente dos escravos.
De amor e de esperança à terra desce, Seja teu verbo a voz do coração,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido, Verbo de paz e amor do Sul ao Norte!
A imagem do Cruzeiro resplandece. Ruja teu peito em luta contra a morte,
Acordando a amplidão.
Gigante pela própria natureza, Peito que deu alívio a quem sofria
És belo, és forte, impávido colosso, E foi o sol iluminando o dia!
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Tua jangada afoita enfune o pano!
Terra adorada, Vento feliz conduza a vela ousada!
Entre outras mil, Que importa que no seu barco seja um nada
És tu, Brasil, Na vastidão do oceano,
Ó Pátria amada! Se à proa vão heróis e marinheiros
Dos filhos deste solo és mãe gentil, E vão no peito corações guerreiros?
Pátria amada,Brasil!
Se, nós te amamos, em aventuras e mágoas!
Porque esse chão que embebe a água dos rios
Deitado eternamente em berço esplêndido, Há de florar em meses, nos estios
Ao som do mar e à luz do céu profundo, E bosques, pelas águas!
Fulguras, ó Brasil, florão da América, Selvas e rios, serras e florestas
Iluminado ao sol do Novo Mundo! Brotem no solo em rumorosas festas!
Abra-se ao vento o teu pendão natal
Do que a terra, mais garrida, Sobre as revoltas águas dos teus mares!
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores; E desfraldado diga aos céus e aos mares
"Nossos bosques têm mais vida", A vitória imortal!
"Nossa vida" no teu seio "mais amores." Que foi de sangue, em guerras leais e francas,
E foi na paz da cor das hóstias brancas!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!

Brasil, de amor eterno seja símbolo


O lábaro que ostentas estrelado,
E diga o verde-louro dessa flâmula
- "Paz no futuro e glória no passado."

Mas, se ergues da justiça a clava forte,


Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!

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