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Família Wings

Tradução: Mika
Revisão: Angel
Leitura: Jaq
Formatação: Angel e Aurora

12/2021
Aviso

A tradução foi efetuada pelo grupo Wings Traduções (WT), de modo


a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior
aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de
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termos do art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.
Sinopse

Sabia que era falso, mas fiz assim mesmo.


Não sou mais a garota popular em nossa pequena cidade.
Pessoas que já foram amigos se voltaram contra mim, tornando-me
a pária.
Mas não importa, de qualquer maneira.
Fiz novas amigas. E com as opções limitadas ao redor, contratei
um shifter lobisomem para ser meu parceiro.
Não é segredo que paguei por ele, usando uma agência de
encontros.
Rufus é um cara ótimo. O tipo pelo qual qualquer mulher pode
se apaixonar.
Um rebelde contra seu bando, ousando se envolver com
humanos... de outra forma proibidos para ele.
E sei que não é real o que temos... mas uma parte minha
gostaria que fosse.
Prólogo

A tensão percorreu o bando. Rufus permaneceu alto, orgulhoso


e determinado em sua forma de lobo cinza. Seu pequeno bando de
quatro pessoas se movia atrás, enfrentando o inimigo, um alfa rival,
com um bando de apenas dois lobos adicionais, querendo reivindicar
o bando de Rufus e levar todas as riquezas que eles tinham. Não que
seu clã possuísse muito. Seus pais tinham todas as propriedades,
mas fizeram questão de estabelecer sua independência em relação a
eles. Deixando-o conquistar seu próprio legado, e se acabasse caindo
de bunda, sempre poderia voltar.
Moss e Freda rosnaram para o alfa rival. Demid permaneceu em
silêncio, vigilante. Todos eles foram expulsos de seus bandos e
encontraram uma nova base com Rufus. Ele era jovem para um alfa,
mal passando dos vinte anos de idade, mas se sentia forte, capaz de
enfrentar o mundo e tudo o que jogassem nele. O alfa rival tinha uma
aparência grisalha e abatida, muito maior do que Rufus, mas mais
magro, com menos carne nos ossos.
Posso derrotá-lo. O bando do rival os enfrentou do lado oposto.
O vencedor leva tudo, Thesper rosnou. Seu bando será meu,
filhote. Sua rendição é minha.
O único que se render aqui será você. Rufus dirigiu o
pensamento, então ouviu um gemido nervoso na parte de trás de sua
cabeça.
Ainda não acho que você deveria ter concordado com isso, Rufe.
A voz de Moss. Estou te dizendo, este é um verdadeiro osso duro de
roer. Ele não é tão fraco quanto parece.
Com a suprema confiança que apenas os jovens tinham, Rufus
ignorou as preocupações de Moss no meio daquela floresta solitária.
Claro que poderia defender seu território. Um lobo mais velho e mais
fraco? Fácil.
A luta começou. O velho lobo astuto decolou em uma velocidade
mais rápida do que Rufus previra. Ele saltou com a velocidade de um
raio, colidindo com Rufus como um caminhão, derrubando-o. A boca
rançosa o rasgou e Rufus percebeu tarde demais que as garras do
monstro estavam contaminadas com algo extra. Quando arranharam
sua pele, deixaram sensações de queimação em seu pelo, como se o
ácido estivesse derretendo, rasgando a pele.
Acônito! Rufus rosnou, choramingou, incapaz de entender como
outro lobo poderia empunhar acônito sem sofrer. Ele lutou
desesperadamente, esperando terminar a luta antes que ela
começasse a fazer efeito, sabendo que mesmo se levantasse algum
protesto no meio da luta, esses protestos não importariam se
estivesse morto.
Thesper deu uma risada zombeteira e latida, e Rufus percebeu
que então teria que se render.
Doente do estômago, a paralisia começando a se manifestar, ele
latiu, eu cedo! Me rendo! Antes de cair de costas em um gesto de
rendição. Suspiros horrorizados vieram de seu pequeno clã.
Dor. Mais dor. Thesper ignorou a rendição e rasgou o estômago
exposto de Rufus, fazendo-o uivar. A última coisa que ele lembrou foi
seu bando correndo para ele, tentando salvar seu antigo mestre.
Sentindo o gosto amargo da derrota em sua garganta, e a perda
de seu bando por uma armadilha.
Capítulo Um
Bianca

Cinco meses atrás, Bianca era a melhor amiga de Rachel. Elas


se conheciam desde a infância, espalharam maquiagem no rosto uma
da outra, falavam bobagens sobre garotos e até uma vez falaram em
se casar mais ou menos na mesma época.
Essa amizade se desfez quando Rachel anunciou seu noivado.
Ela passou de levemente desequilibrada às vezes, para totalmente
Cruella Cruel, e bem, para ser justa, Bianca não ajudou exatamente
a tornar as coisas melhores. Ser desprezada como dama de honra
por alguém que Rachel conhecia há menos de um ano foi importante.
Ser solicitada a pagar cinco mil dólares para o casamento, com um
pacote de cuidados esperado de outros convidados, estava
começando a virar loucura.
Terminando sua amizade por que ela expressou uma maldita
opinião? Porque ela disse que Rachel precisava tomar um calmante,
não esperar dinheiro dos convidados e não ir a um destino caro de
casamento em um lugar distante de que muitos nunca tinham ouvido
falar?
Dane-se isso.
Traída, com raiva e mais do que um pouco vingativa, Bianca
tinha amarrado a irmã mais nova de Rachel em um elaborado plano
de invasão, contratando homens para superar Rachel em seu próprio
casamento. Não apenas homens, mas também shifters paranormais,
aqueles capazes de se transformar em enormes animais predadores,
pertencentes a tribos, aos cantos menos conhecidos da vida. Homens
com os quais Bianca pode fantasiar, mas nunca esperara ter
qualquer acesso. Essas pessoas não eram para gente como ela. Não
de onde ela veio.
O problema era que o plano funcionou um pouco bem demais.
E quando se espalhou que o “namorado” com quem Bianca apareceu
era apenas um alugado caro e pago, isso a transformou em uma pária
da cidade quase tão ruim quanto Emory.
Whitefall Creek não era realmente um ótimo lugar para opções
ou amor. Todo mundo conhecia você aqui. Das avós em seus
pequenos chalés de pedra às pessoas apodrecendo por dentro nos
bares locais. Havia mais bares do que mercearias, o que resumia o
tipo de cidade que era Whitefall. Oh, isso e a neve.
Havia um pouco menos de neve, agora que eram os meses de
verão e tudo. As montanhas em seus picos ainda tinham um pouco,
mas as casas estavam mais úmidas com as chuvas frequentes, em
vez de cobertas de neve e das tentativas das crianças de fazer
esculturas. Idílico, quieto, com a água escorrendo pelas sarjetas até
o ralo enquanto chuvas frescas atingiam a cidade.
Ter a porta fechada nos círculos sociais favoritos de Bianca
acabou com sua vida normal. Mas na casa de Tegan com seu bar de
coquetéis projetado por ela mesma, com Katie se juntando, era fácil
esquecer todo o desastre por um tempo.
— Misture um novo para mim. Não me importo, contanto que
não me mate, — Bianca disse a Tegan, que deu um sorriso malicioso,
imediatamente trabalhando em uma nova mistura.
— Como está indo com... você sabe? Desde que aquele seu
lobisomem foi embora? — Katie perguntou, e Bianca sentiu uma
onda momentânea de ciúme. Com a situação de Katie, a pessoa que
ela contratou acabou se interessando mais por ela como pessoa. Eles
acabaram juntos, e Rachel não soube de toda a farsa. Inferno,
descobriu-se que seu namorado tinha até uma bela propriedade nas
montanhas que ninguém conhecia, graças a uma tempestade de neve
repentina e uma necessidade urgente de abrigo. O lobisomem de
Bianca, entretanto, simplesmente desapareceu no éter, contrato
terminado.
— Todos eles praticamente me odeiam agora. Rachel conseguiu
espalhar o que fiz, e deixou de fora qualquer um dos detalhes que a
faziam parecer ruim em comparação. Todos acham que estraguei
completamente o dia do casamento dela. Eu e você.
— Sim, bem, não dou a mínima para o círculo de amigos da
minha irmã, — Katie disse com um bocejo. — Eles são todos tão
estúpidos quanto ela, então você não encontrará nenhum terreno lá.
Mas, falando sério, ninguém escuta você?
— Ela é a abelha rainha, — disse Bianca. Em uma cidade como
Whitefall Creek, isso era uma explicação suficiente. As pessoas se
apegavam a seus grupos de amigos como se estivessem congelados
em seus anos de colégio. Se você estava sozinha quando saiu, ficava
sozinha, a menos que se mudasse para um lugar mais movimentado
e fizesse as conexões necessárias. — Tudo o que ela diz, passa. Era
apenas a amiga. A amiga gananciosa e faminta por poder agora,
aparentemente.
— Sério, você nem fez nada de ruim. Você simplesmente
apareceu no show com um cara mais gostoso que por acaso era um
contratado. Nada de errado com encontros contratados.
— É errado se você mora aqui. Minha mãe está
desesperadamente preocupada que eu vá morrer sozinha, sem filhos.
Ela ainda não entende por que não estou mais com Brent.
— Brent... quem é ele mesmo? Não é aquele que tem
preservativos grampeados em um quadro de cortiça? — A voz baixa
de Tegan cortou a sala enquanto ela mexia no álcool. Vários potes e
garrafas de líquidos de cores vivas alinhavam-se na prateleira atrás
dela, junto com uma fileira de aromatizantes e corantes, e uma
geladeira cheia de limas e limões. O bar do porão tinha quadros nas
paredes, ajudando a aumentar a ilusão de que eles estavam em
algum bar rústico, ao invés do porão de alguém. Inferno, tinha até
uma mesa de sinuca com um feltro azul ao lado, que às vezes elas
jogavam quando estavam entediadas.
Katie lançou a Tegan um olhar bastante sujo. — Esse é o que
eu namorei.
— Oh... não sei. Todos os caras aqui são iguais.
— Brent era um dos atletas, — Bianca disse, passando um dedo
por seu cabelo amarelo. — Um verdadeiro jogador, em todos os
sentidos da palavra. Ele tem uma piscina em casa, no entanto, isso
é bom o suficiente para minha mãe. Ela pergunta pelo menos uma
vez por mês se pensei em contatá-lo novamente.
— Bem? Você contatou? — Tegan ergueu uma sobrancelha,
sorrindo levemente enquanto terminava os coquetéis, entregando
uns pinks chocantes para Bianca e Katie.
— Sério. — Bianca tomou um gole do coquetel, desfrutando de
uma explosão de morango com frutas em sua língua. Uma bebida
perigosa, já que sem a forte picada do álcool, ela poderia facilmente
consumir vários destes, ficando bêbada para desmaiar.
Tentador, realmente. Todas as amigas de Bianca... não, ex-
amigas, ela se lembrou... amavam o drama do fim de semana que
vinha de uma noite fora, as histórias que emergiam de tudo o que a
bebida do diabo fazia com elas.
Já que, afinal, se não havia drama em Whitefall Creek, qual a
melhor forma de obtê-lo do que fazê-lo você mesmo? Lógica sensata.
Parecia que Bianca havia contribuído bem e verdadeiramente
para o drama de Whitefall.
— Que vergonha. Ouvi dizer que Freddie está solteiro hoje em
dia, e se você ignorar a ligeira consanguinidade, ele é quase atraente.
Bianca deu um leve golpe em Tegan. — Eles não são todos
ruins, aqui. — Apenas... nenhum era para ela. Uma parte de Bianca
apenas se imaginou envelhecendo, talvez comprando muitos gatos e
apenas morando em uma casa com muitos deles para mencionar.
Senhora normal e louca por gatos. Assim como toda vila precisa de
um idiota, você também precisa de pelo menos uma pessoa para
acumular gatos.
— Apenas faça o que eu faço. Consiga algumas contratações
agradáveis de vez em quando. Mime-se com algumas pessoas novas.
Faz diferença se as pessoas a julgam por isso?
— Um pouco. — Bianca deu de ombros, sentindo seu humor
piorar ainda mais. Ela tentou acalmá-lo bebendo mais do coquetel.
O problema era que o álcool sempre foi um pouco fugaz. E Bianca
não gostava muito de se tornar alguém como seu tio afastado, que
decidiu seguir o caminho da bebida forte e pesada, vivendo na
miséria, apenas um pouco feliz quando havia álcool ao seu lado. —
As pessoas esperam que você seja de uma certa maneira. Quando
você passa a vida toda sendo daquele jeito, e então eles te rejeitam...
não sei. Deveria trabalhar mais para consertar as coisas.
— Oh, não conserte as coisas com todos os seus amigos
horríveis, — disse Katie com veemência. — São todos tão horríveis.
Vamos lá, pensei que você tivesse mais classe que isso.
— Eu... — Bianca engoliu em seco. Como poderia explicar como
era passar de garota preferida para ninguém? Como era passar de
alguém que era convidada para tudo e se envolve em todos os eventos
sociais, para alguém que não é nada, nem era convidada a lugar
nenhum?
O mais próximo que ela provavelmente poderia descrever é que
era como usar uma marca ardente de vergonha. Como se houvesse
um holofote constante sobre ela enquanto caminhava pelas ruas,
sujeita aos olhares e julgamento daqueles que apoiaram a versão de
Rachel dos eventos.
Outra bebida depois, Bianca encontrou suas paredes se
fecharem ainda mais.
— Talvez devesse parar de choramingar e apenas me mudar, —
disse ela, embora honestamente não tivesse ideia de para onde queria
ir ou o que faria. Ela atualmente trabalhava no negócio de mercearia
da família, eles possuíam duas lojas em Whitefall Creek, e essa era
uma maneira boa e sólida de ganhar dinheiro por aqui. Agricultura
era outra, se você não se importasse de sujar as mãos. Eles também
tinham negócios com peixarias locais, conseguindo salmão fresco,
truta e robalo.
— Você poderia, — disse Katie, acenando com a cabeça em
encorajamento. — Absolutamente. E sentiria sua falta, é claro. Você
não é tão ruim. Mesmo que tenha a mesma idade de Rachel.
Bianca deixou escapar um pequeno bufo, antes de se inclinar
para ver o que Tegan estava fazendo. Mais uma vez, ela parecia estar
percorrendo Date Monsters.
— O que vem a seguir, um trio? — Bianca perguntou, e Tegan
semicerrou os olhos.
— Isso não é uma má ideia. — Ela começou a percorrer a seção
de trios, e Bianca suspirou. Tegan era basicamente imune a
provocações.
Quando Bianca se vestiu e foi para casa, antes de ir para a
cama, ela se sentou em seu pequeno sofá marrom, percorrendo Date
Monsters também. As pontadas de solidão passando por seu interior
pareciam uma motivação muito boa. Assistir Rachel e todos os outros
postarem seus infindáveis suprimentos de boas notícias e selfies em
todas as redes sociais era como uma adaga extra no coração. A última
postagem que Bianca tentou, passando algumas horas tentando
conseguir a postagem perfeita para uma selfie, acabou sendo
bombardeada pelos apoiadores de Rachel. Os tipos de comentários
aos quais ela foi submetida a convenceram a não fazer isso
novamente e a interromper publicações online depois disso.
Por que estou fazendo isto? Bianca pensou, mesmo enquanto
verificava todas as diferentes seções, desde os consultores que
oferecem serviços para melhorar os negócios, até aqueles que
procuram companhia. Ela até viu o perfil de Hector novamente e,
embora ele fosse definitivamente gostoso, ela realmente não queria
contratá-lo. Não sem a promessa de química instantânea.
O que a levou então a uma certa seção. Um com shifters se
retratando abertamente como alfas, bad boys, prometendo as coisas
mais perversas, mas ainda de alguma forma aderindo aos termos e
condições.
Ela hesitou por um longo tempo em um perfil. Outro lobisomem,
como Hector, com um olhar amarelo intenso, uma espécie de sorriso
confiante e cabelo preto penteado para trás, como se normalmente
fosse muito rebelde. Rosto redondo com barba por fazer no queixo e
nas laterais, e aqueles olhos amarelos pareciam relaxados,
encapuzados.
Como um príncipe, ela pensou, impressionada com sua beleza
ridícula. Um príncipe das trevas. O tipo que governaria algum reino
do mal em um conto de fadas, aquele que as pessoas sabiam que
nunca deveriam chegar perto. A diferença com este shifter sobre
todos os outros, no entanto, era que ele queria se encontrar antes de
ser contratado.
Dane-se, ela pensou. O que poderia machucar? Ela anexou
aquela selfie de que tanto se orgulhava e a enviou, junto com a oferta
base. Pelo menos alguém de fora não se importava se ela poderia ter
invadido um casamento ou não. Pelo menos ele não iria enviar spam
para seus feeds e fazê-la se sentir ruim onde quer que fosse.
Rufus Ironclaw. Nome típico do estilo da tribo. Ela fechou os
olhos, mantendo a imagem dele em sua cabeça. Imaginando aquela
pessoa na frente dela. Ele teria uma voz grave ou musical? Ele a
encantaria com o riso ou diria tudo sem rodeios? Ele a beijaria
lentamente no pescoço, ou a tomaria em uma paixão forte e furiosa?
Ela estremeceu, deixando aqueles pequenos picos de desejo
alimentá-la. Bianca amava a perseguição, o jogo que levava ao sexo.
Ela gostava menos da sensação de ser usada, de ser descartada
assim que se tornasse mais um entalhe na cabeceira da cama.
Provavelmente como a sensação de beber, de ficar bêbada, gostar de
tudo isso, mas odiar acordar de manhã com uma ressaca e o gosto
horrível de vômito na boca.
Ela duvidava que receberia uma resposta de alguém como
Rufus, mas diabos. Era Date Monsters. Qualquer coisa pode
acontecer. Ela também tinha uma boa ideia do que estaria
imaginando esta noite ao usar seu vibrador roxo.
Capítulo Dois
Rufus

Normalmente, ele recebia várias dezenas de ofertas por dia.


