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Alde Lael da Silva Santos

REMINISCÊNCIAS

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REMINISCÊNCIAS

Dedico esse livro, primeiramente, a minha mãe Cezira Amorim de Santana Santos, de
saudosa memoria, exemplo de mulher guerreira, e de imenso coração.

A Antonio Acioli da Silva Santos Filho, Professor Santos, meu pai, com ele aprendi a
ser um homem reto e honesto.

As minhas irmãs, Clésia Leonor e Clotilde Lenita, as quais eu devo muito e ao meu
irmão Antonio Carlos.

Aos demais irmãos.

Aos meus filhos, netos, e a minha esposa Maria José, companheira de muitas lutas.

Homenagem especial ao:

Dr. José Lins Moura – Médico Ginecologista e Obstetra a quem devo a vida de minha
filha Maisa.

Dr. Benedito Teófilo Viana de Lima Belo, meu amigo de todas as horas.

Homenagem póstuma:

Ao meu amigo José Amorim Bezerra.

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REMINISCÊNCIAS

Alde Lael da Silva Santos é advogado, nasceu aos 13/06/1944, na cidade de Maceió-
Alagoas, na antiga Rua da Alegria, hoje Joaquim Távora.

Filho do alagoano Antonio Acioli da Silva Santos Filho, Jornalista, professor, poeta,
imortal da Academia Alagoana de Letras, membro do Instituto Histórico e Geográfico
de Alagoas, marçom, conhecido como Professor Santos e da Olindense, Cezira Amorim
de Santana Santos.

Bisneto de Português, por parte de pai, da tradicional família Campos, que se instalou
na cidade de Porto Calvo onde possuía dois engenhos de Açúcar, parente dos Campos
da cidade de Pão de Açúcar.

Bisneto de Italiano, por parte de pai, que viera da Itália e firmou residência em Pão de
Açúcar, cujo nome era Antonio Brás de Marsíglia, um dos Constitucionalistas daquela
cidade quando ela se separou de Mata Grande, primo do grande médico Duílio
Marsíglia.

Estudou no Colégio Diocesano de Maceió-Al, Colégio Guido de Fontgaland e Colégio


Nossa Senhora do Bom Conselho na cidade de Arapiraca-Alagoas, onde se diplomou no
Curso Técnico de Contabilidade, e na Escola Técnica de Comércio de Alagoas onde
cursou administração.

Foi professor de contabilidade e administração por 10 anos, na Escola Técnica de


Comércio de Alagoas e no SENAC Alagoas ministrou vários cursos.

Concluiu o Curso de Direito no CESMAC- Centro de Estudos Superiores de Maceió, no


ano de 1980.

Hoje exerce a profissão de Advogado na cidade de Maceió-Alagoas.

É casado, tem cinco filhos e seis netos.

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REMINISCÊNCIAS

PRÓLOGO

Dizem que a morte é a continuação da vida! Há sentido! Pois, aquela criança se


viu feliz a correr pelos campos, após, uma intervenção cirúrgica.

Essa é uma vida cheia de aventuras e de coisas sérias, sofrida e de muitas vitórias,
de um ser humano abençoado por Deus e pelos Anjos, principalmente por seu ANJO
DA GUARDA.

Viveu intensamente em várias direções, teve vários empregos, mas,


oportunidades madrastas. Queria ser engenheiro, mais não tinha aptidões para as exatas.
Queria ser médico, não houve condições, porém, para advogado conseguiu, essa era
uma das três profissões escolhidas por ele.

Essa é sua história.

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Capítulo I

Certo dia eis que chega a criatura! Uma criança medindo 52 cm, pesando 4,6
quilos e, como aconteceu?

Era o dia 13 de junho de 1944, em uma terça-feira, em plena guerra mundial, a


irmã acorda muito cedo com os gritos de dor de sua mãe, agonizava, pois, o parto era
difícil e a criança não tinha passagem. A irmã fora à procura do médico, apesar da
chuva torrencial que caia naquela manhã, sabia que o encontraria a jogar baralho em um
hotel por nome Bela Vista, como era o seu costume, onde hoje funciona o Edifício
Delmiro Gouveia.

-Dr! Mamãe está passando mal, pois a criança não quer nascer!

-Vá andando que eu logo irei- Exclamou o médico.

A chegada do médico

-Quando o médico chegou, a senhora que estava preste a dar a luz, mandou que
ele fosse socorrer o marido, pois, o mesmo havia levado uma queda no banheiro. De
fato, o homem estava com um ferimento na testa, batera com a cabeça no vaso sanitário.
Foi assim que tudo começou, nascera naquele dia 13 de junho de 1944, uma criança que
na pia batismal recebera o nome de ALDE LAEL. O por quê do nome, porque, seu pai
Antônio, esse era seu nome, quando exerceu o cargo de professor na Usina Roçadinho
pertencente à família Sampaio, Mendo Sampaio, pai do futuro governador de
Pernambuco o Cid Feijó Sampaio, prometera aos seus irmãos, Alde e Lael Sampaio,
que se tivesse mais um filho homem, colocaria esse nome em homenagem a eles, e
assim, se profetizou.

-Antonio era alagoano, mas, estudara no Seminário do Colégio Americano


Batista, na cidade de Recife-PE, e para se manter, lecionava as matérias de português e
matemática, e trabalhava à noite no Diário de Pernambuco, como revisor, ocasião em
que, após concluir seus estudos e, também, exercer o mister de Pastor Batista, conheceu
dona Cezira, também, evangélica, casaram e tiveram quatro filhos, duas filhas que
nasceram na cidade de Catende-PE, a Clesia Leonor e a Clotilde Lenita, onde ele
exerceu as funções de professor e, mais adiante, dois filhos, Antonio Carlos e Alde Lael.

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CAPÍTULO II

-Alde apesar da dificuldade de seu nascimento, nascera em uma residência na


Rua da “Alegria”, hoje Joaquim Távora, no centro da Cidade de Maceió - AL. Não
existem lembranças de sua existência no período de zero a três anos de idade, porém, a
partir dos quatro, tudo ficou gravado em sua memória.

-Lembrou-se quando contava com quatro anos de idade, morar em Bebedouro,


bairro de Maceió, terra da tradicional família Leite, pois o Comendador Jacintho José
Nunes Leite, fora o homem que implantou em Bebedouro um engenho de açúcar, o
Serviço de Abastecimento de água de Bebedouro, comandou o transporte de bondes em
nossa cidade, a fábrica de tecidos de Fernão Velho, que criou a Fundição Alagoana,
importante indústria do Estado de Alagoas e outros tantos feitos.

-Havia duas casas iguais, dois bangalôs, um era onde Alde morava com seu pai,
suas duas irmãs, seu irmão e sua madrasta, pois o casal já estava separado naquela
época. Ele estudava na escolinha de dona Margarida, duas casas adiante da sua.

-Lembrou-se da festa de seu aniversário dos quatro anos, dia de Santo Antonio,
uma festança, decoração de mine carro-de-boi, bonecos vestidos de matuto, enfeites de
balões, muitas comidas e bebidas, um trio nordestino tocando músicas joaninas.

-A um descuido de seus familiares, saiu de mesa em mesa, transportando um


copázio, enchendo-o de todo tipo de bebida, cerveja, Martine, Vermute, cachaça etc.,
em seguida solvendo todo o conteúdo do copo, ficando embriagado. Pelo que soubera,
no dia seguinte, ele se comportara da seguinte maneira ao receber os convidados:

-Trouxe meu presente, se não trouxe não entra!- Logo se apagou, a festa para ele
havia terminado.

-Nessa mesma residência, aconteceram vários fatos, um deles foi a cheia de


1949, onde Bebedouro ficou tomado pelas águas, inclusive, partes de Maceió, Avenida
da Paz, queda de parte da barreira do Colégio Batista, bairro do Farol à Escola
Industrial, hoje CEFET, isolamento com cordas da área por trás da Assembleia
Legislativa Estadual. Nessa ocasião, em Bebedouro, fazia-se feira utilizando-se do
transporte de canoa, pois a ponte que dava acesso às compras, estava submersa e
custava a passagem (quinhentos reis), hoje equivalente a R$0,50 (cinquenta centavos).

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-Outra lembrança marcante foi quando estudou em outra casa, na mesma
avenida, ainda hoje a mesma se encontra de pé, uma casinha cor de rosa, em frente a
uma casa de saúde para deficientes mentais, colada com o Colégio Nossa Senhora do
Bom Conselho, Casa de Saúde conhecida à época, como Mário Morsef. Era na parte da
tarde, a hora do recreio, todas as crianças estavam brincando, ou de pega ou no balanço
existente, quando em um dado momento, um dos deficientes mentais, um homem alto,
cabeça pelada e sangrando, atravessara por uma tubulação da rua, cano de esgoto, que
dava acesso da clínica a escola, por baixo da terra, ingressou no pátio da escola, houve
aquele terror, fora preciso coloca-lo em camisa-de-força para leva-lo de volta.

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CAPÍTULO III

-Era época de natal, lembrou-me bem, o meu presente fora um caminhãozinho


de madeira, fiquei muito contente, passei o dia todo brincando, porém, o deixei por
esquecimento no quintal de casa, chovera a noite toda, e, no dia seguinte, ao acordar,
lembrei-me do brinquedo, e, quando cheguei ao quintal, somente encontrei as tábuas,
pois o mesmo havia descolado todo, foi um dos piores dias de minha existência, chorava
muito, não houve consolo.

-A minha madrasta antes de engravidar de seu primeiro filho, todas as noites me


balançava em uma cadeira-de-balanço, até eu pegar no sono. Dava-me banho, trocava
minhas roupas, porém, quando meu irmão por nome de Alanio, nasceu, eu fui esquecido
por ela, só tinha olhos para seu primogênito, pois, depois tivera mais cinco filhos. Eu
tinha que tomar banho sozinho, trocar de roupa sozinho, comer sozinho, enfim, tudo eu.

-Outra passagem que se deu, ainda na mesma casa, trouxera-me um grande


trauma a minha infância. Certa ocasião, eu estava querendo brincar na rua, porém,
apenas eu, a cozinheira Benedita e o empregado José, nos encontrava em casa, e José
não deixou, fiquei com raiva. Antigamente, nas antigas casas, para se proteger de
ladrões, as janelas e portas eram reforçadas com “tramelas”, um pedaço de madeira que
era encravado na parede, de um lado um buraco e do outro, uma cova rasa, uma das
extremidades da madeira a parte mais grossa, era colocada no buraco e a outra, era
colocada na cova rasa. Havia um portão que dava acesso ao quintal, e eu estava muito
bravo com José por não ter me deixado ir à rua, e, com toda força, bati o portão, e do
buraco maior, de marcha-a-ré, caiu uma cobra em meus pés, gritei com todas as minhas
forças e perdi os sentidos. Já acordei com José me balançando e perguntando o que
havia acontecido, respondi –

-Uma toba! - uma toba!

-Ele não entendia o que eu dizia, porém, ao chegar ao quintal, viu que se tratava
de uma cobra conhecida por “Papa Ovo”, segundo José, ele pegou uma vara e tentou
matar o animal, a mesma o acompanhava em todas as direções em que ele movimentava
a vara, até que ele conseguiu mata-la. Depois queria que eu fosse até perto dela, porém,
eu já estava traumatizado, e até hoje, sou.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO IV

-Ainda, quando contava com quase cinco anos de idade, eu e meus irmãos,
fomos morar com minha mãe, no Parque Rio Branco, próximo ao mercado público de
Maceió. Nessa época havia próximo um quiosque por nome de “Eureca”, onde um
homem vendia pão-doce com caldo-de-cana e refresco de maracujá. Todas as noites
havia sobra de refresco e aquele homem sempre chamava minha mãe e doava um
caldeirão cheio. Havia uma turminha de rapazes que ficava próxima de minha casa e
minha mãe sempre fornecia os copos para que eles tomassem refresco de maracujá.
Entre eles havia um apelidado de “DIDA”, sim, o mesmo “Dida” que jogou no CSA, no
Flamengo e na Seleção Brasileira, o Edvaldo Alves de Santa Rosa, ele gostava muito de
mim e sempre brincava de bola comigo, cujo irmão quando estudei direito no
CESMAC, fora meu colega de turma, o Edson Alves de Santa Rosa.

-Lembro-me que, por ocasião de um carnaval, estávamos altas horas da noite


sentados à porta, quando um grupo de “Caboclos-Linho”, eram pessoas fantasiadas com
cocais e tangas de penas de perú, pintadas de um pó vermelho, portando arcos e flechas,
e elas vieram em nossa direção, fiquei apavorado, chorei muito agarrado a minha mãe,
fiquei por vários dias sem querer colocar a cabeça fora de casa.

-Ainda no carnaval, tomei o meu primeiro porre de lança-perfume, encontrava-


me debruçado no janelão de casa, quando surgiu o meu padrinho por nome de Paulo,
pegou um lenço, ensopou-o de lança-perfume e prendeu em meu nariz, cai de costas,
graças à cama estar próxima a janela, não tive um acidente, porém, demorou eu retornar
a realidade e ele dizia:

-Aldinho, Aldinho, acorde!- Ficou desesperado e minha mãe passou uma longa
data sem dirigir-lhe a palavra.

-Próximo de casa havia um restaurante e bar, o Bar Graci, do pai de um amigo


de infância chamado Roberto. Eu e Roberto gostávamos de brincar com caixotes vazios,
das compras para o restaurante, uns ao lado dos outros, como se fora acentos de ônibus.
Pegava um cabo de vassoura e pregava-o em uma lata vazia, de doce, como se fora a
direção do ônibus. Às vezes eu era o motorista e outras o cobrador. Em uma tarde de
Domingo, lá por volta das quatro horas, eu e Roberto estávamos brincando de ônibus,
quando ouvimos vários tiros, corremos para a porta da casa de onde estávamos
brincando, era a casa de Roberto, próximo ao restaurante lá estava estendido no chão o
seu pai, arfando muito, a barriga subia e descia constantemente, pois ele tinha uma

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barriga proeminente. Estava a morrer, Roberto se abraçou com ele chorando muito.
Dizia-se à época que fora uma pessoa da família Barbosa que o matara, porque, o pai de
Roberto fora-lhe cobrar uma dívida. Naquela época existia na porta do restaurante,
vários veículos de praça, hoje chamar-se-ia de taxi, e um dos motoristas era o assassino.
Roberto contava naquela época com oito anos de idade, ou seja, três anos mais velho
que eu.

Após o enterro, a mãe de Roberto teve que assumir o bar e restaurante,


juntamente com o garçom conhecido como “Pescoço”. O nome dela era Iraci.

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CAPÍTULO V

-Quando completei pouco mais de cinco anos, meu pai fizera uma permuta de
casa com minha mãe, ele veio morar no Parque Rio Branco, próximo ao mercado
público e minha mãe fora morar em Bebedouro.

-A minha madrasta inventou de ir à cidade de Belo Horizonte- MG, visitar a seus


familiares, e viajou de avião. A aeronave decolava da lagoa Mundaú, era um avião
chamado de “Catalina” um hidro-avião, salvo engano, de 36 lugares. Todos nós fomos
ao bota fora de meu irmão Alanio e de minha madrasta. Uma canoa veio buscar os
passageiros e as bagagens. Alanio chorava muito, com medo, ele tinha dois anos de
idade. O avião alçou vôo e nós ficamos ali parados mesmo com dificuldade de encarar o
sol quente de uma tarde de verão, olhando ele se perder no horizonte.

-Ainda, na casa do Parque Rio Branco, minha mãe criava um filhote de urubu.
Eu tinha um cágado pequeno. O cágado sempre desaparecia, passava vários dias
perdido, um belo dia retornava, ele gostava de ficar, às vezes, por trás do guarda-roupas.
O urubu quando nasce, para aqueles que não sabem, é branquinho, depois, começa a
ficar preto. Quando ele tinha fome, começava a voar sobre o fogão e beliscar as tampas
das panelas, com esse gesto, minha mãe sabia que ele estava com fome, e lhe dava
comida. O urubu começou a ficar com as penujes escuras. Minha casa ficava em frente
ao mercado público, e, quando minha mãe ia fazer compras, o urubu sempre a
acompanhava voando e pousava em seus ombros causando espanto aqueles que não o
conhecia.

-Tempos depois, o urubu começou como é de sua natureza, a comer carniça, e,


minha mãe, teve que se desfazer dele, colocou-o em um saco e mandou uns meninos
joga-lo longe de casa, mas, ele sempre voltava, até que um dia soubera que ele fora
morto de pedradas pelos moleques de rua.

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CAPÍTULO VI

-Quando ainda tinha cinco anos, de vez em quando eu caia no chão como se fora
desmaio, meu pai e minha mãe pensavam que era malcriação e o cinturão vadiava,
porém, eu não retornava com facilidade. Certa vez, minha mãe soubera que havia um
senhor que era espírita, ele morava no Pontal-da-Barra, e, levou-me lá. Saímos do
Parque Rio Branco, próximo ao Mercado Público de Maceió, mais ou menos às três
horas da tarde, sol a pino, minha mãe me segurando pelo braço, andando a pé, até lá,
pela praia do Sobral. Antigamente, no pontal, havia muitas dunas e em uma delas uma
casinha e era lá que o tal homem morava. Subimos a duna e lá chegando, fomos
recebidos por um senhor forte que estava sentado em um banquinho de madeira, sua
vestimenta era uma calça caqui, pois, o mesmo era soldado da polícia militar de
Alagoas. Quando entramos, ele foi logo dizendo:

- Esse garoto é dos meus, venha filho sentar aqui!

-Colocou-me em seu colo, em uma de suas pernas e disse:

- Por que a senhora vive batendo muito nele quando cai no chão?

-Minha mãe disse que era, porque, eu era muito malcriado, e ele respondeu:

- Não bata mais nele, pois não é malcriação e sim ele é médium e o caboclo que
quer incorporar é o Rei Tupinambá, é muito forte e ele não aguenta, nesse momento ele
está aqui!

- Desse dia em diante, quando acontecia o fato, minha mãe e meu pai não batiam
mais em mim.

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CAPÍTULO VII

-As minhas irmãs namoravam com dois rapazes que eram, também, irmãos. A
Clesia namorava o Neri Grisor e a Clotilde o Nodier, eles eram meus vizinhos, e tinha
outro, o caçula, o Nereu, que mais tarde concorreu a Prefeitura de Maceió com o
Sandoval Cajú, perdeu para ele, o pai deles era advogado e chamava-se Pedro
Cavalcanti e a mãe Malila. Nereu colecionava soldadinhos de chumbo e ximbras, ele
sempre arranjava um jeito de dar-me alguns.

-Também, perto de minha casa, onde hoje existe o Supermercado Bom Preço, lá
no Parque Rio Branco, morava um compadre de meu pai, o Oséas Cardoso. Oséas todas
as sexta-feiras recebia, em sua residência, uma quantidade enorme de pessoas, para
distribuir comidas e remédios. Naquela época o governador de Alagoas era o Silvestre
Péricles de Goes Monteiro, amigo de Campos Teixeira. Um dia, era por volta de meio
dia, quando chegou o meu pai esbaforido, todo suado, e quase chorando, e foi logo
gritando:

- O meu compadre Oséas matou o Campos Teixeira!

- Sim, Oséas Cardoso era deputado Estadual e o Campos Teixeira, seu inimigo,
era funcionário da Assembleia Legislativa Estadual, eu nunca vira meu pai tão nervoso
na vida.

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CAPÍTULO VIII

A VIDA NO SÍTIO

-Quando contava com pouco mais de seis anos, fomos morar em um sítio, onde
hoje é a “Vila Olímpica” do SESI, em frente à via férrea, bairro da Cambona. O sítio era
enorme, limitava-se pela frente com a via férrea, pelo lado direito, com o sítio de seu
Lourival, pelo lado esquerdo, com um sítio arrendado ao meu avô Antonio Santos, esse
era o nome dele, e pelos fundos, com a lagoa mundaú. A casa grande se tivessemos de
chama-la assim, ficava a uma distância de cento e cinquenta metros da frente do sítio,
era uma casa com três alpendres, um pela frente, e os outros dois, um de cada lado. No
lado esquerdo da casa, havia um automóvel que o dono deixara para busca-lo em outra
ocasião, e era nesse carro que eu costumava brincar de motorista de carro de praça.
Quando o carro foi retirado, meu pai pôde colocar uma mesa grande, daquelas que
existe quatro tábuas embutidas, e quando se precisava aumentá-la, pois ela era elástica,
tiravam-se as tábuas de dentro de um compartimento e montava a mesa, pois nessa
ocasião o meu pai possuía sete filhos e a mesa comportava de dez a doze pessoas.

-Lembro-me bem, que em todas as refeições do meio-dia, a sobremesa era uma


lata-de-doce, marca “CICA” de quatro sabores, que era literalmente devorada a cada
refeição.

-O meu avô por economia, e como era um homem que morava só, pois, minha
avó já havia falecido, eu mesmo não a conheci, inclusive, também, ao meu tio Carlos,
viera morar no sítio juntamente conosco. Ficou dormindo em um quartinho a sessenta
metros, mais ou menos, da casa. A nossa casa não tinha banheiro interno, e tínhamos
que fazer nossas necessidades, quando a noite, naquilo que se conhecia como “pinico”
para no outro dia despejá-lo no sanitário que ficava colado ao quartinho de meu avô.

-O meu avô prometera comprar uma propriedade que ficava no bairro de Rio
Novo, na cidade de Satuba, em frente ao matadouro conhecido por “Mafrial”. Fomos
conhecer a tal propriedade, juntamente com o senhor Cesar Belo, pai de meu amigo
Benedito Belo. O Carro do senhor Cesar, era americano, suas laterais eram de madeiras
coloridas. Era à noite quando fomos conhecer a tal propriedade, que ficava após o
término da ladeira do “Catolé”, no alto, próxima a uma igrejinha. O caminho era de
terra e quando tentamos nos aproximar, verificamos que uma pontezinha havia cedido,
e, como o senhor Cesar era um homem de decisões, deu marcha-a-ré e empreendeu toda
velocidade do veículo e só assim conseguiu pular a pequena ponte, chegando do outro

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lado. A propriedade era farta, tinha até jacarés habitando no rio que passava por dentro
da propriedade, acredito que era o rio Catolé.

-Era o dia 12 de junho véspera de meu aniversario, meu avô mandou o


empregado chamado de Floriano que ele trouxera da cidade de Marechal Deodoro,
limpar todo o sítio, principalmente, na parte em frente à casa de morada. Assim foi
feito. Estávamos eu, meu irmão Alanio, e meu avô, sentados em um banco improvisado
por ele, dois paus fincados no chão e uma tábua pregada neles, quando eu avistei um
ciscador que estava repousando no chão, ele tinha uma grande vara e no meio um dente
saliente que era para colher folhas. Quando eu peguei o ciscador, meu irmão queria
tomá-lo de minhas mãos, até que conseguiu, e, quando eu estava de costa para ele,
Alanio levantou o ciscador, assentou-o em minha cabeça e o dente maior dele, perfurou
o couro cabeludo, saiu muito sangue e meu avô teve que fazer o curativo, não menos
antes de assentar uma sonora palmada em Alanio, que se urinou todo e passou um bom
tempo chorando. Meu avô era um homem de muita força, pois diariamente ele
costumava, lá no outro sítio, sozinho, em fazer caieira, carvão. Eu mesmo preferia levar
um pisa de cinturão a uma palmada de meu avô, pois doía mais, ainda hoje tenho a
cicatriz da agressão de Alanio.

A MORTE DE MEU AVÔ

-Meu avô acordava cedo, e tinha o hábito de vestir somente terno, feito de
tropical inglês, e camisa de manga comprida, de cor branca. Naquele dia não foi
diferente. Minha irmã havia notado que ele estava muito triste, e não quis dizer o
motivo de tal depressão. Trabalhou a manhã toda, de posse de uma enxada, capinando o
terreno. Ao meio-dia, minha irmã Clesia, chamou-o para almoçar. Ele deixou a enxada,
lavou as mãos e veio fazer a refeição. Após o almoço, chupou umas duas rodelas de
abacaxi, sendo alertado por minha irmã, que ele esteve o dia todo no sol, estava suado e
não era bom chupar abacaxi, mesmo assim chupou.

-Após o almoço, como sempre fazia, o meu avô, se recolheu ao seu quartinho
que, como já havia dito, ficava a uns 60 metros da casa, para tirar um cochilo. Minha
irmã Clesia levou uma xicara de café para ele, como costumava fazer. Mais tarde,
aproximadamente umas três horas, eu, meu irmão Antonio e minha irmã Clotilde,
estávamos no pátio de casa, quando minha irmã Clesia fora recolher a xicara, em um
dado momento, ela começou a gritar por socorro, todos nós corremos em sua direção, e
lá encontramos uma cena grotesca, meu avô arfava, a barriga subia e descia, a língua
estava enrolada, inúmeras vezes minha irmã tentou abri-lhe a boca com uma colher e
introduzir uma mistura de ovo e leite, para vê se o salvava, porém, fora em vão, morreu
meu avô. Minha irmã fez a mistura, porque, notou no fundo da xicara um líquido
diferente e um cheiro forte, descobrindo que era formicida “Tatú”, um forte veneno,
antes pensava que fora o abacaxi que lhe fizera mal.

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-Sabia-se que o meu avô tinha suas economias no Banco Inglês, Banco de
Londres na cidade do Recife. Minha madrasta louca por dinheiro, após o enterro, pegou
o colchão do meu avô, pois era costume de as pessoas guardarem dinheiro no colchão, e
começou a desmanchá-lo, pois o mesmo era constituído de palha, não deixando
ninguém se aproximar, somente ela podia. Como não encontrou nada, postou fogo e
quando o mesmo estava sendo consumido pelas chamas, eu encontrei uma caderneta
pegando fogo e, com um pau, a tirei do fogaréu, porém, restava uma parte que não fora
consumida, mas, podia-se ler as palavras, “retirada, retirada”, haviam surrupiado o
velho, pois os depósitos eram transformados em Libras Esterlinas, moeda forte. Não
havia mais dinheiro na conta, motivo pelo qual o velho se matou, pois naquele dia ele
haveria de fechar negócio com a propriedade acima descrita.

-Meu avô gostava mesmo de agricultura. Os parreirais produziam uvas da


melhor qualidade. Ele no intuito de que os pássaros não bicassem os frutos, envolvia os
cachos com papel jornal, mas, os pássaros humanos, os quais éramos nós mesmos,
rodava os cachos por baixo do invólucro até eles se soltarem e chupávamos as uvas, que
delícia!

O CACHORRO POR NOME DE GAULÊS.

-Tínhamos um cachorro apelidado por Gualês, em virtude de sua raça, Pastor


Alemão raciado com lobo, tipo capa preta, uma fera, principalmente quando estava
comendo. O cachorro era racista, não gostava da raça negra, tinha um verdadeiro ódio.
Durante o dia, ele ficava preso por uma corrente em uma das pilastras e geralmente
usava focinheira de couro e, à noite, depois de ter sido alimentado, ficava solto, e,
quando era noite de lua cheia, ele uivava como um lobo, não deixando ninguém dormir
direito. Uma bela tarde, o cachorro se encontrava amarrado a uma das pilastras, quando
de repente um ganso do vizinho, sitio de seu Lourival, pula para o lado de cá, e um de
seus empregados vem em busca do mesmo. Acontece que ele era de cor e o cachorro,
como acima descrevi, odiava negro, ficou uma fera, além de já sê-lo, tentou por todos os
meios se livrar das correntes e quando conseguiu, avançou sobre o pobre rapaz,
derrubando-o, e com as patas, tentava retirar a focinheira, não conseguindo, mesmo
assim, arranhou muito o rapaz que teve várias escoriações devido as suas garras afiadas,
deu um trabalhão danado para segurar o cachorro, precisou de duas pessoas para faze-
lo.

-De outra feita, ele estava comendo sua comida preferida, carne com farofa
escaldada, uma panela enorme, quando eu fui alisar a sua cabeça e ele mordeu, não
destroçando e sim perfurando o lóbulo de minha orelha, ficou parecendo que eu ia usar
brinco.

-Outra ocasião, o meu pai que era maçom, tinha vindo da maçonaria, em uma
noite de lua cheia e quando tentou abrir a porta de casa, cujo cachorro já vinha
observando-o, na espreita, sem saber que se tratava de meu pai, tentou pular em sua

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garganta, quando por uma fração de segundos, meu pai atentou que era o Gaulês e grito
seu nome, o mesmo posou suas patas nos ombros de meu pai. Excelente cão de guarda!.

A AREIA MOVEDIÇA E A CHUVA DE ABELHAS.

-Como dissera antes, a lagoa fazia parte dos fundos da propriedade e existia uma
lama viscosa, e quando se pisava nela, dava um verdadeiro trabalho para se retirar os
pés, puxava-se um de cada vez. Sempre íamos pegar caranguejo goiamum, fazíamos
armadilhas com latas de óleo de cozinha, arame e borracha de câmara-de-ar. Em uma
dessas vezes, meu irmão Antonio Carlos, fora verificar se havia algum caranguejo preso
nas armadilhas, e, em um dado momento, eu ouvi gritos de socorro, chegando lá
encontrei meu irmão chafurdado na lama até o pescoço, toda vez que ele tentava sair,
afundava mais. Gritei o nome do empregado:

-Floriano, Carlinhos está afundando na lama!

-Floriano ao chegar, descobriu que ele já estava quase afundando


completamente, teve que jogar uma corda para nós dois puxa-lo, quase que meu irmão
ia viajar para a cidade dos pés juntos.

-Doutra feita, eu estava com raiva dele, e quando o mesmo passava por baixo de
uma mangueira, havia várias qualidades de manga, descobri uma casa de abelhas e não
tive dúvida, peguei a peteca e taquei uma pedrada na comeia, e as abelhas avançaram
em cima de meu irmão, que ficou todo inchado, principalmente sua orelha. Não sei
dizer, porque, cargas d’água, desta feita não levei uma surra de meu pai.

O CARNEIRO

-Antes de meu avô falecer, ele havia ganho um carneiro de um de seus amigos.
O Carneiro demorou a chegar, até que um dia, estávamos almoçando, quando de repente
eu gritei:

- Pai! o vovô mandou o carneiro pelo Floriano e ele é muito forte, está a derrubar
o Floriano!

- Todos olharam naquela direção. Floriano vinha segurando o que pensávamos


que era uma corda, vinha aos tombos, que carneiro que nada, o Floriano havia segurado
um fio elétrico que se encontrava caído na entrada do sítio, meu pai, apesar de sua
barriga enorme, deu uma corrida, parecia que estava concorrendo a São Silvestre, em
direção ao contador, desligando-o. Apesar de ter desligado, Floriano ficou com muitas
bolhas nas mãos, carneiro que nada!

A SURRA DE CIPÓ-DE-GOIABEIRA.

-Como dissera alhures, o sanitário ficava fora de casa, colado com o quarto de
meu avô. Quando davam cinco horas da tarde, começava o festival de cantoria dos

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pássaros, os rasga-mortalhas, andorinhas, anuns e corujas. Aquilo me deixava com
pavor, pois, começava a escurecer. Após a morte de meu avô, as coisas se complicaram
mais, pois não precisava ser como diziam os homens do campo, a boca-da-noite, a

qualquer hora do dia eu tinha medo de ir ao sanitário, por lembrar a figura de meu avô
morto. Quando ia, dava um pulo em direção ao interruptor da energia para acender a
luz, e após as precisões fisiológicas, dava outro salto para apagar a luz, e saia em
disparada com medo. Próximo a casa, passava um córrego, cujo córrego se via alguns
peixes, inclusive, um conhecido por Mussum. Meu pai descobriu que eu e meus irmãos,
Antonio e Alanio, estávamos fazendo as necessidades dentro do córrego e proibiu
dizendo:

- Se eu encontrar algum de vocês fazendo coisa desse tipo, irá entrar no


cinturão, pois não quero filho covarde!

-Em ato continuo, mandou o Floriano fazer o desbaste do terreno às margens do


córrego, de tal forma, que era impossível alguém ficar a beira dele, agachado, sem cair
nele.

-Uma tarde de Domingo, lá estava meu pai a ler um livro, de costa para a entrada
do sitio, no alpendre da frente, quando eu precisei fazer minhas necessidades
fisiológicas, conhecida hoje como número dois. Ao observar que o meu pai estava de
costa para mim, aproveitei a ocasião, me agarrando em um dos coqueiros que ficava às
margens do córrego, fazendo o que deveria fazer. Não dizem que o cão atenta, pois
naquela posição por trás do coqueiro, agarrado a ele, com as nádegas em direção ao
córrego, de vez em quando eu levantava a cabeça e olhava se meu pai estava ainda de
costa para mim. Numa dessas olhadas, não sei se por sexto sentido, meu pai virou-se de
repente e achou que vira uma sombra ou uma cabecinha levantada por trás do coqueiro,
e, de pé em pé, aproximou-se do local a onde eu me encontrava e berrou:

-Eu já não disse que não quero ninguém emporcalhando o riacho, pois existe
banheiro para isso!- em seguida gritou:

- Floriano venha cá!- Floriano veio correndo!

- O senhor me chamou?

- Sim, tire um cipó de goiabeira e traga aqui que esse cabra vai apanhar!.

-Floriano matuto de Marechal Deodoro, acostumado a andar nos matos e


conhecedor do cipó que doía mais, e além de não gostar de andar comigo para os cantos,
muito menos de eu acompanhá-lo às compras, tirou um cipó bem fininho, daqueles que
quando meu pai batia, ele, além de ferir, assobiava. Levei uma verdadeira surra nos
peitos e nas pernas, coisa que até hoje tenho as marcas deixadas pelo cipó, no peito.

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Minha irmã Clesia, que era a mais velha dos irmãos, tomou o cipó das mãos de meu pai
e foi preparar um banho de água com sal, quanto mais ela banhava-me mais eu grit

A NOVELA

Minhas irmãs estudavam à noite na Escola Técnica de Comércio de Alagoas, na


Rua do Sol, escola conhecida, hoje, como o “Castelo de Greison”. Floriano todas as
noites ia espera-las à porta do sítio, pois elas largavam muito tarde, quase às onze horas
da noite. Quando Clesia chegava, ela ia assistir a uma novela por nome “O Sombra”. A
novela se passava em um castelo mal-assombrado. Eu gostava de assistir a tal novela,
bem agarradinho a ela, pois, era uma novela transmitida no rádio. Os contra-regras
faziam muito barulho quando diziam- Eu sou o Sombra, vou te pegar!- outras vezes,
faziam barulho como se fora arrastado de correntes, o vento soprando com força,
barulho de patas de cavalos, etc. e eu agarrado com a minha irmã, não perdia nenhum
capítulo, ficava acordado até a meia-noite quando a novela acabava.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO IX

MUDANÇA DE CASA

-Fomos morar em outra casa, desta feita na Cambona, no oposto da linha férrea,
embora os fundos desse para aquela artéria. A casa era colada com a atual Escola do
SESI, onde antigamente funcionava uma fábrica de vidros. Em frente da casa morava a
família de meu amigo, hoje advogado, Marcelo Acioli e a família Camerino, sim, o pai
do Dilmar Camerino, Promotor de Justiça do Estado de Alagoas. Do lado direito, os
irmãos Rodrigues, Clodio e Estocio, Clodio era alto funcionário da Câmera de
Vereadores de Maceió, e Estocio, era empresário bem sucedido, o primeiro tinha dois
filhos, Luciano e Luiz Burgo e o outro uma moça conhecida por ALOMA, cujo nome o
meu irmão Antonio Carlos tomou emprestado para coloca-lo em uma de suas filhas.

A POSSE DO GOVERNADOR

-Houve nessa época, a eleição para governador de Alagoas, os concorrentes


eram, o atual governador da época, Silvestre Péricles de Goes Monteiro e o pai do
Fernando Color, Arnon de Melo. Ganhou Arnon. À tarde, no dia da posse, meu pai nos
levou até a sacada do prédio da Imprensa Oficial, que ficava na Rua Boa Vista, para
assistirmos a passagem de Arnon e sua esposa Dona Leda, não antes de um carro passar
e a pessoa que estava nele, nos jogar sacos de confetes e serpentinas, para ser atirados
sobre o carro do novo governador. O governador desfilou em carro aberto, ou seja,
conversível, de pé, juntamente com a primeira dama, cumprimentava a todos, com
gestos amigáveis, em troca, nós atirávamos confetes e serpentinas, coisa que eu como
sempre, fui desajeitado, não sabia jogar a serpentina e a atirava completa em direção ao
carro, consequentemente na cabeça dos ovacionados.

-A noite, nos preparamos para ir ao Palácio do Governo para a posse do


governador. Saímos de casa, eu, minha irmã Clotilde, meu irmão Antonio Carlos e a
amiga Aloma. A praça encontrava-se quailada de gente, então, ia dar início a solenidade
de posse. Procuramos subir os degraus da escadaria do palácio, era aquele empurra-
empurra, subíamos os degraus levitando, por vezes não sentíamos nossos pés. Em um
dado momento, quando Aloma tentou firmar o pé esquerdo em um dos degraus da
escadaria, um homem que, possuía uma perna só, utilizando muleta, firmou-a no pé de
Aloma fazendo pressão para subir, causando uma fratura em seu pé. Ela urrava de dor,
tivemos que transportá-la até a sua residência carregando-a em forma de cadeirinha. Foi
assim a festa de posse de Arnon de Melo.

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OUTRAS ATIVIDADES

-Era muito boa a morada na casa da Cambona, pois, nos fundos da residência
dos Camerinos, havia uma pitombeira. Engraçado que aquela árvore ficava encravada
em uma barreira quase em diagonal, à barreira dava para a localidade chamada “Bolão”
entre a Cambona e o Farol. Ela produzia uma fruta muito azeda, mas, mesmo assim, nós
apanhávamos para chupar e de quando em quando, fazíamos das pitombas balas de
nossas petecas.

-O senhor Estócio, pai de Aloma, possuía uma lancha a motor, ela tinha o
mesmo nome da filha e ficava ancorada na lagoa Manguaba, no final da avenida que dá
acesso ao trapichão. Alguns domingos, nós erámos convidados a passear de lancha. Em
uma das ocasiões, quando todos nós estávamos a bordo, o motor não quis pegar, ele era
acionado com uma cordinha, que era colocado na partida e puxada até a lancha pegar.
Só que era quase um cabo de aço, eu sem querer, fiquei na trajetória do acionamento da
lancha, e, de repente, levei uma chicotada, doeu muito, passei o dia todo com aquele
lanho na barriga.

-No prédio onde hoje funciona, a escolinha do SESI, havia, como até hoje
existe, uma passarela de uns três metros de altura, e era dessa passarela que nós
pulávamos de cabeça em um monte de feno.

A PRISÃO DE NOSSO EMPREGADO FLORIANO.

-Estavam próximas as eleições, e em um dia de domingo, eu e Floriano fomos


comprar leite em uma vacaria que ficava após o cruzamento férreo do Bom Parto,
próxima ao campo do Mutange, campo do CSA. Floriano carregava um balde de leite e
eu o acompanhava. De volta, era aproximadamente doze e meia da tarde, sol a pino,
caminhávamos pela calçada e, nas imediações da antiga Brandini, Floriano avista uma
propaganda política, um cartaz, era do Muniz Falcão, marcou carreira e o arrancou da
parede, ato continuo, ia passando um investigador de polícia, pois naquele tempo o
agente era chamando assim, e decretou sua prisão, algemando-o e levando-o para a
subdelegacia de polícia do bairro. Tive que transportar um balde de leite pesado a minha
idade, cinco litros, cheio, até em casa, e chorando a cântaros. Meu pai trocou de roupa e
foi falar com o delegado, porém, o delegado tinha ido almoçar e depois iria assistir ao
jogo do CSA contra o CRB, e somente na volta, atenderia meu pai. Às 7:30 horas da
noite é que Floriano fora solto. Verificamos que a propaganda política era coisa séria
naquela época, hoje os bandidos roubam muito, se candidatam e ainda como
propagandas mandam fazer umas, e ainda as chamam de “Santinhos” pode-se-ia chamá-
las de “Satãnzinhos.

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A COOPERATIVA DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS.

-Naquela época funcionava em frente à Praça dos Martírios, em uma casa de


esquina, em uma calçada alta, a Cooperativa dos Funcionários Públicos, tal cooperativa

vendia alimentos, e as vendas eram efetuadas com anotações em cadernetas. Um dia


meu pai mandou-me fazer compra levando a bendita caderneta. Na volta eu vinha com
compras pesadas e resolvi pegar um “bigu” no bonde, subi no estribo e o cobrador viera
cobrar a passagem, passei por dentro do bonde e fui para a outra plataforma, o cobrador
não desistiu, e quando o bonde fez a curva em frente onde hoje funciona a COBEL, eu
pulei, porém, bati com a cabeça no chão, as compras espalhadas pelo calçamento e a
cabeça onde se localiza, segundo os antigos, a moleira, ficou dolorida, nunca mais
peguei “bigu” em bonde, mais não cumpri a promessa, mas adiante contarei.

AS MATINÉS NO CINE-ART -AS PANELAS DE DOCE E NATAL NA CASA


DE MINHA MADRINHA “TATÁ”.

-Aos domingos, eu e os meus vizinhos, Luciano e Luiz Burgo, íamos ao cinema


e, na volta passávamos na casa da tia dos meninos, e de posse de uma colher, cada um
de nós, íamos lamber as panelas dos doces que ela fabricava, doces de todos os tipos, só
saíamos de lá quando não havia nada para lamber.

-Eu passava o dia de Natal na casa de minha madrinha conhecida por “Tatá” e
do meu padrinho Ramires Martins. Eles moravam na mesma rua de onde nós lambíamos
as panelas de doce, na Rua da Alegria, hoje Joaquim Távora. Eles eram irmãos da
esposa do Dr. Pedro Barbosa, pai de Pedro, Heitor, José Roberto conhecido hoje como
Pastor Zé Roberto, e dono do Cartório do 6º Ofício de Maceió, substituindo minha
madrinha que era a antiga tabeliã, e de uma moça chamada Afra. Dr.Pedro e sua Esposa
Da. Nilse eram padrinhos de minha irmã Clotilde. Chegava mais ou menos às nove
horas e só saía de lá por volta das cinco da tarde. Almoçava com eles e ganhava
dinheiro e presentes. Todos os anos, quando morava na cambona, passava o natal na
casa de meus padrinhos. Ramires Martins era um excelente médico clínico, conhecido
por todos em Maceió.

COMEMORAÇÃO DE MEUS ANIVERSÁRIOS.

-Até os meus nove anos, minha irmã Clesia tinha o hábito de comemorar os
meus aniversários da seguinte forma: A tarde, ela, após encontrar-me de banho tomado,
de roupa trocada, quando ainda morava na Cambona, íamos a pé até o comércio de
Maceió, e quando passamos a morar de volta à Bebedouro, pegávamos o bonde até o
centro. Lá no centro precisamente na Rua do Comércio, existia o Cine-Art e a
Sorveteria Elegante, e ela, primeiro me levava ao cinema, se por acaso estivesse

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passando um filme de censura livre. Após o cinema, levava-me para tomar sorvete. A
sorveteria Elegante era realmente elegante, sentávamos em uma das mesas muito chique
e os garçons vestidos daquelas roupas que os metres dos restaurantes atuais vestem, se
aproximavam de nós e fazíamos os pedidos. Geralmente era uma taça grande de sorvete

com cobertura de chocolate. Eu sempre fui guloso e a taça era enorme. Após o lanche,
dávamos uma volta no comércio e íamos para casa. Era essa a comemoração de meus
aniversários.

23
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO X

DE REGRESSO AO BAIRRO DE BEBEDOURO.

-Fomos morar novamente em Bebedouro. Desta feita, na Ladeira conhecida


como CALMON, em frente à venda do senhor Chico. Era uma casa pequena, tinha um
terraço pequeno na entrada, cercado de grade, com três quartos, em um, dormíamos eu,
e meus dois irmãos; noutro, minhas irmãs e minha irmã adotiva Claudionora, pois
naquela época o Floriano não mais morava com a gente, e no último, meu pai e minha
madrasta. A casa tinha um pequeno quintal, o sanitário, por incrível que pareça, era,
também, do lado de fora da casa. Foi lá que vivi inúmeras aventuras, as quais contarei
mais adiante.

-Em frente, vivia uma família, um dos membros da família Calheiros. Era um
poeta chamado Eugênio Calheiros, o qual possuía mulher, um sobrinho e uma filha de
nome Rita. Ela era, por uma parcela de meus dias, a minha companheira de
brincadeiras.

-Fizera amizade com uma turminha da pesada. Para terem ideia, uma de nossas
brincadeiras consistia em ficarmos todos de calção, sem camisa, procurávamos aonde
existia um formigueiro de formigas-de-roça, daquelas que a picada era dolorida por
demais. Como complemento, o lugar, que, além do formigueiro, deveria haver aquele
tipo de grama que coçava muito. Jogávamos água sobre o formigueiro atiçando as
formigas, depois em duplas, disputávamos a liderança do mês, cada dupla brigava sobre
o formigueiro como se fora briga romana, embolando sobre as formigas e sobre o
capim. Aquele que pedisse para parar perdia. O ganhador ficava de reserva, até que iam
se dando as eliminações para que os vencedores disputassem entre si até sobreviver o
último vencedor, aquele seria o chefe daquele mês, tudo o que ele determinasse era lei,
senão a lixa comia, ou seja, os demais passavam a bater naqueles que desobedeciam. Ao
fim das disputas, restavam muitos calombos sobre o corpo, ardiam muito, tínhamos de
tomar banho e depois colocarmos pomada contra coceira.

-As ordens do chefe eram: colher cajus de várias qualidades em um sitio onde
hoje se localiza o Hospital Sanatório, no fim da Ladeira do Calmon, lembro-me que
uma vez levei um tiro de espingarda de sal, ficou uma ferida na perna. Petecar as casas
dos outros, enfim, muitas maldades, as quais, se nossos pais descobrissem, o pau
vadiava, pisas de morrer, até sair sangue.

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OS CIRCOS

-As melhores atrações daquela época eram os circos que se instalavam em


Bebedouro, em um terreno que fora uma fábrica de vidros, por trás do mercado público.
Quando sabíamos que viria um circo, ficávamos num pé e noutro. Chegavam aqueles
caminhões velhos carregados de madeiras e apetrechos do circo, por último chegavam
os artistas e animais. Gostávamos de seguir os palhaços de pernas-de-pau, ele na frente
gritando:

- O palhaço o que é?- e nós atrás repetindo-

- É ladrão de mulher!

- Hoje tem espetáculo?- e respondíamos-

- Tem sim senhor!- o palhaço continuava-

- Às nove horas da noite?- respondíamos-

- Tem sim senhor!

- Hoje tem marmelada?

- Tem sim senhor!

- Hoje tem goiabada?

- Tem sim senhor!

- Arrocha negrada- e nós-

- EH.

- Assim seguíamos por toda a parte baixa de bebedouro, seguindo o palhaço na


esperança de ganharmos algum ingresso. Às vezes ganhávamos outras não, tínhamos
que “maiar”, ou seja, invadir o recinto do circo quando de suas apresentações, por baixo
da lona, nos ariscando de levar chicotadas dos vigias do circo.

-Lembro-me de uma vez que estavam armando um circo, eu e algumas pessoas


assistíamos a montagem sentados em uma das arquibancadas já armada, e em um dado
momento, um garoto do mesmo tamanho, porem de porte físico mais avantajado, pois
na época eu era magrinho e pequeno, contava apenas com oito para nove anos de idade,
começou uma intriga comigo e nos engalfiamos, rolamos da arquibancada até o chão e
eu consegui bater nele, e ele fora para casa chorando e dizendo:

- Vou buscar uma faca para te matar!- e foi para casa.

-Pouco tempo depois ele voltou com uma das mãos no bolso e disse:

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- Caia dentro que eu vou te matar!

-Eu fiquei com medo pois não avistava a tal faca, foi quando um conhecido meu
que servia como soldado do exercito no 20º BC disse:

- Santos, pode entrar na briga e se ele puxar uma faca em tomo!

- Santos era como todo mundo chamava meu pai. Fiquei afoito, pulei em cima
do garoto, porém, ao rolarmos sobre uma lona que servia de cobertura do circo, ele
cobriu-me com uma parte dela e eu quase morri sufocado, tive muito trabalho para me
desvencilhar do golpe e dei, pela segunda vez, uma pisa no garoto que saiu para casa
chorando. A faca era ficção, não existia, e eu tive medo não da faca mais da
determinação dele em me matar, pois, o seu tio era dono de uma mercearia e contavam
que ele já havia morto um homem.

-Quando os circos iam embora eu fazia os meus próprios. Saía de casa em casa
recolhendo lenções branco, recolhendo varas de cercas, usadas, pedações de tábuas
abandonados, pregos, serrote, martelo e construía um circo. Fincava as varas no chão no
formato de um círculo para poder amarrar os lenções, fazia um palco para apresentações
de dramas e de palhaços, pegava duas madeiras roliças mais fortes fincando-as no
centro do circo e pegava fios de cobre, dava várias voltas neles transformando-os em
uma peça forte e colocava-os através de duas tábuas como se fora dois balanços, um
mais abaixo e outro mais acima, como se fora um trapézio, que era para o trapezista
trabalhar em suas acrobacias. Fazia bancos de madeira, uma taboa sobre dois paus
fincados no chão que era para as pessoas se sentarem.

-Cobrava cinquenta centavos por pessoa, mesmo daquelas que emprestara os


lenções. Eu escrevia as peças de teatro, juntamente com alguns colegas interpretava-as e
eu ainda, era um dos trapezistas, e um dos palhaços, levava um bom tempo para me
caracterizar de palhaço, colocava pomada “Minâncora” branca sobre o rosto e depois
fazia uns traços sobre o mesmo, batom nos lábios e usava um chapéu que continha uma
peruca.

-Lembro-me bem, que em uma das feitas, construí um circo no quintal de meu
vizinho, cujo quintal dava os fundos para o de lá de casa. Eu ia funcionar no trapézio, o
treino era o seguinte: meu colega ficaria no balanço de baixo, sentado, e eu no de cima,
quando eu me jogasse do balanço, e passasse entre as pernas do colega, ele as fecharia,
e com elas me segurava e eu ficaria de cabeça para baixo como fora nos ensaios por
várias vezes. Meu pai assistia a tudo sobre o muro de lá de casa. Quando eu me soltei, o
colega conseguiu agarrar-me com as pernas, porém, eu escapuli e cai de cabeça no chão,
quase fraturei a coluna cervical, passei vários dias com ela doendo, tive que colocar
emplasto “Sabiá”, nunca mais quis saber de construir circos.

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JOGOS DE “XIMBRA” BOLA DE GUDE, PIÃO, E SOLTAR PIPA.

-O jogo que eu mais gostava era de brincar com ximbra, enchia os bolsos do
macacão e partia para a rua ao lado da igreja da Praça Lucena Maranhão. Muitos jovens
de uma geração mais antiga sabem como jogar ximbra. Quando eu perdia as minhas
ximbras, às vezes chegava em casa chorando, porque, teria que pedir mais dinheiro ao
meu pai e ele iria perguntar:

-Eu não lhe dei dinheiro, o que você fez com ele!- Eu tinha medo!

-Como adquirir um bom pião, pois eles eram muito caros, além da compra das
enfieiras. O meu pai não dava dinheiro para comprar pião, porque, eu era um péssimo
jogador de pião, a começar de enrolar o pião, pois eu o segurava com a mão esquerda,
porém, enrolava ao contrário de todo mundo como se fora canhoto, não tinha ninguém
que jogasse o meu pião, porque, ele rodava ao contrário e permanecia pouco tempo
rodando, por isso eu sempre perdia o jogo e tinha que deitar o meu pião para ser rachado
pelos adversários. Eles pegavam a enfieira, colocavam um parte no bico do pião e outra
parte no castelo, castelo era a parte superior do pião, fazendo uma espécie de pendulo e
colocavam o pião sobre a terra e davam com toda a força o bico do pião, no pião do
adversário, e, as vezes, ele rachava, as vezes não.

-Eu sempre dava um jeito de jogar, comprava no mercado um pião inferior, mais
barato, para deitar, e o melhor pião eu adquiria da seguinte forma:

-Pedia a um lenhador que eu conhecia, para trazer da mata uma tora pequena de
madeira de lei, de uns vinte centímetros, roliça, e em poder daquela madeira eu
comprava um prego grande, porem não tão grosso e ia em direção ao “Flexal de Cima”,
pois existia em Bebedouro o “Flexal de Cima e o Flexal de Baixo”, à casa de um
homem que tinha um currupio, era uma peça parecida como aquelas de amoladores de
tesoura, ele colocava a madeira e ia desbastando-a até que ficasse na forma de um pião,
como o artesão que molda um jarro ou uma quartinha, depois pegava o prego e colocava
na ponta do pião, mais antes teria de serrar a cabeça do prego. O pião pronto, eu pagava
um preço bem abaixo do mercado por ter levado a matéria prima, às vezes eles eram
feitos com pau de goiabeira.

-Quanto às pipas, nós as construíamos. Comprávamos papel “Salofone”, papel


colorido, talos de bambu, e fazíamos a própria cola com maizena. Depois de construí-las
saíamos para soltá-las. Havia, como até hoje há, aqueles moleques que colocavam vidro
raspado com cola nos barbantes para cortarem as pipas dos outros meninos, pura
maldade, conhecida como “cerol”.

-Por falar em maldade, eu as pratiquei um pouco. Durante as festas do Padroeiro


de Bebedouro, à noite nós saíamos para festejar, os meninos ricos daquela época
compravam os balões mais caros e coloridos e tinham a mania de ficarem fazendo
inveja aos outros que não podiam comprar, passavam às vezes dizendo:

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- O meu balão é mais bonito que o seu, seu pai não tem dinheiro o meu tem!

- Aquilo nos deixava com raiva. O que fazer, tínhamos a ideia de compramos
pipoca e antes de colocar a pipoca, a gente mandava o vendedor colocar bem sal no
fundo do saco e depois a pipoca, e por cima um pouco de sal. Após comermos as
pipocas, ficava o sal, enchíamos a mão de um pouco dele e quando os meninos metidos
a besta passavam com seus balões, nós atirávamos o sal em direção da bola, era uma
questão de tempo, ele corroía os balões e eles estouravam, os meninos saiam da festa
chorando muito, e quando não, comprávamos rolete de cana, e em uma das hastes, nós
colocávamos um alfinete preso por linha de costura, e quando os balões vinham
passando, a gente os espetava e eles estouravam. Os meninos jamais descobriram a
nossa traquinagem, ou maldade.

-Lembro-me de um dia, era o meu aniversário, dia 13 de junho, o meu pai como
sempre não me dava presentes, pois os presentes eram sempre para meu irmão mais
velho o Antonio Carlos e o meu irmão Alanio, nesse dia ele deu-me cinco mil reis e
com esse dinheiro eu comprei cigarros e juntamente com meus amigos fomos fumá-los
nos fundos da igreja, não prestou não, vomitei bastante. Porque cigarros, eu tinha a
mania juntamente com os colegas, de pegar uma caixa de sapatos e enche-la de pontas
de cigarro e ir com eles fumar no oitão da igreja, e nesse dia, fumamos cigarros novos,
sem poeira.

-Ainda na Ladeira do Calmon, a ladeira estava em obras, ou seja, o SAEM-


Serviço de Águas e Esgotos de Maceió, estava colocando umas tubulações para fazer o
esgoto, eu aluguei uma bicicleta, ainda não sabia andar direito, subi a ladeira e de lá,
montado no selim, empreendi uma corrida com a bicicleta, vindo em desembalada
carreira, cai de roupa e tudo naquela valeta aberta pela companhia de águas e esgoto,
lembro-me bem que estava vestido com um macacão de jeans. A valeta estava cheia de
lôdo, fiquei coberto por ele e a haste do freio cortara a minha mão, nunca mais quis
andar de bicicleta, por enquanto.

OS PROGRAMAS DE CALOUROS

-As comemorações do padroeiro de Bebedouro se estendiam por nove noites, e,


em todas elas, havia programa de calouros, sob a animação da comunicadora ODETE
PACHECO. O show era no coreto existente no meio da praça. Ela chamava os
candidatos que quisessem se inscrever, e eu era sempre um deles. Nessa época contava
com nove anos de idade. Depois de várias pessoas cantarem, a Odete Pacheco
perguntava ao público colocando a mão na cabeça de cada participante:

-É esse, ou esse! É esse ou esse!

- O povo aplaudia com mais intensidade aquele que o agradou. Às vezes eu


ganhava em primeiro lugar, isso quando sabia direito a letra da musica, ganhava vales
para buscar no comércio nas lojas dos patrocinadores, camisas de seda ou sapatos.

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Quando eu não sabia a letra, ganhava fubá, café, colorau, enfim, produtos para levar
para casa. Todos os dias eu cantava e ganhava.

-Lembro-me bem de quando tinha quatro anos, fui de Bebedouro ao centro,


precisamente ao Teatro Deodoro e lá chegando, convidaram alguém que quisesse subir
ao palco para cantar ou recitar uma poesia, eu subi, cantei e recitei uma poesia, não
lembro-me qual, mas, ganhei um broche de ouro, o qual perdi quando fui de Bebedouro
ao cinema Lux, no bairro da Ponta Grossa, assistir a um filme de desenho.

-Não pude continuar a carreira de cantor, pois, sempre que cantava, meu pai e
outros membros da família, diziam:

-Cale a boca cantor de banheiro!

- E isso fez com que eu desistisse de ser cantor que era um dos meus sonhos!

-Lembro-me que quando tinha quatorze anos, fui cantar no programa de calouros
da Radio Difusora, que ficava na Rua Pedro Monteiro, no programa da Odete Pacheco,
e fui gongado por três vezes.Depois soube pelo próprio regional que acompanhava os
calouros, que a musica que eu escolhi ele não gostava, por isso dava outro tom e eu não
podia acompanha-lo. A musica é aquela que diz assim:

-Vento que balança a palha do coqueiro, vento que esfrega as águas do mar,
vento que assanha os cabelos da morena, me traz notícias de lá- e assim por diante!

-Toda a minha família estava esperando eu cantar, ouvindo pelo rádio. Foi um
desespero a covardia efetuada por um conhecido de meu irmão Alanio. O Cara era feio,
alto e tinha um cabelo bastante comprido. Depois desse episódio desisti de cantar. O
cantar requer apenas exercícios vocais, eu mesmo conheço vários cantores famosos que
não sabiam cantar direito mais hoje cantam bem. Não convêm citar nomes.

O PADRE E O PASTOR

-Aos sábados à noite, eu frequentava a igreja batista, e lá recebia uns panfletos


evangélicos, e aos domingos, eu frequentava o catecismo da igreja católica e levava os
panfletos da igreja batista, e a pessoa que ministrava o evangelho os tomava e dava-me
um livrinho de catecismo, que no próximo sábado eu o levava para a igreja batista e lá
ele era tomado. Essa operação eu por brincadeira a fazia sempre.

-O padre era inimigo do pastor e quando havia procissão, ele colocava o som dos
alto-falantes do carro que acompanhava a procissão, em toda a altura, e, em contra
partida, o pastor aumentava o som dos alto-falantes da igreja para atrapalhar o padre, era
uma verdadeira guerra.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XI

MAIS UMA MUDANÇA DE CASA

Em Bebedouro, mudamos da Ladeira do Calmon para a rua principal do bairro,


no centro comercial, após a Praça Lucena Maranhão, chamada de Rua Cônego Costa. A
casa ficava em frente a uma padaria da família Ferrari. Família a qual deu até um de
nossos desembargadores. Tinha como vizinho do lado esquerdo, Moacir e Carlos, filhos
de Da.Júlia; mais adiante, o meu amigo de infância e de muitas brincadeiras,
principalmente de bola e de missa, porque, a avó dele era muito religiosa, eu acho que
ela queria que ele fosse padre. Estou falando de meu amigo Geoberto Espírito Santo, um
grande engenheiro de nosso Estado e um dos grandes da ELETROBRÁS, antiga
Companhia Energética de Alagoas, CEAL.

Outros colegas de muitas brincadeiras, eram dois irmãos, o Ronald e o Robson


Mendonça, que no futuro se tornaram médicos, filhos do excelente médico, José Lopes
de Mendonça.

-Em frente, junto à padaria dos Ferrari, vivia um rapaz por nome de Guilherme,
o pai dele vendia frutas, principalmente bananas, ele possuía uns caixões e uns toneis
onde amadurecia as bananas, apulso, pois tinha que colocar carbureto para acelerar o
amadurecimento delas. Lembro-me bem, que o pai do Guilherme chamava as crianças
da rua, não o Geoberto, para ajudar a arrumar as bananas para serem amadurecidas, e,
em troca, dava-nos palmas de bananas. Guilherme, quando surgiu a Petrobrás em
Alagoas, ele já contando com dezesseis anos de idade, por falar fluentemente a língua
Inglesa, fora convidado para servir de interprete para os engenheiros estrangeiros, sendo
regiamente remunerado. Os engenheiros estavam tentando perfurar poços no Litoral
Norte de Alagoas, dizem que não encontraram petróleo, porém, as más línguas diziam
que acharam, mais tamponaram de propósito para não serem explorados, pois os
americanos não queriam que o Brasil fosse autosuficiente em petróleo.

-Guilherme tinha uma irmã, não me lembro do nome, porém, era muito tola, uma
moça já nos seus quatorze anos de idade, que naquela época ainda acreditava em Papai
Noel. Foi durante um dos natais que ela mandou cartas ao bom velhinho pedindo uma
boneca. O pai de Guilherme era mesquinho, pulava a porta para não gastar o ferrolho,
ditado popular, não comprou a boneca, a moça ficou em estado de choque. Minha
madrasta Alaíde, com pena dela, a consolou dizendo:

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- Que o Papai Noel tinha muito trabalho nessa época, mas, não a esqueceu!

- Dois dias depois, quando ela acordou, qual não foi a sua surpresa, lá estava em
cima da cama uma linda boneca sob o argumento de que fora Papai Noel que mandara,
pois, houve um atraso nos correios, pois, o trenó do Papai Noel havia se quebrado e ele
mandou pelos correios.

TRATAMENTO DE ÁGUAS DO CARDOSO

-Nessa época eu estudava na Granja Conceição, e em Bebedouro havia um


aqueduto que se prolongava até o serviço de tratamento d’água do Cardoso. Ele era todo
cercado com arame farpado, mas, mesmo assim, quando eu gazeava as aulas do grupo
onde estudava, corria pelo aqueduto e, quando chegava aos arames farpados, que
arrodeava um cavalete de madeira, eu fazia um verdadeiro marabalhismo para não cair
nas valas que eram de uma altura relativa, e ia tomar banho nas águas que excediam da
Estação de Tratamento de Água do Cardoso.

-Os químicos ficavam uma arara, pois eu e meus colegas corríamos ao redor dos
tanques de tratamento, nos ariscando de cairmos neles, cujas pás giravam como se fora
as de um liquidificador, e os funcionários gritavam:

- Vocês são doidos, querem morrer, vou chamar seus pais!

-Nem ligávamos, e continuávamos correndo. Às vezes eles nos davam água em


um tubo de vidro, água limpinha, limpinha e geladinha.

A CRIAÇÃO DE PATOS

-O quintal de nossa casa dava os fundos para a Lagoa Mundaú. Meu pai como
alguns vizinhos, criava patos, mais de cem. A dona HAIHA LEÃO, proprietária da
Usina Leão, morava em uma mansão, onde depois foi criada a Clinica do Dr. José
Lopes de Mendonça, pai de Robson e de Ronald, meus amigos de infância. Ela tinha
mais de dois mil patos, todos usavam anéis colocados em uma das patas com a sigla
HAIHA. À tardinha, lá vinha um canoeiro tangendo os mais de dois mil patos da dona
HAIHA, aos gritos.

- Chô, chô patos!

-Eles vinham formando varias filas indianas, como se fora um festival. Os


nossos patos também se encontravam na lagoa juntamente com os dos meus vizinhos.
Nós largávamos os patos e à tardinha todos eles regressavam as nossas casas na
intenção de comer milho. Às vezes faltavam dois ou mais patos, ai nós sabíamos,
juntaram-se aos da Da. HAIHA. Todos os patos que se misturavam com os delas
recebiam a mesma marca, pois, nós nunca mais os achava.

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-Havia os dias da vingança. A vingança consistia em cada um dos meus colegas
que criava patos, ficar na espera da vinda dos patos da usineira. Cada qual ficava numa
espécie de ilha, dentro da lagoa, pois a lagoa era, naquele tempo, por demais profunda, e
quando os primeiros patos surgiam, pois a lagoa era tortuosa, tinha varias curvas, o
canoeiro vinha por último enxotando os patos aos berros e nós pulávamos em cima
daquela multidão, mergulhando e agarrando as suas patas, pois se assim não fizessemos,
elas nos arranhavam, e nadando no estilo cachorrinho, nos dirigíamos a pequena ilha
onde lá se encontrava um outro colega já com um saco aberto para receber os patos.
Feito isso, cada qual pegava, após o saco ficar amarrado, na borda de cada lado e
nadávamos em direção à margem. Os patos ficavam confinados, pois não havia como
retirar os anéis, só se cortassemos as patas onde eles estavam colocados.

-No próximo Domingo, nós nos reuníamos e fazíamos um cozinhado. Da. Julia
mãe de Carlinhos e Moacir, cozinhava os patos e o arroz, produto do qual nos
encarregava de trazer, e assim, era aquela festança com os patos de Da. HAIHA, pois os
nossos não conseguíamos recuperá-los.

-Pela manhã eu ia até o quintal recolher os ovos das patas, portando um


caldeirão. Sempre comíamos ovos de patas, pois comer a carne não prestava, ela tinha
gosto de peixe, pois, era o que eles mais comiam, por existir bastante na lagoa.

ARAPUCAS PARA PÁSSAROS

-Outro passatempo era fazer arapuca para pegar rolinha caldo de feijão e fogo-
pagou. Fazíamos as arapucas com madeiras, pregando-as ou amarrando-as com cordas.
Depois de prontas, colocávamos arroz no chão, dentro da arapuca e colocávamos um
pedaço de madeira fino como sustentação da arapuca, amarrava um barbante comprido
nele, e, quando a rolinha entrava na arapuca e estava comendo o arroz, nos puxávamos o
cordão e a arapuca desarmava prendendo o pássaro. Quando aprisionávamos a rolinha
fogo-pagou não comíamos, apenas colocava-a em uma gaiola, e as caldo-de-feijão nos
as comíamos.

A PADARIA DO SEU ZECA FERRARI

-Todos os dias eu ia para a padaria de seu Zeca para comer bolachas e assistir a
confecção das mesmas, e pães. Havia um empregado que esticava a massa e enquanto
cantava uma embolada, com um instrumento de corte, feito de um material parecido
com zinco, introduzia-o na massa batendo-o e ao mesmo tempo o tirava, soltando as
bolachas in-natura, para depois coloca-las em uma assadeira para assar. As sobras dos
pedacinhos da massa eu aproveitava para fazer meus jacarés, umas figuras longe de
serem jacarés, e pedia para ser assados juntamente com as bolachas, o empregado ria
muito com os tipos de jacarés construídos por mim. Enchia os bolsos da calça jeans de
bolachas e ia embora, o senhor Zeca me deixava comer bolachas.

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-Eu sempre fui fraco para trabalhos manuais, ou seja, artesanais. Uma vez eu
pedi a um colega que era muito jeitoso em produzir peças com madeira, para que ele
construísse um caminhão, lembro-me bem que ele construiu um bem pequeno, até mola
ele tinha. Precisando de dinheiro rifei o caminhão. Quem ganhou a rifa foi o senhor
Zeca, e eu tive que dar o caminhão a ele por sua exigência. Chorei muito, mas, depois
ele me devolveu dizendo que apenas queria fazer raiva a mim.

A ANDADA DE CARANGUEJOS

-Era um dia de muita chuva em Bebedouro, lá na casa da rua principal onde


depois morou o Padre Fernando Iório, estávamos eu e Claudionora, minha irmã adotiva,
quando aconteceu uma andada de caranguejos Goiamum, eles saiam aos montes de um
buraco rente a parede do terraço que dava para o quintal. A Claudionora com um
pegador de brasas e eu com um caldeirão enorme, ela pegava os caranguejos e quando
eu destampava o caldeirão ela os colocava e eu tampava-o de novo. Pegamos mais de
cinquenta caranguejos.

MEU VISINHO E OS BRINQUEDOS

-O meu vizinho do lado direito, era um garoto pernambucano, um dos membros


da família mais tradicional de Bebedouro, a família Leite, era sobrinho de Ricardo
Leite, advogado, pintor, poeta, pianista, que morava no casarão ainda hoje existente na
Praça Lucena Maranhão. O garoto era proibido por sua tia de brincar com os outros
garotos, pois eram tidos como maloqueiros. Quanto a mim, era o único que podia
brincar com ele, pela consideração que a família Leite tinha com o meu pai, pois o
admirava muito.

-Eu como sempre, não possuía brinquedos, pois meu pai não podia compra-los.
Os meus brinquedos eram fabricados por mim, mais daquela maneira - Pegava uma
palha de coqueiro verde, dividia em vários pedaços e em um deles, eu lascava de um
lado e do outro, pegava pedaços menores e os encaixava nas partes lascadas fazendo de
conta que eram as asas de um avião. Era esse o meu avião.

-Doutra feita, pegava manguitos, mangas pequenas e verdes, colocava quatro


palitos no manguito como se fora patas, uma rolha de cortiça enfiada em um palito e na
frente do manguito a colocava como se fora a cabeça, e o rabo, era umas palhas
tiradas de uma tibaca de coqueiro “parecida com uma canoa”, é aquela parte que parece
com uma espécie de fazenda ou manta, estavam, portanto, fabricadas as minhas reses.

-Quando não, pegava um arame grosso, envergava-o em uma das extremidades


em forma de gancho e colocava dentro de uma roda de ferro ou de uma rolimã,
rolamento geralmente de caminhão, e saia rolando no chão, era um dos melhores
brinquedos.

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-Outro era um carrinho feito com tábua e rolimãs, que depois de pronto, nós
sentávamos e rolavámos pelas ladeiras como se fora hoje Skate.

-Mais um brinquedo era o filtro de óleo de caminhão, usado, colocávamos um


arame grande, passávamos por dentro do filtro, dávamos um nó e segurando no arame,
saíamos puxando o filtro, essa brincadeira não era aprovada pelas famílias, porque,
desprendia óleo para todos os lados a maneira que se ia rodando, principalmente sujava
as vestimentas de óleo inutilizando-as.

-Já o meu vizinho tinha brinquedos de corda e elétricos, importados dos Estados
Unidos, ónibus de um material tipo lata com os passageiros pintados nas janelas, com
molas parecendo de verdade, aviões etc.; Como dissera acima, não brincava com
ninguém, e, as escondidas, trocava os seus brinquedos com os meus .

-O dinheiro acha-se, compra tudo, só não compra felicidade!

-O garoto não era feliz, era um solitário, louco para brincar com as outras
crianças, mas, não podia, era proibido brincar!

-Uma brincadeira que eu gostava muito, consistia em:

-Pegava-se um mamoeiro que houvera caído, furava um buraco no meio,


exatamente no meio, fincava-se uma tora de madeira no chão, colocava-se o mamoeiro,
sentava-se uma pessoa de um lado e outra do outro, e, uma terceira pessoa, rodava o
mamoeiro. Certo dia, em um terreno baldio, achamos um mamoeiro, eu e um dos meus
colegas o estava carregando, quando de repente, um cachorro avançou em cima de nós,
meu colega correu e eu fiquei em virtude de atender a um conselho de meu pai que
dizia:

- Filho, quando um cachorro avançar em você, pare que ele deixa de avançar!

- Lerdo engano, o cachorro abocanhou um lado de minhas nádegas e eu tive de


tomar vacina antirábica durante vários dias e ficar observando se o cachorro babava ou
morria, nunca mais fico a espera de um deles.

A NAMORADA DO MEU IRMÃO ANTONIO E OS BANHOS DE RIO.

