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COMANDO DA AERONÁUTICA

ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁUTICA

MANUTENÇÃO PREVENTIVA E
SUPERESTRUTURA BÁSICA DE VIATURAS DE
BOMBEIRO

SUPERESTRUTURA BÁSICA DE VIATURAS DE


BOMBEIRO
VOLUME ÚNICO

SBO

CFS

IMPRESSO NA SUBSEÇÃO GRÁFICA DA EEAR


MINISTÉRIO DA DEFESA
COMANDO DA AERONÁUTICA
ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁUTICA

SUPERESTRUTURA BÁSICA DE VIATURAS


DE BOMBEIRO

Apostila da disciplina Manutenção Preventiva e


Superestrutura Básica de Viaturas de Bombeiros, da
Especialidade SBO, do Curso de Formação de Sargentos.

Elaborador: Grupo de Trabalho SBO - 2013

Grupo de Trabalho SBO


Superestrutura Básica de Viaturas de Bombeiros .-
Guaratinguetá: SSDM, 2013 – (VÚ) 1° Edição.

Edição não consumível

1.Serviço de Bombeiro – Estudo e ensino.

360 CDD-363.37

GUARATINGUETÁ, SP
2013
DOCUMENTO DE PROPRIEDADE DA EEAR
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proibida a reprodução total ou parcial deste documento, utilizando-
se de qualquer forma ou meio eletrônico ou mecânico, inclusive
processos xerográficos de fotocópias e de gravação, sem a
permissão, expressa e por escrito, da Escola de Especialistas de
Aeronáutica - Guaratinguetá - SP.
SUMÁRIO

Introdução........................................................................................................................01
1 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS................................................................................03
1.1 Chassis...........................................................................................................03
1.2 Deslocamento.................................................................................................03
1.3 Visibilidade....................................................................................................03
1.4 Terreno...........................................................................................................04
1.5 Pneus..............................................................................................................05
1.6 Viaturas do SISCON com superestrutura......................................................05
2 SUPERESTRUTURA..................................................................................................13
2.1 Conceituação..................................................................................................13
2.2 Tanque de Água.............................................................................................13
2.3 Sistemas de Abastecimentos..........................................................................13
2.4 Tanque de Líquido Gerador de Espuma (LGE).............................................14
2.5 Bomba de incêndio........................................................................................15
2.6 Sistema de Arrefecimento do Motor..............................................................22
2.7 Agentes extintores auxiliares (complementares)...........................................22
2.8 Manutenção dos Componentes da Superestrutura.........................................23
2.9 Sistemas de acionamento da superestrutura...................................................23
3 NOÇÕES DE HIDRÁULICA......................................................................................31
3.1 Princípio de Bernoulli....................................................................................35
3.2 Aplicação dos conceitos da física nas atividades de bombeiro.....................37
3.3 Expansão dos líquidos...................................................................................39
Glossário..........................................................................................................................40
Conclusão........................................................................................................................41
Referências......................................................................................................................42
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INTRODUÇÃO

Combatente do fogo!
Com o advento do avião e o propósito de torná-lo um excelente meio de transporte,
visando encurtar a distância entre as pessoas, várias infraestruturas e equipamentos foram criados
e desenvolvidos para viabilizar sua aplicação na vida prática.
Entretanto o ser humano rapidamente percebeu a grande aplicabilidade da aeronave como
item bélico e passou a empregá-la com eficiência para sobrepujar o inimigo no campo de
batalha, estabelecendo grande vantagem no conflito. Com o passar dos anos, várias tecnologias
foram sendo incorporadas às aeronaves, porém as viaturas de combate a incêndio ficaram em
segundo plano e não acompanharam da mesma forma a evolução da aviação.
Somente durante a segunda guerra mundial sentiu-se a necessidade de criar equipamentos
específicos e mais eficazes para debelar incêndios aeronáuticos, tendo em vista a grande
incidência de pousos forçados das aeronaves que retornavam avariadas dos combates e que,
muitas vezes, culminava em acidentes aéreos com perdas de vidas humanas.
Desde então novas técnicas, equipamentos e carros contraincêndio foram desenvolvidos e
modernizados para atender a crescente evolução tecnológica da aviação, visando resguardar os
tripulantes e passageiros que utilizam esse meio de transporte pelo mundo afora.

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1 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS

1.1 Chassis

A escolha de um chassi adequado é essencial para a construção de uma viatura de


bombeiro que atenda todas as necessidades exigidas para as diversas áreas de atuação do Sistema
Contraincêndio da Aeronáutica, quer sejam atividades de combate a incêndio, resgate e
salvamento, ou de apoio às atividades aéreas. Para uma viatura de bombeiro o motor e o chassi
deverão ser escolhidos de forma que seja possível transportar uma vez e meia o seu peso total.
Isso se faz necessário para que ambos não trabalhem no limite máximo de sua capacidade,
evitando assim, o desgaste prematuro.

1.2 Deslocamento

Uma viatura de bombeiro tem que ser dotada de condições que permitam atender a
relação PESO X POTÊNCIA, principalmente de um motor adequado. Tais exigências constam
da tabela de requisitos da National Fire Protection Association - NFPA 414, quando da escolha
de um chassi para esta finalidade.
Para oferecer uma condição segura de rodagem, a suspensão da viatura deve ser bem
dimensionada em função da carga a ser transportada, distribuição de peso por eixo e centro de
gravidade do veículo, a fim de proporcionar à viatura uma estabilidade satisfatória que não venha
a comprometer seu deslocamento.

1.3 Visibilidade

Outro fator importante na escolha do chassi e no desenvolvimento do projeto é a


visibilidade que deverá ter o motorista para trafegar com segurança, de forma que consiga
perceber a tempo qualquer obstáculo no trajeto, bem como observar prontamente qualquer sinal
no ambiente que seja relativo a missão que está executando, tais como indícios de focos de
incêndio por exemplo.
Nos carros contraincêndio (CCI) este aspecto é essencial para permitir que o motorista opere o
canhão do interior da cabine, de forma que consiga ter uma visibilidade privilegiada do teatro de
operações (visão total em um ângulo de 180 graus) a fim de ter condições de aplicar os agentes
extintores com eficiência.

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1.4 Terreno

As viaturas devem satisfazer as condições de rodagem em todo e qualquer tipo de terreno


(QT) e para tal, é imprescindível que ele tenha um sistema que permita obter tração total (em
todos os eixos) e sistema para bloqueio dos diferenciais. O carro limpa-pistas (CLP) e a maioria
dos carros auto-bomba tanque (ABT) não dispõem desses recursos.