Trabalhar como moderador para Date Monsters certamente tinha
seus privilégios, e com certeza superava um trabalho de mesa
normal. Quase todo o seu clã operava com Date Monsters para viver,
seja com atendimento ao cliente ou com serviços de aluguel. Estar
em contato com os principais acionistas da empresa ajudou a
garantir que todo o seu futuro estivesse seguro e protegido no mundo
humano, sem a necessidade de retornar à vida primitiva do passado.
Vida boa e fácil. Muitas mulheres bonitas e sensuais para
circular, e ter a escolha delas ainda trazia uma emoção para seu
corpo toda vez que lia a lista, vendo exatamente que tipo de pessoa
queria seus serviços.
— O que você acha dessa? — Dante perguntou, acenando para
Rufus olhar para sua tela. Rufus se afastou de suas inspeções para
examinar o que Dante apontava. O lobisomem canadense estava sob
as instruções atuais de Rufus, que foi pago para mostrar ao mais
jovem as técnicas. Como encantar. Como irradiar energia “alfa”,
embora principalmente essa energia venha da confiança.
— Ela é bonita. Gosta dela? — Ele sorriu quando o lobisomem
mais jovem assentiu. — Aceite. Lembre-se do que disse a você. Você
vai ficar bem.
Dante engoliu em seco, nervoso, mas aceitou, trabalhando na
digitação de uma resposta para a cliente escolhida.
Ele se lembrava de ter sido tão jovem uma vez. Quão inseguro
do mundo ele estava, de seu lugar, de quem ele queria ser.
Ele vai ficar bem. Rufus deu uma volta em sua cadeira, animado
para olhar sua nova lista de potenciais. Tantas mulheres bonitas por
aí. Tantas para ele provar, tomar, sentir o calor contra sua pele, ouvir
enquanto engasgavam e se entregavam aos prazeres da carne. Ele
amava todas as possibilidades que existiam. Todos os atos que já
experimentou.
Ele selecionou algumas mulheres, embora tivesse que admitir,
estava mais com um gosto para loiras desta vez. Algo sobre aquela
cor específica de cabelo o fascinava. Você não via nada disso nas
tribos de lobos. Todo mundo tinha alguma variação de cabelo
castanho a preto. Os humanos tinham algumas das mais fascinantes
variações de cores e características. — Como está indo?
— Só estou esperando uma resposta. Deus, sinto que vou
desmaiar assim que começar a falar de verdade. Não sei conversar.
Não consigo fazer ninguém rir!
— Relaxe, garoto, relaxe. Respirações profundas. Você passa
muito tempo se preocupando.
— Eu sei... — Dante parecia miserável, e Rufus decidiu mostrar
a ele as mulheres que ele havia selecionado.
— Quem você acha? Gostaria de uma nova cliente. Elas são
todas legais... eu poderia facilmente fechar meus olhos e apenas
apontar em qualquer uma que meu dedo acertar primeiro.
— Mm... — Dante folheou a seleção, olhando para o mundo todo
como um cientista olhando através de um microscópio. — Você está
indo para loiras?
— Sim. Faz um tempo. — Havia algo um pouco distorcido,
Rufus sentia às vezes, no que eles faziam. Apenas processando as
pessoas online com base em sua aparência ou em alguma biografia
engenhosa que elas conseguiram criar para si mesmas. Vendendo
resumos seus na Internet, mas sem uma visão real de quem eram.
Rufus fazia o mesmo. Cerca de metade de suas fotos publicitárias
eram apenas dele sem camisa, exibindo um abdômen musculoso,
com aquela curvatura de seus quadris sugerindo o que estava
escondido entre as pernas de sua calça de cintura baixa.
— Merda, cara, elas são todas gostosas. Esta, talvez? — Ele
devolveu o telefone de Rufus, deixando-o na biografia de uma Bianca
Davis. Uma mulher posou com a câmera apontando para baixo em
direção ao rosto, oferecendo uma visão bastante generosa de seu
decote. A forma como a luz atingiu seus olhos mostrou-os como um
azul cristalino, tornado mais claro por seu cabelo.
Whitefall Creek... uma busca rápida disse a ele que este lugar
era quase tão pequeno quanto podia, todos os edifícios de pedra
cobertos de neve ou chuva, com imagens de moradores batendo em
campos lamacentos com capa de chuva e botas. Uma garota do
campo.
Elas tendiam a ser um pouco menos refinadas do que as da
cidade. Mais dispostas a sujar as mãos.
Claro, por que não? Ela respondeu em dez minutos ao convite
para um encontro e eles marcaram um encontro para daqui a três
dias. Só para ver se ela combinava com sua foto (nem todas
combinavam, ele tinha sido enganado por alguns homens antes) e se
ela era relativamente sã (nem todas eram sãs, também... uma mulher
tentou trancá-lo em um porão com prata, pensando que a prata
continha monstros).
Esperançosamente ela não tinha algum porão secreto em algum
lugar onde ela coletava todos os seus clientes shifter ou algo assim.
Chegar a Whitefall Creek foi menos divertido. Ele precisou
pousar pelo ar e, em seguida, trocar três ônibus antes de finalmente
chegar à pequena cidade, três dias depois de combinar o encontro.
Se as coisas dessem certo aqui, ele queria encontrar um lugar para
se hospedar, porque aquele tempo de viagem era ridículo. Ele ainda
não sabia dirigir, o que seria considerado uma raridade em um lugar
expansivo como a América, onde viagens rodoviárias eram a norma.
Ele realmente não gostava muito de ficar preso naquelas caixas
de metal, com toda a honestidade. Um ônibus estava bem, assim
como um avião. Com um pouco mais de espaço, ele não adoeceria
tanto de ônibus ou avião. Carros, no entanto, cinco minutos dele em
um era o suficiente para deixá-lo exausto e com náuseas.
Um lobo grande e mal em todos os aspectos, exceto nessas
ocasiões.
Whitefall Creek parecia estar no meio de uma garoa leve, e ele
notou que os moradores locais realmente não se importavam com
casacos. Pequenos pontos de chuva cobriam sua jaqueta de lã,
agarrando-se a um ou outro fio solto que se enrolava.
Que lugar para crescer, ele pensou, olhando para as montanhas
que assomavam sobre a cidade. Esta pequena cidade ficava em uma
bacia, com a natureza embalando-a agressivamente. Ele sabia que
havia clãs nas Montanhas Apalaches, ursos, lobos e pumas vivendo
nas florestas e vales ou perto dos picos, relutantes em entrar em
contato com humanos.
Rufus poderia se ver se aposentando em um lugar como este no
futuro. Calmo, expansivo, a natureza ao redor, talvez vivendo uma
vida tranquila na agricultura ou algo semelhante. Isso seria muito
longe no futuro. Ainda tinha muita energia sobrando e gente para
ver.
Ele examinou a foto de Bianca novamente, admirando cada
pequeno detalhe. Ele viu que era ligeiramente retocado, como muitos
desses tipos de fotos que usavam filtros de beleza. Tornando a pele
muito mais lisa, menos enrugada ou com manchas.
Ele tinha quase certeza de que seu pai trairia sua mãe
novamente por alguém como Bianca. O homem praticamente se
mantinha em auto isolamento atualmente. Ainda não sabia como
permanecer fiel. Sua mãe há muito havia aceitado e se tornado um
pouco menos fiel. Nenhum dos pais se incomodava em relatar os atos
um ao outro. Eles simplesmente presumiam que isso acontecia, mas
permaneciam juntos por um motivo que Rufus ainda não entendia
muito bem, pois parecia uma loucura conjurada.
Ela disse que queria dar um passeio. Perto de um bar chamado…
Boot Inn. O Boot Inn era muito fácil de localizar, pois tinha uma
daquelas placas acorrentadas enferrujadas e rangentes, com a foto
de uma única bota marrom.
Parecia um bar bem aconchegante também, muito parecido
com uma cabana convertida em um estabelecimento, com vasos de
flores nas janelas, alguns cestos pendurados florescendo com fortes
variedades de rosa e azul. Ele espiou pela janela, para o caso de esta
Bianca estar lá dentro, começando a sentir aquele puxão familiar de
excitação que sempre vinha quando ele estava conhecendo alguém
novo, e essa pessoa por acaso era alguém que ele realmente queria
ver. Ele sentia isso nos aeroportos, esperando o voo de uma pessoa
pousar, sempre checando a hora para ela, esperando o primeiro
vislumbre de seu rosto quando saíam com uma mala.
Ele viu isso em suas clientes, aquelas que mal acreditavam que
eram capazes de contatar alguém como ele.
Ele finalmente avistou uma faixa vibrante de cabelo amarelo,
presa a uma mulher sentada em um pequeno banco de parque, sem
olhar em sua direção, focada em seu telefone. Examinando-a à
distância, ele tentou calcular se era ela, se ela combinava com a
imagem. Ele até mesmo discretamente puxou a foto de novo, apenas
para garantir.
Definitivamente parecia combinar. Ele sorriu e caminhou
lentamente, deliberadamente, em direção a ela. Quando perto o
suficiente, e ela ainda estava colada ao telefone, e ele foi capaz de ver
linhas de expressão em sua testa, ele limpou a garganta.
— Senhorita Bianca?
Ela quase jogou o telefone nele com surpresa. — Uau! Ei! Você
está aqui. Como você se esgueirou sobre mim?
— Caminhei devagar até aqui. Não chamaria isso de esgueirar-
me.
— Ah. — Ela sorriu timidamente e, no momento em que sorriu,
Rufus respirou fundo. Jesus, esta era uma mulher bonita. Não
precisava de um filtro de beleza, isso era certo. — Desculpe. Estava
lendo algo.
— O que era? Ou é privado?
O sorriso esmaeceu, tornando-se invernal. O gelo parecia
estalar naqueles olhos. — Vamos chamar de drama de cidade
pequena. Há muitas pessoas queimando pontes comigo, e a melhor
maneira de anunciar isso é online, acompanhado por um milhão de
emojis. — Ela estendeu a mão para ele apertar, mas ele deu um passo
adiante. Agarrando a mão dela, ele a puxou para um abraço forte e
sólido.
— Prefiro abraços como uma saudação, — ele disse, e ele a
ouviu inspirar também. A outra coisa que ele não mencionou foi que
com um abraço, ele poderia ter uma leitura forte do cheiro da outra
pessoa. Se gostasse do cheiro, acabava sendo outra marca a seu
favor. Ela tinha uma leve camada de base de perfume, com uma nota
de algo gramíneo. Uma escolha de perfume incomum, mas excelente.
Deu a ela uma aura selvagem e fresca. O fez pensar em verões e
prados repletos de flores e grama alta.
— O-ok. Certo. Abraços são legais. — Seu abraço foi um pouco
mais fraco, e ela parecia bastante surpresa. — Realmente não
esperava isso, mas tudo bem. Vou aceitar.
— Conte-me mais sobre esse, ah, drama de “cidade pequena”.
Se não se importa. — Ele já estava testando, tentando obter uma
leitura sobre a personalidade dela, embora já tivesse gostado do que
viu e ouviu até agora. Ela usava uma capa de chuva, uma cor azul
escura com um forro amarelo dentro, e uma decoração branca e fofa
de pele sintética ao redor do capuz. A fazia parecer mais brilhante,
de alguma forma.
— Oh, por onde começar? — Ela fez uma pausa e fez um gesto
para começar a andar. — Penso melhor quando estou me movendo.
— Viu que as mãos dela tremiam e suspeitou que ela estava muito
nervosa em conhecê-lo. Ele não fez nenhum comentário sobre isso,
apenas armazenou a informação para mais tarde. — Você está
familiarizado com os humanos, o tipo de panelinha que eles formam
nos anos escolares, tudo isso?
— Sim. Eu fui à escola. Nem todos nós crescemos em alguma
floresta no meio do nada, — disse ele, e ela deu uma espécie de
sorriso nervoso em resposta.
— Certo, sim, claro. Eu fazia parte do grupo “popular”, acho que
você pode dizer. Pessoas de famílias mais ricas da cidade, piscinas
em suas casas, altamente críticos, aquele grupo.
Ele bufou, pintando uma foto dela para combinar com os
humanos que ele conhecia em sua própria escola. Mulheres que
passam muito tempo se arrumando, indo para as festas, dormindo
com os atletas. Ele realmente não gostava desses tipos, mas ele ouviu
mesmo assim. Ninguém deve ser julgado por seu passado.
— E me encaixava perfeitamente com esse grupo. O problema é
que, muitos de nós, atingimos o pico no ensino médio e, depois disso,
é uma trajetória descendente lenta. Uma das minhas amigas
anunciou um noivado com um dos caras ricos da região, e ela queria
que todos os seus convidados pagassem em dinheiro para ir ao
casamento, para ajudar a financiá-lo em algum lugar exótico do outro
lado do mundo no que ela chamava de seu casamento dos “sonhos”.
Rufus inspirou fundo. — Espere. Ela queria que vocês
pagassem pelo casamento dela?
— Sim. Noivazilla total, dispensando pessoas a torto e a direito
se discordassem dela. Tentei chamar sua atenção por seu
comportamento, mas fui desconvidada por isso. Eventualmente,
simplesmente me cansei do tratamento e ajudei a traçar um plano
para superá-la no dia do casamento.
Ah. Ele ouviu enquanto ela explicava sobre a contratação de um
shifter da Date Monsters, com o único propósito de deixar a noiva
com ciúmes de um homem mais gostoso e rico, e certamente parecia
que funcionara, porque agora a mulher recém-casada e suas amigas
haviam se virado contra Bianca como um bando de lobos sobre uma
presa, não dando a ela a chance de dizer ou fazer qualquer coisa de
outra forma. Era mesquinho por todos os lados, honestamente, ouvir
isso, mas ele entendia que às vezes as pessoas precisavam atacar.
Cometer seus erros.
O cenário mudou gradualmente ao redor deles, das casas de
pedra robustas, para as sinuosas e curvas estradas rurais, cercas de
madeira encharcadas pela chuva e campos, marcas de trator nas
estradas de terra e pegadas de estábulos próximos. O leve cheiro de
esterco de vaca atingiu em certo ponto, embora Bianca prestasse
pouca atenção, provavelmente acostumada com aquele tipo de cheiro
de sua vida no campo.
— É divertido ser queimada na fogueira, me tornando pária,
mas acho que quando tomei a decisão de invadir seu casamento, esse
foi um risco que escolhi correr.
— Você não tem mais nenhuma amiga? Ou você ainda tem
pessoas nesse grupo de amigos que não admiram essa Rachel tanto
quanto você costumava?
Ela estremeceu com isso. — Tenho algumas amigas, mas são
novas que fiz, fora desse grupo. Uma é sua irmã mais nova, a outra
é amiga da irmã mais nova. E tenho conversado com uma pessoa
chamada Emory também, mas ela tinha o selo de garota aberração
quando ia para a escola. Então, nos ver juntas é um par não natural.
Ele acenou com a cabeça, notando como o caminho ao redor
deles curvava-se para cima, agora rodando para o interior
montanhoso, a chuva ainda caindo sobre eles em um leve toque
sussurrante. A bela paisagem e a cidade pareciam se misturar quase
perfeitamente em toda a mistura, como marcos naturais crescendo
do solo. Eles passaram por dois cavaleiros em cavalos baios
galopando na outra direção, e um dos cavalos bufou assustado ao
sentir seu cheiro, reconhecendo o aroma de um predador. Ele
continuou lançando olhares discretos para Bianca, verificando-a da
cabeça aos pés.
Honestamente, a foto que ela enviou não lhe fez justiça. Ela era
absolutamente deslumbrante. A maneira como ela caminhava, sorria,
a maneira como sua voz tinha um sotaque suave, tornando certas
palavras mais longas, ele queria mais e mais possuir esta mulher. A
excitação ferveu em seu estômago com o pensamento do que queria
tentar a seguir. Apenas como um teste final de compatibilidade.
— Diga-me, — disse ele, depois que ela esgotou o assunto dos
amigos ruins que já teve, — quanta experiência você tem com os
homens em geral?
A expressão em seu rosto tornou-se surpresa, depois maliciosa,
divertida. — O suficiente para saber como lidar com eles, com
certeza. Experimentei bastante. Não tinha a melhor safra de homens
para fazer experiências, no entanto.
— Como assim?
— Eles gostavam de meter o pau forte. Não muito mais. A
maioria deles não sabe o que é um clitóris e ficam enojados se você
mencionar uma menstruação.
Excelente, ele pensou com uma onda repentina de desejo. Ela é
confiante. — Se você só teve parceiros ruins, como saberia o que
fazer?
— Existe a internet, — disse ela. — Além disso... os caras estão
no seu próprio prazer. Eles simplesmente não gostam tanto de
retribuir.
Rufus balançou a cabeça, desapontado com a descrição dela.
Nem todos os homens eram irrefletidos ou ignorantes do prazer, mas
parecia haver muitos perdendo completamente esse estádio
particular.
—Posso ser capaz de ajudar nessa frente, — ele ronronou,
apreciando o arrepio perceptível em seu corpo. — Estou
definitivamente interessado em fazer um acordo entre nós. Mas quero
verificar seu nível de habilidade atual.
Seus olhos quase saltaram de sua cabeça. — Pode repetir?
— Você beija bem? — Ele parou de andar então, o caminho em
que eles estavam agora margeados por árvores de ambos os lados,
aquelas coníferas e robustas que sobreviviam ao frio e às montanhas.
Um pé esmagou uma pinha, e ele inalou profundamente o ar fresco
e limpo, lambendo um pouco da chuva em seu lábio.
— De repente, percebo quão longe estamos da civilização, —
Bianca disse com um sorriso nervoso, o corpo se encolhendo.
— Oh, não se preocupe, — ele se apressou em assegurá-la. —
Se houver um teste sobre isso, caberá a você iniciar. E se quero ter
um contrato com alguém, existe uma coisa chamada respeitar os
limites um do outro.
Parte da cautela deixou suas feições, substituídas por uma
expressão contemplativa em seus lábios. Mais uma vez, o desejo
surgiu através dele. Porra, ele queria essa mulher.
E, afinal, ela havia organizado esse encontro pela única e
expressa razão de interagir com ele em um nível mais íntimo. Nem
todo mundo era capaz de seguir em frente, embora a maioria gostasse
de obter mais do que o valor de seu dinheiro, se possível.
— Você quer que simplesmente beije você? — Ela deu a ele um
olhar bastante calculista.
— Por enquanto, sim. A menos que não seja isso que você está
pagando e espere outra coisa de mim.
Ela deu uma espécie de risada zombeteira, antes de fechar a
distância entre eles. — Se você tentar qualquer outra coisa, estou
terminando isso, não importa quão quente você seja.
Ele simplesmente sorriu maliciosamente em resposta, o que
pareceu instigá-la a uma espécie de raiva, uma que a fez diminuir a
distância, no meio desse caminho chuvoso, e beijá-lo levemente. A
força por trás disso pareceu se dissipar no último momento, como se
ela percebesse que talvez não soubesse se queria fazer isso.
Ele tentaria se esforçar para resolver as últimas perversidades
daquela timidez. O beijo dela pode ter sido nada mais do que um
simples bloqueio de lábios, mas ele fez questão de intensificar a
experiência. Movendo seus lábios contra os dela. Colocando as mãos,
com um movimento lento e deliberado, nos quadris dela, ancorando-
as no lugar. A chuva continuava pingando em seus rostos, e ele
calmamente encorajou Bianca até que ela retribuiu o beijo,
procurando o ritmo.
Não era uma beijadora experiente, mas nada que ele não
pudesse trabalhar. Na verdade, ele gostava do prazer de ajudar a
guiar alguém a se tornar um pouco melhor. Eventualmente, suas
mãos moveram-se para segurar o rosto dela, e ele manteve uma
distância curta, mas perceptível entre seus corpos, inalando aquele
cheiro maravilhoso de grama dela, seus olhos firmemente fechados
enquanto ele beijava, estando no momento.
Quando ele finalmente se retirou de seus lábios, Bianca estava
com um sorriso bastante bobo, os olhos ainda fechados.
— Nunca fui beijada assim antes, — ela admitiu, finalmente
abrindo as pálpebras para revelar um olhar desfocado. — Achei que
fosse boa.
— Talvez você fosse em comparação com quem você teve antes.
Mas você nunca me teve. — Ele piscou para ela, e ela soltou um
suspiro que provavelmente não percebeu que segurava.
— Meio que quero fazer isso de novo.
— O que você está esperando?
— Permissão.
— Tem isso.
Ela se inclinou para outro beijo. Ganancioso, ele pensou com
um sorriso, deixando suas mãos percorrerem um pouco as costas
dela, firmando-se contra seu traseiro desta vez. Quando ele puxou
seus quadris para mais perto, ela soltou uma espécie de suspiro
estrangulado quando seus corpos eliminaram a distância.
Sim... suas reações foram perfeitas. A ideia de levar isso
adiante, de explorar um novo corpo feminino, o encantou. Pois, sem
dúvida em sua mente, ele queria Bianca. É certo que seus critérios
não eram exatamente altos. Havia também o fato agradável de que
ele planejava fazer uma pequena pausa das várias mulheres a cada
mês, já que, embora gostasse da emoção e da dança, realmente não
chegava a conhecer nenhuma delas. Definitivamente sugeria
problemas adicionais, escondidos sob a camada perfeita apresentada
a ele, mas ele nunca ficava tempo suficiente para justificar
aprendizado algum.
Depois, havia o fato de que as mulheres o contratavam,
entediadas com seus maridos, querendo um pouco mais de tempero
em suas vidas. Ele teve que se esgueirar pela janela do quarto uma
vez, quando o marido voltou mais cedo. Não era problema dele, essas
coisas. Afinal, ele foi pago para fazer um trabalho. Pago para fazer
bem. Talvez ficasse um pouco solitário nos espaços entre seu
trabalho, mas ele poderia lidar com isso. Treinar outras pessoas para
serem confiantes. Observar do outro lado do vidro as pessoas que
permaneceram felizes nos relacionamentos ou se separaram em uma
espécie de destruição ardente, deixando destroços por todos os lados.
Sempre parecia ser um sucesso e um fracasso quando se
tratava dessa parte. As interações fáceis vieram do sexo, ao invés da
verdadeira intimidade.
Bianca se afundou longa e profundamente no beijo, e ele
acariciou seus lábios, o desejo alimentando-o como carvão jogado
nas chamas. Absolutamente perfeito. Suas mãos deslizaram em seu
cabelo, e algo sobre a imagem de beijá-la na chuva nesta estrada
rural solitária queimou em sua mente. Ele suspeitou que revisitaria
essa memória por um tempo.
Afastando-se de seus lábios, ele grunhiu: — É melhor pararmos
com isso agora. Prefiro não voltar andando com tesão.
Ela corou, mas sorriu, enxugando um pouco da umidade do
rosto. — Eu passei?
Oh, diabos, sim, passou. — Podemos chegar a um acordo, —
assegurou-lhe. — Com a localização de Whitefall Creek, realmente
não quero ir e voltar para encontros únicos. Minha ideia é ficar em
algum lugar da cidade, ou dormir na selva, permanecendo na área
por pelo menos um mês. Se planeja aproveitar meus serviços, sugiro
que tire uma folga do trabalho. — Ele permitiu que uma contração
confiante e lupina de seus lábios chamasse a atenção dela. — Uma
vez que pretendo utilizar todas as minhas habilidades.
Ela engoliu em seco de forma bastante visível, tentou falar, mas
precisou limpar a garganta. — Eu, ah, certo. OK. As coisas estão se
movendo... mais rápido do que esperava.
— O que você esperava? — Eles começaram a andar novamente,
e ele seguiu Bianca enquanto ela escolhia um caminho sinuoso e
curvado que seguia de volta à cidade depois de rodear a borda de
uma floresta.
— Bem, acho que esperava ser, ah, rejeitada. Como se estivesse
atirando muito alto ou algo assim com você. Acho que não planejei
muito mais por isso.
— Então sugiro que você comece a pensar nisso.
Ela engoliu em seco novamente e, na periferia da cidade, ele
percebeu que precisaria dar a ela um dia. Apenas para deixar seus
pensamentos se organizarem. O que significava que ficaria em uma
pousada ou hotel por uma noite, embora não quisesse pagar muito
dinheiro para fazer seu trabalho, isso derrotava o ponto, ou dormiria
na selva. Nas árvores e na chuva.
Dormir ao ar livre tinha um chamado estranho e primordial.
Imagens de estar em sua forma de lobo, patas tocando o solo argiloso
e macio, ouvindo os sons da floresta, que lobo não desejava a
natureza de vez em quando?
— Vou te dar uma noite para pensar longa e profundamente
sobre isso, — ele disse, a voz baixando, estendendo a mão e roçando
suavemente o queixo dela com a lateral do dedo. — Estou ansioso
para progredir mais com você.
Ela pareceu inclinar-se ao toque dele por um segundo, antes de
recobrar os sentidos. — Certo. Sim, eu, sim, preciso de algum tempo.
Provavelmente para ligar para todas as suas amigas atuais e
gritar. Ele não estava julgando aqui, de qualquer maneira. Eles
partiram, embora tenha havido um momento definido em que ele viu
que ela queria fechar a lacuna novamente, para roubar mais beijos.
Ambiciosa. Ele gostava que elas fossem ávidas por isso. Tornava todo
o negócio muito mais divertido.
Agora sozinho, conforme a noite avançava, ele escolheu comer
fora em uma das estalagens e recebeu muitos olhares estranhos em
seu caminho. Nada com que não soubesse lidar. Depois disso,
silenciosamente se aventurou fora do olhar dos habitantes da
pequena cidade para a borda úmida das florestas onde Bianca os
havia caminhado, e desfez sua forma humana. Pernas cinzentas
percorreram a folhagem e a terra, uma explosão de aromas atingindo
seu nariz sensível. Animais, plantas e humanos se misturavam, e ele
ocasionalmente pegava o movimento de criaturas noturnas com suas
orelhas.
Com uma camada quente de pelo cobrindo seu corpo maciço,
ele foi capaz de evitar os elementos mais perigosos da exposição. Ele
detectou os odores distintos de marcas de urina de lobo, vagando
mais longe, revelando brevemente um desejo separado e primário de
liderar.
Ele sentia falta de ser alfa em seu clã de vida curta, mas a
dinâmica dos lobisomens era um pouco diferente da dos humanos.
Em verdadeiros bandos de lobos, apenas o alfa e sua fêmea podiam
se reproduzir. Isso garantia sangue forte e relações fortes entre eles.
Os lobisomens permitiam que qualquer um acasalasse, mas havia
uma expectativa de obedecer aos caprichos do alfa, até que um dia,
uma criança assumia o controle, ou um dos lobos rivais reivindicava
o bando ao derrotar o alfa em um combate ritual.
Rufus perdeu seu duelo. Mesmo agora, ele pensava naquela
memória com dor, humilhação e raiva. Tendo que se submeter àquele
trapaceiro, de barriga para cima, e ainda recebendo mordidas no
estômago por seus problemas.
Se seu bando não tivesse intervindo então, ele tinha certeza que
o novo alfa o teria matado, não aceitando a derrota. Não aderindo à
tradição.
Ele levantou os protestos, é claro. Acônito nas garras. Mas ele
não teve exatamente muito tempo para protestar antes que o veneno
o enviasse em uma febre de tremores por dias, em sonhos de delírio
enquanto seu corpo trabalhava horas extras para tentar lutar contra
a substância tóxica em seu sangue. Nesse estado, não estava com a
mente sã o suficiente para impedir a aquisição. Quanto à evidência
de acônito, ela desapareceu quando ele melhorou.
Deixando aquele bastardo no comando. Ele avisou seu clã sobre
eles, recuou para aquele redil por anos depois, mas Rufus suspeitava
que um dia Thesper iria querer reivindicar muito mais do que apenas
seu clã miserável.
Ele ainda não tinha descoberto como aquele lobisomem
permaneceu não afetado pelo acônito.
Enrolando-se nas raízes de uma árvore grande e frondosa, ele
teve um cuidado especial para se certificar de que sua barriga não
estava exposta, e se alguma criatura se aproximasse, ele seria capaz
de reagir. Os cheiros reconfortantes da terra penetraram em suas
narinas. Ele afastou a memória da derrota, deixando Bianca
preencher seus pensamentos, e caiu em um sono sem sonhos.
Capítulo Três
Bianca