-Quando morei no sitio da Vila Olímpica na linha férrea, já possuíamos o


cachorro chamado Gualês, e, quando nos mudamos para a casa da Cambona nos o
levamos, da mesma maneira quando fomos para Bebedouro. O meu irmão era quem
comprava comida para o cachorro.Meu pai dava dois cruzeiros para que ele comprasse
carne, mas, Antonio Carlos tinha uma namorada, pois nessa época já contava com doze
anos de idade, ele empregava parte do dinheiro para comprar fato de boi, bofe de boi,
chegando ao cúmulo de comprar, também, olhos de boi, e o restante, querendo
aparecer, comprava picolé para a namorada. De vez em quando acontecia isso. Belo dia,
meu pai descobriu a artimanha e ele levou uma pisa daquelas. Eu na época contava com

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quase dez anos de idade, mais, já era muito enxerido e a irmã da namorada do meu
irmão eu dizia que a estava namorando e sempre beijava as duas irmãs. O pai delas era
da família fragoso, primo de Né Fragoso e de dona Dulce Fragoso. Dona Dulce tinha
uma vacaria e o Né uma pequena propriedade onde existia um banho conhecido como
banheiro do Né Fragoso, onde se pagava uma taxa para tomar banho. Existiam dois
banheiros, um masculino e um feminino. Sempre arranjávamos um jeito nadando por
baixo d’água e invadíamos o banheiro reservado as mulheres, era aquela gritaria quando
éramos descobertos e quando não, era legal!

-Existia, também, o banho lá na propriedade do padre Pinho, chamada de


JUVENÓPOLIS, onde moravam vários garotos sustentados por ele, tanto em
alimentação quanto nos estudos, a exemplo do educador João Azevedo, e nós
amarrávamos uma corda em uma mangueira ou em uma jaqueira e pulávamos no rio,
era demais.

A PLANTA E A DOENÇA

-Uma vez a minha madrasta pediu que eu fosse à mata da propriedade do padre
Pinho tirar uma planta conhecida por Imbé, assim o fiz, ingressei na mata, colhi o Imbé
e, quando ia saindo da mata, pisei em não sei o que, apenas de lá até em casa o solado
do pé inchou muito, coçava demais, tive que ir a um médico no posto de saúde da Praça
das Graças na Ponta Grossa, bairro de Maceió. As pomadas passadas pelo doutor não
resolveram. Tive a ideia de pegar um frasco vazio de perfume, enche-lo de água, agitá-
lo e depois passar no pé, aí é que doeu mesmo. A outra opção foi um remédio caseiro,
não me lembro quem ensinou. Peguei uma barra de sabão virgem, ou seja, que nunca
fora usado, raspei-o e coloquei um pouco da raspa em uma bacia com água quente,
agitei a água até formar espuma e coloquei o pé doente aos pouco, até me acostumar
com a temperatura da água, fiz isso por uma semana, até que as bolhas polcaram,
somente assim fiquei curado. Diziam que eu havia pisado ou em um sapo morto ou em
uma cobra cujo veneno ficou em meus pés. Não sei ao certo e nunca saberei.

O PEQUENO E O GIGANTE

-Uma vez quando ainda morava na casa da Ladeira do Calmon, em Bebedouro,


eu estava sobre uma calçada alta, quando de repente surgira um rapaz que era débio
mental. Ele tinha uns quinze anos de idade, era galego, muito forte e alto. Era filho de
uma lavadeira. De repente, ele disse:

-Vou bater em você! Seu filho da p...!


-Meu pai me ensinara que eu não insultasse ninguém, porém, se me insultassem,
metesse o braço e se apanhar-se, levava outra surra!
-Seguindo tal raciocínio, eu disse que ia bater nele!

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-Nessa época eu usava tamancos, e os meus eram pequenos, pois contava apenas
com nove anos de idade, mas, nunca tive medo de ninguém. De repente, descalcei os
tamancos e pulei da calçada alta no pescoço do louco. Quando eu pulei, fui logo
aplicando um murro no nariz do rapaz. Ele tentou me estrangular, mas, de repente, o
sangue jorrara de seu nariz e ele ao ver sangue, soltou-me e fora para casa chorando.
Ato contínuo, eu fugi para casa, temendo represália por parte da mãe do rapaz.
-Quando cheguei em casa, fora me esconder embaixo da cama. Poucos minutos
depois, alguém bateu palmas à porta de casa, era a mãe do rapaz que viera fazer queixa
ao meu pai, e ela lhe dizia:
-Professor Santos, seu filho Alde bateu em meu filho e ele estar com o nariz
sangrando!
-Meu pai não pôde acreditar naquela versão em virtude do filho dela ser muito
forte e eu ser pequeno e frágil. Mesmo, assim, ele me chamou e eu contei a minha
versão. Dessa feita eu não apanhei, pelo contrário, o meu pai ficara abismado, com a
diferença de idade e de força.
ÉPOCA DE CARNAVAL EM BEBEDOURO.

-Nas festas carnavalescas eu e meus colegas, tratávamos de ganhar algum


dinheiro. Começava pela confecção das máscaras. Pegávamos folhas de jornais, e outros
tipos de papeis, principalmente papel de embrulhar mercadorias, barro tipo massapê,
moldava um rosto de pessoa com barro, após, colocava aquela mascara para secar no
sol, fazíamos cola utilizando água e maizena colocando esses ingredientes no fogo até
haver consistência, após o molde secar, colocávamos cola nele, íamos colocando uma
camada de jornal, procedendo, assim, sucessivamente, até ficar de boa espessura.
Depois, colávamos um pedaço de papel de embrulho sobre as camadas de jornal, sem
antes colocar mais cola, depois era só recortar o excesso e abrir os buracos do nariz,
boca e olhos, prendíamos um elástico pelas orelhas e depois pitávamos, estava pronta a
nossa máscara de carnaval.

-Pedíamos emprestados vestidos de nossas irmãs ou mesmo de nossas mães e


sapatos baixo, vestíamos e saíamos à rua para brincar carnaval e pedir dinheiro como
hoje faz os chamados de “Alaursos” ou “papangú” nos sinais de trânsito.

-Havia pessoas que pensavam que alguns eram mulheres e outros não, devido à
mudança de voz para que as pessoas conhecidas não nos identificassem. Era assim o
nosso carnaval pela manhã, pois a noite existia o clube 29 de Julho que ficava em frente
à Praça Lucena Maranhão, além das orquestras que tocavam no palanque da praça.

OS PASSEIOS NA GRANJA CONCEIÇÃO E OS BANHOS NA LAGOA


MUNDAÚ.

-Aos domingos não tínhamos para onde ir, pois o melhor passeio, diga-se de
passagem, não enjoava, era dar um pulo na Granja Conceição, a mesma granja onde eu
estudava. Tínhamos de pagar a bagatela de cinquenta centavos na entrada que era para a

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manutenção da granja. Lá encontrávamos cavalos, carneiros, galinhas, galos, cobras em
vidro e algumas vivas e aprisionadas, porcos, pavões, enfim, também, outros animais.
Passeávamos pelas calçadas da granja e em zigue-zague nos deliciávamos com as
dulcíssimas mangas, cajus, e gostosos jambos, do preto e do vermelho. Assim era as
tardes de domingo, pois pela manhã íamos tomar banho no banheiro do Né Fragoso,
cuja narração os senhores já tomaram conhecimento acima.

-Durante a semana gazeávamos as aulas no grupo da granja para tomarmos


banho na lagoa. Ela era muito funda e de águas transparentes, gostávamos de pular da
ponte, que hoje apenas sobrara um pequeno pontilhão próximo a via férrea antes da
estação central.

OUTRA VEZ O CACHORRO POR NOME GAULÊS

-Voltamos a falar do nosso cachorro Gaulês. Naquela época existiam uns ônibus
pertencentes à família Calheiros. Um belo dia estava na calçada de casa em uma tarde
de segunda feira, lembro-me bem, quando o Gaulês ao atravessar a rua fora colhido por
um dos ônibus daquele tipo que os antigos chamavam de “sopa”, a pancada fora toda na
cabeça, mas, ele não morreu, porém, não fora mais aquele animal valente e bravo. Com
o passar do tempo Gaulês começou a ficar sego.

A FAMÍLIA ALVES E AS REVISTAS

-Eu sempre fui torcedor do Clube de Regatas Flamengo, e naquela época


existiam duas revistas famosas, uma era a Manchete e a outra o Cruzeiro. Todos os
meses saia publicado um pôster de corpo inteiro de um jogador, e, quando saia os do
Flamengo, o Zé Alves ou seu irmão Ari, me davam. O primeiro tornara-se advogado, e
tempos depois, fora deputado Federal, o segundo, tornara-se médico, e hoje existe um
terceiro que já fora vereador e exerce a profissão de médico, chamado Pedro. O pai
deles era militar, mas, passara muito tempo lotado na Câmara de Vereadores de Maceió,
principalmente no tempo de Divaldo Suruagy. Hoje as revistas não publicam mais os
pôsteres de seus heróis, algum tempo atrás, existiam as revistas dos esportes, hoje não
existem mais, quer que eu saiba.

O CINE POEIRA E O PEIXE BAIACÚ

-Ainda em Bebedouro, outra forma de lazer constituía em irmos as sessões do


“Cinema Poeira”, o por quê desse nome?. Poeira, porque, era ao ar livre, ficava na Rua
Tobias Barreto, beirando a lagoa e a estação ferroviária. Pagava-se um cruzeiro para
entrar, o cinema era explorado pelo senhor Luiz, passavam filmes antigos. Depois o
cinema mudou de endereço, localizou-se ao lado da estação perto da casa de dona Dulce
Fragoso, depois o cinema fora comprado pelo filho de dona Dulce, chamado de Valter,

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ela era dona de uma vacaria e possuía uma filha por nome de Tereza que mais tarde
viera casar-se com o professor Vasconcelos.

-Uma vez soubera da morte de cinco pessoas da mesma família, elas moravam
em uma casa na parte de cima da estação ferroviária, a causa morte fora a ingestão de
um peixe conhecido como “Baiacu”, cujas vísceras caso fossem rompidas, era puro
veneno, chamavam de “Fel”, foi uma coisa dolorosa, cinco caixões da mesma família, o
homem era pescador.

A FAMÍLIA DO ALEMÃO

-Havia como ainda hoje encontra-se de pé, uma residência de esquina, pintada
de vermelho na época passada, localizada na subida para o Flexal de Cima, onde
morava o Alemão, um germano que sabia fazer de um tudo, era engenheiro, ele tinha
duas filhas e um filho, cujo filho era um dos meus companheiros de brincadeiras. Ele
possuía um patinete importado, cujo patinete possuía freio traseiro, para-lo era preciso
apertar com um dos pés uma borracha onde embaixo dela existia o freio. A casa era
enorme e brincávamos em um longo terraço. Tempos depois ao lado da casa
inauguraram uma sorveteria, nunca mais soubera notícias da família do alemão.

O CASTIGO E A TRANSFORMAÇÃO

Quando ainda morava na Ladeira do Calmon, o sanitário da casa era, também,


do lado de fora, e, um belo dia, eu fora à noite ao sanitário, ao desligar o interruptor, o
fiz e dei a maior carreira, choquei-me com o meu pai que estava, também, indo ao
sanitário e ele disse:

-Espere um pouco que eu quero falar com você!

-Após sair do sanitário, ele me pegou pelo braço, colocou-me sentado no


sanitário, fechou a porta, apagou a luz do terraço e disse:

-Vai passar o resto da noite ai para aprender a ser homem!

-Eu tremia um bocado, pois o silêncio era grande, passei a noite toda sentado no
vaso sanitário, mas foi um grande remédio, o medo acabara por completo.

ASSISTINDO OS JOGOS NO CAMPO DO MUTANGE- CSA

-A minha casa ficava um pouco longe do campo do CSA e eu sempre pegava um


bonde, tendo dinheiro para a passagem ou não. Uma das vezes eu estava sem dinheiro e
resolvi pegar um bonde. Subi nele na Praça Lucena Maranhão e mais adiante, o
cobrador veio cobrar a passagem e eu passei por dentro do bonde e fui para a outra
plataforma e o cobrador me seguiu e eu passei para a outra, isso se repetiu
sucessivamente e ele falou:

-Hoje eu te pego!

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-De repente, o bonde pega velocidade e eu na iminência de me vê pego pelo
cobrador, me atirei em um poste de ferro que estava próximo a linha do bonde e me
agarrei com ele, porém, a pancada em meu peito fora forte e eu comecei a deslizar para
o chão, sem fala. Lembrei-me do dia em que eu fui fazer compras na Praça dos
Martírios e peguei um bigú em um bonde e cai no meio da pista, batendo com a cabeça.

-Depois eu fora assistir o jogo lá em uma barreira que ficava em frente ao campo
do CSA, lugar conhecido como “Alto do Urubú”. Os jogadores pareciam para nós como
se fossem bonecos, pois a distância era tamanha que não dava para distinguir quem
eram aqueles jogadores.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XII

MUDANÇA PARA O CENTRO DE MACEIÓ MAIS UMA VEZ.

-Um dia lá na casa de Bebedouro, surgiu de repente, não sei como ela descobriu,
a minha irmã adotiva por nome de Celestina, pois ela havia sido criada por minha mãe,
arrastando uma criança por nome de Carlos Valnês, e outra criatura no bucho. Foi uma
verdadeira novela transformada em vários capítulos para que a minha madrasta e meu
pai aceitassem a Celestina em casa. Depois tudo se acalmou, mas, a casa ficou pequena
para tanta gente. Tivemos que nos mudar, não queríamos mais Bebedouro, já bastava!

-Fomos morar na Rua da Floresta, não que fosse literalmente uma floresta, pois
era conhecida assim, o seu nome verdadeiro era Rua Fernandes de Barros, no número
53, mesma Rua do Colégio de São José, próxima ao mercado público e por trás do
Clube Português, do antigo Colégio Estadual, antigo Liceu Alagoano, hoje Secretaria de
Educação Estadual, fundos do Teatro Deodoro, enfim!

AS FAMÍLIAS EXISTENTES

-Foi ali que vivenciei os melhores e piores dias de minha vida. Na rua existiam
muitas crianças, somente em uma casa existia umas seis, era a casa de seu Dirceu, dono
da Sapataria Santo Antonio, que tinha uma filha, uma criança linda, e quando ficou
adulta, ficara mais linda ainda, de nome Suely. Tinha outra que é minha presada amiga
chamada Salete que é funcionária do Foro Estadual de Justiça em Maceió, tinha o
Dirceuzinho, o Lulinha e outros.

-Outra família era a do senhor Eduardo Cerqueira o “Cebolinha”, pai dos meus
amigos Ricardo “Cebolinha” e Roberto “Cebolinha”, havia outro que era o mais velho,
era o Ronaldo e uma moça, inclusive, Ricardo casara com a Suely.

-Outra família era a do senhor Leocadio Nogueira, filho de João Nogueira, um


dos homens mais ricos do Estado, dono do Cotonifício João Nogueira, casado com dona
Neusa, uma linda mulher, na época possuíam dois filhos e duas filhas, o filho Liédison,
e Liedo, salvo engano os nomes eram esses, a Lineusa e a Linese, a Niara Nogueira,
atual reporte da TV Gazeta, naquela época ainda não havia nascido. Liédison algum
tempo depois falecera, Lineusa casou-se com um amigo meu, o Zé Romariz, irmão de
João e do finado Sabino Romariz. A Linese casara com o meu amigo de infância,
Adávio, que morava também na mesma rua, pois, seu pai era proprietário da Padaria

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Capricho, esse moço tinha duas irmãs e eram parentes da família proprietária da padaria
Rio Branco no Mercado Público, cuja panificação ainda existe.

-Havia outra, a família Cunha, João Cunha possuía dois rapazes e uma filha, o
mais velho era Carlos, o outro Roberto e a moça Nadia, moravam em um casarão que
tinha um terraço acima do vão da calçada, cercado por uma varanda onde existia uma
grade roliça como se fora de inox. Ele possuía uma Serraria, negociava com madeira,
cuja serraria fora palco de várias aventuras nossas. Nadia fora uma das minhas
namoradas.

-Outra família era a do Fábio moura, irmão de Zito e Abelardo!

-Outra era a família dos irmãos Arnaldo, Birinha, Tosinha e outras duas.

-Havia a família do seu José Vicente “crente”, que possuía vários filhos, o Nado,
o Gerson, a Jouse, a Nura, o José Vicente Filho, a Nalva, a Meire e a Nilda, havia a
mais velha que não me recordo do nome, que morava na Bahia. A Meire casara com o
Roberto “Cebolinha”. O chefe daquela família era comerciante, tinha uma mercearia no
mercado público, além de vender joias e relógios e possuía uma casa conjugada com um
armazém na cidade de União dos Palmares onde negociava com arroz, feijão e algodão.

-Nado era um excelente pianista e fora meu colega de colégio, do Grupo Escolar
Alberto Torres, cujo codinome do grupo era “gato escondido comendo amendoim
torrado”. Estudávamos no horário das 10:30 (dez horas e trinta minutos) de segunda a
sexta- feiras, às 13:30 (treze e trinta). Quase todos os dias eu, Nado e José Vicente
Filho, íamos assistir a sessão de cinema no Ideal, quando eu não tinha dinheiro, o Nado
ou o Zé Vicente, ia comigo até a mercearia de seu pai lá no mercado público de
Maceió, e quando o velho bombeava, eles tiravam dinheiro da gaveta e íamos para o
cinema, custava cada ingresso um cruzeiro e cinquenta, sempre chegávamos atrasados,
porque, a sessão começava as 13: 30 em ponto, e já perdíamos o trailer.

-Duas vezes por semana, todos os alunos tinham que ir para a casa da diretora,
ex-esposa do jornalista, de saudosa memória, o Dr. Carlos Moliterno, a dona Gedalva,
salvo engano este era o nome dela, para aprendermos cantar vários hinos e se não
soubéssemos, ficávamos de castigo ou apanhávamos de réguas ou palmatórias. Todos os
dias, antes do começo das aulas, tínhamos de ficar em forma e cantar o hino nacional
brasileiro. Em todos os cadernos vinham estampados vários hinos, o do Brasil, da
Bandeira, da Independência, de Alagoas, enfim, tínhamos de cantá-los. Acredito se hoje
os cadernos viessem trazendo os hinos e os alunos fossem obrigados a cantá-los, haveria
mais democracia e civilidade neste País, pois a educação piorou assim que os hinos
foram retirados dos cadernos, acho.

-Havia uma garota chamada Marinalva, que hoje é a esposa do meu dileto amigo
e companheiro de escritório jurídico, o José Calaça. Marinalva sempre nos

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acompanhava, isto é, quando nós íamos para a casa do Nado escutar piano, pois ele era
um exímio pianista. Hoje Marinalva é professora aposentada do Estado de Alagoas.

-Era o ano de 1954, fomos para a escola, mas, ao chegarmos lá, não houve aula,
pois nos disseram que havia falecido o presidente da república do Brasil, no caso
Getúlio Vargas, foi àquela alegria das crianças, pois não haveria aulas.

-Mais uma família existente na rua, a do senhor Pascoal, ele tinha duas filhas,
uma era médica.

-O deputado Galba Novaes, pai, que na época era tenente do Exercito Brasileiro,
o 20º BC, morava lá, também.

-Outra era a Montenegro, do Dr. Afrânio Montenegro, pai de Maria Eutália,


hoje casada com o desembargador Alcides Gusmão, a mãe dela a dona Jacira, era uma
das irmãs Rocha da famosa família Rocha, voltada para a culinária. Além de Eutália
havia também, outro irmão, salvo engano ele é médico e chamava-se Leonardo, o Léo.

-Em uma das esquinas, do lado contrário ao Colégio de São José, morava a
educadora Zezé Loureiro juntamente com seu sobrinho o Paulo Loureiro, que eram
proprietários do Colégio Sagrada Família. Zezé Loureiro era bastante forte, e em um
belo dia, ela estava em um transporte público quando o motorista perguntou:

- Ainda desce?- e o cobrador respondeu:

- Desce um piano!- e a Zezé:

- E o piano vai tocar!

-Meteu a sombrinha na cabeça do cobrador, foi bem empregado por não


respeitar as pessoas!

-Outra, a do Almir Amorim, que se tornara médico legista, estudante fundador


da Escola de Ciências Médicas de Alagoas, tinha outros irmãos, o Pedro, a Creuza e a
Celeste.

-Havia a família Aprato, o cabeça da família era o senhor Euclídes, pai de


Carlos, Edinete e Eguiberto, o primeiro além de ser meu amigo de infância, exerce a
mesma profissão que eu, a de advogado na próspera cidade de Arapiraca, Alagoas,
Edinete tornara-se funcionária pública e Eguiberto, médico.

-Também existia a família Pontes, do senhor Antonio Pontes, pai dos professores
Edmilson e Benedito, de João Pontes, Eunice e Zezé que é mãe de Paulo, Andre e
Marcelo, e tinha mais três filhas, Magali, a Ângela e a Silvia que faleceram juntamente
com a tia Eunice em um grave acidente de trânsito. Eles eram donos da fábrica de gelo
situada na mesma rua onde moravamos.

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-Outra, a do Adulci Lira, ele tinha duas filhas e hoje uma delas é advogada,
irmão de Adelmir Lira, este último viera a ser mais tarde, usineiro.

-Outra, era a de seu Vicente, pai de Ádson, mais tarde professor.

-Havia uma outra, a família Castro, de Roberto Castro, que tinha um filho
chamado Marcos, outro Roberto, outro Joaquim que no futuro viera a ser o braço direito
do industrial Carlos Lyra, irmão do industrial João Lyra, uma moça por nome de Márcia
e outra.

-Havia a família Falcão, cujo chefe da família possuía um grande armazém de


Secos & Molhados, no mercado público de Maceió.

Uma outra era a família de Antonio Dorville, irmão do Desembargador Ernandi


Dorville, que tinha várias filhas e um filho. A Marasia casada com o Dr. Benevides,
proprietário de uma fazenda entre Porto Calvo e Matriz de Camaragibe, pai do meu
amigo José Lins Moura que se tornara médico obstetra e ginecologista, do Toinho e de
uma moça que não me lembro do nome; a Deca; a Aspasia; a Laura; a Denise, que fora
minha namorada, Inês que é a caçula e o Charles.

Mais uma família, desta feita, a de dona Josefina, que possuia três filhas e um
filho. A Dasdores, a Maria, a Terezinha que fora a minha professora de piano, acordeôn
e pandeiro e Miguel. Nessa época ela já possuia uma neta que morava com ela, a
Luzinete.

BRINCADEIRA PERIGOSA

-Somava-se nesse pequeno trecho de rua, cerca de umas quarenta crianças a


participarem de várias brincadeiras. Brincávamos de rouba bandeira, de pega, de mãos
ao alto, de esconde-esconde, bola, ximbra, pião, garrafão etc,. Uma das melhores e
perigosas brincadeiras era a de tiroteio. Os tiroteios eram de verdade, com munições
verdadeiras. Como aconteciam: Quando chegavam as toras de madeira para a serraria
do senhor Cunha, elas eram colocadas umas sobre as outras e entre elas ficavam umas
pequenas brechas e ali eram introduzidas as munições compradas de policiais,
principalmente de policiais civis. Ficava uma turma de um lado da serraria e a outra do
outro. A munição ficava um pouco apertada entre as madeiras, e, de posse de um prego
e de um porrete de madeira, colocava-se o prego na espoleta e batia-se com o porrete, ai
era deflagrada a munição. Brincadeira perigosa mais todos nós brincávamos, até que um
dia, a serraria que já havia sido vendida ao senhor Jaime, a brincadeira acabou, pois um
dos disparos, o projetil passou zunindo na cabeça do Jaime e fora parar já amortecido no
peito do nosso colega Jeferson, apelidado de “GUEL”, o mesmo desmaiou pensando
que fora ferido de morte, apenas fizera-lhe uma pequena queimadura, o Jaime nos
proibiu de frequentar a sua serraria, aquilo foi uma” morte” para nós. Naquela serraria
mais tarde funcionou a Fábrica de Café EMECÊ de outra família Cunha, do pai de
Roberto, Flávio Cunha e outros.

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A PRETENDENTE E A FÁBRICA DO PAI DE CARLOS APRATO

-Eu e Carlos Aprato, disputávamos a mesma pretendente, a Lineusa Nogueira,


queríamos namora-la, porem, éramos novos e o namorar seria de dois bestas
adolescentes. Brigávamos muito, por vezes no murro, mais éramos amigos.

-O pai de Carlos Aprato era proprietário de uma empresa chamada de “Cevita”,


tinha torrefação de milho, fazia farinha de milho e de arroz, produzia doces, etc. Aos
domingos o Carlos era obrigado por seu pai para ir ao mercado público vender seus
produtos, e eu quando não ia à praia, fazia-lhe companhia e tratava de gritar:

- Olhe o docinho aqui, compre para depois beber água!

- No final da manhã o seu Euclides nos dava algum dinheirinho, o qual dinheiro
dava para eu ir ao cinema e ainda comer o que eu mais gostava, chocolate “Diamante
Negro” ou os de leite recheados de castanhas.

-Havia o cunhado de minha madrasta por nome de Antonio, ele morava na rua
que ladeava a linha férrea, trabalhava na Loja por nome de “Prato Chinês”, seu
proprietário era o senhor Moraes, e aos domingos ele ia revender os produtos da fábrica
de seu Aprato, pai do Carlos Aprato. Nós saíamos as 04:00 horas da manhã sentados
em colchões, em uma carroceria de caminhão, um frio danado, até a localidade Saúde,
perto do Cotonifício João Nogueira, para vender os produtos. Lá chegando, seu Antonio
colocava os produtos na feira daquela localidade, sobre uma banca, e enquanto isso, nós
tomávamos banho de rio. No final da tarde voltávamos para casa.

-Lembro-me bem, que o senhor Antonio fora convidado para passar um dia no
engenho “Bamburral” que pertencia aos Nogueira, e nós fomos com ele, a piscina tinha
água corrente, ela entrava e saía da piscina, ela vinha de uma espécie de barreira, foi
muito bom aquele dia.

A CADELA CHAMADA BALEIA

-Um dia, nós fomos assistir a um filme, acho que era “VIDAS SECAS”, e nesse
filme existia uma cachorra chamada “Baleia”. Por coincidência, uma semana depois,
aparecera em nossa rua uma cachorrinha vira-lata, sem dono, e nos a apelidamos de
“Baleia”. Todas as crianças e adolescentes cuidavam da cachorra. Onde colocá-la, pois
nossos pais e os demais não queriam criar cachorro nenhum. Havia na rua uma casa que
fora desocupada recentemente, e essa residência possuía duas portas, uma interna que se
encontrava fechada e a outra, externa, que estava aberta e, entre as duas, havia uma vaga
de aproximadamente cinquenta centímetros, foi onde nos criamos a “Baleia”. Quando
queríamos brincar com ela, nos a tirávamos e depois a colocávamos no lugar. Todas as
crianças a alimentava e dava água. Aquela casa pertencia a um capitão da policia militar
de Alagoas, ele era tio da Lúcia, uma colega nossa, que mais tarde viera a ser, outra vez,
minha vizinha, e no futuro, uma das minhas auxiliares na Usina Ouricuri, e hoje o seu
filho Augusto é meu vizinho.

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O BONECO BENEDITO E AS ESTÓRIAS DE CORDÉIS

-Uma vez meu pai precisava fazer a barba e mandou-me comprar espuma de
barbear, era mais ou menos sete horas e trinta minutos. O mercado era atrás de casa.
Quando cheguei ao mercado estava lá um homem contando uma estória de cordel, lendo
um daqueles livros em forma de cantadores de repentes, cantando, e eu fiquei ouvindo.
Quando estava na melhor parte, ele interrompeu a cantoria e começou a tentar vender
aquele exemplar e, como não conseguiu o montante de vendas, disse que ia contar outra.
Fiquei esperando.

-Depois de ouvir várias estórias e assistir a exibição do “Nego Benedito”, que


era um boneco de cera pintado de preto, que falava através de um homem, um
Ventrílogo, permaneci, assim, assistindo aquelas delícias por horas!

-Meu pai teve que fazer a barba utilizando espuma de sabão e fora trabalhar. Lá
pelas 11:00 horas quando eu estava assistindo a mais uma das estórias de cordel, levei
um tapa na cabeça, era o meu irmão Antonio Carlos que acabara de me encontrar
absolto em ouvir estórias e disse:

- Seu abestalhado! o papai esta louco para lhe dar uma pisa, ele saiu com raiva e
disse que quando voltasse, você iria lhe pagar!-

- Cheguei em casa e fui me esconder no sótão no meio de fios elétricos e poeira.


O sótão era de compensado e eu tinha que pisar no meio das tábuas mais grossa para
não afundar. Fiquei ali por mais de duas horas. Ao meio dia meu pai chegou e
perguntou por mim, mas, ninguém sabia a onde eu estava. Não aguentando mais, desci e
meu pai queria me dar uma daquelas célebres surras, após a explicação, não deu, em
virtude de, também, gostar de literatura de cordéis.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XIII

A IRMÃ ADOTIVA CHAMADA DE CLAUDIONORA

-Meu avô criava uma garotinha muito danada, e deu-a a minha mãe para cria-la,
seu nome era Claudionora, e diziam que era filha dele. Minha mãe quando ia visitar as
suas amigas, e, não tendo com quem deixar os filhos, nos levava, e nesse dia levou,
também, a Claudionora, a qual chamávamos carinhosamente de Claudir. Chegando à
casa da amiga que ficava na Rua conhecida como das Árvores, Rua do Macena, colocou
cinco cadeiras e nos obrigou a ocupa-las. Um pouco mais eu pedi para ir ao banheiro e
ela não permitiu dizendo:

- Estou conversando, fique calado!- e eu insistia-

- Estou me mijando!- e ela-

- Me deixe conversar senão apanha!

-Minha mãe era assim, aplicava uma educação rígida!

-De repente, Claudir quebrou um jarro da amiga de mamãe e ela se desculpou


dizendo:

- Claudir, quando chegar em casa você apanha!- a amiga perguntou quem era
aquela criança danada?

-Passaram-se alguns meses, e um belo dia, minha mãe fora fazer outra visita a
sua amiga, e as cadeiras foram postas novamente para a gente sentar, e lá para as tantas,
a amiga de minha mãe perguntou:

- Quem é esse doce de menina? Pois a que a senhora trouxe daquela vez era o
demônio, menina danada e desobediente, essa sim que é educada!

-Minha mãe dissera:

- Essa menina educada é aquela danada!

-A mulher não acreditou- minha mãe havia a domesticado!

-Passaram-se os anos, e, após a minha mãe encontrar-se separada de meu pai, ele
juntamente com a minha madrasta continuaram com a Claudir, apenas havendo uma

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diferença, é que minha mãe a tratava como uma filha e a minha madrasta, como
empregada.

-Claudir perdera alguns dentes muito cedo, seu cabelo era ruim “pixaim”
avermelhado, não sabia ler direito, escrevia mal, mas, tinha um sonho o de se tornar
uma artista de teatro. Passava os dias lá no fundo do quintal dançando com uma
vassoura, dizendo que estava dançando com um príncipe e ao mesmo tempo criava
peças de teatro em sua imaginação. Claudir nunca tinha ido ao teatro, mas, sonhava com
ele, e que um dia ia mesmo ser atriz!

-Um dia, Claudir comprara uma pasta chamada “Pasta Americana” para estirar
os cabelos, cuja pasta ao invés de estirá-los, queimou-os, fazendo feridas no couro
cabeludo. Coitada, sem dente e com cabelo ruim, queria ficar bonita e apresentável,.

-Era um dia de semana, morávamos na casa situada na Rua da Floresta e meu pai
mandou que Claudir fosse fazer algumas compras no mercado público, inclusive, creme
de barbear. Fez uma lista do que faltava e deu-lhe o dinheiro. Era umas cinco horas da
manhã. Quando deu lá para as onze horas, uma mulher conhecida de Claudir, fora até lá
em casa para entregar as compras e devolver o troco. Meu pai perguntou por
Claudionora e, como resposta, a mulher dissera que àquelas horas ela estaria a caminho
de Recife em um trem. E assim aconteceu. Nessa época minha mãe morava com um dos
seus irmãos em Recife, mas, Claudir não a procurou.

-Passaram-se dois anos, e, um dia, minha mãe fora lanchar próximo à pracinha
dos Diários de Pernambuco, e lá avistara no balcão da lanchonete, uma moça,
sorridente, dentes alvos, cabelos pretos, educada, que a atendeu. Minha mãe ficou
desconfiada, mas, depois teve a certeza de que era a Claudionora.

-Claudir a chamava de madrinha e minha mãe a levou para trabalhar como


governanta na casa de sua sobrinha Clesia, que era casada com um homem rico, da
família Pimentel, donos de fábrica de molas para caminhões, as Molas Camaragibe.
Claudir ficara interessante, cabelos estirados, de cor diferente, colocara os dentes, sim,
ficara outra pessoa.

-A casa de minha prima era no Cordeiro, próxima a Avenida Caxangá. Aos


sábados à noite, Claudir frequentava a escolinha de teatro da igreja católica lá em
Iputinga, nessa época já escrevia e lia mais ou menos.

-Minha mãe retirou Claudir da casa de minha prima, pois, o marido dela estava
querendo um chameguinho com ela e minha mãe para evitar encrenca, resolveu leva-la
embora para morarem juntas.

-Um dia Claudir desapareceu da companhia de minha mãe e ela não a encontrou
mais.

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-Uns dois anos depois, um primo de meu pai que era funcionário do Banco do
Brasil na cidade do Rio de Janeiro, viera passear em Maceió e contara o seguinte:

-Que estava em um vôo que ia do Recife para o Rio de Janeiro e ao seu lado
sentara-se uma moça, e pelas conversas ele a reconhecera como sendo a filha adotiva de
seu primo Antonio Santos. E, ao chegarem ao aeroporto, perguntou para onde ela ia e se
queria uma carona, pois ele iria pegar um taxi, mas ela dissera que uma tia a estava
esperando ali, não aceitando a carona- Foi quando soubemos notícias dela.

-Passaram-se vários anos e, um dia, minha irmã que, também, se chama Clesia,
recebera uma carta de Claudir, contando a sua história. Dizia ela:

- Que se encontrara no avião com o primo de padrinho Antonio e que ele queria
lhe dar uma carona, mas, ela não queria ajuda de ninguém e não queria voltar para
Maceió, pois aquela altura estava livre como um passarinho. Disse que pegou um carro
de praça, e pediu ao motorista que a levasse até uma pensão decente e assim ele a levou.
Dias depois, comprou um jornal para nos classificados procurar emprego, e viu um
anúncio que lhe chamara a atenção. Era um emprego para servir de dama de companhia
para uma embaixatriz idosa e do Japão!

-Vestiu a sua melhor roupa e, quando chegou ao local, já estava uma fila de
mais de cinquenta pessoas. Quando chegou a sua vez, a embaixatriz ficara encantada
com ela e a contratou. Daí em diante, a sua vida mudou!

-Um dia a embaixada fora transferida para São Paulo. Sempre a embaixatriz
ganhava ingressos para o Teatro Municipal, porém, às vezes não ia e mandava o
motorista leva-la para assistir as peças de teatro!

-Ensinou-a culinária japonesa e outras comidas internacionais, a por a mesa,


como ficava a posição dos talheres e outras coisas mais!

-Em grandes recepções na embaixada, quando terminava o jantar, nos bolsos de


seu avental apareciam convites para trabalhar com aquelas pessoas e umas gorjetas
polpudas. Nunca aceitou. Quando a embaixatriz deixara o Brasil, ela fora trabalhar no
Hospital Sírio Libanês como recepcionista. Foi lá que namorou a um pernambucano e
casara com ele!

-Claudir nos mandara uma fotografia, estava forte, bonita e cabelos pela cintura,
estirados e brilhosos. Pouco tempo depois soubemos que ela morrera de Eclampse,
quando nasceram seus filhos gêmeos. Triste, fim, porém Claudionora alcançou o que
queria, ser atriz, mesmo de teatro amador em Recife, ter dentes novos e cabelos bonitos.

-Essa foi a história de uma pessoa maravilhosa, de coração puro e de muita


bondade, inclusive havia adotado uma filha, nunca teve raiva nem se vingou de minha
madrasta que a tratava com desrespeito e crueldade

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XIV

AS BRIGAS DE RUA E OS PASSEIOS DE BICICLETAS

-Naquela época havia brigas entre frequentadores de cada praça e às vezes entre
ruas diferentes. Eu sempre me dei com todos os frequentadores das diversas praças.
Mas, como nós morávamos na Rua da Floresta, não conhecíamos direito os moradores
da Rua onde estar situada a Igreja de São Benedito. Começaram as encrencas.
Soubemos que os meninos da rua vizinha queriam nos dar uma pisa. Armamos-nos, eu
com arco e flechas fabricadas com armação de guarda-chuvas. À noite fomos para o
confronto, havia um clima de medo e expectativa. O grupo da outra rua era formado de
meninos maiores do que nós e até adolescentes. Quando cheguei, a primeira coisa que o
menino, bem gordinho chamado Marcelo, fez, foi quebrar o meu arco e minhas flechas.
Mas, não houve confronto, pois mais adiante todos ficaram nossos amigos. Inclusive,
existia naquela rua o Clube dos doze, que funcionava na casa de minha amiga Audir
Remijo, prima de minha dileta amiga Lúcia Remijo, hoje advogada.

-Meu irmão, como sempre, ganhara uma bicicleta da marca Philips e eu nada.
Mais de um ano depois, era um dia de Sábado, lá estava eu sentado em uma calçada na
esquina em frente ao Colégio de São José, quando meu irmão Antonio Carlos passou
montado em uma bicicleta vermelha, gritando:

-Vamos para casa que essa é sua!

-Tal não foi a minha alegria, porque, havia ganho uma bicicleta, era uma
bicicleta da marca Monarke!

-Com a minha bicicleta nova, e tendo feito amizade com os rapazes da rua
vizinha, principalmente o Teobaldo Pacheco e seus irmãos, Alfredo Dimas, que mais
tarde viera a ser meu colega do Colégio Guido e o André, todas as noites nós íamos
passear de bicicleta e o percurso era da Igreja de São Benedito até Jaraguá, na Rua do
Queimado, hoje conhecida como Batista Acioli, que era primo de meu avô, pois naquela
rua morava o primo de Teobaldo, chamado de Márcio, conhecido por “Esquerdinha”,
além dessa rua, nós íamos à do Comendador Leão na casa da Francisca, a “Chica Boa”,
pertencente à família Aguiar de onde saiu um dos melhores jogadores de futebol de
Alagoas. Íamos, também, a Rua do Uruguai visitar a nossa amiga chamada de
Argentina, que no futuro se tornara médica, e até a Praça do Rex.

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-Certo tempo depois, a família de Teobaldo mudara-se para a Gruta de Lourdes,
bairro chique de Maceió, para um sítio, onde na frente desse sítio existia uma corrente,
como se chamava naquela época, era uma corrente estendida para que os caminhões de
mercadorias parassem para pagar os impostos estaduais, hoje conhecidos como ICMS.
Havia dois postos de cobrança de impostos, uma era no bairro da Gruta de Lourdes e o
outro no bairro de Mangabeiras, próximo e em frente a onde hoje existe a MAPEL.

-De quinze em quinze dias, sempre aos domingos, os meninos que possuíam
bicicleta davam carona aqueles que não tinham e todos se dirigiam ao bairro da Serraria,
sem antes de passar no sítio do Teobaldo Pacheco. De lá seguíamos até o rio chamado o
banho da serraria. Era um percurso extenso, pois saíamos da Igreja de São Benedito,
passávamos pelo bairro da Gruta, atravessávamos para o outro lado que era a serraria,
uma longa estrada de barro, já do outro lado, descíamos uma ladeira, pegávamos uma
reta bem longa, estrada ladeada por muitos sítios, todos eles repletos de frutas,
mangaba, caju, mangas, pitombas etc., até chegarmos a uma ladeira que dava acesso ao
banho. Chegando lá, nos pulávamos de bicicleta e tudo, dentro d’água. Lá pelas três ou
quatro horas nós regressávamos, sem antes, na passagem pelos sítios, nos abastecermos
de frutas, enchendo os nossos chapéus. Era muito bom!

-Aos domingos, quando não íamos ao banho do bairro da Serraria, na parte da


tarde, passeávamos de bicicleta pelo bairro da Coreia, continuação do bairro do Vergel
do Lago. Lá existia, naquela época, uma ponte de concreto que se projetava para dentro
da Lagoa Mundaú, ponte aquela construída pelos Americanos no tempo da Segunda
Guerra Mundial. Era um dos ótimos passeios daqueles jovens que possuíam bicicleta.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XV

O AMIGO ALMIR

-Uma vez, o meu vizinho da Rua da Floresta, o Almir Amorim, que estudava no
Colégio Batista no bairro do farol, na subida da ladeira da Catedral, ultrapassou a
mureta do mirante do farol para apanhar o fruto da carrapateira para petecar os colegas,
e caiu de ladeira abaixo até o bairro do poço em frente à Escola Industrial, hoje CEFET.
Passou vários dias em coma, chegando até a quebrar o nariz. Almir Amorim, mais tarde,
tornara-se um grande médico, médico legista, ele era auxiliar do doutor Duda Calado,
inclusive fora convidado para trabalhar em Salvador no Instituto Nina Rodrigues, o IML
de lá, convite feito pela médica Tereza Pacheco, tia de Ivana Pacheco, ex- esposa de
meu ex-cunhado Carlos Wanderley.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XVI

O EXAME DE ADMISSÃO E O COLÉGIO DIOCESANO

-Quando completei treze anos de idade, fora fazer o exame de admissão para
ingresso no Colégio Diocesano de Maceió, hoje Colégio Marista. Me preparei durante
dois meses com a professora Carrascosa, mais briguei com ela e ela disse que eu não ia
passar, porque, era burro! - Contra ataquei!

- Burra é a senhora, pois vou lhe mostrar que passarei!

- E deixei o cursinho, cujas aulas eram administradas em um Colégio situado na


Praça Deodoro, o prédio mais tarde tornou-se a Academia Alagoana de Letras, cuja
academia o meu pai Antonio Santos era um dos imortais. Fiz o preparatório no próprio
colégio Diocesano. Passei no Exame de Admissão e fui tirar satisfação com a
Carrascosa. Eu quase fui reprovado, mas, um rapaz que eu não conhecia, perguntou
durante o exame, qual a resposta que eu estava precisando, justamente uma resposta de
geografia, pois na época era a matéria juntamente com a matemática, que eu mais
odiava. Deu-me a resposta de uma delas e eu passei no pau-do-canto. Mais tarde eu fui
colega desse rapaz na turma “B”, o nome dele era Antonio Carlos Ramalho, o pai dele
era proprietário da Livraria Ramalho. Anos depois, ele tornara-se Irmão Marista, fora
morar em Recife no bairro de Apipucos, juntamente com outro colega de nossa classe, o
José Júlio Leão, irmão de Claudio, hoje casado com a prima de minha ex-esposa.
Claudio e José Júlio tornaram-se cunhados do hoje Juiz, o Dr. João Omena,

-Havia três turmas, a turma “A” a “B” e a “C”, eu estudava, como acima já tinha
citado, na “B”. Lá estudaram, Marcelo Resende, de saudosa memória, um dos colegas
que eu tive luta corporal, mas, depois, voltamos a ficar amigos. Geoberto Espírito
Santo, meu amigo de infância de Bebedouro, voltamos a nos encontrar. Manoel Afonso
de Melo, “futuro deputado estadual”, primo do Fernando Collor, que, também, entramos
em luta corporal indo nós dois baixarmos na diretoria do colégio, ficamos das dez horas
às cinco da tarde, de braços abertos e com a cara na parede e ele dizia:

-Vou te pegar depois!

-Vou te lascar! - Ao qual eu respondia:

-Quem vai pegar sou eu! –

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-Assim ficamos quase o dia todo de castigo para não sermos expulsos!

-O diretor era o irmão Máximo. Algum tempo depois, voltamos às boas,


ficamos amigos de novo!

O TIME DE FUTEBOL

-Havia o torneio de futebol por séries. Jogavam as turmas do primeiro ano de


ginásio, A, B e C, no final uma delas seria a campeã. O responsável por nossa classe era
o irmão Claudio, um galego muito esperto, não nascera para ser irmão Marista, não
tinha vocação. Um dia ele reuniu a turma e disse:

-Se vocês forem campeões do colégio, estarão passados nas minhas três
matérias!

- Ele ensinava história, matéria a qual eu gostava muito, desenho e matemática.


Ora, das sete matérias passarmos em três, já era um lucro. Passamos a jogar bola feitos
condenados. Todas as tardes, quando o campo do Diocesano não estava alugado, nos o
alugávamos, juntamente com a rede, as camisas e bolas. Custavam dois cruzeiros para
cada um. Quando eu não tinha o dinheiro, pois não tinha o topete de pedir ao meu pai,
vendia garrafas usadas, revistas, jornais e cobres tirados de pequenos pedaços de fios
que eu andava catando nos lixos da vizinhança.

-Eis que chega o campeonato. O primeiro turno fora ganho pela turma “A”, era
uma grande equipe, liderada pelo meu amigo Carlos Eugênio. Nós conseguimos ganhar
o segundo. Eu jogava naquela época, na posição chamada de Ralf Direito. Eu marcava o
meia esquerda. Quando o jogo era de toques, um jogo clássico, não me colocavam para
jogar, quando o jogo era para ganhar na raça, eu jogava, pois era muito rápido, corria
muito. Havia um colega da outra turma, o meu amigo, ainda hoje, o Robinho,
engenheiro do DER de Alagoas, e cantor do Oráculo, que possuía um drible pequeno e
muito chato que nos provocava, mas, quando ele passava por mim, e, quando ia cruzar a
bola, eu já estava em seu encalço, dando-lhe um trancão e a bola não seguia o seu rumo.

- Uma das vezes a bola subiu entre nossas pernas indo se alojar em um oitizeiro,
tendo que o irmão Silvino, que era um homem de muita força, bem alto, sacudir uma
bola de basquete para soltar a bola do jogo que estava presa em uma de suas galhas.
Jogávamos entre as árvores, pois o campo era assim, ainda hoje existem tais árvores,
pois é onde se situa a Secretaria de Agricultura. Não sabíamos como se jogava entre
elas, pois não conheço nenhum caso de alguém se chocar com elas e se ferir
gravemente.

-Fomos para a decisão de melhor de três. Eles ganharam a primeira partida e nos
a segunda, a decisão ficara para a terceira. Chegou o dia do jogo, estávamos preparados.
Eles fizeram o primeiro gol, e nós empatamos; fizemos o segundo, e nessa altura do
campeonato, quatro dos meus colegas foram expulsos de campo. Havia ainda um bom

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tempo de partida, lutamos como desesperados para mantermos o resultado. Quando a
bola chegava aos nossos pés, atirávamos para longe. Mantemos essa tática até o fim. Em
um dado momento, ao recharsarmos um dos ataques, à bola fora parar nos pés de um
colega chamado Jessé e ele fizera o terceiro gol. Fomos campeões.

-O irmão Claudio não cumprira com a sua promessa de passar-nos em suas três
matérias. Naquele tempo, se ficássemos em duas matérias, íamos para recuperação, mas,
se ficássemos em três, era reprovação direta.

-Fomos, também, campeões de um torneio quadrangular, os jogos se realizaram


no campo do “Palestra” no bairro da Ponta da Terra. Era um areião quente, tínhamos de
vez em quando corremos para uma moita de capim para não pelar os pés, o nosso time
fora reforçado pela turma “A”. O juiz era o Hélio, apelidado de “Pichilinga”.

-Eu estava muito orgulhoso, como se diz hoje quando alguém consegue alguma
vitória na vida, porque, tinha conquistado o campeonato de futebol. Meu pai, que era
homem das letras, fora todo “ancho”, ou seja, satisfeito, ao Teatro Deodoro, assistir o
filho em receber uma medalha, apenas ele não sabia que era de futebol.

-As medalhas iam sendo entregues, umas para os melhores alunos do colégio,
outras por honra ao mérito e, assim, por diante. O quadro de medalhas começou a se
esvaziar e, meu pai, a toda hora perguntava:

- Que diabo de medalha você vai receber?- Eu dizia:

- Tenha calma, o senhor já vai saber!

- Por fim, foram chamados os alunos das turmas campeãs de futebol daquele
ano. Meu pai ficou possesso, pois tivera que vestir um terno para comparecer a uma
solenidade de futebol, naquele calor danado que fazia o Teatro Deodoro naquela noite
específica, e, disse:

- Você me paga! Se for reprovado vai levar uma surra daquelas!

- Fui como já dissera, reprovado, mas, naquele ano, não somente eu fui, mais
seis irmãos foram também. Não apanhei, porque, naquele meio estavam os queridinhos
de minha madrasta.

MEU PRIMEIRO EMPREGO

-Repeti o ano e meu pai disse se eu no próximo não passasse, iria puxar carroça.
Passei, e quando estava cursando o segundo ano, meu pai arranjou um emprego para
mim, na Gazeta de Alagoas, jornal do Arnon de Melo, pai de Fernando Collor, na
revisão do jornal, sem ganhar nenhum tostão, apenas para aprender a função.
Trabalhava das nove horas da noite até as, três, quatro ou cinco horas da manhã do dia
seguinte. Quando chegava em casa, lanchava, tomava um banho, vestia a farda do

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colégio Diocesano, que era de cor Caqui com uma grossa lista vermelha nos lados, e
ficava cochilando em uma cadeira de balanço, até chegar a hora de ir para o colégio. O
colégio ficava a duas quadras de minha residência. Tomava café nas carreiras, pegava
os livros e cadernos, juntamente com a caderneta de frequência, pois, só podíamos
entrar no colégio se levássemos a caderneta. Lembro-me bem, era de cor vermelha,
onde eram anotadas todas as movimentações de nossas vidas naquela entidade. Se
naquele dia não comparecêssemos, nossos pais ficariam sabendo.

-Ao cabo de seis meses, interpelei o senhor Cavalcanti, que era o tesoureiro do
Jornal Gazeta de Alagoas, se eu não iria receber dinheiro, pois fazia muito tempo que eu
estava trabalhando de graça. Como resposta ele disse:

-Seu pai lhe colocou aqui para aprender e não para ganhar dinheiro!

-Fui embora, dois meses depois, fui convidado para trabalhar no Jornal de
Alagoas, nos Diários Associados de Assis Chateaubriand um dos melhores jornalistas
da época, ganhando três mil cruzeiros, era um bom ordenado, principalmente eu que
tinha na época quatorze anos de idade. Fui trabalhar na revisão do jornal, juntamente
com outros cinco revisores. Na vida não tive muita sorte, pois, quando ingressei no
jornal, havia mais cinco revisores, e, pouco tempo depois, ficamos apenas eu e o chefe
chamado de Jaime Rosa, as outras pessoas foram deslocadas para a redação de esporte,
polícia e assim por diante.

-Continuei a trabalhar de noite e estudar de dia no Diocesano. Nessa época


havia, também, a matéria de Latim, tínhamos de aprender aquelas declinações latinas,
de tentar acompanhar as missas em latim. Todos os sábados havia sabatina, às vezes de
português, francês, inglês, história, geografia e de latim. As sabatinas consistiam em
ficar uma fila de alunos de um lado e outra de outro, um perguntava ao colega de frente
sobre as matérias, aqueles que respondessem certo várias perguntas, tiravam notas boas
e, aqueles que errassem três respostas, tiravam zero.

-Uma vez por mês, participávamos do grêmio escolar, eu como sempre, lia uma
das matérias publicadas no Jornal de Alagoas, mas, nunca os colegas nem os
professores souberam de onde eu as tirava, pois eles não sabiam do meu esforço de
trabalhar à noite e estudar pelo dia. Assim foi passando o ano e eu fiquei em duas
matérias, nessa época eu já cursava o segundo ano de ginásio. Na prova oral fui
sabatinado pelo irmão Francisco, que Deus o tenha, foi um anjo em minha vida, às
vezes em que eu segurava a caneta ela voava longe, pois dava uma tremedeira nas mãos
e câimbras, e eu não consegui responder as perguntas formuladas por ele. Foi quando
ele perguntou:

- O que está acontecendo com você Alde? Eu sempre gostei das matérias que
você trazia para a sala de aula durante as reuniões do grêmio!

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- Foi quando eu expliquei que eu trabalhava à noite para estudar de dia, por isso
eu sabia um bocado de português. Ele ficou abismado e disse:

- Vou lhe dar mais uma chance, vou lhe fazer mais três perguntas, tenha calma
que você vai responde-las!

- E assim foram feitas e eu as respondi acertadamente. Fui aprovado, e no ano


seguinte, passei a estudar pela noite no Colégio Guido de Fontgalland no curso de
contabilidade.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XVII

O MEU TRABALHO NO JORNAL DE ALAGOAS

-Antes de ir trabalhar, após o jantar, quando ainda trabalhava na Gazeta de


Alagoas, eu e meus colegas íamos jogar bola no oitão do Colégio de São José, no
centro de Maceió. Após o racha, ia tomar banho para me dirigir ao trabalho no jornal.
Olhava para a minha caminha e ficava com vontade de deitar-me, porém, não podia,
tinha que trabalhar.

-Na Rua Boa Vista no centro de Maceió, quando eu passei a estudar à noite,
aonde, também, se localizava o meu trabalho, havia uma lanchonete, e para aguentar o
batente, quando retornava do colégio, eu comia uma papa feita de “Sagu”, ou outra
chamada de “Amaral”, na Amaral eles colocavam ovos.

-O meu local de trabalho consistia em subir uns degraus de madeira em uma sala
improvisada, também, de madeira, de onde eu avistava as máquinas rotativas e a
paginação. No bureau uma lâmpada de cem velas enroscada em um abajur, daqueles
que podemos enverga-lo de um lado para o outro, tipo mola, mas, como a lâmpada era
muito forte, eu o virava para a parede e através do reflexo eu corrigia as matérias que
seriam inseridas no jornal.

-Naquele tempo, o sistema de se fazer jornal, era o de Linotipia, ou seja,


máquinas tipo datilografia, todas as vezes que se datilografava, soltavam letras de metal
e elas eram arrumadas em uma caixinha até formar uma frase, e, quando eram atingidos
os centímetros previamente estabelecidos para as colunas, o Linotipista, como era
chamado o funcionário que trabalhava com aquelas máquinas, acionava uma alavanca e
aquela caixinha descia e a barra de chumbo que estava pendurada por uma corrente,
também, descia, derretendo, e fundia as letras a uma temperatura elevada, o que eram
letras soltas, passava agora a constar como se fora um carimbo. Depois, quando frias
aquelas linhas de chumbo, eram postas em uma grade tipo uma janela, e quando
apertada, ficavam presas e o paginador tirava o excesso do chumbo com uma escova de
aço, e passava um rolo com tinta, colocava uma folha de papel e decalcava-a mandando
aquela folha para a revisão juntamente com a matéria escrita pelo jornalista, caso,
houvesse erros de concordância ou de escrita, o revisor corrigia, colocando símbolos
previamente convencionados, e mandava de volta para a paginação, que por sua vez, se
não houvesse modificações, deixava aquela página de reserva para ser incorporada ao
jornal, se não, as frases erradas eram substituídas por outras corretas, não menos de

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passar o teste corrigido para a Linotipia para ser refeito e assim por diante. O meu
trabalho consistia nisso.

-Com o dinheiro que eu ganhava, os três mil cruzeiros, no início do ano eu


comparecia a Loja Capitólio Modas, pertencente ao grupo Magalhães & Cia, e fazia
uma grande compra, era o meu enxoval. Comprava um terno, duas gravatas, três
camisas sociais, três esportivas, duas calças sociais, uma calça Lee, tipo jeans, um
sapato social e um para a diária, uma dúzia de cuecas, seis pares de meia, um cinturão e
uma caixa de lenços. Pagava em dez vezes. Geralmente essas compras ultrapassavam os
doze mil cruzeiros. Comprava um terno para frequentar os bailes do Clube Português e
Clube Tênis Alagoano, pois gostava de dançar, era um exímio cavalheiro, um
verdadeiro pé de falsa e de bolero. Embora eu fosse de uma família de classe média,
filho de um professor e jornalista, naquela época eu tinha muitos amigos e amigas, e
sempre eu era convidado para os aniversários de quinze anos.

-Lembro-me bem, que eu e meus colegas, Solon Brasil, seus irmãos Vatal,
Antonio Américo e Antonio Augusto, O Gerson e seu irmão José Vicente filho, Roberto
e Ricardo “Cebolinha”, Marcos e tantos outros, mesmo que não fossemos convidados
para aniversários de quinze anos, fazíamos uma cota e com o dinheiro arrecadado
comprávamos um presente e íamos aos aniversários sem convites. Lá chegando, nós
entregávamos o presente e davamos os parabéns as aniversariantes. Elas ficavam em
dúvida se nos conhecia, mas, mesmo assim, deixava-nos entrar. Um belo dia,
compramos um presente na Lobrás, era um perfume, e fomos ao aniversário, ele era no
bairro de Ponta Grossa, entre a Praça Santo Antonio e a Rua Formosa. A nossa tática
funcionou as mil maravilhas. Lá para as tantas, quando nós estávamos comendo e
bebendo, o pai da debutante perguntou quem eram aqueles rapazes que nunca os tinha
visto, e ela disse que não sabia, fomos todos obrigados a nos retirarmos. Era muito
engraçado, pois os aniversários nós sabíamos através dos jornais nas páginas sociais.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XVIII

A VIAGEM PARA SÃO PAULO

-Meu pai me espancava sempre, às vezes era, porque, minha madrasta fazia
carga em cima de mim, tudo o que acontecia em casa só poderia ser eu, assim dizia ela,
ele acreditava e muitas das vezes eu nem estava em casa.

-Quando queria bater em mim, mandava que eu fosse buscar um cinturão, eu já


estava escolado, pegava um dos cinturões que não deixava marcas, era um cinturão
grosso e pesado, até que meu pai descobriu a artimanha, pois existia um cinturão fininho
que era o que doía mais e deixava marcas, era com aquele que meu pai passara a bater-
me. Apanhava por tudo, porém, um dia, quando eu vinha da rua, ele mandou que eu
fosse buscar o cinturão para apanhar e eu lhe dissera:

-Pai, eu não fiz isso! Eu não estava aqui!

-Não houve argumento que o demovesse de sua intenção de bater-me, então eu


lhe dissera:

-Hoje o senhor não vai me bater não, pois eu não fiz nada e se me bater vai ter
trôco!

- Meu pai me pegou pelos braços e eu o empurrei, e ele caiu sentado em uma
cadeira, e, como eu sabia que a pisa ia ser dobrada, vislumbrei que a janela da sala onde
meu pai dava aulas particulares para concurso público, estava aberta, me atirei sobre ela
caindo quase de cabeça na calçada da rua e fui embora.

-A noite eu ainda estava na Praça Deodoro e foi lá que conheci um caminhoneiro


ao qual pedi que ele me levasse para São Paulo, porém, ele me disse sorrindo que não
podia e me contou a seguinte história:

-Mas antes de conta-la, é necessário um esclarecimento. Entre as carrocerias de


caminhão e o chassi, naquela época, havia um espaço que servia para colocar uma
escada, pás, enxadas e mais alguma coisa, e fora ali que se iniciou a história. Ele
começa:

-Eu estava viajando do Ceará para São Paulo, em meu caminhão, e tinha que
parar para ir ao banheiro, fazer as refeições e dormir nos hotéis de beira-de-estrada.

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-Quando estava viajando a um bom tempo, parei para ir ao banheiro de um posto
de gasolina, e na volta, ao subir na cabine do caminhão, escutei um barulho no final da
carroceria, fui verificar, e qual não foi a minha surpresa, haviam colocado uma porta
entre a carroceria e o chassi, e lá estava deitado um rapaz, perguntei-lhe o que fazia ali e
ele respondeu:

- Eu venho desde o Ceará viajando nessas condições, e como soube que o senhor
ia para São Paulo, e como não tenho dinheiro, foi o único jeito de viajar!

-Perguntei-lhe como conseguiu viajar até ali e ele respondeu-me:

- Quando o senhor parava eu esperava um pouquinho e descia, também, fazia as


coisas apressadamente e voltava para o meu lugar. Houve uma hora que o senhor fora
verificar os pneus e eu quase que perdi a carona, me embrenhei no mato e quando o
senhor entrou no caminhão eu voltei para o meu lugar!

-Fiquei com pena dele e o convidei para viajar comigo na cabine!

-Esse rapaz fora para São Paulo e ficamos amigos!

-Dei-lhe meu endereço em Crato no Ceará!

-Alguns anos depois, recebi uma carta dele contando como começara a vida em
São Paulo, contou ele na carta:

- Que viu um anúncio em uma padaria, de que precisavam de um padeiro, pois, o


outro ia deixar o serviço. Ele disse ao dono que sabia fazer toda qualidade de pão e fora
conversar com o antigo padeiro, ao conversar com ele, pediu-lhe ajuda dizendo que não
sabia porcaria nenhuma de fazer pão. O padeiro achou interessante e arriscada a
coragem do jovem e como estava de aviso prévio, resolveu ajuda-lo, e assim, o jovem
tornara-se padeiro!

- Após contar-me a história, aconselhou-me ir para casa dizendo que São Paulo
não era fácil e era melhor ficar morando com meus pais. Despedimo-nos ali e fui
temeroso para casa. Chegando em casa meu pai estava acamado, até o médico havia lhe
visitado, pois quase que teve um enfarto. Nada me aconteceu, e daí em diante, meu pai
só batia em mim se eu merecesse.

60
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XIX

A VINGANÇA

-A minha madrasta era por demais sovina, até queijo, doce e bolachas eram
guardados enrolados em uma sacola dentro de um cesto de roupas sujas, tudo isso para
que eu e meu irmão quando viéssemos do trabalho, não comêssemos. A minha irmã
Clesia, era quem deixava lanches para nós. Além das pisas que eu levava por causa dela,
ainda tinha os lanches não comidos. Às vezes ela deixava rodelinhas de batata doce e os
bicos de pães dentro do forno do fogão e, quando íamos comer, o prato estava cheio de
formigas. Resolvi me vingar. Ela recebia todos os meses do meu pai, além de uma
mesada, o nosso abono-família, mais tal abono não gastava conosco, e sim, colocava o
dinheiro em uma miniatura de cofre, o qual quando se colocava uma moeda, havia uma
mola que dava passagem à moeda e depois voltava para o lugar fechando a passagem.
Ao lado existia um buraquinho que servia para se pegar uma cédula de dinheiro e
enrosca-la de tal forma que ficava parecida com um canudinho de festa de aniversário e
era introduzida naquele lugar.

-No quarto dela, existia duas portas, uma delas dava para o corredor e a outra
para a sala onde meu pai dava aulas. A porta do quarto sempre ficava fechada de chave,
pois eles gostavam de entrar pela porta da sala. A porta da sala, também, tinha
fechadura e ferrolho. Quando meu pai estava para ir trabalhar, e estava tomando banho,
pois minha madrasta encontrava-se no emprego como funcionária da Delegacia Fiscal,
emprego federal, eu abria o ferrolho de cima, da porta da sala, pois quando ele ainda
não tinha saído, ficava aberta, e esperava a saída dele. Quando ele ia embora, eu
empurrava as duas bandas da porta, pois ela era de duas bandas e ela se abria, porém, a
lingueta da fechadura ficava aberta e eu quando saía pegava as duas bandas e as
encaixava. Quando estava lá dentro do quarto, pegava uma faca de mesa sem serra e a
introduzia na mola e emborcava o cofrinho e a moeda escorregava pela faca, quando era
de dez centavos eu não queria, mas, se fosse de cinquenta centavos eu a reservava.
Quanto às cédulas, eu pegava uma tesourinha e introduzia sua ponta naquele orifício do
cofre colocando-o de cabeça para baixo até que aparecesse uma pontinha da cédula e
puxava com a tesoura. Às vezes a cédula rasgava uma pontinha, mais funcionava, pois o
dinheiro era colocado rodando e saia da mesma maneira.

-Nas festas de fim de ano, minha madrasta abria o cofrinho para contar o
dinheiro, e sempre ela estranhava que alguma coisa não estava certa, pois pensava que

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havia mais dinheiro. Nunca descobriu, em virtude de pensar que o dinheiro de cédula
não poderia ser retirado, inclusive, a chave ficava escondida, literalmente, a sete
chaves, com ela. Era assim que eu me vingava, pois nunca havia comprado coisas para
nós com o nosso dinheiro do abono família.

-Anos depois, a minha irmã Clesia, já casada e com filhos, me confidenciava


que, também, utilizava daquele mesmo expediente para retirar dinheiro para fazer as
unhas, pois naquela época encontrava-se desempregada, era por isso que se eu não
retirava muito, como era que o cofre sofria grande abalo?

62
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XX

TROCA DE NOME

-Um dia eu e o Diretor do Jornal de Alagoas, o senhor Arnoldo Jambo,


estávamos na sacada do seu gabinete, quando pela Rua Boa Vista, a rua onde
funcionava o jornal, ia passando uma escritora por nome de Margarida Bulhões e o
Arnoldo Jambo gritou:

- Margarida, gostou da publicação, estava tudo certo?- e ela respondeu:

- Gostei, porém, ainda não tenho aquilo!

- O Arnoldo Jambo ficou intrigado com a frase e foi examinar a publicação da


matéria. Ao ler, achou que estava tudo bem, mas, quando olhou o nome da Margarida,
haviam trocado o “B” pelo “C”, já pensaram?.

DE VOLTA AO MEU EMPREGO

-Às vezes o trabalho era tanto, que eu, após o serviço, forrava uma folha de
papel tirada da máquina rotativa de imprimir o jornal, e deitava-me no assoalho de
minha sala para tirar um cochilo. De vez de quando o paginador gritava:

- Olha a prova!

-Prova era como se chamava a folha de revisão para ser corrigida, e, enquanto
não havia serviço, eu tirava um cochilinho. Um dia, a minha irmã Clesia, vendo que eu
não retornei à casa, mandou uma pessoa verificar se eu estava no jornal, não me viu
deitado no chão, porque, do ângulo de onde olhara não me via, e ela teve que procurar
em delegacias, no pronto socorro e necrotério, é claro que não iria me encontrar.
Geralmente eu chegava um pouco mais das cinco horas da manhã e nesse dia, não fui
para casa, redundando nessa procura. Lá para as quatro horas da tarde, a moça que fazia
a limpeza da sala me encontrou dormindo, e minha irmã deu a maior bronca.

-O diretor do jornal, o Arnoldo Jambo, a orientação que ele nos passava, era de
que se viesse uma matéria da Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores e
Governos, não as modificasse, ao menos, se encontrassemos erro de concordância ou de
grafia. Certa vez, eu quando acabei o meu expediente, fui para casa. Lá para as tantas,
mais ou menos às treze horas, o motorista do jornal fora me buscar a mandado do

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jornalista Arnoldo Jambo, com urgência. Eu estava dormindo. Quando cheguei, ele não
deixou nem eu perguntar o que queria, foi logo dando um esporro daqueles.

-Eu não disse ao senhor que as matérias vindas da Assembleia Legislativa não
deveriam ser modificadas! O senhor colocou uma vírgula a onde não devia e o deputado
telefonou e só faltou me engolir, pois tal vírgula esculambava com o Governador!

-Geralmente, após a revisão, nós colocávamos as cópias das matérias vindas de


onde viessem, no chão, para depois a moça da limpeza colocá-las no lixo. As matérias
vindas da Assembleia eram datilografadas com tinta roxa, e, naquele amontoado de
matérias jogadas no chão, eu me debrucei e a achei. A tal vírgula não fora colocada por
mim e sim já veio de lá da Assembléia. O senhor Arnoldo Jambo ficou com a cara
mexendo e pediu desculpas, ato contínuo, pegou o telefone e telefonou para o tal
deputado retribuindo o esporro dado a ele. Eu por minha vez disse-lhe:

-Seu Arnoldo, o meu pai que é o meu pai não me trata assim, primeiro ele
pergunta para depois reclamar ou me dar uma pisa e o senhor gritou comigo!

-Lembre-se que eu sou um rapaz de menor idade e o senhor está me explorando,


pois existe somente eu na revisão de um jornal desse porte, quando deveria ter mais
pessoas, pois, o Jaime Rosa encontra-se de Licença Prêmio, além do mais, eu ganho
pouco, apenas três mil cruzeiros, quando deveria ganhar mais, a partir do próximo mês
eu não trabalho mais se não for aumentado o meu salário!

-Ele disse que eu merecia mais, porém só podia pagar quatro mil cruzeiros e não
os cinco que eu havia solicitado.

-No outro mês eu deixei o jornal, fiquei desempregado, e devendo no comércio,


principalmente, na Capitólio Modas.

64
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXI

DE EMPREGO NOVO

-Quase um mês depois do meu desligamento do jornal, o Zacarias Santana, que


havia trabalhado juntamente comigo na Gazeta, e por conhecer o meu trabalho, me
convidou para trabalhar na Impressa Oficial na parte da manhã, das sete às treze horas,
pois os revisores, o José conhecido por “Jacaré” que fora meu colega lá na Gazeta de
Alagoas, e o Claudio Jucá conhecido por “A VOZ MORENA DE ALAGOAS” por
cantar bem, estavam faltando muito em razão das carraspanas que tomavam, ou seja,
bebiam muito.

-O salário contratado era cinco mil cruzeiros, muita vantagem, pois deixaria de
trabalhar a noite e passaria para trabalhar de dia apenas um horário, e ganhando mais
dois mil cruzeiros. Havia chegado para trabalhar mais ou menos no dia doze do mês, e
no dia vinte e seis, era o fechamento da folha de pagamento, e Zacarias nesse dia
mandou que eu fosse receber o dinheiro, porque, o senhor Domício queria fechar a
folha, qual não foi a minha surpresa, lá estava ao invés de cinco mil, oito mil cruzeiros.
Não quis receber, pois era mais do que havia contratado e teria de devolver caso
recebesse. Fui falar com Zacarias e ele perguntou-me:

- Quanto tem lá?

- Eu respondi - oito mil cruzeiro!- e ele-

- Quanto eu contratei?- eu disse:

- Cinco mil!- e ele-

- Vá logo receber os oito, você merece!

-O tempo que eu passei na revisão do Diário Oficial, foi bom, aprendi muito,
pois José o “Jacaré”, sabia demais a nossa língua pátria. O problema era que ele faltava
muito. O Claudio Jucá nem se fala. Às vezes existiam escritores que traziam livros para
serem revisados, e eu e “Jacaré” reversávamos na revisão e ganhávamos, em nosso
tempo fora do expediente, um bom dinheirinho.

-O nosso diretor era o jornalista e imortal Carlos Moliterno. O chefe de produção


era o Carlos Duarte e seu auxiliar era o Zacarias. Na Gazeta, à noite, era o contrário, o

65
]

Zacarias era o chefe e o Carlos Duarte o Auxiliar. O Zacarias Santana chegou até a ser
o Diretor Geral do Jornal Gazeta de Alagoas.

-Um dia José, o “Jacaré”, me levou para tomar umas cervejas com ele, nesse
tempo eu já estava com 18 anos de idade. Fomos para a venda do Luiz, que ficava na
Praça Rodolfo Lins, conhecida popularmente como a Praça do Pirulito no centro de
Maceió, próxima a praça conhecida como da Faculdade. O Luiz perguntou se eu queria
pagar por semana, por quinzena ou por mês. Somente naquele momento eu entendi o,
porque, de tanta bebedeira de “Jacaré”. Respondi:

- Não, eu quero pagar a vista e agora!

-Nunca mais quis comparecer aquela mercearia e bar!

-Quando “Jacaré” bebia muito, ele às vezes ficava bêbedo pelas calçadas sem ir
para casa, era preciso que seus familiares viessem buscá-lo. A sua esposa era costureira,
trabalhava muito e vivia chateada com ele.

-Um belo dia chegou o José, o “Jacaré” e disse:

-Vou passar uma semana sem vir ao emprego, porque, vou tomar o maior porre
de minha vida, mas, após essa semana, eu não beberei mais, apenas fumarei!

-Os dias se passaram e quase quinze dias depois, e de repente, lá vem José. De
terno novo, pois o mesmo somente vestia terno, barba feita, cabelo cortado, e dizendo:

-Eu lhe avisei que ia passar uns dias sem vir ao trabalho e quando voltasse não
beberia mais e não faria mais vergonha a minha mulher e aos meus familiares!