1.4.1 Tração

A tração é um recurso que permite as viaturas transpor obstáculos com maior facilidade
(buracos, planos inclinados, ondulações, etc.).
A tração normal das viaturas classificadas como pesadas (caminhões) e como médio
porte (pick-ups) utilizadas no Sistema Contraincêndio da Aeronáutica (SISCON) é 4 x 2 com
tração no eixo traseiro. Essas configurações são utilizadas em situações normais de serviço em
vias pavimentadas.
Os carros de resgate e salvamento (CRS), os carros de apoio ao chefe de equipe (CACE)
e os carros contraincêndio (CCI) necessitam de um sistema que permita a tração em todos os
eixos (4x4, 6x6, 8x8,...), de modo que possibilite trafegar fora das vias pavimentadas.
A força de tração no eixo dianteiro é obtida mediante o suo de uma caixa de transferência
de força.

➢ Caixa de transferência
Contém um conjunto de engrenagens que envia a rotação do motor ao eixo traseiro
(motriz). E quando é acionada, além de continuar enviando rotação para o eixo traseiro, passa a
enviar, também, para o eixo dianteiro (figura 1).

Figura 01

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1.4.2 Sistema de Bloqueio do Diferencial

O bloqueio de diferencial é um recurso que permite a viatura se deslocar em terrenos


instáveis (lama, atoleiro, charco, etc.
Os CCI necessitam de um sistema de bloqueio de diferencial (traseiro e/ou dianteiro).
Este sistema, quando acionado, elimina a função do diferencial, fazendo com que as rodas girem
igualmente, sem ocorrer compensação, quando o veículo realiza curvas. Porém, mesmo estando
o diferencial bloqueado, estando a viatura no terreno instável, é possível fazer pequenas curvas.

Atenção:
➢ A tração e o bloqueio de diferencial são dispositivos que devem ser acionados antes da
viatura entrar num terreno considerado instável e desligados imediatamente após sair
dele.
➢ Nunca realize curvas em terrenos firmes quando o bloqueio está acionado, pois
causará sérios danos à viatura.

Observação: O bloqueio de diferencial pode ser utilizado juntamente com a Tração 4 x 4.

1.5 Pneus

Os pneus utilizados nas viaturas de bombeiro devem ser compatíveis com o chassi e
possuírem bandas de rodagem híbridas, de forma a atender aos requisitos de trafegar em estradas
asfaltadas e fora delas. Estes requisitos aplicam-se às necessidades e às condições de solo
encontradas nas cercanias dos aeródromos. Devem ser consideradas as condições de pavimento
com pouca aderência, atoleiros, e rotas com acúmulo de detritos ou materiais que provoquem
riscos de derrapagens. Os desenhos da banda de rodagem devem ser de tal forma que permitam a
rápida liberação dos detritos retidos em seus sulcos, evitando que os mesmos sejam levados para
as áreas de movimentação de aeronaves.

1.6 Viaturas do SISCON com superestrutura

1.6.1 Carro de Resgate e Salvamento (CRS)

Viatura especial de apoio projetada em conformidade com a Norma Brasileira (NBR


14561) e com as especificações emitidas pelo OCSISCON, para operações de resgate e
salvamento. A sua superestrutura possui compartimentos onde estão acondicionados

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equipamentos e materiais para arrombamento, proteção individual, atendimento pré-hospitalar e


um sistema de iluminação com todos os acessórios para seu pleno funcionamento.
O primeiro CRS do SICON, montando num chassi Land Rover (figura 2), possui em sua
superestrutura uma cabine traseira específica para transportar a equipe de resgate.

Figura 02- CRS LAND ROVER

O SISCON possui ainda outros dois tipos de CRS, um montado num chassi IVECO
(figura 3) e outro num chassi AGRALE (figura 4).

Figura 03- CRS IVECO

Figura 04- CRS AGRALE

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Os CRS do SISCON possuem os seguintes equipamentos incorporados à superestrutura:


➢ Guincho: o equipamento destinado a realizar trabalho de tração de cargas,
respeitando-se o seu limite de sua capacidade.
➢ Sistema de iluminação: sistema provido de um moto-gerador, torre e holofotes. A
torre se estende acima da superestrutura da viatura e os holofotes podem ser
direcionados em 360º, proporcionando uma iluminação mais eficiente da área de
emergência.

1.6.2 Carro Limpa-Pista (CLP)

Viatura de apoio desenvolvida especificamente para apoiar as atividades de prevenção de


acidentes aeronáuticos (figura 5). O CLP possui em sua superestrutura uma caçamba, um motor
estacionário à diesel, uma turbina para o sistema de sucção e mesa de sucção. Os modelos mais
modernos possuem ainda uma barra magnética localizada próximo ao parachoque traseiro com a
finalidade de recolher detritos metálicos.
Sua finalidade é o recolhimento de detritos (F.O.D.) na área de movimentação do
aeródromo que possam danificar as aeronaves e ocasionar graves problemas que podem culminar
em um acidente.

Figura 05- CARRO LIMPA-PISTA (CLP)

➢ Caçamba: destinada a acumular detritos succionados pelo sistema de aspiração.


Possui uma tampa traseira para retirada dos detritos recolhidos durante a limpeza.
Após o serviço a caçamba é basculada por um pistão hidráulico e a sujeira desliza até a
abertura traseira, facilitando o recolhimento dos dejetos e limpeza da caçamba.

➢ Motor estacionário: é responsável pelo funcionamento operacional do sistema. A


rotação deste motor faz girar a turbina de sucção. É operado por um painel específico

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localizado na cabine do motorista, onde estão todos os comandos para operação do


sistema de limpeza da viatura.
➢ Turbina: mecanismo que produz a ação de sucção necessária para sugar os detritos
durante o funcionamento do motor. Está conectada ao motor por meio de polias e
correias por onde a rotação é transferida.
➢ Mesa de sucção: durante a operação de aspiração, a mesa é posicionada próximo ao
pavimento. Com o deslocamento do CLP, a mesa succiona os detritos. Ela possui uma
bomba hidráulica que produz a rotação da escova giratória localizada na sua parte
inferior. Esta escova tem a finalidade de melhorar a eficiência da mesa, girando no
sentido contrário do deslocamento do CLP, varrendo os detritos e lançando-os para a
entrada de sucção da mesa.

Observação: O SICON possui ainda, em algumas Organizações Militares (OM), varredeiras


(figura 6) puxadas por tratores. Elas possuem a mesma finalidade do CLP.