Parte da noite de Bianca foi gasta ficando um pouco ocupada


com seu vibrador. Toda aquela energia sexual do encontro com Rufus
a agitou, e ela não conseguiu dormir até que liberasse a tensão.
Só... foda-se. Eles se conheceram. Se beijaram. A maneira como
ele beijou a deixou sem fôlego e com tesão, querendo muito mais do
que apenas a carícia, os leves toques em suas costas. Algo em seu
cheiro, assim como aqueles olhos amarelos brilhantes, a deixava
selvagem, como se a própria presença dele invocasse algum tipo de
instinto selvagem, um que a fazia se sentir tanto medo quanto
fascínio por seu evidente sangue de predador.
Quanta força nele. Ela sentiu como seus músculos estavam
contidos quando ele a tocou. Que ele detinha uma quantidade
assustadora de poder, mas mantinha tudo amarrado sob controle ao
segurá-la, delicada como uma pena.
Ela teve que bater a cabeça no travesseiro algumas vezes para
liberar a energia caótica que se acumulava dentro dela. Arrefeceu até
a ponta dos dedos, esticou os músculos ao redor de seus ombros,
mas não se dissipou totalmente.
Naturalmente, Bianca contou a suas amigas. Naturalmente,
elas explodiram seu telefone um pouco até que ela finalmente foi
capaz de acalmá-las, já que agiram ainda mais animadas do que ela.
Especialmente quando mostrou a elas as fotos de Rufus, provocativas
e sem camisa em sua conta do Date Monsters, e todos elas tiveram
um colapso cerebral coletivo juntas. Até Katie, que tinha alguém
estupidamente atraente ao seu lado, abanou o rosto com a mão.
— Tire uma folga do trabalho, garota, — disse Tegan, antes de
encerrar a conferência noturna. — Junte-se naquele ninho de amor
e dê uma cavalgada completa, se é que você me entende.
Oh, ela sempre entendia.
Indo para o trabalho no dia seguinte, foi muito fácil para ela
arranjar algumas semanas de folga. Ela era tecnicamente apenas
uma funcionária extra de que seu pai não precisava, mas ele queria
ter certeza de que ela tinha um emprego sólido e estável para um dia
assumir todo o sistema de mini lojas em Whitefall Creek. Se você
fosse dono de três das já limitadas mercearias da cidade, era
praticamente da realeza.
Rachel com certeza gostava de andar com a realeza. Não era
originalmente assim entre eles, mas conforme cresciam, Rachel
diminuiu o rebanho quando se tratava de seus amigos, deixando os
menos influentes para trás. Afinal, eles simplesmente não eram
importantes o suficiente para justificar qualquer tempo gasto.
Bianca suspirou, trabalhando nos bastidores em parte da
papelada e na contabilidade de seu pai, mal conseguindo esperar o
tempo em que estaria livre e se encontraria com Rufus. Sua mente
continuava vagando para aquele beijo maldito, lembrando como sua
pele queimava com o toque, com o desejo socando seu estômago e
rasgando suas inibições habituais. Isso lembrou Bianca de seus dias
mais jovem de escola, antes de aprender a ter um pouco mais de
respeito por si mesma.
— Ei, Beebee, — disse o pai, usando seu nome favorito para ela.
Não o mais profissional, mas Bianca levava tudo na esportiva.
— Sim?
— Brent esteve perguntando por você. Ele está esperando na
porta do escritório. — Seu pai balançou as sobrancelhas. — Ele está
vestido muito bonito para tentar te impressionar.
Bianca gemeu interiormente, mas sabia que não tinha uma
réplica decente em mãos que afastaria a surpresa de seu pai de que
ela não queria mais pular na cama com Brent.
— Vou vê-lo, mas realmente não estou interessada. Ou você
esqueceu que ele me largou depois de me foder?
Seu pai fez aquela coisa piscando onde ele não queria pensar
em outra pessoa tocando sua filha. Exceto que também foi isso que
ele encorajou. Decida-se.
— Rapazes serão rapazes. Eles fazem coisas bobas quando são
mais jovens. Ele já deve ter passado desse estágio.
— Certo, — disse ela com um escárnio. — Semeando sua aveia
selvagem, como você gosta de dizer?
Seu pai não respondeu ao uso de sua frase favorita para
homens mais jovens, já que ele a usou para justificar a traição de
sua mãe várias vezes, e havia uma expressão vazia e morta em seu
rosto, ou um aperto de culpa. Dependia de quão mentalmente
preparado ele estava para a réplica.
Ele não traiu mais. Ele havia se estabelecido para se tornar um
bom pai. No entanto, Bianca suspeitou que ele fez isso justificando
constantemente suas ações anteriores.
Ela encontrou Brent do lado de fora da porta, e ele estava bem
vestido. — Ei, — ele disse, sorrindo brevemente para Bianca, e então
olhando para o chão. — Sei que você provavelmente não quer me ver
agora, mas queria dizer que estava falando sério sobre o que disse da
última vez.
— Hmm. — Bianca cruzou os braços, dando a ele um olhar
bastante duro, permitindo que o aborrecimento borbulhasse. — Eu
nunca esqueci o que você fez. Jamais.
Ele estremeceu. — Foi no passado. Não sou a mesma pessoa.
Podemos ser bons juntos.
— Você não está solteiro agora porque traiu Ava? Tipo, três
semanas atrás, você se embebedou e dormiu com Emory? — Ela não
esperou que ele respondesse, embora sua expressão facial fornecesse
evidências mais do que suficientes de que ela acertou o alvo. — Você
percebe que toda vez que fica solteiro, antes de ir e encontrar outra
pessoa do clube das abelhas rainhas para foder, você vem até mim
primeiro, como se eu fosse sobras de um jantar de cachorro? Como
aqueles pedacinhos de vegetais que eles odeiam comer.
— É... não é assim. Sempre me interessei por você, mas... —
Suas bochechas ficaram vermelhas de raiva. — Todo mundo pensa
que seríamos um bom par. Você poderia acabar com alguém muito
pior do que eu.
Que encantador, Bianca pensou, notando que ele basicamente
usou o argumento de que não havia outras perspectivas além dele. E
que ela só estava à vista dele por causa da pressão da comunidade.
Talvez ele tivesse pessoas pressionando-o como a mãe e o pai dela,
que não podiam deixar de mencioná-lo.
— Por que você não fica com Emory, se você gosta tanto dela?
Seu rosto se contorceu, atingido por algo feio. — Você sabe como
é Emory. Uma boa diversão. Ela basicamente dorme com um cara
diferente todas as noites, e não é alguém com quem eu gostaria de
ter um relacionamento.
— Sim, mas você está bem transando com ela, não é? Quando
não há ninguém por perto. De repente, o fato de ela dormir por aí não
é um problema.
Claramente, a conversa não estava indo como ele queria, e ele
não queria falar sobre Emory. — Olha, ela é apenas uma vagabunda,
todo mundo sabe disso. Você não é. Você tem classe. Adoraria levar
você a algum lugar. Talvez para as montanhas?
Bianca, cansada de ser constantemente convidada para sair por
esse idiota, apontou a artilharia pesada contra ele. — Não. Não quero
sair com você. Nunca quero sair com você. Pare de pedir.
— Vamos! Não é como se você tivesse outras opções, Bianca.
Seja sensata, aqui. Ninguém mais gosta de você. Ouvi sobre o que
aconteceu com o casamento...
— Oh, mas tenho opções. Vou me encontrar com uma delas esta
noite, — ela disse docemente, tentando esconder a dor de suas
palavras. Usando toda a sua força de vontade para não apenas gritar
com ele.
— Isso é uma mentira...
Ela fechou a porta na cara dele e mostrou os dois dedos do meio
para a porta, gesticulando violentamente.
— Isso não é bom para uma jovem fazer, — seu pai advertiu,
parecendo um tanto desapontado com o fato de que Bianca ainda
não tinha concordado com um relacionamento.
Batidas agressivas na porta fizeram Bianca resmungar de
desgosto. — Estou saindo pelos fundos. E não quero mais lidar com
ele.
— Não entendo por que isso é um grande problema para você.
— O odeio. OK? E quero que ele seja banido desta loja se ele
continuar voltando.
Dizer odeio parecia ser um gatilho suficiente para seu pai se
endireitar, metaforicamente arregaçar as mangas e se aproximar da
porta. Bianca se abaixou pela saída de incêndio aberta, emergindo
em um quintal sombrio e cinza, com cadeiras vermelhas espalhadas
ao redor e altos muros de pedra obscurecendo-o da rua. Uma mesa
cheia de bitucas de cigarros indicava o local onde todos os fumantes
preferiam ir.
Ela respirou fundo para se acalmar, pensando na rede boba de
adultos e pessoas em toda a cidade que provavelmente se sentavam
ao redor das mesas de jantar, discutindo quem combinaria melhor
com quem. Alguém talvez apontando o nome dela, acreditando que
ela é vulnerável, mais fácil de forçar a um relacionamento. Assim
como um bando de lobos circulando em torno de uma presa
enfraquecida, isolando-a, derrubando-a quando surgisse a
oportunidade.
Foi por isso que Brent veio aqui. Ele a queria vulnerável por
causa da presença de seu pai, por precisar ter uma fachada agradável
para os clientes. Jogar aquela frase de como ninguém gostava mais
dela, isso foi um tapa na cara.
Quantos outros caras planejavam rastejar para fora da toca,
usando algo semelhante? Ela estremeceu com o pensamento e, em
vez disso, direcionou suas reflexões para imagens muito mais
agradáveis. Imagens como Rufus e a promessa que ele mantinha.
Imaginá-lo ficava ao mesmo tempo animada e nervosa e,
subsequentemente, mais irritada por ter que lidar com pessoas como
Brent. Afinal, Rufus só estaria por perto enquanto o dinheiro
existisse. Além disso, ela provavelmente não conseguia esconder o
fato de que ele era um contratado, considerando que todos sabiam
que o último foi.
Ah bem. Apenas algo que ela precisava tolerar em seu tempo
aqui. Se ela se preocupasse muito com o que as outras pessoas
pensavam dela, a vida não seria exatamente divertida. Ela ouviu seu
pai falar com um Brent agitado, parada o mais próximo possível da
saída sem ser visto, e deu um suspiro de alívio quando ele saiu.
Quando finalmente liberou-se do trabalho, mal conseguiu
descer a rua principal antes de perceber o carro de Brent se
aproximando, rodando em um ritmo deliberadamente lento. Ela
mudou rapidamente de direção, impulsionada por um aumento
repentino de aborrecimento e ansiedade e, por um momento, pareceu
funcionar. Pouco antes de ele virar o carro azul de volta, para segui-
la na rua novamente.
Ela não achava que despertar as tendências perseguidoras
anteriormente ocultas de Brent fosse um bom sinal em qualquer
frente. Ela também não queria gritar com ele no meio da rua, porque
isso chamaria muita atenção, o tipo que se refletia mal nos negócios
de seu pai. Bianca realmente não tinha permissão para fazer o que
queria aos olhos do público impunemente. Os boatos se espalhavam
como um incêndio, e você tinha que estar atento ao que estava ao
seu redor para evitar conflitos.
Brent continuou seguindo, e Bianca mandou uma mensagem
para Rufus encontrá-la na prefeitura.
Cinco minutos depois, ele estava lá (aparentemente já estava
por perto), e ela caminhou até ele, sorrindo, ainda ciente de Brent ao
fundo. — Estou feliz em ver você agora.
— Fico feliz em ver você também. Achei que você estava
planejando se encontrar mais tarde?
— Estava, mas outra coisa apareceu no caminho. — Ela
esfregou o rosto com uma das mãos. — Tenho alguém me seguindo
no momento. Homem em um carro azul. Ele tentou me coagir a um
relacionamento antes, mas falhou. Acho que ele não gosta muito da
palavra “não”.
Os olhos de Rufus fixaram-se no carro como raios laser. —
Alguns homens lidam muito mal com a rejeição. Você não o
confrontou?
— Não quero causar mais drama. Minha família tem uma
reputação a manter, e caras como Brent ficam muito envergonhados
se as coisas não acontecem do jeito deles. — Esperançosamente, ele
estar aqui era o suficiente. Ela realmente não queria ter que lidar
com Brent aparecendo todo chateado em sua porta. Provavelmente
ele estava se gabando para todos os seus amigos atletas sobre como
ele iria conquistar Bianca novamente ou algo assim.
Ela suprimiu um leve grito de terror quando Rufus foi direto
para o carro. Ele disse, alto o suficiente para Bianca e as outras
pessoas perto da prefeitura ouvirem: — O que você está fazendo,
perseguindo minha namorada?
Olhando mal-humorado do banco do motorista, Brent não se
preocupou em baixar a janela. Só mostrou o dedo a Rufus. O
lobisomem soltou um rosnado surpreendente e desumano de seus
lábios, e bateu no carro com tanta força que ele chacoalhou. A
expressão de raiva de Brent se transformou em terror, e ele pisou
fundo no pedal com tanta força que os pneus guincharam. Ela o
imaginou como um camundongo assustado se afastando e examinou
Rufus discretamente. O lobisomem parecia ter se transformado
parcialmente, suas mãos mais peludas, braços salientes, esticando a
jaqueta que ele usava.
— Você estava planejando se transformar em um lobisomem
para assustá-lo?
— Algo assim, — Rufus grunhiu. Seus olhos pareciam brilhar
com uma espécie de intensidade viciosa, e Bianca não pôde deixar de
sentir um arrepio de medo. — Vou ficar de olho nesse aqui, caso ele
cause mais problemas. Ele é um ex?
— Sim. — Ela engoliu em seco, antes de dizer: — Ele era aquele
que era praticamente uma vez e acabou na escola. Legal comigo até
que conseguiu o que queria entre as minhas pernas, então seguiu em
frente.
— E por que exatamente ele está te seguindo agora?
— Envelhecendo, acho. Ficando sem opções na cidade para
levar para a próxima fase de relacionamento. — Seus lábios se
torceram amargamente. — Esta não é a primeira vez que ele tenta.
Ele sempre tenta quando termina. Só tenho que prender a respiração
até que ele mergulhe de volta em um relacionamento com alguém.
— Vou me certificar de que, se ele acabar visitando você, se
arrependerá, — disse Rufus, ainda olhando na direção de onde o
carro tinha saído veloz. A maioria dos transeuntes agora os ignorava,
pois as testemunhas originais se dispersaram. Ele então estendeu a
mão para ela, ainda usando a pele de lobo. Hesitante, ela mergulhou
sua própria mão nele, fascinada de uma forma meio assustadora ao
ver as unhas, longas e afiadas. Sua pele era quente, a pele áspera.
— Isso não te assusta, não é? — Ele ergueu suas mãos
agarradas. — Você já viu um lobisomem antes?
Ela suspeitou que ele estava dizendo isso em parte pelo fator de
susto, para obter uma leitura de sua reação. Hector não se exibiu
muito com suas transformações em torno de Bianca. No entanto, ela
estava curiosa para ver como era a aparência de Rufus e apertou sua
mão estranha (pata?). — Mostre-me.
Um sorriso lento se espalhou por seu rosto e ele aceitou o
convite. Ela observou enquanto as roupas derretiam na pele, como
floresciam ao redor dele, e ela o soltou quando ele começou a se
curvar, em seguida, bateu em quatro patas. Uma enorme besta de
pelo cinza com olhos amarelos brilhantes a encarou de volta. Seu
focinho tinha praticamente o comprimento de seu cotovelo até a
ponta dos dedos. Esse corpo desgrenhado tinha um metro e oitenta
e dois de altura. Ela ficou boquiaberta, diminuída por esta forma
monstruosa, surpresa que seu corpo humano menor foi capaz de
explodir em tal coisa.
Jesus, ele é enorme. Algumas pessoas, descendo a rua, fizeram
um não e foram para o outro lado. Outros apenas pararam e
encararam. Rufus se deitou de barriga na frente de Bianca, agora
abanando lentamente o rabo, e ela tocou seu nariz, passando os
dedos pelo focinho.
— Não esperava que você fosse tão grande, — ela disse,
esperando algo mais próximo do tamanho tradicional de um lobo.
Ainda grande, mas não ao ponto disso. Foi isso que ela contratou.
Não algum atleta ou garoto de fraternidade tentando ganhar dinheiro
rápido, mas uma criatura primitiva com uma longa linhagem que
remonta aos tempos em que os humanos ainda tinham medo do
escuro e dos monstros como este que espreitavam nele. Seu corpo
reagiu fisicamente à presença de um predador, querendo fugir,
fazendo com que seus batimentos cardíacos aumentassem e a
adrenalina corresse por seu sangue. Seu cérebro, entretanto,
processou a ausência de perigo, lembrando que este ainda era Rufus,
não importando a forma que ele usasse.
Exceto, os instintos não eram mais fortes na forma de lobo? Ele
não teria muito mais dificuldade em controlar seus impulsos? Assim
que sua mente começou a se demorar naquele fragmento particular
de paranoia, Rufus sacudiu a cabeça várias vezes, em um gesto de
suba, indicando que queria que ela subisse em suas costas.
Devo estar louca, ela pensou, deslizando nas costas pretas e
cinzas de Rufus, os dedos se enterrando em uma montanha de pelos.
Ela encontrou o que parecia ser pele solta ao redor do pescoço dele,
que era fácil de agarrar, e suas coxas apertaram seus lados para
agarrá-lo. Ele se levantou, erguendo os dois facilmente, e caminhou
levemente na estreita ciclovia, entre os pedestres e os veículos.
Todos olharam para eles por pelo menos um momento. Não era
exatamente uma visão comum ver lobisomens na cidade, muito
menos uma das locais montando um. Claro que era melhor do que
andar a cavalo, de qualquer maneira. Ele tinha uma caminhada mais
suave e galopante, à qual ela se adaptou, sempre levantando apenas
uma pata de cada vez. Lento o suficiente para não assustar aqueles
que os olhavam, e também para que ela sentisse todos os músculos
trabalhando sob a pele dele, sentindo-se levemente impressionada.
Como ela poderia não saber? Ela estava montando um lobisomem
fodão.
— Que diabos, — ela ouviu alguém exclamar, e dirigiu um
sorriso a um adolescente perplexo. Olhe para mim, pegando o lobo. O
mesmo lobo que fez Brent fugir por provavelmente quilômetros,
apenas para fugir de um perigo potencial. Ela se sentia poderosa, no
topo do mundo, caminhando pelas ruas nas costas de um lobo. Ela
examinou os arredores e descobriu, para sua leve consternação, que
Brent não tinha fugido tão longe quanto ela esperava, quando
reconheceu o carro dele na rua e a silhueta dele presa no veículo.
Com a cabeça erguida, ela optou por ignorá-lo, concentrando-se no
caminho à frente, antes de dar um conjunto de instruções para Rufus
começar a caminhar até a casa dela.
Todo mundo em Whitefall Creek vivia em uma casa de pedra
atarracada. Era raro ver edifícios com mais de dois andares, e partes
da cidade eram velhas o suficiente para ter ruas de paralelepípedos,
gastas, mas ainda fortes de todos os anos. Ela soltou um suspiro,
concentrando-se no lobo abaixo dela. Ela se sentiu embalada por
uma sensação de segurança, passando os dedos sobre o pelo grosso
e grosso. Este tipo de revestimento serviria bem em baixas
temperaturas. Ela o imaginou dormindo na selva, enrolado em uma
pilha de neve, nariz na ponta da cauda, neve cobrindo-o, mas
dormindo profundamente, coberto por toda a pele.
Deve ser bom poder deslizar em uma pele nova como essa. Ela
certamente não se importaria com a capacidade de se transformar. A
vida seria muito mais fácil se ela fosse capaz de vencer qualquer
discussão que surgisse apenas se transformando em um lobo de
quase dois metros de altura? Alguém como Brent nunca mais a
incomodaria.
Pelo menos ele não estava seguindo mais, então ela supôs que
era alguma coisa.
Finalmente chegando a sua casa, apreciando o dia limpo e não
chuvoso, ela sentiu seu telefone vibrar e viu que estava vinculado ao
Instagram. Apesar de seu melhor julgamento, ela deu uma espiada
de qualquer maneira e viu que Brent havia colocado uma postagem
bastante cruel sobre como ela contratou um animal para transar. Foi
um discurso bastante longo sobre “namoradas loucas”, como ela o
rejeitou de cara, apesar de sua abordagem razoável. Seu comentário
já havia sido vinculado por alguns, e ela suspeitava fortemente que
não iria gostar de ler o que seus apoiadores diziam nas respostas.
Bem, ela supôs que era óbvio que Rufus foi contratado, mas o
jeito que ele falava era depreciativo a ponto de fazer sua pele arrepiar.
Ela não era nenhuma dessas coisas que ele afirmava.
Nem psicopata. Nem alguma idiota “desesperada”. Apenas
alguém que pode gastar seu dinheiro com o que quiser, pode
desfrutar de sua vida da maneira que quiser.
Rufus sentou-se cuidadosamente de barriga para baixo, o que
Bianca interpretou como uma indicação para escorregar. O
lobisomem se transformou de volta em sua forma humana, alto,
orgulhoso e bonito. Seu estômago deu uma guinada caótica, e ela
ficou muda com a beleza dele por um momento.
— Vi seu ex de novo, — ele disse, esfregando sua nuca, o que
Bianca suspeitava ser o ponto onde ela estava se agarrando a ele em