-E assim, foi, o meu amigo José, o “Jacaré”, deixou de beber até o dia em que o
Grande Mestre o chamou para perto dele.

O CHEFE DA REVISÃO NA GAZETA DE ALAGOAS

-Quando eu trabalhava na Gazeta de Alagoas, na revisão do jornal, o meu chefe


era o Edvaldo Farias de Menezes, conhecido popularmente como “TITO”, por ele se
parecer muito com o Marechal Josip Broz Tito (1892-1980), presidente socialista da
Iugoslávia de 1953 até sua morte em 1980. Durante a Segunda Guerra Mundial, Tito
lutou contra a ocupação da Iugoslávia pela Alemanha. Em 1945, Tito, que controlava o
governo e o partido comunista da Iugoslávia, tomou a liderança do país. Em 1948, ele
rompeu com o ditador Joseph Stalin e libertou a Iugoslávia do controle da União
Soviética. Tito é famoso por ter feito de seu país a nação socialista mais liberal da
Europa. Edvaldo era um bom revisor, sabia muito o nosso idioma. No futuro o Edvaldo
fora nomeado Adjunto de Promotor de Justiça em Alagoas, pelo então governador
Divaldo Suruagy, a exemplo de um irmão meu.

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-Ele bebia muito e, um belo dia, eu já trabalhando na Impressa Oficial, fora
convidado por ele para tomar uns drinques eu sua residência lá no bairro do Trapiche da
Barra. A casa ainda estava uma parte dela em construção. Quando cheguei lá, fora
recepcionado por um cachorro Pastor Alemão que me dera as boas vindas, com os
dentes de fora, doido para me abocanhar.“TITO” brigou com ele, e dizendo-me:

-Passarinho!

-Apelido dado por Zacarias Santana a mim e ao meu irmão Antonio Carlos em
virtude de um artigo escrito por meu pai. Zacaria sempre dizia:

-Os passarinhos novos e “Passaro o velho”, quando se referia a meu pai!

-Não tenha medo que ele não vai lhe morder!- Brigou com o cachorro, e em
seguida me contou:

-Que um cachorro havia lhe mordido na perna quando ele pisou em seu rabo e,
como vingança, ele deu a maior mordida na orelha do cachorro que saiu ganindo muito
e, desse dia em diante, não quis mais conversa em mordê-lo!

-Edvaldo Farias de Menezes, era meio louco. Usava sempre um óculos “fundo
de garrafa”, mas, era uma boa pessoa, que Deus o tenha em um bom lugar.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXII

SAINDO DE CASA

-Dei uma brigada com a minha madrasta, era umas três horas da tarde, e somente
voltei às vinte e três horas e as coisas já estavam mais acalmadas. A briga se deu em
virtude de minha madrasta colocar os móveis de minha irmã Clotilde, no corredor,
dizendo que ia jogá-los no lixo. Nesse tempo, minha irmã estava de férias do Banco de
Crédito Real e fora ao Recife tratar de sua transferência para aquela cidade. Achei
melhor, depois de conversar com o meu irmão Antonio Carlos, se ele pagaria uma
pensão para mim já que ele possuía dois empregos e ele disse que pagava. Nessa época
eu trabalhava no Jornal de Alagoas. A pensão em comento, era a pensão Monalisa, que
ficava a duas quadras da minha residência. Nessa época eu passei a lanchar em um bar,
que não era propriamente um bar, e, sim, uma lanchonete por nome “Bar da Noite”, lá
no Mercado Público de Maceió. Era de um senhor cujos filhos tomavam conta. Havia
um que estudava até às dez horas da noite e ficava na lanchonete até amanhecer o dia.
Ele no futuro formou-se em Ciências Contábeis, trabalhou na Assembleia Legislativa,
depois Tribunal de Contas de Alagoas e casara com a irmã do Feijó, que foi presidente
da Federação Alagoana de Futebol e proprietário do Corinthians Alagoano, o nome dele
era Adelmo.

-Passei pouco tempo naquela pensão, pois, logo que deixei o emprego do jornal
não tinha como ajudar o meu irmão nas despesas, embora fosse ele quem pagava a
pensão, mais havia outras despesas. Fora morar com minha irmã Clesia na Rua onde
está situado o Edifício Luz, hoje Secretaria de Segurança Pública. Naquele tempo
funcionava ali a Petrobrás. Tal rua era conhecida como “Sovaco da Ovelha”.

-Ainda na pensão, presenciei uma cena interessante e inacreditável. Havia um


garoto que gostava de roubar tudo que encontrava, apelidado de “Fura Pacote”, tinha
uns doze para treze anos de idade. A janela de meu quarto ficava voltada para a rua
conhecida como Rua das Árvores, era a Rua do Macena, mas, um belo dia, soubera que
o “Fura Pacote” havia sido preso, e, do quarto de um amigo meu, podia-se enxergar as
celas dos presos. Em um dado momento assistimos o garoto meter a cabeça por entre as
grades e passar depois o corpo por elas, subir por um cano de escoar água das chuvas e
fora andando pelas telhas, mas, após ser alertado, um policial já o estava esperando na
outra rua. Não havia cela que segurasse o “Fura Pacote”, soubemos alguns anos depois
que ele havia sido morto, achamos que fora a polícia, pois ela não mais o aguentava.

68
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXIII

A FUNÇÃO DE AJUDANTE DE MECÂNICO

-Quando trabalhava para o Diário Oficial e morando com a minha irmã, tinha
um desejo, o de me tornar mecânico, e assim, pela manhã, na Impressa Oficial até às
treze horas e das treze e meia até às cinco e meia, na oficina da Ford, ou seja, Flávio
Luz, que ficava em frente à casa de minha irmã. Passei apenas uns quatro meses no
setor de eletricidade de automóveis e caminhões, aprendendo consertar partidas e
reduções e instalações elétricas. Não deu certo, pois, eu era ajudante de uma pessoa
chamada de José, era o único ajudante e trabalhava de graça, e, quando ele pedia uma
chave, por exemplo, “nove por dezesseis” de “estria ou de boca” ou outro tipo de chave,
eu corria para leva-las. Depois de certo tempo apareceram outras pessoas, inclusive um
cara da portaria, querendo aprender, também, deixei a oficina, lá ia por água abaixo o
meu sonho de ser mecânico.

MEU EMPREGO NO CLUBE FÊNIX ALAGOANO

-Após deixar a oficina, fui trabalhar à tarde, das treze horas e trinta minutos até
as 18:00 horas, no Clube Fênix Alagoano, na secretaria, recebendo mensalidades e
cadastrando novos sócios, como, também, confeccionando carteiras de sócios. Às vezes,
quando retornava do colégio, ficava de plantão para atender aos associados que jogavam
baralho. Sempre eles pediam um baralho novo. A marca do baralho era COPAC. Eu
ficava uma fera, pois, tinha que de hora em hora trocar o baralho. Os meus plantões só
eram bons, quando os fazia juntamente com um colega o qual eu o apelidei de “Três em
um” em virtude de seu nome ser José Nilton Ricardo. O gerente geral era o senhor
Mota, pai do Dr. Geraldo Mota, e ele era muito bom comigo e com José Nilton. Às
vezes o José Nilton ia buscar sorvete, chocolate, pudim e sanduiches, para a gente
lanchar por conta do clube, a mando do senhor Mota. Às vezes José Nilton mergulhava
na piscina do clube sem autorização. Nunca mergulhei.

-De quinze em quinze dia, aos domingos, tinha que ficar de plantão no fichário
médico na entrada da piscina, não deixando entrar as pessoas sem exame médico
atualizado. Tinha que mandar faze-lo, pois, existia um médico de plantão. Havia umas
mocinhas cujos exames não estavam em dia e o médico havia faltado, que pediam pelo
amor de Deus para que eu as deixasse entrar. Deixava, às vezes, e assim elas traziam-me
lanches, sorvetes e refrigerantes. Passava o dia todo embaixo de um guarda-sol e com

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desejo de estar na praia da Avenida da Paz que ficava em frente, cuja praia era a mais
frequentada naquela época. Quando tinha namorada, sabia que ela estava naquela praia.
Todas as vezes que alguém mergulhava na piscina eu levava um banho daqueles.

-Poucos meses depois eu fiquei sozinho na secretaria do clube, pois José Nilton
Ricardo havia sido chamado para trabalhar no Banco do Brasil na cidade de Santana do
Ipanema, concurso para qual cidade ele fizera e a mesma era sua terra natal.

-Era carnaval, o presidente do clube era o Dr. Jarbas Gomes de Barros, irmão de
Carlos Gomes de Barros que fora deputado em Alagoas, Osvaldo Gomes de Barros, que
no futuro viera a ser prefeito de Novo Lino, Alagoas, Manoel Gomes de Barros, e tio de
Manoel Gomes de Barros, ex-governadores de Alagoas, pai e filho. O diretor social era
o Dr. Ardel Jucá.

-A secretaria já estava fechada e eu fiquei na frente de algumas pessoas que


estavam sentadas às mesas próximas ao salão do baile. Era uma matinal. A orquestra era
a Tabajara de Severino Araújo, Músico, compositor, arranjador e maestro. Severino
Araújo nasceu em Limoeiro, Pernambuco, e comandou a famosa Orquestra Tabajara por
69 anos. Filho e irmão de músicos (um deles, José Araújo de Oliveira, o Zé Bodega,
notabilizou-se como saxofonista), Severino Araújo não poderia seguir outro caminho. A
Orquestra Tabajara, a mais antiga em atividade no Brasil, nasceu na Rádio Tabajara de
João Pessoa, na Paraíba. Severino foi contratado como clarinetista da PRI-4, emissora
do governo do Estado, a Rádio Tabajara. E no ano seguinte, com o falecimento do
maestro Luna Freire, ele foi convidado para reger a orquestra da Paraíba. O cantor
contratado para cantar marchinhas de carnaval, era o Recifense Claudionor Germano e
um conjunto de cantoras, o Trio Aimoré.

De repente o Dr. Jarbas disse:

- Ao invés de ficar na frente dos associados atrapalhando a visão deles, menino,


é melhor que vá pular carnaval !
-Não esperei dois avisos, cai no frevo!
-De repente levei um pequeno chute na bunda, olhei para atrás e não vi quem foi.
Pouco tempo depois, levei outro, olhei mais uma vez, quem estava atrás de mim era um
galego bem sério e agarrado com duas garotas. Fiz que me virava totalmente e flagrei o
tal sujeito levantando o pé para dar outro chute em minha bunda. Não poderia brigar
com ele, pois não queria perder o emprego, e, também, eu não era sócio do clube. Foi
quando ele falou:
- Não se lembra de mim, Alde?
- disse-lhe que não! – e ele se apresentou:
- Eu sou o irmão Claudio!

70
-Sim, o dito cujo que havia me reprovado na primeira série de ginásio no
Colégio Diocesano, quando afirmou que se o nosso time fosse campeão do colégio nós
estávamos passados em suas três matérias. O cara havia deixado à batina.
-Próximo ao carnaval, a confecção de carteiras aumentava, as meninas ou
mulheres que me procuravam, tinham de trazer duas fotos 3x4, mas, quando eu as
achava bonitas, dizia que eram três e não duas, conseguindo com isso uma verdadeira
coleção, chegando a encher uma caixa de sapatos vazia.

71
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXIV

O DESTINO ME FEZ CONHECER ALGUÉM

-Quando, ainda, trabalhava no Jornal de Alagoas, grupo dos Diários Associados,


houve um Congresso de Jornalistas em Palmeira dos Índios, Alagoas. Meu pai que era
jornalista, me convidou para viajar com ele. Ficamos hospedados na casa do dono de
um cartório lá em Palmeira e participamos do evento durante três dias.

-Durante o Congresso, uma turma de estudantes da cidade de Bom Conselho,


Pernambuco, viera participar, também, eram alunas de um colégio de freiras. Dentre
elas, havia uma moça que, no intervalo de umas das palestras, viera me conhecer. A
moça não podia conversar muito, porque, as freiras estavam de olho nela e nas outras.
Sabem como era colégio de freiras naquela época. Como no momento não possuía um
pedaço de papel, escrevi o nome dela em um lenço branco, e, o nome dela, não sei por
que, me marcou.

- Chamava-se Cleide Mércia Presideu!

-Quando fora trabalhar em um banco na cidade de Arapiraca, uma turma de


alunas de Bom Conselho, fora vender rifas para angariar verbas para a formatura do
quarto ano, e dentre elas, conheci uma prima de Cleide Mercia Presideu, pura
coincidência.

-Em 1968, estando eu na praia de Olinda a conversar com uma moça que
conhecia da praia, disse-me ela que, estava indo morar no Paraná!

-Perguntei-lhe de onde ela era! E como resposta:

-Que era de Bom Conselho, Pernambuco!

- E eu perguntei se ela conhecia Cleide Mércia Presideu!

- E ela!

- A Cleide é minha prima! inclusive ela está de férias no Recife, se você for à
Rua Nova no Centro de Recife, existe um foto que fica em um primeiro andar, do
mesmo lado da igreja, este foto pertence a nossa tia, se quiser encontrar-se com ela, vá
lá!

- Pela segunda vez, o destino me colocou no caminho daquela moça, mas, não
fui ao encontro!

72
REMINISCÊNCIAS

CAPITULO XXV

O OUTRO LADO DA VIDA

-Quando ainda tinha dez anos de idade, na Rua da Floresta, eu como alhures já
havia dito, que gostava de brincar de pega, de rouba bandeira, de bola, comecei a notar
que quando eu corria, a perna direita, principalmente na altura da virilha, doía muito,
então, eu ficava um pouco sentado na calçada esperando a dor passar. Essas dores foram
aumentando até que eu fiquei de cama por uma semana. Notava que, quando alguém lá
de casa ia trocar o lençol da cama e o mesmo batia em minha barriga, eu gritava, e,
quando estava comendo uma coxa de galinha segurando com uma das mãos, eu tinha
uma tremedeira danada e a comida ia bater longe, foi quando meu pai falou com o seu
amigo, com o Dr. Jacques de Azevedo, médico cirurgião. Ele determinou que meu pai
procurasse fazer um exame de sangue para ver o que estava acontecendo, pois, ele
desconfiava que fosse Apendicite, e lá para as quinze horas, um doutor de um
laboratório, lembro-me bem, era um senhor gordinho e o laboratório ficava na Rua
Pedro Monteiro, perfurou um dos meus dedos colhendo amostras de sangue. À noite,
quando meu pai chegou do trabalho, disse que eu tinha que me operar naquela mesma
noite, de urgência. Fui internado no Hospital São Vicente, anexo a Santa Casa de
Misericórdia de Maceió. Lá para as vinte e três horas uma freira perguntou-me:

- Já rezou?- e eu respondi:

- Já!

- Mentira, não havia rezado!

-Deram-me uma injeção e eu fiquei meio grogue, depois me levaram em uma


maca através de um terraço, com um lençol me cobrindo, pois, começara a chover, e,
quando dei por mim, estava em uma sala toda iluminada, com muitos refletores e eu
encontrava-me deitado em uma mesa operatória. Procurei rapidamente por meus
familiares, e os encontrei em uma espécie de galeria em um primeiro andar, separada
por divisórias de vidro. Eu dava adeus ao meu pai e as minhas irmãs Clesia e Clotilde.
Aplicaram outra injeção, acho que era a anestesia, pois em pouco tempo apaguei.

-Os médicos eram os mais famosos de Alagoas, os doutores Jacques de


Azevedo, auxiliado por Rodrigo Ramalho e o anestesista era o doutor Cortez. A
operação durou mais de uma hora e meia. Ao cortar minha barriga, o pus jorrou na
máscara do doutor Jacques, e quanto mais mergulhavam gases na minha barriga, elas

73
vinham pingando de pus, tiveram que colocar um dreno.O apendicite estava
estrangulado em três pedaços e completamente preto, e o doutor Jacques de Azevedo
disse:

- Compadre! - como ele sempre chamava o meu pai!

-Pode comprar o caixão que seu filho é caso perdido, é difícil ele escapar!

-A família ficou apreensiva esperando o pior!

-Após a operação, levaram-me até um apartamento no Hospital São Vicente,


cujo apartamento situava-se colado com uma espécie de farmácia.

-O doutor Cortez tinha que retornar ao hospital às sete horas, pois estava
marcada outra operação. Ao sair da mesa de operação, resolveu dar uma passadinha no
meu apartamento para saber como eu estava. Quando entrou, percebeu aquele alvoroço,
as freiras estavam aperreadas e a minha irmã Clotilde chorava muito. O doutor tratou de
tomar o meu pulso e não encontrou pulsação, mandou que a enfermeira aplicar-se uma
injeção de CORAMINA para ver se restabelecia a pulsação.

-A minha sorte era que a onde a enfermeira ia buscar a injeção, era na sala ao
lado e ela a aplicou.

-Eu estava em um estado letárgico, me vi correndo em um campo todo


colorido, a vegetação era uma espécie de plantação de trigo. Eu corria solto pelo
campo na maior alegria e leveza. Se o outro lado é assim, eu vivi um bom
momento, de liberdade e paz!

-A pulsação voltara ao normal, e quando abri os olhos, lá estavam duas freiras


rezando, o médico e enfermeiras de lado e minha irmã chorando e fazendo-me segurar
uma vela a qual os seus pingos já estavam me queimando. Sorri e disse-lhe:

-Oxente besta, porque, está chorando, não morri não!

-Havia escapado da morte!

-Passei vinte dias hospitalizado, e durante aqueles dias, faziam-me curativos


quatro vezes ao dia, pois, o pus não dava trégua. Utilizavam uma espécie de bandeja um
pouco funda, material conhecido por Agatha, para fazer o curativo, aplicavam éter para
soltar o esparadrapo e gases, e espremiam um pouco as paredes da barriga para escorrer
o pus. Era um tormento.

-Eu estava proibido de ingerir líquido por uma semana. Para matar minha sede,
as enfermeiras umedecia um chumaço de algodão e passava em meus lábios, mas, a
sede era tamanha que, quando elas bombeavam, ou seja, se descuidavam, eu
abocanhava o algodão e avidamente o chupava, apesar dos protestos delas.

74
-Eu sempre fui guloso e no hospital não dispensava uma boa refeição. Fui
liberado para comer purê de batata inglesa com arroz e carne grelada com um pouco de
manteiga. No lanche, uma chávena de suco de laranja lima, e à noite, uma sopa bem
magra. Comia tudo com a maior vontade como se não estivesse operado.

-Foram tiradas várias fotos eu deitado na cama e ao meu lado a enfermeira, a


preta Benedita da qual eu muito gostava e o enfermeiro José.

-Meu pai e os amigos que me visitavam, a exemplo do senhor Mário, irmão da


Mary cujo esposo era o Luiz Jardim, na época ele era enfermeiro e aplicava-me
injeções, lá em casa, e do Biu ex-futuro sôgro de meu amigo Leonardo Teixeira,
empresários do ramo de material de construção lá no mercado público de Maceió,
traziam chaveiros, caixinhas de fósforo com propagandas, cinzeiros de propagandas,
miniaturas de Coca-Cola, de Cinzano e de Vermute, etc. Surgiu naquela época a
primeira edição da Revista Luluzinha e, eu, comecei uma coleção que se ainda hoje a
tivesse, valeria uma fortuna.

-Deram-me alta e voltei para a minha residência todo contente, mas, sem antes
de me despedir dos meus novos amigos, o enfermeiro José e a enfermeira Benedita.

-Passei mais três meses de repouso sem sair praticamente de minha cama, a
ponto de o colchão ficar com a marca de meu corpo, e, nesses três meses e vinte dias,
perdi aulas sendo então reprovado.

-O doutor Jacques de Azevedo sempre me visitava para ver como eu estava


passando e como à operação não cicatrizava, ele determinara a retirada dos pontos e do
dreno, pois, não estavam servindo de nada, o pus jorrava abundantemente e aos pouco
foi diminuindo a quantidade dele, acertou com um de seus enfermeiros para duas vezes
na semana, fazer um curativo, passando nas paredes internas da operação uma espécie
de uma pastilha parecida com fita de freio, a qual, à medida que ele com a utilização de
uma pinça, passava-a nas paredes internas da barriga, ela derretia e eu sentia a carne
como se tivera assando, pois ardia muito e o doutor dizia que era para acelerar a
cicatrização. Com o passar do tempo, cicatrizou e formou uma míni bola de assopro no
lugar da incisão. Tive que usar cinta, daquela espécie que as mulheres grávidas usavam
para baixar a barriga, daquelas que tinha apenas uma perna para se colocar as duas, e a
mesma apertava muito, deixava marcas na barriga. Os pontos não havia mais, somente
as cicatrizes deles, até hoje quando alguém toca na cicatriz eu sinto a sensação de que o
dedo esta entrando na barriga e dói um pouco.

-Eu nasci com um problema no pênis, a glande, popularmente conhecida por


“cabeça”, não aparecia, o doutor Jacques disse que eu tinha de me operar de uma
Fimose ou talvez fosse uma Parafimose. A ideia não me agradava, tinha receio de ficar
mais três meses e vinte dias de cama, por isso, todos os dias, quando deixei de ficar o
dia todo na cama e passar um bom tempo sentado na cadeira do quarto, pegava o pênis e

75
forçava aquele monte de peles para baixo tentando resolver a questão, até que um dia eu
decidi:

- Hoje vai ser de uma só vez, se doer doeu!

- E assim foi, consegui, e qual não foi a minha alegria em conseguir, tratei de
vestir a roupa, mas, quando a vesti, a emenda da bermuda ao tocar naquela parte recém
liberta, que estava em carne viva, como se diz, dei aquele berro, pois, doía muito e
ardia, até que tomei um banho e as coisas se acalmaram.

-Falei todo contente com o doutor Jacques de Azevedo e ele me disse que eu
pulei uma fogueira, pois poderia ter passado o tétano e tivesse de cortar o meu membro.

76
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXVI

AS VISITAS A MINHA MÃE EM RECIFE

-Depois que meu pai permutara a casa de Bebedouro com a do Parque Rio
Branco, próximo ao mercado público, com minha mãe, ela fora morar na cidade de
Recife.

-O ano letivo estava perdido mesmo, e a minha mãe Cezira nessa época, morava
em uma pensão na cidade do Recife. Fui visita-la, pois, naquela época ou se viajava de
ônibus que era um tormento, pois, não havia estradas, todas elas eram de terra e barro,
ou de trem, preferi viajar de trem, viagem a qual eu já a conhecia. Meu pai me
recomendou ao encarregado dos vagões de passageiros para que ele tomasse conta.
Quando cheguei à estação ferroviária de Recife, minha mãe estava esperando-me.

-O quarto de minha mãe, na pensão, ficava no terceiro andar. Minha mãe media
cerca, mais ou menos, de um metro e cinquenta de altura, era franzina e não admitia que
eu subisse as escadas, pois, estava operado, e carregava-me nas costas.

-Um dia fomos ao bairro de Cordeiro visitar minha prima Clesia, sim, a minha
prima tinha o mesmo nome de minha irmã. Ela era casada com José Pimentel, filho de
Amaro Pimentel, empresário do ramo das molas de caminhão, pois, possuía um fábrica
lá no bairro de Caxangá, próximo ao mercado de Casa Amarela, conhecida por “Molas
Camaragibe”, convem lembrar!

-As sextas-feiras lá na casa de minha prima, havia sessão espírita, chamavam-na


de “Mesa Branca”, diziam que um dos membros incorporava o espírito de luz do doutor
Fritz, um médico alemão que morrera no ano de mil setecentos e alguma coisa, durante
uma guerra. Os médicos em Maceió diziam que aquela bolha de ar desapareceria com o
tempo e o doutor Fritz disse a mesma coisa, e, assim, aconteceu.

-Passei alguns dias no Recife, e minha prima pediu a minha mãe para que ela
me deixasse passar o carnaval em sua casa, já que eu não tinha nada para fazer e eu era
mais ou menos da idade de seu filho, o Amaro Pimentel, serviria de companhia para ele.
Minha mãe deixou.

-A casa do meu primo Amaro, era muito grande, tinha vários quartos, uma sala
enorme onde minha prima gostava de fazer crochê e costurar. Havia uma garagem para
uns dois carros e era lá que eu e Amaro levantávamos a saia de uma empregada, muito

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safada, para ver as suas partes íntimas e nos esfregarmos nela. Amaro sempre dava um
dinheiro a ela. Minha prima nunca desconfiou da empregada e de nós.

-No carnaval, fizemos o Corso, era uma fila de carros uns atrás dos outros e
sempre retornando por várias ruas que eram interditadas para o trafego normal. Lembro-
me que fomos na caminhoneta de José Pimentel buscar algumas meninas na cidade de
Olinda, meninas filhas de um amigo de José. Eu estava com uma bermuda branca, e
havia dois bancos na carroceria da caminhoneta um oposto ao outro, bancos estes que
faziam parte da carroceria, e quando levantados, eram presos por correntes. As meninas
ficaram de um lado e eu e Amaro do outro. Como já dissera, a bermuda era branca e já
fazia dois dias que eu estava com ela por não ter levado outra. Havia, lembro-me bem,
uma manta na carroceria e eu com vergonha de que as meninas vissem a sujeira da
bermuda, cobri-me com ela. Pura besteira, pois era carnaval.

-No último dia de carnaval minha mãe fora buscar-me e, após tomar uma sopa
de legumes, fomos apanhar um ônibus que nos levaria ao centro de Recife, pois minha
mãe morava próximo ao Mercado de São José. Ao tomarmos o ônibus, o mesmo
encontrava-se lotado, nós ficamos em pé. Em um dado momento, lá veio aquele sintoma
o qual sempre era acometido desde que me entendia de gente, a vontade de vomitar, no
futuro soubera que era “Labirintite”. Deu-me o maior enjoo, eu procurei junto com
minha mãe, por cima das pessoas que estavam sentadas, abrir uma das janelas do
ônibus, sem sucesso, inclusive um senhor que estava sentado, um cidadão bem vestido e
ao seu lado uma jovem, também, bem vestida, tentou abrir a janela que lhe estava
próxima, não conseguiu, o jeito foi eu vomitar por cima dele, o seu cabelo bem
penteado e cheio de brilhantina, ficou cheio de marcarão e verduras, escorria aquele
caldo, por suas faces, a camisa ficou inutilizada por aquela mistura. Pedi-lhe mil
perdões, foi quando uma imbecil de uma mulher, pois aquela não poderia ser chamada
de senhora, disse:

-Se fosse comigo, esse moleque levaria a maior pisa, quebraria a sua cara!

-Minha mãe queria lhe bater, foi quando o rapaz que fora prejudicado disse:

-Minha senhora, respeite o garoto, ele não teve culpa, eu mesmo tentei abrir a
janela e não consegui, eu sou médico e entendo tudo isso!

-Eu continuava a pedir desculpas, pois estragara o último dia de carnaval


daquele senhor e sua noiva, mas, ele disse:

-Carnaval tem todos os anos, não tem nada não, talvez eu tenha me livrado de
coisa pior, o jeito é voltar para casa e se houver tempo, ainda hoje retornarei!

-Foi esse um dos carnavais “inesquecíveis”, nessa época em contava com quase
onze anos de idade!

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-Quando eu contava com sete anos de idade, fui juntamente com minhas irmãs,
Clotilde, Clesia e meu irmão Antonio Carlos, visitar minha mãe no Recife. Ela nessa
época morava na Rua da Concordia. Chegamos à estação ferroviária de Maceió por
volta das cinco e meia e, às seis horas o trem partiria. Era uma viagem por demais
cansativa. O trem passava por inúmeras estações, a começar a de Bebedouro. Passava
em Fernão Velho, Satuba, Rio Largo, Murici, Branquinha, União dos Palmares e São
José da Laje, depois ia direto para Catende-Pernambuco, existe até uma musica que diz:

-Vou direto para Catende, Vou direto para Catende com vontade de chegar!

-Depois Palmares e assim por diante!

-Havia umas estações que a máquina tinha que fazer manobras, a começar por
uma estação após Rio Largo. O funcionário da estação desatrelava os vagões da
máquina e ela seguia sozinha até outra linha ou até um Viradouro, onde a máquina era
virada através de força motriz e já de frente para a outra linha, ela fazia o percurso e
adentrava em um desvio e vinha de ré até de novo ser atrelada a composição dos
vagões.Havia duas posições para que os passageiros viajassem, o banco no qual ele
sentava, sempre era virado para frente, mas, quando existia a troca de linhas e posições,
levantava-se o encosto do banco e colocava-o na outra posição de tal forma, se antes
estávamos indo de frente agora continuávamos de frente, mas, com a posição do encosto
invertida. Havia uma outra estação que o trem fazia a mesma manobra, era a conhecida
por “Parque Vira”, já em pernambuco.

-Havia estações, principalmente aquelas onde existiam na região fábricas de


açúcar, onde algumas pessoas vendiam mel de engenho, ao preço mais ou menos
salgado, era um mel escuro e de bom gosto, o qual nos comprávamos uma concha,
colocávamos farinha de mandioca, e previamente, quando viajávamos de trem,
levávamos cada um o seu pratinho para comer mel de engenho, com farinha.
Comprávamos, também, o doce conhecido como cavaco, cuja pessoa que o vendia,
tocava para chamar nossa atenção em um triângulo daquele que compõe um dos
instrumentos de um trio de musicas nordestinas, e até hoje, pessoas ainda o vende.
Comprávamos, também, laranja cravo, bolo, inclusive água potável vendida em
quartinhas, pelo preço de cinquenta centavos um copo, porque, a água mineral era
vendida muito caro nos carros restaurantes.

-Durante a viajem, havia alguns túneis, e como o trem tinha que passar dentro
deles, e a máquina que puxava os vagões era movida a lenha e água, conhecida como
“Maria Fumaça”, tínhamos, quando avisados de que passaríamos por um deles, de
fecharmos as janelas para que a fumaça não entrar-se e nos sufocasse. Além dos túneis,
existiam os pontilhões de ferro que eram um verdadeiro perigo, pois, podíamos estar
com a cabeça para o lado de fora da janela e de repente aparecerem os pontilhões, pois,
eles tinham umas curvaturas para baixo e outras para cima, como se fora uma montanha
russa.

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-Cerca de quatroze horas durava a viagem, e quando o trem ingressava na
estação central do Recife, era o maior alívio, pois, acabara o nosso sofrimento e
sabíamos que a nossa mãe nos estava esperando.

-Nesse dia não foi diferente, a mamãe estava a nossa espera. Pegamos um carro
de praça, pois, naquele tempo não havia taxi e fomos para casa. O veículo tinha a
obrigação de passar junto ao rio Capibaribe, onde vislumbrávamos a figura de um negro
vestido de mestre-cuca, despejando óleo em uma frigideira, era o negro “Benedito”,
feito de gás neon, era a propaganda do óleo Bem-te-vi, de Alimonda Irmãos, firma
conceituada naquela época, contornando-o e ingressando na Avenida Guararapes, indo
no sentido da pracinha do Jornal do Comercio, e do Palácio Campo das Princesas, o
Palácio do Governo de Pernambuco, e, quando passávamos em frente a ele, o motorista
tinha que vestir seu paletó para não levar multa, porque, tinha que fazer um zigue-zague
em frente ao palácio e era norma deles usarem paletós, caso contrário era um
desrespeito.

-A residência onde morava minha mãe era na Rua da Concordia. Lembro-me


bem que no dia seguinte a nossa chegada, minhas irmãs encontraram um amigo de
Maceió e ele as convidara para ir ao um baile no Clube Português, e, como elas não
possuíam vestido de baile, minha mãe comprou uns tecidos, lembro-me bem, que
continham uns babados feitos de um tecido chamado “Tule”, salvo engano era esse o
nome e como se escrevia. Minha mãe em uma manhã e uma tarde, confeccionou os dois
vestidos, e minhas irmãs foram à noite ao baile. Inclusive, os vestidos, tinham um
acompanhamento, eram acompanhados de luvas feitas de um outro tecido. Lembro-me
até da cor, eram rosa.

-Naquele tempo nós não conhecíamos o refrigerante chamado de Coca-Cola,


pois em Maceió ainda não tinha chegado, como sempre, compramos e eu achei que
tinha um gosto como se uma barata houvesse passeado dentro do líquido, e tentei toma-
lo rapidamente, e fiquei sufocado, pois o gás era muito poderoso. Preferia pedir,
geralmente vendidos em postos de gasolina, um leite maltado, era um vidro de um litro
de leite misturado com chocolate, custava cinco cruzeiros.

-Fomos visitar meu tio Petrônio, o tio Tono como ele era conhecido, morava na
cidade de Olinda, Pernambuco, foi lá que eu me encantei pelo Sport Clube do Recife,
ficando no futuro, sócio daquele clube.

-Havia mais dois tios, o Esmeraldino conhecido como Dino e o Aristóteles


conhecido como Tota. O primeiro morava na Torre de Madalena, tomava conta de uma
igreja evangélica, Igreja Batista, e depois fora morar no Engenho do Meio próximo a
Cidade Universitária e o segundo, próximo a Avenida Caxangá em uma rua ao lado da
exposição de Animais, a Pecuária do Recife.

-Tio Tono era um exímio faz tudo, lembro-me que ele montou sozinho uma
eletrola Telefunken com peças vindas da Alemanha, inclusive fizera o móvel dela. Ele,
também, tinha controle de gastos de energia, fez uma engenhoca com pequenas luzes

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coloridas, cada luz representava uma parte da casa, por exemplo, se a luz do banheiro
estivesse acessa e não tivesse ninguém, estava acessa a luz vermelha e ele reclamava:

--Quem deixou a luz do banheiro acesa?

-E assim por diante!

-Fez, também, um acendedor elétrico, o mesmo era constituído de uma mola


esticada dentro de uma caixa de ferro onde passavam fios de eletricidade, e quando
queria acender o fogão, ele possuía um pau onde em uma das extremidades, encontrava-
se um algodão embebido em álcool ou gasolina, e quando aquele estopim era passado
na mola, pegava fogo e ele acendia o fogão. Era muito econômico e sovina, possuía
vários filhos, e o mais velho deles era o Gilberto que morrera afogado no mar de Olinda,
em seguida vinha o Zé Roberto, não me lembro dos nomes dos demais. Sua esposa se
chamava Irene.

-O tio Dino, era, também, sovina, mas este ganhava pouco, trabalhava em uma
fábrica de solados e salteiras de borracha para sapatos, chamada de RED, ficava na rua,
salvo engano, do Rangel, no centro de Recife. Ele era evangélico. Nesse tempo
passamos uma semana em sua casa, ou seja, a casa da igreja Batista, foi lá que nós, eu,
meu irmão e meus primos, nessa época só existiam dois deles, o Elvio e o Élcio,
tomávamos o suco-de-uva e deixávamos água no lugar, o meu tio ficava muito bravo,
pois dizia que o suco-de-uva era da igreja para os sermões. Todas as manhãs nós
tomávamos café misturado com leite condensado, era uma lata de leite por dia.
Comíamos, também, rapadura batida, feita com erva doce, que o seu sogro comprava na
feira da Real da Torre. O sogro dele andava quase com a cara no chão, pois tinha um
defeito na coluna. A esposa do meu tio era a dona Olga, tia Olga como nos a
chamávamos. Era um tempo bom.

-O tio Tota era o intelectual dos quatro irmãos, incluindo minha mãe. Ele
ensinava português e inglês e sabia taquigrafia em inglês, além de professor era
funcionário da USAID, pronunciava-se USEID, uma firma americana custeada pelo
governo dos Estados Unidos. Lá ele era interprete. Tinha dois filhos e uma filha, um dos
filhos era cantor, o Aderson, o outro era o Aloísio, não me lembro o que ele fazia, mas,
a filha chamava-se Clesia e como já dissera algumas vezes, era casada com um filho de
um industrial das molas para caminhões, chamadas molas Camaragibe, muito
conhecidas no Brasil todo, sua esposa era a tia Carmélia.

-Em mais uma viagem, eu fora sozinho e a minha mãe ainda morava na Rua da
Concordia. A casa era tipo um barraco, toda de madeira, era uma vila, onde existia
vários deles. O chão era de terra batida, e quando chovia, a água entrava um pouco
formando aquela lama. Lembro-me que estava quase na hora do almoço e minha mãe
ainda não tinha o dinheiro para comprar comida, mas de repente disse:

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-Tenho uma ideia, o senhor José mandou que eu colocasse sola em seus sapatos,
vou fazer agora!

-E assim ela fez, porque, minha mãe era pau para toda obra, colocava sola e
salteiras em sapatos, fazia todo tipo de roupa tanto masculina como feminina, menos
paletó. Tinha todos os apetrechos, do pé-de-ferro, onde era colocado o sapato para bater
a sola, a enfieira de costura-la, a cera de abelha para parafinar o cordão de enfieira,
enfim, tudo que era necessário à confecção de um solado. Pegou um pedaço de couro
“sola”, colocou o sapato do lado direito sob o couro e decalcou-o com o auxilio de um
lápis, depois fez o mesmo com o pé esquerdo, pegou uma faca amolada e cortou os
desenhos, depois colocou um dos pés de sapato com a parte de dentro voltada para o pé-
de-ferro,colocou a sola e pregou uma brocha, ou seja, uma taxa tipo prego, tanto na
ponta como no calcanhar, para poder fixa-la, depois recortou-a com uma faca para tirar
aquilo que sobrava, após, fez um corte circulando na sola toda, pegou uma espécie de
agulha que tinha um buraco um pouco grande, foi por onde passou a enfieira, não sem
antes passar nela a cera de abelha, e costurou a sola, e assim por diante. Fez o mesmo
com o outro pé. Tudo acabado, ela ainda raspou a sola com um pedaço de vidro e deu
um acabamento com uma tinta preta, deixando o par de sapatos no sol para secar.
Quando o mesmo estava seco, ela levou para o homem que a contratou, recebeu o
dinheiro correspondente, e fomos ao mercado de São José que ficava ali próximo,
comprar pão, linguiça e ovos, para o nosso almoço.

-Minha mãe gostava, assim como eu e atualmente, minha filha caçula, Maisa
Isabella, gostamos de assistir filmes, ela gostava muito de filmes de cawboy e naquelas
tardes, sempre passavam dois deles pelo preço de um, e após o almoço, fomos ao
cinema, ele custava um cruzeiro e cinquenta eu não paguei, pois, minha mãe tinha um
conhecido na portaria que me deixou entrar de graça. Minha mãe era uma vencedora e
lutadora pela vida, não tinha tempo ruim para ela.

82
REMINISCÊNCIAS

CAPITULO XXVII

ALGUMAS FÉRIAS E NAMORADAS NO INTERIOR.

-A minha adolescência seguia firme, namorei muito. Quando morava na Rua


conhecida como “Rua da Floresta”, Rua Fernandes de Barros, todas as tardes ia esperar
a saída das alunas do Colégio de São José. Quando tinha namorada, e quando ela saia do
colégio, nós dávamos uma volta pelo centro de Maceió na Rua do Comércio, descíamos
pela Rua do Livramento em direção a Praça Deodoro, depois ela ia para casa. Esse era o
percurso do namoro meu e de todos os meus colegas. Às vezes pegava na mão da
namorada, mas, com muito cuidado, pois as freiras do São José se pegasse uma das
alunas vestida de farda do colégio e de mãos dadas com o namorado pelas ruas da
cidade, ela sofreria as consequências.

-Quando trabalhava à noite, ia as sextas-feiras pela manhã, até a porta do


Colégio Sacramento esperar a saída das alunas. Tive algumas namoradas naquele
colégio. Uma delas fora a Leda. Ela era colega de colégio de minha amiga Mana, a
Mana Mesquita, irmã de meu amigo Alan Mesquita, que mais tarde viera a ser médico
do CSA, que Deus o tenha em um bom lugar, filhos da escritora e imortal Margarida
Mesquita, que Deus, também, a tenha. O pai de Leda era advogado de um órgão
público, todos os dias o motorista ia leva-la e buscá-la no colégio. Mas, uma vez por
semana, havia as aulas de educação física e era pela parte da tarde, era aí que
aproveitávamos para conversar bastante. Tínhamos uma brincadeira, ela descia a
Ladeira da Catedral comigo para trazer-me até em baixo e depois eu a levava até em
cima.

-Muitos anos mais tarde quando trabalhei em um dos hotéis da capital, eu a


encontrei já casada e com filhos, nos reconhecemos e conversamos um pouco.

-Por falar em Margarida Mesquita, um dia eu escrevera dois contos, um policial


e outro dizendo que o mundo era um circo. O meu pai queria publicar o segundo, mas
eu tive vergonha de que saísse no jornal e o primeiro eu entreguei a escritora e ela ficou
de revisar. Dias depois, Margarida Mesquita teve que se mudar da Rua do Sol e durante
a mudança que fora feita em um caminhão de carroceria aberta, o meu conto e um livro
dela que já estava quase no prelo, todas as folhas voaram das gavetas de um birô e nós
dois perdemos os nossos escritos, segundo ela me contou. Daí em diante eu não quis
mais escrever, somente o fazendo agora.

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-Aproveitando o ensejo, vou contar um fato interessante que se deu entre meu
pai e meu irmão Antonio Carlos. Meu pai escrevia diariamente para a Gazeta de
Alagoas, uma coluna que se chamava “Falando De”. Ele falava de qualquer coisa, ao
ponto de escrever sobre um passarinho que nós criávamos, e que ele fugira e depois
voltara por sua própria conta para a gaiola, ensejando com isso um apelido que nos
botaram que ainda hoje perdura quando as pessoas do nosso tempo de jornal nos
encontram. O apelido é de “Passarinho“.

-Mais o fato interessante não é sobre o passarinho. Uma vez meu pai fora
participar de um congresso de jornalistas no Rio de Janeiro, em um lugar conhecido
como San Susi, era em Nova Friburgo. Ele deixou escritos alguns artigos e pediu que o
meu irmão todos os dias os levasse para ser publicados e reservasse um exemplar do
jornal para quando ele voltasse, ler. Ele não sabia quantos dias iria ficar no Rio. Como
ele demorou mais do que os artigos que deixara, meu irmão então escreveu no lugar
dele uns três artigos.

-De volta à Maceió, ao ler os artigos que foram publicados, ficou em dúvida
quanto alguns e dizia:

-O estilo é meu, mas não me lembro de tê-los escrito!

-Após muito quebrar a cabeça, ele descobriu que fora o Antonio Carlos. Meu
irmão tem tendência a ser um ótimo escritor, a exemplo de que dividira um prémio da
Academia Alagoana de Letras, com a escritora Margarida Mesquita, em virtude de ter
apresentado uma cópia para revisão a nossa amiga, poetisa e imortal da Academia
Alagoana de Letras, Adélia Magalhães, que escondida dele inscreveu o seu conto no
concurso.

Nas minhas férias

EM PARIPUEIRA

-Meu pai alugara uma casa em Paripueira, na época aquele lugar pertencia a
Maceió, hoje é um município. A casa ficava na parte Norte próximo ao retiro dos
evangélicos, fora alugada ao senhor José Rosas.

-De vez em quando, meu pai mandava-nos comprar peixes, às vezes tínhamos
que andar muito para compra-los, era exatamente em um lugar conhecido como Tabuba.
Caminhávamos pela beira da praia, transpúnhamos um rio em um lugar chamado Sonho
Verde e seguíamos no sol quente circundando a praia, contando as curvas e olhando
para trás para vermos a distância já percorrida. Eram umas seis léguas.

-Quando lá chegávamos, comprávamos todo tipo de peixe, principalmente


Cavala. Havia um peixe ruim chamado de Batata, era sempre o que dava e às vezes
comprávamos outras não. Comprávamos, também, carne de tartaruga, era uma carne

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vermelha e de gosto ruim. Quando retornava eu geralmente vinha chorando, pois, ainda
contava com dez a onze anos de idade, e tinha que carregar, também, o produto das
compras.

-Antes de Tabuba, havia um açude em uma propriedade de um homem chamado


Davi ou Ivan, não me recordo exatamente do nome, onde existia uma armadilha, quando
a maré estava alta, os peixes entravam por uma tubulação, mas, não conseguiam sair, e
na Semana Santa, eles eram despescado naquele açude e nós comprávamos peixes.

-Quando ia comprar peixe ou pão no Sul de Paripueira, em uma balança próxima


a igreja católica, era melhor, pois saia entre os coqueiros e passava nas casas-de-farinha
para ver a sua fabricação. Para se fabricar farinha, havia vários apetrechos: Um forno
feito de tijolos que funcionava com lenha, o Caititu manual que era para moer a
mandioca, a prensa feita de madeira que era parecida com um Monjolo, para retirar o
líquido chamado mandipueira, e o melhor da viagem, comer farinha D’água, farinha
Mole, Bejus de Mandioca e broas de goma. Na volta já vinha com preguiça, vinha
contando os fornos de cal, havia dois deles para a fabricação de cal industrial,
pertencentes a um homem conhecido por Amaro “Magnata”, que mais tarde eu viera a
namorar com uma de suas filhas, um ficava no sul e o outro no norte, quando avistava o
do norte, sabia que estava perto de minha casa.

-Conhecíamos um homem chamado de Christiano, que tinha mais dois irmãos,


um deles era doente e se chamava Lesbão. Eles possuíam um sítio de coqueiros que
ficava no Sul e de vez em quando, ele gostava de me pegar para Cristo, para buscar com
ele côcos secos para o meu pai. Levávamos dois sacos e eu tinha que trazer um deles
com uns vinte côcos a uma distância de três léguas, e como sempre, o meu irmão
Antonio Carlos não ia, sobrava para mim, eu até hoje não sei, porque, colocara o nome
de um dos meus filhos de Christiano.

-Existia um peixe chamado de Cangulo que para ser cozido, tinha-se que tirar-
lhe o couro. Lá em casa jamais se acertou em deixa-lo saboroso, porém, a esposa de
José Rosa tinha o dom de deixa-lo. Era a dona Guilhermina, cozinhava-o utilizando
pimenta de cheiro. O casal possui uma filha por nome de Severina, que mais tarde viera
a ser a Tabeliã de Paripueira e depois da cidade de São Luiz do Quitunde, Alagoas.

-O meu pai, juntamente com a minha madrasta, compraram uma casa e mais um
terreno a um pescador chamado de Saboia, cuja casa ainda hoje se encontra edificada e
onde moram os meus irmãos, o Alanio e o Antonio Neto. A casa fica em frente à do pai
do Desembargador Aderbal Mariano.

-Eu não gosto de Paripueira, talvez seja por ter sofrido tanto em minha infância
quando lá passava as minhas férias. Lembranças amargas.

-Mais por falar, ainda, em Paripueira, o avô do Paulo Pontes, tinha um sítio que
ficava em Paripueira após a ponte do Rio Forte. Nas férias, o Paulo às vezes me

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chamava para passar alguns dias. Uma dessas férias era o mês de dezembro, e lá vou eu
para Paripueira. Durante o dia íamos tomar banho de mar, de rio ou colher frutas. À
noite selávamos duas éguas que pertenciam ao avô do Paulo e íamos galopando pelo
asfalto até perto da igreja católica, a beira mar, para a casa no deputado e ex-governador
de Alagoas, o Lamenha Filho, pois todas as noites havia uma reunião de rapazes e
moças e o Lamenha colocava musicas para a moçada dançar. Naquela época eu e Paulo
éramos amigos de suas filhas e de seu filho Antônio, inclusive Antonio fora meu colega
de Diocesano. Boas lembranças, apenas das danças, pois de resto eu não gostava de
Paripueira.

EM SANTANA DO IPANEMA

-Nas férias, eu era sempre convidado por colegas que moravam em interiores
para conhecer e passar uns dias lá. Em uma ocasião, fora convidado para passar uns
quinze dias na casa de meu amigo José Cliton Azevedo, na cidade de Santana do
Ipanema, Alagoas. Naquele tempo não havia estrada boa, somente até o município de
Palmeira dos índios, estrada construída ainda no governo de Arnon de Melo, pai de
Fernando Collor de Melo. A viagem se prolongava, quando chovia, por cerca de umas
quatorze horas. Chegando lá, saltei em frente à AABB, Associação dos Funcionários do
Banco do Brasil, e fora procurar a residência do meu amigo. Nessa época, eu namorava
a uma menina que estudava interna no Colégio Sacramento em Maceió, e, quando achei
a casa do amigo, bati palmas e ele viera atender. Mas, ele disse:

-Não solte a mala não, porque, existe uma pendência que precisa sem resolvida,
se não resolver pode voltar para Maceió, pois, aqui você não fica!

-Perguntei-lhe que pendência era aquela!- e ele respondeu-me:

-Sua namorada a Vitoria, botou ponta em você e se não terminar o namoro não
entra aqui em casa!

-Perguntei-lhe onde ela morava, eram duas casas após a dele. Fui lá, carregando
uma mala pesada. Era uma casa de porta e janela, como a maioria das do interior. Bati
palmas e ela veio e disse:

-Oi amor, chegou agora de viagem?

-Disse-lhe que já sabia de tudo e o namoro havia terminado!

-Após isso, o José Cliton deixou-me entrar em sua casa. No Sábado, houve um
bingo e eu participei do mesmo. Era o sorteio de um caminhão e de dois carros. Fora
realizado lá no comercio próximo ao Banco do Brasil. Não tinha caneta para marcar o
bingo, mas, próxima de mim, estava uma conhecida, a Eliane, que, também, estudava
no Colégio Sacramento, era uma menina baixinha, mas, muito bonita, tinha olhos verdes
e filha de um deputado estadual. Embora a anterior fosse também filha de

86
político influente naquela cidade e no Estado de Alagoas. Caneta vai, caneta vem, e de
repente ficamos de mãos dadas. Começamos um namoro bem ali. No outro dia, haveria
um baile na AABB e fomos. Ao dançar com ela, a anterior queria reatar o namoro mais
já era tarde. A namorei por cerca de quatro meses apenas.

-No domingo fora acordado às cinco horas da manhã pelo pai de Cliton, o senhor
Antonio Azevedo, e ele, dissera:

-Acorda o senhor também, pois aqui em casa todos tem que ir a missa!

-Era um regime pesado!

-Na casa havia um terraço em sua entrada onde nós costumávamos jogar
palavras cruzadas, era um jogo para várias pessoas, no qual nós ficávamos com uma
espécie de bandeja de madeira com umas pedrinhas de madeira, representando várias
letras e íamos formando palavras e colocando-as na mesa, e, se era uma palavra não
conhecida pelos demais, consultávamos o dicionário para ver se existia. Cada letra tinha
um número para o somatório de pontos. Passávamos o dia todo jogando, era bom,
porque, aprendíamos português!

-Jose Cliton tinha outro irmão, e irmãs, o outro era o Carlos Guido que estudara
com meu irmão Alanio.

EM UNIÃO DOS PALMARES

-Certa vez fora passar parte de minhas férias em União dos Palmares na casa de
meu vizinho José Vicente, pai de meu colega Genivaldo, o “Nado”. Era uma casa que
tinha um armazém anexo. Seu José Vicente era comerciante de arroz, feijão e algodão,
como dissera alhures. O filho mais velho dos homens era o Zé Vicente Filho, meu
amigo, também. Aos sábados era dia de feira em União dos Palmares, e muitos dos
produtos que o senhor José Vicente vendia, vinham transportados em cavalos. Os donos
dos animais prendia-os em argolas existentes e chumbadas na calçada do prédio. Hoje
quando alguns rapazes ou meninos, ao estacionarmos nossos veículos, perguntam:

-Tomo conta patrão?-

-Lembro-me de União dos Palmares em minha infância dos treze anos de idade,
quando os homens descarregavam os animais, eu e o Zé Vicente Filho perguntávamos:

-Tomo conta? Pois, damos banho, comida e o colocamos na sombra para secar!

-Uns concordavam, outros não. Tinha um homem muito chato, ele possuía uma
égua muito bonita e nova. Havia outro que possuía um potro novo e garanhão, de cor
preta, cujo animal era doido para cruzar com aquela égua. O dono da égua a colocava
bem longe do potro negro. Um dos sábados, eu e Zé Vicente resolvemos dar uma de
cupido. Ficamos um em uma ponta da calçada e o outro na outra extremidade. Lá estava

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]

o potro amarrado por um laço em uma das argolas existentes. Quando vim de lá para cá,
abaixei-me e afrouxei um pouco o laço, rapidamente. Depois o Zé Vicente fora para lá e
deu mais um puxão no laço, essas manobras fizeram o laço se soltar e o potro negro
ficara livre e fora cruzar com a égua. Quando o dono da égua viu o que estava
acontecendo, virou uma fera e começou a açoitar o potro e a briga entre os donos
começou, era de relho. Depois que o potro cruzou com a égua, não houve jeito, após o
episódio, o dono da égua deixava tomarmos conta do animal. O tomar conta consistia
em, eu e Zé cruzarmos a ponte do rio Mundaú e darmos um galope pelo centro de
União, Zé Vicente conduzindo o cavalo e eu na garupa, em couro cru, sem sela, depois
voltávamos e nos atirávamos no rio com cavalo e tudo, enquanto nadávamos,
puxávamos o animal pelas rédeas até uma pedra lajedo, dávamos banho com sabão e
depois retornávamos à margem, penteavamos a clina e o rabo do cavalo, levava até
embaixo de uma árvore do quintal da casa e dávamos comida. Cobrávamos, de uns, um
cruzeiro, e de outros cinquenta centavos, dependia do trabalho.

-O café da manhã na casa de Zé Vicente era farto, todos os dias havia cuscuz
feito com milho ralado, e molhado com um leite de gado quente, e abafado. Era muito
bom. A família do senhor Zé Vicente era grande como já dissera lá atrás e todos
participavam conjuntamente do café da manhã.

-Somente havia três coisas que eu não gostava. Uma delas era ir com os meninos
buscar água em uma nascente, era um olho d’água que ficava a uns seiscentos metros da
casa. Outra atividade era subir em uma escada de muitos degraus com uma lata cheia de
milho, ou de feijão ou de arroz, até a parte superior dos silos para derramar aquela
mercadoria, pois a mesma quando se ia encher os sacos para vender, tínhamos que abrir
uma comporta que ficava quase a um metro do chão, colocar a boca do saco ali e depois
de cheio, fechar a tampa do silo, e o excesso de grãos que caiam, tínhamos que apanhar
e recolocar no silo de novo, subindo na escada. A terceira, era apanhar algodão em uma
plantação próxima, era outra coisa ruim, pois, para colher os capuchos de algodão,
sempre cortávamos a mão em uma casca no formato de uma concha.

-Havia uma fábrica que fabricava um docê chamado Palmares, e era nessa
fábrica que nós íamos saborear o docê saído quantinho dos tachos.O gerente da fábrica
era amigo de José Vicente, pai de meus amigos onde eu estava hospedado.

-Uma vez fomos passar três dias na Fazenda conhecida por “Estrela”, ela era do
irmão do senhor José Vicente. Pela manhã nos íamos até o barracão da fazenda comer
bolachão com café e tomar leite cru que acabara de ser ordenhado do peito da vaca. À
tarde, nos íamos andar de cavalo. Havia duas éguas a nossa disposição, mãe e filha.

-Um dia selamos os animais eu e Zé Vicente, o Zé era muito afoito e saiu em


disparada e eu atrás. Os animais tinham uma mania, se um parasse o outro parava e
desembestasse o outro desembestava. Eu não havia colocado a correia conhecida por
Cila, ou barrigueira, bem apertada, aquela correia que passava por baixo da barriga do

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animal que fixava a cela, e que possuía uma fivela feito um cinturão e era apertada. Zé
Vicente na frente e eu atrás. Alguns minutos de cavalgada, a Cila afrouxou-se e a sela
passou a rodar, e eu comecei a ficar por baixo da barriga da égua, e enquanto ela
cavalgava, batia com as patas dianteiras na minha cabeça. Comecei a gritar por socorro
e pelo Zé Vicente, até que ele me ouviu e parou a sua montaria, foi quando a minha
parou, também, como era de seus costumes.

-Aos sábados à noite íamos ao cinema no centro de União. Perto de casa havia a
pousada de seu Jonas, ele tinha um filho que era nosso amigo, o Joninha. Quase todos
os dias, eu e José Vicente, Joninha e outros meninos íamos tomar banho no Rio
Mundaú, e depois, íamos ao alto do sítio de seu Jonas ver mulheres e filhas lavarem
roupas e tomarem banho nuas. Ficávamos deitados em uma elevação que ficava em
direção do rio e lá as lavadeiras não nos viam e ali deliciávamos com aquele panorama
de quando a “EVA” viera ao mundo.

-No dia de sábado, próximo à fazenda do “Mano” Manoel Gomes de Barros,


íamos ver a matança de bois e porcos em um matadoro existente. Os bois eram trazidos
e amarrados em umas argolas postas no chão. Depois outra corda era, também,
amarrada em seu pescoço e alguns homens a seguravam. Outro se aproximava e com
um punhal conhecido como xunxo deferia um golpe entre os chifres do animal, o qual
golpe fazia-o despencar quase morto, enquanto os homens o levantavam puxando a
corda através de uma roldana. Depois eles o sangravam com um golpe entre as patas
dianteiras, outro aparava o sangue em uma lata que serviria para fazer o sarapatel.
Mulheres que se encontravam no recinto, já com o fogo aceso, colocavam a lata do
sangue que fora colhido para fazer sarapatel. Depois os marchantes destrinchavam o
animal separando as carnes.

-Uma vez, foi o maior espetáculo, parecia que estávamos em uma tourada em
Madri, pois um dos animais não querendo ser abatido, soltou-se da corda que o prendia
e começou a atacar a todos. Foi aquele corre-corre, teve até um homem que se pendurou
em um dos ganchos de pendurar carne, e o animal queria, porque, queria, chifra-lo na
bunda.

-Havia na fazenda do Mano as cavalhadas, eu assisti a uma delas, a maioria dos


cavalos vinha da cidade de Capela, Alagoas. Tinha um cavalo que nos chamávamos da
raça “pampa”, ele era malhado, e ensinado, o seu dono era um marchante. Além da
cavalhada eu assisti ali uma vaquejada, aquele cavalo malhado e ensinado, postava-se
na saída de onde viriam os bois e quando eles eram soltos, o cavalo partia e às vezes ele
mesmo derrubava a rés sem que seu dono puxasse o rabo do boi.

-Foi lá em União que namorei uma menina chamada Petrúcia, que era, também,
cobiçada por um rapaz chamado Aldo Baía, filho de uma fazendeira chamada Helena, e
que mais tarde viera conhecer seus irmãos, um é o Chico Baía, primo de meu amigo de

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juventude, o Luiz de França, da cidade de Viçosa, Alagoas, irmão do saudoso Chico
“Tampa”.

-Quando eu era garoto, e em razão da morte de meu avô, ficara com medo de
escuridão, porém, em União, fora a um enterro de um conhecido de José Vicente e tive
que voltar do cemitério sozinho e no meio de vários sítios, aproximadamente às seis
horas da tarde, o medo havia acabado por completo.

EM VIÇOSA

-Doutra feita, fui às comemorações da emancipação politica de Viçosa, Alagoas.


Fui convidado pelo meu amigo Marcilio, irmão do grande contador de Usinas
Açucareiras, o Rui Moura, seu pai era proprietário de um cartório de registro de notas,
conhecido por seu Zeca Moura. A casa ficava próxima a uma igreja católica. A vizinha
dele chamava-se Ana Veronica, a qual vizinha viera a ser minha namorada. Ela era
cortejada por um rapaz de uma importante família. Ele tinha um jeep de quatro portas, o
nome dele era Zezé Pedrosa, já falecido.

-A tardinha eu e meu amigo de Maceió por nome Paulo Robson, estávamos


passeando em uma das praças existentes, que ficava próxima a casa da namorada e em
frente ao cinema Godoi, cinema conhecido por “seis mil e um”, quando fomos cercados
pelo Zezé e sua turma. Queriam bater em nós, porém, de repente, surgiram outros
colegas de Maceió, um deles era o meu amigo Carlos Milito, que dissera:

-Se baterem neles vão ter que brigar com nós também!

-A confusão terminou por ali!

-No outro dia ia ser as comemorações da emancipação política de Viçosa. Houve


desfiles escolares e a noite haveria um baile. O clube ficava localizado bem próximo à
zona de prostituição. Ele tinha um primeiro andar, onde eram realizados os bailes. Eu e
a namorada fomos a ele, e, ao começar a clarear o dia, eu e ela marcamos para namorar
na beira do rio, que passava por trás de sua casa, porém, ao passarmos pela Praça do
Cine Godoi, notamos várias pessoas agachadas entre os arbustos, era o Zezé e sua
turma. Desistimos do intento, pois não sabíamos a sua intenção.

-Quando ficava namorando na calçada da igreja, essa rua era a principal artéria
da cidade, pois era à entrada de Viçosa. O Zezé ficava circulando com o seu jeep de
quatro portas e gritava:

-Fazendo sabão aí, não é Vera!

-Dizia isso com a minha namorada, embora não estivéssemos fazendo nada,
somente agarrados. Isso que era paixão não correspondida!

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-Em outra ocasião, eu fora convidado para passar dois dias em Viçosa pelo meu
amigo Lauro Braga, que Deus o tenha, pois haveria um grande baile. O pai do Lauro
era o comandante do destacamento de polícia militar de lá, e delegado, Major Braga.
Ficamos hospedados na caserna dormindo nas camas dos soldados que estavam de
folga. Durante essa época não estava mais namorando a Veronica, e quando eu e Lauro
dançávamos com as moças de lá, elas perguntavam a onde estávamos hospedados e nós
respondíamos:

-Na delegacia!

-Era aquele espanto, pois pensavam que éramos presos. Tínhamos que explicar
que o Major Braga era o delegado e era pai de Lauro.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXVIII

OS DESFILES DAS ESCOLAS

-Eu quando estudava, ainda, no Colégio Diocesano, fui ensaiar para o desfile de
16 de Setembro, comemoração da Emancipação Política de Alagoas, quando Alagoas se
emancipou de Pernambuco, levando a minha bicicleta, pois, sairia no primeiro pelotão
abrindo o desfile. O dia 16 de Setembro era um dia de Domingo e, na sexta-feira, fora
ensaiar, mas, a catraca da bicicleta quebrou e o irmão marista encarregado para enfeitar
as bicicletas, desclassificou a minha, pois, dizia que não haveria tempo de consertá-la,
ensaiar, e enfeita-la. Foi uma decepção danada, pois, ao invés de desfilar no primeiro
pelotão cuja roupa era a de gala, a do Colégio Marista, tive que desfilar no último
pelotão com a farda escolar de cor caqui e de grossa listra vermelha, com um casquete
na cabeça, da mesma cor da farda, acenando uma bandeirinha do Brasil. Nosso colégio
naquele ano tirou o terceiro lugar.

-No ano seguinte, mandei revisar a minha bicicleta, e sai no primeiro pelotão.
Estava usando calça comprida de cor azul-marinho e camisa de manga comprida branca,
cuja camisa tinha o emblema do Marista, estava, também, usando na cabeça, um gorro
azul-marinho e calçava luvas brancas. Nos reunimos no colégio, mas, antes fomos olhar
a saída das meninas do Colégio de São José. De volta ao colégio, nos dirigimos ao local
da concentração que era na Avenida conhecida como Avenida da Paz, a Avenida Duque
de Caxias. Todos os colégios estavam concentrados ali. Participaram do desfile os
Colégios: Diocesano, de São José, Sacramento, Guido de Fontgalland, Estadual de
Alagoas cujo mascote era o anãozinho, o Dorgival, que mais tarde viera a ser advogado,
Experimental, Escola Industrial de Alagoas, hoje CEFET, Orfanato São Domingos,
Colégio convidado, o Colégio Diocesano de Garanhuns- Pernambuco e outros.

-A Escola Industrial tinha a melhor banda de Alagoas, ela tinha uns toques
diferentes, inclusive, no meio dos dobrados, mesclava-os com músicas americanas, o
jazz e populares brasileiras, era comandada por um maestro famoso, e mais tarde, pelo
meu amigo Edson, da cidade de Arapiraca-Alagoas, e seguida pelo Colégio Estadual,
mas, nesse ano, a banda vencedora fora a nossa.

-O desfile percorreu várias ruas do centro de Maceió; o percurso fora iniciado


pela Praça Sinimbú, subimos a Rua João Pessoa, descemos na Moreira Lima, dobramos
a Rua Boa Vista e entramos na Praça dos Martírios para ocupar o lugar destinado ao
nosso colégio. Pensávamos que nesse ano o colégio vencedor seria o Guido de ]

92
]

Fontgalland, pois havia um colega nosso chamado Marcos, o Marquinho, pois ele era
de pequena estatura, não era anão, que vinha desfilando montado em um cavalo branco,
portando uma espada e com vestimentas daquelas que Dom Pedro Vestia. O Efeito era
colossal, pois, o cavalo estava cheio de plumas, era lindo. Mas quando o Secretário de
Educação anunciou o vencedor, quase caímos de costa, pois, fora o Colégio Diocesano
que ganhara em primeiro lugar.

-Eu havia contribuído para aquela vitória, a qual eu tinha certeza pela qualidade
do desfile. Eu em minha bicicleta, quando o colégio da frente parava, a ala dos ciclistas
tinha que permanecer, todos eles, em cima das bicicletas, equilibrando-se sem cair, até
que o outro colégio avançasse. A um toque do apito, todos nós tínhamos que descer da
bicicleta e começar a marchar segurando o guidom até que outro apito fizesse-nos subir
na bicicleta e assim por diante.

-Tempos depois não existia mais aquele glamour dos desfiles de antes, por não
haver mais incentivo de taças e medalhas, acabara o amor cívico!

93
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXIX

O PRIMEIRO BAILE DE CARNAVAL FORA DE ÉPOCA DE ALAGOAS.

-Estudei, também, como acima já havia citado, à noite, no Colégio Guido de


Fontgalland. Cursei o terceiro e quarto ano de contabilidade e, depois, o primeiro,
segundo e metade do terceiro ano que correspondia ao segundo grau, também, no curso
de contabilidade.

-Quando de nossa formatura do primeiro grau, precisávamos de dinheiro para


custear as festividades. Cada formando dava uma ideia e a minha fora aceita com
desconfiança. Pois, a minha ideia, isso no mês de novembro de 1962, a da realização de
um baile de CARNAVAL. Carnaval em novembro, coisa nunca vista e de louco.
Mesmo assim fizemos. Eu iria realizar o primeiro carnaval fora de época de Alagoas e
quiçá do Brasil. Um colega tinha um depósito de bebidas, iria fornecê-las para depois
receber o dinheiro. Outro tinha uma empresa que vendia queijo, manteiga e outros
produtos, prontificou-se a fornecer, a empresa do pai dele ficava no mercado público.
Esse colega chamava-se Wilson. Contratamos a melhor orquestra de frevo de Alagoas e
uma das melhores do Nordeste, a Orquestra de Fausto e Passinha, dois maestros
famosos, um da Gloriosa Polícia Militar de Alagoas e o outro do Glorioso Exercito
Brasileiro o 20º BC, Vigésimo Batalhão de Caçadores.

-Contratamos a orquestra por CR$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros) uma fortuna
para quem não tinha nada. Alugamos a ASA- Associação dos Sargentos de Alagoas,
pertencente aos Sargentos do Exército.

-Eis que chegara o dia do baile de carnaval! Era aproximadamente onze horas
da noite, os músicos a postos e nada de clientes. Nesse dia estavam sendo realizados
vários bailes, um na Fênix, outro no Iate e um no Alagoinha. O nosso deserto. De vez
em quando um colega chegava perto de mim e dizia:

-Você está lascado! - Vai pagar pelo prejuízo!

-Parece que é doido, carnaval fora de época!

-Estava eu deveras aperreado, tive uma ideia, pedi ao um dos maestros que
começasse a tocar o Vassourinha, um frevo quente e conhecido por todos os foliões. Ele
não queria, dizendo que não tinha graça tocar sem ninguém, mesmo assim, começou a
tocar, e no segundo frevo, várias pessoas em seus carros começaram a parar na frente do

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clube e perguntar o que era aquilo e nós dizíamos que era carnaval fora de época. Em
pouco tempo o clube se encheu, esvaziaram os outros bailes, não havia lugar para mais
ninguém e chegando mais. As pessoas que iam comprando ingresso, tinham que
comprar das mãos de uma das formandas um broche por CR$ 2,00 (dois cruzeiros) e
assim ia engordando o caixa da turma. Quando o baile terminou, as pessoas pediram
mais e tive que pagar mais Cr$ 500,00 (quinhentos cruzeiros) para a orquestra tocar por
mais meia hora.

-Quando demos balanço nas finanças, quase caímos de costa, pois era tanto
dinheiro que não sabíamos como gastá-lo. Pagamos a orquestra, as bebidas e comidas,
garçons e o aluguel do clube e sobrara muito dinheiro. Com a sobra, fizemos um
coquetel para os professores, um almoço no mais famoso bar e restaurante da Capital e
conhecido internacionalmente, era o Bar das Ostras, almoço para setenta e duas pessoas,
incluindo professores, alunos e familiares. Sobrara, ainda, dinheiro, fizemos o baile de
formatura no Clube Fênix, um almoço para os encarregados da formatura e a sobra
final, fora distribuído Cr$ 8,00 (oito cruzeiros) para cada organizador da formatura.

-Anos depois, aparece o Maceió Fest, o qual se dizia que fora o Ronaldo Lessa
que fizera o primeiro carnaval fora de época de Alagoas, lerdo engano, o primeiro
havia sido o meu!

AINDA FALANDO EM CARNAVAL

-Em Maceió gostávamos de participar do corso, eram duas filas de carros, uma
indo, e outra voltando. Os proprietários tinham que licenciar os carros no DETRAN
para o Corso. Quando os carros se cruzavam, era aquela alegria. Ficávamos esperando
que aquela menina que nos interessava retornasse e ficávamos flertando, as vezes
jogando confetes e, doutras feitas, atirando jatos de lança perfume. Naquela época havia
os lança-perfumes da marca Rhodoro e Colombina, o primeiro era feito de latão, e o
segundo de uma ampola de vidro, muito perigoso, pois, ao se colocar no bolso da calça,
poderia haver um acidente, nos cortar.

-Em um carnaval, estava eu parado na Rua do Comércio quando passou um


veículo, em cujo veículo estavam duas meninas sobre o capô, cada uma agarrada nos
faróis, aquele carro tinha os faróis sobre o capô. Era uma loura e uma morena. A loura
então gritou:

-Vai para a Portuguêsa?

-Eu respondi que sim! E ela-

-Nos encontraremos lá!

-Quando cheguei ao Clube Português, as encontrei. A lourinha tinha os olhos


azuis e eu já a conhecia do Colégio de São José onde ela estudava. Fiquei sabendo que a

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morena era sua prima de nome Isabel e morava em Viçosa, Alagoas. Fiquei namorando
a Isabel e a loura não gostou e passou a me chamar de “enrolão” e todas as vezes que
estava em companhia de sua mãe, sempre dizia:

–Mãe olhe o enrolão!

-Até hoje ela me chama de tal coisa, e é formada em direito, minha colega de
profissão, minha presada amiga Elisirene!

-Em outra ocasião, estava eu brincando carnaval no Clube da Portuguesa, e de


repente surgira uma briga, era um membro da família Mousinho, filho de um coronel de
polícia, que começara a brigar com dois rapazes; o Mousinho era forte e alto e os dois
rapazes eram franzinos e eram primos, mas, brigavam muito e, apareceu à turma do
“aquieta, aquieta”, e a briga terminou. Nessa época, lançaram a moda de um chapéu
muito caro chamado de Nat King Cole, em homenagem ao cantor, e eu não possuía
dinheiro para comprar. Havia o costume de no último dia de carnaval a orquestra de
Fausto e Passinha sair do clube acompanhada pelos foliões e, dar três voltas em redor da
Praça Deodoro e, fomos nós dar as três voltas. Em frente à Câmara de Vereadores, a
briga recomeçou, eram os mesmos elementos que voltaram a brigar, de repente, caiu em
meus pés, um chapéu Nat King Cole, ele era preto com cinza e eu o apanhei e sai com
ele acenando para ver se o dono aparecia, mas, não apareceu ninguém. A orquestra
parou de tocar, a praça se esvaziou e o dono do chapéu não apareceu, foi assim que
ganhei o chapéu tão almejado.

