Introdução
Os atendimentos do CVV passaram por diferentes fases até chegar aos moldes da
Relação de Ajuda com base na Abordagem Centrada na Pessoa. Iniciado de modo
diretivo e com foco no problema e sua solução, o que durou semanas, passou para o
direcionar de algum modo acreditando-se ter a resposta para a dor que agoniza o
outro, a terceira fase com a permanência do foco na solução do problema, contudo
com o outro sendo capaz de solucionar se o ensinássemos a “pescar”.
O CVV escolheu oferecer a partir de sua experiência vivencial o que mais teve
ressonância na interação com a pessoa em sofrimento e que busca o seu serviço, uma
Relação de Ajuda com base na ACP, por conseguinte, impossibilita o improviso e a
implantação de métodos "pessoais" como abordagens que orientem o contato da
pessoa que procurou o CVV em busca de auxílio.
Texto de Apoio – Estação Matriz Reveladora
Mitos e Verdades ACP
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Mitos e Verdades ACP
A Tendência Atualizante
O conceito de Tendência Atualizante (ou tendência ao desenvolvimento) é o mais
importante fundamento da ACP. Rogers percebeu que todas as formas de vida estão
animadas por um impulso natural para o crescimento, para o desenvolvimento e
realização de seus potenciais, visando sua conservação e enriquecimento, que chamou
de Tendência Atualizante (TA). Aspectos importantes a se destacar (TA):
• Autodeterminação / autonomia: todo indivíduo busca sua autonomia,
possuindo a capacidade de dirigir-se a si próprio. Dentro da ACP, se constitui
falta de respeito, julgar, influenciar ou ter qualquer atitude que vise determinar o
que o outro deve, ou não deve, fazer para dirigir sua vida.
• Auto-realização: fazendo uso de sua autodeterminação, o indivíduo busca
realizar-se no suprimento de suas necessidades, sempre visando promover sua
auto-estima.
• Conservação: a partir do impulso natural da Tendência Atualizante, todo
indivíduo busca promover sua conservação, a manutenção de sua existência,
fazendo uso de sua autodeterminação e auto-realização.
• Socialização: é anseio básico de todo indivíduo buscar a integração com
outros seres humanos; esta necessidade pode ser facilmente identificada no
desejo que todos possuem de participar de determinados grupos, seja na
constituição de uma família, na adesão a algum clube social, no engajamento
num trabalho voluntário ou grupo religioso ou simplesmente no convívio com os
amigos no bar da esquina.
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Texto de Apoio – Estação Matriz Reveladora
Mitos e Verdades ACP
A Percepção de Si - O Auto-conceito
• Dentro do campo perceptual há uma parcela reservada à percepção de si
mesmo. É a auto-imagem ou auto-conceito. Assim como percebe e atribui
valores à realidade que o cerca, o indivíduo percebe a si mesmo e atribui da
mesma forma, significados a si.
• Algumas vezes, contudo, incorporamos valores de outrem ao nosso auto-
conceito, sem nos darmos conta disso. É o fenômeno da introjeção, que vai
gerar uma obstrução na comunicação do indivíduo com ele mesmo.
• A maior necessidade psicológica da criança é a de ser aceita e amada, em
especial pelas pessoas chamadas significativas, as mais importantes para ela,
normalmente os pais. Como esse amor nem sempre é incondicional, a criança
começa a identificar o que deve fazer, ou melhor, como "deve ser" para recebê-
lo. Nesse processo, podem ser incorporados ao auto-conceito da criança valores
que na verdade expressam o desejo de seus pais.
Temos a tendência para vivenciar livremente as experiências que vêm reforçar a nossa
auto-imagem, nosso auto-conceito. Toda experiência que não se encaixar na
configuração do auto-conceito existente se tornará ameaçadora, podendo ser distorcida
ou negada à consciência, visando à manutenção da estrutura estabelecida.
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Mitos e Verdades ACP
Pode-se afirmar, então, que o objetivo fundamental de toda relação de ajuda da ACP é
criar condições para que o outro liberte seu desenvolvimento, pela reativação da sua
Tendência Atualizante.
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Texto de Apoio – Estação Matriz Reveladora
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Rogers e colaboradores concluíram que existem três condições, que são na realidade
atitudes que devem ser adotadas durante a relação de ajuda, que facilitam o
desenvolvimento do outro:
• A compreensão empática;
• A consideração positiva incondicional;
• Congruência.
A Compreensão Empática
A compreensão empática exige o abandono de nossas referências interiores e um
mergulho no mundo particular da outra pessoa. É como se, durante a relação de ajuda,
eu abandonasse o meu quadro de referência interior e passasse a viver, a sentir e
atribuir significados aos acontecimentos, às pessoas e a mim mesmo a partir do quadro
de referência interior do outro. Isso, de certa forma, me torna o outro, mas eu jamais
me esqueço de que eu sou eu e o outro é o outro. De outra forma pode haver contágio
emocional, quando eu e o outro nos confundimos e eu passo a viver realmente suas
emoções (se está triste, fico triste; se está inseguro, sinto-me inseguro etc.).
É curioso confrontar valores da vida cotidiana com os da ACP. Nesse caso específico,
por exemplo, a maioria das pessoas crê que qualquer mudança deva ocorrer por meio
de argumentações e mesmo por pressão psicológica. Contudo a experiência prática
revela que quanto mais se pressiona alguém para que mude, mais a pessoa "finca o
pé" para não se movimentar. Todos reagimos a mudanças forçadas. Se alguém nos
empurra, jogamos o corpo na direção do empurrão, mas em sentido contrário, visando
à manutenção do nosso equilíbrio. Do ponto de vista psicológico, o processo é análogo.
Se desejarmos ajudar alguém a mover-se psicologicamente, é preciso não pressioná-
lo: "... para ajudar a transformação de alguém, o melhor é não pressioná-lo na
direção da mudança, nem mesmo ensinar-lhe o caminho a seguir ou guiá-lo pela
inteligência, e, sim, o melhor é aceitar, dando valor aos seus receios, às suas
angústias, às suas resistências, a tudo que o impede de mudar".
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Mitos e Verdades ACP
Congruência
Durante o plantão enquanto o voluntário interage com uma pessoa, vão surgindo em
seu organismo (seu ser) diversas experiências. Ele pode, por exemplo, estar com sede,
ter vontade de ir ao banheiro, sentir-se cansado ou preocupado com a hora; e pode,
também, vivenciar experiências basicamente decorrentes da relação que está em
curso, com a pessoa que o contatou. Interesse, indiferença, ansiedade, medo, desejo,
compaixão, insegurança, ternura, rejeição, recordações, tristeza etc., podem surgir no
íntimo do voluntário, sem que ele tenha qualquer controle sobre o surgimento dessas
experiências. É fundamental, entretanto, que ele esteja atento e aberto a elas,
vivenciando-as o mais livremente possível, para ser capaz de lidar com elas. Em outras
palavras, é fundamental que o voluntário seja, tanto quanto possível, congruente.