sua forma de lobo. — Ele não a seguiu, mas definitivamente estava
tentando ficar de olho em você. Realmente não tenho a habilidade de
falar em línguas humanas quando estou nessa forma, e você não
pode ouvir minha voz mental, então...
— Voz mental?
— Posso me comunicar com outros lobos perto de mim através
do pensamento, — ele disse, batendo em sua cabeça. — Telepatia,
como você quiser chamar. Podemos falar uns com os outros dessa
maneira, mas os não-lobisomens não podem ouvir.
— Os lobos normais podem responder a isso?
Ele sorriu, mas balançou a cabeça. — Na verdade não. Eles
respondem à nossa fisicalidade, é claro. Reconhecendo-nos como
maiores e mais malvados. Mas não podemos falar com nossos
priminhos da mesma maneira. Agora, onde é a sua casa aqui?
— Por aqui, — disse ela, ainda sentindo aquela pontada de
nervosismo em seu corpo. Ainda se perguntando no que exatamente
se inscreveu. Se eles realmente iriam afundar em uma bola
desprezível de luxúria pelas próximas semanas, ou se haveria
acúmulo, antecipação, o tipo de provocação que irritava sua alma e
a deixava querendo mais.
Ela lambeu o lábio inferior, não querendo ficar muito animada
ou talvez ter uma ideia errada sobre as coisas.
— Você acha que este Brent é um perigo para você? Ele irá
potencialmente persegui-la ainda mais?
— Não sei, — Bianca disse honestamente. — Ele não me
perseguiu antes. Ele tem sido um pouco persistente em me fazer sair
com ele, geralmente na época em que termina com sua namorada
atual, mas além disso? Na verdade, não.
— Você já cedeu a algum de seus pedidos antes, então?
Ah. Ela parou de andar como se tivesse batido em uma parede
sólida, de corpo. Uma profunda e assustadora sensação de vergonha
a percorreu.
— Eu... eu posso ter. Uma vez. Quando estava entediada,
solitária, talvez mais bêbada do que deveria. — Oh, ela tentou muito
apagar aquela memória particular. Ajudou o fato de estar tão bêbada
que mal se lembrava da maior parte para começar, mas ela precisara
fazer a caminhada da vergonha. Precisou suportar um ataque
implacável de mensagens e elogios de Brent, e evitar falsos alarmes
de seus amigos-da-época, que presumiram que ela e Brent eram
“inevitáveis”, como aparentemente o cara com quem você “fez isso”
primeiro seria o cara com quem você provavelmente se casaria. Não
importa quem mais você provasse.
— Então ele sente que tem uma justificativa para fazer isso.
Presumo que tenha sido um erro em retrospectiva.
— Oh, sim. Nunca tive intenção de estar com ele. Eu só... não
estava com a mente mais limpa na época. Estava bêbada e com tesão
o suficiente para ignorar todos os alarmes, acho.
— Espero que você não faça isso de novo, — disse ele. — Sempre
deixe claro que você não quer isso.
— O problema é que não acho que ser claro com ele seja
suficiente. “Não” é apenas um sinal para ele continuar tentando. E
acho que ele está espalhando mentira para todos os seus amigos,
dizendo como vamos acabar juntos, e ele sente a pressão para provar
a si mesmo.
Rufus bufou, e eles pararam do lado de fora da casa baixa e
enfadonha de Bianca. Não era nada parecido com a de Tegan, com
sua impressionante decoração interior e frigobar. Dentro havia
apenas uma coleção de móveis básicos e quartos, com a máquina
mais exótica sendo sua cafeteira, que ela usava todos os dias, sem
falhar, para reanimar seu traseiro morto pela manhã. Ela não
gostava de beber café depois das duas da tarde, porque tinha um
jeito de ficar na corrente sanguínea por horas e atrapalhar o sono se
ela tomasse mais tarde.
Convidar Rufus parecia incrivelmente perigoso... imprudente,
até. Como se ela estivesse colocando o último prego em seu caixão
quando se tratava do contrato. Sim, ele poderia entrar. Sim, ela o
queria dessa forma. Mal conseguindo conter a excitação e a
ansiedade contidas no estômago, ela ofereceu uma bebida a Rufus,
que ele educadamente recusou. Seus olhos dispararam para todos os
lados, absorvendo os detalhes.
— Achei que você teria mais decorações do que isso, — disse
ele, parecendo um pouco surpreso.
— Tenho me tornado espartana, — disse ela. — Quando você se
muda algumas vezes, não é divertido carregar tanta mudança. Então
gosto de tentar alugar uma casa mobiliada, não trazer tantos dos
meus bens. A maioria das coisas está no quarto. — Ela o levou até
lá, particularmente feliz por ter limpado tudo a ponto de ficar
imaculado. A única bagunça real era a dispersão tênue de
ferramentas de maquiagem na penteadeira, que Rufus foi
inspecionar, seu nariz fazendo hora extra.
— Nunca entendi a obsessão humana em se pintar, — admitiu
então. — Colocando todas aquelas cores, camadas e coisas diferentes
sobre sua pele natural.
— Não é bom parecer velha se você quiser namorar, — disse
Bianca. — Tenho que esconder as rugas. Fazer tudo o que puder para
parecer mais jovem.
— A idade é natural. As rugas são naturais. Não há vergonha
nelas. As pessoas não deveriam ter medo da natureza.
— Você nos viu? — Bianca deu de ombros, pensando que não
estava exatamente esperando entrar em um debate sobre
envelhecimento, mas com certeza. Qualquer assunto de conversa que
tenha surgido. — Gastamos milhares para parecer mais jovens.
Somos julgadas por nossa idade. As mulheres, como meu pai gosta
de dizer, têm uma data de validade antes de não serem mais
atraentes. É por isso que os homens estão sempre procurando mais
jovens. Eles gostam de manter as coisas frescas.
O lobisomem soltou um suspiro de desgosto. — Para alguns de
nós, a lealdade é considerada a beleza. Uma vez que escolhemos uma
companheira, é isso. Mas até escolhermos uma, bem... gostamos de
testar as águas, como qualquer outra pessoa.
— E se a pessoa que você escolher for poli amorosa?
— Vou cruzar essa ponte quando chegar a hora, — foi sua
resposta. Portanto, não era algo que ele realmente havia considerado.
Para ser justa, Bianca não tinha considerado muito isso, também,
mas ela honestamente lutava para acreditar que esses lobisomens
ficariam com uma companheira por toda a vida. Ela não tinha
exatamente modelos masculinos fantásticos em sua vida. Seu pai
tentou todas as palavras sob o sol para justificar por que ele fez o que
fez. Sempre fracassava um pouco com Bianca nos últimos anos, mas
ele ainda insistia nessas desculpas, sempre que o assunto era
tocado.
— Por que você está fazendo essa cara? — Disse ele,
aproximando-se dela no quarto, o que a fez perceber, em uma espécie
de pânico elevado, que sim, eles estavam em seu quarto, e já estava
implícito o que fariam mais tarde. — Está tudo bem? — Sua voz era
baixa, calmante, suavizando-a.
— Eu... acho que acho difícil acreditar que os homens possam
ser fiéis.
Ele ficou em silêncio por um momento. Ela então se viu
explicando sobre seu pai, sobre sua convicção quase devota de que o
que ele fazia era normal. Quanto mais ela descrevia seu pai, mais
profunda ficava a desaprovação no rosto de Rufus. Eles lentamente
saíram do quarto pequeno e esparso durante a conversa, deixando
seu interior marrom escuro para entrar em uma cozinha mais clara,
branca e amarela. Ela ofereceu-lhe mais uma bebida, desta vez uma
das cervejas guardadas em sua geladeira, e ele aceitou.
— Você realmente não tem bons exemplos de homens em sua
vida, não é? — Ele abriu a tampa, olhando para o líquido dentro,
possivelmente sentindo o cheiro. — Espero que você não cometa o
erro de assumir que todos os homens são assim. Eles realmente não
são. Eles podem estar interessados em relacionamentos, no amor.
Ele disse isso a ela, e ela pensou, com um sorriso amargo, que
estava fazendo o que seu pai fazia, em certo nível. Optar por interagir
com um membro do sexo oposto por um curto período. Apenas para
gratificação pessoal. A única diferença real (e importante, do mesmo
jeito) era que ela não tinha nenhum relacionamento para trair.
Observá-lo sentado ali, as pernas ligeiramente afastadas,
olhando para sua lata de cerveja, a fez abrir uma lata sozinha.
Coragem líquida. Sempre ajudou. Afastou todas as pequenas
preocupações e inibições que bloqueavam seus pensamentos. Deixou
que as emoções, as que ela mantinha trancadas a sete chaves,
vazassem, expostas como um nervo em carne viva. Ela direcionou a
conversa mais para ele, para o tipo de vida que ele vivia e para as
expectativas que sua família tinha para ele.
— Não há muitas expectativas. Só que se acontecer algum
problema, eu voltarei. Eles estão se saindo muito bem, têm familiares
suficientes para que realmente não importe o que eu faça.
— Você é parte de seu bando, então? Um alfa?
Ele soltou uma pequena risada com isso. — Não é oficial, mas
sou considerado parte do bando. No entanto, costumava ter um
pequeno clã meu. Tínhamos grandes ambições, planejando atrair o
máximo possível daqueles que seguiram seus próprios caminhos.
Éramos quatro no total.
— Eram? — Algo em seu tom, além do uso dessa palavra,
colocou seus sentidos em alerta.
— Mm, sim. Eu fui desafiado. E perdi todos eles.
Ela olhou para ele, notando como seu rosto agora estava
completamente fechado, tornando-o desprovido de emoções. —
Mesmo? Como... como? Eu, ah, realmente não entendo o que você
quer dizer por desafio...
— É simples. — Ele voltou aqueles olhos amarelos ferozes para
ela. — Existem leis do bando antigas que ainda se mantêm fortes,
mesmo nos dias de hoje. Se um lobo rival quiser desafiar um líder,
eles anunciam a declaração. Costumava ser violento. Matar um
membro do bando de baixo escalão, por exemplo, deixar uma
mensagem para trás. Em um duelo formal, os alfas entrarão em
conflito. O vencedor leva tudo. Eles pegam o clã, eles pegam os ativos.
O alfa perdedor é automaticamente rebaixado a ômega, ou eles
simplesmente vão embora, banidos para a natureza. É considerado
de péssimo educação matar alguém depois que ele se rendeu, mas os
desafiadores mais agressivos e monstruosos adoram dar exemplos
sangrentos de perdedores. — Ele então olhou para sua bebida, ainda
com aquela expressão ilegível.
— Eu era mais forte do que ele. Acho que foi assim que ele nos
fez aceitar os desafios. Vimos como ele era fisicamente fraco em
comparação com outros lobos e pensamos: Ah, sim. Nós podemos
fazer isso. Mas ele trapaceou. Ele usou acônito.
— Acônito? — Ela imaginou a planta, roxa e de flor rala,
também conhecida como napelo e mata-cão. Uma planta bastante
venenosa por todos os meios. Mas a maneira como Rufus disse isso
foi misturada com repulsa.
— É especialmente perigoso para os lobisomens, — disse ele. —
Quando diluído, se você atirar em nós com uma bala revestida de
acônito, você provavelmente nos matará em apenas alguns tiros, em
comparação com o que normalmente levaria dezenas de acertos. Isso
fode com a nossa cura. É necrótico. Mal conseguimos ficar perto
demais da planta sem sentir náuseas. No entanto, de alguma forma,
este desafiante, ele o tinha em suas garras. Não o afetou. — Ele
esmagou sua lata de cerveja, com força suficiente para o líquido
derramar, que ele então lambeu, terminando o resto da cerveja. Ele
fez uma rápida pausa no banheiro depois disso e voltou, carrancudo.
— Tudo que você precisa saber é que nesse ponto, perdi meu
bando para ele, e ele tentou acabar comigo. Felizmente, meu bando
ainda era leal o suficiente para afastá-lo, mas... tive que ir. Deixei-o
para trás, deixei-os para trás. Acho que Moss foi embora. Ele me
manda mensagens de vez em quando. Não sei o que ele está fazendo
agora, no entanto.
Bianca estremeceu, pensando naquele enorme lobo cinza que
ela montava sendo derrubado por outro de tamanho semelhante.
Mesmo bestas enormes e poderosas como ele podem ser derrubadas
por algo pequeno, como um veneno.
Ela também sentiu uma fascinação particular repentina com o
conceito de acônito. Talvez seja uma boa ideia conseguir alguns no
tempo livre. Apenas no caso de ela acabar em algum problema com
lobisomens. Ela ainda se lembrava daquele terror primitivo e
instintivo ao enfrentar Rufus, não importando quão atraída ela
estivesse por ele. Parte desse terror veio de saber o quão
irremediavelmente derrotada ela seria, contra uma criatura tão
inteligente, mas mais forte, mais rápida, maior.
Ela enfiou a noção de acônito na parte de trás de sua cabeça, à
espera de investigação posterior, e em vez disso se concentrou em
Rufus, que agora a examinava com um olhar que era... familiar. Um
que ela viu em outros homens interessados nela. Seus olhos
percorreram cuidadosamente seu corpo, observando cada
centímetro.
Definitivamente sentindo a coragem líquida percorrer seu
corpo, Bianca se recostou levemente no sofá, tentando se esparramar
graciosamente. Ela suspeitou que ela realmente não administrou
aquela graça extensa tão bem, mas ele tomou isso como um convite.
Tranquilamente se recompondo, ela observou enquanto ele se movia,
rastejando em sua direção com um propósito no sofá que
compartilhavam.
— Se importa se te beijar? — Um sorriso lento e malicioso
brincou nos lábios dele, e seu coração deu um salto bastante
engraçado por liberdade. Ela jurou que o sentiu batendo contra sua
pele, exigindo ser liberado.
Privada de palavras, ela apenas conseguiu acenar com a cabeça
e um pequeno guincho. Ele pareceu tomar isso como um convite
suficiente e se inclinou para frente, cobrindo o resto da distância,
travando seus lábios nos dela.
O desejo a percorreu como uma chama, causando estragos sob
sua pele. Ela pensou que estava excitada antes, mas isso acendeu,
deixando-a quase sem palavras com o efeito.
Deus, por que ele tinha que ser tão hábil com aqueles lábios?
Como ele sabia mover as mãos daquela forma pelo corpo dela,
mexendo com todas as sensações táteis ali? Todos os cabelos de sua
nuca se arrepiaram. Estremecimentos deliciosos percorreram seu
corpo e dedos longos roçaram seu pescoço, como se de alguma forma
a puxassem para mais perto. A distância entre eles tornou-se
mínima, quando ele entrou completamente em seu espaço, o corpo
pressionando o dela no sofá.
Ela se acomodou da melhor maneira possível, sentindo-se como
uma adolescente com tesão novamente, se agarrando no sofá da casa
de algum atleta, deixando todas as suas preocupações irem, para que
pudesse se concentrar nos lábios magníficos que acariciavam os dela.
Tanto poder nele. Era honestamente intimidante sentir aqueles
músculos se esticando, empurrando, e quando uma das mãos dela
agarrou seu braço, ele flexionou um pouco, reforçando o fato de que
ele era estupidamente forte e em posição de fazer o que quisesse.
Não que ela realmente se importasse neste momento. Os lábios
dela se abriram mais, e a língua dele deslizou levemente, solicitando
a entrada. Quando ela o tocou com o seu, enviou uma sacudida
poderosa por sua barriga, direto para entre as pernas.
— Imagine todas as coisas que eu poderia fazer com você, — ele
grunhiu, afastando-se de seus lábios, sorrindo daquela forma
perversa, como se fosse o mestre, ela a marionete. — Beijaria e te
comeria até você quebrar, gritando de prazer.
Sua barriga deu outra sacudida, desta vez acompanhada por
uma forte onda de excitação, o tipo que ela reconheceu que iria se
transformar em um orgasmo se fosse permitido que se acumulasse
sem controle. Jesus, como isso seria constrangedor se gozasse
apenas com palavras?
— Quero ouvir todos os sons que saem da sua boca. Todos os
pequenos suspiros e gemidos. — Os lábios dele agora se moveram
para o pescoço dela, suaves a princípio, depois sugando com mais
força, como se confiscando o ponto de pulsação. Uma de suas mãos
deslizou por sua blusa, deixando um rastro ardente onde quer que
sua pele nua tocasse, alcançando seu sutiã, e então brincando
debaixo do tecido para deliciosamente atormentar sua pele nua.
Parecia divino, formando um afrodisíaco adicional em sua pele,
elevando os níveis de tesão a alturas quase insuportáveis. Com um
gemido crescendo no fundo de sua garganta, ela atacou sua roupa,
querendo nada mais do que tirar todos aqueles itens ofensivos, para
que pudesse testemunhar o que ele havia mostrado em suas fotos de
perfil.
— Alguém está impaciente, — ele grunhiu, tomando um
momento para segurar os braços dela, parando sua exploração
debaixo de sua camisa. — Não, se estivermos fazendo isso, caberá a
mim mostrar o que é possível. Para que você entenda como é ser
devorada. — A maneira como ele sussurrou a última palavra enviou
outra série violenta de arrepios por sua espinha. Toda resistência
deixou seu corpo naquele ponto, e ele assumiu o comando, tirando
liberalmente a camisa para revelar aquele abdômen sólido, o belo
arranjo de seu físico. O tipo exato de físico pelo qual ela babaria
quando não estivesse no controle de seus desejos.
Ele sorriu de uma forma bastante sagaz, continuando a
trabalhar nas roupas dela agora, lento o suficiente para que ela
pudesse protestar se quisesse. Nenhum protesto se manifestou.
Sem protestos. Ela se arqueou embaixo dele, o que permitiu a
Rufus tirar o resto de suas roupas. Parecia a etapa final e fatídica de
todo o procedimento, mas em vez de se sentir nervosa ou
constrangida, ela não queria nada mais do que buscar prazeres
indescritíveis com ele.
Ele permaneceu no controle total. Mãos acariciando sua pele,
provocando infinitas sensações. Os lábios roçando-a do pescoço ao
seio, arrastando-se ainda mais para baixo. Quando ele rastejou de
forma que sua boca se arrastou entre suas pernas e pressionou
contra seu núcleo, ela soltou uma espécie de grito choroso, atacado
por reações intensas dentro de seu corpo.
A forma como seus lábios... oh. Simplesmente... as mãos dela
saltaram para a cabeça e ela choramingou novamente, tentando se
contorcer para longe do toque, apenas para se encontrar presa, o
corpo travado no lugar. Era demais. Demais. Seu coração trovejou
contra sua caixa torácica, sua respiração tornou-se superficial, e
quando o orgasmo atingiu, ele percorreu seu corpo em uma onda
gigante, fazendo com que todos os músculos se contraíssem,
espasmos e depois se soltassem como se todo o suporte tivesse sido
removido deles.
Ele se recostou enquanto ela estava deitada ali, atrapalhando-
se com uma camisinha, e então se moveu sobre seu corpo,
pressionou seu peito contra o dela e deslizou para a umidade.
Ela gemeu novamente, incapaz de pensar, de encontrar
palavras para expressar tudo que a assaltava. Ele trabalhou
incansavelmente, e cada vez que ele roçava seu cerne, um raio
hipersensível de prazer, quase dor, a destruía. Ela olhou em seus
olhos como se fossem âncoras impedindo-a de se afastar, e soltou
um último suspiro quando seus movimentos diminuíram e ele
encontrou sua própria liberação.
— Que sons maravilhosos você faz, — ele sussurrou em seu
ouvido, o hálito quente arranhando sua pele. — Achei que demoraria
mais para você gozar.
— Ha. — Ela mal conseguiu pronunciar a palavra, ainda se
sentindo atordoada, sem membros. — Eu não... esperava por isso.
— Mm. Você é tão responsiva. Tão sensível. Gosto disso. Gosto
muito disso. — Uma de suas mãos deslizou para cima e para baixo
em sua pele, desta vez perdendo as zonas de perigo de uma forma
perceptível e deliberada. Por alguma razão, isso ajudou a excitá-la
ainda mais. Exceto que ela realmente não achava que seria capaz de
suportar outra rodada de sexo sem potencialmente desmaiar.
Parecia que anos sem um orgasmo adequado, apenas pequenos
para gozar, tinha se acumulado sob sua pele, jorrando tudo em um
momento poderoso. Tudo entre suas pernas parecia sensível e
dolorido. Ele notou seu pequeno tremor quando uma mão se
aproximou um pouco demais de sua parte mais sensível.
Por mais que uma parte dela quisesse continuar com todo o
negócio, seu corpo físico real claramente não poderia suportar muito
mais.
— Então é assim que se parece o sexo, — ela disse com um
pequeno sorriso malicioso. Ele sorriu.
— Oh, ainda nem começamos.
Bem, isso era sinistro. Também incrivelmente emocionante de
ouvir. Antes que ela pudesse seguir seu próximo instinto, no entanto,
que era abraçá-lo, o lobisomem retirou-se da cama, avançando para
o banheiro para se limpar e se livrar da camisinha. Uma pequena
pontada de decepção envolveu Bianca, mas ela fez o possível para
mantê-la sob controle.
Certo. Era apenas um arranjo sexual. Abraços, qualquer coisa
assim, seria mais íntimo.
Tudo bem. Foi com isso que ela concordou.
Ela também faria muito bem com que ele valesse seu dinheiro.
Capítulo Quatro
Rufus