-Era o último dia de outro carnaval. O Clube da Portuguesa tinha o salão


descoberto, sem telhado, e quando havia festas nós dançávamos olhando a lua e as
estrelas. Acordei na terça-feira pensando como seria o último dia do Rei Momo. Lá para
às 14:00 horas, começara a chover à cântaro, e não parou mais, todos nós que
gostávamos de carnaval rezávamos muito pedindo a Deus para parar a chuva, mas, não
houve jeito, o terceiro e último dia de carnaval estava perdido, foi um dos piores dias de
nossas vidas.

96
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXX

MEU COLEGA DE JUVENTUDE

-Em 1962, o Brasil fora campeão mundial de futebol. Nas quartas de finais, um
dos jogos seria contra a Inglaterra. Nessa época eu trabalhava no Diário Oficial como
revisor. Fizeram uma aposta quem ganhava o jogo entre o Brasil e a Inglaterra. Eu
marquei o bolão com o escore de 3x1 para o Brasil. O jogo seria em um domingo em
Vinã Del Mar no Chile. Era o dia 10 de junho de 1962 e no dia 13, na quarta-feira da
semana seguinte, seria o meu aniversário. Marquei com o meu amigo Pedro Roberto
Barbosa, que é pai da Jornalista Gilka Mafra, para irmos ao cinema São Luiz, antigo
Cine Art. Na entrada, nos encontramos com um amigo comum e ele nos convidou para
assistirmos ao jogo, naquela época era através de transmissão por rádio, e tomar um litro
de Whisky que ele havia ganho, e, assim fora acertado. Ao término do filme, nos
dirigimos a um bar que ficava em frente à Praça Montepio. Esse bar possuía mesas de
sinucas, e, quando começou o jogo, nos abrimos o litro de Whisky e ficamos ouvindo o
jogo ao som, também, de um senhor que tocava clarinete acompanhado por seu filho em
um tambor.

-Dissera-lhes que havia participado de um bolão e que o escore era 3x1 para o
Brasil. Ao término do jogo, realmente o Brasil vencera a Inglaterra por 3x1, eu ganhara
o bolão cujo dinheiro iria me servir para gastá-lo em meu aniversário. O colega Pedro
Roberto jamais havia colocado uma gota de álcool na boca, e, nesse dia, por insistência
nossa, ele começara a beber, cujos argumentos eram de que eu ganhara o bolão e de que
estávamos, também, festejando a vitória do Brasil e o meu aniversário antecipadamente.
Pedro Roberto, menino dedicado aos estudos, só tirava nota dez, seus pais tinham um
verdadeiro orgulho dele. Nessa época estudava no Colégio Estadual de Alagoas,
Colégio de muita rigidez. Ficara bêbado, fiquei apreensivo como chegar em casa com o
Pedro naquele estado de embriagues? Fizemos de tudo, saímos arrastando-o
literalmente, pelo centro de Maceió, foi quando tive uma ideia maluca, pensando que
funcionaria. Arrastamos o Pedro, cada um de nós segurando por um braço e
empreendemos um passeio pela Ladeira do Brito, e ao começarmos a subir, verificamos
que havia mais duas ladeiras, cada qual de um lado da principal, uma delas dava, como
até hoje dar para os fundos do Colégio de Sacramento. É uma ladeira íngreme, até hoje
não sei como nós não embolamos de ladeira a baixo, nós três. Ao passarmos pelo
contorno do Parque Gonçalves Ledo, em frente à casa de nosso colega Arabutã, a mãe
dele disse que Pedro era seu parente e o deixasse lá um pouco para se recuperar, e se

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isso não acontecesse ela iria telefonar para os pais de Pedro para que eles viessem
busca-lo.

-Nessa época, não sabíamos que os pais de Pedro estavam sem falar com os pais
de Arabutã, talvez a mãe de Arabutã vira uma oportunidade de fazerem as pazes, não
sei. Lá para as tantas a mãe de Pedro já aperreada fora lá em casa e eu com medo da
represália disse que não sabia onde ele se encontrava.

-A mãe de Arabutã telefonou para seus pais e eles foram busca-lo. Dona Nilse,
mãe de Pedro, passou um bocado de tempo sem dirigir-me a palavra, vez que, o Pedro
perdera as provas parciais de meio do ano, foi um episódio que não quis mais repetir,
quem quisesse beber que bebesse.

AS NAMORADAS

-No Beco de São José, centro de Maceió, localizado por trás da Avenida Moreira
Lima, fundos da hoje Casa Vieira, tive três namoradas, apesar de ser apenas um
pequeno trecho de rua. Uma delas era a Nadine, namorada de Pedro Roberto. Os
senhores a partir das próximas narrativas vão pensar que era inveja ou perseguição de
mim para com o Pedro Roberto, mas, apenas consequências do destino. Nadine era uma
garota loura, bonita e baixinha, gostava muito do Pedro, ela parecia a artista americana
Sandra Die, era muito esperta não demorava com namorados. Tomava-me por
confidente, como era o meu carma naquela época, servia de confidente para várias
meninas, chegando até haver dificuldades em namorar, pois, muitas delas somente me
queriam como amigo, eu era o “Muro das Lamentações”!

-Pedro flagrara por muitas vezes eu conversando com ela, notava que ele não
gostava, porém, era ela que quando me via me chamava para conversar. Um belo dia,
Pedro terminara o namoro com Nadine e ela viera chorar em meus ombros, cuja
consolação tornara-se namoro. Nadine namorou pouco tempo comigo, acho que uns três
meses, quando menos esperei, ela terminou comigo e entabulou, em seguida, um
namoro com outro meu colega, o Valdir. Depois de alguns anos, não via mais Nadine,
soubera por familiares que ela havia se formado em Medicina e morava em outro
Estado.

-Outra que namorei foi a Vera, mais foi um namoro passageiro. Outra vizinha de
Vera, fora a Fatima, que no futuro tornara-se médica, e o namoro acabou assim que
saímos do cinema Plaza, no bairro do Poço, quando assistimos a um filme chamado
“Intriga Internacional” dirigido por Alfred Hitchcock, e estrelado por Cary Grant, James
Mason e outros.

-Que nome sugestivo para o fim do namoro! Não?

-Era próxima a época de carnaval, uma amiga chamada Lucia havia terminado o
namoro com o Pedro Roberto e engatilhamos o nosso, era linda, tinha olhos verdes,

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passamos o carnaval namorando, e pouco tempo depois acabou-se, hoje ela é
empresária.

-Tive outra namorada, mas, dessa feita não era nada do Pedro. O pai era Fiscal
de Rendas Estadual, morava em um sítio, era natural de Viçosa, Alagoas. O namoro
aconteceu na marra, pois seu pai era metido a bravo e não queria que a filha namorasse,
pois naquela época contava apenas com quinze anos.

-Havia uma quadrilha de São João a qual quadrilha era pertencente ao Colégio
de São José. O meu irmão Alanio era o sanfoneiro. Uma vez, Alanio faltou ao ensaio, e
souberam que eu tocava sanfona, lerdo engano, pois, quase não aprendi nada. Meu pai
colocou-me para estudar sanfona, não aprendi, para estudar piano, idem, e pandeiro,
pior ainda. Mesmo assim, pediram para eu acompanhar o ensaio tocando sanfona.
Naquela época não chamavam sanfona e sim de acordeom. Eu só sabia uma música,
chamada de “Caminho da Roça”, e, após uma hora e meia tocando a mesma coisa, fui
obrigado a parar, pois, ninguém aguentava mais.

-O último ensaio foi na casa de Dona Ditinha próximo ao Orfanato São


Domingos. Lá estava o meu par de quadrilha, a Valquíria, e seu pai carrancudo, seu
Brandão. Depois houve um pequeno arrasta-pé, e eu comecei a dançar com ela. Seu
Brandão me olha com os olhos, não com bons olhos. Certo momento me aproximei dele
e disse na maior cara-de-pau:

-Estou namorando a sua filha e quero namora-la na porta!- e continuando:

-Soube que o senhor gosta de botar os rapazes para correr, mas, eu não vou não!

-Ele olhou para mim e disse:

-Cabra macho!

-Gostei de você! Vou deixar, mas, se fizer a minha filha sofrer vai se haver
comigo!

-E assim, logo mais a noite, a quadrilha fora se apresentar no Clube Tênis


Alagoano, e fiquei sentado à mesa de seu Brandão. Namoramos por uns seis meses,
mas, quando tive que ir trabalhar em Arapiraca, no Banco do Estado de Alagoas, acabei
o namoro. Hoje ela é médica e já fora vereadora da cidade de Arapiraca, Alagoas.

-Existiu um episódio o qual passei pela maior vergonha de minha vida. Eu


namorava a uma moça, ela era loura, bem bonita e de uma família tradicional. Seus pais
eram ricos e da alta sociedade. Ela era mais alta que eu, para se ter uma ideia, quando
saíamos de um sessão de cinema gostávamos de ficar namorando nas escadarias da
Igreja da Catedral, no centro de Maceió, eu tinha que ficar a um degrau acima do dela
para as alturas se igualarem. O nome dela era Talma, morava na Gruta de Lourdes. Um
dia Talma me convidara para ir a um aniversário de quinze anos, a casa se situava no

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bairro do Farol, Avenida Fernandes Lima esquina com a Avenida Rotary. Que mais
tarde funcionou a empresa Casa Lemos. Nesse dia ela pediu-me que falasse com a sua
mãe para namorarmos na porta. De longe disse:

-Minha mãe é aquela que está sentada naquele sofá no meio daquelas duas
mulheres o nome dela é!

-Não me lembro do nome e fiz questão de esquecer!

-Dei boa noite e disse:

-A senhora é a mãe de Talma?- Ao responder que sim, continuei-

- Meu nome é Alde! - Estou namorando a sua filha e queria namora-la na porta,
com o seu consentimento!

- Ela me olhou com curiosidade e espanto, pois, a filha tinha apenas treze anos,
mais, parecia ter dezoito, era muito desenvolvida, e perguntou-me:

- Quem é seu pai?

- Respondi.

- Professor Antonio Santos!

- Ela disse:

- Admiro muito seu pai é um homem ilustre, já fora meu professor, porém, ele é
um homem pobre e não dá para você rapaz, namorar a minha filha!

- Agradeci, dei boa noite e sai dali a mais de mil, nunca tinha passado por
tamanha humilhação! - De volta a Talma perguntou:

- E ai, ela deixou?

- Respondi que não!

-Mais ela argumentou que poderia ficar de castigo, mas, não deixava de namorar
comigo nunca. Ato contínuo sua mãe a chamara e ela ficou sentada perto dela o tempo
todo. Namoramos por mais um tempo e a sua mãe colocou a filha mais nova para vigiar
a irmã, porem, ela tinha ficado minha amiga e não contava nada.

100
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXI

NOITES DE FEIRAS E A PISCINA

-Quando ainda morava na Rua da Floresta, todos os sábados à noite, eu e meus


colegas íamos fazer feira no mercado público. Naquela época o nível da lagoa chegava
próximo ao calçamento onde hoje existe o Mercado de Artesanato. As barcaças vinham
carregadas de bananas e laranjas, nós a comprávamos por cento. Percorríamos as
barracas e íamos pegando um punhado de farinha e lascas de bacalhau ou de charque e
saíamos comendo pelo meio da feira. Era muito bom. Tempos depois, aterraram a lagoa
e é por isso que às vezes existem alagamentos, em virtude da lagoa procurar o seu leito.

-O finado Carioly, naquela época, era um mini empresário, vendia seus produtos
sobre uma lona estendida na calçada do Órgão Serviço de Peste em Alagoas, ele vendia
peças de bicicletas, eu as comprava sempre, no futuro tornara-se um grande empresário,
fundando as empresas Carioly. As bicicletas naquela época eram emplacadas, tinham
que estar devidamente aparelhadas com farol, olho de gato e retrovisor. O
emplacamento se dava na Rua do Comércio, e os faróis eram movidos a dínamos.

-Lembro-me de uma passagem interessante e arriscada em minha juventude.


Havia em frente à Igreja de São Benedito, Rua Barão de Alagoas, como ainda hoje
existe, o prédio da Secretaria de Educação. La existia uma espécie de piscina, e em uma
manhã de sábado, nos reunimos e cada um fora buscar algo para comer e fomos fazer
uma espécie de piquenique. O pai de nosso amigo Falcão tinha um supermercado e
vendia também em grosso, contribuiu com as latas de mortadelas, aquilo que era
mortadela, sempre ficava um pedacinho de carne presa nos dentes. Adávio cujo pai
possuía uma panificação doou os pães, Carlos Aprato, os refrigerantes e assim por
diante. Fomos alguns de calção e outros nus, tomarmos banho na piscina da repartição
estadual. Quando estávamos na maior farra, o vigia chegou sorrateiramente e recolheu
as nossas roupas e disse:

-Vou chamar a polícia, pois, aqui não é permitido tomar banho, inclusive nus!

-A maioria nua e tomando banho de piscina em frente à rua. Tivemos que fazer o
que hoje fazem os políticos, comprar o vigia, com dinheiro e mercadorias para que ele
não chamasse a polícia. Fora um momento de tensão!

101
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXII

NÓS E A IGREJA DE SÃO BENEDITO

-Junto a Igreja de São Benedito havia uma padaria, e no primeiro andar,


moravam os meus amigos, Paulo Pontes, e seus irmãos, o André, o Marcelo e suas
irmãs, juntamente com seus pais. O pároco da igreja era o Padre Sarmento, ele morava
junto à fábrica de gelo pertencente à família Pontes, residência pegada ao Colégio de
São José.

-Ás vezes, à tarde, eu e os Pontes, íamos brincar nos fundos da igreja, lá existiam
umas catacumbas e nos corríamos por cima do muro. Às vezes adentrávamos na igreja e
tomávamos o vinho de missa e o padre ficava uma fera. Havia as novenas, da festa de
São Benedito, e todos os meninos, tanto da rua na qual eu morava como na rua da
própria igreja, disputávamos os apetrechos, castiçal, turibulo e outros, para entrarmos
juntamente com o Padre Sarmento para acompanhar a missa. Um dia, fui o encarregado
para levar o turibulo, e o mesmo continha carvão em brasa e colocávamos incenso para
ser queimado. Para manter as chamas, tínhamos que balança-lo e às vezes fazer um
movimento rotativo como se fora um ventilador, para atiçar as brasas e, nesse
movimento, fora brasa para todos os lados, chegando até a queimar um pouco o tapete
do altar, e o Padre ficou bravo e não quis mais o meu auxilio, sempre fui muito
“Ajeitado”.

O CEGO MOACIR

-Nos fundos da Secretaria de Educação, havia antes, a Patrulha Cristã e depois a


Escola de Cegos. Aos sábados à tarde, a turma da Rua da Floresta ia jogar bola,
tínhamos que pular o muro para ir jogar. Havia naquela época um cego por nome de
Moacir, por sinal muito inteligente. Ele sabia, não sabemos como, o nome de todos nós
e sentia a presença de cada um. Em um dos sábados, eu estava jogando bola e ouvi o
barulho de uma máquina de datilografia, aproximei-me e vi que era o Moacir
datilografando. Cheguei de mansinho e ele quando datilografava errou uma letra, pois,
deu o retrocesso na máquina, contou os espaços para cima acionando o rolo da máquina,
apagou a letra, voltou a contar os espaços para baixo, bateu a letra certa e continuou, foi
quando ele sentiu a minha presença e eu perguntei-lhe:

-Como você consegue?- Ele respondeu:

-É a prática!

-Foi um dos momentos incríveis que eu presenciei!

102
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXIII

MEU IRMÃO ALANIO E O GOVERNADOR SURUAGY

-Era época de eleições. O compadre de meu pai o Divaldo Suruagy, estava


candidato ao cargo de prefeito de Maceió. Meu pai candidato a vereador, escrevia os
discursos de Divaldo, ele os decorava e ia soltar o verbo em praça pública, porém, não
dizia que meu pai era candidato e nem meu pai quando discursava, também, dizia. Em
suma, nós da família saíamos colocando panfletos por baixo das portas das casas e foi
assim que meu pai conseguiu alguns votos. Divaldo, nesse tempo, era funcionário
público, e fora o vitorioso naquela legislatura, tornando-se prefeito de Maceió e meu
pai, o Secretário Geral da Prefeitura. Depois, Divaldo fora nomeado Governador de
Alagoas, e meu pai não fora chamado, pois Divaldo disse assim:

-Santos, eu sei que você estar um pouco cansado e vou lhe arranjar um cargo
leve!

-Foi quando meu pai disse:

-Divaldo, eu não era um velho decrépito quando fiz vários discursos para você
em praça pública!

-Não era decrépito quando os escrevi para você!

-Não quero cargo nenhum, faça bom proveito dele!

- Passaram algum tempo magoados!

-Em outra ocasião, havia uma relação de cargos públicos e Divaldo prometeu a
meu pai colocar o meu irmão Alanio em um deles. Era o de Adjunto de Promotor, havia
quarenta e quatro vagas, salvo engano. Na véspera da publicação das nomeações, o Dr.
Eraldo Bulhões, que tinha sido um dos professores de meu irmão, não vira o nome dele
na relação e interpelou o Divaldo.

-Divaldo cadê o nome do filho de seu compadre Antonio Santos, o Alanio, na


relação?

-Divaldo respondeu:

-Que depois daria um cargo melhor para o filho de seu compadre, pois, tinha
prometido o cargo para o filho de um político do interior!

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- Foi quando Eraldo disse:

- É uma covardia o que você está fazendo com o seu compadre e se não colocar
o nome de Alanio na relação eu vou sair do cargo que ocupo!

- Divaldo retrocedeu e nomeou o meu irmão como Adjunto de Promotor, cargo o


qual exerceu por muito tempo a começar por Limoeiro de Anadia, Alagoas!

-Alanio, antes de ser Adjunto de Promotor, exerceu a profissão de advogado nas


cidades de Arapiraca e Penedo, sendo advogado de vários empresários como, José
Alexandre, Aurelino, Louro do Feijão, Severino da Bananeira, Deca Moço, e outros,
esses de Arapiraca, e, em Penedo, na firma Irmãos Peixoto de Dalmo Peixoto.

-Alanio quando tinha 18 anos, fugira com a irmã de Fernando Toledo. Ela era
filha de Usineiro, tinha na época 13 anos e Alanio 18, acharam por bem fazer o
casamento mesmo contra a vontade. Poucos anos depois, em um dia dos Pais, Alanio
fora almoçar na casa de nosso pai e a esposa na casa do pai dela. Lá para as cinco da
tarde, Alanio fora busca-la para irem para casa, foi quando a sua sogra dera a notícia:

-Ela há esta hora já estar no Rio de Janeiro, ela lhe deixou!

-Aquilo fora um balde de água fria em Alanio, pois, gostava muito dela e até
hoje, tenho a impressão que ele ainda gosta, pois, sua vida mudou muito. A princípio,
ele teve forças para continuar a faculdade de direito, pois, naquela época, Alanio tocava
em um conjunto chamado de “Tander Boys” depois fora trocado para “Grupo Seis”.
Não Trabalhava naquele tempo e o tio de sua esposa o chamava de violeiro. Após a
separação, Alanio enfrentou os estudos com afinco e formou-se. Quando estava de
posse dos convites, ele desenhou uma viola em um deles, grifou seu nome e colocou a
palavra “O Violeiro” e mandou o convite para o consultório do odontólogo tio de
Mirian Toledo, esse era o nome dela. Soubera que ele ficara uma fera.

-Depois disso, Alanio fora fazer um estágio no CRUTAC, era um órgão da


UFAL em Arapiraca, foi lá que conhecera uma moça por nome de Estael, não sei se é
escrito dessa maneira, cujo namoro lhe rendera uma filha.

-Alanio tivera um filho com uma ex-namorada minha, seu nome Rodrigo e outro
de seu casamento com Viviane uma moça de Penedo cujo nome do filho é Diego
Dardenos. Dardenos é o segundo nome de Alanio.

-Ele fora em Arapiraca sócio de Geraldo Magela Pirauã, hoje Promotor Público,
em um escritório de advocacia. Alanio anos depois, fora exonerado, como os demais, do
cargo de Adjunto de Promotor, por não ter feito concurso para tal, devido a uma ação
proposta por Mendonça Neto, ex-deputado federal.

-Fora proprietário de uma barraca na orla de Jatiúca, é um exímio cozinheiro,


hoje é aposentado como pescador em Paripueira e montou uma peixaria naquele
Município. Toca guitarra, violão, sanfona, teclado e bateria, é um expert da música.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXIV

O INPEACHMENT DE MUNIZ E A MAÇONARIA

-Em 1962, houve o impeachment do governador de Alagoas, o Muniz Falcão.


Na véspera da votação passei pela Praça conhecida como da Catedral, a Dom Pedro II,
havia uma barricada feita de sacos cheios de areia da praia e, no alto do prédio do
Ministério da Fazenda, havia, também, sacos e metralhadoras ponto 30, armas
colocadas pelo exercito brasileiro, já se preparando para um suposto confronto.

-No dia do impeachment, era mais ou menos três horas da tarde, quando eclodiu
o barulho de armas sendo acionadas. Nesse momento, eu estava com meus amigos
jogando bola, um jogo chamado de “Zorra”, entre o muro do Colégio São José e um
poste existente. O tiroteio fora na Praça da Catedral, e no começo da Moreira Lima,
onde eu me encontrava, já vinha gente correndo com medo.

-Tudo começara quando o sogro de Muniz Falcão que era deputado estadual, o
Humberto Mendes, ingressara na Assembleia vestido de capa de chuva, em uma tarde
por demais quente, cujo sol ainda estava a pino, portando uma metralhadora, na
companhia de seus filhos Robson e Valter Mendes, também, armados.

-Nessa época veio a Maceió um Senador da República para presidir o


impeachment e soubemos que ele sofrera um ferimento na garganta. Atribuíram a morte
de Humberto Mendes ao deputado Oseas Cardoso, compadre de meu pai, em virtude de
sua pontaria. O mediador, ou seja, o presidente do julgamento que sofrera um ferimento,
alegara que Oseas era um verdadeiro “Gato”, pois, pulava de um lado para o outro
rolando no chão com um banco de madeira na mão e um revolver na outra.

-O exercito postou sentinelas em todo o perímetro entre a Assembleia e o


Colégio Estadual. Viam-se soldados armados nos telhados do Colégio Estadual. Por uns
dias, deixamos de jogar bola, pois, havia muitos soldados do 20º BC, de prontidão.
Quando eu queria ir para casa, era acompanhado por soldados até a minha porta.

-Certo dia, meu pai chegou aperreado em casa, quase chorando, pois, ele era
jornalista do Jornal Gazeta de Alagoas, pertencente a Arnon de Melo, pai de Fernando
Collor e era o editorialista de primeira página, contra o governo de Muniz Falcão, e o
cunhado de Muniz, o Robson Mendes, por muitas vezes contratara a sua morte, sendo
sempre contestado pelo próprio Muniz quando dizia:

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-O professor Antonio Santos é um profissional, ele não fala mal de mim e sim do
meu governo, pois, ele é meu amigo independente de Jornal, quisera que ele trabalhasse
para o jornal do Governo!

-De outra feita era impedido por Djalma Falcão e Camuser Falcão. Por essas
razões, o meu pai havia chegado em casa aperreado, em virtude de ser maçom, e o
Robson ser também, e havia uma ordem de prisão para Robson Mendes, e como ele era
irmão maçom de meu pai, fora decidido que ele ficaria escondido em nossa casa. Dias
depois resolveram tirar o Robson de Alagoas e mandaram-no para outro Estado o qual
desconheço, que alívio para nós não termos um inimigo em casa.

O PROVÁVEL DISCO VOADOR

-Certo dia estávamos jogando bola na esquina do Colégio de São José com
Avenida Moreira Lima, quando de repente ficamos ofuscados por um brilho de metal.
Era um objeto voador parecido com um prato, metálico, depois tomava a forma de um
charuto e todos os presentes que observaram aquele objeto, viram que ele ficava algum
tempo parado no ar, depois se movimentava com rapidez até que de repente desapareceu
com uma velocidade vertiginosa. Achamos na época que era um disco voador, não me
deixando mentir, Paulo Pontes, André Pontes, e outros colegas que moravam na Rua
Fernandes de Barros, conhecida por Rua da Floresta. Várias pessoas em Maceió viram
tal objeto voador. Por safadeza, um membro da família Becker que tinha um foto do
mesmo nome, na Rua Barão de Penedo, fez uma montagem e a publicou nos jornais da
época. Ele amarrou um lençol branco de uma parede à outra e colocou um prato por trás
do lençol, oposto a um refletor que dava um efeito parecido com um disco voador e
publicou, quando na realidade ele não havia presenciado tal objeto como nós
presenciamos.

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXV

AS FRUTAS

-Lá em casa havia um sapotizeiro que dava frutos de até um quilograma, os


quais chamávamos de, ao invés de sapoti, sapota. Eu tinha a mania de tirar as sapotas
antes de maduras, de vez, e, coloca-las em uma lata de biscoitos cream-craker, depois de
tampada, enterrava a lata no quintal de casa, dias depois ia verificar se elas estavam
maduras. Quando maduras, tirava umas para chupar e, as outras, levava para o Colégio
Diocesano, onde estudava, para troca-las por lanches ou vende-las. Geralmente era com
um colega por nome de André Sinclair Simões, cujo apelido era “André Sem Pé e Sem
Mão”, filho do Dr. Simões, que tinha um laboratório de análises clínicas na Rua da
Praia. Um dia a minha fonte de renda secou, pois, todos os anos a minha madrasta
mandava podar a árvore e nesse dia quando o homem fora subir, o filho de minha irmã
adotiva, da Celestina, o Carlos Valnei que era ainda uma criança, disse para o homem:

-Home vece vai sibi, vece vai merre!

-O homem ficou com medo de subir na árvore e disse o, porque:

-A boca de uma criança era abençoada e que não iria mais subir!

-Deu muito trabalho para convencê-lo, e ele subiu e a podou, nunca mais a
árvore deu frutos que prestassem!

-Quem também tinha frutos gostosos era o Dr. Armando Montenegro, sogro do
atual desembargador Alcides Gusmão, pois, em sua casa havia um pé de abacateiro que
dava abacates enormes, sempre trocávamos sapotas por abacates.

107
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXVI

INÍCIO DA DITADURA DE 1964

-Em 1964 estourou a Ditadura no Brasil, eu tinha muitos colegas de vários


colégios e fora incitado a comparecer aos protestos, e um deles fora junto ao Edifício
Breda. Quando estava no auge do protesto, eis que de repente, apareceu um carro de
bombeiros daqueles que serve para apagar incêndios e, uma tropa de choque da polícia
militar. Os bombeiros acionaram o carro tanque e da sua mangueira saiu um jato muito
forte que nos derrubava e ao mesmo tempo, a polícia nos arremessava bombas de gás
lacrimogênio, cujo efeito era como se estivessem enfiando agulhas em nossos olhos e a
respiração ficava difícil, além dos cassetetes tamanho família, tanto de borracha como
de madeira. Pensei:

-Isso não dá para mim, é pura besteira enfrentar a polícia!

-Não fora por covardia, pois, chegara à conclusão de que os mandantes para
enfrentar a polícia não ficavam a frente e sim por trás, os verdadeiros covardes eram
eles e não nós, inclusive não sabíamos ao certo o por quê daquele ato de enfrentamento.
Havia naquela época uma verdadeira lavagem cerebral nos estudantes, que acarretou
muitas prisões e mortes, como até hoje existe. Nunca mais participei daqueles
enfrentamentos!

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REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXVII

OS TROTES DOS ESTUDANTES CALOUROS

-Quando ainda adolescente e na época da Ditadura, gostava de assistir aos trotes


de calouros das universidades de Maceió. Os estudantes, em passeata, portavam cartazes
criticando o governo ou instituições sociais e pessoas. Em um deles, lembro-me bem,
foi o da UFAL, e em um dos cartazes dizia:

-“É no jardim do Socyte onde florescem as trepadeiras”

-Havia um gay por nome de Sandoval Duarte, ele era baiano e artista plástico, e
o prefeito da época era o Sandoval Caju, e em outro cartaz:

- “Sandoval Caju tem pinta de louco e Sandoval Duarte é louco por pinta”

-Eram assim os trotes das Universidades. Naquela época existiam as faculdades


da UFAL, Ciências Médicas, Economia e Filosofia do Padre Teófilo de Barros.

109
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXVIII

A DANÇA DA ÉPOCA

-Ainda na adolescência surgira à febre do Twister, dança americana que tomou


conta da cidade de Maceió. Todos os jovens queriam aprender tal ritmo. Ensaiávamos
muito, geralmente na casa de meu amigo Solon Brasil, hoje professor da UFAL. Seu pai
era médico, mas, era uma pessoa moderna e nos permitia ensaiarmos em sua residência.
Ele morava na Rua Joaquim Távora, antiga Rua da Alegria. Confesso que não aprendi
bem o ritmo, pois, o mesmo requeria acrobacias as quais eu não me adaptava bem.
Havia uma turma que ensaiava na Rua Pedro Monteiro, era uma turma de meninos da
classe alta e executavam com maestria a dança.

LANÇANDO MODA

-Havia na Rua Nova, hoje Barão de Penedo, de esquina com a Rua Joaquim
Távora, uma loja que vendia botas de vaqueiros, selas, arreios etc. Um dia eu passando
por lá, avistei uma bota feita de couro cru e pintada de amarelo, era um amarelo muito
chamativo. Não tive dúvida, comprei a tal bota, calcei e fui desfilar na Rua do Comércio
em Maceió. Por onde eu passava levava uma vaia daquelas por intermédio de meus
colegas. Porém, uma semana depois, alguns perguntaram a onde eu a comprei e em
poucos dias, todos estavam usando o mesmo tipo de bota.

A PESSOA POR NOME DE CELITE

-Não vou citar nome, porém, aconteceu um fato perigoso e ao mesmo tempo
engraçado. Um dia eu estava em frente ao Colégio Sacramento no Farol, quando me
encontrei com uns colegas que me disseram:

- Alde, um cara disse que você.....!

- Disse-lhes que aquilo era um trote e que fossem pegar uma outra pessoa!

-De repente, surgia na esquina do Parque Gonçalves Ledo, com a rua do Colégio
Sacramento, um amigo nosso, que era conhecido como pessoa que tinha o pavio curto e
eles, disseram:

-Alde, faça a mesma pegadinha com fulano que vem ali!

-E eu fui ao seu encontro! - E disse:

110
-Fulano é verdade o que estão comentando de você?

-Ele quis saber o que era e eu contei o que estava acontecendo!

-Fulano, dizem que tem um cara que anda falando de você. Diz ele que você
arriou as calças, sentou-se no colo dele e ainda ficou pegando em sua orelha, isso é
verdade?

-O fulano ficou bravo e disse que era mentira!- Em seguida eu disse:

-Então pergunte a turma se não é verdade!

-O fulano quando ia se aproximando da turma, os colegas foram logo


perguntando:

-É verdade mesmo o que aquele rapaz anda dizendo de você?

-O fulano ficou de todas as cores e quis saber quem era aquela pessoa que
andava falando dele!

-Dissemos que o nome dele era CELITE e que trabalhava na Loja São Luiz na
Rua do Comércio! - E ele disse:

-Hoje à tarde eu vou falar com esse cara e ver se ele tem coragem de me dizer
tudo isso!

-Eram umas 16:00 horas quando nós estávamos na Rua do Comércio encostados
nas paredes da Loja do Murilo Lopes, “A Tartaruga”, cuja loja o senhor Murilo sempre
colocava graxa nas paredes que era para sujar nossas roupas, pois, sempre empatávamos
a entrada dos clientes na loja, quando chegou o nosso amigo. Ele quando chegou fora
direto para a Loja São Luiz que ficava em frente. Aquela loja vendia materiais de
construção e notamos que por baixo da camisa, havia certo volume, depois ficamos
sabendo que era o revolver de seu pai, que era advogado.

-Quando entrou na loja foi logo gritando:

-Quem é o safado por nome de CELITE? Onde está esse cabra safado e covarde?

-O gerente da loja veio ao seu encontro e perguntou o que estava acontecendo e


ele contou o porquê de estar ali!

- Foi quando o gerente lhe dissera que era uma safadeza de algum amigo dele,
pois CELITE era a nova marca de um vaso sanitário e, quando disseram que ele pegava
na orelha do CELITE, queriam dizer que era na cordinha da descarga!

-O nosso amigo passou vários meses sem falar comigo e com os demais colegas.
Ele nessa época era aluno do Colégio Marista de Maceió e hoje é um dos famosos
advogados de Alagoas, meu amigo e de uma respeitável família.

111
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XXXIX

MORANDO EM ARAPIRACA

A RECEPÇÃO

-Quando ainda trabalhava no Clube Fênix Alagoana e na Imprensa Oficial,


recebi um telegrama do Banco do Estado de Alagoas, fora chamado para assumir um
cargo de escriturário “A” em virtude de haver passado em um concurso. Adeus trabalho
da Fênix e da Imprensa Oficial.

-Era uma sexta-feira quando viajei para Arapiraca, um dos municípios de


Alagoas. Chegando lá, fora recebido na agência do ônibus pelo meu colega de longa
data, o José Cícero Sarmento Bezerra, que estava me esperando para levar-me até a
república do banco, pois, fora encarregado pelo gerente em receber-me.

-Depois de instalado, devidamente de banho tomado e de roupa trocada, o


Sarmento disse que eu fosse conhecer a cidade, porém, sozinho, pois, ele tinha um
compromisso!

-Fui até a Praça Marques da Silva e fiquei em frente a uma loja que depois viera
saber que era de um senhor da família Mota, pai do Radjalma, um conhecido de meu
irmão Antonio Carlos. Aquela loja vendia bolsas de viagens, carteiras de porta-cédulas,
cinturões e outros apetrechos. Eu sempre fui fissurado por porta-cédulas. Estava
distraído, e, quando me dei conta, estava cercado por uma dúzia de rapazes, entre eles
havia um que falou:

-Esses caras vêm de Maceió para perturbar a nossa paz e tomar nossas
namoradas, pois, as meninas são loucas por bancários, merece uma pisa e vamos dar!

-Era óbvio que era comigo, pois, além de vir de Maceió, viera trabalhar no
Banco do Estado. Não teve argumento que o demovesse de seu intento em aplicar-me
uma pisa. De repente, ouviu-se uma voz que dizia:

-Se baterem em meu amigo Alde, vão bater, também, em mim!

-Era um colega que conheci em Maceió quando nas minhas tardes frequentava o
comércio para assistir as passagens das meninas dos colégios e conversar com os
amigos, encostados em carros, que nós denominávamos “limpar carros” e às vezes,

112
encostados na parede da Loja “Tartaruga” do senhor Murilo Lopes. Era o Benjamin,
filho de um homem com o mesmo nome que, mais tarde, viera a saber, que possuía uma
loja de defensivos agrícolas. Não tiveram coragem de enfrentar o Benjamim, foram
embora.

-Após me despedir de Benjamin, empreendi uma caminhada pela Avenida Rio


Branco já que estava no começo dela, e fui chegar a um bairro por nome Cacimbas. Lá
estava sendo realizada uma festa joanina em uma das casas que ficava vizinha a uma
igreja. O dono da casa, o qual mais tarde viera a ser meu amigo, o nome dele era Pedro,
sem mesmo me conhecer, mandou que entrasse. Lá para as tantas, fiz amizade com um
rapaz e o mesmo me convidou para ir até um município vizinho chamado de Lagoa da
Canoa, para outra festa. Dizia ele que o prefeito daquela cidade era seu tio e que ele
possuía um jeep, fiquei com receio, pois, o episódio anterior lá na praça havia me aberto
os olhos. Mesmo, assim, fui!

-A estrada era de areia e possuía muitas curvas, algum tempo depois, chegamos,
e a respeito de o prefeito ser seu tio, era verdade. A festa se desenrolava em um grande
armazém. Bebemos, comemos e dançamos com as moças que lá se encontravam.

PRIMEIRAS DESPESAS

-No dia seguinte, Sarmento disse-me:

-Vamos até o comércio comprar um guarda-roupas para você!

-Retruquei que não possuía dinheiro para aquilo, pois, ainda não havia nem
começado a trabalhar e somente receberia o salário após um mês de trabalho!

-Porém ele contra-argumentou!

-Eu quebro o galho!

-Chegamos a Rua do Comercio em uma loja a qual os donos eram portugueses,


um deles chamava-se Francisco. Eram conhecidos por Irmãos Redondos. A loja estava
repleta de moças, pois tal loja vendia tecidos e era época das festas joaninas. Sarmento
assim que entrou, eu vinha um pouco atrás, foi logo dizendo:

-Seu Francisco, o senhor poderia me vender um guarda-roupas, desses bem


grande, para o meu amigo aqui!

-Seu Francisco fez um ar-de-riso e mandou um empregado busca-lo!

-As moças ficaram curiosas, pois, não sabiam que os Irmãos Redondos vendiam
móveis. Qual não fora a surpresa de todos os presentes, o empregado veio trazendo um
caixão de madeira, enorme, e o Sarmento disse:

- Pronto, eis aqui o seu guarda-roupas, lá na republica somente existe desses!

113
-As moças começaram a ri e eu fiquei de cara no chão, envergonhado. Sarmento
pediu que o ajudasse a carrega-lo, fiz o que ele pediu, mas, com uma vergonha danada,
sem olhar nos olhos das moças e sem olhar para trás.

A APRESENTAÇÃO

-Na segunda-feira, fora apresentado aos demais funcionários. O gerente


chamava-se Gilson e o subgerente Edson Agra, eu já os conhecia, pois, tinham sido
meus vizinhos na Rua Fernandes de Barros, antiga Rua da Floresta. Inclusive, uma das
irmãs do subgerente tinha sido minha namorada. Outro funcionário o Aécio Flávio,
estudamos juntos para o concurso do banco. Havia o Arlindo conhecido por “Cachorro
do Coronel” porque o cara fuxicava muito, tudo ele contava ao gerente e ao subgerente.
Outro era o Reinaldo Carvalho “O boca suja”, só falava palavrões. Existia, também, o
Beda, pessoa muito inteligente. O Vicente, o Ronaldo, O Chico Tenório que era o
adjunto de subgerente, o Ednaldo e outros.

-Fui trabalhar no setor de contas corrente. O meu trabalho consistia em conferir


as assinaturas nos cheques, expedir talonários, dar baixa nas contas dos clientes e
acrescentar os depósitos efetuados, formando novos saldos em suas contas correntes.
Trabalhava das 07h20min até as 13h00min horas e, à tarde, depois de uma boa soneca,
retornava ao banco para fazer os espelhos de caixa e extra Caixa e confeccionar o
balancete diário.

A PRIMEIRA NAMORADA EM ARAPIRACA

-Uma noite ao caminhar pelo segundo trecho da Avenida Rio Branco, avenida
principal da cidade, pois, lá se localizava o Clube dos Fumicultores, dei de cara com
uma linda garota, tinha duas barroquinhas, uma em cada canto da boca, olhos verdes,
enfim, uma boneca, parecia à atriz de hoje chamada de Ana Paula Arósio. Fiquei
encantado e, como não gostava de perder tempo, principalmente no que se tratava do
coração, disse que a queria como namorada, porém, ela alegara que era muito nova só
trinta treze anos de idade. Nessa época eu tinha vinte e um, oito anos mais velho do que
ela. Mesmo assim, ficamos namorando as escondidas.

-Chegou a festa de São João, eu não era sócio do Clube dos Fumicultores, mas
recebi um convite para ir ao baile. Lá chegando, tratei de tirar a minha namorada para
dançar. Foi muito engraçado, sua mãe dissera que ela não dançava e que era muito nova.
Mesmo assim, insisti e ela desobedecendo à mãe, foi dançar comigo. Dias depois me
apresentei à mãe dela e pedi consentimento para namorar, consentiu, mas com reservas
e um pé atrás.

-Chegara à festa de São Pedro, e em Arapiraca, naquele tempo, havia uma


tradição, somente os homens iam à festa lá no bairro do Baixão. Todos podiam dançar
com qualquer moça, inclusive as empregadas domésticas de suas próprias casas. As
mulheres casadas, as namoradas e noivas, ficavam em casa. Dancei um bocado com a

114
empregada de minha namorada. Tradição é tradição. No outro dia foi o maior
comentário na casa dela.

O CASAMENTO DO FRANCISCO “O CHICO” E SUA PRIMA

-Um mês da minha chegada, fomos convidados para o casamento de nosso


colega de banco, o adjunto de subgerente, o Francisco Tenório, o “Chico” que era
natural de Viçosa, Alagoas. O casamento iria se consumar naquela cidade interiorana.
Locamos uma camioneta daquelas que possuíam dois bancos de tiras, pois, ela servia
para o transporte de feirantes, nas feiras de Arapiraca e Palmeira dos Índios. No dia do
casamento, era um dia de sábado, lá fomos nós. Como sempre, eu vomitava em
qualquer tipo de transporte, carros, ônibus, lanchas etc. Meu pai me ensinou que nessas
viagens eu deveria colocar uma folha de jornal, dobrada, por dentro da calça, no
umbigo, que não haveria ânsia de vômito. Às vezes funcionava outras não.

-Havia uma localidade conhecia como Estrada da Campina, pertencente ao


município de Maribondo, em direção ao de Cajueiro, uma serra que continha várias
curvas. Tínhamos que transpor essa serra até chegarmos a Cajueiro e depois em Viçosa,
lugar da festa.

-Ao chegarmos a Viçosa, eu já não tinha mais o que botar para fora, só se fosse
as tripas. Havia vomitado o percurso todo, com mais frequência nas curvas. Cheguei
doente. Havia uma propriedade dentro da cidade, apenas limitada com o centro por um
rio. Seria ali o casamento. Ao chegarmos, a filha do proprietário, que era prima do
noivo, veio nos receber e ao notar o meu enjoo fora buscar remédio. Não havia remédio
que desse jeito. Ela era muito educada e bonita. Ficamos trocando olhares apaixonados.

-Tinha sempre comigo o velho ditado:

“Caiu na rede é peixe”- Por isso marcamos de nos encontrar quando eu fosse à
Maceió!
-MJ, eram as iniciais da namorada de Arapiraca, já havia dançado e, as iniciais
da novata eram TT. Deixo de citar nomes em razão delas serem hoje mulheres casadas e
com filhos, todos beberam menos eu, lá para as tantas, a festa acabou e tratamos de
regressar a Arapiraca.

-De volta, tínhamos que enfrentar mais uma vez as tais curvas e, agora, era
somente decida, na ida somente subida. Os meus colegas estavam embriagados, fora
uma farra daquelas. Apenas eu não havia bebido, por isso, de repente a camioneta faltou
freio e eu, somente eu, via pela janelinha da cabine o motorista aperreado querendo
freiar o veículo sem conseguir. O motorista fizera as curvas utilizando o freio motor.

-Quando chegamos ao plano, estávamos já na Estrada da Campina e o motorista


resolveu que não poderia seguir viagem. Tivemos que locar outro transporte para
chegarmos ao nosso destino.

115
-Em parte, que festa horrível para mim!

-Quinze dias depois fui a Maceió, fiquei hospedado na casa de minha irmã
Clesia, que era casada com o viúvo da irmã do Dr. Aurino Malta. Depois do almoço,
telefonei para a TT em um telefone de uma transportadora que ficava próxima a
residência de minha irmã, pois, o gerente era nosso amigo.

-Marcamos um encontro na Praça Deodoro, ela estudava no Colégio de São


José, também, nas tardes de sábado. Nesse dia fomos ao cinema São Luiz. Ficamos por
cerca de três meses namorando, mas, tive que acabar o namoro, pois, a paixão pela de
Arapiraca era mais forte. TT era uma menina espetacular, inteligente e educada, tempos
depois soubera que ela havia passado no vestibular de medicina e, ao concluir o curso,
fora morar em São Paulo fundando uma clínica médica, é casada com um médico
alemão e possui filhos, sempre que me encontro com Chico eu pergunto por ela.

O JORNAL DA CIDADE

-Havia na cidade de Arapiraca, uma organização de jovens estudantes chamada


de CÂMARA JÚNIOR, era uma agremiação cultural da cidade. Um dia, eu estava
sonhando que urinava nas paredes de uma casa, quando senti aquilo quente, era o
começo da mijada e pulei de pronto da cama não necessariamente molhando-a, apenas
um pouco o pijama. Cai na besteira de contar a um colega de banco chamado Roberval,
ele era poeta e pertencia aquela agremiação cultural. Uma tarde eu estava à espera na
porta de casa, a minha namorada MJ, e ela vinha acompanhada de outras colegas, tentei
conversar com ela e ela rindo disse:

-Não tem vergonha não, uma cara desse tamanho fazendo dessas coisas!

-Fiquei sem saber!- foi quando ela respondeu:

-Leia o jornal da Câmara Junior desse mês!

-Adquiri um exemplar e quando olhei nas páginas sociais, o Roberval tinha feito
uma poesia comigo, mais ou menos nesses termos, pois esqueci as demais estrofes!

-O Alde Lael é um boy que chegou aqui agora......!

-Terminava assim:

-Ainda faz xixi na cama!

-Foi mais uma outra vergonha que passei, além a do guarda-roupas!

QUEM ERA ROBERVAL

-Roberval era filho de um professor do Colégio Nossa Senhora do Bom


Conselho, de Arapiraca, onde eu conclui o curso de Técnico em Contabilidade, fiz

116
apenas o último semestre, o nome dele era Lourenço de Almeida, contador rábula, pois,
não tinha o curso, era contador da empresa de energia elétrica de Arapiraca, pertencente
a um particular chamado Valdomiro Barbosa, irmão de Djacir Barbosa, médico em
Arapiraca, de Pedro Barbosa, pai de meus colegas Pedro, José Roberto, Heitor e Afra.
O Tal colégio era dirigido pelo professor Moacir Teófilo, pai de Rogério Teófilo, cujo
filho hoje é importante político daquela cidade e do nosso Estado de Alagoas.

-Certa vez, eu estava com Roberval tomando umas cervejas em um barzinho


localizado em frente à Praça Marques da Silva, quando se aproximou de nós um
Andarilho, desses que colocam uma mochila nas costas e vai correr o mundo.

-Perguntou se Roberval gostava de poesia e literatura! Em resposta positiva


disse:

-Vamos fazer uma aposta de cerveja, como eu conheço todas as obras de poetas
brasileiros! Eu recito uma e você diz o autor e vice-versa!

-Foi um verdadeiro festival de cultura. Roberval recitava uma e o andarilho


respondia de quem era. O andarilho recitava e Roberval dizia de quem era, inclusive, até
de alguns autores estrangeiros. Assim passamos mais de três horas naquela peleja e
nenhum dos dois perdeu. Roberval era um rapaz de muita cultura, mas, bebia muito.

O HOTEL LOPES

-Quando morei na primeira republica do banco, nos fazíamos às refeições no


Hotel Lopes de dona Maria Lopes. A turma do banco não dispensava uma brincadeira.
Às vezes o feijão vinha boiando d’água e se pedia um calção, e dona Maria perguntava:

- Para que o senhor quer um calção?

- A pessoa respondia:

-Para mergulhar para achar o feijão!

- Doutra feita, pedia-se um pente.

- Para que o senhor quer um pente?- perguntava a dona Maria.

-E como resposta:

- Para pentear o feijão que esta cheio de cabelo!

-As vezes havia um descuido das empregadas da cozinha e vinha sim, um


cabelo.

117
O COZINHEIRO

-Certo dia, recebemos a notícia de que o banco não mais ia financiar os almoços
e jantares no Hotel Lopes, pois estava ficando muito caro. Nessa época eu ganhava mal,
era Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros) mais a ajuda de custo da alimentação. O
banco resolveu nos dá uma ajuda de custo, porém, nos teríamos que fazer a nossa
própria compra de mantimentos e cozinhar em casa. Contratamos um rapaz, nós
desconfiávamos que fosse afeminado. Não tinha feijão e arroz que desse vencimento,
pois, faltavam com frequência, não sabíamos como isso acontecia. Meses depois,
descobrimos que ele ficava cantando lá no quintal da casa e queimava o feijão e o arroz,
por isso que sempre faltavam esses produtos, e, além do mais, jogava dentro da cisterna,
pois, na república não havia água encanada e tomávamos banho de cacimba. Sempre
que abríamos a cisterna, saia uma nuvem de mosquitos.

-Ele tinha um problema na voz, sempre me chamava de branquinho. Tudo dele


era:

- De quem é essa xícara, é do bran..quinho?

–A minha mãe, quando comprei umas cuecas, mascou-as com as minhas iniciais
“A e L”, quando o empregado viu aquilo inserido na cueca perguntou ao Sarmento:

-De quem é aquela ueca que tem um A e um Leme- trocava o L por Leme e
engolia as letras.

-Ele era muito inteligente, no carnaval de 1966 ele fizera uma fantasia. Fez uma
fantasia de soldado romano. Era escritinho um deles. Fez uma túnica e um saiote
colorido, de fazenda de cetim, pegou uma cuia de queijo- do- reino soldou uma lata de
óleo de cozinha sobre a cuia e adicionou um espanador vermelho dentro desse tipo de
chapéu, ficou sem tirar nem por um soldado romano. Mesmo com toda aquela
inteligência, tivemos que dispensá-lo, pois, o mesmo nos dava muitos prejuízos em
comidas queimadas e quebra de louças. Contratamos uma mulher que tinha uma filha
pequena.

-Antes de dispensarmos o empregado, aconteceu um fato interessante e absurdo,


envolvendo-me e o Reinaldo Carvalho. Eu havia comprado uma xicara colorida e o
Reinaldo achando-a bonita comprara igual, sob os meus protestos. Certo dia apareceu
uma das xicaras sem uma asa, e o Reinaldo disse que aquela era a minha, não fiz
questão, fiquei com a quebrada. Uma manhã nos estávamos tomando o café e quase no
horário do banco, quando eu fui pegar a minha xicara e o Reinaldo estava com ela,
disse-lhe que ele pega-se a dele, pois, eu não sabia que o empregado havia quebrado a
do Reinaldo, e o Renaldo disse que a de asa quebrada era a sua e que o empregado havia
quebrado a minha. Começou aquela acalorada discussão. Aécio Flávio de Brito estava
tomando café já em pé em virtude do horário e disse:

118
- Vão brigar para lá!

- Todos os meus colegas nos deram as costas, trancaram a casa com chave e nos
deixaram presos, brigando. Murro para cá, murro para lá, o fato é que cansamos e, com
as nossas camisas branca, de mangas compridas, meladas de sangue, e já cansados de
brigar, fomos, um ao lado do outro, puxar água da cacimba para nos lavarmos e,
tivemos de trocar de camisa. Quando chegamos ao banco, o primeiro bê-á-bá foi
comparecer à presença do gerente Gilson para recebermos uma reprimenda, e ele nos
alertou:

- Se de outra vez acontecesse tal situação ele pediria nossa demissão!

-Prometemos não fazer mais!

-O Sarmento ao chegar ao banco foi nos cabuetar como era o costume dele!

O ANIVERSÁRIO DE REINALDO E O USO COLETIVO DE COISAS.

-Nessa mesma república, por ocasião do aniversário de Reinaldo Carvalho, o


Sarmento que conhecia vários comerciantes, pediu emprestados uma eletrola e alguns
discos. Convidamos rapazes e moças da cidade. Quando terminou o aniversário, o
Sarmento não devolveu por um longo tempo, a eletrola, e todos os dias nós
colocávamos as mesmas músicas a ponto dos vizinhos fazerem queixa junto ao gerente
do banco. Sarmento devolveu a eletrola.

-Quando havia bailes no Clube dos Fumicultores, não perdíamos por nada desse
mundo. Os perfumes da época eram, em sua maioria, da Avon, como Toque de Amor, o
famoso Lancaster e outros, e não sei se a grafia é essa, mais lá vai assim mesmo, da
Helena Rubinstein. Minha mãe havia me presenteado com um perfume chamado
“Dance Du Fuego”, Dança do Fogo, e os meus colegas estavam sem perfume. Todos
nós colocamos o mesmo. À medida que íamos dançando com as meninas, elas
perguntavam:

- Porque vocês têm o mesmo cheiro?

- Era muito engraçado. Às vezes faltava um par de meias para um dos meninos e
eles usavam o do outro e advertia:

- Se contar que são suas eu as rasgo!

- Era lei do cão!

- Quem gostava de dizer isso era o Aécio Flávio de Brito, que mais tarde
tornara-se Juiz de Direito no Estado de Alagoas.

A CRIAÇÃO DO CLUBE DOS BANCÁRIOS E UMAS DO SARMENTO.

119
-O Clube dos Fumicultores era muito restrito as pessoas da cidade e, nos
resolvemos criar o nosso próprio. Reuniram-se representantes de vários bancos, pois, já
naquela época existiam sete agências bancárias. Qual a sigla a ser criada, pensou-se:

-ABA- ASSOCIAÇÃO BANCÁRIOS ARAPIRACA!

-O nome pegou e criou-se. O prédio era de esquina, ficava colado com o Banco
do Nordeste, à frente para a Rua do Comércio e a lateral para uma rua onde
funcionavam vários bancos como: Brasil, Econômico e Banco do Estado de Alagoas.
Seu primeiro presidente foi o nosso gerente Gilson, o diretor social foi indicado o José
Cícero Sarmento Bezerra, o nosso colega Sarmento. Quem tomava conta era um homem
conhecido por “Cabeleira” por ter uma cabeleira penteada para trás e cheia de
brilhantina.

-Certo dia fora anunciado uma contenda de Judô com um professor de Recife, o
qual professor saiu a pedir de firma em firma uma ajuda para o espetáculo. Conseguiu
alguns colchões de capim e uma lona para cobri-los, imitando um tatame. O tatame fora
armado no Clube dos Bancários e no outro dia à noite, seria o espetáculo. No dia
anterior, uma sexta-feira, todos nós estávamos trabalhando o dia todo para fecharmos o
balanço semestral da agência, para o mesmo ser enviado a agência central, a ser
incorporado ao balanço geral de todas as agências. Nessa época, havia as agências de
Arapiraca, Palmeira dos Índios, Rio Largo, salvo engano, outras agências. Mas, naquela
sexta-feira, estava marcado um baile na ABA, e a atração principal era a Orquestra
Românticos de Cuba, uma orquestra internacional das melhores. Era mais ou menos
nove horas da noite, nessa época o Sarmento trabalhava na tesouraria e ele em poucos
minutos havia fechado a sua carteira, pois, o saldo da tesouraria estava correto, sendo
assim, ele fora para o baile. As Contas Correntes estavam dando uma diferença, cuja
diferença estava difícil de achar, pois existiam as Contas Populares, as Sem Limite, as
Especiais e as Públicas. Cada um de nós, exceto o Sarmento, ficou com uma parcela das
fichas para ver, por que, o saldo geral, ou seja, a rubrica de contas correntes, ficha
sintética, não batia com as analíticas. Passamos uma boa parcela da madrugada nessa
lenga-lenga. Lá para as tantas, descobrimos que o Aécio vinha dormindo um bom tempo
com uma das fichas nas mãos e o acordamos, em um dado momento, ele gritou.

-Achei!

-Era a ficha da diferença. Aécio fora também para o baile, a onde se


encontravam os outros colegas das carteiras que havia fechado sem problemas, como,
cobrança, compensação, carteira agrícola, redesconto etc.

-Eu e o subgerente Edson, ficamos na Agência para confeccionarmos o balanço


geral. Naquela época havia uma máquina de datilografia de carro grande que pegava
várias vias de formulários de balanço, eu comecei a datilografar os itens que já vinham
impressos nos formulários, porém, errei por duas vezes e não poderia haver rasuras,

120
pois eu era um sofrível datilógrafo e o Edson era o contrario, um exímio datilógrafo,
mandou que eu fosse para casa descansar que ele datilografava.

-Enquanto nos estávamos trabalhando, ouvíamos os clarins da orquestra


vibrarem com aquelas músicas as quais nos gostávamos, sem podermos participar de tal
espetáculo, pois, quando ele mandou-me para casa, já era dia claro e o baile já havia
terminado.

-Depois que a ABA foi criada, o Cabeleira resolveu fornecer comida, e nós
comíamos no almoço e no jantar de segunda a sábado, e durante a noite, a ABA
funcionava como bar. Era mais ou menos umas treze horas do sábado, um dia após o
baile, e a noite haveria a luta de judô. Depois do almoço, como estava somente amigos
no clube, o Cabeleira mandou que eu descansa-se um pouco no tablado onde haveria a
luta. Nesse interim, o Sarmento ia chegando e como era o Diretor Social, achou que eu
estava errado em dormir em cima dos colchões como se fora a minha casa. E com um
dos pés, pisou um pouco a minha barriga e dizendo:

- Levante-se senão eu lhe piso com os pés!

-Eu retruquei:

-Sarmento me deixe dormir um pouco que não existe quase ninguém estranho no
recinto, e eu trabalhei a noite inteira enquanto você se divertia!

-Ele, em ato continuo, levantou um dos pés e tentou acertar a minha barriga com
toda a sua força. Entendendo a sua intenção, apoiei as duas mãos no solado de seu pé e
em um giro rápido o derrubei. Começou assim uma grande briga, na qual os presentes
tentaram apaziguar. Não houve jeito, o Sarmento estava possuído, talvez por uma
entidade maligna ou pelo efeito ainda do álcool. Não atendia a ninguém, inclusive ele
havia convidado um colega de União dos Palmares para passar o fim de semana na
republica do banco, o nome dele era Aloisio, hoje é um Procurador Estadual de
Alagoas, naquela época ele era da EMATER, um órgão do Governo Estadual. Coitado,
ao tentar acertar-me uma tapa, a mão fora parar no rosto do Aloísio. Douta feita tentou
me acertar com um cinzeiro, mas o mesmo fora parar na cabeça do Roberval. O
Sarmento estava tomado pelo ódio. Nessa época eu pesava uns quarenta e sete quilos e o
sarmento que era um pouco mais baixo do que eu, pesava uns oitenta quilos. Ele não
sabia lutar, entrava de vez e foi se dando mal, até que em uma das tentativas eu o peguei
pelos braços e coloquei os pés em sua barriga e fiz um movimento e, ele caiu com a
cabeça no chão.

-Os salões de festas dos clubes eram diferentes do da ABA, o normal era de que
o nível do salão fosse abaixo do nível onde se colocava as mesas, e, como era uma
adaptação, tivemos que colocar uma fileira de tijolos para separar o nível das mesas
com o do salão, pois, quando íamos dançar, tínhamos que pular aquele murinho de
tijolos, e fora exatamente alí que o Sarmento bateu com a cabeça, mas, não houve

121
danos, ele ficou por um bom tempo imóvel e o Cabeleira mandou-me para casa. “A luta
de judô começara antes do previsto”.

-Sai dali e fui para casa pensando, se realmente era aconselhável eu ir para a
republica, pois, o Sarmento era muito vingativo e estava com raiva de mim. Assim
mesmo, fui, porém, quando cheguei às imediações da Igreja Católica que havia no
Comercio, ouvi em minhas costas umas pisadas e encostei-me a um poste de ferro da
iluminação pública, era o Sarmento que vinha em desembalada carreira, e, do jeito que
chegou, fora logo me deferindo um potente soco, mas, eu me esquivei e ele bateu o
punho no poste e ficou gritando de dor. Nesse interim, eu fui à casa do Gilson, o
gerente, encontrei-o já de partida para Maceió, já havia ligado o motor da camioneta e
eu o fiz parar. Contei-lhe o acontecido, mas, ele era muito amigo de Sarmento e não
acreditou e, disse:

-Você prometeu não brigar mais e se isso acontecesse eu poderia solicitar o seu
desligamento do banco, não foi?

-Respondi-lhe que sim, e era por isso mesmo que não havia brigado, somente me
defendido dos golpes do Sarmento!

-Nesse momento lá vem o Sarmento a toda, querendo brigar comigo. O Gilson


que era um sujeito muito forte e tinha uma boa estatura, segurou, há muito custo, o
Sarmento, dizendo-lhe:

-Está louco, fique calmo, não estou lhe reconhecendo!

-Foi quando ele se acalmou e o Gilson foi até ao clube ABA tomar os
depoimentos dos presentes. Lá no clube ficou inteirado de todo o acontecido e o
Sarmento foi após uma reunião da Diretoria, deposto do cargo de Diretor Social e
proibido de frequentar a ABA pelo prazo de três meses, mesmo para fazer as refeições.

-Sarmento sempre fora afobado, contaram-me que quando ele chegou à cidade,
poucos meses depois, ele estava jogando baralho nas dependências de uma torrefação
dos filhos do senhor Mota e, em uma pequena discursão, um dos presentes chamou-o de
pederasta, hoje Gay, e ele quebrou uma garrafa de cerveja ainda cheia, na cabeça da
pessoa, ferindo-a, houve muito sangue, quem abafou o caso para não ir parar na polícia
e o Sarmento não ser processado por agressão, fora o Deputado Alonso de Abreu
Pereira, pai de um amigo nosso conhecido por Jota.

-Doutra feita, havia na cidade um rapaz apaixonado pelo Sarmento, e geralmente


nas festas de rua, havia, naquela época, uma barraca para telegramas, que consistia
assim:

-Fulano ou fulana você é a pessoa que mais brilha nessa festa, assinado você já
sabe! - e outros telegramas.

122
-Todos na festa ouviam, pois eles eram através de microfone e alto-falantes. Um
desses, pelo teor, fora passado, desconfiou o Sarmento de que fora aquele rapaz
delicado que o passara. O sarmento não teve dúvida, o procurou durante a festa do
padroeiro, cuja festa era comemorada durante nove noites. Encontrou o dito cujo.
Naquela época a população de Arapiraca era mais ou menos trinta mil pessoas e o
Sarmento fez o pobre desfilar de mãos dadas com ele pela festa toda, senão ele levaria
uma pisa daquelas. Desfilou sob os risos dos presentes e o Sarmento na maior cara de
pau não estava nem ai para os comentários. Era uma pessoa difícil. Sarmento no futuro
tornara-se Advogado.

A HIPNOSE DO DOUTOR

-O doutor Djacir Barbosa era dono da Casa de Saúde Afra Barbosa, o nome era
em homenagem à senhora sua mãe. Era médico ginecologista, tinha o hábito de
hipnotizar as pessoas, inclusive, contam, substituindo a anestesia. Certa feita, quando a
república situava-se na mesma rua da clínica, ele reuniu: Eu, Sarmento e Reinaldo
Carvalho. Dos três, apenas o Reinaldo ficou sob o efeito da hipnose. O doutor mandava
o Reinaldo tocar violino, gritar, relinchar, enfim, fazer várias coisas e ele não se dava
conta de que estava sob o efeito da hipnose. Quando recebeu ordem para acordar, não
acreditou nos relatos daquilo que ele fora submetido.

O CORRENTISTA FANTASMA

-Eu quando comecei a trabalhar no banco, sempre tive a curiosidade de saber


quem era o correntista por nome de Antonio Rodrigues que mantinha muito dinheiro em
sua conta, sem precisar sacar nem um vintém. Certo dia, era o dia de segunda-feira,
todas as segundas era realmente o dia de feira em Arapiraca. Chegou um senhor e
debruçou-se no balcão no setor de contas correntes. A sua indumentária era precária,
pois a camisa estava um pouco rasgada na altura do bolso, suja de lama ou de outra
coisa que até aquele momento não sabíamos o que era, barba por fazer e, ele chamou
um colega nosso, era o Beda.

- Ei rapaz, quero falar com o senhor!

-E o Beda:

- Esmola é somente no caixa!

-O banco reservava certa quantia para dar esmola e era no caixa que os pobres
recebiam. O homem permaneceu no mesmo lugar e de novo.

-Rapaz, quero falar com o senhor!

-Beda, já irritado, respondeu bem alto!

-Eu já não lhe disse que esmola é somente no caixa!

123
-O senhor deu uma gostosa gargalhada e saiu em direção à gerência.

-O Beda quando viu aquilo ficara com receio e o porquê daquele senhor quase
maltrapilho ir falar com o gerente, e ele gritava:

-Gilson ou Gilson, que comedia!

-Após alguns minutos o Beda fora chamado a gerência. O Gilson perguntou-lhe:

- Sabe quem é esse senhor?

- E Beda – Não!

– Pois esse senhor é aquela pessoa que deixa mofando muito dinheiro em sua
conta sem mexer!

-Então o Beda perguntou.

- Quer dizer que eu vou ser demitido?

- O Gilson afirmou que sim!- Pois aquele senhor era considerado pela Direção
Geral como um dos melhores clientes-

-O senhor Antonio não deixou que isso acontecesse, pelo contrário, disse:

-Gilson! Eu estava sem talhão de cheques e um fio da peste queria, porque,


queria, receber um dinheiro, e, como eu não tinha quem viesse ao Banco buscar um
talhão, tive que vir do jeito que estou vestido, todo sujo de fumo, não puna o
funcionário, pois, eu ganhei o dia com ele, estava com raiva e ele me fez rir!

-Naquela época se uma pessoa não tivesse um talão de cheque no momento,


poderia escrever em um pedaço de papel o valor que queria pagar, o nome do
beneficiário e assinava, se a assinatura conferir-se, o banco pagava!

-Pouco tempo depois o galego Beda passara em um concurso da Petrobrás e


fora assumir um cargo.

A TRANFERÊNCIA DE FREITAS DIAS E A DESPEDIDA

O Arlindo conhecido por “Cachorro do Coronel”, já havia feito algumas provas


internas no banco, mas, sempre era reprovado em datilografia, pois, fora colocado lá por
político. Tudo que se passava no banco ele dizia:

- Vou contar ao Gilson!

- Ele era filho do chefe da Estação Ferroviária. Certo dia, o nosso colega Freitas
Dias, que hoje exerce a profissão de Advogado, fora transferido para a Agência Central
em Maceió. Ele exercia a função de caixa. Resolvemos fazer uma despedida. Como

124
sempre, o Sarmento saiu pedindo aos comerciantes bebidas e comidas para a despedida
de Freitas. Foi uma festança, houve até dança. Era uma sexta-feira e a festa rolou até o
sábado, até o dia clarear. No domingo, os familiares do Arlindo vieram procura-lo, não
sabíamos onde ele se encontrava. Na segunda-feira já no segundo horário, recebemos
um telefonema da Agência Central perguntando por que o Freitas não se apresentara.
Foi quando ficamos desconfiados de que alguma coisa acontecera aos dois, Freitas e
Arlindo. Procuramos por eles pela cidade, ninguém sabia de nada. Acontece, que nos
fundos da casa da república, existia um quartinho e quando lá chegamos, encontramos
aquela cena. O Arlindo e Freitas dormindo no mesmo colchão, os dois vomitados,
estavam em coma alcóolico, tiveram que tomar injeções de glicose.

O NOVO FUNCIONÁRIO CONHECIDO POR ESTORNO

-Para o lugar do Freitas, veio outro funcionário cujo nome era Moacir, o qual os
colegas da Agência Central o apelidaram de “Estorno”, porque, tudo que fazia
estornava. Eu tinha sido o encarregado de dar-lhe as boas vindas. Quando o ônibus da
Santanense chegou, exatamente às 18h30min, eu fiquei a perguntar quem era o Moacir,
e de repente, vi um rapaz que o conhecia de Maceió, das noites de domingo no “quem-
me-quer” da Praça Deodoro, era assim que era chamado o vai-e-vem dos rapazes e
moças aos domingos naquela praça. Ele disse:

- Sou eu, mas, vou ter que voltar para Maceió, pois, esqueci a minha maleta na
rodoviária!

-Começava assim o estorno, Moacir tinha que ser estornado para Maceió!

-Roberval, como acima descrevi, era um poeta de escol e fez uma poesia com o
Moacir, mais ou menos assim, pois não decorei todas as estrofes

“No ano de trinta e oito, no dia vinte de maio, uma parteira coitada quase
morre de um desmaio, e a sua assistente quando avistou a serpente, disse, valha-me
Maria, foi aquele corre-corre, o cara que ficar morre o “Pindaiba” do Poço
nascia”.

-Do Poço, porque, era lá em Maceió que ele morava.

AS PELADAS DE FUTEBOL

-Todas as tardes, nós, o gerente e colegas de outros bancos, íamos rachar, ou


seja, jogar bola em um campinho no bairro das Cacimbas. O Gilson, que era conhecido
por Gilsão, pois, além de ser alto, era gordo, não do tipo geleia e sim, tinha as pernas e
coxas muito grossas, que ninguém queria disputar uma bola com ele. Havia também os
torneios de futebol-de-salão, eu sempre me arrumava para jogar, mas, como dissera
antes, havia sempre uma rincha do Sarmento comigo, pois, nunca cheguei a ser
escalado, ficava sempre no banco. Nessa época, também, jogávamos pela manhã, mais

125
ou menos às cinco horas da matina em uma quadra existente no centro de Arapiraca,
salvo engano, era em um grupo. Além de nós, havia alguns Americanos que
trabalhavam para empresa Aliança para o Progresso, era uma campanha dos Estados
Unidos. Havia um por nome de David e algumas mulheres, tinha uma galeguinha
bonitinha. Eu sempre desconfiei de que eles fossem espiões americanos, que vieram ao
Brasil para colherem informações sobre economia, produção, população, educação, etc.
Havia um funcionário do Banco do Brasil que era meu conhecido, me dava muito bem
com ele, o pai dele era um dos maiores produtores de fumo de Arapiraca, a propriedade
dele ficava entre os bairros de Cacimbas e Baichão, o nome dele era Humberto, era
funcionário do Banco do Brasil, ele era muito amigo dos americanos, e sempre os
defendia dizendo que não eram espiões.

O HÉLVIO E AS ZABEINHAS

-Nesse mesmo horário, ou seja, aos sábados, o filho do Valdomiro Barbosa, que
era um dos homens ricos de Arapiraca, como dissera alhures, explorava a distribuição
de energia elétrica para o município de Arapiraca, o nome dele era Hélvio, chegava à
porta da casa da república e gritava:

-Zabeinhas vamos tomar mé!


-Aquele apelo era para tomar cachaça e o escolhido era o Aécio Flavio de Brito,
futuro juiz de direito. Hoje Hélvio mora em Maceió, formou-se em direito, não sei se
exerce a profissão.

DIA DE PESAR

-Um dia soubemos que houve uma verdadeira catástrofe, pois, morreram várias
moças de uma mesma família, se afogaram na praia do Pontal do Coruripe, Alagoas,
eram alunas do Colégio das Freiras. O enterro saiu de frente da casa de minha namorada
MJ. Um velório, salvo engano, com sete caixões da mesma família. Foi uma verdadeira
comoção.

NAMORO DESFEITO-NAMORO REATADO

-Eu antes da MJ acabar a primeira vez com o namoro, eu tinha dado como
presente a ela dois cortes de tecido, um da cor Amarela e outro da cor vermelha, salvo
engano, já que não entendo muito de tecidos, acho que era Ana Enruga, aquele tecido
cheio de furos como se fora crochê.

-Resolvi dar, também, uma aliança de compromisso, mas, antes tive que pedir a
opinião da Antonia, “Tonha” era a nossa fada-madrinha, sempre nos apoiava em tudo.
Ela, inclusive, deu sua sugestão. Comprei a aliança de compromisso, porém, pouco
tempo depois, o namoro acabou e eu a vendi para um colega de Maceió, o Daniel.
Quando renovei o namoro não quis comprar outra, inclusive, por não ter recebido o
valor da venda. Era festa de Emancipação Política de Arapiraca, dia 30 de outubro, a MJ

126
estava linda naquela farda, desfilando pelo Colégio de Bom Conselho. À noite, como
sempre, Tonha fizera a MJ sair para passear na festa que estava sendo realizada no
Bairro do Alto do Cruzeiro, marcou um lugar específico comigo para que eu me
aproximasse da antiga namorada, e com isso voltamos às boas. Ela estava muito linda,
havia mandado sua mãe, dona Maura, que era uma exímia costureira, fazer-lhe um belo
vestido com um dos tecidos que houvera lhe presenteado. Foi uma noite memorável,
pois consegui reatar o namoro com a MJ.

A INAUGURAÇÃO

-Construíram um mercado público novo e, várias pessoas ganharam um espaço.


O irmão da hoje Cronista Social Jacira Leão, minha dileta amiga, conseguiu um deles.
Houve a inauguração, era um bar, ou seja, um dos point da sociedade Arapiraquense. O
prefeito tinha criado mais um ponto de reunião dos amigos daquela cidade.