Figura 06- VARREDEIRA

1.6.3 Auto Bomba-Tanque (ABT)

É um veículo especial de apoio cujas características operacionais estão em conformidade


com a Norma Brasileira (NBR 14096) e com as especificações emitidas pelo OCSISCON. É uma
viatura dotada de uma superestrutura contraincêndio, com bomba centrífuga, bomba de escorva,
conjunto de tubulações, tanque de água com grande capacidade (de 5.000 a 14.000 litros) e
diversos compartimentos para material de incêndio, arrombamento e EPI. Sua finalidade é
prover um meio de transporte de água até o local da operação, evitando a interrupção da
expedição do agente extintor e o consequente retorno dos CCI até o ponto de reabastecimento
(figura 7).

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Figura 07- ABT

1.6.4 Carro Contraincêndio (CCI)

É um veículo especial projetado especificamente para cumprir as missões de salvamento


e combate a incêndio em emergências aeronáuticas e outras emergências contempladas nos
Planos Contraincêndio e de Emergência do Aeródromo.
No que tange à classificação de CCI, o Comando da Aeronáutica (COMAER) adota as
exigências da National Fire Protection Association (NFPA) e da Organização Internacional de
Aviação Civil (OACI).
Para que uma viatura seja considerada Carro Contraincêndio, a viatura tem que atender
vários requisitos, tais como: rápida aceleração, grande visibilidade, condições para trafegar em
qualquer terreno, facilidade de manutenção e operação, entre outras.
O motor do CCI deve ter potência, torque e velocidade para atender e manter todas as
características veiculares de desempenho. A tração em todas as rodas desses veículos deve
incorporar uma tração para os eixos dianteiros e traseiros que seja engatada todas às vezes
durante o serviço no aeroporto. O câmbio deve ser automático e a rodagem da viatura deve ser
simples, com todos os aros e pneus de tamanho idêntico e mesmo desenho de banda de rodagem.
Os CCI segundo a NFPA são classificados em dois tipos a saber:

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1.6.4.1 CCI de Agentes Combinados (AC)

Os CCI AC (figuras 8 e 9) são divididos em quatro classes:


DESIGNAÇÃO ÁGUA (l) PÓ QUÍMICO (kg)
AC-1 400 a 800 exclusive 100
AC-2 800 a 1.200 exclusive 100
AC-3 1.200 a 2.000 exclusive 100
AC-4 2.000 a 3.000 exclusive 200
Tabela 01

Os CCI AC devem possuir um tempo máximo de aceleração de 0 a 80km/h, variando


entre 25 a 30 segundos, de acordo com a capacidade do veículo.

Figura 08- AC-1

Figura 09- AC-3

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1.6.4.2 CCI de Ataque Principal (AP)

Os CCI AP (figuras 10 e 11) são divididos em sete classes:


DESIGNAÇÃO ÁGUA (l) PÓ QUÍMICO (kg)
AP-1 3.000 a 5.000 exclusive 100
AP-2 5.000 a 9.000 exclusive 100
AP-3 9.000 a 11.000 exclusive 204
AP-4 11.000 a 15.140 exclusive 204
AP-5 15.140 a 18.900 exclusive 204
AP-6 18.900 a 22.710 exclusive 204
AP-7 22.710 ou mais 204
Tabela 02

OS CCI AP devem possuir tempo máximo de aceleração de 0 a 80km/h, variando entre


23 a 50 segundos, de acordo com a capacidade do veículo.

Figura 10- AP 2

Figura 11- AP 2A

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2 SUPERESTRUTURA

2.1 Conceituação

Para efeito deste estudo, conceituaremos que todo o conjunto de sistemas e seus
componentes destinados ao pleno funcionamento operacional de salvamento, extinção de
incêndio e apoio a atividade aérea, fixados sobre um chassi, receberá o nome de
SUPERESTUTURA.

2.2 Tanque de Água

O tanque de água de um CCI normalmente é fabricado em chapa de aço inoxidável,


polipropileno ou chapa de aço carbono e, nesse caso, receberá tratamento anti-corrosivo no seu
interior. Deverá possuir quebra-ondas para diminuir o movimento da carga líquida durante o
deslocamento da viatura, conferindo maior estabilidade ao veículo.
O tanque de água deverá ser provido de suspiro, cuja finalidade é permitir que o ar
existente dentro do tanque possa sair durante o abastecimento por rede de hidrantes (pressão) ou
sucção, e também permitir a saída do excesso de água quando o tanque encher após estas
operações, evitando o estufamento ou rompimento das laterais do tanque. Para isso os suspiros
devem estar limpos e desobstruídos.
O suspiro serve também para que o ar possa entrar durante a operação de expedição.
O tanque de água deverá possuir um dreno, com a finalidade de retirar o líquido em casos
de manutenção ou limpeza.
As características da construção do tanque de água de um CCI e ABT são praticamente
idênticas diferindo apenas algumas peculiaridades de distribuição da carga líquida do tanque
sobre o chassi.

2.3 Sistemas de Abastecimentos

Os CCI e ABT devem apresentar diferentes tipos de sistemas para abastecimento de água,
sendo que as Seções Contraincêndio devem oferecer condições para que todos esses métodos
possam ser realizados.

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➢ Gravidade (ou queda livre): Quando o abastecimento é feito através de um ponto


elevado (caixa d'água), usando a própria queda do líquido. Este método também é
empregado para abastecimento do tanque de LGE e dos reservatórios de pó químico
(PQ) dos CCI.
➢ Pressão: Quando o abastecimento é feito por meio de introdução de água sob pressão.
O abastecimento pode ser feito a partir de hidrantes ou de outra viatura. Nestes casos,
é necessário respeitar o limite de pressão de enchimento do tanque estipulado pelo
fabricante.
➢ Sucção: Quando o abastecimento é feito por meio da sucção de água de um local
abaixo da localização do CCI (cisterna, rio, lago, etc.). Nesta operação é utilizado o
sistema de escorva e a bomba de incêndio do próprio CCI. Para isso, utiliza-se um
mangote de sucção acoplado ao bocal de admissão da viatura. Na extremidade que
entra em contato com a superfície d’água conecta-se um filtro provido de válvula de
retenção. O filtro tem a função de impedir a entrada de detritos que possam danificar a
bomba e a válvula de retenção tem a finalidade de evitar o retorno da água succionada,
mantendo assim, a coluna d´água.