Nos dias seguintes, Rufus se viu visitando Bianca. A mulher


mais jovem tinha muita energia sexual deliciosa e reprimida que
precisava de muito mais do que apenas uma sessão para ser
concluída. Algo que ele estava mais do que feliz em acomodar, já que
não via esse tipo de fogo em alguém há muito tempo. Ela era
receptiva, jovem e adorável sob seu toque. Os sons que ela fazia até
agora causavam arrepios em sua espinha, apenas com a memória.
Todo mundo tinha seu próprio tipo de beleza e atração e, com Bianca,
ele se sentia como se tivesse levado uma marreta na cabeça.
Ela preencheu praticamente todos os requisitos que ele exigia,
e ele nem percebeu que estava marcando isso em sua cabeça, com
toda a honestidade. Vívida, sexual, excitante. Um pouco reservada,
mas não onde mais importava. Uma mente própria, desejos que ela
entendeu ou sobre os quais queria aprender mais. Dar e receber com
paixão desenfreada.
Definitivamente, valia a pena gastar seu tempo, embora
estivesse começando a ficar um pouco preocupado de dormir no
deserto, mesmo que pudesse fazer toda a sua bagagem desaparecer
com ele. Isso aumentava sua carga geral de peso, tornando-o mais
lento e pesado, mas com certeza ajudava contra qualquer ladrão em
potencial. Ele queria dormir dentro da cidade, mas Bianca não estava
confortável o suficiente para que ele ficasse, e ele não queria
desperdiçar dinheiro pagando por um lugar para ficar, caso
contrário, os ganhos deste trabalho seriam quase zero. Ah, bem. Ele
lidaria com isso de alguma forma.
Ele ainda checou Date Monsters, precisando entrar em uma
pequena cota de funções de moderação, carregando seu telefone em
um dos cafés locais. Em um ponto, ele recebeu um telefonema
desconhecido, que ele ignorou, a mente já vagando de volta para
Bianca e apenas que tipo de coisas ele queria fazer com ela em
seguida. Ele fixou a imagem dela, perfeita e vulnerável, diante dele,
arqueando-se como uma oferenda aos deuses.
Ele gostava de se demorar nas memórias das mulheres dessa
maneira, mas Bianca queimava em sua mente como uma febre. Cada
um tinha suas próprias coisas que ele gostava, mas com ela, era
como um vício querer ficar perto dela.
Querer levar as coisas mais longe.
Outro número desconhecido. Ele o ignorou novamente,
desconectando-se de sua posição de administrador em Date
Monsters. Em princípio, ele realmente não gostava de atender esses
números, porque geralmente era telemarketing, empresas tentando
vender um produto.
Com certeza foi bom poder experimentar alguém como Bianca.
Ele se perguntou se ela seria do tipo que pede negócios repetidos fora
do contrato. Ele também se perguntou se estaria disposto a isso. Ele
tinha alguns clientes regulares, mas “regular” para ele significava
duas, três vezes por ano. Apenas o suficiente para mantê-los à
distância e tornar a união mais fresca.
Sua atenção despertou um pouco quando uma nova chamada
de sua mãe iluminou seu telefone.
— Ei, mãe.
— Rufus! Espero que esteja tudo bem com você. — Sua voz
familiar e esganiçada sussurrou ao telefone.
— Sim, estou em um trabalho no momento. E aí? — Como ele
duvidava muito que sua mãe ligaria apenas para uma rápida
checagem, provavelmente havia algum drama extra acontecendo.
Talvez ela quisesse reclamar de algo que seu marido estava
tramando, ou ouviu más notícias em algum lugar.
— Não tenho certeza se está tudo bem, para ser totalmente
honesta com você, — disse a mãe, e Rufus olhou ao redor,
subitamente ciente de seu entorno. Alguns humanos estavam no
café, então ele se levantou e saiu do interior quente, emergindo do
lado de fora para uma nova rajada de frio, apesar do fato de que
deveria ser verão aqui. Provavelmente não teve muito verão em um
lugar como este.
— Por que não? O que está acontecendo?
— Bem... seu pai, — ela disse, com uma leve contração de
aborrecimento em seu tom, — parece estar interessado em um duelo
territorial. A oferta proposta é “bastante lucrativa”, como ele gosta de
dizer, e ele pode escolher um campeão para representá-lo. Ele vai a
uma reunião do clã esta noite, mas tenho a sensação incômoda de
que a resposta será sim.
Rufus ouviu, tentando absorver tudo enquanto caminhava pela
calçada, desconcertado com o que sua mãe dizia.
— Qual é o nome do desafiante?
— Eu não sei. Seu pai não disse. Não acho que teria me
preocupado muito, porém, se não fosse por aquele tal de Moss.
— Moss? — A mente de Rufus viajou de volta para Moss, o
garoto mais jovem de olhos amarelos, que já foi membro de seu clã.
O clã que ele perdeu há muito tempo.
— Ele disse que você o conhecia. Ele quer tentar dissuadir seu
pai de tomar a decisão, mas, como ele é um estranho, não tem
permissão para opinar no conselho.
Isso cimentou tudo, então. Se Moss estava lá, saindo da
obscuridade depois de anos de silêncio, e seu pai estava convencido
de que ele tinha uma vitória fácil em suas mãos... então só havia uma
pessoa que o desafiante poderia ser.
— É Thesper, — sussurrou Rufus ao telefone.
— Quem?
— O desafiador. Ele é quem me derrotou anos atrás. Aquele que
eu disse que trapaceou, e não tenho certeza se você estava
convencida de que estava dizendo a verdade.
Houve uma pausa bastante significativa de sua mãe. Ele a
imaginou lá do outro lado agora, grandes óculos circulares cobrindo
seus olhos laranja, ampliando-os para o dobro de seu tamanho. Ele
a viu passando a mão pelos cabelos grisalhos, franzindo a testa
daquele jeito que ela fazia sempre que alguém dizia algo que valesse
a pena pensar.
— Certo, certo, me lembro. — Outra pausa. — Não, nós não
acreditamos em você então, não é? Mas se aquela pessoa Moss e você
disserem que essa pessoa é perigosa... então esse é um pensamento
totalmente diferente. Como você disse que ele trapaceou?
— Acônito nas garras. Talvez em seus dentes também. Ele foi
capaz de aleijar potencialmente em segundos.
— Isso soa como um disparate, — disse ela. — O acônito deve
afetá-lo também.
— Você pensaria assim, sim. Mas não havia provas quando
apresentei o inquérito. E também tenho que te dizer uma coisa, ele
ataca para matar. Teria me matado doze anos atrás se meu bando
não tivesse intervindo no último momento. Mãe, ele é seriamente
perigoso. É uma armadilha se for ele. Não acredite que é fácil. —
Como eu fiz. Ele tinha aceitado há algum tempo que as pessoas não
iriam acreditar nele, que eles pensavam que era impossível que um
lobisomem fosse capaz de ter acônito tão perto deles fisicamente sem
afetá-los.
Além disso, perder seu bando acabou sendo uma coisa boa, de
qualquer maneira. Finalmente ele não sentiu nenhum impulso,
nenhuma necessidade de construir do zero novamente um novo clã
e afirmar autoridade sobre eles, e ao invés disso ele se aventurou
mais fundo no mundo humano.
Acabou por ser um mundo muito legal. Seus pais estavam
orgulhosos dele por escolher seu próprio caminho. Nem todo mundo
precisava seguir os velhos métodos tradicionais.
Agora, entretanto, parecia que seus pais corriam sério perigo.
— Falo sério, mãe. Ele terá acônito nele de alguma forma. Você
vai sentar lá e questionar o quão impossível é, mas é possível.
Aconteceu. E sou a prova viva disso. Deus sabe o que aconteceu com
quaisquer outros clãs que ele subjugou dessa maneira. — Porque
Rufus tinha uma suspeita persistente de que Thesper estava mirando
em mais de um clã, usando o mesmo truque. Ofertas lucrativas,
fraco, aparência doentia, educado nas comunicações... até o ponto
em que seus lacaios assassinaram um dos membros de baixo escalão
de um bando.
— Vou ver se consigo falar com seu pai. Você quer falar com
Moss? Ele está na outra sala agora.
Rufus debateu um pouco antes de encolher os ombros. — Certo.
— Não que ele soubesse o que queria dizer a Moss. Passaram-se anos
desde a última vez que se falaram. Eles se deram bem na época, mas
seguiram com muita firmeza em seus caminhos separados. A única
coisa que ele soube foi que Moss se libertou e se tornou um lobo
solitário, e um dos primos de Moss informando alguém próximo da
mãe de Rufus, e descobrindo dessa forma.
Ele esperou, ouvindo os passos que indicavam que a ligação
estava sendo passada para outra pessoa.
— É Rufus? — A voz era mais velha, ainda familiar e barítono,
com uma espécie de suavidade que fazia você pensar que ele poderia
estar chapado o tempo todo.
— Moss.
Uma pausa estranha. — Uau. Já faz um tempo, não é? Gostaria
de ter nos encontrado em melhores circunstâncias.
— Ouvi dizer que foi você quem tentou alertar minha mãe sobre
todo esse negócio.
— Sim. Posso não fazer mais parte daquele clã distorcido, mas
ainda tenho contatos dentro dele que me dizem o que está
acontecendo. Tenho tentado alertar os clãs que ele desafia, mas todos
me ignoram até que seja tarde demais. — Ele soltou um suspiro
trêmulo de frustração. — As outras pessoas que ele derrotou,
nenhuma delas nem mesmo suspeitou que houvesse acônito, ao
contrário de você. Eles simplesmente entraram em colapso e
morreram antes que tivessem uma chance real de protestar. Eu
mesmo assisti a um desses duelos. Ele os mata. Não há testemunho
de uma pessoa morta.
— Certamente eles poderiam sentir o cheiro do acônito em seus
líderes mortos?
— Ele não vai deixá-los chegar perto. Ele tem alguns leais
obstinados que conseguem manter as suspeitas baixas. Acho que
você foi a primeira experiência real dele. Uma que falhou, porque
estávamos perto o suficiente para intervir. Ele não permitiu que isso
acontecesse de novo.
Rufus sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Um que ondulou
direto por sua espinha, recusando-se a ir embora. E pensar que ele
poderia ter sido a primeira potencial morte de um assassino.
— E você disse isso para minha mãe? Todo esse detalhe? Meu
pai?
— Não tenho permissão para falar com ele. Tentei contar a um
dos membros do clã de baixo escalão, mas não sei se eles acreditam
em mim ou planejam mesmo passar a palavra adiante. Como último
recurso, pensei que talvez você pudesse vir. Ele vai ouvir você, com
certeza.
— Não estarei aí a tempo esta noite, — disse Rufus, verificando
novamente se havia alguém por perto. Apenas alguns humanos,
nenhum que parecesse estar prestando muita atenção em sua
conversa. Ele nem sabia por que se sentia tão paranoico, já que o
último lugar que esperava encontrar algum agente aleatório de
Thesper seria em alguma cidade encharcada de chuva no topo das
montanhas, longe de todos os principais aspectos da civilização. —
Além disso, ele definitivamente não acreditou em mim quando disse
a ele pela primeira vez porque perdi meu clã.
Com a forma como a situação estava se desenrolando, Rufus
suspeitava fortemente que seu pai pretendia assinar um acordo de
morte com Thesper, mesmo sem perceber. Velho idiota e teimoso.
Pelo menos ele não seria o único a lutar, a menos que de repente
decidisse que talvez estivesse em forma e saudável o suficiente para
lutar contra um galho magro como Thesper. Que tinha muito mais
força do que seu corpo sugeria, e veneno.
— Você sabe quantas pessoas Thesper capturou ao longo dos
anos?
— Não, — disse Moss, parecendo se desculpar. — Quando estive
com o clã… diria que ele ganhou cerca de quatro duelos. Todos eles
contra pequenos clãs como o nosso. Mesmo quando ele podia
facilmente desafiar um clã muito maior, ele preferia os restos de
todos os pequenos clãs novos.
— Provavelmente porque os lobos mais jovens são mais
impetuosos, mais propensos a se sentirem invencíveis. — Rufus
trocou mais algumas palavras com Moss antes de encerrar a ligação,
profundamente insatisfeito, sem vontade de falar mais com a mãe.
Quando ele tentou entrar em contato com seu pai, foi para o correio
de voz e, embora Rufus tenha deixado uma mensagem, ele duvidava
que fosse ouvido. Seu pai tinha o péssimo hábito de simplesmente
ignorar tudo em um telefone, a menos que fosse contatado
diretamente na hora. Não era o indivíduo mais experiente
tecnologicamente lá fora.
Ele percebeu que talvez fosse necessário interromper algumas
sessões com Bianca. Uma pena, mas necessário. Ele brevemente
cogitou a ideia de apenas dizer a ela o motivo, mas a maioria dos
humanos tendia a ficar vidrada quando se tratava da cultura dos
lobisomens, e ele esperava mais ou menos o mesmo com Bianca.
Definitivamente havia benefícios em ser humano sobre um
lobisomem.
Ele tentou banir as preocupações de sua mente, ao invés se
concentrando em Bianca. Muito melhor uso de sua capacidade
intelectual. Uma pessoa muito melhor para se pensar.
Qualquer coisa, menos aquele lobo velho e miserável tentando
cravar os dentes no clã da família.
Capítulo Cinco
Bianca