PESSOAS CONHECIDAS E ALGUNS AMIGOS

-Naquela cidade havia feito muitos amigos. Uma família que até hoje faz parte
do meu círculo de amizade é a Mendes Bezerra. José Mendes, médico, e Luiz Mendes
Agrônomo, são gémeos, Roberto Mendes engenheiro, Olga professora e outra irmã a
Maria, odontóloga. Naquela época eles eram loucos, principalmente José Mendes, em
passar em um concurso de algum banco, pois, era um dos melhores empregos, dizia-se
de futuro.

-Sempre que podíamos, eu, Sarmento, Reinaldo e Aécio, íamos para a casa do
médico Geraldo Cajueiro, boa pessoa, e quando estávamos lá ele gostava de tocar em
uma caixa de fósforos acompanhando as músicas as quais a gente tentava cantar. Ele
morava na Avenida Rio Branco em uma casa que tinha uma pontezinha no terraço
externo e, embaixo dela, era aonde ele criava uns peixes. Era uma boa pessoa, muito
animado e gostava de estar junto com os mais jovens.

-Nessa época, o Aécio namorava com a filha do deputado Claudionor, esposo de


dona Maria do Cartório. Quando o pai dela se aproximava, era aquele desgruda, lá vem
o papai. O pai dela nos respeitava muito, mais era um homem que gostava de farras. O
nome dela era Clea e no futuro casara com aquele rapaz que queria dar-me uma surra no
primeiro dia em que cheguei à cidade de Arapiraca. Uma vez, eu e um dos colegas do
banco, não me lembro quem, fomos a zona, zona era aonde os homens iam dançar,
beber e a procura de prostitutas. Era um dia de domingo. O deputado Claudionor tinha a
mania de mandar fechar as portas do cabaré e, quem estivesse fora não entrava e dentro
não saia. As bebidas e comidas eram por conta dele. Nesse dia, estávamos eu e um
colega, em um prostíbulo chamado “ALABÊ”, quando ele chegou acompanhado de um
irmão seu. Deu a fatídica ordem:

–Fecha tudo! Ninguém entra e ninguém sai!

127
-Foi obedecido!

-Eu por minha vez argumentei que era funcionário do banco da Produção! Mas,
ele disse:

– E eu com isso!

–Ficamos até sem querer beber com medo de na segunda-feira não


comparecermos ao trabalho. Era de tarde e passamos até a madrugada presos, até que
ele mandou nos liberar para não perdermos o emprego. Aprendemos a lição, quando
notávamos que ele estava chegando saíamos logo.

-Nunca mais!

MAIS UMA MUDANÇA DE REPÚBLICA

-Mais uma vez a república se mudou para outra rua, desta feita uma rua que
vinha da direção da praça onde se situava o correio à Avenida Rio Branco. Havia três
casas, duas delas conjugadas, a outra na esquina com a Avenida Rio Branco. A primeira
era a república, a segunda morava a irmã do proprietário delas, e a terceira, morava o
próprio, o senhor Geraldo Lyra, pai de Márcia que mais tarde tornara-se a proprietária
da Loja Água de Cheiro situada no shopping Maceió, em Maceió, Alagoas. Minha mãe
havia me presenteado com um ferro elétrico, e o tal ferro era ligado em um Benjamim,
ou seja, uma espécie de tomada onde existia um bocal para colocar lâmpadas. Quando o
ferro era ligado, e em um dado momento, ele produzia um circuito e faltava energia.

-O nosso subgerente Edson Agra, quando chegava chapado, ou seja, bêbado,


mandava sempre eu ligar o ferro dizendo:

- Alde! Ligue aquele seu famoso ferrinho!

-E quando eu ligava, ele dava o famoso circuito e todas as lâmpadas apagavam,


inclusive, das duas outras residências, pois a energia vinha da casa do senhor Geraldo
Lyra. Ele já estava com ar de doido, pois não sabia de onde vinha o defeito, quando
havia o circuito, ele mandava trocar o fusível. Naquela época não havia disjuntores. Era
uma brincadeira perversa!

-Edson Agra, nosso subgerente, fora transferido para Maceió e em seu lugar
viera o Benedito Lima, viera da carteira de Inspetoria. Benedito sempre foi uma pessoa
vaidosa, chegando até ser tachado de Narcisista. Sempre olhava para o espelho e dizia:

- Sou um homem bonito!

-Coisa de Narcisista! E de muita frescura!

128
-Quando chegou, se aliou, ou melhor, deu-se imediatamente com o Sarmento,
era Sarmento para cá, era Biu para lá. Nessa época eu já trabalhava nas carteiras de
cobrança e redescontos. Para a segunda, existia um relatório diário, o qual era
confeccionado e assinado por mim e assinado, inclusive, pelo Benedito.

-Existia um funcionário vindo de Maceió chamado de Valdir. Era um galeguinho


sarara. Nessa época, Valdir namorava com uma coroa que nós a chamávamos de velha
para a idade dele. Mas, ele era louco, ao que parece, por ela. Era muito velha e tinha os
peitos caídos, e nós dizíamos:

-Também, Valdir, você vai namorar com uma mulher que tem os peitos
parecendo umas ximbras dento de uma meia!

-Um belo dia, apareceu lá na república uma rã e nós pegamos a rã, a colocamos
em uma caixa pequena, embrulhamos a caixa em papel de presente, passamos uma fita e
botamos um cartão com uma dedicatória, sem dizer de quem era e colocamos na cama
do Valdir. Ao chegar do cinema, era um dia de Sexta-feira, tomou banho e, como
sempre, passou uma tonelada de brilhantina no cabelo e como era de costume, começou
a penteá-los para trás, ao encontrar a caixa em cima de sua cama, e, ao ler a dedicatória,
perguntara:

-Quem deixou?

-Dissemos que fora uma fã!

-Ele abriu a caixa e, para a sua surpresa, saltara tal rã sobre ele, foi aquele grito,
a rã começou a pular em cada dependência da casa!

-Pegamos a rã e a colocamos sobre a cabeceira da cama de Benedito Lima, o


nosso subgerente. Biu havia, também, chegado do cinema e fora se deitar, antes, de
dormir, fora ler uma revista, ele estava de trajes menores, ou seja, de cueca samba-
canção. De repente, a rã pulou sobre ele, ato contínuo deu um grande pulo e o Sarmento
saiu com a rã na mão tentando joga-la sobre ele, nesse momento Benedito abriu a porta
que dava para a rua e saiu de cueca até a praça que ficava em frente aos Correios e
Telégrafos. Na segunda-feira fizera uma reunião com todos nós nas dependências do
banco, alegando que não gostara da brincadeira, pois, o colocara ao ridículo e se alguma
pessoa da sociedade o houvesse visto correndo de cueca pelas ruas como ficaria a sua
imagem.

CUIDANDO DA MINHA TRANSFERÊNCIA

-Benedito chegara de Maceió no Domingo, trouxera o malote lá da agência


central e, na segunda-feira, quando eu confeccionei o relatório do redesconto, assinei e
passei-o a mesa do Benedito . A agência estava cheia, pois era dia de feira. Benedito
chamou o contínuo e a todo pulmão gritou:

129
-Entregue esse relatório àquele burro, pois, o mesmo está errado!

-Recebi o relatório e fui conferi-lo, nada estava errado, havia-o confeccionado


como sempre fazia. Foi quando descobri que Benedito havia recebido novas instruções
de como confeccioná-lo e não as passou para mim. As instruções tinham vindo no
malote de domingo que ele trouxera.

-Então eu gritei:

- Se eu sou burro, você é pior, porque, sempre o assinou juntamente comigo!

- Daí em diante o clima entre nós ficou difícil!

-Aproveitando que eu estava doente e precisando ir a Maceió fazer um exame,


para saber o por quê, daquela disenteria constante, resolvi falar com o vice-presidente
do Banco, mas, fora aconselhado por colegas que não deveria comparecer ao seu
escritório que ficava no Edifício Breda, pois, ele não gostava que assuntos do banco
fossem discutidos em seu escritório. Ele era advogado, senhor Carlos Ramiro Bastos,
excelente pessoa, nessa época ele morava no mesmo lado onde hoje se situa o
Supermercado Unicompras do Farol. Conhecia as suas filhas. Mesmo assim, fui.
Explanei os problemas que estavam acontecendo entre mim e Benedito e ele decidiu:

- Se o senhor não tiver nenhuma punição, nada constando em sua ficha funcional
que o desabone, vou decidir pela sua transferência para Maceió, mas, se houver algo
desabonador, eu o demito!

-Aceitei, e, menos de um mês, o gerente Gilson chegara de Maceió com uma


novidade, a de que eu seria transferido. Benedito não gostou e fez uma correspondência
para o Presidente do Banco, senhor Eurides Porangaba, que era muito amigo dele,
dizendo que não era conveniente transferir um problema de uma agência para outra, ou
seja, o problema era eu. Como resposta, o vice-presidente mandou-lhe dizer que eu teria
de viajar para Maceió e me apresentar na Agência Central no dia 12 de outubro, era o
ano de 1966. Assim, foi, fui transferido!

-A única coisa que me deixava triste era que teria de deixar o convívio de minha
namorada MJ, com a qual conversava todos os dias, quando a esperava na porta de casa
para ver sua passagem quando vinha da escola e à noite ia até a sua casa namorar um
pouquinho. Mas, para minha paz era melhor a transferência. Benedito tinha estudado
com o meu pai, português e matemática para concurso, mas, mesmo assim, não me
considerou.

OS COMÍCIOS

-Duas passagens, uma pitoresca e outra preocupante aconteceram em Arapiraca,


era o ano de 1965, tempo de eleições majoritárias. Um dos candidatos a governo de
Alagoas era o Muniz Falcão, irmão de Djalma Falcão e outros.

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-A passagem pitoresca e inusitada. Haveria um comício na Praça Marques da
Silva, cujo comício era patrocinado pela oposição a Muniz. A família Lúcio, tradicional
família política da região, e, um dos seus membros, havia convidado um deputado
federal para falar no comício, e assim ele se expressara:

- Povo de Arara!

- A turma presente, inclusive eu, o vaiava e ele repetia:

- Povo de Arara! Ararapi! Ararapi!

- E nós vaiando-o, e ele não se aguentando mais, dissera, por achar o nome
esquisito:

- Povo de Ararapica mesmo!

- O mundo viera abaixo, além das vaias, sorrisos. O tribuno era muito bom, pois,
por trás do palanque, não era um palanque armado, naquele tempo se fazia comícios em
cima de carrocerias de caminhões, estava passando um filme no cinema que ficava em
frente à praça, e o deputado no final do discurso concluiu dizendo:

- E OS CRIMINOSOS NÃO MERECEM PREMIOS!

- Era o título do filme, com os famosos artistas da época, Paul Newman, Edward
G. Robinson, Diane Baker, Micheline Presle e Elke Sommer, mais, Muniz nunca fora
criminoso!

-A passagem preocupante, fora a seguinte. Haveria um comício de Muniz Falcão


na Rua do Comércio, em frente à Loja Casas Narcisos, loja de tecidos. Nessa época eu
ainda estava namorando a MJ e fomos assistir ao comício. A rua estava repleta,
inclusive a polícia havia colocado um cavalete para empatar o trânsito de veículos.
Antes de o candidato Muniz chegar ao local, já havia um caminhão parado para servir
de palco do comício. De repente, jogaram uma bomba de tamanha proporção, de cima
do telhado da Loja Narcisos, bateu na grade da carroceria do caminhão e fora parar em
baixo dele, era enorme, e estava acesa, e, quando as pessoas viram o tal petardo,
começaram a correr, a desgraça estava feita. Eu fiquei escondido em uma saliência de
uma das lojas, mas, as pessoas tropeçavam umas nas outras, inclusive uma mulher
grávida se chocou com o cavalete e fora parar no chão. Ouviu-se um grande estampido
que ecoou por algumas quadras de Arapiraca. Após a correria, notei que o Muniz estava
sendo arrastado da casa do prefeito chamado de Higino Vital, proprietário de uma
farmácia e de uma padaria, que ficavam ao lado da igreja matriz, em um beco estreito
que mal dava para passar um veículo, por seus cunhados, Valter e Robson Mendes, pois
o mesmo estava apavorado, não queria mais discursar.

131
-Após o atentado, ficara espalhada na rua, uma quantidade imensa de calçados,
sapatos, sandálias e chinelos que deu para encher um balaio de colocar pães, cedido por
Higino Vital.

-Quem comandava a policia naquele tempo, em Arapiraca, era o Coronel


Monteiro. A polícia tentou descobrir o causador daquele atentado a bomba, mas não
conseguiu. Muniz havia ganho as eleições mais não atingira o coeficiente dos votos
exigidos na época, por esse motivo não tomara posse, inclusive o exército não deixara,
pois, anos antes, havia acontecido o seu impeachment, em cujo episódio que resultara na
morte de Humberto Mendes, seu sogro.

-Para o seu lugar fora escolhido no ano seguinte, precisamente no mês de


setembro, o Lamenha Filho.

-Assim encerra-se o ciclo de Arapiraca em minha vida!

132
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XL

DE VOLTA À MACEIÓ

-Ao chegar a Maceió, fui trabalhar naquilo que eu queria, naquelas máquinas
enormes, do tamanho de um birô, máquinas da marca, salvo engano a escrita é assim,
Burronghs, como Mecanógrafo. Meu chefe era o Nilson, esposo de uma conhecida
minha, a Salete. Trabalhava junto comigo: Nivaldo o “Vadinho” que mais tarde tornara-
se gerente de uma das agências do banco, Souto Maior que se tornara médico e
Helvécio, não sei em que ele se tornara no futuro.

-O Edson Agra estava prestes a ser gerente de uma nova agência, a de Santana
do Ipanema e me convidara para ser o novo adjunto de subgerente e eu não aceitei. Ele
passou mais de três meses me chamando, não quis voltar para interior e, em meu lugar,
fora o Freitas Dias que certo tempo depois, se tornara gerente de uma das agências em
Alagoas.

-De quinze em quinze dias, eu ia a Arapiraca, visitar a minha namorada, mas,


para isso, era preciso que eu na sexta-feira trabalhasse dobrado, ou seja, a noite, além
de trabalhar por mim, fazia o trabalho de Helvécio e do Souto e deixava já em ponto de
bala, arrumada, a documentação para que os outros funcionários do setor trabalhassem
na segunda-feira. Viajava no Sábado pela manhã e só voltava na segunda-feira, quase na
hora do almoço.

-Em 1967, precisamente no mês de junho, como tinha duas férias vencidas, tirei
uma delas e fui passa-las no Recife, e de posse de uma carta de apresentação feita por
meu pai, procurei o Dr Lincoln Cavalcante, Irmão do Governador Luiz Cavalcante,
para ver se ele me arranjava um emprego na SUDENE, pois, ele era o Superintendente.
Não logrei êxito, pois, ele disse gostar demais de meu pai, mas, além de não haver vaga,
tinha que ser através de concurso público.

-Nesse tempo, eu, também, tinha vontade de ser mecânico das máquinas nas
quais eu trabalhava e, fora fazer um teste na empresa Burronghs, que ficava no Recife.
A noite fora lanchar em um Bar chamado Nicolas Bar, ficava na Avenida Guararapes.
Quando estava lanchando, eu perguntei as pessoas que estavam ao meu redor, se sabiam
onde era aquela firma e como resposta, um dos presentes me disse:

-Fica no Recife Velho, na Avenida Marquês de Olinda, em cima do Banco de


Londres, ele tem uma porta dourada, por que você quer saber?

133
-Então expliquei que era formado em contabilidade, porém, queria ser mecânico
de máquinas, pois ganhava bem!

-Então ele me disse:

-Depois que fizer os testes amanhã, a firma a qual eu trabalho estar precisando
de contador, aqui está o meu cartão!

-Ele já estava pra lá de bêbedo!

-No dia seguinte, fora fazer o tal teste, realmente, a empresa ficava no primeiro
andar do Banco de Londres. O teste consistia em responder a sessenta questões de
matemática, em quinze minutos. Eu como sempre, era fraco em matemática e não
consegui responder nem cinco delas. Fui reprovado, porém, compareci a empresa a qual
aquele homem havia me dado um cartão. Era tudo verdade. Fiquei de voltar no outro
mês, pois, o contador ainda não havia se desligado, ele era contador de outra empresa.

-Ao regressar à Maceió, pedi demissão, porém, um bom amigo que era o Dr.
Soares, não quis liberar-me, deu-me as outras férias. Fui para o Recife, dessa feita
trabalhei durante quase um mês e não quis receber o salário, porque, queria recebe-lo
somente na volta de Maceió quando já desligado. A pensão a qual eu ficara era a pensão
do senhor Torres, amigo de minha irmã Clotilde. Deixei para pagar as despesas da
pensão quando voltasse ao Recife no mês seguinte.

-Voltei à Maceió em um dia de sexta-feira e fora visitar os meus colegas do setor


para o qual eu trabalhava, e, somente encontrei o “Vadinho”, ele dissera:

-Foi Deus quem mandou você, pois, estou desde manhã trabalhando nessa
miséria de conversão do cruzeiro novo!

-A nossa moeda de troca estava sendo substituída no Brasil. Tive que ajuda-lo,
embora ainda houvesse dois dias para eu voltar ao trabalho. Insisti em minha demissão,
e o Soares queria me colocar como chefe dos contas correntes, não quis, do duplo
controle, que era o meu setor, não quis, apenas queria me demitir do banco, e assim foi.

-Antes de viajar, após ser demitido, fui mais uma vez a Arapiraca, dessa feita
para me despedir de minha namorada MJ. Viajei de carro, era um Volkswagen de meu
amigo “Mano”, o pai dele era proprietário da Boutique Viviane, que ficava na Praça
Rodolfo Lins, conhecida por “Praça do Pirulito”, somente confiava em mim quando o
Mano ia a algum baile, algumas festas, pois, ele gostava muito de beber. Fomos e
ficamos hospedados na casa de sua tia. À noite nos dirigimos ao Clube dos
Fumicultores, eu, ele e minha namorada. Dancei muito ao som de uma eletrola. Lá para
as tantas, ele deu-me as chaves do veículo e mandou que eu fosse levar a minha
namorada em casa. Por sorte, eu não consegui dar ré no carro, pois, nunca havia dirigido
um veículo. Sorte, porque, se houvesse acertado dirigir tinha fugido com a minha

134
namorada e, naquele tempo, fugir com namorada, dava casamento e eu não me
encontrava preparado, pois, havia pedido demissão do Banco do Estado e ia começar
vida nova em uma cidade estranha.

-Dissera a minha namorada que de quinze em quinze dias viria do Recife para
vê-la, coisa que não aconteceu, e o namoro acabou.

-Uma vez consegui vir do Recife, fui dançar na casa de uma amiga comum, mas,
a ex-namorada não quis reatar o namoro. Colhendo informações, descobri o motivo, era
que um meu amigo de infância e adolescência chamado Renivan, funcionário do Banco
do Brasil, e primo de meu amigo Roberto “Cebolinha”, estava na iminência de namorar
com ela, e assim aconteceu.

135
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XLI

MORANDO NO RECIFE

-Em julho de 1967, deixei o Banco do Estado de Alagoas e fui definitivamente


morar em Recife. Durante as minhas férias já havia trabalhado na Nordeste Veículos,
um dos primeiros consórcios implantados no Nordeste. O meu cargo era o de contador.
Fiquei morando na pensão do senhor Torres, prédio localizado na Rua da Aurora em
frente ao Rio Capibaribe, entre o Alteres Clube e a Secretaria de Segurança Pública de
Pernambuco.

-Quando trabalhava no Banco do Estado de Alagoas, percebia CR$ 100.000,00


(cem mil cruzeiros) e mais CR$ 120.000,00 (cento e vinte mil cruzeiros) de gratificação.
Na Nordeste Veículo, após a conversão da moeda, apenas NCR$ 200.00 (duzentos
cruzeiros novos), daquela importância eram descontados 8% para o INSS, nessa época
INAPS e do saldo de NCR$ 184.00 (cento e oitenta e quatro cruzeiros novos) eram
tiradas as despesas da pensão, ficando pouco mais de NCR$ 20.00 (vinte cruzeiros
novos) para passar o mês, para empregar em despesas particulares. As minhas roupas eu
mesmo as lavava e passava.

A VISITA INDESEJÁVEL

-Nessa época eu dividia um quarto com um jovem chamado de José Clarisson


Pinto, era natural da cidade de Garanhuns, estudava no Recife no curso de medicina.
Eles em Garanhuns tinham uma sorveteria por nome de “Sorveteria Pinguim”, tinha um
irmão por nome de Zeca. Na pensão moravam cem homens, pois a mesma possuía três
andares, eram duas pessoas por quarto, havia quartos entre duas paredes e outros entre
tabiques. Zé Clarisson nos fins de semana ia para a casa de sua prima, que era, também,
sua namorada, o pai dela tinha uma loja de comércio no centro de Recife. Certa feita
encontrei, no meu quarto, um senhor estranho o qual me dissera que era tio de Clarisson
e que tinha vindo ao Recife para se consultar. Aquilo se tornara rotina, e depois eu
descobrira que ele possuía “Lepra” não em estado avançado e sim moderado. Um dia o
encontrei dormindo na rede de José Clarisson e se cobrindo com o meu cobertor,
reclamei de Clarisson e ele dissera-me que a Lepra era uma doença não transmissível,
cuja discussão transformou-se em uma desavença sem limites, tendo eu trocado de
morada, saíra daquela vista que era o Rio Capibaribe, onde carros e os ônibus elétricos
circulavam, e fora morar nos fundos da pensão tendo como companheiro de quarto o

136
José Ferreira, cabo da Polícia Militar de Pernambuco, natural de Serra Talhada, cujo pai
também era militar e exercia a função de Delegado naquela cidade, o Sargento Ferreira.
Dizia-se parente de Virgulino Ferreira, o cangaceiro “Lampião”.

PASSANDO NECESSIDADE

-Quando morava no quarto junto com José Clarisson, eu passei muitas


necessidades financeiras, pois, além do aluguel da pensão, havia a alimentação que era
fornecida por uma senhora que ficava no térreo da pensão, onde havia um salão para
refeições e uma cozinha. Por muitas vezes alguns hospedes não pagavam em dia e não
havia comida na mesa e tínhamos que compra-la lá fora. Geralmente isso acontecia em
fins de semana. Algumas vezes eu tinha como alimento um saco de pipoca ou um de
amendoim, pois, o dinheiro não dava para comprar nem um cachorro quente. Um dos
fins de semana, eu estava doente e com muita fome e não tinha dinheiro para comprar
comida, fiquei debruçado na janela observando o Rio Capibaribe e vendo os carros e
ônibus passarem. De repente, viera aquele pensamento desastroso o de me atirar em
cima de um veículo e o escolhido seria um ônibus elétrico, passei as pernas por cima da
cama e sentei-me no parapeito da janela, porém, um pensamento bom me ocorreu.

-Que besteira eu vou fazer, tudo na vida passa e eu hei de vencer!

-Assim livrei-me de me suicidar!

137
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XLII

O CRAQUE DO SANTA CRUZ

-A Nordeste Veículos, aonde eu trabalhava, tinha como proprietários o Dr. Atílio


e o Dr. Antonio, ambos formados em contabilidade e economia, e paranaenses. O
primeiro fora professor da faculdade de economia no Paraná e o segundo, seu assistente.
O primeiro passara um pouco de seu conhecimento em auditoria para mim, fora diretor
do Santa Cruz Futebol Clube. Havia, também, nessa época, uma pessoa por nome de
Armando Coentro que era o Diretor Social do Santa Cruz, nosso chefe de vendas. A
empresa vivia cheia de jogadores daquele clube e um deles era o Givanildo Oliveira.
Certa feita Givanildo pediu que eu fosse com ele a uma loja pertencente a um português,
e lá o português dissera se ele fizesse um gol, lhe daria uma camisa e assim fora aceita
a aposta, porém, Givanildo afirmara que faria mais de um gol e não deu outra coisa,
Givanildo fizera dois gols e ganhara uma camisa e uma calça.

138
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XLIII

A FAMOSA LOLITA

-Na época que eu chegara ao Recife, o País estava sob o regime militar. A
pensão onde eu morava como ficava colada com a Secretaria de Segurança Pública de
Pernambuco, nos trazia certo receio, pois, eram constantes os gritos dos presos, que
ouvíamos, provocados pelos militares. Os soldados da Radio Patrulha nos metia medo,
pois, geralmente eram homens de grande porte, musculosos, tipo armário, basta dizer
que o emblema que eles ostentavam nos ombros que era uma figura de um raio, cabia
perfeitamente neles.

Sempre eu ouvira falar de um afeminado, hoje o nome é Gay, chamado de


“Lolita”, mas não o conhecia, até que um sábado pela tarde, eu estava debruçado na
janela quando ainda morava no quarto juntamente com José Clarisson, quando parou
uma viatura da RP e de lá saltaram quatro soldados e um homem baixinho e de cabelo
ruim, cachado, vinha descalço. Ao tirarem ele da viatura, acharam de dar-lhe uma tapa.
Não prestou não, pois o mesmo gritou:

-Sabem com quem estão falando, eu sou a Lolita!

-E a fama dele de bravo, se concretizou, ele era um exímio lutador de capoeira,


pois derrubou os quatro soldados, como acima já dissera, eram homens fortes e altos,
ele deu-lhes uma pisa daquela, era uma rasteira uma queda. Mais não aguentou com
eles, levou muita cacetada até que desmaiou. Daquele dia em diante eu conhecera
pessoalmente a Lolita.

A POLÍCIA E A REPRESSÃO

-Havia um costume da polícia militar que era o de pedir documentos às pessoas


se por acaso encontrassem duas delas conversando na rua, diziam:

- Mostrem documentos e vamos deixar dessa reunião!

- Eles falavam com rispidez!

-Naquela época, como a exemplo de Maceió, no Recife, havia os famosos trotes


estudantis, geralmente eram contra a ditadura, contra o governo militar. O governador
de Pernambuco era o Nilo de Souza Coelho. O meu colega de quarto que era cabo da

139
polícia militar e, que às vezes, assumia a função de cabo da guarda na Secretaria de
Segurança Pública, disse-me:

- Amigo Alde! Eu queria um favor!- E continuou:

- Aqui esta um dinheiro, quero que o amigo pague a dona Maria quando ela vier
trazer as minhas roupas lavadas e,diga a ela, que não leve as sujas, depois eu explico!

-Perguntei se ele ia viajar? - E como resposta disse:

-É que amanhã vamos nos aquartelar as cinco da manhã e lá pelas duas horas
vamos combater os estudantes que estarão participando de um trote e, como eu não
gosto de bater em ninguém, não vou comparecer ao quartel e tenho a certeza que vou
ser preso por isso! - E continuou:

-Eles nos colocam em forma as cinco horas da manhã, e nos deixam até as treze
ou quatorze horas perfilados, de prontidão, no pátio, no sol ou na chuva, e dirão que a
culpa é dos estudantes, já pensou com que raiva os militares irão para as ruas?

-Concordei com ele!

-Vou pegar trinta dias de xadrez!

-E não deu outra, José Ferreira fora preso. No dia do trote eu estava trabalhando
e, cuja empresa, ficava na Praça Joaquim Nabuco, no centro de Recife. Ficava em um
primeiro andar, em cima da Loja Esquisitinha e Falcão Corretora. A loja ficava no
subsolo e a Falcão no mezanino. Todos os funcionários estavam reunidos e na
expectativa de assistirmos do primeiro andar, a passagem do trote. Em um dado
momento, ouvimos um freio brusco, era o caminhão da polícia militar, daqueles que
tinham dois bancos de madeira cujos espaldares era contrapostos, ou seja, cabiam vários
soldados, todos sentados, uns de costa para os outros, conhecido por “Escama de
Peixe”. Eles desceram rapidamente, e sem contemplação, uma senhora grávida que
vinha em direção ao comercio para fazer naturalmente compras, lá na cabeceira da
Ponte Mauricio de Nassau, aquela ponte de ferro que, ainda hoje existe, fora
brutalmente atacada por eles e todos nós a uma só voz gritávamos:

-Covardes, porque, não vão bater nas mães de vocês!

-Dr. Atílio de posse de um revolver, dizia:

-Se meu filho Wilson for espancado o primeiro soldado que eu encontrar vou
atirar nele!

-Mas havia uma certa distância não sei se era o barulho dos carros que
passavam, que encobria o som de nossas reclamações!

140
-Lá para as três horas da tarde, passou o trote dos estudantes e ingressou na Rua
Nova em direção a Pracinha dos Diários de Pernambuco.

-Uns minutos depois, lá vinha Wilson, filho do Dr. Atílio, com o braço todo
vermelho de levar pancada. Dr. Atílio ficou uma fera, porém, Wilson falou:

-Pai deixa pra lá que eu estou rico!

-O pai e também todos nós não o compreendíamos.

-Depois ele nos contava:

-Que estava olhando o trote quando de repente houve um tumulto e um rapaz


que na certa estava caminhando em direção ao banco para fazer ou pagamento, ou
depósito, levara muita pancada que o saco de dinheiro que estava em seu poder havia se
desmanchado e fora cédula para toda parte, e ele Wilson, pegou algumas, mesmo sob a
base de pancadas e o rapaz havia desaparecido no meio da confusão!

-Mas tarde uma namorada minha que também estava assistindo ao trote, contara
que começara a chorar e um policial tendo pena dela a colocou dentro de uma loja
dizendo:

-Tenha calma que eu não vou lhe bater, eu,também, tenho filha!

-Wilson, ainda contara, que um dos militares havia saltado utilizando o coturno,
aquela bota, nos seios de uma moça, e um rapaz bem alto que estava encostado na Loja
da TAP- Transportes Aéreos Portugueses, marcou carreira e pulou com os pés no
pescoço do militar, e, naquele momento, um grupo deles tentou pegar o rapaz, porém, as
moças que estavam na passeata, não deixaram, pelo contrário, abriam as pernas e
deixavam o rapaz se esgueirar entre elas, mesmo sob pena de levar pancadas.

-Depois do expediente eu fui para casa. Na esquina da Avenida Conde da Boa


Vista na altura da ponte de mesmo nome, com a Rua da Aurora, onde eu morava, fora
parado por vários militares que não me deixavam passar, tive que explicar que morava
na pensão colada com a Secretaria de Segurança e que pretendia ir para casa e dois deles
me acompanharam até lá.

-Na entrada do prédio, antes de subir os degraus, lá estava apoiado em um


carrinho que um amigo nosso chamado Chico, que negociava com cigarros, confeitos e
chocolates, possuía, e que o deixava quando não estava vendendo seus produtos, na
base da escadaria que dava acesso aos andares, um amigo meu chamado Danúbio. Ele
era da cidade de Palmeira dos Índios, Alagoas, era representante de livros. O cara além
de alto, calçava quarenta e cinco, esse era o tamanho do sapato do cara. Aproximei-me e
ficamos conversando, foi quando ele apontando para um jeep do exército que estava
parado na porta e a rua tomada por militares disse:

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-Se esses imbecis soubessem que hoje eu meti os pés na garganta de um soldado
covarde que pulou nos seios de uma moça, eu não estaria contando a história!

-O rapaz que Wilson havia falado que marcara carreira da empresa TAP para
pular no pescoço do militar era o Danúbio. Mundo pequeno esse meu!

142
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XLIV

SERVIÇO SECRETO

-Na pensão de seu Torres, havia cem moradores, um deles era o senhor Luiz, um
homem de altura elevada, forte, parecia um armário, bem vestido, cabelos penteados
para trás e com brilhantina, moreno, muito educado e ainda moço. Eu sempre desconfiei
dele como sendo da Inteligência do Exército, ou da Interpol.

-Havia outro que morava em um dos quartos colado ao do José Clarisson, era o
oposto do Luiz, era baixinho e mais ou menos magro e coroa.

-Uma tarde de sábado, eu estava na pensão e, quando ia em direção ao banheiro


que ficava em um terraço avarandado, dois moradores os quais eu não os conhecia,
passaram pela varanda de cueca, e nos fundos da pensão que dava para a Rua da União,
onde ficava a 1ª delegacia de polícia civil, havia uma casa que era um bar, que só
moravam raparigas, à noite era uma baderna, colocavam músicas em quase todo o
volume e os policiais não diziam nada, pois, sempre frequentavam tal ambiente. O
velhinho e baixinho, que eu tinha uma desconfiança que ele era alguma autoridade, e
nesse dia, as raparigas quando viram os rapazes de cueca, não gostaram e fizeram a
maior zuada que culminou na presença de dois policiais civis que vieram até a pensão
para prender os rapazes, pois, as raparigas disseram que eles estavam quase nus e era
uma verdadeira ofensa a moral. De repente o velhote gritou:

-Volta todo mundo, essas raparigas vivem fazendo zuada a noite toda e ninguém
toma providência nenhuma, voltem senão mando prende-los, e outra coisa, vou acabar
com esse bar, vou fecha-lo se essas raparigas não se comportarem!

-E os policiais voltaram!

-Dias depois, eu soubera que o tal velhinho, isso através da televisão, era o
Delegado de Ordem e Política Social de Recife. E, o homem chamado Luiz, eu mesmo
perguntei a ele se era da Interpol e ele sorrindo me dissera:

-Não comente nada com ninguém, realmente você adivinhou, eu sou da Interpol,
sou brasileiro e estou no Recife há poucos meses!

143
REMINISCÊNCIAS

CAPITULO XLV

NAMORANDO UMA MOÇA CHAMADA FATIMA

-No início de minha vida no Recife, eu não conhecia quase ninguém, apenas os
meus familiares, tios e primos e a minha irmã Clotilde, pois ela morava pagando por um
quarto na casa da filha de seu Torres lá na Estrada de Belém, no bairro de Campo
Grande.

-Aos domingos, eu fazia uma verdadeira peregrinação pelos cinemas do centro


de Recife, às vezes começava pelo Cine Moderno, ao sair da sessão ia para o Art
Palácio, ou Trianon ou São Luiz. Uma tarde eu estava no Cine Moderno na sala que
antecede a de projeção, esperando que a sessão acabasse, e ao meu lado, existia um
grupinho de moças e dois rapazes conversando. Ao acabar a sessão, quase ninguém saiu
e não havia mais lugar, e tínhamos que esperar para a primeira sessão da noite. Que fiz,
entrei na sala de projeções e senti que o piso era de uma alcatifa macia, voltei e disse
àquela turma que havia lugar para todos, eles me acompanharam, mas não encontraram
lugar e uma galeguinha interpelou-me:

- Cadê os lugares?- eu lhe dissera:

- Olhe quantos no chão!

-Ela começou a ri e sentou-se na alcatifa, sendo seguida pelos demais. Para


minha surpresa, ao olhar para trás, vira que o passeio estava todo tomado por pessoas!

-Ao sairmos do cinema, a galeguinha fizera-me um convite, para assisti-la no


ensaio de uma quadrilha de São João que pertencia ao seu colégio. Era lá no bairro de
Casa Forte, no final da praça de mesmo nome. Às sete e meia peguei um ônibus na Rua
Riachuelo, próxima a faculdade de direito que ficava na Praça Adolfo Cisne, faculdade
aquela na qual lecionava o futuro Senador da República, Marcos Freire. Eu nunca tinha
ido ao bairro de Casa Forte, o ônibus após a Estrada do Encanamento, ainda no Parque
Amorim, entrou a esquerda e eu ao invés de perguntar ao motorista se já era Casa Forte,
desci e tive que andar por uns três quilômetros, pois antes havia outra praça que não era
a Praça de Casa Forte, lerdo engano, aquela praça era a da Rádio Clube de Pernambuco.
Quando cheguei ao meu destino, já era por volta das 22:00 horas. O colégio ficava no
fim e na esquerda da praça, em um beco sem saída. Encontrei a galeguinha e ela
pensava que eu não iria mais. O nome dela era Fátima Gates. Ficamos namorando por
um bom período.

144
-A família Gates, possuía uma loja na Av. Cruz Cabugá, próxima a fábrica da
Fanta e quase em frente à revenda de carros a Auto Elétrica SAEL.

-Na rua em que morava a Fátima, morava quase toda a sua família, não me
lembro do nome de todos daquele grupo que estava no cinema, apenas o de uma prima
de Fátima era a Betinha, ela é que era filha do dono da Comercial Gates. Fátima era
filha de um engenheiro da Prefeitura do Recife.

-Foi um bom tempo, pois, através de Fátima, conheci um clube fechado


chamado Clube Alemão, somente entrava sócios, mas, a família Gates tinha passagem
livre. Conheci também o Clube Náutico Capibaribe, onde frequentei um dos bailes de
carnaval. No último dia de carnaval eu estava adoentado e não pude comparecer, e
soubera que acabara em briga com a turma de Casa Forte, até as meninas,
principalmente a Betinha, se defendera utilizando seus sapatos, quase que foram parar
na delegacia, foi bom eu não ter ido, pois eles eram ricos e a cadeia sobraria para mim,
pois era pobre.

-Uma vez Fátima me convidara para a festa de aniversário de uma moça que
estava completando quinze anos, ela tinha um defeito em um dos braços, na metade dele
havia uma mãozinha e era ali que ela sustentara uma flor. Uma menina de ouro, pois,
não tinha preconceito e nem trauma, inclusive, dancei com ela. Era rica, a festa fora
animada pelo melhor conjunto de Recife, o da Rádio Clube de Pernambuco. Outra festa
fora a de São Pedro em uma residência também de gente rica. Passei com Fátima bons
momentos.

-Lembro-me que cheguei à casa de Fátima em um dia de sábado, seus pais


estavam de saída para o cinema e ela ficaria sozinha, apenas a empregada estava em
casa, mas, também, de saída, pois o seu namorado estava para vir. Seu pai dissera:

- Fátima, cuidado na sua vida! - E pediu que eu cuidasse dela!

- Fátima assim que seus pais saíram, queria tocar violão o que fazia juntamente
com seu pai, muito bem, mais eu não a deixei, pois ela dissera-me que na segunda feira
teria que entregar uma dissertação de português para compor a sua nota que estava
fraca, então, eu resolvi fazê-la. O tema era sobre o dia dos pais !

- Fiz uma redação baseado na ausência do chefe de família e a tradição de que


tinham algumas famílias, de manterem à mesa, um prato e talheres no lugar destinado a
ele!

-A redação lhe rendeu a nota nove e meio! - Fátima passara na matéria do meio
do ano!

-Aos domingos, a família Gates se reunia para tomar uísque, comer churrasco e
jogar voleibol, e eu era sempre convidado, porém, nunca participei, pois, naquela época

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eu tinha vergonha de participar da casa dos outros. Eu estava nessa época morando com
o meu tio Dino, lá em Olinda, Pernambuco, e eu pegava o ônibus da Nápoles lá na Rua
Riachuelo, e sempre que ia almoçar em Olinda, iam no mesmo ônibus dois primos de
Fátima que estudavam no Colégio Pio XII, também em Olinda, e eles perguntavam
sempre, por que, eu não fora passar a manhã de domingo com eles?

-O motivo eu já declinei acima!

FIM DO NAMORO COM A FÁTIMA

-Em um sábado eu teria que viajar para Maceió para fazer visita a minha família,
e, na sexta-feira, fui visitar a Fátima, não foi uma boa noite, pois, briguei com ela, era
muito ciumenta, não queria que eu viajasse e terminamos ali o namoro. Peguei um taxi
na Praça de Casa Forte para me deslocar até ao centro de Recife, vinhamos pela
Avenida João de Barros, porém, ao passar próximo a fábrica de refrigerantes Fratelli
Vitae, entrou um pensamento em minha mente:

-O de que eu nunca tinha levado uma trombada de carro, e ia levar agora!

-Ato contínuo, o veículo era um Fusca, me agarrei a uma correia que estava no
teto do carro, coloquei o braço esquerdo atrás do banco do passageiro e esperei pelo
pior, foi quando avistei um veículo que vinha de uma rua lateral e alertei ao motorista
do Fusca:

- Olhe um carro, ele vai bater na gente!

- Não deu outra, o carro se chocou com o nosso, e, assim, mesmo, eu que estava
preparado, bati com a testa no para-brisa que fez um pequeno galo, e, o nosso carro
ficou um pouco pendurado em um poste de energia elétrica. O carro que nos bateu era
um Karmanguia. O motorista do veículo causador, desceu do carro e entregou um cartão
de visita ao motorista do Fusca, dizendo que era Assessor Parlamentar de um deputado
e trabalhava na Assembléia Legislativa e que o procurasse que ele iria pagar o prejuízo.
Depois, deu-me uma carona até a ponte Princesa Isabel paralela com a Rua Riachuelo.

-Quando ingressei na Rua da Aurora, ao passar pela calçada de uma pensão de


moradores, recebi uma cusparada em meu sapato, olhei para cima e tinha um cara me
olhando, fora ele que dera a cusparada e gritou:

- Achou ruim, pois suba se for homem!

- Meu pai me ensinara não levar desaforo para casa, pois ele sempre nos dissera:

- Não insulte ninguém, porém, se for insultado, meta o braço e se chegar em casa
apanhado, leva outra surra!

- O que meu pai queria dizer se apanhasse levava outra pisa, era o de que se
acovardasse e não revidasse, ai sim, levaria outra surra. Não contei conversa, subi até o

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segundo andar do prédio e qual não foi a minha surpresa, o cara realmente estava me
esperando. Ao abrir a porta de seu quarto, passou toda a minha raiva, comecei a rir,
pois, o cara estava vestido de mulher e todo pintado. Fui embora sobre o protesto dele,
que dizia:

-Que para me atrair teve que cuspir em meu sapato, pois, já me conhecia desde a
época em que eu morava na mesma rua, ou seja, na Rua da Aurora na pensão do senhor
Torres!

-Que dia de azar, acabara o namoro com Fátima Gates, tivera um pequeno
acidente de carro sem contar com a cusparada em meu sapato e, além disso, não pude
nem brigar, pois, o cara era um Gay. Dias depois eu descobri o Gay trabalhando na
Avenida Conde da Boa Vista em uma loja de vendas de tecidos.

-Anos depois, eu já casado, possuindo três filhos, sendo dois ainda pequenos,
levei-os para assistir a uma peça infantil de uma companhia de Recife, lá no Teatro
Deodoro, em Maceió, Alagoas e, quando a peça acabou, os atores ficaram na saída do
teatro recepcionando as crianças e, uma das atrizes, eu descobri, ao lê as informações
sobre a peça, a boneca de pano era a minha ex-namorada, a Fátima Gates, porém, os
meninos não deixaram eu me aproximar dela, porque, estavam querendo ir para casa e
estavam com medo da boneca. Perdi a oportunidade de rever aqueles momentos nos
quais vivi em Recife, pelo menos apresentá-la aos meus filhos.

NO CINEMA SÃO LUIZ

-Falando de que conhecera a Fátima em um dos cinemas de Recife, lembrei-me


de duas histórias pitorescas. Uma vez eu estava em dúvida se ia ou não entrar no cinema
São Luiz, isso no Recife, quando um rapaz fora barrado na entrada da sala de projeções
do tal cinema, em virtude de não estar vestindo um paletó, pois, houve uma época que
para adentrar no cinema São Luiz, às quarta-feiras, era preciso portá-lo. Não houve jeito
de deixarem o jovem estudante entrar. Que fez ele, na Rua em frente ao cinema, existia
uma praça de taxi e geralmente os motoristas usavam paletó. Perguntou a um deles se
podia alugar o seu paletó e assim tentou entrar no cinema, mas, o porteiro não queria
deixa-lo entrar, porque, o paletó não dava nele, era muito grande, estava quase
arrastando no chão. O jovem disse que se a condição era entrar de paletó, ele estava
portando um, e, depois de muitos senões ele entrara.

-Outro fato pitoresco fora o seguinte. O professor de matemática conhecido na


cidade de Maceió chamado de Edmilson Pontes, aquele que o pai era proprietário de
uma fábrica de gelo na mesma rua em que eu morava, a Rua da Floresta, fora ao cinema
São Luiz do Recife. O filme que ele estava assistindo era um filme de suspense, era um
filme de “Drácula” e o Drácula vestia uma capa preta. O Edmilson era conhecido como
uma pessoa que quando lia um livro ou assistia algo, ficava compenetrado e não havia

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ninguém que lhe tirasse a atenção. Perto dele havia uma cadeira vaga e de repente ele
ouviu aquela voz grave dizendo:

- Dá licença meu filho!

- Foi aquele grito de terror, paralisaram o filme para ver o que havia acontecido,
pois, não é que a pessoa que havia pedido licença era um padre vestido de batina preta
o qual o Edmilson o confundira com o Drácula!

148
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XLVI

MEU CONHECIDO POR NOME DE CLÁUDIO

-Nos fins de semana quando tinha dinheiro, eu gostava de lanchar no Nicolas


Bar na Avenida Guararapes. Em um sábado à noite, estava eu lanchando no Nicolas,
quando em um dado momento apareceu um amigo meu de Maceió, o Claudio,
apelidado de “Jacaré”, ele vinha fugindo da polícia e quando me avistou e a outro
colega dele, que mais tarde viera saber chamar-se Antonio, sacudiu um revolver 38 em
minha mesa e disse:

- Aldinho guarde ele para mim!

- Fiquei sem ação, mas, o dono do bar que já me conhecia, disse-me:

-Dei-me que eu guardo! Eu conheço, também, esse galego!

-Uns dois minutos depois chegara a polícia perguntando se nós vimos um


galeguinho passando por ali? - E eu disse:

-O galego entrou a esquerda na Rua Dantas Barreto em direção ao Palácio do


Governo de Pernambuco, o Palácio Campo das Princesas!

-Os policiais foram naquela direção, mas, na verdade, o Claúdio havia entrado a
direita. Meia hora mais tarde, apareceu de volta o Claudio e me apresentou ao Antonio.

-Depois Claudio nos convidou para irmos a um clube na Avenida Norte, era um
clube o qual eu já frequentara, cujo clube foi lá que encontrei o filho de seu José Alves
Torres, que na época em Maceió possuía a Sapataria Torres na Avenida Moreira Lima,
o Verilson que hoje possui a empresa Electrolux, na Avenida Júlio Marques Luz em
Jatiúca e na Avenida Fernandes Lima, todas em Maceió. Era a boate “Salão Azul”.
Fiquei com medo de acompanhar-me de Claudio sob as circunstâncias que acabara de
presenciar. Mas, os argumentos foram tantos que acabei indo, pegamos um taxi!

-Naquela época eu havia deixado de trabalhar para a Nordeste Veículos e estava


trabalhando na Credinorte, empresa do Grupo do Banorte, onde tinha como colega de
trabalho um rapaz que estava noivo de uma moça que morava na Estrada de Belém, em
Campo Grande, e eu namorava a irmã dela, morena bonita, cabelos até a cintura. A
minha namorada havia a poucos meses terminado o namoro com um rapaz, filho de

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portuguêses, e os pais dele possuíam uma rede de padarias e uma delas ficava no bairro

da Encruzilhada. Ela ainda estava apaixonada por ele. O tal ex-namorado chamava-se
Antonio e, por uma incrível coincidência, o Antonio que estava conosco, era o próprio.
A namorada da Estrada de Belém, eu ao conhecer o rapaz por nome de Antonio, resolvi
acabar com o namoro.

-Claudio morava próximo ao Cabanga Clube, por trás da Rua Imperial, em


frente à linha férrea e, em Maceió, na Avenida Comendador Leão, próximo ao Clube
Tenis Alagoano, cuja irmã casara, tempos depois, com o meu amigo Solon Brasil. Ele
gostava de confusão e enfrentar a polícia durante os protestos estudantis e, isso, me fez
afastar-me dele. Anos depois, Claudio o “Jacaré”, fora barbaramente assassinado em
Maceió.

150
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XLVII

A FORMATURA DE MEU AMIGO COPÉRNICO

-No bairro da Encruzilhada, próximo ao de Rosarinho, existia duas irmãs que


eram minhas amigas, uma delas queria namorar comigo, mas, nunca eu quis. Um belo
dia, eu estava passeando, a noite, na Avenida Conde da Boa Vista, no centro de Recife,
quando um rapaz que vinha correndo da polícia, saindo da rua que dava para a
Faculdade de Administração, parece que era a Rua do Hospício, esbarrara em mim e eu
quase caí no chão, porém, o tal rapaz era um dos meus amigos de Maceió, o Copérnico,
e ele gritou:

-Alde! A policia está em meu encalço! Eu estudo na Faculdade de


Administração! Sou o presidente do Diretório Acadêmico, me procure lá!

- E saiu correndo de novo!

-A polícia dobrou a esquina da Avenida Conde da Boa Vista e continuou no


encalço de meu colega, isso era uma noite de sexta-feira.

-Na segunda à noite, eu compareci a faculdade de administração a sua procura, e


ele me deu um ingresso para um baile que se realizaria na AABB para arrecadarem
verbas para a formatura da turma de administração. Além do ingresso, ele me convidara
para assistir a um comício que realizar-se-ía na Praça Maciel Pinheiro, próxima ao Hotel
São Domingos. O comício era na quarta-feira e o baile no sábado. Na quarta-feira à
noite me dirigi ao local do comício, lá chegando estranhei, pois, estava à praça toda
iluminada, por muitas gambiarras e deserta. Ao olhar detidamente, em uma rua ao lado
do hotel, conhecida por “Rua das Casas Mortuárias”, por possuir muitas delas, a
Cavalaria estava a postos, soldados armados até os dentes, de cassetete tamanho família,
como chamávamos naquela época, de escudos nas mãos e jeeps da polícia e do exercito
a espera dos estudantes. Ao ver aquilo, resolvi ir embora. No sábado fui ao baile e lá
chegando recebi a notícia de que o Copérnico havia decidido fazer um ato relâmpago
em outro bairro para despistar a polícia, fora escolhido o de Afogados, quando a polícia
lá chegou, o comício havia já terminado.

-Lá no baile, eu encontrei as minhas duas amigas e elas me apresentaram a um


primo e sua tia. A tia era casada, mas, mesmo assim, me convidara para dançar. Aceitei,
mas com um pouco de reserva, pois, além de suas sobrinhas estarem presentes, havia,

151
também, um dos seus filhos. Dançamos muito e o filho dela, que acabara de fazer
amizade comigo, me convidou para almoçar com eles no domingo, lá em sua residência
no bairro de Boa Viagem.

-No domingo, procurei o endereço e, como as minhas amigas eram pobres e seu
pai era alfaiate, não pude acreditar que o endereço de sua tia fosse aquele. Era em um
lugar chique, uma rua por trás da Avenida Boa Viagem, uma verdadeira mansão. Havia
um carro caríssimo, um Chevrolet Belair, conversível, de cor amarelo, na garagem.
Fiquei em dúvida, foi quando o primo de minhas amigas gritou que era ali mesmo que
morava. Existe aquele ditado:

- Quem vê cara não vê coração!

- Eles estavam ricos! - A fortuna viera quando o pai dele fora escolhido para ser
um Adido Militar em outro país, pois, ele era do exército, e, o dinheiro, era somente
para guardar, pois, todas as despesas eram pagas pelo governo.

-Naquele mesmo baile, eu conhecera uma formanda da mesma turma de


Copérnico, e ficamos namorando. Ela morava no terminal do bairro de General São
Martins, cujo bairro tinha acesso pela Avenida Caxangá. Namoramos por uns meses.

152
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XLVIII

COISAS DO DESTINO

-Quando morava em Maceió, em um dos carnavais, eu estava brincando no


Clube da Portuguêsa, e, nesse tempo eu conhecia um rapaz já formado em engenharia,
ele era conhecido como Leão, pois pertencia aquela família. Estávamos eu, ele e outro
que não me lembro quem era, a caça de moças para pular carnaval e depois dançarmos o
ritmo de samba, mas, Leão era muito medroso e não tinha coragem para tirar nenhuma
menina para dançar, foi quando passaram três delas, fantasiadas de marinheiro e eu
disse:

-Podemos ingressar na Marinha?

-Elas começaram a rir e nos ingressamos na Marinha. Passamos o sábado


dançando com elas, cada um com uma, e, também, no último dia de carnaval, na terça-
feira. Após o carnaval, ficamos algum tempo as namorando. O Leão ficou noivo de uma
delas, porém, eu sempre notei que a noiva do Leão tinha uma queda por mim, mas
quando eu viera morar em Recife, não soubera mais notícias delas.

-Quando morei com meu tio Dino em Olinda, nesse tempo eu era sócio do Sport
Clube Recife, e, era época de carnaval. Fui até a Rua do Rangel e em um camelô,
comprei uma camisa colorida para brincar o carnaval. A família de meu tio era
evangélica, e eu tinha que brincar o carnaval sozinho. E sem conhecer quase ninguém,
fui a uma matinal do Sport Clube lá na Ilha do Retiro. O baile de carnaval estava fraco,
poucas pessoas. Lá estava eu pulando feito um macaco, sem ter ninguém para me
acompanhar, quando em um dado momento ouvi aquela frase conhecida:

- Posso ingressar na Marinha?

- Não acreditei no que ouvira, lá estava à noiva, pelo menos pensava que ainda
fosse, à noiva do Leão. Abraçamo-nos e nos beijamos nas faces, ela estava morando no
Recife e tinha se formado em Odontologia e morava na Avenida Conde da Boa Vista.
Conversamos muito e ela perguntou-me se eu iria no outro dia, à noite, brincar carnaval
no mesmo clube, porém, disse-lhe que talvez. Ela disse-me que naquela tarde tinha que
sair mais cedo do baile, porque, tinha que comparecer a um velório de seu tio lá no
bairro de Cajueiro.

153
-Qual no foi o meu espanto, pois, ela era prima das minhas amigas de Rosarinho,
as filhas do alfaiate. Foi mais uma mancada que eu dei na minha permanência no
Recife, não peguei o endereço e nem o telefone de sua residência e de seu consultório,
nunca mais a vi.

154
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO XLIX

MINHA DOCÊ LÉA

-Em uma ocasião eu conhecera em um dia de sexta-feira, na Avenida


Guararapes, uma garota muito interessante, o nome dela era Léa. Fora com ela até o
ponto de ônibus que ficava ao lado dos Correios e Telégrafos. Ela morava em Apipucos,
bairro que ficava após o de Casa Forte. Marcamos encontro para o dia seguinte na porta
da Faculdade de Veterinária de Pernambuco, Faculdade Federal, pois, soubera depois
que o pai dela era o Diretor daquela faculdade, o Dr. Andrade. No sábado à noite peguei
o ônibus, por coincidência, também, poderia apanha-lo na Rua Riachuelo, como
apanhava ônibus para Olinda e, também, para Casa Forte. Lá estava Léa me esperando.
Ela era uma moça educada, carinhosa, branquinha, e quando me apresentou a seus dois
irmãos eu não acreditei, pois, eles eram de cor escura. Depois viera conhecer seus pais,
sua mãe era alva e o pai escuro.

-Moravam em um sítio em frente à subida da Congregação dos Irmãos Maristas,


em Apipucos, cujo lugar eu não pude frequentar por falta de dinheiro, pois, no passado,
estava inclinado a ser Irmão Marista, mas, não tinha o dinheiro para o enxoval. O sítio
era colado com uma fábrica de tijolos, uma olaria. O pai dela bebia muito, ao ponto de
esconder da mulher, garrafas de cachaça enterradas em vários pontos do sítio.

-Um dia o Dr. Andrade me contara a sua história, o, porque, da bebedeira. Havia
um surto muito grande de Aftosa e o gado, tanto no Maranhão, como em Pernambuco,
estava morrendo. Havia naquela época uma vacina americana, que era muito cara e, o
pai de Léa, resolveu desenvolver uma própria, e, mais barata. Conseguiu, e a sua vacina
começou a fazer efeito e, um industrial de São Paulo resolveu investir em sua
descoberta. Convidou-o como sócio e que financiava tudo, porém, não cumpriu com o
acertado, pois queria comprar a fórmula por CR$ 10.000.000,00 (dez milhões de
cruzeiros) e o pai de Léa não quis e disse-lhe:

– Que a fórmula estava em sua mente e não escrita em nenhum documento!

- Daí por diante, ele começara a beber em descobrir que somente os poderosos
eram os que venciam na vida!

-Um dia, estava eu e Léa namorando, ela escorada no muro do sitio e eu


abraçado, quando de repente apareceu um jeep, daquele conhecido por “Guaraçuma”,

155
jeep pequeno, faróis quase que unidos, daqueles que o exército ainda hoje possui,
quando o motorista passando por nós em desembalada carreira gritou:

- Tire o dedo Alde!

- Perguntei a Léa se realmente gritaram o meu nome e ela disse que sim, porém,
coitada da moça, não estávamos fazendo nada, apenas agarradinhos. No outro fim de
semana, estávamos de novo agarrados e lá vem o jeep, porém, eu disse a Léa:

- Dessa feita ele não me pega, pois, vou fazer com que pare para saber quem é o
motorista!

- E assim foi, quando o jeep se aproximou, fiquei me ariscando em sua frente e


ele teve que parar. O motorista era o irmão de José Cliton, daquela família que eu
passara uma de minhas férias em sua casa, lá em Santana do Ipanema, Alagoas, era o
Carlos Guido que também havia estudado junto com o meu irmão Alanio. Ele estava
morando na praça de Apipucos, fazia engenharia civil e Zé Cliton, também, morava lá,
estava fazendo medicina.

-Como a sede dos Irmãos Marista ficava em frente à casa de Léa, eu resolvera
subir os degraus e fazer uma visita aos meus colegas de Colégio Diocesano, o Antonio
Carlos Ramalho e José Júlio Leão, porém, somente o Antonio Carlos se encontrava no
recinto.

-Namorei algum tempo com Léa!

156
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO L

O NAMORO RELÂMPAGO

-A primeira mancada que dei quando morava em Recife. Tudo começara


quando eu fui passar uma manhã na praia de Boa Viagem, e, na volta, uma moça muito
bonita de corpo e de rosto, ficara empatada na borboleta do ônibus sem poder passar,
pois, haviam roubado a sua carteira e ela estava sem o dinheiro da passagem e o
cobrador não queria deixa-la passar. Paguei sua passagem e ficamos conversando.
Marcamos para nos encontramos, à noite, embaixo do prédio onde ela morava. Ela
morava em um apartamento na Ilha do Leite, nessa época eu morava perto, do lado
contrário a Ilha do Leite, também, em frente ao Rio Capibaribe, na Rua da Aurora. À
noite fui conversar com ela, começamos um namoro, mas, no outro dia, na segunda-
feira, como ela estava de férias do colégio, iria viajar para a sua terra natal que era a
cidade de Serra Talhada, sertão Pernambucano. Fiquei desapontado, ao ponto de não
pedir seu endereço para lhe enviar uma carta. Após os dois meses de férias de fim do
ano, eu a procurei, mais uma vez, porém, não a encontrei, ela tinha se mudado, perdi de
namorar uma menina legal, bonita de corpo, rosto e talvez de coração. Esta foi mais
uma mancada que dei quando morei em Recife.

157
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LI

O MÉDICO E O BANDIDO

-Eu tinha o costume de querer conhecer toda a cidade do Recife. Como fazia,
olhava os letreiros estampados nos ônibus como, por exemplo:

- Linha do Tiro!- era um bairro do Recife!

- Fundão, Torrões, Caixa D’Água, Jardim Brasil, e assim por diante.

-Pegava o ônibus e ia conhecer aquele bairro. Uma vez vinha um ônibus com o
nome de- Nova Descoberta- peguei o tal ônibus e descobri que a Nova Descoberta
ficava na Avenida Norte acima do Morro da Conceição, lugar perigoso, lugar de
marginais. Chegando lá fui assistido por maus olhos, quando cheguei ao terminal do
ônibus.

-Lembro-me de uma história contada por Sérgio Lira, prefeito de Maragogi,


Alagoas, sobrinho do Senador Benedito de Lira. Ele narrou que quando fazia residência
no Recife como recém-formado em medicina, estava de plantão em um pronto-socorro
que ficava na Avenida João de Barros, quando dera entrada um homem que levara um
tiro na perna e, os médicos de plantão, não queriam atende-lo por saberem que se
tratava de uma marginal. Sérgio então cuidou dele e ele lhe dera um cartão de visita,
dizendo-lhe:

-Se precisar de mim doutor, pode me procurar que eu atendo!

-Passou um bom tempo e, um dia, Sergio Lyra vinha em seu primeiro carro, um
Fusca que seu pai lhe presenteara, e ao parar em frente de uma residência na Avenida
Caxangá para perguntar, não me lembro o que era, a uma senhora, por trás dele
apareceu um marginal que lhe dissera:

-Jogue a chave do carro e nem olhe para trás!

-Sergio obedeceu, mas, mesmo assim, o cara acionou o gatilho e Sergio se atirou
no jardim da casa que era de muro baixo. Logo em seguida, o assaltante saiu em uma
desembalada carreira e tomou a direção do Hospital Barão de Lucena, que ficava mais
adiante, indo, inclusive na direção da Cidade Universitária. Quando Sergio viu, vinha
passando um carro e ele deu com a mão e o cara parou. Ele lhe dissera:

158
- Eu acabei de ser assaltado e levaram o meu carro naquela direção!

- Então o cara disse:

- Vamos atrás dele!

- Em um dado momento o cara falou:

-Você está armado?

-Sergio disse que não e o cara desistiu de perseguir o bandido. Sérgio então
procurou a polícia para dar parte do roubo. Deixou seu endereço e telefone para um
possível contato. De repente, Sergio lembrou-se do tal cartão dado pelo marginal que
ele havia cuidado, o endereço era exatamente naquele lugar perigoso o qual eu havia
estado, a Nova Descoberta, acima do Morro da Conceição. Lá chegando, Sergio,
também, fora mal visto, principalmente quando perguntou pelo marginal. Ao apresentar
o cartão e o seu próprio cartão, uns homens o levaram a presença do marginal e, ao
contar a história, ele perguntou ao Sérgio:

- Como fora o roubo, onde fora e se o carro tinha placa de onde?

- Sergio contou que fora na Avenida Caxangá, praticado por dois homens e a
placa do carro era de Maceió-Alagoas- Ao saber dos detalhes do roubo, o marginal lhe
assegurou:

- Eu já sei quais as pessoas que roubaram o seu carro e como a placa é de


Maceió, ele ainda se encontra aqui no Recife!

-Se a placa fosse de Recife, a estas horas ele estaria ou em Natal, Fortaleza ou
Piaui!

-Não se preocupe que seu carro vai aparecer em uma rua qualquer do Recife e a
polícia vai lhe comunicar!

- Dias depois, a polícia comunicou ao Sergio que seu carro havia aparecido, mas,
queria NCR$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros novos) como gratificação para a entrega do
mesmo. Seu pai que era advogado ficou uma fera, mais teve que fornecer o dinheiro
para o resgate do veículo. É aquele negócio, Sergio fez o bem sem olhar a quem, como
diz o ditado. Por fazer o bem recebeu seu carro de volta. Essa foi a história que Sergio
me contara, pois, eu fui casado com uma prima dele, filha da cidade de Maragogi.

159
5

REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LII

A BARRACA DO ZÉ PEQUENO

-Quando morei em Olinda na casa de meu Tio Dino, nessa época ele residia na
Avenida Getúlio Vargas, a via principal de Olinda. Todas as noites, quando eu
regressava do trabalho, após o café, eu ia até a beira da praia que ficava por trás daquela
avenida. Eu sempre gostei de cantar, como já narrara em capítulos anteriores. O meu
primo Bero, formou um conjunto, ele tocava guitarra e eu louco para ser o croner, hoje
vocalista de conjunto, comprei na Rua da Concordia um microfone e o cedi para
organizar o conjunto. Não fui chamado como croner, mas, quando o conjunto parava
para um breve descanso, havia um rapaz que tocava maravilhosamente violão e me
acompanhava em algumas músicas. O conjunto tocava nas barracas de praia, do Zé
Pequeno, do Samburá, do Goiamum, raramente na Rainha do Mar e em uma boate
suspeita, quer dizer, de prostitutas, chamada de Castelo do Rei que ficava na BR em
direção à cidade de Paulista, Pernambuco. Era um dia de domingo, e lá para as
10h00min horas da manhã eu fora dar uma volta na praia e ao chegar em frente a
barraca do Zé Pequeno, vi aquela bagaceira, havia existido um incêndio e o Zé que além
de explorar um ponto comercial, também, o fazia de morada junto com a mulher e os
cinco filhos, salvo engano, era esse o numero de filhos. Perdera tudo, a sorte é que os
instrumentos do conjunto de meu primo havia sido retirados de lá na véspera, porque,
eles tocaram no sábado no Castelo do Rei. Zé chorava muito e os moradores de Olinda
com pena dele, incluindo eu, fizemos uma cota e soerguemos a sua barraca em poucos
dias. Zé Pequeno era um homem humilde sempre atendeu aos clientes de mesa em
mesa.

-Quando deixei de morar em Recife, e estava já morando em Maceió, uma vez


minha irmã Clotilde que mora em Boa Viagem, me convidara para passar um fim de
semana em sua casa e fomos até Olinda, e, lá chegando, vi uma barraca enorme à beira
da praia era a barraca de Zé Pequeno, a maior da orla marítima de Olinda. Descobri de
imediato aquele homem de estatura mediana, aproximadamente medindo um metro e
cinquenta centímetros de altura, usando camisa branca, calça preta e gravata borboleta,
estava servindo as mesas, embora já fosse um homem rico, era o mesmo humilde de
sempre, coisa bonita de se vê. Com o passar do tempo, as barracas foram tomadas pelas
águas do mar e tiveram de ser transferidas para o lado oposto da praia, tornaram-se
bares e restaurantes.

160
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LIII

UM FIM TRÁGICO

-Apesar da família de meu tio Dino ser evangélica, o meu primo Élvio era uma
das ovelhas desgarradas da religião, pois, era o diretor social do Atlântico Clube que
ficava em frente à Praça do Carmo, em Olinda.

-Certo dia, quando eu estava esperando o ônibus que me levaria ao centro de


Recife, era um sábado à noite, estava sendo realizado um baile naquele clube e, em um
dado momento, começou uma briga lá dentro. Os movimentos podiam ser vistos do lado
de fora do clube, pois, no muro que o separava da rua, existia uma grade de ferro
constituída daquelas lanças, pontiagudas, e um rapaz envolvido na briga, queria pular o
muro, porém, aquelas lanças não o deixavam pular sob pena de se machucar, então ele
ficou rodando no clube tentando achar uma brecha para fugir daqueles que o perseguia.
De repente surgem em frente à turba, dois irmãos, conhecidos de mim e de meus
primos, o Toinho e o Rafael, exímios lutadores de caráter, que disseram:

-Isso é uma covardia, mais de oito pessoas querendo bater em um só, pois,
vamos deixa-lo ir embora!

- A confusão começou quando um gordinho bateu naquele rapaz franzino e ele


quebrou uma garrafa de guaraná Fanta em sua cabeça. Naquela época a garrafa de Fanta
era grossa e difícil de se quebrar!

-O porteiro deixou o rapaz escapar em virtude da intervenção dos dois irmãos.

-Quando o rapaz correu, ele fora em direção a Praça do Carmo e percorreu a


subida da Sé de Olinda. Custou um pouco para o gordinho sair do clube em seu encalço
e, quando o gordinho avistou um cara que estava perto de mim no ponto de ônibus
vestindo uma camisa vermelha, pensou que se tratava do rapaz, por ele estar vestindo
uma quase igual, ele queria bater no rapaz, porém, seus colegas disseram que não era
aquele. Ele se enganara, porque, o sangue embotava sua visão.

-Soubera depois que, o rapaz que o gordinho queria pegar, era um sapateiro e
que ele tinha fugido para São Paulo.

-Um ano após esse episódio, eu assisti a um funeral, um dos mais movimentados
do Recife, o cortejo fúnebre percorreu a Avenida Cruz Cabugá, era o enterro de um

161
engenheiro jovem e diretor do Serviço de Águas do Recife, o enterro havia saído da
repartição em que ele trabalhava. O tal jovem era aquele gordinho que queria pegar o
rapaz. Diziam que era uma boa pessoa quando sóbrio, mas, quando bebia, tornava-se
uma fera. Ele havia sido assassinado, e como aconteceu o fato:

-Na Rua Direita com a Rangel, havia uma boate de prostitutas que possuía
escada e elevador, ela tinha três andares, e, para que não houvesse calotes, as escadas
eram fechadas e somente o elevador funcionava, e na porta de cada andar, ficava um
fiscal para evitar calotes, tanto de bebidas e comidas, quanto dos pagamentos dos
quartos e das raparigas.

-O gordinho já havia bebido um bocado e resolveu ir embora juntamente com


dois colegas, pegou o elevador no terceiro andar e quando ele parou no primeiro andar,
quem entra no elevador, o tal magrinho, o sapateiro, e o gordinho o reconhecendo disse
que ia lhe bater. Levantou o braço para ataca-lo, foi quando ele puxando de uma faca
daquelas pequenas facas que de tanto amolá-la, um dos lados fica desgastado, e a
enterrou na axila do gordinho quando ele levantou o braço para aplicar um murro. Foi
um golpe só, o gordinho arriou e em ato contínuo, o elevador chegou ao térreo e o
magrinho fugiu deixando o gordo passando mal, e os companheiros dele não puderam ir
ao encalço do agressor, pois, tinham de socorrer o amigo ferido. Levaram o amigo até a
um pronto socorro, porém, como ele era muito pesado, tiveram que subir as escadarias
do pronto-socorro segurando em seus braços e foi quando o gordinho arriou em um dos
degraus daquela unidade de saúde, já sem vida. Ele era de uma família importante do
Recife como se apurou depois.

162
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LIV

O AMARELO

-Em Olinda eu soubera de outro fato. Havia um cara que passava o dia todo na
farra em um boteco que ficava na SÉ de Olinda. O boteco ficava próximo a um abismo
e as ruas que o circundavam, as pessoas tinham a obrigação de passar pelo boteco se
quisessem sair ou chegar em casa.

-Nessa época, vivia ali um sujeito descorado e muito magro. Todos os dias em
que ele passava pelo boteco, para ir trabalhar, lá estava o beberrão e o chamava assim:

- Amarelo, venha aqui para apanhar!

- Coitado não tinha escapatória, pois, o sujeito era muito forte e sempre dava um
chute em suas nádegas ou um tapa em sua cabeça. Todo santo dia era isso. Um belo dia
o “amarelo” ia de casa para o trabalho e o beberrão o chamara para dar-lhe umas tapas,
foi quando o “amarelo” dissera-lhe:

- Hoje você não me bate, não!- Ao qual o homem forte respondeu:

-Tá brabo hoje não é, pois vai apanhar dobrado!

-Quando o homem levantou a mão para lhe dar uma tapa, o magrinho aplicou-
lhe uma facada em sua axila e a morte foi irremediável. O amarelo fora a Júri Popular,
mas, fora absolvido por unanimidade.

163
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LV

A MANDINGA

-Outro fato acontecera comigo. Nessa época eu deixara de trabalhar para a


Nordeste Veículos como contador e estava trabalhando na Credinorte, Letras de Câmbio
Banorte, empresa pertencente ao Grupo Jorge Batista da Silva, do Banco Banorte S/A.
Eu morava nessa época em Olinda Carmo na casa de meu tio Dino. Peguei o ônibus
juntamente com dois colegas de trabalho, um era o Fernando, conhecido por “Galego”
um sujeito boa pinta e muito alto, e o outro o nome dele era Edson conhecido por
“Mangaba”, pois, só tomava cachaça acompanhada de tira-gosto de uma fruta chamada
mangaba. A proposta era comparecermos a festa de um Pai-de-Santo famoso lá em
Olinda. Era conhecido por “PAI EDÚ”.

-No meio da viagem, na altura da fábrica Tacaruna, hoje shopping do mesmo


nome, antes da Escola de Aprendizes Marinheiros, na continuação da Avenida Cruz
Cabugá, lá ia o carro alegórico do Pai Edú, que era na forma de um dragão, e o Pai Edú
montava um cavalo branco portando uma lança, com vestimentas imitando São Jorge e
esmagando a cabeça do dragão. Eu lhes dissera que antes tinha que passar em casa para
saber se a mulher do meu tio estava precisando de alguma coisa, pois, seu pai estava
estirado em um caixão mortuário, pois, naquele dia havia morrido, e eles disseram-me
que estavam me esperando lá na SÉ de Olinda, onde se realizava a tal festa do Pai Edú.