2.4 Tanque de Líquido Gerador de Espuma (LGE)

O tanque de LGE de um CCI normalmente é fabricado em chapa de aço inoxidável ou


chapa de aço carbono e, neste último caso, receberá tratamento anti-corrosivo no seu interior.
Deverá possuir quebra-ondas para diminuir o movimento da carga líquida durante o
deslocamento da viatura, conferindo maior estabilidade ao veículo.
O tanque de LGE deverá ser provido de um suspiro, cuja finalidade é permitir que o
excesso de agente extintor possa sair e também para que o ar possa entrar durante a expedição.
Também deverá possuir um dreno, com a finalidade de retirar o agente extintor, em casos de
manutenção ou limpeza.
O abastecimento do tanque de LGE é feito por gravidade. Algumas viaturas mais
modernas possuem, também, um sistema de enchimento por pressão.
A quantidade de LGE, neste tanque, tem que ser suficiente (no mínimo), para permitir a
expedição de 02 (dois) tanques de água, ou seja, ao utilizar completamente um tanque de água,
deverá restar ainda, no mínimo, uma quantidade de LGE referente à metade da capacidade do
total do tanque de LGE.
Observação: o ABT não possui tanque de LGE.

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2.5 Bomba de incêndio

Possui a função de expelir líquidos, seja de baixa pressão estática (quando o líquido está
localizado abaixo do nível da bomba) ou de maior pressão estática (quando o líquido está
localizado acima do nível da bomba). Isto pode ser conseguido da seguinte maneira:
➢ Fazendo atuar uma força sobre o líquido, através de um pistão de movimento alternado
ou rotativo (bomba a pistão);
➢ Pela transmissão de trabalho mecânico ao líquido, através de aletas (palhetas)
giratórias (bomba centrífuga); e
➢ Fazendo atuar sobre o líquido, duas engrenagens interligadas parar expeli-lo (bomba
de engrenagem).

2.5.1 Tipos de Bomba


2.5.1.1 Bomba a Pistão
São bombas de deslocamento positivo e auto-escorvante. Produzem alta pressão e seu
funcionamento pode ser comparado ao de uma seringa. O pistão puxa e/ou empurra o líquido/ar.
Assim, quando o pistão se movimenta, ora puxa ora empurra o líquido repetidas vezes (figura
12).

Figura 12- BOMBA A PISTÃO

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2.5.1.2 Bomba Rotativa (de Engrenagem)

É de deslocamento positivo e auto-escorvante, consistindo em 2 (duas) engrenagens


perfeitamente ajustadas, num alojamento fechado. Ambas engrenagens podem receber força de
movimento, ou apenas uma que movimenta a outra. O número de dentes varia de acordo com o
fabricante, mas a maioria das bombas possui 3, 6 ou 8 dentes (figura 13).
Uma engrenagem gira no sentido anti-horário, enquanto a outra no sentido horário.
A água entra pelo tubo de admissão (introdução) localizado na base e preenche o espaço
entre os dentes da engrenagem e o corpo da bomba. Conforme as engrenagens vão girando, a
água é forçada para cima, em direção ao tubo de descarga (expedição). O acoplamento dos
dentes e a vedação existente em cada dente da engrenagem previne o retorno da água ao tubo de
admissão durante a rotação.
A bomba rotativa se desgasta pelo uso, o que ocasiona uma pequena folga entre as
engrenagens e o corpo da bomba, permitindo que parte da água retorne por entre os dentes das
engrenagens ocasionando perda de pressão.

Figura 13- BOMBA DE ENGRENAGEM

As bombas de deslocamento positivo, tais como as rotativas (engrenagem) e as de pistão,


têm a capacidade de recalcar tanto ar quanto água; portanto, não necessitam de sistema separado
de escorva.

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2.5.1.3 Bomba Centrífuga

Opera pelo princípio da força que tende a impelir um objeto para fora do centro de
rotação, ou seja, a força centrífuga (figura 14).
A tendência criada pela rotação dos rotores da bomba é convertida em pressão no fluido
que está sendo bombeado.
A pressão aumenta na razão quadrada do giro dos rotores; exemplo: se a velocidade de
rotação dos rotores for dobrada, a pressão aumentará 4 (quatro) vezes.
As bombas centrífugas dependem da ação giratória dos rotores para pressurizar a água.
Elas não têm a capacidade de extrair o ar por si só; portanto, não são de deslocamento positivo.
Assim, as bombas centrífugas necessitam de um sistema de escorva para succionar a água.

Figura 14- BOMBA CENTRÍFUGA

➢ Rotor ou impulsor - É o dispositivo da bomba centrífuga que se movimenta, a fim de


impelir a água. Essencialmente, o rotor consiste de palhetas curvadas montadas em
discos, as quais forçam a água a girar em torno deles, de modo que seja lançada para
fora, em alta velocidade, pela ação da força centrífuga, ou seja, a força exercida do
centro para a periferia. A água do rotor é lançada através de passagens divergentes,
convertendo a energia da alta velocidade em pressão.
➢ Estágios - Representam a quantidade de rotores numa bomba centrífuga. Quando
possuem mais de um, são dispostos em série, isto é, um em seguida a outro; cada
impulsor desenvolve parte da pressão total da bomba. Quando a centrífuga bomba
possui um rotor, diz-se que ela é possui um estágio. Quando possui dois rotores, dois
estágios, e assim por diante.

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A bomba de incêndio é o mais importante componente da superestrutura de um CCI,


sendo a responsável direta pelo funcionamento de toda a operação de expedição e sucção.
A bomba ideal para uso nos CCI é a do tipo centrífuga, devido a eficiência já
comprovada, sendo desaconselhável para esta atividade o uso de bomba de outro tipo.
A maioria das bombas de incêndio usadas nas viaturas de bombeiro é do tipo centrífuga
de duplo estágio. Devido a isto, ela será abordada mais detalhadamente
As bombas centrífugas possuem registros denominados drenos, a fim de possibilitar a
retirada de água acumulada do seu interior, bem como das tubulações de água.

2.5.2 Terminologia aplicada às bombas

2.5.2.1 Vazão da bomba.

A vazão da bomba de incêndio deve ser igual ou superior ao somatório das vazões de
cada expedição usadas simultaneamente (do(s) canhão(ões), linha(s) de expedição e dispersores).

2.5.2.2 Cavitação

Ocorre quando a vazão da água que sai da bomba fica maior do que a admissão, ou seja, a
quantidade de água que está entrando na bomba não é suficiente para manter a vazão de
expedição. Isto faz com que ocorra a formação de bolhas de ar no corpo da bomba e a
consequente perda de eficiência (a pressão nas linhas de mangueira diminui e o jato d’água
oscila), prejudicando a operação de combate. A bomba que sofre cavitação sucessivamente sofre
desgaste prematuro, além de deixar os operadores de linha em situação de risco.
Os seguintes sinais indicam que a bomba pode estar cavitando:
➢ A pressão do manômetro permanece inalterada mesmo diante a elevação da rotação do
motor;
➢ Jatos d’água intermitentes;
➢ Vibrações da bomba;
➢ Ruídos diferentes da bomba, e
➢ Pressão do manômetro oscilando com a rotação do motor constante.