Felicidade e prazer entraram em conflito com a chegada


indesejada de Rachel. Aconteceu justo quando Bianca estava
contando a Katie sobre todas as coisas interessantes e um pouco não
recomendadas que eles haviam feito, mas como a conversa aconteceu
em um bar público, onde Tegan trabalhava atualmente, também
significava ser suscetível a indesejável atenção.
Como a maldita Rachel.
Rachel mergulhou no Creaking Cauldron como se ainda fosse a
rainha do baile, com uma comitiva de pessoas atrás dela, algumas
delas novas amigas em comparação com o que Bianca e Rachel
haviam sido.
Todos combinavam uma com a outra, Bianca pensou
amargamente. Todas eram mulheres que trabalharam duro para
estar no topo da hierarquia social de Whitefall Creek, e ela estaria
certa nesse círculo se não fosse pelo fiasco do casamento.
Uma parte dela sentia falta disso. Uma parte maior não, porque
sua vida parecia mais autêntica do que antes. Mais barata também,
já que ela não sentia a necessidade de se manter atualizada com
coisas novas.
— Oh, são vocês duas, — Rachel disse com uma voz zombeteira,
avistando Bianca e Katie. — Não sei o que você vê nela, Katie.
— Mais do que você já viu, aparentemente, — Katie retrucou,
ousada, sem medo. Ela ficou muito mais ousada desde tudo. Bianca
se lembrava dela ser mais quieta, sem vontade de se envolver.
— Ela contratou outro shifter, sabe, — Rachel disse, mudando
de assunto imediatamente. — Obviamente incapaz de conseguir nada
sozinha, então ela tem que recorrer a pagar sabe Deus o que só para
ter algo para trepar. Não tenho ideia do que Brent vê em você...
Bianca revirou os olhos, sentindo aquela onda familiar de raiva,
e também uma vontade de jogar o copo agora vazio na cabeça de
Rachel. Ela resistiu... de alguma forma.
— Por favor, não me diga que você realmente gosta de Brent
também... — Bianca olhou para sua ex-amiga, ainda magoada em
algum lugar bem no fundo. — Você viu com quantas pessoas ele
terminou? Quantas mulheres ele traiu?
— Ele é de alta classe em comparação com todos os outros neste
lugar esquecido por Deus. Não comparado ao meu homem, é claro,
mas pensar que você realmente o rejeitou depois de concordar? Que
diabos está errado com você?
— Depois de o quê?
— Ele tem dito a todos que vocês deveriam se encontrar para
um encontro na cidade, e ele te pegou com outro homem. Aquele
lobisomem.
Ai Jesus… — O rejeitei firme e publicamente no trabalho.
Existem testemunhas. Deixei bem claro que não tinha interesse em
namorá-lo. E então, quando saí com alguém em quem estou
interessada, ele me perseguiu por todo o caminho, apenas
desaparecendo quando Rufus se aproximou e verificou o que estava
acontecendo.
— Não foi isso que ouvi.
— Isso é porque ele é um pequeno bastardo mentiroso.
— Não, você é a mentirosa.
Nesse ponto, Katie se levantou, os olhos brilhando, quase
cuspindo brasas de sua boca. — Ela não é uma mentirosa. Brent é
um verme nojento que a está perseguindo sem um bom motivo. Ele
literalmente não pode aceitar um não como resposta. Provavelmente
está se gabando para todos os seus amigos idiotas sobre como eles
estão namorando, e agora ele não quer perder a reputação.
Rachel parecia ter um pouco mais de habilidade de escuta
quando se tratava de sua irmã, embora isso não fosse um milagre
por qualquer extensão de significado.
— Tanto faz, você não conhece Brent como eu. Ele é um bom
amigo do meu marido, ele não mentiria assim. — Ela ficou firme,
insistindo teimosamente em sua versão dos eventos. Bianca queria
arrancar o próprio cabelo. Como ela nunca viu o que Rachel era?
Pior... ela suspeitava que uma parte dela teria defendido Rachel
nesta mesma situação, e negado quem acusou Brent de
contravenções, mesmo apesar de suas próprias experiências com ele.
Não era bom ser exposta a esse tipo de espelho, saber que a
única coisa que faltava era a perspectiva.
Nesse ponto, Rufus decidiu entrar. Quinze minutos antes do
combinado, deslizando para o bar moderadamente movimentado com
um ar de confiança, fazendo com que cabeças girassem em sua
direção. As bochechas de Bianca queimaram. Seu timing não poderia
ser pior. Não enquanto Rachel estava em pé de guerra, e Brent pode
ou não estar por perto, ela avistou alguns de seus amigos clássicos,
mas não ele.
— Bianca! — Ele mergulhou feliz sobre ela, dando um beijo em
sua bochecha e abraçando-a, enquanto o rosto de Rachel se
contorceu em uma espécie de antipatia intensa.
— Nem mesmo o mesmo de antes, pelo que vejo.
— Isso não é da sua conta, — Katie retrucou. — Ela é uma
mulher independente, ela pode fazer o que diabos quiser. Você está
com ciúme por não ter pensado nisso antes.
— Eu não estou, — Rachel sibilou, passando a mão tão
agitadamente pelo cabelo que parecia uma bagunça. — Não preciso
pagar para ter ninguém do meu lado.
— Claro que é bom se eles te pagarem, não é? — Katie disse
maliciosamente, o que parecia ser um gatilho grande o suficiente
para fazer as duas irmãs começarem a gritar uma com a outra no
bar. Rufus observou com uma espécie de perplexidade assustada,
mas quando um dos funcionários do bar começou a se aproximar e
Tegan, preparando um coquetel, balançou a cabeça freneticamente
com todo o caos, Rufus claramente pensou que era hora de intervir.
Ele limpou a garganta, em seguida, soltou um rosnado agourento,
profundo e rouco que fez a sala inteira ficar em um silêncio
atordoado.
— Assim está melhor, — disse Rufus, dando um tapinha no
peito. — Ainda o tenho. Desculpe, mas vocês duas estavam realmente
falando alto. Vamos apenas nos divertir, podemos?
Apesar de tudo, Rachel parecia impressionada com Rufus.
— A única razão pela qual não somos amigas agora é por causa
de você, — Bianca disse a Rachel sem malícia. — Eu gostava de ser
sua amiga, mas suponho que você nunca gostou de ser minha.
Pela primeira vez, Rachel não tinha palavras para dizer isso. Ela
olhou para Bianca por um momento, antes de voltar para seu canto
lotado, onde Brent finalmente emergiu de qualquer invisibilidade em
que estava encoberto.
— Que declaração, — disse Katie, levantando um copo para
Bianca. — Que porra de declaração. — Ela levou um momento para
amarrar o cabelo escuro solto, já que a faixa quase caiu no chão.
— Essa era Rachel, presumo? — Rufus deslizou suavemente
para o assento vazio de Bianca.
— Sim. Essa é minha irmã maravilhosa, — disse Katie. — Posso
pegar algo para você?
— Estava prestes a oferecer o mesmo. — Sem esperar por uma
resposta, Rufus dirigiu-se ao bar, cimentando a decisão por elas. O
que deu a outra pessoa a oportunidade de se aproximar delas.
Alguém com cabelo curto, azul elétrico. Alguém que costumava
passar um tempo nas mesas de sinuca ou jogando hóquei com um
dos caras locais.
— Isso não vai demorar muito, — disse Emory, e Katie deu a ela
uma grande quantidade de interesse. — Corre o boato de que você
está conseguindo homens por meio de um serviço de namoro online.
Tenho que dizer que estou muito interessada. Há algo que você possa
me dizer sobre isso?
Bianca estudou a mulher com curiosidade. Emory era o tipo de
pessoa de quem eles zombavam, na época da escola. A excêntrica
com suas cores de cabelo estranhas e senso de moda conflitante, que
sempre parecia estar sozinha, e ainda assim você pensaria que todos
os caras da escola tinham um pedaço dela, pelo jeito que se gabavam
nos vestiários.
— Cansado do jogo na cidade?
— Um pouco. — Agora Emory olhou para Bianca, e houve uma
pequena faísca de hostilidade.
Sim… Bianca pensou. Não fui legal com ela. — Se isso faz você
se sentir melhor, agora sou uma mulher reformada. Não sou a pessoa
de quem você se lembra no colégio.
— Mm, mas essas são as únicas memórias que tenho de você,
na verdade. — Emory continuou a olhar para Bianca com um olhar
claramente duro, e Rufus observou com leve interesse enquanto ele
se aproximava com uma rodada de bebidas, tudo apertado
habilmente em seus dedos. — Embora tenha percebido que você não
está mais andando com Rachel. Todo aquele caos de casamento deve
ter sido esclarecedor.
— Você poderia dizer isso. — Bianca sorriu educadamente, não
querendo entrar em uma conversa muito profunda com aquela
excêntrica. — Tudo o que sei sobre Date Monsters vem de Tegan, a
garota que prepara coquetéis no bar. Se você está um pouco solitária
e não se importa em pagar pela companhia, há muitos caras elegíveis
que ficarão felizes em proporcionar isso. O lado positivo é que são
todos shifters, como Rufus aqui. Ele é um lobisomem.
— Mostre-me, — disse Emory, e Rufus ergueu uma sobrancelha
enquanto colocava as bebidas na mesa. Havia até mesmo um para
Emory, então ele estava prestando atenção em tudo.
— Aqui? No bar?
— Eles não vão expulsar você por isso.
Particularmente, Bianca pensou que Brent vendo um
lobisomem monstruoso próximo a ele, sem um carro bloqueando o
caminho, poderia ser um bom motivador para nunca se aproximar
do seu lado do bar durante a noite. Então ela acrescentou sua própria
aprovação, e Rufus sorriu, dando um passo para longe de seu
banquinho, antes que suas feições se esticassem e se fundissem na
enorme forma de seu lobo de pelo cinza.
O rosto de Emory se iluminou. — Uau, — disse ela. Bianca,
sentindo-se um pouco possessiva, novamente notando o fim da
conversa e alguns suspiros e exclamações enquanto uma enorme
montanha peluda se transformava dentro dos limites do bar,
estendeu a mão firme para cavar o pelo de Rufus. O almíscar que
emanava de sua pele era mais forte nesta forma, e era revigorante
estar perto de tal poder, saber de certa forma, ela possuía esse poder.
Rufus mantinha os movimentos lentos e deliberados,
obviamente sendo o mais gentil possível, o que baixava os níveis de
alarme no estabelecimento. Um dos bartenders tinha uma expressão
sofrida no rosto, no entanto, como se ele realmente quisesse vir e
dizer “Não são permitidos animais de estimação”, mas não estava
preparado para lidar com um lobisomem de quase dois metros de
altura.
Emory acariciou Rufus um pouco, e qualquer dureza em seu
rosto se dissolveu. — Claramente estive perdendo. Fiquei tão curiosa
quando vi aqueles shifters pela primeira vez. Eles são baratos ou
caros?
— Realmente depende de quem você escolhe e para que os
escolhe, — disse Bianca. — Qual é o seu salário médio ou economia?
Emory fez uma pausa, antes de dizer: — Posso economizar cerca
de dez mil por ano.
Bianca assobiou. — Você pode pagar alguns deles, sem
problemas. Acho que são cinco mil para obter um ótimo por um mês
ou mais. — Rufus era um pouco mais barato. Apenas mil. Um grande
desconto porque ele gostava de Bianca em um valor face a face.
Naquele momento, Bianca se sentiu a pessoa mais sortuda do
mundo.
— Você vai se divertir, Emory. — Bianca permitiu que um
sorriso malicioso se espalhasse por seu rosto. — Sei que estou me
divertindo.
— Sua raposa. — Emory sorriu. — Aposto que você está.
Nesse momento, Katie estava mostrando o site a Emory, e foi
informação suficiente para a mulher de cabelo azul agradecer a elas,
tomar seu drinque e ir embora. Rufus lentamente voltou à sua forma
humana e as conversas recomeçaram. Uma coisa que deixou Bianca
decididamente desconfortável, no entanto, foi Brent, obviamente
olhando para a mesa deles e ocasionalmente rindo alto,
possivelmente por contar piadas às custas dela.
Talvez não, mas sua paranoia estava começando a aparecer um
pouco.
— Você quer que eu vá até lá e troque algumas palavras com
ele? — Rufus disse, sem perder o ritmo. Katie percebeu também, e
ela continuou mostrando o dedo para a mesa de Brent.
— Não quero causar mais drama e acho que chamamos
bastante atenção. Não pense que é frequente alguém se transformar
em um lobo excêntrico no meio de um bar.
— Podemos mostrar a eles muito mais do que isso, — disse
Rufus em um tom baixo e sonoro que instantaneamente quebrou
Bianca em suores de excitação. Jesus, não demorava muito, não é?
Tudo sobre este lobisomem estúpido serviu para acertá-la nos
lugares certos. O cheiro forte dele, a fragrância ainda persistente de
almíscar de lobisomem no ar, junto com o intenso escrutínio
daqueles olhos quase brilhantes. Sobretudo na penumbra, eles
pareciam penetrantes, ferozes, pertencentes às feições de alguém
perigoso e bestial.
Exceto que Rufus não era uma besta. Ele tinha sua presença,
sua confiança, sua absoluta segurança de si mesmo, e muito mais
classe, também. Muito mais classe do que Bianca estava acostumada
a lidar.
Uma pena que ela não poderia ter conhecido alguém como
Rufus em qualquer outra situação. Embora ela supusesse que as
pessoas raramente tropeçavam em alguma coisa, elas sempre
precisavam estender a mão para aproveitar as oportunidades à sua
frente.
Isso também era parte do problema de Brent. Ele presumiu que
Bianca acabaria rastejando até ele, porque todas as outras
possibilidades na cidade eram inexistentes. Ele nunca considerou
que ela pudesse se mudar, e com toda a honestidade, ela também
não, porque ficar com os negócios de sua família ajudaria a garantir
uma vida confortável, desde que assumisse o comando depois que
seu pai se aposentasse. Ele esperava que ela fizesse isso, e ela não
duvidava da necessidade por trás disso. Afinal, era necessário. Houve
pessoas que saíram e se tornaram celebridades, e pessoas que
precisavam manter as coisas funcionando para que o mundo todo
funcionasse.
Pessoas como sua família importavam, de uma maneira
totalmente diferente.
No entanto, aumentou significativamente a chance de ela ser
solteira ou de se ligar a alguém com quem não queria se relacionar,
só porque ela também queria transmitir o legado da família a uma
filha ou filho. Ela não queria que o negócio caísse nas mãos de outra
pessoa.
— Você quer ir embora logo? — Rufus sussurrou em seu ouvido,
e despertou seu interesse em dirigir à noite em uma direção
totalmente diferente.
— Não me importaria, — ela sussurrou de volta. Sua
negatividade rapidamente diminuiu em favor de novas possibilidades
e entusiasmo. Caramba, se ela tivesse Rufus por um curto período
de tempo, ela faria o máximo uso possível desse tempo.
Dando desculpas a Katie, dizendo adeus a Tegan, Bianca
desapareceu na noite com Rufus. Apenas para começar, ele a
empurrou contra a lateral de um prédio, a pedra fria cavando em
suas costas enquanto ela enganchou uma perna em volta da cintura
dele. Ele a devorou com beijos, as mãos apertando suas bochechas
enquanto tomava o que queria dela. Onda após onda de prazer
vertiginoso percorreu o corpo de Bianca, e para ser perfeitamente
honesta, ela se contentaria apenas em beijar, apenas se abraçando
dessa maneira, lábios firmes acariciando os seus.
Ela amou a emoção por trás disso, a pecaminosidade como nos
filmes, e lembrar todas as vezes que ficou excitada ao ver filmes com
esse tipo de cenas dramáticas de beijo ajudou a desencadear seus
próprios desejos ainda mais. Tudo era combustível para as chamas.
Perseguindo o prazer, perseguindo a felicidade. Os dedos de Bianca
trabalharam sob a jaqueta e a camisa preta de Rufus, determinada a
sentir aquela pele quente e tonificada, roubando sua frente e suas
costas.
Os dedos dela podiam estar frios, mas Rufus não deu nenhuma
indicação de que se importava, enquanto o calor se dissipava em seus
ossos.
Então, é claro, começou a chover de novo. Sempre acontecia
neste lugar.
— Vamos para minha casa, — ela se separou de seus lábios por
tempo suficiente para dizer. — E você pode ficar se quiser. No sofá,
na minha cama. Não me importo.
Ele a beijou com mais força com aquela permissão sussurrada,
e ela mergulhou no momento, os olhos fechados como sempre, a
visão roubada dela, então todos os outros sentidos se intensificaram,
importantes. Suas respirações ásperas e superficiais, seu corpo forte
empurrando contra o dela, nada mais importava além deste
momento...
— Oh, meu Deus, isso é nojento, que diabos há de errado com
você? — Uma nova voz cortou o momento, e a excitação de Bianca
diminuiu quando seu cérebro registrou o tom. Seus olhos se abriram
para ver Brent, com cerca de seis outros caras seguindo atrás dele
em uma aproximação de um bando de lobos.
— Sim, isso é foda, cara, — disse um dos outros caras, e eles
estavam soltos, gritando, insultando, apoiados um no outro. Um
deles apenas encarou, com a mão enterrada no bolso.
— Parem... — Bianca começou a dizer, mas Rufus a afastou e
empurrou Bianca para trás.
— É evidente que você está aqui para lutar, — resmungou
Rufus, e ela observou com horror e fascinação as mãos dele se
enrolarem, as unhas se alongando. — Afaste-se se você sabe o que é
bom para você.
Brent pareceu surpreso por um momento, mas seus amigos
gritaram e até bateram no peito, e um pouco do medo sumiu de seu
rosto.
Rufus não deu a eles chance de acelerar ainda mais. Assim que
eles continuaram xingando, continuando se motivando para o que
Bianca sabia que seria uma luta, Rufus se lançou com uma
velocidade desumana em direção a Brent. A súbita explosão de
movimento fez com que Brent recuasse, mas não antes que Rufus o
pegasse com apenas uma das mãos e o jogasse o que parecia ser de
seis metros pela estrada de mão dupla, esparramado até parar contra
outra parede. Ele soltou um uivo selvagem e começou no próximo
cara, e Bianca gritou um aviso quando aquele que estava com a mão
enfiada no bolso puxou uma arma.
Dois tiros estouraram no ar, atingindo o lado de Rufus,
enquanto o homem gritava: — Vou te derrubar, seu monstro!
Bianca sufocou um soluço de horror, antes de perceber que os
tiros nem diminuíram Rufus, já que ele arrancou a arma da mão da
pessoa e a jogou no chão. Todos os outros foram derrubados em
instantes, e Rufus completou sua transformação, o cabelo
despenteado, uivando.
A velocidade com que ele os dizimou fez com que todos fossem
embora. Brent cambaleou de pé como se estivesse bêbado, também
correndo na direção oposta, encorajado quando Rufus fez alguns
movimentos bruscos e violentos na direção deles.
Enquanto Rufus se transformava de volta em sua forma
humana, várias pessoas saíram do bar, um par armado, e Bianca
correu para explicar o que aconteceu. Rufus mostrou a eles os
ferimentos, fazendo com que Tegan se preocupasse com ele.
— Cara, temos que levar você para o hospital...
— Vai curar rápido, não se preocupe. Ele apenas me roçou, na
verdade. — Rufus fez uma careta ao conseguir arrancar uma das
balas. — Não acho que machuquei nenhum deles seriamente. Tive
cuidado quando mirei com Brent.
Não parecia, mas Bianca decidiu não comentar. A imagem de
Brent voando pelo ar daquele jeito, como se ele fosse um saco de
brinquedos ao invés de um homem adulto, a chocou e a divertiu ao
mesmo tempo. Essa era uma grande força que Rufus tinha. O que
assustou Bianca foi o fato de aqueles homens estarem procurando
briga. Procurando uma desculpa para bater em Rufus, simplesmente
porque ela o escolheu.
Depois disso, eles foram para a casa dela e, no momento em que
fez Rufus passou pela porta, passou um tempo inspecionando as
feridas dele, apenas para ver se realmente estavam sarando.
— Droga, sou uma idiota, — Bianca disse, se sentindo culpada
mesmo assim. — Você não teria se machucado se eu não decidisse
sair em público assim.
— Você realmente vai se culpar por algo assim? — Rufus soltou
uma risada. — Por favor. Isso não foi culpa sua. Isso foi culpa dos
idiotas que queriam implicar com alguém, e do idiota carregando
uma maldita arma, de todas as coisas.
Bianca acenou com a cabeça, pensando em particular que pelo
menos esse idiota com uma arma não estava cobrindo-o com acônito.
Pelo que Rufus já havia dito a ela, acônito teria sido uma passagem
só de ida para o outro lado. Ainda assim, foi chocante para ela ser
capaz de testemunhar em primeira mão um lobisomem levando um
tiro, e descartar o dano como se não fosse nada.
— Você pode ficar comigo de agora em diante. Você disse que
estava dormindo na mata?
— Sim. Não me importo, o solo é confortável para um lobo se
você encontrar um bom local. Mas também não me importaria de
ficar em uma casa. É mais seguro.
Sim, Bianca pensou. Ela se sentia um pouco culpada agora por
manter Rufus longe, apesar de estar pagando-o por um motivo
inescrupuloso. Além disso, todos sabiam que ela o estava
contratando de qualquer maneira.
Então por que não?
Em algum momento, claramente Rufus pensou que já tinha se
curado o suficiente, porque ele estendeu a mão para Bianca quando
ela se posicionou ao lado dele e puxou-a para um abraço caloroso,
que evoluiu lentamente para uma série de beijos ternos. Ela se sentia
como uma adolescente bêbada, explorando o sofá surrado com um
novo namorado. Ele começou lento e gentil, certificando-se de mover
os lábios sobre o rosto dela, suavemente em seu pescoço, nunca forte
o suficiente para deixar uma marca, os dedos fazendo cócegas ao
longo do lado de fora de suas roupas. Foi o tipo de provocação que a
embalou em uma falsa sensação de segurança, que mudou conforme
os beijos ficavam mais apaixonados, mais quentes, e ela mal
conseguia lidar com a intensidade enquanto ele a empurrava mais
fundo no sofá, o corpo a prendendo firmemente enquanto fez um
trabalho rápido em quaisquer defesas pessoais que ela pudesse ter
erguido naquele tempo.
A maneira como ele beijou e assumiu o controle era estonteante,
humilhante, e tudo sobre ela foi varrido pela tempestade.
Se apenas... se apenas isso fosse real. Ela reprimiu a onda de
decepção antes que se tornasse muito avassaladora, em vez disso se
concentrou no momento, em se perder para outra pessoa.
Realmente parecia ser varrido por um turvo furacão pessoal de
desejo, onde você só queria que o momento continuasse, nunca
parasse, mesmo que continuar pudesse acabar destruindo você.
Viciada. As mãos dela cavaram sob sua camisa para tocar
aquela pele nua aquecida, deleitando-se com a força, a presença dele.
Mais. Ela encontrou seus lábios novamente, erguendo-se para cima,
antes de permitir que ele deslizasse sua blusa e a abraçasse para
desabotoar o sutiã. Desembrulhando-a como um presente. A
maneira como ele olhou para ela causou um grande pico de excitação
para inflamar seu sangue, pois seus olhos estavam famintos,
vorazmente vagando por seu corpo, demorando-se em seu rosto. Ela
engasgou quando ele impulsionou a paixão novamente, desta vez
mergulhando a mão em suas calças, deslizando por baixo da calcinha
para tocar a umidade que se acumulava lá. Levou apenas alguns
momentos, mas ele localizou seu ponto mais sensível e começou a
circular e acariciar com um dedo longo, fazendo-a gemer contra o
tormento repentino.
Jesus. Seu corpo parecia estar em chamas, com cada área que
ele tocava ardendo e radiante, sua mente rastreando ativamente os
momentos de contato. Os músculos de suas pernas se contraíram
enquanto ele continuava a trabalhar nela, e sua respiração tornou-
se curta e irregular, sua concentração se partindo.
Maldito sorriso. Ele sorriu com suas reações, sussurrou como
ela era linda em seu ouvido, brincando com ela com perfeição,
levando-a a um clímax crescente. Jesus. Ela sempre se esquecia do
fato de que as mulheres nem mesmo precisavam de penetração para
o orgasmo. Ela foi educada de uma certa maneira, acreditando que
sexo e o pênis masculino eram essencialmente as únicas maneiras
pelas quais uma mulher poderia gozar, o que sempre a fazia se sentir
realmente estranha quando isso não funcionava com seus parceiros
anteriores. Ela fez algumas pesquisas sobre o assunto, mas
basicamente presumiu que talvez ela não pudesse realmente gozar e
não queria se aprofundar muito no assunto, porque a envergonhava
de admitir que talvez ela não soubesse tanto quanto ela deveria.
Afinal, ela era uma das garotas populares. Ela estava perto de
Rachel enquanto se gabava de todas as diferentes posições que ela
tinha feito com um namorado, e quantas vezes ela teve orgasmo
porque ele era tãããão bom.
E foi também por isso que Bianca fingiu um orgasmo em sua
primeira sessão de sexo, o que infelizmente alimentou a reputação de
Brent, já que ele gostava de sair por aí se gabando de que tinha jeito
com as mulheres.
Claro, se todas elas estavam fingindo, então ele tinha jeito com
elas. Você tinha que mentir quando pessoas como Brent exigiam
atenção, porque não aceitavam a negatividade como resposta. De
alguma forma, seria sua culpa se algo não estivesse funcionando.
Nada a ver com orgulho masculino.
Não havia como fingir com Rufus. O homem sabia o que estava
fazendo e ouvia o corpo dela como se fosse um instrumento para
tocar, para arrancar as notas corretas. Ela se sentia como um
instrumento, e amava isso, amava que ele soubesse exatamente
como tocá-la, sussurrar para ela, beijar e conduzir todas as emoções
selvagens e frenéticas.
E sua força. Oh, sua força. Ela se sentia segura nesses braços,
protegida, até mesmo, desfrutando de sua devoção singular por ela
neste momento.
Quando ele terminou com os dedos, ele trabalhou em tirar o
resto de suas roupas no meio da sala de estar bem iluminada, mesmo
que a janela não estivesse fechada com a cortina e, tecnicamente, as
pessoas pudessem passar e ver exatamente o que estava
acontecendo. Improvável, tão tarde da noite, mas uma pequena
possibilidade que aumentou toda a emoção do encontro.
Ela assistiu com uma quantidade insuportável de excitação
quando ele deslizou uma camisinha sobre seu comprimento, e a
antecipação, com toda a honestidade, parecia melhor do que o ato
em si às vezes. Só de saber que alguém estava lá, que queria você,
que estava preparado para recebê-lo...
Ele empurrou dentro dela, com pouca preparação desta vez,
mas ela estava pronta e esperando, e suportou com um suspiro de
prazer, os olhos se fechando enquanto ele apoiava todo o seu corpo
nu nela.
A paixão queimou atravessando-a em uma febre, ficando mais
quente, ameaçando roubá-la de toda aparência de razão enquanto
suas pernas se fechavam ao redor de Rufus, que não desistia,
devorando-a, corpo, mente e alma.
Depois, ela ficou ali deitada em uma espécie de torpor, feliz, mas
triste ao mesmo tempo, mas realmente desejando poder fazer algo a
respeito daquela maldita tristeza.
— Tem uma coisa que preciso contar a você, — disse ele, após
um breve e agradável momento de descanso um nos braços do outro.
— Posso precisar ir embora por alguns períodos de tempo durante o
nosso contrato. Posso estender conforme necessário, pois adoraria
passar mais tempo com você, mas há algo que deve ser feito.
— O que é? — Ela se apoiou em um cotovelo para ouvir, para
ouvir o que quer que ele dissesse e se preparar para qualquer má
notícia em potencial.
— Meu pai pode estar desafiando a pessoa que quase me matou
antes. Aquele sobre o qual conversei com você.
Ela piscou, levando alguns segundos para lembrar exatamente
o que ele quis dizer. No momento da sacada em seu cérebro, ela
soltou um pequeno suspiro de consternação.
— Espere... aquele que traiu com acônito?
— É esse mesmo.
Ela não se lembrava direito do nome do lobisomem inimigo, ou
se Rufus ao menos disse a ela, mas ela imediatamente temeu por
Rufus.
— Ele vai trapacear novamente. Mas meu pai acredita que ele é
um alvo fácil, como acreditei.
— Eles não ouviram você? Você já teve experiência pessoal com
esta criatura antes, não é?
— Eles não acreditaram em mim então. Minha mãe está
preocupada agora, e um dos meus ex-companheiros de bando
rastejou para fora da toca para avisar sobre a situação, mas meu pai
não dá ouvidos a ninguém que não seja do clã. Acho que vou precisar
ir lá pessoalmente e tentar dissuadi-lo. E não sei quanto tempo isso
vai demorar. Dois dias? Duas semanas?
Ela acenou com a cabeça, infeliz, mas entendendo pelo menos
que ele via isso como algo importante. Mesmo que ela não entendesse
a dinâmica completa de um bando de lobos, ou porque eles
precisavam desafiar. O que era difícil em dizer não? Mas ela sabia
que soaria boba por trazer isso à tona, então ficou quieta sobre o
assunto.
Ele a abraçou, mas parecia imerso em pensamentos,
contemplativo.
— Você está preocupado com o que pode acontecer? — Ela
perguntou, desejando que ele não tivesse que ir embora. Que ele
poderia ficar. Mesmo depois de acabado o contrato.
— Estaria mentindo se dissesse que não. Mas é algo com o qual
tenho que lidar. Prefiro estar aqui. Você é excepcional. Alguém que
me vejo conhecendo mais.
Ela prendeu a respiração. Isso quase soou como uma confissão
de amor, mas seria bobagem, certo?
Pessoas como Rufus certamente não estariam realmente
interessadas em pessoas como ela, além da aparência, de qualquer
maneira.
Eles se moveram do sofá para a cama, quando começou a ficar
frio no sofá, e se viram iniciando outra sessão de amor antes de
dormir. Era preguiçoso, cansado, mas ainda excitante ao mesmo
tempo. Como se eles soubessem que deveriam dormir, mas
simplesmente não conseguiam parar de se tocar.
Eles adormeceram nos braços um do outro, Bianca ainda
zumbindo com os atos, ainda incapaz de se livrar daquela tristeza
aninhada bem no fundo.
Talvez Rachel e Brent estivessem certos de alguma forma. Ela
estava muito sozinha e desesperada. Ela não tinha outras opções
além de dinheiro.
Ela nunca teria realmente alguém assim.
Capítulo Seis
Rufus

Ele manteve os jogos com Bianca o maior tempo possível.