-Passei na casa de meu tio e minha tia havia me dispensado para ir à festa, pois,
havia na sala um velório sem pessoas estranhas à família.

-Quando subi a ladeira da Sé, os meus colegas já estavam me esperando. Havia


muita gente, de todas as castas, principalmente as madames da alta sociedade de Olinda
e Recife, muitos carrões da época, Chevrolet Impala e outros. A entrada custava NCR$
8,00 (oito cruzeiros novos) Era um valor alto para a época. O galego, antes de trabalhar
na Credinorte, servira à Aéronautica, chegando até a patente de Cabo, conhecia toda
aquela ordem unida. Disse-nos:

-Me sigam, e não digam nada!

-Mais adiante na entrada da festa havia um cordão de isolamento e lá estava


uma guarnição da polícia militar de Pernambuco. A nossa indumentária era calça
comprida, camisa comprida e gravata, por exigência da Credinorte.

164
-O Galego perguntou quem estava no comando, e ao comandante daquela
guarnição se estava tudo nos conformes e se precisasse de alguma coisa falasse com ele.
Não queria que nenhuma coisa desse errado sob pena dele sofrer as consequências!

-Fiquei branco! E ele continuou:

-Essas duas pessoas estão comigo!

-E a um sinal nós nos aproximamos, porém, com receio de sermos presos por
falsidade ideológica, pois, o galego se passara como uma autoridade superior ao
comandante da guarnição. Lá dentro tinha bastante comida e bebida. Quase uma hora
depois chega o carro alegórico transportando o Pai-de-Santo, o Pai Edú.

-Foi aquele labafero, as madames correram para receberem o tal espírita!

-O “Mangaba” sempre portava um rádio, pois, nas horas vagas, ele, também, era
cronista esportivo e escrevia para o Jornal do Comércio de Pernambuco. O rádio era
daqueles cuja antena ao invés de ser na parte de cima, era de lado, parecendo um rádio
transmissor e receptor. Ao se aproximar do Pai Edú o “Mangaba” atacou:

- PRA 8, Rádio Clube de Pernambuco, de Olinda falando para o Mundo!

-Estamos aqui com o famoso Pai Edú nesta festa maravilhosa de seu aniversário!

-Pai Edú como o senhor se sente?

-E o Babalorixá mandou o verbo a falar sobre a sua festa, de seu contentamento,


etc!

-Mais tarde, eu, Galego e Mangaba, estávamos na fila do jantar, cada qual com
um prato na mão, para sermos servidos de Vatapá e Caruru, quando de repente se
aproxima o Pai Edú e disse para o Mangaba:

- Cabra safado!

-Mais muito inteligente e interessante!

-Você me enganou por um tempo, pois, este rádio não é de nenhuma rádio e sim
é um rádio comum, pois, nenhum dos presentes ouviram a minha entrevista na Rádio
Clube de Pernambuco!

- Se eu quisesse eu mandava uma mandinga e você se estrepava, mas, não vou


fazer nada disso, pode se servir a vontade!

- Comemos feitos animais!

-Naquela noite quando voltei para a casa de meu tio, minha tia queria que
permanecéssemos com as portas e janelas abertas, porém, a muito custo, nós a fizemos

165
mudar de propósito. Fechamos as portas e o defunto ficara no caixão e de vez em
quando se trocava as velas. No dia seguinte, no sábado à tarde, houve o enterro.

-Na segunda-feira, eu e Galego fomos trabalhar e o Edson nada de comparecer


ao serviço, passou uma semana de cama, com um grande desarranjo intestinal. Quando
chegou na semana seguinte para trabalhar, a “zona” estava feita, todos gozavamos de
sua cara e dizíamos:

-Fora mexer com o Pai-de-Santo, olhe a mandinga!

A DÚVIDA

-Quando ainda morava na mesma casa onde falecera o sogro de tio Dino, lá em
Olinda Carmo, a esposa dele, a tia Olga, sempre deixava algo para eu lanchar quando
viesse do meu trabalho lá da Credinorte em Recife.

-A casa era por demais pequena, meus primos dormiam dentro, e eu tinha que
dormir em um quantinho que ficava no quintal, próximo a lavanderia.

-A porta do quarto não tinha chave, embora houvesse um fechadura daquelas


que tinham um buraco enorme e, nem ferrolho. Eu dormia com os pés encostados na
porta, como segurança. Uma vez, eu cheguei do trabalho a meia noite, e, como não
estava com sono, sentei-me na beirada da cama. A cama era daquelas de ferro que
desarmava, tipo cama de campanha, e fora ler um gibi. Pouco tempo depois, eu ouvira
uma barulho nas telhas como se alguma delas havia se partido. Pensei que era um gato.
O telhado era em declive e, mais adiante, ouvi mais uma vez o mesmo barulho. Pensei:

- Talvez seja um ladrão!

-A lâmpada da lavanderia estava acesa e, em um dado momento, eu ouvi um


barulho como se alguém ou algum animal houvesse pulado do telhado para o chão.
Fiquei apavorado, e procurei me armar. Encontrei embaixo da cama, além do pinico,
uma bacia na qual continha um facão daqueles que os caçadores levavam para o mato
em suas caçadas. Ele era de aço, com cabo de chifre de boi.

-De repente, a fresta da porta escurecera e eu, de posse do facão, olhei pelo
buraco da fechadura e alguém, também, olhou. Retrocedemos os nossos olhos. Depois,
quando a pessoa que estava do lado de fora colocou mais uma vez o olho na fechadura,
eu coloquei a ponta do facão. Foi aí que a pessoa deu aquela gostosa gargalhada e se
afastou. Eu não tive dúvida, me levantei, peguei na porta e a abri com toda a força, e a
cama desarmou fazendo aquele barulho danado, mas, ninguém da casa se acordou. Saí
para o quintal portando o facão, ainda tendo tempo de vê o ladrão em cima do muro e
ele, olhando para trás, ainda deu outra gostosa gargalhada, em ato contínuo, pulou para
o quintal do vizinho.

-Não consegui dormir mais!

166
-Tia Olga, ao saber do ocorrido, disse que eu não mais iria dormir no quartinho
do quintal. Tirei de minha maleta as minhas roupas novas e sapatos, porém, deixei umas
roupas que eu não as queria mais, dentro da maleta.

- No outro dia, atardinha, Tia Olga ouvira o cachorro da vizinha latir um bocado,
porém, não se incomodou. Mais tarde quando fora à lavanderia, notou que alguém havia
levado a minha maleta. Quando cheguei do trabalho, ela contara o ocorrido.

-No dia seguinte, era um dia de Sábado, em resolvi dormir mais um pouco, pois,
não haveria expediente na Credinorte, e, quando estava no maior do sono, acordei com
um grito de pavor. Quem gritava era a vizinha, dizendo que havia entre as bananeiras de
seu quintal, uma pessoa morta e que ela estava toda ensanguentada.

-Pulei o muro e fora vê se era realmente alguém morto. Lá estava estendida a


suposta pessoa, banhada em sangue. Porém, ao chegar perto, observei que era uma calça
minha estendida no chão e um casaco de frio, daqueles que na época era conhecido
como Ban-Lon, de cor escarlate, que estava, também, por sobre a calça dando a
impressão de que era uma pessoa que estava estendida no chão e ensanguentada, essas
eram algumas roupas que estavam na maleta que o ladrão levou.

-Dias depois, o meu tio Tono, o Petrônio, encontrou próximo a Sé de Olinda,


uma Carteira de Identidade do Conselho de Contabilidade de Pernambuco, cuja carteira
me pertencia. Ela estava toda molhada, ou seja, totalmente inutilizada. Eu a havia
esquecido dentro da maleta.

167
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LVI

O ATAQUE À POLÍCIA MONTADA

-Em uma ocasião, assisti a uma cena hilariante e ao mesmo tempo de se ter
compaixão. Estava na Rua nova em Recife, era um dia pouco chuvoso, quando observei
uns policiais da cavalaria de Pernambuco perseguindo estudantes, foi quando de
repente, saindo de uma das lojas comerciais, um estudante portando uma caixa de
sapato cheia de ximbras, espalhou-as na rua e os soldados que vinham montados nos
animais, sofreram uma espetacular queda, pois, seus cavalos ao derraparem nas
ximbras, abriam as quatro patas, cavalo para um lado e policial para o outro, era assim
que os estudantes se defendiam da polícia e, nesse mesmo dia, alguns estudantes foram
encurralados na igreja que ficava na esquina da Rua Nova com a Pracinha dos Diários
de Pernambuco, os policiais chegaram até ao disparate e desrespeito de subirem ao altar
da igreja montados nos animais.

168
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LVII

A NAMORADA E O CONTRA-SENSO

-Quando ainda morava na Avenida Getúlio Vargas em Olinda, arrumei uma


namorada, ela era gordinha. Um dia de domingo pela manhã, eu, ela, seu pai, sua mãe,
uma irmã e o noivo da irmã, fomos à missa lá mesmo em Olinda e, à tarde, fomos a um
Centro Espírita na cidade de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, menos o noivo da
irmã. Quando passamos por um bairro chamado de Socorro, havia um quartel do
exército brasileiro, salvo engano era o 14 RI, e o pai de minha namorada disse:

-Você está vendo aquele soldado que se encontra na beira daquela piscina, todos
os domingos quando passamos por aqui o vemos tentando pular na piscina, mas, não
tem coragem!

-Realmente, havia uma figura de um rapaz a beira da piscina fazendo um gesto


de quem queria pular, somente no outro domingo é que descobri que era uma estátua!

-Nessa família havia um contra censo, nas manhãs de domingo ia a uma igreja
católica assistir missa e a tarde ia ao Centro Espírita de Jaboatão dos Guararapes. O
centro espírita era mais ou menos grande, cabia umas trezentas pessoas sentadas. O
médium principal era um sargento de policia, quando não havia espírito incorporado ele
falava errado, um português de muita pobreza e, quando incorporava um espírito que se
dizia francês, ele falava bem, inclusive em francês. No Centro, havia várias portas de
entrada e saída, e em cada delas, ficava um homem sentado em uma cadeira. Nos
intervalos após a pregação, o médium saia de banco em banco onde as pessoas estavam
sentadas e distribuía fichas para consultas àqueles que estavam mais necessitados, sem
mesmo elas pedirem. A irmã de minha namorada havia terminado o noivado e o
médium passando por muitas pessoas parou de repente em nossa frente e deu uma ficha
para a irmã de minha namorada dizendo:

-A senhora está muito aperreada!

-Aquilo me deixou curioso, como ele sabia do desespero dela?

-Era um domingo, Dia das Mães, e fomos ao Centro Espírita, lá chegando, a


pregação daquela tarde foi fenomenal, pois, o tema discorrido foi sobre as mães que
eram prostitutas, bela pregação!

169
-Antes de minha cunhada acabar com o noivado, eu e a família de minha
namorada íamos sempre aos sábados à noite, dançarmos no clube dos funcionários dos
Correios e Telégrafos onde trabalhava o noivo de minha cunhada e, comermos uma das
melhores carnes-de-sol de Pernambuco, lá em um restaurante na cidade de Paulista.

170
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LVIII

A PELEGRINAÇÃO

-Quando morava na Rua da Aurora, e em uma véspera de feriado, o dia 06 de


setembro, fui convidado para ir a uma festa de aniversário em Olinda Casa Caiada, por
meu amigo Pedrinho que trabalhava comigo na Nordeste Veículos. Nessa época ele
morava na Avenida Conde da Boa Vista, no Edifício Canadá, apartamento 101,
primeiro andar, em cima da Loja Canada Color. Após a comemoração da festa, eu tive
que ir embora, o Pedrinho ficou para dormir naquela casa. Fiquei esperando o ônibus da
Nápoles o “Corujão “ e nada de passar, resolvi ir a pé até Olinda Carmo. Ora, até lá era
uma boa tirada, vários quilômetros. Chegando a Praça do Carmo fiquei um bom tempo
à espera do tal ônibus, foi quando me disseram que ele havia quebrado e não existiria
naquela madrugada outro para substituí-lo, eu estava com pouco dinheiro, pois, era o
começo do mês e só iria receber o salário no fim do mês. Havia chovido e estava a praça
muito fria.

-Se pegasse um taxi não sobraria dinheiro para me manter durante o mês.
Resolvi continuar a pé. Passei por Olinda Varadouro e ingressei na chamada “Ilha do
Maruim” em direção a Avenida Cruz Cabugá.

-Ao passar próximo a uma esquina, saiu de repente um homem alto e muito
forte, da cor negra, em minha frente, e o qual gritou:

-Galego tem um cigarro ai?

-Nessa época eu fumava cigarro, cigarrilhas e cachimbo, gostava de várias


marcas, o de mentol e Rarf and Ralf, e fumo para cachimbo o do mesmo nome anterior
e o Timoneiro. Como havia sido pego de surpresa e já era de madrugada, sozinho, e de
repente surgira a minha frente tal pessoa, fiquei tremendo e peguei a carteira de cigarros
e quis dar para ele, mas ele não aceitou e disse:

- Tá com medo galego?

- Eu lhe dissera que não, porém, por dentro, estava apavorado e dei-lhe uns três
cigarros! E ele me agradecendo disse:

- Eu sou estivador e trabalho no cais do porto do Recife, sou conhecido por


Negão, se alguém mexer com você pode me procurar que eu meto a peixeira!

171
- Após aquele resumido discurso, eu fiquei ainda mais nervoso. O negão seguiu
o seu destino e eu o meu!

-Eu vinha pelo lado esquerdo da pista de asfalto em direção ao centro do Recife.
No meio do mato de tanto as pessoas trafegarem por aquele caminho, deixou de existir
capim e naquela madrugada havia chovido um pouco e a estradinha que depois poderia
ser construída em seu lugar uma calçada, estava molhada, havia pequenas poças de
água e, em uma delas, como a lua havia de novo surgido, foi refletida a figura de uma
cobra, e realmente era uma rodilha de cobra, ela estava na poça d’água, e como eu na
infância tive pavor à cobra, como fora detalhado em capítulos anteriores, desci ao
asfalto contornando tal poça de água e segui em frente, havia tomado o segundo susto.

-Para acontecer um terceiro ou mais, não tinha importância. Ao me aproximar


da Escola de Aprendizes Marinheiro, ainda na Avenida que segue para a Cruz Cabugá,
avenida mal iluminada, um filhote de marinheiro, pois, o rapaz era baixinho, estava
vestido de farda branca, usava polainas, polainas são aqueles pedaços de couro que
ficam por cima das botas, amarradas as pernas dos soldados, e portando um rifle
daqueles de ferrolho, gritou:

- Quem vem lá?

- Eu retruquei.

- Sou eu!

-Eu quem, perguntou ele!

- Eu, Alde Lael!

- Foi quando ele engatilhou o fuzil e disse:

- Coloque as mãos para cima e venha devagar!

- Quando me aproximei ele vira que eu era um rapaz, também, de sua idade e
disse:

- Eu quase atirei em você, pois tenho ordem expressa para isso! Você sabia que é
proibido passar altas horas da noite na zona militar?

-Aleguei que não!

-Ele me deixou passar!

-A maratona ainda não tinha acabado, pois, mais adiante eu teria que passar na
calçada da Aéronautica e lá também fora interpelado por um militar vestido de roupa
acinzentada, e portando uma pistola enorme, era uma 45, mas estava no coldre e disse:

172
- Quem é você?- Mostre-me documentos!

- Tive que mostra-lo e recebi uma nova advertência para não passar por ali
nessas horas, pois, era zona militar!

-Mas adiante o penúltimo obstáculo, o Palácio dos Despachos, onde o


Governador despachava e era vigiado por policiais militares. Nova advertência e diziam
que eu tive muita sorte de passar por ali e não receber bala. O último era o Cemitério
dos Ingleses. Às seis e meia da manhã do dia 07 de setembro, dia da Pátria, chegara são
e salvo ao meu destino, a pensão do senhor Torres, onde eu morava, na Rua da Aurora.
Nunca mais quis me aventurar a passar a pé por ali!

-Naquele mesmo dia fizera amizade com um rapaz que eu conhecia de vista, da
pensão do senhor Torres. O nome dele era Valdemir Oliveira, ele era de Mamanguape
um município da Paraíba. Ficamos muito amigos e ele me convidara para a noite irmos
tomar cerveja lá no Largo da Paz, bairro conhecido por “Afogados”, por conta dele, e lá
chegando fomos a um bar e botamos várias fichas naquelas eletrolas automáticas que
funcionavam para tocar vários discos à medida que acionávamos umas teclas. A minha
preferida era “Coração de Papel” de Sergio Reis, coloquei-a várias vezes!

UMA HISTÓRIA CONTADA POR UM AMIGA DE MINHA IRMÃ CLOTILDE.

-A minha irmã Clotilde fora a uma festa de confraternização do Banco de


Credito Real, onde ela trabalhava. No outro dia, uma de suas amigas do Banco, contara
a seguinte história:

-Saindo da festa lá na Avenida Marquês de Olinda onde ficava o banco, resolveu


ir para casa pegando a Avenida Norte e, quando chegou à porta do Cemitério dos
Ingleses, que faz esquina com a Cruz Cabugá, o seu carro parou de repente. Ela tentou
por toda sorte para que ele funcionasse, porém, não houve jeito. De repente surgi em sua
frente um Negão, era muito forte e foi logo dizendo:

-Boneca o carro quebrou?- Quer que eu empurre minha gostosinha?

-Nessa altura do campeonato ela estava já apavorada, sozinha em uma rua


deserta e na porta de um cemitério, com um desconhecido, sujeita a ser atacada. De
repente teve uma ideia, e disse, imitando uma pessoa que falava feito um fanho:

-É engraçado, quando eu era viva esse carro nunca quebrou, agora que estou
morta, ele quebra todos os dias!

-Ao ouvir aquilo, o negão saiu em toda carreira, de tal maneira que os pés batiam
quase na bunda.

173
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LIX

A TRAPAÇA

-Um dia eu estava tomando umas cervejas lá no bar do Goiamum em Olinda, e


de repente chega o meu amigo Pedrinho e ficamos a beber. Um dos homens que estava
na mesa vizinha, veio até nós, ele era conhecido de longa data do Pedrinho, veio pedir
dinheiro emprestado a ele, pois, o dele já havia acabado e precisava pagar a conta. No
momento o Pedro estava com pouco dinheiro e pediu-me para emprestar e, assim, foi,
pois, ficamos todos na mesma mesa. O homem tinha um Fusca e nesse momento havia
quatro moças que estavam sorrindo para nós, soubemos se tratar de bailarinas do canal
de televisão, Canal 2. Após algumas conversas, marcamos para a tarde sairmos com
elas. O tal sujeito conhecido de Pedrinho além me dever dinheiro, convidou-me para
almoçar com ele em sua residência, dizendo que quando chegasse em casa me pagaria.
Saímos todos no carro dele. Pedrinho ficou em casa na Avenida Conde da Boa Vista e o
outro rapaz na Rua da Hora em Rosarinho e, nos dois seguimos para a sua residência.
Ele morava no bairro do Arruda e, antes de chegarmos em sua casa, ele armou uma para
cima de sua esposa, acertando comigo o seguinte:

-Olhe! Nós marcamos com as bailarinas para voltarmos à tarde para Olinda, não
é?

-Pois, você vai dizer a minha esposa que nos vamos assistir ao jogo do Sport
contra o Náutico!

-Eu sou Náutico e ela é Sport doente!

-Você vai dizer que, também, é Sport!

-Só assim podemos voltar a Olinda!

-Não deu outra coisa, inclusive mostrei a sua esposa a carteirinha do Sport do
qual eu era sócio!

-Tomei banho na casa dele e almoçamos. O almoço era dobradinha e tomamos


uma garrafa de vinho branco. Antes de sairmos, ele abriu um cofre e de lá, em minha
vista, tirou umas cédulas de dinheiro e disse:

- Quando eu trocar, lhe dou o seu dinheiro!

174
- Fiquei confiante e fomos para a aventura na praia de Olinda, mas, antes
pegamos em Rosarinho o colega dele e fomos buscar o Pedinho, daí partimos para
Olinda!

-Quando chegamos a Olinda, verificamos que havíamos levado uma rasteira das
meninas, pois, elas não compareceram. Então fomos a um bar o qual ele conhecia. Lá
no bar começamos a beber e de repente, o amigo de Pedro ficou fora de si, tendo
inclusive puxando um velho que era o dono do bar, pela beca, não querendo pagar a
conta. Vi logo que ele era um mau caráter!

-Como estava em busca de receber o dinheiro que emprestara, não arredei o pé


dali e nós fomos todos a uma boate no Recife Velho, em frente ao cais do porto do
Recife, chamada de boate Clock, relógio em inglês!

-Ficamos ali até o escurecer. Eu de calção e camiseta e a calça embrulhada


debaixo do braço, e o Pedro também. Estávamos na varanda vendo os navios, e os dois,
o amigo do Pedro e o outro rapaz, estavam em uma mesa com duas mulheres da vida,
prostitutas.

-Pediram um litro de uísque com uma jarra de água e ficaram a beber. Quando
estava vendo os navios, literalmente fiquei vendo navios, pois, de repente, o garçom
chegou para mim e o Pedro, apresentando a conta da despesa daqueles dois e, quando
nós olhamos, eles haviam sumido com as duas prostitutas, pegaram o carro e se
mandaram. Mau caráter. E o garçom a nos cobrar dizendo que eles falaram quem
pagaria a conta era um de nós dois. Dissemos que não tínhamos dinheiro e ele ameaçou
chamar a Radio Patrulha, foi quando Pedrinho deixou o relógio e sua identidade como
garantia. Nunca havia passado uma situação daquela em minha vida. A vontade que eu
tinha era ir a casa daquele sujeito para falar com a mulher dele. Em suma, era começo
de mês e eu fiquei sem dinheiro para arcar com as minhas despesas durante ele.

-Eu e Pedrinho fomos embora, porém, quando cheguei na pensão em que


morava, eu ainda tinha NCR$2,00 (dois cruzeiros novos) e, como a passagem do ônibus
era NCR$ 0,25 (vinte e cinco centavos) resolvi ir ao Parque da Pecuária onde estava
sendo realizada uma exposição de animais. E fui. A entrada me custou NCR$ 1,00 (um
cruzeiro Novo). Já quase na volta, conheci uma garota e ficamos agarradinhos, já
namorando. Quando subimos no ônibus, fiquei apreensivo, pois o meu dinheiro que
restara, não dava para pagar as passagens de todos, dela, da irmã e do namorado da
irmã, porém, ela pagou a de todos, me livrando de um vexame. Convidou-me para ir
almoçar com ela no dia seguinte, pois, morava na Praia de Rio Doce, na cidade de
Olinda. O dia não fora totalmente perdido, alguma coisa eu conquistei, pelo menos uma
nova namorada.

-No outro dia, após tomar dinheiro emprestado com o meu amigo Valdemir
Oliveira, fui ao encontro dela. Ficamos na praia, almoçamos em sua casa, apesar de seus

175
pais não me conhecerem e namoramos por um tempo, somente acabando o namoro
quando resolvi voltar a morar em Maceió.

176
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LX

MEU AMIGO RÓLINE E O BRAÇO ARMADO

-Um dia o Valdemir Oliveira, pediu que eu fosse perto de meio dia a empresa
onde ele trabalhava, era uma loja de consertos de som, a especializada ABC. A empresa
ficava na Rua Imperial, após a praça conhecida como Praça das Cinco Pontas, onde se
localiza um antigo forte que serve de turismo. Ao chegar a Rua Imperial, após passar na
calçada de uma empresa alemã, acho que o nome se escreve assim, Borrione, que
vendia máquinas pesadas para construção, catrepilhas e outras, ouvi um grande
estampido, pensei que fora um pneu de ônibus que havia estourado, e, ao olhar para trás,
assisti um homem que vinha dirigindo um jeep de quatro portas, cair de seu banco com
as pernas para cima e o jeep subir a calçada e bater na parede, foi quando um carro
parou ao seu lado e um homem desceu e pegou uma maleta que estava no jeep, entrou
no carro e o mesmo passou por mim em toda disparada, nessa altura eu estava encostado
na parede com medo de ser, também, atingido por uma bala. Soube depois que o homem
que havia morrido era o tesoureiro daquela empresa. Na mesma tarde soubera que um
carro da empresa Souza Cruz que vendia cigarros, havia em Olinda sido assaltado,
levaram todo o dinheiro e a mercadoria, porém, deixaram o motorista despido e
amarrado dentro dos matos em um cajueiro.

-Um mês depois dos ocorridos, soube que o chefe dessa organização criminosa
era um gerente de uma transportadora que morrera metralhado pela policia, na Avenida
Caxangá quando dirigia o seu Gálaxi, era um rapaz de 26 anos de idade. O carro ficara
crivado de balas e para se ter ideia, a mala do mesmo, com a quantidade dos disparos,
havia se aberto e dentro se via vários fuzis e metralhadoras. Essa organização tinha
ligação com os Tupamaros do Uruguai, no negócio de armas e drogas para financiarem
a guerrilha dentro do Brasil contra os militares, para acabar com a ditadura militar.

-Após a morte do responsável por esse braço armado, eu soubera que um amigo
de juventude que estudara comigo no Colégio Diocesano em Maceió, acabara de ser
preso lá em Olinda Carmo, em uma casa existente, quando o exército a cercara e ele
com uma bandeira branca acionando-a, se entregou.

-Ao saber a onde ele estava preso, que era no quartel conhecido por GACosM-
Grupo de Artilharia de Costa Motorizada, em Olinda Bairro Novo, fui visita-lo, porém,
quando ia chegando à guarita do quartel, ouvi um grito!

177
-Aldinho espere por mim!

-Quando olhei para trás era o Capitão Nodier ex-namorado de minha irmã
Clotilde, no passado, quando eu era ainda menino de cinco anos, em Maceió, quando
nós morávamos no Parque Rio Branco em frente ao mercado público, e ele disse:

- Sentinela esse rapaz veio me vê!

- Ao dizer isso, ele me fez ingressar em seu gabinete e me deu o maior espôrro!

-Dizendo-me:

- Você é louco! Pensa que eu não sei o que você veio fazer aqui! Eu também sou
amigo do irmão do Roline, é um colega de farda. Nem a família de seu amigo pode
visita-lo sob pena de ser presa e sofrer as consequências!

-Eu tive sorte mais uma vez em minha vida, pois, poderia ter sido confundido
com um revolucionário daquela época como era o Roline!

-Umas semanas antes desse episódio, minha irmã Clotilde, havia recebido um
convite de Nodier e sua esposa, para almoçar em sua residência que ficava em frente ao
quartel GaCosM e o convite era extensivo a mim. Quando almoçamos lá na casa do
capitão, ele voltara a me reconhecer, pois, me tinha visto somente quando criança e,
quando namorava a minha irmã Clotilde.

-Que sorte aquele convite para almoçar semanas antes!

-Meu amigo fazia parte de um braço armado da turma da Dilma, nossa ex-
presidente da república, no nordeste brasileiro. Era irmão de meu amigo Copérnico o
qual eu já falara anteriormente, que combatera a ditadura e mais tarde viera a ingressar
na marinha brasileira e outro irmão chegara a ser General do Exército. Roline fora
condenado a fuzilamento, mas, como não havia fuzilamento, embora em tempos de
guerra pudesse haver, fora comutada a sua pena em perpétua, também, não havia tal
pena e fora enviado a Ilha de Fernando de Noronha, cuja ilha só poderia ter acesso,
naquela época, a ela, pelo mar. A vida na ilha fez com que Roline aprendesse a pintar e
ficou bastante forte.

-Quando a turma da Dilma sequestrou o Embaixador dos Estados Unidos, o


mesmo fora entregue aos Tupamaros e uma das exigências para a devolução do
embaixador, era que os Estados Unidos soltassem os presos políticos deles, inclusive os
do Brasil, e o Roline fora incluído nessa lista como preso político.

-Anos depois, antes das diretas já, eu estava em Maceió olhando uma exposição
de pinturas no Teatro Deodoro, quando esbarrou em mim por duas vezes, um homem
forte e eu já queria brigar com ele, porém, ele disse.

178
-Não está me reconhecendo mais, amigo?

-Era o Roline, que estava de passagem por Maceió às escondidas!

-Ele dissera-me que havia escapulido da Bolívia pela fronteira e estava morando
no Rio Grande do Sul, lugar onde ele morou por alguns anos e se casara com uma
gaúcha e, estava em Maceió em visita a sua família. Quando viera a abertura política,
Roline viera morar de novo em Maceió, nessa época ele estava descasado e morrera em
um acidente de veículo em Maceió.

179
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXI

NERI GRISOR IRMÃO DE NODIER E A DITADURA.

-Fato um pouco semelhante, menos de fazer parte de nenhum braço armado,


aconteceu com o irmão do capitão Nodier, o de nome Neri Glisor, que, também, quando
eu era criança, namorou a minha outra irmã, a Clésia. Neri era professor do ITA, do
exército brasileiro, era formado em matemática e em engenharia eletrônica e se dizia
comunista. Quando estourou a ditadura em 1964, pouco tempo depois, Neri teve que
fugir do Brasil, e nessa época ele era casado com uma gaúcha e juntamente com ela e
sua filha, tentou fugir, e a polícia estava em seu encalço, o avião iria posar no aeroporto
de Congonhas onde estava sendo esperado, mas, devido ao mau tempo, o avião pousou
no Aeroporto de Vira Copos, e lá a polícia não o estava esperando. De lá, fugiu pela
fronteira para a Bolívia, onde se tornara professor universitário e engenheiro na
construção de uma hidroelétrica que o fizera ganhar muito dinheiro, cujo capital, anos
depois, ele viera emprega-lo na compra de várias casas no bairro de Ponta Grossa em
Maceió, quando veio às escondidas, cuja renda dos alugueres deu para ele se manter
durante o tempo que passou em sua cidade natal. Nunca soube se ele encontra-se vivo
ou morto.

180
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXII

A INTERVENÇÃO DE GERALDO VANDRÉ

-Outro fato que aconteceu comigo, foi quando fora tomar uns drinques em uma
palhoça, tipo bar e boite que era em Rio Doce, Olinda. Eu gostava, como até hoje gosto,
da música de Geraldo Vandré, chamada de “Pra não dizer que não falei das flores”
que diz mais ou menos assim:

Vem vamos embora/ esperar não é saber/ Quem sabe faz agora/ Não espera
acontecer- e assim por diante!

-Ela era proibida e eu não sabia. Coloquei várias fichas na eletrola do bar,
repetindo-a, e alguns minutos depois gritaram:

-Olhe a polícia!

-Vi muitas pessoas fugindo do local por uma lateral, fiz o mesmo, fugi por baixo
de umas redes, pois, o bar, salvo engano, chamava-se “Arrastão”. Dias depois soubera
que essa música era proibida e por isso o bar fora fechado. Não tive culpa de seu
fechamento, pois, não tinha ideia da proibição da música. Tudo me acontecia, era um
caso sério.

181
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXIII

RISCO DE MORTE

-Doutra feita, lá vinha eu de um clube que ficava no bairro de Casa Amarela, era
o Clube dos Funcionários do Banorte, e, como eu nessa época pertencia a Credinorte,
firma do grupo Banorte, frequentava. Nesse dia estava havendo boite. Lá pela
madrugada fora comer em um restaurante muito famoso que ficava no bairro do Derby,
era a Palhoça do Melo, servia um dos melhores galetos do Nordeste, pois, o melhor era
A Toca em Maceió. O ambiente era amplo e a noite eles colocavam a meia luz, mas
com luz suficiente, era um ambiente agradável.

-Ao sair da Palhoça do Melo, enveredei por uma rua estreita, próxima ao Bar
Canavial, ela era de paralelepípedo irregular. Quando seguia por aquela via, ouvi em
minhas costas o barulho que um veículo fazia naquele calçamento irregular, o mesmo
barulho que se ouve nas pistas de placas de cimento- toc, toc, toc! Quando olhei para
trás, realmente era um veículo. Encostei-me a uma parede para deixa-lo passar, foi
quando o veículo parou ao meu lado e um homem apontou uma arma para mim, mas
não atirou, pelo contrário, pediu-me mil desculpas e disse:

-Desde que você rapaz, chegou à Palhoça do Melo, eu pensei que era o assassino
de meu irmão, pois, o ambiente estava na penumbra e você pareceu com ele!

-Quis dar-me uma carona, nessa hora jamais podia aceita-la, estava tremendo
dos pés a cabeça. Não aceitei a carona. Sai a pé, atravessei ladeando o canal que passava
próximo aquela rua, para o lado do Colégio Americano Batista, e enveredei pela
Avenida Conde da Boa Vista até pegar um ônibus, pois nessa época eu morava na Rua
do Veiga por traz da TV Canal 6 e Avenida Cruz Cabugá.

182
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXIV

NAMORO POR ENGANO

-Mais uma mancada ! - Uma tarde sai de casa da Rua do Veiga, que ficava entre
a TV canal 6 e a TV canal 2. No canal 2 estava havendo um programa ao vivo, era um
programa de calouros comandado por Ademar Paiva, famoso apresentador, nunca tive
coragem de ir até lá para cantar, ao lembrar-me do fiasco na Rádio Difusora de Alagoas,
quando fui gongado por três vezes. Nas imediações da TV, morava uma garota, tinha
uns quinze anos. Naquele momento fiz amizade com ela e ficamos de nos encontrar à
noite na porta de sua casa. Às sete horas, passei para pega-la, lá vinha ela calçando
umas alpercatas de tiras e trajando um vestido todo de florzinha, para irmos dar uma
volta pelo Parque 13 de Maio. Saímos de mãos dadas. Ela era da classe média, eu
avistara um carro na garagem de sua casa. Era bonitinha, um tipo “falsa magra”. No
quarteirão do Colégio Estadual de Pernambuco, havia vários armazéns não me lembro
se eram para estocar açúcar, só sei que as paredes dos prédios eram dobradas como as
dos prédios da zona portuária de Jaraguá em Maceió. No recuo da parede ficamos
agarradinhos, eu ainda não sabia o nome dela e perguntei-lhe.
- Como é o seu nome?

- E ela com aquela educação de mocinha inexperiente, nunca havia namorado,


olhou para mim e de repente exclamou:

- Beija-me, Beija-me!

- Não tive dúvida e taquei-lhe um tremendo beijo, foi quando ela tomada de
surpresa me empurrou e disse:

-Você é tarado!

- Perguntei-lhe o porque e ela disse:

- Não quero mais namorar com você, no primeiro dia você me beija sem me
conhecer direito, quanto mais nos próximos dias!

- Eu respondi que fora ela quem pediu para que eu a beija-se!

-E ela me disse:

- Beijamim é o meu nome!

- Fora uma situação inusitada, pois o nome era igual ao pedido. Terminamos ali
o namoro.

183
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXV

POLÍCIA EM AÇÃO

-Quando morava, ainda na Rua do Veiga, a exemplo de quando morava na Rua


da Aurora, eu tinha várias amigas, e todas as noites eu ia dar umas voltas no Parque 13
de Maio. Era lá que as encontrava, e os amigos diziam:

-Lá vem o Alde e suas cabritinhas!

-Havia dois restaurantes, a Torre de Londres e a Palhoça. Nunca as namorei,


porém, era uma quinta-feira da Paixão, eu estava sozinho quando encontrei uma delas.
Ficamos conversando e como o parque estava deserto pela aproximação do feriado,
começamos a nos abraçar e deitamos na grama do parque por trás de uma “sebe” e
ficamos naquele xumbrego e, em um dado momento, ao levantar um pouco a cabeça,
avistei dois pares de botas a minha frente, após, a “sebe”, era a polícia militar, uma
dupla de Cosme & Damião. Que azar, quando eu tinha conseguido alguma coisa com
aquela criatura, acabara a festa e a oportunidade de ouro, e saímos de mansinho.

184
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXVI

O CRIME

-Quando ainda namorava a Fátima Gates, estava embaixo de um abrigo de


ônibus a espera de um deles, era o que ia para a casa de Fátima, o de Casa Forte. O
ponto de ônibus ficava em frente a um parque que antecede ao Parque 13 de Maio, na
Rua Riachuelo, em frente à Faculdade de Direito de Recife, a Adolfo Cisne, onde, vou
lembrar mais uma vez , era onde o futuro e finado senador da República Marcos Freire
lecionava. Estava uma turminha conversando sentada na grama do parque, dois rapazes
e uma moça, quando de repente, os dois rapazes iniciaram uma briga, estavam se
agarrando e rolando no capim, e, um deles, puxou de uma arma pequena, depois soubera
que era calibre 22, e, quando rolavam para a direita nada acontecia, porém, quando
rolavam para a esquerda a arma disparava e nós ficamos escondidos no abrigo do ônibus
na iminência de levarmos um tiro. A moça pedia para eles acabarem com aquilo, mas,
não houve jeito, muito pelo contrário, ela correra para uma pequena árvore do parque e
um dos projetil quase a atingiu. Um dos tiros pegou no olho direito do rapaz que não
estava portando arma. A coisa se deu rapidamente e o portador da arma saiu correndo
pela Rua Riachuelo, dobrou outra rua em direção a Avenida Conde da Boa Vista, e um
investigador que ia passando na hora o perseguiu, porém, não conseguiu alcança-lo. Fui
olhar o rapaz ferido e nesse momento, vinha correndo com um fuzil na mão, um soldado
do exército que estava de plantão, pois, o Quartel Geral do exército, da Sétima Região
Militar, ficava em frente à praça, do lado contrário à pista principal e, quando vi de
quem se tratava, era um amigo meu de Maceió, o Romeu. O rapaz tinha o cabelo curto
um pouco pelado e o Romeu disse-me:

-Que não podia prestar socorro e se meter, somente a polícia civil, agora se
fosse um recruta militar, o caso era com eles!

-Nessa época eu ainda trabalhava na Nordeste Veículos e, na segunda feira,


soubera que o rapaz havia morrido, e ele era um recruta militar, e que o seu irmão era
sargento do exército, e nosso cliente, pois, tirara um carro no consórcio, passara à noite
a procura do assassino em todas as boites que ele costumava frequentar em Boa
Viagem, mas não o encontrou.

-Disseram que o assassino era filho de um grandão, de um dos donos da fábrica


dos confeitos BEIJA-FLOR, chamava-se a Fabrica de Renda Priori, hoje ela

185
se situa na cidade pernambucana de Abreu e Lima, uma importante fábrica de
embalagens, a turma era acostumada em fumar maconha sobre as lápides do cemitério
de Santo Amaro.

186
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXVII

O CLUBE DO BANORTE - E PASSANDO FOME

-Na república, eu morava com mais quatro amigos, na Rua do Veiga, um deles
era o gordinho chamado Hélio que trabalhava na fábrica da Cervejaria Brahma, havia o
Mauro que trabalhava na fábrica de tecidos na cidade de Paulista, Pernambuco, outro
era o Celso, este era Cearense, que trabalhava juntamente comigo, na Credinorte, e o
outro era um dos chefes da Credinorte chamado de Edson Chagas, pernambucano da
cidade de Carpina, seu pai era comerciante naquela cidade e nessa época ele era noivo.

-O Celso era muito pirangueiro e quando nós pegávamos um taxi para vir para
casa de qualquer parte do Recife, o Celso sempre vinha ao lado do motorista e, quando
o taxi parava, ele descia correndo para não pagar e, quando andávamos de ônibus, ele
ficava por último e nos fazia vergonha dizendo, antes de passar na borboleta, de que não
tinha dinheiro para pagar a passagem, lá ia o Edson pagar a sua passagem. Celso
empregava quase todo seu salário em Letras de Câmbio para quando fosse entrar de
férias, resgata-las para gastar aquele dinheiro em passagens aéreas e outras quando ia
visitar a sua família em Fortaleza. Para se ter ideia, Celso a partir da sexta-feira, já ia
passar o fim de semana na casa da namorada na cidade de Jaboatão dos Guararapes para
não gastar com comida.

-No bairro de Afogados, conhecido, também, como “Lago da Paz”, havia um


restaurante chamado de Carne de Sol do Barreto, lá eles serviam para cada pessoa,
vários pratos, eram umas cambucás de barro, sendo, uma com macaxeira, outra com
inhame, outra com rapadura raspada, outra com batata doce, uma com farofa, outra com
feijão verde e finalmente, o prato com a carne de sol. A propaganda do Barreto dizia:

-Se alguém conseguisse comer toda aquela comida existente nas cambuquinhas,
não pagava o almoço, ou jantar!

-Pois o Celso conseguiu comer tudo para não pagar a despesa!

-Como éramos funcionários da Credinorte, possuíamos a carteirinha do Clube


dos Funcionários do grupo do Banorte e do Supermercado Compre Bem, cujo
supermercado pertencia ao Presidente e ao vice-presidente do Banorte, respectivamente,
Jorge Batista da Silva e o senhor Moreira. Quando fazíamos despesas naquele clube ou
supermercado, assinávamos vales que eram descontados de nossa folha de pagamento

187
no fim do mês. No supermercado quem era responsável em comprar as mercadorias
para a república, era o Edson Chagas. No fim do mês o Edson somava os vales, pagava
de seu bolso e descontava de nós, de mim e de Celso, e recebia por fora de Hélio e
Mauro.

-Eu sempre ficava liso, sem dinheiro e, quando ia ao clube, eu e os meninos da


república tínhamos um acerto com os garçons que era o seguinte:

-Se as despesas com bebidas e comidas fosse x, nos pedíamos que ele colocasse
na conta um valor superior, e ele nos dava a diferença, mas, antes, tirava os seus dez por
cento e, saíamos com algum dinheiro do clube para ser descontado no fim do mês. Essa
operação era realizada constantemente por nós!

-Nos fins de semana, Celso ia para Jaboatão, Hélio, Mauro e Edson que eram de
Carpina, viajavam para lá e eu ficava sozinho. Em frente ao nosso prédio de
apartamentos onde funcionava a nossa república, existia um barraco que fornecia
comidas. Eu tinha vergonha de deixar lá um pendura para pagar depois, e, por muitas
vezes, ficava com fome, porque, apenas tinha o dinheiro do transporte para ir ao clube
pedir adiantamento de dinheiro, através de vales. Lá vem outra mancada. Certo fim de
semana houve um aviso do clube que ele somente funcionaria no domingo, pois, da
sexta-feira ao sábado estaria fechado para uma reforma. Estava, como sempre, sem
dinheiro e fiquei de sexta-feira, à noite, ao domingo, sem comer nada.

-Sentia o cheiro da sopa que vinha do barraco, mas, não tinha coragem de pedir
fiado. Em casa somente existia farinha de mandioca, peguei um punhado dela e fiz uma
espécie de mingau, comi aquela gororoba quase vomitando. No sábado não aguentava
mais de comer mingau de farinha de mandioca. Finalmente chegara o domingo e eu
possuindo o dinheiro de ida e de vinda do transporte, era NCR$ 0,50 (cinquenta
centavos), vinte e cinco de ida e vinte e cinco de volta. Peguei o ônibus para Casa
Amarela em direção, ao salvador, ao Clube do Banorte. Lá cheguei com muita alegria,
pois iria comer e descontar ainda um dinheiro adiantado de meu salário. Que decepção,
pois, na porta havia um membro da diretoria que me apontava um aviso, o qual dizia:

-Lamentamos profundamente a morte do associado fulano de tal, pois, não me


lembro do nome, por isso hoje não haverá expediente no clube!

-Que frustação, mais uma mancada, talvez desmaiasse de fome, pois, somente
comeria na segunda-feira bem cedo, quando os meninos voltassem do fim de semana.
Chegando em casa fora me deitar e, todas as vezes que tentei me levantar, a cabeça
rodava e eu retornava ao leito!

-Lá para as 04:00 horas da tarde, eu escutei umas batidas na porta do


apartamento, a pessoa batia com tanta força que eu pensei que iria botar a porta abaixo.
Era o Edson Chagas, ele vinha de Carpina e havia esquecido a chave do apartamento.

188
-Quando chegou foi logo perguntando:

- Bicho, já comeste?

- E eu respondi que não! - E ele-

- Então vamos sair para comer lá no restaurante do Parque 13 de Maio!

-Foi a minha salvação,! – Pois, o Edson que sempre só chegava às segundas-


feiras, brigou com a noiva e antecipou a viagem. Almoçamos galeto e depois fomos
para a zona ver as “meninas traquinas”. Mais uma das minhas aventuras funestas.

189
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXVIII

A ELEIÇÃO E QUEM ASSUMIU

-Em 1968, era época das eleições municipais no Brasil, os candidatos a prefeito
da cidade de Olinda, eram, o professor Barreto Guimarães e o futuro Senador da
República, o advogado e professor Marcos Freire. Nessa época eu morava em Olinda na
Av. Getúlio Vargas com o meu tio Dino e, por trás da casa dele, ficava a praia de
Olinda. Na orla morava o candidato Barreto Guimarães e ele convidara o cantor
Caetano Veloso para o comício de encerramento. Ele ficara hospedado na casa do
candidato. Caetano era bem magrinho, fiquei próximo dele aos uns dois metros de
distância. Ele era um cara chato e sem educação, não deu valor a ninguém, nem uma
boa tarde. Naquela época já gostava de vestir aquelas saias compridas.

Durante o último comício de Marcos Freire, que fora realizado em frente à Praça
do Carmo, ele deixou que uma de suas alunas, não sei e nunca soube o seu nome,
discursasse e ela em um momento disse:

-O Barreto Guimarães, vive metendo-me o pau pelas costas, quero vê se ele tem
coragem de meter pela frente.!

-Foi aquele inferno, a maior esculambação e, quando ela passava pela Rua do
Sol, lá em Olinda, a turma passou a gritar:

-Oh mocinha para gostar do pau pela frente!

-Marcos Freire ganhou as eleições com mais de 70% dos votos, porém, as forças
armadas não o deixaram assumir, talvés, em virtude de não atingir o coeficiente
eleitoral, como foi o caso de Muniz Falção em Alagoas, não me lembro quem assumiu.

A PESSOA CONHECIDA POR JAIRO

-Quando, ainda, morava na casa de meu tio Dino, lá na Avenida Getúlio Vargas,
em Olinda, eu fizera amizade com dois rapazes que eram donos da Panificação
Olindense, possuíam um conjunto de música e um bar na orla marítima chamado de
Samburá. Nessa época eu namorava com uma moça que residia no bairro de Cajueiro e
ela tinha sido namorada de um deles. Ela, coincidentemente, era prima de um conhecido

190
meu chamado de Breno Souto Maior que era dono da empresa Ponto Certo, na praça
Deodoro, na cidade de Maceió, Alagoas.

-Mas, a namorada não tem nada haver com a pessoa conhecida como Jairo!

-Na minha mocidade, eu conhecera em Maceió, um rapaz, que nessa época ele
tinha doze anos de idade e, como era filho único, seus pais lhe presentearam com um
automóvel Fusca, cujo carro para ele dirigi-lo, acionava os pedais do acelerador e do
freio, com as pontas dos pés.

-Ele era filho do senhor Antonio Palmeri, presidente da CAMIL, que possuía
propriedade na cidade de Cajueiro-Alagoas.

-Jairo sempre dirigia em alta velocidade, e não tinha medo de morrer. Um belo
dia, ele nessa época já contando com quatorze anos de idade, me dera um bigu, ou seja,
uma carona, do centro de Maceió até o Farol, para irmos assistir a saída das alunas lá no
Colégio Santíssimo Sacramento. Naquela época era contra-mão subir a Ladeira da
Igreja da Catedral e Jairo sempre subia, fazendo aquela estreita curva que vai para o
Colégio Sacramento. Nesse dia ele fez a tal curva, sem mesmo saber se vinha um carro
em sua mão de direção. Fiquei apavorado e não quis mais andar com ele, pois, o carro
ficara em duas rodas. Quase todos os anos, Jairo ganhava um carro novo.

-Um dia lá em Olinda, os rapazes da Panificação Olindense, perguntaram se eu


conhecia uma pessoa de Maceió apelidada de “Jairo Cinquenta” que, também, estava
morando em Olinda?

-Lhes dissera que não!

-Certo dia, eles me apresentaram ao tal rapaz, e, para minha surpresa, era o meu
amigo Jairo de Maceió!

-Perguntei-lhes o por que do apelido!

-E eles me disseram que o Jairo só diriga a cinquenta quilômetros por hora, era
muito medroso!

-Que diferença!

-Hoje Jairo é formado em Direito, é um próspero agropecuarista, e seu filho já


fora prefeito da cidade de Cajueiro-Alagoas.

-Faz muito tempo que não o vejo!

191
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXIX

A MINHA GALEGUINHA E O CLUBE DE CAMPO

-Também, na Rua do Sol, em uma das vezes que eu passava por ela, vi uma
moça interessante, era uma galeguinha que morava em uma casa tipo estilo castelo, a
casa tinha uma escadaria de mármore e embaixo, um tipo de porão parecido com
senzalas para colocação de escravos. Em resumo, ficamos namorando. O nome dela era
Elifrance, tinha cinco irmãos e duas irmãs. O mais velho da família era o Fredson,
depois vinha o Winison, o Haiala, Marcos e Alberto, e, as irmãs, Franciline e
Francileide. Fredson passara em um concurso da Receita Federal, Winison há pouco
tempo tinha deixado de servir ao exército, Haiala era mecânico, e, os outros dois eram
ainda muito novos, como também, as irmãs de Elifrance.

-Minha namorada era uma exímia fazedora de crochê, fazia um vestido, se


pegasse o dia todo, a noite ele ficava pronto, era muito rápida. O pai se chamava
Gerson, era um homem baixinho, parecia um pouco com o cantor Juca Chaves. No
passado tinha sido proprietário de uma fábrica de doces que ficava na curva de Olinda
Varadouro com o asfalto que dava para Olinda Carmo, onde depois fora inaugurado o
mercado de artesanatos. Faliu em virtude de ter sido enganado por um sócio que fora
embora para os Estados Unidos.

-Tinha muita dificuldade financeira para sustentar vários membros da família.


Sua esposa era uma excelente costureira e o ajudava nas despesas da casa, nunca soube
qual era a sua verdadeira profissão, mas, era um homem empreendedor, ao ponto de ter
a ideia de inaugurar um clube de campo que o chamara de Engenho Manjope, pois, alí
no passado, na época dos escravos, havia um engenho com o mesmo nome. A casa
grande ainda estava de pé, como também, as dependências dos escravos. No primeiro
andar da casa ainda se via um porão com uma argola e correntes onde eram amarrados
os escravos. Havia várias senzalas que eram alugadas aos associados para gozarem
férias e um rio que passava dentro da propriedade, ela pertencia a 33 herdeiros,
inclusive a um professor que morava em Olinda.

-Aquela propriedade situava-se em Cruz de Rebouças localidade pertencente,


salvo engano, ao Município de Paulista ou Abreu e Lima. Seu Gerson tratou de
regularizar a documentação para funcionamento do clube. Mandou construir duas
piscinas, cujas piscinas não eram com azulejos e como ele era muito inteligente,

192
mandou fazer uma calha de madeira para cada piscina, que operava da seguinte
maneira:

-A água era corrente, se colocava a calha e deixava a piscina encher e quando ela
estava cheia, ele mandava tirar a calha e aquilo virava uma mine cachoeira, e a água
passava pela piscina e desaguava em uma tubulação que ia para o meio do mato, feito
um canal, a piscina permanecia sempre cheia.

-Aos domingos, nós, quando não íamos de ônibus, utilizávamos três veículos,
dois eram da família, um pertencia ao Haiala e o outro era uma espécie de jeep chamado
de Jeep Ster que pertencia ao Winison, o terceiro, pertencia ao namorado da Franciline
chamado de Plácido, este trabalhava na Cooperativa dos Plantadores de Cana de
Pernambuco e o seu veículo era um carro antigo, daqueles do tempo do cinema mudo,
um Chevrolet 34, de pneus médios.

-Havia naquela época uma garotinha que gostava muito de mim e todas as vezes
que eu e minha namorada estávamos juntos, ela vinha conversar conosco. Eu possuía,
na boca, uma peça com dois dentes, os dentistas a chamavam de Bridge, e, um dia ao
tomar banho em uma das piscinas, ao tossi, a peça escapuliu, pensei que a água a havia
levado ou ficara perdida na piscina. A piscina não era larga, porém, era um pouco
funda, e, eu pensei que ela havia escapulido quando da passagem da água corrente e se
perdera no mato e na tubulação. Ela ficou sabendo da perda e fora procurar na piscina.
Dai a pouco gritou:

- Eu vi! Eu vi!

- Perguntei se era verdade e ela:

–Eu vi! - Ela estava sorrindo para mim!

- Fiquei decepcionado!

-Mais tarde ela saiu gritando pelo meio do clube!

- Achei! Achei!

-Era verdade, saiu gritando com a peça na mão e eu fiquei envergonhado. Já em


Maceió e casado pela segunda vez, no Shopping Maceió, eu fora jantar e fiz amizade
com a proprietária de uma daquelas lanchonetes que ficam na praça da alimentação e,
ela me dizia que era de Recife, e eu perguntei-lhe se conhecera o Clube Engenho
Manjope e ela me dizia que era assídua e o genro do presidente do clube era amigo dela.

-Resumindo, era a própria!

-Namorei a Elifrance por muitos meses e me diverti muito na companhia dela e


de seus irmãos!

193
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXX

AS VIRGENS DE OLINDA E O PADRE HAIALA

-No carnaval de Olinda assisti pela primeira vez o trote proporcionado pelas
Virgens de Olinda. Nessa época ainda existia o corso no centro de Recife. Fomos
brincar carnaval no corso. Preenchemos todos os lugares da Chevrolet pertencente ao
Plácido. Ela tinha dois estribos que serviram, também, de acomodação. Haiala utilizou
uma batina de padre emprestada por um pároco e o seu chapéu e fomos para o corso na
Avenida Conde da Boa Vista, cujo percurso, também, era inserido o Derby, a Rua do
Sossego, a Avenida Guararapes, Dantas Barreto e outras. Por coincidência, havia um
cidadão que tinha um jeep e estava participando do corso, cujo jeep possuía um sino e,
todas as vezes que cruzávamos com ele, ele acionava o sino e Haiala ia até lá benzer as
pessoas. Começamos a participar do corso uma semana antes do domingo de carnaval e,
naquela época, era proibido fazer críticas a governo e autoridades militares e
eclesiásticas e, o Haiala, estava brincando carnaval vestido de padre. No último dia de
carnaval, fomos parados por uma patrulha da polícia militar e o comandante dela disse
ao Haiala:

-Seu padre faz uma semana que o estamos procurando, não vamos leva-lo preso,
porém, o senhor deverá tirar o chapéu e a batina se quiser continuar a brincar carnaval!

-E assim o Haiala procedeu, a sorte é que ele estava por baixo da batina usando
uma bermuda!

-Naquela época todos nós, quer dizer, os irmãos e cunhando de Elifrance,


inclusive eu, tínhamos um código para nos comunicarmos que era:

- Vaca boi!

-E a outra pessoa respondia a contra senha.

- Boi vaca!

-Até hoje quando me encontro com Winison eu grito a senha e sou


correspondido com a contra senha!

194
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXI

A FESTA DA VIRADA

-Era véspera da virada do ano, de 1968 para 1969, e a família de Elifrance, eu e


Plácido, fomos fazer uma visita a um tio deles que morava na Tamarineira, perto do
Asilo dos Loucos, ele era representante da empresa fabricante da Gilette, e, na volta,
resolvemos encurtar caminho para Olinda, e fomos pela Estrada de Belém, no bairro de
Campo Grande, e, ao chegarmos à fábrica Tacaruna, hoje Shopping Tacaruna, na curva
com a continuação da Avenida Cruz Cabugá, próxima a Escola de Aprendizes
Marinheiro, um dos carros que nós íamos, o do Haiala, parou de repente, e, como estava
faltando poucos minutos para romper o Ano Novo, as meninas ficaram chorando, pois,
nunca tinham rompido o ano fora de casa e essa seria a primeira vez e toda aquela
comida as esperando. Haiala era um bom mecânico, entendia mesmo de carro, todos nós
descemos e ele abriu o capô e fora ver o que aconteceu. Ao soltar as presilhas do
distribuidor, descobriu que o rotor havia partido em dois pedaços. O distribuidor é
aquela peça onde se conecta os cabos de vela, onde se coloca o platinado, e, o rotor, eles
ficam dentro do distribuidor e quando se dá a partida, o rotor gira, mais não poderia
girar, porque, estava partido em dois pedaços. As meninas além de chorarem,
começaram a rezar. Haiala pegou os dois pedaços da peça que era de baquelite e uniu-as
e colocou no lugar, na segunda tentativa, o motor pegou e nós pedindo a Deus que o
carro não parasse mais, pois, faltava mais ou menos uns três quilômetros para
chegarmos em casa, e Haiala não poderia dirigir em velocidade para que o rotor não
desapartasse mais. Quando a igreja bateu os sinos da meia noite anunciando o começo
da missa campal que era realizada em frente à Praça do Carmo, nós estávamos parando
na porta de casa, foi àquela alegria. Se existem milagres aquele foi um deles, coisa
nunca vista.

A FAMÍLIA QUE SE TORNOU DE MÚSICOS

-Winison casara com uma moça chamada Ana Lúcia que teve um filho por nome
de Winison Júnior, cujo filho eu o conheci quando recém-nascido e, outros dois, o
Wencles e Marlon. Ela falecera e Winison casara novamente e fora morar em Maceió.
Marlon casou-se com uma moça por nome de Paula, os dois eram vocalistas da Banda
Calcinha Preta, e ele tem outro irmão por parte de pai, que faz dupla com outro rapaz,
dupla chamada de Raphael e Gabriel. Outro irmão de Elifrance o Marcos, também tem
um filho que é músico e outros da família, todos músicos.

195
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXII

QUANDO O DESTINO INTERVÉM

-Em 1962 meu pai ia participar de um Congresso de Jornalistas em Palmeira dos


Índios, Alagoas, no qual congresso ele participaria como um dos oradores, em virtude
de meu pai, além de jornalista, professor, era também imortal da Academia Alagoana de
Letras e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, e, me convidou para ir
com ele. Nessa época, eu ainda trabalhava no Jornal de Alagoas, pertencente aos Diários
Associados. Quando chegamos à Palmeira dos Índios, ficamos hospedados na casa do
tabelião da cidade. O congresso durou três dias.

-No dia do encerramento, conheci uma garota que fazia parte de uma comitiva
de um colégio de freiras da cidade de Bom Conselho, Pernambuco, não consegui
conversar com ela, porque, as freiras não davam brecha, porém, como eu não tinha no
momento um pedaço de papel, anotei o seu nome em um lenço branco pertencente a
mim, e, o nome dela, não sei, porque, me marcou, era o seguinte:

-Cleide Mércia Presideu!

-Quando trabalhei em Arapiraca, no Banco do Estado de Alagoas, uma turma de


formandos do quarto ano de ginásio do mesmo colégio de Cleide, fora vender rifa no
banco para angariar dinheiro para a sua formatura, e eu, perguntei a elas se conheciam a
Cleide Mércia Presideu, e, uma delas, disse-me que era sua prima, muita coincidência.
Mas, as coincidências não ficaram por ali.

-De regresso do congresso em Palmeira dos Índios, dei uma grande mancada,
dessa feita foi pesada. Quando cheguei à Rodoviária para pegar o ônibus da Empresa
Palmeirense, eu presenciei um funcionário da empresa colocando as bagagens nas malas
do ônibus e não me preocupei. Quando cheguei à Maceió, fora pegar a minha mala e,
para surpresa minha, ela havia ficado na agência da empresa. Fiquei desapontado, pois,
naquela mala havia roupas e sapatos caros e empregara muito dinheiro para adquiri-los,
pensei que as tinha perdido, por sorte, uma semana depois os resgatei.

-Durante o congresso, meu pai havia sido convidado para almoçar na casa de
Geraldo Sampaio, dono da Rádio local, no futuro, dono de uma Emissora de Televisão e
do Parque das Flores. Era uma fazenda que ficava no alto de Palmeira dos Índios.
Durante o almoço, lembro-me bem, havia um senhor vestido a caráter servindo à mesa e

196
ao mesmo tempo nos abanando com uma espécie de leque feito com penas de pavão,
muito chique aquilo, somente ricos podiam usufruir daquilo.

-Quando morava em Olinda, Pernambuco, isso em 1968, eu sempre conversava


com uma moça que frequentava a praia e, um dia, ela disse que estava se despedindo de
mim, pois iria morar no Paraná e eu perguntei se ela era de lá, porém, ela disse-me:

- Sou pernambucana, sou da cidade de Bom Conselho!

- E eu perguntei-lhe se conhecia a Cleide Mércia Presideu!

-Como resposta disse-me:

– A Cleide é minha prima e por sinal encontra-se no Recife passando as férias!

-E eu lhe contei em que ocasião a havia conhecido! - E ela respondeu:

-Se você quiser se encontrar com ela, é somente ir à Rua Nova no centro de
Recife onde existe em um 1º andar um Foto pertencente a nossa tia, fica do mesmo lado
do oitão da igreja da pracinha dos Diários de Pernambuco. Vá lá fazer-lhe uma visita!

-Não fui me encontrar com ela!

- Mais uma vez aquela moça desconhecida cruzara o meu caminho e tão distante
de minha terra natal!

197
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXIII

LUGARES QUERIDOS

-No Recife, ainda trabalhando na Credinorte, frequentava a dois lugares


espetaculares, na minha opinião! Um era depois do Edifício Ipê, perto da Igreja de
Nossa Senhora do Carmo, eram casinhas recuperadas pela prefeitura e tombadas pelo
Patrimônio Histórico e Cultural, onde funcionavam uns barzinhos. Eu tive o privilégio
de frequentar um deles, com um senhor que passou um tempo trabalhando conosco, ele
era escritor baiano, seu nome era Eudo Dantas Canário, havia editado alguns livros. E
outro lugar que eu frequentava sempre, era a Feijoada do Jaime, no bairro do Pina, ao
lado do bar, o Jaime tinha um açougue, era a melhor feijoada do Nordeste.

198
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXIV

MUDANÇA DE EMPREGO E A PREMONIÇÃO

-Quando trabalhava na Nordeste Veículos em Recife, um dia chegou uma


senhora viúva pedindo emprego e, eu, com pena dela, a contratei. Nesse tempo eu era o
contador da empresa. Passara mais de um ano e ela começou um romance com um dos
donos e eu passei a ficar sem controle sobre ela, pois, não me obedecia mais. Uma vez,
mandei-lhe que fizesse um trabalho de urgência e ela não o fez, não tive dúvida, dei-lhe
uma suspensão de oito dias. Esse fato aconteceu em uma sexta-feira. O ato suspensivo
eu o colocara na mesa do Diretor Presidente, mas, cheguei a uma conclusão de que a
suspensão não teria nenhum efeito e eu ficaria desmoralizado. Então, resolvi pedir a
minha demissão e a coloquei no birô do presidente. Ao ler o pedido de demissão, ele
mandou-me chamar e disse que queria que eu fosse almoçar com ele em sua residência
no outro dia, que era um sábado.

-Disse-lhe que ia, mas não para almoçar!

-Eu conhecia um rapaz na pensão que eu morava, chamado José Maria, ele era
de Serra Talhada, Pernambuco, formado em filosofia, professor, e acabara de se formar
em direito e tinha recebido a carteira da OAB. Estava querendo montar um escritório
Jurídico-Contábil. Antes de ir à casa do diretor, fui me encontrar com ele em um
barzinho na Avenida Guararapes, e lá ele me apresentou a um rapaz que já trabalhava
com um irmão que era advogado e resolvemos abrir o escritório. Fomos ao Edifício
Inalmar próximo aos Correios e Telégrafos ver uma sala, estava tudo engatilhado.

-Ás 13:00 horas, fui a casa do diretor, lá chegando ele quis saber por qual motivo
eu estava deixando a empresa. Contei-lhe o ocorrido e, nessa época, eu ganhava muito
pouco, cerca de NCR$300,00 (trezentos cruzeiros novos) e ele disse que eu não saísse
que ele aumentaria o meu salário para NCR$900,00 (novecentos cruzeiros novos). Eu
lhe dissera três coisas - A primeira era se eu estava merecendo um aumento, pois, já
trabalhava desde 1967 e estávamos em fevereiro de 1969, portanto dois anos, por que
ele não me aumentou antes? - A segunda era, que se eu ficasse o problema iria
permanecer, pois, ele não ia brigar com o seu sócio. - A terceira e última coisa, fora uma
ideia do destino, pois, lhe dissera que estávamos no dia de sábado e se na segunda- feira
se alguém me convidasse para trabalhar pelo valor de NCR$ 220,00 (duzentos e vinte
cruzeiros novos) eu iria deixar a sua empresa.

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-Na segunda feira, cheguei para trabalhar lá pelas nove horas e quando acabei de
sentar-me em minha cadeira, o interfone toca e a telefonista avisava de que havia uma
ligação para mim.

-Alô seu Alde, aqui é o gerente da Credinorte, empresa do Banco Banorte. O


senhor passou em um teste há um ano e queria hoje a tarde fazer uma entrevista de
emprego com o senhor!

-À tarde compareci à Credinorte e a proposta era a seguinte:

-Inicialmente eu receberia NCR$ 220,00 (duzentos e vinte cruzeiros novos) e, se


a cabo de três meses eu demonstrasse ser um bom funcionário, acabaria o contrato de
experiência e automaticamente a minha carteira de trabalho seria assinada
definitivamente com o salário de NCR$ 264,00 (duzentos e sessenta e quatro cruzeiros
novos). Que praga do destino, que premonição era aquela, como eu poderia dizer se na
segunda - feira alguém me acenasse com um salário de NCR$ 220,00 (duzentos e vinte
cruzeiros novos) eu iria. E assim deixei a Nordeste Veículos, porém, não deixei de
fechar os balanços anuais e impostos de renda da empresa durante mais três anos.

-Na Crédinorte trabalhava na seção de Contratos, a empresa era situada na


Avenida Marquês de Olinda quase em frente ao Restaurante Gambrinus, onde nós
fazíamos as refeições.

-Não vou declinar o nome de meu chefe por questão de segurança. Trabalhava
com afinco e comecei a notar que a empresa vinha tendo vários prejuízos, pois, se
trabalhava com papel-moeda, os financiamentos eram convertidos em Letras de Câmbio
e as gavetas do cunhado de meu chefe estavam abarrotadas de letras de Câmbio
inutilizadas. Comuniquei o fato a ele e notei que ele não gostou. Começou a me
perseguir, além de fazer o meu serviço, um funcionário, por sinal competente e direito,
o Carlos Alberto, estava de licença de saúde, e ele também empurrava o trabalho dele
para eu fazer, além de outros funcionários. Havia uma máquina chamada de “Adrema”
era onde se confeccionava as Letras de Câmbio. O funcionário dessa máquina chamava-
se Ivan e, em sua falta, o chefe, também, mandava que eu o substituísse, como, também,
a outro chamado de Souto Maior.

-Quando completei os três meses de experiência, a minha carteira de trabalho


fora renovada com o mesmo salário, NCR$ 220,00 (duzentos e vinte cruzeiros novos), e
quando perguntei a razão?

- Ele disse que era aquilo mesmo!

- Isso fora em uma sexta-feira!

-Na segunda-feira, quando cheguei para o trabalho, não encontrei o meu birô no
lugar, havia um espaço entre os birôs e ao interpelar o meu chefe ele disse-me:

200
- Você agora vai trabalhar em outro prédio, na rua de trás, já mandei instalar um
interfone e lhe dei um funcionário para lhe ajudar!

- Que negócio eu fizera em minha vida, trocar um salário de NCR$ 300,00


(trezentos cruzeiros novos) na condição do mesmo ser majorado para NCR$ 900,00,
por um de NCR$ 220,00 e sem aumento!

-A frente do prédio dava para a mesma avenida e seu fundo para a rua de trás,
colado com uma casa de recursos, uma boite de prostituição. O funcionário escolhido
era um dos piores que eu já trabalhei em minha vida, o nome dele era Roberto.

-Roberto era incompetente e só me fazia trabalho errado. O chefe o havia


colocado de propósito para que eu falhasse em meu trabalho e fosse posto para fora ou
resolvesse pedir demissão!

-O interfone tocava insistentemente!

-Então, a planilha de cálculos da empresa tal esta pronta?

-Perguntava o meu chefe!

-Para não haver engano, eu não deixava o Roberto calcular as planilhas. Nessa
época trabalhava-se com duas espécies de máquinas de calcular, uma da marca Facit e a
outra“Divisuma”, uma manual de alavancas e outra elétrica.

-Outras vezes que o interfone tocava, era outro colega de nome Masilon que
sempre dizia:

-Bicho! Vê se erra pelo menos um centavo, para eu consertar, pois, a coisa está
muito monótona!

-Certo dia, era na parte da tarde, ouvimos pisadas no corredor, pois, o piso era de
madeira. Apareceu na nossa frente um senhor moreno,vestindo terno, muito educado,
que nos interpelou:

- O que é que vocês estão fazendo aqui?

- Expliquei-lhe que era um setor da Credinorte, o Contrato! - E, ele:

- A carteira de Contrato é na outra rua, explique-me isso!

- Eu tinha conhecimento de que o Edson conhecido por “Mangaba” estava


querendo sair do setor de contabilidade e ir para o setor comandado por um chefe
chamado Antonio, estava querendo uma permuta triangular, ou seja, outro funcionário
estava querendo ir para o Contrato e ele para Cobrança. O nome daquele senhor era
Ênio, que viera ser o novo Superintendente da Credinorte, estava vindo da empresa

201
Atlantic, era formado em economia. Ao dizer do meu desejo de fazer a permuta
querendo ir para a contabilidade, pelo fato de ser contador, ele me fez uma proposta.

-Se fosse tudo verdade aquilo que contara, ele me transferia para a contabilidade,
porém, se fosse mentira, ele me colocaria para fora do emprego!

- Disse-lhe que sondasse, não com meu chefe e sim com outras pessoas!

-Na semana seguinte, ele mandou que eu arrumasse as minhas coisas e fosse me
apresentar na contabilidade ao contador chamado Sinval!

-Fui trabalhar na conciliação bancária. Seu Ênio era uma pessoa maravilhosa e
seu Sinval, como se diz, uma “Mãe”. Feitosa era meu chefe. Um dia eu propus a seu
Ênio organizar o almoxarifado de material e o arquivo de correspondências, os fiz, e
para minha surpresa, o meu antigo chefe colocou o Souto Maior como chefe de
Almoxarifado dando-lhe uma comissão de chefia.

-Não havia caixas para organizar as correspondências, e seu Ênio comprara


papelões e ensinara-me a confecciona-las. Ele vendo o meu empenho, fora falar com o
Diretor Geral para aumentar o meu salário e, qual não fora a surpresa, ele tinha sabido
pelo meu antigo chefe que eu era um péssimo funcionário e o diretor estava querendo
me colocar na rua. Meu salário passou automaticamente para NCR$ 264,00 (duzentos e
sessenta e quatro cruzeiros novos) e, pelas minhas costas, o Edson o “Mangaba” havia
acertado com o Diretor para ganhar NCR$500,00 (quinhentos cruzeiros novos) pela
organização do arquivo de correspondências, o qual arquivo quem o fez fui eu.

-Trabalhei de fevereiro de 1969 a janeiro de 1970, quando pedi demissão para


voltar à Maceió para trabalhar com meus irmãos em um fábrica de letreiros luminosos
que eles possuíam próximo a curva da Praça conhecida como Centenário, mas, antes de
me desligar da empresa, aconteceram várias coisas. A primeira, fora que eu comecei a
desconfiar de que havia um grande desfalque, um grande roubo dentro da empresa, e
estava desconfiado de onde partia. Mas, não havia recepção por parte do senhor Ênio e
do senhor Sinval, eles diziam que havia um engano de minha parte!

-A segunda, fora, quando eu pedi demissão, o Diretor Geral senhor José da


Costa Tábua, disse-me:

-Tem certeza de que quer sair?

- Eu disse que sim e assinei a minha demissão!

-Foi quando ele disse-me:

-Ok, já está demitido, saiba que você estava escolhido para ser o novo chefe do
Setor de Conciliação, porque, o seu chefe o Feitosa, vai sair daqui para assumir um

202
cargo de Gerente Financeiro de outra financeira, e você passaria a ganhar NCR$ 900,00
(novecentos cruzeiros novos).