A cavitação da bomba pode ser corrigida com a diminuição na demanda d’água, através
da redução da rotação do motor e consequente redução da rotação da bomba.

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2.5.2.3 Pressão de trabalho

É a pressão indicada pelo fabricante na qual a bomba atinge sua melhor performance sem
sofrer esforços que podem danificá-la. A pressão de trabalho, dependendo do projeto de
fabricação, normalmente varia de 10,5 bar a 14 bar.

2.5.3 Sistemas e dispositivos que complementam a bomba

2.5.3.1 Válvula de Alívio (By Pass utilizado na FAB)

É uma válvula de retorno automática, cuja finalidade é estabilizar (aliviar) a pressão da


bomba quando uma válvula de descarga (expedição) ou um esguicho for fechado durante a
operação, sem que ocorra a redução da rotação do motor.
Quando a velocidade da água na tubulação é subitamente reduzida, como no caso do
fechamento rápido de um esguicho, ocorrem elevações perigosas de pressão. Caso a pressão
excessiva não seja controlada adequadamente, pode causar o rompimento da mangueira, sérias
avarias na bomba de incêndio ou acidentes à guarnição, principalmente se o bombeiro estiver
trabalhando em escada ou em outro lugar em que o manejo da mangueira se torne mais difícil.
Por esta razão as bombas de incêndio possuem um dispositivo automático de segurança
(válvula de retorno) que controla a elevação de pressão.

2.5.3.2 Sistema de controle de descarga (automático e manual).

O controle de rotação do motor da viatura permite controlar a rotação da bomba de


incêndio e, por conseguinte, a sua descarga.
O Controle de rotação do motor pode ser obtido através de um dispositivo automático ou
manual.
➢ Controle automático (pré-regulado) – Com um único acionamento, permite a
elevação automática da rotação da bomba, obtendo a pressão e vazão ideal de trabalho
rapidamente.
➢ Controle manual – Permite que o operador eleve gradativamente a rotação da bomba
até obter a pressão e vazão ideal de trabalho ou a pressão que ele deseja.

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2.5.3.3 Sistema de acoplamento da bomba de incêndio

O sistema de acoplamento da bomba de incêndio pode ser efetuado através de tomada de


força mecânica ou hidráulica, ou através de divisor de potência, conforme modelo da viatura.
Estes dispositivos possuem engrenagens sincronizadas que permitem transferir a força do motor,
por intermédio da caixa de marchas, para a bomba de incêndio.

➢ Tomada de força mecânica (Power Take Off – PTO mecânico) - Contém um


conjunto de engrenagens destinado a transferir a rotação do motor, vinda da caixa de
marchas, para bomba de incêndio (figura 15).

Figura 15- PTO MECÂNICO

➢ Tomada de força hidráulica (Power Take Off – PTO hidráulico)- Contém um


conjunto de engrenagens destinado a transferir a rotação do motor, vinda da caixa de
marchas, para uma bomba de óleo hidráulico. O fluxo de óleo dessa bomba é que
aciona a bomba de incêndio (figura 16).

Figura 16- PTO HIDRÁULICO

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➢ Divisor de potência - Contém um conjunto de engrenagens destinado a dividir a


rotação do motor, transferindo uma parte para a bomba de incêndio e outra para a
caixa de marchas (figura 17).

Figura 17- PTO DIVISOR DE POTÊNCIA

Observação: Alguns desses dispositivos funcionam como uma caixa multiplicadora, ou seja,
alteram a rotação oriunda do motor, em alguns casos para mais (são chamados de caixa
multiplicadora), outros para menos (divisor de potência).

2.5.3.4 Sistema de Escorvamento

Escorvamento é a operação que retira o ar contido no corpo da bomba de incêndio, da


tubulação (admissão e expedição) e mangote de sucção, produzindo assim a pressão negativa
necessária ao sistema. Desta forma a pressão atmosférica empurra a água do manancial através
do mangote de sucção, até bomba de incêndio.
O sistema de escorva de uma bomba centrífuga pode ser:
➢ Sistema de escorva por meio de bomba de deslocamento positivo (bomba de
escorva) – Utiliza uma bomba auxiliar (rotativa de engrenagem ou palhetas) que retira
o ar da tubulação permitindo a formação da coluna d’água até ocorrer a inundação da
bomba de incêndio. Estas bombas são lubrificadas com óleo de viscosidade SAE 30.
➢ Sistema de escorva por pressão negativa (“vácuo”) - Utiliza a pressão negativa do
tubo de admissão do motor, para reduzir a pressão interna do corpo da bomba; é nada
mais do que um tubo ligado entre o corpo da bomba e o tubo de admissão do motor,
com uma válvula de paragem automática entre ambos. Para prevenir a entrada de água
no motor, um pequeno tanque de segurança é instalado junto à válvula de paragem.
➢ Sistema de escorva por desvio de gases do escapamento - É um dispositivo que
canaliza os gases da combustão do motor através de um “Venturi” (tubo com um
estrangulamento ao centro, do qual deriva outro tubo de pequeno diâmetro),
construído numa câmara de ejeção.
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O tubo “Venturi” é ligado à bomba por um cano curto e de pequeno diâmetro. Como
os gases da combustão são forçados através do “Venturi”, há a produção de pressão
negativa parcial na câmara de ejeção, o que provoca o arrastamento do ar do interior
da bomba e, consequentemente, a redução da pressão interna.

2.5.3.4.1 Válvula de Escorva

A válvula de escorva é montada entre a bomba de escorvamento e a bomba principal (de


incêndio) e permanece sempre fechada, exceto quando o sistema está sendo escorvado.
A finalidade desta válvula é prevenir que a água alcance a bomba de escorva, enquanto a
bomba principal está sendo operada.
A válvula de escorva é necessária em todas as bombas centrífugas, independente do tipo
de sistema de escorvamento utilizado.
Nas maiorias dos sistemas, a válvula de escorva é operada manualmente; entretanto, em
alguns tipos, o acionamento é combinado.