Relutante em deixar o lado dela e se aventurar nas terras da família
e, potencialmente, ficar cara a cara com Thesper novamente, Rufus
ficou com ela o máximo que pôde.
Ela era tão fácil de ficar excitada, e ele adorava. Havia quase
uma hesitação tímida em alguns de seus movimentos também, outra
coisa que ele amava.
Ele gostava menos dos idiotas que murmuravam insultos para
ela nas ruas enquanto caminhavam, e do quase culto que seguia
Rachel, que, ao que lhes dizia respeito, não podia fazer nada de
errado. Esse tipo de rigor excessivo com uma pessoa o irritava,
porque ninguém era perfeito.
No entanto, um telefonema frenético de sua mãe, afirmando que
seu pai havia aceitado o desafio e planejado usar Vellen como seu
campeão para lutar em apenas alguns dias, fez Rufus sentar e
reservar um voo no dia seguinte.
Vellen era facilmente o mais fraco da ninhada de seu pai. Não
importa o quanto Vellen se esforçasse para se tornar mais forte,
sempre havia uma habilidade perceptível e diferença de força nele em
relação aos outros irmãos.
Portanto, o fato de Vellen estar sendo apontado como o campeão
em potencial significava que seu pai, o velho tolo que era, subestimou
severamente a capacidade de Thesper.
O lobo pode ser muito magro, mas ser excepcionalmente
assassino com uma boa camada de acônito nas garras e Deus sabe
onde mais o tornava altamente perigoso em comparação com a besta
média.
Doeu um pouco dizer adeus a Bianca, que ele suspeitava estar
convencida de que não pretendia voltar, já que ela tinha alguns
problemas de autoconfiança, de não saber se era digna de amor e
atenção.
Claro que ela era. Ele teria que se certificar de que ela não se
punisse muito nessa frente.
Agora, porém, ele correu para as terras de seu pai, sem ter
certeza do que estava prestes a fazer, apenas que de alguma forma
precisava persuadir seu pai a não cometer suicídio no clã da família.
Thesper não era brincadeira.
O voo durou uma eternidade e sua impaciência aumentou. Sua
mente vasculhou todas as coisas que poderiam dar errado, de todas
as pessoas que ele conhecia que poderiam ser expurgadas se Thesper
ganhasse.
O problema era...
Como alguém se opôs ao acônito? Talvez pudesse se voluntariar
para lutar e esconder um pouco em si, mas não havia garantia de
que funcionaria. O astuto velho bastardo pode ser imune aos efeitos.
Ele agonizou todo o caminho até a casa da família, situada perto
de uma pequena vila humana, n este lugar, havia muito mais
interação entre os humanos e os lobisomens. Inferno, alguns dos
humanos até tinham santuários para os lobos, e eles tinham
reuniões regulares de crossover, onde mostravam as terras aos
humanos.
E pensar que seu pai queria arriscar tudo isso por alguma glória
equivocada. E pensar que ele cometeria um erro de cálculo tão
terrível. Ele foi feito para ser inteligente.
Um guarda lobisomem se adiantou quando Rufus entrou no
círculo familiar, onde eles tinham seis ou sete casas todas curvadas
uma ao lado da outra, com uma estátua de um lobo no centro.
— Estou aqui para ver meu pai, — disse ele ao lobisomem, que
era enorme, e o cheirou com cuidado, antes de decidir que Rufus era
quem dizia ser.
Com permissão, e com os olhos de alguns lobisomens
persistentes nele, Rufus caminhou até a casa do clã de seu pai, um
enorme pedaço de prédio de dois andares com um jardim frontal, um
covil natural dentro do jardim e um canteiro de flores, cortesia dos
esforços de sua mãe em cuidar da natureza. Ela amava a habilidade
de manipular o solo como um ser humano, com todos os pequenos
dispositivos inventados para cultivar a terra, plantar as sementes e
organizar as plantas de maneiras limpas e uniformes.
Um criado atendeu à batida de Rufus, um homem atarracado,
de olhos redondos, cabelos ralos e um olho amarelo e outro azul.
Rufus lembrava vagamente dele como sendo chamado de Gary. —
Ah, Mestre Rufus. Não acho que seu pai está esperando por você, —
ele disse, oferecendo um pequeno sorriso.
— Tentei entrar em contato com ele várias vezes.
— Mm... — O servo acenou com a cabeça em compreensão
sombria. — Você ouviu as notícias recentes, então?
— Infelizmente. Estou aqui para tentar impedir ou lutar no
lugar do meu irmão.
Com isso, os olhos de Gary saltaram um pouco. — Você gostaria
de ir contra o decreto de seu pai?
— Sim. Absolutamente. Não sei se você ouviu ou lembra, mas
tive experiência pessoal com o lobo que está lançando o desafio. E sei
que é uma armadilha. Sei que se o duelo for aceito e continuar, nós
perderemos, e as consequências não serão desprezíveis.
— Seu pai está confiante de que podemos vencer.
— É por isso que é uma armadilha. — Rufus olhou para o
criado, decidido. — De que outra forma atrair alguém para uma
armadilha do que fazê-lo pensar que há uma vitória fácil pela frente?
Somos muito parecidos, Rufus pensou sombriamente. Embora,
por um lado, ele gostasse muito da ideia de ter seu pai punido por
tomar uma decisão precipitada e imprudente, assim como ele uma
vez declarou que Rufus merecia a perda de seu clã, ao mesmo tempo,
ele não gostava da ideia daqueles que sofreriam em consequência
disso. Sua mãe seria a primeira na lista das consequências.
Principalmente se Thesper seguisse seu padrão e matasse o
perdedor. Quem sabia o que ele faria com uma viúva vingativa e
aflita? Rufus duvidou que fosse algo bom. Ele viu a destruição de
toda sua família, queimando em face do sorriso malicioso de Thesper.
Gary o deixou entrar, embora claramente não gostasse da ideia
de alguém ir diretamente contra o mestre. Mas quando era um dos
próprios filhos do mestre, o que mais ele poderia fazer?
Rufus caminhou pelos corredores familiares da casa de sua
família, parando brevemente em uma imagem gravada na parede,
uma que ele arranhou com um canivete quando era apenas um
filhote. Medindo sua altura. Esperando que um dia ele crescesse tão
grande e forte quanto seu pai.
Bem, ele alcançou esse estágio, pelo menos. Talvez Rufus
tivesse passado um pouco do seu auge, já que os primeiros anos
tendiam a ser o início dos anos vinte, mas ele ainda carregava uma
boa mordida na forma de lobisomem.
Batendo no escritório pessoal de seu pai, ele esperou
impacientemente por uma resposta. Ele ouviu vozes fracas lá dentro,
mais de uma pessoa lá dentro.
— Quem é?
Rufus abriu a porta para ver seu pai sentado lá com Vellen. Seu
pai, com cabelo cinza prateado e olhos amarelos penetrantes, parecia
menos robusto do que ele se lembrava. Vellen, no entanto, ainda
parecia um libertino em sua forma humana, com um pescoço
estranhamente alongado e um queixo pontudo.
— Não estava esperando você, — disse o pai, levantando-se da
poltrona confortável em que preferia se balançar. — Que surpresa.
— Você poderia ter me esperado se se incomodasse em verificar
seu telefone, responder a chamadas ou ouvir o correio de voz, —
Rufus disse suavemente. — A mamãe não te contou?
— Oh, ela disse algo sobre você vir. Mas pensei que seria muito
mais tarde. — Seu pai cruzou as mãos atrás das costas. — O que o
traz aqui, filho?
— Recuse o duelo. A todo custo. Você não deu ouvidos a Moss
quando ele tentou avisá-lo. Espero que você me escute.
Ele viu o sinal familiar das sobrancelhas de seu pai erguendo-
se em sinal de ofensa e acrescentou: — O indivíduo que desafiou você
é um conhecido trapaceiro e traidor. Ele nunca perdeu um único
duelo. Ele atrai outros alfas a aceitarem desafios, fazendo-os pensar
que têm uma chance fácil, e então os mata quando perdem para ele
em uma luta.
Enquanto ele falava, parte da ofensa diminuía, substituída por
uma espécie de curiosidade mórbida. — Essa é uma grande
afirmação a se fazer, filho. Como você sabe tudo isso?
Rufus suspirou interiormente. — Ele é a mesma pessoa para
quem perdi anos atrás, pai. Aquele que disse explicitamente estar
trapaceando e usando acônito. Você não acreditou em mim naquela
época, mas teria sido o primeiro assassinato dele se não fosse pela
intervenção dos membros do meu clã. Ele é muito mais rico do que
está lhe dizendo. Ele matou pelo menos quatro outros alfas.
Provavelmente mais.
Seu pai deixou escapar um pequeno som de escárnio. — Acho
que todos nós saberíamos se houvesse um alfa assassino em série
enganando outros clãs.
— Será que íamos? — Rufus bateu com o pé. — E se ele matar
todos naqueles clãs? E se ele pegar apenas os pequenos? Você
saberia então?
— Isso é um absurdo. — Seu pai olhou altivo para Rufus. — A
menos que você me traga provas concretas, não tenho razão para
acreditar nessas afirmações. Estou cansado de ver as pessoas que
não apoiam minhas decisões.
— Vellen, — disse Rufus, vendo seu pai como um beco sem
saída. — Sei que você e eu não temos muitos motivos para conversar,
ou para gostar um do outro. Sei que você provavelmente quer provar
a si mesmo. Mas, por favor, acredite em mim quando digo que a
pessoa com quem você lutará é um monstro. Ele vai te matar. Quase
me matou, e eu tinha vinte anos e era muito mais forte.
Ele viu algo no rosto de Vellen se contorcer. Vellen, apesar de
ser magrinho, tinha inteligência. Ele precisava encontrar outras
maneiras de sobreviver quando a força bruta o deixava no fundo do
bloco. Eles realmente não tinham alfas para ômegas como os lobos
verdadeiros, mas tinham um alfa e uma espécie de estrutura ao redor
dele.
— Você parece sério. — Vellen cruzou os braços, ignorando a
raiva crescendo no rosto de seu pai. — E não vou mentir. Quero me
provar. Mas não acho que você voaria pela metade do país assim se
não achasse que isso era importante.
O pai deles começou a parecer seriamente perturbado com tudo
isso e disse com uma voz um tanto fungada: — Acho que ele já disse
o suficiente. Sei o que estou fazendo. Tenho pessoas pesquisando
esse lobisomem, e ele é um fracote em busca de grandes
oportunidades.
— Não quero que mamãe ou qualquer outra pessoa sofra porque
você se recusa a ouvir o que várias pessoas estão lhe dizendo, —
Rufus disparou, e seu pai bufou.
Vellen deu uma longa olhada em Rufus, antes de murchar e
dizer: — Não vou lutar mais. Muitas informações conflitantes, e não
posso confiar no que é certo e no que não é. Encontre outro campeão,
pai.
— Você? Você desistiria? Seu covarde! Seu fraco miserável! Não
quer provar a todos que não é o que eles pensam que você é?
— Gostaria de ficar vivo, — disse Vellen suavemente. — O
orgulho só leva você até certo lugar.
Seu pai estava prestes a explodir, em um silêncio feroz e
malicioso. — Você gostaria que eu lutasse com esse lobo em vez de
um campeão?
— Ele é fácil, certo? — Rufus explodiu. — Tenho certeza que
você pode enfrentá-lo, sem problemas.
— Conheço minha força, garoto, e não é o que costumava ser.
— O que diabos Thesper está oferecendo a você, afinal?
— Nada de sua conta. Você não é um membro oficial do clã, de
qualquer maneira. Você é apenas de sangue.
Oh, pelo amor de Deus, seu velho tolo teimoso... — Vou lutar por
vocês.
Vellen olhou ferozmente para Rufus, o que o levou a
acrescentar: — Se não morrer, as recompensas irão para Vellen. Não
quero ter nada a ver com o prêmio, só estou aqui para garantir que
nenhum de vocês morra. Mas recusar o desafio seria melhor.
— Se recusar, terei de perder parte de minha riqueza, — disse
seu pai em um tom paciente. — Não vale a pena.
Sim, vale, Rufus pensou irritado. Ficar vivo definitivamente
valia a pena. Valia muito mais do que enfrentar Thesper, embora a
ideia de ir contra aquele lobo decrépito causasse arrepios em sua
espinha. Seu sangue gelou com a ideia de estar perto daquele
monstro, da náusea que vinha do acônito, das feridas ardentes
enquanto o veneno passava por sua carne.
Como ele pode manejá-lo?
— Tudo bem. Você luta, mas não leva nada dos ganhos. Que
bom que você vive de acordo com a sua palavra, — disse o pai, não
mais tão zangado.
Ou morrer por ela, Rufus pensou. Ele saiu do escritório ainda
sentindo frio e talvez um pouco de culpa também. Ele não pretendia
que as coisas piorassem tanto. Bianca está esperando por mim.
Ele mandou uma mensagem, explicando que ficaria aqui por
pelo menos três dias. Que ele estaria lutando no duelo. Que ele
realmente não queria, mas seu pai não queria aceitar a possibilidade
de que estivesse errado.
O que gerou um telefonema de Bianca cerca de dez segundos
depois.
— Rufus, você está falando sério? Você vai lutar contra a pessoa
que quase te matou?
— Mortalmente sério. Ele não vai recusar o desafio. Vellen se
retirou, o que significa que meu pai terá que lutar ele mesmo, a
menos que alguém intervenha. Ainda sou jovem e forte o suficiente...
mas isso não significa nada, a menos que descubra como diabos vou
lidar com Thesper.
Rufus normalmente não xingava muito, mas o estresse o
dominou, assim como o medo. Ele começou a andar para cima e para
baixo no corredor, ouvindo a voz calmante e melódica de Bianca.
— Não existe alguma... maneira de provar que ele é um
trapaceiro sujo? Basta fazer com que todos deem uma cheirada
gigante nele antes que ele lute, então é óbvio?
— Não. É considerado uma forma extremamente ruim de
inspecionar um lobisomem inimigo, como se ele estivesse
trapaceando. Não é feito e não ficaremos perto o suficiente para pegá-
lo. Não é um cheiro forte.
— E quanto à prova de seus assassinatos? Certamente isso é
uma aposta certa?
— Não é. As investigações de assassinato podem demorar um
pouco e ele tem sido cuidadoso com seus alvos.
— Não tão cuidadoso se todo mundo souber disso.
Ele bufou. — Nem todo mundo sabe. Possivelmente apenas
Moss e eu. Talvez haja outros lobos solitários por aí que evitaram seu
toque, mas não sabemos sobre eles. Faltam evidências reais. É
apenas a nossa palavra, e a palavra não tem sido suficiente a respeito
disso.
Bianca deixou escapar um som de frustração. — Não quero que
você morra. Isso realmente parece que vai dar errado.
— Farei tudo o que puder para me manter vivo. Gostaria de ver
você de novo.
— É melhor mesmo. — Uma pausa. — Você disse que o cheiro
afeta você quando você está perto o suficiente?
— Sim. E tenho que estar super perto, mas vai causar náusea
uma vez nessa faixa.
— Você não pode simplesmente... bloquear o nariz com, tipo,
um pino ou o que quer que possa ser usado?
Na verdade, não era uma má ideia. Ele teria mais alguns
problemas para respirar, mas se ele não pudesse sentir o cheiro do
acônito... embora ele não estivesse completamente certo da ciência
por trás disso. — Poderia considerar isso. Só tenho que evitar ser
arranhado por ele, de alguma forma, e isso é impossível em uma luta
corpo-a-corpo.
— Acho que você não pode usar armadura ou algo assim... que
tal xingá-lo e envergonhá-lo na luta? Você pode fazer isso? Apenas
grite que ele tem acônito para o público, se houver?
Ele considerou isso também. O problema era que passar um
tempo gritando poderia dar a Thesper a abertura de que precisava. E
realmente não importava o quão certo ele estava se por acaso
estivesse morto. Isso causava dor de cabeça, para dizer o mínimo.
Mas se ele encontrasse uma oportunidade de confrontá-lo, ele o faria.
Eles nunca acreditariam se ele insistisse antes do duelo. Além disso,
havia a chance remota de que Thesper não usasse acônito, devido a
todo o caos.
O que significava que ele provavelmente tinha outro truque na
manga podre.
— Vou fazer o que puder para ficar seguro. Você se cuida, ok,
Bianca? Certifique-se de que Brent não fique assustando você.
Espere meu retorno.
— Eu vou. E fique bem.
Ele sorriu, encerrando a ligação. Ele pode ligar para Bianca
mais algumas vezes antes da grande luta. Ela ajudou com o
nervosismo, que estava se acumulando a ponto de ser extremamente
perturbadores.
Ele precisava falar com Moss novamente. Descobrir o que mais
aquele ex-companheiro de clã dele sabia.
Capítulo Sete
Bianca

A preocupação causou dor em sua alma. Dois dias desde que


Rufus voou para as terras de sua família. Hoje era o duelo. Um duelo
contra um monstro traiçoeiro e venenoso do qual, por alguma razão
ridícula, os lobisomens não podiam optar por sair.
Ela achou essas regras desconcertantes, estúpidas. Ela vinha
pesquisando febrilmente informações no Google e até na biblioteca
local, tentando encontrar algum fragmento de conhecimento que
pudesse ajudar Rufus em seu conflito. Ela agora sabia mais sobre
acônito/mata-cão do que jamais quis, e tinha uma gaveta de fundo
inteira em seu quarto abastecida com plantas cruas secas, pois ainda
forneciam alguma potência. Acônito tinha um efeito na maioria dos
shifters, não apenas nos lobos. Considerando a força absoluta dos
shifters, poderia ser seu único contra-ataque, se ela acabasse em
algum tipo de altercação selvagem na selva com algum clã agressivo
que não gostava de humanos.
Sim, ela tinha lido muito sobre isso também, clãs
permanecendo em seus próprios territórios, e alguns clãs
devoradores de homens bem conhecidos e as regiões onde residiam.
Não parecia haver muito sobre como resistir a acônito como
lobisomem, mas havia um artigo que discutia como um shifter de
sangue misto pode ser capaz de resistir a venenos comuns para
shifters, mas não havia muitas evidências para isso, porque meio-
sangues muito raramente tinham poder herdado o suficiente para se
transformar, e mesmo se tivessem, eles provavelmente seriam
afetados pelos venenos usuais de qualquer maneira.
Parecia ser a única razão lógica potencial do porquê este
Thesper poderia suportar um veneno que nenhum outro shifter
poderia. Se ele fosse de alguma forma um meio-sangue, e um com
capacidade de transformação, mantendo uma resistência natural do
seu lado humano, em relação à potência daquela planta.
Extremamente raro. Mas não impossível.
O problema era que fazer toda essa pesquisa febril realmente
não parecia dar a Rufus uma vantagem na luta. Então ela só tinha
que sentar lá, e se preocupar, e continuar procurando, apenas no
caso de tropeçar no Santo Graal da informação.
Uma coisa com a qual ela não contava, entretanto, era a reação
das pessoas em Whitefall Creek quando descobriram que Rufus não
morava mais na área.
Principalmente a reação de Brent.
Ela teve a terrível infelicidade de topar com ele novamente
quando ia fazer compras (escolhendo uma loja diferente das de sua
família, porque de alguma forma parecia um pouco estranho ir
durante férias prolongadas). Ela realmente não sabia se ele poderia
estar perseguindo-a ou não. Encontrar pessoas em uma cidade
pequena acontecia com frequência, então ver alguém na mesma área
não significava necessariamente que eles estavam acampando no
local.
Os olhos de Brent praticamente se iluminaram quando viu que
Bianca estava sozinha, saindo da loja com duas sacolas de
mantimentos. Parecia que ele tinha acabado de entrar, e ele levou
um momento para examinar Bianca da cabeça aos pés de uma forma
estranhamente invasiva.
— Você deveria usar roupas mais bonitas, — disse ele então,
sem sequer um alô ou qualquer outra expressão de amizade. — Seu
corpo fica melhor quando não está coberto por sacos.
— Não vou fazer compras para fins sexuais, — Bianca
respondeu, as bochechas corando de raiva. — Você realmente acha
que me vestiria para uma viagem de quinze minutos?
— Você deveria colocar mais orgulho em sua aparência. É a
única maneira de você conseguir alguma coisa na vida. Vejo que você
não tem seu pau pago te seguindo. Já se cansou de você?
— Tchau. — Ela começou a se afastar, não possuindo mais
paciência para lidar com sua idiotice. Ele deu uma guinada brusca,
agora caminhando ao lado dela, uma sombra indesejada. Um perigo
potencial.
— Você não deve se sentir mal se for esse o caso. Você deve
permitir que um homem de verdade a satisfaça na cama. Posso dar
isso a você.
— Não, você não pode, — disse ela secamente, ainda
avançando. — Homens de verdade não andam em gangues tentando
espancar outros homens. — Ela queria se expressar melhor, mas
descobriu que seu cérebro estava ficando tão aquecido, tão
estressado, que seus pensamentos se embaralharam e sua língua
perdeu a capacidade de falar.
— Ele mereceu o que aconteceu com ele, aquela besta, — ele
disse, aparentemente esquecendo que a “besta” o tinha enviado
voando pela rua. — Fred deveria ter atirado mais nele.
— Cuidado para não chamar a polícia por tentativa de
homicídio, — disse Bianca, e Brent finalmente parou de segui-la,
embora continuasse a olhar em sua direção, o que ela percebeu ao
virar uma esquina. Desde quando Brent se tornou tão odioso?
Ele sempre foi assim, ou foi a competição trazendo esse lado
estranho e alarmante?
E ela corria perigo com ele?
O pensamento a preocupou durante todo o caminho para casa.
A luz do dia se transformou em noite. Ela fechou as cortinas e
continuou pesquisando informações que pudessem ajudar Rufus,
enquanto se preocupava que a mensagem de texto que ele enviou
pudesse ser a última que enviaria.
Como era possível ficar tão preocupada com ele assim? Ela
suspeitava que talvez se importasse com ele muito mais do que
gostaria de admitir. Imaginando seus olhos semicerrados e
preguiçosos, o brilho amarelo em cada um, o sorriso curioso que
ergueu sua boca... fez seu coração doer. Droga. Ela não tinha
controle algum. Ela não tinha nenhum controle sobre seus próprios
sentimentos estúpidos e caóticos, e eles estavam escolhendo se
apaixonar por este lobisomem. Impossível, não correspondido.
Condenado desde o início.
Uma espécie de grito construiu-se dentro dela, mas nunca se
fez ouvir. Frustração e preocupação a atormentavam. Assim que ela
considerou fechar a noite e ir para a cama, uma série de batidas
fortes e agressivas em sua porta a fez quase pular fora de sua pele.
Era Rufus? Impossível, com certeza, mas de alguma forma sua
mente foi lá primeiro. Ela correu para a porta, espiando pelo olho
mágico, e a esperança em seu estômago desapareceu.
Brent ficou do lado de fora da porta, olhando para o olho mágico
com uma intensidade feroz. De jeito nenhum ele deveria ser capaz de
ver o olho dela daquele lado, mas... ela se retirou como se uma cobra
a tivesse atacado.
Outra série agressiva de pancadas. — Sei que você está aí. Sua
luz estava acesa. Abra a porta, Bianca.
— Não quero, — respondeu ela. — Não quero você aqui.
— Só quero conversar. Por favor?
— Deixei bem claro que não quero falar com você. Por favor vá
embora. Para de me seguir.
— Não estou te seguindo.
— Brent, qual é a definição de um perseguidor?
— O que? Basta abrir a porta. É importante o que tenho a dizer.
— Foda-se.
Ele continuou implorando, ficando mais insistente, mais
agressivo, até que finalmente se dissolveu em uma série de palavrões,
seguido por algumas batidas fortes contra a porta dela, como se
estivesse tentando arrombar.
— Não me faça chamar a porra da polícia!
— Foda-se, tudo que queria fazer era conversar, porra! Não seja
tão vadia! Apenas abra, porra!
Como exatamente você lidou com alguém que não tinha
capacidade de aceitar um “não” como resposta? Não importava o que
Bianca dissesse a ele. Ele apenas ignorou, ou distorceu, ou
continuou se concentrando em suas próprias necessidades. Isso a
assustou, e ela recuou, chamando a polícia, gritando com ele que ela
estava fazendo isso.
Só então ele recuou, embora a princípio tenha pensado que ela
poderia estar blefando. Ele desapareceu, deixando-a para lidar com
um policial idoso que tomou seu depoimento e a informou
calmamente que esta não era a primeira vez que Brent ia à casa de
uma mulher, assediando-a. Não muito que eles pudessem fazer, a
não ser que a mulher conseguisse uma ordem de restrição.
Bem, ela se sentiu muito mais segura depois disso.
Ela não tinha certeza se Brent esperaria para bater no futuro.
Isso, combinado com a preocupação com Rufus, serviu para mantê-
la acordada pelo resto da noite.
Capítulo Oito
Rufus