-Triste sorte!

-Vim para Maceió e fiquei morando na casa de um dos meus irmãos, e, com
vinte dias exatos, ele me botou para fora da empresa e de sua residência. Fiquei com
uma mão na frente e outra atrás como se diz na gíria!

A CONFIRMAÇÃO

-Antes de voltar a morar em Maceió, um belo dia, encontrei-me no Recife com


aquele amigo conhecido por Humberto que era de Arapíraca. Ele convidou-me para
jantar em seu apartamento, estava morando, nessa época, no bairro de Rosarinho, na
Rua da Hora. Quando lá cheguei, a primeira coisa que ele me mostrou foi um exemplar
de um jornal de um país estrangeiro, não me lembro de qual, em cujo jornal vinha
estampada a foto daquele americano, o David, o qual em Arapiraca eu o taxava de
espião. Realmente eu estava coberto de razão, pois, a notícia dava conta de que aquele
rapaz fora preso na Rússia como espião americano.

203
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXV

DE VOLTA A MACEIÓ

-Desempregado em Maceió, quando havia chegado do Recife, meu padrinho


Paulo, aquele que quando eu era criança, dera-me um porre de lança-perfume que eu
quase morri, arranjou um emprego na Usina Uruba e, como sempre, muito sortudo, o
meu primeiro trabalho fora recuperar 300 (trezentas) folhas do Livro Diário que os
cupins as havia comido.

-Começara muito bem!

-Meu chefe era e ainda é, uma pessoa muito boa, o meu prezado amigo
Sebastião Cardoso, hoje aposentado como Auditor Fiscal da Receita Federal em
Alagoas e exerce a profissão de advogado juntamente com um filho!

-Um dia, como eu havia trabalhado na Credinorte, fora escalado para tratar de
uns contratos de Plano Canavieiro com aquela empresa e, à noite, quando eu passeava
próximo a antiga rodoviária de Recife, encontrei-me com o antigo funcionário, o
Roberto, que me interpelou:

-Alde, a Polícia Federal lhe procurou?

-Perguntei-lhe, por que? E ele respondeu!

-Porque, a polícia prendeu uma gangue dentro da Credinorte e nosso chefe da


Carteira de Contratos era um dos que comandava a quadrilha, e você estava certo
quando dizia que havia roubo lá dentro!

-Foram presos uns quinze funcionários!

-No outro dia quando cheguei à CREDINORTE, os senhores Ênio e Sinval me


receberam com grande alegria e pediram desculpas por não terem me dado atenção
quanto a minha descoberta.

O AMIGO POR NOME MÁRCIO

-Quando retornei do Recife, ainda solteiro, conheci um rapaz por nome de


Márcio e ficamos amigos. Naquela época ele possuía um automóvel marca Simca
Chambord da Chrysler do Brasil.

204
-Certo dia, ele, eu e outro amigo por nome Roberto, o “Beto”, fomos dar um
passeio pelas bandas de Richo Doce. Lá chegando, conhecemos umas garotas. Fomos
tomar banho de rio, pois, naquela região existe muitos rios dentro da mata.

-Ficamos de nos encontrar com elas à noite, no Mirante da Sereia. A tarde, o


Márcio lá na beira da praia, construiu um ninho de amor. Fincou uns paus na areia, e fez
uma casinha cobrindo-a com palhas de coqueiro, e disse:

-Esse lugar é meu, ninguém toma!

-A noite lá vamos nós três ao encontro com as moças. Eu e Beto ficamos cada
qual com uma delas nos bancos existentes no Mirante da Sereia e, Márcio, desceu para a
praia.

-Naquela época os bancos do mirante ao invés de serem horizontais, eram em


forma de círculos, já se imagina a dificuldade!

-Quando estávamos no auge do amor, ouvimos pedidos de socorro e


descobrimos que era o Márcio quem pedia. Deixamos de fazer o que estávamos fazendo
e, do jeito que viemos ao mundo, pulamos do Mirante à areia da praia, e, quando
chegamos próximo do Márcio, lá estava ele com alguns côcos nas mãos e gritando:

-Seu filho da p... vá embora! - E atirava os côcos em alguém ou em algo!

-Custamos a descobrir que se tratava de um cachorro! – E Márcio nos contava:

-Estava ele no ato, quando de repente sentiu no meio de suas nádegas uma coisa
fria, a princípio pensou que era o cano de um revolver e que um ladrão o estava
ameaçando! - De repente sentiu um hálito quente e ouviu um espirro, descobrindo que
era um cachorro!

-Hoje Márcio é um próspero empresário de Alagoas e não aceita nem de


brincadeira em recordar-mos o tal lance, e Beto na época, era empresário do ramo da
moda, dono da “Beto Modas”, porém, depois, viera a falir!

OUTRA DO MÁRCIO

-Era noite de festa na Praça da Faculdade, local onde quase todas as festas de
rua eram realizadas alí.

-Encontrei-me com Márcio e ele me propôs uma aposta- Consistia a aposta no


seguinte- Para vê quem tinha, dos dois, namorado mais!

-De repente aparece uma garota, e Márcio pergunta:

-Eu já namorei com você?- ela respondeu que sim!- e Márcio- e com ele?- ela
respondeu que também!

205
-E assim por diante, foram aparecendo outras garotas e as respostas eram
positivas tanto para Márcio quanto para mim!

-De repente, surgiu uma das mais lindas garotas da época, em Maceió, cuja
pessoa até hoje mantem-se bonita e elegante! - E Márcio fez a clássica pergunta:

-Eu já fui seu namorado?- e ela respondeu- Já!- e Márcio sabedor de que ele
tinha sido o primeiro e único namorado dela, perguntou: - E ele?- Não!- Mais já
namorou a minha irmã Petrúcia!

-Houve empate na contenda e paramos por aí!

O IRMÃO CHAMADO ATAÍDE

-Eu tenho um colega chamado de Ataíde, é professor de matemática.

-Todas as pessoas que nos conhecia, achavam que eramos irmãos gêmeos,
devido a quase semelhança.

-Um belo dia, Ataíde me chamara para irmos a cidade do Pilar, Alagoas, para
um baile, para a escolha da Miss Pilarense. Fomos, porém, como o desfile demorou
muito, eu viera embora mais cedo.

-Uns dias após aquele baile, recebi um convite para comparecer a outro, dessa
feita era um de formatura que realizar-se-ia no Iate Clube Pajuçara.

-No dia da festa, cheguei quando o baile já havia iniciado. Ao adentrar próximo
ao salão de dança, uma moça, uma das mais bonitas que já havia visto em minha vida,
se aproximou e disse:

-Agora que você veio, eu já estava querendo ir embora!

-Se abraçou comigo e fomos dançar agarradinhos e de rostos colados. Após,


algumas músicas executadas pela orquestra, uma pessoa toca em meus ombros e diz:

-Que sacanagem é essa, irmão!- Quer tomar a minha namorada?

-A moça ficou sem saber o que fazer e disse:

-Eu pensei que era você, pois, são muito iguais!

-Eu não sabia que Ataíde tinha arranjado uma namorada na cidade de Pilar na
noite do baile, e, a moça, era a vencedora do concurso de Miss Pilar!

-Tempos depois, ela quando estava namorando com um outro rapaz, vinha da
Praia da Avenida Duque de Caxias, em um Jeep tipo Bugre, sentada sobre uma toalha,

206
na parte trazeira do veículo, com os pés sobre o banco, como é o costume de muitos
turistas, quando o namorado ao fazer uma curva nas imediações do Cais do Porto de
Maceió, perdera o controle e o veículo se chocara com um poste e a Miss fora
arremeçada do lugar em que estava, tendo morte instantânea!

-Faz alguns anos que não vejo o Ataíde, quando solteiro, ele morava com os pais
e ajudava-os em uma fábrica de picolés e sorvetes na Rua Miguel Omena, no bairro do
Prado.

DAÍ PARA O CASAMENTO FORA UM PULO

-Em 1970 eu conhecera uma moça chamada Gilma a qual me apresentara as suas
irmãs e, uma delas, chamava-se Gleide, eram da família Cavalcanti Wanderley, natural
de Maragogi, Alagoas. Era ano da Copa do Mundo. Em fevereiro, eu estava na semana
que antecede ao carnaval, na avenida conhecida como Avenida da Paz, mas o nome
passara a ser Avenida Duque de Caxias, assistindo os desfiles de blocos e ouvindo as
orquestras de frevo, quando a Gleide me convidou para passar o carnaval em Maragogi,
não aceitei. No mês de maio, eu soubera que a minha antiga namorada, aquela de
Arapiraca a MJ, estava naquele sábado à noite casando com o irmão de um amigo meu,
lá em Arapiraca.

-À noite, lá eu estava circulando na Praça Deodoro em Maceió, sem sossego,


sabendo que naquele exato momento estava casando aquela que eu gostava muito, foi
quando apareceu juntamente com uma colega, a Gleide, convidaram-me para ir até
adiante entregar uma carta, não quis, porém, após muita insistência, fui. Foi o começo
do namoro que redundou em um casamento desastroso, não que ela não fosse boa
pessoa e sim por não haver muita amizade, acho, de minha parte, pois, a pessoa a quem
eu queria estava já casada.

-Aquele era o ano em que o Brasil tornara-se Tri Campeão Mundial de Futebol
e, não sei se por euforia, fiquei noivo.

MUDANÇA DE EMPREGO E ELE VIERA ME CONTAR

-Trabalhei na Usina Uruba de fevereiro de 1970 até setembro do mesmo ano,


quando fui trabalhar na COHAB Alagoas, Companhia de Habitação Popular de
Alagoas, como chefe de uma divisão contábil. Lá organizei o setor contábil, relativo às
cobranças e controle de casas vendidas, desocupadas e indenizadas pelo seguro.

-Um dia havia uma solicitação do Diretor Financeiro para entregar um trabalho
de urgência, eu estava por demais atarefado quando me ocorre um pensamento estranho,
como se alguém houvera me dado um recado, e o pensamento era o seguinte:

207
-Wilson morreu em um desastre de automóvel!
-Wilson estava fazendo medicina e era o filho único do Dr. Atílio, dono da
empresa Nordeste Veículo a qual eu havia sido contador, lá no Recife. Esse aviso entrou
em minha mente as 16:20 da tarde. Fiquei impressionado, dias depois, quando fora a
Recife visitar a minha irmã Clotilde, encontrei-me na Avenida Guararapes com um
rapaz chamado Joaquim que era o cobrador da empresa e, ao vê-me dissera.

-Você soube que...?

-Não o deixei nem terminar a frase e disse-lhe:

- Que Wilson morreu em um acidente de automóvel!

- Ele perguntou quem havia me dito!

-E eu lhe contei o fato e como resposta ele disse:

-Exatamente nessa hora o Wilson ia em direção a Olinda, no seu Fusca, pela


Cruz Cabugá quando um ônibus da Nápoles montou na traseira de seu veículo e subiu
no teto esmagando-o. Ele tivera morte instantânea!

- Pergunta-se, quem me contou, ele, porque, sempre fora meu amigo e viera-me
contar sobre a sua passagem!

A AUDITORIA DO BNH

-Uma vez chegara a COHAB uma equipe de auditores comandada por um


senhor chamado Nelson, Dr. Nelson, e, o nosso presidente, o Dr. Luiz Renato Paiva
Lima, chamou-me a sua presença e queria o levantamento de tudo em meia hora.
Dissera-lhe que se ele quisesse tudo certo, eu e minha equipe viraríamos a noite toda e
no outro dia lá pelas dez horas da manhã, estaria tudo pronto em seu birô- Foi quando
ele argumentou:

-Que sempre tinha os dados lhe ofertados, sempre em meia hora!

-Disse-lhe que não faria!

-Acertei com os auditores para a manhã seguinte. No outro dia, lá estava o


serviço pronto. Os auditores ao verem uns formulários desconhecidos e de minha
autoria, e após eu explicar os seus funcionamentos, eles disseram:

-Que iam implanta-los em todas as COHAB do Brasil!

-Uns quinze dias depois, a diretoria da COHAB recebera um telegrama do


Presidente do BNH- Banco Nacional de Habitação elogiando-me pelo trabalho, como,
também, a outra funcionária chamada Nita, e esses telegramas foram postos em um
mural nas dependências da COHAB para todos os funcionários verem.

208
-Dias depois, o diretor financeiro senhor Valdemar Pereira Lima, que havia sido
prefeito de uma cidade do interior alagoano, a cidade de Penedo, desfalcou a minha
equipe tirando uma funcionária para ser sua secretária, achando que os cinco
funcionários eram demais, e eu fora falar com ele, alegando que ao invés de tirar
funcionários eu estava precisando de mais dois, mas, não houve jeito e eu fizera uma
correspondência ao presidente narrando o fato e o diretor não gostando, deu-me 10 dias
de suspensão.

-Na hora do lanche, lá vinha o diretor, esperei que ele viesse, peguei a suspensão
que estava no mural juntamente com o ofício vindo da presidência do BNH, me
elogiando, rasguei-a em pedacinhos e, quando ele foi passando, joguei em sua careca,
ele era careca, e disse-lhe:

-Isso é confete para o senhor brincar carnaval!

- Ato contínuo pedi demissão, mas, o Dr. Luiz Renato de Paiva Lima, disse que
eu cumprisse a suspensão que depois ele iria aumentar o meu salário. Nessa época,
todos os funcionários ganhavam NCR$ 499,20 (quatrocentos e noventa e nove cruzeiros
novos e vinte centavos). Não aceitei e deixei naquele mesmo dia o meu emprego. Uns
dois anos depois, encontrei-me com o senhor Valdemar nas dependências da empresa
Correios e Telégrafos na Rua João Pessoa e fizemos as pazes.

-No outro dia da minha demissão, a tarde, lá estava eu caminhando na rua que
dar para os fundos da Assembleia Legislativa, quando um carro para ao meu lado e um
conhecido meu da COHAB disse-me:

–Taí! Foi fazer besteira ficou sem o emprego!

-E eu retruquei:

-Que horas são?

-E ele- São quatro horas da tarde!

-E eu- aposto com você que daqui para as seis da noite estou empregado em
outro lugar!

-Quem falava comigo era o Dr. Ciridião Durval, que fora Juiz de Direito
Estadual em Alagoas e Prefeito da cidade de Passo de Camaragibe, também, em
Alagoas. Assim se deu a premonição. Lá para as seis eu estava empregado, desta feita
em outro órgão público a COBAL-Companhia Brasileira de Alimentos, na
contabilidade e o meu chefe era o Iúgo e o salário era idêntico ao da COHAB.

209
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXVI

O ENGODO

-O emprego, também, na COBAL, não dera resultado, por um motivo muito


forte. O Iugo ganhava bem como contador, o salário era NCR$ 4.200,00 (quatro mil e
duzentos cruzeiros novos) e o meu, NCR$ 499,20 (quatrocentos noventa e nove
cruzeiros novos e vinte centavos). Mas não fora por isso, é que havia um gerente vindo
do Rio de Janeiro, um farrista chamado Luiz, todos os dias tomava uma garrafa de
Uísque, estava hospedado por conta da COBAL no hotel Beiriz. Ele me fez uma
proposta imoral, dizendo:

-Se eu queria ganhar NCR$ 4.200,00 (quatro mil e duzentos cruzeiros novos)
como chefe dos Armazéns Gerais.

-Claro que eu queria!

-Mais havia uma condição!- Eu ganharia aquela importância, seria o responsável


pelos Armazéns, mas o meu trabalho seria feito por outro, que ganharia NCR$ 3.600,00
(três mil e seiscentos cruzeiros novos) e eu faria o trabalho dele- Aquilo me cheirava
roubo, eu seria o responsável, o outro fazia o meu trabalho e se houvesse um desfalque
eu seria o culpado.

-Dois meses depois eu e Iugo deixamos o emprego. Iugo fora ser sub-contador
na TELASA-Companhia Telefônica de Alagoas, trabalhando com seu pai que era o
contador e eu fora para lá como mecanógrafo trabalhando na contabilidade, ganhando
NCR$ 600,00 (seiscentos cruzeiros novos), isso se deu em meados de 1971.

O FUXICO

-Chegando à TELASA, encontrei a contabilidade com nove meses de atraso, e


em dois, a coloquei em dia, sendo elogiado por todos e a empresa que prestava serviço
de auditoria a TELASA, a Confidor, teceu muitos elogios, não a mim e sim ao contador,
senhor Ferreira.

-Nunca tive sorte com emprego, pois, ao sacrificar minhas noites e fins de
semana para colocar em dia a contabilidade, sem receber horas extras, ao receber meu
salário, do mesmo veio descontado NCR$ 100,00 (cem cruzeiros novos), por fuxico de
um chefe de um setor, um engenheiro que mais tarde viera a ser o presidente da

210
TELASA, vou deixar o nome em suspenso, pois, ele naquela época tinha curso até na
Alemanha, porém, não sabia de nada de telefonia, pois, o bambambã era um técnico
estrangeiro que viera do Paraná, o Cecil, cobra em montagens de Micro-Ondas, não é
aquele aparelho que se prepara comida e as esquenta e sim estações de telefonia da
época. Quando recebi o salário com desconto, liguei para o responsável que era
sobrinho do Presidente da empresa, reclamando do desconto e dizendo:

-Você vai pagar as minhas horas extras? Quando chego atrasado é porque
trabalhei quase a noite toda para colocar em dia o trabalho deixado pelo amiguinho do
presidente que me antecedeu, por que você não vai descontar o salário da amante do
Cecil que só chega atrasada?.

-À tarde recebi através do interfone uma ligação do Manoel Barbosa, pessoa


que, também, no futuro, fora nomeado Presidente da TELASA, para que eu fosse
receber o cheque da diferença.

-Enquanto trabalhava na TELASA, após colocar em dia a contabilidade, prestei


serviço extra a CAMIL, uma cooperativa que distribuía leite em Maceió, e, foi através
dessa empresa que cheguei a ser contador da COMESA- Companhia Metalúrgica de
Alagoas S.A, na cidade de Atalaia, Alagoas, após me desligar da TELASA em janeiro
de 1972, nessa época eu estava recém-casado com Gleide.

-Eu tinha um conhecido que antes de mim, fora chefe do setor que eu comandei
na COHAB, era o Augusto, e, quando eu fui para a COMESA fora exatamente assumir
o lugar dele na função de contador, não era perseguição não, era o destino. Depois
Augusto tornara-se advogado.

-E que Deus o tenha em bom lugar, pois, o mesmo já falecera!

211
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXVII

O GENERAL DE PIJAMA

-Antes de me desligar da TELASA, soubera de uma passagem que acontecera na


COBAL, como eu previra, o gerente era uma pessoa desonesta, passarei a contar o fato
que aconteceu lá!

-Havia os Supermercados pertencentes à COBAL, e, em Palmeira dos Índios,


um casal de velhos era responsável pela administração daquele supermercado. Ao se
fazer uma auditoria nas entradas de mercadorias e nos estoques, havia uma falta de
muitos produtos em virtude das mercadorias terem entrado e não se encontrarem na
empresa, eram notas fiscais frias, não havia compras. Os supostos responsáveis foram
presos e levados ao exército ao 20º BC que ficava, como até hoje fica, na Avenida
Fernandes Lima em Maceió, foram acusados de roubo, era o tempo da Ditadura isso em
1971, até segundo nos contaram, apanharam muito e foram postos no pau-de-arara.

-Mal sabia o gerente que os velhos eram primos legítimos do deputado federal
TENÓRIO CAVALCANTE, o homem que mandava e desmandava na baixada
fluminense, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, conhecido como o homem da
“Lurdinha”, esse era o apelido de sua metralhadora.

-Tenório quando fora acionado pela família dos presos, mandara um General de
“Pijama”, apelido dado àquelas figuras do exército que já estavam reformadas, à
Maceió, para libertar os presos e, chegando aqui, o general conseguiu, segundo algumas
pessoas informaram, mandar o Comandante do quartel do 20º BC para uma base do
exército lá para as bandas do Amazonas.

-Se eu tivesse aceitado o cargo de Encarregado dos Armazéns Gerais da


COBAL, poderia acontecer o mesmo comigo, sem haver roubado, porém, eu seria o
responsável pelos desfalques por ser o chefe dos armazéns. Nada aconteceu de mal com
o gerente, nunca mais soube do paradeiro dele, pois voltara naquela época para a cidade
do Rio de Janeiro.

-Pergunta-se? - Sou uma pessoa realmente de azar ou de sorte?

212
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXVIII

O MEU DESEMPENHO NA COMESA

-A COMESA fora uma boa experiência, muito sofrida, porém, de muita


satisfação, uma verdadeira massagem para o meu “EGO”. Quando cheguei para
trabalhar como contador, foi através de um diretor da CAMIL, que me levara para lá.
Isso foi em um dia de Sábado. No domingo quando eu estava na praia da Avenida
Duque de Caxias, encontrei um recente demitido engenheiro da COMESA, meu
conhecido chamado Pedro, ele morava na subida da ladeira que dá acesso ao Parque
Gonçalves Ledo, no Farol, e o mesmo me dissera:

-Será um mau negócio você ir trabalhar na COMESA, o povo de lá não tem


coração, eu mesmo sai, porque, briguei- E me contou o motivo- Contava ele que uma
bica onde corria água quente havia caído sobre um operário e ele ficara todo queimado.
Pedro procurou dar-lhe socorro, porém, um dos donos da empresa dissera que em seu
carro ele não iria, inclusive, o gerente, também, cujo gerente era conhecido como
perverso, mais mesmo assim, o Pedro dera-lhe um murro na cara e levou o operário para
ser atendido.

-Após saber a onde estava entrando, aceitei mesmo assim o emprego, pois, o
salário era de NCR$ 1.000,00 (mil cruzeiros novos) com despesas de alimento e
hospedagem por conta da empresa!

-Na primeira semana de trabalho, não consegui dormir, porque, o lugar


destinado ao dormitório, meu e do químico, era a poucos metros do forno onde eram
derretidos as sucatas de ferro, e os demais componentes, para serem transformados em
lingotes de ferro, para a feitura dos vergalhões para serem vendidos na utilização de
construções de casas e prédios. O barulho era insuportável, porém, duas semanas mais
tarde, era música para meus ouvidos!

-As refeições da manhã nós fazíamos na própria fábrica e almoço e jantar, no


centro da cidade de Atalaia. Para irmos ao centro, utilizávamos um bondinho puxado
por um trator, e, quando o bondinho trafegava pelo centro da cidade, era aquela
gozação!

-O balanço da empresa, do exercício encerrado em dezembro de 1971, estava


dando diferença, e não havia jeito de fecha-lo, pois, persistia uma diferença de pouco

213
mais de CR$ 54,00 (cinquenta e quatro cruzeiros) até, que, descobri que o balanço
anterior havia sido fechado na marreta.

-A empresa havia sido beneficiada por empréstimos da SUDENE e segundo a


auditoria, não poderia dar prejuízos constantes nos últimos cinco anos, sob pena de
redução de capital, com a consequência de desvalorização de suas ações. Nesse
exercício havia um grande prejuízo, o que fazer. Trabalhava junto a mim, um dos donos
da empresa, um excelente sujeito e competente, formado em economia, o nome dele era
Raigran, da família Monte, eles eram donos também da empresa Monte Máquinas
situada no centro de Maceió e de uma empresa de Planejamentos Técnicos de
Engenharia, chamada de Projetec.

-Os setores da fabricação consistiam em: - Aciaria, Desbaste e Laminação-


Como funcionava cada um deles? - A Aciaria- em um tacho enorme que servia para
receber as sucatas de ferro, alumínio e o Ferro Gusa, eles eram derretidos e após, o
líquido incandescente era jogado em cubas como se fora aquelas cubas de fazer picolés,
para serem transformados em lingotes, tipo barras de ferro. Após serem transformados
em lingotes, os mesmos eram aquecidos em um pequeno forno e depois iriam para o
desbaste, em estado de muitos graus de temperatura.-No Desbaste- havia um tipo de
gangorra, onde, dois operários um de cada lado, quer dizer, lados opostos, ficavam, e no
meio, havia uma espécie daqueles cilindros de padarias de esticar a massa para fazer
pães e bolachas. O lingote encandecido era colocado naquele cilindro através de
forquilhas, tipo de alicates, e, quando ele saia do outro lado, já saia mais fino, e o outro
operário o pegava e o devolvia para o outro lado e o outro operário o devolvia de novo,
até que ele ficasse feito uma cobra, fino e grande, essa era a função do setor do
Desbaste- A Laminação- Quando um operário pegava aquele aço encandecido mais
fino, o colocava em outro cilindro de dimensões menores, até que ficasse na espessura
dos ferros que serviriam para fazer vigas de construções civis, tornando-se vergalhões,
chamados de CA 50 e CA 25.

-Após explicar-me como funcionava a fabricação dos vergalhões, eu comecei a


raciocinar como tirar aquele prejuízo para que fosse transformado em lucro.

-Com a ajuda de Raigran, sai perguntando a ele o que faziam com aquelas sobras
e ele respondeu que aquelas sobras eram de novo derretidas e iriam se constituir em
novos lingotes. Ali estava o “X” da questão. Porque, havia despesas com a Aciaria; as
despesas da Aciaria eram transferidas para o setor do Desbaste que se somariam as
despesas daquele próprio setor e depois se somariam as despesas da Laminação. Mandei
que fossem pesadas aquelas toneladas de sobras de ferro, de cada setor e calculados os
custos e, ao invés delas serem consideradas despesas, passaram a ser consideradas
estoque de matéria prima, e foi assim que consegui reverter um prejuízo em lucro.

-Fui muito elogiado, porém, quando chegou o mês de abril, eu fui sondado se
queria trabalhar na empresa distribuidora da Cerveja Antarctica pertencente ao senhor

214
Jeferson Lima, como chefe de escritório, ganhando CR$ 1.500,00 (mil e quinhentos
cruzeiros) empresa situada em Maceió, lá no bairro do Farol. Nessa época eu morava no
Pinheiro, no Jardim das Acácias, ficava não muito longe da empresa. Fora convidado
pelo próprio empresário. Disse-lhe:

-Não posso me desligar da empresa agora, pois ainda tem o Imposto de Renda a
ser feito!- Seria uma covardia deixa-la na mão!

- Ele concordou e disse que esperava!

- Pedi demissão e qual não foi a minha surpresa, quando ele mandou um recado
por um dos meus irmãos, que não ia precisar mais de mim. Estava eu mais uma vez
desempregado, recém-casado e devendo todos os eletrodomésticos e móveis as lojas do
comércio.

-Fui lá falar com o Jeferson e ele me dizia:

-Enquanto você não encontrar emprego, venha todos os meses buscar CR$
1.000,00 (um mil cruzeiro)!

-Disse-lhe que não era a sua rapariga e passei muitos anos sem falar com ele!

215
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXIX

A SAPATARIA TORRES

-Desempregado e devendo muito, uma das vezes que passei pela Rua Moreira
Lima, onde ficava a loja na qual eu devia um bocado, o proprietário me viu e me
chamou, o nome dele era José Dias, pai de uma moça que eu no passado queria muito
namora-la, ela tinha o apelido de “Doda”. Ele sempre fora uma pessoa honesta, educado
e perguntou-me:

-O que estava acontecendo comigo, pois, me considerava uma pessoa boa


pagadora e eu estava em atraso!

-Contei-lhe o ocorrido e ele disse-me:

-Que não tinha nada não, pois, quando eu arranjasse um novo emprego, ele sabia
que eu pagaria o débito!

-Minha mãe arranjou um emprego através do marido de uma prima de meu pai, a
dona Vanusa, proprietários de uma loja na Moreira Lima, a Loja Tupy e do
Conservatório de Musica de Maceió, parente dos Drs. Ivan Brito, pai e filho, ambos
juízes de direito em Alagoas.

-O emprego era na Sapataria Torres, de José Alves Torres, hoje ele é proprietário
da firma Bellas Artes. A minha função era a de chefe de escritório. Eu gostava como
ainda gosto, do senhor Torres, somos ainda amigos. Lá aconteceu um fato interessante:

-Era a copa do Mundo das Confederações e um dos jogos seria em Maceió, no


Trapichão, o Estádio Rei Pelé. Jogava nessa época a Seleção da Concacaf, uma seleção
das Americas do Norte, Central e Caribe e, naquela época, havia apostas como até hoje
existem. Um dos empregados de seu Torres conhecido como “Guanabara”, ele era
pintor e encarregado de pintar os cartazes de anúncios dos preços dos sapatos e roupas,
havia jogado, e foi um dos ganhadores do sorteio. Ficou todo ancho e quando seu Torres
fora dizer que ele agora estava rico, ele lhe dissera:

-Estou rico e compro até a merda de sua loja se eu quiser!

-Seu Torres ficou triste, sempre o tratou com decência. Dias mais tarde, quando
ele fora receber o premio, uma quantidade imensa de pessoas havia ganho juntamente

216
com ele e o premio fora de CR$ 400,00 (quatrocentos cruzeiros) só dava para comprar
alguma coisa. Foi àquela decepção, e,como seu Torres gostava muito do” Guanabara”,
não o colocara para fora.

O EMPREGO NA SOCIMITA- FIRMA REVENDEDORA DE VEÍCULOS.

-Enquanto trabalhava na Sapataria Torres, fazia um bico como mecanógrafo na


empresa concessionária de veículos chamada de SOCIMITA, lá vendiam veículos da
Chrysler do Brasil, Simca Alvorada, Simca Chambord, Simca Esplanada, Simca
Jangada e Simca Vedette e caminhões Chrysler. Eu ganhava CR$ 500,00 (quinhentos
cruzeiros) e na Sapataria Torres CR$ 800,00 (oitocentos cruzeiros).

-Lá o meu chefe era o Geraldo, antigo colega da COHAB e filho do senhor
Aristides, proprietário da Loja “A Radiante”.Trabalhando à noite naquela empresa,
descobrira um desfalque, cujo desfalque apresentamos ao sócio majoritário da empresa.
Ele era, também, Diretor Presidente de uma Usina Açucareira em Alagoas, chamada de
Usina Ouricuri. Após esse acontecimento, o gerente da SOCIMITA, que fora colega de
trabalho de meu irmão Antonio Carlos em uma cooperativa de crédito, convidou-me
para trabalhar lá, oferecendo o mesmo salário que eu ganhava na Sapataria Torres, não
queria aceitar, porém, ele argumentou que lá havia condição de eu fazer uma carreira
melhor. Aceitei. No terceiro mês de trabalho, já com carteira assinada, ele disse-me:

-Infelizmente não podemos continuar com você trabalhando aqui, devido a


contenção de despesas!

-fiquei com raiva dele, pois, havia trocado um emprego certo por um duvidoso e
pelo mesmo salário, foi quando ele disse:

-É brincadeira! Meu tio Nelson quer que você seja o sub-contador dele lá na
usina e, o seu salário será bom, peça a ele uns CR$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros)!

-Fora assumir o lugar de um grande contador, o de Rui Moura, aquela mesma


pessoa cujas férias eu fiquei hospedado em sua residência em Viçosa a convite do irmão
dele, o meu amigo Marcílio. Ele iria ser o contador geral do Grupo João Lyra, mais uma
vez eu trilhei os caminhos do destino!

-E assim foi, o nome do gerente da SOCIMITA era José Carlos Tenório, irmão
do delegado Fernando Tenório, hoje ele é ainda meu amigo!

217
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXX

COMO SUBCONTADOR DA USINA OURICURI

-Assim que ingressei nos serviços da Usina Ouricuri, já comecei com o pé


esquerdo, pois, o contador geral não me queria lá, pois tinha culpa no cartório la na
SOCIMITA. O preferido dele seria um conhecido meu por nome de Altanes, passei os
sete anos de trabalho na Usina sendo perseguido, havia muito roubo de funcionários e o
meu chefe sabia disso, ao ponto de querer me ver pelas costas. Um dia eu convidei um
funcionário de outra usina para trabalhar comigo, ele era funcionário da Usina Santo
Antonio, ganhava CR$ 600,00 (seiscentos cruzeiros) e eu o trouxe por CR$1.200,00
(um mil e duzentos cruzeiros), ou seja, o dobro de seu salário.

-Todos os anos, o Sindicato dos Trabalhadores da Agro Indústria no mês de


setembro, mandava uma proposta de aumento de salário para os patrões. Nessa época,
eu ganhava CR$ 4.200,00 (quatro mil e duzentos cruzeiros) e os meus auxiliares, aquele
que eu trouxera, já percebia CR$ 3.600,00 (três mil e seiscentos cruzeiros), o tesoureiro,
CR$ 3.900,00 (três mil e novecentos cruzeiro), passaram aos salários respectivos de
CR$ 6.200,00 (seis mil e duzentos cruzeiros) e CR$ 9.600,00 (nove mil e seiscentos
cruzeiros) e eu permaneci com o mesmo salário.

-Foi quando entendi que aquele complô era para me ver pelas costas, pois,
aqueles funcionários tinham o interesse de me ver bem longe para atender aos seus
propósitos!

-Não pude fazer nada, pois, alguns deles faziam trabalhos particulares para o
vice-presidente e era ele quem dava os aumentos!

-Uma vez, minha filha mais velha, era o único filho naquela época, estava
internada com infecção intestinal, e o Dr. Nelson Tenório, Presidente da usina, cuja
filha casara com o hoje desembargador Estácio Gama de Lima, mandou que eu fizesse
um trabalho de urgência e como eu não o pude fazê-lo em tempo hábil, ele me
interpelou.

- Cadê o meu trabalho, por que não o fez?

- Disse-lhe que a minha filha estava hospitalizada e eu não tivera tempo!

- Ele então me disse:

218
-Não tenho nada com isso, você devia em primeiro lugar fazer as suas
obrigações!

-Foi quando eu respondi:

-Primeiro minha filha! Depois o emprego!- Pois, se eu a perder não vou ter
outra igual e empregos existem muitos por aí!

- Ele era um sujeito de bom coração, porém, de um gênio difícil, deu um ponta-
pé na porta da diretoria que ela viera abaixo!

-Os amigos do contador se reuniram e comentaram que aquilo fora a gota d’


agua, eu iria ser demitido, mas, não aconteceu. À tarde, eu estava tomando um
cafezinho na copa, quando do Dr. Nelson Tenório chegou e, batendo nos meus ombros,
disse:

- Caboclo! - Você está certo! - Eu gostei! - Primeiro sua filha depois o emprego!

-E continuando- quando o meu serviço ficará pronto?.

- Disse-lhe que depois de umas duas horas ele ficaria pronto!

- Foi um balde de água fria na intenção daqueles que queriam me prejudicar!

-Em outra ocasião, a usina estava passando dificuldades, o nosso salário atrasado
por mais de dois anos, apenas recebíamos de vez em quando, um vale. Nessa época eu
estava devendo a um agiota CR$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros), empréstimo tomado
quando da reforma de minha casa, e mais CR$ 12.000,00 (doze mil cruzeiros) de juros
atrasados, já vinha dando CR$ 1.000,00 (um mil cruzeiros) por mês a título de juros e
não pude mais pagar. Foi quando o agiota dizendo que sabia que eu pagava, porém,
como a empresa estava quase falindo e ela mesma devia certa importância a ele, pediu
que eu pagasse apenas o principal, ou seja, os CR$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros). Nessa
época eu possuía um Chevete. Meu irmão Alanio era advogado de Irmãos Peixoto em
Penedo, Alagoas, forneceu um cheque naquele valor e eu liquidei o débito com o agiota.

-Em um dia de sábado, eu viajei para Penedo, a empresa Irmãos Peixoto já


estava fechada, havia apenas um vigia e eu pedi para ele guardar o meu carro e dizer ao
gerente que o vendesse, e do produto da venda ele desse ao meu irmão Alanio CR$
10.000,00 (dez mil cruzeiros) e o saldo podia ficar como comissão, e voltei para
Maceió!

-O carro fora vendido, depois eu soube, a um Oficial de Justiça do Foro de


Maceió, por CR$ 15.000,00 (quinze mil cruzeiros). Fiquei sem transporte por cinco
anos!

219
-Um dia, eu já nesse sufoco, ouvi de um colega de usina chamado de Avelar,
pessoa que já morreu e que Deus o tenha em bom lugar, que recebera todo o atrasado, e
mostrou-me um volume de cédulas que estava em seu bolso. Revoltei-me e gritei:

-Que aquilo era um absurdo uns recebiam e outros não e que o vice-presidente
todos os fins de semana levava uma maleta cheia de dinheiro para Recife, para fazer
farras e fornecer lautos jantares a seus amigos e não pagava aos operários da fábrica e
nem do escritório de Maceió!

-Avelar era funcionário da usina, porém, prestava serviço particular ao vice-


presidente. De repente todos os da diretoria colocaram a cabeça entre a porta da
diretoria: Dr. Nelson era o primeiro, seguido do senhor Nilson e de seu filho Manoel
Tenório, também diretor, para verem o que estava acontecendo, era um dia de quarta-
feira.

-Na quinta-feira, o senhor Nivaldo que era o chefe de escritório, e departamento


de pessoal, me chamou e disse que eu estava demitido por ordem do vice-presidente, o
senhor Nilson Tenório. Mas, um amigo meu, que era o gerente geral de uma
transportadora pertencente ao senhor Nilson e primo de Avelar, disse-lhe:

- Se colocar o Alde para fora, eu me demito!

- Já trabalho com o senhor há vinte anos e não é justo o senhor colocar para fora
uma pessoa trabalhadora e honesta!

-Ele tem razão, o senhor não paga a ninguém, porém, faz farras mesmo com o
dinheiro!

- Era o meu amigo José Amorim, e que Deus o tenha, falecera quando dirigia seu
carro na Ponte Divaldo Suruagy no dia de sua inauguração!

-Resultado, não fui demitido, apesar da torcida daqueles que queriam me ver,
mais uma vez, pelas costas.!

-Fui chamado à diretoria e o senhor Nilson perguntou o que estava acontecendo?

-Disse-lhe que eu estava sendo perseguido, meu salário como chefe era inferior
até aos dos meus auxiliares!

-Ele mandou chamar o senhor Nivaldo e, em minha presença, passou o meu


salário para CR$ 11.200,00 (onze mil e duzentos cruzeiros).

-Foi uma morte para os meus, arque, inimigos!

-A SOCIMITA fora vendida ao Paulo Cesar Farias, ao PC, aquele que depois
viera a ser tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Melo. E a usina fora vendida
a Adelmir Lira!

220
-Ainda passei uns cinco meses trabalhando na empresa até que um dia...

-Era uma quinta-feira, depois eu soubera, houve uma reunião de meus “Amigos”
na casa do Avelar. A pauta da reunião era a maneira de como me colocar para fora e
acharam!

- Na sexta-feira, o contador disse-me:

-Ao invés de você ficar reclamando de que o novo proprietário ainda não pagou
o nosso salário em dia, devia seu preguiçoso, trabalhar!

-Não prestou! Fora aceso o estopim! Pois, não deixei barato e parti para o
confronto e não chegamos às vias de fato, porque, um amigo meu chamado Josias, que
até pouco tempo era contador, que Deus o tenha em bom lugar, e nessa época pesava
um pouco mais de quarenta e oito quilos, agarrou o contador, ele não queria me agredir
fisicamente, mesmo tendo jogado em minha direção um cinzeiro que quase bateu na
cabeça de Nivaldo. O Josias não tinha força para segura-lo, a intenção era me colocar
para fora, como aconteceu, precisava de um pretesto. Depois, soubera, que quando ele
pegou o telefone e falou, não havia falado com pessoa nenhuma, quando disse-me:

- Está demitido por ordem do dono da empresa!

- Nessa época eu estava quase terminando o meu curso de direito no CESMAC,


e pensei:

- Como pagaria a minha faculdade?

-Fiquei de fevereiro até setembro de 1979 desempregado, havia trabalhado sete


anos naquela empresa aguentando todo tipo de pressão!

-Com a indenização, completei a reforma de minha casa e montei um escritório


de contabilidade, até que em setembro do mesmo ano fora convidado pelo meu amigo
Propício, contador da Usina João de Deus, empresa da família Moreira, família de bem,
para trabalhar ajudando um amigo chamado Rochinha. O meu cargo fora o de sub-
contador.

O AMIGO ROCHINHA

-O Rochinha era uma criatura hilariante, vou contar algumas dele.

- Um dia Rochinha tinha ido ao mercado comprar uma galinha que a sua esposa
o pedira para comprar. Uma semana depois, o Rochinha chega em casa dizendo:

-Chegou o homem da casa!- E a mulher- Chegou foi um cabra safado!

-Ao abrir a mala do carro, lá estava a galinha em decomposição!

221
- Outra do Rochinha foi a seguinte:

-Ele gostava de beber em um barzinho que ficava em uma das calçadas que dar
para a Praça dos Palmares, e um soldado da polícia militar que tinha uma esposa muito
bonita, soube que Rochinha estava de lero-lero com ela e veio tomar satisfação. Vieram-
lhe dizer que o marido daquela mulher estava chegando e a sua procura. Ele se escondeu
por trás do balcão, e quando o cabra chegou foi logo dizendo:

-Cadê aquele filho da p...chamado Rochinha?.

-A proprietária do bar disse que fazia muitos meses que ele não frequentava o
seu bar! Tendo-o convencido!

-Quando o cara foi embora o Rochinha saiu com essa:

- Acabei de salvar a vida de um fio da peste!

-Era uma comedia, infelizmente ele viera a falecer afogado na praia de


PontaVerde. Estava ele quase na beira d’agua, com água até a cintura, quando teve uma
parada cardíaca, e quando notaram, ele estava com a cabeça dentro d´agua e o corpo
para fora, sofrera um enfarto fulminante!

-No ano seguinte, terminei o curso de direito e me escrevi na OAB Alagoas!

-A empresa fora vendida a José Pessoa de Queiroz Bisneto, hoje ele é dono de
várias empresas, e não querendo continuar trabalhando com ele, pedi demissão.

A NOVA PROFISSÃO E O OLHO DE BORRACHA

-Após pedir demissão, fiquei por um longo período desempregado, mas, não
parei por ai, fora ser vendedor de Box para banheiro e janelas de alumínio, na Art Box
de Arnaldo Sabararú. A primeira venda que eu fiz me dei bem e o Arnaldo cresceu os
olhos dizendo, acho que era com pena de pagar a comissão de dez por cento:

-Rapaz, eu que sou eu até agora não consegui fazer uma venda dessa e você na
primeira vez a fez!

-Deixei de trabalhar para ele!

O NASCIMENTO DE MINHA FILHA MAISA E O NOVO EMPREGO.

-Deixando a Art Box, a coisa não saiu como eu pensara, era o ano de 1988, a
minha mulher do segundo casamento, estava grávida da segunda filha e eu
desempregado, não sabia como manter a casa e cuidar do pré-natal da gravidez de
minha mulher, mas, no mês de novembro do mesmo ano, ela dera a luz a uma filha que
se chama Maisa Isabella, o parto fora pela bondade de um amigo inesquecível o Dr.
José Lins Moura, obstetra e ginecologista, meu antigo vizinho, que o fez, e somente no

222
final de novembro é que fora chamado para exercer as funções de subcontador e chefe
de escritório do Hotel Ponta Verde pertencente a José Mauro de Vasconcelos. Trabalhei
naquele hotel até o meado de 1989.

-Deixei de ser contador e hoje exerço a profissão de advogado com muita honra,
pois, era uma das minhas profissões preferidas quando ainda garoto.

223
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXXI

O CURSO DE DIREITO

-Quando fizera o vestibular para o curso de direito do CESMAC, não tinha a


menor ideia da matemática moderna. Quando havia uns problemas de álgebra, pois, só
conhecia aritmética, pois, fizera o curso de contabilidade, que dizia:

-Pertence, não pertence, implica, não implica.

-Eu chamava- Complica, não complica!

-Fiz o vestibular pela primeira vez em junho de 1974 no CESMAC, perdi, voltei
a perder em dezembro de 1974, mas, pela experiência adquirida nos dois vestibulares
anteriores, tinha certeza que passaria no próximo, que fora realizado em junho de 1975.
Havia nessa época, 180 vagas, pois, eram constituídas de três turmas, eu passara na
metade das vagas, ou seja, no nonagésimo lugar. Havia feito juntamente comigo o
vestibular, o meu amigo Alder Flores, e o Audir que era funcionário do Banco do
Nordeste. Estava eu ouvindo o resultado do vestibular através do rádio de um aparelho
de som, cujas tampas eram os autofalantes, quando em um dado momento, o locutor
leu:

-Au...quando ele iniciou o nome, pensei que era eu, mas era o Alder Flores,
havia passado em sexagésimo lugar. Continuou a ler e mais adiante, ele leu o meu
nome. Joguei a caixa de som no chão e pulei de alegria. Minha mulher na época, a
Gleide, disse:

- É! Agora vai sair todas as noites!

-Ela era muito ciumenta e antes havia dito que eu era preguiçoso e não estudava,
por isso não passava!

-Durante o curso surgiram vários fatos interessantes! Um deles foi o seguinte:

-Estavamos juntos a uma lanchonete dentro da faculdade, eu, meu amigo José
Calaça, hoje meu colega de escritório, o ex-prefeito de São Brás, Alagoas, o Aderbal
Quirino e o jornalista Gabriel Mousinho, quando de repente surgiu em nossa frente um
rapaz, e um casal de noivos que vinha em perseguição daquele rapaz. Começaram a
discutir e o rapaz que era noivo queria bater no outro e o meu colega Calaça interviu,

dizendo que o Curso de Direito ainda não tinha sido regulamentado e uma briga não

224
ficava bem, foi quando o rapaz insistiu e quis dar um soco no Calaça. Aconteceu uma
coisa nunca vista, talvez em cinema, quando o rapaz socou o Calaça, este o levantou no
ar e o soco foi dado em vão, pois, não o atingira. Calaça então o soltou e ele fora
embora. Ficamos todos espantados e Gabriel Mousinho disse:

- Posso publicar?-.

-O segundo fato fora que um dos professores, não convém citar nome, para tirar
uma dúvida surgida em sala de aula, na próxima aula, lá vem o professor carregando
uma quantidade de livros, que ia da virilha até embaixo do queixo, e dois filhos deles
com outra quantidade e disse:

-ainda vou buscar mais!

-E saiu! -Foi quando uma colega de aula chamada de Aureni Moreno, ex-
delegada de polícia e que Deus hoje a tenha em boa guarda, dissera:

- Alde, vamos!- Eu disse-lhe, vamos!

-Os livros estavam todos marcados com pedacinhos de papel e o colega Carlos
Torres, hoje Procurador de Justiça, disse:

-Não façam isso que vocês vão ser expulsos da faculdade!

-Fizemos!- As marcações que estavam no começo do livro, nós as colocávamos


mais adiante, no meio ou quase no fim, fizemos com vários livros- Quando o professor
chegou com os outros, perguntou qual fora o aluno que teve dúvidas sobre aquele
assunto- Não me lembro qual assunto e ele pegou um dos livros e disse:

-O autor fulano de tal, em seu livro tal, as paginas tais disse:

-Não disse!

-Pegou outro e repetiu a frase-

-Não disse!- E assim por diante.

-De repente ele disse:

-Fica para a próxima aula!- E fora embora.

-Outro fato interessante fora o seguinte:

-Havia em nossa classe dois Agentes da Polícia Federal, uma era o Claudio Lima
que chegara a ser Delegado e o Paixão, acredito que o Paixão não passara no vestibular,
apenas fora colocado ali como infiltrado,pois, era ainda na época da chamada Ditadura!

225
-Era, salvo engano, o mês de setembro, e eles foram dar uma palestra sobre as
drogas, e levaram algumas bombas de maconha como eram chamadas aquelas trouxas
feitas pelos índios Chucurús de Palmeira dos Índios. Nesse dia estava Claudio, Paixão e
outro que estudava na classe vizinha. Espalharam as bombas sobre o birô e começaram
a explanação sobre os efeitos das drogas e como havia o combate a elas. Quando foram
recolhêr-las, estava faltando uma, e eles ficaram aperreados, pois, diziam que se ela não
aparecesse, o culpado poderia ser preso se descoberto e eles perderiam o emprego
devido a irresponsabilidade. Foi quando se lembraram de que a pessoa que havia se
aproximado do birô, fora a conhecida por “Gui”, não convem falar seu nome
verdadeiro, e foram ao seu encalço, encontrando-o ainda no estacionamento quando
acionava o motor de seu carro. Realmente, a droga estava com ele, pois, era viciado em
maconha, não o levaram preso por se tratar de colega de classe.

A PRISÃO

-Certa feita estava o “Gui” a fumar maconha no muro do Clube “O Alagoinha”,


quando passava por lá o agente Paixão e o abordando, passou-lhe as algemas e, quando
ia o conduzindo preso, apareceu o senhor Gilberto Farias, pai do PC Farias, pai daquele
que mais tarde seria o tesoureiro do Fernando Collor, e como conhecia muito o pai do
“Gui” e conhecia inclusive o Paixão, a prisão não se efetuou por sua causa. Paixão
deixou a faculdade, a minha cisma de que ele não era aluno havia se concretizado.

A FORMATURA

-Antes das festas de formatura, resolvemos fazer um jantar entre nós e a


realização da entrega de presentes dos amigos secretos. O jantar se realizou na
Associação dos Médicos, em frente às Lojas Americanas, próxima a Praia da Avenida
da Paz.

-Durante o jantar houve a entrega dos presentes. A guisa de esclarecimento,


todos nós tínhamos um apelido. Por sorteio, a chamada começou com o nosso colega
Benedito, que é casado com uma prima minha chamada de Ana Lucia Campos.
Benedito chamou uma nossa colega e após o nome dissera-lhe o apelido “Coruja
Colorida”, o por quê do nome, porque, naquela época havia na Rede Globo um
programa chamado de “Corujão” que eram filmes passados após a meia noite. E a nossa
colega tinha a mania de pintar os cabelos de várias cores. Ela não gostou do apelido
achando que ele a estava chamando de feia, pois, não tinha conhecimento do mesmo e,
quando recebeu o presente, pegou o microfone e detonou o Benedito, chamando o seu
apelido de “Oveiro Baixo” fora a maior discursão, nenhum dos dois aceitavam o
apelido. O meu fora o de “Vade Mecum”, pois, eu havia comprado dois volumes de
vários códigos, chamados de Carteiras Forenses.

-Durante as festividades da formatura, o meu amigo José Cordeiro Lima, nessa


época, estava sem namorada e não sei por que, muito triste, e para todos os lugares que

226
eu ia juntamente com a minha esposa, ele ia, chegando ao ponto de sentar-se a mesma
mesa do baile de formatura e eu lhe dissera:

-Cordeiro, só falta você dançar a valsa comigo!

227
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXXII

O MEU PRIMEIRO FUSCA

-Quando trabalhava na Usina Ouricuri, achei de comprar um fusca, o meu


primeiro carro. Ainda não sabia dirigir. Comprei-o em uma quinta-feira e na sexta-feira,
um colega de trabalho viera dirigindo até o meu emprego.

-No sábado pela tarde, fui até a uma Auto Escola que ficava na Rua Coronel
Lima Rocha, no bairro do Farol, e pedi o aluguel de um Fusca, porém, disseram que
somente tinham um jeep quatro portas. Aceitei, embora as posições das marchas do
câmbio fossem diferentes. Quando o condutor chegou ao Jardim das Acácias onde eu
morava, e naquela época não havia trânsito quase nenhum, ele me entregou o volante.
Sentei-me na cadeira do motorista, liguei o jeep, dei a partida e o mesmo nem saltitou.
O condutor após eu dar umas duas voltas ele perguntou:

-Onde você aprendeu a dirigir?

-Disse-lhe que nunca havia pegado em um carro e ele não acreditou!

-Disse-me que apenas eu deveria aprender meia embreagem e baliza para tirar a
minha carteira!

-Como eu sabia passar as marchas, tanto em jeeps como em Fuscas? - É que eu


andava muito com colegas que tinham carro e observava como eles faziam!

-No domingo pela manhã, uma vizinha que tinha um fusca, ao vê o meu na porta
de casa, perguntou se eu queria ir à praia juntamente com ela, dirigindo o seu veículo.
Aceitei e já em frente ao conjunto de colégios do CEPA, eu já desenvolvia mais de
oitenta quilómetros e ela tomou a direção dizendo:

-Você estar louco, nem ao menos sabe dirigir e já nessa velocidade!

-Esse dia era a véspera de Natal e a noite, juntamente com minha esposa, fora
dar uma volta na Praça da Faculdade, dirigindo o meu Fusca!

-Na ladeira da antiga rodoviária, apareceu um problema no carro e eu tratei de


procurar um mecânico, vindo encontra-lo próximo ao Quartel da Polícia Militar, era no
motor de partida. Acabou-se o passeio!

228
-Dias depois, no começo de janeiro, eu fora à casa de um amigo, do contador
Rui Mora juntamente com um colega de trabalho, sua esposa e a minha. Na volta, por
ter bebido muito, o colega é quem trouxe o carro. Ao chegar em casa, minha mulher
começou uma briga e eu peguei a chave do veículo e sai em toda velocidade, passei pelo
meu colega que ainda estava se dirigindo a sua residência a mais de cem quilómetros
por hora, assim dissera ele!. Desci até a praia de Pajuçara e nessa noite estava sendo
realizado o Festival da Cana-de-açúcar, no Iate Clube Pajuçara. Nas imediações do
Clube de Regatas Brasil, o CRB, estavam fazendo a calçada da praia e o meio fio estava
alto, e eu cochilei no volante e as rodas prenderam no meio-fio e o carro capotou
lentamente, só acordei quando ele se desvirou sozinho. Para não ser preso e ter o carro
apreendido, sai de mansinho e fui dirigindo até em casa, a cachaça havia sumido de
repente. Mandei consertar o carro e, no mês de março de 1973, tirei a carteira de
motorista, apesar de treinar em uma camioneta com marcha Royal.

-Quando no mês de maio os serviços de lanternagem e pintura ficaram prontos,


perguntei a minha esposa se queria viajar para Salvador. Fomos eu, ela, minha cunhada
Sonia e uma colega de minha esposa chamada Alda Villas Boas que era de Aracajú,
parente dos irmãos Villas Boas desbravadores de índios, seu pai tinha casa e um
colégio, e nós ficaríamos hospedados em Salvador na Rua Sete de Setembro no centro
daquela cidade. E, apesar de não ter conhecimento de estradas, assim mesmo fomos.

229
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXXIII

O MEU SEGUNDO CARRO

-Uma vez comprara um chevete, comprei-o de segunda mão, fora do meu amigo
Eric Tenório, filho de Zé Tenório que possuía uma casa de venda de peças de
automóveis na Rua Dois de Dezembro no centro de Maceió. O carro havia sido
encomendado por ele ao seu primo Max que é dono da Mangabeira Veículos, era um
dos dois primeiros carros da marca Chevete que chegara a Maceió. Um era da cor
Branca e fora vendido para São Miguel dos Campos e o outro era da cor Vermelha que
viera para o Eric Tenório. Com uns oito meses de uso, ele me vendera. O carro era
como se dizia na época- Veio errado- Desenvolvia velocidade rapidamente.

O CARNAVAL EM SALVADOR

-Inventei de brincar carnaval em Salvador. Convidei a minha cunhada Sonia


Wanderley, e ela convidou mais duas colegas. Viajamos, eu, minha esposa e elas três,
ou seja, cinco pessoas em meu Chevete. Quando chegamos perto da Polícia Federal em
direção a Satuba, pois, naquela época o caminho para Salvador era via São Miguel dos
Campos, era único, não havia ainda a ponte Divaldo Suruagy, o carro furou um pneu.

-A viagem começara bem, dissera!

- Ainda no começo da travessia da Ponte da cidade conhecida por Colégio, ainda


em Alagoas, o carro começou a falhar. Percorria uns quinhentos metros e parava. Eu
esperava uns minutos e ele pegava de novo. Mais adiante parava. Procurei ajuda de um
mecânico lá na cidade de Propriá já em Sergipe. Gastei uma nota com o Alternador.
Mudei até umas peças chamadas de Biodos. O carro pegou e prosseguimos viagem.
Mais adiante, começou a falhar e voltei ao mecânico. Não descobriu o defeito. Andava e
mais adiante parava. Minha mulher dizia:

-Vamos voltar para Maceió!- E eu- Não, vamos para Salvador!

-Quando já estava muito adiante, um homem deu com a mão para eu parar e
pediu uma carona. Dissera-lhe que o carro estava com o número de passageiros
completo, mas ele insistiu. Nessa hora ele carregava uma câmara de ar de um caminhão.
Dissera que a câmara havia furado e ele viera consertar e que o seu caminhão estava
mais adiante. Dei-lhe a carona!- Dissera-me, ele:

230
- Que era eletricista de veículo e que trabalhava na Usina Vassouras em Sergipe!

- Era uma mão na roda!- Como se diz!

- O carro estava carregando seis pessoas. Eu e minha mulher e, atrás, as quatro


pessoas. Em dado momento, o carro estanca e todos dessem e o eletricista abriu o capô e
não encontrou o defeito, apesar de eu suspeitar qual seria!

-O tempo corria, e, quando um Fuscão com placa de Pernambuco ia passando,


minha cunhada deu com mão, ele parou, ela e suas amigas pegaram carona naquele
veículo e dizendo:

-Não vou perder meu carnaval por causa de um carro!

-Foram embora deixando-nos na estrada. O carro quando esfriava, pegava,


quando esquentava, parava. Em um dado percurso da viagem, paramos para almoçar e
o eletricista disse que ia tentar pela última vez. Enquanto nós almoçávamos, pois, ele já
tinha almoçado, ele ficou mexendo no carro e foi quando eu lhe dissera:

-Olhe um fio que vem do motor de partida para a ignição, talvez exista algum
partido, pois, quando o motor esfria, o carro pega, e quando está quente ele para!

-Todos os fios estavam encapados, porém, em um dado momento, quando o


eletricista apalpou um deles, notou que ele estava partido dentro da capa. Pegou uma
faca, cortou-o e fez uma emenda e o carro pegou e não apagou mais.

-Mais adiante, quando nós três viajávamos, encontramos um cavalo, ou seja,


aquela parte dianteira do caminhão onde fica a boleia, que puxa a prancha, ou seja, a
carroceria, estava com as rodas para cima, mas, não havia ninguém dentro e o eletricista
nos dizia:

-Foi Deus que colocou o senhor em meu caminho, pois, eu ia pegar carona
naquele caminhão e graças a sua ajuda eu não tive acidente nenhum.!

-Agradeceu e mais adiante pegou o seu caminhão que estava parado à beira da
estrada!

-Tínhamos começado a nossa viagem as 05:00 horas da manhã e ainda


estávamos antes de Aracaju. As 03:00 horas da tarde passamos pela entrada de Aracajú,
fizemos um lanche e seguimos viagem. Quase à noite, estávamos na estrada fazendo um
pega com outro carro. Nós passávamos por ele e depois ele passava por nós. Quando
fomos entrando no calçamento de Esplanada, eles buzinaram e, passando por nós,
gritaram:

-A lâmpada esta acesa!

231
- Pensei que era trote, somente para passar por nós! - Mas não era! - A lâmpada
do stop estava acesa e muito quente, a ponto de pegar fogo e causar um incêndio no
veículo!

-Sábado de carnaval, seis da noite e tudo fechado, onde encontrar um eletricista


naquela hora. Encontramos um que estava bebendo em um bar e ele viera consertar o
veículo. Era um interruptor que ficava abaixo do pedal do freio, ele conseguiu conserta-
lo e seguimos viagem, porém, quando fomos abastecer o carro na saída da cidade, um
frentista pediu carona para um evangélico que estava próximo a um pastor, o qual
frentista dissera que o pastor daquela cidade era americano. Dei a carona ao rapaz com
um pouco de desconfiança!

-Durante a viagem, ele dissera-nos que era de São Paulo e seu nome era Josias.
Estava indo a Salvador buscar um documento que ficara no apartamento daquele pastor.
Ajudou na gasolina quando colocamos mais um pouco em outro posto. Quando
chegamos a Salvador, não conhecíamos quase nada, apenas tínhamos ido uma vez
quando dirigi o meu primeiro fusca. O endereço o qual nós procurávamos era em
Pituba, mas estava muito complicado encontra-lo, pois, o número era inexistente
naquela Rua e os endereços dos baianos eram complicados, uma casa era 2.560, em
outra o número 1.012 e assim por diante. Queríamos encontrar o endereço de Tereza
Pacheco, uma médica legista que era Diretora do Nina Rodrigues, o IML de lá. Mas,
não encontrávamos. A Tereza Pacheco era tia da esposa de meu cunhado, da Ivana
Pacheco. Um proprietário de um restaurante dissera que só sabia o número de seu
estabelecimento, porque, vinha no recibo da energia.

-O Josias vendo que era a madrugada de Domingo de Carnaval, os hotéis lotados


e difícil de encontrar uma pousada para aquela noite, nos levou até o apartamento do
Pastor, dizendo que as cinco e meia da manhã tínhamos que deixar o apartamento,
porque, ele teria que voltar a cidade de Esplanada com aquele documento referenciado
por ele. Dormimos pouco, e às cinco da manhã, Josias nos acordou, tomamos café e
saímos do apartamento. A exemplo do eletricista, fora Deus que fez o carro quebrar,
demorarmos a chegar em Salvador para conhecer Josias e ficarmos hospedados em um
lugar sem pagar nada.

-Fizemos o bem! e recebemos em dobro!

-Tínhamos outro endereço, o da Alda Villas Boas, que a essa altura já havia
casado e o endereço era ali mesmo na Pituba. Quando chegamos lá, o porteiro nos disse
que ela havia viajado para Aracajú passar o carnaval!

- Que sorte!
- Ao enveredarmos por outra rua, quem vem em cima de um Bugre, a minha
cunhada e suas duas amigas e gritou para a minha esposa.

232
- Gleide me siga!
- Eu não queria, tantas pessoas para eu encontra em Salvador fui logo encontrar
minha cunhada que nos deixara no meio da estrada. Assim mesmo, a seguimos e
encontramos um lugar para ficar, era na Rua Ana Neri em uma pousada de freiras, de
mesmo nome!
-Assistimos a passagem dos Filhos de Gandi e minha esposa ficou com raiva,
porque, um deles havia colocado uma fita em minha cabeça e ela não gostou, porque, o
cara era gay!

-A noite foi aquela bagaceira, os trios passando na Praça Castro Alves em


direção a Campo Grande, fazendo o maior barulho. Ao passar um dos trios, a coisa se
acalmou e de repente eu ouço aquela música que dizia:

Esse papo seu tá qualquer coisa/Você já tá pra lá de Marrakesh/Mexe


qualquer coisa dentro, doida/Já qualquer coisa, doida, dentro mexe/Não se avexe
não, baião de dois/Deixe de manha, deixe de manha, pois sem essa aranha, sem
essa aranha, sem essa aranha!...e assim por diante!

- Era a música de Caetano Veloso que vinha sendo cantada por um grupo, e as
pessoas vestidas com roupas tipo daquelas da Clã Klus Kan, seita de americanos que
tinha ódio a negros, lá nos Estados Unidos. Um grupo de umas dez pessoas, onde se via
violinos e outros instrumentos de corda!

-Em pleno carnaval e aquela música suave!- Segui-os até Campo Grande e lá
eles ficaram em uma casa!

-Lá em Campo Grande assisti a duas cenas deploráveis, uma delas fora a de um
casal de noivos que alguns rapazes tomaram a noiva do rapaz, pegavam por todas as
partes do corpo e o segurava para ele não fazer nada. Depois assisti a uma guerra de
latas de cervejas, pois, naquela época em Salvador já existiam latas de cervejas. Uns
metiam latas uns nos outros. Sai dali com medo de ser atingido por uma delas!

-Na segunda-feira, briguei com a minha esposa, porque, ela queria que eu na
quarta-feira desse carona para a sua irmã e suas amigas. Não aceitei e resolvi, as 11:00
horas da manhã voltar para Maceió, e assim o fiz. Vim na estrada apostando carreira
com um veículo Chevrolet, era uma Caravan, apostei até São Miguel dos Campos. Ele
colocava 160 por hora e eu também, parecia que eu estava louco e minha mulher
reclamava a toda hora. Passei em casa, lá no bairro de Jatiúca, e lá para as sete horas da
noite, eu estava em Maragogi, Alagoas. Passei o resto do carnaval sem falar com a
minha esposa, coincidentemente, eu e um compadre meu, também, com a sua. Nesse
ano a música mais tocada era a “Cabeleira do Zezé”.

233
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXXIV

AS VIAGENS DE FÉRIAS

-Em Dezembro de 1981 eu e minha mulher Gleide, resolvemos viajar de férias.


Nessa época tínhamos três filhos, o caçula tinha dois anos, e em virtude de sua pouca
idade, nos inscrevemos na excursão por último. O destino inicial seria Foz de Iguaçu e
depois o Rio Grande do Sul. Resolvemos, também, viajarmos para Florianópolis,
Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, isso fora da excursão.

-A excursão somou 65 pessoas. Fora pela empresa Aéreo-Turismo, cujo guia era
o meu presado amigo, o Carlos Sampaio, hoje advogado. Fomos primeiramente para
Foz de Iguaçú no Paraná. Chegamos às duas e meia da manhã. No dia seguinte, fomos
conhecer a cidade de Porto Iguazú no lado Argentino. Depois, as Cataratas do Iguaçú,
do Lado Argentino. À tarde fizemos uma excursão às obras da Hidroelétrica Itaipú,
pois, nessa época, ainda estava em construção. À noite fomos à Ciudad del Este,
antigamente chamava-se Ciudad Presidente Stroessner, em homenagem ao General com
esse nome, ele era um ditador. Fomos fazer compras e uma visita ao cassino local.

-Quando, ainda, estávamos em Foz, soubemos da queda de uma passarela lá nas


cachoeiras das Sete Quedas, o acidente envolvera trinta pessoas.

-No dia seguinte, fomos conhecer o lado Brasileiro das Cataratas do Iguaçú.
Após, pegamos o avião para irmos para o Rio Grande do Sul. Antes do embarque, por
ter entre nós, na excursão, um funcionário da Receita Federal, ele ficou com medo de
que algum de nós estivesse transportando contrabando, pois, eram proibidos
equipamentos eletrônicos, e ele sabia que a fiscalização fazia por amostragem, escolheu
as minhas bagagens e ficou com receio de uma mala que parecia mais a um baú, ela era
muito grande e pertencia a um conhecido meu chamado de Rubens, um dos
proprietários da Padaria Rio Branco, primo de meu amigo de infância o Adávio, nessa
época ele era Odontólogo, era muito alto e eu acho que ele calçava 45, pois, quando
abriram a sua mala, havia algumas calças jeans que eram enormes e pesavam muito,
inclusive os seus tênis. A minha mala não tinha nada, além das roupas, apenas uma
garrafa de uísque, de cinco litros. Assim que iniciamos a viagem, recebemos o almoço,
e em um dado momento, o avião começou a se jogar muito devido a uma forte
turbulência e os almoços tiveram que ser recolhidos. Ao chegarmos ao aeroporto do Rio
Grande, nos tiraram da excursão das pessoas de Maceió, cujas pessoas já estávamos
acostumados a elas e nos colocaram em outra excursão com pessoas desconhecidas,

234
foram cinco pessoas de Maceió retiradas da excursão. Havia um idoso o qual nós o
apelidamos de “Barão” em virtude dele ser parecido com a figura da cédula de dinheiro,
o Barão do Rio Branco. Ele não quis sair daquela excursão e tiveram de colocar outra
pessoa em seu lugar, na nossa. A explicação era de que o ônibus só cabia sessenta
pessoas e estávamos em sessenta e cinco, inclusive, tínhamos pago por último.

-Lá no Rio Grande do Sul, ficamos na Rua da Praia em um hotel muito chique.
As vinte e uma horas, déssemos para o jantar lá mesmo no hotel. A churrascaria
chamava-se Capitão Rodrigo. Os antigos colegas de excursão já estavam terminando o
jantar quando nós chegamos para o nosso. Começaram a chamar-nos de metidos a besta,
pois, não queríamos as suas companhias. Em nossa mesa havia umas quinze pessoas
desconhecidas, eram elas os novos colegas de viagem.

-Eu como gosto de fazer amizade com as pessoas, estava em frente a mim um
casal, e eu entabulei conversa com ele. Era marido e mulher. Ele era de uma família de
políticos da Paraíba e ela era de Minas Gerais. Ele era representante de Marca Passo,
instrumento auxiliar do coração.

-De repente, ele me perguntou de onde eu era, e como resposta disse-lhe que era
de Maceió! E ele-

-Olha querida, ele é da cidade que está morando a sua prima- e adiantou- ela é
casada com um funcionário do Banco do Brasil!

- Lá vinha mais uma coincidência, ou premonição, pois, eu perguntei-lhe:

-Não me venha dizer que é o “Neguinho Verdi”, é?.

-E como resposta ele me dissera que sim!- Verdi era como até hoje o é, meu
amigo!

-Entre os novos colegas de viagem existia uma moça que era cabelereira e
morava no Rio de Janeiro , e o nome dela era igual ao da esposa do Lenon do famoso
conjunto Inglês!

-Algumas pessoas da antiga excursão se reuniram, inclusive eu, e fomos para


uma boite chamada “Mano a Mano”. Lá na boate eu pedira um litro de Vodca para
beber, e uma jarra de suco de laranja. Quando a vodca chegou, senti que o seu sabor era
de água pura, nada de vodca. Fiz reclamação ao dono da boate e ele me dizia:

-Nós compramos bebida lá no Paraguai e os Paraguaios são ladrões!

-Não tem nada não, pode pedir outra que não vai pagar esta!

- Acreditei no sujeito!

- De repente anunciaram:

235
- Ha ora ouviremos o cantante Paraguaio Ernanes, não sei das quantas!

-Não me recordo o nome completo dele, pois, o sujeito além de ser o dono da
boite, era ladrão e Paraguaio!

- Nos cobraram as duas vodcas, eu não queria pagar, mas, por insistência dos
colegas, que diziam que estávamos em terra alheia era melhor pagar!

-Fizera amizade com o motorista do ônibus de viagem, o senhor Cleumar, e


sempre ele dizia através do autofalante:

- Passageiro Alde, está convidado a comparecer a cabine do comandante dessa


aeronave!

- Eu passava muito tempo viajando em sua cabine ao invés da Guia!

-Uma vez ele me perguntou se em Maceió eu conhecia o Professor João


Azevedo que fora Reitor da Ufal?

-Disse-lhe que sim!- e ele completou- ele já viajou comigo, ficamos amigos!

-Enquanto os colegas da antiga excursão desciam a serra, nós a subíamos.


Conhecemos, Novo Hamburgo, Garibaldi, Canela, Gramado, Bento Gonçalves, Caxias
do Sul, etc. Ficamos inicialmente na Serra Gaúcha, hospedados no Hotel Lajes de
Pedras, o mesmo hotel onde se realizava os Festivais de Cinema. Um dia ao chegar ao
hotel, fui direto para a piscina, estava fazendo uns 7º gráus de temperatura, mas, a água
era térmica. Fizera amizade com um industrial de São Paulo, e passamos a tarde toda
conversando e bebendo vinho. Quando já era quase às 21 horas, me despedi e, quando
resolvi sair da piscina, dei aquele grito, o frio era tamanho e não havia toalha que desse
jeito. Quando cheguei ao apartamento, resolvi tomar um banho quente, e, depois,
quando liguei o aquecedor elétrico, ele não funcionou e sim, o ar-condicionado.

-No último dia de Lajes de Pedra é que viera a descobrir uns barzinhos, inclusive
uma biblioteca, que ficavam no subsolo do hotel, aí não havia mais jeito de usufrui-los.

UM PORRE DE VINHO

-Visitamos várias vinícolas, uma que se chamava O Castelo e em Bento


Gonçalves, fomos conhecer a Vinícola Aurora. Ela era uma espécie de Barril Gigante.
Logo na entrada havia umas moças com trajes regionais da Itália e nos ofereceram
vinhos gratuitamente para degustação. Lá para as tantas, eu e o colega vendedor de
Marca Passos, pedimos mais uma garrafa de vinho no qual fomos atendidos, e tiramos
várias fotografias abraçados com aquelas moças. Notamos que as nossas esposas não
gostaram de nos ver abraçados com elas.