2.6 Sistema Auxiliar de Arrefecimento do Motor

Geralmente as viaturas de bombeiro urbano possuem esse sistema, devido ao fato de seus
motores trabalharem por várias horas sem deslocamento (viatura parada). Para não ocorrer o
superaquecimento do motor, o sistema auxiliar de resfriamento permite que a água do tanque da
viatura circule pelo sistema de arrefecimento do motor por intermédio de um intercambiador de
calor, mantendo a temperatura dentro da faixa operacional. O sistema pode ser automático ou
manual. Alguns tipos de viaturas do SISCON possuem este sistema.

2.7 Agentes extintores complementares (auxiliares)

Os CCI são dotados de sistema de agentes extintores complementares (auxiliares), com a


finalidade ser empregado em conjunto com o agente principal (espuma), quando a situação
exigir. O agente complementar utilizado nos CCI é o pó químico do tipo BC.
O ABT, por ser um carro de apoio, possui apenas extintores portáteis em sua
superestrutura.

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2.7.1 Sistema de Pó Químico

Os CCI deverão possuir um sistema de pó químico, contendo pelo menos um reservatório


de pó, cuja capacidade esteja de acordo com as recomendações da "OACI" e "NFPA", adotadas
pelo COMAER para cada classe de CCI.
Para que o sistema de pó possa ser utilizado, há a necessidade do uso de um agente
expelente (propelente) que atue com eficácia e que tenha baixo teor de umidade. Neste caso o
agente recomendado é o Nitrogênio (Azoto).
O agente expelente (propelente) é armazenado em cilindros de alta pressão, de forma a
comportar uma quantidade suficiente para expelir todo o pó químico contido no reservatório,
bem como efetuar a limpeza do sistema, após o uso desse agente extintor.

2.8 Manutenção dos Componentes da Superestrutura

As viaturas do SISCON deverão ter a superestrutura e seus componentes de tal forma


distribuídos que possam facilitar o acesso a todas as partes vitais dos diversos sistemas. Observa-
se que a funcionalidade da superestrutura está diretamente ligada ao bom desempenho
operacional e a sua manutenção.

2.9 Sistemas de acionamento da superestrutura

Dependendo do fabricante as viaturas de bombeiro apresentam diferentes tipos de


sistemas de acionamento dos componentes da superestrutura:

2.9.1 Sistema Mecânico

É um sistema de acionamento direto no qual é utilizada a força do homem para


movimentar uma alavanca que atua diretamente numa válvula. Nos casos em que a válvula está
instalada em locais de difícil acesso, é necessário instalar outra alavanca de acionamento,
interligada à primeira por uma haste, em local de fácil acesso. É um sistema simples, de resposta
eficiente e imediata, que proporciona menor incidência de panes. Um exemplo desse sistema é o
comando de abertura da expedição CCI AC 3 Cimasa (figura 18):

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Figura 18- COMANDO MECÂNICO

O sistema mecânico pode utilizar a força motriz da viatura, através de engrenagens. Um


exemplo desse sistema é a tomada de força do CCI AC 3 Cimasa que transmite a rotação do
motor à bomba.

2.9.2 Sistema Elétrico

Utiliza a corrente elétrica oriunda da bateria da viatura. Ao comandar o dispositivo de


acionamento, a eletricidade percorre a fiação e irá atuar nas válvulas e equipamentos. Um
exemplo desse sistema é o joystick de comando do canhão de pára-choque do CCI AP-2
Rosenbauer Búfalo, que executa os comandos de abertura e fechamento da descarga do canhão,
bem como os movimentos direcionais e formato do jato de água (figura 19):

Figura 19- COMANDO ELÉTRICO

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2.9.3 Sistema Pneumático

Utiliza o ar comprimido acumulado no reservatório de ar da viatura. Ao comandar o


dispositivo de acionamento, o ar percorre a tubulação e irá atuar nas válvulas. Um exemplo desse
sistema são os comandos de abertura e fechamento das válvulas Tanque-Bomba, Bomba-Tanque,
Dosador, Proporcionador e Canhão do CCI AC 3 Cimasa da década de 90 (figura 20):

Figura 20- COMANDO ELÉTRICO

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2.9.4 Sistema Eletromagnético

Utiliza uma embreagem eletromagenética para transmitir a força de rotação do motor a


um equipamento. Exemplos desse sistema é o funcionamento da bomba hidráulica do guincho do
CCI AC 3 Cimasa e da bomba de escorva dos CCI AC 3 e AP 2 Cimasa (figura 21).

Figura 21- SISTEMA ELETROMAGNÉTICO

2.9.5 Sistemas combinados

São sistemas que combinam pelo menos 2 tipos de sistemas.

2.9.5.1 Sistema Eletropneumático

Sistema que utiliza a eletricidade e a pressão de ar da viatura. Basicamente, seu


funcionamento ocorre por meio do acionamento de um comando elétrico, que faz o acionamento
de uma válvula pneumática que, por sua vez, faz o acionamento de um atuador pneumático que
aciona uma válvula mecânica.
Um exemplo é o sistema de abertura e fechamento das válvulas tanque-bomba, bomba-
tanque, dosadora, proporcionadora, dispersadores, expedições e canhão do CCI AP 2 Rosenbauer
Búfalo (figura 22).
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Figura 21- SISTEMA ELETROPNEUMÁTICO

2.9.5.2 Sistema Eletrohidráulico

Sistema que utiliza a eletricidade e óleo bombeado sob pressão. Basicamente, seu
funcionamento ocorre por meio do acionamento de um comando elétrico, que faz o acionamento
de uma válvula hidráulica que permite a passagem do óleo sob pressão para atuar sobre um
equipamento. O óleo é armazenado num reservatório na viatura. Um exemplo é o comando de
movimentos do canhão superior dos CCI AP 3 Titan (figura 23).

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Figura 23- SISTEMA ELETROHIDRÁULICO

Observação: Alguns fabricantes disponibilizaram dispositivo para acionamento manual


(mecânico) para os casos em que ocorrerem falhas nos sistemas automáticos (figuras 24 e 25).