O perigo assomava à frente. Rufus permaneceu em sua forma


de lobisomem, sem bloquear seu sentido olfativo, porque isso o
inibiria de uma maneira diferente, e não serviria para proteger se o
lobisomem mais velho tivesse veneno em suas garras. Ele viu Thesper
do outro lado da clareira, quase esquelético na aparência, feito de
pouco mais que osso e tendão.
O bando de Thesper tinha uma espécie de malícia áspera, como
se todos vivessem em uma distopia pessoal, esmagando os fracos,
deixando apenas os fortes prosperarem. O que sempre tornava uma
visão estranha ver esse alfa doentio, ainda reinando alguns anos
depois.
Uma coisa que Rufus estava fazendo, que foi acidentalmente
sugerida por Bianca depois que aquela doce mulher passou um
tempo tentando pesquisar para ele uma maneira de sair da situação,
era de alguma forma se acostumar com o cheiro de acônito. Então
Moss ajudou a conseguir um pouco para ele, e ele passou algumas
horas infernais apenas farejando o cheiro, vomitando comida da
náusea que isso lhe dava, até que chegou a um ponto em que podia
sentir o cheiro, sentir aquela náusea, mas afastar.
Afinal, o cheiro não era tão perigoso quanto ser tocado com o
extrato.
A outra coisa que Bianca sugeriu, mas era impossível de fazer
em tão pouco tempo, talvez fosse consumir um pouco do veneno
todos os dias, para construir uma tolerância a ele. Se ele tivesse
alguns meses para se preparar, ele poderia simplesmente ter feito
isso.
Agora, no entanto, ele enfrentou Thesper através de uma
clareira verde silenciosa, bem no coração da casa ancestral de sua
família. Uma casa que Thesper planejava roubar deles.
Mesmo com os preparativos de Rufus, ele ainda não sabia se
era o suficiente para derrotar aquele monstro. Seu pai ainda se
recusava a ouvir a razão. As investigações de dois dias não foram
suficientes para descobrir nada importante.
Era assim que Thesper queria, Rufus pensou, a atenção voltada
para seu antigo inimigo. Rápido, persuasivo. Sem tempo suficiente
para verificar os fatos. E meu pai caiu feito um pato.
Deixe o desafio prosseguir, veio a voz rouca de Thesper. O pai
de Rufus respondeu em aceitação ansiosa, e Rufus trotou para longe
da segurança, longe dos poucos membros da família que se reuniram
para assistir, incluindo Vellen e sua mãe.
Lute forte, fique seguro, filho, veio o sussurro de sua mãe. Rufus
não se preocupou em pensar em uma resposta. Tudo girou em torno
de Thesper. Aquele lobo velho e astuto que parecia um cadáver vivo,
de quem era difícil ler. A três metros de distância um do outro, a
distância exigida para o duelo, ele ainda não conseguia sentir o
cheiro do acônito. Ele precisa estar mais perto para isso. Muito mais
perto.
Você se lembra de mim? Ele enviou o pensamento para Thesper.
O lobo mais velho mostrou os dentes.
Confesso que não. Já te conheci antes?
Uma vez, Rufus respondeu. Ele não acrescentou mais nada a
isso. Provocar Thesper com o fato de que Rufus era um sobrevivente
pode não ser a coisa mais inteligente a se fazer. Ele ficou quieto e
Thesper descartou a pergunta.
Vi muitos lobos em minha vida. Não me lembro de todos eles.
Vamos ver o que você pode fazer contra mim, filhote. Thesper expôs
ainda mais seus dentes afiados.
Rufus não respondeu, parcialmente desapontado por seu
inimigo, seu nêmese, nem mesmo ter a capacidade de se lembrar
daqueles que ele desafiou e tentou matar. Era como se Rufus
estivesse muito abaixo dele, ele poderia muito bem ser um inseto
para esmagar. Adicionou uma camada extra de desconcerto e raiva a
tudo o que Rufus sentia atualmente.
Que comece o duelo! Seu pai rugiu. A tensão em toda a clareira
tornou-se palpável.
Como antes, o lobo mais velho correu, incrivelmente rápido, não
dando oportunidade para Rufus fazer a tradicional e esperada ronda,
ou ter tempo suficiente para registrar que algo estava errado. Exceto
que ele esperava a pressa e disparou para trás, com os pés leves, mal
evitando o avanço e sentindo um cheiro tênue e venenoso de acônito.
Ele tem isso, Rufus pensou com um salto de choque. A náusea
o atingiu, mas ele a afastou, voltando-se para o velho lobo, tentando
atormentá-lo em sua parte traseira.
Thesper foi rápido demais. Com uma explosão assustadora de
velocidade, o lobisomem mais magro se virou e agarrou Rufus.
Embora Rufus tenha conseguido acertar um golpe, uma mordida no
flanco do lobo mais velho, a enxurrada de garras e dentes o
bombardeou, e com isso veio a fraqueza paralisante. Ele teve a ideia
maluca de fugir, para de alguma forma mostrar aos outros o cheiro
que agora o infectava, mas também sabia que Thesper o
ultrapassaria. Com uma onda de força, ele derrubou o lobo mais
velho, mordendo seu pescoço, mas sentindo uma queimação na boca
quando mordeu.
Como se Thesper de alguma forma tivesse o acônito em seu
sangue.
Acônito! Ele conseguiu gritar o pensamento, o mais alto que
pôde, mas, novamente, sentiu-se atingir o chão. Sentiu Thesper
varrendo seu corpo fraco enquanto o veneno infectava a boca de
Rufus, enquanto a náusea corria por seu corpo.
De alguma forma, ele reuniu energia para repelir o lobisomem.
Terrivelmente enfraquecido, ele recuou, gritando o mais alto que
podia, me rendo! Qualquer coisa para mantê-lo fora das mandíbulas
assassinas de Thesper. Eu me rendo!
Thesper saltou mesmo assim. Um rugido de vozes do clã
começou a borbulhar na mente de Rufus, bem quando os dentes
trancavam em sua garganta e a consciência ameaçou abandoná-lo
por completo.
Claro que ele não poderia vencer este trapaceiro. Por que ele
achou que tinha uma chance?
Capítulo Nove
Bianca

As mensagens pararam. Ele mandou algo para ela há duas


semanas e meia. Ela mandou algo de volta, mas não havia indicação
de que tivesse lido. A mensagem dizia:
Estou me preparando para lutar. Espero que desta vez as coisas
mudem para melhor. Espero te ver em breve. Vou pensar em você.
A resposta dela:
Eu também espero. Envie uma mensagem de volta assim que
puder, ok? Esperarei ansiosamente por novidades.
Nenhuma mensagem. Nenhum contato de ninguém. Apenas
silêncio absoluto. Ela esperou no dia seguinte, pensando que talvez
o duelo estivesse atrasado, e essa seria uma boa razão para ele não
ter respondido. Então ela esperou mais. E mais.
Nada.
Isso enviou pequenos raios de medo em seu coração, porque ela
sabia que a falta de notícias significava algo ruim. Isso significava
que talvez Thesper tivesse conseguido vencer Rufus, afinal.
Brent continuou sua campanha implacável contra ela,
encontrando todas as oportunidades de esbarrar com ela do lado de
fora da casa, embora ele não tentasse mais bater na própria casa.
Provavelmente era apenas uma questão de tempo antes que isso
mudasse.
Você ainda está vivo? Ela olhou tristemente para a última
mensagem que ele enviou. Parecia estranho pensar que essa era sua
última mensagem. Que ela teria um fantasma vivendo em seu
telefone. Ela tentou uma ligação em algum momento da semana,
deixando uma mensagem de voz, mas ainda não havia indicação de
que alguém a ouviu. Ela sabia que os lobisomens de alguma forma
levavam coisas com eles quando mudavam de forma. Talvez o celular
estivesse enterrado em seu pelo, em sua forma de lobisomem.
— O menino amante não vai voltar, não é? Não aceitou outro
pagamento seu? — Brent novamente, andando atrás dela enquanto
ela carregava suas compras, como uma pequena sombra do mal.
Parecia que ele realmente pensava que poderia pegar Bianca apenas
sendo persistente. Que ela cederia e simplesmente entraria no
relacionamento porque ele a irritava o suficiente para isso.
— Brent, por que você simplesmente não volta com Charlie de
novo? Vocês são muito mais adequados um para o outro.
— Não a quero. Quero você.
— Eu disse não. Disse não a sério. Você não pode simplesmente
aceitar um não como resposta?
— Você não quis dizer isso. Você só está com medo de como vou
fazer você se sentir bem.
Jesus, merda. Literalmente, nada do que ela disse passou por
sua cabeça dura. E toda vez que ele cavava sobre Rufus, doía, por
estar incerto sobre seu destino. Brent não tinha ideia de quão fodido
estava sendo, o quanto ela queria afastá-lo, e ainda assim ele
simplesmente não ouvia muito bem. Desrespeito total e absoluto por
sua privacidade, por sua opinião.
Ela acelerou, Brent ainda seguindo atrás, até que ela alcançou
a casa de Tegan, batendo quase violentamente na porta. Tegan
atendeu e ouviu a voz de Katie ao fundo.
— Estou sendo perseguida. Novamente.
— Foda-se, Brent! — Tegan gritou, vendo-o demorando-se lá na
garagem. — Você está sendo tão assustador! Arranje uma vida! —
Ela empurrou Bianca para dentro e saiu para gritar um pouco mais
com Brent, enquanto Katie se apressou para gritar sua parte
também. Havia algo estranhamente catártico em ouvir Tegan e Katie
gritarem com Brent na rua, um verdadeiro surto público enquanto
ele tentava falar com elas, e elas o ignoraram exatamente da mesma
forma que ele sempre a ignorou.
Não dissipou totalmente seu humor, mas certamente ajudou.
Com uma batida final de porta, todas se retiraram para o minibar de
coquetéis de Tegan, onde a garçonete imediatamente começou a
selecionar as bebidas para combinar.
— Sério, pegue uma ordem de restrição para ele. Ele nunca
respeitará o seu espaço.
— Ele vai parar assim que conseguir uma namorada, — Bianca
disse, embora houvesse um pouco de dúvida em suas palavras. Ele
tinha ficado sem namorada por um tempo incomumente longo neste
momento. Quase como se ele estivesse muito determinado a
finalmente conseguir o que queria com Bianca. Que tipo de mentira
ele estava contando aos amigos? Ele estava tão certo de que ela
desmoronaria? Era disso que ele se gabava para eles?
— Não sei. Ele está interessado em você há anos, — Tegan disse
então. — Pelo que entendi, todas as outras mulheres foram apenas
preencher as lacunas até que você finalmente concordou em sair com
ele.
— Ele pareceu bem em me largar antes, — Bianca disse,
sentindo uma ponta de raiva por toda a situação. — Mas realmente
não me importo com ele. Ainda sem notícias de Rufus.
— Oh, querida... — Katie fez uma careta. — Você realmente
acha que ele pode estar morto?
— Não sei mais o que pensar se não houve respostas. Ele
prometeu me ligar assim que pudesse. Você viu a mensagem. Esta
não é uma técnica avançada de sumir ou algo assim.
— Você realmente gostou dele? — Tegan perguntou,
selecionando uma cor rosa ácido para o coquetel de Bianca,
colocando uma cereja nele. Ela empurrou na direção de Bianca, e
tinha uma textura doce e borbulhante.
— Gostei. Nós ainda deveríamos ter um tempo juntos.
— Você acha que ele gostou de você?
Bianca encolheu os ombros. — Não sei. Não acho que sou a
melhor pessoa para determinar isso, realmente. Era apenas um
contrato.
— Isso sempre pode se transformar em mais do que apenas um
contrato, — disse Katie, passando o braço em volta de Bianca. Katie
definitivamente saberia sobre isso.
— Aconteceu comigo também, — disse Tegan casualmente, o
que fez com que as duas apenas olhassem.
— Mesmo?
— Sim. Tive um relacionamento com um cara a uns dois anos,
conheci ele no site. Nós terminamos mutuamente, porque ele queria
manter o casamento arranjado que seus pais escolheram para ele.
Ele estava super preocupado com o fato de que se tivéssemos filhos
juntos, eles seriam muito mais fracos do que um shifter puro-sangue,
então ele estava feliz em casar com uma puro-sangue. Muito justo,
acho.
— Parece que ele é um merda, — disse Katie.
— Eh, está tudo bem. Bom enquanto durou. O que quero dizer
aqui, porém, é que, pelo que você me contou sobre esse cara, ele
parece gostar de você. Você é uma mulher bonita do jeito que é,
então...
Bianca sorriu, mas as palavras pareciam uma faca extra por
dentro. Embora suas amigas tentassem tranquilizá-la sobre Rufus,
que talvez ele tivesse só perdido o telefone ou algo assim, isso não
diminuiu a tristeza interior. Mais de duas semanas sem dizer uma
palavra. Ela precisava aceitar o pior. Superar isso, seguir em frente.
Talvez encontrasse uma saída de Whitefall Creek para que ela
não tivesse mais necessidade de lidar com Brent. Ela não queria
deixar os negócios da família, mas passar o resto de sua vida sendo
ridicularizada pelos amigos de Brent e de Rachel não parecia uma
maneira ideal de viver. Ela queria ser respeitada. Queria ser amada.
Com um coquetel rosa no estômago e um pouco de esforço de
suas amigas para animá-la, Bianca voltou para casa à noite, enrolada
em uma bolinha no sofá, e seus olhos muitas vezes se voltavam para
o telefone. Esperando que vibrasse em suas mãos e enviasse uma
mensagem do além.
Pensamento positivo, realmente. Ela ficou deitada por cerca de
vinte minutos, tentou jogar algum jogo para celular, mas não achou
exatamente satisfatório, antes de se preparar para ir para a cama
mais cedo.
Bzzzt, bzzzt. Agora enfiado no bolso da calça, a vibração do
telefone tremeluziu em sua perna. Ela o pegou como se fosse uma
brasa, olhando fixamente para ver o nome de Rufus aparecendo na
tela. Coração na boca, ela respondeu.
— Olá?
Uma pausa. — Olá. É Bianca?
Ela não reconheceu a voz, e parte da excitação morreu. — Sim.
Quem é?
— Sou Moss. Um amigo de Rufus. Percebi que havia muitas
mensagens e chamadas perdidas suas quando finalmente
conseguimos o telefone de volta. O idiota se transformou em um
lobisomem enquanto estava com ele, então isso meio que o faz
desaparecer.
A maneira como ele falou não soou exatamente como a de um
amigo enlutado, e parte de sua esperança voltou a crescer. — Ele está
bem? Sei que ele deveria lutar contra Thesper, que é um filho da puta
traidor.
— Oh, sim. Ele com certeza é. Bem... já que você sabe sobre
isso, vou atualizá-la. Tenho certeza que você quer saber.
— Por favor. — Ela mergulhou de volta no sofá, o coração
batendo mais rápido, o telefone pressionado contra sua orelha.
— Ele definitivamente perdeu a luta. Conseguimos retirá-lo
antes que Thesper acabasse com ele, então ele está na forma de
lobisomem, se recuperando do veneno. Finalmente foi seguro o
suficiente para ele voltar a ser humano, mas ele ainda está esperando
para se recuperar totalmente.
— Se ele perdeu... a família dele perdeu tudo? — Ela se lembrou
de sua preocupação com isso.
— A família dele ainda tem suas terras. Ele cedeu cedo, muito
mais cedo do que deveria na luta. Quando Thesper decidiu atacá-lo
de qualquer maneira, apesar de ter cedido, e com Rufus a uma
distância apropriada, isso definitivamente levantou algumas
questões. O clã de Thesper tentou se aproximar e bloquear o corpo,
mas as pessoas pelas quais Rufus lutava também se apressaram, e
eles conseguiram chegar perto o suficiente para sentir o cheiro do
acônito. Poderia ter sido um massacre total do clã, mas tínhamos
alguns humanos nos apoiando. Eles tinham balas de acônito e foram
capazes de expulsar o clã de Thesper antes que pudessem encobrir
seu ato.
— Hah. — Nada mal, humanos. — Eles trouxeram acônito para
a luta?
— Bem... eu levei. — Moss parecia bastante orgulhoso. —
Consegui algumas testemunhas por perto. A mãe de Rufus permitiu
que isso acontecesse, porque ela estava preocupada o suficiente para
acreditar que talvez seu filho estivesse dizendo a verdade.
Bianca sorriu, segurando o telefone com mais força, a ponto de
tê-lo quebrado com mais força. — Isso é pensamento inteligente.
Então está tudo bem? Nada se perdeu?
— Alguns de nossos lobisomens morreram. Mas Thesper não
colocou suas garras no clã e é improvável que ele consiga fazer mais
no futuro próximo, já que vamos denunciá-lo a todas as tribos que
pudermos. Nós descobrimos por que ele é resistente a acônito
também. Ele não é puro-sangue. Ele teve sorte na loteria de conseguir
uma forma humana e de lobisomem, e isso deu a ele resistências por
cima. Ele também ingeria acônito regularmente. Portanto, até mesmo
seu sangue era venenoso ao toque. Ele se tornou imune à derrota.
Fez sentido. Também se encaixa com algumas das coisas que
Bianca pesquisou. — Há algo que eu possa fazer? Ou devo esperar
que ele volte?
— Voe para nós. Acho que ele gostaria de poder ver você.
Quando estava delirando, dizia muito o seu nome. Acho que vai ser
uma boa surpresa. Você tem folga? Pode voar até Wyoming?
Sua mente disparou, já começando a pensar em pedir mais
tempo ao pai, comprar uma passagem, verificar os preços. — Acho
que posso. Vai sair caro em cima da hora, mas estou disposta a fazer
isso.
— Eu vou pagar. Não se preocupe. Basta enviar seus dados por
aqui e transferirei o dinheiro para você.
Radiante, Bianca continuou fazendo planos com Moss.
Preparando-se para ver Rufus depois de não ouvir nada sobre
ele por tanto tempo.
Finalmente feliz novamente.
Capítulo Dez
Rufus

A maior parte do delírio já havia desaparecido. Ele ainda sentia


os ecos residuais do veneno em sua corrente sanguínea, até mesmo
afetando seu cérebro, mas ele não estava mais suando ou tendo
pesadelos com Thesper mordendo sua pele, prejudicando todos que
amava.
De alguma forma, ele perdeu, mas apenas a luta. Nem sua
família, nem tudo que a família representava. Moss disse a ele, em
lotes em que era capaz de pensar um tanto racionalmente, que eles
conseguiram lutar contra Thesper e seus comparsas quando as
coisas ficaram feias.
Ele ficou inconsciente por um tempo terrivelmente longo,
incapaz de fazer qualquer coisa produtiva, e constantemente era
verificado. Incluindo um pai extremamente arrependido que engoliu
seu orgulho por tempo suficiente para admitir que seu filho estava
certo e que ele deveria ter ouvido. Ele não o fez, e como resultado,
dois bons lobisomens perderam suas vidas quando isso não
precisava acontecer.
Moss garantiu que Bianca também foi contatada. Obrigado,
Senhor. Ela deve ter ficado louca de preocupação com a ausência
dele. Afinal, ele prometeu entrar em contato com ela, e então
simplesmente desapareceu da cena do crime. Ferido, não morto.
Talvez ele devesse ter entregado o celular para Moss ou para
alguém antes de entrar na luta. Refletindo sobre sua decisão, ele
definitivamente tinha opções melhores em relação a isso.
Mal posso esperar para vê-la novamente, ele pensou,
convocando a imagem dela em sua mente. Ficou chato ficar deitado
na cama se recuperando, passando por picos de febre e pesadelos.
Uma parte dele ainda achava difícil acreditar que ainda estava vivo e
que sua família ainda controlava o clã.
Aproveite toda sorte que conseguir. Ele queria vencer, é claro.
Ele queria vingança pelo que Thesper fez anos antes. Isso também
estava bem, no entanto.
Talvez com o tempo, nossa sorte brilhe melhor.
Uma batida suave na porta o fez tentar se erguer em uma
posição mais adequada na cama, embora tenha precisado se esforçar
para fazer isso. Droga. Tão fraco. Maldita doença.
— Quem é?
A porta se abriu, revelando a última pessoa que ele esperava
ver, parada do outro lado.
Bianca. Ele piscou algumas vezes, apenas no caso de seus olhos
o terem enganado e ela não sumir. Ela ficou ali, um pouco nervosa,
sorrindo daquele jeito adorável, ali na perfeição.
— Você não pode ser real, — disse ele, começando a conversa
com um sorriso. — Não há como aquela adorável mulher em Whitefall
Creek estar em Wyoming, entre todos os lugares.
— Estou aqui. — Ela se aproximou dele, sorrindo amplamente,
antes de apertar uma de suas mãos. — É tão bom ver você. Fiquei
louca de preocupação por um tempo lá. Sem respostas. Achei que o
pior tivesse acontecido.
— Estou bem, — ele assegurou a ela. — Só estou me sentindo
um pouco tonto, mas nada que o descanso não consiga resolver.
Venha cá... — Ele a puxou um pouco mais perto, inalando o cheiro
inebriante dela e dando um beijo em sua testa. — Obrigado por estar
aqui.
— Moss me pediu para vir. E não poderia dizer não. — Os dedos
dela brincaram com a mão dele e ela apoiou a cabeça no peito dele,
ajoelhando-se no chão. — Acho que cometi o erro de me apegar a
você muito rápido. Desculpa.
Ele riu disso, embora seu coração desse alguns saltos animados
com essas palavras. — O mesmo. Não conseguiria tirar você da
minha cabeça se tentasse. Não me importaria de passar muito mais
tempo com você... assim que sair desta cama.
— Vou esperar, — disse ela, beijando os nós dos dedos, o cabelo
loiro macio sussurrando contra sua pele. — Vale a pena esperar por
você.
Você vale muito mais, ele pensou, feliz além da medida em vê-la
com ele.
Parte da razão pela qual ele gostava tanto de Date Monsters era
que ele sabia que perseverar, conhecer pessoas de todo o mundo, um
dia, ele encontraria alguém que preencheria todas as exigências. Ele
encontraria alguém neste mundo que valesse tudo.
Ele esperava que fosse muito mais tarde do que isso, no
entanto. Ele não achava que encontraria alguém como Bianca
quando chegasse aos trinta e poucos anos.
Que belo golpe de sorte tê-la com ele agora.
— Bem, contanto que você não fique muito impaciente, tenho
certeza que podemos passar mais algum tempo juntos, — disse ele,
deleitando-se com o calor do corpo dela perto dele. Ainda incapaz de
acreditar que ela estava aqui. Aqui, de todos os lugares. — Vamos
apenas retirar a conta. Nada a pagar. Estou aqui de qualquer
maneira.
Ela sorriu. — Vai ser divertido contar a todos em Whitefall. Você
fala sério?
— Falo sério. — Ele estendeu a mão para ela e, embora sentindo
uma tensão horrível em seus músculos, passou os braços em volta
de Bianca em um abraço. O abraço valeu a pena.
Ela valia a pena.
Ele não tinha certeza, honestamente, sobre viver em um lugar
como Whitefall Creek. Muito pequeno, não o suficiente acontecendo,
e algumas pessoas mesquinhas que não gostavam de Bianca. Mas,
ao mesmo tempo, também gostava da ideia de manter as coisas
pequenas, mantendo a vida simples.
— Estou feliz que você esteja vivo, — ela sussurrou contra ele,
e ele a trouxe para um beijo carinhoso nos lábios.
— Eu também, — ele disse.
Certamente também não se importava de ter mais motivos para
viver.
Ele não tinha ideia se essa coisa toda com Bianca iria funcionar.
Mas valia a pena tentar, não é?
Quem não arrisca, não petisca.

Fim.

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