236
UM CASAMENTO DE GRANFINOS

-No início da subida da Serra Gaúcha, fomos nos encontrar com a outra turma de
turistas, a mesma da qual eu fizera parte, as pessoas de Maceió, em uma fazenda
chamada Bela Vista, aonde se realizaria um churrasco. Não podemos frequentar o salão,
porque, estava sendo realizado o casamento da filha do maior Joalheireiro do País, a
famosa Joalheria M. Roseman, eles eram Judeus. A musica mais tocada era aquela.

-Rara, Naguila Rara, Naguila Rara, etc. e dançavam agarrados uns do lado
dos outros como se fora um trem. Ninguém podia se aproximar!

- Lá para as tantas vieram nos oferecer uns doces e umas uvas, por estarmos com
raiva não aceitamos, em virtude, também, de termos realizado o nosso churrasco em
baixo de uma gameleira ao ar livre. Os peões faziam tudo para nos agradar, não havia
jeito!

OS ALFRED

-Fomos conhecer a fábrica da Tramontina e depois viajamos para a cidade de


Caxias do Sul. Hospedamo-nos no Hotel Alfred, aliás, tudo pertencia a àquela família,
Hotel, supermercados, etc.

-No hotel aconteceu uma coisa inusitada. Havia uma camareira muito curiosa e
muito mal educada. Ela tinha o costume de abrir à porta dos apartamentos e, quando os
abria, não queria saber se havia pessoas lá dentro ou não. Sempre dizia ao abrir a porta:

-Tem roupa para lavar, tem roupa para lavar?

-E em uma das vezes, um homem de minha excursão estava nu quando ela abriu
a porta!

COMO REVELAR AS FOTOGRAFIAS

-Lá mesmo em Caxias, eu e minha esposa resolvemos mandar revelar os filmes,


e procuramos um foto. Ao passarmos por uma praça, ficamos com vergonha de
passarmos por ela, pois, lá estava um grupo, não era um grupo pequeno de rapazes, e
sim um grupo até grande. Tínhamos que passar no meio deles. Havia muitas motos
estacionadas e, notamos que todos eles eram afeminados, hoje gays. Naquela época
nunca tínhamos visto tantos gays juntos. Fomos até a um foto que ficava em frente a
uma casa de Saúde chamada de Ana Nery, mas, não conseguimos revelar os filmes,
pois, tínhamos que ir embora no outro dia e eles não tinha tempo para revelá-los e,
como havíamos resolvido, também, viajar para a cidade de Curitiba, pedimos a uma das
turistas de nossa excursão que, antes de nós iria para lá, demos os filmes a serem
revelados e ficamos de nos encontrar em um dia tal, lá na rua conhecida como Rua das
Flores para recebermos as fotografias e pagar a conta.

237
A DESPEDIDA

-Quando terminamos a excursão do Rio Grande do Sul, encontramos todas as


pessoas da excursão anterior no aeroporto e pedimos a uma colega que iria para Maceió,
para levar os vinhos e o litro de uísque. Naquele aeroporto estava um companheiro de
viagem chamado Luzo, engenheiro, acompanhado de sua esposa, e o mesmo dizia que
não iria naquele avião para Maceió e sim para São Paulo. E eu sempre o alertava:

-Luzo e o seu vôo?- e ele respondia- a moça do balcão disse que vai chamar!

-Resultado, a moça do balcão havia dito que chamou e ele entendeu vai chamar.
Resumo da ópera, perdera o vôo. Como soubera que eu ia fazer uma excursão por
outros Estados, resolveu nos acompanhar, juntamente com outro casal que possuía uma
filha de sete anos de idade. Era um tenente do exercito, reformado, chamado Marinho,
hoje ele auxilia na igreja dos Capuchinhos em Maceió.

O NOVO PERCURSO

-Lá fomos nós sete fazer a nossa excursão particular. A primeira parada era em
Florianópolis. Chegamos lá pelas 11:00 horas. Ficamos todos no hotel o qual eu havia
reservado. Conheci no hotel um casal, ela era de prendas domésticas e ele era mecânico.
Haviam viajado de Campinas-São Paulo até alí, de carro. Eu lhes perguntei, mesmo sem
os mesmos me conhecerem direito, em tom de brincadeira:

-O senhor veio viajando pela Rodovia “Transviadônica”? Ele estranhou e


perguntou:

-Que rodovia é essa? - eu não a conheço!

-Foi quando eu lhe disse- É aquela que liga Campinas à Pelotas!

-Diziam as más línguas que eram na época as duas cidades de maior número de
gays. Ele ficou um pouco chateado, mas, não ficou com raiva de mim, pelo contrário,
continuou a entabular conversa comigo!

O BALNEÁRIO DOS RICOS

-Á tarde, mesmo sem termos almoçado, resolvemos conhecer o Balneário


Camboriú. Fomos até a Rodoviária, pegamos um ônibus e partimos. O ônibus era muito
velho, porém, muito conservado, era do ano de 1967. Não havia nenhum arranhão e os
bancos estavam com os estufados inteiros. Durante uma parte da viagem, a filha do
Tenente Marinho, resolveu deitar a cabeça no colo dele e as pernas ela passou por cima
do braço da cadeira, que era de ferro, foi quando o cobrador lhe dissera:

-Moço, não é permitido colocar os pés nas cadeiras!

-O Marinho não gostando lhe dissera:

238
-Ela não está com os pés na cadeira e sim sobre o braço dela!

-O cobrador então disse:

-Motorista, tem um passageiro que não quer que a filha tire os pés da cadeira!

- O motorista, incontinente, brecou o ônibus e veio até ele e disse:

-Se o senhor não tirar os pés de sua filha do banco, o ônibus não vai seguir
viagem!

-Marinho estava em uma terra estranha e obedeceu!

-Antes de chegarmos a Camboriú, o motorista fez uma parada para lanche, e,


durante essa parada, ele se aproximou de nós e disse ao Marinho:

-Cavalheiro, perdoe-me, não foi a minha intenção de magoa-lo, é que se houver


qualquer coisa com o ônibus, o prejuízo vai sair de nosso bolso, até se um pneu pocar!

-Em Camboriú, todas as casas eram tipo bangalôs, em todas elas havia um carro
importado na garagem, as casas estavam fechadas, diziam que eram casas de veraneio
dos Argentinos. Fomos tentar almoçar, porém, o almoço era camarão, uns camarões
pequenos, pareciam aqueles aos quais chamamos de “Pitiguiras”, era por dúzia, uma
fortuna, resolvemos lanchar.

O PASSEIO E AS MANCADAS

-A noite quando vislumbramos a Ponte Hercilio Luz, sabíamos que estávamos


chegando a Florianópolis. Após o café, fomos dar uma volta pelo centro e, de repente,
estávamos em uma praça próxima ao Palácio do Governo, quando a esposa do Marinho
viu um homem vendendo milho cozido, teve vontade de comer e me chamou para a
gente comprar. Pediu o milho e quando o homem ao tira-lo do caldeirão e fazer a
menção de mergulha-lo em uma bacia com água, ela gritou:

-Não molhe não!- e o homem sorrindo lhe dissera:

-Madame, eu cozinho o milho sem sal para ele não ficar duro, e quando ele é
retirado da panela eu o mergulho em uma água de salmoura!
-Que mancada!

-A segunda mancada fora a minha. Ao sairmos da praça, já era umas onze horas,
resolvemos comer os milhos lá no hotel com café, porém, a cozinha estava fechada.
Resolvemos procurar uma lanchonete ou um trailer de passaporte que estivesse aberto
àquela hora e o encontrei. Aproximamo-nos e eu dei boa noite e disse:

-Vocês têm café?

239
-Qual não foi a minha surpresa, não era um trailer de passaporte e sim uma
unidade auxiliar da Polícia de Florianópolis. Que vergonha, os policiais ficaram rindo
da minha gafe!

-No domingo fomos fazer uma Turner pela cidade, pegamos taxi e fomos
conhecer uma parte da praia, fomos até uma lagoa conhecida por Lagoa da Conceição.
Era tipo uma praia, havia até pessoas pegando onda com pranchas de Surf. Fomos
almoçar, porém, ficamos com um pé atrás, pois, se em Balneário Camboriú uma dúzia
de camarões pequenos era uma fortuna, avalie em Florianópolis a Capital. Lerdo
engano, quase caímos de costa com os preços. Pedimos um rodizio de camarões. Eram
sete pratos por pessoa, Primeiro viera uma espécie de sopa, depois camarões ao alho e
óleo e assim por diante, muito barato o almoço.

A VIAGEM PELO VALE DO ITAJAÍ ATÉ BLUMENAU E JOINVILLE.

-No outro dia, logo cedo, resolvemos viajar até Blumenau, fomos pelo Vale
Itajaí, lindo vale. Ao chegarmos à rodoviária de Blumenau, resolvemos alugar uns
armários e fomos conhecer a cidade. Havia a fábrica da Sul fabril e da Hering. À tarde
depois de um lanche, viajamos para Joinville. Pernoitamos lá, e, como eu tinha de voltar
para Florianópolis para pegar um avião para Curitiba, mas, era uma viagem cansativa,
resolvemos ir de ônibus e tive de cancelar a passagem.

NOSSA ESTADA EM CURITIBA

-Quando chegamos ao hotel em Curitiba, já era noite. No hotel ao ligarmos a


televisão, estava passando uma notícia triste, era o enterro da cantora Elis Regina, já era
o mês de janeiro de 1982.

-Mais tarde saímos para procurar um amigo de Marinho que tinha um


restaurante que servia massas, o endereço que ele sabia era no centro da cidade. Não
encontramos, pois, já havia fechado naquele local.

-Fomos então para o bairro de Santa Felicidade, bairro chique, que possuía
muitos restaurantes. Passamos por um que era parecido com um avião, tinha asas.
Diziam que ele pertencia ao Zacarias do grupo dos Trapalhões.

-Fomos jantar em uma churrascaria ali existente, chamada Pinheirão. Na


churrascaria o Dr. Luzo só queria carne bem fininha e tome chope, era um atrás do
outro.

-Na mesma noite perguntamos na recepção do hotel quanto ficaria cada


passagem para irmos até Paranaguá, e a pessoa que nos atendeu disse que ficaria CR$
80,00 ( oitenta cruzeiros) por pessoa. Não aceitamos, era muito caro e fomos a pé até ao
conjunto de estação ferroviária e rodoviária para saber quanto seria o valor das
passagens de ida e volta. Ficamos sabendo que de ônibus cada qual de nós pagaria

240
CR$5,00 (cinco cruzeiros) de ida e de volta, e de trem, ficaria CR$1,00 (um cruzeiro),
que diferença para o hotel!

O DIA DO PASSEIO - MAIS UMA MANCADA DE MARINHO

-Quando compramos as passagens de ônibus para irmos a Paranaguá, ao


embarcarmos, o Marinho foi barrado na entrada do ônibus, pois, a fiscalização da
Polícia Rodoviária Federal não o deixou embarcar, porque, todos nós estávamos de
calça comprida e Marinho de bermuda. Era proibido viajar assim, era contra os
costumes. Há muito custo e dizendo que era militar do exército Brasileiro, o agente
deixou, e nós:

-De novo Marinho, só leva esporro!- e ele ficou bravo com a gente!

-Almoçamos por lá a beira de um rio ou era uma lagoa, ao som de um piano!

-Conhecemos o Porto de Paranaguá e voltamos de trem pela Litorina, uma linha


férrea que ficava a mais de novecentos metros de altitude. A viagem era pitoresca, havia
muitas estações projetadas e descíamos em todas elas, uma era em forma de cadeado,
outra em forma de coração e assim por diante. Diziam que o engenheiro que a projetor
se suicidou por pensar que haveria vários acidentes coisa que nunca acontecera.

-À tarde, fomos até a Rua das Flores nos encontrar com a colega de viagem que
fora revelar as fotos, e para a minha surpresa, as fotos que eu havia tirado com aquelas
moças na Vinícola Aurora, haviam sumido, nem os negativos existiam mais. Era
armação de minha mulher com a colega de viagem!

-A noite, fomos outra vez ao bairro de Santa Felicidade, mas não quisemos
comer churrasco, optamos por massa. Disseram-nos que a casa de massa conhecida por
Madalousa era caríssima e fomos para outra. Já em capítulos anteriores, eu dizia das
minhas coincidências e aconteceu mais uma delas, pois, a casa de massa que entramos,
era a tal que pertencia ao amigo e compadre de Marinho. Não pagamos nada, tudo
cortesia.

VIAGEM PARA SÃO PAULO

-Quando fomos para o aeroporto, o Marinho viajou diretamente para o Rio de


Janeiro, eu e minha mulher juntamente com Luzo e a dele, viajamos para São Paulo.
Ficamos hospedados na Avenida Paulista em frente às Lojas Sendas e perto de um
cinema. Lá no hotel, encontramos um panfleto que era uma propaganda de um show em
uma boite chamada “O Beco”, ficava na Rua Ulhôa Cintra. Resolvemos os dois casais,
ir logo mais a noite.

-Fomos almoçar ali perto em uma rua por trás da Paulista, no Restaurante
Cabeça de Boi, do mesmo grupo no qual almoçamos em Foz de Iguaçu. Ao sairmos do
restaurante, Luzo nos dizia que iria fazer uma visita a uma sua prima e que a noite nos

241
encontraria no hotel para irmos a tal boite. Quando de repente, surge a tal prima, outra
coincidência, que disse:

-Vocês tenham cuidado quando andarem nas ruas e ônibus, o negócio anda sério,
uma conhecida minha sofreu um atentado!- E nos contou.

- Dizia ela:

-Que uma amiga estava em um ônibus quando um sujeito vestido de terno


branco a abordou dizendo que era um assalto, e que queria um anel que ela estava
portando no dedo, cujo anel não havia condição de sair. O que fez ele, pegou um
daqueles cortadores de charutos e decepou o dedo da moça com anel e tudo, e ela
desmaiou. O mesmo fora preso mais adiante, porque, o sangue estava pingando pelo
bolso do paletó.

A BOITE “O BECO”.

-Literalmente era um beco, pois, a entrada da boite mal dava para adentrarmos.
La dentro a coisa mudava de figura. Era um salão amplo com muitas mesas e um grande
palco. Soubemos que os proprietários e os quais davam sempre show, eram: Emílio
Santiago, Sonia Santos e Peri Ribeiro, grandes nomes da MPB. Naquela noite não fora
diferente, eles cantaram. A entrada era CR$ 10,00 (dez cruzeiros) por pessoa, com
direito a um drinque.

-O Luzo no outro dia, logo cedo, viajou para o Rio de Janeiro e nós só íamos no
dia seguinte. Almoçamos perto do hotel, na Paulista, e mais tarde fomos descontar um
cheque de viagem no Banco Econômico que ficava próximo a Praça da Bandeira e a um
mercado público. Ali perto, também, ficava o Setor de Engenharia do Banco do Brasil
aonde iriamos fazer uma visita a um amigo, o esposo de uma amiga de minha mulher,
aquela amiga, a Alda Villas Boas, ela era de Aracajú e ele, o Clarindo, de Junqueiro,
Alagoas.

-Quando estávamos na sala de espera, comentamos com um rapaz que era o


recepcionista, que estava um calor danado e ele nos perguntou:

-Que horas são?- respondemos três da tarde!- E ele- daqui a mais ou menos vinte
minutos vai cair um pé d’água!

- Não acreditamos no que ouvíamos. Profetizou-se, caiu um torô daqueles. Após


visitarmos o nosso amigo, subimos o Viaduto do Chá e seguimos até a Paulista, não
antes de levarmos um tremendo banho que redundou, dias depois, em uma forte gripe.
À noite voltamos até a Praça da Bandeira para pegarmos, juntamente com o amigo, o
metrô para jantar em sua residência que ficava em Vila Mariana, um bairro distante.

242
-No outro dia, fomos até a Galeria Page e depois a uma livraria que ficava na
Rua Direita, quando estava dentro da livraria escolhendo uns livros de direito, levei uma
tremenda tapa na cabeça e a pessoa dizia assim:

-O que está fazendo aqui em São Paulo?

-Triste coincidência, era o meu colega de faculdade, o Benedito, que havia


discutido com a “Coruja Colorida” a, também, colega de faculdade, já relatado em
capítulo anterior!

-A tarde antes de viajar para o Rio de Janeiro, fomos conhecer o Shopping


Eldorado e depois pegamos o avião para o Rio!

DE VIAGEM PARA O RIO DE JANEIRO

-No Rio de Janeiro ficaríamos na Ilha do Governador na casa de um colega de


infância de minha mulher, colega lá de Maragogi, Alagoas, o José Marques. O avião
pousou no aeroporto Santos Dumont, ao pegar um taxi, perguntamos ao motorista se
conhecia bem a Ilha e como resposta ele disse:

-Como a Palma de Minha Mão!- E fomos!

- O motorista atravessou uma ponte e danou-se a rodar pela ilha, de repente


descobri que ele havia passado duas vezes pelo mesmo lugar e reclamei, foi quando ele
em frente a um cemitério que ficava na pista principal, subiu uma ladeira e chegou ao
nosso destino. O bairro era a Cacuia. A casa ficava próxima à antiga sede da Escola de
Samba União da Ilha do Governador. O nosso colega já estava aguardando e ao tentar
pagar a corrida, o valor já estava em CR$50,00 (cinquenta cruzeiros), um absurdo, pois,
o nosso colega nos disse que nem dava CR$10,00 (dez cruzeiros)!

-Foi àquela briga, cujo motorista alegava que o carro estava todo sujo e que ele
havia mandado lavar naquela manhã. Para evitar mais discursão, paguei a contra gosto.

-A casa onde ficamos não era do meu colega e sim de seu sogro, pois, a dele era
em Niteroi, porém, ele quando estava naquele endereço se hospedava em uma casa que
ficava mais abaixo da do sogro. Havia uma garagem perigosa, pois, quando ele vinha ou
o sogro, com o carro, dava um freio com antecedência, antes, para não despencar no
abismo, era uma temeridade!

-Fomos conhecer a Ilha do Governador, era muito grande. Dois dias depois,
deixamos a casa do amigo e fomos nos hospedar na Tijuca na casa de minha irmã
Ângela Katia. Ela morava próximo a Praça Sãs Penha, acho que se escreve assim, e o
quarto do casal dava para a Conde de Bomfim, em frente ao Banco Itaú, a Casa das
Banhas e a subida de um morro.

243
-O esposo de minha irmã era o Jalton, primo de Cícero Amélio, vereador por
Maceió, naquela época!

-No Rio de Janeiro, fora a um jantar de aniversário daquela moça que nós
conhecemos da viagem ao Rio Grande do Sul, aquela que revelara as fotografias. Ela
era professora de cegos, os ajudava a guiá-los pela cidade.

-Conhecemos a Barra da Tijuca, Copacabana, Ipanema., e fomos, também, ao


Pão de Açúcar, só não conhecemos o Cristo Redentor, porque, a tarde estava nublada e
nos aconselharam a não ir.

-No Morro do Pão de Açúcar existem dois estágios, se salta no primeiro morro e
depois o bondinho vai até o segundo. Assim que saltamos do bondinho no primeiro
morro, um japonês tirou nosso retrato sem ao menos nos pedir. Subimos até o outro
morro e, assim que déssemos, ouvi uma pessoa gritar!

-Xerife o que está fazendo aqui, passeando é?

-Não era possível, mais um conhecido de Maceió, dessa feita o Gilvan, filho do
senhor Aristides proprietário, na época, da A Radiante, de uma loja no Comércio de
Maceió.

-Me chamou de xerife, pois, era assim que nos cumprimentávamos!

-Ao descermos para o primeiro morro, o japonês estava nos esperando com um
monóculo na mão onde estava o nosso retrato. Um excelente fisionomista. Pois, ele
olhava rapidamente para as pessoas e depois para o monóculo. Tivemos que compra-lo!

-De volta dessa pequena excursão, pegamos o ônibus para a Tijuca, o qual
ônibus diziam que era a linha 232, pois, lá era por números. De repente o ônibus passou
pelo Maracanã e mais adiante subiu uma ladeira e chegou ao final de sua rota.
Descemos e perguntamos onde estávamos, e como resposta:

-Em Vila Isabel!

-Diziam que tínhamos que sair imediatamente dali, pois, era perigoso. Pegamos
outro ônibus e saltamos em uma praça muito antes da Conde Bomfim!

O PASSEIO À ILHA DE PAQUETÁ E A PETRÓPOLIS

-Uns dois dias que passamos no Rio de Janeiro, na casa de minha irmã Ângela,
juntamente com ela e com meus sobrinhos, fomos de barca até a Ilha de Paquetá, aquela
ilha que ficou famosa onde rodou uma novela chamada “A Moreninha” da Rede Globo
de Televisão. Durante a viagem, uma senhora se aproximou de mim e perguntou se eu
era descendente de árabe, pois, eu parecia com árabe. Seu marido era descendente.
Engraçado que muita gente em Maceió, me achava com cara de árabe. Inclusive um

244
fotografo da cidade de Capela-Alagoas, um dia me disse:

-Você parece com aquele artista, Omar xerife!

-Ele errou o nome, pois, o mesmo é Omar Xarife famoso astro de cinema!

-Voltamos a nos hospedar na Ilha do Governador e fomos dar um passeio em


Petrópolis, para fazer uma visita ao Dirceu Lindoso, grande poeta e escritor Alagoano,
natural de Maragogi, que na época morava lá, em um bangalô que beirava um canal,
quase em frente à Casa de Santos Dumont. Era um dia de domingo, infelizmente
chegamos atrasados e o Museu Imperial já havia fechado, ficamos sem o conhecer. Foi
lá na casa de Dirceu que comemos um biscoito feito de algas marinhas. Dirceu Lindoso
é primo de minha ex-mulher a Gleide!

-Tivemos outro convite, conhecer Niterói, mais não deu!

-Fora um mês de viagem inesquecível, e quando chegamos a Maceió e em nossa


residência, o nosso filho mais novo não queria mais saber de nós, principalmente de
minha esposa!

VIAGEM A FORTALEZA

-Em 1980, eu quando ainda estava casado com a minha ex-mulher a Gleide
Wanderley, resolvemos fazer uma viagem à cidade de Fortaleza. Saímos de Maceió de
ônibus, e fomos até recife, e de lá pegamos um avião para Fortaleza. Ao subirmos na
aeronave, e ao procurarmos as poltronas aonde íamos nos sentar, havia um senhor bem
gordo sentado do lado da janela e a minha esposa preferiu a poltrona do corredor e eu
fiquei perto dele. De vez em quando ela fazia um arzinho de riso, e eu não sabia o por
que de tal atitude. Quando chegamos à Fortaleza, ela me disse em tom de brincadeira o
motivo de tanto riso:

-Quando voltarmos de viagem, você vai de novo sentar-se no avião perto de


outro gay!

-Realmente, aquele senhor era afeminado.- Foi quando eu disse:

-Eu vou é voltar perto de uma morena bem gostosa! E ela disse:

-Eu duvido!.

-Em Fortaleza ficamos hospedados no Hotel Savaná, situado na Praça do


Ferreira. Dizia-se que aquela praça tinha a fama de que o vento levantava as saias das
mulheres, coisa que confirmamos.Todas as mulheres que circulavam por aquela artéria,
tinham realmente as saias postas na cabeça.

245
-Fomos fazer compras, inclusive, por incentivo de minha irmã Clotilde, que
dizia que todas as viagens que ela fazia, comprava mercadorias para revender e, com o
lucro, ser ressarcida de parte das despesas empregadas com a viagem.

-Naquela época estava em voga os vestidos pintados e compramos vários para


revendê-los!

-Fomos a uma praia que diziam que era a verdadeira praia de Iracema e não no
local onde existe a estátua daquela índia que fica localizada na Praia de Mucuripe,
inclusive o cantor Vagner canta “As Velas do Mucuripe”. Na beira da praia ficava o
Restaurante chamado de “LIDO”, e a musica lançada naquela época, era “As Rosas não
Falam”, cuja música ouvimos pela primeira vez e naquele restaurante.

-Fomos conhecer a Praia do Futuro, cuja praia ainda hoje, dizem que é do futuro,
pois, quase nada mudou desde a época em que estivemos lá!

-No domingo que era o dia de voltarmos de viagem, fomos dar uma volta na orla
marítima,e, próximo a Praia que se diz que é a de Iracema, lá vinha pela calçada uma
morena colossal abraçada com um rapaz louro e notamos que ele era estrangeiro. Foi
quando eu dissera:

-É com essa morena que eu vou voltar para Recife! E minha esposa dizia:

-Voce vai voltar mais uma vez sentado perto de outro Gay!.

-O casal desapareceu por encanto!

-Pegamos um taxi e fomos mais adiante pela orla marítima e de repente, quem é
que salta de um taxi? A tal morena e eu voltei a dizer:

- O destino estar trabalhando a meu favor!

-Resolvemos almoçar e pegamos um outro taxi para irmos a um restaurante que


fora indicado pelo gerente do hotel onde nos hospedamos.

-Quando estávamos almoçando, quem é que entra no recinto? –A tal morena


acompanhada daquele rapaz! Então eu falei:

-Olhe a coincidência, é com ela que eu vou!

-As quinze e trinta, chegamos ao aeroporto de Fortaleza, quem é que


encontramos se despedindo daquele rapaz? a morena!

-Quando ele embarcou em um avião com destino a São Paulo, ela ficara
debruçada em uma grade, assistindo o avião alçar vôo.

-Anunciaram a partida de nosso vôo, mas, determinaram que haveria preferência

246
das crianças e pessoas idosas a subir no avião, por isso, fomos os últimos a embarcar.

No avião havia apenas os três últimos lugares que ficavam lá no final, perto da porta
trazeira.

-A Gleide escolheu a poltrona da janela e eu fiquei com a do meio e dizendo:

-Essa poltrona do corredor está reservada aquela morena!

-Dito e feito, de repente aparece no início do avião aquele colosso de mulher, a


morena. Aonde ela iria sentar-se? É claro que seria ao meu lado!

-Minha mulher com ciúme, tentou trocar de lugar comigo, mas, não aceitei e
disse:

-Ria agora!

-A morena sentou-se ao meu lado e, quando o comandante deu toda a rotação as


turbinas, eu fiquei completamente mouco, não ouvia mais nada, parecia um castigo!

-A morena notou o meu aperreio e cedeu-me um chiclete, dizendo que aquela


sensação de dor no ouvido desaparecia por encanto ao mascá-lo, não deu outra coisa, a
obstrução do ouvido desapareceu!

-Quando chegamos em Recife, desembarcamos, mas, a morena permaneceu no


avião.

-Minha mulher fora de Recife a Maceió sem dirigir-me a palavra, em razão de


não ter trocado de lugar com ela!

-O destino intercedeu mais uma vez em minha vida!

247
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXXV

ELEIÇÕES EM MATA GRANDE-ALAGOAS.

-Na eleição municipal de 1992, eu fora ser advogado da coligação da Chapa Por
Amor a Mata Grande, lá na cidade do mesmo nome, contratado pelo deputado Eraldo
Malta, candidato a prefeito.

-Viajei juntamente com o meu amigo, professor e advogado, Carmelo, que Deus
o tenha em um bom lugar, cunhado de meu colega de colégio Diocesano, Nairo Freitas,
grande oftalmologista. Saímos de Maceió umas cinco e meia da tarde. Tínhamos que
trabalhar apenas na apuração, pois, a eleição havia sido naquele sábado e já encerrada.
Nunca havíamos ido aquele município, não sabíamos nem como ir até lá. Resolvemos
seguir em direção a Batalha e fomos.

-Já era tarde da noite, mais ou menos vinte e uma horas. Estando perdidos,
resolvemos parar em um restaurante de beira de estrada que estava aberto, e havia uma
lâmpada acesa na entrada. Ao invés de pararmos no lado esquerdo da pista na direção a
qual seguíamos, Carmelo fora mais adiante e voltara, e parara a Pampa, esse era o
nosso veículo, na porta do restaurante. Carmelo era alto, de maneira que a sua cabeça
batia quase no teto da Pampa, acendeu a luz do salão e começou a assobiar, e a pentear
os cabelos, enquanto eu gritava:

-Carmelo olha para lá!

-E ele não estava ligando para nada. É que de dentro dos matos e do restaurante,
surgira uma meia dúzia de pessoas armadas até os dentes e viera em nossa direção, foi
quando alguém deu um grito bem alto dizendo assim:

-Dr. Alde Meu amigo!

-Os homens de imediato deram meia volta e o Carmelo nem isso notou. Quem
era que me conhecia naquele fim do mundo, se eu nunca havia andado por lá? - Era um
ex-vizinho meu, o Edvaldo Abreu, eles estavam garantindo a vida de uma candidata de
uma cidade ali perto. Desci do carro e cumprimentei Edvaldo, nesse interim, é que o
Carmelo acordou para a realidade. Fui ao banheiro e a lâmpada estava destruída, de
propósito, pois, nos fundos e nas laterais do restaurante havia um imenso matagal e
plantação de cana-de-açúcar. E Edvaldo dizia-me:

248
-Vocês se arriscaram muito, ao invés de pararem da maneira que iam viajando,
fizeram a volta dando a impressão que iam nos atacar!

-Pedimos orientação de como chegarmos ao Município de Canapi, vez que,


tínhamos que passar primeiro naquele município. A orientação fora a seguinte:

-Vá em frente, do seu lado direito você vai encontrar a cidade de Olho D’água
das Flores e mais adiante a esquerda, São José da Tapera, siga mais adiante e vai
encontrar uma estrada que cruza com essa, dobre a direita e vai mais adiante encontrar
Canapi!

-Seguimos viagem, porém, após passarmos por Olho D’água das Flores,
pedimos informação em um posto de gasolina e obtivemos outra rota-Nos dissera o
Frentista:

-Se forem direto, vão dar uma volta no Estado de Alagoas, quase em Paulo
Afonso, não aconselho é muito longe. Existe outra maneira mais fácil. Vão passar por
duas pontes, depois de cruzarem a segunda, vão encontrar um lugarejo chamado de
“Piau” ele é todo iluminado, depois do último poste, dobre a direita e vão direto até
chegar ao asfalto, pois a estrada é toda de barro!

-Após passarmos Piau, Carmelo ficou temeroso, pois, além de ser dia de eleição,
havia um caminhão nos seguindo, e ele dizia:

- Será que estamos certos nessa estrada?-E eu para meter medo e vendo uma
camioneta estacionada em uma casa de uma fazenda, disse-lhe:

-Vamos perguntar ali?

-Ele se apavorou ainda mais, dizendo:

-Quer que levemos um tiro?

-O caminhão que nos seguia era da Casa Guido em Maceió, com dois homens na
carroceria, em pé, que ia entregar móveis. Seguimos mais adiante e chegamos a um
cruzamento da estrada de barro com uma de asfalto!

-Havia uma placa do outro lado da pista parecendo ser de limite de velocidade,
pois, era redonda, nenhuma indicação de que fosse da entrada de uma cidade. Do lado
direito existia um posto de gasolina e resolvemos colher informações. Ao me aproximar
de um funcionário que estava na janela do escritório do posto, quando perguntei, ele
fechou com mais de mil a janela e apagou as luzes. Havia um caminhoneiro que nos
dissera que não conhecia, pois, era do Rio Grande do Sul e a esquerda ele disse que
iriamos para Delmiro Gouveia e Paulo Afonso. Tive a intuição de que era em frente.

- E era!

249
-Ao chegarmos ao centro da cidade, havia um jovem sentado no selim de uma
bicicleta e um dos pés em uma calçada, e quando nos aproximamos para colhermos uma
informação, o mesmo saiu em desembalada carreira. Comentei com Carmelo:

-Que povo medroso, essa cidade deve ser muito violenta!

-Mas adiante encontramos uma senhora sentada em uma cadeira de balanço na


porta de sua residência e um homem sentado em um batente. Passava da meia noite e
aquele casal calmamente sentado na porta de casa enquanto outras pessoas agiam com
medo. Dei boa noite e perguntei por uma pessoa conhecida por “Doutorzinho”, e o
homem respondeu assim:

-O senhor foi muito educado, deu boa noite, por isso vou responder, porque,
essas pessoas são adversários políticos de meu genro que é o candidato a prefeito.
Doutorzinho já foi para Mata Grande e a estrada para lá o senhor segue em frente e
dobra a esquerda não tem errada!

-Seguimos e lá para a uma e meia da manhã, chegamos!

-O candidato já estava preocupado com a nossa demora!

-Fomos direto para o local de apuração. Era em um ginásio escolar. Lá chegando


fui cumprimentado por um senhor que portava um crachá como fiscal de partido, era o
atual prefeito de Canapi, juntamente com o candidato apoiado por ele. Achei que o
conhecia de algum lugar, até que falando com ele lembramo-nos de onde, tínhamos
estudado juntos no Diocesano em Maceió, era o Mauro Fernandes, que havia trocado
tiros com o cunhado de Fernando Collor de Melo, conhecido por Joãozinho Malta,
irmão caçula da Roseane Collor, a notícia saiu em várias revistas No dia seguinte,
quando nos encontramos e ele avistou um crachá em meu peito com os dizeres,”Por
Amor a Mata Grande”, já ficou cabreiro e passou a me cumprimentar somente com a
cabeça!
-Chegamos na madrugada de domingo e ficamos até a quinta feira, para ajudar
nas outras apurações. Primeiro foram apurados os votos de Inhapi, depois Canapi e por
último, Mata Grande. O exército estava presente e era comandado por um tenente da
cidade de Garanhuns, Pernambuco. Houve muita confusão. Uma das vezes, como o
telhado do ginásio era de telhas de alumínio, jogaram britas de construção sobre o
telhado, dando a impressão de que era uma rajada de metralhadora, foi aquele corre-
corre, os soldados acionaram os fuzis chamados Fal.

-Ficamos hospedados na casa do candidato a prefeito, o Eraldo Malta e, fizemos


dali, o comitê e o nosso quartel general. De meia em meia hora, sem exagero, a primeira
dama Roseane Color, telefonava diretamente da Casa da Dinda, pois, nessa época o
Fernando Collor era Presidente da República, querendo notícias de como andava a
marcha das apurações de Canapi, cuja cidade o seu tio Luiz Celso, pai de Celso Luiz,
futuro deputado estadual, era o candidato.

250
-Na terça feira, quando ainda não havia começado a apuração de Mata Grande,
estava sendo concluída a de Canapi, recebemos um comunicado para comparecermos na
casa do prefeito da cidade, o Hélio Brandão, e fomos. No carro, que era um Corcel,
havia sete pessoas, estávamos apertados que só sardinhas em uma lata!

-Carmelo incomodado por ser alto e pelo aperto dizia:

-Será que o Joãozinho fizera alguma besteira, pois, o meu código penal eu deixei
em Maceió!

-O veículo seguiu por vários quilómetros, descia serra, subia serra, até que
entramos em uma estrada de barro coberta de lama e chegamos a uma casa de tijolos
aparentes, e, quando eu ia entrando, uma pessoa esbarrou em mim, já estava para lá de
Bagdá, era o Paulo Malta, meu conhecido, havia bebido para comemorar a sua vitória
como prefeito de Inhapi!

-Lá em um quarto, havia umas oito pessoas, e em uma cama enorme, deitado
sobre ela, vestindo pijama, lá estava o candidato, o tio de Roseane Collor, e assim que
entramos, o Joãozinho fora logo dizendo:

-Vamos acabar com essa apuração de qualquer maneira!

- Carmelo então disse:

- Se quiserem existe recursos para anular os votos!

-Foi quando eu perguntei:

-Durante a votação houve alguma impugnação de votos?

-A resposta fora que não e, eu dissera-lhes:

-Então não tem jeito, não vai funcionar!

-Foi quando o Joãozinho disse:

-Vamos tomar cachaça que é melhor!

-Ficamos aliviados, principalmente o meu amigo Carmelo!

-O tio de Roseane e o meu candidato, haviam perdido as eleições!

251
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXXVI

ELEIÇÕES EM MAJOR ISIDORO

-Doutra feita, fui funcionar como advogado nas eleições da cidade de Major
Isidoro, o candidato era o Doca, irmão de Antonio Alves, ex-Secretário de Saúde de
Alagoas, meu antigo colega de Diocesano, conhecido por nós como “Tonho Macaco”.
Viajei juntamente com os meus colegas advogados, Roberto Pinto, que Deus o tenha, e
Queiroz, e, de última hora, o advogado Raimundo Palmeira desistira de comandar os
trabalhos do cliente, pois, resolveu ir para a cidade de Anadia defender uma amiga de
seu primo que era candidata a prefeita daquela cidade.

-Viajamos na sexta-feira e eu fiquei no lugar de Raimundo coordenando os


trabalhos!

-O nosso cliente concorria com o filho de Antonio Amaral, irmão de Luciano


Amaral, deputado na época!

-Do outro lado, um corpo de advogados liderado por Fernando Maciel e Mágno
Alexandre, hoje Promotor de Justiça de Alagoas. Foi um pleito muito tumultuado!

-Roberto Pinto ficara em um lugarejo e o Queiroz em outro e, eu, fiquei em um


local de votação dentro de um colégio que possuía trinta e cinco seções. De vez de
quando, eu era acionado para resolver alguma questão em defesa da nossa coligação.
Em uma delas, havia uma pessoa que desde cedo queria, porque, queria, votar, mas, já
havia outra que votara e seus nomes coincidiam, inclusive, com o de suas mães. Essa
pessoa, diziam, que era genro de Antonio Amaral. Eu não deixei, e o problema perdurou
durante a manhã toda!

-Havia algumas pessoas querendo fazer boca de urna, até dentro do recinto de
votação. Eu portava um crachá e uma mocinha quando me via aproximar-me dela, saia a
toda e reclamava a um senhor. De repente, estavam, em uma calçada, o Dr. Antonio
Amaral, ele era promotor de justiça aposentado, seu filho Luciano Amaral, que era
Deputado Estadual por Alagoas, e outros homens, quando aquele senhor que era pai da
mocinha e de dois rapazes, me chamou e pegou na lapela de meu paletó e disse:

-Se eu perder a eleição, você morre ainda hoje!

-E eu lhe dizia:

252
-Solte meu paletó, você não sabe com quem está falando!

-Se eu morrer hoje, você morre amanhã, não sabe o de que a minha família é
capaz!

-Incontinente, ele soltou o meu paletó, eu não sabia que ele pertencia à mesma
coligação de meu candidato!

-O advogado Raimundo Palmeira, uma semana antes do pleito, havia ingressado


com uma petição no sentido de afastar a escrivã eleitoral do município, coisa que
conseguiu, pois, havia a suspeita de eleitores fantasmas. No dia da eleição, descobrimos
uma carteira de trabalho que havia sido confeccionada no dia anterior as eleições, cujo
fato fora comunicado ao Promotor de Justiça da comarca para tomar as providências, e
ele tomou. Quando chegou, a senhora que portava a carteira de trabalho irregular ia
saindo no carro do irmão do candidato adversário do meu, e o promotor gritou:

-Espere deputado, para onde vai levando essa senhora?

-E através de pessoas que viram o deputado colocar a carteira de trabalho no


bolso direito de sua calça, disseram, também, ao promotor, que a reteu. Ato contínuo,
disse:

- A senhora ficará a disposição da promotoria, sentada em uma cadeira!

-Minutos depois, ouvimos o roncar de um helicóptero, era o deputado federal


Luiz Dantas, genro de Mair Amaral, e, ao descer, fora ao encontro do promotor e o
mesmo lhe dissera:

- Deputado, fique ai mesmo, que eu falarei já com o senhor, pois, essa senhora
estar à disposição desse promotor!

- Cabra macho! Nessa época era muito novo e acabara de tomar posse como
promotor, era o ano de 1996!

-Havia um advogado recém-formado, que a todo custo, queria que aquela pessoa
homônima que tentava votar desde a manhã, votasse, e chamava-me para brigar lá fora e
eu lhe dissera:

- Aqui é a sua terra, porém, Maceió é a minha, quando me encontrar troque de


calçada, pois, vai haver confusão!

-Não tenho medo de você!

-De outra, vamos falar com o promotor, vamos no meu carro!-E eu lhe
respondi:

- Se tiver de ir, vou no carro do meu candidato!

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-As confusões eram tantas, que uma das vezes uma moça do lado oposto, pediu-
me uma orientação e foram dizer a um dos advogados que comandava a eleição do
outro candidato, que eu estava interferindo nos assuntos da outra coligação e, ele viera a
minha presença com “Sete Pedras na Mão!”, como se diz na gíria. Após os
esclarecimentos de que eu havia dado orientação correta, ele pediu-me desculpas e
disse-me:

-A partir de agora, somos amigos e não haverá mais problemas entre nós, faça o
seu trabalho que eu farei o meu!

-O Advogado era o Mágno Alexandre!

-A tarde, vieram correndo me buscar, pois, havia surgido o mesmo problema, o


do genro do Dr. Antonio Amaral, que queria votar, foi quando eu acordei com o
presidente da mesa que ele poderia votar em separado e o voto ficaria para decisão da
mesa apuradora. Perto de mim, estava o Dr.Antonio Amaral e ele me perguntou:

-Dr! O que fora que o senhor dissera aquele homem que havia pegado na lapela
de seu paletó?

-E eu lhe repeti tudo. E lhe adiantei ainda:

-Que meu pai nunca teve medo de ninguém inclusive seus filhos!

-E ele perguntou quem era meu pai e eu lhe dissera:

-O Professor Antonio Santos!

- E ele respondeu:

-O meu presado professor de português e matemática por correspondência, gosto


muito dele!

-E disse aos outros:

-A partir de agora esse rapaz é nosso amigo!

-E assim, a partir dali, tudo correra as mil maravilhas!

-Mais tarde, soubera de uma cena hilariante provocada pelo Roberto Pinto.
Disseram que ele ao descobrir uma carteira de trabalho expedida na véspera da eleição,
tentou ficar de posse dela e a pessoa correra e ele teve que dar uma tainha, ou seja, se
jogar nos pés da pessoa para pegar a carteira. Roberto Pinto era barrigudo e hoje já fora
prestar contas a Deus!

-O nosso candidato ganhara as eleições por uma margem de mais de mil e


trezentos votos, e houve na cidade homenagens tantas prestadas, a Juíza, quantas ao

254
Promotor de Justiça. A Juíza era a Dra. Maria de Fátima Pirauá e o Promotor, meu
amigo e, filho de meu chará de segundo nome, JOSE ALDE, o Dr. Coaraci da Mata
Fonseca, sobrinho de meu dileto amigo, escritor, teatrólogo, poeta, juiz de direito e
imortal da Academia Alagoana de Letras, o Emanoel Fay Mata da Fonseca, que
recentemente falecera, que Deus o tenha.

-Na volta das eleições peguei uma carona com o Dr. Coaraci até a cidade de
Anadia, para ver como se saíra às eleições de seu tio Luiz, conhecido como “Luiz
Perrita” e a candidata à prefeita. Luiz ganhara como vereador e a candidata ganhara,
também. Voltei de Anadia com o meu amigo e advogado, o Dr. Raimundo Palmeira.

255
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXXVII

EM SALVADOR

-Um dia eu e o Dr. José Claudio Gomes de Albuquerque, fomos à Salvador,


capital do Estado da Bahia, para ver se liberávamos uma pessoa que estava presa em
uma delegacia há mais de setenta dias. Viajamos, saímos de Maceió às 13:00 horas
juntamente com familiares do preso. Era um dia chuvoso. Almoçamos na cidade de São
Miguel dos Campos em Alagoas e seguimos novamente viagem. Chegamos à Salvador
lá pelas duas horas da manhã de um dia de quarta-feira. Fomos até um bairro chamado
Pau da Lima, onde estava o preso, e deixamos seus familiares ali. Tratamos de arranjar
um lugar para pernoitarmos. Naquela região somente encontrávamos motéis. Não ficava
bem dormirmos em motel, até que enfim, atravessando as vias conhecidas por Paralelas,
estávamos já perto do aeroporto naquele caminho conhecido por Caminho das Árvores,
voltamos e enveredamos pela Praia de Itapuã e ficamos hospedados em um hotel por
nome de Corsários, já era mais ou menos duas e meia da manhã de quarta-feira.

-Na mesma manhã, tínhamos que ir a delegacia e depois até o fórum Rui
Barbosa, no centro de Salvador, na 2ª Vara Criminal. Estávamos a dormir de sono solto
como se diz, quando ouvimos batidas na porta do apartamento como se quisessem
derrubá-la. Quando me levantei da cama, os meus pés afundaram em um verdadeiro rio,
pois, havia água por todos os lados. Era um vazamento no banheiro, pois, aquela chibata
conhecida por chicote, que vai da torneira a passagem da água, havia rompido e lá
embaixo, no restaurante, estava uma verdadeira piscina, pois, o piso era de madeira.

-Quando fora dormir, alguns minutos depois, ouvi um barulho como se fora
caminhões, ou seja, carretas fazendo manobras, os motoristas acionando os freios a AR,
mas, puro engano, era o barulho do vazamento de água. Por sorte as nossas bagagens
estavam sobre uma mesa e os sapatos, também, inclusive, as minhas sandálias havaianas
estavam boiando, tiveram que fechar a água da caixa.

O POLÍTICO E O DESEMBARGADOR

-Lá no restaurante havia muita água, mas, já estavam sanando o problema. Fui
tomar banho, e, quando troquei de roupa, fui tomar o café da manhã. Claudio deixou
para tomar banho depois. Naquele ambiente havia duas pessoas além de nós dois. Era

256
um senhor forte e uma moça, os quais falavam sobre política e aquilo me interessou.
Aproximei-me, os cumprimentei e passamos a conversar, e ele me perguntou o que eu
estava fazendo em Salvador e eu lhe dissera:

- Que fazia mais de trinta anos que tinha estado em Salvador, não conhecia
ninguém e vim ajudar a uma pessoa que estava presa, sou advogado e de Maceió!

-Foi quando ele perguntou se eu conhecia o deputado Gilvan Barros?

-Como estava a campanha de Cordeiro em Palmeira dos Índios?

- Disse-lhe que conhecia de vista o Gilvan Barros e que a campanha de Cordeiro


estava de vento em poupa!

-Foi quando ele me dissera que:

-Era compadre de Gilvan Barros!

-Que tinha sido prefeito de um interior de Sergipe que ficava do outro lado de
Pão-de-Açúcar, Alagoas, e que fora o Elísio Maia que havia garantido a sua vida
naquele município, e hoje estava ali para fazer a campanha de seu filho em uma cidade
que ficava a mais de novecentos quilómetros de Salvador, quase divisa com Minas
Gerais!

-Aquele senhor me prometera ajuda e disse a sua acompanhante, que era a


Secretária do Secretário de Educação da Bahia:

-Quando o seu primo Gilberto- lembro-me desse nome- viesse naquela noite de
Brasília, pedisse ajuda para mim!

- Disse-me, ainda, que o primo dela era genro de um homem chamado, acho que
era esse o nome, de Cleófane da Silveira, importante político da região da laranja, entre
Lagarto e Simão Dias em Sergipe!

-Ao dizer da promessa ao meu colega, ele não acreditou dizendo que em
promessa de político, não se devia confiar!

-Depois fomos ao Fórum Rui Barbosa, à 2ª Vara Criminal!

-A 2ª Vara estava sem juiz há mais de dois anos. Encontramos o novo juiz que se
chamava Valiebaldo Correia. Pessoa educada que nos recebeu com urbanidade!

-Comentou que assumira aquela vara há uns quinze dias, quando viera de Feira
de Santana-Ba!

-Pedimos para ele fazer, em tempo recorde, a audiência do depoimento do réu,


vez que, há mais de setenta dias ele estava em uma delegacia sem ser ouvido!

257
-Foi quando ele disse para ingressarmos com um Habeas-Corpus!

-Nós alegamos que não éramos da Bahia e sim de Maceió!

-Isso era no final de junho e ficara acertado que a audiência seria no dia sete de
julho em uma quarta feira!

-Havia mais de três mil processos espalhados pelo chão do gabinete e da entre
sala. Fomos à delegacia falar com nosso cliente e quando o delegado soube que um
advogado coroa queria falar com o prisioneiro, disse:

-Mande esse velho filho da p... para a p.....que p....!

-Foi quando o chefe de serviço disse que era um outro advogado, e de Maceió-
AL!

-Ele me mandou entrar dizendo:

-Pode entrar colega!

-O preso estava de calção e cheio de picadas de maruim, aquele tipo de mosquito


que provoca feridas!

-Fiquei sem saber o porquê de “tamanha recepção” o que o delegado havia dito
anteriormente, e que eu e meu colega escutamos,” o advogado filho da p..”!

-A noite, quando voltamos ao hotel, o político que era da cidade de Garanhuns-


PE e se chamava Gondim, mandou me chamar e disse que o Gilberto não viria mais
naquele dia, de Brasília, mas, iria me ajudar assim mesmo!

-Naquela mesma noite, conversando com o gerente do hotel, soube que o


alagoano Elvis, jogador de futebol do Clube Santo André –São Paulo, campeão da Copa
Brasil, que jogara no Vitoria da Bahia, filho de meu amigo Edmilson, havia morado
juntamente com seus pais e irmãos em frente ao hotel. Lá vinha mais coincidência!

-Pela manhã, fora chamado a presença do político e ele me dava um cartão de


visita cujo nome estava o do Desembargador aposentado, Aloisio Bezerra, que era
amigo de ACM- Antonio Carlos Magalhães, e que iria me ajudar!

Não acreditei! - Mas, era verdade!

-O desembargador possuía várias salas em um edifício que ficava após o


Iguatemi, próximo a dois prédios que são conhecidos por “Torres Gémeas”. E dentro de
um mês, depois que fizemos a audiência marcada para o dia 07 de julho, a de
depoimento do réu, o meu cliente estava fora da prisão esperando julgamento em
liberdade!

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-Aloísio Bezerra era um homem baixinho, cabelos pintados, pulseiras de São
Jorge e outros santos, em seus pulsos, parecia com o nosso desembargador José
Agnaldo!

-Havia santos por todos os lados, inclusive uma grande imagem de São Jorge e
lâmpadas acesas, imitando velas!

-Ele já aposentado, segundo me dissera, trabalhava para ACM e dizia-me que


tinha um corpo de oito advogados sob o seu comando, e dos 402 municípios da Bahia,
hoje aquele Estado possui 417, ACM mandava em 336!

-E perguntou-me como eu conhecera aquele político amigo de ACM!

-Contei-lhe como e, ele me disse:

-Você é um homem de sorte!

-Antes de adentrar em seu gabinete, havia um radialista na recepção falando um


monte de besteira, ele dizia:

-Eu estava trabalhando em uma rádio em Feira de Santana e coloquei quinze mil
reais na Fogueira Santa, e uma semana depois, eu senti o resultado, fora chamado para
trabalhar em outra rádio aqui em Salvador! Vou colocar uns trinta mil reais, para ver no
que dá!

-Não resisti e disse-lhe que tudo aquilo era besteira, o pastor de sua igreja queria
só o seu dinheiro!

-Fora levantada uma pequena discursão e o meu colega, Dr. Claudio disse:

-Acabe com isso, você nem conhece esse homem!

-O tal homem tinha um jeito de nosso radialista França Moura!

COMO FORA A AUDIÊNCIA

-Antes da audiência, o Juiz mandou que tirassem as algemas de nosso cliente,


depois se afastou dizendo:

-Não serei eu que farei essa audiência, pois, eu e um juiz auxiliar temos um
acordo, ele faz as audiências dos processos impares e eu os pares, e o do doutor é impar!

-De repente surgira um homem alto, usando toga e, por sinal, muito educado,
dizendo que iria fazer a audiência. Durante a audiência, um ex-vendedor de livros que
eu acabara de conhecer e já era advogado, chamado de Carlos Magno, pediu ao juiz
para participar da audiência o qual pedido fora aceito. Durante a audiência fiquei
sabendo por intermédio dele, que o coroa advogado o qual o delegado havia se referido

259
com desdém e com palavras ofensivas, havia sido Secretário de Segurança Pública do
Estado da Bahia, estava explicado o, porquê, de sua atitude. O juiz era professor
catedrático de duas universidades e tinha vários livros publicados. Pessoa competente e
humilde como deve ser uma pessoa de grande saber!

-Um mês depois daquela audiência, o nosso cliente fora libertado em virtude de
minha peça de Revogação da Prisão Preventiva, acho, também, pela influência do
desembargador!

260
REMINISCÊNCIAS

CAPÍTULO LXXXVIII

UNS LANCES COMPLEMENTARES

-Havia em Maceió dois amigos, um deles meu, também, o primeiro era o Carlos
Milito e o segundo o engenheiro conhecido por Erico. Antigamente não havia estrada de
asfalto no percurso dos Sete Coqueiros até o Alagoinha. Tínhamos que dirigir os
veículos entre os coqueiros em uma estrada de areia. Os dois amigos tinham a mania de
dirigir com um dos braços para fora do carro, como faz alguns motoristas de interior e
alguns taxistas. O veículo de Carlos Milito, se não há engano, era um Chevrolet Belair e
do Erico era outro tipo de carro grande. Uma noite os dois amigos tentaram passar ao
mesmo tempo por aquela estrada de terra entre os coqueirais e estreita, e como estavam
os dois com os braços para fora, tiveram os mesmos fraturados, pois, se chocou um
com o outro. Não sei se Milito aprendeu a lição em não mais dirigir com o braço de fora
do veículo!

-Em Maceió, havia duas pontes estreitas, todas elas eram a caminho de Riacho
Doce. Havia outro colega de nome Joaquim que, também, era engenheiro e jogador da
equipe de futebol conhecida como Flamengo de Alagoas, agremiação formada por
colegas das imediações da Rua Dias Cabral. Uma noite estávamos na igreja da Catedral
assistindo a uma missa acho que era de Natal, quando nos chegara a notícia de que dois
veículos haviam se chocado em uma daquelas pontes, e os condutores haviam morrido,
eles se conheciam, eram o Joaquim e o galego Erico, aquele mesmo, que havia se
envolvido no acidente com o Carlos Milito.

-Foram citadas essas duas pontes em virtude do que agora vou discorrer!

-Era o ano de 1973, a minha filha Audrey Lara era recém-nascida, tinha poucos
meses de vida. Fomos passear em Maragogi na casa de meu sogro o Edval Wanderley,
tio do escritor Dirceu Lindoso. Nessa época os meus compadres Petrúcio Calheiros e
Eliane Alvim, eram noivos e nossos convidados para aquela viagem. No carro
estávamos eu, minha mulher, minha filha, Petrúcio e Eliane. Era um Fusca de cor
Branca. E em outro carro, estavam o meu cunhado Carlos wanderley e nessa época, a
sua namorada Ivana Pacheco.

-Estavam ampliando as pontes para não haver mais acidentes. Tínhamos que
fazer um desvio!

261
-De volta de Maragogi, quando chegamos à cidade de Porto Calvo, em um lugar
plano, o freio do Fusca começou a esquentar e a ferver, a borracha do freio, como se
costumava dizer, virou, e o óleo começou a vazar. Não tínhamos mais condição de
prosseguir viagem. Um mecânico tentou consertar, mas não conseguiu e ele teve que
desativar os freios. O que fizemos. Passamos a minha mulher e a minha filha para o
outro carro e no meu viemos, eu, meu cunhado e meus compadres. O carro totalmente
sem freio, nem ao menos funcionava o freio de mão. Como dias antes o carro dera o
mesmo problema e meu irmão Alanio o dirigiu da praia da Pajuçara até a TV Gazeta no
Farol, subindo a Ladeira da Catedral utilizando apenas o freio motor, eu havia
aprendido como dirigir sem freio.

-Seguimos viagem assim mesmo. Meti o pé sem dó nem piedade. A velocidade


máxima era de 90 quilómetros por hora. Descemos a ladeira da Matriz de Camaragibe
utilizando o freio motor, e o meu cunhando me incentivando a correr, pois, queria ainda
naquela noite pegar um cinema com a namorada em Maceió. Nessa época não havia
movimento como tem hoje, e nem era época da colheita de canas. Se fosse hoje, eu nem
me atrevia a dirigir um carro nessas condições!

-Continuamos a viagem, e, quando descemos um declive, perto de São Luiz do


Quitunde quase próximo a Usina Santo Antônio, já em um plano, avistei uns jovens,
mais adiante, foi quando um guarda de trânsito deu com a mão para eu parar. Pensei:

-E agora José! - Gíria Popular!- Como parar o veículo!

- O guarda se aproximava mais ainda e eu sem solução vendo a hora de atropela-


lo! Comecei a utilizar o freio motor, reduzi a marcha de quarta para a terceira, da
terceira para a segunda e quando reduzi da segunda para a primeira, o carro deu o maior
supapo, quase travou as rodas. Quando estava na primeira marcha o guarda já estava a
poucos metros. Tive uma ideia, desliguei o motor, deixando o carro em marcha, e o
carro saltitou um pouco e parou já estancado ao lado do guarda, que me disse:

-ESTATÍSTICA!

-Eram os alunos da UFAL da turma daquele curso que estavam fazendo um


trabalho de campo, e um deles com uma prancheta começou a me entrevistar:

-O senhor veio de onde?- Fora a passeio ou a negócio?

-Quase o mandei para aquele canto, mas, mesmo assim, respondi contra a
vontade!

-De Maragogi!-

-Com raiva e vestindo calção de praia, respondi:

-A trabalho!- E assim por diante até ser liberado com- uma boa viagem!

-Filhos da p...!

262
-Quase havia um atropelamento por causa de uns sacanas de estudantes!

-Após passar Riacho Doce e já chegando a Guaxuma, fui alertado pela minha
comadre da ampliação da primeira ponte. Já íamos passando direto por ela, íamos cair
em cima das ferragens, foi quando eu me lembrei do desvio a esquerda e o fiz, o carro
quase vira e eu acompanhei a curva com o meu corpo como fazem os corredores de
motocicletas nas competições, quase sai pela porta do motorista. Na segunda ponte, eu
já estava alertado.

-Quando no centro de Maceió um sinal fechava, eu estava na primeira marcha e


desligava o motor. E assim prossegui.

-Antigamente podíamos ir da Rua do Livramento, aquela do Bar do Chope, em


direção a Praça Deodoro e a Rua 16 de Setembro. Quando chegamos próximo ao Clube
da Portuguêsa, o sinal estava fechado e havia uns carros passando em direção a Santa
Casa, e eu resolvi subir a calçada do Teatro Deodoro para bater na parede e parar o
carro, quando o meu compadre gritou:

-O sinal abriu!- Enrolei a direção ao contrário e segui em frente!

- O meu compadre nessa época morava na Rua16 de Setembro em frente ao


antigo Cinema Ideal. Utilizando mais uma vez o freio motor, parei em sua porta. Depois
fui levar o meu cunhado até o Trapiche da Barra, próximo ao Trapichão, onde morava a
sua namorada. Levei o carro para a oficina do Luiz lá na Rua Formosa, próximo ao
Posto Neno. Essa foi uma das piores aventuras que eu passei!

SUA MAGESTADE A RAINHA

-Nunca viajei para a Inglaterra, porém, quando ainda morava no Recife e


trabalhava na Nordeste Veículos, a Rainha Elizabeth II e o Duque Philip desfilaram em
carro aberto pelas ruas do Recife. Era no meio da semana quando o cortejo passara pela
Praça Joaquim Nabuco, por baixo do prédio onde eu trabalhava. Ela vestia um vestido
todo branco, usava uma coroa fininha e o Philip usava uma farda tipo de militar, onde
continha várias condecorações. Os batedores que lhes davam segurança eram homens
louros, altos e fortes, vestindo ternos, e corriam ao lado do carro. O cortejo seguiu pela
Avenida Guararapes em direção ao palácio Campo das princesas, onde a nobreza seria
recepcionada pelo governador. Lá para as 18:00 horas, faltou energia no centro do
Recife, e no dia seguinte, os jornais estamparam que os seguranças da Rainha achando
que era um atentado, a colocaram no carro e rumaram para o Iate Real Britânia que
estava ancorado no porto do Recife, era o ano de 1968. A realeza passara pouco mais de
três horas no Recife. A visita ao Brasil durou 10 dias, visitaram Recife, Salvador, Rio de
Janeiro e Brasília.

O MAJOR E O PEDRO ROLETE

-O General Luiz Cavalcanti na época que fora Governador de Alagoas, era


conhecido como Major Luiz Cavalcanti. Ele tinha a mania de comer amendoim torrado

263
e chupar rolete de cana. Uma vez, o Major fora ao cinema São Luiz juntamente com a
sua esposa, e, quando estavam acomodados, havia uma cadeira vaga ao lado do
governador na qual sentara um conhecido nosso chamado Pedro, cujo apelido era o de
“Pedro Rolete!”. Quando a sessão começou, um gaiato gritou lá de cima da galeria:

- Pedro Rolete, saia de perto do Major, depois não diga que eu não lhe avisei!.

- Fora aquela gozação. A polícia tentou encontrar o gaiato, mas, fora em vão. Já
no término do filme, o gaiato voltou a atacar:

-Pedro bagaço, eu não lhe disse!

- Aí o cinema veio abaixo, todos riam!

OS CHINESES

-Quando ainda morava no Recife eu às vezes lanchava por trás do Edifício


Inalmar, próximo aos Correios e Telégrafos, em um pastel pertencente a chineses. Havia
outros deles que vendiam de empresa em empresa, lenços, chaveiros, canetas, carteiras
de cédulas, e outros objetos. Havia uma loja situada na Avenida Conde da Boa Vista
chamada, se não há engano, se escrevia assim, Loja Waiko onde vendiam câmeras
fotográficas, filmadoras, cujos funcionários, todos eles eram chineses e suas vestimentas
eram ternos. Já em capítulo anterior, eu falava em um clube de campo chamado de
Engenho Manjope, cujo clube fora fundado pelo pai de umas das minhas ex-namoradas
chamada de Elifrance. Aos domingos nós íamos para lá. Havia uma turma de chineses
que frequentava o clube, era uma colônia.

-As vezes se tem a mania de dizer que esses chineses, como, também, os
japoneses, vêm ao Brasil somente para ficarem ricos e roubarem, porém, não se sabe
como eles enriquecem, mas, o mais velho dos chineses daquela colônia me dera à
receita. Dizia ele:

-Que todos ali tinham funções pré-determinadas, ou seja, uns vendiam pasteis
naquele calor insuportável; outros vendiam objetos nas ruas e em empresas e outros em
lojas confortáveis, com ar condicionado, vestindo ternos, mas, aos domingos e feriados,
eles eram iguais, pois, os veículos eram coletivos, como todas as residências eram no
mesmo padrão, todos tinham o mesmo direito!

-E me dera um exemplo hipotético, de como chegaram ao nível de riqueza. Dizia


ele como exemplo:

-Quando chegaram ao Brasil, não tinham o que comer. Porém, quando


começaram a trabalhar, cada um deles podia comer o equivalente a um pão, porém, só
comia meio pão. Quando podiam comer dois pães, eles comiam meio pão e guardavam
o dinheiro equivalente a um pão e meio e assim por diante. Economizando dessa

264
maneira, cresciam e todos os lucros eram divididos igualitariamente. Parecidos com os
brasileiros, não?

VIAGEM À CIDADE DE PALMEIRA DE GOIÁS.

-O meu filho Christiano, ao se separar de sua primeira mulher, deixando dois


filhos em Maceió, o Caio e a Micaela, fora morar no Estado de Goiás, na cidade de
Palmeira de Goiás. Lá conhecera uma moça e tiveram uma filha por nome de Maria
Fernanda.

-Houve uma época, exatamente num mês de dezembro, que eu fora convidado
por meu filho para passar uns dias em sua casa, porém, tendo o encargo de levar comigo
a minha neta Micaela.

-O nosso vôo saiu a meia noite e meio, com destino a Goiana e escala em
Brasília. Ao chegarmos em Brasília, minha neta como estava com fome, pediu para que
eu comprasse um lanche para ela. A fila da lanchonete estava enorme e passamos vários
minutos para comprar o lanche. Micaela comeu um dos produtos e não quis comer os
demais, e, enquanto eu lanchava, ela pediu para ir ao toalete, e o mesmo ficava em
frente a lanchonete, e sob o meu olhar. Assim que acabei de lanchar, esperei o retorno
de minha neta, e ela nada de surgir na porta do toalete. Pedi uma moça para procurar se
uma menina de oito anos estava alí. Resposta negativa, onde se metera a minha neta?

-Procurei-a no andar onde eu estava, em todas as poltronas das duas salas de


espera, e nada. Desci ao andar de baixo, procurei por todos os recantos e nada. O
aeroporto era enorme e o meu vôo já se aproximando, estava na iminência de perdê-lo.
O medo tomou conta de mim, iria perder o vôo e como me justificar ao meu filho,
também, a perda de sua filha. Fora um momento de muita tensão, muita angustia, pois,
subia e descia escadas e nada de Micaela!

-Se passara cerca de meia hora, quando de repente, encolhida em uma poltrona
da sala de espera do primeiro andar do aeroporto, por trás de um balcão de informações,
lá estava a Micaela com raiva e chorando, porque, não chamavam para o embarque e ela
estava com saudade de seu pai. Custei a voltar ao normal, é claro que ela levou um
carão daqueles e o vôo que partiria às 07:30 fora cancelado e somente as 12:30 é que
pegamos outro avião, o meu filho já estava aperreado com a demora de nossa chegada!

AS FAZENDAS

-Quando saímos de Goiana, tomamos o rumo de Palmeira de Goiás. Durante a


nossa viagem, após a Estrada dos Romeiros, mais adiante, meu filho perguntou:

-Sabe de quem são essas terras, as de um lado e do outro?- Respondi que não!

-E quanto mais viajávamos, ele ia dizendo:

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-Olhe quanto tempo vamos viajar e essas terras não acabam nunca!

-Muito tempo depois, ele me informava que tinha que sair da pista principal e
pegar uma variante em direção à cidade de Palmeira de Goiás, e não poderíamos
prosseguir olhando aquelas terras, que ainda havia um bom pedaço.

-Sabe de quem são?


-Perguntava ele!
-São do cantor Leonardo da antiga dupla Leandro e Leonardo!

VIAGEM A CIDADE DE PIRENÓPOLIS.

-Fomos, eu, meu filho Christiano, meus netos Caio e Micaela viajarmos a cidade
de Pirenópolis. Cidade onde nascera a dupla sertaneja Zéze de Camargo e Luciano!

-Era uma cidade histórica, havia muitas pedras semi-preciosas à venda. A


maioria das casas eram tombadas pelo Patrimônio Histórico e Cultural!

-À porta de uma pizzaria resolvi tirar umas fotos de meus netos, em meu celular.
A rua era muito estreita, e, nessa hora, eu estava de costa para uma das calçadas e nela
vinha um homem, bêbado, cambaleando, e de repente, trombara em meu ombro. Ele
vinha com uma sacola em uma das mãos e uma garrafa de cachaça na outra. Quando
nos recolhemos ao hotel, senti falta de minha carteira de cédula e voltamos para
procura-la, não a encontrando. No dia seguinte, fomos perguntar onde morava a
proprietária da pizzaria onde havíamos jantado e, encontramos a sua casa, cerca de uns
dois quilómetros!

-Ela além de proprietária de um estabelecimento, era, também, artista plástica, e


viera conosco procurar dentro de seu estabelecimento se havia caído a minha carteira.

-Não a encontramos, foi quando lembrei-me do esbarrão que o bêbado havia me


dado, acho que ele não estava bêbedo e sim, procedera de propósito para subtrair a
carteira com dinheiro, documentos e cartões de crédito. Tive que fazer um BO para
poder ter acesso a um avião na volta para casa.

-Coincidentemente...., novidade! A pessoa que me atendeu na Delegacia de


Pólicia, era também, de Palmeira de Goiás, e prima do Governador de Goiás, o Marconi
Perilo que é natural daquela cidade!

-O passeio havia terminado para mim, e os meus netos estavam quase chorando,
pois, queriam tomar banho de cachoeira, e, como havia chovido muito na véspera, no
Estado de Goiás, os rios estavam cheios e perigosos, pois, poderia vir uma tora de

266
madeira e causar um acidente, cujo alerta fora dado pelo vigia da propriedade onde
ficava a cachoeira.

-Como perdera a graça da viagem, não quis conhecer Caldas Novas, a Pousada
do Rio Quente, a qual cidade há muito eu tinha vontade de conhece-la!

DE VOLTA A PALMEIRA DE GOIÁS E O ATO INCONSEQUENTE.

-A minha nora, a nova esposa de Christiano, mãe de minha neta Fernanda,


também, possuindo o mesmo nome, é Depiladora e tem uma amiga que, também, exerce
a mesma profissão, a amiga é da família Ferrão, a Ester Ferrão.

-Christiano pediu que eu fosse com ele buscar uma cama tipo maca, que serve
para depilação, lá no estabelecimento da Ferrão, em cujo estabelecimento havia muitas
divisórias. A cama era de ferro e continha um colchonete e era muito pesada. Como
tinhamos que levanta-la, eu que sou de uma estatura mediana, não estava conseguindo
levantar a cama por cima da divisória e, resolvi ingressar na outra para ter mais apoio, e,
quando abri a outra porta, ouvi um grito:

-Não!

-Lá estava uma moça fazendo depilação e eu não pude evitar de assistir aquela
cena, a moça de pernas abertas, uma toalha sobre as coxas e o inevitável, tudo de fora.
Meu filho deu aquela bronca, e eu me desculpei que não sabia!

-No outro dia, a tal moça fora conferir se eu havia visto alguma coisa e chegando
na casa onde morava a minha nora perguntou:

-A Fernanda estar?- Dissimuladamente fiz que não a reconhecera e chamei assim


a minha nora:

-Fernanda! Uma moça estar lhe chamando aqui na porta!

-Acho que ela se convenceu de que eu não a havia reconhecido, e de não ter
visto nada, puro engano!

-Quando terminou minhas férias de vinte dias, em Palmeira de Goiás, retornei a


Maceió na companhia de meus dois netos, o Caio que já se encontrava em Goiás e
Micaela a qual eu a levara!

-No aeroporto de BH, os meus netos desapareceram, me causando outro susto,


vindo encontra-los, escondidos, sentados no chão de uma livraria!

O SENADINHO

-O nosso escritório de advocacia fica no Edifício Office Plaza no centro da


cidade de Maceió, Alagoas, na Rua Engenheiro Roberto Gonçalves Menezes, 53, antiga

267
Rua da Praia. Em virtude da nossa amizade com os demais colegas profissionais do
direito, que têm escritórios naquele local, começaram a frequentar o nosso e, diante
disso, os intervalos de trabalho redundaram em uma parada para o cafezinho, chegando
ao ponto do escritório ser denominado de SENADINHO. Ali trocamos experiências
profissionais e outros assuntos de nossos interesses, apenas, não existem negociatas e
propinas. Frequentam o Senadinho: Leonardo Teixeira, Abdias Jucá, Welington
conhecido como “Batatinha”, José Calaça, Artur, Junio, Lígia, João Correia e tantos
outros.

CONCLUSÃO.

-Em 1983, já formado em direito e possuindo três lindos filhos, Audrey Lara
Wanderley Santos, hoje formada em Administração, Christiano Wanderley Santos,
Engenheiro de Produção e Fabiano Wanderley Santos, formado em Ciências da
Computação, me divorciei de minha esposa Gleide Wanderley, após onze anos de
convivência e fora morar com a minha atual esposa, Maria José Faustino da Silva, cujo
nome seria quando nascera, Edilene, porém, como nascera enlaçada, sua mãe colocou
Maria José, a família continuou a chama-la de Edilene, até hoje. Tenho com ela duas
lindas filhas, Monique Christine Faustino Santos e Maisa Isabella Faustino Santos.
Monique é formada em Pedagogia pela UFAL, e hoje é professora da Rede Municipal e
Maisa, já tendo uma formatura superior, quis exercer a profissão de enfermeira, e fora
estudar na UNCISAL- Universidade de Ciência da Saúde de Alagoas- Universidade
Estadual, onde se diplomou. Possuo seis netos, Caio, Micaela e Maria Fernanda, filhos
de Christiano; Clara e Vinícius, filhos de Fabiano, e Laís, filha de Monique, lindos
netos, meus tesouros.

-Sofri muito na vida, tive encontros e desencontros, vitórias e derrotas, mas,


sempre soube soergue-me com altivez e honestidade, graças ao bom Deus.

FIM

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