Figura 24

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Figura 25

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3 NOÇÕES DE HIDRÁULICA

Os fundamentos da hidráulica e da pneumática modernas foram estabelecidos em 1653,


quando Pascal descobriu que a pressão em cima de um fluido, atua igualmente em todas as
direções.
Fluído é uma substância que flui livremente, alterando sua forma continuamente. Os
líquidos e gases são fluidos, entretanto, enquanto os gases são compressíveis, os líquidos são,
teoricamente, incompressíveis.
A hidráulica estuda o comportamento dos fluídos, quer em repouso ou em movimento.
Ao escoar ao longo de uma tubulação, o fluído produz atrito com a sua superfície interna
e, como consequência, algumas de suas partículas formam uma película que não participa do
movimento. Junto a essa superfície a velocidade do líquido é zero, tendo sua maior velocidade na
parte central da tubulação. Essa perda de energia devido ao atrito do fluído com a superfície
interna de uma tubulação chama-se perda de carga.
É comum as pessoas confundirem pressão com força. Mas para compreender os
fundamentos da hidráulica, é necessário entender muito bem esses conceitos:
➢ Massa de um corpo - é a medida da quantidade de matéria que constitui um corpo e é
expressa em quilograma (kg).
➢ Força - Considerando um corpo de massa constante, é qualquer ação ou influência
capaz de modificar o estado de movimento ou de repouso de um corpo, como também
imprimir-lhe uma aceleração modificando sua velocidade ou deformá-lo. A força é
expressa em quilograma-força (kgf).
➢ Peso – é a medida de gravidade universal. A força da gravidade sobre um corpo é
chamada de peso do corpo (expresso em kgf) e indica quão pesado o corpo está.
➢ Pressão - é a força que atua em uma determinada área, levando em conta a força na
razão inversa da área em que atua. Normalmente a pressão é medida em psi (pounds

per square inch), lb/pol2 (libras por polegada quadrada) ou kgf/cm2 (quilograma-força
por centímetro quadrado). Às vezes ela é medida em polegadas de mercúrio ou para
pressões muito baixas, em polegadas de água.

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O esquema da figura 26 permite determinar as relações entre Força (F), Pressão (P) e
Área (A).

Figura 26

A pressão ou tensão mecânica é a força exercida por unidade de área, exercida de


maneira perpendicular sobre uma superfície.
A pressão pode estar sendo exercida em uma direção, várias direções ou em todas as
direções. Gelo (um sólido) exerce pressão apenas para baixo. Água (um fluido) exerce pressão
em todas as superfícies com as quais está em contato. O gás (um fluido) exerce pressão em todas
as direções, porque ele ocupa completamente o recipiente que o contém.
Como exemplo, tomemos um bloco medindo 10 cm x 10 cm x 50 cm que pesa 50 kgf.
Qual a pressão que ele exerce sobre o solo? Isto depende da área de apoio do bloco sobre o solo.
Veja as duas possibilidades abaixo (figura 27).

Figura 27

Levando-se em consideração o peso especifico da água como sendo de 1000 Kgf/m3


podemos calcular a pressão exercida pelos cubos em suas respectivas configurações. Assim,
comparando a altura dos cubos abaixo com a pressão, observa-se que a pressão é inversamente
proporcional a área e diretamente proporcional a altura que o cubo possui. Uma vez que a

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pressão tem relação com a altura e com a área que atua, podemos dizer que a pressão do fluído
não depende do formato do recipiente que o contém (figura 28).

Figura 28

A pressão atua em ângulos retos em todas as superfícies de um recipiente. Portanto, se o


líquido em repouso em uma polegada quadrada "A" no fundo de um tanque pesar 8 libras, uma
pressão de 8 psi. é exercida em todas as direções do recipiente.
A idéia básica de um sistema hidráulico é simples e está embasada na lei de Pascal, que
estabelece que a alteração de pressão produzida num líquido incompressível em equilíbrio
transmite-se integralmente a todos os pontos do líquido e às paredes do recipiente.

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Na prática, quando existe um dispositivo com dois êmbolos de tamanhos iguais quando
se aplica uma força em um deles, a pressão no interior do fluido assume o mesmo valor para
todos os pontos. Esta pressão é integralmente transmitida ao outro êmbolo fazendo com que este
fique sujeito à mesma força (figura 29).

Figura 29

Porém, se o dispositivo possui êmbolos de tamanhos diferentes, quando se aplica uma


força no êmbolo menor, a pressão no interior do fluido assume o mesmo valor para todos os
pontos. Esta pressão é integralmente transmitida ao êmbolo maior fazendo com que este fique
sujeito a uma força de maior intensidade (figura 30).

Figura 30

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Então, se dois pistões são usados em um fluido num sistema de potência, a força que atua
em cada um é diretamente proporcional a sua área, e a magnitude de cada força é o produto da
pressão pela sua área (figura 31).

Figura 31

Este é o processo utilizado no macaco hidráulico.


Na transmissão de força usando um fluído incompressível, normalmente o fluído
utilizado é um óleo.
As unidades de pressão mais usadas são: Kgf/cm2 (quilograma força por centímetro

quadrado), lb/in2 (libra por polegada quadrada – psi) e o Bar. Assim temos:

TABELA DE EQUIVALENCIA DE UNIDADE


1 kgf/cm2 0,9807 Bar Na prática = 1 Bar

1 kgf/cm2 14,223 psi (lb/pol2) Na prática = 14 psi


1 Bar 14,504 psi (lb/pol2) Na prática = 14 psi
Tabela 03

3.1 Princípio de Bernoulli

O princípio de Bernoulli foi originalmente estabelecido para explicar a ação de um


líquido fluindo através de tubos de áreas de corte seccional diferentes, ou seja, um tubo com o
corte seccional diminuindo gradualmente sua área para um diâmetro menor na sua seção central,
retornando, gradualmente, ao diâmetro da seção anterior. Bernoulli comprovou que o aumento na
velocidade do fluido provoca a diminuição de pressão.
Daniel Bernoulli descobriu o princípio da física e Giovanni Battista Venturi descobriu
como utilizá-lo. Assim é construído o chamado "Tubo de Venturi" ou "Venturi" (figura 32).

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Figura 32

O Venturi acima pode ser usado para ilustrar o princípio de Bernoulli, o qual estabelece
que a pressão de um fluido diminui no ponto onde a velocidade do fluido aumenta.
Na seção estreita, o líquido se move em alta velocidade, produzindo uma pressão menor
como comprovaria um indicador instalado naquela posição.
Quando a seção do Venturi é alargada, o líquido retorna a baixa velocidade, reproduzindo
uma alta pressão.
O fluxo de fluído numa tubulação (mangote, mangueira, etc.), também chamado de
“Pressão em Tubulações”, pode ser afetado por três tipos, ou variações de pressão: pressão
estática, pressão residual e pressão de fluxo.
➢ Pressão estática é verificada quando o fluído encontra-se parado, com energia
potencial estocada. É medida quando o fluído não está em movimento.
➢ Pressão residual - É aquela usada para superar a fricção (atrito) a que provoca a perda
de carga (geralmente pequena).
➢ Pressão de fluxo - É aquela registrada com o início do fluxo do líquido.

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3.2 Aplicação dos conceitos da física na atividade de bombeiro

Após essa rápida recordação da física, você verá, na prática, onde a hidráulica se aplica
na atividade de contraincêndio. É fácil a constatação, uma vez que a água é usada como agente
extintor principal é um fluído (figura 33).

Figura 33

Os conceitos de hidráulica são aplicados à água que flui antes e depois da bomba de
incêndio, bem como no nitrogênio utilizado no sistema de pó químico.
Olhando a bomba de incêndio como o elemento que transforma a pressão estática em
pressão de fluxo ou de velocidade, temos:
➢ Princípio de funcionamento da bomba de incêndio na operação de sucção
O princípio de funcionamento da bomba de incêndio na operação de sucção está
diretamente ligada à altitude em que está sendo utilizada a bomba de incêndio, pois como já foi
dito, a atmosfera determina as variações do seu funcionamento. A diferença entre a pressão
interna e a pressão atmosférica determina a altura a que a água será elevada pelo mangote de

sucção. A pressão atmosférica no nível do mar é igual a 1 kg/cm 2; portanto, caso a bomba tenha
uma escorva perfeita, só elevará a água de um desnível máximo de 10 metros.
O escorvamento é a operação de retirada do ar contido no interior da bomba de incêndio e
do mangote de sucção. Isto permite a pressão atmosférica atuar sobre a superfície do manancial
de água e empurrá-la pelo mangote até a bomba de incêndio.
A bomba centrifuga, como o nome diz, opera pelo princípio de força que tende a impelir
um objeto para fora do centro de rotação, ou seja, a força centrífuga. A tendência criada pela
rotação dos impulsores é convertida em pressão no fluído que está sendo bombeado.
A pressão aumenta na razão quadrada da rotação dos impulsores. Por exemplo, se a
rotação dos impulsores for dobrada, a pressão aumentará em quatro vezes. A bomba centrífuga
acumula (soma) a pressão com a pressão que lhe é fornecida, ou seja, se um fluído entra na

admissão da bomba centrífuga com uma pressão de 4 kgf/cm2 e a bomba está trabalhando a 10

kgf/cm2, o fluído será expelido a 14 kgf/cm2.

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➢ Princípio de funcionamento do sistema de pó químico


O princípio de funcionamento do sistema de pó químico segue a similaridade na
aplicação do fluído gasoso (nitrogênio) que, armazenado juntamente com o agente extintor, usa
os princípios da hidráulica para expelir o pó. Entretanto, há de se ressaltar a elevação nos níveis
da pressão residual que, devido a maior dificuldade de fluidez do pó químico em relação à água,
provoca uma elevação na resistência ao movimento.
É bem verdade que os cálculos na busca do melhor desempenho de cada sistema são
previamente realizados. Entretanto, o seu conhecimento faz com que ao manutenir, ou mesmo,
ao utilizar esses sistemas, não provoque alterações de parâmetros predeterminados, o que
ocasionaria um mau funcionamento do equipamento, chegando até mesmo ao comprometimento
de uma operação de combate e salvamento.
➢ Princípio de funcionamento proporcionador e dosador de LGE
O princípio de funcionamento do sistema proporcionador segue a aplicação do tubo de
Venturi, onde a água, passando em alta velocidade numa tubulação, diminui a pressão e succiona
o LGE para o seu interior. O mesmo princípio é verificado quando a mistura de água e LGE
passa através do esguicho formador de espuma (figura 34).

Figura 34

3.3 Expansão dos líquidos


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Os líquidos geralmente se expandem quando aquecidos. Esta ação é normalmente


conhecida como expansão térmica. Porém, os líquidos se expandem de maneira diferente para
determinado aumento de temperatura, ou seja, uns se expandem mais que os outros.
Se dois frascos, um com água e outro com álcool na mesma quantidade, forem
submetidos à mesma razão de aquecimento, a expansão do álcool será maior do que a da água.
A maioria dos óleos possui um coeficiente de expansão maior do que a água, ou seja, se
expande mais do que a água.
O sistema hidráulico das aeronaves utiliza óleo como fluído. Esse sistema contém meios
de compensar os aumentos de volumes do óleo, de modo a evitar danos ao equipamento.

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GLOSSÁRIO

Sulcos: São os frisos existentes na banda de rodagem dos pneus. Eles permitem que a água
existente na via seja escoada, mantendo o pneu em contato com permanente com a via, evitando
desta forma a aquaplanagem (figura 35).

Figura 35

Área de movimentação de aeronaves: É a parte do aeródromo destinada ao pouso, decolagem e


táxi de aeronaves, inclusive o pátio de aeronaves.

Tubulação: Termo utilizado para fazer referência a uma canalização, mangueiras, mangotes e
mangotinhos.

Peso específico: É o peso por unidade de volume, ou seja, é o valor da massa específica
multiplicada pela aceleração de gravidade local. Nos cálculos hidráulicos habituais com água,

utiliza-se g = 1000 kgf/m3.

Compressibilidade dos líquidos: A compressão dos líquidos, que é a redução do volume que
eles ocupam, mesmo sob extrema pressão, é tão pequena que pode ser considerada desprezível.
Se uma pressão de 100 psi for aplicada a uma quantidade substancial de água, o seu volume
decrescerá somente 3/10.000 do seu volume original. Seria necessária uma força de 64.000 psi
para reduzir o seu volume em 10%. Como os outros líquidos se comportam da mesma maneira,
os líquidos são, usualmente, considerados incompressíveis.

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CONCLUSÃO

Após estudar este conteúdo você teve a excelente oportunidade de conhecer diversas
viaturas desenvolvidas exclusivamente para atividades de salvamento e combate a incêndio e
outras que possam nos auxiliar com grande valia na execução das tarefas que escolhemos para a
nossa carreira profissional e militar.
Ao concluir este assunto temos a certeza que você terá condições de operar com
sabedoria e pleno domínio os meios disponíveis para o cumprimento da missão do bombeiro, que
certamente é a mais nobre e louvável de todas: o auxílio ao próximo e o salvamento das vidas
que estejam em perigo.

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REFERÊNCIAS

CIMASA: Manual do CCI AC-3 anos 80;

CIMASA: Manual do CCI AC-3 anos 90;

DIRENG: Apostila do CCI AC-3 CIMASA – 1992.

Apostila de Superestrutura e do CCI AP-2 Rosembauer Búfalo da DIRENG - edição 2001.

Apostila de características básicas de um CCI.

Triel – HT: Manual do ABT - 2008

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